A Cidade de São Paulo - Caio Prado JR (1989)
A Cidade de São Paulo - Caio Prado JR (1989)
A Cidade de São Paulo - Caio Prado JR (1989)
terceira maior cidade da América do Sul. Considerando puramente sua geografia, não existia
uma explicação muito plausível para isso, visto que a região é muito acidentada e não muito
propícia para a agricultura. As cidades ao redor, como Barueri, Cotia, Guarulhos, nada mais
eram do que pobres povoados.
Durante a colonização, realizada a princípio no litoral, São Paulo foi a primeiro centro urbano
no planalto, acima da Serra do Mar. A necessidade de subir a serra surgiu do pequeno espaço
em que a região litorânea estava confinada, pouco mais de 15km. Além do pequeno espaço,
essa região era inapropriada para a agricultura, uma vez que as áreas de mangue eram, e ainda
são, consideráveis.
O planalto tem um clima mais ameno, mais ao gosto dos europeus, diferente da região
litorânea, com temperaturas tropicais. Além disso, a mão de obra indígena era mais numerosa
na região do planalto paulista.
A localização da cidade de São Paulo não foi pura coincidência: o acesso mais fácil do litoral par
ao planalto passa exatamente onde a cidade foi fundada. E este caminho não foi descoberto
pelos colonizadores, mas aproveitado do caminho preferencial dos índios que aqui já
habitavam. A área em que São Paulo foi fundada é um grande clareira natural na floresta
(Clareira de Piratininga), resultado natural da pobreza do solo, que não permitiu que surgisse
uma floresta muito densa. Por isso, a região já era, para os povos indígenas, um condensador
geográfico.
O Pateo do Colégio, ponto central da fundação de São Paulo, foi escolhido pelos jesuítas
justamente por ser um ponto estratégico, bem localizado e de defesa privilegiada. Uma colina
praticamente 30m acima da planície, uma verdadeira fortaleza natural, que contava ainda por
cima com as águas do Anhangabaú e do Tamanduateí.
Esses dois fatores, somados à prioridade dada aos jesuítas, fizeram com que a vila de Santo
André perdesse protagonismo na ocupação do planalto e São Paulo despontasse. Esse
processo que possivelmente iria ocorrer naturalmente foi catalizado pelas movimentações de
Mem de Sá.
Os muitos cursos d’água da região também foram vitais para a consolidação da cidade: Tietê
(principal), o Tamanduateí, o Anhangabaú, o Pinheiros, o Cotia, o Piracicaba, tanto para
abastecimento, como para navegação, agricultura, pesca, etc. Foi ao longo da margem desses
rios que outros povoados foram se formando.
O porto de Santos, o mais importante da região na época e até hoje, já tinha qualidades
notáveis, principalmente por seu estuário ser profundo, bem abrigado (Ilha de Santo Amaro na
frente) e de fácil acesso, sendo a principal comunicação entre a capitania e o resto do mundo.
São Paulo é, também, o intermediário entre o interior e Santos.
No século XVIII, com a intensa mineração no interior, criou-se um grande fluxo migratório para
estas regiões. A agricultura sofre um grande impacto. São Paulo vivenciou, portanto, uma
estagnação econômica e até um decréscimo demográfico. Esse boom econômico nas regiões
de minas ocorre apenas no século XVIII, no século seguinte, o país retoma seu caráter
majoritariamente agrícola.
Todos esses aspectos pavimentaram a criação e consolidação de São Paulo e regiões próximas
como um grande polo industrial. Foi mais um fator que ratificou a hegemonia paulistana na
região e no Brasil.
A consolidação da centralidade de São Paulo como polo econômico, cultural e social ocorreu
durante o período da industrialização do país. Naturalmente, a cidade de São Paulo já tinha
grandes atrativos para as indústrias, por ter grande mão de obra disponível e, principalmente,
ser perto do principal porto do país, facilitando a importação de matéria prima e
equipamentos e a exportação dos produtos.
Essa definitiva liderança de São Paulo na economia nacional se concretizou por fatores
energéticos. O Brasil ainda não tinha um parque industrial do petróleo e o carvão local não era
de boa qualidade, fazendo com que fosse necessário inclusive importá-lo. A potencialidade
energética do Brasil, portanto, foi a energia hidráulica que, em São Paulo, caracterizou-se
inicialmente com as quedas do Tietê e, posteriormente, com o aproveitamento da queda de
aproximadamente 800m da Serra do Mar. A Usina de Henry Borden, inaugurada em 1926, foi
decisiva para a geração de energia necessária ao processo de industrialização local.
Além do fator energético, os fluxos migratórios internacionais do século XX tiveram o Brasil
como um dos principais destinos. Logicamente, por São Paulo já ser um dos principais centros
econômicos do país, grande parte desses imigrantes se fixou no Estado e foi mão de obra
decisiva para a crescente demanda do setor industrial.
A urbanização de São Paulo se deu de forma totalmente desordenada, orientado por fatores
geográficos e, principalmente, hidrográficos: o núcleo central da cidade, na parte delimitada
pelos rios Tietê, Tamanduateí e Pinheiros, apresenta relativa homogeneidade. Por outro lado,
o resto da cidade se desenvolveu sem planejamento urbano algum, foi fruto da especulação de
terrenos e pouquíssima interferência do poder público, de tal forma que bairros vizinhos não
são conectados e os serviços públicos são muito mal distribuídos. Na década de 90, a cidade
possuía, em pontos relativamente próximos, aspectos urbanos bem desenvolvidos, áreas com
aspectos rurais e áreas despovoadas.