Tiradentes - Um Maçom, Ainda Que Tardio - E. Figueiredo
Tiradentes - Um Maçom, Ainda Que Tardio - E. Figueiredo
Tiradentes - Um Maçom, Ainda Que Tardio - E. Figueiredo
TIRADENTES
UM MAÇOM, AINDA QUE TARDIO
e. figueiredo
TIRADENTES
UM MAÇOM, AINDA QUE TARDIO
e. figueiredo (*)
“Pois seja feita a vontade de Deus !
Mil vidas eu tivesse, mil vidas eu daria
pela libertação da minha Pátria !”
Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes
D
epois de trinta anos da execução de Tiradentes, Dom Pedro I, o herdeiro da coroa portuguesa
que o enforcara e esquartejara, proclamava a Independência do Brasil. Prova irrefutável de
que os propósitos de Joaquim José da Silva Xavier haviam sido plantados em terra fértil e
frutificados. A semeadura não só proporcionou a conquista da nossa independência, como deu um
imenso passo adiante na marcha da Humanidade, algo que lhe devemos, até hoje, por alguns dos
benefícios políticos que gozamos.
Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, também tinha outras alcunhas como “o Corta Vento” e “o
Liberdade”. Foi taxado traidor pelo governo português da época, porém, para os brasileiros é um
dos maiores heróis nacionais, idealista e líder, com caráter ímpar em face do julgamento e da morte,
apesar de alguns historiadores considerarem-no simples figurante numa conspiração de bacharéis
ricos e poderosos, que ficou conhecida como Inconfidência Mineira. Na verdade, o que se atesta, é
que foi um homem leal, de espírito inquieto. Joaquim José da Silva Xavier, reapresenta um arquétipo
simbólico do mito do herói, com uma ação política que o tornaria exemplo para todos aqueles que no
curso dos anos se dispuseram a libertar o Brasil do jugo de Portugal. A imagem, do fenômeno
Tiradentes, está implantada no âmago do povo como um mito de origem e do herói de Vila Rica. É,
oficialmente, o PATRONO CÍVICO DA NAÇÃO BRASILEIRA !
A maioria dos movimentos rebeldes, que eclodiram no Brasil Colonial, não teve por objetivo central a
independência, mas sim, outros objetivos, principalmente relativos a impostos e confiscos. Três
desses movimentos, entretanto, tinham interesses separatistas e republicanos, e, os três foram
denunciados por traidores: INCONFIDÊNCIA MINEIRA, que obteve maior notoriedade, a
INCONFIDÊNCIA CARIOCA e a INCONFIDÊNCIA BAIANA, menos conhecidas. Inconfidência quer
dizer crime de lesa-majestade; os vassalos juram defender o seu rei e dar a vida por ele, e, quando o
vassalo cometia perjúrio, ou faltava ao juramento, praticava crime de inconfidência. Sabe-se,
contudo, que nenhum dos movimentos chamados “nativistas” tinha ambições nacionais entre seus
integrantes, pelo simples motivo de que não existia ainda, um sentimento de “nação brasileira”, já que
essa idéia só foi construída durante o governo e D. Pedro II (1840-1889). Entende-se porém, que
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esses movimentos são um momento de expressiva beleza na luta pela independência do Brasil,
ocorrido nas duas últimas décadas do século XVIII, vistos pela ótica ufanista.
A Inconfidência Mineira ou Conjuração Mineira é uma das mais controversas passagens da história
do Brasil. Não restam muitas informações e documentos a respeito de seus participantes, a não ser
alguns relatos oficiais produzidos pelos juízes do governo colonial de então. Muito existe ainda a ser
esclarecido acerca dos fatos ocorridos, em 1789, em Vila Rica, envolvendo pessoas de grande
fortuna e alta posição na cidade, numa conspiração contra Portugal. Há, também, o agravante das
versões apaixonadas produzidas por monarquistas e republicanos nos anos que se sucederam aos
acontecimentos as quais comprometem uma visão isenta sobre como tudo de fato aconteceu.
Podemos, entretanto, dizer que pela condição de movimento nativista como pela ação desenvolvida,
em nome de uma ideologia liberal, por alguns dos seus participantes, a Inconfidência Mineira constitui
página de especial menção na evolução histórica do Brasil. Alguns
pretendiam, mesmo, eliminar a dominação portuguesa e criar um
país livre, no Brasil. Para os ensinamentos didáticos, a imagem de
Tiradentes ficou sagrada como mártir e a idéia de que o movimento
de rebeldia fora precursor da Independência do Brasil.
O movimento foi uma conspiração elaborada por parte da oligarquia
de Minas Gerais entre os anos 1788 e 1789. Aprofundada em altas
dívidas, sem condições de saldar os tributos, e, descontentes com
a reforma administrativa a ser promovida na capitania pela Coroa
Portuguesa, que lhe tiraria os privilégios, a elite mineira antevia na
independência uma solução para os problemas. Boa parte dessas
pessoas tinham educação e cultura acima dos padrões comuns à
época, quase todos, contudo, cheios de ambição e muito
habituados à prática de atos de corrupção e suborno que
comprometiam as próprias autoridades locais. Esse grupo, que
incluía homens de negócio, proprietários rurais, clérigos, militares e vários políticos, se protegiam
clandestinamente e davam apoio aos idealistas: caso estes fossem descobertos, seriam eles os
punidos pela repressão colonial portuguesa.
Havia outros fatores que contribuíam com a situação crítica da economia. Um deles se relacionava
com o apetite fiscal da Coroa Portuguesa ser tão grande quanto a dificuldade em pagar suas dívidas
com a Inglaterra. Portugal quase nada produzia além de vinhos e quinquilharias. O governo
português comprava dos britânicos quase tudo o que consumia. O ouro do Brasil era a principal
moeda de pagamento, mas, a partir da segunda metade do século XVIII, já dava mostras de
esgotamento. A influência das ideias do Iluminismo e a notícia da Declaração de Independência do
Estados Unidos da América (1776) serviram, igualmente, para alimentar os sentimentos de revolta
contra os governantes. A tática, para atrair a simpatia do povo, pregava que o levante deveria ocorrer
quando o governo colonial aplicasse a derrama (Cobrança extraordinária de impostos, tributos em
atraso e confisco de bens.).
A voracidade fiscal e a tirania do governo revoltavam o povo, que sofria as conseqüências indiretas
do confisco que atingia os mais ricos. Comércio, lavoura e pecuária também eram tributados. Os que
não pagavam podiam ser presos e até degredados. Entretanto, antes de levar a efeito a rebelião,
propriamente dita, a oligarquia mineira passou alguns anos tentando negociar com a Corte uma
solução econômica e a manutenção dos privilégios na administração da capitania. (Um contra-senso,
pois esses privilégios onerariam, ainda mais, a população !) Sem, contudo, obter êxito, tramaram um
levante separatista, inspirado nos ideais do Iluminismo, propondo a constituição de um estado
republicano. A insurreição previa a mobilização de tropas, que estavam sob o comando dos militares
que aderiram à conspiração, para a tomada do governo da capitania. Todavia, aconteceu algo
inesperado: a suspensão da derrama, pelo governo colonial, e a traição cometida por um dos
inconfidentes. Todos os participantes foram presos !
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Dentre todas as personalidades importantes do Brasil, TIRADENTES é, inegavelmente, um dos seus
maiores heróis ! É citado com freqüência como mártir, porém, o melhor adjetivo para esse homem é
HERÓI ! Líder da Inconfidência Mineira, seu verdadeiro nome era Joaquim José da Silva Xavier.
Nasceu na Fazenda Pombal, em Vila de São José (atual de Tiradentes) e São João Del Rei, Minas
Gerais) em12 de Novembro de 1746, entretanto foi criado na cidade de Vila Rica (atual Ouro Preto).
Seus pais foram Domingos da Silva Santos e Maria Antônia da Encarnação Xavier. A família de
Tiradentes possuía terras e lavras de ouro e pertencia à nobreza mineira, classe que dirigia a região.
Tiradentes fez de tudo antes de ser ativista político: foi ourives, mascate, tropeiro, negociador de
ouro, dentista, topógrafo e militar como alferes, posto hoje equivalente ao de subtenente; apesar de
instrução muito sumária, tinha o dom da oratória e era, também, um autodidata. Tiradentes nunca se
casou, mas manteve caso com duas mulheres e deixou descendentes. Teve dois filhos: João, com a
mulata Eugênia Joaquina da Silva, e Joaquina, com a ruiva Antônia Maria do Espírito Santo.
Em Primeiro de Dezembro de 1875, Tiradentes conseguiu ingressar, diretamente, no posto de alferes
no Regimento dos Dragões de Minas Gerais, cavalaria, nomeado comandante de patrulha, cujo soldo
era pago pela coroa portuguesa. Suas tarefas, como comandante de patrulha, incluíam viagens pelo
interior nas quais constatou a situação de miséria em que viviam os moradores por onde passava.
Isso foi um dos argumentos que lhe serviu, mais tarde, para propagar o seu idealismo.
Com licença do governo da Capitania, Tiradentes vai ao Rio de Janeiro para tratar com o Vice-Rei
sobre propostas relativas à melhorias para a cidade de Vila Rica. Enquanto aguardava o despacho
da papelada, por parte do Vice-Rei, começou a travar conhecimento com inúmeros compatriotas que
regressavam da Europa, cheios de entusiasmo com ideias absorvidas da Revolução Francesa e do
iluminismo. (Iluminismo foi um movimento que surgiu como uma filosofia de crítica ao Antigo Regime,
na França, que pregava a razão como método, defendia a igualdade perante a lei, e a liberdade de
mercado e criticava o absolutismo de direito divino.) Dentre essas pessoas achava-se o Dr. José
Alves Maciel, formado em Ciências Naturais pela Universidade de Coimbra, fervoroso orador, e, que
estava imbuído em incutir, na população mineira, as ideias republicanas. A França desse período
era, juntamente, com os Estados Unidos da América, um dos centros irradiadores das idéias de
democracia contemporânea, embora ainda escravistas independentes desde 1776 . Foi a Revolução
Francesa quem inventou a democracia moderna, e, com a Revolução Industrial, na Grã Bretanha,
marcou o início do mundo moderno. O ideário de revolução se espraiava pelo mundo, inclusive na
América do Sul. Em Montpellier, França, os estudantes brasileiros José Mariano Leal e José Joaquim
Maia, se dirigiam ao próprio Thomas Jefferson para pedir apoio americano à causa da Inconfidência
Mineira. As orientações que recebiam, eram retransmitidas aos inconfidentes. Ainda na França,
vários estudantes brasileiros filiavam-se à Maçonaria, vital centro de propagação das idéias
libertárias. O inconformismo com a situação econômica, as informações sobre as revoltas na França
e na América do Norte e a ideologia iluminista infiltrada pela Maçonaria, na comunidade mineradora,
fazem nascer no seio de Vila Rica a consciência revolucionária. Várias camadas da sociedade
conspiram e tramam a conjuração mineira em favor do ideal libertário, com vistas à separação da
colônia de Portugal opressor e à proclamação da independência do Brasil. Embora não seja
explorado, devidamente, nos livros de historia, há fortes indícios da contribuição da Maçonaria na
formação do país.
À insatisfação com a carreira militar, Tiradentes somava as novas ideias absorvidas. Passou a
freqüentar a biblioteca do cônego Luís Vieira da Silva, e, ali conheceu as teses dos franceses
Rousseau, Montesquieu e outros iluministas, que secundavam o pensamento do inglês John Locke.
Ao retornar a Vila Rica, aproveita a ocasião para fazer propaganda sobre os planos que havia
idealizado. Procurou os companheiros que compartilhavam de seu pensamento e, daí em diante, foi
se formando, assim, a idéia da Conspiração Mineira. Os principais elementos contatados foram:
Francisco de Paula Freire de Andrade (chefe da Força Pública), Dr. Álvares Maciel, Dr. Inácio José
de Alvarenga Peixoto, Desembargador Thomas Antonio Gonzaga (que viria ser o chefe do golpe),
Padre Carlos Correia de Toledo, Padre José de Oliveira Rolim, Cláudio Manoel da Costa, Cônego
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Luís Vieira da Silva, Joaquim Silvério dos Reis, este, contra a vontade de Tiradentes que o
considerava um homem falso e sem caráter, fato provado mais tarde tendo sido traidor dos
inconfidentes. Havia outros mais e todos considerados homens íntegros e de valor. Presume-se que
havia Maçons entre eles. A estratégia, elaborada pelo grupo, previa o levante para o dia que se
anunciasse a derrama, isto é, no dia da cobrança dos impostos.
Certo de ter deixado semeado a ideia do movimento e muito animado com a ajuda que estava
recebendo dos companheiros, Tiradentes volta para o Rio de Janeiro acompanhado apenas de um
mulato, seu escravo. Sua intenção era de manter-se atualizado sobre as informações que vinham do
exterior, recebendo orientações para retransmiti-las para os confrades do seu grupo em Vila Rica.
Em março de 1789, Joaquim Silvério dos Reis compareceu ao Palácio da Cachoeiro do Campo,
residência do Visconde de Barbacena (Luís Furtado de Mendonça 1754-1830), governador da
Capitania e se torna o primeiro delator da conspiração. Logo em seguida apareceram outros
delatores: Cel. Basílio de Brito Malheiro do Lago e o mestre de Campo, Inácio Correa Pamplona. O
governo, entretanto, exigiu de todos que fizessem a denúncia por escrito. E assim foi feito !
Fato pouco mencionado nisso tudo, é sobre a personagem desconhecida: o
Embuçado. Foi uma pessoa que, quando Barbacena descobriu o golpe, saiu, na
calada da noite, envolto num balandrau negro com capuz que lhe cobria o rosto,
batendo de porta em porta ou nas janelas de casas dos membros do movimento
avisando aos inconfidentes para que fugissem, pois o plano havia sido descoberto.
Nunca se soube quem era o Embuçado. Atitude puramente de Maçom, pois, ao
bater nas portas e nas janelas empregava um sinal convencionado para depois dar
a senha secreta pré-estabelecida, provavelmente, na Loja Maçônica. (Alguns
pesquisadores afirmam ser “UAI”, a palavra secreta, que era as inicias de União,
Amor e Independência; posteriormente, “UAI”, acabou virando expressão entre o
povo das Alterosas.) Vários inconfidentes conseguiram escapar, mas Barbacena
sabia muito bem como encontrá-los, com a ajuda dos traidores.
Com o plano revelado, a primeira providência do governador foi suspender a derrama com o objetivo
de retardar o levante. Quando Tiradentes chegou ao Rio de Janeiro percebeu que estava sendo
vigiado, e, desesperado, via correr o tempo sem nenhum sinal do levante em Minas Gerais.
Procurou, então, esconder-se e tentar encontrar um meio de chegar a Vila Rica. Mas foi descoberto !
O próprio delator, Joaquim Silvério dois Reis, o deteve e entregou ao Vice-Rei, Dom Luís de
Vasconcelos.
O processo, contra a conspiração, durou cerca de três anos até se formular a sentença condenatória.
Durante os interrogatórios Tiradentes sempre reivindicou para si a exclusiva culpa pela iniciativa da
sedição, inocentando todos seus companheiros de outros crimes que não fosse o de ouvir suas
idéias. Um atitude, tipicamente, de Maçom !
Outro indício, nos interrogatórios, que faz pensar que Tiradentes era Maçom, ao ser perguntado
sobre o significado do triângulo na bandeira dos inconfidentes, ele respondeu “Sagrada Trindade” e
não “Santíssima Trindade”, detalhe que, supostamente, passou despercebido pelo escrivão.
Há, entre os pesquisadores e historiadores, um consenso muito forte da participação da Maçonaria
na Conspiração Mineira e muitos que discordam dessa ingerência. As hipóteses vão desde o papel
central na elaboração dos planos até a negação de sua influência na conjuração. Os que defendem
que houve participação da Sublime Ordem, ressaltam que percebe-se o seu papel é percebido como
importante elemento de ligação e comunicação dos inconfidentes com grupos de apoio do Rio de
Janeiro e Europa. Em contraponto, os que não acreditam, lembram que nos atos da devassa não há
nenhum vestígio de ação, propriamente, Maçônica. Considerando o modus operandi da Sublime
Ordem, das operações serem feitas em segredo, compreende-se.
PP.IN.PI
Bibliografia:
Castellani, José - Os Maçons que Fizeram a História do Brasil
Faraco, Sérgio – Tiradentes: Alguma Verdade
Fernandes, Paulo de Tarso – Raízes de Liberdade (Palestra)
Ferreira, Manoel Rodrigues e Tito Lívio – A Maçonaria na Independência Brasileira
Figueiredo, E. – A Idéia de Igualdade
Figueiredo E. – UAI !
Furtado, João Pinto – O Manto de Penélope
Hobsbawm, Eric . – A Era das Revoluções (1789 – 1848)
Hobsbawm, Eric – Ecos da Marselhesa
Maxwell, Kenneth - A Devassa da Devassa: Inconfidência Mineira
Oliveira, Carolina Rennó Ribeiro de – Biografias de Personalidades Célebres
Scantimburgo, João de - O Brasil e a Revolução Francesa
O CONHECIMENTO MAÇÔNICO SÓ TEM VALOR
QUANDO COMPARTILHADO ENTRE OS IRMÃOS !
a acacia me e conhecida !.