CARTILHA - Flexibilidade (Danilo)
CARTILHA - Flexibilidade (Danilo)
CARTILHA - Flexibilidade (Danilo)
Sumário
1. Definição ............................................................................ 4
2. Análise Fisiológica da Flexibilidade ............................. 4
2.1 Receptores Sensoriais .................................................. 4
2.1.1 Fusos Musculares ............................................. 4
2.1.2 Órgãos Tendinosos de Golgi .......................... 7
2.1.3 Mecanorreceptores Articulares ...................... 9
2.2 Reflexos ....................................................................... 10
2.2.1 Reflexo Miotático .......................................... 11
2.2.2 Inervação Recíproca ....................................... 11
2.2.3 Co-Ativação .................................................... 12
2.2.4 Inibição autogênica ........................................ 12
2.3 Processo Adaptativo .................................................. 13
2.3.1 Sarcômeros em Série ...................................... 13
2.3.2 Isoformas de Titina ........................................ 15
2.3.3 Resposta Reflexiva ......................................... 16
2.3.4 Tecido Conjuntivo .......................................... 16
3. Análise Biomecânica da Flexibilidade ....................... 17
3.1 Conceitos Iniciais ....................................................... 17
3.2 Tecido Muscular ......................................................... 23
3.2.1 Titina ................................................................ 24
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1.Definição
O termo Flexibilidade deriva do latim flectere (dobrar-se) ou flexibilis (dobradiço).
Apesar da tradução desses termos sugerirem o que significa este fenômeno, no campo
das ciências da saúde sua definição ainda não é consenso. A definição, talvez, mais
simples e mais utilizada seja a de “amplitude de movimento (AM ou ADM)
disponível em uma articulação em um grupo de articulações” (de Vries, 1986,
Hebbelinck, 1998; Hubley-Kozey, 1991 apud HUME, P. and REID, D 2010). Outras
definições versam sobre a ideia de liberdade de movimento (como em Galley e Foster,
1987 apud HUME, P. and REID, D 2010: “habilidade de envolver uma parte ou partes
do corpo em uma ampla variedades de movimentos propositais, na velocidade
exigida”) e sobre a ideia de extensibilidade, proposta por Halbertsma et al (1996).
- Cadeia Nuclear: “As fibras de cadeia nuclear são mais finas e mais curtas do
que as de sacos nucleares. Elas contem apenas uma única fileira de núcleos, que se
encontram espalhados por uma estrutura em forma de cadeia ou corrente, ao longo da
região equatorial não contrátil. Assim como acontece com as fibras de sacos nucleares,
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Fibra aferente Primária (Ia): Suas terminações recobrem a região central de uma
fibra de sacos nucleares de forma espiralada e possuem terminações em forma de
ramificação lateral para todas as fibras de cadeia nuclear. As fibras Ia apresentam “um
limiar de alongamento muito baixo e, portanto, são facilmente excitáveis.” Tais fibras
possuem duas respostas ao alongamento: uma de fase (dinâmica) [velocidade e ritmo
do alongamento] e outra tônica. [comprimento muscular] “A respostas de fase mede o
ritmo, ou a velocidade do alongamento e, durante este, altera a frequência de impulso
dos neurônios. Especificamente, a frequência da descarga aumente de modo rápido no
inicio do alongamento. Depois, quando se alcança o novo comprimento, a frequência
de descarga cai a um nível constante apropriado para o novo comprimento tônico.
Portanto, a resposta tônica mede o comprimento do músculo.” Em síntese, “as
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músculo, tendo como uma das principais funções o monitoramento de “todos os graus
de tensão do musculo, porém são sensíveis à forças de tensão geradas pela contração
muscular (tensão ativa em oposição à tensão de alongamento).” Embora eles possam
ser ativados por tensão passiva, “o seu limitar para este tipo de estímulo é alto.
Portanto, o alongamento tem de ser muito intenso para poder ativá-los (Houk et al.,
1971).” A sua ativação durante o alongamento ocorre quando há o endireitamento das
fibras de colágeno, comprimindo, portanto as extremidades nervosas e ativando seus
disparos (Person; Gordon, 2000)”. (Alter, 2010).
Uma das principais funções atribuídas aos OTGs está a da inibição autogênica.
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(Figura retirada de
http://www.personalsandro.com/2011/04/propriocepcao.html)
São receptores que sentem as forças mecânicas impostas à articulação, como pressão e
a distensão de alongamentos e estão presentes em todas as articulações sinoviais. Os
mecanorreceptores podem ser divididos em 4 tipos:
Tipo II: São feixes localizados nas camadas mais profundas da cápsula articular
fibrosa e nos coxins gordurosos articulares. Seus feixes são inervados por fibras
nervosas articulares do grupo II. Os receptores do tipo II são mais numerosos nas
articulações distais (ex: nos tornozelos) do que nas proximais (ex quadril). Esses
receptores não possuem descarga estática, “pois seu disparo depende de velocidade.
Consequentemente são mecanorreceptores dinâmicos ou de aceleração”. Dentre suas
funções está a de medir mudanças súbitas de movimentos, como acelerações e
desacelerações. (Alter, 2010).
Tipo IV: São receptores não encapsulados. Estão subdivididos em dois tipos: IVa
(presentes nos coxins gordurosos e ao longo de toda a espessura da cápsula articular) e
os receptores IVb (são terminações nervosas livres amplamente confinados nos
ligamentos intrínsecos e extrínsecos). Os receptores IVa e IVb constituem o sistema
receptor de dor dos tecidos articulares. Este sistema se torna ativo quando os tecidos
articulares são submetidos a marcadas deformações mecânicas ou irritações químicas
(em condições de isquemia ou hipóxia). (Alter, 2010).
2.2 Reflexos
inibido quase que no mesmo instante em que o agonista se contrai (inibição reflexa).”
(Alter, 2010).
(Figura retirada de
https://www.denisbarnes.com.br/pagina.php?cont=artigosDet&id=806)
Diversos estudos (Goldspink, 1976; Goldspink et al., 1974; Williams; Goldspink, 1976
apud Alter, 2010) têm demonstrado uma resposta miogênica à quantidade de tensão
passiva recebida pelo músculo durante o alongamento. Essa resposta seria a produção
de sarcômeros em série (miofibrilogenese) para “manter o comprimento correto do
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sarcômero em relação ao músculo inteiro (Goldspink, 1976; Tabary et al., 1972)” (Alter,
2010).
A Titina é uma grande proteína presente no sarcômero (se ligando nos filamentos finos
e grossos). A titina possui uma região extensível a qual promove a elasticidade
(geração de tensão passiva) no sarcômero quando alongado, atuando como uma mola.
(Ver item 3.2.1). Wang et al (1991) concluíram que “diferentes grupos musculares
expressam vários tipos de isoformas de titina e, portanto, exibem várias curvas de
estresse-distensão” (Alter, 2010).
Ainda não se está claro como ocorre a expressão diferenciada da isoforma de titina no
músculo esquelético, nem se o treinamento poderia afetar as isoformas de titina, porém
especula-se que “quanto antes for iniciado o programa de alongamento, maior será a
modificação das isoformas de titina” (Alter, 2010).
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Estudos têm indicado que a prática do alongamento produz melhoria das reações de
reflexo, tanto no método balístico (Wallin et. Al., 1985 apud Alter, 2010) quanto no
método estático. “Thigpen (1984) demonstrou que sessões curtas de alongamento
estático reduzem a atividade elétrica no interior do músculo, o que, teoricamente,
facilita o alongamento. Em teoria, um sinal mínimo na EMG implica relaxamento
muscular, minimizando, portanto, a resistência ativa ao alongamento e maximizando
seus potenciais benefícios” (Alter, 2010). Desse modo a influência do reflexo de
alongamento seria minimizada. Especula-se que o treinamento de flexibilidade
aumenta o limiar de ativação dos reflexos.
(Figura retirada de HUME, P. and REID, D. Flexibility. In: ACKLAND, T. R., ELLIOTT,
B. C., BLOOMFIELD, J. Applied anatomy and biomechanics in sport. 2nd ed. Champaign,
IL: Human Kinetics, 2009.)
RIGIDEZ: “Na biofísica, rigidez é a razão entre estresse e distensão ou entre força e
deformação. Em outras palavras, é a razão entre a mudança na força e a alteração no
comprimento. No caso do músculo, a resistência ao alongamento é determinada por
fatores neurais, assim como por fatores mecânicos A rigidez pode ser plotada em uma
curva de estresse-distensão ou de carga-deformação e é indicada pela inclinação da
relação estresse-distensão. Um tecido cuja plotagem tem alto grau de inclinação (como
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PERFEITAMENTE ELÁSTICO: Qualidade dos tecidos que cumprem aos requisitos de:
i) o elemento elástico tem de se recuperar por completo e readquirir as dimensões
originais exatas após a deformação; ii) a aplicação ou remoção instantânea da força tem
de ser acompanhada de mudança instantânea na dimensão.
LIMITE ELÁSTICO: “É o menor valor do estresse exigido para produzir uma distensão
permanente no corpo. Abaixo do limite elástico, os materiais retornam ao comprimento
incial quando a força de deformação é removida. No entanto, quando a força excede o
limite, o material estressado não retorna ao seu comprimento inicial após a remoção da
força.” (Alter, 2010)
(Retirado de http://fisioterapiafisioex.blogspot.com.br/2013/05/neuromuscular.html)
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Ao observarmos o sarcômero, podemos notar duas linhas densas que delimitam essa
unidade nas extremidades, tal linha é denominada de linha Z. Adjacente á linha Z,
encontra-se a Banda I, região que contem os filamentos finos (actina) e titina. Na
sequencia pode-se observar a Banda A, região aonde se encontram os filamentos
espessos (miosina), região aonde acontecem as pontes cruzadas entre os filamentos
finos e expressos. Ao centro da Banda A, observa-se uma linha densa transversa; esta é
a linha M ou ponte M, sua função é “ajudar a organizar e estabilizar a treliça de
filamentos” (POLLACK, 1990 apud ALTER, 2010).
(Retirado de
http://www.sobiologia.com.br/conteudos/FisiologiaAnimal/sustentacao7.php)
3.2.1 Titina
músculo estriado, desde os discos Z até as linhas M” (Frustt et al., 1988; Itoh et al., 1988;
Wang et al., 1985; Whiting et al., 1989 apud ALTER, 2010). Os aminoácidos P (Prolina),
E (Glutamato), V (Valina) e K (Lisina) constituem 70% dos elementos da Titina
presentes na região da banda I do sarcômero. Por este motivo, “Labeit e Kolmerer
(1995) colocaram o termo PEVK para descrever essa região da titina, a qual é grande
responsável pela geração de tensão passiva (i.e. elasticidade) e atua como uma mola
extensível quando sofre alongamento” (ALTER, 2010).
A Titina é uma proteína muito extensível e tem em sua estrutura formações de espirais
randômicas (Trinick et al., 1984 apud ALTER, 2010), as quais serão importantes na
atuação elástica dessa proteína. ALTER (2010) relata que “Tskhovrebova e Trinick
(2000) sugerem dois tipos de mecanismos para explicar a extensibilidade associada à
banda I de Titina: o entrópico, que está envolvido na extensão da molécula a partir do
estado originalmente espiralado, e o entálpico, relacionado ao desdobramento da
estrutura interna da titina” e em ambos os casos há alta extensibilidade.
3.2.2 Desmina
ALTER (2010) sugere alguns fatores que limitam a Amplitude de Movimento (ADM ou
AM) articular, tais como: Tipo e Arquitetura da fibra muscular, a contratura, a
espasticidade, o equilíbrio muscular impróprio, o controle muscular inadequado e o
estado de mobilidade do músculo. Em relação a estes fatores, focaremos nos dois
primeiros, tipo e arquitetura da fibra muscular.
3.3.1 Colágeno
O colágeno interage muito bem com as substancias de base ou substâncias cimento que
são glicosaminoglicanos (GAGs), proteínas e água presentes “por entre as fibras de
colágeno e as fibrilas, mantendo uma distancia crítica entre elas e permitindo que
deslizem livremente uma ao longo da outra”. Essa matriz gelatinosa tem por função no
tecido conjuntivo a de fornecer lubrificação e prevenção de excesso de elos cruzados.
(ALTER, 2010).
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3.3.2 Elastina
3.3.3 Tendão
Os tendões são estruturas que ligam os músculos aos ossos. Em sua estrutura há fibras
de colágeno dispostas de forma linear a fim de que possa transmitir a força de tração e
energia produzida pelos músculos aos ossos de forma mais precisa e unidirecional.
Cabe aos tendões também a função proprioceptiva, por conter os órgãos tendinosos de
Golgi em sua estrutura, estes são mecanorreceptores que sentem a tensão e fornecem
feedback aos músculos (Alter, 2010).
(Figura retirada de
http://citrus.uspnet.usp.br/biomecan/pet/arquivos/Fundamentos_Biomecanica.pdf)
Devido a orientação das fibras de colágeno do tendão ser linear e unidirecional esta
especialização do tecido conjuntivo responde muito bem as cargas de tração. Quando
tracionado, o tendão apresenta uma relação estresse-distensão não linear (Kuo et al.,
2001 apud Alter, 2010), sendo possível visualizar três regiões características nesta curva:
“a do ‘dedo’ (parte mais baixa) da curva, a elástica e a plástica”
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- Região primária (Abrahams, 1967) ou Região da Curva Dedo (Lucas et al., 1999):
corresponde a fase em que há um endireitamento das fibras de colágeno na qual
deixam a frouxidão e as curvas (plissadas) iniciais. Nessa fase há uma baixa rigidez das
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3.3.4 Ligamento
A disposição das fibras de colágeno do tendão em sua maioria de forma paralela faz
com que este material resista essencialmente às cargas de tração.
Num primeiro momento, quando aplicada a força de tração, as fibras de colágeno que
se encontravam frouxa se alinham e o colágeno esboça pouca rigidez permitindo a
ocorrência do movimento. A partir deste ponto nós podemos observar duas regiões: a
zona elástica (aonde a cessação da aplicação de carga resulta no retorno do ligamento
ao seu comprimento inicial) e a Zona Plástica (aonde a deformação no comprimento se
torna permanente). Na zona elástica pode-se verificar que o aumento da carga faz com
que aumenta-se cada vez mais a resistência até que se atinja o ponto C, zona plástica, a
partir da qual uma pequena variação de carga promove grande deformação podendo
resultar na falha total do ligamento. O ponto B é indicado como “microfalha”, essa é a
região de “aviso”, na qual ocorrem danos (que podem ser reparados caso a carga seja
cessada) ao tecido (geralmente por entorses) e a articulação ainda se mantem estável,
entretanto a progressão na aplicação de carga pode levar o tecido a danos irreparáveis
podendo chegar a falência total e perda de estabilidade.
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3.3.5 Fáscia
Dentre estes componentes da fáscia, o que tem mais tido destaque é o Perimísio já que
ele tem disso considerado “o principal fator que contribui para a resistência
extracelular passiva ao alongamento (Purslow, 1989)” (Alter, 2010).
Desse modo , por serem um dos componentes que mais influenciam a limitação da
amplitude de movimento, Alter (2010) sugere que os tecidos conjuntivos devem ser
bem alongados.
4.Alongamento
4.1 Conceito
Alongamento é definido como “exercício que envolve a aplicação de uma força para
superar a resistência do tecido conjuntivo sobre a articulação e aumentar a amplitude
de movimento (Condom; Hutton, 1987)” (ACHOUR JUNIOR, 2009)
4.2 Tipos
Como o tecido muscular possui propriedade viscoelástica, portanto o tempo tem papel
fundamental. Assim, o alongamento estático usando pouca força e de longa duração,
“ao permitir tempo para incrementar uma maior produção de força, o ciclo de
alongamento lento resulta em maior deformação plástica (Sun et al 1995). Além disso,
alguns estudos (Sapega et al., 1981) demonstraram que a aplicação de um alongamento
com muita força e curta duração favorece a deformação recuperável do tecido elástico.
Por outro lado, a aplicação de tensão com pouca força e longa duração incrementa a
deformação plástica permanente (Warren et al., 1971, 1976; Laban, 1962).” (Alter, 2010)
5.Prescrição Ideal
Seguindo-se a Posição Padrão do ACSM (2011) temos a seguinte recomendação para o
Alongamento Estático, foco deste trabalho:
Duração: Manter 60s de duração para cada alongamento. Distribuir esse tempo
de acordo com as necessidades individuais, podendo dividir em repetições (ex: 2
repetições de 30 segundos ou 4 repetições de 10s) (Nível de Evidência: B)
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Frequência: 2-3 vezes por semana mostraram boa eficácia porém os maiores
ganhos em amplitude de movimento são mostrados com exercícios de flexibilidade
todos os dias. (Nível de Evidência: B)
Duração do programa ou Tempo até realizar uma mudança: “Por volta das semanas 4 e 5 não
foram observadas novas mudanças significativas na ADM, o que indicou um efeito de
platô na melhora da ADM. (Gribble et al, 1999). Se o regime de alongamento não for
mantido, os benefícios se perderão dentro de quatro semanas.” (Hume, P e Reid In
ACKLAND, T. et al, 2009).
6.2 ANÁLISE
- Isquiotibiais
- Semitendinoso:
- Semimebranáceo:
- Glúteo Máximo:
Sabe-se que “o risco de lesão por inclinação nos discos lombares e nos ligamentos
depende de uma série de fatores: carga, faixa de utilização da carga e histórico de
suporte de carga (Adams; Dolan, 1996)” (Alter, 2010). De certa forma, ainda que com
certa precaução, a estratégia de alongamento analisada põe certo grau de risco para
essas estruturas. O alongamento discutido pode ser uma estratégia mais segura e mais
indicado para pessoas que possuem uma maior flexibilidade, pois “quanto maior o
grau de flexibilidade e de força, menor a probabilidade de uma lesão” ao executar este
alongamento (Alter, 2010).
A partir disso, cabe nos perguntar: apesar de ser tão popular, este alongamento é a
melhor estratégia para alongar os isquiotibiais e glúteo máximo? Á exceção de atletas
que utilizam um gesto motor específico com esse movimento de alongamento, esta
seria a melhor estratégia para sedentários ou pessoas com encurtamento muscular
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7. Referências Bibliográficas