CARTILHA - Flexibilidade (Danilo)

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Cartilha – Da Fisiologia à Biomecânica

Danilo Pereira dos Santos


EEFE/USP
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Sumário
1. Definição ............................................................................ 4
2. Análise Fisiológica da Flexibilidade ............................. 4
2.1 Receptores Sensoriais .................................................. 4
2.1.1 Fusos Musculares ............................................. 4
2.1.2 Órgãos Tendinosos de Golgi .......................... 7
2.1.3 Mecanorreceptores Articulares ...................... 9
2.2 Reflexos ....................................................................... 10
2.2.1 Reflexo Miotático .......................................... 11
2.2.2 Inervação Recíproca ....................................... 11
2.2.3 Co-Ativação .................................................... 12
2.2.4 Inibição autogênica ........................................ 12
2.3 Processo Adaptativo .................................................. 13
2.3.1 Sarcômeros em Série ...................................... 13
2.3.2 Isoformas de Titina ........................................ 15
2.3.3 Resposta Reflexiva ......................................... 16
2.3.4 Tecido Conjuntivo .......................................... 16
3. Análise Biomecânica da Flexibilidade ....................... 17
3.1 Conceitos Iniciais ....................................................... 17
3.2 Tecido Muscular ......................................................... 23
3.2.1 Titina ................................................................ 24
3

3.2.2 Desmina ........................................................... 26


3.2.3 Alongamento no Tecido Muscular .............. 26
3.3 Tecido Conjuntivo...................................................... 27
3.3.1 Colágeno .......................................................... 28
3.3.2 Elastina ............................................................ 29
3.3.3 Tendão ............................................................. 30
3.3.4 Ligamento ....................................................... 32
3.3.5 Fáscia ................................................................ 35
4. Alongamento ................................................................... 36
4.1 Conceito ....................................................................... 36
4.2 Tipos............................................................................. 36
5. Prescrição Ideal ............................................................... 37
6. Prática: Análise de Alongamento Estático ................. 38
6.1 Exercício ...................................................................... 38
6.2 Análise ......................................................................... 39
6.2.1 Músculos Alvos .............................................. 39
6.2.2 Fatores de Risco do Alongamento ............... 41
6.2.3 Redução dos Riscos ........................................ 41
6.2.4 Mudança de Estratégia .................................. 42
7. Referências Bibliográficas ............................................ 44
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Objetivo: Apresentar um panorama geral a respeito da flexibilidade (variáveis


fisiológicas e biomecânicas) bem como realizar uma análise prática de uma estratégia
controversa de alongamento estático visualizado na prática profissional.

Publico Alvo: Estudantes das áreas de conhecimento envolvendo a


motricidade humana.

1.Definição
O termo Flexibilidade deriva do latim flectere (dobrar-se) ou flexibilis (dobradiço).
Apesar da tradução desses termos sugerirem o que significa este fenômeno, no campo
das ciências da saúde sua definição ainda não é consenso. A definição, talvez, mais
simples e mais utilizada seja a de “amplitude de movimento (AM ou ADM)
disponível em uma articulação em um grupo de articulações” (de Vries, 1986,
Hebbelinck, 1998; Hubley-Kozey, 1991 apud HUME, P. and REID, D 2010). Outras
definições versam sobre a ideia de liberdade de movimento (como em Galley e Foster,
1987 apud HUME, P. and REID, D 2010: “habilidade de envolver uma parte ou partes
do corpo em uma ampla variedades de movimentos propositais, na velocidade
exigida”) e sobre a ideia de extensibilidade, proposta por Halbertsma et al (1996).

2.Análise Fisiológica da Flexibilidade


Nesta sessão, serão abordados alguns temas centrais no que tangem à Fisiologia
aplicada a flexibilidade, tais como i) Quem interpreta e como são interpretados os
sinais de alongamento pelas estruturas do aparelho locomotor? (receptores sensoriais
tais como fusos musculares, OTGs e mecanorreceptores); ii) Como os tecidos reagem
ao alongamento (reflexos) e iii) Quais são os principais processos adaptativos que
ocorrem para o aumento da flexibilidade articular (aumento do número de sarcômeros
em série, modificações nas isoformas de titina muscular, almento no limiar dos reflexos
e diminuição da histerese nos tecidos conjuntivos).

2.1 Receptores Sensorias

2.1.1 Fusos musculares

Os fusos musculares estão localizados na maioria dos músculos esqueléticos. Esses


fusos atuam como receptores de estímulos que ocorrem no músculo (ex: alongamento)
e atuam fornecendo informação proprioceptiva.
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(Figura retirada de http://slideplayer.com.br/slide/363271/)

Os fusos se subdividem em dois tipos:

- Intrafusais: são fibras localizadas no interior da capsula fornecendo


informações sensoriais a respeito do comprimento muscular (geralmente consistem em
seis fibras musculares minúsculas, encerradas em uma capsula de tecido conjuntivo).

- Extrafusais: são as fibras que se localizam no exterior da capsula e atuam como


unidades contráteis regulares do músculo.

As extremidades das fibras intrafusais se conectam às fibras extrafusais e, portanto,


“eles correm paralelamente a essas fibras. Como consequência, o quando o músculo
inteiro é encompridado, o fuso também sofre alongamento” (Alter, 2010)

As Fibras intrafusais são subdividas em dois tipos de:

- Sacos Nucleares: “As fibras de sacos nucleares contem abundância de


sarcoplasma e de núcleos celulares em uma estrutura dilatada e inchada, em forma de
bolsa, a qual é não contrátil e está localizada na região central ou equatorial da fibra
intrafusal. Nas extremidades distais ou polares dessas fibras, encontram-se filamentos
contráteis estriados, perto do local em que os fusos se ligam às fibras extrafusais.”
(Alter, 2010).

- Cadeia Nuclear: “As fibras de cadeia nuclear são mais finas e mais curtas do
que as de sacos nucleares. Elas contem apenas uma única fileira de núcleos, que se
encontram espalhados por uma estrutura em forma de cadeia ou corrente, ao longo da
região equatorial não contrátil. Assim como acontece com as fibras de sacos nucleares,
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as extremidades polares das fibras de cadeia nuclear também são compostas de


filamentos contráteis estriados.” (Alter, 2010).

(Figura retirada de https://www.slideshare.net/dimitryjunior/aprendizagem-e-cognio-


neuroanatomia-em-necessidades-especiais-revisado)

Neurônios sensoriais (Aferentes)

Ao redor das fibras intrafusais encontram-se as terminações dos Neurônios sensoriais


aferentes. Os neurônios sensoriais são vias que são sensíveis a mudanças no
comprimento das fibras intrafusais bem como o ritmo e velocidade das deformações.
Essas terminações nervosas estão divididas em primária e secundaria.

Fibra aferente Primária (Ia): Suas terminações recobrem a região central de uma
fibra de sacos nucleares de forma espiralada e possuem terminações em forma de
ramificação lateral para todas as fibras de cadeia nuclear. As fibras Ia apresentam “um
limiar de alongamento muito baixo e, portanto, são facilmente excitáveis.” Tais fibras
possuem duas respostas ao alongamento: uma de fase (dinâmica) [velocidade e ritmo
do alongamento] e outra tônica. [comprimento muscular] “A respostas de fase mede o
ritmo, ou a velocidade do alongamento e, durante este, altera a frequência de impulso
dos neurônios. Especificamente, a frequência da descarga aumente de modo rápido no
inicio do alongamento. Depois, quando se alcança o novo comprimento, a frequência
de descarga cai a um nível constante apropriado para o novo comprimento tônico.
Portanto, a resposta tônica mede o comprimento do músculo.” Em síntese, “as
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extremidades primárias medem o comprimento e a velocidade do alongamento” (Alter,


2010).

Fibra aferente Secundária (II): “As secundarias formam extremidades ramificadas


ou em forma de ramalhete e restringem-se, quase que inteiramente, ao segmento
justaequatorial (perto do equador) das fibras de cadeia nuclear. Diferentemente das
extremidades primárias, as secundárias medem apenas o comprimente muscular tônico”
(Alter, 2010).

Nervos Motores (Eferentes)

Motoneurônio Gama: O sistema gama controla a sensibilidade do fuso ao


alongamento. Ele possui dois tipos de axônios motores. “A estimulação do axônio gama
estático pode aumentar a sensibilidade ao comprimento na extremidade nervosa sensorial
primaria, produzindo pouco ou nenhum efeito na sensibilidade à velocidade. Por outro
lado, o dinâmico pode incrementar marcadamente a sensibilidade à velocidade nessa
extremidade, produzindo pouca ou nenhuma alteração na sua sensibilidade ao
comprimento.” (Alter, 2010).

Os neurônios motores gama controlam a sensibilidade do fuso ao alongamento e quando


o músculo é contraído. No primeiro caso, “a ativação dos Motoneurônio gama resulta
na contração ou encurtamento das fibras musculares intrafusais em suas regiões
polares, deste modo a região equatorial da bolsa é alongada, exatamente como se o
músculo principal tivesse sido estendido.” Desse modo o alongamento central deforma
as extremidades nervosas sensoriais primárias (Ia), aumentando, portanto, o ritmo do
disparo das fibras do grupo Ia. No segundo caso, “os motoneurônios gama atuam
mantendo a sensibilidade do fuso durante as contrações de encurtamento muscular.
Ao se contraírem os músculos, as fibras intrafusais também se encurtam e deixam de
receber a tensão das extremidades nervosas primárias e das secundarias”. Deste modo,
“os motoneurônios gama são ativados para ajustar a sensibilidade do fuso.” (Alter,
2010).

2.1.2 Órgãos Tendinosos de Golgi

Os OTGs são mecanorreceptores sensíveis à contração, localizando-se quase que


exclusivamente nas aponeuroses ou junções músculo-tendão. Os OTGs “são inervados
por fibras nervosas aferentes de contração rápida do grupo Ib (Jami, 1992)”. Essas
estruturas se encontram encapsulados, o que os torna mais “sensível e preciso na
localização e repasse de informações ao SNC”. Os OTGs se encontram em série com o
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músculo, tendo como uma das principais funções o monitoramento de “todos os graus
de tensão do musculo, porém são sensíveis à forças de tensão geradas pela contração
muscular (tensão ativa em oposição à tensão de alongamento).” Embora eles possam
ser ativados por tensão passiva, “o seu limitar para este tipo de estímulo é alto.
Portanto, o alongamento tem de ser muito intenso para poder ativá-los (Houk et al.,
1971).” A sua ativação durante o alongamento ocorre quando há o endireitamento das
fibras de colágeno, comprimindo, portanto as extremidades nervosas e ativando seus
disparos (Person; Gordon, 2000)”. (Alter, 2010).

(Figura retirada de http://slideplayer.com.br/slide/2715917/)

Uma das principais funções atribuídas aos OTGs está a da inibição autogênica.
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2.1.3 Mecanorreceptores Articulares

(Figura retirada de
http://www.personalsandro.com/2011/04/propriocepcao.html)

São receptores que sentem as forças mecânicas impostas à articulação, como pressão e
a distensão de alongamentos e estão presentes em todas as articulações sinoviais. Os
mecanorreceptores podem ser divididos em 4 tipos:

(Figura retirada de http://br.monografias.com/trabalhos3/concepcoes-bale-recurso-


terapeutico-fiosioterapia/concepcoes-bale-recurso-terapeutico-fiosioterapia2.shtml)
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Tipo I: São feixes localizados nas camadas mais externas (superficiais)


articulares. São invervadas apor fibras do grupo II. Os receptores do tipo I são mais
numerosos em articulações proximais (por exemplo no quadril) do que nas mais distais
(Ex, tornozelo). Os receptores tipo I possuem limiar baixo e adaptação lenta. Dentre
suas principais funções estão a de sinalizar a amplitude e velocidade de movimentos
articulares. (Alter, 2010).

Tipo II: São feixes localizados nas camadas mais profundas da cápsula articular
fibrosa e nos coxins gordurosos articulares. Seus feixes são inervados por fibras
nervosas articulares do grupo II. Os receptores do tipo II são mais numerosos nas
articulações distais (ex: nos tornozelos) do que nas proximais (ex quadril). Esses
receptores não possuem descarga estática, “pois seu disparo depende de velocidade.
Consequentemente são mecanorreceptores dinâmicos ou de aceleração”. Dentre suas
funções está a de medir mudanças súbitas de movimentos, como acelerações e
desacelerações. (Alter, 2010).

Tipo III: São receptores presentes no interior e no exterior da cápsula articular


fibrosas. Seus feixes são inervados por fibras nervosas do grupo I. Os
mecanorreceptores do tipo III possuem limiar alto e adaptação lenta, ficando
“completamente inativos em articulações imóveis e respondem apenas a tensões
elevadas, geradas nos ligamentos articulares”. Suas principais funções são a de
monitorar a direção do movimento e de produzir a inibição reflexa profunda da
atividade de alguns músculos que atuam na articulação. (Alter, 2010).

Tipo IV: São receptores não encapsulados. Estão subdivididos em dois tipos: IVa
(presentes nos coxins gordurosos e ao longo de toda a espessura da cápsula articular) e
os receptores IVb (são terminações nervosas livres amplamente confinados nos
ligamentos intrínsecos e extrínsecos). Os receptores IVa e IVb constituem o sistema
receptor de dor dos tecidos articulares. Este sistema se torna ativo quando os tecidos
articulares são submetidos a marcadas deformações mecânicas ou irritações químicas
(em condições de isquemia ou hipóxia). (Alter, 2010).

2.2 Reflexos

Reflexo é uma resposta a um estímulo. Um estímulo inicia é percebido por um


neurônio sensorial, o qual conduz a informação até a medula espinhal aonde ele realiza
sinapse com um neurônio conector (ou Interneurônio ou neurônio de comunicação) e
este por sua vez estimula a atuação de um neurônio motor conduzindo a resposta ao
músculo por meio dessa fibra eferente.
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2.2.1 Reflexo Miotático (Reflexo de Alongamento)

Durante o alongamento, as fibras intrafusais são alongadas no interior do músculo.


Como consequência à essa deformação, os fusos musculares “ativam as extremidades
nervosas sensoriais primarias e secundárias, o que resulta em potenciais de ação nos
neurônios sensoriais do grupos Ia e II. Esses neurônios conduzem a informação até a
medula aonde faz sinapse com um Inter neurônio e com o neurônio motor alfa, o qual
transmite um impulso ao músculo esquelético disparando a sua contração reflexa
(Alter, 2010).

(Figura retirada de http://fisioex2013a.blogspot.com.br/2013_04_01_archive.html)

Vias aferentes: Fibras Ia e II


Centro Integrador: Medula
Vias eferentes: Motoneurônio alfa
Resposta desencadeada: contração do agonista e relaxamento do antagonista

2.2.2 Inervação Recíproca

A inervação recíproca é o sistema de coordenação dos músculos antagonistas e


agonistas na qual quando o músculo agonista se contrai, o grupo antagonista relaxa,
permitindo assim a ocorrência do movimento. Assim, “quando os motoneurônios de
um músculo recebem impulsos excitadores, que os fazem se contrair, os
motoneurônios do músculo oposto recebem sinais neurais que os tornam menos
propensos a disparar e a produzir contração muscular. Desse modo, o antagonista é
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inibido quase que no mesmo instante em que o agonista se contrai (inibição reflexa).”
(Alter, 2010).

(Figura retirada de
https://www.denisbarnes.com.br/pagina.php?cont=artigosDet&id=806)

2.2.3 Co-Ativação/ Co-Contração

Co-ativação ou co-contração “refere-se à contração simultânea do agonista e do


antagonista a um nível variável, com dominância do primeiro, que produz movimento
externo”. Este mecanismo parece ser vantajoso por tornar a “articulação mais rígida e
menos propensa a perturbações (Baratta et al., 1988; Enoka, 2002.; Kornecki, 1992;
Solomonow; D’Ambrosia, 1991), sendo uma “propriedade útil no aprendizado de
tarefas novas ou na execução de movimentos que exigem alto grau de precisão (Enoka,
2002)” (Alter, 2010).

2.2.4 Inibição autogênica (Reflexo Miotático Inverso)

O reflexo de inibição autogênica ocorre pelo processo contrário do Reflexo Miotático


(reflexo de alongamento), pois esse reflexo é ativado quando há um excesso de carga
atuando sobre um músculo agonista. “Á medida que se desenvolve tensão em um
grupo de fibras musculares, os OTGs e seus aferentes do grupo Ib enviam um número
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crescente de sinais ao SNC. Os nervos sensoriais do SNC terminam na medula espinal,


em pequenos Inter neurônios, que então inibem os corpos celulares do Motoneurônio
que está ativando o músculo contraído”, produzindo assim a inibição dos agonistas e
sinergistas e facilitação dos antagonistas (“desligando” a contração agonista e
estimulando o músculo antagonista – efeito protetivo)

(Figura retirada de http://slideplayer.com.br/slide/2715917/)

Vias aferentes: fibras Ib


Centro integrador: Medula
Vias eferentes: Motoneurônio alfa
Resposta desencadeada: inibição agonista e ativação do antagonista

2.3 Processo Adaptativo

2.3.1 Sarcômeros em Série

Diversos estudos (Goldspink, 1976; Goldspink et al., 1974; Williams; Goldspink, 1976
apud Alter, 2010) têm demonstrado uma resposta miogênica à quantidade de tensão
passiva recebida pelo músculo durante o alongamento. Essa resposta seria a produção
de sarcômeros em série (miofibrilogenese) para “manter o comprimento correto do
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sarcômero em relação ao músculo inteiro (Goldspink, 1976; Tabary et al., 1972)” (Alter,
2010).

(Figura retirada de https://preparacaofisicaxxi.com/2014/09/29/fundamentacao-


fisiologica-parte-2/)

Pesquisas vêm desmontando que os sarcomeros recém-sintetizados são produzidos


próximos a junção musculotendínea, na qual haveria uma transdução de força
mecânica (alongamento) na expressão genética musculares” (Alter, 2010). O
mecanismo de Miofibrilogênese é detalhado por Deyne, G D. (2001), na qual a força de
estiramento provocaria uma série de reações em cascatas quando transmitida ao
sarcolema, resultando na expressão genética de RNAm responsável pela formação
local de novos sarcômeros em série na junção músculo-tendão.
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(Figura retira de (Deyne, G De Patrick; Application of Passive Stretch and Its


Implications for Muscle Fibers. Phys Ther 2001; 81 (2): 819-827))

2.3.2 Isoformas de Titina

A Titina é uma grande proteína presente no sarcômero (se ligando nos filamentos finos
e grossos). A titina possui uma região extensível a qual promove a elasticidade
(geração de tensão passiva) no sarcômero quando alongado, atuando como uma mola.
(Ver item 3.2.1). Wang et al (1991) concluíram que “diferentes grupos musculares
expressam vários tipos de isoformas de titina e, portanto, exibem várias curvas de
estresse-distensão” (Alter, 2010).

(Figura retirada de Wang K, McCarter R, Wright R, Beverly J, Ramirez-Mitchell R.


Regulation of skeletal muscle stiffness and elasticity by titin isoformas: a test of the segmental
extension model of resting tension. Proc Natl Acad Sci 1991: 88: 7101-5. Legenda: Adutor
Magno (AM), psoas (PS), Latíssimo do Dorso (LD), Sartório (SA), Sóleo (SO) e
Semitendinoso (ST))

Ainda não se está claro como ocorre a expressão diferenciada da isoforma de titina no
músculo esquelético, nem se o treinamento poderia afetar as isoformas de titina, porém
especula-se que “quanto antes for iniciado o programa de alongamento, maior será a
modificação das isoformas de titina” (Alter, 2010).
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2.3.3 Resposta Reflexiva

Estudos têm indicado que a prática do alongamento produz melhoria das reações de
reflexo, tanto no método balístico (Wallin et. Al., 1985 apud Alter, 2010) quanto no
método estático. “Thigpen (1984) demonstrou que sessões curtas de alongamento
estático reduzem a atividade elétrica no interior do músculo, o que, teoricamente,
facilita o alongamento. Em teoria, um sinal mínimo na EMG implica relaxamento
muscular, minimizando, portanto, a resistência ativa ao alongamento e maximizando
seus potenciais benefícios” (Alter, 2010). Desse modo a influência do reflexo de
alongamento seria minimizada. Especula-se que o treinamento de flexibilidade
aumenta o limiar de ativação dos reflexos.

2.3.4 Tecido Conjuntivo

Os estudos de Kubo et al (2001, 2002) demonstraram um efeito do alongamento estático


nos tendões humanos (flexores plantares), indicando o seu esticamento. Nos estudos,
os autores demonstraram que a rigidez e a histerese nos tendões diminuíram
significativamente, o que é explicado pela especulação de que o “treinamento de
alongamento aumenta a flexibilidade mas não a elasticidade das estruturas do tendão.
Em vez disso, ele afeta a viscosidade da estrutura e diminui significativamente a
histerese” (Alter, 2010).
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(Figura retirada de HUME, P. and REID, D. Flexibility. In: ACKLAND, T. R., ELLIOTT,
B. C., BLOOMFIELD, J. Applied anatomy and biomechanics in sport. 2nd ed. Champaign,
IL: Human Kinetics, 2009.)

3.Análise Biomecânica da Flexibilidade

3.1 Conceitos Iniciais

O alongamento aumenta o comprimento da unidade musculotendínea ao atuar sobre


as propriedades biomecânicas dos tecidos muscular e conjuntivo.

As propriedades desses tecidos associadas à flexibilidade incluem:

RIGIDEZ: “Na biofísica, rigidez é a razão entre estresse e distensão ou entre força e
deformação. Em outras palavras, é a razão entre a mudança na força e a alteração no
comprimento. No caso do músculo, a resistência ao alongamento é determinada por
fatores neurais, assim como por fatores mecânicos A rigidez pode ser plotada em uma
curva de estresse-distensão ou de carga-deformação e é indicada pela inclinação da
relação estresse-distensão. Um tecido cuja plotagem tem alto grau de inclinação (como
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o osso) apresenta rigidez elevada e, portanto, vai exibir relativamente menos


deformação para uma dada quantidade de força” (Alter, 2010)

(Figura retirada de Alter, 2010)

RIGIDEZ PASSIVA: “refere-se à resistência da unidade musculotendínea ao serem


aplicadas forças externas.” (HUME et al in: ACKLAND et al 2009)

RIGIDEZ ATIVA: “definida como a capacidade de deformar temporariamente o


músculo contraído.” (HUME et al in: ACKLAND et al 2009)

ELASTICIDADE: “é a propriedade que possibilita o tecido retornar à sua forma ou


tamanho original quando a força é removida.” A elasticidade é uma propriedade
reversível , diferente da “extensibilidade” que “significa, simplesmente, a habilidade
de estender-se, sem implicar reversibilidade”. (Alter, 2010)

COMPLACÊNCIA: Oposto de rigidez

ESTRESSE: É a reação das forças de resistência internas de um corpo ou material ao


sofrer atuação de uma força externa. “O estresse é medido pela força aplicada por
unidade de área que produz ou tende a produzir deformação em um corpo, ou seja, a
força aplicada dividida pela área seccional cruzada do material que resiste à força.
Exemplos de unidades: lb/pés², N/m², e dinas/cm²” (Alter, 2010).

ESTRESSE DE TENSÃO: “É a força, no material, que resiste à ação de ser puxado em


direções opostas ou separados” (Alter, 2010).

DISTENSÃO: É a mudança no comprimento ou na quantidade de deformação causada


pela força aplicada. É definida como o índice do comprimento após a aplicação do
estresse ao comprimento inicial”. O índice pode ser expresso em um numero puro ou
uma porcentagem (Alter, 2010).
19

LEI DE HOOKE e MÓDULO DE ELASTICIDADE: “A lei de Hooke afirma que há uma


relação aritmética constante ou proporcional entre a força e o esticamento. Uma
unidade de força produz uma unidade de esticamento, duas unidades de força, duas
unidades de esticamento etc. Nesse contexto, os tecidos corporais podem ser
perfeitamente elásticos. A equação constante da lei de Hooke é o módulo de
elasticidade do material. Materiais de um módulo mais elevado, a rigidez também é
maior. Portanto, um material mais rígido vai exigir maior estresse para uma certa
distensão ou uma carga maior para uma dada deformação do que um tecido mais
flexível.” (Alter, 2010)

PERFEITAMENTE ELÁSTICO: Qualidade dos tecidos que cumprem aos requisitos de:
i) o elemento elástico tem de se recuperar por completo e readquirir as dimensões
originais exatas após a deformação; ii) a aplicação ou remoção instantânea da força tem
de ser acompanhada de mudança instantânea na dimensão.

LIMITE ELÁSTICO: “É o menor valor do estresse exigido para produzir uma distensão
permanente no corpo. Abaixo do limite elástico, os materiais retornam ao comprimento
incial quando a força de deformação é removida. No entanto, quando a força excede o
limite, o material estressado não retorna ao seu comprimento inicial após a remoção da
força.” (Alter, 2010)

ALONGAMENTO PLÁSTICO ou DISPOSIÇÃO PERMANTENTE: “É a diferença entre


o comprimento inicial e o novo comprimento do tecido após ultrapassado o limite
elástico.” (Alter, 2010)

PONTO DE RENDIMENTO: É uma fase de transição na qual ocorre quando se aplica


um estresse um pouco além do limite elástico e ocorre uma deformação sem estresse
adicional.

PLASTICIDADE: “É a propriedade de deformação permanente do material quando a


carga aplicada ultrapassa o limite elástico. Além do ponto de rendimento, a resposta
plástica do tecido envolve considerável quantidade de deformação, com pouquíssimo
aumento de força.” Num programa orientado para aumento de flexibilidade, alcançar a
plasticidade é essencial, sendo esta uma deformação benéfica. (Alter, 2010).
20

(Figura retirada de Alter, 2010)

VISCOSIDADE: É a propriedade dos materiais de resistir à fluidez e às cargas de


cisalhamento. É uma propriedade que depende do tempo (ex: quanto maior a
velocidade (quanto mais rápido) de aplicação de uma força num material viscoso
maior será a resistência/rigidez ao movimento/fluidez será apresentado) e sofre
influência da temperatura (por isso a importância do aquecimento para reduzir a
viscosidade dos tecidos e fluidos corporais, diminuindo assim a sua rigidez ao
movimento) (Alter, 2010). Um exemplo para compreender essa característica é o
alongamento balístico; nele para se executar um alongamento em alta velocidade os
tecidos biológicos apresentaram uma alta resistência/rigidez ao movimento, o que
pode para vence-la será necessária a aplicação de uma força de maior intensidade. O
mesmo podemos observar numa seringa preenchida com liquido viscoso. Quanto mais
rápido tenta-se escoar o liquido, maior a resistência (na forma de pressão) ele
apresentará.
21

(Figura retirada de Alter, 2010)

VISCOELASTICIDADE: “Os tecidos biológicos não são perfeitamente elásticos nem


plásticos. Eles exibem uma combinação de propriedades denominadas
viscoelasticidade. Quando as cargas aplicadas são baixas [intensidade], esses tecidos
apresentam comportamento elástico; quando mais altas, passam a ter comportamento
plástico. Além disso, em resposta a cargas aplicadas ao longo do tempo, os tecidos
exibem deformação viscosa.” (Alter, 2010).

TIXOTROPIA: “É a continua diminuição da viscosidade aparente ocorrida com o


tempo, sob cisalhamento, e a subsequente recuperação quando o fluxo é descontinuado
(Mewis, 1979). Os músculos se tornam rígidos por falta de uso e depois de agitados
ficam mais móveis (Lakie; Robson, 1988).” (Alter, 2010) Pesquisadores sugerem que na
inatividade formam-se ligações adicionais entre os filamentos de actina e miosina,
tornando o músculo mais rígido. Jà o alongamento e a atividade provocaria a quebra
dessas ligações consequentemente diminuindo a rigidez muscular (Alter, 2010).

HISTERESE: “É um fenômeno associado à perda de energia por parte dos materiais


viscoelásticos submetidos à carga e à descarga. A área entre as curvas de carga e
descarga (no interior do circuito) representa a energia perdia (convertida em calor). Em
comparação, a área sob a curva da descarga representa a energia recuperada no
reenrolar elástico.” Desta energia resiliente (a parte perdida fora convertida em calor),
parte é conservada como energia de distensão elástica (para o reenrolar, associado à
fase do relaxamento) e parte desta energia é utilizada nas estruturas dos tecidos nas
atividades de desempenho [energia elástica] como Sprint e saltos de atletas (Kubo et
22

al., 1999). “O alongamento passivo e a contração repetida diminuem a rigidez e a


histerese do tendão” (Alter, 2010).

(Figura retirada de Alter, 2010)

RELAXAMENTO DA TENSÃO ou ESTRESSE-RELAXAMENTO ou RELAXAMENTO


DE ESTRESSE: “quando o tecido é mantido em um comprimento constante e a força
declina gradativamente (McHugh et al., 1992).” (HUME et al in: ACKLAND et al 2009).
“Quando um músculo em repouso é alongado repentinamente e mantido em um
comprimento constante [deformação constante] por certo período, ocorre uma lenta
perda de tensão” (Alter, 2010).

ARRASTO ou FLUÊNCIA ou EFEITO CREEP: “quando o tecido é mantido sob uma


força constante e o tecido sofre deformação até assumir um novo comprimento (Taylor
et al., 1980). O arrasto pode ser outra explicação para o aumento imediato da ADM
depois do alongamento estático (Gajdosik, Giuliani e Bohannon, 1990).” (HUME et al
in: ACKLAND et al 2009)
23

(Figura retirada de Alter, 2010)

Para a análise da biomecânica do processo de alongamento, vejamos os componentes


dos tecidos muscular esquelético e conjuntivo bem como reagem à aplicação de tensão.

3.2 Tecido Muscular

Antes de tudo, vejamos como se compõe estruturalmente o tecido muscular, partindo-


se do macroscópico ao microscópico. Um músculo é composto por fascículos, os quais
compreendem inúmeras fibras musculares (sendo que cada fibra constitui uma única
célula muscular). Cada fibra muscular é composta por unidades menores denominadas
de miofibrilas que por sua vez abrangem longas e finas cadeias de sarcômeros
(sarco=carne, mero=unidade).

(Retirado de http://fisioterapiafisioex.blogspot.com.br/2013/05/neuromuscular.html)
24

O sarcômero é a menor unidade funcional do músculo e dentro dele há algumas


proteínas produzidas no interior da célula muscular, componentes estes menores que
compõem a sua estrutura chamados de miofilamentos tais como a Actina, Miosina,
Troponina, Tropomiosina, Titina e Desmina.

Ao observarmos o sarcômero, podemos notar duas linhas densas que delimitam essa
unidade nas extremidades, tal linha é denominada de linha Z. Adjacente á linha Z,
encontra-se a Banda I, região que contem os filamentos finos (actina) e titina. Na
sequencia pode-se observar a Banda A, região aonde se encontram os filamentos
espessos (miosina), região aonde acontecem as pontes cruzadas entre os filamentos
finos e expressos. Ao centro da Banda A, observa-se uma linha densa transversa; esta é
a linha M ou ponte M, sua função é “ajudar a organizar e estabilizar a treliça de
filamentos” (POLLACK, 1990 apud ALTER, 2010).

(Retirado de
http://www.sobiologia.com.br/conteudos/FisiologiaAnimal/sustentacao7.php)

3.2.1 Titina

A partir disso, qual(is) dessas estruturas atuam ativamente durante o alongamento? A


propriedade de extensibilidade do tecido muscular é conferida à Titina. A Titina é
uma proteína gigante com formação predominante de Imunoglobulina (Ig) e
fibronectina do tipo III (FnIII). Esta proteína “se estende por metade do sarcômero do
25

músculo estriado, desde os discos Z até as linhas M” (Frustt et al., 1988; Itoh et al., 1988;
Wang et al., 1985; Whiting et al., 1989 apud ALTER, 2010). Os aminoácidos P (Prolina),
E (Glutamato), V (Valina) e K (Lisina) constituem 70% dos elementos da Titina
presentes na região da banda I do sarcômero. Por este motivo, “Labeit e Kolmerer
(1995) colocaram o termo PEVK para descrever essa região da titina, a qual é grande
responsável pela geração de tensão passiva (i.e. elasticidade) e atua como uma mola
extensível quando sofre alongamento” (ALTER, 2010).

A principal função da Titina é restaurar o comprimento do sarcômero após o


alongamento (Klee et al 2002 apud ALTER, 2010). Para além disso, a Titina produz a
tensão de repouso (à semelhança de uma mola, essa tensão busca retornar o sarcômero
ao comprimento original) a qual “aumenta a medida que a fibra alongada é relaxada”
(ALTER, 2010).

A Titina é uma proteína muito extensível e tem em sua estrutura formações de espirais
randômicas (Trinick et al., 1984 apud ALTER, 2010), as quais serão importantes na
atuação elástica dessa proteína. ALTER (2010) relata que “Tskhovrebova e Trinick
(2000) sugerem dois tipos de mecanismos para explicar a extensibilidade associada à
banda I de Titina: o entrópico, que está envolvido na extensão da molécula a partir do
estado originalmente espiralado, e o entálpico, relacionado ao desdobramento da
estrutura interna da titina” e em ambos os casos há alta extensibilidade.

Como a Titina atua na extensibilidade do tecido muscular? A parte extensível da Titina


corresponde somente a da Banda I. Inicialmente, quando se traciona o sarcômero, o
segmento PEVK que se encontrava dobrado, desdobra-se (Wang; Forbes; Jin, 2001 apud
ALTER, 2010).
26

(Figuras retiradas de CASTRO-FERREIRA, Ricardo et al. Papel da titina na modulação da


função cardíaca e suas implicações fisiopatológicas; 2011)

3.2.2 Desmina

A Desmina ou esqueletina é uma proteína que constitui a linha Z e conecta


transversalmente esses discos. Esta proteína tem uma função estrutural importante
contribuindo no exoesqueleto do sarcômero e ela “se estende à medida que o
sarcômero é alongado” contribuindo também “para a resistência passiva de um
músculo alongado” (Gajdosik, 2001 apud ALTER, 2010)

3.2.3 Alongamento no Tecido Muscular

Sabe-se que o sarcômero rompe-se ao atingir 3,60µm de comprimento quando


alongado e que o comprimento máximo aproximadamente atingido pelo sarcômero
sem ruptura e com pelo menos uma ponte cruzada mantida entre os filamentos de
actina e de miosina, é de aproximadamente 3,50µm de comprimento (ALTER, 2010).
Dada esta limitação teórica para o alongamento muscular, pergunta-se, como o
músculo alonga-se? A adaptação muscular ao alongamento ocorre mediante produção
de sarcomeros em série (Goldspink 1976; Tabary et al., 1972 apud ALTER, 2010), os
quais são sintetizados perto da junção músculo-tendão. Estudos realizados com
imobilização mostraram a perda de sarcômeros em série o que repercutiu na
27

diminuição da amplitude articular. Tais estudos mostraram que o ajuste referente ao


número de sarcômeros não parece sofrer influencia neural, mas sim que parece “haver
uma resposta miogênica a quantidade de tensão muscular passiva” (Goldspink, 1976;
Goldspink et al 1974; Williams; Goldspink 1976 apud ALTER, 2010). Tal proposição
parece corroborar com a descoberta de Dix e Eisenberg (1990, 1991a, 1991b apud
ALTER, 2010 )que músculos alongados apresentaram acúmulo de RNAm de miosina
oxidativa lenta nas suas extremidades maior do que fibras de controle. A hipótese que
explicaria tal constatação é a de que a estimulação mecânica afetaria a expressão
genética, ou seja, de que há uma “transdução da força mecânica (alongamento) na
expressão genética pelas células musculares lisas” o que tem sido estudado por
Sutcliffe e Davidson (1990) (ALTER, 2010).

ALTER (2010) sugere alguns fatores que limitam a Amplitude de Movimento (ADM ou
AM) articular, tais como: Tipo e Arquitetura da fibra muscular, a contratura, a
espasticidade, o equilíbrio muscular impróprio, o controle muscular inadequado e o
estado de mobilidade do músculo. Em relação a estes fatores, focaremos nos dois
primeiros, tipo e arquitetura da fibra muscular.

Tipo de Fibra Muscular: Estudos demonstraram que as fibras de contração lenta


(Tipo I), contêm maior concentração de colágeno e ligações cruzadas de colágeno do
que fibras de Contração rápida (Tipo II) e por isso são menos flexíveis (Gosselin et al
1994, Kovanen et al 1984a, 1984b apud ALTER, 2010). Tal diferença seria explicada
possivelmente pela diferença de isoformas de titinas que compõe cada tipo de fibra
(Mutungi e Ranatunga, 1996 apud ALTER, 2010).

Arquitetura: O arranjo e disposição das fibras musculares podem facilitar ou


dificultar o alongamento produzindo maior ou menor tensão passiva. “Arquitetura
muscular é o ângulo entre o alongamento das fibras musculares em relação ao eixo
músculo-tendão e à linha de geração da força (direção das fibras)” (Garrett et al., 1988
apud ALTER, 2010).

3.3 Tecido Conjuntivo

Em relação à flexibilidade e extensibilidade do músculo, o tecido conjuntivo terá papel


tão fundamental quanto o tecido muscular, especialmente as estruturas como fáscia,
epimísio, perimísio e endomísio. Para além dos componentes principais do tecido
conjuntivo (colágeno e elastina) veremos as principais estruturas formadas por tecido
conjuntivo relacionadas ao músculo (tendões, ligamentos e Fáscia) bem como atuam
mediante as forças de alongamento.
28

3.3.1 Colágeno

O colágeno é uma proteína que se encontra em abundancia no organismo humano. Sua


constituição lhe confere grande resistência à força de tração e pequeno grau de
extensibilidade Por essa característica, tal proteína constitui os tendões e ligamentos,
cuja transmissão de força energia deve ser precisa e otimizada. O colágeno é
encontrado em subclasses, sendo a de mais importância para a amplitude articular o
subtipo I. O colágeno possui sinuosidades em formas de ondas, o que caracteriza o
fenômeno de plissado (ondulação das fibras de colágeno). Tal ondulação lhe permite
“pequeno alongamento longitudinal sem danos ao tecido” (Järvinen et al, 2002 apud
ALTER, 2010) de cerca de 1 a 2% (Kannus, 2000 apud ALTER, 2010). As fibras de
colágeno permitem o esticamento até que a frouxidão dos seus feixes ondulados seja
eliminada (endireitamento das fibras).

(Figura retirada de https://crescendoinfantil.wordpress.com/2016/04/)

Os aminoácidos mais abundantes na estrutura do colágeno são a Glicina, a Prolina e a


Hidroxiprolina, sendo que essas duas últimas “mantem o arranjo de colágeno em forma
de corda estável, resistente ao alongamento” (ALTER, 2010).

O colágeno interage muito bem com as substancias de base ou substâncias cimento que
são glicosaminoglicanos (GAGs), proteínas e água presentes “por entre as fibras de
colágeno e as fibrilas, mantendo uma distancia crítica entre elas e permitindo que
deslizem livremente uma ao longo da outra”. Essa matriz gelatinosa tem por função no
tecido conjuntivo a de fornecer lubrificação e prevenção de excesso de elos cruzados.
(ALTER, 2010).
29

(Figura retirada de Alter, 2010)

Os subtipos de colágeno possuem diferenças entre si quanto à resistência. Os tipo I e III


são os mais resistentes à deformação. “O colágeno tipo I tem alta resistência à
deformação, e as fibras de colágeno tipo III são mais finas e têm mais fibras elásticas
(Ahtikoski et al., 2001), portanto menos resistência que o colágeno tipo I. O colágeno
tipo II também tem menor volume e é mais elástico que o tipo I (Silver et al., 2002)”
(ACHOUR JUNIOR, 2009)

3.3.2 Elastina

A elastina é uma proteína fundamental constituinte das fibras elásticas do tecido


conjuntivo, sua função é a de "fornecer defesa contra forças excessivas e auxiliar os
órgãos alongados a retornarem a configuração natural (Jenkins; Little, 1974 apud Alter,
2010).” As fibas elásticas são muitas vezes encontradas em meio as fibras de colágeno
porém possui constituição um pouco diferente, contendo os aminoácidos desmosina e
isodesmosina, glicina e prolina. Acredita-se que as cadeias espiraladas das fibras elásticas
sejam unidas por elos covalentes cruzados cuja ligação seria fraca e espaçada. Essas
fibras “cedem facilmente ao alongamento, mas, quando liberadas, retornam quase ao
mesmo tamanho anterior”, alcançando a sua ruptura “quando alongadas em grau
superior a 150% do seu comprimento original (Bloom et al, 1994 apud Alter, 2010)

Enquanto as fibras de colágeno oferecem restrições de rigidez e possuem característica


de inextensibilidade, as fibras elásticas possuam a elasticidade reversa (capacidade de
voltar ao comprimento de repouso quando alongada). Assim, “onde há predomínio de
fibras de colágeno, prevalecem rigidez, estabilidade, força de tensão e AM restrita
(Eldren, 1968; Gosline, 1976 apud Alter, 2010).”
30

3.3.3 Tendão

Os tendões são estruturas que ligam os músculos aos ossos. Em sua estrutura há fibras
de colágeno dispostas de forma linear a fim de que possa transmitir a força de tração e
energia produzida pelos músculos aos ossos de forma mais precisa e unidirecional.

(Figura retirada de http://www.anatomiaresumida.com/2017/01/sistema-


muscular.html)

Cabe aos tendões também a função proprioceptiva, por conter os órgãos tendinosos de
Golgi em sua estrutura, estes são mecanorreceptores que sentem a tensão e fornecem
feedback aos músculos (Alter, 2010).

(Figura retirada de
http://citrus.uspnet.usp.br/biomecan/pet/arquivos/Fundamentos_Biomecanica.pdf)

Devido a orientação das fibras de colágeno do tendão ser linear e unidirecional esta
especialização do tecido conjuntivo responde muito bem as cargas de tração. Quando
tracionado, o tendão apresenta uma relação estresse-distensão não linear (Kuo et al.,
2001 apud Alter, 2010), sendo possível visualizar três regiões características nesta curva:
“a do ‘dedo’ (parte mais baixa) da curva, a elástica e a plástica”
31

(Figura Retirada de Robi K, Jakob N, Matevz K, Matjaz V (2013). Chapter 2: The


Physiology of Sports Injuries and Repair Processes. In Hamlin M (Ed.)

(Curva estresse-Deformação do tendão. Figura retirada de J. D. Rees et al. Current


concepts in the managementof tendon disorders. 2006).

Nas regiões podemos ver as seguintes características:

- Região primária (Abrahams, 1967) ou Região da Curva Dedo (Lucas et al., 1999):
corresponde a fase em que há um endireitamento das fibras de colágeno na qual
deixam a frouxidão e as curvas (plissadas) iniciais. Nessa fase há uma baixa rigidez das
32

fibrilas de colágeno. “Tal região corresponde a uma distensão de 0 a 1,5% (Abrahams,


1967 apud Alter, 2010)”

- Região Elástica ou Linear: “Esta região é caracterizada por deformações que


aumentam de modo linear à quantidade de tensão”. “Nesta região da curva
corresponde a uma distensão de 1,5 a 3%” podendo chegar a 5% como registrado em
algumas fontes (Abrahams, 1967; Crisp, 1972; Lederman, 1997; Zachazewski, 1990 apud
Alter 2010). Se cessado o regime de carga, o tecido retorna ao seu estado original.

- Região Plástica ou Zona III: É caracterizada por “mudanças de comprimento


permanentes, acompanhadas de mircrotraumas que atingem a integridade estrutural
do tendão” podendo chegar a sua falha total. Estime-se que a distensão no ponto da
falha final varie de 5 a f30% (Abrahams, 1967; Woo, 1982; Zachazewski, 1990 apud
Alter, 2010).

Alguns estudos demosntraram que o alongamento estático repetido diminui a rigidez e


a histerese no tendão (Kubo et al 2001b; Kubo, Kanehisa e Fukunaga 2002a), o que leva
a especulação de que o “treinamento de alongamento aumenta a flexibilidade mas não
a elasticidade das estruturas do tendão. Em vez disso, ele afeta a viscosidade da
estrutura e diminui significativamente a histerese” (Alter, 2010).

3.3.4 Ligamento

Os ligamentos são estruturas que unem um osso ao outro, estabilizando as articulações


e mantendo os ossos nos seus devidos eixos de movimento. O aspecto histológico dos
ligamentos abarca água (grande parte) e a parte seca cuja composição é colágeno,
elastina e proteglicanos.. Neste aspecto são similares aos tendões, “exceto pelo fato de
terem menor porcentagem de colágeno e maior percentual de substancia de base e
possuírem elementos organizados de modo mais aleatório (Lucas et al., 1999)” (Alter,
2010). O ligamento possui baixa vascularização e baixa taxa metabólica, por isso
quando lesionado, a sua recuperação é muito lenta.
33

(Figura retira de http://www.institutomussi.com/project/rompimento-ligamento-


cruzado/)

A disposição das fibras de colágeno do tendão em sua maioria de forma paralela faz
com que este material resista essencialmente às cargas de tração.

A amplitude de movimento sofre grande influencia da resistência dos ligamentos.


“Johns e Wright (1962) determinaram que os tendões fornecem apenas cerca de 10% da
resistência total ao movimento. Por outro lado, os ligamentos e a cápsula articular
contribuem com cerca de 47%” (Alter, 2010). Entretanto, deve-se atentar que exercícios
de alongamento para a esticar os ligamentos e capsula articular, “podem desestabilizar
a articulação e aumentar a probabilidade de lesão.” (Alter, 2010).

Como o ligamento se comporta quando tracionado? Noyes (1977) elaborou a seguinte


curva de carga-comprimento dos ligamentos.
34

(Figura retirada de Wheaton,M e Jensen, N. The Ligament Injury-Osteoarthritis


Connection: The Role of Prolotherapy in Ligament Repair and the Prevention of
Osteoarthritis. Journal of Prolotherapy. 2011;3(4):790-812. Com a autorização de Hauser
RA, et al. Prolo Your Sports Injuries Away! Oak Park, IL: Beulah Land Press; 2001.
Figure 17-10).

Num primeiro momento, quando aplicada a força de tração, as fibras de colágeno que
se encontravam frouxa se alinham e o colágeno esboça pouca rigidez permitindo a
ocorrência do movimento. A partir deste ponto nós podemos observar duas regiões: a
zona elástica (aonde a cessação da aplicação de carga resulta no retorno do ligamento
ao seu comprimento inicial) e a Zona Plástica (aonde a deformação no comprimento se
torna permanente). Na zona elástica pode-se verificar que o aumento da carga faz com
que aumenta-se cada vez mais a resistência até que se atinja o ponto C, zona plástica, a
partir da qual uma pequena variação de carga promove grande deformação podendo
resultar na falha total do ligamento. O ponto B é indicado como “microfalha”, essa é a
região de “aviso”, na qual ocorrem danos (que podem ser reparados caso a carga seja
cessada) ao tecido (geralmente por entorses) e a articulação ainda se mantem estável,
entretanto a progressão na aplicação de carga pode levar o tecido a danos irreparáveis
podendo chegar a falência total e perda de estabilidade.
35

3.3.5 Fáscia

A fáscia (significa bandagem em latim) é um termo usado na anatomia para se referir


aos tecidos conjuntivos fibrosos que não tem denominação específica. Dentre os
diversos tipos de fáscia, a que fica mais profunda e recobre músculos, ossos, nervos,
vasos e órgãos do corpo é a fáscia profunda. As principais funções atribuídas à fáscia
são: estrutural (ao manter os músculos unidos e garantindo o alinhamento das fibras
musculares e estruturas adjacentes) e a de transmissão e distribuição ao tecido como
um todo da força desenvolvida pelo músculo.

(Figura retirada de https://www.iespe.com.br/blog/o-musculo-e-suas-estruturas/)

A fáscia profunda que envolve e prende os músculos esqueléticos subdivide-se em:


Epimísio, Perimísio e Endomísio.

Epimísio: Fáscia que recobre o músculo ou grupo muscular por inteiro

Perimísio: cerca os feixes de fibras musculares conhecidos como fascículos e os conecta


ao epimísio. (Roew, 1981 apud Alter, 2010)

Endomísio: envolve cada fibra muscular e as conecta ao perimísio. (Borg e Caulfield,


1980 apud Alter, 2010)

Sarcolema: Tecido conjuntivo que envolve as fibras musculares (membrana plasmática


das fibras musculares)
36

Dentre estes componentes da fáscia, o que tem mais tido destaque é o Perimísio já que
ele tem disso considerado “o principal fator que contribui para a resistência
extracelular passiva ao alongamento (Purslow, 1989)” (Alter, 2010).

Segundo Johns, Wright (1962), “durante o movimento passivo, o conjunto da fáscia do


músculo é responsável por 41% da resistência total ao movimento”, o que a torna o
“segundo fator mais importante na limitação da AM” (Alter, 2010).

Desse modo , por serem um dos componentes que mais influenciam a limitação da
amplitude de movimento, Alter (2010) sugere que os tecidos conjuntivos devem ser
bem alongados.

4.Alongamento

4.1 Conceito

Alongamento é definido como “exercício que envolve a aplicação de uma força para
superar a resistência do tecido conjuntivo sobre a articulação e aumentar a amplitude
de movimento (Condom; Hutton, 1987)” (ACHOUR JUNIOR, 2009)

4.2 Tipos

Estático: Envolve um alongamento lento de um grupo muscular/tendão na qual


mantem-se a posição de alongamento por um período. O alongamento estático pode
ser Ativo ou Passivo.

Ativo: Envolve a manutenção da posição de alongamento utilizando ao força de


um músculo agonista, portanto sem o auxílio de uma força externa.

Passivo: A posição é assumida mantendo um membro ou outra parte do corpo


com a assistência de um parceiro ou auxílio (como bandas elásticas ou barra).
“Pezzullo e Irrgang (2001) dividem o exercício passivo entre componentes fisiológico
[subdivido em AM e Alongamento] e acessório [Manipulação ou mobilização,
realizados por profissionais de saúde]. A amplitude de movimento (AM) Fisiológica
passiva é o movimento que ocorre dentro da amplitude de movimento irrestrita, normal
para a respectiva articulação. Já o alongamento fisiológico passivo incorpora movimentos
além da amplitude irrestrita executados na tentativa de aumentar o movimento.”
(Alter, 2010)
37

Como o tecido muscular possui propriedade viscoelástica, portanto o tempo tem papel
fundamental. Assim, o alongamento estático usando pouca força e de longa duração,
“ao permitir tempo para incrementar uma maior produção de força, o ciclo de
alongamento lento resulta em maior deformação plástica (Sun et al 1995). Além disso,
alguns estudos (Sapega et al., 1981) demonstraram que a aplicação de um alongamento
com muita força e curta duração favorece a deformação recuperável do tecido elástico.
Por outro lado, a aplicação de tensão com pouca força e longa duração incrementa a
deformação plástica permanente (Warren et al., 1971, 1976; Laban, 1962).” (Alter, 2010)

Dinâmico: Envolve uma gradual transição da posição do corpo para outra em um


progressivo aumento do alcance e da amplitude de movimento conforme o movimento
é repetido várias vezes.

Balístico: Neste alongamento, usa-se o movimento dos segmentos corporais em


velocidade de forma explosiva para produzir alongamento.

Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva (FNP): Envolve uma contração isométrica


de um grupo muscular selecionado seguido de um alongamento estático desse grupo
(contração-relaxamento).

5.Prescrição Ideal
Seguindo-se a Posição Padrão do ACSM (2011) temos a seguinte recomendação para o
Alongamento Estático, foco deste trabalho:

Intensidade: Ponto de aperto ou leve desconforto (Nível de Evidência: C)

Duração: Manter 60s de duração para cada alongamento. Distribuir esse tempo
de acordo com as necessidades individuais, podendo dividir em repetições (ex: 2
repetições de 30 segundos ou 4 repetições de 10s) (Nível de Evidência: B)
38

Frequência: 2-3 vezes por semana mostraram boa eficácia porém os maiores
ganhos em amplitude de movimento são mostrados com exercícios de flexibilidade
todos os dias. (Nível de Evidência: B)

Duração do programa ou Tempo até realizar uma mudança: “Por volta das semanas 4 e 5 não
foram observadas novas mudanças significativas na ADM, o que indicou um efeito de
platô na melhora da ADM. (Gribble et al, 1999). Se o regime de alongamento não for
mantido, os benefícios se perderão dentro de quatro semanas.” (Hume, P e Reid In
ACKLAND, T. et al, 2009).

Tipos de exercícios: Recomenda-se exercícios para cada grupo muscular que se


pretenda alongar. (Nível de Evidência: B)

Observação: Aquecimento - O aumento da temperatura corporal tem um papel


importante para o alongamento, pois ela exerce influência sobre o comportamento
mecânico do tecido conjuntivo e muscular submetidos ao estresse de tensão, assim “à
medida que a temperatura do tecido sobre, a rigidez diminui e a extensibilidade
aumenta (Laban, 1962; Noonan et al, 1993; Rigby, 1964)” (Alter, 2010). O aquecimento
antes dos exercícios de alongamento se faz essencial para modificar esse
comportamento visco elástico, diminuindo a rigidez muscular e proporcionando a
deformação plástica do alongamento.

6. PRÁTICA: Análise de Alongamento Estático


6.1 Exercício

Em pé, tentar tocar a ponta dos pés ou o solo. O alongamento estático em


questão consiste em realizar uma flexão do quadril com manutenção da articulação do
joelho estendida.
39

Este modelo de alongamento é um dos mais comuns e mais frequentes de se presenciar


em parques, academias e locais aonde acontecem ou recebem atividade física. Para
muitos este é o primeiro exercício que lhes vêm a mente quando solicitamos um
exercício de alongamento. Ao mesmo tempo em que é tão popular tal alongamento é
também bem controverso.

6.2 ANÁLISE

6.2.1 Músculos Alvos

Principais Músculos/ Grupo Musculares alvos:

- Isquiotibiais

- Bíceps Femoral cabeça Longa:

Inserção Proximal: Tuberosidade isquiática e ligamento sacro-


tuberoso

Inserção Distal: Cabeça da fíbula e côndilo lateral da tíbia

Ação: Extensão do Quadril, Flexão do Joelho e Rotação Lateral do


Joelho
40

- Bíceps Femoral cabeça curta:

Inserção Proximal: Lábio lateral da linha áspera

Inserção Distal: Cabeça da fíbula e côndilo lateral da tíbia

Ação: Extensão do Quadril, Flexão do Joelho e Rotação Lateral do


Joelho

- Semitendinoso:

Inserção Proximal: Tuberosidade isquiática

Inserção Distal: Superfície medial da tuberosidade da tíbia (pata de


ganso)

Ação: Extensão do Quadril, Flexão e Rotação Medial do Joelho

- Semimebranáceo:

Inserção Proximal: Tuberosidade isquiática

Inserção Distal: Côndilo medial da tíbia

Ação: Extensão do Quadril, Flexão e Rotação Medial do Joelho

- Glúteo Máximo:

Inserção Medial: Linha glútea posterior do ilíaco,


sacro, cóccix e ligamento sacrotuberoso

Inserção Lateral: Trato íleotibial da fáscia lata e


tuberosidade glútea do fêmur

Ação: Extensão e Rotação Lateral do Quadril


41

6.2.2 Fatores de Risco do Alongamento

Não há uma unidade na literatura a cerca de possíveis problemas com


este alongamento. Entretanto há diversas publicações que contestam a
segurança desta estratégia de alongamento.

- Acredita-se que esse exercício “estresse os discos e os ligamentos posteriores da


lombar e o nervo ciático (Alter, 1996, 1998; Anderson, 1985; Cailliet; Gross, 1987;
Dominguez, citado em Shyne, 1982; Testsman, 1980; Zacharkow, 1984)” (Alter, 2010)

- Os joelhos podem ser forçados à hiperextensão

- “Acredita-se que também que este exercício danifique potencialmente os meniscos


(Cailliet; Gross, 1987)” (Alter, 2010)

- Gera maior instabilidade pela reduzida base de apoio e projeção do centro de


gravidade a frente o que pode ser perigoso para idosos

- Na fase de reextensão do alongamento, Calliett (1988) afirma que os ligamentos


supra-estpiais suportam a coluna lombar até os últimos 45° e a partir deste ângulo até a
extensão total o papel é assumido pelos músculos eretores da espinha. A dificuldade se
apresenta quando os músculos eretores da espinha têm que gerar muita tensão para
resistar à alavanca provocada pelo movimento, o que quando estão fadigados “a tarefa
de manter e suportar a carga excessiva cai sobre os ligamentos” (Alter, 2010)

6.2.3 Redução dos Riscos

Seguem algumas indicações discutidas por Alter (2010) que


podem tornar a estratégia mais segura:

- Realizar de forma lenta (pois os tecidos viscoelástico são


dependentes fundamentalmente do tempo) e progressiva (ir aumentando a amplitude
articular aos poucos)

- Diminuir ou evitar qualquer carga anterior ao corpo vertebral (diminuindo assim o


braço resistente da alavanca e consequentemente diminuindo as forças exercidas na
região lombar). Para isso, pode-se colocar as mãos nos quadris ou na coxa

- Abrir as pernas lateralmente, aumentando a base de apoio e diminuindo a distensão.


Á medida que se evolui, pode-se ir juntando os pés.
42

- Outra forma de diminuir a distensão sobre os isquiotibiais seria iniciar o alongamento


da posição agachada e flexionando-se o tronco para frente e segurando os pés, ir
estendendo os joelhos progressivamente até o ponto de desconforto (Alter, 1986; Alter,
1996, 1998; Hossler, 1989, Tyne; Mitchell, 1983; Uram, 1980 apud Alter 2010).

- Na fase de reextensão, o indivíduo pode i) inclinar os joelhos à frente e sentar-se no


solo e ii) manter os joelhos flexionados enquanto ergue-se a parte superior até a
posição ereta (Alter, 1996, 1998; Nieman, 1990; Peters; Peters, 1983; Tyne; Mitchell, 1983
apud Alter 2010).

- Diminuir o momento da força sobre a coluna ao executar o alongamento (o que é


proporcional ao peso movido à frente e à distância do eixo do corpo)

- Sobre a posição da coluna durante o alongamento, “Delitto et al (1987) realizaram


uma análise da EMG do levantamento nas posições Costas Convexas ou retas (CC) e
Costas abauladas ou curvadas em cifose ou ligeiramente arredondadas (CA). A
atividade dos músculos eretores da espinha durante o período inicial foi maior na CC
do que na CA e portanto, a posição das costas convexas pode fornecer proteção
adequada a estruturas inertes da coluna lombar.” (Alter, 2010).

- Outro mecanismo que pode proteger a lombar durante a fase de extensão “é a


contração isométrica dos músculos abdominais durante todo o levantamento. Acredita-
se que essa atividade sustenta a coluna tanto pelo aumento da pressão intra-abdominal
quanto pelo tensionamento da fáscia toracolombar através das inserções dos músculos
abdominais oblíquo interno e transverso (Bartelink, 1957; Bogduk, 1984)” (Alter, 2010).

6.2.4 Mudança de Estratégia

Sabe-se que “o risco de lesão por inclinação nos discos lombares e nos ligamentos
depende de uma série de fatores: carga, faixa de utilização da carga e histórico de
suporte de carga (Adams; Dolan, 1996)” (Alter, 2010). De certa forma, ainda que com
certa precaução, a estratégia de alongamento analisada põe certo grau de risco para
essas estruturas. O alongamento discutido pode ser uma estratégia mais segura e mais
indicado para pessoas que possuem uma maior flexibilidade, pois “quanto maior o
grau de flexibilidade e de força, menor a probabilidade de uma lesão” ao executar este
alongamento (Alter, 2010).

A partir disso, cabe nos perguntar: apesar de ser tão popular, este alongamento é a
melhor estratégia para alongar os isquiotibiais e glúteo máximo? Á exceção de atletas
que utilizam um gesto motor específico com esse movimento de alongamento, esta
seria a melhor estratégia para sedentários ou pessoas com encurtamento muscular
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nessas estruturas? A segurança com as estruturas do aparelho locomotor deve ser de


suma importância, por isso para evitar prováveis danos à coluna vertebral, discos e
ligamentos podemos propor uma mudança na estratégia de alongamento que seja
favorável à segurança da coluna bem como tenha um gesto parecido com a estratégia
anterior. Por que não realizar o mesmo alongamento dos mesmos grupos musculares
porém partindo da posição deitada e ir flexionando o quadril com joelhos estendidos?
(tomar cuidado com o outro alongamento também popular de sentado, tentar encostar
as mãos nos pés, pois também podem, em situações especificas, acarretar danos à
coluna e estruturas adjacentes, semelhante à estratégia de alongamento discutida nesta
análise).

(Figura retirada de https://www.ativo.com/bike/papo-de-pedal/dor-nos-gluteos-apos-


pedalar/)
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7. Referências Bibliográficas

ACHOUR JUNIOR,A. Flexibilidade e Alongamento - Saúde e Bem-estar. 2ª Edição.


Barueri, SP: Manole, 2009.

ALTER M. Ciência da Flexibilidade. 3ª edição. Porto Alegre: Artemed, 2010.

AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE POSITION STAND. Quantity and


Quality of Exercise for Developing and Maintaing Cardiorespiratory, Musculoskeletal,
and Neuromotor Fitness in Apparently Healthy Adults: Guidance for Prescribing
Exercise. Med Sci Sports Exerc. 2011 Jul; 43(7): 1334–1359.

ARMIGER, P. and MARTYN, M. A. Stretching for Functional Flexibility. Baltimore,


Philadelphia: Lippincott Williams and Wilkins, 2010.

HUME, P. and REID, D. Flexibility. In: ACKLAND, T. R., ELLIOTT, B. C.,


BLOOMFIELD, J. Applied anatomy and biomechanics in sport. 2nd ed. Champaign, IL:
Human Kinetics, 2009.

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