Artigo - Divulgação Científica No YouTube
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Resumo
1. Contextualização
A ciência é uma forma de conhecer e ver o mundo que segue regras, técnicas e métodos
específicos a fim de ser compreendida e aplicada por diversos sujeitos. Ela trabalha na
aproximação entre teoria e prática, que pode confirmar ou desacreditar um fato, a fim de
“encontrar soluções para um quebra-cabeça”, como diz Thomas S. Kuhn (2013, p. 163). A
ciência “normal” precisa de leis e teorias paradigmáticas tanto quanto seus procedimentos e
aplicações. Tal tipo de pesquisa é baseado em paradigmas e dirigido para articular e pôr à
prova tais teorias, portanto não procura inventar novos princípios ou encontrar novos pontos
de vista sob um acontecimento, visto que paradigmas são “realizações científicas
universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e soluções
modelares para uma comunidade de praticantes de uma ciência” (Ibidem, p. 53).
A constituição da ciência, em um primeiro momento, depende da elaboração de
paradigmas para unificar as perspectivas dos estudos de determinada área. Após esse
1
Trabalho apresentado no GP Comunicação, Ciência, Meio Ambiente e Sociedade do XVI Encontro dos Grupos de Pesquisa
em Comunicação, evento componente do XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação.
2
Mestranda do Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica e integrante do Centro de Pesquisas
Sociossemióticas – CPS. Email: manureale@gmail.com.
3
Orientadora do trabalho. Pós-doutora em Comunicação pela USP, professora no curso de pós-graduação em Comunicação
e Semiótica da PUC-SP e pesquisadora do Centro de Pesquisas Sociossemióticas – CPS. Email: valdenise@pucsp.br.
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A transição de um paradigma em crise para um novo, do qual pode surgir uma nova
tradição de ciência normal, está longe de ser um processo cumulativo obtido através
de uma articulação do velho paradigma. É antes uma reconstrução da área de
estudos a partir de novos princípios, reconstrução que altera algumas das
generalizações teóricas mais elementares do paradigma, bem como muitos de seus
métodos e aplicações. (Ibidem, p. 169)
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e, ao mesmo tempo, uma perda a outra. Assim foi o caso de Lavoisier que, ao reconhecer o
elemento oxigênio, acabou por negar princípios químicos como o flogisto4.
É comum ver o cientista retratado aquém do convívio social, trancado em seu
laboratório, comunicando-se apenas com seus pares. Contudo, ao fazer essa reflexão sobre a
natureza do conhecimento científico, entendemos que é um dos deveres, no papel social do
cientista, estabelecer espaço de diálogo com outros campos e grupos, inclusive extra
academia, onde possa haver questionamentos e discussões críticas sobre diversas produções
e temáticas.
Visto que não deve ser encarada como única forma de conhecimento válido, a ciência
deve se abrir ao diálogo, pois a potencialidade e organização das estruturas cognitivas, tanto
individuais como sociais, permitem a construção e utilização de diferentes sistemas de
produção de conhecimento. O que se deve reconhecer é a existência de uma diferença básica
na forma que os diferentes campos de conhecimento se produzem e para que são
potencialmente úteis.
2. Divulgação científica
Há diversas discussões sobre a noção de divulgação científica na academia, como
aquelas desenvolvidas pelo professor Wilson Costa Bueno confirmando a dificuldade em
separar divulgação e comunicação. Ele define comunicação científica como aquela feita
dentro da própria comunidade científica no intuito de compartilhar resultados de pesquisa e
novas teorias. Já a divulgação científica busca “democratizar o acesso ao conhecimento
científico e estabelecer condições para a chamada alfabetização científica” (BUENO, 2010,
p. 5).
Nesta questão, a definição de alfabetização científica não deve ser encarada como uma
apresentação unilateral a fim de instruir o cidadão sobre a produção científica. Pelo contrário,
Bueno reitera que a divulgação científica não deve afastar os cientistas do cidadão comum,
mas sim “abrir espaço para aproximação e diálogo e, inclusive, convocar pessoas para debates
amplos sobre a relação entre ciência e sociedade, ciência e mercado, ciência e democracia”
(Ibidem, p. 8).
Em continuação à discussão entre divulgação e comunicação científica, Carlos Vogt
apresenta outra perspectiva:
4
Ver mais em KUHN, 2013, p. 141.
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Wolton (2004) apresenta o modelo de comunicação normativa, fundamentado no intercâmbio para
compartilhamento e compreensão. O ideal buscado é a mútua compreensão, baseada em regras, de códigos e
símbolos. A palavra “norma” não é uma ordem, mas sim um objetivo comum buscado por todos. Esta dimensão
insiste na descontinuidade e nos mal-entendidos, que são, ao mesmo tempo, o símbolo da incomunicação e sinal
de busca pela coabitação.
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Tais atividades ainda são consideradas marginais e, na maioria das instituições, não
influenciam na avaliação de professores e pesquisadores. As iniciativas dos
organismos nacionais de fomento à pesquisa, que poderiam colaborar com esse
processo, têm sido tímidas, quando não inexistentes, e ainda privilegiam uma visão
da divulgação científica escorada numa perspectiva que favorece o marketing
científico. Certamente existe um grande potencial de ação nas universidades
públicas e nos institutos de pesquisas, acumulado em seus pesquisadores,
professores e estudantes, mas pouco se faz de forma organizada para uma difusão
científica mais ampla. Parece clara a necessidade de se criar, como tem acontecido
em outros países, um programa nacional de divulgação científica. (MOREIRA E
MASSARANI apud MASSARANI, MOREIRA e BRITO, 2002, p.64)
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3. Plataforma Youtube
A divulgação científica nas redes digitais constitui um caminho possível para o fomento
de uma comunicação da ciência, utilizando o potencial do ambiente digital como meio de
integração, socialização e trocas de experiência, informação e conhecimento. Ela trabalha
para promover uma nova cultura científica na qual o diálogo com a população aconteça de
maneira natural. A plataforma Youtube tem o potencial de cumprir esse papel, especialmente
com os jovens, posto que o consumo de vídeo na Internet tem crescido exponencialmente nos
últimos anos. Desde sua criação em 2005, o site tem possibilitado o acesso ao vídeo em rede
e permitido que os usuários se tornem também geradores de conteúdo. Trata-se de uma
plataforma colaborativa na qual qualquer usuário pode postar um conteúdo, acordando com
as regras de uso.
De acordo com estatísticas do próprio site6, contabiliza mais de um bilhão de usuários,
mais de quatro bilhões de visualizações diárias de vídeos e chega a 60 horas de conteúdo
carregadas a cada minuto. A plataforma evoluiu rapidamente e colabora na circulação de
informações com maior velocidade e que se tornam mais visíveis para uma variedade de
públicos. Essas informações são de diversos gêneros e formatos. Podem ser publicadas por
indivíduos que compartilham sua vida pessoal na web, por empresas com finalidade
comercial, por emissoras de TV exibindo parte da grade de programação, entre outros.
A produção amadora encontra potencial aceitação neste espaço pretensamente
democrático. Há até uma produção metalinguística, pois encontram-se tutoriais de como se
produzir conteúdo. A plataforma possui uma ferramenta de edição de vídeo online,
possibilitando não apenas a postagem do vídeo, mas sua edição. Ela permite alterar tons de
cor, iluminação, áudio, estabilização da filmagem, etc. Com isso, o domínio de captura,
edição e publicação dos vídeos fica nas mãos do usuário, não exigindo formação específica
para esse tipo de ação.
Exceto produções publicitárias, o conteúdo não é executado automaticamente ao entrar
no site. É vital a ação do outro, pois é necessário clicar no vídeo para assisti-lo. Ao abrir a
página, é possível executar, pausar, avançar e rever o vídeo ilimitadamente. Também há o
espaço de comentários em que qualquer usuário pode postar. Para expandir o alcance do
conteúdo, a interface do Youtube também permite a conexão da conta do usuário ao Google
e outras redes sociais, como o Facebook e o Twitter.
6
Disponível em: <https://www.youtube.com/yt/press/pt-br/statistics.html>. Acesso em: 19 fev. 2016.
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4. Metodologia
Apresentaremos um caso dentro desta plataforma que trata da divulgação do
conhecimento científico relacionado ao universo da cultura nerd. Será analisado um canal
elaborado por pesquisadores e produtores audiovisuais que, a fim de aproximar a ciência a
diferentes públicos jovens, produz conteúdos que relacionam entretenimento e conhecimento.
O grupo publica seus vídeos e incentiva o diálogo com o objetivo de apresentar e incentivar
uma nova maneira de fazer e falar sobre ciência.
A priori, é válido lembrar que este vídeo, apesar de seu caráter educativo, não é uma
produção científica per se, mas uma construção de sentido baseada no conhecimento
científico a fim de aproximá-lo do senso comum. Os vídeos apresentam sinalizações que
apontam ao conhecimento científico e convidam o público a conhecer mais sobre o assunto.
Ele está sujeito a falhas e erros de informação, porém isso não desmerece seu caráter
engajador. Neste trabalho não iremos analisar se o conteúdo está certo ou não, mas sim
observaremos as estratégias de enunciação que constroem sentido.
Faremos uma análise de vídeos relacionados a ciências exatas e humanas do canal
“Nerdologia” no Youtube. Essa escolha se dá porque, há poucos meses, o canal deixou de ter
um único apresentador (pesquisador de microbiologia e que fala sobre várias áreas da ciência)
para ter também um pesquisador de história. Apesar de manter a mesma estrutura de roteiro,
os vídeos de história ganharam uma direção de arte diferente, o que nos leva a observar ambos
os casos.
O aparato teórico que sustenta a análise é a teoria semiótica de linha francesa,
concebida por A. J. Greimas e seus seguidores, a qual traz, no conceito de percurso gerativo
de sentido, a estrutura de construção de significação em patamares, que vão do superficial e
discursivo ao nível profundo e fundamental do texto, passando pela narratividade.
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5. Nerdologia
O canal Nerdologia7 se propõe a relacionar conhecimento científico à cultura nerd.
Nasceu em 2011 como um quadro do NerdOffice do Jovem Nerd8, era inicialmente
apresentado por pessoas sem instrução formal em ciência. Em outubro de 2013, o Nerdologia
foi reformulado para ser apresentado por um pesquisador e produzido por profissionais em
audiovisual. É uma produção em equipe composta por pesquisadores, os criadores do Jovem
Nerd, a produtora audiovisual Estúdio 42 e produção executiva da Amazing Pixel. Até o
momento dessa pesquisa contabilizava 1.460.633 inscritos e 80.594.198 visualizações. São
postados dois vídeos por semana com duração média entre cinco a nove minutos.
Produzido profissionalmente, o vídeo apresenta várias artes gráficas e animações. A
apresentação e roteiro é de Atila Iamarino, pesquisador doutor em biologia pela Universidade
de São Paulo. Em maio de 2016, o professor de história Filipe Figueiredo (já conhecido do
site Xadrez Verbal9) também se tornou apresentador e roteirista a fim do canal apresentar
mais vídeos da área de Humanas. Dessa forma, os vídeos de terça são relacionados as ciências
humanas e os de quinta as biológicas e exatas. Além do canal no Youtube, está oficialmente
presente em diversas plataformas como site, Facebook e Twitter. E também os apresentadores
mantém seus perfis pessoais ativos e outros projetos em rede.
5.1 Figuratividade
O enunciador se denomeia Nerdologia. O sufixo logia vem do grego antigo logos e
significa estudo ou descoberta. Vemos a seguir a noção de nerd:
Na versão mais antiga [da década de 50], é uma pessoa que nutre um grande
fascínio aos estudos, ou que possui uma inteligência maior que a média e tem
alguma dificuldade em se relacionar socialmente [...] A definição atual de nerd o
caracteriza como uma pessoa que nutre alguma obsessão por um determinado
assunto a ponto de pesquisar, colecionar coisas, escrever sobre e não sossegar
enquanto não descobrir como funciona. Geralmente se interessa por computadores
7
Disponível em: https://www.youtube.com/nerdologia/ Acesso em: 17 mar. 2016.
8
Criado em 2002, é um blog brasileiro de humor e notícias relacionadas a cultura pop. Disponível em:
http://jovemnerd.com.br/ Acesso em: 17 mar. 2016.
9
Criado em 2013, é um site de textos e relatos pessoais sobre política, história e atualidades. Depois expandiu-
se para canal no Youtube e podcast. Disponível em: https://xadrezverbal.com/ Acesso em: 10 jul. 2016.
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Este nome já indica a importância do sincretismo para o enunciador, pois ele agrega
uma palavra antiga e ligada à Academia com um neologismo influenciado pela cultura e
ligada a tribos urbanas. A dualidade entre antigo vs novo e ciência vs cultura é o que chama
atenção ao nome e, posteriormente, a proposta de enunciação.
O vídeo é apresentado por um áudio em off (o apresentador não aparece) e por
montagem de imagens e animações. O único áudio que escutamos é a música de fundo e a
voz do apresentador que se identifica no começo do vídeo. O equipamento de captação de
áudio é profissional e a edição produz áudio limpo. As músicas de fundo mudam de acordo
com o episódio, em geral remetem ao ritmo de trilhas de games. A fala é coloquial, porém
sem maneirismos ou grandes exultações. Cada episódio tem uma propaganda ao final. A
produção audiovisual, por definição, constitui expressão sincrética, ao articular diferentes
linguagens (reúnem-se os formantes verbal, visual, cinético e sonoro) que cooperam na
presença junto ao enunciatário. Veja-se a noção de enunciador/enunciatário:
O plano de fundo é uma imagem de um quadro negro ligeiramente sujo de giz. Imagens
(fotografia, ilustração, recorte de matérias, trechos de artigos científicos, animação ou vídeo)
vão sendo montadas/“coladas” no quadro negro. Além das imagens, há textos escritos no
quadro como se estivessem escritos em giz. São também utilizadas anotações10 que
direcionam para outros conteúdos relacionados. As imagens não são de autoria própria e são
creditadas na descrição do vídeo. O roteiro é simples e didático, e a montagem do vídeo é
dinâmica.
Os vídeos são estruturados da seguinte forma:
• Vinheta de abertura
• Introdução do apresentador
• Indicações de referências nerds relacionadas ao tema do vídeo
• Aprofundamento do conteúdo científico
10
Ferramentas interativas do Youtube que podem ser adicionadas em cima da tela do vídeo ao decorrer da
narrativa; elas permitem ações específicas como caixa de texto, destaque de área do vídeo, links para outros
conteúdos.
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Este espaço para repostas a dúvidas de episódios anteriores e comentários em geral surgiu no Nerdologia 129
de abril deste ano. É um espaço existente apenas nos vídeos de quinta.
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5.2 Narratividade
O programa narrativo de base é do destinador manipulador que faz crer, querer e faz
saber para que o sujeito actancial entre em conjunção com o objeto de valor (conhecimento
científico). A sanção cognitiva é realizada quando o destinatário acredita, apreende o
conhecimento apresentado e é incentivado ao gosto pela ciência.
12
RPG é uma sigla em inglês (Role-playing game) que pode ser traduzida como “Jogo de Interpretação de
Papéis”. Esse estilo de jogo é jogado tanto via tabuleiro presencial quanto em jogos online.
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5.3 Intertextualidade
No vídeo 121 do canal Nerdologia, cujo tema é ondas gravitacionais, é explicado o que
são ondas gravitacionais, como elas foram comprovadas, o porquê da comprovação ser
importante para a ciência e como esta pode vir a ser utilizada no futuro para aumentar o
conhecimento sobre buracos negros e outros assuntos.
No início, é avisado que outros vídeos do próprio canal podem ajudar na compreensão
deste (Nerdologia no 49 – Buraco Negro e Nerdologia no 75 – A Física de Interestelar) e mais
adiante também indica vídeos de outros canais (Ciência Todo Dia e O Físico Turista) sobre
o mesmo tema. O tema é explicado a partir de fontes científicas e também é relacionado à
cultura pop, como personagens de HQs e acontecimentos de filmes.
Esse vídeo é um ponto de partida para o aprendizado sobre física e ondas gravitacionais.
Ele lança a discussão deste assunto para outros espaços, em vista de formar comunidades que
refletem sobre esse e outros temas. Além da utilização de diversas referências históricas e
contemporâneas, o próprio processo criativo dos autores é plural, feito em diálogo com a
comunidade de usuários. O roteirista e apresentador mantém também o blog Rainha
Vermelha (http://scienceblogs.com.br/rainha/) onde posta conteúdos relacionados direta ou
indiretamente com os temas tratados pelo Nerdologia, e incentiva a discussão na sessão de
comentários do mesmo ao responder perguntas ou posicionamentos dos usuários. É um
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diálogo em expansão que pode vir a ser aprofundado de maneiras diferenciadas em cada novo
ambiente (Facebook, Twitter, sessão de comentários, blog, etc).
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A ciência, tida como eufórica, precisa ser transformada em não ciência (por meio da
divulgação cientifica) a ponto de chegar em seu estado final que é o conhecimento do senso
comum. Esse caminho de transformação já se deu no nível narrativo e o quadrado acima é a
representação fundamental deste acontecimento, assim como a indicação do sistema de
valores do texto, ao qual adere o destinatário.
Conclusão
Estes vídeos possibilitam que a ciência se aproxime a diversos públicos, permitindo o
primeiro contato a assuntos importantes para a formação do cidadão, especialmente o público
jovem. O fato de ser apresentado por pesquisadores reconhecidos formalmente na área é
importante, pois reestrutura a prática do exercício da ciência e multiplica os espaços de fala
ocupados por estes, o que é fundamental para o incentivo de uma nova cultura científica. O
destinador professor sai de seu pódio doutoral e inatingível e coloca-se mais perto do
enunciatário ao fazer conexões de gostos em comum entre ambos. A construção de sentido
ligada a elementos sensíveis, pensada no imaginário do destinatário, propõe um caminho de
formação do gosto pela ciência. O apelo ao sensível é fundamental para a construção de uma
comunicação normativa em diálogo com o outro em busca de um ideal comum: gostar sobre
ciência.
Neste caso, o conhecimento amplia-se na troca e compartilhamento em diversos níveis
e em espaço aberto de diálogo constante. A novidade não está apenas e necessariamente no
conteúdo, mas na forma de expressão e linguagem utilizadas, o que alcança outros temas de
interesse científico, e retorna a problemática da subjetividade do discurso de divulgação
científica.
O sucesso deste canal não se dá apenas por números, mas pelo constante engajamento
dos usuários tanto no espaço de comentários no Youtube como nas demais plataformas: blog,
Facebook e Twitter. Isto significa não apenas que os estudantes adquirem o gosto por ciência,
mas também que o estabelecimento nas novas mídias de diálogo entre o senso comum e o
conhecimento científico para diversas idades são caminhos a serem cada vez mais explorados
no Brasil.
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REFERÊNCIAS
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FIORIN, José Luiz. As astúcias da enunciação: as categorias de pessoa, espaço e tempo. 2ª Ed. São
Paulo: Ática, 2002.
GALVÃO, Danielle. Os nerds ganham poder e invadem a TV. In: Revista Científica. Intr@ciência
1(1):34-41, 2009.
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KUHN, Thomas S. A estrutura das revoluções científicas. 12a Ed. São Paulo: Perspectiva, 2013.
________. Interações arriscadas. Tradução de Luiza Helena Oliveira da Silva. São Paulo: Estação
das Letras e Cores: Centro de Pesquisa Sociossemióticas, 2014.
MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2003.
VOGT, Carlos (org.) Cultura científica: Desafios. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo
e Fapesp, 2006.
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