Trabalho APS de Psicologia Construtivista (UNIP)

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UNIVERSIDADE PAULISTA

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS


CURSO DE PSICOLOGIA

JOSÉ RICARDO BELTRAMINI DE MELO T499IC-5

6º SEMESTRE NOTURNO

22B6 – Atividades Práticas Supervisionadas

CAMPUS RIBEIRÃO PRETO - SP

NOVEMBRO de 2020
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JOSÉ RICARDO BELTRAMINI DE MELO

Estudo de caso: - Estudo psicogenético do pensamento infantil por meio da


representação gráfica (desenho infantil)

Texto apresentado para a disciplina de Atividades


Práticas Supervisionadas de código 22B6 do Curso de
Psicologia no Instituto de Ciências Humanas, campus
Ribeirão Preto.

RIBEIRÃO PRETO – SP

NOVEMBRO DE 2020

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Sumário

Introdução e Introdução Teórica.................................................................................04

Métodos...........................................................................................................................06

Resultados e Discussão..................................................................................................07

Conclusão.......................................................................................................................08

Bibliografia.....................................................................................................................09

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Introdução e Introdução Teórica:

O presente trabalho busca realizar uma análise de um estudo de caso a respeito


do pensamento infantil através de seu desenho, de sua representação gráfica. Buscamos
nos amparar em autores clássicos no campo, a saber Georges-Henri Luquet (1876 –
1965), Viktor Lowenfeld (1903 – 1960) e Jean Piaget (1896 – 1980), que estudamos sob
o escopo do que hoje se denomina o campo da psicologia construtivista.

Temos, assim, a responsabilidade de apresentar parte das elaborações dos


autores que visam amparar analiticamente esse trabalho. A começar por Lowenfeld e
Luquet, temos uma classificação em níveis de desenvolvimento do grafismo da criança.
Os autores trazem resoluções a impasses da época ao compreender que o desenho faz a
representação do mundo real e imaginário da criança e transmite sua experiência
subjetiva e o que lhe é significativo. Para tanto, Lowenfeld traz a relevância de pais e
educadores compreenderem as fases e transformações do grafismo infantil para auxilia-
los na criação da criança.

Diante dessa importância, apresenta que se entendermos o desenho, ou seja, a


forma com qual desenha, quais os “métodos” que a criança desenvolve para representar
seu meio, será possível entender seu comportamento e desenvolver formas de análise do
seu crescimento e desenvolvimento.

Para Lowenfeld, existem estágios de desenvolvimento gráficos, mas que a tarefa


de identificar as diferenças entre uma etapa e a outra é difícil, pois acontecem em um
processo contínuo de desenvolvimento em que elementos se entrecruzam, além de
pontuarem que as crianças tem diferenças individuais no desenvolvimento do grafismo.
Ao desenvolver sua teoria sobre as fases do desenvolvimento, pontua a existência de
quatro períodos, iniciando-se nos 2 anos e concluindo aos 12 anos.

A primeira fase é denominada de “Estágio das Garatujas”, começando aos 2


anos de idade até aos 4 anos. É constituída por rabiscos desordenados e aleatórios, onde
a organização e controle se torna um processo de conquista, trazendo a possibilidade de
progredir de rabiscos a formas controladas.

A segunda etapa foi chamada de “Estágio Pré-Esquemático”, iniciando ao final


da primeira fase, próximo dos 4 anos de idade, e dura até atingir os 7 anos. É nesse
estágio que ocorrem os primeiros experimentos de representar o real, onde também

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acontece a tomada de consciência da formas, transpondo-as nos desenhos, mesmo que
não correspondam exatamente as formas desejadas.

Na terceira etapa temos o “Estágio Esquemático” que perdura dos 7 aos 9 anos.
É no “Estágio Esquemático” que o conceito de forma já se encontra introjetado,
tornando possível desenhos e símbolos de seu meio social, do seu ambiente, que se
configuram em tentativas de descrição do meio.

Por último, a quarta etapa intitulada de “Estágio do Realismo” inicia-se aos 9


anos, com duração até os 12 anos. Aqui, temos a presença de símbolos onde a criança
detém consciência sobre eles, pois é um movimento consciente da sua projeção. Porém,
não há mais o ímpeto de exposição do desenho, pois surge um movimento de autocrítica
perante ao seu meio social que não se manifestava nas outras etapas.

Com relação a Luquet, temos também uma concepção de movimento de


evolução cognitiva. O desenho seria a projeção do modelo internalizado por seu aparato
psíquico, no decorrer do desenvolvimento intelectual, que o indivíduo detém do objeto.
Luquet também apresenta estágios do desenvolvimento gráfico seguindo um
desenvolvimento intelectual, sendo divido em 4 momentos de amadurecimento.

O primeiro é o realismo fortuito, que se inicia aos 2 anos e compreende dois


momentos: o “Desenho involuntário” e “Desenho voluntário”. No primeiro movimento
o desenho é constituído por linhas, pois não há uma consciência sob a forma e por
consequência, não se pode atribuir significado ao seu grafismo. No segundo momento
ainda há o desenho sem finalidade, mas inaugura o despertar de consciência entre as
semelhanças de seus traços com a sua realidade. Posteriormente está presente a intenção
de desenhar uma forma, um objeto.

O segundo estágio é o “Realismo Falhado” ou “Incapacidade sintética” em que a


criança procura a representação de cada objeto, empreendendo esforços para diferencia-
los. O desenho característico não é integrado, ou seja, não forma um conjunto de
sentidos, pois suas ações e pensamentos ainda não estão em coordenação. Sua
percepção do objeto representado detém grande influência no grafismo.

O terceiro estágio, intitulado de “Realismo Intelectual”, constitui a forma que os


objetos são representados pelo conhecimento intelectual da criança. Reproduz objetos
de forma consciente, representando partes do objeto que não estão visíveis à sua

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percepção empírica. Há a junção do real com a elaboração de continuidade do objeto
por parte da criança.

No último estágio, nomeado de “Realismo Visual” a criança desenvolve a total


representação visual que há do objeto. Diferente do terceiro estágio, consegue focar em
apenas representar o objeto empírico, que seus sentidos captam, adquirindo uma melhor
definição dos traços e formas dos objetos de grafia.

Com Jean Piaget, temos a percepção do desenho juntamente com outras noções,
como a imagem semiótica, o jogo simbólico e as imagens mentais. Refere-se ao
surgimento de uma função semiótica na criança, advinda da necessidade de sua
categoria sensório-motora em atribuir significações. Assim, a criança inicia-se através
de uma imitação diferida, onde desenvolverá a imitação de gestos sem a presença da
figura mimetizada.

Temos, por sequência, o jogo simbólico, em que se acessa níveis fora do alcance
do sistema sensório-motor. É ainda um gesto de imitação, mas há a inserção de objetos
simbólicos na sua atividade, para que possa se apropriar da realidade a sua volta, uma
vez que a linguagem enquanto principal meio de adaptação social, não é acessível para
ela. Assim, inicia-se o princípio da imagem gráfica, o desenho, sendo ainda um
elemento de intermédio do jogo (imitação) e da imagem mental, manifestando-se a
partir dos 2 anos.

Após a mediação de transição do desenho, temos a consolidação da imagem


mental, em que o sistema sensório-motor não é movimentado, tendo o foco em
movimentos de uma imitação interiorizada de sua percepção do mundo. Tal etapa
apresenta-se entre o jogo mental e a imagem mental. Por fim, surge a linguagem, a
evocação verbal, que permite expressar o que não está na presença real do indivíduo;
pode-se manifestar o que não é presente.

Métodos

O sujeito do estudo de caso é identificado como O.P, tem 3 anos de idade, do


sexo masculino. É o único filho de uma família de classe média e frequenta a escola
regular, está no Jardim I. Para realizar o desenho, foi disponibilizado para a criança

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materiais indicados para sua faixa etária: giz atóxico e folha sulfite. O ambiente para a
realização do desenho fora um ambiente aconchegante, tranquilo e seguro.

A criança iniciou o desenho utilizando a mão direita e posteriormente trocou


para a mão esquerda. Usou as cores laranja, preto, azul claro, azul escuro, rosa e
amarelo, conversando durante a confecção do desenho sobre temas variados, desde
brinquedos específicos até as diferenças nos tamanhos dos gizes de cera. Em
determinados instantes, requisitou o celular do aplicador, assim como o caderno de
anotações e as canetas. Não ficou parada realizando a atividade, levantava e andava pelo
ambiente, solicitando a apresentação do desenho para os pais.

Resultados e Discussão

O grafismo da criança em análise nesse estudo de caso está autorizado a ser


divulgado no presente trabalho, e segue abaixo em forma digitalizada.

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Ao interpretarmos os desenhos do nosso caso sob a teoria de Luquet, podemos
compreende-lo como um grafismo fruto do que o autor denomina de “Realismo
Falhado”, em que podemos observar tentativas de representação de objetos diferentes.
Temos desenhos diferentes, sem um sentido de continuidade entre eles, sobrepostos.
Assim como é descrito na etapa de Luquet, em que um conjunto de representações não
formam um conjunto de sentido, o que o autor caracteriza pela imperfeição de destreza
da coordenação.

Embasando-se com a perspectiva das etapas de desenvolvimento do grafismo de


Lowenfeld poderíamos afirmar que o sujeito do caso se encontra no “Estágio das
Garatujas”, em que se pode identificar alguns traços ainda desordenados, que ainda há
uma trajetória de progresso do controle das formas a ser realizado.

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Se pensarmos o grafismo infantil em questão na perspectiva de Jean Piaget,
podemos entende-lo como uma produção do estado pré-operatório, onde a inteligência
representativa começa a se manifestar. Temos como evidência a esse ponto as tentativas
de formas produzidas no desenho, em que procura representar um objeto ausente de sua
sala de aplicação, baseando-se no seu significado, que no caso, toma vida nas formas.
Também podemos perceber a presença da linguagem no comportamento da criança
durante a atividade, traço observável durante o período pré-operatório.

Diferentemente de Luquet, Piaget indica que o desenho não é um jogo,


entendendo que existe interações, derivadas das imitações, no interlúdio entre a imagem
gráfica e a imagem interior1. Porém, reconhece que Luquet produzira interpretações a
respeito do desenho infantil que continuam válidas, já que propôs uma resposta concreta
as proposições da época, entendendo o desenho como realista em sua intenção, apenas
variando de acordo com o conhecimento que o indivíduo possuí sobre o que deseja
representar. Para Piaget, as produções de Luquet são uma introdução ao que ele
percorrerá sobre a imagem mental.

Conclusões:

Com o desenho produzido por O.P podemos identificar que a criança em questão
está identificando a diferenciação entre os objetos, adquirindo contorno para os seus
conhecimentos, porém ainda necessita de treinamento e aperfeiçoamento de sua
coordenação para aperfeiçoa-las. Suas diversas indagações ao aplicador também
revelam alguns aspectos que o indivíduo perpassa, como por exemplo, uma fase pré-
operatória, com a manifestação da linguagem que comunica suas vontades de
demonstrar seu desenho aos pais.

Referências:

MOGNOL, L. T.; SILVA, M.K.; PILLOTTO, S.S.D. Grafismo infantil: linguagem do


desenho. Revista Linhas, Florianópolis, v. 5, n. 2, 2004. Disponível em:
http://revistas.udesc.br/index.php/linhas/article/view/1219/1033.

1
Piaget compara a imagem interior com o modelo interno de Luquet, que consiste em entender a
representação mental que o desenho manifesta.

9
PIAGET, J.; INHELDER, B. A função semiótica ou simbólica. In: A Psicologia da
Criança. 3ª ed. Trad. Octavio Mendes Cajado. São Paulo: Difel, 2003.

GOULART, Íris Barbosa. Piaget: experiências básicas para utilização pelo professor.
25ª. Ed. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.

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