Etica Na Educação Fisica PDF

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LEGISLAÇÃO E ÉTICA

PROFISSIONAL

Ana Paula Maurilia dos Santos


Ética do profissional
de educação física
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Reconhecer os princípios éticos profissionais da educação física.


 Apontar dilemas éticos relacionados ao trabalho do profissional de
educação física.
 Identificar a importância da conduta ética em situações profissionais
específicas da educação física.

Introdução
Neste capítulo você vai ler sobre um importante marco histórico da
profissão de educação física: a sua regulamentação como atividade
profissional, em 1998. A partir desse momento, surgiu também a res-
ponsabilidade ética do profissional, em que se identificou a importância
de um conhecimento técnico e científico especializado e a necessidade
do desenvolvimento de competências específicas para a sua atuação,
possibilitando o atendimento a toda a sociedade com os valores e os
benefícios advindos da sua prática.
Paralelamente à regulamentação, você verá que questões éticas e mo-
rais foram surgindo e referem-se a fatores do contexto social e a questões
gerais e específicas da educação física, tais como doping, comercialização,
exercício profissional de baixa qualidade, violência, corrupção, intolerância
e injustiça social — problemas que dificultam e comprometem o exercí-
cio profissional da educação física, gerando processos de justiça social.
Por fim, convidamos você a identificar a importância da conduta ética
do profissional de educação física em meio às diversidades de campos
disciplinares tanto da saúde quanto da educação.
2 Ética do profissional de educação física

Diretrizes e princípios éticos


A ética profissional indica a soma de deveres e responsabilidades que estabe-
lece a norma de conduta do profissional no desempenho das suas atividades e
nas suas relações com o cliente e demais pessoas. A ética é indispensável ao
profissional, já que o fazer e o agir estão interligados. O fazer é a competência,
a eficiência; o agir refere-se à conduta, ao conjunto de atitudes que se assume
no desempenho da profissão (CAZELATO, 2006).
Os profissionais de educação física, como profissionais da saúde e da
educação, hoje mais do que nunca devem buscar a responsabilidade ética por
meio do diálogo com os seus alunos, clientes, amigos, familiares e colegas,
visando reforçar e fundamentar a necessidade da construção de uma sociedade
mais humana, mais solidária e mais justa (CAZELATO, 2006). A ética trata,
pois, de hábitos (virtudes), atitudes (caráter) e ações (DIAS, 2006).
O exercício profissional exige predisposição de caráter, um pendor ou uma
vocação que não se limita apenas a possíveis qualidades técnicas, mas também
a uma convicção pessoal e social de quem vai atuar nela. De acordo com
Beresford (2006), toda profissão, para ser exercida, deve estar fundamentada
em três pilares: a técnica, o aprimoramento profissional e a ética.

 A técnica está relacionada à formação científica e cultural, originada


de um conhecimento específico ou particular da ciência, que podemos
denominar lexis artis.
 O aprimoramento profissional diz respeito à atualização permanente
da técnica, demandada de modo constante pelos avanços do conheci-
mento e da própria técnica.
 A ética profissional se trata de um conjunto de valores morais aplicados
especificamente à prática de um ofício.

O profissional de educação física é especialista na prática de um conheci-


mento especializado em anatomia e fisiologia do corpo humano, desenvolvendo
exercícios e atividades que visam ao bem-estar dos indivíduos, o que significa
contribuir decisivamente para com a saúde e a qualidade de vida do ser humano
— daí a necessidade da sua formação ético-humanista (BERESFORD, 2006).
Desse modo, é dever do profissional de educação física que presta serviço
em atividades físicas e desportivas a responsabilidade ético-profissional de
atender à sociedade com competência, observados os preceitos de segurança
e qualidade técnica substanciados na ética profissional, zelando também pela
imagem da categoria (SILVA, 2017).
Ética do profissional de educação física 3

Vinte anos depois da regulamentação da profissão de educação física (Lei


nº. 9.696, de 1º de setembro de 1998), pode-se afirmar que esse ato contribuiu
sobremaneira para a ampliação dos campos de atuação do profissional no
Brasil. No decorrer desse período, delinearam-se mais claramente as possíveis
intervenções na saúde e na educação com repercussão nas dimensões social,
cultural, econômica e política. A questão ética na prestação de serviço foi
colocada como ponto central desse processo ao se instituir o código de ética
da categoria (SILVA, 2017). A partir daí, por meio da mesma lei, foi criado no
Brasil um sistema composto pelo Conselho Federal de Educação Física e pelos
Conselhos Regionais de Educação Física (Sistema Confef/Crefs) — e, com ele,
parte da legitimação social da atuação do profissional da educação física foi
assegurada (BERESFORD, 2006). A partir da lei, ficou determinado quem
são os indivíduos que estão autorizados a exercer, legalmente, as atividades
de profissional da educação física no Brasil.

A Resolução nº. 46/2002 do Conselho Federal de Educação Física diz:

O profissional de educação física é especialista em atividades físicas


nas suas diversas manifestações — ginásticas, exercícios físicos,
desportos, jogos, lutas, capoeira, artes marciais, danças, atividades
rítmicas, expressivas e acrobáticas, musculação, lazer, recreação,
reabilitação, ergonomia, relaxamento corporal, ioga, exercícios
compensatórios à atividade laboral e do cotidiano e outras práticas
corporais —, tendo como propósito prestar serviços que favoreçam o
desenvolvimento da educação e da saúde, contribuindo para a capa-
citação e/ou o restabelecimento de níveis adequados de desempenho
e condicionamento físio-corporal dos seus beneficiários, visando à
consecução do bem-estar e da qualidade de vida, da consciência,
da expressão e estética do movimento, da prevenção de doenças, de
acidentes, de problemas posturais, da compensação de distúrbios
funcionais, contribuindo, ainda, para consecução da autonomia,
da autoestima, da cooperação, da solidariedade, da integração, da
cidadania, das relações sociais e da preservação do meio ambiente,
observados os preceitos de responsabilidade, segurança, qualidade
técnica e ética no atendimento individual e coletivo (CONFEF, 2002,
documento on-line).
4 Ética do profissional de educação física

Nesse contexto, conforme preconizado pelo código de ética profissional,


a educação física afirma-se como atividade imprescindível à promoção e à
preservação da saúde e à conquista de uma boa qualidade de vida, segundo
as mais atualizadas pesquisas científicas (CONFEF, 2015).
O Código de Ética dos Profissionais de Educação Física, instrumento regu-
lador do exercício da profissão, define-se como um instrumento legitimador da
atividade, sujeito a um aperfeiçoamento contínuo que lhe permita estabelecer
os sentidos educacionais a partir de nexos de deveres e direitos. Além disso, o
exercício profissional em educação física pauta-se por princípios e diretrizes para
a atuação dos órgãos integrantes do Sistema Confef/Crefs e para o desempenho
da atividade profissional em educação física, conforme descritos no Quadro 1.

Quadro 1. Princípios e diretrizes do profissional de educação física

Princípios Diretrizes

O respeito à vida, à Comprometimento com a preservação


dignidade, à integridade e da saúde do indivíduo e da
aos direitos do indivíduo. coletividade e com o desenvolvimento
físico, intelectual, cultural e social
A responsabilidade social.
do beneficiário da sua ação.

A ausência de discriminação ou Atualização técnica e científica e


preconceito de qualquer natureza. aperfeiçoamento moral dos profissionais
registrados no Sistema Confef/Crefs.

A respeito à ética nas diversas Transparência nas suas ações e decisões,


atividades profissionais. garantida por meio do pleno acesso
dos beneficiários e destinatários às
A valorização da identidade
informações relacionadas ao exercício
profissional no campo
da sua competência legal e regimental.
da atividade física.

A sustentabilidade do Autonomia no exercício da profissão,


meio ambiente. respeitados os preceitos legais e
éticos e os princípios da bioética.

A prestação, sempre, do melhor Priorização do compromisso ético para


serviço a um número cada com a sociedade, cujo interesse será
vez maior de pessoas, com colocado acima de qualquer outro,
competência, responsabilidade sobretudo do de natureza corporativista.
e honestidade.

(Continua)
Ética do profissional de educação física 5

(Continuação)

Quadro 1. Princípios e diretrizes do profissional de educação física

Princípios Diretrizes

A atuação dentro das Integração com o trabalho de


especificidades do seu campo profissionais de outras áreas baseada
e área do conhecimento, no respeito, na liberdade e na
no sentido da educação independência profissional de cada
e desenvolvimento das um e na defesa do interesse e do
potencialidades humanas daqueles bem-estar dos seus beneficiários.
aos quais se prestam serviços.

Fonte: Adaptado de CONFEF (2015).

Assim, verifica-se que o Código de Ética do Profissional de Educação


Física propõe normatizar a articulação das dimensões técnica e social com
a dimensão ética, de forma a garantir a união de conhecimento científico
e atitude, referendando a necessidade de um saber e de um saber fazer que
venham a efetivar-se como um saber bem e um saber fazer bem (CON-
FEF, 2015). Assim, conforme a referida resolução, o ideal da profissão se
define pela prestação de um atendimento melhor e mais qualificado a um
número cada vez maior de indivíduos, tendo como referência um conjunto
de princípios, normas e valores éticos livremente assumidos, individual e
coletivamente, pelos profissionais de educação física.

Dilemas éticos e morais da intervenção


do profissional
Atualmente, e cada vez mais, a sociedade tem exigido melhores profissionais,
tanto na sua capacitação técnica quanto na sua qualidade ética. Desse modo,
além da questão da diversidade do campo de intervenção, há fatores éticos e
morais do contexto social e questões gerais e específicas da área de interven-
ção do profissional de educação física que merecem ser destacados, por se
caracterizarem como verdadeiros dilemas da prática profissional cotidiana.
A seguir, estão listados alguns dos principais dilemas (SANTOS, 2006).
6 Ética do profissional de educação física

 Há, ainda, muitos brasileiros que não têm acesso aos benefícios da
educação física e esportes. Infelizmente, muitos processos de inter-
venção na educação física e esportes não garantem a inclusão dos
participantes. Há discriminações em função de idade, sexo, religião e
nível socioeconômico. Falta respeito e valorização da diversidade e da
tolerância entre os participantes.
 Tem sido comum o uso exacerbado de substâncias ilícitas para obter
vantagens: o doping, grande flagelo do esporte atualmente. O slogan
“sem doping, sem esperança” (do inglês: no dope, no hope) tem sido
lema dos treinadores e preparadores físicos de atletas. Muitas vezes os
atletas são orientados a processos de preparação e treinamento ilícitos,
contrários às regras, em desrespeito ao espírito esportivo e à dignidade
da pessoa.
 A pedofilia tem sido um comportamento habitual em professores e
técnicos esportivos de crianças e jovens.
 O desejo de vitória a qualquer custo no contexto do esporte, muitas
vezes pressionado pelos dirigentes, tem feito com que profissionais
da educação física utilizem meios ilícitos e pouco humanitários na
preparação e treinamento de atletas.
 O alto nível de exigência na performance esportiva de crianças tem feito
com que estas deixem de viver plenamente a fase da infância, gerando
sérias consequências à vida psicológica e social delas. Precocemente,
muitas abandonam a família e os estudos para se dedicarem ao esporte.
 A formação dos profissionais de educação física às vezes é compro-
metida em relação às suas competências técnica, científica e ética. O
rápido crescimento do número de cursos universitários para formação
desse profissional no Brasil nem sempre tem sido acompanhado pelo
crescimento da qualidade do ensino.
 Lidar com os fenômenos da corrupção e da violência do contexto social
amplo faz parte do exercício profissional em educação física. Há uma
estreita comunicação entre ambos. É necessário analisá-los de forma
crítica e reflexiva.

Diante desse contexto, vale destacar que é o Sistema Confef/Crefs, com


poder delegado pela União, que regula, regulamenta, orienta e fiscaliza o
exercício da profissão de educação física. Esses órgãos de normatização
têm o importante papel de defender os interesses da sociedade em relação
aos serviços prestados pelo profissional de educação física e pelas pessoas
Ética do profissional de educação física 7

jurídicas nas áreas de atividades físicas, desportivas e similares, no universo


da educação física brasileira (SILVA, 2017).
Entretanto, para complementação dos dilemas apontados, vale destacar
os pressupostos de Barbosa (2013), que refletem a ética do profissional de
educação física alegando que o simples fato de haver um Código de Ética da
Educação Física não impede que um professor possa agir de má fé e continuar a
cometer ações imorais em sua prática profissional. Ele ainda cita que, em uma
situação hipotética extrema, como o caso de um professor que sigilosamente
troca a nota do aluno (garantindo a sua aprovação na disciplina) em troca
de “favores sexuais”, ele não deixará de fazer esse tipo de barganha apenas
porque o código de ética condena essa atitude.
Barbosa (2013) defende que seria uma grande ingenuidade acreditar que
um profissional como esse deixaria de agir de forma imoral pela simples
razão de que o Código de Ética da Educação Física, no seu art. 7, inciso IX,
afirma ser vedado ao profissional de educação física “[...] aproveitar-se das
situações decorrentes do relacionamento com seus beneficiários para obter,
indevidamente, vantagem de natureza física, emocional, financeira ou qualquer
outra” (CONFEF, 2015).

Vale lembrar o descrito na seção anterior: ao utilizarmos a palavra “ética”, estamos


fazendo referência aos princípios orientadores do agir humano, os quais estão rela-
cionados com o bom, o justo e o verdadeiro. Já a palavra “moral” se refere às condutas
ou comportamentos humanos específicos. Além disso, nesse contexto, tem-se o
termo deontologia, que trata dos aspectos relacionados com os direitos e deveres do
exercício de uma profissão, minuciados em códigos específicos (BERESFORD, 2006).

Por fim, acredita-se que haverá sempre novos dilemas e controvérsias no


mundo da educação física. Conforme Dias (2006), cabe ao profissional de
educação física contemporâneo reconhecer que:

 esta é uma área do conhecimento que tem sua inserção como prática
social;
 a intencionalidade, em qualquer das suas atividades, é educativa;
8 Ética do profissional de educação física

 a concepção de educação que norteia suas ações está afinada com


uma prática reflexiva, crítica e criativa concretamente praticada em
defesa da vida.

Profissionalização e ética na educação física


A consolidação do profissional de educação física, por meio da sua regula-
mentação profissional, visa assegurar à sociedade o direito de receber serviços
prestados por profissional qualificado, habilitado e ético. No centro dessa
incursão, podemos pressupor que o profissional ético se encontra dentro de um
círculo virtuoso, contribuindo para o processo de formação de uma população
ativa e com hábitos saudáveis, o que pode levar ao aumento da demanda por
mais profissionais habilitados inseridos no mercado de trabalho (SILVA, 2017).
Progressivamente essa profissão tem se consolidado com o profissional de
educação física, reafirmando sua importância em colaborar para a formação
de uma população detentora de hábitos saudáveis. Atualmente tem-se verifi-
cado a imperiosa necessidade de a sociedade ser atendida por um profissional
bacharel e/ou licenciado e habilitado, cuja prestação de serviço fundamenta-se
na ética profissional, essência e fio condutor da sua intervenção (SILVA, 2017).
A autora pondera que, na medida em que se delineavam legalmente os
cursos de bacharelado e licenciatura, evidenciou-se cada vez mais o valor
das atividades físicas e desportivas como fenômeno social relevante tanto na
saúde quanto na educação. Desse modo, tornou-se imperativa a obrigatoriedade
legal de que essas atividades profissionais fossem conduzidas, orientadas e
ministradas por profissionais qualificados. Silva (2017, p. 39) afirma ainda
que “[...] ser qualificado, então, passou a significar que o profissional de
educação física é objetivamente conhecedor das exigências de qualidade e de
ética profissional”. Desse modo, considerando as exigências de qualidade e de
ética profissional nas intervenções, o profissional de educação física deverá
estar capacitado para (CONFEF, 2002, documento on-line):

• Compreender, analisar, estudar, pesquisar (profissional e academicamente),


esclarecer, transmitir e aplicar os conhecimentos biopsicossociais e pedagógi-
cos da atividade física e desportiva nas suas diversas manifestações, levando
em conta o contexto histórico-cultural;
• Atuar em todas as dimensões do seu campo profissional, o que supõe pleno
domínio da natureza do conhecimento da educação física e das práticas
essenciais da sua produção, difusão, socialização e de competências técnico-
-instrumentais a partir de uma atitude crítico-reflexiva e ética;
Ética do profissional de educação física 9

• Disseminar e aplicar conhecimentos práticos e teóricos sobre a educação


física (atividade física/motricidade humana/movimento humano), analisando-
-os na relação dinâmica entre o ser humano e o meio ambiente;
• Promover uma educação efetiva e permanente para a saúde e a ocupação
do tempo livre e de lazer, como meio eficaz para a conquista de um estilo de
vida ativo e compatível com as necessidades de cada etapa e condições da
vida do ser humano;
• Contribuir para a formação integral de crianças, jovens, adultos e idosos,
no sentido de que sejam cidadãos autônomos e conscientes;
• Estimular e fomentar o direito de todas as pessoas à atividade física, por
vias formais e/ou não formais;
• Promover estilos de vida saudáveis, conciliando as necessidades de indivíduos
e grupos, atuando como agente de transformação social;
• Conhecer e utilizar os recursos tecnológicos inerentes à aplicação profis-
sional.

Nas situações profissionais específicas no âmbito da Intervenção do Pro-


fissional de Educação Física, a atividade física compreende a totalidade de
movimentos corporais, executados no contexto de diversas práticas: ginásticas,
exercícios físicos, desportos, jogos, lutas, capoeira, artes marciais, danças,
atividades rítmicas, expressivas e acrobáticas, musculação, lazer, recreação,
reabilitação, ergonomia, relaxamento corporal, ioga, exercícios compensatórios
à atividade laboral e do cotidiano e outras práticas corporais. A atividade
esportiva se aplica, ainda, na promoção da saúde e em âmbito educacional de
acordo com diagnóstico e/ou conhecimento especializado, em complementação
a interesses voluntários e/ou organização comunitária de indivíduos e grupos
não especializados.
De acordo com Cazelato (2006), toda intervenção desse profissional deve
seguir uma sequência de procedimentos, comumente encontrados no campo da
gestão, que estabelece sempre a necessidade de avaliação do contexto; desen-
volvimento de diagnóstico; identificação das qualidades do problema; análise
das competências que possui, visando à resolução do problema; verificação das
possibilidades de atendimento com benefícios; decisão dos procedimentos mais
adequados a serem adotados; desenvolvimento da intervenção propriamente
dita; e avaliação dos resultados alcançados.
Diante de todo o exposto, no Quadro 2 verificamos as diversas intervenções
dos profissionais de educação física com suas respectivas definições (capacita-
ção, competências e atribuições necessárias e possíveis) para dinamização das
atividades físicas, desportivas e similares. “Trata-se, portanto, de documento
conjuntural que, ao longo do tempo, paralelamente à evolução histórica, so-
cial e profissional, poderá (e deverá) sofrer atualizações” (CONFEF, 2002,
documento on-line).
10 Ética do profissional de educação física

Quadro 2. As especificidades da intervenção profissional

Regência/ Intervenção: identificar, planejar, programar, organizar, dirigir,


Docência coordenar, supervisionar, desenvolver, avaliar e lecionar os
em educa- conteúdos do componente curricular/disciplina educação
ção física física, na educação infantil, no ensinos fundamental, médio e
superior, e nas atividades de natureza técnico-pedagógicas
(ensino, pesquisa e extensão), no campo das disciplinas de
formação técnico-profissional no ensino superior, objetivando
a formação profissional.

Treinamen- Intervenção: identificar, diagnosticar, planejar, organizar, dirigir,


to despor- supervisionar, executar, programar, ministrar, prescrever, desen-
tivo volver, coordenar, orientar, avaliar e aplicar métodos e técnicas
de aprendizagem, aperfeiçoamento, orientação e treinamento
técnico e tático, de modalidades desportivas, nas áreas formal
e não formal.

Preparação Intervenção: diagnosticar, planejar, organizar, supervisionar,


física coordenar, executar, dirigir, programar, ministrar, desenvolver,
prescrever, orientar e aplicar métodos e técnicas de avaliação,
prescrição e orientação de atividades físicas, objetivando pro-
mover, otimizar, reabilitar, maximizar e aprimorar o funciona-
mento fisiológico orgânico, o condicionamento e o desempe-
nho físico dos praticantes das diversas modalidades esportivas,
acrobáticas e artísticas.

Avaliação Intervenção: diagnosticar, planejar, organizar, supervisionar,


física coordenar, executar, dirigir, programar, ministrar, desenvolver,
prescrever, orientar, identificar necessidades, desenvolver
coleta de dados e entrevistas, aplicar métodos e técnicas de
medidas e avaliação cineantropométrica, biomecânica, mo-
tora, funcional, psicofisiológica e de composição corporal, em
laboratórios ou no campo prático de intervenção, com o obje-
tivo de avaliar o condicionamento físico, os componentes fun-
cionais e morfológicos e a execução técnica de movimentos,
objetivando orientar, prevenir e reabilitar o condicionamento e
o rendimento físico, técnico e artístico dos beneficiários.

Recreação Intervenção: diagnosticar, identificar, planejar, organizar,


em ativida- supervisionar, coordenar, executar, dirigir, assessorar, dinamizar,
de física programar, ministrar, desenvolver, prescrever, orientar, avaliar e
aplicar atividades físicas de caráter lúdico e recreativo, objeti-
vando promover, otimizar e restabelecer as perspectivas de
lazer ativo e bem-estar psicossocial e as relações socioculturais
da população.

(Continua)
Ética do profissional de educação física 11

(Continuação)

Quadro 2. As especificidades da intervenção profissional

Orientação Intervenção: diagnosticar, planejar, organizar, supervisionar,


de ativida- coordenar, executar, dirigir, assessorar, dinamizar, programar,
des físicas desenvolver, prescrever, orientar, avaliar, aplicar métodos e
técnicas motoras diversas, aperfeiçoar, orientar e ministrar os
exercícios físicos, objetivando promover, otimizar, reabilitar
e aprimorar o funcionamento fisiológico orgânico, o condi-
cionamento e o desempenho fisiocorporal, e orientar para o
bem-estar e o estilo de vida ativo, o lazer, a sociabilização, a
educação, a expressão e a estética do movimento, a preven-
ção de doenças, a compensação de distúrbios funcionais, o
restabelecimento de capacidades fisiocorporais, a autoestima,
a cidadania e a manutenção das boas condições de vida e da
saúde da sociedade.

Gestão em Intervenção: diagnosticar, identificar, planejar, organizar,


educação supervisionar, coordenar, executar, dirigir, assessorar, dinamizar,
física e programar, ministrar, desenvolver, prescrever, prestar consul-
desporto toria, orientar, avaliar e aplicar métodos e técnicas de avaliação
na organização, administração e/ou gerenciamento de institui-
ções, entidades, órgãos e pessoas jurídicas cujas atividades-fim
sejam atividades físicas e/ou desportivas.

Fonte: Adaptado de CONFEF (2002).

Para Dias (2006), as vivências concretas implicadas nas intervenções do


profissional de educação física transcorrem em certa diversidade de campos
disciplinares. Há grandes complementaridades nas práticas educativas e prá-
ticas de vida e saúde. Já que:

[...] tanto a educação como a saúde já são, em si mesmas, a ética e a bioética


na preparação e na intervenção do profissional de educação física em prá-
ticas interdisciplinares, porquanto se valem de muitas outras disciplinas do
saber, tais como: biologia, sociologia, psicologia, antropologia e outras tantas,
conforme os interesses mais peculiares das situações que se apresentam na
evolução da sociedade (DIAS, 2006, p. 62).

Desse modo, os profissionais de educação física também vão enfrentando


o desafio de lidar com essas vertentes biológicas e sociais, ambas compostas
de estudos e atuações interdisciplinares. É nessa complexidade que se dá a
vivência concreta do profissional de educação física.
12 Ética do profissional de educação física

Além da Lei nº. 9.696/1998, que dispõe sobre a regulamentação da profissão de edu-
cação física e cria o Confef e os Crefs complementarmente outros documentos nor-
malizadores foram elaborados ou aperfeiçoados com o objetivo de alinhar demandas
de um novo mercado de trabalho que se delineava e a nova profissão que emergia
para atender à demanda da sociedade (SILVA, 2017).
Entre as principais normativas, podemos citar:
 Resolução do Conselho Nacional de Saúde (CNS) nº. 218, de 6 de março de 1997
— reconhece como profissional de saúde de nível superior o profissional de edu-
cação física;
 Resolução CNS nº. 287, de 8 de outubro de 1998 — relaciona as categorias profis-
sionais de saúde de nível superior para fins de atuação no Conselho;
 Resoluções do Conselho Nacional de Educação/Conselho Pleno (CNE/CP) nº. 1, de
18 de fevereiro de 2002, e nº. 2, de 19 de fevereiro de 2002 — ambas revogadas
pela atual Resolução CNE/CP nº. 2, de 1º de julho de 2015, que define as Diretrizes
Curriculares Nacionais para a formação inicial em nível superior nos cursos de
licenciatura, de formação pedagógica para graduados e de segunda licenciatura,
bem como para a formação continuada hoje vigente;
 Resoluções do Conselho Nacional de Educação/Conselho de Educação Superior
(CNE/CES) nº. 7, de 31 de março de 2004, e nº. 4, de 6 de abril de 2009 — relativas
ao curso de bacharelado.
As Resoluções CNE/CP nº. 2/2015 e CNE/CES nº. 4/2009 foram recentemente revo-
gadas pela Resolução CNE/CES nº. 6, de 18 de dezembro de 2018.

BARBOSA, C. L. A. Ética na educação física. São Paulo: Vozes, 2013.


BERESFORD, H. Valores éticos e morais no sistema CONFEF/CREFs: contextualização,
conceituação e implicação científica. In: TOJAL, J. B.; BARBOSA, A. P. (org.). A ética e a
bioética na preparação e na intervenção do profissional de educação física. Belo Horizonte:
Casa da Educação Física, 2006.
CAZELATO, J. A. M. Preparação profissional para uma intervenção ética. In: TOJAL, J. B.;
BARBOSA, A. P. (org.). A ética e a bioética na preparação e na intervenção do profissional
de educação física. Belo Horizonte: Casa da Educação Física, 2006.
CONFEF. Resolução nº. 046, de 18 de fevereiro de 2002. Dispõe sobre a Intervenção do
Profissional de Educação Física e respectivas competências e define os seus campos
de atuação profissional. Diário Oficial da União, Brasília, 2002. Disponível em: https://
www.confef.org.br/confef/resolucoes/82. Acesso em: 10 abr. 2019.
Ética do profissional de educação física 13

CONFEF. Resolução nº. 307, de 9 novembro de 2015. Dispõe sobre o Código de Ética dos
Profissionais de Educação Física registrados no Sistema CONFEF/CREFs. Diário Oficial da
União, Brasília, 2015. Disponível em: https://www.confef.org.br/confef/resolucoes/381.
Acesso em: 10 abr. 2019.
DIAS, J. M. Ética e bioética nas intervenções profissionais da educação física. In: TOJAL, J.
B.; BARBOSA, A. P. (org.). A ética e a bioética na preparação e na intervenção do profissional
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SANTOS, A. R. R. Ética e deontologia ética e deontologia da educação física da edu-
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Leituras recomendadas
TOJAL, J. B.; BARBOSA, A. P. (org.). A ética e a bioética na preparação e na intervenção do
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em: https://www.listasconfef.org.br/arquivos/etica/A.Etica.e.a.Bioetica.4.pdf. Acesso
em: 10 abr. 2019.
TOJAL, J. B.; DACOSTA, L. P.; BERESFORD, H. Ética profissional na educação física. [S. l.]:
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