SCALON, Fichamento

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SCALON, Celi. Desigualdade, pobreza e políticas públicas: notas para um debate.

Contemporânea – Revista de Sociologia da UFSCar. São Carlos, Departamento e


Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFSCar, 2011, n. 1, p. 49-68.
“Não é possível, portanto, falar em transformações sociais sem levar em consideração as
mudanças nas formas de distribuição de riqueza e nos processos de alocação dos
indivíduos na estrutura social.” P. 50
“Por este motivo, o debate sobre o enfrentamento das desigualdades e conduz a uma
discussão mais abrangente sobre políticas sociais e projetos de nação.” Idem, ibidem.
“Sabemos que a desigualdade não é um fato natural, mas sim uma construção social. Ela
depende de circunstâncias e é, em grande parte, o resultado das escolhas políticas feitas
ao longo da história de cada sociedade.” Idem, ibidem.
“O desafio não é apenas descrever os fatores e componentes das desigualdades sociais,
mas também explicar sua permanência, e em alguns casos seu aprofundamento, apesar
dos valores igualitários modernos.” Idem, ibidem.
“O que torna o Brasil um caso especial é a sobrevivência de desigualdades históricas em
meio a um processo de modernização acelerado. Mais ainda, nossos níveis de
desigualdade de renda são extremamente elevados.” Idem, ibidem.
“Entretanto, a construção de uma base para a superação das desigualdades precisa
envolver parcela significativa da população, tanto na elaboração como na
implementação de políticas que vão ao encontro dos interesses e necessidades dos
agentes.” P. 51
“No entanto, é importante ressaltar que, num contexto de extrema desigualdade como o
que temos no Brasil, até mesmo a cidadania, entendida aqui como participação, é
desigualmente distribuída.” Idem, ibidem.
“Cada vez mais os atores sociais são chamados à participação, porém as condições
dessa participação são claramente definidas a partir das possibilidades e oportunidades
de inserção na arena pública. E essas possibilidades e oportunidades não são, de fato,
iguais.” Idem, ibidem.
(...) a dinâmica da relação entre Estado e sociedade, na qual se inscreve a prática
das políticas públicas, é atravessada por desigualdades na distribuição de poder:
seja ele político, econômico, social, intelectual ou simbólico....” Idem, ibidem.
“Essa discussão remete à escolha do tema deste artigo, que recaiu sobre a questão
da desigualdade e da pobreza. Não somente porque estes são, efetivamente, os
focos das principais políticas públicas e dos programas sociais implementados no
Brasil, mas porque a desigualdade e a privação são, também, problemas que
atingem a formulação, a efetividade e o alcance dessas mesmas políticas e
programas.” Idem, ibidem.
“Dessa maneira, é importante que a desigualdade seja vista como problema
político. Como ponto de partida é necessário reconhecer a estreita relação entre
democracia, justiça social e igualdade de oportunidades.” Idem, ibidem.
“Mas isto não ocorre no Brasil, já que temos uma situação de grande desigualdade que
se caracteriza por uma natureza multidimensional, multifacetada e estável.” Idem,
ibidem.
“Por essa razão, é praticamente impossível discutir as desigualdades sociais sem ter um
horizonte normativo, uma vez que o tema envolve, também, uma discussão ética e
moral.” Idem, ibidem.
“Desigualdade e pobreza, embora sejam conceitos distintos, estão fortemente
vinculados, na medida em que as disparidades nas chances de vida acabam por
determinar as possibilidades de escapar de situações de privação e vulnerabilidade.”
Idem, ibidem.
“Segundo Reis e Schwartzman (S/D) pobreza e desigualdade não são fruto de uma
“dualidade” que existiria entre diferentes segmentos da sociedade, pois o país é
hoje totalmente integrado pela língua, pelas comunicações de massas, pelos
transportes e pelo mercado.” Idem, ibidem.
“Mas o problema seria devido a uma grande parte da pobreza ser ainda rural,
localizada sobretudo nos Estados do Nordeste e em zonas agrícolas deprimidas em
Minas Gerais, e urbana, concentrada na periferia das grandes cidades e
constituída por pessoas em grande parte originárias do campo, cuja integração ao
mercado de consumo não tem correspondência com o mercado de trabalho.” Idem,
ibidem.
“Para esses autores, é ingênuo supor que a pobreza e a desigualdade poderiam ser
eliminadas pela simples “vontade política”, ou somente por meio da redistribuição de
recursos dos ricos para os pobres. No Brasil é preciso enfrentar o que seria o maior
correlato da desigualdade de renda no país: a educação.” Idem, ibidem.
“É relevante destacar, entretanto, que o conceito de pobreza não pode ser reduzido
à noção de precariedade de renda; mas deve ser entendido de forma mais
complexa e abrangente, assim como sugerido nos trabalhos de Amartya Sen
(2001).” P. 53
“Estamos falando, portanto, da pobreza como privação de capacidades básicas que
conduz à vulnerabilidade, exclusão, carência de poder, de participação e voz, exposição
ao medo e à violência – enfim, à exclusão de direitos básicos e de bem-estar.” Idem,
ibidem.
“Para Sen, a privação não pode ser entendida em termos absolutos, uma vez que
existem carências em diversos níveis. É importante ressaltar que a teoria de Sem
está calcada no conceito de capacidades (capabilities) que o indivíduo tem para
realizar funcionamentos (functionings) que ele valoriza. “ Idem, ibidem.
“Esta seria a base para liberdade e igualdade.” Idem, ibidem.
(...) esse modo, o conceito de pobreza não pode ser reduzido à noção de precariedade de
renda; mas deve ser entendido de forma mais complexa e abrangente, como privação de
capacidades básicas que conduz à vulnerabilidade, exclusão, carência de poder, de
participação e voz, exposição ao medo e à violência; enfim à exclusão de direitos
básicos e de bem-estar...” Idem, ibidem.
“O que é considerado como uma terrível privação pode, é claro, variar de sociedade
para sociedade, mas do ponto de vista do analista social estas variações são matérias de
estudo objetivo.” Idem, ibidem.
“Se o conceito de pobreza, que parece bem mais objetivo e claro do que o de
desigualdade, não pode ser restringido à privação de renda, tampouco a questão da
desigualdade deve se limitar a um debate sobre desigualdade de renda.” P. 54
“De certo modo, os estudos sobre desigualdades se desenvolveram muito no âmbito
da Economia, que encontrou uma maior possibilidade de diálogo com o poder
público. Talvez justamente pela simplificação que fazem da questão, colocando
todo o foco sobre a renda. Porém, as limitações da renda, tanto como medida de
pobreza como de desigualdade.” Idem, ibidem.
“Os estudos no campo econômico pouco ou nada revelam sobre estilos de vida, gostos,
valores, comportamentos e práticas; dimensões fundamentais da vida social.” Idem,
ibidem.
“Um debate central na tradição do pensamento social e político contemporâneo
está relacionado ao significado da igualdade de oportunidades em termos sociais e
econômicos.” Idem, ibidem.
“A aceitação do combate às desigualdades está diretamente ligada à identificação de
quais são os “limites toleráveis das desigualdades”. Mas esses limites são sempre
flexíveis e variam de acordo com o quão inclusiva uma sociedade parece ou espera ser.”
P. 55.
Se reconhecermos que o sentido dado à igualdade é socialmente construído e, portanto,
existe um código socialmente compartilhado que justifica ou condena a desigualdade,
devemos também reconhecer que políticas públicas que não levem em consideração os
valores e os padrões de comportamento da sociedade são políticas destinadas ao
fracasso. Idem, ibidem.
“Foi nesta direção que desenvolvi algumas análises com base nos dados do survey sobre
percepção de desigualdades (Scalon, 2004). “ idem, ibidem.
“São análises de comparação internacional que utilizaram informações sobre
outros sete países além do Brasil; são eles: Hungria, Rússia, Suécia, Espanha,
Portugal, Chile e Estados Unidos. “ Idem, ibidem.
“Em termos gerais, o objetivo era avaliar tanto os níveis aceitáveis de desigualdade
de renda em cada país como os mecanismos de legitimação dos determinantes de
estratificação que, em última instância, definem a divisão de recursos e
recompensas entre os indivíduos.” Idem, ibidem.
“Deve-se reconhecer, neste ponto, que a existência de desigualdades é uma
característica intrínseca a qualquer sociedade. “ Idem, ibidem.
“Contudo, a ideia de justiça social entendida como acesso a oportunidades de
aquisição de postos e status, é defendida como forma de criar condições para uma
competição igualitária e, consequentemente, reforçar um sistema meritocrático na
alocação dos indivíduos. “ pp. 55-56.
“Além disso, não se pode perder de vista os níveis de desigualdade toleráveis.” P.
56.
“Para avaliar o grau de desigualdade de renda aceitável foi selecionado um item do
questionário em que era apresentada aos entrevistados uma lista de ocupações, com
diferentes níveis de status e prestígio, e perguntado, para cada ocupação, qual o salário
que deveria receber.” Idem, ibidem.
“Ao lado disto, foi observada uma maior adesão dos brasileiros à ideia de que o
esforço pessoal e a educação prevalecem em nossa sociedade como os critérios que
mais afetam as chances de ascensão social, isto é, são reconhecidos como os
principais determinantes de estratificação.” P. 57.
“Ao mesmo tempo, os brasileiros tendem a rejeitar a ideia de que a origem familiar e as
redes de relações são importantes para a ascensão social. Lembrando, sempre, que essas
conclusões são tomadas à luz da comparação com as outras sociedades incluídas na
análise.” Idem, ibidem.
“A crença de que na nossa sociedade prevalecem critérios de estratificação
meritocráticos pode apontar para uma possível explicação para a convivência dos
brasileiros com níveis tão elevados de concentração de riqueza.” Idem, ibidem.
“No caso do Brasil, existe uma grande valorização da educação que é vista como o
principal recurso para inclusão e ascensão social. Isso acaba por legitimar os
ganhos diferenciais dos grupos mais educados. De certa forma, a teoria do capital
humano parece estar perfeitamente integrada aos valores da sociedade brasileira.”
P. 58
“Além disso, surge outro dado importante nesta pesquisa, que une as opiniões dos
dois países sul-americanos: brasileiros e chilenos concordam com a ideia de que as
desigualdades são necessárias para a prosperidade do país.” Idem, ibidem.
“Uma ideia bastante difundida, que passou à história como exclusiva do período de
ditadura militar, mas que ainda hoje encontra ressonância, especialmente nos países de
industrialização tardia, como os do cone sul.” Idem, ibidem.
“Diante desses resultados, vale a pena avaliar, com um pouco mais de detalhe, a
relevância do crescimento econômico e do capital humano como alternativas
viáveis e eficientes para a redução da pobreza e para a promoção de igualdade.” P.
59
“O debate sobre as possíveis soluções visando a diminuição das desigualdades sociais
no Brasil e bastante controverso e, por essa razão, podemos identificar nele diferentes
correntes.” Idem, ibidem.
“Há aquela que afirma que as desigualdades só serão enfrentadas a partir de
transformações radicais que venham a ser operadas na sociedade, principalmente
no campo da distribuição do poder econômico e político.” Idem, ibidem.
“Também podemos apontar a solução de inspiração malthusiana, que advoga o
controle populacional como alternativa para a redução da pobreza e a melhora das
condições de vida da população. Idem, ibidem.
“Mais comum é, entretanto, a posição daqueles que veem a diminuição das
desigualdades
como função do crescimento da economia.” Idem, ibidem.
“Amplamente difundida, essa tese se apoia na crença de que as desigualdades
podem ser funcionais para a eliminação da pobreza, por meio de seus efeitos
positivos para o crescimento econômico. “ Idem, ibidem.
“Isso acontece porque as desigualdades salariais funcionam como um incentivo ao
esforço produtivo levando ao aquecimento da competitividade.” Idem, ibidem.
“No entanto, a experiência de vários países, inclusive o Brasil, que passaram por
processos acelerados e constantes de crescimento econômico, mostrou que não
existia uma relação funcional e necessária entre igualdade, crescimento e redução
da pobreza.” Idem, ibidem.
“Essa constatação provocou uma importante revisão na literatura e, hoje, vários
analistas reconhecem que a própria viabilidade do crescimento econômico está ancorada
na capacidade do país de estabelecer patamares mínimos de igualdade.” Idem, ibidem.
“O Relatório de Desenvolvimento Humano de 2006 já aponta o impacto negativo
que estruturas sociais extremamente desiguais podem ter para a eficiência das
instituições.” Idem, ibidem.
“A desigualdade de acesso a ativos, em especial propriedade da terra e educação,
acaba por retardar o processo de crescimento econômico, na medida em que não
potencializa os talentos e as possibilidades dos grupos menos favorecidos, além de
distorcer os incentivos ao esforço produtivo desses grupos.” Idem, ibidem.
“Dessa forma, a sociedade, como um todo, tende a ser menos eficiente e perder
oportunidades de inovação e investimentos.” P. 60
“O que se observa é que as consequências negativas das desigualdades de
oportunidades e de poder político sobre a capacidade de desenvolvimento
sustentado de um país são ainda mais profundas porque as desigualdades
econômica, política e social se reforçam e se reproduzem no tempo.’ Idem, ibidem.
“E, neste ponto, é necessário enfatizar duas questões centrais para determinar a
composição da estrutura de classes, tal como observamos no Brasil. A primeira diz
respeito à sobreposição da elite em vários níveis: econômico, cultural, simbólico e
político. A segunda se refere às características da mobilidade social.” Idem, ibidem.
“No Brasil, o capital econômico, o capital simbólico, o capital cultural e o capital social,
entendidos como capital relacional, se entrecruzam criando um cenário no qual a esfera
pública tende a ser mobilizada para atender interesses privados.” Idem, ibidem.
“Este não é um fenômeno exclusivo de nossa sociedade, mas seus efeitos são tão mais
perversos quanto maior for a distância entre as classes sociais que, no nosso caso, é
bastante profunda.” Idem, ibidem.
“Os estudos sobre elite, realizados tanto por Elisa Reis (2005) como por Marcelo
Medeiros (2005), mostram não só que as elites se sobrepõem e se conectam,
mobilizando poder econômico, político e social, como, também, que depositam
sobre o Estado a responsabilidade por promover políticas de combate à pobreza e
à desigualdade que não acarretem custos privados.” Idem, ibidem.
“Assim, educação e reforma agrária são as alternativas preferidas; a primeira
porque o custo recai sobre o Estado e a segunda porque atinge apenas uma
pequena elite agrária.” Idem, ibidem.
“Até a década de 1980, no Brasil predominou a mobilidade estrutural, ou seja, um tipo
de mobilidade que depende das transformações na estrutura ocupacional. Mas vale
lembrar que a mobilidade estrutural, apesar de frequente, foi marcada por movimentos
de curta distância.” P. 61
“O grau de fluidez de uma sociedade é avaliado a partir das chances relativas de
mobilidade que comparam, por exemplo, as oportunidades (ou probabilidades) de
pessoas com origens em classes sociais distintas alcançarem uma mesma classe
social de destino.” Idem, ibidem.
“Na realidade, as chances relativas de mobilidade no Brasil apresentam um
quadro bastante diferente, já que revelam uma extrema rigidez na estrutura
social.” Idem, ibidem.
“Ou seja, as chances de mobilidade entre estratos sociais são muito desiguais e,
portanto, a capacidade de reprodução dos estratos mais privilegiados é muito
alta.” Idem, ibidem.
“Temos um cenário em que a mobilidade social é basicamente de curta distância,
fortemente impulsionada pelo movimento rural-urbano. Ainda assim, é possível
observar alguns movimentos ascendentes de fôlego, que implicam numa mudança de
estrato significativa.” Idem, ibidem.
“Devemos considerar, também, a existência de uma estreita conexão entre as redes
de relações e as chances no mercado de trabalho, como argumentam Charles Tilly
(1999) e John Goldthorpe (2000), o que permite estabelecer um vínculo direto
entre classe social e formas de sociabilidade.” Idem, ibidem.
“Assim, as redes sociais reforçam a tendência à reprodução e transmissão de
classe, uma vez que a aquisição de status é determinada também pelo capital
social, entre vários outros fatores que distinguem os estratos mais privilegiados.” P.
62
“Diante deste quadro, devemos enfatizar que o crescimento econômico, em bora seja
desejável e, até mesmo, uma condição importante para a diminuição das desigualdades e
da pobreza, não é condição suficiente.” Idem, ibidem.
“Isto porque a apropriação dos benefícios desse desenvolvimento acaba ocorrendo de
maneira desigual para os diferentes estratos da população.” Idem, ibidem.
“Está claro que o crescimento econômico é desejável e necessário para gerar
recursos e excedentes, no entanto esta aposta não é suficiente para dar conta do
grau de desigualdade e de carência observados na sociedade brasileira. A solução
deve passar, também, por políticas redistributivas.” Idem, ibidem.
“Além disso, diante de um cenário de extrema desigualdade de poder político, é
razoável supor que quem se beneficiaria deste crescimento seriam os atores sociais
que melhor mobilizam os recursos – políticos, culturais, sociais e econômicos – e
que são os mesmos que sempre se beneficiaram da produção de excedentes no país,
ou seja, a elite.” Idem, ibidem.
“Nesse ponto é importante chamar atenção, também, para a incompletude da Teoria do
Capital Humano que, por décadas, concentrou todas as nossas esperanças de eliminação
da pobreza e promoção de igualdade na elevação dos níveis educacionais da
população.” Idem, ibidem.
“É Inegável a importância da educação, inclusive como fator de socialização e
transmissão do sentimento de pertencimento a uma determinada cultura.” Idem, ibidem.
“No entanto, a escolaridade vem sendo apresentada muitas vezes como solução
“mágica” para a ampliação das oportunidades e a criação de uma sociedade mais
igualitária, reificando a noção de um mercado de trabalho com oportunidades
iguais, cujo determinante é o valor meritocrático.” P. 63
“Infelizmente, essa é uma condição difícil de ser alcançada num contexto de
extrema desigualdade, em que a elite tende a acionar mecanismos de distinção que
passam, invariavelmente, pela educação e pela cultura. E aqui podemos pensar na
argumentação teórica desenvolvida, com tanta propriedade, por Pierre Bourdieu.”
Idem, ibidem.
“Vale lembrar, também, que a educação é um investimento de longo prazo que tem
impacto, fundamentalmente, sobre as gerações jovens, mas exclui a parcela da
população adulta.” Idem, ibidem.
“Desse modo, o investimento em educação, que é indispensável para a promoção
de equidade e bem-estar, nem sempre tem impacto direto e imediato sobre a
pobreza e a vulnerabilidade dos grupos desprivilegiados.” Idem, ibidem.
“A reflexão desenvolvida até aqui permite perceber que a redução das
desigualdades não se apresenta como uma consequência “natural” e provável do
processo de desenvolvimento econômico.” Idem, ibidem.
“Também indica que a redução da pobreza absoluta está fortemente condicionada à
diminuição das desigualdades e isto é verdade, não somente quando se trata das
disparidades de renda, mas também quando consideradas outras dimensões, tais como
saúde, educação e política.” Idem, ibidem.
“Sei que foi apresentado, até aqui, um cenário pouco animador para a erradicação
da pobreza e a promoção da equidade, na medida em que foi exposta uma situação
de profunda desigualdade de oportunidades ao apontar como as chances relativas
de mobilidade são reduzidas e revelam uma sociedade com pouca fluidez social.”
Idem, ibidem.
“Esse quadro se torna ainda menos maleável, já que estamos retratando uma sociedade
resistente a grandes transformações na estrutura de classes, se considerarmos que no
Brasil a elite tem enorme capacidade de mobilização de meios e recursos para garantir a
transmissão de sua posição através das gerações.” Pp. 63-4.
“A ordem vigente opera no sentido de maximizar os benefícios e interesses deste
grupo, criando uma cadeia difícil de romper e que reduz drasticamente nossa
capacidade de reverter o quadro de enorme desequilíbrio de poder, de
capacidades, de recursos e de oportunidades.” P. 64
“Esse tom quase pessimista pode ter sido agravado pelo fato de que, para cada
alternativa mencionada de geração de igualdade de oportunidades e de combate à
pobreza – como crescimento econômico e capital humano – foram rapidamente
apresentadas suas fraquezas e incompletudes.” Idem, ibidem.
“Nesse sentido, a busca de alternativas de redução das desigualdades passa por duas
vias simultaneamente. Uma delas é a formulação de novos modelos de
desenvolvimento.” Idem, ibidem.
“Mas, assim como o investimento em capital humano e o crescimento econômico, a
redistribuição de renda é condição necessária, mas não suficiente para a igualdade,
na medida em que seus efeitos podem e devem ser potencializados tanto pelo
investimento em educação como pelo desenvolvimento sustentado.” Idem, ibidem.
“A igualdade de oportunidades que, em última instância, é o elemento-chave para
uma sociedade justa, adotando o conceito rawlsiano de justiça (Rawls, 1993), só
pode ser alcançada com ação pública que agregue e combine diferentes
estratégias.” Idem, ibidem.
“Nesse sentido, é imprescindível a articulação entre políticas universais e políticas
focalizadas que, embora tenham caráter distinto e se apliquem a situações
diversas, não são excludentes nem necessariamente conflitante.” Idem, ibidem.
“A oposição entre universalização e focalização é, portanto, artificial, embora tenha se
tornado comum no discurso de vários analistas e, num contexto de escassez de recursos,
fazer sentido para a escolha do tipo de política que deve ser priorizada.” P. 65.
“Muitas organizações da sociedade civil têm, progressivamente, ampliado sua
participação na oferta de serviços à população. É o caso, por exemplo, de organizações
que atuam em programas de educação alternativos: escolas comunitárias, programas de
pré-vestibular para grupos específicos (jovens pobres e negros, por exemplo) ou de
ações básicas de saúde.” Idem, ibidem.
“Um passo importante para a agenda das políticas públicas é, sem dúvida,
melhorar a qualidade das informações sobre os mecanismos e processos sociais
envolvidos na produção e reprodução de desigualdades.” Idem, ibidem.
“Da mesma forma, é fundamental avaliar as políticas públicas efetivamente
implementadas. Existe um déficit no sistema de avaliação e monitoramento e, por
isso, sabemos pouco sobre a história de fracassos e sucessos dessas medidas.” Idem,
ibidem.
“O objetivo deste texto foi conjugar uma discussão sobre desigualdades, com a
preocupação que deve ser cada vez mais intensa e constante na agenda de pesquisa
da Sociologia, que diz respeito às políticas públicas.” Idem, ibidem.
“O campo das políticas públicas incorpora uma vocação prática e propositiva que
implica, não só em avaliar o impacto das policies já existentes, mas também produzir e
acumular conhecimento no sentido de auxiliar a formulação e a implementação de
práticas mais eficiente.” Idem, ibidem.
(...) O diálogo entre estratificação, desigualdades e políticas públicas pode envolver
diversas áreas, na medida em que atravessa os mais variados campos temáticos.” Idem,
ibidem.
“No entanto, é importante salientar uma vez mais que as desigualdades não estão
limitadas à distribuição de renda. Cabe às análises sociológicas exporem os fatores
e mecanismos envolvidos nos processos de produção e reprodução das
desigualdades, que têm origens tão variadas quanto suas manifestações.” P. 66
“É por meio do reconhecimento da complexidade da sociedade contemporânea, em
geral, e do fenômeno da desigualdade, em particular, que as ciências sociais devem
ultrapassar o espaço restrito das análises baseadas quase unicamente na renda, que têm
circunscrito os estudos econômicos sobre as desigualdades.” Idem, ibidem.
“Do mesmo modo, as políticas de combate às desigualdades não podem ficar
circunscritas somente a análises técnicas ou orçamentárias, centradas nos cálculos
econômicos, como tendem a ser interpretadas nos estudos do campo da
Economia.” Idem, ibidem.
“Dessa forma, os estudos sociológicos são fundamentais tanto para a compreensão e
interpretação dos mecanismos e fatores envolvidos na produção e reprodução das
desigualdades, como são essenciais para a definição de soluções no campo das políticas
públicas para este problema que é, sem dúvida, o mai s central em nossa sociedade.” Idem,
ibidem.

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