Literatura Latina
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Literatura Latina
ISBN 978-85-7856-049-2
CDD 850.9
UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO - UPE
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EDIÇÃO 2010
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Recife - Pernambuco - CEP: 50103-010
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5
e Origem
Desenvolvimento da
Literatura Latina
Prof. Ívison dos Passos Martins
Carga Horária | 60 horas
Ementa
Formação do povo romano, costumes, família, educação, religião politeísta. His-
tória da Literatura Latina. Sentenças latinas, período pré-literário, provérbios e
fábulas. Influência helênica na literatura latina. Homero/Ilíada e a Odisseia. Pe-
ríodo de Ouro da Literatura Latina, a Eneida. Período Imperial, Período Cristão.
Objetivo Geral
Conhecer a importância histórica da Literatura Latina bem como a estética e a
ideologia de seus escritores como base para análise de autores de outras literatu-
ras.
Apresentação
Seja bem-vindo à disciplina de Literatura Latina!
Alcançando sua maturidade com autores como Cícero ou Virgílio, tornou-se eterna. Passou de influen-
ciada a influenciadora da literatura mundial. Roma ditava os modelos a serem seguidos, mantendo um
caráter unitário em todo o Império. Grandes escritores na Europa e, séculos mais tarde, no Brasil foram
influenciados pelos modelos latinos. Portanto, nossa própria literatura se tornaria inexplicável em alguns
aspectos bem como muito do que nossa sociedade hoje cultua, se desconhecêssemos esse legado maravi-
lhoso de Roma.
O objetivo deste capítulo é o de proporcionar novas reflexões sobre a literatura latina. Convidamos você
a conhecer esse mundo fantástico que compreende séculos de produção literária, ampliando seus conhe-
cimentos na área.
Um abraço,
Professor Ívison dos Passos Martins
Capítulo 1
Capítulo 1 7
Formação do
Povo Romano
Prof. Ívison dos Passos Martins
Carga Horária | 15 horas
Este capítulo inicia com a origem dos romanos e sua incipiente manifestação lite-
rária nos primeiros séculos. Analisamos suas produções autóctones, até o contato
com a literatura grega. O encontro com esta última direciona os romanos a novos
conceitos, estilos e objetivo ou objetivos.
Desprovido de defesas naturais, cobiçado por suas terras férteis, o local sofreu di-
versas invasões de povos vizinhos ao longo dos séculos. Foram construídas diver-
sas cidadelas para sua defesa, entre as quais Roma. Em 753 a.C, ano tradicional
de sua fundação, famílias oriundas de Alba Longa se estabeleceram no monte
Palatino. Em seguida, estabeleceram-se nos outros montes. Com a conquista da
localidade pelos etruscos, povo de origem incerta, a capital do Lácio foi subjulga-
da, e as cidadelas foram unificadas em uma única cidade, Roma.
Casal etrusco
sua arquitetura e na religião
8 Capítulo 1
– acreditavam na vida após a morte e construíam mado, pulou o traçado desenhado no chão, provo-
sepulcros elaborados para seus mortos. Apesar de cando a ira de seu irmão, que, entendendo o ato
dominarem as técnicas da grafia, não se sabe muito como um presságio de que Roma seria invadida, o
sobre o seu alfabeto, dificultando um estudo mais matou friamente.
aprofundado desse povo.
Rômulo torna-se o primeiro rei de Roma. Tempos
mais tarde, desaparece numa tempestade e passa a
ser adorado como um deus.
SAIBA MAIS
nar-
etasedna.com.ar/mo
http://www.portalplan
quia_roma.htm SAIBA MAIS
Remo
/wiki/R%C3%B4mulo_e_
http://pt.wikipedia.org
1.2 Origem Mitológica de Roma
Fonte: http://www.hestia.info/sites/Hestia1.jpg
Tibre. Alimentados por uma loba, foram depois protetores das proprie-
encontrados por camponeses que os criaram. dades e alimentos. O
Quando se tornaram adultos, destronaram Amú- culto familiar era fei-
lio e restabeleceram o trono a seu avô. to em casa, à beira do
fogo sagrado da lareira
e presidido pelo pater
SQM6VOE6e3I/AAAAAAAAEy4/iQlxlR1je0U/s400/Romu-
de geração a geração.
Havia também outros Hestia
deuses nativos, que re-
presentavam as forças
da natureza, entre eles Pomona (deusa dos frutos),
Faunus (deus dos rebanhos) e Flora (deusa das flo-
res). Outro elemento etrusco de importância foi a
lus_and_Remus.jpg
Esse culto era mais elaborado e contava com os sa- Deméter Ceres
cerdotes, em que o Pontifex Maximus (Sumo Pon- Afrodite Vênus
tífice), título depois adotado no Cristianismo pelo
Papa, era o chefe da religião. Contava, ainda, com Ares Marte
os flamines (sacerdotes), as vestais (sacerdotisas de Hermes Mercúrio
Vesta), os sálios (dedicados ao culto de Marte, en-
toavam hinos em louvor ao deus da guerra), fecia- Hades Plutão
les (sacerdotes criadores do direito internacional, Hefaístos Vulcano
encarregados dos tratados de paz e da declaração
de guerra), áugures e aurúspices, sendo estes dois Apolo Apolo
últimos uma forte herança dos etruscos. Poseidon Netuno
3. Vida Privada dos Romanos era responsável pelos escravos e pela casa. Com o
tempo, as mulheres também puderam administrar
seus bens.
3.1 Família
Diferentemente do que ocorria na sociedade grega,
O casamento era, na maioria das vezes, arranjado
elas tomavam suas refeições com seus maridos. Os
pelos pais. Ao se casar, a mulher deixava custódia
homens usavam a toga viril, as mulheres, a stola
do pai pela do esposo. Havia o divórcio, embora,
(vestido largo abotoado com broches), e as casadas,
nos primeiros tempos, fossem mais raros.
a stola matronalis.
O pai, pater famílias, sendo cidadão romano, pos-
suía total poder de vida e de morte sobre os mem-
bros de sua família. Quando nascia um filho, o pai
tinha pleno direito de aceitar ou rejeitá-lo. No caso SAIBA MAIS
de rejeição, a criança seria deixada para padecer de .jhtm
m.br/historia/ult1704u65
frio ou fome, ou mutilada para ser usada por pes- http://educacao.uol.co
soas de má fé que as utilizavam para receber auxílio
do Estado. Sendo aceito, aos nove dias de nascido,
o bebê recebia a bulla que era colocada em seu pes-
coço, para afastar o mau olhado, e recebia também
o nome. A menina usava sua bulla até o casamen-
to, menino até a idade viril. 3.2 Educação
O nome consistia em três partes: praenomen, no- Durante os primeiros anos da república, a educa-
men e cognomen. Vejamos como exemplo o do ção era confiada à mãe até que a criança chegasse
grande orador romano Marcus Tulius Cicero. aos sete anos de idade. Os meninos (pueri), então,
aprendiam com o pai os costumes de seus ances-
trais, ler, escrever, fazer contas, sobre a agricultura,
Fonte: http://www.vroma.org/images/mc-
Didaticamente, a literatura latina costuma ser divi- São de igual importância, também as inscrições tumulares
dida em 6 períodos: que, em forma de versos, registravam os feitos de homens
ilustres. “As mais interessantes eram as da tumba dos Cipi-
1. Período arcaico ou pré-literário; ões, nas quais são enumeradas as virtudes e as conquistas
2. Período helenístico; de L. Cornélius Scipio Barbatus
3. Período clássico (Ciceroniano e de Augusto);
(consul em 298) [...]. (Jeanroy e Peuch, 1902, p.11)
4. Período pós-clássico;
wp-content/uploads/2009/08/fibula-
5. Período de decadência
6.
Fonte: http://lnx.rete3.net/blog/
Período da literatura latino-cristã.
prenestina1.jpg
4.1 As Inscrições – Epigrafia
Fíbula Praenestina
Satura Tipo de dança com recitação de ver- O primeiro escritor a se destacar neste gênero lite-
sos e ao som de música.
rário que narra a história é Quinto Fábio Pictor,
Tipo de comédia ou farsa, improvi- que foi comandante durante a segunda guerra pú-
Atelanas sadas pelos atores, base da comédia nica. Escreve a história de Roma, reportando-se à
latina. Seu nome deriva da cidade de
Atella.
chegada de Eneias à Itália, narrando também a se-
gunda guerra púnica da qual participou ativamen-
Hinos
triunfais
Em honra aos heróis nacionais. te, garantindo-lhe maior crédito. Escrito em gre-
go, pois “escrever em grego era dirigir-se a todo o
Capítulo 1 13
mundo civil daquela época” (Leoni 1967, pág.21), romana, adotando as formas gregas e o enriqueci-
o texto possuía, ainda, uma tradução latina que, mento do latim.
infelizmente, não chegou até nossos dias.
Interesses não mais provinciais, mas universais aumentam
A conquista de todo o território italiano pelos ro- extraordinariamente a potência política de Roma. Tam-
manos durou cerca de 230 anos. A língua latina bém a literatura, portanto, sai do anônimo e do popular
para tomar forma nas individualidades artísticas. Estava
se sobrepôs sobre os demais falares na Península
constituída, deste modo, a tradição literária romana que
Itálica, imposta pelos vencedores, embora ainda
devia prosperar sem interrupção por muitos séculos.
mantivesse sua forma arcaica. Até então, a métrica usada em Roma era a dos versos sa-
turninos, que se baseava no acento tônico das palavras, ao
contrário do que acontece a partir do século III, em que é
5. Período Helenístico incorporada a métrica quantitativa, baseada na quantidade
das sílabas, de influência grega (Leoni, 1967, p. 21).
XqdKwZDMMo9Vz9tO52BzyHT5VY9axsdFY6tI8l-k2d/Gre-
hswh8Pt4w5TaXFDr46AVPVRdM2blgsTMkQpKtnHKzm*B
Denominamos helenístico o período em que a li- Andrônico utilizava textos gregos para suas au-
teratura latina sofre influência da literatura grega. las. Sob os auspícios de Lívio Salinator, traduziu
Até então, tem-se registro, apenas, de textos epigrá- a Odisseia de Homero para o latim, recebendo o
ficos, cânticos, leis, anais e sentenças em versos. título de Odusia, utilizando versos saturninos. Ao
ser traduzida para uma língua que ainda não esta-
Conquistada a Magna Grécia (272 a.C.), Roma se va preparada para abrigar uma obra literária como
expõe diretamente à cultura helênica. O Império aquela, é obvio que seu empreendedor encontrou
foi se estendendo, até que, em 265 a.C, a Penínsu- grandes desafios, e o resultado final não refletia a
la Itálica estava completamente sob seu domínio. riqueza da obra original. Posteriormente, seu tra-
Jovens levados como cativos para Roma eram em- balho foi bastante criticado por Cícero e Horácio.
pregados para a educação das crianças. Os libertos “Refazimento bárbaro, que Cícero compara às an-
abriam escolas públicas para ensinar aos filhos. tiquíssimas estátuas de Dédalo, sem articulações,
com as pernas juntas e os braços rígidos” (Vitelli e
Eram utilizados textos de clássicos gregos para en- Mazzoni, 1928, p. 7).
sinar gramática, retórica, etc.
Comentário injusto, pois, sem dúvida, se tratava
A língua latina havia sofrido influência do contato de um trabalho árduo. Faltava vocabulário e, até
com os etruscos e outros povos que iam sendo sub- mesmo, a métrica grega, que era desconhecida en-
jugados. Foi-se impondo sobre os diversos falares tre os romanos. Essa tradução sobreviveu através
da região, dos quais restam algumas poucas inscri- de citações e referências feitas a ela por autores
ções, até serem extintos. posteriores.
A vitória sobre a cidade de Cartago (guerras púni- Traduziu, também, um texto, que não foi conser-
cas), entreposto comercial ao norte da África, que vado, para ser representado durante Jogos come-
ameaçava os interesses comerciais romanos, foi de- morativos, segundo Cardoso, 2003, p.25.
cisiva para o progresso e a expansão da literatura
14 Capítulo 1
Sem modelo, sem léxico, sem o recurso ainda das formas Névio era avesso aos patrícios romanos. Com suas
de uma língua plástica, com os recursos apenas da língua comédias satíricas, conseguiu atingir e enfurecer
rude do povo romano, traduziu, em versos saturninos, a seus inimigos aristocratas, entre eles os Metelos.
famosa epopeia grega que se tornou o livro de classe da
Isso lhe rendeu um tempo na prisão e o exílio em
mocidade de Roma. (Pedrosa, 1947, p.24)
Útica, no qual faleceu em 200 a.C. Segundo Car-
doso, 2003, p. 26, restam-nos, apenas, fragmentos
5.2 Névio das tragédias e os títulos das comédias. Dotado de
uma grande autoestima, imortalizada em seu epitá-
Cneu Névio (c. 264 – 201 a.C.) era natural de uma fio, Pedrosa transcreve:
cidade latina de Campânia. Participou da Primei-
ra Guerra Púnica, tornando-se muito popular em Mortales immortales si foret fas flere,
Roma por seus atos de patriotismo. Tentou criar Flerent Divae Camenae Naevium poetam.
uma poesia nacional. Itaque postquamst Orcino traditus thesauro
Obliti sunt Romae loquier latina lingua.
É considerado o primeiro autor latino a produzir
uma obra de qualidade. Como todos os antigos po- “Pudessem pelos mortais os imortais chorar,
etas latinos, Névio também cultivou vários gêneros chorariam por Névio as Divinas Camenas. Deixou-
se de falar latim em Roma, apenas o poeta foi de
literários ao mesmo tempo. Escrevendo uma peça
Orco, os antros habitar.” (Pedrosa, 1947, p.25).
na qual retratava a infância de Rômulo, procurou
nacionalizar a tragédia, sendo considerado o cria- Entre as suas comédias, podemos citar: Alimonia,
dor da tragédia romana. Em seus últimos anos, es- Damae, Romulus e Hector. O poema De Bello
creveu, também, um poema épico: De Bello Púni- Punico, no qual narra a ida de Eneias a Cartago.
co, uma narrativa sobre guerra púnica e as origens
de Roma.
5.3 Ênio
Infelizmente, pouca coisa de sua autoria foi pre-
Quinto Ênio era natural da Calábria, nascido em
servada até nossos dias. Nacionalizou, também, as
Rúdias, na Magna Grécia. Sua língua materna era,
comédias, que eram um meio de criticar a política
portanto, a grega. Lutando no exército romano,
e os costumes da época sempre com um final feliz,
após a segunda guerra púnica, o questor romano
introduzindo a togata e a pretexta, ambas referen-
Cipião o levou para Roma, onde conquistou sim-
tes às vestes dos romanos, que traziam um contexto
patia, disseminando a cultura grega, ainda que sob
romano, em oposição à palliata, nome dado em
os protestos de Catão. “Tornou-se o escritor oficial
referência às vestes gregas, de temática grega.
do Estado, mas sua obra, vasta e multiforme, o re-
vela um educador do espírito romano [...]” (Leoni
Posteriormente, outros gêneros de origem popular
1967, pág.27.) Foi também professor de grego.
substituíram a togata. Eram o Mimo e a Atelana,
preferidos do público romano. Esta última, prova-
Cultivou a épica, havendo registro de partes de um
velmente, de origem osca, proveniente da cidade
poema seu intitulado Annales, em que contava a
Capítulo 1 15
origem mitológica de Roma, a tragédia, conside- Inicialmente influenciado por Névio, com o tem-
rada criação latina, e a comédia. Foi seguido por po alcançou tamanha originalidade, tornando-se
muitos poetas antigos. Como aconteceu com Né- um dos maiores autores latinos ao lado de Terên-
vio, não restou muita coisa de sua obra. Compôs cio. Entre as suas obras, podemos citar: Asinária,
a comédia Caupuncula, (O pequeno albergue) e Anfitrião, O Mercador, A Corda, os Mecmenos e
Pancratiastes (o atleta). Como Andrônico e Névio, a Marmita (Aulularia - contra os avarentos), esta
utilizou versos gregos, como o hexâmetro. última tendo sido inspiração para Ariano Suassu-
na em o Santo e a Porca.
Sua poesia foi admirada por Cícero e Virgílio, e
sua grandeza só foi superada por Virgílio, com A 5.5 Terêncio
Eneida. Escreveu, ainda, as tragédias Andrômaca,
Hecuba, Ifigênia, as epopeias História sagrada de Nascido em Cartago e levado para Roma por Te-
Evênero e os Annales, composto por 18 livros. rêncio Lucano, Públio Terêncio Afer difere muito
de Plauto. Enquanto em Plauto, encontramos a
Como lembra Fidelino de Figueiredo, (apud Pe- energia do latim vulgar, em Terêncio, alguém que
drosa 1947 p. 26) Ênio utilizou as lendas tradicio- se preocupa mais com a estrutura da obra.
nais de Roma, fato que o tornou popular e amado
entre os romanos. Recebeu educação e foi libertado. Terêncio alcan-
çou a perfeição de estilo, linguagem refinada, des-
Atividade | Pesquise sobre a influência da tacando a elevação de sentimento de seus persona-
epopeia latina em Luiz de Camões (Os Lusía- gens, evitando as vulgaridades presentes nas farsas
das), no Quinhentismo, e em Santa Rita Du- de Plauto.
rão (Caramuru) e Basílio da Gama (Uruguai),
no Arcadismo e traga suas conclusões para o Leoni (1967) lembra que seus contemporâneos,
fórum. devido à complexidade de suas obras, preferiam
as obras de Plauto que continham trechos mes-
quinhos e vulgares. Fato que levou Terêncio, final-
5.4 Plauto mente, ao afastamento do teatro. Falando sobre si
mesmo, ele diz: “Homo sum, humani nihil a me
Tito Macio Plauto (250 a.C? – 184 a.C?), romano alienum puto”, ou seja, Sou homem, nada do que
proveniente da Sársina, cidade da Úmbria, devido é de interesse humano me é estranho.
a perdas no comércio, a que se dedicou, acabou
Todo o temperamento de Terêncio o inclinava à reflexão
como escravo de um dono de moinhos, após ter
moralista, quase à meditação filosófica, e a linguagem ge-
sido rico. Escreveu obras teatrais, cerca de 130 co-
ralmente dedicada das suas personagens não era a mais
médias, imitando os autores gregos, sendo que sua apropriada para prender a atenção do público dos teatros
autoria só foi comprovada em cerca de noventa. romanos. (SILVA, Agostinho da. s/d., pág. 237)
Chegaram até nós, apenas, 27 delas. Embora sua
obra, admirada até à época de Augusto, recebesse
images /Orange%20Roman%20Amphithe-
Entre suas obras, podemos citar: Os Adelfos, An- go os seus Annales, sua obra fora escrita em um
dria, O Eunuco e Fórmio. latim que ainda apresentava traços arcaicos. Catão
procurava manter aceso o amor exagerado pelas
5.6 Catão antigas tradições romanas, agora modificadas pela
influência helênica. Tratou de temas como a me-
Marco Pórcio Catão (234 – 149 a.C.) era natural dicina, moral e costumes como em Carmen de
de Túsculo, na Sabínia. Numa época em que o moribus (Cântico sobre os costumes) redigido em
helenismo estava em voga, apoiado por um parti- versos satúrnios.
do liderado pela família dos Cipiões, o espírito de
Catão manteve-se firme aos antigos costumes de Os romanos se tornaram amantes das artes devido
sua terra, sendo chefe do partido dos romanos que à influência helênica. Roma respira uma atmosfera
rejeitava a ideia de que o desenvolvimento tivesse, culta e luxuosa. A literatura latina, neste ponto,
necessariamente, que se basear em fontes de co- aberta a influências exteriores, já modificada, está
nhecimento estrangeiro. preparada para sua exaltação. Atingirá a grandio-
sidade no próximo período que terá como o seu
Grande parte de sua obra é de cunho científico maior expoente Marco Túlio Cícero.
ou informativo, o que, como nos lembra Cardoso
(2003), não pode ser considerado como arte literá-
ria genuína. Vários autores romanos, a exemplo de
M. T. Cícero, que veremos no próximo capítulo,
também escreveram diversas obras puramente lite- GLOSSÁRIO
rárias e obras de caráter científico. “A poligrafia foi
uma característica do romano desde cedo” (Cardo- Augures - sacerdotes que supostamente interpretavam as
so, 2003, 187). vontades dos deuses por meio da observação da natureza,
especialmente o canto dos pássaros e o apetite dos frangos
Utilizou linguagem simples e cheia de arcaísmos sagrados de Juno.
em sua prosa. Em suas obras, dedica-se às dificul-
dades enfrentadas por Roma, como o êxodo rural Aurúspices - intérpretes das vontades dos deuses por meio
na época de Augusto, a solução dos problemas do estudo das entranhas de animais.
econômicos através da agricultura, com dicas e de-
veres sobre a arte do cultivo, em De agricultura, Autóctones – algo ou alguém originário de determinada
região.
única obra de Catão e de toda a prosa antiga que
chegou até hoje integralmente.
Beowulf - poema épico, de origem escandinava, com
3.182 linhas. Foi escrito na Inglaterra, no dialeto anglo-
Libri ad filium constitui-se em uma enciclopédia saxão.
na qual busca deixar para o filho princípios bási-
cos da educação romana. Trata de retórica, direito Bulla - amuleto recebido pelas crianças romanas ao nascer
romano, medicina e de militarismo, no intuito de para afastar mau olhado.
preservar seu filho Marco da influência grega. Em
um de seus 150 discursos, com seu espírito prático Epigrafia - estudo, decifração e interpretação de inscrições
e austero, critica o luxo das mulheres romanas, de- antigas.
fendendo a lei Ápia.
Horácio - Quinto Horácio Flacco. Poeta latino pertencente
à Fase Imperial da Literatura Latina.
Escreveu, ainda, Origenes (tratado sobre a origem
de Roma até sua época) e foi também historiador. Incipiente - elementar, simples, rudimentar.
[...] Catão não só narrava as origens e a história de Roma Orco - nome romano para a divindade que, provavel-
mas também das demais cidades itálicas e concebia, pri- mente, mais tarde foi identificada como Plutão, rei das
meiramente, a história de Roma como a história de toda a regiões inferiores. Equivale a Tanatos (mitologia grega), a
Itália. (Leoni, 1967, p.33) personificação da morte.
Como era de se esperar, diferentemente de outros Poligafia - o ato de escrever obras de gêneros diversos:
autores romanos da época que escreveram em gre- poesia, ensaios, contos, peças teatrais.
Capítulo 1 17
REFERÊNCIAS
Período Clássico
da Literatura
Latina
Prof. Ívison dos Passos Martins
Carga Horária | 15 horas
Objetivos Específicos
• Distinguir as características fundamentais do Período Clássico;
1. Período Clássico
O inevitável acontece em Roma: a apreciação pela arte grega atestava o triunfo
do helenismo sobre a sociedade romana. Os apelos de Catão pela conservação
dos antigos costumes romanos já haviam sido esquecidos. Atenas era o centro
das artes. Os modelos gregos eram livremente seguidos, e muitos partiam para a
Hélade, a fim de se aprofundarem em suas artes.
Como já vimos, este período pode ser didaticamente dividido em dois momentos
especiais, de acordo com suas particularidades: Período Ciceroniano e Período de
Augusto.
Através da eloquência, Cícero defendeu seus clien- ano 43 a.C. Conta-se que a esposa de Antônio, a
tes e sua própria ideologia, sendo considerado um título de vingança, chegou a cravar na língua de
defensor da pureza de caráter, da honestidade e Cícero cerca de cem alfinetes.
dos bons costumes, embora, em alguns casos, apre-
sentasse certa ambiguidade, como veremos mais
adiante. Plutarco, considerado seu melhor biógra- SAIBA MAIS
fo, afirma que: /wiki/Cícero
http://pt.wikipedia.org
u-
“De todos os oradores, foi este o que melhor fez sentir aos Pilar de Ferro. São Pa
CALDWELL, Taylor Um
08.
romanos o encanto que a eloquência imprime às coisas lo: Editora Record, 20
honestas e o poder de que a justiça se reveste quando é iou-
ca. Rio de Janeiro: Ed
sustentada pelo poder da palavra”. (Alencar, Menton de CÍCERO. Da Repúbli
1955, pág. 149). ro, s/d.
gspot.com/_DNJx_Za-
Aos 27 anos, casa-se com Terência, moça de família
abastada, irmã de Fábia, sacerdotisa vestal. De seu
AAAAAAAww/
casamento, que durou cerca de 30 anos, Cícero
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teve dois filhos: Túlia, sua primogênita, e Marco,
_PIL
onze anos mais novo. Após o divórcio, casou-se
pg
I/AA
/UM
FERRO_1231696559P.j
Fonte: http://4.bp.blo
novamente com Publília, jovem de família rica, o
Na5
320
que, acredita-se, tenha sido justificado por dificul-
Fb4
Io/s
dades financeiras. Mas, o casamento não durou
OONE/Scfb
osc JOYlA1
muito tempo. A maior perda, entretanto, sofrida
por Cícero, foi a morte de sua filha, em 45 a.C.
Declarou: “Perdi a única coisa que me prendia à
vida.” (Haskell, H.J, 1964 p. 249). Fortemente de-
cepcionado com a indiferença de Publília, diante
da morte de Túlia, Cícero divorcia-se dela.
Fonte: http://www.filosofix.com.br/blogra-
Possuía amigos em toda a Itália, inclusive na Sicí-
lia, onde foi questor, mas também obteve vários
inimigos devido à causa de sua linguagem mordaz miro/imagens/cicero.jpg
e irônica.
Apesar de amigo de Bruto, Cícero não participa da A obra de Marco Túlio Cícero, exemplo para a li-
conspiração que levou ao assassinato do ditador. teratura mundial, pode ser organizada em: discur-
Após a morte de César, o escritor se opôs à cam- sos, cartas, obras filosóficas e históricas, retórica e
panha de Antônio, na disputa deste pelo poder, poesia.
escrevendo suas terríveis Filípicas.
Discursos: cheios de habilidade em que busca anga-
As orações de Cícero, que se posicionou ao lado riar a simpatia de seus ouvintes, Cícero procurava
de Otávio na sucessão de César contra Marco An- persuadi-los pelo poder da palavra. (Cardoso 2003)
tônio e sua mulher, também alvo das críticas do apresenta os discursos de Cícero, dividindo-os em
grande orador, atraíram o ódio do casal contra Cí- judiciários e políticos. Entre eles, podemos citar:
cero. Sem contar com a benignidade de Otávio, Pro Quíncio, Pro Roscio Amerino, Pro Murena,
com quem Marco Antônio acaba se reconciliando, In Catilinam (as Catilinárias), pro Archias (em
é perseguido e assassinado por exigência deste úl- favor de Árquias) Pro Ligário, Philipicae (as Filí-
timo, em sua liteira, pelo centurião Herênio e por picas), Pro Cluentius (em favor de Cluêncio), que
Popílio, tendo a cabeça decepada em Fórmia, no figuram entre seus discursos mais famosos.
22 Capítulo 2
O mérito literário das cartas de Cícero, diz Augusto Mag- Obras históricas
ne, não é inferior ao dos discursos, e, é, para os modernos,
muito mais fácil de perceber. Nelas manifestam-se naturali- Em suas obras Sobre o Consulado (De Consulatu
dade, graça, espírito, tanto mais que são escritas com mais
meo) e Sobre os Tempos (De Temporibus), Cícero
abandono. As impressões do momento vêm aí consignadas
relata a trajetória de sua vida durante seu consu-
com vivacidade encantadora e espontânea (Pedroza, 1947,
p. 63).
lado e seu exílio por questões políticas, respecti-
vamente, em 58 a.C. Foi bastante aclamado em
Obras filosóficas seu retorno, especialmente por sua querida filha.
“Em cada cidade, ele foi recebido por delegações,
Embora não fizesse parte da alma romana, a fi- congratulando-o” (Haskell, H.J, 1964 p. 204 tradu-
losofia foi cultivada por eles, influenciados pelos ção nossa).
grandes filósofos gregos. Cícero não possuía origi-
nalidade nesta área, entretanto entregou a Roma Retórica
e à humanidade esta ciência com a máxima fideli-
dade que lhe foi possível. Traduziu vários filósofos Cícero procura revelar a forma idealizada da eloqu-
gregos para o latim e “[...] seus tratados são a fonte ência. Nessas obras, preocupa-se em mostrar como
principal que hoje possuímos sobre alguns filóso- atingir o requinte da oratória, discutindo sobre o
fos gregos que escreveram depois de Aristóteles e gênero e as técnicas de argumentação retórica.
cujos trabalhos se perderam” (Alencar 1955, p.
157). Entre suas principais obras filosóficas, pode- Com sua morte, a eloquência tão cultivada por
mos citar: Cícero como o exercício dos talentos da palavra,
“[...] vai reduzir-se a discursos inexpressivos – per-
• Da República (De Republica) e Sobre as Leis didos, em sua grande maioria – e em peças solenes
(De Legibus) – ambas de cunho político; e economiásticas, os panegíricos” (Cardoso, 2003,
p.158).
• Sobre a Natureza dos deuses (De natura Deo-
rum) – de caráter religioso, expõe suas ideias • Da invenção (De Inventione),
de livre arbítrio;
• Orador (De Oratore),
Capítulo 2 23
• Do Gênero Ótimo de Oradores (De Optimo sico dos escritores, oradores e poetas, baseada no
Genere oratorum), latim culto, e o familiar que o próprio Cícero uti-
lizava em casa “(conversando com esposa e filhos)
• Sobre o Orador (De Oratore) uma língua muito mais simples” (Cretella Júnior,
1961, p. 17), mas sem as “imperfeições” do latim
• (Partitiones oratoriae), vulgar.
• Tópicos (Tópica); apresenta o teor de uma O latim vulgar dos colonos e o latim castrense dos
obra homônima de Aristóteles soldados romanos, levados às mais longínquas
partes do Império, transformaram-se, durante os
Obras poéticas séculos, nas modernas línguas neolatinas. A varie-
dade clássica, entretanto, permaneceu, sem modi-
Embora não tenha sido considerado um grande ficações, através dos séculos. Foi utilizada na Ida-
poeta, desenvolveu, nesta área, poemas de bom de Média e, no século XVII, a obra Philosophiae
gosto como os que seguem: Naturalis Principia Mathematica, contendo a pri-
meira e a segunda lei de Newton, publicada pelo
• Prognósticos (Prognostica). cientista, foi escrita em latim. O Próprio Erasmo
de Rotterdam publicou, em latim, sua obra Elogio
• Fenômenos (Phenomena). à loucura (Stultitiae laus). Além disso, é a língua
oficial do Vaticano bem como fonte de termos
• Poema a César (Poema ad Caesarem). científicos, inclusive em línguas não latinas, como
o alemão e o inglês.
• Mário (Marius) poema heroico, do qual sobre-
viveram apenas 15 linhas. 1.3 Lucrécio
Os romanos conheceram diversas modalidades de Feliz aquele que pode conhecer as causas das coisas e colo-
latim. Características de uma língua viva, entre elas cou, sob seus pés, todos os temores, o destino inexorável e
figuram o latim vulgar, o latim culto, o latim clás- o estrépito do avaro Aqueronte (tradução nossa).
24 Capítulo 2
• Cartas;
• Discursos;
• Livros de analogia;
• Poemas
• Apothegmas
Júlio César • Anticatão – obra, na qual César responde a
um elogio feito por Cícero ao escritor romano
Teve uma forte educação no campo da filosofia e Catão.
da retórica, havendo estudado com o gaulês An-
tonio Gnifone, profundo conhecedor da erudição
greco-latina. Posteriormente, foi aluno de Mólon,
em Rodes.
SAIBA MAIS
Foi Pontífice Máximo, pretor, pró-consul na Gália /wiki/ Guerras_da_Gália
http://pt.wikipedia.org
e participou do triunvirato juntamente com Pom-
s.pt/julio_cesar.htm
peu e Crasso. Além disso, foi grande orador, poeta http://www.vidaslusofona
e historiador.
A) : 2004 direção:
Filme: Spartacus, (EU
Robert Dornhelm.
Amante das letras e das coisas do espírito, Júlio
César, como já foi mencionado, era um grande in-
centivador da literatura.
Capítulo 2 25
wikiFicheiro:Augustus_Bevilacqua_Glyptothek_
do os moldes alexandrinos. Sua linguagem era
simples, espontânea e bastante original, o que se
torna, além de sua paixão e amor aos prazeres e ao
luxo, uma de suas principais características:
Fonte: http://pt.wikipedia.org/
Vivamus mea Lesbia, atque amemus,
rumoresque
Munich_317.jpg
senum severiorum
omnes unius aestimemus assis!
Augustus
Catullus V 1-6.
O Imperador tinha consciência de que a literatura era um campestre, como sendo o ideal. Outro poema As
excelente meio de propaganda da ideologia romana. As- Geórgicas é uma obra didática, na qual trata de
sim, ele incentiva as manifestações artísticas e literárias a assuntos relativos à vida campestre, como o cultivo
fim de divulgar a paz, além da ostentação de poder. Co-
do campo, a criação de animais e, finalmente, da
menta Leoni: “Todas essas ideias – paz, força, grandeza,
potência, missão civil de Roma – constituíam as principais
criação de abelhas. Este poema, dividido em qua-
fontes inspiradoras da literatura do período de Augusto” tro partes, foi escrito a pedido de Mecenas.
(Leoni, 1967, p. 66).
estátua de Horácio
28 Capítulo 2
a) História de Roma – obra já citada, escrita em A morte inesperada de seu irmão aos vinte anos foi
142 livros divididos em grupos de dez, dos um golpe muito duro para ele. Por algum tempo,
quais, apenas 35 foram preservados. A obra decide entrar na carreira pública, desempenhando
cobre um longo período histórico desde a nela vários cargos, porém sem abandonar as letras.
fundação de Roma, abrangendo as guerras e Foi amigo de Horácio e Virgílio, inclusive de Au-
conquistas de territórios até o século IX da gusto. Mas a amizade com este último só durou até
era cristã. Enalteceu a pátria, atribuindo aos que o imperador odiasse o poeta por sua licencio-
deuses a vitória dos romanos. Sua linguagem sidade.
é poética e no que escreve “sente-se o eco da
poesia de Virgílio.” Procura ser fiel nos fatos Sua vida pessoal foi um tanto conturbada por fatos
históricos, baseando-se, enquanto possível, em inusitados. Como exemplo, citamos a ocasião em
fontes documentais. Pode, nesse aspecto, ser que assistiu à intimidade sexual entre Júlia, neta
comparado a Fernão Lopes na literatura por- de Augusto, e seu amante Silano. Oito anos atrás,
tuguesa, que, ao relatar a história portuguesa, a mãe da jovem e filha do imperador havia sido ex-
em suas crônicas, rompe com o passado que patriada por causa de seus atos libidinosos devido
mesclava a lenda à realidade. Note-se, todavia, à política de Augusto contra a imoralidade.
que esse tipo de trabalho, mesmo sendo de ca-
ráter científico, o que é de se estranhar no es- Porém, no ano 10 d.C, por razões ainda não total-
tudo literário, sua importância se justifica pelo mente elucidadas, Augusto o condena a se exilar
fato de que a linguagem poética está presente. em Ponto Euxino, enquanto sua esposa permane-
ce na Itália, sem poder se ausentar, temendo que
b) Epístola - carta na qual trata sobre a educação seus bens fossem confiscados. O navio onde se
dos jovens. encontrava naufragou devido a uma tempestade.
Salvo, chegou à cidade de Tomos, no Ponto Euxi-
c) Obras filosóficas - dessas obras, uma parte foi no, onde permaneceu por sete anos até sua morte,
escrita em forma de diálogos, a exemplo do li- em 17 d.C.
vro De Amicitia (Cícero) e outra, escrita de
forma didática. Dotado de um estilo refinado, fluente e erudito,
é também, ao mesmo tempo, sensual e cheio de
2.4 Ovídio erotismo. Isso o fez favorito entre a gente culta, frí-
vola e elegante de seu tempo. Inspirado em outros
De família de cavaleiros nobres, Públio Ovídio poetas, desde cedo apresentou estilo e característi-
Naso nasceu em Sulmo (moderna Sulmona), cas próprias. Desenvolveu uma linguagem rica em
Abruzzos, Itália. Seu nome em latim significa “na- figuras de linguagem, atingindo uma sofisticação
riz”, que, como no caso de Cícero, ele recebe esse que não se encontra em nenhum outro poeta la-
nome por causa de um antepassado seu, que pos- tino. A despeito do caráter libertino apresentado
suía o nariz grande. Seu nascimento foi por volta por Ovídio, sua pureza linguística e “o uso mode-
de 43 a.C, e sua morte ocorreu no ano de 17 d.C. rado das licenças poéticas fizeram dele o imortal
padrão em que toda a posteridade se pauta.” (Oví-
Estudou em Roma, ao lado de seu irmão mais ve- dio, 2003, p.132).
lho, com renomados mestres, entre eles Aurélio
Fusco e Pórcio Latro, recebendo aulas de retórica. A obra de Ovídio é ampla e podemos citar entre
Depois, seguiram para Atenas, onde passaram cer- elas:
ca de um ano. Ovídio e seu irmão tiveram, desde
cedo, educação esmerada. Era desejo de seu pai a) Amores - obra composta em cinco livros, na
que ele se tornasse advogado como Cícero, com qual Ovídio deixa aparecer toda a sua erudi-
uma carreira brilhante no fórum. ção;
Ovídio, porém, não se sentia atraído pelo ambien- b) Ars Amatória (A arte de amar) – obra original,
te forense e, sim, pelas letras, tendo-se dedicado à Ovídio produz aqui um manual de conquista
poesia, chegando a dizer sobre si mesmo: “Et quod das mulheres. Sua obra é considerada “profun-
temptabam dicere veros erat” Tudo o que digo me damente obscena” (Pedroza, 1947, p. 123), de-
sai em verso (Ovídio, 2003, p.124). vido à sua falta de decoro. Tornou-se o único
30 Capítulo 2
nos livros de Sêneca, o Pai, os prefácios. Neles, o Mário - Caio Mário, antecessor do ditador Sila. Foi político
escritor faz considerações sobre a retórica, revelan- e general da República Romana.
do-nos, muitas vezes, sua posição crítica em relação
Mólon - Apolônio Mólon, professor de retórica, da cida-
ao assunto” (Cardoso, 2003, p.165). de de Rhodes, na Grécia. Foi mestre de Cícero e de Júlio
César.
Por volta de 35 d.C, surge Marco Fábio Quintilia- Epicurismo – sistema filosófico, defendido pelo filósofo gre-
no, também nativo da Espanha. Graças a esse es- go Epicuro (séc. VI a.C) no qual o prazer deveria substituir
critor, que morreu com cerca de 60 anos, a retórica a dor.
retoma sua função primária em Roma.
Epigrama – composição poética satírica e breve, de origem
O próximo período que consideraremos é chama- grega.
do de Pós-Clássico ou a Idade de Prata, no qual
Mecenas - Caio Cilnio Mecenas, que, ao lado de Augusto,
veremos autores, como Fedro, Petrônio, entre ou- é um dos grandes protetores das letras. Era amigo íntimo
tros, de igual importância. de Horácio e de Virgílio.
Quinto Múcio Cévola - mestre que ensinou a Cícero sobre CRETELLA, Júnior José. Latim para o ginásio.
as leis. São Paulo Companhia Editora Nacional, 1961.
Plutarco - filósofo e prosador grego do período greco- HASKELL, H.J. This was Cicero. New York: Fa-
romano (45 – 120 d.C). wcet World Library, 1964
Filípicas - orações ou discursos nos quais Cícero ataca fe-
JEANROY Alfred & PUECH Aimé - Histoire de la
rozmente Marco Antônio, denunciando problemas tanto de
sua vida privada quanto da pública.
Littérature Latine. Paris, Mellottée, s/d.
Árquias - poeta de origem grega, defendido por Cícero, ao LEONI, G. D. A literatura de Roma. São Paulo:
ser acusado de usurpação do direito à cidadania romana. Livraria Nobel, 1967.
Ático - Tito Pompônio Ático (109 a.C-32 a.C), intelectual, OVIDIO. Metamorfoses. São Paulo: Editora
negociante e amigo de Cícero. Cidadão romano, recebeu Martin Claret, 2003.
o apelido de Ático (de Ática, região grega onde está situa-
da Atenas) por ter vivido 20 anos na Grécia. PEDROZA, Alfredo Xavier. Compêndio de histó-
32 Capítulo 2
Período
Pós-Clássico da
Literatura Latina
Prof. Ívison dos Passos Martins
Carga Horária | 15 horas
Objetivos Específicos
• Obter uma compreensão geral do Pós-clássico bem como distinguir alguns de seus
principais autores;
Este capítulo apresenta a fase que compreende desde a morte de Augusto à de Adria-
no, na qual apesar de ainda manter seu viço, a literatura latina começa a dar sinais de
declínio.
1. Período pós-clássico
Fonte: http://www.laeditorialvirtual.com.ar/Pages/Mar-
afaste cada vez mais do mode-
lo clássico, perdendo-se nos
tosDenes/LosDeicidas/Images/Roma001.jpg
detalhes e no pedantismo.
Somente no final do século
II d.C., a literatura pagã co-
meça a entrar em declínio.
a) Idade de prata, que inclui escritores, como: Fedro; Sêneca; Lucano; Petrônio; Plí-
nio, o velho; Juvenal e Suetônio.
b) Idade de decadência: Apuleio (Leoni 118).
c) literatura romano-cristã.
34 Capítulo 3
As fábulas O lobo e o cordeiro e A raposa e a más- Fame coacta vulpes alta in vinea
cara ilustram essas referências a Sejano. Transcre- Uvam appetebat summis saliens viribus;
Quam tangere ut non potuit, discendens ait: “Nondum
vemos aqui, esta última, por sua brevidade, a título
matura est; nolo acerbam sumere”.
de exemplo: Qui facere quae non possunt verbis elevant,
Adscribere hoc debebunt exemplum sibi.
Capítulo 3 35
Sobre a raposa e a uva Quintilano disse que Lucano possuía mais de orador do
que de poeta. Este é um julgamento muito estreito; mas
Coagida pela fome, uma raposa, não é menos verdadeiro do que os discursos dos quais ele
saltando com todas as forças, cobiçava um cacho de uvas encheu sua obra, a exemplo dos historiadores, que são tal-
numa vinha alta, a qual não pode atingir, disse ao retirar- vez as porções em que seu gênio se revela o melhor (Jean-
se: Ainda não está madura. Não quero colher a amarga. roy/Puech - s.d. p. 242 tradução nossa).
Deverão aplicar a si este exemplo (esta fábula) os que rebai-
xam com as palavras o que não podem fazer (VALENTE, Para melhor exemplificar o que temos dito, cita-
1952, p.137). mos um pequeno trecho de sua principal obra:
Observe o tom moralista no final do texto: Qui fa- No tempo do estio, o Rubicão, de águas averme-
cere quae non possunt verbis elevant, Adscribere lhadas, é um simples regato: serpeia no fundo
hoc debebunt exemplum sibi: Deverão aplicar a si dos vales, servindo de limite entre os campos da
este exemplo (esta fábula) os que rebaixam com as Gália e da Itália. Agora o inverno lhe dava forças,
palavras o que não podem fazer. e lhe avolumavam as águas três meses de chuvas
e as neves alpinas desfeitas pelo tépido sopro do
Entre as muitas fábulas de Fedro, mundialmente Euro. A cavalaria avançava obliquamente ao curso
conhecidas, traduzidas e por vezes adaptadas nas do rio, como para quebrar o ímpeto da corrente;
mais variadas culturas, figuram as seguintes: segue-se a infantaria, que desta maneira acha mais
praticável o vau. Vencida a passagem, César chega
O lobo e o cordeiro (Lupus et Agnus); A rã que à margem oposta do rio, para nessa vedada terra
explodiu e o boi (Rana rupta et bos); A raposa e o itálica; e brada: “Deixo aqui a paz: Não quero mais
corvo (Vulpes et corvus); A vaca, a cabra, a ovelha as leis e os tratados. Ó Fortuna, somente a ti acom-
e o leão (Vacca, capella, ovis et leo); Um gralho panho: entrego-me aos fados e à sorte das armas”.
inchado de vã soberba (Graculus tumens inani su- (“Bellum civile”, I. 183, Apud Leoni 1967, p. 254).
perbia); e O lobo e o grou (Lupus et gruis).
Infelizmente, Lucano não pôde contribuir mais
1.3 Lucano com seu estilo inovador, pois foi forçado a cometer
suicídio aos 26 anos, como pena por ter se posicio-
A poesia épica conta com um grande nome: M. nado contra o imperador. Além de Bellum civile
Aneu Lucano. Nascido em 39 d.C., na cidade de (A Guerra Civil), Lucano escreveu cartas, discursos
Córdoba, era sobrinho de Sêneca, o filósofo. Sua e outros escritos de menor importância.
principal obra, Pharsalia, é um poema épico em 10
livros, dos quais, apenas os três primeiros foram
publicados em vida. SAIBA MAIS
s.pt/lucano.htm
http://www.vidaslusofona
Trata-se de uma obra original, sendo Lucano um
poeta e declamador genial, a ponto, de, por inveja,
Nero chegar a proibi-lo de se apresentar em públi-
co. A Pharsalia ficou conhecida a Bellum civile 1.4 Petrônio
(A guerra civil), por causa do episódio culminan-
te que leva esse nome. É uma obra inovadora, na Gaio ou Tito Petrônio, chamado de “arbiter ele-
qual Lucano, mesmo escrevendo um poema épico, gantiarum” (arbitro da elegância), por sua fineza e
tenha-se em mente a Eneida, difere deste, deixan- genialidade, é natural de Marselha. Era o preferido
do de lado a intervenção das divindades e dos seres de Nero, frequentador de sua corte. Tal como Lu-
fantásticos, mencionando-os, apenas, em algumas cano, Petrônio, também, foi sentenciado a suici-
lendas geográficas ou mitológicas. Trata de ser o dar-se por ordem do imperador.
mais fiel possível à historicidade dos fatos. O livre
arbítrio do ser humano é quem age na tomada de Sua obra principal e única a chegar até nossos dias
suas decisões. Trata sobre a guerra entre César e é “Satiricon”, apesar de o título latino oferecer dú-
Pompeu, numa linguagem poética e com patrio- vidas, pois há quem sugira outros, como: Satyricon
tismo e amor à liberdade, além de deixar clara a libri ou Saturae. Quanto a sua autoria, embora
filosofia estoica. não haja plena certeza de ser este Petrônio o autor,
36 Capítulo 3
(houve vários outros escritores romanos chamados gue, perguntando a uma velhinha vendedora de
Petrônio), seguiremos a tradição, considerando legumes, serve para ilustrar um pouco da lascívia e
esse como seu autor. comicidade da obra, que não deixa de ter seu valor
histórico:
Satiricon retrata a sensualidade e licenciosidade
da sociedade romana de seu tempo. Entre outros – Por favor, disse-lhe, minha velhinha, não saberíeis dizer
aspectos, é de grande importância, por ser consi- onde fica o meu albergue?
derada o primeiro romance da literatura latina. A minha tola pergunta a pôs de bom humor:
– Pois não haveria de saber? Respondeu.
Temas delicados, como o homossexualismo e o
E, levantando-se, tomou o caminho, indo à minha frente.
amor livre, podem ser vistos na obra, como, por
Já a julgava uma adivinha; mas, pouco depois, chegados a
exemplo, na história de três rapazes pervertidos: uma pequena estrada erma, a gentil velhinha levantou a
Enclópio, Ascilto e Gitão. Os jovens vivem situa- cortina de uma porta e disse-me:
ções inusitadas, como o episódio em que são ata- – É aqui que deves morar.
cados num bordel, ou quando Gitão, choroso, diz Admirado, dizia que não conhecia aquela casa quando,
a seu amante, Enclópio, que fora assediado por entre dois letreiros, vi, na semiobscuridade, homens que,
Ascilto. Em outro episódio, intitulado O Menino no interior da casa, davam voltas em companhia de pros-
de Pérgamo, de conteúdo bastante forte, em que o titutas nuas. Percebi, então, mas muito tarde, que havia
garoto, assediado por vários dias, cede aos desejos sido conduzido a um prostíbulo. (SATIRICON, I, p.21-22)
de seu sedutor após receber vários presentes.
É um romance cômico. O comentário a seguir duas “estão concentradas as ideias de Sêneca, que
mostra um importante ponto a ser destacado: sempre se esforçou em mostrar o aperfeiçoamento
moral, baseando-se não em teorias áridas, mas nos
(...) “a obra de Apuleio foi considerada por alguns como fatos cotidianos da vida”. (LEONI, 1967, p. 102).
uma representação alegórica do mito platônico de Fedro:
a alma deve morrer para chegar à concepção do divino e Vimos o Mimo no primeiro capítulo. Esse gêne-
sofrer duras provas para elevar-se até deus.” (CARDOSO,
ro acabou por suplantar as tragédias, uma vez que
2003, p.130).
possuía um caráter sensual e agradava às massas
com seus espetáculos de nudez. O drama começa a
1.5 Sêneca, o Filósofo entrar em decadência. Depois de Sêneca, não sur-
giram mais autores dramáticos que fizessem nome
com esse gênero.
Fonte: http://ferreira.leticia.blog.uol.
com.br/images/Seneca.JPG
SAIBA MAIS
/wiki/Séneca
http://pt.wikipedia.org
Sêneca
Suas Obras
Sêneca, que havia sido exilado pelo imperador Podemos assinalar alguns de seus tratados filosó-
Cláudio, tendo sido falsamente acusado por este, ficos: Sobre a ira (De ira); Sobre a brevidade da
foi chamado por Agripina, para assumir a educa- vida (De brevitate vitae); Sobre a clemência (De
ção de Nero, tornando-se seu principal conselhei- Clementia); Sobre a providência (De providentia);
ro, quando Nero se tornou imperador. Sêneca Sobre o ócio (De otio); Sobre a vida feliz (De vita
posicionou-se do lado do imperador monstro, ao beata); Da constância do sábio (De constantia sa-
defender, no Senado, o assassinato de Agripina. pientis) e as Consolações. Seus tratados sobre a ira,
Anos mais tarde, tomando partido contra Nero, a brevidade e a felicidade da vida e a consolação
Sêneca acaba por ser condenado ao suicídio. fizeram-no, além de um pensador profundo, um
grande moralista (...). (PEDROSA, 1947, p. 149).
Suas contribuições literárias vão desde obras filo-
sóficas à sátira e à tragédia. Nos tratados destacados, vemos os mais diversos
temas filosóficos abordados por Sêneca:
Conhecido como o filósofo, Sêneca foi quem fez
ressurgir, em Roma, a filosofia após Cícero, um de
Sobre a ira Dirigido a seu irmão, Novato, este
seus principais introdutores. Dedicou-se, também, tratado discorre sobre a ira e as
à oratória, à poesia, produzindo belas tragédias e formas em que esta se apresenta.
estudos filosóficos. Sentimento desnecessário para o
homem, Sêneca propõe a autodis-
ciplina para combatê-lo. Há quem
Roma, a despeito de a Grécia ser a pátria dos fi- diga que, por causa da incipiência
lósofos, produziu grandes nomes, entre eles o de da obra, tenha sido esta uma de
Sêneca. Quanto à filosofia e à experiência, nas suas primeiras produções.
38 Capítulo 3
Fonte: http://www.homolaicus.com/arte/cese-
Sobre a O assunto aqui abordado é a falta
na/storia/Musei/Morte_Seneca_small.jpg
brevidade de tempo, devido aos cuidados e
da vida obrigações da vida, para que se
volte para a introspecção. Conde-
na os cuidados excessivos, o des-
perdício do tempo que nos é dado
em ocupações inúteis, em detri-
mento das coisas da alma.
Sobre a A providência divina, que trata A maior parte dos homens, ó Paulino, queixa-se da parci-
providência sobre o relacionamento entre os
mônia da natureza, porque somos criados para uma vida
seres humanos e a divindade.
tão curta; estes espaços de tempo que nos são dados pas-
sam tão rápidos, que, excetuados uns poucos, a vida aban-
Sobre O ócio, para Sêneca é o ato da
contemplação, atividade concer- dona os demais no meio dos pápidos, que, excetuados uns
o ócio
nente aos estudos da Filosofia. poucos, a vida abandona os demais no meio dos preparati-
Nesta obra, ele aponta o ócio vos mesmos da vida. E, como dizem, não é apenas a turba
como o meio necessário para se e o imprudente vulgo que deplora este flagelo público: este
contemplar a verdade. sentimento provocou queixas até de homens ilustres(...)
(De brevitate vitae, 1 Apud Leoni, 1967, p.252).
Sobre a Sêneca, defensor do estoicismo,
vida feliz neste tratado polêmico, sugere
que uma vida feliz e aprazível é
Quanto às consolações, Sêneca deixou-nos Conso-
alcançada através da virtude*. lação a Hélvia (Ad Helviam matrem), Consolação
a Márcia (Ad Martiam consolatio) e Consolação a
Da Trata sobre a constância do espí- Políbio (Ad Polybium).
constância rito do sábio, com seu espírito im-
do sábio perturbável, livre do domínio da
Fortuna.
Em Consolação a Hélvia, escrita para sua própria
mãe, Sêneca, durante o desterro, além de descrever
o lugar onde se encontrava, procura dar consolo a
esta. Referindo-se à dor do exílio, escreve:
que Sêneca, no desespero do exílio, tentou chegar gédias próprias para a representação teatral, mas,
até Cláudio através de Políbio, que desfrutava de sim, para serem lidas. Legou-nos nove tragédias,
grande prestígio no palácio imperial” (CARDO- nas quais trabalha a análise psicológica.
SO, 2003, p. 176).
São elas: A loucura de Hércules, Hércules no
A sátira: Eta, Édipo, Fedra, Medeia, Tiestes, As troianas,
Agamenon e As fenícias. Esta última chegou in-
Sêneca deixou-nos uma única sátira, intitulada completa até nós. Ainda não se sabe se por ter se
Apocolocintose (Apocolocynthosis). Sátira meni- perdido no tempo ou se o próprio escritor não a
peia, neste trabalho Sêneca ataca com força a me- terminara por alguma razão ignorada.
mória do falecido imperador Cláudio por causas
pessoais. Exilado pelo imperador, pai adotivo de Hércules é o personagem central
A loucura
Nero, o escritor vai para Córsega, onde permane- das duas obras. Na primeira, ao
de Hércules
ce até que Agripina pede que ele regresse a Roma ser enlouquecido por Juno, mata
e Hércules
seus filhos e sua esposa. A segun-
e seja encarregado da educação de Nero, como no Eta
da traz o episódio de sua morte
já vimos anteriormente. Com o falecimento de no monte Eta.
Cláudio, em 54 d.C., Sêneca escreve um elogio ao
Sêneca baseia-se na obra de Só-
morto. Como de costume, os imperadores após a Édipo
focles Édipo-Rei, mantendo as
morte, desde César, eram deificados. Em suas Me- características básicas dos perso-
tamorfoses, Ovídio cita o momento em que Júlio nagens. A tragédia traz a agonia
César é transformado em um cometa. É interes- que se abate sobre o rei de Tebas,
sante notar, que mesmo passados alguns anos, Sê- ao descobrir os males que prati-
cou em sua inocência.
neca ainda se ressentia por haver sido desterrado e
escreve, em tom de zombaria e insolência, sobre os Em Fedra, a rainha de Creta, que
Fedra dá nome ao livro, é acometida de
funerais de Cláudio que, após a morte, ao invés de violenta paixão por seu enteado,
se tornar um deus, vai para as profundezas. Hipólito, acarretando a morte
dele.
Num tom mordaz, de galhofa e grotesco, Sêneca Conta a trágica história da feiti-
recria o momento da morte e dos funerais do im- Medeia
ceira Medeia que, ao ser abando-
perador, retratando-o de uma forma desrespeitosa nada por seu amante, que se casa
e, com certeza, vingativa. O imperador é retratado com Creusa, filha de Créon, rei de
Corinto, procurando uma manei-
como um palerma que só depois de algum tempo, ra de se vingar, mata os próprios
cai na real e se dá conta de que havia morrido. filhos.
O mundo romano, afinal, estava liberto do mau
Possui um desfecho similar ao da
governo de Cláudio: Tiestes
história de Progne, Tereu e Filo-
mela, (cf. Metamorfoses, Ovídio,
Enquanto desciam pela via sacra, Mercúrio pergunta o X). Atreu é traído por sua esposa e
porquê da aglomeração de gente: seria o enterro de Cláu- seu irmão Tiestes. Como vingan-
dio? Era o mais esplêndido enterro de todos os séculos ça, Atreu, simulando uma recon-
(...) Todo o mundo estava alegre, em festa: o povo romano ciliação, dá um banquete horren-
passeava, sentindo-se livre. Agatão e alguns rábulas se quei- do a Tiestes, no qual lhe oferece
xavam de todo coração! E os juízes, pelo contrário, deixa- as carnes dos filhos deste, como
iguaria.
vam os seus abrigos, pálidos, quase que no momento de
entregar os pontos: gente que recomeçava naquele instante “Em As troianas, acompanhamos
As troianas
a viver! Um destes juízes, vendo os rábulas chorarem a pró- a série de infortúnios enfrentados
e Agamenon
pria sorte, aproximou-se e disse: “Quantas vezes eu falei: pelas sobreviventes de Troia, ao
não é sempre carnaval!” Como viu o seu enterro, Cláudio terminar a guerra; em Agame-
compreendeu que estava morto... (Apocolocynthosis, XII, non, defrontamo-nos com a his-
tória do rei de Micenas, que, ao
1-2 Apud Leoni, 1967, p. 253).
retornar ao lar, encontra a morte,
planejada pela própria esposa”.
As tragédias: (CARDOSO, 2003, p. 42).
Outra vez retoma a lenda de Édi-
Tomando como exemplo as peças de Eurípides, As fenícias
po, com os dramas vividos por ele
Sêneca escreveu elegantes tragédias. Não são tra- e por Jocasta.
40 Capítulo 3
Fragmento de Medéia: Sua principal obra e que chegou até nossos dias,
na íntegra, é a História natural (Historia naturalis)
Medéia enfurecida dedicada a Tito, escrita em 77 d.C. Esse trabalho
rendeu-lhe a alcunha de o Naturalista.
Ó minha louca dor, vê se podes falar com maior juízo! Se
for possível, Jasão deve viver, deve ser meu, como foi até Trata-se de uma espécie de enciclopédia de ciên-
agora; se não for possível, viva igualmente, lembre-se de
cias naturais, abordando temas, como a agricul-
mim e conserve tudo o que os meus benefícios lhe deram.
tura, medicina, zoologia, cosmografia, história,
A culpa inteira é de Créon: servindo-se da autoridade de
seu cetro, ele corta o nosso conúbio, tira dos seus filhos a
artes... Plínio foi um grande pesquisador, tendo-se
mãe, quebra uma fé ligada por estreitos liames. Ele só deve baseado em obras de autores gregos e latinos para
ser punido conforme a justiça! Eu quero transformar a sua escrever seu compêndio.
casa num amontoado de cinzas! O promontório Meléia,
que afasta os navios num mais longo rumo, poderá ver, Apesar de certa imprecisão em seus dados, que, por
embora distante, um negro vórtice de chamas subir ao céu. vezes, provinham das próprias obras em que havia
(Medea, II cena I Apud Leoni, 1967, p.253). pesquisado, trata-se de um dos melhores trabalhos
da antiguidade clássica, com uma enorme rique-
za de detalhes. Sua obra, embora densa, registra a
SAIBA MAIS visão científica de sua época e o deslumbramento
do homem diante do universo. Plínio foi bastante
ras de Sêneca.
SÊNECA. Medeia, ob honesto e ousado em seu empreendimento:
iou ro, s/d.
Rio de Janeiro: Ed
Minucioso e cuidadoso, Plínio desce a pormenores e co-
menta seu próprio trabalho. Na descrição dos astros e dos
fenômenos meteorológicos, não se atém à mera enumera-
1.6 Plínio, o velho ção: refere-se, também, a crenças e crendices, aflorando
no terreno filosófico religioso (...) No estudo do homem,
analisa não só as pessoas “diferentes” das demais por seu
O administrador
comportamento e suas atribuições (feiticeiros, antropó-
e escritor latino fagos, andróginos, magos) como também aqueles que se
Gaius Plinius Se- destacam dos outros por peculiaridades ou deficiências
cundus, ou sim- físicas (gigantes, pigmeus, albinos, aleijados). A análise da
Fonte: http://pt.wikiquote.org/wiki/
seu sobrinho, Plí- fatos, muitas das quais pertinentes até nossos dias (CAR-
nio, o novo. Nas- DOSO, 2003, p. 194).
ceu ao norte da
Itália, em Como, E assim, prossegue, com o mesmo esmero, nos
Plínio, o velho
no ano de 23 a.C. estudos dos vegetais, dos animais, incluindo, até
Foi educado em mesmo, uma história da arte, na seção de estudo
Roma, com 23 anos, exerceu cargo militar na Ger- dos minerais. Neste trecho a seguir, vemos a curio-
mânia, desempenhou o cargo de governador da sa descrição da mitológica Fênix, que ele havia es-
Espanha, foi amigo de Vespasiano e de Tito, tendo tudado da obra de outros autores, e que ele mesmo
assumido diversos outros cargos públicos, o que, não havia visto a ave:
apesar de uma vida cheia de compromissos, não
Na Etiópia e na Índia, há aves de várias cores e misteriosas;
o impediu de se consagrar aos estudos científicos,
entre as muitas deste tipo, na Arábia, existe a Fênix que –
dedicando-se à ciência antiga.
não sei se é fábula – parece única no mundo e dificilmente
visível. Narra-se que é grande como uma águia: ao redor
De sua vivência na Germânia, pôde escrever sobre do pescoço, é áurea, no resto é purpurina; a cauda, azul
a guerra contra os germanos. Escreveu também claro, tem penas cor de rosa. Na parte superior da cabeça,
uma biografia de Pompônio Segundo e outras há uma crista (Naturalis historia, X, 2 Apud Leoni, 1967,
obras que, igualmente, não chegaram completas p.258).
até nós.
Pesquisador nato, Plínio residia a poucos quilô-
Capítulo 3 41
metros de Pompeia. Morreu em 79 d.C, sufocado via sido escrito no passado e as complicações, que,
pelos gases emitidos pelo Vesúvio, enquanto pes- no próximo período, seriam uma das principais
quisava aquele fenômeno in loco. O que sabemos causas do declínio: “uma tentativa feliz de renovar
sobre o escritor, deve-se muito a seu sobrinho, Plí- as imitações retóricas de que está cheia a literatura
nio o Jovem, que, em uma de suas cartas a Táci- latina do primeiro século e do início do segundo
to, relata que seu tio empenhou-se no resgate de século depois de Cristo”. (LEONI, 1967, 112).
vítimas da erupção do Vesúvio, em Pompeia, onde
pereceu. Juvenal é um rigoroso crítico de sua época e, con-
fessando-se enfadado de ouvir os poetas (os maus
Mencionamos, aqui, trechos da carta de Plínio, o literatos) que afligiam o público com seus épicos,
jovem, a Tácito, quanto à curiosidade do tio refe- comédias, tragédias, elegias..., declara:
rente à manifestação do Vesúvio e sua morte:
Devo eu ser sempre apenas um ouvinte? Tantas vezes im-
“Meu tio ficou atônito e julgou digno de ser observado de portunado pela “Teseida” de um rouco Cordo, não lhe re-
perto. – Depressa uma galera! – exclama ele – e me convida tribuirei? Ter-me-ão, pois, recitado impunemente comédias
a que o siga; eu preferi continuar no meu estudo, e ele saiu e elegias? E impunemente ter-me-á consumido o dia um
só e se embarcou (...)” “Meu tio quis aproximar-se da praia, imenso “Télefo” ou um “Orestes” escrito até nas margens
apesar do mar ainda estar muito agitado. – encaminhou-se e no verso do grande volume e ainda não terminado? (...)
para ela, bebeu água e fez estender um pano sobre o qual se (Satirae I, 1, Apud Leoni 1967, p. 266).
deitou; de repente, vêem-se brilhar umas chamas ardentes,
precedidas dum cheiro a enxofre que obriga todos a fugir. 1.8 Suetônio
Meu tio, sustentado por dois escravos, procura libertar-se,
mas, de repente, cai sufocado pelo vapor: - e Plínio é mor-
O escritor nasceu por volta de 70 d.C, e, até hoje,
to! (Apud Pedrosa, 1947, p.160).
não se sabe ao certo qual o seu lugar de origem.
quisas sobre a História romana. O trecho a seguir, Menipeia – estilo em que se escreve alternando verso e pro-
retirado de De vita caesarum, nos dá um exemplo sa. O nome deriva de Menipo de Gádara, filósofo grego
do IV século a.C., em quem Varrão se inspira para compor
de seu trabalho:
sua obra Sátiras menipeias. Desta obra, restaram apenas
fragmentos.
(...) “Estou me portando de maneira vergonhosa, ignóbil;
isto é indigno de Nero, é indigno; é preciso ter coragem
Rubicão - rio localizado ao norte da Itália.
nessas ocasiões, vamos, levanta-te”. Mas já se aproximavam
os cavaleiros, aos quais fora ordenado que o conduzissem
Agatão – escritor trágico natural de Atenas, Grécia. Segun-
vivo para Roma. Quando o percebeu, disse tremendo um
do Aristóteles, Agatão teria escrito uma tragédia intitulada
verso de Homero: “O galope dos cavalos de pés rápido fere
Aquiles.
os meus ouvidos”. E, ajudado por Epafrodito, o encar-
regado dos requerimentos, enterrou o ferro no pescoço.
Rábula – advogado inexperiente.
Estava ainda agonizante quando um centurião entrou pre-
cipitadamente e fingindo que vinha em seu socorro, com-
Vespasiano – Tito Flávio Sabino Vespasiano. Imperador ro-
primiu a ferida com a mão. Nero apenas respondeu; “É
mano (9-79 d.C) de origem sabina. Era pai do general Tito.
tarde” e “este é fiel”. A essas palavras, expirou. Seus olhos
salientes e fixos incutiam nos presentes espanto e medo.
Tito – general romano que comandou o cerco de Jerusa-
O que primeiro e principalmente pedira aos companhei-
lém em 70 d.C., no qual foi destruído o Templo; sucedeu
ros fora que ninguém se apossasse de sua cabeça, mas, de
seu pai no ano 79 de nossa era.
qualquer maneira, o cadáver fosse inteiramente queimado.
Isto foi permitido por Icelo, liberto de Galba, não muito
Vesúvio – vulcão localizado na baía de Nápoles, Itália, que
antes libertado da prisão em que fora lançado no começo
causou a destruição das cidades de Pompeia e Herculano,
do levante.
no ano de 79 d.C.
da Período
Decadência e o
Surgimento da
Literatura
Latino-cristã
Prof. Ívison dos Passos Martins
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Objetivos Específicos
• Reconhecer as causas que levaram à Decadência e os fatores fundamentais que con-
duziram ao surgimento de uma literatura cristã no mundo romano;
• Conhecer alguns dos autores expoentes da literatura latino-cristã desde seu floresci-
mento até a Idade Média bem como suas principais obras.
1. Decadência
Durante o governo dos imperadores antoninos, a literatura latino-pagã começa a decli-
nar, perdendo seu brilho para, finalmente, deixar de ser produzida no século V.
É necessário, portanto, conhecermos alguns dos fatores que provocaram esse declínio
na literatura pagã.
Em linhas gerais, podemos citar, sem nos aprofundarmos em sua complexidade, os se-
guintes fatores:
A decadência surge de problemas políticos internos e externos, pois a literatura que fun-
cionava, de certa forma, como propagadora da ideologia e glória do Império, começava
a perder essa função, paulatinamente, à medida que a importância política de Roma vai,
também, decaindo. Por volta do século III d.C., os bárbaros já eram uma séria ameaça
ao Império, invadido em 406. Roma, por fim, viu-se forçada a abandonar suas antigas
colônias para cuidar de suas próprias fronteiras. Outra causa, e uma das principais, se
dá pela escassez de escritores expressivos.
A imposição da cultura helênica era cada vez mais significativa, a ponto de alguns es-
44 Capítulo 4
A clandestinidade acabou
Quando Juliano, esperado e invocado, chegou a Viena por gerar lendas e mal-en-
[França meridional], todos, de qualquer idade e condição, tendidos. Por realizarem
correram a acolhê-lo, com grandes honras, à sua entrada; seus ritos em sigilo e em
e, tendo-o visto de longe, toda a plebe daquela cidade e dos lugares estranhos, como
lugares vizinhos o precedia, chamando-o de chefe clemen- as catacumbas, os cristãos
te e ditoso, festejando-o com unânimes aclamações (...) E foram julgados malfeito-
uma velhinha cega que perguntara quem havia entrado, res, capazes dos atos mais
ouvindo dizer que era César Juliano, exclamou: Ele porá abjetos. Por se considera-
de novo em pé os templos dos deuses. (Rerum gestarum rem todos irmãos, foi-lhes
libri XXXI, XV, 8, 21-22. Apud Leoni, 1967, p.286-287). imputado o crime de in-
cesto;(...). (Cardoso 2003,
A literatura pagã vai perdendo seu viço, enquanto p. 179).
surge, no cenário, a literatura cristã. Catacumba de
São Calixto
jpg
Capítulo 4 45
Posteriormente, o cenário começa a se transfor- timável valor literário e histórico, uma vez que
mar. No IV século, o cristianismo, até então vio- nos dão uma visão do surgimento da identida-
lentamente combatido pelo Império Romano, de cristã e de seu desenvolvimento nessa épo-
como, por exemplo, sob Diocleciano, começa a ca. A literatura latina não religiosa com gramá-
sair da marginalização para o prestígio. O Impe- ticos e juristas segue seu rumo com escritores
rador Constantino em 313 concede liberdade de de menor vulto.
culto aos cristãos através do Édito de Milão.
3. III século – surgem também escritores, como
Finalmente, du- São Cipriano (dogmático e epistológrafo), Ar-
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Rome-Capito-
rante o governo nóbio (apologista) e Lactâncio.
de Teodósio I
(391 d.C.), a re- 4. IV século – este período, em que o cristia-
ligião cristã pas- nismo se torna a religião oficial, nos deixou
sa a ser a única nomes como o de Santo Ambrósio e São Jerô-
religião do Es- nimo, tendo como maior escritor Agostinho,
tado. O paga- Bispo de Hipona. “Santo Agostinho é o últi-
nismo, agora le-StatueConstantin.jpg
mo dos grandes pensadores que ainda pode,
marginalizado, de alguma forma, ser considerado como repre-
continua a ser sentante da cultura romana.” (Cardoso, 2003,
praticado, mas, p.185-186) – Aqui se encerra o período dos
dessa vez passa Pais da Igreja ou Patrística.
de perseguidor Constantino
a perseguido. 5. V século em diante – A Idade Média, com a
Escolástica, até o século XIV, nos legou gran-
Já no século II, surgem escritores, como Tertuliano des nomes, como São Beda e São Tomás de
e Minúcio Félix, que pertencem a essa época de Aquino, entre outros.
fixação da doutrina cristã. Suas obras são fruto da
necessidade de se divulgar as doutrinas de Cristo, Quanto à literatura latina, agora denominada lati-
de refutar heresias, de escrever tratados sobre a fé no-cristã, com outros propósitos e distinta ideolo-
cristã, contida nos escritos sagrados, mais especial- gia, segue seu curso. Observe o quadro abaixo para
mente, o Novo Testamento. exemplificar alguns dos temas explorados a título
de ilustração. A segunda coluna é uma reação à
A língua latina começa, então, a ser utilizada para situação apresentada na primeira:
a defesa da doutrina do Evangelho, no idioma que
todos poderiam entender. Embora Irineu refutasse
as heresias em grego, os sermões que pregava eram Inserção de ritos e A apologia, a defesa da fé,
em latim. Os escritores latino-cristãos provinham ideologias pagãs os dogmas contra as here-
de distintas pátrias, todos ligados pelo idioma e no cristianismo. sias.
pela nova fé. A temática dos autores cristãos varia-
va de acordo com as necessidades. A imoralidade, a A ênfase na moral cristã.
defesa do Condenação das práticas
Enquanto isso, escritores latinos, como Plínio, homossexualismo, homossexuais, que gera-
o jovem e, de origem grega, como Luciano (200 praticado na ram um grande conflito
Grécia e trazido a entre as duas religiões.
d.C.), o Voltaire da literatura grega, atacaram o Roma.
cristianismo, ridicularizando-o.
Os sofistas Através da homilia, os
Quadro sinótico da literatura latino-cristã buscavam escritores cristãos busca-
envilecer a nova vam alcançar os corações.
1. I século da Era Cristã – Epigrafia, primeiros religião Pela exegese, a Palavra de
documentos proto-cristãos. Deus era esclarecida.
2. II século – escritores apologistas: Tertuliano e
Minúcio Félix. Seus escritos possuem um ines-
46 Capítulo 4
As catacumbas, além de túmulos, eram também A fundação de nossa ceia é já indicada pelo seu nome:
o local de culto para os cristãos, onde realizavam de fato, é chamada com um termo que entre os gregos,
significa “amor” [ágape]... Não nos sentamos antes de ha-
seus cultos, expressando suas crenças por meio de
ver prelibado uma prece a Deus; comemos o quanto come
ilustrações: quem está com fome, bebemos o quanto é útil a pessoas só-
brias. Assim nos saciamos com pessoas que se lembram de
Ignorantes como eram, não sabendo ler nem escrever, e que devem adorar a Deus também à noite e falamos como
perseguidos por causa da sua fé em Cristo, era necessário pessoas que sabem que Deus as escuta... Depois nos sepa-
que procurassem algum símbolo que os habilitasse a ex- ramos, não para ajudar bandos de salteadores ou grupos de
primir sua crença e que fosse, ao mesmo tempo, ininteli- vagabundos nem para nos abandonarmos à lascívia, mas
gível para os seus perseguidores. Daí nasceu o uso de dois para prosseguirmos com a modéstia e pudor, como pessoas
símbolos: um chamado “o Peixe” e outro o “Monograma”, que não se alimentaram tanto de comidas quanto de senso
compostos de mais de uma letra. Crê-se agora que o símbo- moral. (Apologética, 39 Apud Leoni 1967, p.288).
lo do Peixe entrou primeiro em uso, e que o Monograma
foi adotado depois do imperador Constantino. (SCOTT,
1995, p.101)
O texto de Tertuliano nos remete ao modo de ce-
Capítulo 4 47
lebrar a Ceia do Senhor, como encontrado em 1 delito e deva eu ser morto? E que tu concordes em te senti-
Coríntios 11: 17-34. res satisfeito com meu sangue, quando eu jamais te ofendi,
jamais lesei, consciente ou inconscientemente, a tua divi-
na majestade, sendo eu, como tu bem sabes, um animal
Tendo escrito numerosas obras, foi um escritor
mudo, dotado de instintos elementares, sem a distração de
polêmico. “Tertuliano compôs obras bastante vi- um caráter variável e multiforme? ... Talvez porque sou ani-
rulentas, nas quais se notam o tom inflamado, mal vil, sem razão, sem sentimento, como dizem aqueles
a lógica tenaz e grande capacidade imaginativa” que se chamam homens mas que, em crueldade superam
(CARDOSO, 2003, p. 181). todas as feras?” (Adversus nationes, VII, 9. Apud Leoni,
1967, p. 289-290).
Sobre a pureza dos cristãos, em contraste com a
vileza dos pagãos, escreve: Entretanto, sua obra, mesmo sendo uma apologia
aos cristãos, denunciando as falsas acusações con-
Entretanto, se transborda o Tigre, se o Nilo não transbor- tra estes, possui alguns equívocos doutrinários ao
da, se falta a água, se sobrevém a carestia, se a terra treme, longo da obra, provenientes de sua falta de amadu-
vós outros gritais: “Os cristãos às feras”. E enquanto os
recimento na fé.
pagãos pretendem aplacar a cólera dos deuses frequen-
tando as tabernas e outros lugares de infâmia, nós nos
cobrimos de saco e cinza, fazemos penitência, jejuamos Outro nome, importante por ser o último escritor
para implorar a divina misericórdia... (Apologética, Apud do período de formação, é Lúcio Cecílio Firmia-
Xavier, 1947, p.201). no Latâncio (Lucius Caecilius Firmianus Lactan-
tius). Discípulo de Arnóbio e cultor da retórica,
Seu linguajar é erudito, mesmo quando utiliza ter- o escritor converteu-se à religião cristã, compon-
mos de cunho popular. Figuram entre suas obras do vasta obra literária. Considerado o Cícero do
de maior importância: Apologética, Adversus cristianismo, seu estilo é puro e fluente. Escreveu
Marcionem e De Carne Christi. Divinarum instituitionum libri VII (Instituições
divinas). Nesta obra dogmática, Lactâncio discorre
Tertuliano, convertido aos 35 anos à fé cristã, pos- sobre a falsa religião, a vida feliz, o verdadeiro cul-
teriormente abandonou suas crenças, para se unir to, a unidade de Deus...
à seita montanista. Algumas das obras produzidas
nesse último período de sua vida foram: Escreveu De morte persecutorum (Sobre a morte
dos perseguidores), em que registra as perseguições
• De pallio (Sobre o Pálio); sofridas pelos cristãos:
• De Pudicícia (Sobre a Pudicícia);
• De Jejunio (Sobre o Jejum); O imperador Diocleciano se enfurecia não só contra os fa-
• De Corona (Sobre a coroa); miliares mas contra todos. E entre todos, obrigou primeiro
a filha Valéria e a mulher Prisca a manchar-se com a culpa
• De spectaculis (Sobre os espetáculos)...
do sacrifício. Eunucos, que haviam sido potentíssimos, de
cujo serviço ele mesmo e sua corte antes se serviam, foram
III século mortos; sacerdotes e ministros, detidos e condenados sem
nenhuma prova ou confissão, eram conduzidos ao suplício
Arnóbio (Arnobius), originário da Numídia, era com todos os familiares. Pessoas de todas as idades e de am-
filho de pais que professavam o paganismo como bos os sexos eram arrastadas à fogueira: não um a um, pois
sua religião. Ao se converter à religião cristã, o dis- era grandíssimo o seu número, mas, como rebanhos, eram
tinto escritor retórico escreve Adversus nationes queimados por todos os lados pelo fogo aceso em redor
(Contra as nações) a fim de deixar clara sua con- deles; os escravos eram tirados ao mar com mós de moi-
nho atadas ao pescoço. Perseguição não menos violenta se
versão:
abateu sobre o resto do povo. (De morte persecutorum, 15.
Apud Leoni, 1967, p. 291).
Contra o sacrifício de animais
Ele possuía, em grau excelente, a capacidade de adaptar-se 6 Erant autem iusti ambo ante Deum, inceden-
ao pensamento e ao espírito dos outros, penetrando-lhes a tes in omnibus mandatis et iustificationibus
intenção, fazendo seu o que os outros diziam e escreviam. Domini, irreprehensibiles.
(Bardenhewer, Apud Xavier, 1947, p. 244).
7 Et non erat illis filius, eo quod esset Elisabeth
sterilis, et ambo processissent in diebus suis.
De suas traduções, podemos citar, entre muitas, as
seguintes: 8 Factum est autem, cum sacerdotio fungeretur
in ordine vicis suae ante Deum,
• Crônicas de Eusébio;
9 secundum consuetudinem sacerdotii sorte
• Cartas de S. Epifânio; exiit, ut incensum poneret ingressus in tem-
• Homelias de Orígenes; plum Domini;
• A Vulgata Latina: O Velho e o Novo Testa-
mento traduzidos para o latim, língua vernácu- 10 et omnis multitudo erat populi orans foris
la, a pedido do Papa Damasco, em 383 d.C., hora incensi.
para que fosse revisada a Bíblia Latina.” 11 Apparuit autem illi angelus Domini stans a
dextris altaris incensi;
A tradução de S. Jerônimo, embora seja a mais co-
nhecida, não foi a primeira a ser levada a cabo em 12 et Zacharias turbatus est videns, et timor
irruit super eum.
latim. Já no século II d.C., circulavam traduções
anônimas. A tradução de S. Jerônimo é sua mais 13 Ait autem ad illum angelus: “ Ne timeas,
importante obra: Zacharia, quoniam exaudita est deprecatio
tua, et uxor tua Elisabeth pariet tibi filium, et
Duas são as versões latinas que se distinguem: a Antiga vocabis nomen eius Ioannem.
Latina, que engloba todas as traduções feitas até o século
(Evangelho de Lucas cap. 1 versos 5-13).
IV, e a vulgata Latina, preparada por Jerônimo entre 386 e Fonte: http://www.vatican.va/archive/bible/nova_vulga-
405. As evidências indicam que as primeiras traduções lati- ta/documents/nova vulgata_nt_evang-lucam_lt.html#1
nas começaram a surgir no norte da África, provavelmente
em Cartago, um dos centros da cultura romana, e, pelos
indícios dos textos latinos que há nos escritos de Tertulia-
no, essas traduções remontam ao último quartel do século
II. (PAROSCHI, 1993, p.62).
SAIBA MAIS
São contemporâneos dessas primitivas traduções ta Latina:
Texto integral da Vulga /nova_vul-
(séc. II) os primeiros autores cristãos, de que se tem atican.va/archive/bible
http://www.v
notícia: Vítor e Apolônio. Embora nada tenha res- vulgata_index_lt.html
gata/documents/nova-
tado de suas obras, Zélia de A. Cardoso (2003 p.
180) comenta que o primeiro escreveu um estudo
sobre a Páscoa. O segundo, um discurso apologéti-
co, registrado nas atas do senado.
Considerado o maior escritor da antiguidade lati-
Essas traduções foram, também, um dos meios de na, deixou-nos um valioso testemunho histórico
incorporação de termos religiosos adotados do gre- sobre os tempos mais remotos da fé cristã, como
go no latim. em De viris illustratbus christianis: “(...) a exem-
plo de Suetônio e quase completando a obra do
A título de ilustração, reproduzimos, abaixo, um escritor latino, recolhe dados biográficos dos pri-
trecho da Vulgata, do Evangelho de S. Lucas: meiros escritores cristãos”. (LEONI, 1967, p. 123).
Capítulo 4 49
Entre as obras de sua autoria, podemos citar: na qual o escritor africano procura tirar ensina-
mentos através de suas experiências:
• Comentarii in Psalmos (Comentários sobre
os salmos); Quero recordar as minhas torpezas passadas e as deprava-
• Vita Pauli, Malchi, Hilarionis (A vida de Pau- ções carnais da minha alma, não porque as ame, mas para
lo, de Malaquias e de Hilário); Vos amar, ó meu Deus. É por amor do Vosso amor que,
amargamente, chamo à memória os caminhos viciosos
• Homilias (homilias);
para que me dulcifiqueis, ó Doçura que não engana, doçu-
• De Viris illustribus etc (A vida de homens ilus
ra feliz e firme. Concentro-me, livre da dispersão em que
tres)... me dissipei e me reduzi ao nada, afastando-me de Vossa
unidade para inúmeras bagatelas.
O seguinte trecho proporciona uma amostra de
uma das obras de sua autoria: Quantas vezes, na adolescência, ardi em desejos de me sa-
tisfazer em prazeres infernais, ousando até entregar-me a
Depois de muitos escritores gregos, vem agora finalmente vários e tenebrosos amores! A minha beleza definhou-se e
o sacerdote Tertuliano, primeiro dos latinos depois de Ví- apodreci a vossos olhos, por buscar a complacência própria
tor e Apolônio, originário da província da África, da cida- e desejar ser agradável aos olhos dos homens. (AGOSTI-
de de Cartago, filho de um centurião peninsular. Homem NHO, 1981, p. 53.)
de agudo e impetuoso talento, viveu a maior parte da vida
sob os imperadores Severo e Antonino Carcala e escreveu Zélia de A. Cardoso (2003, p.185) nos lembra que
muitas obras, que, por serem de todos conhecidas, omiti-
Santo Agostinho é bastante original em seus escri-
mos. Eu conheci um velho, um certo Paulo, nascido em
tos, pois, ao tratar de sua infância, apresenta uma
Concórdia (uma cidade da Itália), que dizia ter encontrado
em Roma, quando era ainda muito jovem, o secretário do
intensa análise psicológica, fazendo uma análise
bem-aventurado Cipriano, então velhíssimo, e aquele lhe aprofundada de sua alma ao abordar assuntos de
contou como Cipriano costumava não deixar passar um só cunho metafísico e moral.
dia sem ler Tertuliano; e, muitas vezes, lhe dizia: “Dá-me o
mestre!” e indicava Tertuliano. Este, ainda até a meia ida- Exprimindo fielmente a doutrina tradicional do
de, foi padre da Igreja; depois, devido à inveja e às injúrias catolicismo, suas obras têm sido fonte de pesquisa
do clero da Igreja romana, caiu na heresia montanista: da de teólogos da Igreja ao longo dos tempos. Quanto
nova profecia, ele fez muitos livros. Escreveu contra a Igre- às duas obras, é importante notar:
ja particularmente estas obras: “A Pudicícia”, “A Persegui-
ção”, “Os Jejuns”, “A Monogamia”, “O Êxtase” – em seis
As “Confissões” são a Teologia vivida numa alma e a histó-
livros, com um sétimo que dirigiu contra Apolônio. Diz-se
ria da acção de Deus nos indivíduos. A “Cidade de Deus”
que viveu até idade decrépita e publicou muitas pequenas
é a teologia viva no quadro histórico da humanidade, se-
obras, hoje perdidas. (De viris illustratibus christianis, 53.
gundo a opinião de Portalié (Dictionnaire de Théologie
Apud Leoni, 1967, p. 292).
Catholique I coluna 2291, Apud Agostinho, 1981, p.14).
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:AmbroseStatue.
Hexaemeron, título em grego, que significa 6 dias,
Santo Ambrósio (337-397) em referência aos seis dias da criação de Gênesis
era natural da Gália. Foi capítulo I, é um trabalho exegético em torno do
bispo de Milão, escreveu primeiro livro da Bíblia, abrangendo temas, como
cartas, comentários bíbli- a Criação, o nome de Deus, os grandes animais
cos, hinos, orações, trata- marinhos, do sétimo dia, sábado como dia de des-
dos de doutrina, como o canso (capítulo II, verso iii)...
Hexaemeron (sobre os seis
dias da criação) e De oficiis Grande defensor dos bons costumes e da virginda-
ministrorum - manual ecle- de e da pureza, escreveu:
siástico, um tratado moral,
baseado na obra ciceronia- Santo
Livre de lascivos sentimentos, contigo sonhe o íntimo do
Ambrósio
na De officis.
png
Hinos: Himno vesperal, Jam sur- Cristo não é dividido, mas único. Se o adoramos como o
git hora tertia, Aeterne re- Filho de Deus, não negamos seu nascimento de uma vir-
rum conditor... gem... Mas ninguém deve estender isso a Maria. Maria foi
o templo de Deus, mas não Deus no templo. Portanto ape-
Exegeses: Hexemeron, De paradiso, nas aquele que estava no templo pode ser adorado. (Am-
De Cain et Abel, De Jose- brósio de Milão, De Spiritu Sancto, III, 11,79-80. Apud
ph, De Jacob et vita bea- http://www.ccel.org/ccel/schaff/npnf210.iv.ii.iv.xi.html?hig
ta... hlight=mary,was,the,temple,of,god,but,not,in#highlight –
Tradução nossa).
Dogmáticas: De Spíritu Sancto, De Mys-
teribus, De Sacramentis,
De Poenitentia
De Sacramento regenera- SAIBA MAIS
tionis vel de Philosophia, rg/ wik i/A mb ró-
De Incarnationis Domini- htt p:/ /pt .wi kip ed ia.o
sio_de _M ilão
cae Sacramento, De peni-
tentia libri quinque...
Descendendo de nobre família tradicionalmente cristã, somente em idade avançada, retirando-se da vida
pública, volta-se para a vida eclesiástica, tornando-se asceta. Jejuava durante o dia e se abstinha de alimento
de origem animal.
Sua obra poética é dividida em cinco livros, publicada em 405, com forte influência de S. Ambrósio. Suas
poesias, datadas do século V, rivalizam com os poetas pagãos em qualidade, chegando a ponto de ser con-
siderado o Virgílio ou mesmo o Horácio da cristandade.
No trecho a seguir, de sua obra Cathemerion, podemos ver o testemunho de seu abandono da vida secular
para a vida consagrada a Deus:
PRAEFATIO PREFÁCIO
Atqui fine sub ultimo Na verdade, antes que eu faça minha passagem,
peccatrix anima stultitiam exuat: minha alma pecadora despir-se-á de sua insensatez
saltem voce Deum concelebret, si E louvará meu Senhor, se não por seus atos, pelo
meritis nequit: menos com lábios humildes.
hymnis continuet dies, Que cada dia se una com hinos de gratidão
nec nox ulla vacet, quin Dominum E cada noite ressoe os cantos de Deus:
canat: Sim, seja minha porção combater todas as heresias,
pugnet contra hereses, catholicam revelar os significados da fé Católica,
discutiat fidem, Calcar os ritos gentios; Teus deuses, O Roma,
conculcet sacra gentium, Destronar, Os mártires louvar, os apóstolos cantar.
labem, Roma, tuis inferat idolis, Oh, enquanto empregarem tais temas minha pena e
carmen martyribus devoveat, laudet língua, Que a morte possa extirpar esses grilhões da
apostolos. carne, E me carregar para onde meu último suspiro
Haec dum scribo vel eloquor, se erga.
vinclis o utinam corporis emicem Tradução baseada no inglês, por R. Martin Pope.
liber, quo tulerit lingua sono mobilis Fonte:http://www.ihaystack.com/authors/p/aurelius _clemens_
ultimo. (Xavier, 1947, p.73). prudentius/00014959_the_hymns_of_prudentius /00014959_la-
tin_and_english_ascii_p001.htm
Compôs ainda hinos de natal como Divinum Mys- maior estudioso de sua geração. Beda era grande
terium (O Divino Mistério), contido em Catheme- conhecedor da literatura latina secular e cristã. Pro-
rinon, ainda em uso. Alguns dos hinos compostos duziu estudos exegéticos de qualidade sobre a Bíblia
por S. Prudêncio são: Sagrada. Destacou-se especialmente por sua Histo-
ria ecclesiastica gentis Anglorum (História eclesi-
a) Ades Pater Supreme; (Sê presente, Santo Pai); ástica dos anglos ou História eclesiástica do povo
da Inglaterra).
b) Ales diei nuntius (O alado arauto do Dia); Composta em
Venerabilis.jpg
político quanto
São Beda, ou o venerável Beda, (674-735). Mon- o religioso do
ge beneditino, saxão natural da Nortúmbria, foi o país: São Beda
2 2
Verum eadem Brittania Romanis A Bretanha nunca havia sido visitada antes
usque ad Gaium Iulium Caesarem pelos romanos e era, de fato, completamente
inaccessa atque incognita fuit; qui desconhecida por eles antes da época de Caio
anno ab Urbe condita DCXCIII, ante Júlio César, que, no ano 639 da construção de
vero incarnationis dominicae tempus Roma, mas o sexagésimo antes da encarnação
anno LXmo, functus gradu consulatus de nosso Senhor, era cônsul com Lúcio Bibulo,
cum Lucio Bibulo, dum contra e posteriormente, enquanto ele guerreava com
Germanorum Gallorumque gentes, os germanos e os gauleses, que estavam
qui Hreno tantum flumine separados apenas pelo rio Reno, chegou à
dirimebantur, bellum gereret, venit ad província de Morini, a mais passagem próxima
Morianos, unde in Brittaniam e mais curta para a Bretanha. Aqui, tendo
proximus et brevissimus transitus est; providenciado cerca de oitenta navios de carga
et navibus (h)onerariis atque actuariis e embarcações com remos, ele navegou até a
circiter octoginta praeparatis, in Bretanha; onde, sendo primeiramente tratado
Brittaniam transvehitur, ubi acerba asperamente em uma batalha e, então,
primum pugna fatigatus, deinde enfrentando uma severa tempestade, perdeu
adversa tempestate correptus, uma considerável parte de sua frota, um não
plurimam classis partem, et non pequeno número de soldados e quase todos os
parvum numerum militum, equitum seus cavalos.
vero pene omnem disperdidit.
Outro expoente, entre os muitos que surgiram durante a Idade Média, é São Tomás de Aquino (c.1227
- 1274). Um dos mais brilhantes períodos da Idade Média, o século XIII, é não mais uma época de apolo-
gias, mas de filosofia.
Filósofo e escritor, oriundo da região de Nápoles, foi mestre em Paris, Anagni e Roma. Foi um dos maiores
incentivadores da Escolástica, sendo por isso denominado o divino filósofo, o anjo das escolas e o prote-
tor das ciências.
Summa contra gentiles – obra contra os gentios ou pagãos, também de cunho filosófico-teológico.
Pange lingua gloriosi e Lauda, Sion, Salvatorem – hinos compostos a mando do Papa Urbano VI.
Comentários bíblicos:
E vários sermões.
Citamos, aqui, um de seus hinos mais conhecidos, em que exibe sua genialidade poética:
No séc. XVI, reaparecem escritores apologéticos, Proto-cristãos – termo referente à época dos cristãos pri-
exegéticos ou filósofos, como Francisco Suarez mitivos.
(1548), autor de Defensio catholicae fidei (Defe-
Antoninos – imperadores da dinastia dos Antoninos (96-
sa da fé católica); o jesuíta Luiz de Molina, espa- 192 d.C.), sucessores dos Césares.
nhol de Cuenca, autor de De Poenitentia (Sobre
a penitência) ou S. Afonso Ligório (Século XVIII) Apologética – justificação ou defesa de determinados pon-
com sua Theologia Moralis (Teologia da moral). tos de vista.
Escritos em latim, esses trabalhos, agora tinham a
função de refutar aquilo que a Igreja denominava Montanista - seguidor/a de seita de Montanus, indivíduo
de heresias protestantes. que acreditava que o Espírito Santo habitava em sua pes-
soa.
Também obras científicas, filosóficas e romances
Pais da Igreja ou Patrística – ensinamentos dos Santos Pa-
foram produzidos em latim até o século XVIII,
dres da Igreja. Doutrina sob profunda influência da filosofia
pois publicar algo em latim, nessa época, era pu- grega, a qual era utilizada para aclarar e defender o novo
blicar para o mundo. A língua ocupava o lugar do conteúdo da fé.
inglês, atualmente: “Em época tão avançada, como
o fim do século XVII, percebia-se que uma obra Escolástica - trata-se da filosofia baseada nas obras de
corria grave risco de não produzir seu devido efei- Aristóteles e São Tomás de Aquino.
to, a menos que fosse publicada em latim.” (Bai-
ley, 1956, p.540 tradução nossa). Trabalhos como Hebraísmo – termos adotados da língua hebraica, utilizados
Philosophiae Naturalis Principia Mathematica em outro idioma.
de Isaac Newton e Utopia de Thomas Morus, são
Diocleciano – imperador romano (284-305 d.C.) que
exemplos dessa realidade.
empreendeu a mais violenta de todas as perseguições aos
cristãos.
É claro que, durante a Idade Média, o latim riva-
lizava com as línguas vernáculas, como no caso Arianismo – doutrina religiosa defendida por Ário, que
dos trovadores da região da Galiza (Espanha) e negava tanto a divindade de Cristo quanto a Santíssima
de Portugal, que utilizaram o seu dialeto galaico- Trindade.
português. Na Inglaterra, produziram-se as obras
escritas em Inglês Antigo (Old English). E Luiz de Dalmácia – antiga Iugoslávia.
Capítulo 4 55
REFERÊNCIAS