Apostila de HM 2 Ciclo

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1ª Aula – História Do Mobiliário

Assunto: Introdução à História da Arte do Mobiliário


Antigüidade

Introdução à História da Arte do Mobiliário

Ao conhecer a história da arte e do mobiliário, percebe-se estilos que se


caracterizam por um repertório de elementos, que reaparecem várias vezes
através das épocas.
Apesar da complexidade de cada estilo, vamos conhecer as principais
características ornamentais do mobiliário e da tecnologia do período abordado.
Para se acompanhar a evolução do mobiliário, é importante não ignorar a
história dos costumes, da sociedade e de seus momentos.
Assim, conheceremos os movimentos mais relevantes da história, do
mobiliário, desde a Antigüidade até o Neoclássico, dando destaque à evolução da
cadeira, um dos móveis mais significativos da história da humanidade.

ANTIGUIDADE

Egípcios

Embora se saiba que desde os tempos mais recuados o homem utilizou


móveis para sua maior comodidade, foi só a partir da civilização egípcia que foi
possível encontrar documentação sobre o assunto.
O culto dos mortos no antigo Egito, e o seu costume de colocar no túmulo
do defunto todos os objetos que lhe eram mais queridos, permitiu trazer até os
nossos dias, muitas vezes em ótimo estado de conservação, inúmeros móveis
construídos com uma perfeição por vezes surpreendente (particularmente no que
respeita a embutidos), de linhas elegantes e não raramente decorados com
grande riqueza.
Banquinho. Data de 1250 ª C., e apresenta uma base cúbica composta por uma estrutura feita de
travessas de madeiras; o assento é anatomicamente curvo.

Os egípcios utilizavam muito os banquinhos, quer de forma


cúbica com pernas direitas, quer em X, o que os tornava mais
práticos e fáceis de fechar e transportar.

As camas eram constituídas por uma simples esteira ou uma estrutura com
um caixilho de madeira, sobre o qual se fixava uma rede que era formada por tirar
de corda ou de couro, recobertas de pano ou de peles; os exemplares mais ricos
dispunham de pés ornamentados com um bordo pintado. Entre as outras peças de
mobiliário que ainda hoje se usam, podemos citar as caixas, mesas e poisa-pés,
cujas decorações típicas consistem em pernas de touro ou de leão, cabeças de
leão e aves com as asas abertas.

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Cadeira. Particularmente rica em motivos decorativos, provém
do túmulo de Tutankhamon e remonta à XVIII ª dinastia.

Grande divulgação tinham também as


cadeiras, dispondo de braços e amplos
espaldares, fazendo lembrar tronos; estes eram
ainda maiores, com costas altas e ricamente
adornados com embutidos, dourados e partes
esculpidas.

GREGOS

A quase totalidade dos testemunhos que temos dos móveis gregos provém
de pinturas de vasos e de baixos-relevos que mostram, freqüentemente com
enorme profusão de detalhes, a grande importância que se dava às peças de
mobiliário, em especial na época clássica. Inicialmente influenciados pelos móveis
egípcios, os móveis gregos modificaram os seus tipos e formas acompanhando o
desenvolvimento do pensamento filosófico e das diferentes concepções da vida.

Mesinha votiva. Esta bela imagem grega mostra uma mulher


colocando a roupa numa arca particularmente decorada; à direita o perfil
de uma cadeira.
A casa, tornada mais acolhedora, enche-
se de móveis elegantes e bem proporcionados,
cuja função já não é apenas utilitária, mas
também decorativa e social. É assim que surge
o kline , uma cama utilizada para comer em
posição estendida, e composta por um caixilho,
uma rede formada por tiras de couro
entrecruzadas e um colchão.
As pernas podem ser torneadas ou
quadradas, e a sua parte superior é decorada
com um capital; as duas delas elevam-se acima
do colchão, formando um encosto onde pode
colocar-se uma almofada para a cabeça. Tal como no Egito, também na Grécia
eram muito utilizados banquinhos, quer rígidos quer dobráveis; muito
características é a cadeira klismos, desprovida de quaisquer ornamentos, com
típicas pernas recurvadas e com espaldares arredondados e ligeiramente
inclinados; o assento é formado por tiras de couro cruzadas.

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Vaso do século V ª C. Nele podemos ver o klismos, uma das
cadeiras gregas mais conhecidas e difundidas, com pernas recurvadas.

A elegância das proporções e as suas


linhas clássicas serviram de modelo a uma
infinidade de cadeiras de estilo Império,
caracterizadas por pernas em forma de sabre e
por espaldares arredondados.
Obviamente mais ricos são os tronos, de
que se conhecem muitas variantes que se
caracterizam por costas altas e decorações com
flores de lótus, dispostas em leque, com cabeças de leões, cisnes ou carneiros.
Quanto às mesas, o seu uso nos banquetes é limitado. Entre os móveis para
arrumação, o mais usado á a caixa, mas nos finais do século IV ª C. difunde-se o
armário, de linhas simples e sem decorações, e com as típicas prateleiras
internas.

ROMANOS

Surgem inicialmente como uma variante dos móveis etruscos, que refletem a
influência grega na utilização das camas para os banquetes, dos banquinhos e
das caixas.

A parte mais original do


mobiliários etrusco, caracterizado
por uma execução grosseira e de
proporções maciças, encontra-se
representada por numerosos
modelos de mesas com quatro ou
três pernas, freqüentemente
zoomórficas, ou com uma só perna,
com tampos redondos, quadrados
ou retangulares, e por cadeiras
volumosas com decorações
compostas por esfinges, patas de leões, grinaldas e volutas.
A partir do século III a . C. Roma sofre a influência grega e o mobiliário adquire um
requinte de formas e um equilíbrio de proporções.
O gosto pela comodidade encontra-se representado pelas inúmeras variedades de
leitos, peças fundamentais no mobiliário romano (utilizados para dormir, estudar e
para comer, nos banquetes) e cuja estrutura é semelhante à das camas gregas.
Também nas mesas não se afastam das formas helênicas, mas em vez de
madeira preferem as bases de bronze e os tampos de mármore; os motivos
decorativos mais freqüentes são patas de leão, grifos e esfinges.
A mesa de três pernas é outro dos móveis retomados pelo estilo Império. De entre
os assentos mais difundidos na época romana podemos citar o banquinho, que
retoma o tipo já referido; a sella, com pernas em forma de tenaz e com braços,

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mas sem espaldar; a cátedra, cadeira de maiores dimensões, com braços e
espaldares direitos ou recurvados; e o solium, cadeira usada em cerimônias e
dispondo de pernas torneadas, braços cilíndricos e costas direitas.
Especialmente apreciado é o armário , que pode estar apoiado na parede ou
encaixado, e cuja forma não se afasta dos modelos tradicionais.

2ª Aula – História Do Mobiliário


Assunto: Idade Média
Estilo Bizantino, Românico, Gótico e Arte Oriental

IDADE MÉDIA

O FEUDALISMO E O PERÍODO MEDIEVAL

As expressões Idade Média e Idade Moderna foram criadas durante o


Renascimento, no século XV. Demonstrando repúdio ao mundo feudal, os
renascentistas forjaram tendenciosamente a concepção de que a Idade Média fora
“uma longa noite de mil anos”, a Idade das Trevas, em que mergulhara a cultura
clássica após a queda de Roma.
Na verdade, o desprezo dos humanistas do Renascimento pela Idade
Média apenas reflete a adoção de novos valores culturais, contrários ao período
medieval.
Nessa época a Europa viveu o feudalismo – sistema sócio econômico com
instituições e componentes distintos do mundo clássico, antigo, ou do moderno,
que veio posteriormente.
As características típicas da Idade Média não fizeram o homem desse
período menos competente, pois a cultura medieval, se comparada com a do
mundo greco-romano, foi redefinida : “A ciência perdeu a vitalidade e a velha
união com a filosofia se dissolveu. A filosofia contraiu nova aliança, dessa vez com
a teologia; durante séculos a vida intelectual se processaria sob a orientação da
Igreja. É cabível indagar da História se há alguma razão válida para supor que o
gênio humano chamejou com menos brilho quando os homens, por boas razões
pessoais e da época, transferiram o pensamento especulativo da ciência-filosofia
para teologia-filosofia. Presumivelmente, os homens do princípio da Idade Média
nasceram com a mesma capacidade de pensar e, inquirir e evoluir
intelectualmente que os homens de qualquer outra época. A questão , então, não
é se tinham capacidade , mas se podiam ou desejavam usá-la, e como a usavam”.
Assim, utilizaremos a expressão Idade Média, desprovida de qualquer
conteúdo pejorativo, indicando unicamente o período histórico compreendido entre
os séculos V e XV, que tem início com a queda do Império Romano do Ocidente,
em 476, e que se estendeu até a tomada de Constantinopla, em 1453.
O período medieval caracterizou-se principalmente pelo feudalismo,
estrutura econômica, social, política e cultural que se edificou progressivamente
na Europa centro-ocidental em, substituição à estrutura escravista da Antigüidade
Romana.
O Feudalismo começou a se formar a partir das transformações ocorridas
no final do Império Romano do ocidente e das invasões bárbaras, alcançando se

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apogeu na Alta Idade Média, período compreendido entre os séculos V e X. O
declínio do feudalismo, que já se esboçava no século X, prosseguiria até o século
XV, constituindo o período convencionalmente chamado de Baixa Idade Média.
Após 476, com a ruína de Roma e o fim do escravismo, a população deixou
as cidades, buscando a sobrevivência no campo. A agricultura, praticada nas vilas
(grandes propriedades agrárias), constituiu a base de uma economia auto-
suficiente, cujos desdobramentos conduziriam à formação do mundo agrário-
feudal.
Os bárbaros germânicos , que passaram a ocupar a parte ocidental do
Antigo Império Romano, foram importantes agentes do processo de implantação
do sistema feudal, embora outros povos invasores tenham contribuído para
acelerar o processo de ruralização e formação do feudalismo. Entre eles estão os
árabes, que , no século VIII, ocuparam o mar Mediterrâneo, impossibilitando as
ligações comerciais entre o Ocidente e o Oriente. Posteriormente, no ‘século IX,
as invasões normalmente e magiares completaram esse quadro.

Feudalismo : economia e propriedade

No modo de produção feudal, os homens com o trabalho, transformam a


natureza, da qual extraem bens necessários à sobrevivência. Ao mesmo tempo
estabelecem relações entre si, originando vínculos econômicos, sociais, políticos e
ideológicos.
Na Idade Média, o processo de produção predominante – o feudal – teve
relações sociais e uma ordem política e cultural específicas. A essa estrutura
econômico-social com os adequados componentes político-culturas chamamos
modo de produção feudal, um conceito que abrange uma totalidade social.
Este modo de produção feudal, próprio do Ocidente europeu, tinha por base
a economia agrária, amonetária (ou seja, sem uso de moeda), não comercial,
auto-suficiente. A propriedade feudal, ou senhorial;, pertencia a uma camada
privilegiada, composta pelos senhores feudais, altos dignitários da Igreja ( o clero)
e longínquos descendentes dos chefes tribais germânicos (a nobreza).
A principal unidade econômica de produção era o feudo, que se divida em
tr6es partes distintas: a propriedade privada do senhor, chamada de domínio ou
manso senhorial, no interior da qual se erigia um castelo fortificado; o manso
servil, que correspondia à porção de terra arrendadas aos camponeses e era
dividido em lotes denominados tenências; e ainda o manso comunal constituído
por terras coletivas – pastos e bosques - , usadas tanto pelo senhor como pelos
servos.

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Devido ao caráter expropriador do sistema feudal, caracterizado pelos
impostos (talha, corvéia etc), o servo não se sentia estimulado a aumentar a
produção com inovações tecnológicas, pois isso significaria produzir mais – porém
não para si, mas para o senhor. Por esse motivo, o desenvolvimento técnico do
período foi irrelevante, de certa maneira limitando a produtividade. A principal
técnica adotada foi a agricultura dos três campos, que evitava o esgotamento do
solo, mantendo a fertilidade da terra.

A Sociedade Feudal

A sociedade feudal era composta por dois estamentos, ou seja, dois grupos
sociais com status fixo: os senhores feudais e os servos. Os servos eram
constituídos pela maior parte da população camponesa, vivendo como os antigos
colonos romanos – presos à terra e sofrendo intensa exploração. Eram obrigados
a prestar serviços ao senhor e pagar-lhe diversos tributos em troca da permissão
de uso da terra e de proteção militar.
Embora a vida do camponês fosse miserável e ele se submetesse
completamente ao senhor, a apalavra escravo seria imprópria para designar sua
condição , uma vez que o servo achava-se ligado à terra, não podendo ser dela
retirado para ser vendido. Assim, quando um senhor entregava sua terra a outro, o
servo apenas passava a ter um novo amo, permanecendo , contudo, na mesma
tenência. De certo modo, isso lhe dava alguma segurança, pois, ao contrário do
escravo, o servo poderia sempre contar com um pedaço de terra para sustentar
sua família, ainda que precariamente.
De maneira geral, clero, nobreza e servos eram os grupos definidores da
hierarquia feudal, havendo , entretanto, alguns grupos sociais menores, cujo
referencial era estabelecido entre senhores e servos. Nesses grupos encontram-
se os vilões, antigos proprietários livres, embora permanecessem ligados a um
senhor. Na realidade, eram servos com maiores direitos e liberdades.
A terra tinha grande importância nos tempos feudais, em decorrência da
escassez de moeda e de outras formas de riqueza. Assim, estimulou-se a prática
de retribuir serviços prestados com a concessão de terras. Os nobres que as
cediam eram os susseranos e aqueles que as recebiam tornavam-se seus
vassalos.
Envolto pelo idealismo religioso, o clero transmitia à população uma visão
de mundo que lhe era conveniente e adequada ao período; um mundo dividido em
estamentos, necessariamente desiguais. Leia as palavras de um religioso
medieval: “Deus quis que, entre os homens, uns fossem senhores e outros
servos, de tal maneira que os senhores estejam obrigados a venerar e amar a
Deus, e que os servos estejam obrigados a amar e venerar seu
senhor...”(ANGERS, St. Laud de. In: FREITAS, Gustavo de.900 textos e
documentos de história, Lisboa, Plátano, 1975).
Coube, assim, ao clero forjar a mentalidade da época, reforçando o
predomínio dos senhores feudais (clero e nobreza), justificando os privilégios
estabelecidos e oferecendo ao povo, em troca , a promessa do paraíso celestial.

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A ARTE NA IDADE MÉDIA – O REINO DA RELIGIÃO

A Idade Média compreende o milênio entre os séculos V e XV,


aproximadamente desde a queda de Roma até o Renascimento. No período
inicial, chamado Idade das Trevas, depois da queda do imperador bizantino
Justiniano, em 565, até o reinado de Carlos Magno, em 800, os bárbaros
destruíram o que levara três mil anos para ser construído. Mas a Idade das Trevas
foi apenas uma parte da história da Idade Média. Há muitos pontos de luz da arte
e na arquitetura, desde o esplendor da corte bizantina, em Constantinopla, até a
imponência das catedrais góticas.
Três deslocamentos importantes tiveram ampla repercussão na civilização
ocidental:
1. A liderança cultural se deslocou do norte do Mediterrâneo para a
França, Alemanha e Ilhas Britânicas.
2. O Cristianismo triunfou sobre o paganismo e o barbarismo.
3. A ênfase se deslocou do aqui e agora o além, e da concepção de corpo
belo para a de corpo corrupto.
Uma vez que o foco cristão se dirigia para a salvação e a vida eterna,
desapareceu o interesse pela representação realista do mundo. Os nus foram
proibidos e até as imagens de corpos vestidos revelavam a ignorância da
anatomia. Os ideais greco-romanos de proporções harmoniosas e equilíbrio entre
corpo e mente desapareceram. Os artistas medievais se interessavam
exclusivamente pela alma, dispostos principalmente a iniciar os novos fiéis nos
dogmas da igreja. A arte se tornou serva da igreja. Os teólogos acreditavam que
os cristãos aprenderiam, a apreciar a beleza divina através da beleza material, e o
resultado foi uma profusão de mosaicos , pinturas e esculturas.
Na arquitetura, essa orientação para o espiritual tomou forma de
construções mais arejadas, mais leves. A massa e o volume da arquitetura
romana deram lugar a edificações que refletiam o ideal cristão: discreto no
exterior, mas refulgentes com mosaicos, afrescos e vitrais espiritualmente
simbólicos no interior.
A arte medieval se compõem de três estilos diferentes: bizantino, romano e
gótico.

ARTE NA IDADE MÉDIA


Durante a Idade Média a arte se manteve ligada à religião, numa sucessão de três
estilos. As principais formas de arte e arquitetura associadas a cada estilo são as
seguintes:
BIZANTINO ROMÂNICO GÓTICO
ARTE Mosaicos, Afrescos, Vitrais, escultura
ícones escultura mais natural
estilizada
ARQUITETURA Igrejas com Igreja com arcos Catedral com
domo central cilíndricos arcos em ponta
EXEMPLO Basílica de St. Sernin Chartres

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Santa Sofia
DATA 532-37 Início 1080 1194-1260
LOCAL Constantinopla, Toulouse, Chartres,
Turquia França França
Idade de Ouro da Arte Bizantina

O bizantino refere-se à arte do Mediterrâneo oriental desde 330 d.C.,


quando Constantino transferiu o trono do Império Romano para Bizâncio (mais
tarde chamado Constantinopla) até a queda da cidade nas mãos dos turcos,
em 1453. Nesse ínterim, enquanto Roma era devastada pelos bárbaros e
declinava até se desfazer em ruínas, Bizâncio se tornou o centro de uma
brilhante civilização, combinando a arte primordial cristã com a predileção
grega oriental pela riqueza das cores e da decoração. De fato, a complexa
formalidade da arte e da arquitetura bizantinas deram origem ao sentido atual
da palavra “bizantinismo”.
Mosaicos. Uma das maiores formas de arte, o mosaico, surgiu
durante os séculos V e VI em Bizâncio, já em poder dos turcos , e em sua
capital italiana, Ravena. Os mosaicos eram utilizados na propagação do novo
credo oficial, o Cristianismo, portanto o tema era a religião em geral, mostrando
Cristo como mestre e senhor todo-poderoso. Uma suntuosa grandiosidade,
com halos iluminando as figuras sagradas e fundo refulgindo em ouro,
caracterizava essas obras.

As figuras humanas são chapadas, rígidas, simetricamente


colocadas, parecendo estar penduradas. Os artesãos não tinham interesse em
sugerir perspectiva ou volume. Figuras humanas altas, esguias, com faces

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amendoadas, olhos enormes e expressão solene, olhavam diretamente para a
frente, sem o menor esboço de movimento.

Embora seguissem a tradição romana de montar cubos coloridos, chamados tesserae, sobre
gesso, de modo a formar um desenho, os mosaicos bizantinos (“Justiniano e Cortesãos”)
eram distintos dos romanos ( “A Batalha de Issus”). AS principais diferenças são:
MOSAICO ROMANO X MOSAICO BIZANTINO
Cubos de mármore opaco Cubos de vidro brilhante

Peças com acabamento liso, uniforme Superfícies irregulares aumentam o brilho do


mosaico
Cores limitadas às tonalidades naturais das Vidros coloridos em variada escala de cores
pedras
Usado no chão de residências Usado em paredes e tetos – mormente em
dornos e abside de igrejas
Temas seculares, batalhas, jogos Temas religiosos, Cristo como pastor

Peças minúsculas para acentuar detalhes Cubos grandes em desenhos estilizados


realistas
Paisagem de fundo Fundo abstrato, ouro sobre azul

ARTE ROMÂNICA: ARTE EM PEDRA

Com a instituição da fé católica romana, uma onda de construção de igrejas


varreu a Europa Feudal de 1050 a 1200. Os construtores tomaram emprestado
elementos da arquitetura romana, como colunas e arcos redondos, surgindo assim
o termo “romana” para definir a arte e a arquitetura desse período. No entanto,
como os prédios romanos tinham tetos de madeira, muito suscetíveis a incêndios,
os artesãos medievais passaram a fazer os tetos das igrejas em abóbadas de
pedra. Com esse sistema, abóbadas cilíndricas ou com artistas apoiadas em
pilastras proviam grandes espaços, livres de colunas e obstáculos.
Levando em consta a peregrinação, muito em moda na época, a arquitetura
das igrejas é adequada para receber as multidões em visitação maciça a relicários
de roupas e ossos de santos, ou de pedaços da Santa Cruz trazidos pelos
cruzados. A planta é cruciforme, com uma longa nave atravessada por um
transepto mais curto, simbolizando o corpo de Cristo crucificado. As arcadas
permitiam aos peregrinos andar pelos corredores periféricos sem perturbar os
serviços religiosos na nave central. O chevet ( “travesseiro” em francês), assim
chamado por ser concebido como o lugar para descanso da cabeça de Cristo
preso à cruz, é a parte atrás do altar, capelas semicirculares onde se guardam os
relicários.
O exterior das igrejas românicas é bastante despojado, exceto pelos
relevos esculturais em volta do portal principal. Como a maioria dos fiéis era
analfabeta, as esculturas ensinavam a doutrina religiosa, contando histórias
gravadas na pedra. A escultura ficava concentrada no tímpano, que é o espaço
semicircular entre o arco e o dintel da porta central. Cenas da ascensão de Cristo

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ao trono celestial eram muitos populares, assim como sombrios dioramas do Juízo
Final, em que demônios agarram almas desesperadas e diabos horríveis
estrangulam e cospem nos corpos nus do condenados.

COMO DIFERENCIAR

As catedrais góticas têm arcos pontudos e


As igrejas romanas têm arcos redondos e escultura mais natural.
esculturas estilizadas.
ROMÂNICO GÓTICO
ÊNFASE Horizontal Vertical

ELEVAÇÃO Altura modesta Altíssima

PLANTA Múltiplas unidade Espaço unificado, inteiro

TRAÇO PRINCIPAL Arco redondo Arco pontudo

SISTEMA DE SUPORTE Pilastras, paredes Contrafortes externos

ENGENHARIA Abóbadas em cilindro e de Abóbadas com arestas e


arestas traves
AMBIENTE Escuro, solene Leve, claro

EXTERIOR Simples, severo Ricamente decorado com


esculturas

Manuscritos Iluminados: com hordas de saqueadores devastando as


cidades do antigo Império Romano, os monastérios eram tudo o que restava entre
a Europa Ocidental e o caos generalizado. Monges e freiras copiavam
manuscritos, mantendo vivas a arte da ilustração em particular e a civilização
ocidental em geral.
Nessa época , os rolos de papiro usados do Egito a Roma foram
substituídos pelos códices de pergaminho de pelo de boi ou de carneiro, feitos de
páginas separadas unidas por uma das extremidades. Os manuscritos eram
considerados objetos sagrados que continham a palavra. De Deus. Eram
profusamente decorados, de maneira que sua beleza exterior refletisse a
sacralização do conteúdo. Tinham capas de ouro cravejadas com pedras
preciosas e semipreciosas. Até o desenvolvimento da tipografia, no século XV,
esses manuscritos eram a única forma existente de livros, preservando não
somente os ensinamentos religiosos, mas também a literatura clássica.

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ARTE GÓTICA: ALTUA E LUZ

O auge do desenvolvimento artístico da Idade Média, rivalizando com as


maravilhas da Grécia e da Roma da antigüidade, foi a catedral gótica. De fato,
essas “Bíblias de Pedra” superaram até mesmo a arquitetura clássica em termos
de ousadia tecnológica. Entre 1200 e 1500, os construtores medievais ergueram
essas estruturas elaboradíssimas, com interiores atingindo uma altura sem
precedentes no mundo da arquitetura.
O que tornou possível a catedral gótica foram dois desenvolvimentos da
engenharia : abóbada com traves e suportes externos chamados arcobotantes, ou
contrafortes. A aplicação desses pontos de apoio nos locais necessários permitiu
trocar as paredes grossas com janelas estreitas por paredes estreitas com janelas
enormes com vitrais inundando de luz o interior. As catedrais góticas não
conheceram a Idade das Trevas. Sua evolução foi uma contínua expansão de luz,
até que as paredes se tornaram tão perfuradas que ficaram verdadeiros pinázios
emoldurando os imensos campos de vitrais coloridos que contam histórias
religiosas.
Além da qualidade de treliça das paredes das catedrais (um efeito de
“renda petrificada”, como as descreveu o escritor William Faulkner), a verticalidade
caracteriza a arquitetura gótica. Os construtores usavam o arco pontudo, que
aumenta tanto a ilusão como a realidade da altura. Os arquitetos competiam entre
si para realizar as mais altas naves (em Amiens, a nave atinge altura de 47
metros). Quando a ambição ultrapassa a tecnologia e a nave despencava, o que
não era difícil acontecer, os fervorosos fiéis a reconstruíam.
As catedrais góticas eram um símbolo tão importante de orgulho cívico que
o pior insulto para a cidade era um invasor pôr abaixo a torre da catedral. A
devoção coletiva por esses prédios era tão intensa que todos os segmentos da
população participavam da construção. Cavalheiros e damas, em contemplativo
silêncio, trabalhavam lado a lado com açougueiros e pedreiros, empurrando
carrinhos de mão cheios de pedras. Edificações tão complexas levavam
literalmente séculos para ser construída – a Catedral de Colônia levou seis
séculos -, o que explica por que algumas parecem uma miscelânea de estilos
sucessivos.

A arte da Arquitetura

Os teólogos medievais acreditavam que a beleza da igreja inspirava a


meditação e a fé dos paroquianos. Consequentemente, as igrejas são mais que
uma simples reunião de espaços. São textos sagrados, com volumes de
ornamentos pregando o caminho da salvação. As principais formas de decoração
inspiradoras nas catedrais góticas são a escultura, os vitrais e as tapeçarias.

Escultura : Longa e esguia


As paredes externas das catedrais contavam histórias bíblicas esculpidas.
As esculturas de Chartres, datando do início do período gótico, e as imagens da
Catedral de Reims, do alto período gótico, mostram a evolução da arte medieval.

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Em Chartres, as imagens de reis e rainhas do Velho Testamento (1140-50)
são pilares com formas humanas, alongadas para caber nas estreitas colunas que
as abrigam. As linhas do drapeado são tão finas e eretas quanto os corpos, com
alguns traços de naturalismo.
Imagens do umbral, ou de jamba, Portal Real, Catedral de Chartres, 1145-70

As imagens do umbral de Reims, esculpidas por volta de


1225-90, foram as primeiras, desde a antigüidade, a ganhar
formas completas, de frente e costas. São estátuas quase
totalmente destacadas do fundo arquitetônico, sobressaindo em
colunas e pedestais. Após a descoberta dos escritos de
Aristóteles, o corpo deixou de ser desprezado, passando a ser
visto como templo da alma, e os artistas voltaram a representar
a carne com naturalidade.

“A visitação”, estátuas de jamba da fachada oeste da Catedral de Reims, c. 1225-90, França.


Escultura desenvolvida a partir de figuras rígidas, desproporcionalmente longas (acima), para um
estilo mais arredondado, mais natural.

A “Visitação” representa tanto a Virgem Maria como sua


parente Elizabeth apoiadas basicamente em uma das pernas,
com a parte superior do corpo ligeiramente voltada uma para a outra. Elizabeth,
mais velha tem a face enrugada, revelando profundo caráter, e o drapeado é
trabalhado com mais imaginação.
Roseta, Catedral de Chartres, século XIII, Milhares de peças de vidro tingido com
elementos químicos, como cobalto e manganês, unidos por tiras de chumbo que também
delineiam as figuras que compõem o desenho.

Vitrais: a Catedral de Chartres é a alma visível da Idade


Média Construída para abrigar o véu da Virgem, doado à
cidade pelo neto de Carlos Magno – Carlos, o Calvo – em
876, é uma obra-de-arte multimídia. Os vitrais, a mais intacta
coleção de janelas medievais do mundo, ocupam uma área
total de 8.800 metros. Ilustrando passagens da bíblia, as vidas dos santos e até
mesmo os artesanatos tradicionais da França, os vitrais são gigantescos
manuscritos iluminados.

Tapeçaria: os tecelões da Idade Média criaram uma tapeçaria altamente


refinada, detalhando em minúcias as cenas da vida contemporânea. Imensos
tapetes em lã e seda, usados para cortar correntes de ar, decoravam as paredes
de pedra de castelos e igrejas. Os motivos eram copiados de pinturas em escala
enorme colocadas por trás da urdidura (ou comprimento total dos fios) no tear.
Uma série de sete tapeçarias representa a lenda do unicórnio. Segundo a
crença popular, a única maneira de capturar esse animal mítico era usar como
isca uma virgem na floresta. O desavisado unicórnio iria dormir com a cabeça no

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colo da virgem e, quando acordasse, estaria preso. Uma vez capturado, o
unicórnio deveria ser amarrado a uma romãzeira, árvore símbolo da fertilidade e
que, por conter muitas sementes numa única fruta, era símbolo também da igreja.
Durante a Renascença, o unicórnio era ligado ao amor cortês, mas na ambígua
representação em tapeçaria, deitado ou empinado, simboliza o Cristo
ressuscitado.

ARTE ORIENTAL

Índia: Budismo

A religião budista foi fundada no norte da Índia , 2500 anos atrás, por uma
príncipe chamado Siddrarta Gautama. Ele deixou sua esposa, família e um palácio
luxuoso em busca da verdade espiritual. Após muitos anos explorando e
considerando diferentes caminhos espirituais, Siddharta Gautama se iluminou
enquanto meditava sob uma figueira, em Bodh Gaya. Desde essa época,
Siddharta Gautama tornou-se conhecido como Buda, o Iluminado. Buda foi um
grande mestre espiritual e, quando morreu em cerca de 480 c. C., seus seguidores
levaram seus ensinamentos a outras partes da Índia. Posteriormente, o budismo
alcançou o sudeste da Ásia e o Extremo Oriente e, ainda mais tarde, tornou-se
conhecido em todo o mundo. Os seguidores de Buda preservaram as cinzas de
sua cremação como relíquia e colocaram-nas em recipientes especiais, chamados
relicários. Estes eram, freqüentemente, depositados em grandes estruturas
parecidos com montes, chamadas estupas. Uma das maiores da Índia. Relevos
apresentando acontecimentos da vida do Buda e outros temas budistas cobriam a
estupa e o muro circundante.

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Representação idealizada de um templo Hindu Tradicional

Índia: Hinduísmo

Uma das principais religiões da Índia, o


hinduísmo desenvolveu-se durante o primeiro
milênio d.C., embora suas origens sejam mais
antigas. O hinduísmo é uma crença complexa e
seus seguidores adotam uma ampla gama de
credos e práticas. A maior parte dos hindus
acredita que com a morte a alma renasce em
outro corpo, um processo conhecido como
reencarnação. Esse processo continua até a
alma libertar-se do ciclo de vida, morte e
renascimento ao atingir o estado chamado de
moksha. Os hindus adoram um grande número
de divindades, incluindo Shiva, um deus que tudo
engloba, seu filho Ganesha, com cabeça de elefante, e Vishnu, que é,
tradicionalmente, representado em uma de suas muitas encarnações ou formas
corpóreas. Divindades femininas incluem Parvati, a esposa de Shiva, e Durga, a
deusa que é famosa por ter matado um demônio com forma de búfalo. Os hindus
adoram seus deuses em complexos magníficos de templos construídos em estilo
tradicional. O templo é a morada de um deus ou deusa específico, cuja imagem é
mantida no interior, em um santuário central. Nos templos maiores, o santuário é
normalmente circundado por santuários menores , e o complexo inteiro é
englobado por uma série de muros e portões ricamente esculpidos.

Tigela e bandeja, e serviço laqueados

China

A China era formada de muitos reinos


antes que fosse unificada em 221 ª C. pelo
primeiro imperador da dinastia Chin, que criou
um Estado centralizado. A dinastia Han
sucedeu a Chin em 206 ª C. e governou a
China por 400 anos. Nessa época , a China
experimentou um período de paz e
prosperidade. O comércio floresceu, na
medida em que pesos e medidas foram
padronizados e boas rotas de comércio da
Ásia para o Ocidente foram estabelecidas.
A seda era o principal produto da exportação
chinesa, mas os mercadores também
comerciavam especiarias, artigos de bronze e

14
ferro para usar nos cavalos, e outros produtos. A sociedade Han era hierárquica; o
imperador era o centro do poder e havia uma grande diferença entre os níveis de
vida dos ricos proprietários rurais e dos funcionários estatais, por um lado, e o
povo, por outro. Os Han desenvolveram uma burocracia altamente organizada
para administrar o império, que era grande tanto em tamanho quanto em
população. As cidades eram os centros administrativos. As cidades imperiais
chinesas eram dispostas segundo um planejamento rígido. Os vários distritos
eram separados dos outros por muros e portões. Torres de observação eram
comuns nas cidades chinesas. Os ricos viviam em mansões construídas,
enquanto os pobres viviam em edifícios com paredes de terra batida. Os nobres
Han levavam uma vida luxuosa, como transparece no conjunto de objetos
encontrados em suas tumbas, como objetos laqueados e sedas.

Horyu-ji, Nara, como era em 607

Japão

No século XIV, alguns pequenos reinos


japoneses foram unificados sob um
governante único. Nos três séculos
seguintes, a linhagem imperial japonesa
foi estabelecida, assim como a religião nativa, o xintoísmo. Este período,
conhecido como Kofun (Antiga Tumba) , foi caracterizado pela construção de
imensas tumbas em forma de fechadura. Essas tumbas eram circundadas por
haniwas – modelos de argila na forma de figuras humanas, cavalos e outros
objetos. Cerâmica funerária, chamada cerâmica sue, era colocada nas tumbas.
Durante o período Kofun, o Japão a partir da Coréia em meados do século VI. O
budismo foi popularizado pelo príncipe herdeiro Shotoku (572-622). Ele encorajou
a construção de templos e mosteiros, como Horyu-ji , que fundou em 607( embora
esse templo tenha sido reconstruído depois). Com o tempo, os templos budistas
passaram a ser encarados como símbolo de prestígio. O budismo introduziu,
também, novos estilos de arte e arquitetura. Os templos tinham tesouros como as
estátuas do Buda e bodhisattvas (figuras sagradas) e sutras, que eram rolos de
textos budistas sagrados.

MOBILIÁRIO

Com a queda do Império Romano e o caos provocado pelas freqüentes


invasões bárbaras, os móveis do período clássico perdem as características
principais, adquirindo um aspecto cada vez mais maciço e despido. São muito
poucas as peças deste período que chegaram até nós; a documentação que
podemos tirar de miniaturas, mosaicos e afrescos apresenta bancos e cadeiras
dobráveis, secretárias , tronos, armários decorados com motivos que lembram
ainda o mundo greco-romano.

15
Trono de Dagoberto. Remonta ao século IX e é feito de bronze, com
as pernas em X e junção dupla.

Duas cadeiras características da época


carolíngia são o faldistorio, que teve origem
na sella romana e é utilizado pelos nobres e
pelos altos prelados nas cerimonias, e a
cattedra que, inicialmente reservada apenas
aos religiosos , se difundirá depois também
entre os leigos.

A visão das cadeiras. Este afresco de Giotto, feito entre 1296 e 1300,
mostra algumas cadeiras utilizadas nas cerimônias religiosas.

As camas tornam-se cada vez mais importantes,


com o acréscimo de um pedestal que as eleva do
chão, ao mesmo tempo que permanecem os
modelos mais simples,. Constituídos por redes,
esteiras e entrançados feitos de palhinha; as
mesas redondas dão lugar às formas
retangulares. No período gótico regressa o gosto
pela decoração, que se enriquece com arcos
cortados, rosáceas, folhas, grinaldas;
multiplicam-se os cofres com fechaduras e têm
grande difusão as arcas que, na variante com
pernas altas, se transformará na credência para
guardar os alimentos. As cadeiras e os bancos têm geralmente três pernas.

3ª Aula – História Do Mobiliário

16
Assunto: Renascimento e Maneirismo
Isabelino
Luís XIII

O Renascimento Cultural

As transformações socioeconômicas iniciadas na Baixa Idade Média e que


culminaram com a Revolução comercial na Idade Moderna afetaram todos os
setores da sociedade, ocasionando inclusive mudanças culturais. Intimamente
ligadas à expansão comercial, `reforma religiosa e ao absolutismo político, as
transformações culturais dos séculos XIV e XVI – movimento denominado
Renascimento Cultural – estiveram articuladas com o capitalismo comercial.
Primeiro grande movimento cultural burguês dos tempos modernos, o
Renascimento enfatizava uma cultura laica ( não-eclesiática), racional e científica,
sobretudo não-feudal. Entretanto, embora tentasse sepultar os valores da Igreja
Católica, apresentou-se como um entrelaçamento dos novos e antigos valores,
refletindo o caráter de transição do período. Buscando subsídios na cultura greco-
romana, o renascimento foi a eclosão de manifestações artísticas, filosóficas e
científicas do novo mundo urbano e burguês.
O Renascimento não foi, como o termo pode evocar a princípio, uma
simples renovação da cultura clássica e muito menos um renascer cultural, como
se antes não houvesse cultura. Apenas inspirou-se na Antigüidade Clássica,
sobretudo no antropocentrismo, a fim de resgatar valores que interessavam ao
novo mundo urbano-comercial. Própria das mudanças em curso e da negação do
período anterior foi a denominação, dada então à Idade Média, de “Idade das
Trevas “.
Descartando a imensa produção cultural do período anterior, o
Renascimento caracterizou-se por ser essencialmente um movimento anticlerical
e antiescolático, pois a cultura leiga e humanista opunha-se à cultura
eminentemente religiosa e teocêntrica do mundo medieval.
No conjunto da produção renascentista, começaram a sobressair valores
modernos, burgueses, como o otimismo, o individualismo, o naturalismo, o
hediondismo e o neoplatonismo. Mas o elemento central do Renascimento foi o
humanismo: “No seu sentido mais amplo, o humanismo pode ser definido como a
glorificação do humano e do natural, em oposição ao divino e extraterreno. Assim
concebido, foi ele o coração e a alma da Renascença, uma vez que incluía,
praticamente, todos os outros ideais já mencionados. O humanismo também tem o
sentido mais restrito de entusiasmo pelas obras clássicas. É este o sentido em
que foi freqüentemente empregado pelo homem da Renascença.
O homem renascentista, artista, cientista, literato, confunde-se com o
próprio Deus pela sua profundeza escura da sujeição escolástica para se tornar
verdadeiro humano: “O homem pode assemelhar-se a Deus primeiramente,
depois identificar-se a ele, se Deus o quiser, pela criação. O homem é, como
Deus, um artista universal”( Roland Mousnier).

O Renascimento da Arte

17
A Idade Média é assim chamada porque se situou entre dois picos de glória
artística: o período clássico e o Renascimento. Posto que a arte ainda vivia na
Idade Média, o que renasceu no Renascimento – e se estendeu pelo período
barroco – foi a arte parecida com a vida. A passagem do interesse pelo
sobrenatural para o natural provocou essa mudança. A redescoberta da tradição
greco-romana ajudou os artistas a reproduzirem acuradamente as imagens
visuais. A expansão do conhecimento científico, com a maior compreensão da
anatomia e da perspectiva, possibilitou aos pintores dos séculos XV e XVI
superarem as técnicas da Grécia e de Roma.
No período barroco dos séculos XVII e XVII, a rever6encia pelo
Classicismo persistiu, mas esses dois séculos produziram uma aceleração inédita.
Governados por monarcas absolutistas, as recém unificadas nações produziram
artes teatrais e arquitetônicas de dimensões sem precedentes, destinadas a
arrebatar os sentidos e as emoções.

RENASCIMENTO E MANEIRISMO

O Renascimento e o período maneirista assistem à afirmação de conceitos


completamente novos no campo do mobiliário. Embora os móveis do Gótico tardio
continuem a prevalecer na Europa centro-setentrional quase até à primeira
metade do século XVI, o estilo Renascimento, que teve origem na Itália, propaga-
se rapidamente a muitas cortes européias.
Papeleira. A presença dos “bambocci” nos montantes e na
cornija deste móvel típico do século XVI diz-nos que é
proveniente da Ligúria. O plano que abre para baixo oculta um
interior ricamente decorado.

Afirma-se, na realidade , o conceito


da habitação como “residência” e os
móveis deixam de ser apenas modelos
genéricos, para passarem a ser elementos
fundamentais em redor dos quais toma
forma e se desenvolve a casa senhorial.
Tal como sucede com as artes maiores, os
centros desta sensibilidade renovada são
Florença, /Roma e Veneza, onde, também
por influência de artistas como Sansovino,
Vasari, Palladio e outros (os quais , de
resto, apenas indiretamente se ocuparam do mobiliário), toma forma um tipo de
móvel majestoso mas gracioso, de proporções classicamente elegantes e
construído com uma requintada sabedoria.

18
Cama toscana com
cassoni. Esta cama dos finais do
século XV caracteriza-se por uma
estrutura de inspiração arquitetônica,
cujas superfícies apresentam
retângulos ritmados, simples e
lineares.

O amor pela arte


e a procura do belo no
desenho e a decoração
operam transformações
mesmo nos tipos de
móveis mais tradicionais,
como camas, arcas e
armários, que se
enriquecem com colunas, pedestais, espelhos embutidos ou são pintados com
temas retirados da história da época e da mitologia clássica, apresentando
cornijas e decorações em relevo executadas pela técnica da pastiglia (escultura
pouco profunda) e do entalhe.
Arca1. Executada no estilo Sansovino, é ricamente
esculpida. A frente está decorada com medalhões
representando cenas dos trabalhos de Hércules.

Credência 2. A típica estrutura arquitetônica desta


credência em nogueira datada do século XVI está representada
nas duas colunas circulares. A base termina com as típicas
paras de leão.

1
ARCA = tal como na Idade Média, permanece como um dos elementos mais importantes do mobiliário
durante todo o século XVI, assumindo as formas e decorações características desta época; desde os
exemplares com embutidos, dourados e painéis pintados até aos esculpidos na forma clássica do sarcófago
monumental (na gravura), com uma base retangular dispondo de patas de leão, um corpo central com relevos
e uma grande cornija superior. São muitas as variantes regionais.
2
CREDÊNCIA = desenvolve-se a partir do século XV como móvel autônomo, destinado a guardar louças,
toalhas, pratas, etc. Tem uma forma típica, com um corpo maciço que fecha à frente por meio de duas portas,
sobre as quais se encontra uma cinta onde estão inseridas gavetas. Deve ser colocada numa zona da sala de
jantar de acordo com o estilo qualitativo do restante mobiliário. Bastante simples no século XV, em que
apenas é enquadrada por pilastras, durante o século XVI é enriquecida com frisos e entalhes: colunas,
carrancas, cariátides, grandes cornijas. Paralelamente a esta credência difundiu-se também a credência de
sacristia, usada para guardar as roupas sacras.

19
Cama3 com dossel. O projeto de du Cerceau mostra um exemplo de gosto meneirista, com a rica decoração por
meio de colunas, a cabeceira com figuras e os pés transformados em animais fantásticos.

A pastiglia é amplamente utilizada


para representar, em alto e baixo relevo,
cenas figurativas complexas e elementos
arquitetônicos como colunas, pilastras,
balaústres, molduras. A madeira mais
utilizada pelos artesãos dos séculos XV e
XVI na construção dos móveis ricos é a
nogueira; a sua abundância, as suas fibras
compactas e sua bonita cor castanha
tornam-na ideal para a confecção de
estruturas robustas e superfícies
requintadas. Os motivos decorativos usados
no Renascimento são festões, grinaldas,
volutas, florões, plantas entrelaçadas,
carrancas. Os pés dos móveis mais típicos
são as patas de leão, sempre sólidas e
poderosas: um verdadeiro símbolo da força.
Estes clássicos pés, providos de garras,
serão freqüentemente retomados em outros
estilos, durante os séculos posteriores.

A pastiglia

Técnica decorativa em relevo, a pastiglia teve um


grande desenvolvimento desde o século XV até finais
do século XVII. De origens muito antigas, consiste numa
mistura de gesso e cola, que é aplicado num suporte de
tecido previamente colado à madeira para garantir uma
melhor aderência. O emprego típico da pastiglia é o que
se utiliza na estampagem: inúmeras impressões
3
CAMA = esta peça de mobiliário, anteriormente escondida por cortinados ou em alcovas, passa agora a ser
posta em evid6encia; enquanto que o estrado tende a desaparecer começa a dar-se maior relevo à armação,
com cabeceiras decoradas e esculpidas, e pernas que se elevam em colunas maciças; o dossel tem um fim
essencialmente ornamental.
CADEIRAS = Entre os tipos de cadeiras do Renascimento, tem grande difusão na Itália a savonarola uma
cadeira dobrável com traves de madeira. A sua estrutura consiste em peças de madeira em forma de S,
disposta em duas séries que se articulam ao centro, e unidas em cima por braços e em baixo por pés. A
cadeira permanece fixa graças a uma travessa que faz de espaldar; em geral é utilizada com uma almofada,
para maior conforto. A cadeira dantesca possui o mesmo movimento de tesoura. É apenas feita com quatro
elementos (dois apoios posteriores e dois anteriores) ligados por uma travessa; o assento é constituído por
uma larga faixa de couro, fixada por meio de juntas metálicas.

20
sucessivas feitas com pequenas estampas metálicas permitem a criação de
composições complexas, com resultados de grande requinte. A pastiglia é, por fim,
pintada ou recoberta com finas lâminas de metal como estanho , prata ou até
ouro.
O RENASCIMENTO NA FRANÇA

É com a construção do castelo de Fontainebleau (1540-1550) que a


influência do Renascimento e, mais ainda do Maneirismo italiano, se faz sentir na
França com a presença de artistas como Rosso Fiorentino e Primaticcio. O estilo
italianizante é rapidamente assimilado, dando lugar , na Segunda metade do
século XVI, a um Renascimento marcadamente francês. Neste segundo período
distinguiam-se as personalidades de dois grandes decoradores, Jacques du
Cerceau e Hughes Sambin, cujos projetos de móveis mostram uma nítida
predominância de elementos decorativos, tais como, cariátides, grinaldas, etc. ,
recobrindo completamente toda a estrutura. Nos finais do século XVI o gosto irá
sofrendo uma evolução progressiva, que irá moderando os excessos decorativos.

ISABELINO

Devido ao seu isolamento histórico e às suas vicissitudes políticas internas,


os ingleses permanecem, pelo menos até meados do século XVI, apegados a uma
concepção essencialmente medieval, que se faz sentir no mobiliário e na vida
doméstica. Será apenas com a subida ao trono dos Tudor, que reinam de 1485 a
1603, e sobretudo com a rainha Isabel I, que os modelos estilísticos do
Renascimento italiano suplantam o consolidado gosto gótico, o qual, todavia, não
tardará a reaparecer sob diversas formas durante os séculos seguintes e
particularmente no período vitoriano.
Court cupboard4. Esta credência do período Tudor (1590), feita em
carvalho, é completamente aberta, com os montantes anteriores em forma
de vaso e ricamente decorada com entalhes e embutidos.

Inicialmente aplicam-se os elementos


decorativos do Renascimento, como os arabescos
e os medalhões esculpidos com cabeças em
perfil, ou ainda a decoração limenfold, assim
chamada devido à sua semelhança com as

4
COURT CUPBOARD = é a credência inglesa típica, utilizada para guardar objetos de uso doméstico, e
provem da transformação da arca, que deste modo se torna um móvel elevado do chão e com abertura
dianteira. Os montantes são verticais e esculpidos, e atravessados por três planos, um dos quais muito baixo e
os outros dois constituindo a papeleira propriamente dita, mas recuada em relação aos planos, que servem
assim de apoio.
Conhecem-se vários modelos de credências: a court cupboard tem a forma de um trapézio, enquanto que a
enclosed cupboard é perfeitamente retangular; a livery cupboard é uma variante que dispõem de portas com
furos e se destina a conservar alimentos, e o modelo denominado press cupboard possui portas também na
parte inferior.
ESCRIVANINHA = Espécie de pequena cômoda portátil, utilizada como secretária. O plano superior é
ligeiramente inclinado, para facilitar a escrita; a parte interior, composta por gavetas e compartimentos,
destina-se a guardar papel, canetas e tinta.

21
pregas características usadas nos tecidos na época Tudor para quebrar um pouco
o aspecto severo dos interiores; seguidamente , é própria estrutura dos móveis
que é modificada.

Montante em forma de vaso.

A moda dos trabalhos de torno e de entalhe, técnicas


muito utilizadas em França e nos Países Baixos, e dos quais
deriva o modelo cultural do mobiliário inglês, permitem aos
móveis isabelinos e definir as características de um estilo próprio.

A vitória dos móveis flamengos

Credência em madeira de carvalho tem uma estrutura


muito simples e é enriquecida por molduras lineares e por
decorações e entalhes no estilo Gótico tardio do início do século
XVI.

As pernas das mesas e as colunas


das camas5 apresentam a forma típica de
vaso ou de taça que, diferentemente do
modelo flamengo de que deriva, engrossa e
aumenta acentuadamente , e que, aliado ainda a ricas decorações de embutidos,
cornijas e estrias, confere ao conjunto um aspecto que prenuncia o estilo Barroco.

5
CAMAS = Nos finais do século XVI, a cama é um móvel bastante modesto: baixa e maciça, com os lados
ornados de entalhes simples e uma cabeceira igualmente linear. Excetuam-se os imponentes exemplares com
dossel, de medidas monumentais (a cama de Isabel I media cerca de 3 metros de largura), com grandes
balaústres esculpidos suportando o dossel e cabeceira de estilo arquitetônico, ornamentada com esculturas
ricas, sendo as restantes partes cobertas por tecidos pesados, de tapeçarias faustosamente bordadas, por vezes
de gosto oriental.

22
Cama com dossel. Feira de
madeira de carvalho nos últimos
decênios do século XVI, esta
cama apresenta as tópicas
colunas em forma de vaso e
inspiração arquitetônica, quer no
seu conjunto, quer nos muitos
pormenores decorativos. A
cabeceira está enriquecida ao
centro com dois leões erguidos
que sustentam as armas Tudor.

As
cabeceiras das
camas de
dossel e as
credências
apresentam
painéis de
inspiração
arquitetônica
com ricas
cornijas
esculpidas em
relevo,
decoradas com
festões,
motivos em forma de fitas, folhas de canto e ornamentadas com figuras ou
cabeças leoninas de origem clássica. Os entalhes são desprovidos de
requinte, o que leva a supor que os exemplares mais bonitos tenham sido
executados por refugiados na Inglaterra por motivos religiosos. Não faltam
móveis parcialmente decorados com embutidos, mas é possível que fossem
peças muito particulares, como demonstra o inventário dos móveis,
compilado em 1580, que a rainha Isabel I possuía no castelo Arundell, e
entre os quais se destacam seis mesas embutidas.
Arca de meados do século XVI, esta arca tem uma concepção nitidamente
arquitetônica, com painéis decorados em arco e estrias verticais.
As cadeiras6 de braços tem os espaldares
decorados com baixos-relevos, com reproduções
de brasões de nobres e figuras heráldicas.
Posteriormente, as cadeiras e poltronas tornar-
se-ão mais cômodas, com braços, espaldares e
assentos embutidos e recobertos de couro ou de
tecido. As madeiras são o ulmeiro, o freixo, a nogueira e o carvalho.
6
CADEIRA = A tendência para acolchoar as cadeiras leva, no período isabelino, ao gradual abandono da
cadeira estilo Gótico, caracterizada por um alto espaldar e fechada dos lados. As cadeiras tornam-se mais
cômodas, visto que são agora mais amplas e mais baixas; como são quase completamente revestidas de
tapeçarias, não se dá uma atenção particular à estrutura de madeira, que é em geral de carvalho ou, ainda mais
modestamente , de faia. Mais utilizados do que as cadeiras são os bancos, por vezes também com embutidos e
tomando as formas mais variadas , desde os modelos dobráveis até aos que se arrumam debaixo da mesa.

23
A escultura em madeira
O estilo isabelino assiste à difusão da escultura em
madeira que, já presente no Gótico, se desenvolve
principalmente nos séculos XVI e XVII como elemento
característico na decoração do mobiliário. Este trabalho consiste em escavar de
diversas formas a superfície da madeira, com o instrumento adequado ( a goiva)
de modo a fazer um desenho em relevo. Os dois extremos desta técnica são por
um lado a gravura, em que somente as linhas são traçadas, e por outro o entalhe
em relevo, ou seja, a escultura; obtêm-se efeitos intermediários com o baixo e
alto-relevo; no entalhe “ à jour” o fundo é perfurado.
Na Inglaterra torna-se também muito comum o entalhe plano, em que os
contornos do desenho são escavados e depois puncionados de forma a obter um
fundo irregular. A ‘técnica do entalhe usada em combinação com o embutido serve
também para justapor madeiras diferentes em decorações em cinta, e muitas
vezes dá o toque final dos elementos verticais, como as pernas das mesas 7 ou as
colunas dos dosséis.

LUÍS XIII

Menos redundante e menos maciço do que o estilo do Renascimento e


mais austero e geométrico do que o Luís XIV, do qual antecipa certas idéias de
composição como a curvatura das travessas que ligam os montantes das mesas e
das cadeiras, o estilo Luís XIII utiliza um rico repertório decorativo, constituído por
ornamentos naturalistas como folhas de canto e outras folhagens, flores, maçãs,
romãzeiras, ou geométricos como as pontas de diamante e os desenhos
octogonais. A par destes elementos encontramos as clássicas carrancas, as
cabeças de leões e as faixas esculpidas quer em alto, quer em baixo relevo. Muito
utilizado é o revestimento com tecidos, que se faz desde as paredes até aos
móveis, e constitui uma das características deste período; revestir os móveis era
um modo de cuidar minimamente do aspecto estético, dando maior relevo à
solidez da estrutura. Estes móveis práticos e pouco dispendiosos, típicas obras de
artesanato, eram denominados móveis estofados; constituem um testemunho

NONESUCH CHEST = O seu nome que significa “arca sem igual”, refere-se a uma arca particularmente rica
e serviu inicialmente para designar um grupo destes móveis, executados no norte da Europa e encontrados em
Inglaterra. Estas arcas nonesuch chest, difundidas na Segunda metade do século XVI e no início do século
XVII, apresentam muitos entalhes, bem como trabalho de marchetaria (decoração por meio de incrustações) e
de inlay ( uma outra técnica especial de embutir) com justaposição de madeiras exóticas e diferentes.
7
MESA = Existem em inúmeras versões: desde as mesas maciças com pés em forma de pilastras e um grande
tampo apoiado numa ampla faixa, às de linhas leves desmontáveis por diversos processos, por exemplo com
pernas que se articulam por meio de travessas e que, fechadas , se dobram sobre o tampo. De entre as mesas
com base móvel destaca-se a gate-leg table, que tem pernas assentes em pés giratórios ou ligadas por
travessas de madeira.
Encontram-se mesas que permitem soluções muito interessantes, como é o caso das que se fecham
completamente, ou cujo tampo se pode baixar em parte. A decoração utilizada é geralmente com entalhes
geométricos de gosto renascentista, com pernas em forma de vaso, taça ou bulbo (melon bulb)

24
interessante desse tipo de produções as obras gravadas feitas Abraham Bosse,
que mostram inúmeros interiores de casas. É deste modo que no início do século
XVII surge um estilo mais livre, em que se interligam com maior fantasia os vários
elementos dos móveis e as formas características das ordens arquitetônicas,
cornijas, frontões, colunas, nichos e estátuas.
Contador8. Executado por volta de meados do século XVII, este
contador em ébano finamente gravado é representativo do gosto faustoso da
época. Apoiado em colunas delgadas, possui duas portas que encerram uma
parte dianteira de concepção arquitetônica, com colunas e desenhos em marfim
pintado. Pormenor: paisagem gravada no painel central da parte interna de uma
das portas.

De origem claramente holandesa é, por


exemplo, o uso da coluna torneada que, nas suas
numerosas variantes (em espiral, cilíndrica, com
anéis, em forma de garrafa ou em bulbo) caracteriza
grande parte do mobiliário da época e em especial os
contadores, mas também as cadeiras com ou sem
braços, as mesas e as camas com dossel, peças
estas em que se utilizam madeiras como o carvalho,
a pereira, a nogueira e o ébano. As superfícies dos
móveis mais importantes podem ser esculpidas,
douradas, folheadas, embutidas ou cobertas por
cabedal decorado.

8
CONTADOR = Este móvel, que é a papeleira francesa, constitui a manifestação mais original da época de
Luís XIII, e é considerado a peça mais prestigiosa do mobiliário. Ricamente trabalhado exterior e
interiormente, o contador é formado por um armário superior com duas portas, sustentado por dois ou mais
pares de pernas, também elas decoradas, e unidas por travessas. O interior do móvel subdivide-se em
inúmeros compartimentos e gavetas de diferentes dimensões, alguns dos quais ocultos por outras pequenas
portas. Na sua construção empregam-se madeiras diversas e metais, com decorações esculpidas e torneadas,
faixas, estatuetas talhadas em redondo e ornamentos ricos.

25
Banco9. Revestido de tecido trabalhado em gros point, caracteriza-se por uma forma quadrada e por uma
estrutura em nogueira com torcidos. As pernas são unidas por travessas em forma de H.

Contador. Chapeado em tartaruga vermelha, tem uma concepção muito linear, a que corresponde uma decoração
rica com pássaros e flores em marfim embutido, madeiras diversas e filetes em ébano.

A INFLUÊNCIA ITALIANA

São duas as principais tendências que dominam o gosto


do século XVI e início do século XVII. A primeira, de
inspiração arquitetônica, está ligada ao estudo da
antigüidade; na Segunda, decorativa, é evidente a
influência dos modelos com origem no Renascimento e
no Maneirismo, divulgados na França alguns decênios
antes dos numerosos artistas e artesãos italianos,
inicialmente chamados por Carlos VII e sobretudo depois
por Francisco, para a construção do castelo de
Fontainebleau. A divulgação do estilo italianizante é vasta
e prolonga, mas já nos primeiros anos do século XVII a
presença dos artistas italianos começa a diminuir e quase
desaparece. Apenas em 1646 o cardeal Mazzarino
chamará um artista italiano , Romanelli, para decorar os
tetos de algumas salas do Louvre.

UM ESTILO DE TRANSIÇÃO
9
CADEIRAS E BANCOS = A cadeira Luís XIII é mais pequena e não dispõe de braços, mas em todo o resto
se assemelha a uma poltrona, pela importância dos torneados e dos tecidos: tapeçarias, damascos e veludos
bordados a petit point ou com o célebre ponto húngaro. São muito comuns os bancos, quer embutidos, quer
com assento de madeira; é também característica a travessa em H ligando as pernas, e torneada como todas as
restantes partes de cadeira. São também muito apreciadas as cadeirinhas conhecidas por pliants, que fecham
em forma de X e têm uma travessa de fixação na base e um assento constituído por uma faixa de tecido ou de
couro.
POLTRONAS = No início do século XVII apresentam um certa rigidez na estrutura: a sua forma é quadrada,
com braços horizontais e costas amplas. Todos os elementos de madeira expostos são ricamente torneados
com formas esféricas ou com torcidos, terminando em paralelepípedos nos pontos de junção. O revestimento
é sempre muito suntuoso, freqüentemente bordado com motivos florais de cores vivas, fixo por meio de
pregos de latão e ornado com franjas.
LIT DE REPO = Móvel que aparece por volta de 1620; é bastante pequeno, tem um ou dois espaldares, ou
faces laterais, e é sustentado por pernas torneadas ( que podem ser seis ou oito). O tecido da tapeçaria é
colorido, com desenhos de tons vivos. Trata-se de uma cama para as pessoas se estenderem durante o dia, e
dispõe de duas almofadas redondas; por vezes é utilizado como sofá.

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Contador. Magnífico contador francês, que apresenta uma estrutura de
nítida inspiração arquitetônica, sublinhada pela sobreposição das ordens coríntia
e jônica. As placas e decorações em bronze dourado sobre o fundo negro do
ébano demonstram o gosto faustoso típico do período. No pormenor, uma
decoração em bronze dourado, de inspiração romana.

Um fator determinante nesta modificação do


gosto na decoração e no mobiliário, conhecido por
estilo Luís XIII, e que irá perdurar por mais de
cinqüenta anos, é a influência flamenga que,
juntando-se aos modelos italianos já existentes,
produz formas e decorações de grande beleza.

Contador. Neste contador do início do século XVII, a linearidade do


desenho faz sobressair os ricos arabescos das superfícies, quase totalmente
recobertas de couro vermelho decorado a ouro. A base é formada por uma mesa-
consola, com duas gavetas, sobre as quais se apoia um armário10 com duas portas
caracterizado por uma cornija bastante saliente.

Contudo, torna-se objetivamente difícil


determinar um estilo que sendo de transição e
encontrando-se entre dois períodos extremamente
marcantes do ponto de vista artístico, como são o
Renascimento francês e o estilo Luís XIV, foge por
natureza a uma maior comodidade de vida e a
ostentação do luxo, por parte dos nobres e dos ricos,
como forma de demonstração de poder, fazem nascer
uma nova categoria de artesãos – os ebanistas (nome
que significa artesão que trabalha em madeira), que se tornarão o símbolo do
futuro e faustoso estilo Luís XIV. Diversamente dos marceneiros, eles irão produzir
apenas móveis de luxo ( como, por exemplo, o contador), ricamente decorados.

4ª Aula – História Do Mobiliário

10
ARMÁRIO = Este móvel fundamental sofre uma importante evolução no início do século XVII: os dois
corpos do armário do Renascimento (em que o superior é mais pequeno e recuado) fundem-se num só,
primeiramente dividido por uma simples cornija horizontal que vai diminuindo sucessivamente, até chegar ao
clássico armário com duas portas grandes. O armário mais divulgado durante o reinado de Luís XIII é um
móvel de marcenaria, sem requintes de fabricação, geralmente colocado numa divisão destinada a guardar
roupas. Nos exemplares executados por ebanistas, a decoração inclui colunas ou faixas esculpidas em volta
das portas.
CANAPÉ = é assim designado um pequeno sofá para duas pessoas, que tanto pela sua forma como pelas
características deriva do lit de repos; a mais do que se possui costas num dos lados mais compridos, ligando
as faces laterais acolchoadas. O canapé tem grande divulgação em meados do século XVII e surge em
inúmeras variantes , entre as quais o sofá, que é completamente acolchoado.

27
Assunto: Barroco
Elisabetano, Jacobino, Tudor
Isabelino
William and Mary

BARROCO – A ERA DO ORNAMENTO

A arte barroca (1600-1750) conseguiu casar a técnica avançada e o grande


porte da Renascença com a emoção, a intensidade e a dramaticidade do
Maneirismo, fazendo do estilo barroco o mais suntuoso e ornamentado na história
da arte. Embora o termo “barroco” seja às vezes usado no sentido negativo de
superelaboração e ostentação , o século XVII não só produziu gênios artísticos
excepcionais, como Rembrandt e Velásquez, mas também expandiu o papel da
arte para a vida cotidiana.
Artistas hoje chamados de barrocos acorreram a Roma, vindos de toda a
Europa, para estudar as obras-primas da antigüidade clássica e da Alta
Renascença. Voltando à terra de origem, acrescentaram às suas obras as
particularidades culturais de cada região. Assim como os colonizadores do século
XVII seguiram os exploradores do século XVI, os artistas desenvolveram as
descobertas anteriores. Enquanto os estilos abrangeram desde o realismo italiano
ao exagero francês, o elemento comum era a sensibilidade e o absoluto domínio
da luz para obter o máximo impacto emocional.
A arte barroca começou em Roma por volta de 1600, quando os papas se
dispuseram a financiar magníficas catedrais e grandes trabalhos, para manifestar
o triunfo da fé católica depois da contra-reforma, e para atrair novos fiéis com a
dramaticidade das “imperdíveis” obras de arquitetura. O movimento se expandiu
para a Franças, onde os monarcas absolutistas reinavam por direito divino e
gastavam somas faraônicas para se glorificar. Os palácios se tornavam ambientes
de encantamento, projetados para impressionar os visitantes com o poder e a
glória do rei. A riqueza proveniente das colônias sustentava o luxo do mobiliário,
dos jardins, e a arte ostentada em palácios como Versalhes, de Luís XIV. Embora
tão opulenta como a arte religiosa, a pintura francesa elegia temas não-religiosos,
derivados do modelo da Grécia e de Roma, como as tranqüilas paisagens
habitadas por deidades pagãs, de Poussin.
Em países católicos, como Flandres, a arte religiosa florescia, ao passo que
nas terras protestantes do norte da Europa, como a Inglaterra e a Holanda, as
imagens religiosas eram proibidas. Em conseqüência, a pintura tendia a
naturezas-mortas, retratos, paisagens e cenas do cotidiano.. Os mecenas da arte
não eram apenas os mercadores prósperos, ansiosos para exibir sua riqueza, mas
também os burgueses de classe média, que compravam quadros para enfeitar a
casa. Desde a “Troca da Guarda” de Rembrandt, até os panoramas sensuais,
ricamente coloridos, típicos do Barroco Católico, a arte desse período tem uma
exuberância dramática, teatral.

BARROCO

28
( Século XVII e primeira metade do século XVIII)

O estilo Barroco é um fenômeno tipicamente italiano com origem e


desenvolvimento no meio romano, na corte dos papas e dos cardeais, graças ao
gênio de numerosos pintores e arquitetos.
Este novo estilo que permanecerá desde a primeira metade do século XVII
aos primeiros anos do século XVIII, tem inicialmente a sua divulgação na Itália
(Nápoles, Turim, Veneza), depois na Europa e finalmente no Novo Mundo.
Embora com algumas antologias , o século XVII manifesta-se nos diversos
países com características muito específicas. Na França assume os aspectos
grandiosos e austeros do estilo Luís XIV, na Inglaterra coincide com a época
Stuart e com o estilo mais comedido William anda Mary, na Alemanha e na
Espanha é determinante a influência italiana, enquanto que nos Países Baixos se
desenvolve o chamado estilo Auricular, nome curioso que deriva das formas das
cartilagens da orelha, em que fazem pensar certas esculturas. O móvel barroco,
intimamente ligado às fantásticas soluções arquitetônicas e decorativas de
arquitetos como Pietro da Cortona, Bernini e Borromini, surge como objeto de
exceção, mais obra de escultura do que de ebanistas, e em que o importante é
não o uso a que se destina, mas o efeito de espanto e maravilha que suscita.

Móveis de luxo e móveis comuns


Consola romana. A partir da primeira metade do século XVII, evidencia a
transformação do móvel romano numa verdadeira escultura. A base representa uma
náiade esculpida em madeira e dourada (destaque).

As tipologias dos móveis de luxo que com maior


freqüência são procurados para serem colocados nos
vastos interiores dos palácios da época são grandes
mesas11, consolas, poltronas, quadros e guéridons. Todos
se caracterizam por um acentuado aspecto plástico, pelo
emprego de linhas curvas e cortadas, pelo amplo uso da
cor, dos dourados e dos embutidos, com temas
decorativos que vão desde as formas vegetais , como
grinaldas, festões e flores, às composições com frutas e
objetos, verdadeiras naturezas-mortas, às conchas, às
figuras fantásticas, como de crianças, tristões e cavalos marinhos, ou realísticas
11
MESA = é um móvel que neste período evolui rapidamente. A grande mesa da sala tem o corpo ricamente
trabalhado em ajour ou esculpido, as pernas são curvas e por vezes torneadas em redondo, ligadas por
travessas cuja função visa mais a decoração do que a estabilidade. Para além de mesas sumptuosas, entre as
quais não podemos deixar de mencionar os magníficos exemplares toscanos com o tampo em mosaico
florentino , surgem exemplares mais pequenos de diversas formas, igualmente reelaborados a partir de
modelos tradicionais como a fratina, podendo muitos deles fechar-se ou alongar-se por meio de mecanismos
diversos. Uma inovação de origem espanhola mas também muito usada na Itália, sobretudo na região da
Veneza, é a travessa em ferro que serve de elementos de ligação entre a base e o tampo da mesa.
ESPELHOS = A decoração com flores, folhas, tecidos, querubins, que caracteriza o Barroco, encontra plena
utilização na ampla moldura dos espelhos, em geral dupla, com uma parte externa retangular e uma interna
que acompanha a forma do espelho, separadas por uma faixa lisa. Todo o corpo da moldura é ricamente
trabalhado, de preferência com folhas e painéis ostentando grandes festões e troféus. Ao longo de todo o
século Veneza continua a ser maior centro de produção, como testemunham inúmeros desenhos de Brustolon.

29
representações humanas, utilizadas ainda como partes estruturais dos móveis;
tudo isto harmonizado com eficácia e fantasia extraordinárias.
Entre os mestres mais famosos desta produção, mais escultores do que
propriamente ebanistas, encontramos em Veneza Andrea Brustolon e Francesco
Pianta, na Lombardia Andrea Fantonio, em Gênova Filippo e Domenico Parodi,
em Florença o flamengo Leonardo Van der Vinne.

Consola veneziana. Esta consola dourada ( de meados do século


XVIII) mostra a maestria dos entalhadores venezianos. Detalhes
naturalistas unem-se a cariátides e figuras de crianças.

Se no final do século XVI se assiste a uma


definição da tipologia dos móveis mais importantes,
no século XVII as novidades são muitas ( a cômoda,
o sofá, o tremó). Na Itália, por um lado criam-se
peças extraordinárias, obras-primas monumentais de
escultura e de grande fantasia decorativa; por outro lado , para os móveis comuns
continuam a utilizar-se modelos e estilos anteriores, adaptados às novas
sensibilidades com a aplicação de decorações excessivas e com uma evidente
ampliação das proporções.
Cômoda romana. O móvel romano dos primeiros anos do século XVII é
freqüentemente influenciado por elementos arquitetônicos. Tal como um edifícios,
esta cômoda de nogueira é efetivamente composta por um alto pedestal que serve
de apoio a colunas jônicas; a parte dianteira caracteriza-se por uma carranca
central e por molduras rendilhadas.

Os móveis de uso comum apresentam-se , mais


ainda do que os de luxo, com acentuadas diferenças
regionais na composição dos elementos decorativos e
na proporção das diversas partes. Na produção
piemontesca há uma grande divulgação, nas mesas e consolas, das típicas
pernas em balaústre, enquanto que as credências e os armários apresentam as
portas e painéis decorados com belos motivos trabalhados.
Em Veneza predomina o uso da nogueira; as pernas dos móveis podem
apresentar picotados (mesas) ou torneados, enquanto que os armários e as
credências12 não diferem muito dos da época precedente; de notável interesse são
os móveis lacados, que triunfarão no século XVIII, bem como os pintados, e cujo
motivo mais freqüente é o falso mármore.

Poltrona. Mestre indiscutível da técnica do entalhe, Andrea Brustolon transformou esta poltrona,
executada para o nobre Pietro Venier nos primeiros anos do século XVIII, numa obra de

12
CREDÊNCIA = Os exemplares mais interessantes encontram-se nas regiões da Toscânia, Emília e Venécia.
Pode ter um só corpo, com gavetas e fechando com portas, com um plano de apoio bastante amplo, ou, ter um
corpo superior que fecha também com pequenas portas. Típicas das credências emilianas são as decorações
em relevo geometricamente aplicadas e, por vezes, sem corpo superior. Os móveis da Venécia apresentam os
lados curvos; as cred6encias toscanas mantêm a simplicidade e a harmonia arquitetônica.

30
escultura cujos elementos estruturais, pernas, braços e travessas são realizados com grande fantasia, imiscuindo sem
solução de continuidade figuras, elementos naturalistas e detalhes decorativos.

Na Ligúria, e mais precisamente em Gênova, desenvolve-se uma marcada


autonomia, expressiva de excelentes entalhadores e ebanistas. São típicos os
chamados móveis com bambocci, credências e cômodas, cuja decoração é
constituída por pequenas figuras sobrepostas que podem medir poucos
centímetros ou ser mais altas, assumindo a função de cariátides; os armários e as
credências adotam freqüentemente elementos estruturais típicos da arquitetura.
Armário piemontês. Executado cerca de 1670, caracteriza-se por painéis
decorados com desenhos geométricos esculpidos e pela presença, na parte superior,
de colunas com torcidos. A faixa central que separa os dois corpos dispõe de duas
gavetas, enquanto que os pés apresentam o típico aspecto de patas de leão.

O móvel lombardo é influenciado por Veneza,


tanto no tipo como nas formas; mais característicos são
a cômoda, com ou sem aba, com as típicas cornijas
escuras, e a mesa com as penas em forma de lira; mas
é nas consolas que melhor se exprime a arte de Andrea
Fantoni.
Na Toscana não se encontram características
relevantes, exceto no que respeita à produção de
Giovanni Battista Foggini que, prosseguindo a tradição
do mosaico florentino, produz magníficas papeleiras em ébano com aplicações em
bronze e embutidos de marfim e prata.
Cômoda genovesa. Típica da arte genovesa, esta cômoda em nogueira
com bambocci, executada nos princípios do ‘século XVII, apresenta em todos os
lados visíveis uma série de pequenas figuras esculpidas.

Na Emília, é sobretudo na zona de Parma e de


Piacenza que se encontram os melhores exemplos
de móveis barrocos com os seus elegantes
ornamentos à base de motivos vegetais, colunas com
torcidos e pináculos em forma de vaso. Em Roma,
considerada por excelência a cidade Barroca, este
estilo encontra a sua expressão mais alta em móveis-esculturas como as
consolas13, nas quais freqüentemente o suporte central é constituído por uma
única figura alegórica esculpida com torno, ou em móveis completamente pintados
, com bancos, credências decoradas com falso
mármore e painéis pintados.
Cômoda lombarda. A parte dianteira é realçada por uma linha
cortada, com os perfis em ébanos; as gavetas, o tampo e as paredes

13
CONSOLA = Concebida como mesa de parede para utilizar raramente, e por isso apenas trabalhada em três
dos seus lados, a consola é um móvel já em voga , especialmente na região da Venécia, e ao qual se aplica
toda a invenção decorativa do Barroco. As pernas são curvas e, tal como a faixa, que sustém um tampo de
mármore, são faustosmaente esculpidas, nos casos mais simples, mas freqüentemente com figuras complexas;
a madeira é, em geral , dourada.
GENUFLEXÓRIO = Pequenos móvel de quarto de dormir, com grande divulgação pelo menos até o final do
século XVIII. A base e o apoio para os braços apresentam em geral linhas mistas com espessamentos
emoldurados.

31
laterais são de madeira de cerejeira, com embutidos de marfim; os pés são dois delfins, esculpidos frente a frente. No
detalhe, o delicado embutido do tampo.

Na Itália meridional, submetida ao domínio espanhol, os centros mais


importantes – Nápoles e Parlemo – exprimem o seu gosto barroco exclusivamente
na produção de móveis de luxo que seguem os modelos utilizados nos outros
centros da península, em que o trabalho de entalhe é acompanhado pelo uso de
dourados e pelos embutidos em mármore, freqüentemente substituído pela técnica
mais econômica da mica.

Papeleira. Equivalente ao contador francês, esta papeleira em ébano


executada em 1709 por G.B. Foggini, apresenta as características
típicas do Barroco: a estrutura arquitetônica, as aplicações em bronze
dourado, os embutidos em madrepérola e, sobretudo, as composições
em mosaico.

O Ofício di Pietre Dure di firenze

O trabalho de pedras semipreciosas,


como o caldecônio, o lápis-lazuli e a ágata,
reduzidas a finas lâminas e justapostas de
acordo com as duas cores e os seus veios de
forma a compor um desenho, é uma técnica que
tem o seu apogeu nos séculos XVII e XVIII.
Mestres reconhecidos nesta forma particular de
incrustação (variante da técnica do mosaico)
são os artesãos deste ofício de Florença., criado
pelos Médicis nos finais do século XVI.
O ofício, ainda hoje em atividade
sobretudo para trabalhos de restauro, é o núcleo
desta arte.
A decoração mais usada é de tipo
naturalista: paisagens, folhas, motivos
florais, animais, mas também cenas sacras
e retratos.

LUÍS XIV

Papeleira. Executada pó Cucci em 1683 na manufatura de


Gobelins, é representiva as sua arte e do luxo da época. De
inspiração arqutetônica, é ornamentada com mosaicos de pietre
dure, entalhes, embutidos e esculturas em bronze; por detrás das
portinholas encontra-se uma série de gavetas.

32
O estilo Luís XIV é fortemente influenciado quer pelo Renascimento italiano,
identificado nas estruturas maciças e quadrangulares da parte superior dos
móveis, quer pelo espírito barroco, evidente nas bases, sempre muito trabalhadas
e com freqüência inteiramente esculpidas.
Assiste-se a uma grande divulgação de móveis dourados ou prateados,
inspirados nos modelos encomendados pelo rei para a Galeria dos Espelhos, em
Versalhes’a ampla utilização dos elementos típicos da arquitetura, como
balaústres, pilastras, faixas e medalhões, confere-lhes um aspecto grandioso e
austero.
A decoração, a que se dá enorme importância, é vivamente polícroma, em
especial nos móveis importantes, e requer o emprego de materiais diversos. Os
elementos ornamentais, frequentemente divindades armadas com couraças,
escudos, cetros, cornucópias de clara inspiração clássica, são dispostos ao centro
ou de maneira simétrica. Há também uma grande difusão de figuras de animais
reais ou fantásticos, como esfinges, águias, cavalos alados. Delfins. Mas
sobretudo leões, dos quais é representada apenas uma parte do corpo, em geral a
cabeça ou uma pata. Como é natural não faltam os símbolos da monarquia, como
a flor-de-lis da França, a coroa e o cetro, enquadrados em frisos clássicos como
palmas, corroas de louros e conchas.
Pequena biblioteca. Magnífico exemplo da
obra de Boulle, este pequeno móvel reúne
o desenho requintado do conjunto e uma
sugestiva miscelânea de embutidos em
cobre e tartaruga, aplicações em bronze
dourado e elegantes ornamentos com
grotescos. No detalhe a decoração do
painel central.

Com a técnica dos


embutidos realizam-se ricas
composições polícromas,
que representam com
enorme naturalidade ramos de flores, vasos, pássaros ou arabescos e folhagens.
O fundo é em geral o negro do ébano, enquanto que para os embutidos são
utilziadas madeiras coloridas, como o buxo, a pereira, a nogueira e o azevinho, ou
ainda outros materiais , entre os quais a madrepérola, o marfim e a prata.
Surge seguidamente a grande moda das lacas chinesas, que consiste na
aplicação sobre a armação dos móveis, em especial das papeleiras.

ARTISTAS E ARTESÃOS

O ano de 1667 é importante porque nele tem início a atividade das


manufaturas de Gobelins, onde se pensa que tenha tido origem e
desenvolvimento o estilo Luís XIV.
De fato, sob a orientação atenta de Charles Lê Brun trabalham nas
manufaturas de Gobelins artistas e artesãos extraordinários, entre os quais, por
exemplo, os italianos Domenico cucci, que executa magníficos móveis em ébano

33
decorados com esculturas e miniaturas, e filippo Caffieri, notável bronzista e
decorador, mas também escultor em madeira.
Armário com duas portas, da autoria de Boulle, com embutidos e
aplicações em bronze dourado. Com este luxuoso móvel, Boulle justifica a
fama de habilíssimo construtor de armários. Particularmente bem
conseguido é o disfarce das charneiras, concebidas como elegantes faixas
horizontais.

O artista-artesão que pode ser considerado


emblemático desta época é certamente André
Charles Boulle, que tem o seu próprio estúdio nos
laboratórios do Louvre e executa não só
encomendas para o rei, mas também para os
nobres e para os burgueses ricos. Fabrica móveis
preciosíssimos, em que utiliza de modo
surpreendente a técnica do embutido,
empregando madeiras exóticas, metais e
materiais diversos, como o corno e a tartaruga.
A influência de Boulle é enorme e permanece ao
longo de todo o século XVIII. No século seguinte
serão inúmeros os seus imitadores, de tal modo
que o número excessivo de cópias torna hoje
difícil identificar muitas das obras originais. Um
outro decorador particularmente importante é
Jean Berain, que volta a propor os ornamentos com grotescos típicos do
Renascimento. Os seus temas característicos são cenas com macacos, esboços
de inspiração oriental e composições com instrumentos musicais enriquecidos
com folhagens, máscaras, tecidos e festões.

O LUXO COMO ESTILO DE VIDA


Contador. Executado no estilo de Boulle, este contador com dois corpos feito em
madeira de amaranto em meados do século XVII, é ricamente decorado, com
embutidos em estanho, que o tornam particularmente sugestivo. Muito elegante
resulta a solução em forma de “templo” do batente central do corpo superior.

No reinado de Luís XIV, o Rei Sol, a


corte vê aumentar o seu prestígio político
e artístico e consegue impor às outras
cortes européias o seu próprio estilo
faustoso e solene. Na segunda metade do
século XVII, após um longo período em
que prevalece o gosto italiano, graças
também à presença significativa de
numerosos artistas e artesãos italianos

34
em Paris, as tendências de inspiração clássico-renascentista, que se referem aos
grandiosos exemplos da arquitetura romana, e também aos mais propriamente
barrocos, atingiram já um equilíbrio formal estável. A atividade das manufaturas de
Gobelins é exemplificativa deste equilíbrio; elas produzem tapeçarias, móveis,
cerâmicas e todos os outros objetos que possam servir para as muitas residências
do rei ( entre as quais sobressaem as de Marly, fontainebleau, St. Germais e
Grand Trianon).
Cômoda. Executada nos prieiros anos do século XVII, apresenta uma estrutura muito simples, mas com uma decoração
bastante rica características do estilo Luís XIV.

Contudo, no último decênio do século verifica-se uma alteração sensível; de


fato, a partir de 1688, de devido a algumas derrotas militares e à conseqüente
menor disponibilidade econômica, a corte francesa v6e-se forçada a uma vida
menos faustuosa. Mas na verdade, para essa alteração contribui também a morte
de Lê Brun, em 1690. O seu sucessor, Claude III Audran, revela um gosto mais
leve, utilizando formas menos rígidas, e linhas e decorações que prenunciam o
novo século.

Da arte de marceneiro à arte de ebanista

No século XVII verifica-se um processo de diferenciação na produção dos


móveis em função das encomendas. A produção corrente é obra de marcenaria e
consiste em m\oveis de aspecto bastante modesto, cuja qualidade não se dá
qualquer importância.
Freqüentemente pintados, ou dourados, estes exemplares destinam-se ao
mercado formado pelas classes menos abastadas; muito em voga são também os
móveis recobertos de tecido.
Para a construção dos móveis de luxo forma-se uma nova categoria de
artesãos – os ebanistas: a sua perícia técnica , que muitas vezes atinge o
virtuosismo, produz obras de qualidade excepcional, sob a orientação de peritos
em decoração.

WILLIAM AND MARY

As caracter;isticas do móveis ingleses sofrem apenas ligeiras alterações,


durante mais de cinqüenta nos – isto é , desde o período isabelino e jacobino até à
restauração dos Stuarts, levada a cabo por Carlos II de 1660. O regresso do ecílio
do rei e seus seguidores, agora habituados à riqueza e ao luxo das cortes
européias , provoca de fato uma profunda reação no gosto purtitano então
dominante, dando origem a uma grande renovação nos costumes, e
conseqüentemente no mobiliário, o que é ainda agravado pelo trágico indêncio
que em 1666 destruiu em Londres mais de dez mil casas. O período da
Restauração é caracterizado quer pela influência holandeza, com o uso de
cadeiras entrançadas feitas em cana da Índia e o emprego da marchetaria com
decorações florais, quer pela francesa de Luís XIV, cujo fausto influência muitos

35
móveis: contadores esculpidos e dourados, espelhos com embutidos em prata e
tarturaga, cadeiras em talha e pintadas. É durante o reinado de Carlos II que a
Companhia inglesa das Índias Orientais indica a importação de móveis e objetos
chineses e japoneses, que assinalarão uma reviravolta no gosto europeu.
Contador. A parte superior é quadrangular e fecha por meio de
portas pintadas com laca chinesa; a base, prateada, é uma talha de
madeira, ontentando as típicas decorações barrocas.

As alterações que se seguem têm lugar no


reinado de Maria II (1689-1694) e de seu
marido, o holandês Guilherme III de Orange,
que subiu ao trono após enviuvar (1694-
1702). A influência francesa, apreciada pelos
soberanos, torna-se cada vez mais
importante, também devido ao afluxo de
numerosos artesãos de França, ocorrido a
seguir à revogação do édito de Nantes
(1685). Entre eles encontram-se Daniel
Marot, que desenha o mobiliário do palácio
de Hampton Court e que, com a publicação
em 1702 dos seus livros de desenhos
initulados Oeuvres, divulgará na Inglaterra a
sua versão pessoal do estilo Luís XIV; entre os grandes ebanistas, podemos citar
Gerreit Jensen, de origem flamenga, e John Pelletier, de origem francesa.

A TRANSFORMAÇÃO DO GOSTO
Secretária. Atribuída a Jensen, tem
embutidos em tartaruga, latão e estanho.

Os móveis ingleses
modificam-se, assumindo
um aspecto mais elegante e
sedutor, graças à aplicação
de motivos decorativos,
como arabescos, folhas de
acanto, ornamentos. As
costas das cadeiras
apresentam amplas
curvaturas com entalhes
florais e em faixa, as pernas
têm a típica forma em
cabriole, enquanto que o acolchoamento assume uma importância cada vez
maior. Papeleiras, secretárias, mesas são embutidas com ébano, latão e prata; as
pernas podem ser torneadas ou quadrangulares, nas formas t[ipicas em balaústre,
ligadas por travessas em X ou H, muitas vezes com o formato de semicírculos
justapostos; os pés são quase sempre em forma de “cebola”. Têm também grande
divulgação os móveis dourados e os laçados, que seguem a moda crescente de
inspiração chinesa, coexistindo com outros completamente revestidos de prata.

36
Outro sinal de modificação é a passagem do uso de madeira de carvalho, ainda
largamente utilizado nos móveis rústicos, para a madeira de nogueira, da qual se
apreciam a tonalidade quente e a qualidade da fibra, bastante mais compacta, e
que facilita o grande emprego das madeiras esculpidas e torneadas.
Cabinet on chest. Móvel com dois corpos, composto por um
contador apoiado numa cômoda com gavetas. É marchetado em
nogueira e decorado em marchetaria com motivos florais muito
desnsos, fazendo lembrar algas marinhas. Os pés apresentam a
típica forma de cebola.

Outras técnicas utilizadas na decoração


são as palhinhas, os embutidos nas
variantes da marchetaria de origem francesa
– que consiste em preparar à parte os
elementos decorativos, compostos por
várias peças de madeira ou outro material
da mesma espessura, para depois os colar
num painel de fundo - e a técnica de inlay,
em que os elementos são inseridos com
grande precisão em incisões feitas no
próprio painel. Tipicamente inglesa, se bem
que possívelmentede origem flamenga, é a
técnica de veneering, em que a superfície
dos móveis é salientada pela justaposição
dos veios da madeira talhada em tiras mais
menos largas que são coladas sobre a
superfície dos móveis para criar efeitos
decorativos chamados, de acordo com o desenho obtido, em espinha de peixe ou
em conha de ostra.
Mesa. Caracterizada por pernas com curvas contrapostas,
ligadas por travessas em X e com pés “em cebola, apresenta no tampo e
na cinta o típico marchetado com o motivo “em concha de ostra.

Os móveis ingleses adquirem pois, neste


período , a qualidade formal e estrutural que
lhes são características e que os tornarão
apreciados no mundo: solidez, elegância e
comodidade.

Armário com dois corpos. De meados do século XVII, a sua frente


caracteriza-se por painéis octogonais e por embutidos brancos, em
marfim e madrepérola sobre o fundo escuro do carvalho.

37
A técnica dos embutidos

A técnica dos embutidos consite numa decoraçãso com motivos geométricos,


florais ou figurativos, obtida pela justaposição de peças trabalhadas, feita de
madeira ou de outros materiais (marfim, metais, pedras, madrepérola). Utilizados
já em épocas precedentes (como a certosina italiana do século XV e a marchetaria
pictórica do Renascimento), os embutidos têm de novo um grande
desenvolvimento nos séculos XVII e XVII, de tal modo que, na França, o artesão
especializado nesta técnica, o ebanista, faz parte de uma categoria corporativa
específica.
Os embutidos em madeira utilizam essências naturais ou tratadas para obter cores
e efeitos especiais. Boulle é mestre e inovador nesta técnica, conhecida na França
por marchetaria. A ele se devem os embutidos Boulle, variente em que duas
folhas uma de latão e outra de tartaruga são recortadas e coladas, e depois
separadas; obtêwm-se assim dois painéis ornamentados com a mesma
decoração, mas em negativo: uma com o fundo em tartaruga e decorada com
latão ( a primeira parte) , a outra com o fundo em latão e decorada com tartaruga
(contra-embutido). Esta decoração é utilizada para as superfícies opostas de um
mesmo painel.
Na Inglaterra, G. Jensen produz embutidos comparáveis aos de Boulle.

QUEEN ANNE E GEORGIANO PRIMITIVO


( Primeira metade do século XVIII)

Chest of drawer. Em raiz de nogueira, compõem-se de dois elementos sobrepostos; a


parte inferior tem a forma de escrivaninha.

No início do século, com a subida ao trono da rainha Ana


(1702-1714), o mobiliário inglês tem tendência a caracterizar-se por
um pouco mais de sobriedade, após o luxo do período William and
Mary. De um modo um tanto diferente dos ditames da corte do Rei Sol,
a Inglaterra começa a apreciar os móveis não pelos materiais mais ou
menos preciosos neles utilizados, mas também pela elegência das
linhas, a qualidade da construção e, sobretudo a funcionalidade,
aspecto que virão a ser as características dominantes do gosto inglês
durante os períodos seguintes.
É por este motivo que o estilo Queen Anne será considerado
mais como de transição do que como uma verdadeira renovação. Os
decoradores e ebanistas são os mesmos do período
precedente”Gerreit Jensen, Daniel Marot, Grinling Gibbons, aos quais
se pode acrescentar o nome de Thomas Roberts, que durante
determinada fase trabalha como fornecedor oficial da corte. As linhas dos móveis tornam-se menos
austeras; as cadeiras e as poltrons, que podem ser de madeira em talha ou com embutidos, e que
apresentam muitas vezes as típicas e confortáveis “orelhas”, têm ostas mais baixas, quer em

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madeira trabalhada quer acolchoada, e as pernas ostentam cada vez mais o formato em cabriolet,
decoradas em cima com uma concha e terminando com pés em forma de alvião ou de bola e
garra; as ricas travessas de ligação tornam-se mais simples, acabando pó desaparecer
completamente.
Aparece o settee, espécie de sofá geralmente pequeno ( o modelo de dois lugares é
também chamado siège d’amour), que é totalmente acolchoado, com exceção das penas
curvilíneas os tecidos mais utilizados para o seu revestimento são bordados ou em veludo. Assiste-
se a uma grande divulgação das secretárias, bem como dos seus modelos ais complexos,
conhecidos por bureau-bookcase, uma espécie de secretária-estante ornamentada por tímpanos
com arco inteiro quebrado ou em volutas.
Arca. Inspirada no estilo de Kent, esta arca em madeira
dourada apresenta uma decoração rica, tanto em baixo
como em alto relevo (veja o detalhe). Os pés ostentam
a típica forma leonina.

O corpo superior, mais recuado do


que o inferior, tem um vão com divisórias,
nichos ou pequenas gavetas, enquanto que
as portas podem ser de vidro ou
espelhadas’a parte inferior consta de uma
secretária com um tampo de baixar, no
interior do qual se encontram várias gavetas
de diferentes tamanhos, os pés são
marchetados a nogueira segundo a técnica
tradicinal de veneeering, decorados em
marchetaria ou laçados a vermelho, negro e
verde segundo a moda chinesa ou
japanning, nome dado à laca de imitação.

O estilo Georgiano primitivo


Poltrona executada cerca de 1710, apresenta as típicas “orelhas”. Inteiramente
revestida por uma tapeçaria da [época, trabalhada em ponto miúdo. As pernas são em
cabriolet.

A subida ao trono de Jorge I (1714-1727) não provoca


alterações de gosto bruscas, pelo que a influência do estilo Queen
Anne continua a fazer-se sentir até 1720.
Mas o período georgiano, corresponde aos quatro reis de nome
Jorge com reinados sucessivos durante cerca de cento e vinte
anos, não forma um todo homogêneo, visto que se subdivide em
Georgiano primitivo (1714-1760) e Georgiano tardio (1760-
1830), além de que coexiste come stilos e personalidades
muitíssimo diversas: do chippendale ao Regência, do
Neogótico ao estilo Adam. Os dois períodos são, pois,
considerados mais como subdivisões históricas do que como
uma expressão unitária de estilos.
Papeleira. Este exemplar em laca oriental tem a base dourada e decorada
com gregas.

Nos primeiros decênios do século XVIII


verifica-se a afirmação de uma tendência, o
Neopalladianismo, que teve origem numa

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renovação da arquitetura, com a publicação em 1715 de duas obras : os Quatro
Livros de Arquitetura de Palladio e Vitruvius Britannicus de Colin Campbell; esta
mesma tendência vai também em parte influenciar o mobiliário, graças à obra do
arquiteto William Kente. Este, misturando habilmente ordens clássicas e formas
rigorosas com o fausto do final do estilo Luís XIV, consegue exprimir
inteligentemente um mundo feito de riqueza, elegância e proporção. Estante,
mesas, móveis de dois corpos, secretárias, sofás são ornamentados com frontões,
pilastras e cornijas cujas volutas clássicas, rendilhados e escudos se misturam
com elementos do repertório barroco como esfinges, figuras de crianças e
conchas. Simultaneamente, continua a ter grande sucesso a moda dos móveis
laçados e pintados com figuras orientais, enquanto que o gosto do público mais
exuberante se aproxima dos caprichos do rococó francês. Entre os ebanistas de
maior vulto encontramos Benjamin Goodison, fornecedor real a partir de 1727;
Giles Grendey (1683-1780), um dos primeiros a assinar os seus móveis laçados;
John Gumley e James Moore, que individualmente ou em sociedade produzem
móveis extraordinários, de entre os quais sobressaem os modelados em gesso e
dourados.

Os móveis em gesso

O uso do gesso na decoração de móveis dourados


caracteriza a produção inglesa nos primeiros decênios
do século XVIII. O mineral , finamente moído e
misturado com diversas substâncias é escaldado a uma
temperatura elevada; a massa assim obtida é aplicada
nas diferentes partes do móvel, que são sumariamente
esculpidas. Quando o gesso já esta duro procede-se a
um entalhe mais fino, que depois é alisado e dourado.
As partes mais delgadas e em relevo são reforçadas
com uma armação metálica. A grande difusão dos
móveis em gesso deve-se ao magnífico efeito de
cinzelagem que só este material permite.

LUÍS XV

( Primeiros anos do século XVIII até 1770)

Comoda. Executada cerca de 1714 por Cressent, apresenta os


elementos mais característicos do estilo Luís XV. No detalhe,
puxador em forma de dragão, devido à moda chinoiserie.

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O estilo Luís XV, também chamado Rocaille ou rococó, abandona as formas austeras e
monumentais, as linhas direitas e o gosto pela decoração de origem clássica da [época
precedente, dando lugar a uma maior ligeireza das formas, com um triunfo das linhas curvas, uma
sequência densa e caprichosa de elementos decorativos, produzindo móveis freqüentemente de
pequenas dimensões e de proporções requintadas. Contudo, a passagem do estilo Luís XIV para o
Luís XV não se faz diretamente. De fato, já nos últimos anos do século XVII algo começa a mudar
no estilo Luís XIV”basta pensar na evolução da obra de Boulle, que será um dos protagonistas
desta alteração. Um outro passo será dado no período da Regência (1715-1723), quando, por
morte do Rei Sol, os destinos do reino ficarão nas mãos de Felipe de Orleães devido à muito pouca
idade de Luís XV ( 1710-1774). Os ebanistas são de modo geral os mesmos da época de Luís XIV,
mas de entre os nomes novos sobressaem os de Oeben e Cressent, a quem se deve a invenção
da lina em arbaléte, que caracteriza o perfil inferior das suas cômodas.

A evolução do gosto
Escrivaninha com tampo de baixar. Exemplo de móvel feminino, esta pequena
escrivaninha de proporções elegantes é também chamada “em dorso de burro, dada a
forma sinuosa do corpo superior.

Pode dizer-se que teve lugar por volta de 1730, quando o estilo
rococó atinge o auge, abandonando todas as referências decorativas e
arquitetônicas do repertório barroco para desdobrar uma livre
justaposição de formas sinuosas e ondulantes, feitas de flores, conchas,
contornos de rochas, ondas espumosas e cascatas de água; as flores
são compostas em cestos ou em ramos, ou isoladamente. Muito bronze,
freqüentemente de formato muito elaborado, que sublinham com um
elegante contraste os perfis sinuosos e as superfícies onduladas dos
móveis; também o entalhe dá origem a peças de decoração rica, e por
vezes recobre grande parte dos móveis ou, como nas poltronas, em alguns pontos das costas e na
armação. As madeiras podem ser naturais, enceradas ou envernizadas, ou simplesmente pintadas
com cores vivas, utilizando também duas tonalidades para sublinhar as partes em relevo; não
faltam elementos dourados ou prateados.

Consola. Feia em 1769 por Bernard II van Risen, apresenta um


requintado equilíbrio formal no desenho das pernas e no volume do corpo
do móvel, que contém uma gaveta bem disfarçada. A frente ornada de
bronzes dourados, encontra-se recoberta por um painel de laca japonesa.

Os folheados formam retângulos e motivos


geométricos; os embutidos, graças às novas técnicas
utilizadas, dão às madeiras nuances delicadas e meios-
tons, e compõem decorações requintadas com festões,
tecidos, flores, laços, fitas esvoaçantes,paisagens e
troféus, colocadas nas partes dianteiras e laterais das
cômodas , mesas pequenas, cantoneiras.
Grande divulgação tem o móvel laçado, cujas cenas
pintadas são frequentemente de origem ou de imitação
chinesa. Após 1730, com um método chamado verniz
Martin, devido ao nome de uma família de artesãos

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franceses, consegue-se obter uma laca muito semelhante à oriental, sobrepondo-se até 40
camadas de verniz, o que permite uma produção mais vasta de móveis laçados.

Poltrona. Construída em meados do século XVIII, é do tipo à la Reine, tendo uma


função ornamental. Caracteriza-se por costas altas e planas e por uma decoração
esculpida de forma assimétrica.

A paixão pelo mundo oriental,turco, árabe e, sobretudo,


chinês e japonês, dá origem a uma moda que no século XVIII, mas
já no XVII e depois no XIX, abrange muitos países europeus,
contituindo um fenômeno muito particular, uma espécie de estilo
dentro de outros estilos.

Novos modelos

Comoda. Obra de J. Demoulin, tem duas gavetas e a frente é decorada


com laca oriental e aplicações em bronze dourado.

A época de Luís XV, graças também à influência


de Pompadour, coincide com o amor pelas coisas belas, o
colecionismo, procura do conforto e a descoberta da
privaciade. O abandono dos grandes interiores
seiscentistas faz nascer, seguindo o exemplo do mesmo
soberano que tinha aproveitado no palácio de Versalhes
uma série de pequenos e cômodos apartamentos, novas
exigências e novos locais: o contador para arrumar as
coleções, a salinha de música, a biblioteca com as
estantes inseridas em boiseries, a sala de jantar e a casa de banho, e ainda o guarda-roupa e o
quarto de dormir. É o triunfo da técnica ebanista, que produz uma grande quantidade de móveis
renovando radicalmente os modelos preexistente. As mesas, especializando-se, multiplicam-se;
têm grande sucesso a secretária de tampo plano, a escrivaninha
nas versões com alçado, com pequenas gavetas e um tampo que
se baixa para trabalhar, ou então em tambor, com um tampo
curvo que desaparece quando se faz deslizar para dentro do
móvel.

Móvel de Veneza com dois corpos. Executado na Segunda metade do século XVIII
com a técnica da “laca pobre”, é composto por uma comoda com tampo de baixar
e por um alçado com vitrina.

Surgem peças pequenas muito femininas, como a bonheur


du jour, escrivaninha para senhora composta por portas e
gavetas, muitas vezes com um esconderijo parfa a
correspondência reservada, e os toulettes com gavetas e vãos
para guardar os produtos cosméticos e um espelho fixo ou
rebatível.
As cadeiras e poltronas dividem-se em duas categorias
principais: as meublantes, também chamadas à la Reine, com
costas planas e usadas com funções quase exclusivamente
ornamentais, e as courantes ou em cabriolet, com costas

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abauladas e portanto mais cômodas, usadas todos os dias. Nelas se inspiram inúmeros modelos,
para diversos fins: a chauffeuse (poltrona estofada para as pessoas se aquecerem junto à lareira),
a bergére (poltrona estofada com assento coberto por uma almofada), a voyeuse (pequena cadeira
usada sobretudo pelos jogadores de cartas), a tête à tête (pequeno sofá para duas pessoas).

Escrivaninha. Executada por Oeben por volta de 1760, esta escrivaninha “em tambor” destina-se a um
uso predominantemente feminino. Estilisticamente situada na transição entre Luís XV e Luís XVI, alia
soluções formais e decorativas típicas da fase de transição

O Rococó ou Barroco tardio na Itália

Mesa de parede napolitana. Esta mesa em madeira esculpida, da


Segunda metade do século XVIII, apresenta os últimos traços, então já em
declínio, do Barroco tardio napolitano. No detalhe , a figura em
terracota pintada no centro da travessa.

O século XVIII italiano segue, embora com um


certo atraso, o grande impulso que vem da França de Luís
XV. O Rococó desenvolve-se nas várias regiões com
características e resultados diversos, de
acordo com as tradições locais e os artistas-artesãos em
atividade. No Piemonte, a vizinhança com a França
determina uma produção certamente mais próxima do
Rocaille do que em outras regiões, mas sem ceder no
plano do gosto e da medida. Em Veneza encontra-se
talvez a produção mais original de todo o rococó
italiano; elaborando sagazmente a linguagem barroca,
desenvolve- se nesta região um requintado entrelaçado de
linhas curvas, de entalhes caprichosos e leves, de
aplicações em vidro de Murano, de decorações pintadas
com flores, figuras e animais, de lacas de inspiração
chinesa, das quais os depentori de Veneza (era este o nome que nesta região davam aos
decoradores de móveis) são os primeiros e imcomparáveis imitadores. Também os modelos dos
móveis são amplos e originais, distinguindo-se na produção de cadeiras e poltronas (é muito
conhecida a chamada pozzetto), bem como de cômodas, tremós e camas.

Secretaria siciliana. Em madeira lacada e decorada com motivos polícromos,


esta secretária tem um alçado com cúspide com tampo de baixar e um corpo
com duas gavetas. As partes lateriais são douradas e proeminentes, enquanto
que as superfícies são ornadas com cornijas douradas estilo Rocaille, e pintadas
com motivos florais.

Na Lombardia, uma certa austeridade de origem espanhola


conjuga-se com influência austro-alemão que levam a preferir
móveis, em geral de boa construção, em raiz de nogueira com
inserções em madeira mais escura e decorações embutidas.
Também em Genova é determinante a influência francesa, mas

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a expressão mais autônoma é certamente representada pelo trumeau (tremo), que é sempre
finamente esculpido e de proporções elegantes. Tem também grande divulgação o móvel laçado,
típico com o seu fundo claro e de cor viva e as decorações florais, mas sem dúvida inferior ao da
Veneza. N Itália centro-meridional, Roma, Nápole e Sicília, predomina o gosto francês, com móveis
embutidos e ornados com aplicações em bronze, nos quais se encontram ainda ecos barrocos,
com uma grandiosidade e o excesso decorativo.

Secretária-tremó genovesa. Caracterizado por uma cimalha de linhas mistas, este móvel é folheado a
nogueira espinhada, com um interessante jogo de veios e molduras em pau-santo. A parte superior
composta por duas portas com espelhos, de perfil trabalhado; a inferior é do tipo comoda, encimada por
um tampo de baixar.

CHIPPENDALE
(Segunda metade do século XVIII)

Cama. Desenhada por Chippendale por volta de 1754, esta cama com dossel em
estilo chinês, lacada a negro e vermelho com partes douradas, é característica do
estilo do autor.

A difusão em toda a Europa da moda chinouserir encontra, na


Inglaterra do século XVIII, um grande intérprete: Thomas
Chippandale. Com a publicação, em 1754, de uma recolha de
desenhos de móveis intitulada The Gentleman anda Cabinet-
Maker’s Director, ele consegue impor uma versão pessoal do gosto
de inspiração oriental, combinando-lhe elementos neogóticos,
formas derivadas do rococó francês e do Neoclassicismo então
nascente. O estilo chippendale afirma-se nos anos que vão de 1760
a 1790, graças ao seu ecletismo particular que o torna capaz de
satisfazer as exigências ew os gostos mais diversos, desde a classe
nobre à burguesia.

Cadeiras. Nas costas, ambas apresentam motivos em forma de fitas


entrelaçadas.

Os móveis de chippandale, as escrivaninhas, cadeiras,


espelhos, mesas pequenas, camas, reconhecem-se pela
presença de grandes zonas esculpidas, como nas costas
com aspecto de pequenos templos não têm ligação com
os originais chineses. É muito freqüente o emprego de
colunas esculpidas em forma de bambu, de lacas em tom
vermelho antigo e verde pálido, de contrastes cromáticos
entre o negro e o ouro, de decorações vegetais, quer
pintadas, quer em relevo, e de pequenos animais
esculpidos, em especial aves, colocadas nos ângulos e
nas partes terminais dos móveis.
Particularmente interessantes, nos móveis
interessantes, nos móveis de inspiração chinesa, são as
estruturas que, tornando-se mais leves, permitem uma
evidente verticalidade e uma ligação mais rigorosas entre
os cheios e os vazios. Também nos móveis em que
prevalece a inspiração neogótica, rococó ou neoclássica,
muitas vezes com uma mistura de elementos de mais do

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que um estilo, as decorações tornam-se mais leves, desenvolvendo-se com graciosidade os
entrelaçados de fitas, grinaldas, festões, grades com losangos, arcos quebrados, cabeças de
leões, motivos de urnas e cachos de uvas.

Um estilo feito de muitos estilos

Pequena vitrina. Pequeno móvel em mogno, com decorações em bronze dourado. É um exemplo típico de chippendale
chinês, e as suas cúspides em forma de pagode conferem-lhe um aspecto extremamente bizarro.

Thomas chippendale, embora tendo a sua própria oficina de ebanista _ a chippendale &
Haig _, não deve a fama à sua produção de móveis, dificilmente identificáveis devido à grande
quantidade dos seus imitadores, mas à publicação do catálogo de móveis que publicou: The
Gentleman and Cabinet-Maker’s Director, várias vezes atualizado e reeditado.
O estilo chippendale corresponde geralmente a esquemas que podem encontrar-se no seu
diretor. No mercado antiquário, os móveis contemporâneos dos autênticos chippendale são
chamadas da época, enquanto que as suas obras originais (hoje difíceis de identificar) são as
designadas por de chippendale.

Hepplewhite e Sheraton: de ebanistas e estilistas

Estante . Em madeira de cerejeira e com embutidos em


mogno, construída segundo os desenhos de Hepplewhite,
esta estante apresenta uma estrutura bem definida e o
corpo central avançado e curvilíneo.

Na segunda metade do século XVIII,


diversamente do que sucede em França, onde
os grandes ebanistas dominam a cena, graças
aos seus produtos de enorme qualidade, na
Inglaterra os grandes nomes no campo do
mobiliário exprimem o melhor das suas
capacidades mais em teoria do que na prática.
Dão assim origem a um longo processo de
transformação que verá o antigo projetista-
executor tornar-se um verdadeiro estilista.

Desenho de mesa para biblioteca. Projetada por


Sheraton, esta mesa compreende elementos que,
extraídos de gavetas, servem para a leitura.

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O estilo de George Heppelwhite é reconhecível pela graça natural das formas, pelo uso da
madeira acetinada e pela adição de costas em escudo para as cadeiras, cujas pernas, geralmente
direitas, apresentam uma seção torneada ou quadrada. As decorações mais características de
Heppelwhite são as três plumas e as espigas de trigo esculpidas nas faixas centrais das costas das
cadeiras, que mostram, tal como os perfis curvos ou em serpentina das suas cômodas, uma
inspiração ainda ligada ao gosto rococó. Na sua obra The Cabinet-Maker and Upholster’s Guide
são apresentados móveis laçados, esculpidos e pintados; também os embutidos são amplamente
utilizados e feitos em pau-santo, mogno ou madeira acetinada, par de madeira de importação
recente, como a tuia e o ambone.
Desenho de mesa de biblioteca. O interesse de Sheraton pelos
mecanismos e a funcionalidade dos móveis estão testemunhados nesta mesa
contendo uma pequena escada escondida por um apoio de leitura.

Thomas Sheraton procura soluções que permitam uma


produção mais racional dos móveis. Por isso os elementos
decorativos, tão em voga nos finais do século XVIII, se tornam
para Sheraton num acréscimo em relação à formas, que devem
ser simples e austeras, sempre tendentes a valorizar a estrutura e
a funcionalidade do móvel. Decorações minúsculas
geometricamente complexas são pintadas com essências de
diversas cores, e por vezes os desenhos assumem a forma de
arabescos ou de painéis com figuras. Para os finais do século, ele
sofre cada vez mais influência do neoclassicismo preconizado por
Robert Adam. De entre as inovações de Sheraton, são de
assinalar: a introdução de mesas com pedestal para a sala de
jantar e a biblioteca, o uso do vime e a complexa subdivisão
interna dos móveis de aspecto simples e tradicional.

Mesa de parede. Em estilo Neoclássico, demonstra a maestria


de Chippendale ao exprimir-se com os diversos estilos em
voga. Executada segundo os ditames de Stuart e Adam, as suas
pernas têm um aspecto um tanto pesado, No detalhe, a máscara
demoníaca colocada no centro da travessa ornada de festões.

A MODA CHINOISERIE
(Séculos XVII a XIX)

Mesa chinesa. Quadrada, com as


pernas redondas, remonta ao século
XV e é lacada a negro com embutidos
em madrepérola. . No detalhe a
decoração do tampo, representando
uma paisagem.

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O interesse da Europa pelas manifestações da arte oriental remonta aos primeiros anos do
século XVII com a constituição, por parte da Holanda e da Inglaterra, de “Companhias das Índias
Orientais”análogas, às quais se associam logo depois a França

Cômoda. A graciosidade desta pequena cômoda de madeira laçada com paisagens, pássaros
e vegetação advém da delicada curvatura das suas paredes laterais.

e Portugal. O comércio contempla inúmeros produtos: móveis, tecidos,


porcelanas, biombos, caixas, mas os mais procurados são os objetos
laçados, que provocam admiração pela qualidade da sua execução e pelo
brilho das suas cores. O gosto pelas lacas não é, porém, senão um aparte
de um fenômeno muito mais vasto e complexo, a moda da chinoiserir, que
dura cerca de dois séculos e ressurgirá na segunda metade do século XIX.
Diversamente de outras manifestações do gosto, como o rococó ou o
Neoclassicismo, a chinoiserie não assume a definição de estilo (exceto na Inglaterra) porque
convive e se mistura, por vezes de modo surpreendente, com os estilos dominantes, pelo que é
referida simplesmente como moda.
Os objetos chineses não são apenas colecionados ou incluídos no mobiliário, são também
modificados ou desmembrados para dar um toque de exotismo aos móveis da época; papeleiras,
cômodas, secretárias, cantoneiras, escrivaninhas, camas resplendem de flores, árvores, pássaros,
pagodes e figurinhas com o típico chapéu chinês sobre fundos verde-esmeralda, azul-indigo, negro
e vermelho. Cada país importador chama as lacas de modo diferente, não lhes distinguindo as
origens, mas etiquetando-as com o nome do lugar onde são adquiridas: os franceses chamam-lhes
Coromandel, os ingleses Bantam, os holandeses Batavia.

Cravo. A perícia de Dagly, autor deste cravo de 910, encontra-se patente nestas
pinturas e lacagem com motivos de flores e figuras de inspiração chinesa .

As Lacas Holandesas

O país que mais contribui para a difusão dos móveis


laçados é a Holanda, graças à posse do exclusivo para a venda
das lacas japonesas, consideradas melhores do que as
chinesas.
Quando, devido à enorme procura, a produção começa a
baixar (a lacagem requer tempos de trabalho muitíssimo longos)
os ebanistas começam a produzir lacas de imitação chamadas
japanning. Destes, o mais conhecido é Gerhard Dagly, do que
podemos mencionar o magnífico cravo realizado em 1710 com
figuras, árvores e flores imersas num fundo azul muito claro.
Cadeira. Nesta cadeira, do início do século XVIII, unem-se motivos orientais com
elementos do estilo Queen Anne (Forma do assento e das pernas).

A Chinoiserie inglesa

Na Inglaterra, a chinoiserie tem um tal sucesso que se torna algo


mais do que uma moda, devido à produção de móveis cujo exotismo
não se manifesta apenas na utilização de lacas e decorações dos
outros países europeus, se tenta a criação de um verdadeiro estilo que
intervenha na própria forma do móvel. Nasce assim um repertório de
elementos inequivocamente orientais que vão juntar ao uso das lacas:
a simplificação geométrica das formas, a acentuação dos elementos
verticais e dos elementos verticais e dos contrastes entre vazios e

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cheios, a curvatura das costas das cadeiras, o amplo emprego de pequenas grades entrelaçadas,
com losangos ou figuras mais complexas, as pernas direitas ou ligeiramente arqueadas e os
elementos de suporte esculpidos em cana de bambu. São menos convincentes as reconstituições
que, pretende ser integrais, como a extravagante cama com pagode de autoria de chippendale, e
que na realidade não passam de invenções cenográficas. Além de Thomas chippendale, a quem
se deve o chamado Chippendale chinês, são muitos os ebanistas que produzem chinoiserie. Entre
eles, William Ince e John Mayhew, aos quais se deve uma obra de título singular. O autêntico
amigo e companheiro do construtor de móveis e cadeiras, ou sistema universal de construir
cadeiras tornado simples e fácil, publicada entre 1759 e 1763. Além do estilo chinoiserie, Ince e
Mayhew produzem móveis rococó e neogóticos.

Biombo. Constituído por seis painéis em papel de arroz


representando cenas da vida oriental, com caixilho em
madeira ebanizada, este biombo remonta a pleno
século XVIII é de origem piemontesa.

A França entre o Rococó e o


Neoclassicismo

A graça, a elegância e a fantasia


caprichosa são sem dúvida os traços
comuns que favorecem a combinação da
chinoiserie com o rococó europeu e o
francês em particular.

Poltrona executada por volta de 1760 pelos ebanistas ingleses Ince e Mayhew, em faia
pintada de brabco, apresenta no trabalho com aberturas das costas um motivo
geométrico de gosto oriental.

É a Antoine Watteu e às suas pinturas chinesas que se deve o


primeiro repertório de mandarins, templos, cortesãos, chapéus de sol e
ídolos que figurarão nos móveis laçados ao longo de todo o século
XVIII; a estes elementos seguir-seão os famosos macacos de Jean
Vérain e Claude Audran. Os móveis podem ser revestidos com as lacas
Coromandel, usadas como preciosos painéis para a aplicação, ou
pintados com o verniz Martin, imitação francesa das lacas orientais,
mas muitas vezes coexistem os dois processos. Também a marchetaria
é utilizada; menos comuns são as aplicações, nas papeleiras, de placas
de porcelana, enquanto que têm grande divulgação as aplicação em bronze dourado com figuras
de dragões e pagodes, como na famosa cômoda de 1714 de Charles Cressent (o ebanista
preferido do regente Filipe de Orleães). Entre os ebanistas que neste período produzem esplêndida
chinoiserie poderemos citar o grande Bernard II van Risen Burgh, Jean-François Leleu e Carel. No
período neoclássico as decorações tornam-se mais simples e idênticas aos modelos originais, nas
aplicações douradas os dragões são substituídos por elementos decorativos menos aparatados,
enquanto que as lacas orientais continuam a ser preferidas às francesas, como na magnífica
escrivaninha com tampo de baixar feita por Jean-Henri Riesener para Maria Antonieta, em que a
laca japonesa negra é realçada pelas aplicações de grinaldas e molduras retilíneas em bronze
dourado, tendo ao centro da faixa superior o monograma da rainha.

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Armário genovês. Caracterizado por lacas chinesas em ouro e negro
representando paisagens, figuras e motivos vegetais, apresenta uma
frente fechada por meio de portas ornadas de painéis trabalhados.

Esplendores de Veneza

A difusão da chinoiserie surge de modo


relativamente homogêneo em todos os centros italianos,
mas é na região de Veneza que se produzem os melhores
móveis laçados num estilo inconfundível, brilhante e
caprichoso. Em Veneza, o século XVIII é em grande parte
identificado com a produção de lacas que, embora de
qualidade inferior às dos países da Europa setentrional, são
quase tão boas como as produções contemporâneas
francesas e inglesas. Inicialmente, os temas decorativos
são os da iconografia tradicional: mandarins, animais,
árvores, flores, pagodes, sobre fundos muito brilhantes
numa vasta gama de cores que vão desde o verde ao
negro ou aos mais delicados tons de rosa ou marfim.
Segue-se uma fase em que impera a improvisação e,
postos de parte os motivos orientais, com a exceção de
algumas curiosas representações satóricas, desenvolve-se
uma abundância de flores, pássaros, figuras e paisagens que se conjugam com as sensuais
formas côncavo-convexas das cômodas, cadeiras, mesinhas-de-cabeceira, tremós, secretárias.
Muito divulgada é a laca pobre, fazendo-se em vez das cenas pintadas, a aplicação de estampas
coloridas representando um grande repertório de imagens: das flores às árvores, dos animais às
cenas mais diversas, bem como as típicas figuras chinesas.

Armário. Neste pequeno armário espanhol da primeira metade do século


XVIII, a moda da chinoiserie manifesta-se sobretudo na lacagem em
vermelho-coral e nos desenhos de paisagens gravados nas portas, de tipo
oriental.

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Escrivaninha. Magnífica escrivaninha com tampo de baixar,
executada por Riesener cerca de 1783 para Maria Antonieta;
apresenta na frente dois painéis de laca japonesa com paisagens e
elementos florais.

A Laca

A laca é uma resina vegetal que, misturada a


vários pigmentos (negro, vermelho), é aplicada em
camadas finas num suporte de papel ou tecido que é
colado na superfície a decorar; as camadas – cada
uma delas polida antes da aplicação da camada
seguinte – são me geral trinta, mas podem chegar a
cem. Esta base é depois pintada sempre com laca
colorida, quer embutida quer esculpida, quer ainda
acabada pela aplicação de lâminas de madrepérola
ou folhas de ouro. Na Europa, é tal o apreço pela laca
que se chega ao ponto de enviar para o Oriente
móveis para laçar e mandar de novo para o Ocidente.
Na Holanda surge uma produção de laca, chamada
japanning, com matéria prima importada, mas as
técnicas são menos morosas e os resultados
modestos. São muitas as tentativas de imitação: as melhores são as dos irmãos Martin que,
partindo de um verniz à base de resina de copal, obtém uma substância, o verniz Martin; é
constituído por numerosas camadas sobrepostas e misturado com cores ou pó de ouro, dando um
resultado semelhante ao da laca. Em Veneza divulga-se a “laca pobre”, que é aplicada nos móveis
com gravuras em papel impressas e pintados à mão, sobre os quais se passam mais camadas de
sandáraca, brilhante e transparente.

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