Vieira Isabel 2019 Avaliar para Aprender TD
Vieira Isabel 2019 Avaliar para Aprender TD
Vieira Isabel 2019 Avaliar para Aprender TD
Instituto de Educação
2019
ii
UNIVERSIDADE DE LISBOA
Instituto de Educação
Júri:
Presidente: Doutor Domingos Manuel Barros Fernandes, Professor Catedrático e
membro do Conselho Científico do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa
Vogais:
Doutor Rui Eduardo Trindade Fernandes, Professor Auxiliar da Faculdade de
Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto;
Doutora Nilza Maria Vilhena Nunes da Costa, Professora Catedrática do
Departamento de Educação e Psicologia da Universidade de Aveiro;
Doutora Maria Leonor de Almeida Domingues dos Santos, Professora Associada
com Agregação do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, orientadora;
Doutor Pedro Miguel Freire da Silva Rodrigues, Professor Auxiliar do Instituto de
Educação da Universidade de Lisboa.
2019
iii
iv
Resumo
É na relação constante entre o aprender e o ensinar que a avaliação se desenvolve,
permitindo ao aluno conhecer claramente como está a aprender, quais as dificuldades a
ultrapassar para que a aprendizagem prossiga. Também serve ao professor para orientar
o processo de aprendizagem do aluno e para autorregular o seu ensino. Com um papel
de regulação de todo o processo, avaliar para aprender é uma forma de entender a escola
e a sala de aula. Implica uma redefinição de prioridades, promovendo aprendizagens do
aluno que está no centro do processo educativo e atribuindo à avaliação um lugar de
destaque quando ajuda o aluno a assumir a condução da sua própria aprendizagem.
Selecionei duas professoras caso, uma de inglês e outra de matemática, por serem
reconhecidas, por alunos e pares, como professoras que desenvolvem práticas de ensino
centradas nas aprendizagens dos alunos, e duas turmas de 12.º ano, ambas de ciências e
tecnologias por elas lecionadas. Desenvolvi uma investigação sustentada no paradigma
construtivista interpretativo, usando como design o estudo de caso, com observação da
sala de aula, que levou à elaboração de um diário de campo, complementado com
entrevistas semiestruturadas com as professoras, em diferentes momentos e entrevistas
com grupos focais, realizadas com os alunos, os principais instrumentos para recolha
dos dados. A análise de dados foi feita com recurso ao programa informático NVivo11.
v
vi
Abstract
The systematic relation between learning and teaching is the basis for assessment to be
developed, thus allowing students to fully understand their learning path and which
difficulties are to be overcome for learning to succeed. But evaluation also serves the
teacher to guide the student's learning process and to self-regulate the teaching process.
The whole assessment’s process so provides a regulation role. Assessing to learn is also
a way of understanding school and the classroom. It implies a redefinition of priorities,
promoting student learning, which not only is at the core of the educational process but
also gives assessment an outstanding role by helping the students to clearly assume
their own learning path.
Two teachers were selected for the case study - an English teacher and a Maths teacher -
for being recognized by students and peers as teachers who develop teaching practices
focused on student learning. Two 12th form classes were chosen, both enrolled in the
course of sciences and technology and taught by those teachers. The research finds it
sustainability in the constructivist interpretative paradigm, designed under the case
study, with classroom observation, with a field diary note-taking, which together with
semi-structured interviews with both teachers, in different moments of the school year.
Interviews with focus groups were, also, carried out with the students. These were the
instruments used for data collection. Data analysis was performed using NVivo11
software.
Students committed to their learning were found in both classes. This commitment
derived from specific and intentional strategies, implemented by both teachers along the
teaching process. High work performances by the students and the teachers’ feedback
was found to be essential for the students’ guidance in promoting their success by
identifying and addressing mistakes in a positive way. Both classes were differentiated
by the usage (or not) of different pedagogical strategies and students’ self- assessment
procedures. It was concluded that for students to succeed, it is essential to promote
assessment practices, which allow to stand out what’s really important for learning, to
inform everyone if learning is really happening and how this day-by-day learning
process is evolving .
vii
viii
Agradecimentos
À Professora Doutora Leonor Santos que, graças a um feedback sempre muito assertivo
e oportuno, orientou o meu percurso de crescimento deixando que ele fosse sendo
construído de acordo com o meu próprio ritmo.
Aos meus filhos, Ricardo e Alexandre, por tudo o que me ensinaram, nas suas vivências
de estudantes e na sua construção como adultos autónomos, responsáveis e felizes.
Às amigas e colegas Leonor e Ilda, por terem partilhado comigo a sua sala de aula, com
todos os sucessos e insucessos, e pelas reflexões que realizámos em conjunto e me
ajudaram a crescer, pessoal e profissionalmente.
A todos aqueles que, de alguma forma, têm contribuído para o meu crescimento
sustentável.
ix
x
ÍNDICE
Resumo v
Abstract vii
Agradecimentos ix
ÍNDICE XI
ÍNDICE DE QUADROS xv
ÍNDICE DE FIGURAS xvii
CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO 1
Motivação 1
Pertinência do estudo 2
Objetivo e questões da investigação 5
Organização da Tese 6
Introdução 134
Opções metodológicas 135
Cuidados éticos assumidos 141
Participantes do estudo 143
Recolha de dados 144
Análise de dados 152
xi
Professora Leonor 160
Turma C do 12º Ano 166
xii
Ilda em discussão 289
REFERÊNCIAS 343
ANEXOS 366
xiii
xiv
ÍNDICE DE QUADROS
Págs.
Quadro 1: A implementação de práticas de ensino diferenciadas 40
Quadro 2: O que é e não é a instrução diferenciada. (Adaptado de
42
Tomlinson, Brimijoin, & Narvaez, 2008)
Quadro 3: Evolução da avaliação em função dos seus objetivos 69
Quadro 4: Comparação entre avaliação sumativa e avaliação formativa 78
Quadro 5: Tipos de avaliação formativa (Adaptado de Wiliam &
96
Thompson, 2007)
Quadro 6: Aspetos da avaliação formativa. (Adaptado de Wiliam &
100
Thompson, 2007)
Quadro 7: Modelo de feedback (Adaptado de Hattie, 2009) 118
Quadro 8: Estratégias promotoras de aprendizagem 133
Quadro 9: Distribuição dos alunos nas turmas estudadas 144
Quadro 10: Instrumentos utilizados para recolher os dados da
145
investigação
Quadro 11: Domínios da investigação 153
Quadro 12: Categorias prévias para a prática de ensino
158
Quadro 13: Categorias prévias para a prática avaliativa
158
Quadro 14: Média da avaliação sumativa interna da turma 12.º B, e
médias da avaliação externa a nível da turma, da escola e 238
nacional
Quadro 15: Adequação do ensino às capacidades e aos ritmos de
317
aprendizagem dos alunos (PEM, 2016, pp.7-8)
Quadro 16: Coerência entre ensino e avaliação (PEM, 2016, p.12) 320
Quadro 17: Diversificação das formas de avaliação (PEM, 2016, pp.15-
322
16)
Quadro 18: Aferição dos critérios e dos instrumentos de avaliação (PEM,
2016, p.16) 324
xv
xvi
ÍNDICE DE FIGURAS Págs.
xvii
CAPÍTULO I - Introdução
A exigência que a sociedade coloca hoje à escola e aos professores, atribuindo a estes a
responsabilidade de preparar crianças e jovens para viverem em plena revolução digital,
sem se saber ainda muito bem o que isso significa em termos de competências a
trabalhar com os alunos, obriga a que as escolas, e em particular os professores,
reinventem a sala de aula e a forma como levam os alunos a construirem as suas
aprendizagens.
Motivação
A par das muitas leituras e reflexões que fui realizando, fui abordando estas temáticas,
formal e informalmente, com os meus alunos do ensino secundário, que me foram
dando conta das suas vivências, umas mais positivas e outras nem tanto, mas que
1
colocavam sempre num patamar mais elevado as aulas das professoras Leonor e Ilda. A
curiosidade e vontade de perceber como estas duas professoras, com características,
interesses e formação tão distintas têm conseguido, ano após ano, turma após turma,
levar os seus alunos a sentirem satisfação e entusiasmo com o trabalho que
desenvolvem nas suas salas de aula, levou-me a projetar uma investigação com estas
características.
Fazendo parte integrante do processo de ensino e aprendizagem, pois dela depende não
só o que e como se ensina, mas também o que e como se aprende, a avaliação terá como
finalidade a regulação de todo o processo, ao permitir aos alunos que sejam capazes de
identificar as suas dificuldades e implementar estratégias para as superar, isto é, sejam
capazes de se autorregular.
Pertinência do estudo
2
aspetos específicos da avaliação formativa se relacionam com a aprendizagem e a
motivação dos alunos.
Foi o estado da arte descrito que me levou a entender que seria importante perceber
como os alunos entendem a avaliação e de que forma as aprendizagens que constroem
são influenciadas pela avaliação e pelo ambiente onde a mesma acontece e me levou a
projetar uma investigação centrada na avaliação que se realiza na sala de aula. Interessa
compreender o que professores e alunos fazem, como pensam, como reagem a partir das
práticas avaliativas que acontecem, tentando encontrar algumas ideias que possam
ajudar outros a traçar o seu próprio caminho.
O que o professor faz na sala de aula é o principal fator que determina a aprendizagem e
o sucesso dos alunos (Hattie, 2012). Como as práticas não se alteram por legislação é
necessário um trabalho profundo e rigoroso com os professores que já estão integrados
na carreira, e não apenas os aspirantes à docência, de modo a construírem um
3
conhecimento profundo sobre o papel que a avaliação pode e deve desempenhar na
aprendizagem.
Tal como refere Earl (2013), para alterar as práticas de forma consistente e generalizada
é necessário que tanto os professores como os diretores das escolas reformulem as suas
próprias conceções sobre a avaliação e de que forma deve ser usada para que possa
cumprir o seu verdadeiro papel no apoio à aprendizagem.
É necessário alterar a ideia errada, mas muito generalizada entre a classe docente, de
que a avaliação formativa é um tipo particular de instrumento de medida e não um
processo fundamental para o desenvolvimento do ensino e da aprendizagem (Heritage,
2010). Entender esta distinção é indispensável não só para compreender como se
implementa a avaliação formativa mas, principalmente, permitir que tanto alunos como
comunidade educativa e a própria sociedade onde esta se insere possam aproveitar os
consideráveis benefícios que o uso sistemático de uma avaliação com uma função
formativa pode introduzir no processo de ensino e aprendizagem (Black & Wiliam.
2012).
Não é o teste por si só que faz uma avaliação formativa ou sumativa mas sim o uso que
se faz desse teste (Popham, 2011). É pois esta ideia de que avaliação formativa se refere
a um determinado tipo de teste, que permanece nas mentes e nas práticas de muitos
professores, que tem que ser trabalhada de forma a promover o uso da avaliação
formativa enquanto processo. É concretamente a avaliação formativa enquanto processo
que numerosos estudos empíricos, realizados nos mais variados sistemas educativos, de
que vou dando conta no quadro teórico, apontam como o caminho para os alunos mais
rapidamente construírem melhores aprendizagens (Black & Wiliam, 1998b; Crooks,
1988; Kluger & DeNisi, 1996; Natriello, 1987; Nyquist, 2003).
Vários autores têm referido a carência de conhecimento sobre o que acontece na sala de
aula em geral (Darling-Hammond et al., 2017; Hattie, 2012; Heritage, 2010) e sobre a
avaliação formativa em particular (Fernandes, 2011; Popham, 2011; Santos, 2010). Foi
esta ideia que me levou a considerar pertinente observar a sala de aula de forma
sistemática, em duas aulas semanais, do início até ao final do ano letivo.
Sendo a aprendizagem um processo não basta colocar o aluno na escola para que ele
aprenda. Torna-se necessário não só rentabilizar o tempo que o aluno passa na escola,
pelo menos doze anos, o que é de facto muito tempo, mas também o enorme
investimento feito pela sociedade. Para que isso aconteça precisamos de um professor
que:
contrarie o paradoxo das nossas salas de aula onde o professor trabalha mais que
os alunos;
use o erro para melhorar as aprendizagens dos alunos e não para os penalizar;
valorize o trabalho do aluno e aquilo que ele faz melhor para lhe dar as
ferramentas que lhe vão permitir ultrapassar as suas dificuldades.
Ao realizar uma investigação qualitativa o meu papel será a recolha e análise dos dados
coletados dos textos e das imagens e não de números, razão pela qual o produto final
será a descrição de práticas avaliativas e de práticas de ensino desenvolvidas por duas
professoras
5
caracterizar as práticas de duas professoras do 12º ano, uma de inglês e outra de
matemática, dando particular atenção à prática avaliativa a que recorrem e ao seu
papel no desenvolvimento do processo de aprendizagem e ensino.
Ao projetar uma investigação que decorre no ambiente natural – a sala de aula, estou a
enveredar pelo paradigma construtivista-interpretativo para percorrer a distância que vai
da doxologia – o que acredito como verdade, à epistemologia – a verdade que a minha
investigação vai revelar sobre as aulas observadas.
O estudo de caso foi a estratégia de investigação que escolhi para compreender a gestão
da sala de aula por parte das duas professoras e, em particular, analisar as práticas
avaliativas implementadas, tentando encontrar resposta para as seguintes questões e
sub-questões orientadoras:
Organização da Tese
No capítulo II, dedicado às práticas de ensino, são abordados alguns dos aspetos que
influenciam as práticas avaliativas implementadas na sala de aula, principalmente
quando estas práticas estão ao serviço da aprendizagem. Está em marcha o delinear de
6
um novo paradigma do que é o ensinar e o aprender que coloca o aluno e não as
matérias a ensinar no centro de todo o processo. O envolvimento dos alunos na
construção das suas aprendizagens é primordial para prevenir os aspetos mais negativos
do nosso sistema educativo – a indisciplina, o absentismo e o abandono escolar. As
neurociências têm dado passos largos no conhecimento de como se aprende, que muitas
vezes vem confirmar o que as ciências da educação já sabiam mas que nem sempre tem
sido usado para melhorar o ensino. Para que os alunos, todos eles, estejam envolvidos
nas suas aprendizagens é necessária uma sala de aula diferenciada, que trata de forma
diferente as diferenças dos próprios alunos, não só de conhecimentos e capacidades,
mas também de interesses, motivações, maturidade, entre outras. Existem condições
muito variáveis de escola para escola sendo necessário que as práticas de ensino
implementadas nas salas de aula rentabilizem e otimizem os recursos, quer humanos
quer materiais.
7
os critérios que foram seguidos durante a realização da investigação, sempre no respeito
dos devidos cuidados éticos.
No capítulo VIII são apresentadas as práticas das duas professoras, tanto no que têm de
semelhante como no que as distingue, não com o objetivo de as comparar mas antes
estabelecendo o diálogo entre o que fazem e como fazem e que leva os alunos a
sentirem-se tão motivados para trabalharem nestas disciplinas.
À medida que os dados foram sendo recolhidos, primeiro com as entrevistas iniciais às
professoras e posteriormente a sua confirmação pelas entrevistas com grupos focais aos
alunos, ficou realçada uma certa cultura de escola que tinha na implementação da
avaliação formativa um constrangimento. Aproveitando a avaliação externa, realizada
no início do ano letivo em que decorreu a investigação, recorri ao relatório elaborado
pela Inspeção Geral da Educação e Ciência e ao Plano Estratégico de Melhoria da
Escola elaborado para dar resposta aos aspetos menos positivos elencados naquele
relatório, para proceder à análise de ambos a qual resultou no IX capítulo.
8
CAPÍTULO II - Práticas de ensino promotoras de aprendizagem
9
generalidade dos países e cidadãos da nossa “aldeia global”, provocando mudanças a
nível da produção, da gestão mas, também, da governação.
10
Não só trabalha capacidades mas, acima de tudo, confere a habilidade para desenvolver
novas competências e capacidades (Wiliam, 2011).
Existem atualmente vários estudos empíricos que apontam para fatores responsáveis por
consideráveis diferenças na eficácia dos professors (Wiliam, 2016). Há algumas
11
características que fazem com que os professores mais eficazes continuem a sê-lo
mesmo quando se alteram, nomeadamente, o ano que lecionam, a escola onde lecionam,
ou mesmo as características pessoais ou socioeconómicas dos alunos que lecionam
(Hattie, 2012).
12
Roberts-Hull & Hunter, 2016). Os professores devem ser incentivados a continuar a
aprender durante o seu percurso profissional e para concretizar tal imperativo
necessitam de ter tempo para trabalhar e aprender com os seus colegas e para conduzir a
sua própria investigação, o que lhes permitirá testar a implementação das práticas
inovadoras (OCDE, 2018b).
O professor necessita estar preparado para que ele próprio seja um promotor da
aprendizagem dos seus alunos. Também ele tem que construir a sua aprendizagem
profissional e certamente que a mesma não estará finalizada quando conclui uma
licenciatura ou um mestrado, nesta revolução digital em curso, obrigando-o a uma
aprendizagem ao longo da vida.
Até meados dos anos sessenta era atribuída à escola pouca influência nas aquisições dos
conhecimentos pelos alunos, considerando-se o sucesso académico muito mais
dependente do estatuto socioeconómico, do envolvimento familiar ou das capacidades
inatas dos alunos (Coleman Report, 1966). Com a evolução socioeconómica de muitos
países, nomeadamente na Europa, seguindo uma via democrática, foi-se construindo e
desenvolvendo a ideia que a generalização da escolaridade obrigatória e gratuita seria a
garantia de que todos os alunos teriam uma igualdade de oportunidades para alcançar o
sucesso.
13
gerações enquanto que, em Portugal, é necessário percorrer cinco gerações para que
jovens de uma classe social mais baixa consigam ter uma carreira de sucesso porque
esta depende fortemente das origens socioeconómicas da sua família
Parece pois, claro, que o modelo escolar herdado da época da segunda revolução
industrial, perpetuado em muitos sistemas educativos, não consegue promover a tal
igualdade de oportunidades tão almejada nos princípios da escolaridade obrigatória,
universal e gratuita. Com a extensão da escolaridade obrigatória, que se situa na maior
parte dos países da OCDE entre os nove e os doze anos, temos atualmente muitas
sociedades, muitas escolas e muitos professores, que não fazem a diferenciação
pedagógica quando trabalham com os seus alunos, tendo em conta não só as suas
motivações, interesses ou capacidades mas também as suas particularidades quanto ao
estrato social de origem, à etnia ou ao género e colocam a responsabilidade dos
insucessos na alçada de cada indivíduo (Martinez, Enguita & Gomez,2010).
Para além das dificuldades económicas que impedem o acesso de muitos alunos às
ferramentas indispensáveis ao seu completo desenvolvimento, nomeadamente a prática
de atividades que poderão potenciar as suas aprendizagens, são apontadas
responsabilidades a algumas características como a desorganização estrutural da família
ou a fraca valorização da escola por parte da mesma família, que apontam para um
hereditário fatalismo socioeconómico ou sociocultural. É reconhecida a enorme
importância de algumas destas variáveis no insucesso académico mas algumas
investigações realizadas mostram que é possível ultrapassar as dificuldades com boas
escolas, bons professores e boas práticas escolares (Black & William, 1998b).
14
papel que o ensino de qualidade pode desempenhar na melhoria do rendimento
académico, colmatando as desigualdades de origem dos alunos. Em Portugal ainda
existe uma colagem grande entre o rendimento escolar e as origens socioculturais das
famílias. Não se trata propriamente do capital meramente económico mas, sobretudo, do
capital cultural (Palhares & Torres, 2015).
15
Um período considerável do dia das crianças e jovens é passado na escola e, na sua
maior parte, dentro de uma sala de aula onde, inevitavelmente, estabelecem numerosas
interações com os seus pares e com os professores. As relações que se estabelecem
acabam por ter uma enorme influência na forma como cada um participa nas diferentes
tarefas, isto é, no grau de envolvimento na construção da sua própria aprendizagem.
Realizar uma tarefa porque esta lhe foi imposta pelo professor ou pelos pais, ou porque
receberá um prémio por isso, induzindo atitudes de “bom comportamento” como por
exemplo o aluno silenciosamente a ouvir o seu professor ou a desenvolver a atividade
solicitada, não significa, por si só, que estamos em presença de um aluno comprometido
com a aprendizagem.
16
Emocional, que engloba as reações positivas aos professores, aos pares e à
própria escola, facilitando a criação de laços institucionais;
Essa intrincada teia de contextos pode ser dividida em dois grupos de fatores, os
pessoais e os contextuais (Lam, 2014). Pelo facto de os fatores contextuais englobarem,
para além das influências familiares, o clima de escola e as estratégias implementadas
pelos professores com os seus alunos, será nestes que vou focar a minha atenção no
decorrer da investigação.
epistemologias
pessoais
assertividade autoconceito
AGENTIC
LEARNER
maximização das
resiliência oportunidades de
aprendizagem
autorregulação
Mas o envolvimento do aluno na aprendizagem não acontece por acaso. Ele decorre do
rigoroso planeamento e implementação de estratégias específicas e intencionais
(Marzano & Pickering, 2011). Apesar de poderem estar presentes, em qualquer sala de
aula, situações excecionais que levam à distração dos alunos e consequentes
comportamentos fora da tarefa, isso não pode acontecer com frequência, nem é aceitável
que o professor conviva bem com a ideia de deixar alguns alunos sistematicamente
alheados da aprendizagem.
18
fatores que pouco têm a ver com a construção da aprendizagem. Se no passado uma boa
escolarização seria aquela que fornecia ao aluno mais conhecimentos ou capacidades,
atualmente é muito mais valorizada a capacidade do aluno para aplicar os
conhecimentos transmitidos nomeadamente na resolução de problemas, na construção
de novas ideias ou no encontrar de novos caminhos para ultrapassar os obstáculos que
vai encontrando (Gilbert, 2005). Assim, a par das competências de leitura, escrita e
cálculo e da literacia informática, indispensável para aceder ao conhecimento, a
educação deve preparar o aluno para ser capaz de continuar a aprender ao longo da vida,
de forma autónoma e em cooperação com os pares.
Para contrariar o desinteresse da sala de aula referido por tantos alunos para justificar o
seu afastamento, adaptando-a às exigências das sociedades modernas, é necessário
reconstruí-la de modo a que se torne eficaz, isto é, seja capaz de dar respostas
inovadoras a uma realidade em constante mudança. Num estudo realizado no Canadá
(Dunleavy & Milton, 2009), onde foram auscultados os adolescentes sobre os aspetos
que poderiam contribuir para o seu maior envolvimento na escola, foram elencados os
seguintes requisitos que aquela deveria satisfazer:
19
relativamente ao ambiente onde aprendem, as endorfinas libertadas no cérebro tornam a
experiência de aprendizagem mais satisfatória e com maiores possibilidades de sucesso,
porque os alunos estão emocionalmente envolvidos (Sousa & Tomlinson, 2011).
Quando os alunos não percebem qualquer relação entre aquilo que é suposto
aprenderem, numa disciplina ou matéria e o seu dia a dia, eles consideram que não é
importante para si aprender aquele conteúdo. Se, pelo contrário, vêem sentido e
significado numa determinada matéria os alunos envolvem-se na aprendizagem porque
ela torna-se relevante para si. Para que o nosso cérebro se envolva numa aprendizagem
ela tem que fazer sentido e ter um significado.
Não há uma receita, isto é, um plano previamente elaborado que, por ter resultado numa
determinada situação, possa ser copiado para qualquer sala de aula ou para qualquer
20
escola. Cada aluno tem características e necessidades particulares, decorrentes de
variados fatores e vivências, estando inserido num grupo de alunos e numa determinada
escola. É necessário conhecer bem essa realidade para conseguir chegar a cada um dos
alunos e a todos eles, garantindo que nenhum fica para trás. Todas as escolas, mesmo
aquelas que não têm um número considerável das típicas populações de risco, como
sejam a grande variedade étnica ou zonas com características socioeconómicas de maior
pobreza, têm alunos desintegrados, isolados socialmente ou sem interesse pela
aprendizagem (Brophy, 2004).
Envolvimento não pode ser conceptualizado como um atributo do aluno, mas sim como
uma forma de estar que é altamente influenciada por fatores contextuais como a família,
a escola e os pares, e na capacidade de todos eles e de cada um de fornecer um apoio
consistente ao aluno que constrói a sua aprendizagem (Wentzel, 1998).
O ambiente da sala de aula deve proporcionar aos alunos condições onde possam
construir sólidas aprendizagens e um dos aspetos fundamentais é a disciplina. A
investigação diz-nos que numa sala de aula com problemas de disciplina os alunos não
estão rotinados com um conjunto de procedimentos que lhes permita desenvolver o seu
trabalho e, além disso, também revelam a falta de interiorização das regras de
funcionamento em grupo, competências indispensáveis à sua preparação como adultos
responsáveis e autónomos (Stronge, 2018).
21
Sustentado numa abordagem sociológica, que associava o envolvimento dos alunos a
características como a eficácia da escola e o seu investimento em melhorar foi, e muitas
vezes ainda hoje é, colocado o foco em aspetos como os resultados alcançados pelos
alunos em exames estandardizados ou as características organizacionais que poderão
conduzir a melhores resultados individuais.
envolvimento
intelectual
envolvimento envolvimento
académico social
22
estabelecer relações positivas com os professores e os pares e manter expetativas de
sucesso elevadas. A dimensão académica engloba a participação ativa nos
compromissos escolares, onde podemos englobar o ser assíduo, passar nos testes ou
obter aprovação académica. A dimensão social decorre da participação na vida da
escola e engloba muitas atividades que vão decorrendo na escola ao longo do ano letivo.
Entre alguns dos participantes mais ativos, encontramos alunos com pouco sucesso
académico. Temos como exemplo as atividades de complemento curricular do desporto
escolar, os clubes de teatro ou de ambiente, que contribuem para manter na escola fortes
candidatos ao absentismo e ao abandono escolar adiando ou evitando uma saída precoce
da escola. Se estas três dimensões do envolvimento forem trabalhadas em simultâneo,
na sala de aula, elas contribuirão para formar alunos comprometidos com a construção
das suas aprendizagens, numa base de colaboração, para ultrapassar os problemas que
vão surgindo até alcançar altas performances.
Cada aluno seja conhecido nas várias dimensões e não apenas na académica;
23
A sua voz seja escutada no momento de elaboração do planeamento das
oportunidades de aprendizagem.
O envolvimento dos alunos na escola, que tem sido apontado como um dos aspetos
centrais do sucesso académico, depende tanto dos fatores pessoais (autoeficácia e
autoconceito) como dos fatores contextuais (os pares, a escola e a família). Em
contrapartida, a falta de envolvimento aparece muito associada aos fracos resultados
académicos, a problemas de comportamento ou ao abandono escolar (Veiga, et al.,
2013). “Os professores têm sucesso quando entendem que em qualquer grupo as
características individuais podem variar devido ao ambiente familiar, ao talento, às
experiências anteriores, ao relacionamento e apoio parental e a situações económicas
particulares.” (Colwell & Hewitt, 2016, p.5).
O envolvimento dos alunos na sala de aula, onde passam uma parte considerável do seu
dia, é um processo relacional que reflete as capacidades cognitivas, emocionais,
comportamentais e motivacionais dos alunos, mas as mesmas são condicionadas pelas
relações interpessoais que se estabelecem, umas ativadoras e outras, pelo contrário,
quebrando as ligações do aluno com a aprendizagem. “As relações entre professores e
alunos refletem a capacidade de uma sala de aula para promover o desenvolvimento, e é
precisamente por esta razão que os relacionamentos e interações são a chave para
entender o envolvimento.” (Pianta, Hamre & Allen, 2012, p. 366)
24
feedback de qualidade que eles recebem dos adultos que são importantes para si,
nomeadamente os professores.
Esta avaliação que se realiza dia a dia, tarefa a tarefa, capacita o aluno para dar resposta
a três questões fundamentais:
À medida que o aluno vai encontrando resposta para estas questões vai traçando o seu
próprio caminho e vai, em simultâneo, reforçando o envolvimento na construção da sua
própria aprendizagem (Stiggins & Chappuis, 2005).
25
aprendizagem que leva o aluno a interiorizar as suas metas de aprendizagem e
crescimento, acompanhando o seu progresso até essas metas e responsabilizando-se
pelo seu alcance (Berger, Rugen, & Wooden, 2014).
Monitorizar os seus progressos, usar o feedback fornecido pelo professor e pelos pares
ou participar no processo de avaliação, são aprendizagens que necessitam de treino e de
um trabalho continuado por parte do aluno. A sua implementação contribui não só para
melhorar o clima da sala de aula mas, também, melhorar as aprendizagens e,
consequentemente, os resultados académicos dos alunos.
A atenção é uma das áreas que tem sido investigada e, por essa razão, sabemos hoje que
o nosso cérebro está constantemente à procura de algo novo ou inesperado que possa
ocorrer à sua volta (Sousa, 2017).
27
implementada e não a qualquer outra situação de novidade e dispersão que ocorra
dentro ou fora da sala de aula.
A memória é outra das áreas que tem sido objeto de estudo. Já Plutarco, escritor e
filósofo grego que viveu entre os anos 46 e 126, alertava para a importância de trabalhar
a memória “A mente não é um recipiente a ser preenchido, mas sim um fogo para ser
inflamado”.
Estudos recentes (Sousa, 2017) têm mostrado que a capacidade de trabalhar a memória
nas populações mais jovens tem diminuído, embora não se saiba realmente porque isto
acontece. Uma possível explicação é a necessidade que o cérebro tem de conseguir lidar
com toda a informação que está hoje disponível dificultando muito a retenção. Esta
tremenda quantidade de informação, que aumenta a cada dia, levou a que muitos
especialistas da educação defendam que mais importante que armazenar informação,
que se desatualiza rapidamente, é aprender a procurar e selecionar a informação,
desenvolvendo o pensamento crítico. Esta visão levou a que alguns sistemas educativos,
de que a Finlândia é um bom exemplo, comecem a apostar no estabelecimento de
articulações entre as várias áreas curriculares ao invés do estudo de currículos
disciplinares estanques.
É hoje uma verdade inquestionável que a atividade física aumenta o fluxo sanguíneo
fornecendo aos neurónios mais glicose e oxigénio, razão pela qual devemos encorajar a
atividade física dentro e fora da sala de aula. Será para os alunos uma mais valia
movimentarem-se enquanto discutem com um colega o desenvolvimento de um
trabalho (Sousa, 2017) o que contraria completamente a ideia de que para aprender os
alunos devem estar sentados e imóveis a ouvir o seu professor, por ser o detentor do
conhecimento.
28
Nos anos mais recentes têm-se registado imensos progressos nos procedimentos
técnicos de exploração da forma como o cérebro humano trabalha, de que são exemplos
a tomografia axial computorizada (TAC), a ressonância eletromagnética ou a
tomografia por emissão de positrões (Positron emission tomography – PET), para falar
apenas dos mais conhecidos e que já fazem parte da linguagem do dia a dia.
Esse conhecimento técnico, que nos permite compreender melhor como o cérebro da
criança e do adolescente funciona, pode ser um apoio importante na melhoria do ensino
que ocorre na sala de aula. Sem retirar valor aos benefícios deste conhecimento
encontramos também alguns exageros, ao ponto de justificar tudo com as neurociências,
quando muitas vezes elas tão só confirmam o que já se tinha estudado e aprendido antes
com as ciências da educação. Por outro lado, saber que zonas cerebrais estão ativas
quando a criança ou o jovem realizam determinadas tarefas, porque um maior fluxo de
sangue chega a essas zonas, não nos diz qual a intervenção a realizar na sala de aula
para melhorar a aprendizagem de cada um e de todos os alunos.
É urgente apostar no desenvolvimento do professor para que este consiga, na sua sala de
aula, todos os dias, levar os seus alunos, todos eles, a construir novas aprendizagens que
lhes permitam adquirir as competências indispensáveis para darem resposta às enormes
exigências duma sociedade do século XXI.
29
Sendo a aprendizagem um processo, não basta colocar o aluno na escola para que ele
aprenda. A escola e, obviamente, a sala de aula, são espaços de grande diversidade, não
só pelo seu enquadramento sociofamiliar mas também pelas características individuais
dos alunos, independentemente da sua idade, género, proveniência ou grau de
motivação.
Já nos anos 70 ocorreu uma enorme confusão entre o ensino diferenciado e o ensino
individualizado, com muitos professores atormentados com a sua incapacidade para
trabalhar individualmente com cada um dos 30 alunos presentes na sua sala de aula:
(…) foi o ensino de massas que veio revelar com muita clareza a
necessidade da individualização, isto é, numa versão mais moderna,
ajudar cada um a superar as suas dificuldades para o sucesso em termos
30
das aprendizagens, mas é justamente a organização da aprendizagem
massificada que a torna, senão impossível, pelo menos difícil de
concretizar. (Pinto, 2007, p. 55)
Atualmente, o sistema educativo português desenvolve-se numa lógica de
homogeneidade, com um currículo formal organizado por disciplinas e igual para todos
os alunos até ao 9.º ano. Existe uma possibilidade de as escolas se organizarem com
uma ligeira flexibilidade nas cargas horárias, com algumas a optarem por atribuir mais
tempo ao português e à matemática em detrimento da educação musical, educação
visual ou educação física, estando em curso um projeto de flexibilização curricular a
nível nacional embora ainda numa fase embrionária de implementação (Despacho n.º
5908/2017, de 5 de julho). O horário semanal desenvolve-se numa lógica imutável ao
longo do ano onde prevalecem os aspetos administrativos em detrimento das
necessidades pedagógicas da comunidade educativa. As próprias metas curriculares
estabelecidas para cada disciplina, em cada ano de escolaridade, vieram colocar maiores
entraves à implementação da diferenciação pedagógica desenvolvida numa lógica de
ciclo e não de ano.
31
sobre as matérias a lecionar, hoje exige-se que o foco esteja nos alunos e nas
aprendizagens que devem construir durante os anos em que frequentam a escola. A
todas as crianças e jovens deve ser proporcionada uma escolaridade de qualidade, não
só porque ela vai influenciar e determinar a sua preparação para uma atividade
profissional qualificada, mas também porque o investimento que a sociedade faz, em
termos de recursos humanos e económicos, é demasiado elevado para ser desperdiçado.
Institucional – quando decorre num nível macro, como é o caso das decisões das
organizações governamentais, temos o exemplo dos cursos profissionais e dos
cursos científico-humanísticos do ensino secundário;
Externa – que ocorre a nível meso e está patente nas turmas de currículos
alternativos ou nos apoios pedagógicos acrescidos, organizados a nível de cada
escola;
Meirieu (1988) tinha já apresentado a diferenciação que se realiza na sala de aula, pelo
professor, categorizada em três tipos:
32
Variada – quando as duas formas anteriores se vão alternando ou mesmo
intercalando
Kahn (2010) apresentou três conceitos distintos da diferenciação que pode ser
implementada na sala de aula:
Numa sala de aula, os alunos pouco mais têm em comum que o facto de serem
humanos. Tendo os alunos diferenças tão significativas e percetíveis na forma como
recebem, analisam, refletem e concluem sobre a vasta informação que circula, é fácil
perceber a necessidade de eles trabalharem essa informação de forma diferenciada.
Apesar desta evidência, generalizadamente aceite pelos professores, continuam a ser
desenvolvidas práticas pedagógicas igualitárias - ‘one size fits all’ (Gregory &
Chapman, 2002), na sala de aula, para alunos todos iguais, que aprendem ao mesmo
tempo e da mesma forma os mesmos conteúdos.
33
apresentam diferenças a vários níveis e as suas necessidades de aprendizagem são
variáveis, poucos professores organizam a sua sala de aula tendo em conta essas
diferenças no sentido de as superar (Gable, Hendrickson, Tonelson, & Van Acker,
2000) e apenas um número reduzido implementa práticas pedagógicas diferenciadas na
sua sala de aula (Tomlinson, 2008). “Os professores têm uma tendência natural para
considerar que todos os alunos aprendem do mesmo modo que ele próprio.”
(Staszewski, 2013, p. 22)
É consensual, entre docentes, que nas suas salas de aula têm alunos diferentes nos
interesses, nos conhecimentos prévios, na maturidade, na autorregulação ou ainda na
ligação com a unidade temática a ser trabalhada. É reconhecido por muitos que só será
possível que todos os alunos atinjam as metas delineadas se, pelo menos numa parte do
tempo, forem usados diferentes materiais, recorrendo a diferentes tarefas, organizando
os alunos em diferentes grupos, solicitando diferentes produtos a realizar dentro e/ou
fora da sala de aula, de modo a assegurar um crescimento constante de todos os alunos.
Só dessa forma será possível o indispensável – que professor e alunos estejam
envolvidos na aprendizagem (Tomlinson, 2014).
34
Numa sala de aula diferenciada, o professor faz esforços consistentes
para responder às necessidades de aprendizagem dos alunos. É guiado
pelos princípios gerais de promover uma sala de aula onde há uma real
preocupação com as necessidades de cada aluno. Para que tal aconteça
modifica sistematicamente o conteúdo, o processo ou o produto em
função da capacidade de resposta do aluno face a determinados tópicos,
matérias ou competências, os seus interesses individuais ou os seus perfis
de aprendizagem. Para o conseguir recorre a diversas estratégias de
gestão e de ensino. (Tomlinson, 1999, p. 14)
Para que o aluno esteja envolvido na sua aprendizagem é indispensável que realize
tarefas adequadas às suas possibilidades de realização, mas também aos seus interesses.
Se o aluno ainda não aprendeu um determinado conceito será de todo impossível que
consiga evoluir para a sua aplicação. O oposto também não faz sentido, isto é, será uma
enorme perda de tempo estudar um conceito se o aluno já está à vontade na aplicação do
mesmo a novas situações e daí a importância de trabalhar a tarefa em diferentes níveis
de complexidade.
35
isso contraria o espírito da própria diferenciação, que tem como base o trabalho
colaborativo e o agrupamento flexível.
No passado, formar grupos de nível era uma estratégia aceite por todos, contribuindo
desse modo para o agravamento das desigualdades (Tieso, 2005). Infelizmente, ainda
hoje esta prática é implementada em muitas das nossas escolas como estratégia para
recuperar alunos com dificuldades, com resultados que raramente são analisados e
refletidos pelos responsáveis pela sua implementação. A diferenciação requer a
constituição de grupos flexíveis (Brulles & Brown, 2018) que podem ser definidos
como agrupamentos que não são estáticos e onde os membros do grupo mudam
frequentemente (Radencich & McKay, 1995). Isto acontece quando os grupos são
formados e reformados para dar resposta aos objetivos de aprendizagem e às
necessidades dos alunos (Kingore, 2004). Contudo, quando são formados grupos de
alunos sem que sejam implementadas práticas diferenciadas registam-se poucas ou
nenhumas melhorias nas aprendizagens dos alunos (Kulik, 1992; Tieso, 2005).
36
sejam importantes recursos de aprendizagem para os seus pares, num desenvolvimento
partilhado e onde o melhor de cada um poderá contribuir para o enriquecimento de
todos e o abrir de portas para a procura de novas aprendizagens, dentro e fora da sala de
aula.
37
Fig. 3 – Os elementos-chave para implementar a diferenciação pedagógica. (Adaptado
do Modelo da Instrução Diferenciada de Tomlinson, 1999)
38
Ao diferenciar o trabalho realizado na sala de aula, o professor orienta os seus alunos
para se tornarem aprendentes de sucesso e isso consegue-se quando eles estão focados e
motivados e são capazes de aprender de forma autónoma (Tomlinson, 2008).
Criar ambientes de sala de aula que respondam às expetativas dos alunos e que
facilitem o trabalho do professor.
Tornar claros, para todos os alunos, os objetivos que deverão ser alcançados;
39
aprofundar um determinado tópico ou para superar algumas dificuldades de
alunos que necessitem de um maior apoio (Tomlinson, 2008).
O recurso a práticas de ensino diferenciadas deve ser entendido como uma mais-valia
para a sala de aula, tanto para quem ensina como para quem aprende, que apresento de
forma sucinta no Quadro 1.
Não é pois de estranhar que o professor nem sempre consiga implementar na sua sala de
aula práticas pedagógicas que conduzam todos os seus alunos ao sucesso (Lepien, 2006)
40
mas isso não pode ser motivo de escusa para não recorrer a práticas pedagógicas
diferenciadas.
Quanto aos alunos eles não devem limitar-se a executar um conjunto de ações
estereotipadas, listadas na forma de objetivos a alcançar, mas antes concentrar-se e
envolver-se numa aprendizagem que lhes fornecerá as ferramentas indispensáveis à sua
construção permanente. Numa sala de aula diferenciada os alunos entendem como
aprendem de forma diferente e, assim, também valorizam a contribuição de todos para o
processo de aprendizagem (Tomlinson & McTighe, 2006).
É muito importante que cada professor entenda a diferenciação pedagógica como uma
filosofia de trabalho na sala de aula e esteja, por isso, disposto a correr riscos no
empowerment dos alunos e a assumir o papel de “excellent teacher” na diferença para as
aprendizagens dos alunos: “é a excelência dos professores que faz a grande diferença,
não apenas os professores” (Hattie, 2003, p. 4).
41
No sentido de tornar mais clara a caracterização da diferenciação pedagógica elaborei
um quadro síntese (Quadro 2) onde são veiculadas as diferentes ideias apresentadas.
42
Ensino individualizado Colocar o foco nos Trabalhar de forma diferenciada focando nas
alunos, em alguns necessidades de cada aluno não significa que seja
momentos elaborado um plano de lição individual para cada aluno
individualmente,
noutros organizados
em pequenos grupos
e noutros ainda em
grupo turma
Mais exercícios, Diferentes percursos Tal como não traz benefícios para os alunos ocupá-los,
questionários ou livros para alcançar metas na escola ou em casa, com mais exercícios de
para uns alunos e finais semelhantes conteúdos que eles já aprenderam, também não adianta
menos para outros sobre os conteúdos que ainda não aprenderam por
manifesta dificuldade. É importante a variedade na
complexidade das tarefas solicitadas aos alunos, que
deve estar de acordo com a evolução da sua capacidade
de resposta – não adianta solicitar a realização de um
exercício de grande complexidade se o aluno ainda não
entendeu o básico
O professor realiza as O professor realiza as A diferenciação será a instrução adequada às
tarefas de acordo com tarefas que características de cada indivíduo e não uma instrução
o plano previamente respondem às mecânica de acordo com um plano previamente
elaborado necessidades estabelecido e que não tem em conta a evolução
particulares de cada individualizada do ato de aprender
aluno
Algo que acontece Algo que acontece O professor deve preocupar-se simultaneamente em
todos os dias e em quando é oportuno e construir uma comunidade de aprendizagem – a turma
cada dia necessário e, ao mesmo tempo, responder às necessidades
individuais dos alunos
Algo que o professor Algo que o professor A correta diferenciação que se realiza na sala de aula,
implementa quando planeia antes da aula, baseia-se na pré-avaliação e na avaliação que
recolhe evidências de baseado em acompanha a aprendizagem pois são elas que informam
que a aula não está a evidências, que sobre o percurso dos alunos para alcançar as metas
resultar para alguns apontam para uma definidas. Estas informações permitem ao professor
alunos alteração das reajustar o seu ensino com um planeamento proactivo
necessidades dos capaz de encontrar respostas para as dificuldades
alunos apresentadas pelos alunos, sem invalidar eventuais
intervenções improvisadas que por vezes são
necessárias.
A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original.
Albert Einstein
43
sistema educativo que maior influência exerce na forma como os alunos constroem, ou
não, importantes aprendizagens.
Numa sala de aula tradicional, os alunos não aprendem até que o professor assuma o
controle orientando-os para que realizem tarefas iguais, no mesmo período de tempo e
em simultâneo, garantindo que todos permanecem na tarefa e sossegadamente no lugar.
Mas, se por qualquer dificuldade de natureza emocional ou afetiva, houver necessidade
de apoiar individualmente um aluno, obrigando o professor a focar a sua intervenção
nesta “emergência”, significa que terá que negligenciar temporariamente as
necessidades da turma.
O sistema educativo tradicional foi projetado com um professor com tarefas de:
planificar as aulas; gerir a instrução do grupo; organizar os alunos para receberem os
conhecimentos transmitidos por si. Mas com a massificação do ensino e o acréscimo de
alunos, tanto em número, quanto em variedade, foram acometidas ao professor novas
tarefas, como seja de conselheiro, mentor e tutor. Não será pois de estranhar que muitas
vezes não seja possível dar conta de tanta incumbência e alguns alunos fiquem para trás.
44
utilizemos a competência que existe e que aprendamos uns com os outros.” (ibidem, p.
31).
Um clima de escola ou de sala de aula que leva os alunos a sentir que os seus
professores não acreditam que possam ter sucesso, terá certamente um enorme peso na
qualidade, ou falta dela, das aprendizagens desses alunos. Só aumentando a eficácia e
eficiência dos professores se conseguirá melhorar as experiências educativas que
ocorrem dentro da sala de aula com o objetivo de aumentar as aprendizagens
construídas pelos alunos. Não é possível dissociar ensino e aprendizagem, razão pela
qual não conseguimos qualificar o ensino realizado pelo professor se não tivermos em
conta as aprendizagens que ele promove nos alunos.
Vários estudos têm concluído que existe uma maior influência do professor do que da
escola, nas aprendizagens dos alunos (Nye, Konstantopoulos & Hedges, 2004; Rivkin,
Hanushek & Kain, 2005). Outra interessante conclusão destas investigações apresenta
os professores mais efetivos como capazes de melhorar as aprendizagens dos seus
alunos, todos eles, independentemente das suas condições socioeconómicas.
Estudos que têm em conta toda a evidência disponível relativa à eficácia do professor
sugerem que os alunos que trabalham com os melhores professores progridem três
vezes mais depressa que os alunos que trabalham com os professores com as piores
prestações (Barber & Mourshed, 2007).
45
A melhor forma de conhecer a eficácia de um professor é observando a sua sala de aula:
como a organiza? Como se relaciona com os alunos e os envolve na aprendizagem?
Como identifica as suas dificuldades e os seus progressos?
O que todos estes tipos de atividades colaborativas apresentadas por esta autora têm em
comum é precisamente a reflexão e a troca de ideias com os outros em reflexões
dialógicas.
Mas Little (1990) considera que apesar da importância do trabalho colaborativo entre os
professores há a necessidade de distinguir diferentes tipos de relações colegiais.
Partilhar histórias, ajudar e fornecer apoio quando este é solicitado por um colega, ou
46
mesmo partilhar recursos materiais, são sinónimos de um ambiente de boa disposição
mas não significam que os professores trabalhem em conjunto. “O trabalho conjunto
implica e cria interdependências mais fortes, uma responsabilidade partilhada, o
empenhamento e o aperfeiçoamento coletivos e uma maior disponibilidade para
participar na difícil atividade da revisão e crítica do trabalho efetuado.” (Fullan &
Hargreaves, 2001, p. 87).
Little (1990) defende ainda que algumas práticas de trabalho de pares, consideradas
pelos próprios como trabalho colaborativo, são muito superficiais e inconsequentes na
melhoria da cultura de escola.
Contudo, Lafortune (2012) também alerta para algumas dificuldades que possam surgir,
principalmente quando existe uma necessidade de mudança prescrita, e aponta para a
necessidade, por vezes mesmo um imperativo, de fazer o acompanhamento da equipa
por um outro colega. “Um dos meios de suscitar a emergência de ideias dos membros
de uma equipa de colegas consiste em conceber essa equipa como uma comunidade de
aprendizagem na qual a inter-formação, a formação pelos colegas, ocupa um lugar
importante.” (Lafortune, 2012, p. 265).
48
os alunos seguirá uma lógica de ciclo. Nem mesmo quando ocorre a formação de um
grupo de professores, conselho de turma, que acompanha os alunos ao longo de todo o
ciclo, há a garantia de que o trabalho de cada professor, na sua disciplina, não seja feito
de forma isolada, tanto a nível físico como a nível do desenvolvimento dos conteúdos
(Thurler & Maulini, 2012).
49
a incerteza não são protegidos e defendidos mas, antes, partilhados e discutidos, tendo
em vista obter ajuda e apoio” são caracterizadas como “locais de trabalho árduo,
empenhamento forte e comum, dedicação, responsabilidade coletiva e um sentimento
especial de orgulho na instituição.” (Fullan & Hargreaves, 2001, p. 89).
Fullan e Hargreaves (2001) apontam alguns aspetos que podem tornar a colaboração
prejudicial em resultado de muitas formas de colegialidade serem superficiais, parciais e
até contraproducentes. São elas as seguintes:
a) A balcanização
Quando, na escola, os professores se associam para formar grupos distintos, que
frequentemente competem entre si, para ocupar posições de liderança ou para exercer
influência que lhes permita conquistar determinados privilégios para os membros do
grupo, estamos perante uma cultura docente “balcanizada”. Estes grupos constituem-se,
muitas vezes, a partir de perspetivas diferentes sobre a aprendizagem, os estilos de
ensino, a disciplina e o currículo.
b) A colaboração confortável
Nas situações em que se verifica uma efetiva colaboração entre professores ela é, em
muitos casos, circunscrita ao trabalho de organização de atividades a realizar, ou mesmo
a tarefas de planificação e organização das atividades letivas mas, muito raramente,
abarca a observação ou realização das práticas de ensino que decorrem na sala de aula:
50
As questões mais difíceis sobre o seu trabalho e a forma de o melhorar
são mantidas fora da agenda. Elementos importantes das normas de
privacidade prevalecentes permanecem intactos. Um desafio importante
para as escolas será saber como alargar o seu trabalho colaborativo no
sentido de uma atividade centrada na ação e baseada na sala de aula.
(Fullan & Hargreaves, 2001, p. 100).
c) A colegialidade artificial
A construção de uma verdadeira cultura de colaboração obriga a um longo percurso de
desenvolvimento e a sua sustentabilidade também não é fácil. Além disso ela pode
escapar ao poder estabelecido a nível da direção da escola e, por essa razão, manifesta-
se, por parte de muitas administrações escolares, a tentação de incentivar formas de
colegialidade que consigam manter dentro do seu controle, que Fulan e Hargreaves
(2001) designam por colegialidade artificial a qual se caracteriza por um conjunto de
procedimentos formais e burocráticos específicos que têm como objetivo vincular cada
professor às decisões tomadas em grupo e que nem sempre são as mais adequadas a
cada sala de aula. São exemplos desta colegialidade artificial o treino pelos pares, os
esquemas de mentoria, a planificação conjunta em salas reservadas para o efeito, a
gestão autónoma da escola, as reuniões programadas formalmente, as descrições
detalhadas das atividades e os programas de formação destinados àqueles que
desempenham papéis de consultadoria. “Este tipo de iniciativas constitui um
artificialismo administrativo concebido para concretizar a colegialidade nas escolas em
que esta tem estado ausente.” (2001, p. 103).
O que temos encontrado nos melhores exemplos a uma escala global são
educadores, alunos e comunidades que trabalham e lutam juntos para
alcançar resultados ótimos e um alto rendimento. Existem forças e
barreiras que obstaculizam o caminho e temos encontrado muitas:
escassa mobilidade entre capacidade individual e coletiva, interesses
pessoais de divisão e autoproteção, culturas tóxicas de individualismo e
isolamento, dinâmicas de colegialidade artificial e sistemas de
compensação com táticas tipo “divide e vencerás”, medidas políticas de
curto prazo e pura inércia.
É pois necessário incentivar o trabalho colaborativo entre os professores mas, em
simultâneo, reforçar o desenvolvimento individual para que cada professor, suportado
pelo apoio dos seus pares no abraçar de novas ideias ou na superação das dificuldades
51
que vão surgindo, seja capaz de trabalhar na sua sala de aula de modo a que todos os
seus alunos aprendam. Escolas com níveis elevados de trabalho colaborativo entre os
professores estão associadas a boas prestações dos seus alunos (Goddard, Goddard, &
Tschannen-Moran, 2007).
Não é bom que os professores trabalhem sozinhos. Nem tão pouco que as
escolas trabalhem isoladamente mesmo que promovam a colaboração
interna. Os professores melhoram quando colaboram e aprendem com
outros docentes. As escolas também melhoram quando colaboram e
aprendem com outras escolas. (Hargreaves & Fulan, 2014, p. 190)
O sucesso do ensino deve ser estabelecido em função dos resultados obtidos pelos
alunos face às aprendizagens construídas e não no entendimento e implementação do
trabalho do professor, mesmo quando recorre a novas estratégias (Timperley, 2008).
Contrariamente à ideia do cidadão comum, a gestão da sala de aula vai muito para lá da
organização de um conjunto de mesas e cadeiras, da distribuição de recompensas pelos
bons desempenhos ou de castigos pelos maus comportamentos. Na gestão da sala de
aula estão subjacentes muitas práticas de natureza pedagógica como sejam:
desenvolvimento de relacionamentos aluno/aluno e aluno/professor; estruturação de
comunidades onde os alunos possam trabalhar de forma produtiva; organização do
trabalho produtivo dando sentido à implementação do curriculum; desenvolvimento
moral e cidadania; intervenção oportuna para alterar ou ajustar o planeamento
previamente elaborado, porque o mesmo não está a provocar os efeitos pretendidos;
implementação de estratégias que sejam motivadoras para o envolvimento dos alunos na
aprendizagem; incentivo às famílias para se envolverem na construção das
aprendizagens dos alunos.
Flanders, durante os anos sessenta, após vários dos seus estudos, concluiu
que os professores falavam cerca de dois terços do tempo das suas aulas.
Mais recentemente, com a reatualização desses estudos, realizada nos
anos noventa, trinta anos depois, por Richard e Patricia Shmuck,
verificou-se que os professores falavam durante três quartos do tempo.
52
Mais tempo de ocupação das aulas do que fora observado nos anos
sessenta. A maior parte do ensino continua, portanto, a processar-se pela
fala dos professores, fazendo alternar a transmissão pelo discurso com a
recitação dos alunos após as lições e sua imediata avaliação pelos
professores, sem que haja lugar à discussão ou ao debate de ideias. (Niza,
2015, p.641)
Cada professor tem que construir o seu próprio caminho, com as suas práticas, capaz de
orientar os seus alunos na construção das próprias aprendizagens. O grande desafio e a
grande dificuldade de ser professor é que há sempre margem para se fazer melhor do
que se fez até agora e é nisso que cada professor deve centrar as suas preocupações.
Cada dia tornar-se um melhor professor, melhorando a sua prática de ensino de forma a
que os seus alunos fiquem melhor preparados para se construirem como melhores
adultos.
De nada serve ter novas ideias se elas não se traduzirem em melhores aprendizagens
para os alunos, pelo contrário, serão uma perda de tempo e de energias. O facto de o
professor ter como grande objetivo tornar a sua sala de aula num espaço de
aprendizagem para todos os seus alunos, onde uma forte energia e uma atitude positiva
se conjugam para que esse processo de ensino e aprendizagem se desenvolva de forma
agradável, não significa que isso realmente aconteça.
53
Sendo esse o objetivo do professor, e o facto de não se concretizar, leva a que a
responsabilidade do insucesso acabe invariavelmente por ser atirada para os alunos,
quer pelas suas características pessoais, quer pelo próprio enquadramento sociofamiliar
onde estão inseridos. Mas, na verdade, aquilo que mais pesa no processo de ensino,
aprendizagem e avaliação é aquilo que os alunos aprendem e não o que o professor
ensina. “O que nós fazemos tem menos importância que a forma como os alunos
experienciam o que fazemos.” (Kohn, 2008).
Sustentado nas suas investigações ao longo de quinze anos, Hattie (2012) concluiu que
os professores especialistas apresentam um conjunto de características que os
distinguem dos outros professores, mesmo daqueles que já acumularam uma longa
experiência. Essas características estão organizadas em cinco dimensões do ensinar:
Mas só conseguirá perceber o que os seus alunos aprendem se ouvir o que falam e
observar o que fazem. Race, Brown e Smith (2005) alertam para a enorme importância
da avaliação do trabalho dos alunos e o feedback, dado pelo professor, pela influência
que isso terá nos alunos ao longo da sua vida e das suas atividades profissionais – ótimo
se o nosso trabalho foi bem feito mas com consequências inimagináveis se o fizémos
mal.
Os professores, tal como os alunos, vão à escola para aprender. Para que
isso ocorra novas perspetivas e compreensões são desenvolvidas entre
professores e alunos, sobre si mesmos e uns com os outros, sobre a
natureza da aprendizagem e do ensino. (Pedder & James, 2013, p. 40)
Existe uma enorme variedade de atividades e de estratégias possíveis de implementar na
sala de aula, que deverão ser selecionadas pelo professor tendo em conta a avaliação
que vai fazendo das aprendizagens que vão sendo construídas pelos seus alunos, em
função das próprias estratégias de diferenciação pedagógica estruturadas e
constantemente adaptadas pelo professor.
55
heterogeneidade não como um problema mas como uma oportunidade de
desenvolvimento de todos, alunos e professor (Zakhartchouk, 2014).
O professor tem que interpretar e adaptar as orientações políticas à sua situação concreta
de ensino, ligando as experiências pessoais de investigação na sala de aula às
prioridades definidas pela escola no seu projeto educativo e às suas próprias conceções
do que deverá ser a implementação do processo de ensino e aprendizagem.
Não é possível diferenciar a instrução porque todos os alunos têm que alcançar as
mesmas metas!
56
diversos – mais não tem feito que acentuar perigosa e injustamente as
mais graves assimetrias sociais. (Roldão, 1999b, p.39).
O currículo é certamente um dos aspetos centrais e uma pedra muito sensível da
educação porque é aqui que se vê o que está em jogo na sociedade, porque é o currículo
que determina o que é preciso aprender e para quê. Mais do que centrar-se nas
disciplinas em que historicamente está dividido, o conhecimento deve estar centrado na
conjugação de três vertentes: utilidade formativa; aplicabilidade profissional; uso social
através do desenvolvimento de uma cidadania participada. Além disso, o currículo não
deve resultar apenas do pensamento e crenças do adulto mas sim do entendimento das
progressões e desafios dos alunos, tendo em conta a sua variabilidade, porque não existe
apenas um aluno mas sim vários e variados. O próprio conceito de progressão tem que
ser partilhado para que um aluno, ao mudar de professor, não se confronte a meio de um
percurso com alguém que tem conceitos de desafio ou de progressão muito distintos
(Hattie, Masters & Birch, 2016).
Não é possível diferenciar a instrução porque os exames são iguais para todos!
Embora se trate de uma temática que já vem sendo referenciada há algum tempo, o
efeito washback ou backwash ou teach to de test, ainda está pouco claro, necessitando
de ser objeto de investigação para que se perceba melhor a influência dos exames na
condução do ensino e da aprendizagem. De uma forma mais simples o efeito washback
traduz o modo como o teste ou o exame condicionam as práticas de ensino e,
consequentemente, as ações do professor e dos alunos.
Algumas investigações (Wall & Alderson, 1993; Cheng & Watanabe, 2004) têm
sugerido que o fenómeno washback existe embora seja muito difícil perceber a sua real
influência no processo de ensino e aprendizagem e em particular sobre os alunos. Os
exames são determinantes na forma como os alunos estudam e sobre aquilo que
estudam porque a preocupação centra-se no que vão ter que saber para melhorar a sua
prestação no exame.
57
Hughes (1989) já constatara que os alunos que vão ser sujeitos a um teste que é
importante têm uma preparação específica para o mesmo, a qual pode mesmo dominar
todas as atividades do ensinar e do aprender. Podemos encontrar um conjunto de
relações intencionais e não intencionais, positivas e negativas entre exame, ensino e
aprendizagem (Cheng, 2005).
Prodromou (1995) fez a distinção entre dois tipos de washback: aberto, quando o
professor recorre a exames anteriores, ou a exemplos apresentados nos livros, para
trabalhar essencialmente as competências que serão testadas no exame, visível,
frequentemente, no ensino de uma segunda língua quando o professor trabalha muito
mais as competências ler e escrever, avaliadas em testes e exames escritos, em
detrimento do falar e ouvir; encoberto, quando o ensino tem como objetivo preparar os
alunos para dar as respostas certas nos testes, arrumando a matéria, indiferente à
construção ou não de aprendizagens por parte dos alunos “recorrendo ao livros de textos
como se de um livro de testes se tratasse” (Prodromou, 1995, p.15).
Várias investigações têm concluído que os alunos que conseguem melhores resultados
nos exames estandardizados são aqueles que tiveram práticas de ensino adequadas às
suas capacidades e características mesmo que tenham sido diferentes dos exames, iguais
para todos (Grigorenko, Jarvin & Sternberg, 2002). Esta boa prestação ocorre não só
porque estes alunos conseguem aprender mais, mas também porque enfrentam os
exames com uma maior confiança nas suas aprendizagens.
Não é possível diferenciar a instrução porque isso vai consumir muito tempo!
58
A diferenciação pedagógica não deve ter um planeamento que decorre ao lado do
planeamento tradicional do professor, pelo contrário, o planeamento do
desenvolvimento do currículo deve ser elaborado depois de o professor realizar a
avaliação diagnóstica dos seus alunos e deve ter em conta as suas necessidades, razão
pela qual já deve ser elaborado numa perspetiva de diferenciação.
O número elevado de alunos não é razão para não diferenciar, muito pelo contrário, é a
melhor forma de conseguir envolver todos os alunos. Certamente que uma sala de aula
com 40 alunos consome mais tempo ao professor para planificar as várias tarefas a
desenvolver, mas esse investimento acaba por ser rentabilizado no ambiente da
atividade letiva. Outro aspeto importante será o envolvimento dos alunos no trabalho
com os pares, constituindo-se como importantes recursos de aprendizagem. Há
professores que mesmo com 40 alunos só conseguem trabalhar de forma diferenciada
mas também se encontram professores que com 10 ou 12 alunos continuam a ensinar de
forma indiferenciada, isto é, ensinando o mesmo, da mesma forma, a todos os alunos
que passivamente recebem a instrução (Tomlinson & Imbeau, 2010).
O manual não pode ser entendido como um plano de trabalho a desenvolver pelo
professor, mas antes como uma ferramenta para apoiar o aluno e deve ser usado a par de
outros recursos, com formato em papel ou digital. Esta variedade de fontes tem um
59
importante papel educativo ao permitir ao aluno aprender a selecionar a informação
(Heacox, 2006).
60
explicar aos pais as virtudes das práticas de ensino diferenciadas e o papel que elas
podem ter na melhoria das aprendizagens dos seus filhos.
61
Cada uma das características ou elementos da sala de aula estão relacionados
com o desenvolvimento de todos os outros. Ambiente de aprendizagem,
curriculum, avaliação, instrução, liderança e gestão, são completamente
interdependentes. Quando um deles é fortalecido todos beneficiam; quando um
deles é enfraquecido todos eles ficam perturbados.
Obviamente que não existe uma fórmula para cada escola, para cada turma ou para cada
aluno, nem faz qualquer sentido que o professor elabore um plano de diferenciação a
desenvolver com os seus alunos ainda antes de os conhecer mas, para implementar a
diferenciação pedagógica, há um caminho a percorrer que está esquematicamente
sintetizado na Figura 4.
62
Que alunos temos? Onde devem chegar os alunos?
Com que conhecimentos e capacidades - Examinar os conteúdos dos
avaliação diagnóstica. programas curriculares
Com que motivações e interesses. identificando os tópicos a
Quais as suas preferências. desenvolver
Como podem ver valorizado o seu Elencar as metas a alcançar
trabalho.
63
CAPÍTULO III - Avaliação na Aprendizagem
A avaliação não pode deixar de fazer parte do processo de ensino e pode favorecer
as aprendizagens, uma vez que abre a possibilidade de problematizar, gerar
conflitos e promover ressignificações por parte dos alunos, ao analisar as suas
produções. (Boggino, 2009, p. 82)
As práticas avaliativas, umas formais outras informais, podem ser encontradas nas mais
variadas civilizações, desde a China, passando pela Grécia e Roma até à Idade Média.
Mas a avaliação que media as aquisições dos alunos começou a ganhar uma
significativa dimensão com o advento da industrialização, dando origem à escolarização
universal, com a escola a assumir um novo papel como instituição social (Earl, 2006).
A avaliação foi ganhando peso à medida que foi deixando para trás o papel de relatar
aos alunos, aos pais e aos outros professores, os conhecimentos adquiridos por cada
aluno, para passar a influenciar o caminho a seguir pelos alunos nas suas vidas, como
por exemplo, se continuar ou não a estudar e, em caso afirmativo, em que área ou curso.
Podemos dizer que, no jogo da vida, os exames e testes poderiam ser equiparados a um
grande portão que permitiria ou não aceder a um nível superior onde os professores
seriam os porteiros (Earl, 2006).
64
exames tinham um papel determinante quando selecionavam os alunos que ascenderiam
a patamares mais altos de escolarização e, consequentemente, um estatuto social mais
favorável. Dá-se então uma expansão da avaliação que se realiza na sala de aula dando
origem à avaliação formativa e à avaliação sumativa (Santos, 2008).
Não faz qualquer sentido ver a avaliação como uma mera questão técnica, sustentada
por um conjunto de instrumentos que se traduzem num número que valida ou não o
trabalho desenvolvido ao longo do ano pelo aluno (Taras, 2005). Também não faz
qualquer sentido continuar a ouvir os professores dizerem que a avaliação é a
componente “odiada” da sua atividade profissional. Não só é imperativo que a avaliação
deixe de ser vista de uma forma isolada e apenas com o objetivo de classificar e seriar
os alunos, como é também necessário que os professores não se comportem como
meros técnicos do ensino, que cumprem um currículo emanado superiormente e o
desenvolvem de acordo com um planeamento decorrente da forma como o manual está
organizado, medindo os conhecimentos e as capacidades dos alunos com instrumentos,
poucos, produzidos a nível de escola e iguais para todos (Popham, 2011). Garante-se a
justiça do processo tratando de forma igual todos os alunos do mesmo ano,
independentemente das suas características e do trabalho que com eles foi desenvolvido
pelo respetivo professor. Este processo de avaliação, que decorre a par do processo de
ensino e independente da forma como vai evoluindo a aprendizagem, culmina numa
classificação obtida a partir do preenchimento de uma grelha uniformizada, onde foram
introduzidos um conjunto de valores e que após a realização instantânea de uma série de
cálculos originaram um valor exato, apurado em função das mais elementares regras do
cálculo e do arredondamento.
65
currículo. Professores capazes de compreender o ensino, as
aprendizagens e a avaliação como construções sociais complexas, como
processos decisivos na formação e na educação dos jovens. Professores
que sejam portadores de uma nova profissionalidade, impulsionadora de
outras formas de trabalhar e de estar em escolas mais autónomas e mais
responsáveis. (Fernandes, 2011, p. 82)
O professor deve ser, acima de tudo, um aluno na sua sala de aula, para estudar a forma
como os seus alunos aprendem e, apoiado no feedback principalmente dos seus alunos
mas também dos seus pares, aprender a transformar-se num professor cada vez melhor.
Apesar da enorme variedade de propósitos que podem ser alcançados pela avaliação,
tanto a planificação como o desenvolvimento de todo o processo de recolha de
informação deverão estar de acordo com os fins a que se destina essa mesma avaliação,
“a avaliação não é apenas mais uma peça acoplada a outras, mas antes uma dimensão do
agir pedagógico do professor como uma totalidade” (Barreira & Pinto, 2005, p. 7).
Se tivermos em conta que a avaliação escolar, que deverá estar de acordo com a forma
como o currículo vai sendo trabalhado, ganha muito do seu sentido na interação
pedagógica, é fácil perceber que a sua análise vá muito para além dos aspetos técnicos,
ou de uma simples aplicação de instrumentos. “(…) as formas de avaliação a que se
recorre constituem indicadores bastante seguros da filosofia que orienta os processos de
ensino-aprendizagem” (Cortesão, 2002, p. 40). É todo o ato pedagógico, com a
multiplicidade de fatores que envolve, os variados procedimentos resultantes, por sua
vez, de uma determinada filosofia de intervenção, que devem ser pensados e repensados
e, por vezes, mesmo reinventados.
A avaliação que se realiza na escola pode ter diferentes propósitos. Embora muitos
autores tenham criticado este conceito por o considerarem demasiado simplista, Black
(1995) identificou os três grandes objetivos da avaliação: apoiar a aprendizagem;
fornecer informação sobre o aluno e certificar as suas aquisições; prestar contas do
trabalho desenvolvido pelos professores e pelas escolas.
67
(1998b) iniciaram, a nível internacional, a implementação generalizada do conceito
“avaliar para aprender”.
Guba e Lincoln (1985) identificaram quatro gerações de avaliação que, de acordo com
estes autores, eram representativas das perspetivas identificadas ao longo de um século.
Posteriormente, à medida que foram ficando mais complexas e sofisticadas as
concetualizações de avaliação, houve necessidade de adaptar o esquema de
desenvolvimento em função do objetivo a alcançar e que apresento resumidamente no
quadro 3.
O poder da avaliação que se realiza na sala de aula advém de ela se centrar no ensino e
na aprendizagem e na enorme possibilidade de alterar ambos. A investigação realizada
em diferentes locais e com variados investigadores tem comprovado o poder do avaliar
para aprender. “A revisão recente de mais de 4.000 investigações mostra claramente
que quando a avaliação formativa é corretamente implementada na sala de aula, pode
duplicar a velocidade com que os alunos aprendem.” (Popham, 2011, p. 2).
68
os professores pela sua maior capacidade para dar resposta à constante procura da
objetividade e rigor.
Mais recentemente, a avaliação não formal tem alcançado uma maior importância,
acompanhando a maior valorização dos dados de natureza qualitativa que podem ser
recolhidos no dia-a-dia da sala de aula, em resultado das interações estabelecidas entre
todos e que vão permitindo construir um conhecimento prático, tanto pelos professores,
como pelos alunos, acerca das aprendizagens que vão sendo construídas (Fernandes,
2011).
É muito importante que fique claro para todos que avaliação não é sinónimo de um
valor, quer se trate de um número, de uma letra, de uma percentagem, ou qualquer
outro, nem tem qualquer sentido definitivo, mas deve, de forma credível e rigorosa,
informar todos os intervenientes, mas principalmente o aluno, das aprendizagens que
conseguiu realizar. “Avaliar é, acima de tudo, um processo pedagógico que tem a ver
com a aprendizagem e com o ensino.” (Fernandes, 2011, p. 86).
Uma outra característica indispensável à avaliação tem a ver com a sua aplicabilidade
pois ela só será útil se for simples e facilmente aplicada por todos, principalmente pelo
aluno.
69
que o ponto de partida do ensino tem que ser a avaliação, e não os
conteúdos curriculares. (Boggino, 2009, p. 79)
Guiada pela acelerada evolução técnica e ética da nossa sociedade e a consequente
necessidade de todos os nossos alunos alcançarem as proficiências de aprendizagem que
lhes vão permitir continuar a aprender ao longo da vida, deu-se uma mudança na missão
da escola (Stiggins, 2008). A escola não pode ser mais o espaço onde alguns têm
sucesso ao lado de outros, muitos, que tropeçam, uma e outra vez, com insucessos
vários transformados em repetências que apenas conduzem a mais insucesso, com
muitos inconvenientes e elevadíssimos custos, económicos e sociais.
Para além dos enormes prejuízos pessoais e sociais, existe ainda o elevado custo
económico e administrativo que o país tem que suportar como consequência da elevada
retenção que continua a persistir. Segundo o mais recente relatório do Conselho
Nacional de Educação (Ferreira, Félix & Perdigão, 2015) mais de 150.000 alunos ficam
retidos anualmente. E segundo o relatório PISA 2012 aproximadamente 35% dos jovens
portugueses com 15 anos de idade já tinham ficado retidos pelo menos uma vez,
enquanto a média da OCDE se situa nos 13%, com mais de 7,5% dos jovens
portugueses a terem pelo menos 2 retenções ao longo do ensino básico. Apesar de não
se conhecer ao certo o custo por aluno em Portugal, o Tribunal de Contas apresentou
um cálculo com um valor a rondar os 4.000€ por ano, o que aponta para um valor
superior a 600 milhões de euros gastos anualmente com as retenções escolares.
Mas o insucesso não decorre apenas das baixas classificações que impedem o aluno de
prosseguir para o ano académico seguinte. Quando pressionados, institucional e/ou
socialmente, para reduzir o número de alunos reprovados, os professores podem colocar
o insucesso a um outro nível, invisível no imediato mas muitas vezes com
consequências irreversíveis a longo prazo. Quando o aluno transita com dificuldades
70
significativas numa determinada área ou disciplina é muito importante que, no ano
seguinte, tenha um trabalho diferenciado que lhe permita ultrapassar essas dificuldades
até porque, na maior parte dos casos, os alunos não estão em condições de acompanhar
o trabalho que vai ser desenvolvido na sala de aula se ele for sequencial em relação ao
trabalho que deveria ter sido desenvolvido no ano anterior na mesma disciplina. Se esse
trabalho de diferenciação não for feito no sentido de dar resposta às necessidades dos
alunos, estamos a condená-los a um insucesso estrutural que dificilmente será
ultrapassado (Madaus & Russell, 2010).
Stiggins (2008) aponta para uma necessidade influenciada pela mudança de missão da
escola onde as práticas de avaliação desenvolvidas deverão permitir distinguir o sucesso
do insucesso, devendo preocupar-se em apoiar os alunos, todos os alunos, para que eles
atinjam as metas definidas para cada ciclo de aprendizagem.
Note-se que a avaliação tem dois objetivos fundamentais: recolher evidências que
permitam informar o processo de aprendizagem e ensino e encorajar os alunos a
aprender. Com esses objetivos será incontornável que a avaliação ocorra ao longo de
todo o processo de aprendizagem e ensino e não apenas no final de um ano, de um
período ou de uma unidade, com o único objetivo, o de confirmar se o aluno adquiriu
aqueles conhecimentos. “(…) a avaliação só poderá ser um processo credível, rigoroso,
ético e útil para todos os envolvidos se as ações de recolha, análise e registo da
informação forem tão diversificadas quanto possível .” (Fernandes, 2011, p. 86).
71
difícil de implementar e extraordinariamente difícil de sustentar.” (Hargreaves & Fink,
2007, contracapa).
73
pedagógica deve ser um processo deliberado para que todos e cada um dos alunos tenha
sucesso, o que nos obriga a repensar os papéis de todos, professores e alunos, perante os
três processos fundadores da educação e da formação - Aprender, Ensinar, Avaliar, o
que obriga ao ensaiar de novas e inovadoras dinâmicas de trabalho em cada sala de aula.
A avaliação não deve estar ao serviço da classificação, nem com esta pode ser
confundida. Mas é recorrendo à avaliação que é possível recolher a informação, tanto
pelo professor como pelos alunos, que permite descrever a qualidade das aprendizagens.
De acordo com Pinto e Santos (2006, p. 54) a razão de considerar que avaliar é medir
está no facto de
Baseado em várias investigações (La Marca, 2006; Stiggins, 2006) e na sua perceção de
que grande parte dos professores sabe muito pouco sobre avaliação educacional,
Popham (2009) defendeu a literacia avaliativa como uma área fundamental a trabalhar
com os professores, quando o objetivo é melhorar a qualidade do processo de ensino e
aprendizagem que se realiza nas escolas, porque quando a grande maioria dos
professores em exercício completaram a sua formação inicial fizeram-no sem nunca
terem realizado qualquer abordagem aos conceitos e práticas da avaliação educacional.
74
Black e Wiliam (1998b) definem a avaliação formativa como a avaliação que inclui
todas as atividades que, professores e alunos, levam a cabo na recolha de informação,
que possa ser utilizada diagnosticamente para ajustar o ensino e a aprendizagem, com
vista à melhoria. Evidenciaram, através de um estudo realizado (Black & Wiliam,
1998a), que a avaliação formativa pode, efetivamente, produzir melhorias substanciais
no desempenho dos alunos.
Uma utilização da avaliação formativa na sala de aula, não diz respeito, apenas, ao uso
alternativo de determinados instrumentos de avaliação. Como salientam Gipps e
Stobart, (2003, p. 550) “não é simplesmente a utilização de formas de avaliação
alternativa, mas é também uma utilização alternativa da avaliação como parte do ensino
e da aprendizagem.”
75
Avaliação realizada dia-a-dia que permite ao professor e ao aluno
adaptarem as suas ações às respetivas situações de ensino/aprendizagem.
(Allal & Lopez, 2005, p. 244).
Conceptualizando avaliação esta tem que ser sempre entendida como um processo o que
implica que inclua as seguintes ações:
A recolha de informação;
Para além dos diferentes propósitos, avaliação formativa e avaliação sumativa também
apresentam critérios de avaliação organizados com lógicas distintas. Na avaliação
formativa encontramos critérios de realização combinados com critérios referenciados
ao aluno, com o professor a ter em conta as dificuldades específicas do aluno, o esforço
que desenvolve e também a evolução que revela. Já na avaliação sumativa o professor
socorre-se de critérios de sucesso referenciados à norma, que pode ser relativa a um
dado grupo ou à aprendizagem desejada, sem que haja uma preocupação com o aluno na
sua globalidade, os seus interesses ou as suas características individuais.
Os próprios momentos em que ocorrem cada uma das modalidades avaliativas tendem a
ser distintos, o que acontece também em função do propósito pretendido. Por se
desenrolar de forma interativa, a avaliação formativa desenvolve-se em sintonia com as
atividades de aprendizagem, concretamente no quotidiano da sala de aula, “dia a dia,
minuto a minuto” (Wiliam, 2013).
Já a avaliação sumativa pode ser retrospetiva, quando sumariza o que o aluno aprendeu
ou não, no final de um ciclo de aprendizagem, ou prospetiva quando possibilita a
76
tomada de decisões sobre o aluno a partir dos elementos recolhidos, sobre a área de
estudos a seguir, por exemplo.
Black e Wiliam (1998a) propõem que se estabeleça a articulação entre ambas e dão
como exemplo quando o professor recorre aos testes usados na avaliação sumativa para
realizar avaliação formativa com os seus alunos. Uma articulação de ambas as
modalidades avaliativas é também defendida por Santos (2016) quando sugere “tratar de
forma distinta os mesmos dados de acordo com o propósito com que se usam” e para
que tal seja possível será necessário respeitar um conjunto de princípios:
O poder da avaliação que se realiza na sala de aula advém de ela se centrar no ensino e
na aprendizagem e na enorme possibilidade de alterar ambos. A investigação realizada
em diferentes locais e com variados investigadores tem comprovado o importante papel
da avaliação na promoção da aprendizagem. “É claro, pelos resultados obtidos com a
investigação, que a avaliação formativa, quando é realizada corretamente, é muito
poderosa.” (Earl, 2013, p. 3). São muito animadores os resultados da variada
investigação sobre a avaliação formativa que se realiza em diferentes salas de aula, com
diferentes professores, pois permite comprovar que mesmo trabalhando de diferentes
77
formas, com adaptações de acordo com as características dos alunos e a variedade de
condições disponíveis, há sempre ganhos consideráveis para os alunos. Até porque,
convém realçar, a avaliação é apenas uma das componentes do processo e não o
processo na sua globalidade. Para compreender melhor os propósitos de ambas,
avaliação sumativa e formativa, optei por elaborar um quadro comparativo, Quadro 4.
78
Mais fácil de realizar Aumenta a realização individual
Menos trabalhosa Responsabiliza o aluno pela sua
VANTA- aprendizagem e desempenho
GENS Leva a um maior envolvimento do aluno
Dá informações precisas sobre a
aprendizagem do aluno.
Popham (2011) estabelece mesmo uma curiosa analogia entre o processo de avaliação
formativa e a prática do surf quando compara a avaliação com a prancha de surf. No
surf, a prancha é indispensável, mas sem as outras componentes, nomeadamente a onda
ou até a escolha da onda certa, não ocorre o processo global que é o surfar. Na avaliação
formativa o processo completo envolve decisões como sejam o que avaliar, quando
avaliar, selecionar ou construir os procedimentos, que feedback passar ao aluno, que
ajustamentos introduzir, e estes são apenas alguns exemplos.
O trabalho que tem sido realizado por inúmeros investigadores (por ex. Black &
Wiliam, 1998a; Earl, 2006, 2013; Hattie, 2009, 2012; Marzano & Pickering, 2011), de
que tenho dado conta ao longo desta revisão da literatura, não deixa margem para
dúvidas, a avaliação é um aspeto fundamental e indispensável ao correto
desenvolvimento do curriculum e, por essa razão, é necessário garantir a sua qualidade.
Sendo o processo avaliativo um meio para apoiar as aprendizagens dos alunos, e não
apenas a medição do efeito do ensino, é inadequado pensar a avaliação somente no final
de um período de instrução. O teste que se realiza no final da unidade temática ou no
final do período letivo não terá qualquer validade na identificação dos erros praticados
pelos alunos. Gardner (2012) refletiu sobre a qualidade nas práticas avaliativas
analisando as opiniões dos especialistas expressas em seminários sobre esta temática.
Essa reflexão levou-o a formular um conjunto de princípios que considera estarem
subjacentes a uma avaliação de qualidade:
80
6. A avaliação deve estar integrada no ensino capacitando os alunos para que
compreendam o alcance do que estão a aprender e como será julgada a qualidade
das suas aquisições.
8. A avaliação deve capacitar e motivar os alunos para que mostrem o que são
capazes de fazer.
Heritage (2013) aponta dois princípios que devem ser respeitados para que a avaliação
formativa tenha validade: é realmente avaliado o que se pretende avaliar; fornece
evidências sólidas que permitem tomar decisões.
Se a informação que resulta de uma avaliação não for válida, tendo em conta os fins a
que se destina, a mesma não foi mais que uma perda de tempo, dos alunos e do
professor. É o caso, por exemplo, quando se avalia a componente experimental das
ciências experimentais como a física, a química, a biologia ou a geologia, apenas com
um teste escrito de papel e caneta. O aluno pode ser capaz de descrever os
procedimentos, mas fica por saber se é capaz de os aplicar no laboratório de forma a
81
realizar as respetivas experiências. O contrário também pode acontecer quando um
aluno tem uma excelente performance no trabalho prático do laboratório graças a uma
enorme curiosidade e espírito de iniciativa mas, por dificuldades ao nível da expressão
escrita, por exemplo, não é capaz de transpor para o relatório as suas competências
experimentais. Neste caso, a informação que se retira deste teste escrito não tem
validade para informar se o aluno alcançou as aprendizagens pretendidas com o trabalho
desenvolvido no laboratório (McMillan, 2013).
A avaliação que se realiza na sala de aula é um processo que pode incluir medições mas
terá sempre que incluir informações sobre as prestações dos alunos, que não são
mensuráveis mas que serão interpretadas e usadas no desenvolvimento das
aprendizagens dos alunos (Bonner, 2012).
82
construída, as quais só serão válidas se forem úteis tanto para o aluno como para o
professor.
Sendo certo que é praticamente impossível garantir que um aluno que realiza o mesmo
teste em dois momentos diferentes responda exatamente da mesma forma, também será
difícil garantir a confiança de um teste escrito ou de qualquer outra avaliação realizada
na sala de aula.
Black e Wiliam (2012a) apresentaram três aspetos que frequentemente são discutidos,
no âmbito da confiança de um teste:
O mesmo aluno pode melhorar ou piorar a sua prestação bastando para tal alterar
algumas das questões selecionadas para o teste.
84
esse conhecimento não se obtém apenas com um tipo de avaliação, daí a importância de
um elevado número de avaliações, recorrendo a diferentes modalidades e em diferentes
momentos, garantindo-lhe uma maior confiança.
Sendo a avaliação que se faz na sala de aula o mais poderoso tipo de avaliação em
educação, pela influência que exerce nas aprendizagens dos alunos (McMillan, 2013), é
fácil de perceber a importância de realizar investigação nesta área.
85
- Qual a diferença? – o equivalente a dois ou três anos de avanço no conjunto da
escolaridade completa dos alunos. Todos os alunos beneficiam com a avaliação
formativa mas os mais beneficiados são aqueles que mais se envolvem na
aprendizagem.
Posteriormente, vários investigadores (Brookhart, 2009; Earl, 2003, 2013; Hattie &
Timperley, 2007; Jerald, 2001; Popham, 2011; Rodriguez, 2004; Santos, 2008, 2016;
Shepard, 2000; Stiggins, Arter, Chappuis, & Chappuis, 2004; Struyven, Dochy &
Janssens, 2005) vieram reforçar a importância da avaliação com um propósito
formativo, na melhoria das aprendizagens dos alunos, pois ao invés de realizar
julgamentos visa acima de tudo produzir descrições. Quando o professor realiza a
avaliação para apoiar a aprendizagem recolhe um conjunto de dados para diferentes
fins, com informação sobre o que os alunos sabem e podem fazer com o que sabem.
86
educativas, como ao nível micro na gestão da sala de aula, poderá estar completamente
desajustado de uma outra realidade com condições e alunos completamente diferentes.
Os bons professores fazem toda a diferença (Hattie, 2009) razão pela qual é
indispensável que se aposte na formação contínua de alta qualidade para fazer de cada
professor um educador cada vez mais qualificado, capaz de fazer a diferença com os
seus alunos. Esta evolução só ocorrerá se os professores tiverem espaço e tempo para
refletir sobre o caminho a seguir na qualificação dos seus alunos.
Em Portugal desde o início dos anos 90 que a avaliação prescrita explicita e acentua que
a principal modalidade de avaliação é a formativa pelo seu potencial regulador em
termos de ensino aprendizagem. Apesar da progressiva adesão dos professores a estas
ideias os estudos realizados ao nível das práticas de avaliação, à semelhança do que
acontece no resto do mundo, não são muito encorajadores apontando para práticas
muito diferentes dos seus conceitos e intenções, mostrando que “há uma relativa
diferença entre o desejo e a realidade, ou seja, as práticas de avaliação continuam a ter
fortes traços próximos de uma avaliação sumativa tanto em termos de procedimentos
como em termos das suas justificações.” (Barreira & Pinto, 2005, p. 49).
A maior parte dos estudos realizados em Portugal entre 1989 e 2003 e analisados por
Barreira e Pinto (2005) têm mostrado que as práticas dos professores ficam muito
aquém das conceções e dos discursos sobre avaliação e resultam de uma atividade que
se exerce de forma solitária e pouco partilhada com os intervenientes educativos.
Apesar de a avaliação das aprendizagens dos alunos dever ser encarada como uma
prática social porque para além de se realizar no contexto de uma determinada
instituição escolar decorre influenciada por vários fatores de natureza social, cultural e
ética, tem sido analisada, na maior parte dos estudos realizados em Portugal, como um
processo individual desenvolvido pelo professor no decurso da sua atividade
profissional.
88
Ao colocar a tónica no desenvolvimento de práticas de avaliação capazes de dar uma
boa resposta aos desafios dos sistemas educacionais, Fernandes (2013, p.30) veio alertar
presentes e futuros investigadores e avaliadores para algumas questões críticas, que não
podem ser ignoradas, numa área tão importante como é a Avaliação em Educação:
Apesar das várias investigações realizadas apontarem para uma enorme influência da
avaliação formativa na construção da aprendizagem, é defendido por alguns
investigadores (James & Lewis, 2012; Shepard, 2005) que a evolução das práticas
89
avaliativas não tem acompanhado os progressos implementados ao nível das práticas de
ensino.
Qual a evidência que me convence que a minha prática está ou não adequada
para os fins que pretendo alcançar?
De acordo com Timperley (2010), para que o professor melhore o seu ensino na sala de
aula tem que sistematicamente recolher informação sobre:
Que evidências decorrem das suas práticas e do impacto que estas têm nos
alunos;
90
É impossível para o professor fazer tudo sozinho daí a necessidade de ter o apoio de
líderes bem informados e possuidores dos conhecimentos necessários ao exercício de
uma liderança competente e incentivadora de um maior empenhamento de professores e
alunos na construção das aprendizagens, tanto dos que aprendem a ensinar como dos
que aprendem a aprender.
91
CAPÍTULO IV - Avaliação com intuito formativo
É necessário que os professores sejam capazes de distinguir entre o que pretendem que
os alunos façam e que lhes é dado a conhecer através das instruções que permitem
completar tarefas, daquilo que eles pretendem que os alunos aprendam (Chappuis &
Stiggins, 2002). Independentemente daquilo que se ensina e da forma como se ensina,
só acontece aprendizagem quando os alunos se interessam pelo assunto, quando este faz
sentido e o próprio aluno sente que tem capacidade para aprender. “Porque ninguém
pode aprender por eles, o processo de aprendizagem é propriedade dos alunos. O papel
do professor é acompanhar o processo, o que poderá ser feito através de uma variedade
de meios.” (Heritage, 2010, p. 3)
Os papéis dos professores e das escolas estão a mudar e também aquilo que se espera
deles. É pedido aos professores que ensinem em salas de aula cada vez mais
multiculturais, que integram alunos com necessidades educativas especiais, recorrendo à
integração das tecnologias da informação e comunicação nas suas práticas de ensino,
envolvidos nos processos de avaliação e de prestação de contas ao mesmo tempo que
envolvem os pais na vida da escola (OCDE, 2018).
Para que o aluno aprenda é necessário que se comprometa com a construção da sua
própria aprendizagem, isto é, que em vez de ficar passivamente à espera do
92
conhecimento transmitido pelo professor deverá ser ele a construir o conhecimento e,
sobretudo, ser capaz de o aplicar. Mas para termos alunos ativamente envolvidos na
construção das suas aprendizagens é necessário termos um professor que dê esse espaço
de autorregulação. Mais do que preparar para dar respostas “certas” o professor tem que
levar os seus alunos a colocar as questões que os obriguem a refletir e a perceber qual a
melhor resposta, que poderá variar em função dos enquadramentos ou das
circunstâncias em que se coloca (Vieira, 2013).
A aprendizagem acontece com as pessoas e não para elas, razão pela qual aprender é um
processo confuso que muitas vezes não ocorre de acordo com um plano traçado
previamente ou de forma igual para todos. Cada um dos aspetos ou elementos da sala de
aula estão em relação com todos os outros. Ambiente de aprendizagem, curriculum,
avaliação, instrução e liderança e gestão da sala de aula, estão em absoluta
interdependência. Quando um deles é melhorado todos beneficiam; quando um deles é
perturbado todos ficam mais debilitados (Tomlinson & Moon, 2013).
Para além das características dos alunos é também frequente atribuir grandes
responsabilidades às condições estruturais em que a aprendizagem deverá decorrer. O
número de alunos por turma, os currículos ou mesmo o design da sala de aula, são
aspetos apontados como obstáculos à implementação de práticas pedagógicas
diferenciadas e de acordo com as necessidades de cada aluno, aproveitando e
valorizando aquilo que cada um tem de melhor, promovendo a equidade dentro da sala
de aula.
93
Uma cimeira mundial sobre o ensino (OCDE 2011) alertou para a necessidade de os
professores ajudarem os seus alunos a adquirirem não só os conhecimentos e
capacidades mais fáceis de ensinar e de avaliar mas, mais importantes ainda, as várias
competências indispensáveis na sociedade em vivemos:
Numa sala de aula que coloca o aluno no centro, cabe ao professor envolver todos os
alunos na construção das suas aprendizagens, orientando os seus percursos e limando as
dificuldades que vão surgindo. Nesta sala de aula, a avaliação acompanha todo o
processo porque a partir dela é possível ir fornecendo a cada aluno o feedback oportuno
e apropriado a cada um. Aqui o erro desempenha um papel fundamental pois ao ser
identificado e ultrapassado pelo aluno está a contribuir para novas aprendizagens:
Para podermos intervir na forma como os alunos aprendem é necessário perceber como
os professores ensinam. Na sala de aula ensino e aprendizagem decorrem em simultâneo
e qualquer deles só se desenvolve em função da relação que estabelecem entre si e da
forma como a avaliação acompanha todo o processo de aprendizagem e ensino.
94
do smartphone. Quando se introduz na aplicação o destino pretendido, qual o objetivo a
alcançar, recebemos informação, feedback, sobre o local onde estamos, qual a distância
que ainda falta percorrer até chegar ao destino e quanto tempo demora a chegar lá. O
GPS informa também se ocorreu algum acidente ou anomalia, erro, que aconselharia a
fazer alterações ao percurso inicialmente traçado. Pelo papel que ambos desempenham
podemos considerar a avaliação formativa o GPS do processo de aprendizagem e
ensino.
É por isso que se mandam as crianças à escola: não tanto para que
aprendam alguma coisa, mas para que se habituem a estar calmas e
sentadas e a cumprir escrupulosamente o que se lhes ordena, de modo
que depois não pensem mesmo que têm de pôr em prática as suas ideias.
Immanuel Kant
95
A partir da meta-análise realizada por Black e Wiliam (1998a) começou a ser construído
o conceito da avaliação para a aprendizagem, sustentado em inúmeras investigações que
apontavam para a importância do uso intencional e apropriado da avaliação realizada na
sala de aula na promoção da aprendizagem pelos alunos. Esta meta-análise também veio
comprovar os resultados de anteriores investigações (Crooks, 1988) que apontavam para
efeitos na aprendizagem de curto prazo e de longo prazo (Earl, 2013). No curto prazo a
avaliação poderia:
96
Wiliam (2006, p. 285) apresentou tês tipos de avaliação formativa, tal como descrevo no
Quadro 5, salientando que, de acordo com a investigação existente, só as avaliações de
curto e médio prazo melhoram as aprendizagens dos alunos.
Para Black et
al. (2003) avaliar para aprender é toda a avaliação que tem como grande prioridade
promover as aprendizagens dos alunos. Não visa classificar, certificar, selecionar, nem
tão pouco ordenar os alunos, mas sim fornecer informação, usada como feedback tanto
por professores como por alunos, permitindo modificar as atividades de ensino e de
aprendizagem em que estão envolvidos. A sua vertente formativa resulta do facto de
serem usadas as evidências recolhidas na avaliação para adaptar as práticas de ensino às
necessidades dos alunos.
De acordo com Chappuis e Chappuis, (2008) avaliar para aprender é muito mais que
avaliações frequentes. Trata-se de um processo dinâmico em evolução que graças às
informações produzidas durante o processo de instrução é possível, antes de qualquer
avaliação sumativa, introduzir alterações no ensino de forma a adaptar este às
necessidades dos alunos. “A grande mais-valia da avaliação formativa é permitir a
alunos e professores que usem os seus resultados, para melhoraram no imediato o
ensino e a aprendizagem.” (Chappuis & Chappuis, 2008, p. 17).
97
Para que os alunos saibam o que se espera deles é necessário que sejam
partilhados por todos quer os objetivos ou intenções da lição quer as metas de
aprendizagem;
Deve ser encorajada e planeada a avaliação entre pares para que a mesma seja
uma mais-valia para a aprendizagem.
De acordo com Harlen (2012), a avaliação só poderá ser formativa se apoiar o ensino e
a aprendizagem, o que implica que seja realizada durante as atividades letivas e avalie
com base em intenções claras de aprendizagem. Para que os alunos consigam perceber
qual o patamar para onde a sua aprendizagem deve avançar, é necessário que as
progressões estejam claras em relação às metas a atingir. Neste percurso os alunos serão
orientados pelo feedback que funciona tanto para a aprendizagem como para o próprio
ensino do professor. Desde que tenham conhecimento dos objetivos da lição e dos
critérios de sucesso, os próprios alunos participam nesta avaliação através da
autoavaliação dos seus progressos em direção aos objetivos definidos.
98
introduzir ajustamentos em tudo o que se vai fazendo na sala de aula. As avaliações que
vão sendo feitas fazem parte da avaliação formativa mas elas são apenas momentos de
um complexo processo que implica decisões sobre como, quando e o que testar.
Avalia-se por duas razões, para sustentar as decisões que apoiam a instrução e para
motivar os alunos para a aprendizagem (Stiggins, 2005). Relativamente à recolha de
informação, sobre as aquisições dos alunos, para tomar decisões, as questões a colocar
para qualquer avaliação serão: que decisões, quem as toma e qual a utilidade das
informações recolhidas. Mas quando se trata de avaliar para aprender as questões serão:
Em que ponto estão agora os alunos tendo em conta o plano de progressão das
aprendizagens até atingir o sucesso final?
Nesta forma de avaliar as decisões são tomadas em conjunto, por aluno e professor
trabalhando em equipa. “Neste contexto, também os alunos são consumidores das
informações resultantes das práticas avaliativas, recorrendo às evidências dos seus
progressos para compreender qual o passo que devem dar a seguir.” (Stiggins, 2005, p.
1)
Para satisfazer estas exigências torna-se óbvio que não poderemos ter avaliação apenas
em alguns momentos do ano, do período ou mesmo da semana. Ela tem que
acompanhar o ensino e a aprendizagem constantemente.
Wiliam e Thompson (2007) identificaram as cinco estratégias chave que devem estar na
base da avaliação formativa a implementar, tendo em conta os vários papéis, do
99
professor, do aluno, dos pares do aluno, e que serão desenvolvidas de acordo com o
Quadro 6.
Aprendente Onde deve chegar? Onde está agora? Como chegar lá?
1- Clarificar e partilhar as
2- Tornar visíveis as 3- Manter os alunos
intenções de
aprendizagens dos informados sobre as suas
aprendizagem e os
alunos através de prestações, através de um
Professor critérios de êxito. tarefas como a feedback útil e oportuno,
resolução de incluindo orientação para
problemas ou o prosseguir nas suas
trabalho em aprendizagens
pequenos grupos
Compreender e partilhar 4- Dotar os alunos dos argumentos que lhes
Par as intenções de permitam realizar atividades de avaliação dos
aprendizagem e os pares e respetivo feedback.
critérios de êxito.
Compreender as intenções 5- Capacitar os alunos para serem os condutores
Aprendente de aprendizagem e os da construção das suas aprendizagens.
critérios de êxito.
100
as práticas avaliativas na sala de aula, em geral, encorajam
aprendizagens superficiais;
a prática avaliativa sobrevaloriza a classificação e subvaloriza a
função reguladora da aprendizagem;
existe a tendência para usar uma abordagem mais normativa do
que criterial, que enfatiza mais a competição entre alunos do que
o aperfeiçoamento individual de cada aluno. Neste contexto, o
feedback dirige-se sobretudo para o ensino dos alunos mais
fracos, mas de um modo que os faz perderem a auto-confiança e a
motivação;
em geral, a avaliação formativa não é bem compreendida pelos
professores e tem uma prática fraca;
os professores consideram irrealistas práticas de avaliação
formativa no actual sistema educativo;
existe uma relação muito ténue entre práticas de avaliação
formativa e outros aspectos da prática lectiva do professor bem
como da forma como os professores encaram o seu papel;
a auto-avaliação não é em geral considerada nos programas de
formação inicial de professores, sendo este tema deixado para a
formação ao longo da vida.
Mas para que as práticas avaliativas sejam formativas ou reguladoras não basta que elas
ocorram no dia-a-dia da sala de aula. De acordo com Santos et al. (2010, p. 14) é
necessário que a avaliação:
se dirija ao aluno;
seja parte integrante do processo de ensino e aprendizagem;
permita que os objectivos de aprendizagem sejam conhecidos e
apropriados pelo professor e pelos alunos;
tenha por enfoque tanto os resultados, como os processos;
seja propiciadora da compreensão e reflexão dos processos de
aprendizagem dos alunos, quer por parte do professor, quer por
eles próprios;
incentive a auto-confiança dos alunos na sua aprendizagem;
desenvolva uma postura reflexiva a partir dos dados recolhidos
dos diferentes actores envolvidos no processo de modo a que
todos compreendam o que estão e porque o estão fazendo.
Santos et al. (2010) alertam ainda para a importância do envolvimento do aluno com
uma atitude de confiança em si próprio, para arriscar a dizer o que pensa sem ter medo
de errar. Esta autonomia do aluno vai obrigar a uma abertura, por parte do professor,
para aceitar as opiniões do aluno que vão surgindo durante o processo avaliativo. É
101
desta forma que a avaliação se torna um processo de diálogo, onde a interação
professor-aluno pode conduzir a divergências de opinião, seguindo-se o entendimento
comum e partilhado.
Hattie (2012) desenvolveu uma longa investigação analisando mais de 800 meta-
análises que focavam a sua atenção no resultado do desempenho específico do aluno
para identificar o que poderia influenciar esse resultado. Concluiu colocando no topo da
sua lista a avaliação formativa como a que maior influência tem na melhoria das
aprendizagens dos alunos. Entenda-se aqui a avaliação formativa como a avaliação que,
estando ao serviço das aprendizagens dos alunos, é desenhada de modo a informar o
professor para, atempadamente, lhe permitir adequar as atividades de ensino e
aprendizagem às necessidades dos alunos.
Tal como defende Stiggins (2007), mais do que dividir os alunos em dois grupos,
ganhadores ou perdedores, a avaliação para a aprendizagem deve colocar todos os
alunos no caminho do sucesso, onde a ação do professor assume particular importância,
apoiando o aluno que falha, de modo a que recupere a confiança nas suas capacidades.
Quando é óbvio que os objetivos não podem ser alcançados, não ajuste as
metas, mas sim as etapas da ação.
Confúcio
102
Foi já há mais de 50 anos que Glaser (1963) introduziu o conceito de medição
referenciada por critérios e, desde essa altura, tem sido considerada como a estratégia de
avaliação mais apropriada para os professores que focam a sua ação mais no ensinar os
alunos do que apenas em os comparar através da classificação. Já nessa altura Glaser
afirmava que alguns avanços das práticas de instrução poderiam tornar as práticas
avaliativas tradicionais obsoletas (Popham, 2011).
É essencial para a aprendizagem a apresentação clara, aos alunos, dos objetivos que
devem alcançar para que eles trabalhem sabendo exatamente em que direção, mas
também porque a motivação que daí decorre vai aumentar o envolvimento do aluno na
construção da aprendizagem. Para que o aluno se envolva mais na aprendizagem será
importante que, uma vez partilhados os objetivos pelo professor, o aluno, de acordo
com as suas possibilidades e interesses, defina os seus próprios objetivos de
aprendizagem.
103
A clareza dos objetivos de aprendizagem traduz-se em importantes benefícios para os
alunos (Battelle for kids, 2010):
Permite que todos os alunos tenham sucesso e que vão progredindo à procura de
novos sucessos. Será mais fácil entender esta ideia se pensarmos na forma como
são encarados os vários níveis dos videojogos – “já tive sucesso no nível 1 o que
me permitiu aceder ao nível 2, um novo desafio para enfrentar os vários níveis
que se seguirão, onde a própria progressão no grau de dificuldade constitui por
si só um outro desafio;
Fornece a informação necessária ao aluno para que possa refletir sobre a sua
própria aprendizagem, ao mesmo tempo que lhe permite estabelecer novos
objetivos de aprendizagem para si próprio.
104
o que estarei apto a realizar no final (da sessão, da unidade, do período,
do ano)?
que ideia, tópico ou assunto é importante que eu aprenda e compreenda
para que seja capaz de atingir o objetivo traçado?
de que forma posso evidenciar que sou capaz de fazer o que me é
solicitado e com que qualidade o faço?
Uma meta definida superiormente, quer seja por instâncias institucionais quer o seja na
própria escola, só se tornará uma meta de aprendizagem quando os alunos a usarem
como o alvo a alcançar, na lição, no período ou no ano letivo e isso só será possível se
os alunos souberem e compreenderem o que têm que alcançar. Assim sendo, uma meta
só será meta de aprendizagem se for partilhada e ativamente usada pelos parceiros da
equipa de aprendizagem da sala de aula – o professor e os alunos. (Moss & Brookhart,
2012; Santos & Gomes, 2006).
Segundo Bonniol e Vial (1997) deve ocorrer uma conversão dos objetivos em critérios
de avaliação de modo a que fique clara a relação entre os objetivos de aprendizagem e a
avaliação - “um critério é uma dimensão do objetivo que o avaliador optou por
privilegiar como uma referência entre outras” (p. 145).
105
execução de determinada tarefa, os critérios de realização favorecem uma aprendizagem
autorregulada. Para que tal aconteça é necessário que satisfaçam as seguintes condições:
indicar com clareza quais as operações a realizar para levar a termo determinada
tarefa ou desenvolver adequadamente determinado processo;
Propõe uma sequência de ações que orientarão o aluno para o cumprimento das
metas traçadas;
Explica como cada tarefa, que faz parte da lição, poderá ajudar o aluno a atingir
as metas propostas;
A partir das linhas gerais traçadas, a nível de escola, os critérios de avaliação deverão
“entrar” em cada sala de aula para que os alunos tenham conhecimento dos mesmos,
principalmente, para que possam participar na sua discussão. Wolff (2002, p. 71) refere
que “(…) para que possam fazer a autoavaliação os alunos devem ter uma ideia muito
clara da avaliação de que vão ser objeto, isto é, tanto os objetivos, como os critérios de
avaliação devem ser muito claros para os alunos.” Cabe ao professor, na sua sala de
aula, com os seus alunos, promover a negociação e explicitação dos critérios de
avaliação para as diferentes tarefas solicitadas.
106
Torna-se indispensável que os alunos se apropriem dos critérios de avaliação, cabendo
ao professor facilitar essa apropriação. Para que isso ocorra não basta comunicar os
critérios aos alunos. O professor deve começar por definir e explicitar, para si próprio,
que critérios considera na avaliação da tarefa em causa e, posteriormente, partilhar esses
critérios com os alunos, envolvendo-os no seu eventual aperfeiçoamento, recorrendo a
um processo de negociação, que deve utilizar uma linguagem clara e acessível,
permitindo-lhes compreender o que é esperado deles (Santos, 2002) pois quando isso
não acontece têm tendência a autoavaliar-se comparando os seus resultados escolares
com os dos pares (Zimmerman, 1990, 1994).
107
crescimento cognitivo e afetivo e os conhecimentos, habilidades e competências
adquiridos, mas está também dependente das estratégias de ensino utilizadas. Estas, por
sua vez, devem estar de acordo com a avaliação do processo, que vai sendo realizada à
medida que o mesmo vai decorrendo. É aqui que o erro assume uma grande valia, muito
para além da simples classificação da prestação do aluno, ao promover a reflexão e, com
ela, a reconstrução da própria aprendizagem (Huelser & Metcalfe, 2011). “Toda a
aprendizagem comporta necessariamente dificuldades e erros, justamente porque é um
processo de reestruturação, de representações, de saberes, que o aluno já possuía.”
(Pinto & Santos, 2006, p. 38).
A motivação dos alunos é reforçada quando os erros dos alunos são tratados como uma
componente natural da aprendizagem, se for acompanhado por feedback oportuno e útil
e dando ao aluno a possibilidade de repensar e refazer o trabalho. “Neste processo a
avaliação exerce um papel primordial ao proporcionar aos alunos informação sobre os
seus progressos e apoiando um maior envolvimento na tarefa.” (Earl, 2013, p. 79).
Numa escola tradicional, onde a avaliação tem como função principal classificar os
alunos de acordo com os conhecimentos que conseguiram adquirir, encontramos um
professor que avalia, fazendo provas com respostas uniformizadas, as quais corrige em
busca do erro, em detrimento de proporcionar ao aluno o feedback. Quando usado
apenas para classificar as suas prestações, o erro acaba por se “agarrar” ao aluno como
um estigma. É o caso dos alunos que, pelas mais variadas razões, têm um desempenho
mais fraco num determinado teste. Mesmo que o aluno corrija os erros e adquira
claramente os conhecimentos que lhe faltaram antes, continuará a ser punido pelos erros
cometidos. Em busca do rigor e da objetividade, muitos professores persistem em
atribuir uma classificação fazendo a média dos vários instrumentos aplicados, levando a
que o aluno seja “perseguido” todo o ano pelo erro cometido, mesmo depois de
ultrapassado:
108
punições associadas ao erro, quer as físicas, de que são exemplo a temida régua ou a
permanência de pé, por largos períodos de tempo, num dos cantos da sala, quer as
psicológicas, como as “orelhas de burro”. Uma outra reação, que é de todas a menos
frequente, será a do professor que entende o erro com complacência, por o considerar
um acontecimento natural e que será corrigido com o passar do tempo. Uma terceira
possibilidade será a abordagem construtivista, onde o erro não é tratado como uma
questão reduzida ao resultado da operação, se acertou ou errou, como uma ferramenta
de exclusão ou marginalização, mas sim de invenção e de descoberta, como uma fonte
de crescimento:
O erro, muitas vezes, mais do que o acerto, revela o que a criança sabe,
colocando este saber numa perspectiva processual, indicando também
aquilo que ela ainda não sabe. (...) Neste sentido, passa a ser um estímulo
(ou um desafio) ao processo de ensino-aprendizagem - estímulo para
quem aprende e estímulo para quem ensina. (Esteban, 2004, p. 21)
Não basta entendermos o erro se não pensarmos em desenvolver mecanismos para que o
professor possa intervir, junto do aluno, auxiliando-o a construir outras hipóteses
capazes de alicerçar a sua aprendizagem. “Só as instituições de investigação e os
cientistas têm a vivência prática da cultura científica suficiente para ajudar a construir
modelos conviviais de aprendizagem; só eles têm a familiaridade honesta com a
ignorância (eventualmente superável), com o erro e com a descoberta que pode, em
situação escolar, fundar a humildade necessária para despertar os espíritos.” (Gago,
1990).
Os erros detetados durante a recolha de informações devem ser encarados como parte
integrante da aprendizagem, nada tendo, portanto, de culpável ou punível. Pelo
contrário, devem ser aproveitados para revelar a natureza das representações lógicas e
estratégias elaboradas pelo aluno. Porque não basta apontarmos o erro, é preciso
identificar a sua causa (Luckesi, 2011). Só assim é possível ao professor adequar o seu
ensino às necessidades de aprendizagem do aluno e a este tomar consciência dos seus
erros de modo a poder corrigi-los. “Atualmente é melhor cometer erros durante a
aprendizagem do que não cometer erros” (Wiliam, 2014, p. 19).
109
A orientação dada pelo professor não deve, por isso, incluir a identificação nem a
correção do erro, mas antes questionar e apontar pistas de ação futura, de modo a que
seja o aluno a consegui-lo (Santos, 2002).
Quando o erro é entendido pelo aluno como um desafio saudável torna-se muito
importante também para o professor. Ao colocar uma questão aos seus alunos o
professor pretende obter uma resposta certa e, dessa forma, confirmar que foram feitas
as aprendizagens que lhes permitiram dar a resposta certa. Mas se as respostas estiverem
erradas é necessário que o professor entenda o raciocínio seguido para lá chegar.
Quando o professor adota uma postura de estudar os erros e de trabalhá-los com os seus
alunos há um significativo incremento da aprendizagem que ocorre na sala de aula.
Através das respostas erradas, ou melhor das respostas que não são esperadas, é possível
trabalhar novas informações apresentadas pelos alunos, podendo mesmo conduzir a
novas soluções para um determinado problema. Esta reflexão e discussão das respostas
erradas vai levar a que ocorra uma aprendizagem que perdura para além do curto prazo
(Sadler et
al, 2013).
Quando o aluno erra deve ser orientado no sentido de chegar à resposta certa. Mas para
que tal ocorra a sala de aula tem que ser um espaço de pesquisa e de exploração e não
um “pronto a consumir” onde o aluno recebe a resposta certa porque é aquela que é
aceite pelo professor. Ao invés de se concentrarem em exercícios de repetição ou de
memorização, os professores devem orientar os seus alunos para que eles próprios vão
desbravando o caminho que os levará à resposta pretendida, obtida a partir da discussão
das várias possibilidades apresentadas pelos alunos. A este, Sadler et al. (2013) chamam
o “método socrático” de ensinar.
110
Quando chegam à escola os alunos não são recipientes vazios prontos a ser abastecidos
de conhecimento. Pelo contrário, eles carregam uma enorme variedade de
conhecimentos e têm explicação para quase tudo. Desde que nasce o ser humano recebe
todo o tipo de informação das mais variadas fontes, umas mais acertivas mas outras nem
tanto e a própria criança vai crescendo numa busca incessante de conhecimento para
descobrir o mundo à sua volta.
111
papel de grande importância. Mais do que fornecer ao aluno informação sobre os seus
falhanços, deverá fornecer pistas para a sua ação futura, pois existem hoje evidências
claras (Black & William, 1998b; Gibbs & Simpson, 2004) de que o uso do feedback
formativo produz ganhos significativos nas aprendizagens dos alunos.
Em sentido contrário, o professor, atento ao feedback fornecido pelos seus alunos, pode
recolher informações preciosas para a regulação das suas práticas de ensino. Para além
de lhe permitir identificar as dificuldades encontradas pelos alunos e definir estratégias
que permitam ajudá-los a ultrapassá-las também lhe permite perceber se o que ele
ensina produz os efeitos pretendidos, isto é, promove as aprendizagens pretendidas. “O
feedback que os alunos dão ao professor pode ser mais poderoso que o feedback que o
professor dá aos seus alunos.” (Tovani, 2011, p.48).
112
O maior ou menor efeito do feedback decorre da forma como é usado pelos alunos pois
por si só não provoca alterações. A regulação dos processos de aprendizagem pelo
feedback depende essencialmente do contexto em que esses processos decorrem. Vários
estudos experimentais concluiram que o feedback se revelou mais efetivo quando
fornecia correções a nível da instrução do que quando se limitava apenas a confirmar
que o aluno seguia o caminho correto (Wiliam, 2013).
O feedback não acontece de forma isolada e a sua eficácia depende muito da cultura
avaliativa instalada na sala de aula. A “crítica construtiva”, expressão usada com
frequência para designar o feedback, tem que ser entendida por todos como uma mais-
valia para que os alunos sejam capazes de a usar, permitindo-lhes planear e implementar
os vários passos necessários à construção da sua aprendizagem. Acima de tudo não é
correto fornecer ao aluno o feedback e não lhe dar a oportunidade para fazer o seu
devido uso, tal como não é correto proporcionar ao aluno as tais críticas construtivas
numa perspetiva de produto acabado que será passado para uma grelha avaliativa com
fins meramente somativos. Na verdade, o efeito produzido pelo feedback depende, em
larga medida, da natureza do mesmo, pois tanto pode funcionar como a informação que
vai orientar o processo de ensino e aprendizagem como pode ser o obstáculo que
provoca o descarrilamento desse processo (Brookhart, 2008). É importante que os
professores se assegurem que dão um feedback poderoso e efetivo aos seus alunos para
que estes o possam usar para realizar aprendizagens (Hattie, Masters & Birch, 2016).
113
uso à informação que dela resulta (Brookhart, 2009). Apesar de ser frequentemente
esquecido pelo professor, os alunos dão uma enorme importância ao feedback que os
ajuda a perceber onde devem chegar na sua aprendizagem para poderem focar o seu
esforço e atenção (Hattie, Masters & Birch, 2016), daí o aparecimento da expressão
feedforward.
Numa importante revisão de estudos realizados desde 1905, sobre o efeito do feedback,
Klueger e DeNisi (1996) concluíram que não era possível eleger um determinado tipo
de feedback melhor que um outro. Terá de ser o professor, pelo conhecimento que tem
dos seus alunos, a decidir qual a melhor altura para aplicar um incentivo ou, pelo
contrário, introduzir uma crítica. Por outro lado, quando o aluno confia no seu
professor, aceita melhor o feedback e age assertivamente a partir dele. O feedback só
terá um impacto positivo nos alunos se funcionar como um guia para corrigir e
melhorar. O feedback eficaz deve ocorrer durante a aprendizagem, quando ainda é
possível ao aluno reagir ao feedback (Chappuis, 2012, p.36).
O feedback adequado, fornecido pelo professor, pelos pares ou pela família, ajuda o
aluno a identificar os seus acertos mas também os seus erros, o que já está aprendido ou
que ainda precisa de ser trabalhado. Só modificará o seu comportamento o aluno que for
capaz de identificar o que ainda não executa corretamente. Esta identificação leva ao
autoconhecimento o qual, por sua vez, promove as mudanças comportamentais a
introduzir no processo de ensino e aprendizagem. “A maior parte do feedback que os
alunos recebem sobre o trabalho que realizam na sala de aula vem dos outros alunos e a
maior parte é errado.” (Hattie, 2012, p.18).
114
começar a desenvolver competências de auto-avaliação e de auto-
regulação das suas aprendizagens durante, e não no final, de um dado
período de ensino e aprendizagem. Consequentemente, podem utilizar o
feedback como orientação para melhorar ou corrigir o caminho que
vinham seguindo. (Fernandes, 2004, p. 20).
De acordo com Hattie (2009, 2012), que analisou mais de 900 meta-análises sobre o
“enorme poder do feedback”, este só será eficaz se for claro e intencional, se fizer
sentido e se for compatível com o conhecimento prévio dos alunos. Quando o feedback
é eficaz ele produz um efeito médio de 0.79 na melhoria das aprendizagens dos alunos,
o que é praticamente o dobro daquilo que é a média em termos do que os alunos
ganham num ano escolar.
Combinado com uma instrução efetiva em sala de aula, o feedback pode ter uma enorme
influência na melhoria da aprendizagem. Se o feedback estiver direcionado para o nível
certo poderá ajudar o aluno em três fases distintas: compreendendo, envolvendo-se e
desenvolvendo estratégias eficazes para o tratamento das informações a serem
aprendidas (Hattie & Timperley, 2007). Contudo, apesar da sua inquestionável
importância, um feedback efetivo será sempre uma parte da equação e jamais um
substituto ou uma panaceia para um ensino de pouca qualidade. “É necessário que os
alunos conheçam os objetivos de aprendizagem – as competências que é suposto serem
aprendidas, caso contrário o feedback significa apenas que alguém está a dar uma
indicação do que o aluno deve fazer.” (Brookhart, 2012, p.24).
Sadler (1989) identificou três condições que considerou indispensáveis para que os
alunos possam beneficiar com o feedback:
Perceber onde se posicionam face ao objetivo a atingir – para que essa perceção
ocorra deve estar documentada por evidências;
Sadler (ibidem) defendeu ainda que os alunos só seriam capazes de comparar a sua
prestação com a pretendida, e desenvolver as ações que levassem a ultrapassar esse
fosso, se já estivessem na posse de algumas das capacidades de avaliação do professor.
Esta é sem dúvida uma interessante associação da qualidade do feedback à capacidade
de autoavaliação dos alunos, que tem sido também defendida por outros autores.
115
Santos (2003, p. 18) reforça a importância de um feedback com funções reguladoras,
alertando que, para cumprir esse propósito, o feedback deve:
e) identificar o que está bem feito, para que esse saber seja conscientemente
reconhecido e a autoconfiança do aluno seja promovida.
Wiliam (2013) acrescenta que o feedback deve focar a sua atenção naquilo que é preciso
ser feito para melhorar e, principalmente, deve dar indicações detalhadas sobre o modo
como o aluno pode proceder. As orientações podem ser orais ou escritas e apresentar-se
sob a forma de comentários com sugestões ou questões reflexivas, mas para que sejam
eficazes, devem acontecer de forma continuada, promover uma postura de reflexão e
autoquestionamento nos alunos e não incluir juízos de valor sobre o seu desempenho
(Black et al., 2003; Wiliam, 2011).
A par dos efeitos positivos do feedback, Hattie (2009; 2012) também se deparou com
situações onde o uso de feedback não obteve melhorias a nível das aprendizagens dos
alunos o que o levou a focar a sua atenção de investigador a tentar compreender esta
variabilidade, tentando identificar o que faz com que o feedback seja ou não eficaz. “Por
um lado o feedback é uma das poderosas influências da aprendizagem; por outro lado
está entre as variáveis que mais oscilam.” (Hattie, 2012, p. 134).
Avaliativo – onde ocorre um juízo de valor que incide sobre o produto final e
que visa sobretudo atribuir um nível ou classificação, indicando o quanto o
aluno supostamente aprendeu em relação ao pretendido. Tem poucos efeitos de
natureza reguladora;
116
Para Nicol e McFarlane-Dick (2006) a avaliação formativa tem essencialmente como
função produzir o feedback que ajudará os alunos a desenvolver a autorregulação
porque ao fazê-lo conseguem estabelecer os seus próprios objetivos. Os alunos
autorregulados elaboram um feedback interno sobre a forma como dão resposta aos
objetivos que têm para si próprios, o que vão conseguindo atingir, o que ainda falta e
como vão conseguir lá chegar, ao mesmo tempo que vão incorporando o feedback
externo, fornecido pelo professor ou pelos pares. Quanto mais autorregulados mais
aptos estarão os alunos para usar o feedback externo e o seu próprio feedback, no
sentido de alcançarem os seus objetivos de aprendizagem.
Nicol e McFarlane-Dick (2006) criticaram o uso do feedback quando serve apenas para
o professor instruir o aluno sobre as incorreções a introduzir, defendendo um papel
muito mais ativo para o aluno que, ao contrário de se limitar a seguir a interpretação do
professor deverá fazer a sua própria interpretação, que deverá integrar com os objetivos
pessoais de aprendizagem e com os pontos fortes e as fragilidades e, a partir daí,
reformular o seu caminho, quando e onde tal seja necessário.
Hattie e Timperley (2007) propuseram um modelo de feedback que faz a sua distinção
em quatro níveis. Feedback sobre:
O nível no qual o feedback se foca tem influência na sua eficácia, razão pela qual o
feedback que incide sobre as qualidades do trabalho desenvolvido e sobre o processo ou
as estratégias usadas dão uma maior ajuda ao aluno. O feedback que orienta o aluno
para o desenvolvimento de estratégias autorregulatórias também tende a ser mais eficaz.
117
Já os comentários centrados em características pessoais dos alunos são demasiado vagos
e não levam o aluno a focar na sua aprendizagem (Brookhart, 2008).
Segundo Hattie e Timperley (2007) para que o feedback seja eficaz deve permitir ao
aluno dar resposta a três questões fundamentais:
118
informar o aluno sobre qual o caminho que a sua aprendizagem deve percorrer, para ir
desde o ponto onde está até ao ponto onde é suposto chegar.
Como estou a aprender? – a resposta a esta questão permite ao aluno saber em que
ponto está da sua viagem na aprendizagem, com que pontos fortes e quais os pontos
fracos que precisam ser trabalhados.
O que fazer a seguir? – é enorme a importância da resposta a esta questão porque vai
permitir ao aluno selecionar o desafio mais apropriado e que mais o entusiasma e, dessa
forma, levá-lo a conduzir a sua própria aprendizagem desenvolvendo a autorregulação.
119
uma síntese do pensamento de vários investigadores (Black & Wiliam, 1998a; Sadler,
1989; Torrance & Pryor, 2001) para estabelecer a relação entre o feedback e a avaliação
formativa apresentada na Fig. 5
Dean, Hubbell, Pitler e Stone (2012) realçaram as quatro características que consideram
fundamentais para que o feedback influencie positivamente a aprendizagem:
120
Deve ser específico para cada critério
Os efeitos dos feedbacks no desempenho dos alunos são mais significativos quando se
centram nas exigências da tarefa, permitindo a compreensão da mesma, dando pistas
para a sua resolução e incentivando a tentativa e erro, porque a correção do erro é uma
importante promoção da aprendizagem.
121
Numa sala de aula onde o erro é usado para penalizar e o desconhecimento de
uma resposta é embaraçoso para o aluno, não há grande oportunidade para o
feedback porque os alunos são mais reservados e evitam expor-se. O erro deve
criar oportunidades para que ocorra a aprendizagem;
80% do feedback recebido pelos alunos tem origem nos seus pares mas
infelizmente a maior parte da informação que fornece é incorreta.
O feedback que o professor dá aos seus alunos pode ser uma grande mais-valia do
processo de aprendizagem em curso mas isso nem sempre acontece, havendo mesmo
alguns tipos de feedback que são prejudiciais por não promoverem a aprendizagem.
De acordo com Brookhart (2008) as estratégias para fornecer feedback aos seus alunos
podem variar quanto: ao timing; à quantidade; ao modo; à audiência.
Timing – O feedback pode variar não só quanto à frequência com que é dado mas
também em relação ao momento em que é dado. Na verdade o feedback deve ser dado
quando os alunos ainda estão focados em determinada aprendizagem e enquanto ainda
há tempo para agir sobre elas.
Modo – Deve ser selecionada a melhor forma para passar a mensagem de modo a
garantir a sua assimilação podendo o feedback ser oral, escrito, ou visual/demonstração.
Se a tarefa for escrita o feedback relativo à mesma também o deverá ser. O feedback
ideal será o interativo tal como a demonstração de como fazer uma tarefa a partir de um
exemplo também será uma mais valia. Se pensarmos que uma boa forma de dar
feeedback é através de pequenas conversas com os alunos, é fácil perceber que ele deve
122
ter em conta variados aspetos nomeadamente o nível de desenvolvimento do aluno ou a
oportunidade do momento. A opção por um feedback oral deve acontecer porque ele é o
mais apropriado para aquela situação e aquele aluno e não porque é mais rápido e
cómodo para o professor.
O feedback oral, para além de envolver as várias características do feedback escrito, tem
outras que lhe são específicas. Para que seja fornecido o feedback oral devem estar
reunidas algumas condições, nomeadamente o momento e o local serem apropriados.
O feedback oral individualizado tem uma variedade maior que qualquer outro tipo de
feedback, podendo variar do muito formal e estruturado até ao completamente informal.
O feedback oral coletivo, que pode ser dirigido a um grupo mais pequeno ou a toda a
turma, pode ser eficaz para ultrapassar uma dúvida ou dificuldade comum a vários
alunos (Brookhart, 2008).
A eficácia do feedback na forma oral está relacionada com o facto de este acontecer a
par das experiências de aprendizagem, possibilitando uma regulação interactiva e, por
isso, poder ser dirigido a cada caso e desenvolvido até ao nível necessário (Santos,
2008).
O feedback oral assume com frequência uma natureza informal quando é dado durante o
desenrolar da própria tarefa. É acima de tudo uma questão de oportunidade em que o
123
feedback surge como resposta imediata à tarefa que está a ser realizada pelo aluno. O
feedback oral, quando dado individualmente, pode ocorrer em situações variadas:
Ao aluno que está no seu lugar ao mesmo tempo que os seus colegas estão a
trabalhar;
O feedback está entre as mais poderosas estratégias com influência na melhoria das
aprendizagens (Hattie, 2012) e talvez por essa razão ele seja objeto frequente de
investigação nas salas de aula. Hattie e Gan (2011) defendem que mais importante do
que perceber como ele foi dado pelo professor aos seus alunos será perceber como foi
recebido pelos alunos o feedback que foi dado pelo professor e pelos pares e sugerem
algumas características importantes para serem tidas em conta quando se estuda o
feedback:
O feedback deverá ter essencialmente uma função formativa, pois deve ser usado para
melhorar a aprendizagem e o ensino, e deve ser usado durante o processo, e não depois
de este estar finalizado, de modo a que possa ser usado pelo aluno para melhorar a sua
aprendizagem e pelo professor para que possa melhorar o seu ensino. Durante a
aprendizagem os alunos cometem erros que não devem ser penalizados daí que o
feedback permita antecipar ou corrigir esses erros.
124
De acordo com Hattie, Masters e Birch (2016), a orientação do professor poderia seguir
quatro caminhos distintos, em função do tipo de tarefa a realizar e das características
individuais do aluno: afirmando o que o aluno fez bem; corrigindo e direcionando para
uma nova prestação; apontando o caminho a seguir; orientando os alunos para
identificarem as suas prestações.
Afirmando o que o aluno fez bem. Permitir que os alunos saibam o que fizeram bem
deve ser uma preocupação de todos os professores, quer trabalhem com crianças
pequenas quer com jovens. Importa assinalar que informar sobre os acertos não é o
mesmo que premiá-los. Festejar o acerto dos alunos pode ser importante num outro
contexto, quando temos alunos com uma baixa autoestima que deve ser trabalhada para
melhorar a aprendizagem e aí focar o feedback no aluno e não na tarefa. Quando o
objetivo é dar feedback sobre a qualidade da tarefa, no sentido de promover a
aprendizagem do aluno, o feedback deve estar focado naquilo que está certo ou errado.
Corrigindo e direcionando para uma nova prestação. Como nem sempre os alunos
realizam corretamente as tarefas de aprendizagem, até porque cometer erros faz parte da
aprendizagem, é necessário dar tempo e espaço aos alunos para que cometam erros.
Uma vez identificados permitem ao professor fornecer o feedback que ajuda o aluno a
corrigir esses mesmos erros.
Apontando o caminho a seguir. Para alguns alunos a melhor forma de garantir o sucesso
do feedback é orientá-los para o melhor caminho a seguir. Ao fazê-lo o professor está a
mostrar ao aluno a conexão entre o objetivo a alcançar com a tarefa, o que ele já
conseguiu alcançar e o que ele pode fazer para alcançar um melhor resultado. A partir
das questões colocadas pelo professor os alunos vão seguindo as pistas que os ajudam a
responder às próprias dúvidas. O feedback fornecido orienta o processo sem dar
respostas, levando os alunos a encontrá-las.
A autoavaliação que ocorre na sala de aula, quando os alunos julgam as suas produções
para que possam melhorar o seu desempenho, é já identificada como um processo
intencional onde, num primeiro momento, o aluno deverá monitorizar a qualidade do
seu pensamento e comportamento para, de seguida, identificar estratégias que melhorem
a sua compreensão e habilidade (McMillan & Hearn, 2008).
126
objetiva a qual, por sua vez, está na génese de competências de
autorregulação. (Vieira, 2013, p. 118)
Só “olhando-se” criticamente, autoavaliando-se, será possível ao aluno selecionar as
pistas que lhe permitam organizar as suas aprendizagens futuras. Com um papel acima
de tudo orientador, o professor deve permitir ao aluno que assuma muitas das
responsabilidades que antes eram suas. Quando realiza a autoavaliação o aluno
desenvolve uma interação crítica consigo próprio visando alcançar o sucesso, o que
Perrenoud (1999) designa como o conjunto de operações metacognitivas do sujeito e
das suas interações com o meio modificando os seus processos de aprendizagem.
127
Alguns autores (Brookhart, 2001; Crooks, 1988; Sadler, 1989) apontaram evidências de
um trabalho de autoavaliação que é frequente entre os bons alunos. Para que os alunos
implementem práticas regulares de autoavaliação é necessário que conheçam e
entendam os critérios de avaliação (Bruno & Santos, 2014). Esse conhecimento
permitir-lhes-á orientar o seu trabalho, por um lado identificando as opções que devem
ser tomadas a cada passo e, por outro, elencando os passos seguintes para alcançar as
metas traçadas, no respeito pelos critérios de avaliação e que lhes permitirá alcançar a
autonomia. Para que a avaliação formativa seja produtiva, os alunos devem ser treinados
na autoavaliação de modo a que sejam capazes de compreender os principais propósitos
da aprendizagem e assim entender o que deve ser alcançado (Black & Wiliam, 1998b).
Barbosa e Alaiz (1994) defenderam para a autoavaliação um papel que deveria ir muito
para lá da participação na classificação, na autocorreção dos erros ou na mera
identificação das aprendizagens alcançadas. Defenderam, pelo contrário, uma
autoavaliação centrada numa avaliação crítica do trabalho desenvolvido pelo aluno e
dos próprios processos de aprendizagem utilizados.
Paris, Byrnes e Paris (2001) identificaram fatores internos e externos com influência na
forma como os alunos se envolvem na autoavaliação. Entre os fatores internos temos a
metacognição, a qual facilita a reflexão que o aluno deverá realizar na análise do seu
desempenho, monitorizando progressos e avaliando performances as quais têm que ser
analisadas tendo como referência os critérios de avaliação previamente conhecidos.
Quantos aos fatores externos, eles estão diretamente relacionados com as tarefas
solicitadas aos alunos e com os critérios de avaliação que devem estar assimilados por
eles.
128
desenvolvimento de competências individuais pouco trabalhadas nas nossas salas de
aula.
Saiba o que deverá fazer para reduzir o fosso entre o que já atingiu e o que ainda
lhe falta;
129
dizem que a autoavaliação é simplesmente desnecessária, porque sendo o professor
aquele que tem o conhecimento e o treino para realizar a avaliação será ele o melhor
preparado para avaliar o trabalho dos alunos. Para Black e Wiliam (1998b), essas
objeções são simplesmente desculpas. A chave para a autoavaliação realizada pelo
aluno está em fornecer aos alunos, de forma clara e compreensível, todo o quadro dos
objetivos a alcançar durante o processo de aprendizagem. Quando os alunos têm uma
visão geral do que devem aprender e porque devem aprender, tornam-se aprendentes
mais comprometidos e mais eficazes (Bruno & Santos, 2014).
130
A reflexão é um aspeto crítico do processo de autoavaliação porque ajuda o aluno a
identificar o que já sabe ou aprendeu, ao mesmo tempo que identifica áreas que ainda
permanecem confusas, levando-o a estabelecer novos objetivos. Avaliar o que já
aprendeu, o que ainda precisa ser trabalhado e como o fazer, proporciona ao aluno uma
aprendizagem profunda em vez de um conhecimento superficial. (McMillan & Hearn,
2008).
De acordo com Allal (1999) a autoavaliação é uma forma de participação ativa do aluno
no processo de avaliação, e o seu maior interesse é a sua contribuição para o circuito de
autorregulação que está em jogo e se desenvolve em cada aluno.
131
É hoje incontornável a importância alcançada pelos comportamentos de autorregulação
no processo de ensino e aprendizagem pois deles depende, em grande parte, o sucesso
de cada indivíduo, não apenas durante a sua escolarização mas, principalmente, no
desenvolvimento da sua cidadania. Aprender a aprender será pois a capacidade a
adquirir por cada aluno, na formação básica, para dessa forma adquirir uma
aprendizagem estruturada e organizada e que permita uma gestão eficaz do tempo e da
informação tratada. O constructo da teoria da aprendizagem autorregulada contribui
para que o sujeito seja mais participativo, ativo e dinâmico, em todo o processo de
aprendizagem.
A partir da conjugação das suas destrezas e das suas vontades o aluno autorregulado é
aquele que sabe como aprende, que está motivado para o fazer, que conhece as suas
capacidades bem como as suas limitações e, a partir desse autoconhecimento, é capaz de
controlar e regular os seus processos de aprendizagem de forma a que estejam
adequados aos objetivos a alcançar em cada tarefa, em sintonia com o contexto em que
esta decorre. “(...) a capacidade de auto-regulação emerge naturalmente em climas
sociais de dedicação e de objectivos comuns, tais como numa família ou numa escola
eficaz” (Zimmerman, Bonner & Kovach, 1996, p.8).
132
Quadro 8 – Estratégias promotoras de aprendizagem
133
CAPÍTULO V - Metodologia da Investigação
Introdução
134
Opções metodológicas
Os professores, tal como os alunos, vão à escola para aprender. Para que isso ocorra
novas perspetivas e compreensões são desenvolvidas entre professores e alunos, sobre si
mesmos e uns com os outros, sobre a natureza da aprendizagem e do ensino. (Pedder &
James, 2013).
Merriam (1988, citada por Carmo & Ferreira, 1998) define as características de um
estudo de caso qualitativo, que se adaptam a este estudo:
135
professoras dessa escola. A natureza hermenêutica do estudo pode colocar problemas ao
nível da análise de dados, ou seja, outros estudos, noutros contextos semelhantes,
podem chegar a resultados diferentes; daí que a impossibilidade de generalização das
conclusões seja outra limitação a ter em conta.
Partindo, no início do século XX, de uma conceção que via no investigador uma figura
“assética”, obrigada a manter uma total “independência” face aos observados,
limitando-se a conciliar o relato das suas observações com as informações fornecidas
pelos observados, foi-se evoluindo para uma “perspetiva multimetódica”, pela
impossibilidade de um único método ser
136
Ao permitir estudar um fenómeno no seu real contexto, o estudo de caso tem-se
revelado uma estratégia de investigação muito pertinente e adequada à realidade
socioeducativa. As suas questões típicas são o como?, o porquê? e de que forma? e
procuram respostas que evidenciem a unidade e identidade própria do caso ou seja, que
estabeleçam uma relação entre os factos recolhidos e a sua interpretação.
Ludke e André (1986) afirmam que o interesse do estudo de caso incide naquilo que ele
tem de único, de particular, preservar e compreender o “caso”, no seu todo e na sua
unicidade, mesmo que posteriormente fiquem evidentes certas semelhanças com outros
casos ou situações.
Face às situações do quotidiano Stake (2005) defende que certos casos, como seja a
curiosidade por novos procedimentos ou mesmo um programa de reforma, se impõem
irrecusavelmente ao profissional de educação como uma plausível investigação, que
designa por estudo intrínseco de caso. Afigurou-se pertinente ancorar neste tipo a minha
investigação.
137
proporcionar conhecimento acerca do fenómeno estudado,
ser um bom "ouvinte" e não ser apanhado pelas suas ideologias ou preconceitos;
ser adaptável e flexível, de modo a que situações novas encontradas possam ser
vistas como oportunidades e não como ameaças;
ter um domínio forte dos assuntos a serem estudados. Tal domínio permite
concentrar-se nos acontecimentos e informações relevantes a serem procurados;
não deve ser preconceituoso nem ter ideias preconcebidas, incluindo aquelas que
derivam da teoria. Assim, deve ser sensível e recetivo a provas contraditórias.
138
investigador e dos sujeitos estudados faz parte do processo de
investigação. (Flick, 2005, p. 6)
Bogdan e Biklen (1994) atribuíram à investigação qualitativa cinco características que
estão em sintonia com a investigação por mim desenvolvida:
(1) a fonte direta dos dados é o ambiente natural, e o investigador é o principal agente
na recolha desses mesmos dados – a investigação privilegiou a observação da sala de
aula, o ambiente natural, onde estive presente semanalmente em duas aulas de cada
professora;
(4) a análise dos dados é feita de forma indutiva – só depois de começar a recolher os
dados e observando a forma como as professoras foram envolvendo os alunos foi
possível ir construindo o quadro, havendo mesmo abertura, caso tal se revelasse
conveniente, para proceder à reformulação de algumas questões da investigação ou até
mesmo à formulação de novas questões;
(5) o investigador interessa-se, acima de tudo, por tentar compreender o significado, que
os participantes dão às suas experiências – foi interessante perceber qual o significado
atribuído pelas professoras às diferentes ocorrências da sua sala de aula, tendo em conta
a formação inicial muito distinta, uma das línguas outra das ciências. Também me
parecia interessante perceber se o grupo disciplinar a que pertencem interfere na forma
como fazem a gestão da sua sala de aula.
Foi uma preocupação, ao longo de toda a investigação, não me deixar influenciar pelo
conhecimento profundo que tenho das pessoas em si mas, principalmente, do trabalho
que têm desenvolvido e que acompanho de muito perto há mais de vinte anos uma das
professoras e há mais de dez anos a outra.
139
Apresento os passos que considero determinantes num estudo de caso e que elenquei
como orientações a seguir na preparação da investigação:
Tendo sido respeitados estes passos chegou agora o momento de finalizar a investigação
com a preparação do relatório.
Parti para esta investigação, com este design, exatamente por conhecer, de uma forma
impressionista, o trabalho desenvolvido. Pretendia conhecer esse trabalho de uma forma
empírica, a partir da aplicação de uma metodologia de investigação para confirmar, ou
não, as minhas convicções de partida, mas que acima de tudo, procurar dar resposta às
questões da investigação.
140
Para perceber o que se passa na sala de aula nada melhor que recolher informação junto
dos alunos, observando o que fazem e ouvindo o que dizem. Essa recolha foi
concretizada no diário de campo, construído a partir da observação de um número
considerável de aulas. A triangulação desta observação com a análise de entrevistas
semiestruturadas, realizadas aos alunos organizados em grupos focais, veio permitir
perceber como os alunos se posicionaram nas disciplinas objeto de investigação.
Foi também importante triangular a informação recolhida junto dos alunos, pela
observação e pelas entrevistas com grupos focais, com as entrevistas realizadas com as
professoras.
Apoiei-me no conceito apresentado por Bogdan e Biklen (1994, p.75) para quem “a
ética consiste nas normas relativas aos procedimentos considerados corretos e incorretos
por determinado grupo”. Estes investigadores apontam dois aspetos que consideram
fundamentais no respeito da ética relativa à investigação onde participam sujeitos
humanos, são eles o consentimento informado e a proteção dos sujeitos que participam
na investigação.
Fui mantendo, ao longo de toda a investigação, um respeito pleno pelos cuidados éticos,
nomeadamente os considerados na Carta Ética para a Investigação em Educação e
Formação do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, assegurando:
Foi dada autorização escrita, por parte do diretor da escola, para que se realizasse a
investigação, após a mesma ter sido solicitada por mim antes de dar início ao projeto.
Logo no início da investigação, na primeira aula de cada turma e em reuniões com os
141
encarregados de educação, foram dados os devidos esclarecimentos sobre o objetivo
mas também a metodologia a serem seguidos na investigação, tendo-lhes sido dada a
garantia de que em nenhum momento os participantes seriam identificados se fosse essa
a sua vontade. Tendo em conta que as gravações áudio e vídeo serviriam apenas de
suporte às transcrições das entrevistas elas tiveram o consentimento de todos. Apenas
uma encarregada de educação não autorizou a participação do seu educando nas
entrevistas com grupos focais, por uma questão de princípio. Foi apresentado, de forma
sucinta, o cronograma da investigação e a forma como os alunos participariam na
mesma.
Foi importante a confiança estabelecida entre alunos e investigadora, o que permitiu que
aqueles se sentissem muito à vontade para exprimirem as suas opiniões sobre a forma
como foi evoluindo o ano letivo, estabelecendo mesmo muitas comparações com o que
viveram ao longo da sua escolaridade. Esta confiança foi confirmada pela grande adesão
dos alunos às entrevistas com grupos focais e à forma empenhada como o fizeram,
manifestando a sua satisfação por serem chamados a partilhar as suas opiniões e
reflexões. Apesar de darem autorização para a participação no estudo, e de essa
participação ser voluntária, tanto os alunos como os seus encarregados de educação
poderiam desistir, a qualquer momento, interrompendo essa participação, o que não
aconteceu.
142
garantir o seu anonimato. Toda a pesquisa foi realizada respeitando a transparência e o
rigor próprios de uma investigação desta natureza, sendo os vários registos áudio e
vídeo uma garantia desse rigor e transparência.
Participantes do estudo
A recolha de dados realizou-se no ano letivo 2015/2016, razão pela qual só nos finais de
setembro de 2015 foi possível selecionar as duas turmas de 12º ano a envolver na
investigação, por estar dependente do serviço letivo distribuído às referidas professoras.
As turmas foram selecionadas por conveniência devido à necessidade de conciliar o
143
meu horário letivo com os horários das referidas professoras e são diferentes porque as
professoras objeto da investigação não tinham nenhuma turma em comum.
Raparigas Rapazes
12º B Matemática 20 11
12º C Inglês 8 9
Recolha de dados
Através da observação de aulas, entrevistas aos alunos com grupos focais, entrevistas
semi-estruturadas às professoras e outras fontes que apesar de secundárias também são
importantes, foi possível proceder à recolha dos dados. Estes instrumentos são descritos
no Quadro 10 onde apresento as suas vantagens e desvantagens mais significativas.
144
Quadro 10 – Instrumentos utilizados para recolher os dados da investigação
É variável, mesmo nos estudos de caso, o papel desempenhado pelo observador, que
pode ir desde o participante completo até ao observador completo, o que leva a que as
tipologias variem consoante os autores.
Alguns autores (Merriam, 1998; Yin, 1994) alertam para o risco do investigador que se
posiciona como “observador participante ”, por poder interferir e influenciar os próprios
145
sujeitos, mas também para as excelentes oportunidades que esse papel pode
proporcionar.
Vários autores (Goetz & LeCompte, 1984; Ludke & André, 1986) alertam para os riscos
da observação, nomeadamente as distorções provocadas pelo envolvimento emocional
do observador ou a sua influência no comportamento dos participantes, provocando-lhe
alterações. Torna-se necessário tomar algumas medidas que possam minimizar esses
constrangimentos: desenvolver uma ação prolongada no tempo, confrontar as
expectativas do investigador com o que vai observando (Ludke & André, 1986), manter
alguma distância durante alguns períodos de tempo (Goetz & LeCompte, 1984) e
utilizar em simultâneo vários métodos de recolha de dados (Adler & Adler, 1998).
Para a minha investigação, a observação participante realizada ao longo do ano foi útil,
não só para fazer a triangulação dos dados mas também para:
No seu horário semanal a turma 12ºC tinha dois blocos de 90 minutos para lecionação
da disciplina de inglês tendo eu assistido semanalmente a um desses blocos, à 4ª feira
146
entre as 11h45m e as 13h15m. Já a turma 12ºB tinha três blocos de 90 minutos para a
lecionação de matemática tendo eu assistido semanalmente a um desses blocos, à 5ªfeira
entre as 10h e as 11h30m.
As notas de campo, apoiadas pela gravação em audio das aulas observadas, foram
constituídas por dois tipos de materiais: uma parte descritiva onde houve a preocupação
de captar, através de palavras, a “imagem” do local; uma parte reflexiva onde foi
apresentado o ponto de vista do observador, refletido nas suas ideias e preocupações.
Na parte reflexiva das notas de campo é possível encontrar frases e parágrafos que
reflitam uma análise pessoal sobre as observações, em si mesmas, ou relativas ao
desenvolvimento da investigação, onde se poderão englobar especulações, sentimentos,
problemas, ideias, palpites, impressões ou mesmo preconceitos.
Tal como das entrevistas, também é possível retirar das notas de campo, resultantes da
observação, os dados, que mais não são que “materiais em bruto que os investigadores
147
recolhem do mundo que se encontram a estudar; são os elementos que formam a base da
análise.” (Bogdan & Biklen, 1994, p. 149).
Mais importante do que aquilo que se observa é a qualidade dos registos do observador
porque, na realidade, esses são os dados que serão sujeitos à análise do investigador
(Angrosino, 2012).
A realização de entrevistas com os alunos das duas turmas, em grupos focais, realizadas
no final do ano letivo, tiveram como objetivo facilitar o surgimento de informações
mais ricas e variadas sobre as diferentes experiências vivenciadas pelos alunos.
As entrevistas com grupos focais, cuja origem se situa em meados do século XX,
apareceram para, em parte, contrariarem o método do entrevistador-dominador,
contrapondo com um entrevistador “flexível, objectivo, persuasivo, bom ouvinte e
capaz de criar empatia com o grupo.” (Aires, 2011, p. 37).
Envolvem as pessoas, o que implica a formação de grupos que não sejam nem
demasiado grandes nem demasiado pequenos;
Têm em conta características comuns dos participantes o que possibilita que todos
forneçam informações acerca do mesmo assunto;
148
Ao serem colocadas de uma forma simples e de acordo com uma sequência lógica as
questões devem facilitar a compreensão dos assuntos tratados.
Foi deixado ao critério dos participantes a formação dos grupos, quatro, cinco ou seis
elementos por grupo, e a participação foi facultativa, isto é, só participaram nas
entrevistas os alunos que o quiseram fazer e caso o seu encarregado de educação
autorizasse essa participação, quando os alunos eram menores de dezoito anos.
No início do ano letivo foram explicados, à diretora de turma e aos alunos, os objetivos
e os moldes em que a investigação iria decorrer, no sentido de facilitar o cumprimento
dos formalismos e o acordo dos pais e encarregados de educação para um
“consentimento informado” da participação dos seus educandos. Este consentimento
(Fontana & Frey, 1994; Punch, 1994) resultou de uma informação clara por parte da
investigadora aos participantes, e aos seus encarregados de educação no caso de aqueles
serem menores, quanto aos objetivos a que se propunha e os processos que pretendia
utilizar.
A realização das entrevistas na última semana de aulas do ano letivo, em que os alunos
já estão libertos da grande carga emocional dos testes e avaliações finais, nas várias
disciplinas, proporciou um ambiente mais descontraído e, em simultâneo, uns
participantes mais reflexivos sobre as suas vivências ao longo de todo um ano letivo.
Estas entrevistas foram registadas em vídeo para posteriormente ser realizada a sua
transcrição integral.
149
Relativamente ao papel do moderador na condução das entrevistas Kreuger e Casey
(2000, p. 4) consideram-no determinante pois ele será o responsável pela criação do
“ambiente tolerante dos grupos focais que encoraja os participantes a partilhar
perceções e pontos de vista, sem que os participantes sofram pressão para votar ou
encontrar consensos.” Gauthier (2004, p. 332) complementa, referindo que o moderador
deve conseguir realizar “uma prova de atenção sustentada e exprimir subtilmente o seu
desejo de compreender” garantindo que “os participantes devem ter plena confiança na
neutralidade” do moderador para que, no caso de surgirem opiniões contraditórias,
sintam que podem exprimir a sua opinião, independentemente de ser diferente ou
mesmo contrária à exposta anteriormente.
Enquanto moderadora das entrevistas, procurei adotar sempre uma postura de ouvir com
toda a atenção, sensibilidade e respeito, no sentido de compreender a perspetiva de cada
participante, mesmo nos contributos mais reduzidos ou mais tímidos, num ambiente
propício à participação e partilha das diferentes opiniões.
Inicialmente tinha previsto constituir apenas três grupos de alunos em cada turma mas
na turma do caso de matemática, que tinha trinta alunos, vinte e cinco deles
manifestaram grande interesse em participar e, por essa razão, acabei por trabalhar com
cinco grupos. Nessa mesma turma um dos alunos manifestou vontade em participar mas
a sua mãe, professora de profissão, não autorizou a participação dos seu educando na
entrevista argumentando que nunca autorizava essas participações, apesar de o seu
educando já ter dezassete anos. Nesta turma dois alunos que tinham autorização para
participar acabaram por não o fazer por terem confundido o horário combinado
previamente com o seu grupo o que levou a que o grupo que tinha sido constituído com
seis elementos acabasse por ficar apenas com quatro. Também nesta turma não
150
participaram nas entrevistas dois alunos que estavam apenas a frequentar a disciplina de
matemática. No total participaram nas entrevistas com focus groups vinte e três alunos
no caso da disciplina de matemática e dezasseis alunos no caso da disciplina de inglês.
Em qualquer uma das entrevistas com grupos focais apenas esteve presente o respetivo
grupo de alunos e eu, a investigadora, que tinha o duplo papel de operadora da câmera
de video, ligando-a no início e desligando-a no final, e de entrevistadora.
Com cada uma das professoras foram realizadas duas entrevistas semi-estruturadas, uma
no início e outra no final do ano letivo, sendo estas últimas desenvolvidas de acordo
com os objetivos definidos, decorrentes não só das questões de investigação mas
também das entrevistas com grupos focais previamente realizadas aos alunos. Estas
entrevistas com as professoras foram objeto de gravação audio de modo a realizar
posteriormente a sua transcrição integral.
Apesar de ter uma importância muito reduzida, quando comparada com os métodos de
recolha de dados já referidos, recorri à recolha documental para clarificar algumas
ideias e enquadrar alguns dos aspetos resultantes da aplicação das outras técnicas. Nos
documentos analisados constaram as pautas de registo das classificações de final de
período das turmas e diversos tipos de materiais usados pelas professoras na sua prática
de ensino e avaliação.
151
Análise de dados
É necessário entender o texto como parte de uma cadeia de comunicação razão pela qual
temos que perceber quem diz o quê, com que sentido, para quem e com que efeito.
Analisar os dados é um processo e com ele pretende-se ordenar, estruturar dar sentido
aos dados recolhidos durante a investigação (Marshall & Rossman, 1999).
Os dados recolhidos foram tantos e tão variados que houve a necessidade de deixar de
parte, joeirar, os dados que apesar de interessantes e reveladores de particularidades
152
importantes não cabiam nesta investigação, por não contribuirem para a resposta às
questões da investigação.
Objetivos Aprendiz. e
PRÁTICAS
AUTOAVALIAÇÃO
Critérios Avaliação
DE ENSINO
PRÁTICAS
AVALIATIVAS
Na investigação qualitativa os dados não são reduzidos mas sim trabalhados para que
possam ser agregados num número reduzido de domínios, entre cinco a sete, segundo
Creswell (2013), tendo na minha investigação optado por seis, de que dou conta no
Quadro 11. Estes domínios surgiram a partir das questões da investigação e já serviram
de suporte à organização da revisão da literatura.
153
Muitas investigações qualitativas levam à apresentação de novas teorias e
novas explicações. Por essa razão a lógica seguida será indutiva porque a
partir dos dados recolhidos vão-se desenvolvendo teorias e conceitos
capazes de produzir e justificar novas generalizações permitindo criar
novos conhecimentos e formas de compreensão (Gibbs, 2012, p.24).
Todas as tarefas, nomeadamente a gravação e transcrição, foram realizadas por mim,
com o objetivo de transformar em texto escrito os dados recolhidos. Fiz a transcrição na
íntegra dos registos em audio e em vídeo, palavra por palavra e registando alguns
aspetos não verbais que tenham sido observados nos videos, como foi o caso dos risos,
por exemplo, de modo a contruir um texto bastante próximo da linguagem natural, para
não correr o risco de omitir dados que, parecendo pouco pertinentes no início poderiam
mais tarde vir a revelar-se muito importantes (Maxwell, 1996; Strauss & Corbin, 1990).
O único aspeto negativo foi a enorme quantidade de tempo consumido nesta etapa mas
o facto de todas as transcrições terem sido feitas por mim foi uma mais valia pois não só
levou a que todas as entrevistas fossem transcritas da mesma forma e seguindo os
mesmos princípios como possibilitou que uma vez terminadas todas as transcrições
tivesse já uma profunda imersão nos dados recolhidos.
Concordo com Strauss e Corbin (1990, p. 59) quando consideram que “a recolha e a
análise de dados são processos estreitamente ligados”.
A atribuição de códigos permite, por um lado, analisar o conteúdo do texto e, por outro,
fazer a recuperação ordenada das secções do texto que se relacionam tematicamente. É
muito importante que o processo de codificação seja fiável e para garantir que assim
acontece tem de ser realizado de forma sistemática e coerente. “O modo como as
categorias são definidas ... é uma arte” (Krippendorff, 1980, p.76).
Etapa 1 - Fazer uma primeira leitura do texto como um todo e, no final, elaborar notas
sobre o mesmo:
Etiquetar os códigos;
155
Etapa 3 – Codificar o texto:
Rever os códigos;
Pensar em agrupamentos;
De uma forma muito simplista pode dizer-se que fazer análise qualitativa é ler o texto e
recolher informação (Gibbs, 2012). Na realidade a investigação qualitativa procede à
análise dos dados qualitativos que dificilmente poderiam ser codificados em números.
156
Aqui, mais do que os números, o realce vai para as palavras, as emoções, os sentimentos
e, graças a eles, é possível ir para além de uma simples descrição. Temos um bom
exemplo na expressão “piscar de olhos”, que pode ir da simples manifestação de uma
sincinesia (contração parasita de um músculo) até um código altamente elaborado e de
variados significados em função da situação e dos interlocutores (código de
comunicação entre jogadores de uma mesma equipa).
Gibbs (2012) faz referência a alguns cuidados que o investigador deve observar no
processo de codificação:
Saber qual o código e qual a sua definição, para o aplicar de forma semelhante
ao texto;
Com a codificação foi possível partir para um maior nível de abstração ao organizar
estes conceitos em conceitos mais genéricos, estabelecendo relações entre uns e outros,
no que se designa por categorização.
A categorização pode ser feita com categorias prévias, isto é, definidas antes de se
proceder à análise dos dados, ou com categorias emergentes, ou seja, identificadas a
partir da leitura dos dados, podendo mesmo refletir ideias ou conceitos que ainda não
existiam no início da investigação. Iniciei a codificação com categorias previamente
definidas, distribuídas por dois domínios no caso das práticas de ensino (Quadro 12) e
por quatro domínios no caso das práticas avaliativas (Quadro 13), tendo a preocupação
de assegurar que elas refletissem os conceitos mais importantes resultantes da revisão da
literatura e da própria investigação projetada.
157
Quadro 12 – Categorias prévias para a prática de ensino
158
Identificando as relações que se vão estabelecendo ao longo da análise as quais
podem conduzir ao estabelecimento de inferências ou de consequências.
159
CAPÍTULO VI - Leonor, uma professora de Inglês
Professora Leonor
Com um exercício de trinta e três anos de atividade docente, a maior parte deles a
lecionar a disciplina de inglês, no 3.º ciclo do ensino básico e no ensino secundário, a
professora Leonor, nome fictício escolhido por si, foi selecionada para este estudo pelo
conhecimento profundo que já tenho sobre as suas práticas inovadoras, quer de ensino
quer avaliativa, sustentado numa investigação qualitativa documentada numa
dissertação de mestrado (Vieira, 2013).
Nunca fiz formação específica nem das práticas de sala de aula nem das
práticas avaliativas! Eu comecei a mudar o que fazia na minha sala de
aula quando comecei a perceber que o processo deveria estar centrado no
aluno e não no professor. Percebi que o meu papel deveria ser dar aos
alunos as ferramentas para, a todo o momento, perceberem se o caminho
que estavam a percorrer estava correto ou não e, neste caso, dar-lhes as
pistas que lhes permitissem corrigir, reformular. (Leonor, entrevista
inicial)
161
e defendendo a ideia que a formação se faz em comunicação e cooperação entre pares,
através da valorização do trabalho em equipa e no exercício coletivo da profissão
(Nóvoa, 2009):
(...) o professor tem que estar atento, criar confiabilidade nas relações e
fazer entender que, apesar de esta sala de aula ser um ambiente seguro e
controlado, a diversidade está ali e lá fora também será assim. É um
espaço privilegiado de aprendizagem? Claro que sim! Não poderia ser de
outro modo mas é, acima de tudo, onde desenvolvemos competências
para aprender a ser, a estar, a conhecer, a fazer, despertando e
alimentando a vontade para continuarem assim, a desenvolverem-se
como pessoas, contribuindo para uma sociedade de bem-estar,
sustentável ao longo da vida. (Leonor, entrevista inicial)
A formação que procurou e que a ajudou a alterar as suas práticas de sala de aula
levaram-na a atribuir ao aluno um papel diferente daquele que é atribuído pela maior
parte dos seus colegas:
(...) os alunos são os verdadeiros líderes da sala de aula, porque lhes foi
dada a oportunidade de se reinventarem e de assumirem, como nunca até
aqui, as verdadeiras responsabilidades de aprender: na assunção de
compromissos de valor moral e ético; na abordagem positiva do erro, e
no valor intrínseco do feedback enquanto construtor de aprendizagens.
(Dissertação de Mestrado , 2013, p.136)
Na minha sala de aula os alunos são parceiros, porque não pode ser de
outra forma. Os nossos jovens já não são mais entidades absorventes de
conhecimento debitado. Eles são os construtores do próprio
conhecimento! Ou seja, as dinâmicas da sala de aula não são mais que o
espelho da sociedade em que as interações pessoais se sucedem em
diálogos, questionamentos, novas ideias. Assim eu, professora, não posso
ter a presunção de ensinar doutamente. A minha posição é mais a de um
especialista, pedagogo, que orienta a busca e, quando necessário, se a
situação assim o exigir, condiciona e baliza o caminho que se segue.
Nesta perspetiva, não temos uma sala de aula entre iguais, porque não o
somos, mas igualitária em que eu aprendo e eles me ensinam, quanto
muito a ser melhor profissional e eu ensino a aprender, a ser, a estar, a
conhecer. (Leonor, entrevista inicial)
O conhecimento mais profundo que tenho da forma como a professora Leonor trabalha
iniciou-se com um projeto que desenvolvemos em conjunto e com o qual levámos três
alunas da escola a representar Portugal num projeto europeu:
164
importantes e podem fazer a diferença no envolvimento dos alunos com a
construção das suas aprendizagens. (Leonor, entrevista inicial)
Segundo Leonor, muitas das experiências que foi vivendo na escola, dentro e fora da
sala de aula, e muitas vezes devido à reação que foi recebendo dos alunos, fizeram-na
sentir a premência de mudar as suas práticas de ensino de modo a que os seus alunos
estivessem completamente envolvidos nas tarefas realizadas na sala de aula:
Talvez seja difícil para alguém de fora perceber, mas a minha sala de
aula ideal é quando alguém bate à porta, por qualquer motivo, eu levanto
a cabeça e a pessoa pergunta: “Não está cá a professora?!!!!!” Mas
atenção! Não existe caos! Nem indisciplina! Jamais o permitiria!!!
Estamos simplesmente a trabalhar! Em conjunto! Co-la-bo-ra-ti-va-men-
te!!!!! (Leonor, aula 23 setembro)
Esta mudança de práticas de ensino acabaram por estar na génese dos episódios que a
professora apresenta como dos mais marcantes para o seu exercício profissional, embora
cada um deles em sentido contrário. Um pela positiva:
Tive há 3 anos uma turma que me marcou pelo trabalho que realizaram
ao longo do ano letivo. Inicialmente desenvolveram uma enorme
resistência ao trabalho que eu ia implementando em sala de aula e, ao
longo do ano letivo, os alunos foram evoluindo e envolvendo-se de tal
forma na metodologia de ensino que eu fui adaptando que os próprios
alunos reconheceram que se tinham tornado pessoas diferentes. (Leonor,
entrevista inicial)
e um outro pela negativa:
165
“demasiado à frente” dando azo a um grande entristecimento da minha
parte. (Leonor, entrevista inicial)
Quando num trabalho de investigação sobre as práticas de ensino, e as práticas
avaliativas que lhe estão subjacentes, se pergunta, na entrevista inicial, a uma professora
com trinta e três anos de serviço, em que momento da carreira se situa e ela responde:
As razões apresentadas pelos alunos para escolherem inglês como disciplina de opção
são muito semelhantes e dizem respeito à facilidade que sentem ter na aprendizagem
desta disciplina. A média da turma na disciplina é de catorze valores, tanto no décimo
como no décimo primeiro anos, daí que exista a convicção de ser possível melhorar essa
classificação e, consequentemente, melhorar a média final de curso, permitindo
candidatar-se ao ensino superior com uma melhor média de acesso:
A disciplina é fácil para mim e isso permite que tire uma boa
classificação o que vai ajudar a subir a minha média de acesso. (Anabela,
Entrevista I1)
166
A razão que me levou a escolher inglês foi por ter facilidades na
disciplina porque no 12.º ano a nossa grande preocupação é a média de
acesso à universidade. (Custódio, Entrevista I2)
Tinha que fazer a opção entre inglês e psicologia e escolhi inglês. Além
disso inglês foi sempre uma disciplina fácil para mim pois com pouco
trabalho tinha sempre boas notas. (Rodolfo, Entrevista I3)
Essa facilidade na disciplina também aparece associada a não ter necessidade de
trabalhar muito para garantir bons resultados:
Sempre adorei inglês e já tinha tido esta professora. Quando soube que a
professora iria lecionar o 12.º ano, fiz a opção. (Gonçalo, Entrevista I3)
Esta ideia generalizada de que seria uma disciplina onde conseguiriam obter bons
resultados, sem terem necessidade de realizar muito trabalho, acabou por não se
167
confirmar porque uma das características mais marcantes, apontadas por todos no final
do ano letivo, foi exatamente a quantidade de trabalho realizada:
168
permita melhorar a sua nota de candidatura. Um aspeto bastante importante, nem
sempre do conhecimento dos alunos, é o peso que a disciplina anual de opção tem na
média final do ensino secundário, uma ponderação semelhante a qualquer outra
disciplina, mesmo que seja bienal ou trienal.
Numa sala de aula pouco adianta constatar que os alunos não estão envolvidos. O que
realmente importa é que o professor seja capaz de encontrar resposta para a questão
Como posso tornar a minha sala de aula mais envolvente para os meus alunos? (Zepke,
2013).
169
Na aula de inglês os alunos estiveram sempre envolvidos no trabalho que lá se realizou,
levando a que se sentissem membros de uma comunidade de aprendizagem:
Ações da professora
As práticas desenvolvidas pela professora tiveram a intenção de incentivar o
envolvimento cognitivo de todos os seus alunos:
Como são eles próprios a definir o trabalho que vão realizar e como o
vão realizar, que deriva do seu próprio pensamento e das suas reflexões,
respeitando os objetivos e as regras estabelecidas, ganham uma grande
autonomia e imprimem um ritmo muito próprio. (Leonor, entrevista
final)
Só pelo facto de não sentirmos uma obrigação já ajudou a que houvesse
uma maior motivação para trabalhar na disciplina, fazendo os trabalhos,
discutir com os colegas de grupo a estrutura do trabalho, ter mais cuidado
com a apresentação do trabalho porque a fasquia ia estando cada vez
mais alta, tudo isso foi motivador para tentar sempre fazer melhor.
(Almerindo, entrevista I3)
Persiste em muitos professores a convicção de que o professor tem que ser o dono da
aula e, para tal, deve manter uma atitude austera que alguns confundem até com
autoritária. A professora Leonor, pelo contrário, adotou uma postura de parceria,
170
incentivando os alunos a assumirem em aula atitudes de liderança, apoiadas no
desenvolvimento de práticas autorregulatórias:
171
Graças ao brainstorming que realizámos na aula de hoje conseguimos
definir o problema a que o nosso projeto ia procurar dar resposta e, de
seguida, definimos as estratégias que iríamos seguir no desenvolvimento
do projeto. (Joaquim, aula 20 janeiro)
Habituei-me durante 5 anos a encontrar qualquer coisa para me distrair
nas aulas porque aquilo para mim era muito desinteressante porque sabia
mais do que aquilo que era trabalhado nas aulas. Este ano não senti isso
pela primeira vez porque estava nas aulas sempre a trabalhar e quando
não estava a trabalhar estava a ver a apresentação de um colega e a
participar na respetiva discussão. (Aníbal, entrevista I3)
Em termos de envolvimento comportamental e pela observação realizada nas aulas, foi-
me possível constatar um ambiente de trabalho amistoso e empenhado na realização das
diversas atividades, sem relato de quaisquer problemas de assiduidade ou de
comportamentos fora da tarefa:
172
aquela criou, em parte também pelas atividades que eram planeadas e realizadas pelos
alunos:
(...) de um modo geral quando cometem erros são penalizados por isso e,
portanto, eles evitam fazer o que é diferente do habitual para não correr
esses riscos. E, por isso, os alunos têm tantas dificuldades no início na
oralidade refugiando-se na timidez para não falarem em inglês porque
têm medo de errar. (Leonor, entrevista inicial)
O facto de termos realizado trabalhos com mais qualidade fez com que a
apresentação do trabalho deixasse de ser uma obrigação e um momento
de stress para se tornar num momento de satisfação por apresentarmos
aos nossos colegas algo que queríamos mesmo partilhar com eles porque
nós próprios estávamos satisfeitos com a qualidade do trabalho realizado.
(Tiago, entrevista I2 )
O envolvimento cognitivo dos alunos foi um aspeto trabalhado por Leonor, porque
entende que os alunos devem participar ativamente na construção da sua aprendizagem:
Para mim são os alunos que importam e daí interessa-me que o aluno
faça intervenções, questione, argumente. (...) Na minha sala de aula é
meu objetivo que os meus alunos sintam a necessidade de aprender
sempre mais. (Leonor, entrevista inicial)
Acabámos por trabalhar muitos temas em aula, em trabalhos realizados
por nós ou por colegas, que aumentaram muito os meus conhecimentos,
porque se não fosse através dos trabalhos eu nunca teria tido contacto
com estas temáticas. Falámos dos mais variados assuntos, uns mais
controversos outros nem tanto, mas tudo isso permitiu uma grande
participação da turma nesses debates. (Célia, aula 25 maio)
O video que produzimos, o video que o grupo do Manuel produziu, são
motivo de orgulho para quem os produziu e muita satisfação em poder
partilhar com a turma o que conseguimos realizar. (Cristiano, entrevista)
173
Leonor preocupou-se em envolver os alunos em todas as tarefas realizadas na aula e a
estratégia que utilizou foi levá-los a decidir o que queriam fazer e de que forma,
rentabilizando as suas capacidades e competências e satisfazendo os seus interesses.
(...) acho que este ano o nosso ambiente de turma melhorou muito e para
isso também contribuiu muito o tipo de trabalho que desenvolvemos na
disciplina de inglês. (Palmira, aula 25 maio)
Segundo Leonor, uma forma de garantir o envolvimento dos alunos é ouvindo o que
têm para dizer, mas não adianta pedir ao aluno uma opinião quando ela não vai alterar
em nada a decisão que já está tomada pelo professor. O diálogo regular entre alunos e
professor deve ajudar a definir o que fazer e o como fazer:
174
(...) tivemos a possibilidade de abordar uma enorme variedade de temas o
que contribuiu muito para aumentar a nossa cultura geral. (Júlia, aula 25
maio)
O investimento que fizemos foi muito importante porque acabámos por
produzir um trabalho que nos deu gozo, que nos proporcionou uma boa
classificação e que também foi uma mais valia para os colegas através da
apresentação que fizemos. E dessa forma ficámos todos a ganhar.
(Palmira, entrevista I2)
Para garantir o comprometimento dos alunos com a aprendizagem foi muito importante
o trabalho realizado ao longo do ano, que era lançado pela professora mas agarrado e
trabalhado pelos alunos, escolhendo o percurso que fazia mais sentido e era mais útil
para eles, porque estava em sintonia com os seus interesses e eram adequados às suas
competências:
Este espaço para os alunos se darem a conhecer também foi um importante contributo
para o seu maior envolvimento:
(...) foi muito importante o trabalho que desenvolvi este ano porque
ganhei mais confiança nas minhas capacidades e cheguei à conclusão que
era mais criativa do que aquilo que pensava porque a professora e os
meus colegas também me deram feedback nesse sentido. (Efigénio,
entrevista I1)
(...) todos trabalharam muito mais do que aquilo que pensavam à partida
(Palmira, entrevista I2)
Desde a massificação da escola que os alunos são agrupados em turmas e o professor
prepara o seu ensino para a turma e, mais concretamente, para um aluno mediano que
muitas vezes nem existe (Rodrigues, 2015). Ensinar para o aluno mediano leva a que
muitos alunos não se identifiquem com as tarefas nem tão pouco com os objetivos que
lhe são propostos, para alguns alunos demasiado ambiciosos para as poucas
175
competências desenvolvidas até ao momento mas, noutros casos, desinteressantes e
pouco estimulantes para um aluno curioso e sempre à procura do desafio.
Diferenciação Pedagógica
A aula tem que estar à medida dos alunos que tenho e daquilo que eles
são. Tenho linhas estruturantes mas não tenho um plano discriminado
para desenvolver a aula. (Leonor, entrevista final)
Durante a observação das aulas também dei conta das estratégias promotoras da
diferenciação pedagógica, implementadas por Leonor, trabalhando com grupos com
diferente desenvolvimento:
Foi dada aos alunos a opção de selecionarem não só o produto final que
seria apresentado à turma, como também o caminho que seguiriam no
tratamento do tema aglutinador “Fernando Pessoa”. (Diário de Campo, 7
outubro)
Os diferentes grupos, pelas suas características e pela capacidade de
autorregulação, estão com desenvolvimentos diferentes pelo que foram
objeto de observações distintas. Um dos grupos está em “velocidade de
cruzeiro”. Sabem exatamente o que querem fazer e como fazê-lo. Um
outro grupo já tem a ideia do que pretende realizar mas ainda não sabe
como operacionalizar essa ideia. Um outro grupo tem ainda muitas
dúvidas sobre como fazer, mas também sobre o que fazer. (Diário de
Campo, 20 abril)
Ações da Professora
Todo o trabalho que se desenvolve na sala de aula está sustentado num aspeto
fundamental – o “grande conhecimento” que a professora tem dos seus alunos.
176
Em sala de aula é muito fácil conhecer os alunos porque começamos o
ano letivo com um trabalho individual em que os alunos se apresentam à
turma, com liberdade total para a sua apresentação. Os alunos falam
sobre si, sobre o que quiserem, que pode ser sobre uma música, um livro,
um desporto que praticam, ou uma abordagem mais intimista acerca da
sua personalidade ou dos gostos ou anseios, o que quiserem. A
apresentação à turma pode demorar cinco a dez minutos e logo aí eu fico
com um grande conhecimento dos alunos e tenho o cuidado de tomar as
minhas notas sobre os mesmos.
(...) a minha experiência ensinou-me que posso usar esse conhecimento
para orientar futuros trabalhos desses alunos no sentido de aproveitar o
que eles têm de melhor. E posso dar um exemplo. Um aluno que refere
na sua apresentação que tem como preferência musical o HardRock,
quando abordarmos o tema do multiculturalismo eu vou solicitar-lhe que
ele apresente uma música que aborde as questões raciais, por exemplo.
Eu aproveito os gostos e características dos alunos para abordar as
diferentes temáticas. (Leonor, entrevista final)
Só conhecendo os alunos é possível implementar um ensino diferenciado porque
permite adequar o currículo, e a forma como ele é trabalhado, aos interesses,
motivações, dificuldades, capacidades, desses alunos e a todos eles (Jiménez Raya &
Lamb, 2003). É a partir desse conhecimento que a professora consegue organizar o
plano de trabalho a desenvolver com a turma e que vai sustentar uma abordagem
diferenciada com todos os alunos, em função das suas particularidades e necessidades
individuais:
178
até agora – outside the box! Não tenham medo de correr riscos e de
cometer erros porque só cometendo erros e corrigindo-os podemos
chegar mais longe. Não tenham medo de seguir um caminho diferente do
que têm seguido até agora ou escolher uma solução diferente dos vossos
colegas porque todos são diferentes. (Leonor, aula 23 setembro)
Pretende-se que haja uma evolução positiva na qualidade dos trabalhos
mas também nas próprias ferramentas que usam para a sua elaboração.
Também espero que vão evoluindo do fazer o que é pedido para serem
vós próprios a traçar o vosso caminho e a decidir o que querem fazer por
isso ser o que mais se adequa à construção das aprendizagens que
pretendem desenvolver. (Leonor, aula 7 outubro)
179
No ano anterior estávamos mais habituados a trabalhar de forma mais
individualizada e o que produzíamos era apenas para nos valorizar em
termos de conhecimento. Este ano foi diferente. Aprender a trabalhar em
grupo, o que é diferente de cada um fazer uma parte do trabalho e depois
encadear as várias partes. (Palmira, aula 25 maio)
Pelo facto de habitualmente os alunos trabalharem a pares, a trios ou em pequeno grupo,
foi necessário por vezes negociar com os colegas de grupo de modo a satisfazer os
interesses e necessidades de todos. Este processo, de liderança do aluno na condução da
própria aprendizagem, foi sempre muito intencional por parte de Leonor:
Este ano tivemos que tomar decisões em conjunto, gerir as várias ideias e
ajustá-las e por vezes fazer mesmo cedências perante os argumentos dos
colegas e trabalhar assim em grupo. É uma grande aprendizagem para o
nosso futuro na universidade. (Efigénio, aula 25 maio)
As aprendizagens não foram só ao nível da língua porque tivemos que
aprender a trabalhar em equipa e ainda por cima com a equipa sempre a
variar. (Rodolfo, entrevista I3)
Embora o espaço físico, sala de aula, não seja determinante, ele pode ser um elemento
facilitador do planeamento e organização do trabalho a realizar (Gremmen et al., 2016).
Salvo raras exceções, a sala de aula manteve-se a mesma ao longo do ano e tinha
algumas particularidades que devem ser realçadas. Esta sala está situada no 2.º andar de
um bloco de cimento constituído por cinco salas de aulas, 2 laboratórios de informática
e 2 gabinetes. Este bloco tem também um piso térreo com outras salas de aula e
laboratórios. A sala de aula observada, situada na esquina do pavilhão voltada a sul, só
recebe o sol ao final da manhã, o que a torna extremamente fria durante o período de
inverno. Por não dispor de qualquer sistema de aquecimento e por a sala ter uma grande
dimensão, a sensação de frio durante as aulas foi grande ao longo de boa parte do ano,
obrigando todos a manter os casacos vestidos durante os 1.º e 2.º períodos. Por várias
vezes, foi solicitado um calorífero, mas o mesmo não foi proporcionado pela direção
180
com o argumento de que o sistema elétrico não estaria preparado para suportar vários
caloríferos, pelo menos um por sala, razão pela qual nenhuma sala o tinha.
Outra particularidade da sala de aula onde foi lecionada a disciplina de inglês, (fig. 6) é
estar equipada com 30 computadores, uma das três salas da escola com este número de
computadores. Este equipamento obrigava a uma organização da sala de forma diferente
do que é habitual, razão pela qual a quase totalidade dos professores da escola não
quererem esta sala como fixa no seu horário. Alguns professores manifestaram interesse
em ocupar esta sala mas apenas uma ou duas vezes por período.
Níveis de diferenciação
Em qualquer sala de aula os professores trabalham curricularmente com três elementos
distintos: o conteúdo, o que os alunos deverão aprender; o processo, a forma como os
alunos vão dar sentido às ideias e às informações que deverão aprender; e o produto, o
que os alunos realizam e que pode evidenciar as aprendizagens realizadas.
181
Estes níveis de diferenciação foram acontecendo ao longo do ano na aula de inglês,
encorajando o crescimento de todos para que alcançassem os objetivos de aprendizagem
estabelecidos. Houve diferenciação a nível dos conteúdos quando Leonor permitia aos
alunos que fizessem opções sobre o conteúdo a trabalhar:
São os alunos, neste caso cada par, que vão determinar qual o conteúdo
do seu trabalho, isto é, se vão analisar um poema e explicá-lo à turma, se
vão percorrer de uma forma geral a vida e obra de Fernando Pessoa ou se
vão centrar-se num determinado heterónimo. Só o tema é igual para
todos, Fernando Pessoa, a partir daí cada par decide qual o caminho a
seguir. (Leonor, aula 30 setembro)
Em simultâneo, houve também diferenciação na forma como essas aprendizagens foram
trabalhadas:
Para Leonor, mais do que ser dada a oportunidade de uma participação ativa e
diferenciada, deverá o professor incentivar e orientar os seus alunos de modo a que eles
próprios assumam a liderança da aula e, consequentemente, da sua aprendizagem:
O que eu espero dos meus alunos? Que corram riscos, não tenham medo
de errar, que vão à luta, que respondam aos desafios, que sejam solidários
com os colegas que precisam de ajuda pois um dia eles também vão
precisar de ajuda e, resumidamente, isto será a liderança na
aprendizagem. (Leonor, entrevista inicial)
Leonor várias vezes realçou que o mais importante nas suas aulas eram os alunos:
182
por isso tanto pode acontecer que acabamos o 1.º período a trabalhar já
temas que estavam previstos para o 2.º período como pode acontecer que
estamos a iniciar o 2.º período ainda a concluir o que estava previsto
finalizar no 1.º período. (Leonor, entrevista final)
A competência dos alunos para construírem, de forma autónoma, a sua própria
aprendizagem, é hoje considerada fundamental e apontada por muitos investigadores
(Vaterrott, 2014; Vieira, 2013, 2016; Zimmerman, 2008) como uma área a ser
trabalhada com os alunos, no sentido de estes serem chamados a participar ativamente e
a serem corresponsabilizados na construção da aprendizagem. Também é esse o sentir
de Leonor:
Devemos sempre tentar valorizar nos alunos aquilo que eles têm de
melhor e a partir daí ajudá-los a superar as suas dificuldades. (Leonor,
entrevista final)
Os assuntos em discussão eram sempre interessantes e tinham a ver
connosco, com a nossa vida e isso levava-nos a envolver nos debates.
(Henriqueta, entrevista I3)
Um outro aspeto a realçar nas aulas de Leonor, pela sua importância, é a preocupação
constante em conhecer os interesses dos alunos por aquilo que vai ser estudado,
refletido, trabalhado, debatido, fazendo a ponte entre esse conhecimento e o próprio
currículo da disciplina:
183
Pelo trabalho da professora, que acompanhei ao longo do ano, foi possível identificar
uma grande organização pessoal na procura sistemática das propostas de trabalho que
melhor se adequassem a cada aluno presente na sua sala de aula, com atividades que
fizessem sentido para eles:
A minha aula é estruturada em função dos alunos que tenho. Não consigo
fazer duas aulas iguais porque as turmas são diferentes e os alunos que as
compõem também. (Leonor, entrevista final)
Os grupos estiveram a trabalhar toda a aula no desenvolvimento do seu
projeto, com a professora circulando entre os diferentes grupos
observando, questionando, sugerindo, contribuindo para limar algumas
arestas nas respetivas apresentações. Foi possível constatar que alguns
grupos ainda estão um pouco atrasados na sua tarefa de critical thinking,
o que levantou alguma preocupação porque com este atraso os grupos
corriam o risco de não ter tempo de discutir com a professora a
estruturação dessa tarefa. (Diário de Campo, 11 maio)
tendo sempre em conta que o cumprimento do currículo não impede as adaptações
necessárias à construção das aprendizagens por parte dos seus alunos, como aliás é
reconhecido pelos alunos:
184
A partir do conhecimento das particularidades e necessidades individuais, Leonor
conseguiu organizar o plano de trabalho a desenvolver com a turma, planificando uma
abordagem diferenciada:
186
Este ano, em inglês, fomos obrigados a refletir constantemente sobre as
nossas opções e sobre o caminho a seguir e apesar de ser um bocado
trabalhoso e às vezes seja mesmo muito exigente acaba sempre por nos
deixar a sensação que o esforço valeu a pena. (Júlia, aula 25 maio,)
(...) sinto que ganhei algumas competências que não tinha como ser
reflexivo e ser crítico. (Cristiano, entrevista I1)
Facilitar e promover a troca de ideias e opiniões e a interação não só entre
professor e alunos mas também os alunos entre si:
Basta que os alunos me digam –não percebi! para eu perceber que não
estou a chegar lá, e aqui eu já tenho feedback. (Leonor, entrevista final)
As apresentações individuais têm provocado na turma uma importante
reflexão individual sobre as várias temáticas abordadas e desencadeado
interessantes debates onde participam praticamente todos os alunos.
(Leonor, aula 28 outubro)
Reconhecer que o professor não é o único que possui conhecimento e que pode
ele mesmo aprender com os seus alunos:
Posso começar a aula com um video que eu quero que sirva de mote para
que eles realizem uma determinada tarefa, mas depois o rumo que a aula
187
segue pode ser diferente, pois o que tem que ser respeitado é o objetivo
que eu tenho para aquela aula, mas como lá chegamos varia de turma
para turma, até mesmo de grupo para grupo dentro da própria turma.
(Leonor, entrevista inicial)
Potenciar e garantir a segurança dos alunos nas suas competências para avaliar
as suas próprias ideias e as dos pares:
188
mas não nos dão tempo e espaço para as treinarmos e aplicarmos. Em
inglês a professora não fez isso. (Joaquim, entrevista I3)
A disciplina de inglês esteve envolvida, ao longo do primeiro período, num projeto de
interdisciplinaridade, com a disciplina de educação física, onde foi trabalhado o
enquadramento social do desporto por um aluno com necessidades educativas especiais
por déficit cognitivo. O Diário de Campo registou a apresentação do projeto:
No ano passado, com uma outra colega de português, não houve qualquer
interação porque a colega disse mesmo que não tinha tempo para essas
coisas porque tinha que preparar os alunos para o exame e este ano,
quando falei em conselho de turma, a colega de português disse que era
boa ideia mas ela trabalhava nas aulas de português e eu trabalhava nas
aulas de inglês. Não há um tratamento transversal dos currículos nem há
mesmo interdisciplinaridade na abordagem do mesmo tema por
disciplinas diferentes. A minha preocupação aqui foi que os alunos não
falassem de Fernando Pessoa em disciplinas diferentes com um grande
desfasamento temporal. Estamos a fazer as atividades mas os caminhos
são distintos. (Leonor, entrevista inicial)
Durante a análise dos dados, e respetiva codificação, fui dando conta de um aspeto,
apontado pelos alunos nas entrevistas com grupos focais como um dos aspetos mais
marcantes da aula de inglês, o estímulo à sua criatividade:
189
A criatividade que desenvolvi foi sempre trabalhada fora da escola
porque aqui não havia espaço para ser criativo porque isso nunca era
valorizado, pelo contrário. Infelizmente a escola não estimula a
criatividade! Acabamos por andar sempre todos a fazer as mesmas coisas
e isso não me parece bom porque não nos prepara para a vida fora da
escola. Na aula de inglês foi diferente, fomos sempre incentivados a
trabalhar outside the box. (Efigénio, entrevista I1)
Para estimular essa criatividade Leonor incentivou os alunos a procurarem soluções
tecnológicas que raramente são recursos dentro da sala de aula:
Não nos é dado espaço para trabalhar o tema com uma outra abordagem
ou com um produto final diferente. Tem que ser tudo feito da mesma
forma. Em inglês, este, ano foi diferente.
(...) acabámos por lançar um debate onde relacionámos a foto com a
guerra na Síria, apesar de ela não ser abordada no livro, porque a
professora percebeu que esse era um tema importante para nós pela sua
atualidade (...) (Almerindo, entrevista I3 )
O recurso às tecnologias da informação e comunicação foi constante, com Leonor a
incentivar os alunos a procurarem soluções diferentes daquelas com que estavam
familiarizados:
190
A aula prosseguiu com os grupos reunidos na produção dos seus projetos.
Como a internet da escola não estava disponível, por problemas técnicos,
os alunos recorreram aos smartphones ou tablets para pesquisar a
informação de que iam necessitando. (Diário de campo, 2 dezembro)
Houve ainda inovação no software utilizado pelos alunos, com o incentivo constante da
professora para que procurassem novos programas, com novas funcionalidades, capazes
de dar uma maior qualidade e interesse aos seus trabalhos:
191
para serem vós próprios a traçar o caminho e a decidir o que querem
fazer por isso ser o que mais se adequa à construção das aprendizagens
que pretendem desenvolver. (Leonor, aula 7 outubro)
Não quero uma sala de aula com todos sentadinhos, caladinhos, quase
adormecidos. Quero ‘confusão’, braisnstorming de ideias, gente viva,
que sabe bem o que quer e não tem medo de fazer, de desafiar. (Leonor,
aula 23 setembro)
Os alunos manifestaram o seu desagrado com a escola que têm frequentado, onde
predominam as tarefas rotineiras e repetitivas, sem espaço para a criatividade e a
expressão individual:
A escola mata a criatividade dos alunos. É sempre tudo igual, de uns anos
para os outros andamos sempre a fazer as mesmas coisas e a trabalhar da
mesma forma.
(..) A escola não só não estimula a criatividade como faz tudo para a
contrariar. Eu senti isso desde sempre. (Rodolfo, entrevista I3)
Com a reflexão sobre as práticas, vividas noutros anos e noutras disciplinas, os alunos
referiram como viveram de forma diferente as aulas de Leonor:
192
No início do ano os alunos chegaram com a ideia que a disciplina ia ser fácil, sem dar
trabalho, bastando ir à aula e realizar as tarefas solicitadas pela professora para ter
sucesso, conforme dei conta na caracterização da turma. Para os alunos, ter sucesso
seria conseguir uma classificação no final do ano que permitisse melhorar a sua nota de
candidatura ao ensino superior. Já para Leonor, o conceito de sucesso era diferente do
dos alunos, passando pela apropriação de um conjunto de competências fundamentais,
tanto em termos académicos como profissionais:
(...) a escola tem esta obrigação de dar aos alunos as ferramentas de que
eles vão necessitar, seja no mercado de trabalho seja no prosseguimento
da sua formação académica. Na minha sala de aula é meu objetivo que os
meus alunos sintam a necessidade de aprender sempre mais. (Leonor,
entrevista inicial)
Para alcançar este sucesso foi necessário o empenhamento dos alunos nas diferentes
tarefas realizadas, levando-os a trabalhar outside the box, como tantas vezes lhes foi
pedido por Leonor e por eles reconhecido:
193
Os bons professores inspiram os seus alunos e os professores mais eficazes são aqueles
que continuam a aprimorar essa competência, melhorando a sua compreensão da
psicologia do aluno e da cultura da sala de aula e da escola (Hattie, 2016). Algumas
estratégias motivacionais funcionam bem com toda a turma enquanto outras apenas
resultam bem com um único aluno, daí ser tão importante que o professor conheça bem
os seus alunos e essa foi sempre uma prioridade de Leonor.
O importante papel da avaliação foi percetível ao longo do ano nas aulas de Leonor,
principalmente quando fornecia informações oportunas e pertinentes aos alunos, que
lhes permitiam perceber como estavam a aprender e, caso houvesse essa necessidade, de
fazer ajustes no seu percurso:
194
ainda necessita de algum esforço para que seja corrigido e melhorado.
(Leonor, Aula 6 janeiro)
A avaliação realizada por Leonor na sala de aula não foi uma tarefa pontual, foi um
processo, que envolveu uma série de procedimentos, razão pela qual procurou, ao longo
de todo o ano, não só esclarecer esse processo mas, acima de tudo, envolver nele os
alunos:
195
Objetivos de aprendizagem e critérios de avaliação
197
essencialmente formativa, dando conta da forma como o aluno
acompanhou o trabalho desenvolvido na disciplina. (Diário de campo, 30
setembro)
Com estes descritores os critérios de avaliação estavam muito claros para
todos e mesmo durante a avaliação a professora explicava tudo com
clareza. (Berta, entrevista I2)
Um dos aspetos importantes, observado durante a investigação, foi a interação frequente
de Leonor com os seus alunos, individualmente ou organizados em pequenos grupos,
com o objetivo de os envolver no processo de avaliação, proporcionando-lhes
ferramentas para avaliarem a qualidade do seu próprio trabalho:
198
Os critérios de avaliação orientam os alunos na realização das tarefas escolares e devem
assumir um papel central no processo de autoavaliação. Os critérios gerais, definidos a
nível de escola e os critérios específicos, a nível de cada disciplina, foram responsáveis
pela uniformização dos procedimentos avaliativos implementados na escola. Devem ser
partilhados e trabalhados em cada sala de aula de modo a que fiquem claros e
percetíveis para os alunos, tal como aconteceu na aula de Leonor.
199
Os critérios de avaliação de inglês foram importantes porque tiveram um
papel de orientação no desenvolvimento do nosso trabalho. (Almerindo,
entrevista I3)
(...) lembro-me de a professora ter alertado para a importância de cumprir
o limite máximo de tempo para a apresentação, pois caso fosse
ultrapassado havia uma penalização e já ninguém se lembrava disso.
(Anabela, entrevista I1)
Ao apropriarem-se dos critérios de avaliação os alunos tiveram a possibilidade de
analisar as suas produções de uma forma crítica, autoavaliarem-se, o que lhes permitiu
que fizessem as correções e reformulações que entenderam como mais adequadas e,
dessa forma, conseguirem fazer a sua autorregulação:
200
No início do ano a professora informou-nos sobre os critérios de
avaliação da disciplina, mas confesso que não lhes dei muita atenção. E
parece-me que os meus colegas também não. (Berta, entrevista I2)
À medida que fomos entendendo o que era suposto fazer nos nossos
trabalhos fomos deixando de ter necessidade de atender aos critérios de
avaliação. (Genoveva, entrevista I2)
A dificuldade na apropriação dos critérios, por parte dos alunos, foi contrariada pelo
grande investimento de Leonor que foi sempre dando feedback que apelava a essa
apropriação:
201
estejam capacitados para definirem os objetivos de aprendizagem que se propõem
alcançar:
(...) esta negociação, que ocorre entre mim e os alunos, tem que acontecer
em todos os momentos da sala de aula, caso contrário não nos
entendemos, nem eu a eles nem eles a mim. (Leonor, entrevista inicial)
Em algumas disciplinas, o trabalho que fazemos na aula não é valorizado,
nem é tido em conta na avaliação. (Palmira, entrevista I2)
Cada grupo deve encontrar o modelo de desenvolvimento que melhor se
adeque ao tema que vão trabalhar e que serão mais do agrado dos
elementos do grupo. Cada grupo deverá definir, de forma consensual, o
modelo de desenvolvimento do seu projeto. (Leonor, aula 27 janeiro)
Como a disciplina se foi desenvolvendo em função das atividades de aprendizagem
realizadas, houve sempre a partilha, entre professora e alunos, dos objetivos de
aprendizagem, proporcionando aos alunos o conhecimento sobre o que deveriam saber e
o que deveriam ser capazes de fazer. Esta partilha teve também reflexos na abordagem
do erro e na utilização do feedback, bem como a sua conjugação para facilitar a
autoavaliação, como veremos de seguida.
A abordagem do erro
Apesar do importante papel atribuído ao erro por muitos investigadores (Earl, 2013;
Esteban, 2004; Pinto & Santos, 2006; Sadler et al., 2013; Wiliam, 2014), Leonor
reconhece que o erro continua a ser usado para penalizar os alunos em muitas salas de
aula, distinguindo pela negativa e atribuindo rótulos:
(...) os nossos alunos têm muito medo de correr riscos porque têm medo
de errar. E isso acontece porque, de um modo geral, quando cometem
erros são penalizados por isso e, portanto, eles evitam fazer o que é
diferente do habitual para não correrem esses riscos. (Leonor, entrevista
inicial)
Embora os erros cometidos na escola ainda sejam muitas vezes “perseguidos” e tratados
como um estigma, Leonor defendeu sempre a ideia, bem aceite pelos seus alunos, de
que num processo de aprendizagem, errar não é uma coisa má, pelo contrário, dá
informações muito importantes, tanto a quem aprende como a quem ensina:
202
No início intimidava-me um pouco o facto de a professora circular na
aula toda pelos grupos para alertar para possíveis erros e colocando-nos
questões muito pertinentes sobre a forma como o trabalho estava a
evoluir. Com o tempo, essa monitorização da professora passou a ser
uma mais-valia. (Tiago, aula 25 maio)
Já John Dewey (1933), numa das suas frases famosas e intemporais “Failure is
instructive. The person who really thinks learns quite as much from his failures as from
his successes.” defendia a importância do erro na aprendizagem, atribuindo-lhe um
papel tão importante como o que atribuía aos sucessos.
Quando o professor, na sua sala de aula, diz aos seus alunos que cometeu
um erro mas o importante é corrigi-lo, porque quando o caminho que
estamos a seguir não nos permite chegar ao fim ou demora mais tempo,
por exemplo, estamos a mostrar aos nossos alunos que não devem ter
medo de cometer erros pois estes devem ser entendidos como fazendo
parte da sua aprendizagem, tal como a correção desses mesmos erros.
(Leonor, entrevista inicial)
(...) essa forma de encarar o erro foi muito importante para que nós
tentássemos sempre correr riscos saindo fora da nossa zona de conforto.
(Gonçalo, entrevista I3)
(...) na última apresentação tínhamos lá uma palavrinha que estava mal
escrita e a professora detetou logo e disse-nos que teríamos que corrigir
esse erro. E isso não nos deixou desconfortáveis porque sabemos que a
professora não nos vai penalizar por esse erro. (Almerindo, entrevista I3)
A forma como Leonor abordou os erros dos seus alunos foi um aspeto muito marcante
da sua sala de aula. Ao não entender os erros como fracassos, incentivou-os a participar
porque só dessa forma estariam a aprender. Leonor procurou aproveitar os erros
cometidos pelos seus alunos para lhes fornecer informação importante conseguindo que,
dessa forma, o erro acabasse por desempenhar um papel positivo na construção da
aprendizagem:
203
Nesta sala de aula, os erros que cometerem não vão ser usados para vos
penalizar. Pelo contrário, é mais importante que participem e cometam
erros do que não participem de todo. (Leonor, aula 23 setembro)
A tarefa que vamos realizar tem características formativas porque
pretende identificar os erros dos alunos para que eles os vão corrigindo
ao longo do ano. (Leonor, aula 25 novembro)
(...) em relação aos possíveis erros, a professora deixou-nos muito à
vontade logo desde o início do ano e isso ajudou muito a soltar mesmo os
alunos mais tímidos. (Palmira, entrevista I2)
Ao implementar uma avaliação formativa, realizada a partir da identificação dos erros,
Leonor “aproveitou” esses mesmos erros para recolher informações importantes, não só
sobre o que já tinha sido aprendido pelos alunos mas também sobre o que ainda
necessitava de ser trabalhado, relativamente ao próprio ensino desenvolvido. A
informação recolhida a partir dos erros possibilitou a Leonor elaborar o feedback com o
qual foi orientando o aluno na correção ou reformulação da sua tarefa, ou seja, na
construção da sua própria aprendizagem:
204
A forma como o aluno lida com o erro é determinante para a sua aprendizagem e na
aula de inglês o erro não foi evitado nem escondido porque foi entendido pelo aluno
como um aspeto positivo:
Quando um aluno apresenta o seu trabalho e no final diz “Isto hoje não
correu bem” a minha primeira intervenção vai no sentido de por o aluno a
verbalizar essa sua perceção, porque não correu bem, o que poderia
correr melhor, o que será necessário fazer para que no futuro corra
melhor. (Leonor, entrevista final)
Eu costumava ficar calada e quando solicitavam a minha colaboração eu
escondia-me porque não queria cometer erros. Na aula de inglês deixei
de ter essa preocupação porque nunca fui penalizada por cometer erros.
(Tiago, aula 25 maio)
Apesar de no início do ano alguns alunos revelarem sinais de timidez, principalmente
quando tinham que fazer apresentações perante a turma, ela foi-se diluindo até ao ponto
de não se revelarem intimidados com as intervenções da professora, quando fornecia
feedback com as correções aos seus erros ou quando dava orientação para o trabalho a
realizar:
205
possibilidade de melhorar as classificações se nos próximos trabalhos não
voltássemos a cometer os mesmos erros. (Palmira, entrevista I2)
Nas aulas de inglês houve um equilíbrio entre a classificação e a
avaliação porque a professora foi sempre acompanhando a realização dos
trabalhos com muito feedback que nos orientava para corrigirmos os
erros ou melhorarmos alguns aspetos. (Anabela, entrevista I1)
Quando a professora circulava entre os grupos e queria saber porque
tínhamos feito determinadas opções ou quando nos alertava para aspetos
menos claros ou mesmo incorretos que deveriam ser corrigidos, estava a
avaliar o nosso trabalho e isso não se traduzia numa nota. (Gonçalo,
entrevista I3)
206
porque nos apercebemos deles ou porque reparámos nalguma reação que
nos alertou para o erro que cometemos. (Berta, aula 25 maio)
(...) fui corrigido nas minhas apresentações iniciais e isso permitiu que
melhorasse nas seguintes. (Júlia, entrevista I1)
Na aula de Leonor, os objetivos de aprendizagem e os critérios de avaliação foram
partilhados com os alunos, razão pela qual eles sabiam o que a professora pretendia que
aprendessem e quais as operações que deveriam respeitar na realização de cada tarefa.
As tarefas foram acompanhadas pelos pares e pela professora, que ajudavam a
identificar os erros quando eles naturalmente ocorriam. A partir da identificação dos
erros, guiados pelos objetivos de aprendizagem e pelos critérios de avaliação, foi
possível construir o feedback que proporcionou aos alunos a superação desses mesmos
erros e das dificuldades encontradas.
O feedback formativo
Leonor atribuiu uma grande importância à identificação das dificuldades ou dos erros
cometidos pelos alunos, não para os penalizar, mas antes para lhes proporcionar as
pistas que lhes permitem ultrapassar os erros. Essa informação fornecida ao aluno, que
se apresenta como uma componente fundamental da avaliação formativa, é o feedback
formativo:
Estratégias usadas
Só por si o feedback usado de forma isolada, ou apenas para confirmar que o aluno está
a seguir o caminho correto, tem pouco efeito, mas na aula de inglês, onde a cultura
207
avaliativa instalada tinha uma função essencialmente formativa, o feedback foi muito
entendido como a crítica construtiva para apoiar a aprendizagem dos alunos:
208
Para Leonor, o desenvolvimento das competências de comunicação oral foi uma
prioridade e, por essa razão, foi muito importante conhecer bem os alunos para lhes
fornecer o feedback mais apropriado no apoio à sua aprendizagem:
209
Ao longo do ano tivemos um acompanhamento constante por parte da
professora porque ela ia sempre dando pistas ou chamando a atenção para
um ou outro aspeto do trabalho em curso. (Efigénio, entrevista I1)
Conteúdo do feedback
As aulas de Leonor caracterizaram-se pelo trabalho intenso dos alunos: produções
escritas realizadas em grupo; preparação das apresentações à turma; apresentações orais
do trabalho desenvolvido; debates alargados no seguimento dos temas lançados nas
apresentações. Trabalhando com este ritmo intenso foi importante o feedback objetivo e
focado na tarefa:
210
Outra característica importante do feedback fornecido por Leonor foi a preocupação em
não dar ao aluno a solução mas antes proporcionar-lhe pistas que o ajudasse a corrigir
erros ou a encontrar novos caminhos para ultrapassar dificuldades:
Quando identifico algo que o aluno fez mal devo dar-lhe as pistas para
que ele progrida corrigindo o que fez mal.
(...) Quando os alunos me disseram que queriam reformular eu
imediatamente senti que tinha que lhes dar pistas para que eles
conseguissem arrancar. (Leonor, entrevista final)
Agora, que concluíram a vossa apresentação, conseguem posicionar-se
como observadores externos e dizer o que lhes falta? O que poderiam ter
feito e não fizeram? (Leonor, aula 7 outubro)
Apesar de todas as produções dos alunos acabarem por ser submetidas a uma avaliação
sumativa, isso só acontecia depois de um longo processo de avaliações formativas, nas
diferentes fases por que passava cada tarefa, desde a discussão até ao acordo sobre o
trabalho a realizar em grupo, acabando na apresentação seguida do debate no seio da
turma. O feedback fornecido estava sempre focado nos aspetos a melhorar e nunca na
classificação:
(...) o aluno faz uma boa preparação das suas apresentações mas depois
tem dificuldades ao nível da oralidade. Então eu dou-lhe a possibilidade
de o aluno poder fazer mais apresentações orais para treinar mais porque
assim também recebe mais feedback que o ajuda a ultrapassar essas
dificuldades. (Leonor, entrevista final)
211
Embora isso aconteça muito raramente hoje vou pedir-vos que realizem
em casa uma tarefa. Devem analisar o teste, dando especial atenção aos
erros cometidos. Se as dúvidas permanecerem em relação a esses erros
devem colocar essas dúvidas no fórum do teste que para o efeito foi
aberto na plataforma Moodle. Será nesse fórum que vou dar o respetivo
feedback. As dúvidas e o feedback podem ser úteis para qualquer um de
vós. (Leonor, aula 4 novembro)
212
trabalhos dos pares de modo a proporcionar-lhes o feedback fundamental para
melhorarem as suas produções:
213
nessas discussões, dentro e fora da sala de aula, com interações entre
eles. (Leonor, entrevista final)
Com o brainstorming foi possível aos alunos começarem já a registar
alguns tópicos e até mesmo algumas estratégias a implementar, mas a
própria professora começou já a perceber algumas das ideias que os
grupos pretendiam desenvolver, embora estivessem ainda muito no início
e a precisarem de ser bem trabalhadas. (Diário de Campo, 20 janeiro)
Acho que os trabalhos que realizámos no 2.º período são mais criativos e
mais originais quando comparados com os do 1.º período. Graças ao
feedback que fomos recebendo conseguimos melhorar a forma como
trabalhámos e o próprio resultado final. (Anabela, aula 2 março)
Nota-se uma evolução na nossa fluência. Estamos muito mais à vontade
no uso do inglês mas ainda não somos realmente fluentes. Acredito
mesmo que se tivéssemos começado a trabalhar desta forma no décimo
ano os nossos avanços seriam muito maiores. (Henriqueta, aula 2 março)
(...) a professora apontou os erros que identificou e isso permitiu que nós
próprios fizéssemos a sua correção. (Efigénio, entrevista I1)
Pela forma como o feedback foi utilizado na aula de Leonor, principalmente por estar
centrado nas características da tarefa e não no aluno, por dar as pistas que lhes
permitiriam ultrapassar as suas próprias dificuldades e por estar focado nos aspetos a
melhorar e não na classificação, ele foi bem aceite pelos alunos:
(...) o feedback foi sempre uma grande ajuda para melhorar e dava-nos
essa perceção de que estávamos a evoluir nas nossas aprendizagens.
(Efigénio, entrevista I1)
Em trabalhos com tanta autonomia o feedback ainda foi mais importante
porque se não fosse assim era fácil perder o rumo.
(...) foi graças a esse feedback que nós fomos sempre melhorando a
qualidade dos nossos trabalhos. (Berta, entrevista I2)
Uma das características mais mencionadas pelos alunos, quando falavam no feedback e
no importante papel que ele teve na aprendizagem que foram construindo ao longo do
ano, foi precisamente o estilo de desafio, utilizado por Leonor, para incentivar os alunos
a chegar sempre mais longe. Não se tratava de qualquer imposição da professora, eram
os alunos que traçavam, para si próprios, metas mais ousadas e ambiciosas:
(...) não tenham medo de correr riscos pois só correndo riscos se pode
avançar e que sejam capazes de construir produtos diferentes dos que têm
sido desenvolvidos nas aulas. (Leonor, aula 27 janeiro)
Mudei muito a minha atitude devido às estratégias da professora pelo
feedback que foi dando e as sugestões de reformulação, pelos próprios
desafios que foi colocando. (Cristiano, entrevista I1)
214
(...) senti que os desafios que a professora nos colocava quando achava
que nós não estávamos outside the box eram muito importantes para
tentarmos chegar mais longe porque nos davam uma maior motivação
para melhorar o nosso trabalho.
(...) por vezes a professora lançava alguns desafios para que o trabalho
evoluísse para um nível superior. (Berta, entrevista I2)
Como observadora, numa sala de aula onde a comunicação foi constante ao longo de
todo o ano, constatei a mais-valia construída por Leonor ao proporcionar feedback aos
seus alunos e, a todo o momento, aproveitando para conversar com eles sobre as
aprendizagens que estavam a realizar:
215
percurso de aprendizagem estava bem encaminhado permitindo ir mais além do que
tinha sido previsto nos objetivos de aprendizagem:
Ao longo do ano temos que dar pistas aos alunos de forma que eles
entendam que estão a participar na aula e mesmo que não estejam
conscientes ou apenas não consigam verbalizar que estão também eles
próprios a guiar o trabalho da professora eles estão realmente a fazê-lo.
(...) Para mim o feedback [reação] que recebo dos alunos é fundamental,
para que possa delinear as minhas estratégias de intervenção. (Leonor,
entrevista final)
O verdadeiro valor do feedback está no uso que o aluno lhe dá porque só o uso
apropriado o torna efetivo. Com o feedback proporcionado pelos pares, mas
fundamentalmente por Leonor, tendo em conta os objetivos de aprendizagem e os
critérios de avaliação partilhados com todos, foi possível aos alunos responderem às três
questões consideradas fundamentais para tornar o feedback efetivo: onde o aluno deve
chegar; em que ponto está; o que fazer a seguir.
Autoavaliação
Quando um aluno realiza a autoavaliação significa que ele é capaz de perceber se o
trabalho que realizou está de acordo com o que o professor pretendia dele, o que só será
possível se o professor partilhar com o aluno, tanto os objetivos de aprendizagem, como
os critérios de avaliação, tal como aconteceu na aula de Leonor:
216
(...) os alunos vão apresentar em grupo os trabalhos que realizaram e, de
imediato, seguindo as tais grelhas que lhes forneci com os standards
farão a autoavaliação do seu trabalho. (Leonor, aula 11 maio)
Para além dessa partilha, de forma clara e bem percetível, a professora Leonor foi
sempre incentivando os seus alunos a realizarem a autoavaliação, cada vez com maior
cuidado:
Os alunos acabam por fazer autoavaliação sem lhes darem esse nome,
isto é sem sequer se aperceberem que estão a fazer autoavaliação. Só
quando eu verbalizo e lhes pergunto o que acabaram de fazer,
principalmente durante o 1.º período, é que eles percebem que se
estiveram a autoavaliar. (Leonor, entrevista inicial)
É muito importante que vocês vão acompanhando o trabalho que
realizam, individualmente e em grupo, com a avaliação do mesmo, para
irem percebendo os vossos progressos, o que já conseguem realizar e o
que ainda necessita de algum esforço para que seja corrigido e
melhorado. (Leonor, aula 6 janeiro)
Outro aspeto que me foi possível constatar na sala de aula e que se revelou importante,
no incentivo dos alunos para a realização de uma reflexão crítica, foi o feedback
fornecido por Leonor, antes e depois da autoavaliação dos alunos, porque acredita ser
indispensável a orientação dos alunos pelo professor no processo de autoavaliação:
(...) mesmo que eles não saibam como se designa, o que importa é que
entendam o processo. É assim que eu levo os alunos a fazer a sua
autoavaliação, de forma intuitiva, primeiro e depois de forma intencional,
estando essa intencionalidade patente até nas questões que lhes coloco.
Quando os alunos terminam a apresentação a primeira coisa que lhes
pergunto é “Se tivesses que mudar alguma coisa o que mudarias?” .
(Diário de Campo, 18 março)
No caso concreto de um grupo, o critical thinking acabou por exagerar no
realce dos aspetos menos positivos do trabalho por estarem numa fase de
divergências pessoais dentro da turma. Foi um bom exemplo de como as
questões pessoais podem interferir nos juízos sobre os trabalhos
produzidos afetando a coavaliação. Tal situação não deveria acontecer
porque os critérios de avaliação relativamente ao critical thinking são
claros e do conhecimento de todos porque foram analisados em aula.
(Leonor, aula 11 março)
Estão mais preocupados com a apresentação do projeto do que com a
autoavaliação do mesmo. Não se esqueçam que a autoavaliação é muito
importante porque permite identificar aspetos que ainda precisam de ser
trabalhados. (Leonor, aula 11 maio)
Sendo a autoavaliação um processo de regulação implementado pelo próprio aluno,
implica que o aluno esteja equipado com as ferramentas indispensáveis para a realização
217
de uma tarefa com responsabilidades repartidas entre aluno e professor, em que a
avaliação deixa de ser um assunto apenas do professor:
218
perspetiva formativa, permitindo-lhes chegar sempre mais à frente e, dessa forma,
encontrar o verdadeiro sentido para a sua ação como professora educadora. Pela
investigação que realizei na sua sala de aula é-me possível afirmar que a professora
Leonor conseguiu levar os seus alunos a serem os construtores das suas aprendizagens.
Leonor em Discussão
Nesta sala de aula, deparei-me com uma organização muito pouco convencional, onde
os alunos mudavam de lugar ao ritmo da mudança de grupo de trabalho, com muito
diálogo entre todos para delinear estratégias, alterar o caminho que o trabalho estava a
seguir, ou mesmo dar um passo atrás para a seguir dar dois em frente. Foi elevado o
ritmo de trabalho introduzido na aula mas foram raros os trabalhos para casa marcados
pela professora ou estudar para os testes porque estes, quando aconteciam, não tinham
qualquer marcação prévia.
Ao assumir como grande compromisso, com os seus alunos, orientá-los para que
tivessem um papel ativo na construção da sua própria aprendizagem, Leonor
desenvolveu uma prática avaliativa promotora dessa aprendizagem, porque o Aprender
só acontece quando os alunos estão envolvidos e se sentem seguros e apoiados para
correr os riscos deste processo tão exigente, quando realmente acreditam que têm
capacidade para aprender e envolver-se (Tomlinson, 2017).
O envolvimento dos alunos não aconteceu por acaso, muito pelo contrário, ele decorreu
de estratégias específicas e intencionais, implementadas por Leonor, que muitos
investigadores (Burden, 2014; Lam, 2014; Marzano & Pickering, 2011) têm
considerado como uma das características fundamentais das escolas bem-sucedidas.
Quanto maior for o envolvimento dos alunos nas tarefas avaliativas mais fácil se torna
para o professor perceber o que os seus alunos realmente aprenderam e onde ainda
necessitam de feedback e apoio para ultrapassar eventuais dificuldades (Stiggins, 2017).
Sendo necessário encontrar um adjetivo para caracterizar esta aula de inglês o mais
apropriado seria sem dúvida “diversidade”. Leonor realçou nas duas entrevistas a
219
importância que tinha na sua aula a diferenciação, tanto a nível dos conteúdos e dos
processos como dos produtos. Notei, acima de tudo, o seu cuidado em adaptar o
trabalho realizado na aula às necessidades e interesses dos alunos e isso é
particularmente importante quando se sabe que cada um de nós aprende mais e melhor
quando o que aprendemos tem ligação com as nossas vivências, experiências e
interesses, dando uma maior intencionalidade à aprendizagem que se constrói
(Tomlinson, 2017).
Para implementar esta diferenciação foi fundamental o conhecimento dos alunos que
Leonor foi construindo desde a primeira aula, permitindo-lhe antecipar adaptações e
orientações. Outra estratégia importante, utilizada por Leonor, foi a diversidade que
imprimiu à formação dos grupos de trabalho, com regras claras e acordadas entre todos.
Esta estratégia garantiu a variedade e heterogeneidade dos grupos e possibilitou que os
alunos fossem recursos de aprendizagem para os seus pares, ao mesmo tempo que
assumiam a liderança na construção da sua aprendizagem.
O elevado ritmo de trabalho foi uma marca nas aulas de Leonor e foi bastante referido
por eles nas entrevistas, contrariando várias expetativas iniciais de “conseguir boas
notas sem ter que estudar muito”. Na verdade a aprendizagem tem que ser construída
por cada um, não pode ser-lhe passada e, por essa razão, é um processo que decorre a
diferentes ritmos e de diferentes formas e isso esteve patente na prática de ensino
implementada por Leonor. Graças a ela, os alunos entenderam o desenvolvimento do
processo de aprendizagem, qual a melhor forma de organizar os seus tempos de trabalho
e qual o esforço a despender, assumindo a liderança na construção da sua própria
aprendizagem.
O seu trabalho, enquanto professora, não foi preparar os alunos para qualquer coisa, foi
sim orientar os alunos ajudando-os a prepararem-se eles próprios para qualquer coisa.
Apesar de não ter sido feita qualquer preparação para exame, alguns alunos optaram por
realizar o exame nacional para aumentarem as suas possibilidades de candidatura no
acesso ao ensino superior, no qual obtiveram excelentes classificações.
Um aspeto realçado pelos alunos foi o enorme desenvolvimento das suas competências
de oralidade, que embora pareça óbvio numa língua estrangeira, foi uma área muito
pouco trabalhada, pela generalidade dos alunos, ao longo da sua escolaridade. O diálogo
que se realizou constantemente na sala de aula, não só entre professora e alunos mas
220
também dos alunos uns com os outros, foi orientado por regras claras e respeitadas por
todos. Estes diálogos, desenvolvidos quando trabalhavam em pequeno grupo, quando
faziam apresentações para toda a turma ou quando participavam nos debates sobre os
mais variados temas, tiveram um triplo valor pedagógico ao permitirem: que todos os
elementos presentes na sala de aula fossem recursos de aprendizagem para os outros; a
abordagem de qualquer tema, quer se tratasse de conteúdos curriculares específicos da
disciplina, quer conteúdos partilhados com outras disciplinas, como foi o caso dos
trabalhos sobre Fernando Pessoa, quer ainda com vários trabalhos no âmbito da
educação para a cidadania; aprender a trabalhar com a escuta ativa e a argumentação de
modo a poder aplicá-las nas mais variadas situações da vida quotidiana.
Também importante e muito explorado por Leonor foi o uso da tecnologia pelos alunos,
sempre com o objetivo de promover aprendizagem e trabalhar na sala de aula
competências essenciais aos cidadãos do século XXI (Rodrigues, 2015). Se os jovens
recorrem com sucesso às tecnologias, usando-as de forma autónoma, porque não trazer
essas tecnologias para dentro da sala de aula, como recurso promotor de um maior
envolvimento dos alunos nas tarefas das aulas?
Como os projetos desenvolvidos pelos alunos não se destinavam à professora mas sim a
todos os que estavam presentes na sala de aula, houve a preocupação de produzir
materiais que fossem interessantes para os colegas e captassem a sua atenção o que os
levou a investir mais nessas produções. Também contribuiu para esse maior
investimento o facto de o objeto desses projetos fazer sentido para quem os produziu
porque foram selecionados e delineados pelos próprios.
221
estava a seguir e recorrendo aos contactos a distância, via email ou plataforma Moodle,
para perceber quais as decisões do grupo sobre o tema selecionado ou sobre a
organização a seguir no seu trabalho. Estes contactos permanentes também ajudaram os
alunos a construir uma relação de confiança com a professora, que lhes deu mais
segurança para avançarem nos seus projetos.
Com o uso diário dos laptops, tablets ou smartphones os jovens trouxeram para a sala de
aula os hábitos e rotinas com que conviviam no seu dia-a-dia, aceder à informação de
forma imediata sempre que dela tinham necessidade e daí ser tão importante a utilização
do feedback imediato, durante a realização dos vários projetos nas aulas, sempre
acompanhados por Leonor, passo a passo, com sugestões de reformulação ou correção
logo que estas se revelavam necessárias.
Trabalhando nalgumas situações com toda a turma, noutras situações com pequenos
grupos e noutras ainda individualmente, com um ou outro aluno, Leonor conseguiu
apoiar os seus alunos, todos eles, ajudando-os a superar as suas dificuldades e dando-
lhes pistas para que conseguissem chegar mais longe na sua aprendizagem. Esta
diversidade de abordagens permitiu dar resposta à variedade de alunos que teve na sua
sala de aula e daí a afirmação perentória de que a diferenciação pedagógica foi uma
realidade e uma das razões do sucesso.
222
grupo para continuar a desenvolver o trabalho que tinham em mãos (Kohn, 2008). A
organização dos alunos em grupos flexíveis (Brulles & Brown, 2018) resultou numa
sala de aula nada tradicional, onde os alunos mudavam de lugar em função do grupo de
trabalho onde estavam inseridos, revelando-se uma estratégia importante implementada
por Leonor. Apesar do tempo despendido com esta e outras rotinas da sala de aula, elas
vieram a revelar-se um bom investimento no envolvimento e cooperação dos alunos.
Ao assumir como grande compromisso com os seus alunos orientá-los para que
tivessem um papel ativo na construção da sua própria aprendizagem, Leonor
desenvolveu uma prática avaliativa promotora dessa aprendizagem. Aprender acontece
quando os alunos estão envolvidos na construção da aprendizagem e se sentem seguros
e apoiados para correr os riscos deste processo tão exigente, mas tal só acontece se o
aluno acreditar na sua capacidade para aprender e se envolver (Burden, 2014).
Quanto maior for o envolvimento dos alunos nas tarefas avaliativas mais fácil se torna
para o professor perceber o que os seus alunos realmente aprenderam e onde ainda
necessitam de feedback e apoio para ultrapassar eventuais dificuldades. As tarefas
avaliativas, que devem ser diversificadas tanto no formato como na abordagem, devem
proporcionar aos alunos várias oportunidades para mostrarem o que realmente
aprenderam e sabem fazer, ao mesmo tempo que permitem identificar onde se situam as
dificuldades e porquê, de quem ainda não conseguiu progredir até alcançar os objetivos
de aprendizagem previstos (Earl, 2013).
No caso do trabalho de projeto, por exemplo, Leonor definiu claramente as várias fases
a respeitar pelos alunos, quer em relação ao trabalho de projeto propriamente dito quer
em relação à tarefa de critical thinking. Essa orientação permtiu-lhes saber exatamente o
que deveriam fazer em cada momento sem passarem pela sensação de estarem perdidos.
223
Esta orientação foi determinante para aprenderem a trabalhar em projeto e concluírem
que, na verdade, ao longo dos doze anos de escolaridade tinham realizado muitos
trabalhos de grupo, onde cada um fazia a sua parte, mas nunca tinham realizado
qualquer trabalho com a metodologia de projeto.
Foi um objetivo da sua sala de aula, várias vezes verbalizado por Leonor, tornar os
alunos os condutores da sua própria aprendizagem a ponto de serem eles os líderes do
processo de aprendizagem e ensino em curso. Para que tal ocorresse foi necessário, com
frequência, incentivá-los a fazerem a sua autoavaliação e, a partir dela, introduzirem as
correções necessárias para ultrapassarem os erros e as dificuldades encontradas, isto é,
fossem capazes de construir o feedback ao seu próprio trabalho.
224
É essa necessidade de encontrar novas respostas para situações diferentes que dá à
educação características muito distintas do treino. Não basta trabalhar para desenvolver
capacidades, é necessário proporcionar a cada aluno as condições para que desenvolva
novas competências, que lhe permitam dar resposta a novas exigências.
225
CAPÍTULO VII - Ilda, uma professora de Matemática
Professora Ilda
Ilda, nome fictício escolhido pela própria, é professora de matemática há 17 anos, tendo
lecionado o 3.º ciclo do ensino básico e o ensino secundário na escola onde se mantém
há 13 anos. Foi selecionada para este estudo depois de ser referenciada por alunos e
pares por desenvolver um trabalho de grande qualidade, confirmado por uma
classificação de excelente no processo de avaliação do desempenho docente. Na
realização da primeira entrevista, no início desta investigação, Ilda considerou que nela
participar seria uma mais-valia para si por lhe permitir realizar uma importante reflexão
sobre o seu percurso, as suas práticas e a evolução que foi acontecendo desde que se
iniciou na profissão.
O que mais me agradou, para além de ser professora, foi sem dúvida ser
diretora de turma, pelo carácter de proximidade, pois temos um contacto
mais próximo não só com os alunos mas também com os seus
encarregados de educação, porque essa proximidade permite-nos depois
desenvolver um conjunto de atividades fora da sala de aula e que
permitem desenvolver um trabalho mais completo. (Ilda, entrevista
inicial)
Esta opção está relacionada com a prioridade que dá ao trabalho com os seus alunos,
que emergiu como claro no seu discurso, desde o início:
A minha prioridade é a minha sala de aula apesar de aquilo que faço fora
da sala, nomeadamente em termos de formação, tenha uma grande
influência no trabalho que desenvolvo na sala de aula. (Ilda, entrevista
inicial)
226
Do trabalho com os seus alunos, Ilda salientou, em particular, a importância da
continuidade pedagógica, por permitir um melhor conhecimento de todos eles:
O que para mim foi mais gratificante foi ter feito o acompanhamento de
uma turma ao longo de todo o ciclo, do 7.º ao 9.º ano, tanto como
professora de matemática como diretora de turma. Isso já me aconteceu
por duas vezes, em escolas diferentes e com ambientes socioeconómicos
diferentes e em ambas a experiência foi muito gratificante. (Ilda,
entrevista inicial)
Ilda fez questão de explicar porque considera tão importante para o sucesso da
aprendizagem a continuidade pedagógica ao longo de todo o ciclo. Por um lado, porque
permite ao professor trabalhar com um horizonte temporal superior a um ano para gerir
as aprendizagens dos alunos:
Este ano tenho duas turmas de 12.º ano mas com percursos diferentes. A
turma que teve como disciplina específica Geometria Descritiva e que se
227
mantem mais ou menos com a mesma composição desde o 10.º até ao
12.º ano e a turma onde está a ser feita investigação, que teve a mesma
composição no 10.º e 11.º anos mas que por força das disciplinas de
opção dos alunos foi sujeita a reorganização. E também é engraçado e
enriquecedor perceber os diferentes percursos feitos pelos alunos com
outras formas de trabalhar, outras linguagens, outra forma de trabalhar
em sala de aula e, por essa diversidade, também pode haver algumas
vantagens com a mudança de professor. (Ilda, entrevista inicial)
Para além do trabalho que tem desenvolvido com os alunos, componente da sua prática
de ensino que mais lhe agrada, Ilda identificou ainda a situação mais difícil com que se
deparou no seu exercício profissional: “as maiores dificuldades advieram quando tive
que mediar relações entre colegas” apesar de ter realçado que nem sempre isso acontece
porque “já tive experiências muito interessantes no trabalho colaborativo com colegas”
(Ilda, entrevista inicial).
Nesta turma tenho trinta e dois alunos mas no total tenho cento e vinte e
dois alunos, porque tenho mais três turmas com trinta alunos cada. Tenho
cada aluno, e cada turma, três vezes por semana, o que torna impossível
dar feedback diário a todos eles e não é possível escrever cento e vinte
comentários por semana, supondo que daríamos um feedback por aluno
por semana. (Ilda, entrevista inicial)
Para além da prática de ensino, no início da sua carreira, Ilda desenvolveu atividades na
escola, que muito embora continue a considerar muito importantes, já não dedica tanta
atenção para se focar mais na sua sala de aula:
228
É importante ter um bom conhecimento matemático mas é indispensável
que nos apropriemos, na nossa formação, da linguagem que vamos
utilizar na sala de aula. É necessário que haja uma melhor formação em
termos pedagógicos porque não adianta saber muito de matemática e
depois não conseguirmos passar esse conhecimento para os nossos alunos
e isso faltou na minha formação inicial. (Ilda, entrevista inicial)
Segundo Ilda, a formação contínua que realizou nem sempre conseguiu dar resposta às
necessidades sentidas, enquanto professora, no trabalho diário com os seus alunos: “(...)
no início dispersei-me muito na formação, que encaro agora como alguma perda de
tempo.” Pelas falhas por si identificadas, Ilda sentiu necessidade de alterar o critério de
seleção relativamente à formação contínua que realizava para que esta não fosse uma
perda de tempo mas, pelo contrário, fosse uma mais-valia para o trabalho que realizava
com os seus alunos:
229
A par do seu trabalho com os alunos, Ilda realiza atualmente uma importante atividade
docente, professora orientadora cooperante, que exige um grande investimento da sua
parte, mas que dá um retorno positivo considerável:
Gosto muito de ser orientadora de estágio. Acho que fiz uma boa opção.
Inicialmente tinha algum receio que esta coisa de ter duas pessoas
diariamente a observar e acompanhar o nosso trabalho na sala de aula
não é fácil e ao início estranhei um pouco. Fui convidada e aceitei o
desafio e para já está a correr muito bem. (Ilda, entrevista inicial)
O seu desempenho e a importância que atribui à função de professora orientadora
parecem estar também em linha com a sua própria formação inicial:
230
Mesmo não participando no estudo, razão porque não estive presente em nenhuma das
aulas que lecionaram, os dois estagiários participaram na grande maioria das aulas por
mim observadas e dessa presença fui dando conta no diário de campo elaborado:
231
A formação especializada que realizou tem-lhe permitido entender melhor como deveria
trabalhar com os seus alunos:
Não vejo isto como perda de tempo mas antes como espaço de partilha da
reflexão individual, porque o tempo que possa faltar para trabalhar mais
um ou outro exercício eu sei que eles vão para casa e conseguem fazer
esse trabalho de forma autónoma e também é bom que eles se habituem a
gerir o seu estudo. (Ilda, entrevista inicial)
Contudo, como nos conta, essa partilha entre os alunos, incentivada pela sua professora,
não encontra paralelismo no trabalho desenvolvido pelo departamento de matemática:
(...) todos nós estamos sobrecarregados com tarefas que fogem do âmbito
do trabalho do professor em sala de aula e isso retira alguma
disponibilidade. (Ilda, entrevista inicial)
A outra razão que apresenta para justificar o pouco trabalho colaborativo no seu
departamento é algum desfasamento entre os vários professores no que toca à formação
individual:
232
Já no que toca à reflexão sobre as práticas, quer de ensino quer de avaliação, que os
professores implementam na sua sala de aula, elas não são objeto de partilha entre os
professores que lecionam a mesma disciplina na mesma escola:
Sala de aula nem pensar! Isso nunca foi sequer discutido. A única
situação que tivemos foi quando a escola esteve envolvida no projeto
mais sucesso mas isso acontecia apenas para cumprir atividades que nos
eram propostas. (Ilda, entrevista inicial)
Mas não deixa de reafirmar que seria uma mais-valia para todos discutir em conjunto as
dificuldades que cada um vai encontrando na sua sala de aula:
Nós costumamos elaborar em conjunto a estrutura dos testes para que não
haja grande disparidade entre os testes do mesmo ano. (Ilda, entrevista
inicial)
(...) planificação elaborada em departamento, com a colaboração de todos
os professores. (Ilda, entrevista final)
Ilda gostaria de ver alterada esta postura de isolamento de cada professor na sua sala de
aula:
Se pudéssemos assistir a aulas uns dos outros isso poderia ser uma mais
valia para o meu trabalho com os alunos. Assistir a outras práticas
poderia dar-me ideias para abordagens diferentes. (Ilda, entrevista inicial)
Mas o que Ilda entende como uma mais valia não é entendido da mesma forma pela
maioria dos seus colegas de departamento, inviabilizando a partilha daquilo que fazem
alunos e professor dentro das quatro paredes da sala de aula: “Sala de aula nem pensar!
Isso nunca foi sequer discutido.” e que poderia ser útil na formação contínua dos
docentes:
233
Existe trabalho colaborativo na elaboração de uma planificação, no
estabelecimento de critérios, eventualmente quando discutimos a
estrutura de um teste que seja um instrumento mais importante ou que
tenha mais peso, nivelar graus de dificuldade, essa partilha há. (Ilda,
entrevista inicial)
Por conveniência foi selecionada a turma B do 12º ano desta escola secundária, por ser
uma das duas turmas de décimo segundo ano lecionadas pela professora Ilda e aquela
que tinha um horário de matemática compatível com o horário letivo da investigadora.
Esta turma, do agrupamento de ciências e tecnologias, composta por 29 alunos inscritos
19 raparigas e 10 rapazes, tinha um horário escolar distribuído pelos cinco dias da
semana, de segunda a sexta-feira, entre as 8h15 e as 13h15. Para além da matemática, os
alunos tinham português e educação física como disciplinas obrigatórias e como opção
tinham duas disciplinas anuais, biologia e química. Na turma, seis alunos eram apoiados
pela Ação Social Escolar por terem uma condição sociofamiliar de baixo rendimento
económico e uma aluna estava institucionalizada passando apenas os fins de semana em
casa dos pais biológicos.
Os alunos eram provenientes de três turmas distintas de décimo primeiro ano, uma vez
que no décimo segundo ano as turmas de ciências e tecnologias foram constituídas a
partir das disciplinas de opção indicadas pelos alunos. Por essa razão, alguns alunos
continuaram a ter a professora Ilda, tal como tinha já acontecido no décimo e décimo
primeiro anos, enquanto outros estavam a ter esta professora pela primeira vez no
ensino secundário. Faziam parte da turma três alunos que frequentavam apenas
matemática, por ser a única disciplina que lhes faltava para concluírem o ensino
secundário e poderem candidatar-se ao ensino superior.
234
estagiária sentou-se junto do aluno para fazer com ele um pequeno teste
diagnóstico para perceber as reais possibilidades e dificuldades do aluno,
porque não adiantava pedir-lhe que realizasse tarefas de que ele não tinha
a mais pequena ideia de como fazer. (Diário de campo, aula 1 outubro)
A avaliação diagnóstica realizada permitiu perceber um deficit enorme de Saul face aos
conhecimentos que são estruturantes na aprendizagem da matemática:
Logo no início da aula, o Saul saiu com a estagiária para ir para uma
outra sala fazer trabalho individualizado. (Diário de campo, aula 8
outubro)
O aluno Saul esteve a trabalhar com o manual de 7.º ano no capítulo
equações e a sua atitude foi muito assertiva, estando toda a aula muito
focado na tarefa que lhe foi atribuída pela professora. (Diário de campo,
aula 10 dezembro)
Devido ao grande insucesso académico, na generalidade das disciplinas, Saul
abandonou a escola no final do segundo período para regressar ao Brasil.
Os três alunos que pretendiam propor-se a exame como externos estiveram a frequentar
as aulas de matemática, para concluírem o décimo segundo ano ou para melhorarem a
sua classificação na disciplina e simultaneamente a sua nota de candidatura à
universidade:
235
Apesar de estes alunos não terem uma classificação oficial, em pauta, isso não invalidou
que fossem tratados pela professora Ilda da mesma forma que os alunos matriculados na
disciplina, tanto na realização das várias tarefas em sala de aula, como no apoio extra
aula e mesmo nas várias avaliações de natureza sumativa:
236
Eu também escolheria matemática se ela não fosse obrigatória, mas
penso que é uma disciplina que muitos alunos não escolheriam se
tivessem essa possibilidade. Às vezes, a matemática é difícil e se não
temos um bom professor, que entenda as nossas dificuldades e saiba
como nos ajudar a ultrapassá-las, acabamos por desistir da disciplina.
(Tânia, entrevista M5)
A organização das turmas de 12.º ano, nesta escola, é determinada pelas disciplinas de
opção escolhidas pelos alunos o que implica que as turmas de ciências e tecnologias
sejam reformuladas na transição para o 12.º ano. Na prática foi atribuída à professora
Ilda a turma com a opção de biologia e química, onde se mantiveram a maioria dos
alunos que já tinham estado com esta professora nos 10.º e 11.º anos, aos quais se
juntaram alunos que vinham de duas outras turmas de 11.º ano que não tiveram Ilda
como professora no ensino secundário:
A classificação interna teve uma média de 14,33 valores, sendo de realçar que todos os
alunos inscritos na disciplina foram a exame como internos. Do total dos 27 alunos: 10
tiveram entre 10 e 13 valores; 13 tiveram entre 14 e 17 valores; 4 tiveram entre 18 e 20
valores. A média da classificação em exame da turma esteve em linha com a média da
237
escola e sete décimas acima da média nacional da disciplina de matemática na 1ª fase de
exames de 2016 de acordo com o apresentado no quadro 14.1
Se o exame no final do ano ou do ciclo não existisse nem falaria dele mas
como existe e tem um peso muito grande na definição do futuro dos
alunos porque é um momento que define o seu percurso. (Ilda, entrevista
final)
Eu sei que a preocupação da professora é preparar-nos para o elevado
grau de dificuldade do exame pois se conseguirmos isso vamos fazer
facilmente o exame. (Vânia, aula 28 janeiro)
1
Por se tratar de uma disciplina com exame a nível nacional tem avaliação sumativa interna e externa. A
avaliação sumativa interna resulta da média das classificações atribuídas pelo professor no final de cada
ano letivo, 10º, 11º e 12º, que não pode ser inferior a 9,5 valores, numa escala de 0 a 20 valores. A
avaliação sumativa externa é a classificação obtida no exame nacional realizado no final do 12º ano. A
classificação final na disciplina é a média ponderada entre as duas, onde a interna tem um peso de 70%
e a externa 30%.
238
Prática de ensino de Ilda
239
Ações da professora
A heterogeneidade da turma, mesmo tratando-se de alunos do décimo segundo ano,
obriga a que o professor recorra a diferentes estratégias para conseguir envolver todos
os seus alunos. Nesta turma, a professora foi confrontada com uma situação extrema já
referida, o aluno Saul, que no início do ano estava ao nível do 5.º ano no que respeita ao
conhecimento matemático, obrigando mesmo à implementação de um ensino
individualizado, que só foi possível porque a professora Ilda tinha o apoio dos dois
estagiários na sua sala de aula:
Por um lado, dar espaço quando todos querem participar e, por outro, não
deixar que dois ou três alunos monopolizem o espaço de intervenção.
Continuo a sentir dificuldade em gerir toda aquela parte emocional que
está ali à solta na sala de aula e que nem sempre é visível e clara. (Ilda,
entrevista inicial)
240
Não menos importante é mostrar ao aluno que o professor acredita nele, tem confiança
no seu trabalho, daí a preocupação de Ilda em incutir no aluno essa força para continuar
a investir mesmo quando os resultados não são tão satisfatórios:
241
dar-lhes essa perspetiva de que noutras escolas também se fazem coisas
engraçadas. (Ilda, entrevista final)
É por nós vermos que a professora Ilda nos respeita que nós também
temos um enorme respeito por ela e esforçamo-nos para tirar os melhores
resultados possíveis. A professora acredita em nós e faz tudo para que
ultrapassemos as nossas dificuldades e por isso tentamos retribuir com
trabalho e esforço toda a dedicação da professora. Com a maioria dos
outros professores não sentimos isso. (Cátia, entrevista M5)
Ilda procurou estar sempre muita próxima dos seus alunos, pois dessa forma poderia
oportunamente ajudá-los a superar dúvidas e dificuldades, apoiando-os num momento
mais difícil:
Nos dois últimos dias o meu email foi inundado com dúvidas e questões,
o que é excelente e não me incomoda nada. Respondi às dúvidas
individualmente.
(...) O trabalho é autónomo. Comecem a trabalhar que eu e os estagiários
vamos circular para responder às vossas dúvidas e questões. (Ilda, aula 1
outubro)
Os alunos sentiram essa proximidade proporcionada por Ilda, não só para ajudar a
superar as dificuldades que iam surgindo mas, sobretudo, por lhes dar um conforto
emocional e um apoio que não era muito habitual:
242
A proximidade da professora foi entendida e até bem recebida pela quase totalidade dos
alunos porque não a viram como uma ingerência na sua vida pessoal mas antes como
uma forma de os apoiar:
Comigo acontece uma coisa engraçada. Eu vou muitas vezes para casa a
pensar como resolver um determinado problema ou exercício pois
frequentemente a professora lança exercícios como verdadeiros desafios
e eu quero muito conseguir resolvê-los para mostrar à professora que
consegui, fui capaz, mesmo que tenha que consumir algum tempo nessa
tarefa. (Jacinta, entrevista M2)
243
Mas este nosso desenvolvimento aconteceu porque tivemos a sorte de ter
uma professora que está sempre a desafiar-nos para chegar mais longe.
(Soraia, entrevista M5)
(...) é muito importante que nos coloquem sempre os exercícios como um
desafio e a professora Ilda faz isso muito bem. (Tânia, entrevista M5)
Habitualmente já gosto de participar nas aulas mas na aula de matemática
ainda gosto mais de participar porque a professora está constantemente a
lançar desafios aos quais é impossível não reagir. (Hugo, entrevista M2)
Quando estou a trabalhar matemática parece que me abstraio do resto e
fico ali como se tratasse de um jogo. Então quando se trata de exercícios
com maior grau de dificuldade a vontade de ficar ali até acabar é ainda
maior. E é mérito da professora passar-nos esse gosto pela matemática e
ver os exercícios como desafios que nós queremos vencer. É o prazer por
conseguir fazer bem feito. (Tomás, entrevista M4)
Uma importante estratégia para facilitar o envolvimento dos alunos, referida por muitos
investigadores (Tomlinson, 2017) e implementada por Ilda, foi o incentivo constante
aos seus alunos para que desenvolvessem o seu trabalho de forma autónoma, sem
necessitar de uma intervenção constante do professor, permitindo-lhes evoluir na
construção da sua aprendizagem:
244
em casa mas, na verdade, é a única disciplina em que trabalhamos todos
os dias em casa porque isso nos dá prazer. (Cátia, entrevista M5)
Quando os alunos são capazes, de forma autónoma, avançar na construção da sua
aprendizagem, com o professor a auxiliar a descoberta, estamos na presença de um
processo de liderança, incentivado pela professora e assumido por muitos alunos:
245
O ritmo de trabalho elevado não se limitava à sala de aula. A aula de apoio, uma vez por
semana, estava sempre lotada, porque era vista como mais um espaço de aprendizagem:
246
limite de uma relação que é sempre de professor e aluno. (Sónia,
entrevista M2)
A professora Ilda tem uma forma especial de se relacionar com os alunos
porque ela vê no aluno a pessoa que tem necessidades de apoio escolar
mas também tem necessidade de uma parte afetiva que muitos
professores não entendem. (Gervásio, entrevista M1)
Para o envolvimento que testemunhei nas aulas, fruto da enorme motivação dos alunos
para trabalhar matemática, foi determinante a professora Ilda, pela sua personalidade
mas também pela forma empolgada como procurou ensinar matemática aos seus
alunos, o que foi muito sentido e referido por eles:
(..) este ano, não acho que estude muito matemática, mas trabalho algum
tempo a fazer exercícios de matemática e dá-me um gozo especial fazer
exercícios novos porque dão luta e obrigam-me a puxar pelo raciocínio e
concentração. São como um jogo. (Duarte, aula 5 fevereiro)
A atitude da professora faz com que nós tenhamos vontade de chegar
sempre mais longe e fazer exercícios mais difíceis acaba por ser um
desafio. (Humberto, entrevista M2)
247
É por estarmos tão envolvidos a trabalhar que a aula de matemática passa
tão depressa, mesmo quando a aula é às 8h da manhã não vemos
ninguém a dormir, pelo contrário. (Gervásio, entrevista M1)
Para além disso, não menos importante, é o facto de os alunos terem que realizar um
exame nacional no final do ano letivo, cujo resultado para muitos será determinante na
hora de se candidatarem ao ensino superior, como é reconhecido quer por Ilda, quer
pelos alunos:
Quando pego num exercício não páro enquanto não fica resolvido. E às
vezes acabo por estar ali a tarde toda a resolver exercícios sem dar conta
do tempo a passar. Esta professora fez com que a matemática fosse uma
diversão. É como se fosse um jogo onde nós passamos o tempo sem dar
conta. (Sandra, entrevista M4)
No 12º ano os desafios constantes da professora motivaram-me muito
para trabalhar, dentro e fora da sala de aula, trabalhando com prazer e
não por obrigação ou necessidade como acontecia antes. Apesar de o
grau de dificuldade ter aumentado eu consegui adaptar-me muito bem e
subir as minhas notas. (Cátia, entrevista M5)
248
Acho que sentimos uma grande vontade e responsabilidade de tirar bons
resultados no exame para retribuir à professora a sua dedicação. Penso
que também é uma forma de mostrar o nosso agrado com o trabalho dela.
(Tânia, entrevista M5)
Diferenciação Pedagógica
Ainda não percebi o que está a acontecer, se sou eu que estou mais atenta
a identificar e refletir nas diferenças entre os alunos ou então há um
grande aumento das diferenças entre os alunos, com necessidades cada
vez mais específicas e não estou a falar aqui de alunos diagnosticados
como alunos com necessidades educativas especiais. Temos muitos
alunos que passam por entre a chuva e que precisavam de trabalhar de
forma diferente em relação ao trabalho que se faz no geral em termos de
sala de aula.
(...) Tenho duas turmas de oitavo ano que o único aspeto em comum é o
número de alunos. Ambas têm trinta alunos, de resto são diferentes em
tudo. Têm contextos muito distintos. Quem entrar na minha sala de aula,
numa e noutra turma, nem acredita que a professora é a mesma. (Ilda,
entrevista final)
A turma que participou na investigação tinha alunos muito diferentes, quer em termos
das suas competências matemáticas quer em termos dos seus interesses pessoais, daí
fazer todo o sentido pensar na implementação de práticas diferenciadas embora esse não
seja um procedimento habitual em termos de escola, como nos explica a professora:
249
Para Ilda, os próprios alunos não estão habituados a trabalhar de forma diferenciada e
acabam por vivenciar situações contraditórias o que os leva a ter opiniões muito
diversas sobre o assunto:
A ideia que nos têm passado é que o que é justo é tratar todos da mesma
forma. Eu lembro-me de ter sido castigado por disparates cometidos por
um aluno da turma porque a professora dizia que tinha que ser igual para
todos. (Álvaro, entrevista M4)
Acho que a escola acaba por formatar todos os alunos para que pensem
de forma semelhante e eu acho que fui muito penalizada por isso. A
escola devia dar mais espaço para as diferenças porque isso não significa
menor qualidade pelo contrário, é a diversidade que tráz uma maior
riqueza a todos. (Florbela, entrevista M4)
Os testes deveriam ser como os exames iguais para toda a gente. Acho
que as várias turmas da escola deveriam fazer testes iguais e ao mesmo
tempo porque uma turma de 12º ano que tem outra professora tem
sempre testes mais fáceis e acho isso injusto. (Bárbara, entrevista M3)
Para Ilda a diferenciação pedagógica que o professor é obrigado a fazer quando tem
alunos com necessidades educativas especiais, integrados na turma, decorre de um
imperativo legal e institucional. Estes alunos, que têm dificuldades de aprendizagem
diagnosticadas por especialistas, médicos ou psicólogos, são acompanhados pela equipa
de educação especial que elabora, em conselho de turma, um plano de intervenção
direccionado para adequar o ensino às necessidades e possibilidades desses alunos.
Apoiado por todo este enquadramento e acompanhamento Ilda considera ser fácil
diferenciar o trabalho que o professor faz com estes alunos:
250
ao bom senso do professor, “o acreditar que isso é importante” para trabalhar
diferenciadamente na sua sala de aula:
(...) temos uma outra situação (...) onde fazer a diferenciação é muito
mais difícil do que nos casos anteriores porque a diversidade é enorme e
obriga a despender muito tempo para preparar as diferentes atividades,
porque primeiro tenho que conhecer bem os alunos que tenho e depois
posso estar para aí virada ou não. O “estar para aí virado” depende de
dois aspetos por um lado o professor tem que acreditar que isso é
importante e por outro tem que ter tempo para o fazer. (Ilda, entrevista
final)
Vários autores (Heacox, 2006; Tomlinson, 2017) apontam o bom conhecimento dos
alunos como uma condição fundamental para implementar a diferenciação pedagógica.
Ilda também considera que só é possível implementar estratégias de diferenciação
pedagógica quando o professor conhece bem os seus alunos, pois só assim conseguirá
desenvolver uma prática de ensino que dê resposta a cada um deles. A continuidade
pedagógica ajuda a desenvolver este conhecimento:
251
Ações da Professora
Antes de iniciar o estudo de cada nova unidade temática, Ilda procurou saber onde os
seus alunos estavam, em termos de aprendizagem, para começar a partir daí e não de
onde eles deveriam estar:
Pedi a três alunos que preparassem e dessem à turma uma aula sobre o
último conteúdo a ser trabalhado. tinhamos pouco tempo mas
conseguimos preparar a aula e os alunos empenharam-se imenso nessa
tarefa. Esta tarefa obriga a bastante trabalho por parte dos alunos. (Ilda,
entrevista final)
Houve uma troca de sala, combinada previamente, para que a turma
pudesse usufruir da sala da matemática, localizada no mesmo pavilhão
mas no piso térreo. Esta troca visava proporcionar à turma a exploração
dos vários jogos matemáticos disponíveis. No início da aula a professora
252
permitiu aos alunos escolher o que queriam fazer, a resolução de uma
ficha de trabalho com exercícios de exames e de testes intermédios ou
ocupar-se com a realização dos jogos que estavam espalhados pela sala.
(Diário de campo, aula 18 fevereiro)
Na matemática a professora deu-nos espaço para sair do livro e viver fora
do livro. Podemos seguir caminhos diferentes desde que o resultado final
esteja certo. (Cátia, entrevista M5)
É frequente, nas aulas [das outras disciplinas] sempre que dois alunos
estão a conversar que o professor os repreenda e mande calar porque a
aula é para estar atento a ouvir o professor, mas a professora Ilda não faz
isso quando vê que os alunos estão a discutir um exercício ou um aluno
está a ajudar a esclarecer uma dúvida de um colega. (Gervásio, entrevista
M1)
Há contudo dificuldades com que Ilda se confronta na sua prática de diferenciação
pedagógica. Ilda reconhece que a pressão para cumprir um programa extenso e a
necessidade de preparar os alunos para um exame determinante para o seu futuro
académico, não lhe permitiu implementar as práticas diferenciadas com a frequência
que seria desejável para alguns alunos:
Muitas vezes eu sei que deveria fazer a diferenciação mas não a faço
porque não tenho tempo porque eu sei que o meu discurso em sala de
aula não chega a todos da mesma forma.
(...) Quando eu estou a apresentar quero que estejam todos atentos e
quando termino dou-lhes tempo para fazerem os seus registos mas
percebo que alguns alunos precisavam de mais tempo e não é possível
porque a aula tem que avançar e eu não posso parar ali para aqueles mas
deveria porque aqueles cinco ou seis minutos não foram suficientes para
eles absorverem a informação que eu dei. (Ilda, entrevista final)
Apesar de haver a pressão do programa para cumprir e a necessidade de preparar os
alunos para o exame a realizar no final do ano letivo, Ilda procurou fazer a articulação
entre esses dois aspetos, tentando dar resposta às diferentes necessidades dos seus
alunos:
253
responder a dúvidas individuais porque têm a matéria para dar. (Isaías,
entrevista M1)
Quando surge uma dúvida na matemática a professora volta a explicar
mas de modo diferente e se mesmo assim alguém não entende ela tenta
simplificar ainda mais e só pára quando não restam mais dúvidas.
(Jacinta, entrevista M2)
Ilda não deixou de referir, na entrevista final, que o elevado número de alunos por
turma, geralmente trinta, é demasiado elevado para lhe permitir implementar uma
prática de ensino que respeite as diferenças que existem no seio das turmas: “Se as
turmas tivessem menos alunos seria possível trabalhar de outra forma”, dando mesmo o
exemplo da estratégia implementada para a sua turma de oitavo ano, trabalhar com
grupos de nível, no sentido de contrariar o elevado insucesso registado no ano letivo
anterior com um outro professor de matemática:
254
Saí da faculdade formatada com o quadrado [organizar a sala de aula em
quadrado] e a pouco e pouco fui-me habituando a trabalhar com pares.
(Ilda, entrevista final)
Há sempre um ruído de fundo na sala porque os pares trocam ideias e
argumentos mas esse ruído em nada prejudica o trabalho da turma.
(Diário de campo, aula 28 abril)
(...) toda a turma tem um bom espírito de entreajuda e os alunos
trabalham muito a pares pois estão sentados em função das afinidades
individuais mas mantêm os lugares de umas aulas para as outras. (Diário
de campo, aula 5 maio)
Esta organização do trabalho não só é reconhecida pelos alunos, distinguindo-a da sua
experiência escolar anterior, como é do seu agrado:
255
Mas apesar da reduzida dimensão da sala Ilda considera que esta disposição está mais
de acordo com o seu modelo de ensino:
256
consolidação dos mesmos, seguida de uma outra parte, com duração semelhante, com
trabalho individual ou a pares, para a resolução de exercícios:
257
Fora da sala de aula, alunos e professora recorriam frequentemente às redes sociais e
por vezes ao email, para trocar ideias, solicitar esclarecimento de dúvidas ou para passar
alguma informação:
Níveis de diferenciação
Com esta investigação procurei perceber se e como esta professora de matemática, nesta
escola, recorreu à diferenciação pedagógica para trabalhar com os seus alunos nos três
níveis distintos: o conteúdo, que engloba o que os alunos devem aprender; o processo,
que abarca a forma como os alunos aprendem; o produto, que nos diz o que os alunos
realizam, isto é, que evidenciam em relação às aprendizagens alcançadas.
Ilda tem como prioridade o curriculum em vigor, porque ele estará na base do exame
que os alunos terão que realizar, pelo que considera difícil fazer diferenciação a nível
dos conteúdos:
(...) sei que o meu discurso em sala de aula não chega a todos da mesma
forma. Eu discurso para trinta e não tenho como diferenciar o meu
discurso, posso repetir um outro aspeto mas o discurso é para os trinta.
(Ilda, entrevista final)
Foi clara a aposta da professora Ilda na preparação dos seus alunos para que estivessem
aptos e confiantes para enfrentar um exame final de ciclo, garantindo um sucesso que
lhes permitisse concluir o ensino secundário e aceder ao ensino superior, num curso da
sua preferência e sujeito a um número de vagas previamente delimitado:
258
(...) a preocupação da professora é preparar-nos para o elevado grau de
dificuldade do exame pois se conseguirmos isso vamos fazer facilmente
o exame. (Vânia, aula 5 fevereiro)
(...) quando um professor explica bem e nos prepara para testes difíceis,
como faz a professora Ilda, nós vamos melhor preparados para o exame
que de um modo geral é difícil. (Joana, aula 5 abril)
Deste modo, os conteúdos trabalhados eram semelhantes porque a meta dos exames era
partilhada pelos alunos e, para muitos, a motivação para trabalhar autonomamente
resultava precisamente de quererem obter uma classificação de acordo com as suas
expectativas:
(...) não tenho dúvidas de que vou tirar 20 no exame. Tenho a certeza que
consigo resolver todos os exercícios, o que não significa que não cometa
uma ou outra distração. Eu também tenho o caderno das dicas e como
vou estudar todas elas já estou alerta para as rasteiras ou truques que
possam surgir. (Duarte, aula 5 fevereiro)
A aula de hoje teve como preocupação central a preparação dos alunos
para exame. (Diário de campo, aula 28 abril)
Nós já estamos tão habituados a trabalhar com este ritmo diário com a
professora que não precisamos de alterar nada por causa do exame
porque nós já fizemos exercícios de exame ao longo de todo o ano.
(Bertilde, entrevista M5)
Quando aqui há dias fui ver os exames dos últimos anos constatei que já
tinha feito todos aqueles exercícios ao longo do ano e ainda me lembrava
de como os resolver. (Tânia, entrevista M5)
Apesar de os conteúdos serem os mesmos, Ilda sempre incentivou os seus alunos a
pensarem e a resolverem as várias tarefas com estratégias variadas ou com diferentes
graus de dificuldade, o que permitia fazer a diferenciação ao nível dos processos:
259
Foi importante que esta professora tenha dado espaço para opiniões
diferentes dos alunos e sempre que alguém conseguia desenvolver uma
resolução diferente, a professora solicitava ao aluno que a partilhasse
com toda a turma. (Tânia, entrevista M5)
A diferenciação ajuda o processo de aprendizagem, mas deve ajudar também os alunos
a mostrarem o que realmente aprenderam, ou seja, os produtos da aprendizagem. A
prática avaliativa será analisada de forma mais exaustiva mais adiante mas seria desde
já de realçar algumas ideias mais genéricas sobre a diferenciação a nível dos produtos
da aprendizagem. Embora todos defendam uma avaliação justa sobressai a ideia,
partilhada por muitos alunos e pela maioria dos professores de matemática da escola, de
que isso só se cumprirá se for igual para todos (Wormeli, 2006), o que leva a que sejam
realizados testes escritos, com propósito somativo, iguais para os alunos das várias
turmas, apesar de terem feito um trabalho diferente na sala de aula:
(...) fizemos muitas vezes testes iguais [para todas as turmas do mesmo
ano]. Não fizemos sempre mas fizemos muitas vezes. Nem sempre
fazíamos o teste todo igual, variando um ou outro grupo de questões.
(...) Eu consigo implementar diferenciação nas práticas avaliativas mas às
vezes isso não é bem visto [pelos professores do departamento]. (Ilda,
entrevista inicial)
Para que a avaliação seja justa ela tem que ser igual para todos. Portanto
o que a professora faz para um aluno tem que fazer igual para todos.
(Jacinta, entrevista M2)
(...) a professora foi usando diferentes formas de avaliar as nossas
aprendizagens ao longo do ano e por vezes chegou mesmo a introduzir
diferenças na forma de avaliar diferentes alunos dando fichas mais
difíceis a uns enquanto que a outros preferia dar-lhes fichas mais fáceis
que estariam ao seu alcance caso se esforçassem. (Sandra, entrevista M4)
260
(...) gosto muito, deixar os alunos à vontade para explicarem o seu
raciocínio, mostrarem como pensam, e isso ajuda-me a perceber como
estão a evoluir. (Ilda, entrevista inicial)
(...) é preciso dar muito espaço aos alunos. (Ilda, entrevista final)
Há espaço para que todos os alunos cresçam e é a professora que nos
desafia a conseguirmos chegar mais à frente. (Hugo, entrevista M2)
A professora Ilda sempre se preocupou em respeitar as diferentes formas
de pensar dos alunos, na resolução dos vários exercícios, mesmo que
aquela não seja a resolução escolhida por si. (Sandra, entrevista M4)
A professora Ilda dá-nos o tempo de que precisamos para fazer o
exercício ao nosso ritmo. (Álvaro, entrevista M4)
Para que os seus alunos cheguem mais longe Ilda investe fortemente em manter altos os
seus níveis de motivação, como é explicado pelos próprios alunos:
A professora puxa muito pelos alunos e é por isso que eu digo que estou
muito motivada. (Joana, aula 5 abril)
Às vezes a professora dá-nos um exercício que olhamos para ele e
dizemos logo que nunca seremos capazes de o realizar sozinhos e a
seguir a professora diz: “Agora vão para casa pensar no exercício”. E não
é que a maior parte vai para casa tentar resolver o exercício e depois até
vamos para o facebook trocar ideias e discutir soluções a tentar ver quem
consegue. (Tomás, entrevista M4)
(...) sou muito mais empenhada na disciplina de matemática do que nas
restantes e isso tem tudo a ver com a forma como trabalhamos nas aulas.
(Isaías, entrevista M1)
Uma estratégia implementada por Ilda, resultante da organização da turma nos tempos
de trabalho autónomo, é a utilização dos alunos como importantes recursos de apoio
aos pares. Trabalhar a pares foi importante porque permitiu que os alunos recebessem
mais feedback relativo aos erros que iam cometendo. Apesar de na maior parte das aulas
a professora Ilda ter o apoio dos dois estagiários para dar resposta às solicitações dos
alunos, seria difícil chegar a todos eles sem quebras no ritmo de trabalho, que acabariam
por levar a comportamentos fora da tarefa. Com os alunos a trabalhar, trocando ideias e
discutindo procedimentos, mesmo que isso provoque algum ruído de fundo, não há
perdas de tempo com distrações ou conversas paralelas porque o ritmo de trabalho é
sempre muito intenso:
261
tenham uma capacidade de entreajuda que facilita o trabalho. (Ilda,
entrevista final)
Responder a uma ficha a pares é muito mais favorável a uma melhor
aprendizagem porque obriga a que vamos discutindo e argumentando
cada resposta e também vamos aprendendo com o colega. (Isaías,
entrevista M1)
E às vezes também temos dúvidas que a professora não entende, até pela
forma como as colocamos, e o colega entende e rapidamente consegue
ajudar a ultrapassar. (Gervásio, entrevista M1)
A dúvida lançada por um aluno leva a outras dúvidas mas também a uma
atitude de colaboração para superarmos as dúvidas do colega. Há na
verdade uma grande entreajuda porque fisicamente é impossível a
professora chegar a toda a gente ao mesmo tempo e com esta ajuda entre
nós possibilita que toda a gente esteja sempre a trabalhar durante toda a
aula, sem tempos de paragem. (Jacinta, entrevista M2)
Também considero ser muito importante conseguirmos trabalhar bem
com o nosso parceiro. Ao longo do ano sempre que tinha uma dúvida a
primeira pessoa a quem me dirigia para a tentar ultrapassar era à minha
parceira e só depois solicitava a ajuda da professora se entre nós não
conseguíamos ultrapassar essa dificuldade. (Heitor, entrevista M1)
Ilda considera que, em cada turma, a diversidade de alunos é cada vez maior, mas
aponta várias dificuldades para não assumir a diferenciação pedagógica como uma
característica da sua sala de aula, nomeadamente: o elevado número de alunos na sala
de aula, 31; o curriculum que tem que ser cumprido; o exame a realizar no final do ano
letivo e que será determinante para o futuro académico de muitos alunos.
262
mais nítida fica a fotografia em relação ao que já aprenderam e às dificuldades que
ainda persistem. Para conhecer os seus alunos, Ilda fez uma recolha constante de
informação:
263
aprendizagem também se faz sem testes e que há outros momentos em
que eles poderão ser avaliados. (Ilda, entrevista final)
Também os alunos perceberam a importância da avaliação sistemática do trabalho,
realizada ao longo do ano, pela informação que proporcionava tanto à professora como
aos próprios, sobre a forma como estava a evoluir a sua aprendizagem:
264
os professores, de um modo geral (...) bem raras são as situações em que
o professor manda fazer uma tarefa que recolhe para ver em casa e não é
atribuída uma classificação.
(...) Aqui [nesta escola] essa perspetiva formativa da avaliação não é
uma prática muito implementada. (Ilda, entrevista inicial)
por outro lado aquilo que os alunos têm vivido ao longo da sua escolaridade e a ideia
dos próprios pais, o que esperam para os filhos em função do que eles próprios viveram
enquanto alunos:
Da parte da escola senti sempre uma grande pressão pelos resultados que
os alunos têm nos exames, é sempre necessário justificar e ao meu
departamento são sempre exigidas justificações. Por parte da escola há
sempre uma pressão muito grande. (Ilda, entrevista final)
mas também sente alguma pressão pelo facto de o exame ser tão importante para os
alunos:
265
Quem já vem com a professora desde o 10.º ano já está completamente
habituado à sua forma de trabalhar. Talvez a professora tenha mostrado
[este ano] mais preocupação com o exame e como nos preparar para ter
sucesso em algo que vai ser determinante para o nosso futuro. (Florbela,
entrevista M4)
Esta prática de treino não só foi bem aceite pelos alunos como foi mesmo considerada
uma mais-valia, quando comparada com o que aconteceu no ano anterior noutras
disciplinas:
266
conseguir fazer estes registos porque ou eu estou a trabalhar com os
alunos ou estou a fazer os registos. A questão da avaliação formativa é
importante mas essa questão da formalização é muito difícil. Eu conheço
muito bem os alunos e sei como eles estão a evoluir mas fazer esses
registos eu não consigo. (Ilda, entrevista final)
Vários autores (Hattie, 2012; Stiggins, 2017; Wiliam, 2016) defendem a ideia de que
não há nenhum método ou estratégia de ensino que funcione bem com todos os alunos,
em todas as salas de aula ou implementadas por todos os professores. Cabe ao professor
identificar as estratégias que ele seja capaz de implementar com os seus alunos de modo
a que consiga levá-los, todos eles, a obterem sucesso, isto é, a aprender. Foi objetivo
desta investigação perceber que estratégias usou a professora Ilda, na sua prática
avaliativa, para levar os seus alunos a aprender.
Quando os alunos sabem exatamente o que o professor pretende que eles aprendam,
torna-se mais fácil para eles trabalharem para alcançar essa aprendizagem, permitindo-
lhes tomar as rédeas do processo (Moss & Brookhart, 2012). Sabendo onde devem
chegar, conhecendo as condições que dão sentido ao trabalho que realizam, permite-lhes
ir acompanhando o seu crescimento e corrigindo eventuais desvios (Battelle for kids,
2010). Para a professora Ilda os objetivos de aprendizagem resumiam-se a seguir o
programa da disciplina focando nos conteúdos que iriam ser escrutinados no exame
nacional:
267
Os critérios de classificação de matemática tinham sido elaborados pelo
respetivo departamento, tendo o seu coordenador levado essa proposta à
reunião de conselho pedagógico que a confirmou. (Diário de campo, aula
15 outubro)
Mas a postura da professora Ilda em alterar a aplicação dos critérios
acontece porque ela tem uma mente mais aberta que lhe permite fazer
adaptações e não seguir tudo demasiado à letra. (Hugo, entrevista M2)
Encontrei uma abordagem distinta, ao longo do ano, em relação aos critérios de
avaliação e aos objetivos de aprendizagem. Embora não tenham sido partilhados com os
alunos os critérios de avaliação que seriam aplicados nas diferentes tarefas solicitadas, a
professora Ilda dava início a cada aula apresentando os seus objetivos de aprendizagem:
(...) recorria aos critérios [de correção do teste] para lhes mostrar como
fazia essa correção [do teste] partindo da distribuição da cotação por
etapas ou por níveis de desempenho, de que nunca tinham ouvido falar, e
fazia-o com o objetivo de lhes mostrar que nós temos que ir à procura do
que está errado mas também estamos muito à procura do que está certo
para que seja valorizado. (Ilda, entrevista final)
Conhecer os critérios de avaliação não trouxe grande mais-valia à nossa
avaliação até porque eles atribuem um peso exagerado aos testes.
(Álvaro, entrevista M4)
Nunca me preocupei com os critérios porque eu estudo matemática por
fazer e não estou preocupado com classificações porque sei que
aparecem naturalmente. (Humberto, entrevista M2)
268
deveriam desenvolver quando lhes era pedida uma determinada tarefa, razão pela qual
também teriam dificuldade em fazer a sua autoavaliação. Os critérios publicitados,
designados por “Critérios Específicos de Classificação e Instrumentos de Avaliação de
Matemática”, mais não fazem do que explicitar o peso que deve ser atribuído pelo
professor a cada um dos métodos de recolha de informação. No caso da matemática foi
determinado que os testes escritos deveriam ter um peso de 80% na classificação final
enquanto que fichas, trabalho a pares, trabalho em pequeno grupo, composições
matemáticas, trabalho de casa e outros, deveriam ter um peso de 15%. Tendo em conta
que é ao professor que cabe a responsabilidade de classificar o aluno no final de cada
período letivo, é pois percetível que os alunos considerem que os critérios de avaliação
não são importantes para eles, apenas o são para os professores:
269
mesmo que a mereça. Esta professora não se guia tanto pelos critérios de
avaliação estabelecidos. (Vanessa, entrevista M2)
Os critérios de avaliação estão sempre presentes porque são eles que vão
determinar a nossa nota final e acho que acabam por exercer também
uma grande pressão sobre nós porque quando nos espalhamos num teste
sabemos que essa nota vai acabar por prejudicar a classificação final.
(Berta, entrevista M3)
Um dos problemas que deveria ser corrigido é o peso exagerado que os
testes têm na nossa classificação. Na matemática, por exemplo, os testes
determinam 80% da nota da disciplina e deixam de fora todo o trabalho
que fazemos na sala de aula e em casa. (Tânia, entrevista M5)
Na verdade, os alunos não só consideram que os critérios não têm utilidade para eles
como acreditam que são prejudicados pelos critérios de avaliação porque estes não têm
em conta todo o trabalho que desenvolvem na construção da sua aprendizagem. Eles
acreditam que esse efeito prejudicial dos critérios de avaliação é atenuado e contornado
pela professora Ilda quando tem em conta o trabalho desenvolvido pelos alunos, dentro
e fora da sala de aula:
Ter uma avaliação onde os testes escritos têm um peso menor. Eu já vivi
noutra escola, onde os testes valiam 50%, e penso que deveria haver a
possibilidade de considerarmos outros instrumentos diferentes dos testes
na avaliação dos alunos. Mas não ter testes não concordo porque o teste
também é um momento de trabalho individual.
(...) esta atividade de os alunos prepararem e lecionarem à turma um
determinado conteúdo não está pensada em termos de instrumento, tenho
que ser eu a fazê-lo. E depois foge ao que está definido pelo
270
departamento. (...) para os alunos deu muito mais trabalho a preparar do
que um teste escrito.
(...) Na avaliação sumativa interna dos meus alunos tive que fazer
algumas adaptações para aproveitar o melhor que cada um conseguiu
fazer. É normal que em três ou quatro fichas uma corra mal e eu tive a
preocupação de não contabilizar o pior desempenho porque na verdade
eles passaram quase duzentas horas comigo e tiveram ali quarenta e cinco
minutos que não correrem bem, paciência. (Ilda, entrevista final)
Já os alunos, muitos deles, consideram que a forma como é recolhida informação para
os classificar, muito centrada em dois ou três testes escritos por período, não lhes
permite mostrar o que realmente aprenderam nas muitas horas dedicadas ao estudo da
disciplina, tanto na sala de aula como em trabalho autónomo:
A abordagem do erro
271
na construção da aprendizagem, nomeadamente no desenvolvimento de competências
de autoavaliação e autorregulação por parte dos alunos (Earl, 2013; Esteban, 2004,
Steuer & Dresel, 2015). A professora Ilda também realçou o importante papel do erro
no processo de aprendizagem e ensino:
Houve uma clara preocupação de Ilda em mostrar aos alunos o importante papel do erro
na construção das suas aprendizagens. Em todos os momentos em que ocorria avaliação
formativa, uns mais formais, outros mais informais, o erro era tratado como algo que
não deveria ser escondido nem temido, porque dava informações muito úteis tanto para
os alunos como para a professora:
272
Dada a importância que atribui ao erro, na sua prática, Ilda procurou sempre incentivar
os seus alunos a não o temerem e a estratégia a que muitas vezes recorreu foi a
abordagem humorística:
273
preocupação não tinha sido classificar mas antes perceber o que os alunos
já tinham aprendido e quais os erros que ainda eram cometidos. (Diário
de campo, aula 8 outubro)
Senti sempre que a professora preferia que cometêssemos erros do que
não tentássemos sequer fazer porque através dos erros era mais fácil
identificar as nossas dificuldades. (Bárbara, entrevista M3)
A professora até parece que gosta dos nossos erros porque a partir deles
consegue alertar toda a turma para o que não deve fazer evitando que
outros alunos cometam o mesmo erro. (Gervásio, entrevista M1)
Outra estratégia intencional de Ilda, para dar valor aos erros cometidos pelos alunos, foi
o seu uso na preparação e adequação do feedback às necessidades de cada aluno:
(...) o aluno fez uma coisa que não estava correta e eu tive que lhe
mostrar que ele fez mal mas deixando o aluno perceber o seu erro sem se
sentir inferiorizado ou intimidado por isso. (Ilda, entrevista final)
Tratou-se apenas de recolher informação que possibilitará fornecer aos
alunos o feedback necessário para ultrapassarem as suas dificuldades.
(Diário de campo, aula 8 outubro)
Nós às vezes estávamos a apresentar a nossa resolução um bocado
envergonhados, sem saber se estávamos a dizer um grande disparate e a
professora incentivava a que continuássemos mesmo que se tratasse de
um erro para nos levar a perceber esse mesmo erro e a conseguir
ultrapassá-lo. (Camila, entrevista M1)
Mas Ilda fez sempre uma clara distinção entre o erro cometido nos vários momentos de
avaliação formativa, muitas vezes objeto de feedback da professora ou mesmo dos
pares, e o erro cometido nas situações de avaliação sumativa, aqui sim com um
propósito penalizador em termos de classificação:
Hoje assinalei as falhas para perceberem que têm sempre que apresentar
as justificações. Hoje não penalizei esse erro mas identifiquei-o para
vocês perceberem o que têm que corrigir. Na próxima questão de aula, se
voltarem a cometer esse erro, que já está assinalado e para o qual já
devem estar alerta, serão penalizados em termos de classificação. (Ilda,
aula 15 outubro)
Até aqui os alunos têm encarado os erros como algo natural num
processo de aprendizagem mas sentem que amanhã [dia de teste
somativo] os erros que cometerem serão usados para os penalizar porque
vão refletir-se na sua classificação. (Diário de campo, aula 29 outubro)
Só os erros que cometíamos nos testes escritos é que foram penalizados.
(Isaías, entrevista M1)
Se o erro ocorre nas fichas ou nos testes vai penalizar-nos até ao fim do
ano porque essas classificações vão estar sempre lá, mesmo depois de
274
corrigirmos esses erros e não voltarmos a cometê-los. (Sandra, entrevista
M4)
A grande proximidade de Ilda aos seus alunos, tanto na aula como no acompanhamento,
muitas vezes online, ao trabalho autónomo, deu-lhe um grande conhecimento da forma
como eles estavam a evoluir. Esse conhecimento foi muito importante para perceber se
cometiam erros e que tipo de erros, permitindo identificar as dificuldades sentidas pelos
alunos. A partir daí Ilda orientava os alunos para que eles próprios refletissem sobre as
suas produções de modo a corrigir os erros cometidos:
275
A maior parte dos professores só identifica o certo e o errado e não
percebe que mesmo aquilo que parece errado pode envolver raciocínios
ou conceitos que estão corretos. Na aula de matemática os erros foram
importantes para a nossa aprendizagem. (Vanessa, entrevista M2)
A troca de ideias permite-nos perceber quando estamos a seguir um
caminho errado e porque é que esse caminho está errado. Percebendo
isso torna-se fácil corrigir o erro e não voltar a cometê-lo. (Soraia,
entrevista M5)
Às vezes a professora até escrevia coisas erradas para que nós fizéssemos
as correções desses erros. (Álvaro, entrevista M4)
(...) na aula de matemática porque quando dizemos algo errado a
professora, ou às vezes até mesmo os colegas, vão dando pistas para ver
se chegamos à resposta certa. (Heitor, entrevista M1)
Nalgumas situações, o erro, identificado pela professora, originava o feedback que
orientava o aluno para a correção desse erro. Noutras alturas, eram os colegas,
principalmente nas situações de trabalho a pares, que identificavam o erro, mas houve
mesmo situações em que os alunos foram orientados para identificar os próprios erros e
a seguir corrigi-los:
276
Uma nota de um único teste, que realizámos num dia em que não
estávamos tão bem, onde até cometemos erros que não voltámos a
cometer, pode fazer com que a nota final na disciplina baixe um ou
mesmo dois valores e isso desacredita todo o trabalho que fomos
desenvolvendo ao longo do ano. (Bárbara, entrevista M3)
Acho que a classificação não tem tanto em conta aquilo que eu aprendi e
sei fazer e valoriza mais outros fatores como os erros que cometo quando
realizo um teste. (Jacinta, entrevista M2)
O erro foi uma mais-valia nesta aula de matemática para que os alunos pudessem
construir aprendizagens mais sólidas. A identificação do erro e a sua compreensão são
indispensáveis para a elaboração do feedback apropriado a cada aluno, de modo a que
ele esteja apto para corrigir esse erro e não voltar a cometê-lo.
O feedback formativo
Estratégias usadas
Muito voltado para proporcionar aos alunos a orientação que eles necessitam para
realizarem tarefas que colocam novas exigências, o feedback formativo é,
reconhecidamente (Hattie, Masters & Birch 2016; Wiliam, 2016), uma das estratégias
que mais influencia a melhoria das aprendizagens. Na sua aula, Ilda procurou sempre a
interação com os alunos para lhes proporcionar essa orientação. Muito mais
importante do que dizer como fazer foi ajudar os alunos a descobrir o caminho e, muitas
vezes, os vários caminhos possíveis:
277
a professora Ilda não é assim. Somos nós que vamos descobrindo o
caminho para resolver o exercício e ela está sempre a recordar o que já
foi dado nos 10.º e 11.º anos e que está na base do que vamos aprendendo
de novo. (Joana, aula 5 abril)
A interação de Ilda com os seus alunos, na aula, fora da aula ou mesmo a distância, foi
constante ao longo do ano letivo. Apesar disso, Ilda continua a sentir dificuldades em
gerir o tempo necessário para fornecer aos alunos o feedback que ela própria considera
muito importante:
Eu, com quatro turmas, vejo-me aflita. Agora imagino colegas com sete e
nove turmas! Como é possível acompanhar tantos alunos, nem conhecê-
los quanto mais identificar o que aprendem ou não. (Ilda, entrevista
inicial)
O feedback é muito importante mas consome muito tempo e eu gostava
de saber rentabilizar este tempo, não tanto o tempo de aula mas mais o
meu tempo de trabalho individual. (Ilda, entrevista final)
Apesar das dificuldades manifestadas por Ilda, os alunos sentiram-se muito apoiados
pelo feedback proporcionado pela professora, não só pelas interações constantes mas
também pela variedade de estratégias usadas:
278
dar uma força num momento em que estamos mais em baixo. (Heitor,
entrevista M1)
Em particular, o recurso às redes sociais, para fornecer feedback, foi uma estratégia
com vários aspetos positivos. O timing, com um ligeiro atraso e às vezes mesmo
imediato, ajudava a manter os alunos envolvidos. Quando a professora Ilda fornecia
feedback direcionado para algum aluno específico, esse feedback poderia ser uma ajuda
para um ou outro aluno, além disso, as redes sociais são uma ferramenta de
comunicação de eleição entre os jovens:
Dou muito feedback aos alunos extra aula. (Ilda, entrevista inicial)
A nível da oralidade eu dou feedback aos alunos mas isso depende muito
do que os alunos nos solicitam e os alunos mais interventivos acabam por
nos solicitar muito mais que os outros e acabamos por não apoiar todos
os alunos da mesma forma. (Ilda, entrevista final)
Comecem a trabalhar que eu e os estagiários vamos circular para
responder às vossas dúvidas e questões. (Ilda, aula 1 outubro)
Como eu sou mais tímida e não me sinto tão à vontade para participar na
aula foi importante o feedback que recebi nos vários trabalhos escritos
que a professora corrigiu. (Albertina, entrevista M1)
A presença dos estagiários ao longo do ano letivo, na maior parte das aulas, foi uma
mais-valia no apoio aos alunos fornecendo feedback oral, principalmente nos tempos de
trabalho autónomo:
279
A professora e os estagiários circularam para responder às solicitações
dos alunos no sentido de esclarecer dúvidas sobre o feedback que foi
dado aos seus trabalhos em situações que ainda não estavam claras para
os alunos. (Diário de campo, aula 15 outubro)
Os últimos vinte minutos de aula destinaram-se à realização dos
exercícios do livro e à resposta da professora e dos seus estagiários a
dúvidas individuais. (Diário de campo, aula 26 novembro)
Em situação de aula, na aula de apoio semanal que muitos alunos frequentavam
voluntariamente e até em contactos informais fora do período letivo, a pedido dos
alunos, o feedback oral prevalecia, com um timing imediato e muito direcionado
principalmente para aquele ou aqueles alunos que o solicitavam:
Objetivo da aula – dar feedback oral a dúvidas dos alunos nos exercícios
que resolveram em casa como preparação para o teste somativo a realizar
dia 5 de fevereiro. (Ilda, aula 4 fevereiro)
A professora foi aproveitando para dar feedback oral sobre aspetos
importantes que já tinha assinalado nas folhas de resposta. Foram
assinaladas principalmente faltas de atenção graves e que em situação de
exame penalizariam a classificação final. (Diário de campo, aula 18
março)
A professora designou-os como “exercícios típicos de exame” e daí a
importância de dar feedback às muitas dúvidas colocadas pelos alunos.
(Diário de campo, aula 7 abril)
O ritmo é muito elevado, tanto a escrever no quadro como a circular
entre os alunos quando estes começam a trabalhar no seu lugar. E o
feedback que vai sendo dado também vai variando muito. (Diário de
campo, aula 28 janeiro)
Por considerar a escrita matemática uma competência indispensável para qualquer
aluno, principalmente para um aluno de 12.º ano que vai realizar um exame escrito, a
professora Ilda procurou proporcionar, com frequência, o seu feedback escrito às
produções dos alunos, apesar de o mesmo consumir muito tempo:
280
Este ano, na matemática, fizemos muitas fichas que a professora até
recolhia para corrigir e que serviam apenas para treinarmos e não para
nos classificar. (Álvaro, entrevista M4)
Conteúdo do feedback
Sendo o feedback um dos aspetos que reconhecidamente mais pode influenciar a
aprendizagem, é importante atentar no conteúdo do feedback proporcionado pela
professora Ilda. Foi percetível a sua preocupação em proporcionar aos alunos um
feedback objetivo e focado na tarefa realizada:
(...) dou feedback sobre o trabalho que eles fazem em aula. Recolho
muitas vezes o trabalho que eles realizam em aula para tecer comentários
a esse trabalho e devolvo. (Ilda, entrevista inicial)
A professora tem a preocupação de fazer comentários personalizados
para cada aluno. (Bertilde, entrevista M5)
Para os alunos foi muito importante a informação proporcionada pela professora por
lhes permitir identificar as suas dificuldades. O feedback proporcionado por Ilda foi
mesmo apontado pelos alunos como uma distinção muito positiva em relação às práticas
dos outros professores:
281
analisar essas produções para que na próxima aula os alunos pudessem
trabalhar a partir da minha análise ao seu trabalho. E isso é
humanamente impossível porque tenho a tarde de hoje e a manhã de
amanhã com aulas e não consigo numa tarde analisar, refletir e reagir ao
trabalho escrito produzido por noventa alunos.
(...) Seria excelente que eu conseguisse analisar o trabalho de cada aluno
para organizar o trabalho que deveria ser desenvolvido a seguir a partir
dessa informação e eu não consigo ter tempo para fazer sempre isso.
(Ilda, entrevista final)
O bom conhecimento que a professora Ilda tem dos seus alunos, já referido
anteriormente, levou-a a solicitar-lhes tarefas onde eles mostrassem o seu raciocínio, de
modo a ser possível proporcionar-lhes feedback útil:
Só consigo dar feedback se tiver alguma informação sobre a qual vou dar
o feedback e como eu gosto de dar feedback preciso de ter essa
informação. (Ilda, entrevista inicial)
Ajuda muito importante são os comentários da professora quando corrige
as fichas ou testes porque nos ajuda a perceber porque errámos.
(Florbela, entrevista M4)
Esse feedback que a professora Ilda me deu foi muito importante porque
por um lado senti que estava preocupada comigo e com a forma como eu
estava a aprender e a acompanhar a matéria e por outro porque isso me
permitia identificar os meus erros para conseguir superá-los. (Tânia,
entrevista M5)
Outra característica importante do feedback proporcionado por Ilda foi não dar a
solução mas antes levar os alunos a encontrá-la, estratégia aliás reconhecida pleos
alunos:
282
Apesar do enorme valor que atribui ao feedback, a professora continua com algumas
dúvidas sobre a melhor forma de o fazer. Ilda reconhece que tem evoluído na análise
das produções dos alunos, mas considera que classificar, mesmo qualitativamente, é
muito importante para eles porque estão habituados a que a maior parte das suas
produções sejam classificadas:
283
A professora Ilda realçou um aspeto que gostaria de ver melhorado no futuro. Melhorar
a informação por parte dos alunos quanto à eficácia do feedback que lhes fornece poderá
ser uma ajuda importante na melhoria da sua prática avaliativa:
Eu escrevo, até pode estar um feedback bem feito, mas depois fico sem
saber qual o efeito que o meu feedback teve no aluno, não tenho tempo
para depois receber o feedback do aluno.
(...) Às vezes consigo mas geralmente não consigo perceber qual o efeito
que o meu feedback teve no aluno e tenho pena de não ter essa
informação.
(...) não fui eu que lhe pedi para ela me dizer se o feedback tinha
produzido efeitos, aconteceu naturalmente mas a maioria não dá essa
informação. (Ilda, entrevista final)
Ilda dedicou muito do seu tempo ao feedback, porque lhe reconhece uma enorme
importância. Na sala de aula o feedback oral foi constante, com um timing imediato e
direcionado às dificuldades específicas, quando os alunos acompanhavam a professora
na introdução de novos conceitos ou quando trabalhavam autonomamente,
individualmente ou em pares. O feedback escrito, quer ao trabalho realizado na sala de
aula e recolhido pela professora, quer ao trabalho realizado fora da sala de aula, foi
muito importante no envolvimento dos alunos no compromisso de construção da
aprendizagem.
284
As avaliações, mesmo não sendo classificadas permitiam saber como
estávamos naquela matéria. (Vitor, entrevista M3)
Mas essa apropriação do feedback não ocorreu da mesma forma com todos os alunos:
(...) nem sempre o aluno aproveita essa informação que lhe é dada pelo
professor através do feedback. (Ilda, entrevista final)
(...) os nossos colegas preocupam-se mais em saber que classificação
tiveram e de que forma ela vai influenciar a classificação no final do
período ou no final do ano. (Gervásio, entrevista M3)
Na maioria das aulas a professora lançava o trabalho autónomo e avançava para o meio
dos alunos para acompanhar a realização das tarefas, observando e opinando, lançando
pistas. Tanto na sala de aula, como a distância, muito do feedback proporcionado aos
alunos era solicitado pelos próprios:
Para responder a essas solicitações sinto que às vezes não consigo dar a
mesma atenção aos alunos mais reservados o que não me satisfaz, mas
quando a solicitação é muita infelizmente alguma coisa fica para trás.
(Ilda, entrevista final)
(...) colocando o braço no ar quando necessitavam de apoio, os alunos
rapidamente recebiam o apoio, ou da professora ou de um dos
estagiários. (Diário de campo, aula 1 outubro)
Quando aparece algum exercício mais difícil e ninguém consegue, lá vai
tudo mandar uma mensagem à professora Ilda. (Humberto, entrevista
M4)
Nesse trabalho autónomo, geralmente realizado a pares ou trios, muito do feedback era
proporcionado de imediato, pelos pares, e só era solicitada a presença da professora, ou
dos estagiários, quando as dúvidas persistiam:
285
Alguns alunos conseguiam perceber os erros que cometiam a partir do
feedback que eu lhes dava, conseguiam identificar onde estavam esses
erros. (Ilda, entrevista final)
(...) na matemática acho que o feedback foi muito positivo. Lembro por
exemplo as várias anotações que a professora coloca em todos os
exercícios escritos que ela recolhe, o que não acontece com a mesma
frequência nas outras disciplinas. (Hugo, entrevista M2)
Esse feedback é útil porque me dá informação sobre o meu trabalho se
preciso trabalhar melhor algum aspeto ou se pelo contrário posso avançar
porque este conteúdo está aprendido. (Bárbara, entrevista M3)
Por conhecer tão bem os alunos, Ilda adequa o seu feedback a cada um deles, colocando
verdadeiros desafios. Esta estratégia, segundo os alunos, leva-os a um maior
envolvimento dos alunos nas tarefas que lhes são propostas:
Acabamos sempre por tentar fazer o mais difícil que vem a seguir como
se fosse um jogo em que queremos sempre passar ao nível seguinte.
(Berta, entrevista M3)
Na aula de matemática é diferente porque a professora procura que
sejamos nós a descobrir a resolução dos exercícios em função da
orientação que ela vai dando. (Heitor, entrevista M1)
(...) com o espírito de desafio que a professora coloca sempre, toda a
gente se esforçou para conseguir. (Vitor, entrevista M3)
Reconhecendo o valor do feedback, a professora Ilda procurou manter um constante
acompanhamento dos seus alunos e das tarefas por eles realizadas. Contudo, foi
referindo a enorme dificuldade em conseguir proporcionar, a todos eles, o feedback que
gostaria porque o elevado número de alunos por turma, trinta e um neste caso, nas
quatro turmas que lecionava, tornava essa tarefa humanamente impossível.
Autoavaliação
286
facto de nunca ter trabalhado determinados conceitos leva a que não lhe
demos muita atenção e persiste aquela ideia que hei-de fazer mas ainda
não estou preparada para o fazer já. (...) acho que não trabalhei muito a
autoavaliação no ano passado, estruturada, pensada, acho que não. (...)
Como fomos conversando e eu fui refletindo já estou a trabalhar este ano,
com os alunos de oitavo ano, a autoavaliação. Está a ser mais fácil
trabalhar a autoavaliação com os alunos do oitavo ano porque não estão
ainda tão formatados. (Ilda, entrevista final)
Fui mantendo ao longo do ano conversas informais com Ilda e a autoavaliação foi um
aspeto falado, razão pela qual a professora referiu que no ano a seguir àquele em que
decorreu a investigação já estava a começar a fazer autoavaliação com os seus alunos de
oitavo ano:
Devem registar numa folha preparada para o efeito que vos vou fornecer,
a qual vai orientar essa reflexão de acordo com alguns tópicos. A
reflexão deverá ser desenvolvida tendo em conta: o trabalho que
desenvolveram individualmente; a forma como a aula está organizada –
os materiais utilizados, a organização do tempo da aula, a avaliação
realizada, as tarefas que vos são pedidas extra aula, a forma como a sala
de aula é organizada, etc. Estão à vontade para falar sobre tudo o que
entenderem, o que deve continuar e o que pode ser melhorado. (Ilda, aula
17 dezembro)
Os alunos deveriam concluir a sua reflexão confirmando os registos das classificações
obtidas, seguindo as indicações da professora Ilda:
287
No final do segundo período repetiram-se os procedimentos, mas agora com todas as
classificações, primeiro e segundo períodos, a serem lançadas na ficha de autoavaliação:
288
Ao preencher a ficha de autoavaliação a aluna M. perguntou à professora:
– Posso escrever na classificação final um valor, que eu acho que traduz
o que eu realmente mereço mas que está errado em termos de cálculo da
fórmula que a professora nos deu, e onde eu introduzi as classificações
dos testes? (Diário de campo, aula 18 março)
Na verdade não se trata de uma autoavaliação porque nós lançamos na
fórmula as notas que tivemos e se não nos lembramos de cada nota, até às
décimas, podemos perguntar à professora que consulta os seus registos.
Basta resolver a fórmula para saber a nota que vamos ter. (Gervásio,
entrevista M1)
Fazer a autoavaliação no final do período, para confirmar a classificação obtida, não
tem qualquer efeito no ultrapassar ou mesmo identificar as dificuldades sentidas.
Preencher a grelha com as classificações obtidas não leva os alunos a realizarem uma
reflexão sobre as aprendizagens alcançadas ou que ainda estão em falta. Não há uma
identificação das dificuldades sentidas pelo aluno, apenas há a confirmação de uma
nota. Para além de não ter qualquer utilidade para os alunos eles sentem que este
momento vem realçar como o processo avaliativo é injusto por não traduzir o grande
volume de trabalho que desenvolveram nem refletir as aprendizagens por si construídas.
Ilda em discussão
Numa sala de aula tradicional, no que respeita ao aspeto físico, encontrei uma
organização pouco comum, fruto de uma participação ativa dos alunos, aula após aula.
O ritmo de trabalho intenso procurava respeitar o planeamento elaborado no início do
ano, o qual era rapidamente contornado quando as necessidades dos alunos obrigavam a
novas abordagens.
289
aprendizagem é positivo, as endorfinas libertadas no cérebro tornam a aprendizagem
mais agradável e bem sucedida (Sousa, 2017). Uma das características desta sala de
aula, amplamente saudada pelos alunos, foi a atitude sempre muito positiva da
professora, colocando um grande entusiasmo na forma como abordava o conhecimento
matemático e o trabalhava, com tanta intensidade que acabava por contagiar os próprios
alunos, havendo mesmo alguns a considerar que apesar de trabalharem matemática
muitas horas por semana não estudavam matemática. Esta atitude positiva era apoiada
na boa disposição, recorrendo muitas vezes ao humor e ao desafio para ultrapassar
momentos mais difíceis, quando eles surgiam.
O enorme conhecimento que a professora tinha dos alunos que a acompanhavam desde
ano anteriores, ao mesmo tempo que procurava conhecer aqueles que passaram a ser
seus alunos neste ano letivo, foi determinante para o trabalho que desenvolveu com eles,
quer pela enorme motivação que originou, quer pela possibilidade de implementar a
diferenciação ao nível das tarefas que eram trabalhadas. Antes de iniciar a instrução de
uma nova unidade Ilda procurava saber onde os alunos estavam, em termos de
conhecimento matemático relativamente à temática a estudar, para começar a partir daí
e não de onde eles deveriam estar.
Esta intencionalidade da professora Ilda para conhecer bem os seus alunos, conversando
com eles quando estavam na escola ou facilitando o contacto por escrito através das
redes sociais, foi determinante para o estabelecimento de vínculos estáveis que, por sua
vez, levaram a uma maior motivação para se envolverem na aprendizagem. Também
contribuiu muito para esse envolvimento a confiança, manifestada pela professora, na
competência dos alunos para terem sucesso nas tarefas e nos desafios que lhes
propunha.
290
professor conheça bem o aluno para saber qual o feedback mais apropriado a cada
situação (Wiliam, 2016).
Quando Ilda apresentava tarefas com um maior grau de dificuldade, fazia-o sob a forma
de desafios, optando por criar mesmo pequenas competições entre os alunos. Como eles
próprios reconheceram nas entrevistas, iam para casa com uma enorme vontade de
descobrir o caminho, ou mesmo os diferentes caminhos, para chegar à solução, porque
sabiam que o seu sucesso seria também uma satisfação para a professora. Também nas
aulas, quando lançava novos conceitos ou aprofundava conceitos já trabalhados antes,
Ilda recorria ao questionamento constante dos alunos, ao feedback oral, o que lhe
permitia perceber, de imediato, como estavam ou não a evoluir na aprendizagem. Esse
questionamento, que decorria num ambiente amistoso, permitia à professora promover
uma competição saudável entre os alunos e, por vezes, com ela própria.
Como na aula, o erro não era usado pela professora para penalizar os alunos, eles
sentiam-se confortáveis para participar ativamente na realização dos exercícios, mesmo
quando isso implicava exporem-se no quadro para toda a turma. Nestas situações eram
mesmo os pares, incentivados por Ilda, que frequentemente avançavam para corrigir ou
um outro aspeto ou raciocínio menos correto, sendo essas correções entendidas como
291
contributos e não penalização ou desrespeito pelo colega. A todos era dada a
oportunidade de apresentar o seu raciocínio, devidamente argumentado, mesmo que
estivesse incorreto e, neste caso, graças a um feedback oportuno, proporcionado pelos
pares ou pela professora, era dada orientação para a correção do erro pelo próprio.
Apesar de a professora Ilda referir o elevado número de alunos por turma, trinta e um,
como um considerável obstáculo para proporcionar o feedback indispensável a um
percurso de sucesso na construção da aprendizagem, os alunos não deixaram de realçar
a quantidade e qualidade do feedback que receberam em matemática como um aspeto
muito positivo e diferenciador, contrastando com o que tiveram ao longo da sua
escolaridade. Em matemática, olhar para o resultado final do trabalho do aluno apenas
informa se ele está certo ou está errado e, neste caso, é necessário corrigi-lo, mas nesta
aula eram solicitadas aos alunos tarefas onde eles mostravam o seu raciocínio, o que dá
trabalho e consome tempo a analisar, mas só o percebendo era possível a Ilda
proporcionar-lhes um feedback adequado.
Informar o aluno sobre o que ele deve aprender é o papel dos objetivos de
aprendizagem, partilhados por todos, alunos e professora, que tinha o cuidado no início
de cada aula, de comunicar aos alunos o que era suposto que aprendessem nessa aula. O
mesmo não aconteceu relativamente aos critérios de avaliação, apesar de Ilda referir
com frequência que todo o trabalho era avaliado. Não foram partilhados com os alunos
critérios de avaliação para as muitas tarefas propostas e avaliadas pela professora,
apesar de ter proporcionado feedback para muitas delas.
A não partilha dos critérios de avaliação tem implicações na inexistência de uma prática
autoavaliativa por parte dos alunos. Os alunos foram críticos relativamente à prática
instituída na escola no final de cada período letivo, para a maioria das disciplinas, de
292
preencher uma ficha com uma fórmula, o mesmo que realizaram na matemática este
ano, à semelhança de todos os outros anos.
Quando Ilda desenvolvia um determinado conceito e pedia aos alunos para irem
sugerindo os vários passos do exercício, estava a avaliar formativamente os seus alunos
para perceber quem ainda tinha dificuldades e necessitava de uma nova abordagem da
sua parte. Noutros momentos Ilda realizou avaliações com o objetivo de julgar as
competências matemáticas dos seus alunos, desenvolvidas no seguimento de um
período de instrução para, a partir daí, lhes atribuir uma classificação no final do ano
letivo. Nestes momentos era realizada uma avaliação da aprendizagem com um
propósito somativo.
Faz todo o sentido que tanto a avaliação formativa como a avaliação sumativa sejam
usadas de modo a complementarem-se. Ilda usou os testes escritos para fornecer aos
alunos informações importantes sobre o que deveriam corrigir de modo a evitarem
voltar a cometer esses erros nos testes seguintes ou no exame. Contudo, os erros
cometidos pelos alunos nos testes, mesmo que os corrigissem e não voltassem a cometê-
los, acabavam por os penalizar na sua classificação final na disciplina.
Apesar de a professora conhecer muito bem os seus alunos e as aprendizagens por eles
construídas, sabendo exatamente o trabalho que foram realizando ao longo do ano, esse
conhecimento não se refletiu diretamente na avaliação sumativa interna apesar de
oferecer uma maior confiança que a avaliação baseada apenas nas classificações obtidas
em seis testes escritos e três minifichas.
A prática avaliativa realizada por Ilda, quer pela quantidade quer pela qualidade,
evidenciou como a avaliação formativa pode ser um excelente suporte para a construção
da aprendizagem dos alunos.
294
CAPÍTULO VIII - Duas professoras especialistas e especiais
Quando avancei para esta investigação fi-lo porque já conhecia a opinião de alunos que,
ano após ano, foram trabalhando com Leonor ou Ilda, duas salas de aula que garantiam
serem diferentes da maioria por onde passaram ao longo de muitos anos de
escolaridade. Investiguei a sala de aula de duas disciplinas muito diferentes, inglês e
matemática, tanto ao nível do curriculum como das condições também distintas em que
ambas se desenvolveram. Na turma de Leonor os dezassete alunos frequentaram inglês
por opção, por serem mais competentes nas matérias em estudo ou por presumirem ser
mais fácil obter uma melhor classificação com um menor esforço. Já na turma de Ilda,
com trinta e um alunos, todos procuravam o sucesso na disciplina para concluirem o
ensino secundário e acederem ao ensino superior, ultrapassando um exame nacional
com um grau de dificuldade elevado. Para ambas, ter sucesso está muito em linha com o
conceito de Earl (2013), pois para esta investigadora ter sucesso é ser capaz de construir
aprendizagens que façam sentido e sejam úteis, ao que Ilda certamente acrescentaria a
obtenção de uma boa prestação no exame nacional realizado no final do ano letivo.
Outra característica comum às duas professoras foi a necessidade que ambas sentiram
de procurar formação especializada, para melhorar a qualidade do seu ensino mas,
acima de tudo, para melhorarem as aprendizagens construídas pelos alunos. Já Paulo
Freire (1995) defendia que a força de um professor deriva de uma coerência exemplar
entre o que diz e o que faz, porque essa coerência garante a sustentação da sua
autoridade. O professor não pode descartar a responsabilidade individual da sua
qualificação profissional porque a sua ação docente não pode limitar-se a passar
295
conhecimentos aos seus alunos, exatamente o pensamento que levou Leonor e Ilda a
procurarem uma formação especializada que pudesse vir a ter repercussões na sala de
aula, proporcionando-lhes um desenvolvimento profissional permanente através do
estudo, da reflexão e da ação.
Tanto Leonor como Ilda foram partilhando comigo as suas dúvidas e incertezas relativas
a várias situações vividas ao longo do ano letivo nalgumas das aulas onde estive
presente. Essa reflexão partilhada levou-as a introduzir algumas alterações, quer na
organização da aula, quer na reformulação de um ou outro processo.
O facto de Leonor ter já mais de trinta anos de tempo de serviço permitiu perceber que a
reflexão que tem feito, sustentada pela formação especializada e pela participação num
estudo de caso onde foi estudada a autoavaliação e autorregulação dos alunos (Vieira,
2013), tem-lhe permitido fazer avanços consideráveis a nível concetual que tiveram
grandes implicações na estruturação e desenvolvimento da sua sala de aula e do trabalho
que implementou com os seus alunos a nível da avaliação das aprendizagens.
Ilda considera necessário, cada vez mais, fazer a diferenciação pedagógica na sala de
aula, devido à enorme diversidade de alunos, quer ao nível das características
individuais quer das competências académicas. Por falta de tempo do professor para
trabalhar, principalmente em tarefas de preparação do seu ensino e o elevado número de
alunos por turma, na turma estudada 31, não lhe foi possível fazer a diferenciação que
deveria. Outro aspeto que Ilda reconheceu ter sido pouco trabalhado por si, e que
procurou reformular logo no ano letivo seguinte, foi a autoavaliação realizada pelos
alunos. Ilda apontou a sua reduzida sensibilização para a temática, associada a uma
cultura de escola que não trabalha nem valoriza a autoavaliação, como os principais
factores inibidores de uma verdadeira prática autoavaliativa.
A diferença nas duas salas de aula também foi marcada pela natureza das tarefas
solicitadas aos alunos. Com a realização de tarefas muito abertas foi possível a Leonor
perceber o pensamento seguido pelos alunos, como eles se posicionavam em relação à
aprendizagem e qual o domínio que tinham da língua, tanto a nível da escrita como da
oralidade, mas também perceber melhor os seus interesses e motivações. Na
matemática, com tarefas mais fechadas e por isso alguma tendência para olhar para o
resultado final que apenas diz se está certo ou errado, Ilda focou-se muito no percurso
mental seguido pelo aluno, que tipo de raciocínio desenvolvia na resolução da tarefa
296
para, a partir daí, proporcionar um feedback útil à construção da aprendizagem (Wiliam,
2016).
Práticas de ensino
O envolvimento intelectual dos alunos é estimulado quando as tarefas que lhes são
propostas se relacionam com as suas vidas, os seus interesses, tanto no presente como
no que perspetivam para o seu futuro (Sousa, 2017). O envolvimento depende do que os
alunos fazem na escola e como se sentem em relação a isso (Marzano & Pickering,
2011). O envolvimento intelectual dos alunos destas duas disciplinas levou-os a
construir relações positivas, tanto com os pares como com a respetiva professora, o que
ajudou a criar expetativas positivas em termos de sucesso.
Ambas as aulas se pautaram por terem regras muito bem definidas e respeitadas pelos
alunos. As regras de funcionamento em grupo estavam perfeitamente interiorizadas e o
trabalho fluia sem qualquer necessidade de intervenção da professora, com os alunos a
desenvolverem competências sociais, como o respeito pelo outro ou a ajuda entre pares,
e competências pessoais como a autonomia ou a autorregulação, indispensáveis a
adultos que se querem responsáveis e autónomos (Stronge, 2007).
As duas aulas também se assemelharam nos constantes desafios que eram colocados aos
alunos para que chegassem sempre mais longe superando, muitas vezes, as suas
297
próprias expetativas, obrigando ao uso de estratégias com maior profundidade
(Fredricks, Blumenfeld, & Paris, 2004).
A professora Leonor levou a autonomia para dentro da sala de aula, cabendo aos alunos
uma série de decisões, tendo sempre em conta o cumprimento das regras previamente
estabelecidas. Nesta aula, mais do que ouvida, a opinião dos alunos era tida em conta na
hora de tomar decisões, relativamente ao desenhar das atividades a desenvolver,
permitindo que alunos e professora fossem aprendendo juntos. Como a maior parte das
tarefas eram realizadas em grupo, todas as decisões desde o assunto a trabalhar, que
estratégias aplicar, que ferramentas utilizar, como apresentar o trabalho, eram
negociadas dentro do grupo, com os alunos a terem que se movimentar fazendo
exigências e cedências, sempre com um clima positivo e um forte incentivo a correr
riscos para chegar sempre mais longe, tentando fazer sempre melhor. Já a professora
Ilda foi sempre estimulando os seus alunos para que fossem proativos na condução do
seu trabalho autónomo fora da sala de aula, na forma como organizavam o seu estudo,
que exercícios escolher, com quem trabalhar. Quando na sala de aula era lançado o
trabalho para realizar a pares os alunos tinham liberdade para avançar para exercícios
com maior dificuldade.
As tarefas solicitadas por ambas as professoras exigiam aos alunos que pensassem no
que lhes era pedido, que discutissem com os parceiros, não se limitando a respostas
automáticas de sim ou não. Esta participação dos alunos era feita sempre num ambiente
amistoso porque a sala de aula era um espaço vivo, de muita intervenção e colaboração,
onde todos queriam participar porque sentiam que a sua participação era vista como um
enriquecimento pessoal, mesmo quando eram cometidos erros, porque mesmo errando
se aprendia. Este sentimento positivo em relação ao que se vivia na sala de aula
contribuia para o envolvimento emocional que, por sua vez, criava melhores condições
para que os alunos obtivessem sucesso porque o modo como os alunos sentem o seu
ambiente de aprendizagem afeta diretamente a forma como aprendem. O clima
emocional decorre diretamente do clima da sala de aula e este, na verdade, é regulado
pelo professor (Sousa, 2017).
298
com as boas classificações obtidas na avaliação sumativa interna. A par destes
benefícios, conquistados com o seu trabalho, os alunos reconheceram ter adquirido
competências que pouco ou nada foram trabalhadas ao longo da sua escolaridade
nomeadamente: trabalhar em equipa com todos, independentemente de serem ou não
amigos; trabalhar num projeto construído e desenvolvido pelos alunos; negociar
constantemente para conseguir as melhores condições; procurar soluções diferentes do
habitual; trabalhar a autorregulação tomando decisões e agindo assumindo riscos.
Quando os alunos, organizados em grupo, face a um determinado assunto ou
problemática lançada pela professora, decorrente do curriculum, tinham que selecionar
o tema do seu trabalho, decidir que estratégias implementar, que fases seguir ou em que
formato apresentar o produto final, sendo tudo isto negociado dentro do grupo, percebe-
se a quantidade e variedade de competências a que os alunos deveriam fazer apelo para
conseguir concluir a tarefa com sucesso.
299
aprender mais, com um forte incentivo à criatividade e constante inovação por parte dos
alunos, outside the box, como tantas vezes referiram professora e alunos.
Diferenciação Pedagógica
Desde muito novas todas as crianças percebem que na sua sala os meninos são todos
muito diferentes. Uns têm mais jeito para jogar à bola, outros são engraçados quando
contam histórias, outros são muito bons a trabalhar com números, enquanto outros são
excelentes a fazer com que todos se sintam melhor. Aquilo em que uns são exímios
outros têm pouco jeito e outros chegam mesmo a detestar. Esta é a diversidade que
qualquer professor encontra na sua sala de aula, ignorá-la e trabalhar com todos os
alunos da mesma forma e ao mesmo ritmo é criar as condições para que alguns deles
deixem de investir na disciplina, ou até desistam por completo, dedicando o seu tempo
na aula a criar eventos que retenham a atenção dos pares, provocando mesmo situações
de indisciplina e desestabilização, aula após aula. É imprescindível fazer a diferenciação
pedagógica em todas as salas de aula mas não há, nem pode haver, uma receita para
construir uma sala de aula diferenciada (Tomlinson, 2017).
300
objetivo, apenas porque os seus colegas ainda não o alcançaram. É muito mais acertado
que esse aluno avance na sua aprendizagem para um novo objetivo. Para além disso,
quando um aluno revela dificuldades numa determinada aprendizagem, não será
vantajoso progredir na instrução daquele aluno sem que aquelas dificuldades sejam
ultrapassadas, porque o aluno não vai conseguir acompanhar atrasando-se, acabando
muitas vezes por desistir da disciplina (Gregory & Chapman, 2002; Pinto, 2007).
Pela forma como entendiam a diferenciação mas também pela natureza dos curriculum
trabalhados, pude observar práticas de ensino distintas nas duas salas de aula. Leonor
organizou os seus alunos em grupos mas foi variando esses grupos ao longo de todo o
ano letivo, tanto na sua constituição como no número de alunos que o formavam,
impedindo à partida que os alunos se organizassem de forma homogénea ou
trabalhassem sempre com os mesmos parceiros. Esta variação obrigava os alunos a
adaptar-se a cada um dos seus colegas e a trabalhar com diferentes níveis de
proficiência. O programa de inglês, organizado em grandes temas, permite ao professor
trabalhar os conteúdos da disciplina adaptando-os aos seus alunos. Na prática, o tema da
multiculturalidade, por exemplo, permitiu que um grupo estudasse a guerra na Síria
301
enquanto outro grupo trabalhou a integração dos imigrantes, com ambos os assuntos a
serem selecionados pelos alunos depois de negociados dentro do seu grupo, tal como o
processo de produção do trabalho e a forma como seria apresentado à turma, eram
sempre objeto de discussão e decisão em grupo. A nível dos processos cabia aos grupos
decidir como desenvolver o seu trabalho, através de questionários ou realizando
entrevistas, por exemplo. Também a nível dos produtos a construir se fez sentir a
diferenciação na aula de inglês, com os grupos a enveredarem por apresentar os seus
trabalhos nos mais variados formatos nomeadamente, uma peça de teatro, um videojogo
construído por um grupo, um video com vários depoimentos, um debate com
convidados externos à escola, entre outros.
Ilda assumiu desde o início que não trabalhava a diferenciação como achava que
deveria, apresentando como principal obstáculo o elevado número de alunos na turma
mas também um curriculum demasiado extenso para cumprir, tudo isto num ano de
exame, para complicar ainda mais. Foi defensora da constituição de grupos de nível,
estratégia que já usou no passado, durante a implementação do Projeto Mais Sucesso de
que foi coordenadora, em que a turma era dividida em dois grupos de nível em função
das classificações dos alunos, ficando um grupo com uma professora numa sala e o
outro grupo com outra professora noutra sala. Nesta turma, a professora permitiu aos
alunos que trabalhassem autonomamente em pares, um por cada mesa, sendo os pares
constituídos livremente e mantidos ao longo do ano, estratégia vista como pouco
302
contributiva para a aprendizagem, segundo alguns autores, que afirmam que a
constituição de grupos com reduzida flexibilidade e sem implementação de práticas
diferenciadas poucas ou nenhumas melhorias acrescentam à aprendizagem dos alunos
(Kingore, 2004; Kulik, 1992; Tieso, 2005).
Embora por vezes as tarefas realizadas pelos alunos fossem diferentes, na aula de
matemática, os conteúdos trabalhados eram semelhantes para todos os alunos, porque
todos eles almejavam o sucesso no exame, tendo Ilda colocado o foco do seu ensino nos
conteúdos, contrariando o que tem sido defendido pelos autores que apontam para a
necessidade de trabalhar colocando o foco nos alunos e nas suas necessidades e daí a
importância da diferenciação pedagógica (Travitzki, 2013).
Na prática de Ilda, apesar de, por vezes, ter havido diferenciação na prática avaliativa,
quando um ou outro aluno necessitava de mais tempo para trabalhar determinado
conceito, ou eram propostas tarefas com um maior grau de dificuldade quando os alunos
avançavam mais rapidamente na aprendizagem, esta diferenciação acabava sempre por
desaparecer quando chegavam os testes escritos, ou as mini fichas, ou as questões de
aula, que eram sempre iguais para todos porque eram usadas para classificar os alunos e,
como os próprios diziam, o processo só seria justo se fosse igual para todos, não só para
os alunos da turma mas também para os alunos doutras turmas que estavam a frequentar
a disciplina. Esse conceito de ser igual para ser justo, faz parte da cultura de escola e
também era defendido pelo corpo docente, o qual reunia principalmente para preparar as
avaliações sumativas, que mesmo não sendo iguais, exatamente, deveriam ser
semelhantes no grau de dificuldade e nas características dos exercícios que compunham
os testes.
Práticas avaliativas
Numa sala de aula diferenciada, onde todos os alunos contam e todos são diferentes, a
avaliação é um processo que decorre a par do ensino e da aprendizagem (Fernandes,
2011). Um dos seus objetivos é fornecer ao aluno informação sobre a evolução da sua
aprendizagem. Um outro objetivo, não menos importante, é fornecer ao professor, dia
após dia, informação sobre como está a evoluir a aprendizagem de cada aluno mas,
também, quais são os seus interesses, as suas necessidades, com que motivação trabalha
uma ou outra temática e com que dificuldades se vai deparando (Wiliam, 2013). É a
303
partir deste conhecimento, de cada um e de todos os seus alunos, que o professor pode
realizar as adaptações e ajustes necessários à forma como vai pensando e
implementando a sua prática de ensino (Tomlinson & Moon, 2013). Por este papel de
apoio à aprendizagem, a avaliação não pode acontecer apenas no final de uma unidade
ou período de tempo, como uma interrupção periódica do ensino e da aprendizagem,
para confirmar se os alunos aprenderam o que o professor ensinou (Santos, 2016). A
avaliação acontece durante um debate na turma ou em pequeno grupo de alunos, através
de um jogo de perguntas e respostas entre duas equipas ou na elaboração de um
portefólio individual ou construído em grupo.
Diz-nos a investigação que a avaliação que se realiza na sala de aula deve ter
características essencialmente formativas para ser uma real mais valia no processo de
aprendizagem e ensino (Hattie, Masters & Birch 2016; Wiliam, 2016; Stiggins, 2017).
A partir desta avaliação formativa, o professor percebe o que os seus alunos
aprenderam, ou não, permitindo-lhe preparar o passo seguinte no seu ensino, daí a
designação de avaliar para aprender que mais não é que um processo de recolha e
interpretação de evidências, a serem usadas pelos alunos e seus professores, para
identificar onde os aprendizes estão na sua aprendizagem, para onde precisam ir e como
lá chegar (Assessment Reform Group, 2002).
Os dois casos que compõe esta investigação, no que respeita à prática avaliativa
desenvolvida por cada professora na sua sala de aula, apresentam várias semelhanças e,
simultaneamente, algumas diferenças. Merece destaque a enorme importância atribuída
tanto por Leonor como por Ilda ao papel do feedback na sua prática pedagógica. Sendo
o feedback uma componente fundamental da avaliação formativa e um dos factores com
maior influência no processo de aprendizagem e ensino (Hattie, 2003), ele foi utilizado
para proporcionar aos alunos a orientação que lhes permitiu seguir em frente mas,
noutras situações, o feedback forneceu aos alunos pistas que lhe permitiram ultrapassar
erros identificados pelos pares, pela professora ou pelo próprio.
Em qualquer uma das aulas os alunos sabiam o que se pretendia que eles aprendessem
embora tenha encontrado diferenças nas práticas das duas professoras. Na aula de inglês
304
foram estabelecidos objetivos de aprendizagem para as diferentes tarefas, sendo os
mesmos trabalhados entre a professora Leonor e cada um dos grupos. Na aula de
matemática os objetivos de aprendizagem eram definidos no início de cada aula, sendo
semelhantes para todos os alunos, sendo o feedback muito voltado para o percurso
seguido pelo raciocínio do aluno no desenvolvimento da tarefa, dando espaço para que o
caminho fosse diferente do que era seguido pela professora.
305
preparados para realizar a autoavaliação que lhes permitia perceber como estava a
evoluir a sua aprendizagem. Essa dificuldade foi sendo ultrapassada ao longo do ano, à
medida que os alunos iam desenvolvendo competências autorregulatórias, com os
critérios de avaliação a terem aí um importante papel e também nas tarefas de
coavaliação designadas por critical thinking.
Abordagem do erro
Outrora visto como um sinal de falhanço para o aluno, o erro já era interpretado por
John Dewey (1933) como um aspeto muito importante da aprendizagem pela sua
natureza instrutiva, defendendo que a pessoa que realmente pensa aprende tanto com os
seus erros como com os seus sucessos. Mais recentemente vários autores (Pinto &
Santos, 2006; Wiggins, 2012) têm defendido uma abordagem positiva do erro para
garantir uma importante fonte de informação sobre o processo de aprendizagem do
aluno (Santos, 2002). Também Leonor e Ilda procuraram transmitir sempre aos seus
alunos que o erro ajuda a identificar o que já está aprendido e o que necessita ainda de
ser trabalhado. Os alunos de ambas as turmas não deixaram de realçar esta ideia como
sendo algo novo para eles, porque estavam muito habituados a ser penalizados quando
cometiam erros, o que foi um importante fator de motivação para um maior
envolvimento nas tarefas (Earl, 2013).
306
Na aula de inglês fez-se a distinção entre os tipos de erros. O pequeno erro seria aquele
de que o próprio aluno dava conta, ao qual Leonor não dava importância e também não
interrompia uma apresentação ou um debate para o assinalar. Noutros casos, em
presença de erros mais grosseiros, a professora interrompia e assinalava o erro,
principalmente para dar pistas aos alunos que lhes permitissem corrigir. Também em
situações de avaliação sumativa, Leonor apontava erros que os alunos deveriam evitar
voltar a cometer e aí sim, haveria penalização na classificação, construída com base nas
conquistas e avanços verificados nos desempenhos dos alunos.
Na aula de matemática, o erro também teve uma abordagem positiva sendo os alunos
sempre incentivados a participar, independentemente de cometerem erros, porque não
seriam penalizados nem marcados por esses erros. Quando os erros eram cometidos em
tarefas com um propósito somativo, quer se tratasse de testes escritos ou de mini-fichas,
o erro já era penalizante porque implicava uma redução na classificação da referida
tarefa, à semelhança do que acontecia na prática da professora Leonor. Ao longo das
entrevistas com grupos focais, os alunos apontaram aspetos que consideraram menos
positivos, por vezes mesmo nefastos, da avaliação sumativa interna. Um deles foi o
peso atribuído aos erros em testes escritos que mesmo que aqueles fossem
ultrapassados, graças a um maior investimento em termos de trabalho autónomo, não
deixavam de penalizar os alunos na classificação final.
Na aula de Leonor os alunos sentiram o erro como algo natural, muitas vezes
identificados em primeiro lugar pelos pares e só quando lhes escapava é que era
identificado pela professora. Os que trabalharam com os critérios de avaliação sentiram-
nos como uma mais valia ajudando-os a identificar os próprios erros e os dos pares.
Uma estratégia usada por Ilda foi levar os alunos a partilharem com a turma os seus
erros e dificuldades (Sadler et al., 2013), não só na sala de aula mas também nas redes
sociais, através de grupos privados. Ilda também incentivou os alunos a procurarem
soluções diferentes das apresentadas pela professora ou pelo manual.
Esta atitude positiva de ambas as professoras, face aos erros cometidos pelos seus
alunos (Lorenzet, Salas & Tannenbaum, 2005), levou a que muitos deles abandonassem
uma atitude mais passiva que tiveram ao longo da sua escolaridade, passando a
participar mais ativamente na aula, independentemente de cometerem ou não erros
durante essa participação. Esta postura dos alunos levou a que as aulas fossem muito
307
mais vivas, sendo raros os momentos de silêncio porque os alunos discutiam ativamente
as tarefas, quer elas fossem conduzidas pela professora, o que acontecia com mais
frequência na matemática, quer ocorressem no seio do par ou do grupo, mais frequente
no inglês.
Feedback formativo
O feedback formativo fornecido aos alunos, usado muitas vezes para facilitar a correção
dos erros, ocupou muito do tempo destas duas professoras, tanto do tempo útil de aula,
como do tempo de trabalho individual, tornando-se determinante para o sucesso dos
seus alunos, na linha do que tem sido defendido por muitos investigadores (Black &
Wiliam, 1998a; Dias & Santos, 2010, 2010; Hattie & Timperley, 2007; Menino &
Santos, 2004) que consideram o feedback como um dos aspetos com maior influência
na construção da aprendizagem.
Fundamental para a construção de tanto e tão variado feedback foi sem dúvida o grande
conhecimento que Leonor e Ilda tinham dos seus alunos, não só das competências
académicas, mas também dos interesses, motivações e necessidades (Hattie, 2009,
2012). Esse conhecimento foi sendo construído pelas professoras com estratégias muito
308
intencionais, permitindo-lhes perceber como conseguiriam chegar mais facilmente aos
seus alunos. Leonor iniciou o ano letivo com a única tarefa realizada individualmente,
em que cada aluno deveria apresentar-se à turma e, a partir dessa apresentação, a
professora conseguia fazer o retrato não só académico mas também pessoal, de cada
aluno. Ilda iniciava cada unidade temática com uma avaliação diagnóstica, que realizava
umas vezes por escrito e outras oralmente, mas também se preocupou em dar sempre
aos alunos o espaço para que mostrassem o que já tinham aprendido ou que ainda
necessitava de ser melhor trabalhado. Por outro lado, o seu contacto com os alunos
através das redes sociais permitia-lhe conhecê-los melhor, por estar mais próxima deles.
Outra estratégia comum a ambas foi terem levado os seus alunos a serem importantes
recursos para os pares, embora a organização da sala de aula tenha sido completamente
distinta. Na aula de inglês, à exceção da primeira tarefa onde fizeram a sua apresentação
individual, os alunos trabalharam sempre em grupo com estes a variar constantemente,
tanto no número de alunos como na sua constituição, organizando-se em grupo em
redor dos computadores. Na aula de matemática, com uma organização em quatro filas,
os alunos trabalharam essencialmente a pares, mantendo essas parcerias e esses lugares,
escolhidos por eles, ao longo de todo o ano.
309
não dar ao aluno feedback apenas em relação à solução, certo ou errado, mas
principalmente ao processo, ao raciocínio seguido na resolução da tarefa (Fritz et al.,
2000; Poulos & Mahony, 2008).
Tanto nos grupos de inglês, como nos duetos de matemática, o feedback proporcionado
pelos pares foi um importante apoio ao trabalho desenvolvido nas duas salas de aula,
permitindo manter um ritmo elevado durante toda a aula, sem tempos de pausa
enquanto aguardavam o feedback da professora. Na aula de inglês, o trabalho de projeto
de cada grupo foi objeto de uma análise crítica mais profunda, critical thinking, com
regras previamente estabelecidas, que alguns alunos tiveram dificuldade em seguir,
devido em parte à falta de prática na realização da coavaliação ou avaliação pelos pares.
310
Ilda lamentou a falta de tempo para perceber qual o efeito que o seu feedback tinha nos
seus alunos, pois isso obrigaria a voltar a recolher e analisar as produções escritas
depois do feedback, para perceber como tinham recebido e reagido ao feedback (Hattie
& Gan, 2011). Nas entrevistas com os grupos focais os alunos consideraram que a
elevada quantidade de feedback proporcionada por Ilda foi muito benéfica para a sua
aprendizagem e foi um dos aspetos que mais destacaram como mais valia quando
comparado com outras disciplinas ou na mesma disciplina, em anos anteriores. Na aula
de inglês a reação dos alunos ao feedback proporcionado por Leonor levou-a a
reformular uma ou outra estratégia de ensino (Tovani, 2011) e isso acontecia, por
exemplo, quando a tarefa que os alunos se propunham realizar não estava de acordo
com os objetivos de aprendizagem estabelecidos.
O feedback formativo, proporcionado por Ilda e Leonor, foi muito importante para as
práticas implementadas, tanto de ensino como avaliativas, não só por corrigirem erros e
dificuldades manifestadas pelos alunos mas, fundamentalmente, pela orientação que
proporcionaram aos alunos no sentido de estes poderem avançar na sua aprendizagem
(Wiliam, 2016). Ambas as professoras proporcionaram feedback aos seus alunos
durante a aprendizagem, porque só assim é possível aos alunos reagir a esse mesmo
feedback (Chappuis, 2012), reação essa que deveu muita da sua assertividade à grande
confiança que os alunos revelaram relativamente ao trabalho desenvolvido pela
respetiva professora.
Autoavaliação
A autoavaliação foi trabalhada de forma muito distinta nas duas salas de aula. Na aula
de inglês os alunos foram orientados, desde o início do ano letivo, para a realização da
autoavaliação. Para que tal fosse possível Leonor trabalhou com os alunos os objetivos
de aprendizagem, tarefa a tarefa, para que eles percebessem o que se pretendia que
alcançassem em termos de aprendizagem, tendo também ao seu dispor os critérios de
avaliação que davam a orientação para a realização das tarefas solicitadas. O feedback
fornecido pela professora, relativo às várias tarefas mas também à própria
autoavaliação, ajudou os alunos a superar a sua falta de experiência e desconforto,
patentes principalmente no início do ano letivo.
311
Um aspeto importante, trabalhado nas aulas da disciplina, foi a coavaliação realizada em
grupo, às produções dos outros grupos no trabalho de projeto. Apesar de esta atividade
ser realizada com base em critérios, definidos previamente e amplamente divulgados
junto dos alunos, numa tarefa designada critical thinking, ela não foi interpretada da
mesma forma por todos, como foi realçado por alguns alunos nas entrevistas.
Ilda e Leonor mostraram estar preparadas para tomar decisões de forma rápida e correta,
momento a momento, sabendo o que fazer a seguir com cada um dos seus alunos, em
simultâneo, mas também foram capazes de elaborar diagnósticos fiáveis e implementar
práticas de ensino diferenciadas, avaliando o impacto do ensino na aprendizagem dos
alunos. Tudo isto requer um elevado nível de proficiência e tem um enorme significado
tanto para os professores como para as escolas.
312
CAPÍTULO IX – Cultura de Escola e avaliação formativa
Com a recolha dos primeiros dados, as entrevistas iniciais com as professoras, foi
ganhando forma a ideia da existência de uma cultura de escola com alguns
constrangimentos, não só no entendimento de conceitos fundamentais mas,
consequentemente, na implementação da avaliação formativa. Com a realização das
entrevistas com grupos focais, aos alunos, voltou à discussão a falta de preparação de
alunos e professores para a implementação da avaliação formativa, que ainda foi mais
notório quando, nas entrevistas, os alunos comparavam as práticas vividas nas
disciplinas investigadas com as vivências nos outros anos ou nas outras disciplinas.
Com a análise e discussão dos dados dos dois casos ainda ficou realçado o
constrangimento vivido pela escola, ao nível da implementação do avaliar para
aprender, ausente de muitas salas de aula, conforme referido frequentemente pelos
alunos.
Como a escola foi objeto de avaliação externa durante o período de tempo em que
decorreu esta investigação, considerei que seria oportuno e uma mais valia, analisar o
feedback que resultou dessa avaliação e a reação da escola para ultrapassar as
dificuldades e os constrangimentos identificados por uma entidade externa, a IGEC
(Inspeção Geral da Educação e Ciência), tendo para tal elaborado o respetivo Plano
Estratégico de Melhoria da Escola (PEM)
313
(...) A inércia das pessoas que têm responsabilidade e que deviam ser as
locomotivas incomoda-me muito. (Leonor, 1ª entrevista)
não faço trabalho colaborativo aqui na escola mas tenho alguma pena de
fazer esse trabalho lá fora e depois não conseguir trazê-lo cá para dentro
desta instituição porque sinto que já houve mais. (…) Aqui essa
perspetiva formativa da avaliação não é uma prática muito implementada
porque também não é trabalhada em conjunto pelos professores. (Ilda,
entrevista inicial)
Também os alunos foram críticos relativamente a algumas práticas que foram
vivenciando ao longo dos vários anos da sua escolaridade. Alunos de inglês, que já
tinham sido alunos da professora Ilda em anos anteriores, referiram algumas
semelhanças das duas professoras, nomeadamente nas práticas de ensino
implementadas:
As aulas não foram a seca que era habitual, sempre com os mesmos
temas. Como éramos nós que geralmente selecionávamos o que trabalhar
e como trabalhar, acabávamos por trabalhar mais e melhor. (Aníbal,
entrevista I3)
A professora do 11º ano não nos dava tempo para pensar para perceber o
que deveríamos fazer, parecia que estava sempre com pressa. Ela própria
dizia que não podia perder tempo porque havia um programa para
cumprir, razão pela qual era ela que resolvia os exercícios no quadro
porque era mais rápida. (Álvaro, entrevista M4)
Nos outros anos participava na aula de matemática porque era obrigada,
para não por em causa a nota da minha participação, e isso levava a que
às vezes apresentasse dúvidas para as quais eu sabia a resposta. A
professora X. tinha uma folha com os nossos nomes por ordem, que
usava para nos chamar ao quadro onde resolvíamos o exercício
correspondente à nossa posição na lista e eu acabava por resolver no
314
lugar apenas o exercício que deveria depois resolver no quadro pois não
tinha motivação para estar no lugar a resolver os exercícios que os meus
colegas iriam um a um resolver no quadro. Limitava-me a assistir à
resolução deles sem fazer o mínimo esforço para resolver o exercício por
mim e mesmo que tivesse dúvidas ficava calada para passar
despercebida, mesmo que achasse que poderia ser resolvido de forma
diferente. (Tânia, entrevista M5)
Mas também referiram grandes diferenças a nível das práticas avaliativas vivenciadas
nestas disciplinas:
Diferenciação Pedagógica
315
dinâmicas, a diferenciação pedagógica em sala de aula é absolutamente
fundamental para que seja possível mais inclusão. (Despacho Normativo
10-A/2018).
A diferenciação pedagógica é uma expressão frequentemente usada na escola mas para
Ilda e Leonor não é ainda um aspeto considerado relevante para a grande maioria dos
professores e não o é não só nas suas rotinas diárias da sala de aula como também não o
é a nível de conceitos:
316
Quadro 15 - Adequação do ensino às capacidades e aos ritmos de aprendizagem dos
alunos (PEM, 2016, pp. 7-8)
Estrutura Indicadores de
Objetivos Estratégicos Ações a desenvolver
responsável desempenho
317
diferenciação pedagógica, o que seria importante para a implementação deste plano
estratégico.
Temos muitos alunos que passam por entre a chuva e que precisavam de
trabalhar de forma diferente em relação ao trabalho que se faz no geral
em termos de sala de aula. (Leonor, 1ª entrevista)
É muito importante que o professor faça a diferenciação pedagógica na
sua sala de aula. (…) sei que deveria fazer a diferenciação mas não a faço
porque não tenho tempo (…) sei que há alunos que precisam dessa
diferenciação (Ilda, entrevista final)
No decurso da minha investigação fui dando conta da insatisfação de ambas as
professoras em relação à cultura de escola que continua a ver na uniformização de
procedimentos uma prática a seguir mesmo quando esta é contraditória em relação aos
documentos orientadores :
O ideal seria que os alunos pudessem ser avaliados naquilo que fazem
melhor se uns são melhores em testes escritos poderiam ser avaliados
318
com testes escritos, se outros são melhores na verbalização seriam
avaliados aí. (Jacinta, entrevista M2)
Geralmente pedem-nos um trabalho e está tudo determinado. Não nos é
dado espaço para trabalhar o tema com uma outra abordagem ou com um
produto final diferente. Tem que ser tudo feito da mesma forma.
(Gonçalo, entrevista I3)
Varia muito de professor para professor pois enquanto uns têm em conta
as características, as necessidades, as possibilidades, diferentes e que
variam de aluno para aluno, outros professores tratam os alunos sempre
de forma igual sem ter em conta essas diferenças individuais. (Sandra,
entrevista M4)
Avaliação Formativa
319
Quadro 16 - Coerência entre ensino e avaliação (PEM, 2016, p. 12)
Estrutura Indicadores
Objetivos Estratégicos Ações a desenvolver
responsável desempenho
320
PEM, ao não ter em conta os fundamentos da avaliação, não só não orienta os
professores como pode induzi-los em práticas ou procedimentos comprometedores da
implementação da avaliação formativa:
321
as mesmas serão implementadas e não será apenas por constarem do plano que elas se
irão concretizar – Quadro 17.
Estrutura Indicadores
Objetivos Estratégicos Ações a desenvolver
responsável desempenho
Embora vagos na forma como estão explicitados, os objetivos traçados visam uma
melhoria da avaliação formativa preconizando a sua valorização mas também o
incremento das práticas autoavaliativas. Contudo, estas intenções não têm seguimento
nas ações a desenvolver que são propostas, nem dão qualquer orientação para o que
fazer nem o como fazer. Aponta-se a “diversificação das formas de avaliação” quando
não é explicitado em nenhum momento a que formas de avaliação se referem nem quais
as suas características. Os próprios indicadores de desempenho apresentados não dão
qualquer garantia de uma valorização da avaliação formativa porque a mesma não
decorre nem da pluralidade de práticas nem dos instrumentos utilizados.
Também aqui os alunos apresentaram críticas contundentes à forma como têm vivido a
avaliação ao longo da sua escolaridade, sempre muito conotada apenas com
classificação, mesmo em disciplinas onde a legislação preconiza o recurso a diferentes
estratégias de avaliação, nomeadamente na prática laboratorial:
Temos disciplinas onde a única coisa que conta são as notas dos testes.
Nesse caso não faz sentido vir à escola, nós ficamos em casa a estudar e
vimos à escola na data marcada apenas para fazer o teste (risos). (Berta,
entrevista I2)
Nas disciplinas com componente prática em laboratório, o trabalho
experimental é avaliado essencialmente através de relatórios e fichas
escritas. (Heitor, entrevista M1)
322
Apesar de estar patente no PEM o objetivo de “incrementar as práticas de
autoavaliação” não é apresentada nenhuma ação para alcançar esse objetivo. A IGEC
referiu no seu relatório que “É promovido o envolvimento dos alunos na avaliação das
suas aprendizagens, em tarefas de auto e heteroavaliação.” mas ao longo da investigação
tanto as professoras como os alunos referiram a falta de experiência destes em tarefas de
autoavaliação:
323
No referente “Aferição dos critérios e dos instrumentos de avaliação” a IGEC alerta
para a manifesta “confusão entre instrumentos e estratégias de avaliação o que carece de
ser esclarecido entre os docentes” (IGEC, 2016, p.7). Mas a elaboração do PEM não só
não veio colmatar as falhas apontadas como apresenta algumas incorreções a nível dos
fundamentos da avaliação conforme se pode perceber no Quadro 18.
Quadro 18 - Aferição dos critérios e dos instrumentos de avaliação (PEM, 2016, p. 16)
Estrutura Indicadores
Objetivos Estratégicos Ações a desenvolver
responsável desempenho
324
CAPÍTULO X – Conclusões, Reflexões e Recomendações
É chegado o momento de apresentar as conclusões a que cheguei com este estudo, desde
que começou a ser delineado até à análise do diálogo entre duas práticas de sala de aula,
onde encontrei algumas semelhanças mas também muitas diferenças, que não
impediram que ambas as professoras levassem os seus alunos, todos eles, a terem
sucesso na construção das suas aprendizagens. Parti para esta investigação com a
convicção de que as práticas de sala de aula, onde incluo as práticas avaliativas, são
determinantes para o sucesso do processo de aprendizagem e ensino. Procurarei agora
apresentar argumentos para apoiar a minha tese, sustentados nas práticas de ensino e
avaliativas das professoras Leonor e Ilda, razão pela qual relembro o objetivo e as
questões orientadoras desta investigação sobre o avaliar para aprender. Com o objetivo
de caracterizar as práticas de duas professoras do 12º ano, uma de inglês e outra de
matemática, dando particular atenção à prática avaliativa a que recorreram e ao seu
papel no desenvolvimento do processo de aprendizagem e ensino, segui uma
metodologia específica para o estudo de dois casos procurando dar resposta às questões
orientadoras da minha linha de investigação:
325
Conclusões
As duas professoras, cujas práticas foram objeto da minha investigação, sentiram
necessidade de melhorar o seu ensino, capacitando-o para dar resposta aos alunos a
viver na aldeia global em plena revolução digital, o que as levou a frequentar formação
especializada, a nível de mestrado, porque sentiram que as ações de formação de curta
duração não eram suficientes para o seu desenvolvimento profissional. Outro aspeto que
merece ser realçado é o agrado, manifestado por ambas as docentes, pela sua
participação nesta investigação, considerando-a um importante contributo para o
processo de autoavaliação que ambas realizam (Marzano, 2012), corroborando as ideias
defendidas por vários relatórios internacionais (OCDE, 2018).
326
professora. Estes relacionamentos positivos, considerados um estímulo importante para
a neuroplasticidade e a aprendizagem (Sousa, 2017), proporcionaram aos alunos um
clima de conforto onde o muito trabalho desenvolvido fluia, sem sentimentos de
contrariedade, levando-os a serem pensadores inovadores e flexíveis, ou seja, a
apetrecharem-se com competências para acompanharem a revolução digital (Eagleman,
2015).
A proximidade de Leonor e Ilda dos alunos, tanto no apoio constante na sala de aula
como fora da sala, ou mesmo à distância, através da plataforma Moodle, do email ou
das redes sociais, foram estratégias usadas apesar das suas diferentes características. O
conhecimento de cada aluno, independentemente dos percursos seguidos por cada
professora, resultou de estratégias intencionais (Burden, 2014; Lam, 2014; Marzano &
Pickering, 2011) implementadas por ambas, que permitiram ir ao encontro das
necessidades e dos interesses mas também e, acima de tudo, levando os alunos a
assumir o controle das suas aprendizagens (Fredricks, Blumenfeld e Paris, 2004;
Vieira, 2013).
A adesão dos alunos às tarefas que lhes foram propostas foi visível nas aulas que
acompanhei e que fui registando em ambos os diários de campo, mas também está
patente na generalidade das entrevistas com grupos focais realizadas, onde participaram
todos os alunos da turma de inglês, dezassete, e vinte e três alunos da turma de
matemática. Na aula de inglês o envolvimento foi incrementado pelas características das
tarefas que foram propostas aos alunos, com apelos e incentivos constantes à
criatividade e à inovação, levando-os a sair da sua zona de conforto (Sousa, 2017) ou,
nas palavras de Leonor, outside the box, sempre com um ritmo elevado, mas também
pela forma como o trabalho foi organizado, a partir da constituição de grupos flexíveis
onde a interação e a negociação foram permanentes, o que é considerado muito
importante para a aprendizagem em grupo (Brulles & Brown, 2018, Willingham, 2007).
Esta ideia de que a aprendizagem se constroi a partir do esforço e do comprometimento
individual com a aprendizagem (Dweck, 2000) também foi apanágio da aula de
matemática onde a exigência e o ritmo elevado de trabalho, impostos pela professora,
decorreram num ambiente estimulante e amistoso (Pianta, Hamre & Allen, 2012) mas
sempre com uma grande proximidade de Ilda.
327
Os alunos de ambas as turmas foram claros e muito afirmativos quando distinguiram,
pela positiva, as práticas que vivenciaram em inglês ou em matemática, respetivamente,
daquelas que viveram noutras disciplinas e/ou noutros anos de escolaridade. Embora
socorrendo-se de diferentes estratégias, selecionadas por Leonor e por Ilda em função
da sua formação, dos seus interesses, mas também das suas personalidades, ambas as
professoras construiram ambientes de aprendizagem muito dinâmicos (Stiggins, 2014),
onde todos os alunos eram chamados a participar para contribuir para a aprendizagem e
o sucesso do grupo (Berger, Rugen e Wooden, 2014) mas também para o seu
empoderamento.
328
Na aula de matemática, onde também constatei um enorme envolvimento dos alunos, a
diferenciação não foi implementada nos diferentes níveis, tendo Ilda apresentado três
razões para que assim procedesse. Por um lado uma cultura de escola em geral, e no
departamento curricular de matemática em particular, onde prevalece a ideia de que a
justiça do ensino e das classificações resultam de uma lógica igualitária, na qual todas
as turmas devem cumprir um planeamento semelhante, com testes elaborados de acordo
com matrizes iguais. Esta cultura de escola, marcada por uma colegialidade artificial
(Fullan & Hargreaves, 2001), que entende a uniformização de processos e de
procedimentos como uma prática a ser seguida, contraria o que tem sido evidenciado em
muitos estudos e que tem levado vários investigadors (Black & Wiliam, 1998b; Hattie,
2012; Heacox, 2009; Tomlinson & Moon, 2013) a defender que mesmo com um
curriculum igual para todos não significa que a sua operacionalização também o seja, de
modo a não impedir a diferenciação a nível das práticas de ensino.
Outra razão apontada por Ilda para não implementar a diferenciação pedagógica seria a
necessidade de preparar os alunos para alcançarem o sucesso num exame que seria igual
para todos. Existem várias investigações, embora pouco conclusivas, onde são
evidenciadas relações intencionais e não intencionais, umas positivas outras negativas,
entre exame, ensino e aprendizagem (Cheng, 2008). Quando em fevereiro de 2018
Andreas Schleicher, Diretor da OCDE para a Educação, participou numa conferência
em Lisboa sobre o projeto de autonomia e flexibilidade curricular, alertou para a tensão
existente nas salas de aula portuguesas, entre o novo perfil do aluno e os exames
nacionais a realizar no final do ano, por criar uma barreira entre a forma como os
professores gostariam de conduzir as suas aulas e a responsabilidade de ter alunos
capazes de ter sucesso nas provas que determinam o acesso ao ensino superior,
acabando por defender que “um dia Portugal vai ter que alinhar o seu sistema de exames
com o perfil do aluno” (Schleicher, 2018).
329
como um forte obstáculo não só para planificar várias tarefas que possam ser
desenvolvidas em simultâneo mas, também, a falta de tempo para proporcionar aos
alunos o feedback a essas tarefas (Tomlinson & Imbeau, 2010).
330
A professora Ilda tem a noção que os alunos não aprendem todos da mesma forma, nem
as dificuldades que revelam são iguais (Santos, 2009), mas não se sente confortável nem
preparada para contrariar a cultura de escola. Apesar de não aplicar a diferenciação
pedagógica nos seus diferentes níveis, Ilda desenvolveu processos de ensino que
tiveram em conta as diferenças dos seus alunos, as quais foram identificadas a partir de
estratégias intencionais implementadas pela professora dentro e fora da sala de aula,
sustentados num clima de trabalho muito favorável para os alunos construírem a sua
aprendizagem.
A aprendizagem acontece dentro de cada aluno e não para ele o que implica que a
aprendizagem seja um processo confuso, que não ocorre no cumprimento de um
cronograma ou de uma prescrição e muito menos acontece da mesma forma com todos
os alunos (Tomlinson, 2017). Apesar de alguns autores (Bennett, 2011) colocarem em
causa um papel de charneira para a avaliação formativa devido, nomeadamente, à
dificuldade da sua implementação pela generalidade dos professores, um vasto trabalho
de investigação conduzido por Black e Wiliam (1998a,b) e Hattie (2009) levou-os a
concluir que a avaliação formativa, em geral, e o feedback, em particular, tinham um
papel muito positivo na construção das aprendizagens dos alunos.
A avaliação que se realiza na sala de aula pode ter diferentes objetivos: recolher
informação sobre a forma como o aluno está a aprender; classificar o aluno; treinar o
aluno para o exame; castigar o aluno por ter tido um mau comportamento na aula
(Harlen, 2012). Para o professor tem que estar muito claro qual o uso que vai dar à
avaliação que realiza na sua sala de aula, sendo natural que esse objetivo seja variável
(Stiggins, 2017). Nas salas de aula objeto da minha investigação esses objetivos foram
variando entre recolher informação sobre a forma como o aluno estava a aprender e
classificar o aluno. Na aula de matemática também foi muito trabalhado o treino dos
alunos para realizarem o exame. Sendo a avaliação um processo de recolha de
informação sobre o que o aluno sabe e é capaz de fazer, cabe ao professor dar a essas
informações um papel formativo ou sumativo (Fernandes, 2015).
331
2010). Para que a avaliação informe aluno e professor sobre a forma como está a evoluir
a aprendizagem, o avaliar para aprender, ela tem que acontecer durante o processo de
aprendizagem e não no final de uma unidade ou período de tempo e daí a distinção entre
avaliação da aprendizagem e avaliação para a aprendizagem (Fernandes, 2015; Santos et
al., 2010).
Foi percetível, tanto nas observações das salas de aula como nas entrevistas com os
alunos ou com as professoras, a preocupação de ambas em capacitar os seus alunos para
serem os construtores das suas aprendizagens, embora recorrendo a estratégias
diferentes. A autoavaliação, implementada apenas na aula de inglês, pouco usada pelos
alunos no início do ano, sofreu um forte incremento ao longo do ano letivo por ter sido
bastante trabalhada por professora e alunos na sala de aula. Desenvolver o pensamento
crítico implica ver ambos os lados de uma questão, estar aberto para uma nova
evidência que contraria ideias anteriormente aceites, desenvolvendo um raciocínio
332
desapaixonado, exigindo uma argumentação apoiada em evidências (Willingham,
2007). Apesar de ser frequente, vindo dos mais variados quadrantes políticos, sociais e
económicos, a exortação das escolas e dos professores para ensinarem os seus alunos a
desenvolver o pensamento crítico, por ser considerada uma competência essencial para
o cidadão do século XXI (Delors, 1996), continua a ser muito pouco trabalhada, até pela
dificuldade que representa a sua implementação (Stronge, 2018; Willingham, 2007). Os
alunos de Leonor sentiram essa dificuldade, também porque nunca tinham trabalhado
antes o pensamento crítico na escola, mas com o apoio constante da professora e de um
conjunto de descritores objetivos e previamente trabalhados, conseguiram avaliar
criticamente o seu projeto e o projeto dos pares. Na aula de matemática este
empoderamento dos alunos decorreu mais da forma como a professora se relacionou
com eles, motivando-os para que tentassem chegar mais longe na sua aprendizagem.
Nesta investigação foi possível identificar algumas estratégias, usadas por Leonor e por
Ilda, que ajudaram os seus alunos a serem eles próprios os construtores da sua
aprendizagem. Não significa que o que funcionou positivamente nestas salas de aula
funcione em qualquer outra sala de aula e as próprias diferenças identificadas no
diálogo entre as duas práticas são um bom exemplo de que não é possível estabelecer
um plano que se copie de sala para sala, para ser aplicado por diferentes professores a
diferentes alunos.
333
o mundo por muito bem sucedidos que tenham sido a identificar práticas de sucesso
(Wiliam, 2016).
A figura 8 poderá ser a imagem da minha investigação, concluindo que o avaliar para
aprender evolui quando existe uma prática de ensino que promove o envolvimento dos
alunos numa cultura de diferenciação pedagógica, onde a implementação da avaliação
formativa decorre de objetivos de aprendizagem e critérios de avaliação claros e
partilhados com os alunos, uma abordagem positiva do erro, onde o feedback formativo
orienta o aluno para realizar a autoavaliação ajudando-o a ultrapassar os próprios erros.
334
Para além de ter dado resposta às questões da investigação formuladas é ainda possível
apoiar conclusões de vários investigadores que têm procurado um maior conhecimento
empírico do que é o avaliar para aprender:
Reflexões
335
Stake, 2005; Yin, 2005). Ao longo da investigação, a partir da triangulação dos dados
recolhidos, coloquei-me numa atitude não só de observar e de ouvir mas também de
interpretar, na linha do defendido por Stake (2005), mantendo sempre a postura ética
que se exige, no respeito pelos vários participantes (Gibbs, 2012) e pela qualidade da
investigação.
Outro aspeto que considero determinante para o sucesso desta investigação foi a forma
como recolhi a opinião dos alunos. O recurso a entrevistas com grupos focais (Kreuger
& Casey, 2000), a que os alunos aderiram massiva e entusiasticamente, permitiu
recolher informação relevante sobre as suas vivências ao longo do ano letivo, que eles
próprios acabaram muitas vezes por comparar com outras vivências ao longo da sua
escolaridade. Os alunos puderam exprimir o que sentiam mas, também, as suas
perspetivas do que vivenciaram enquanto participantes ativos na construção da sua
própria aprendizagem (Angrosino, 2012). A importância destas entrevistas também foi
realçada pelos alunos quando muitos deles manifestaram a sua satisfação por terem sido
ouvidos numa reflexão organizada e orientada, o que nunca tinha acontecido antes. A
triangulação dos dados recolhidos possibilitou conhecer a visão dos alunos sobre a
escola, a aprendizagem e o ensino, indo muito além de uma simples opinião sobre a
professora. Ao estudar o diálogo entre a prática de ensino e a prática avaliativa de
Leonor e de Ilda e, depois, o diálogo entre as práticas das duas professoras, com
semelhanças e diferenças, na aula de inglês e na aula de matemática, procurei encontrar
336
pistas que possam ajudar outros professores a refletir sobre o seu ensino levando-os a
procurar caminhos que possam ajudar os seus alunos a aprender, sempre.
O professor do século XXI deverá ser, acima de tudo, um intelectual apto a trabalhar de
forma cooperativa com os mais variados agentes educativos (Sharratt & Planche, 2016),
quer sejam professores ou não, estando ele próprio comprometido com uma
aprendizagem constante e reflexiva, que lhe permita dar resposta a uma grande
diversidade de alunos com necessidades diferentes (Darling-Hammond, et al., 2017).
337
neurociências (Eagleman, 2015; Sousa, 2017), que a aprendizagem dos alunos na escola
depende também do que acontece fora da escola. Um bom exemplo é o papel que as
tecnologias podem desempenhar na inovação na construção da aprendizagem que ocorre
na sala de aula, não só por parte do aluno mas também por parte do professor, quando
ele próprio tem que aprender a trabalhar com novas ferramentas de modo a que sejam
úteis no seu processo de ensino (Schleicher, 2011).
Este professor tem que entender a avaliação não como uma ciência exata mas antes
como um processo, imbuído de subjetividade decorrente do facto de as pessoas que
avaliam o fazerem com base nas suas próprias conceções (Fernandes, 2015). É muito
importante que os vários professores do conselho de turma, os vários departamentos
curriculares da escola, as escolas dos vários ciclos e graus de ensino, consigam pensar
em conjunto a melhor forma de lidar com a subjetividade da avaliação porque esta
jamais poderá ser entendida como falta de rigor, nem tão pouco se poderá procurar
ultrapassar essa subjetividade com a adequação ou alteração dos instrumentos que são
usados para recolher informação sobre a aprendizagem dos alunos (Stiggins, 2017).
A maior parte da minha geração aprendeu, ao longo da sua formação académica, que
cometer erros era mau porque os erros eram apontados como evidências de uma
incapacidade para dar a resposta certa e, por essa razão, eram geralmente penalizadores
para quem os cometia. Não será pois de estranhar que esta forma de lidar com o erro
continue a prevalecer na cabeça de muitos professores, o que é prejudicial porque
continua a limitar o próprio processo de aprendizagem e ensino na escola (Tulis, 2013).
mativas, a qual não tem qualquer semelhança com a autoavaliação que os alunos que
participaram nesta investigação realizaram na aula de inglês este ano.
Para os alunos avaliação era sinónimo de classificação porque foi assim transmitida ao
longo de toda a escolaridade. Os alunos não estavam habituados a trabalhar com
objetivos definidos tarefa a tarefa e os critérios de avaliação foram uma novidade
levando a uma confusão frequente, mesmo nas entrevistas finais em grupos focais, entre
critérios de avaliação e critérios de classificação. À medida que os alunos se foram
familiarizando com os conceitos chave da avaliação formativa, e que elegi como
categorias para a minha investigação, foi-se tornando mais fácil a abordagem dos
mesmos.
339
se e como os alunos retiravam benefícios desse feedback, mas isso implicaria recursos
humanos e temporais que não estavam disponíveis.
Parti para esta investigação não com o intuito de cumprir uma qualquer agenda pessoal
ou profissional mas tão só pelo prazer de conhecer e entender melhor a sala de aula,
através do meu olhar mas, sobretudo, através do olhar perspicaz e assertivo dos alunos
que, na verdade, serão sempre os mais influenciados pelas aprendizagens que lá se
constroem ou que ficam por construir. Foi uma tarefa difícil, realizada com muito
esforço e empenho, com avanços e recuos, que me deu um enorme prazer, quer pelo
processo em si quer pelos produtos alcançados e um deles foi sem dúvida a riqueza da
aprendizagem que alcancei ao longo deste percurso de autoconstrução.
Recomendações
O papel da avaliação, a partir dos finais do século XX, tem sido analisado pelos
investigadores mais na perspetiva de perceber o seu contributo para a melhoria das
aprendizagens dos alunos e não apenas para constatar o que os alunos conseguiram ou
não aprender, criando a distinção entre o avaliar para a aprendizagem e o avaliar da
aprendizagem (Black & Wiliam, 1998a; Crooks, 1988; Kluger & DeNisi, 1996;
Natriello, 1987; Nyquist, 2003).
Muito mais importante que implementar a teoria de alguém é estudar a prática para, a
partir dela, chegar à teoria. E mais importante ainda é usar a prática para descobrir as
estratégias que realmente funcionam. “O caminho para conseguir avanços inovadores e
criativos é aprender a partir da prática e não da teoria” (Fullan, 2011, p.12). Foi para
aprender a partir da prática que “mergulhei” nas salas de aula de Leonor e de Ilda,
procurando realizar o diálogo entre práticas de ensino e avaliativas distintas mas ambas
inovadoras e criativas.
340
Apesar de ter havido uma intenção de Leonor em desenvolver a interdisciplinaridade
com outras disciplinas, nomeadamente Português em relação ao estudo da vida e obra
de Fernando Pessoa, a mesma não se concretizou, o que inviabilizou a observação da
realização dessa interdisciplinaridade. Esta temática, que carece de investigação na sala
de aula, parece-me um bom tema para novos estudos quando está a começar a ser
implementado em Portugal o Projeto de Autonomia e Flexibilidade Curricular.
Procurando dar resposta à necessidade cada vez mais acentuada de se trabalhar na
escola numa perspetiva de interdisciplinaridade, é importante perceber, qual a prática
avaliativa que melhor se enquadra com uma prática de ensino desenvolvida num
ambiente de interdisciplinaridade.
Muita da investigação que se realiza no mundo (Black & Wiliam, 1998a; Hattie, 2009;
Wiliam, 2016) diz-nos que o que tem mais influência na melhoria das aprendizagens
dos alunos é a avaliação formativa realizada pelo professor com os seus alunos. Avaliar
para aprender não pode ser visto como uma ferramenta ou um instrumento de trabalho.
É, acima de tudo, uma forma de entender a escola e, particularmente, a sala de aula.
Implica uma adaptação concetual por parte dos professores e dos seus líderes,
obrigando-os a repensar a avaliação e qual a sua utilidade (Stiggins, 2017). Esta
redefinição de prioridades, que coloca o aluno no centro do processo de aprendizagem e
ensino e tem como grande objetivo promover aprendizagens, dá à avaliação um lugar de
341
destaque mas também a grande responsabilidade de fazer a ponte entre o que se ensina e
o que se aprende e acelerando as aprendizagens construídas por cada um dos alunos.
A escola não pode considerar que cumpre o seu papel se se limitar a reproduzir-se, ano
após ano, ignorando a constante mudança que ocorre diariamente na sociedade onde
está inserida (OCDE, 2018b; Pellegrino & Hilton 2012). Não existem dois alunos
iguais, são todos diferentes nas suas competências, mas também nos conhecimentos, nas
dificuldades, nos interesses, nas motivações para avançar por um ou outro caminho,
necessitando por isso de uma escola capaz de dar respostas diferentes que permitam, a
todos eles, alcançar o sucesso (Tomlinson, 2017). E para quem possa considerar esta
pretensão uma utopia, talvez seja bom lembrar que há poucos anos também era uma
utopia pensar que os carros poderiam circular, no trânsito muitas vezes caótico das
grandes cidades, sem qualquer humano a pilotá-los, ou que doenças com elevadas taxas
de mortalidade poderiam ser controladas ou mesmo erradicadas com grande sucesso.
Se, pretender que todos os alunos tenham sucesso, numa sociedade que necessita de
cinco gerações e meia para que uma família consiga acionar o elevador social (OCDE,
2018a), é uma utopia, então serei uma eterna utópica.
342
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LEGISLAÇÃO REFERIDA
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ANEXOS
I. Matriz de investigação
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