A Leitura No Estudo
A Leitura No Estudo
A Leitura No Estudo
PLANO DO CAPÍTULO
Introdução
A selecção do que ler
Treinamento e ambiente
Rendimento e rapidez
A vez do vocabulário
INTRODUÇÃO
Até agora esta parte prática discorreu sobre pontos básicos, tomando o estudo como um todo.
Agora devemos aprofundar a metodologia do estudo a um dos itens mais significativos: a
leitura.
Não basta, porém, ser alfabetizado para realmente saber ler. Há leitores, por exemplo, que
deixam os olhos passarem pelas palavras enquanto sua mente voa por esferas distantes. Esses
lêem apenas com os olhos. Só percebem que não leram quando chegam ao fim de uma página,
um capítulo ou um livro. Então, devem recomeçar tudo de novo porque de facto não
aprenderam a ler.
Sim, é preciso ler, mas também é preciso saber ler. De nada adianta devorar um livro de
duzentas páginas em algumas dezenas de minutos, horas ou dias se, ao terminar a leitura, não se
pode dizer nada sobre o que se acabou de ler. O tempo gasto em leituras assim é inteiramente
desperdiçado. A quantidade de leitura é sempre significativa, mas somente quando assimilada
de maneira adequada, ou seja, quando aproveitada. Caso contrário, é como se ir a um concerto
sinfônico e dormir. Há gente que faz exactamente isso e depois discute o desempenho do
maestro. Aqueles que só lêem com os olhos e não com a mente enganam-se a si próprios.
Cabe, porém, distinguir duas espécies de leitura: uma que se pratica para cultura geral, de
entretenimento desinteressado, outra que requer atenção especial, profunda concentração
mental e que é realizada por necessidade de saber.
A segunda espécie de leitura é a que se faz para aprender alguma coisa ou para aprofundar o
conhecimento que se tem de alguma coisa. Essa geralmente é efectuada em livros e revistas
1
especializadas e é nela que vamos nos deter agora, poi quase sempre os estudantes encontram
em tal espécie de leitura um obstáculo difícil de vencer no estudo.
A leitura proveitosa ao estudo requer sempre dedicada atenção do leitor. Pode-se mesmo dizer
que atenção e concentração mental constituem o primeiro requisito indispensável para uma
leitura eficiente. Não é o único, mas sem ele de nada adianta tentar melhorar o rendimento do
que se lê buscando desenvolver outros itens. Sem dedicar atenção ao texto que está diante de
nossos olhos e sem nele concentrar nossa actividade mental, em verdade não se lê.
Por outro lado, sobretudo para o estudante que tem de ssimilar grande quantidade de livros
indicados nas bibliografias das diferentes disciplinas, a leitura veloz é também uma imposição
de nossa época. Se já nos parece que o tempo disponível não dá para a realização de tudo o que
se tem de fazer nas vinte e quatro horas do dia, como nos permitir ao luxo de leituras lentas, que
se arrastam por dias, semanas e meses?
E, por acaso, é possível conciliar leitua atenta e proveitosa com leitura necessariamente veloz?
2
aspectos que subestimamos. Discutir é também uma forma de melhor analisar e avaliar
o que se lê.
6. Aplicar o que se lê. Embora mais difícil do que a discussão, a aplicação do se aprende
na leitura não é menos importante. Obviamente deve-se aplicar apenas aquilo que é
possível de aplicação. Por exemplo, se você acaba de ler que a força de gravidade tem
poder de curvar os raios luminosos, provavelmente não terá oportunidade de aplicar
esse conhecimento em um trabalho de História – a menos que tenha um motivo muito
sólido para isso. Mas esse seu novo conhecimento possivelmente terá apliacação em um
próximo trabalho de Física. A aplicação ajuda a consolidar a absorção dos novos
conhecimentos.
O estudante que deseja melhorar o desempenho no estudo deve, portanto, estar atento para
ler de tudo, livros, folhetos, revistas etc., desde que a leitura lhe forneça alguma fonte de
prazer cultural. Por isso, é indispensável que visite livrarias especializadas e saiba localizar
o material que deseja. Mas isso não significa que deva tornar a leitura uma actividade
exclusiva da sua área específica de estudos. É bom e proveitoso ler e conhecer outros
assuntos. Isso tornar-se-á mais fácil quando conseguir desenvolver a velocidade e a
capacidade de absorção da leitura.
RESUMO ESQUEMÁTICO
Observamos que todo intelectual tem necessidade imperiosa de ler constantemente e sente
prazer nisso. Mas, como ler com proveito real se a cada dia surgem mais livros sobre os
mais diversos assuntos? A única maneira conhecida de se solucionar o problema é
desenvolvendo a habilidade de seleccionar a leitura.
Mencionamos antes que a leitura proveitosa deve ter sempre um propósito claro. Realmente,
quem estuda um texto tem por objectivo aprender algo, rever detalhes ou buscar resposta
para certas indagações. Então, a leitura é feita para cumprir uma obrigação, mesmo que esse
compromisso seja apenas para com a própria honestidade intelectual. Ora, sendo assim, é
3
evidente que nem todos os textos servem ao objectivo de um determinado estudo. A maioria
não serve. E dos que sobram da primeira seleccção geral é preciso ainda distinguir aqueles
nos quais se pode confiar daqueles que, por qualquer razão, não são de muita confiança. O
problema está em saber como seleccioná-los previamente.
Seria tarefa insana – se não mpossível – ter de ler tudo que existe sobre o assunto do estudo
para, só depois dessa actividade extenuante e nada prática, estar-se em condições de
seleccionar o que serve e deixar de lado o que não serve. Obviamente as pessoas que têm
grande intimidade com o hábito de estudar e lêem constantemente encontram maior
facilidade para efectuar uma seleccção prévia de sua leitura. O simples facto de
frequentarem bibliotecas e livrarias já lhes dá grande vantagem nesse sentido. Esses leitores
são capazes de identificar com rapidez uma obra que lhes interessa, porque geralmente já
possuem informações sobre o autor ou sobre a obra em questão. Mas, e os estudantes que
estão se iniciando na vida intelectual não dispoem ainda de bagagem cultural suficiente?
Como poderão seleccionar previamente seu material de leitura para tornar seu estudo mais
proveitoso?
A medida que ganhar familiaridade com as obras lidas e o mundo intelectual em geral, o
estudante poderá dispensar as consultas ao mestre, pois desenvolverá de forma progressiva
sua própria habilidade de seleccionar previamente sua leitura.
O desenvolvimento dessa habilidade, no entanto, poderá ser mais rápido se for bem
orientado. É essa orientação que apresentamos a seguir.
Toda a vez que um livro lhe despertar interesse, tome-o nas mãos e examine-o – ainda que
sumariamente – para verificar do que se trata. Passe os olhos pelo título ( e subtítulos, se
houver), “orelhas” da capa e nome do autor. Verifique se há alguma apresentação do autor,
se ele possui títulos profissionais e é autoridade no assunto. Depois vá ao índice; muitas
vezes você consegue descobrir o plano do livro através do índice e, assim, ter uma ideia de
como se desenvolve a explanação. Em seguida, faça uma rápida leitura do prefácio. Em
geral, quando escrito pelo próprio autor, o prefácio equivale a uma introdução da obra e
expõe seu objectivo. Quando escrito por outra pessoa que não o autor, quase sempre o
prefácio traz uma apresentação deste, ressalta suas principais qualidades e enfoca a obra de
maneira mais abrangente, relacionando-a com a literatura existente na área. De um modo ou
de outro, não despreze o prefácio – ele sempre fornece informações preciosas para a
selecção prévia.
Lido o prefácio, consulte a lista bibliográfica indicada pelo autor. Frequentemente ela se
encontra nas páginas finais do livro e permite que você tenha uma noção mais precisa sobre
4
as bases em que o autor apoiou o texto. Finalmente, observe o nome da editora, o número da
edição e a data da publicação. É difícil que uma editora de prestígio lance uma obra sem
qualidade, na qual você não possa confiar. Mas, atenção, editoras de renome também
lançam livros inexpressivos e, às vezes, livros realmente significativos são publicados por
pequenas editoras. Por outro lado, o número da edição poderá informar-lhe se você tem em
mão um livro já consagrado por sucessivas reedições ou se é obra que ainda não mereceu
maior atenção dos estudiosos. Evidentemente, tratando-se de uma primeira edição, a dta de
publicação é fundamental para esse julgamento, pois pode ser que o livro tenha sido lançado
recentemente.
Feito isso, você já disporá de um bom número de informações para decidir se o livro vale a
pena ser lido agora, se sua leitura deverá ser postergada para outra ocasião, ou se não
merece maior atenção. Caso restem dúvidas, tenha paciência e procure obter mais dados
conclusivos. Tratando-se de livro recente, comece por informar-se sobre a obra e o autor
através da leitura das secões especializadas de jornais e revistas. Se a obra é clássica,
consulte uma enciclopédia, a opinião do professor e de alguns colegas. Tudo isso é de
grande valia na opção entre este ou outro livro.
E aqui vai uma última recomendação nesse sentido: habilitue-se a formar seu próprio
arquivo de fontes de leitura e dê início à formação de sua biblioteca pessoal. Ao descobrir
uma obra importante para a sua área de estudo, trate de adquiri-la. Os livros são
instrumentos de trabalho e uma biblioteca seleccionada poderá prestar serviços
inestimáveis à sua vida académica e profissional.
Uma biblioteca pessoal não precisa ser grande, basta que seja bem seleccionada. Você pode
iniciá-la com livros indicados na lista bibliográfica de seu curso, adquirindo sobretudo as
obras citadas como fundamentais. Deixe para segundo plano as complementares. Mas
desde o início nã dispense a posse de um bom dicionário geral da língua e de um dicionário
especializado na área de seu estudo.
RESUMO ESQUEMÁTICO
A orientação prática para a selecção prévia da leitura adequada ao estudo pode resumir-se nos
seguintes passos principais:
1. Examinar o livro que desperta o interesse. Verificar título, autor, informações nas capas, sumário
ou índice, prefácio ou introdução, bibliografia, editora, número da edição e data da publicação.
2. Tratando-se de livro recente e havendo dúvida quanto à sua validade, consultar seccções de
resenhas de livros em revistas especializadas e jornais. Tratando-se de obra clássica, consultar
enciclopédias ou a opinião de um especialista no assunto.
3. Formar arquivo e biblioteca pessoal de fontes de consulta.
TREINAMENTO E AMBINTE
Quem estuda um texto não pode alienar-se dele. Como indica Paulo Freire “ Estudar
seriamente um texto é estudar o estudo de quem, estudando, o escreveu. (...) É buscar as
relações entre o conteúdo em estudo e outras dimensões afins do conhecimento. Estudar é
uma forma de reinventar, de recriar, de reescrever – tarefa de sujeito e não de objecto “
(21:p.11). O estudo de um texto, portanto, exige concentração e reflexão.
Consequentemente, a leitura de estudo proveitosa depende também de treinamento,
5
sobretudo para pessoas que têm pouco hábito de concentrar-se e reflectir. O leitor treinado
no estudo de textos vence qualquer barreira psicológica momentânea que possa impedir sua
interacção com o que lê, sempre encontra estímulo interior suficiente para prosseguir no
estudo e é capaz de superar a ausência de condições ambientais ideais para efectuar seu
estudo.
Tal treinamento, porém, não se faz de um dia para outro. Ao contrário, na grande maioria
das vezes requer tempo, paciência e persistência por parte de quem treina. Embora o
resultado final dependa sempre do indivíduo, qualquer pessoa decidida melhora o
rendimento de sua leitura se, realmente dedicar-se a esse objectivo. Vejamos como isso é
possível.
A primeira providência para iniciar o treinamento do estudo pela leitura consiste em dispor
de condições ambientais que permitam ao leitor sentir-se fisicamente confortável para
dedicar toda a sua atenção ao que lê. Ruídos estridentes, má iluminação, agitação próxima e
posição defeituosa do corpo constituem elementos que perturbam a concentração mental e
conduzem à dispersão do pensamento. É difícil compreender o que alguém tenta nos dizer
quando estamos em ambientes saturados de ruídos perturbadores. Do mesmo modo, é
difícil captar o sentido do que se lê quando as condições ambientais não são propícias para a
leitura.
Há estudantes que estão habituados a realizar suas tarefas enquanto ouvem música. O
hábito, em si, nada tem de negativo. A música (...) pode exercer uma influência
estimulante. Contudo, para os que não estão habituados a dominar sua capacidade de
concentração, a música, mesmo suave, pode significar mais um elemento de dispersão
mental e deve ser evitada. Depois, quando o estudante sentir que o treinamento surtiu efeito
e que sua concentração já obedece à vontade consciente, seu estudo poderá ser embalado
pelo som que lhe aprouver.
Quanto à iluminação, é claro que mesmo a de uma vela pode bastar. No entanto, iluminação
ideal é aquela que sendo forte, ilumina o texto sem causar desnecessária fadiga aos olhos. A
leitura realiza-se através do sentido da visão, cujos instrumentos delicados são os olhos.
Portanto, nunca é demais preservá-los em bom estado de saúde e eficiência, pois olhos
cansados ou doentes não podem desempenhar correctamente sua função.
De facto, para o estudante que começa o treinamento, ambiente e luminosidade devem ser
cuidadosamente escolhidos, de modo a que facilitem a compreensão e a assimilação do
texto. Mas a posição adoptada pelo leitor não é menos importante. Embora cada pessoa
tenha uma posição preferida para sentir-se à vontade, é sempre aconselhável ler sentado
para estudar. Todos os diferentes métodos e técnicas de leitura produtiva indicam que a
posição adoptada pelo leitor deve permitir-lhe enxergar e respirar normalmente e que sua
posição corporal não deve provocar-lhe sono ou cansaço em pouco tempo. Não há
6
nenhuma obrigatoriedade quanto à posição sentada, mas, como já mencionámos, o estudo
pela leitura requer apontamentos e anotações, o que habitualmente se faz em uma mesa e,
de preferência, sentado.
Antes de dar início à leitura é recomendável um prévio preparo do local de trabalho. Essa
preparação consiste em deixar à mão o caderno ou as fichas de apontamentos, um lápis para
sublinhar os trechos importantes do texto, uma caneta para fazer as anotações, um
dicionário da língua e demais obras de consulta requerida pelo estudo.
Por último, o preparo psicológico constitui a derradeira condição que, embora não sendo
ambiental, aparece aqui por ser facilitada pelo sossego do ambiente e postura do leitor.
Antes de começar a leitura é necessário livrar a mente de todos os problemas não
directamente relacionados ao estudo do que se vai ler. Pessoas habituadas à leitura
proveitosa são capazes de atingir esse grau de abstração a qualquer momento e sem
esforço. Mas o mesmo não ocorre com iniciantes no treinamento. Em geral eles não
conseguem fixar a atenção no texto porque sua mente está ocupada - e até superlotada –
com pensamentos que os alienam inteiramente da leitura. Quando isso acontece, os olhos
passam mecanicamente pelas palavras sem nada comunicar à mente, porque esta está
perdida em seu “ ruído interior “.
Cada indivíduo pode desenvolver seu processo pessoal de chegar ao “ silêncio interior “. No
entanto, uma das técnicas que têm produzido resultados significativos com numerosos
estudantes é a da preparação mental por alguns minutos, buscando a concentração de olhos
fechados. Trata-se de uma atitude, uma postura ante a tarefa, semelhante à do atleta que vai
saltar de um trampolim – um momento de total concentração no objectivo que deseja
alcançar. Obtido o estado mental desejado, resta apenas partir para a acção.-
RESUMO ESQUEMÁTICO
O treinamento para concentração total no texto em estudo pode ser resumido nas seguintes
providências:
RENDIMENTO E RAPIDEZ
Há criaturas que, embora tentando concentrar-se no texto, são incapazes de absorver o conteúdo
do que lêem. Em geral essa dificuldade se manifesta devido à ausência de velocidade e ritmo
adequados à leitura. Normalmente não é possível absorver-se um conteúdo filosófico, estudado
e meditado pelo autor de uma doutrina, com a mesma facilidade com que se assiste, e absorve, a
um espectáculo circense ou a um programa de variedades na televisão. Mas também não se
7
pode fazer a leitura de um texto filosófico, teórico, com tanta lentidão que ao chegar ao final de
um parágrafo já não nos lembremos do seu início. É preciso que nossos olhos leiam com ritmo
e a velocidade da mente.
Quase sempre essa velocidade é a mesma com que falamos, narramos alguma coisa, explicamos
um facto a alguém. Por esse motivo, durante o treinamento deve-se adoptar, sempre que
possível, a prática da leitura oral. Ler em voz alta é também um exercício de ritmo de leitura.
Ele permite maior emprego da mente, pois esta quase sempre tem de perceber de forma mais
consciente o que é lido para comandar a acção dos órgãos da expressão oral. E aos poucos vai-
se adquirindo a capacidade de ler em voz alta sem tropeços, com expressão e até com certa
riqueza de interpretação – o que torna a leitura mais agradável e proveitosa. Em verdade essa
interpretação é significativa porque, ao fazer as pontuações e as modulações da voz com
naturalidade ( como quem expressa o que pensa ), o leitor tem de entender o que está lendo.
Por outro lado, numerosos cursos de leitura silenciosa desenvolveram técnicas dinâmicas para
acelerar a velocidade do acto de ler sem prejuízo da compreensão do texto. Uma dessas técnicas
relaciona-se com o emprego dos olhos e condena o hábito de ler sílaba por sílaba ou mesmo
palavra por palavra. O leitor “ eficiente “ deve abarcar no seu campo de visão todo um grupo de
palavras ou unidades de pensamento expressas no texto.
Numerosas experiências comprovam que, ao ler, o olho não percorre em movimento contínuo as
linhas impressas, mas o faz aos saltos, numa sequência constante de deslocamento – fixação –
deslocamento – fixação e assim por diante. Enquanto se desloca, não há leitura absorvível.
Somente quando se fixa sobre uma palavra ou grupo de palavras é que o leitor comum absorve,
assimila, capta o que está lendo.
Essa afirmação pode ser comprovada mediante um exemplo clássico, utilizado pelos
especialistas, que consiste no seguinte. Percorra com os olhos continuamente, sem fazer pausa,
as linhas abaixo.
João retornou decididamente à Medicina no momento em que sofria muito seu pequeno amigo
Joel acidentado na casa vizinha cuja escada tinha degraus mais altos que a sua casa.
Se seus olhos moveram-se continuamente, sem parar um só instante, com certeza você não
captou o sentido do que acabou de ler. Agora, leia o mesmo texto com o ritmo e a velocidade
habituais de sua leitura.
João retornou decididamente à Medicina no momento em que sofria muito seu pequeno amigo
Joel acidentado na casa vizinha cuja escada tinha degraus mais altos que a sua casa.
Nesta segunda leitura seus olhos fizeram paradas, detendo-se em grupos de palavras ou em
palavras isoladas. E foram essas pausas ( paradas ou momentos de fixação ) que lhe permitiram
compreender o sentido do que leu. Faça novamente uma leitura das linhas. Desta vez, porém,
marque com um lápis os locais em que seus olhos fizeram pausas. É provável que sua leitura
normal tenha se processado assim:
João retornou decididamente à Medicina / pausa / no momento em que sofria muito seu
pequeno amigo Joel / pausa / acidentado na casa vizinha / pausa / cuja escada tinha degraus
mais altos que a sua casa.
8
Dissemos se “ provável “ que suas pausas tenham tido a localização do exemplo acima porque
cada leitor tem sua forma pessoal, própria, de reagir à leitura. Essa reacção não é automática
nem mecânica, mas processa-se de acordo com a percepção de cada um diante da situação.
Esse é o motivo pelo qual as pausas podem ocorrer em locais diferentes e abrangendo grupos
com diferentes números de palavras. Se a reacção fosse mecânica, os olhos encontrariam o
momento da pausa depois de percorrerem um número igual de sílabas ou de palavras, ou uma
extensão determinada da linha impressa.
Por essa razão, no exemplo dado acima foi abolida a pontuação: deveria haver vírgula após as
palavras “Medicina” e “Joel”. Mas como a pontuação tem por finalidade: 1) assinalar as pausas
e a entoação na leitura; 2) separar palavras, expressões e orações que devem ser destacadas; 3)
esclarecer o sentido da frase, afastando qualquer ambiquidade – seu emprego prejudicaria a
compreensão do que se desejava demonstrar, pois induziria a localização das pausas de fixação
dos olhos do leitor.
Retornando à questão da velocidade na leitura proveitosa, cremos ter deixado claro que campo
de visão, quanto à leitura, é o número de palavras que os olhos são capazes de absorver numa
única parada. Quando encontram seu momento de fixação eles enfocam uma palavra, mas são
capazes de captar outras tantas à esquerda e à direita da enfocada. Ora, quanto maior for o
número de palavras captadas entre uma pausa e outra, maior será o campo de visão do leitor. E
quanto mais amplo for seu campo de visão, melhor será a leitura, pois em cada parada poderá
absorver maior quantidade de texto, ou seja, abranger maior “extensão” do conteúdo expresso
pelas palavras. Em oposição, o campo de visão estreito limita-se à palavra isolada, levando o
leitor a retroceder na leitura porque sua percepção ( demasiadamente interrompida pelas pausas
e carente do ritmo apropriado ) acaba ligando palavras sem sentido.
Finalmente, a leitura é melhor quanto mais curta é a pausa de fixação dos olhos. A duração da
pausa é também um problema importante porque está directamente relacionada com a
sustentação da atenção do leitor no texto: quanto mais lenta é a leitura, mais facilmente a
atenção se dispersa. O uso da imaginação, o emprego da criatividade mental, a atitude crítica e a
reflexão são elementos imprescindíveis ao estudo. Mas isso nada tem a ver com a distracção na
leitura, que apenas provoca os famigerados “vôos” da mente para situações alheias ao texto e
causa cansaço sem nada produzir.
O melhor rendimento no estudo, portanto, pede leitura mais veloz. Àqueles que pretendem ser
“campeões de velocidade” costuma-se recomendar que frequentem cursos especiais de leitura.
Esses cursos desenvolveram técnicas altamente especializadas de leitura diagonal. Em síntese,
essas técnicas demonstram que a leitura proveitosa também se faz através de um traçado
diagonal invisível, que liga a primeira à última palavra de um parágrafo ou de uma página. Ou
seja, não apenas quando se lê linha por linha.
Não cabe aqui detalhar normas e regras aplicadas pelos cursos de leitura diagonal, pois o que se
pretende é apenas instrumentar o estudante para o estudo mais eficiente. Contudo, como a
9
velocidade de leitura é um dos requisitos para implementar a eficiência, recomenda-se que
durante o treinamento seja praticado o seguinte exercício:
Ao terminar a leitura de uma linha, passe rapidamente da última palavra dessa linha para a
primeira palavra da linha de baixo, mas fixe-se mais nas palavras que se encontram no centro
das linhas.
Persistindo nesse exercício, em pouco tempo sua leitura terá alcançado velocidade satisfatória
sem prejuízo da compreensão do texto.
RESUMO ESQUEMÁTICO
O treinamento para adquirir-se ritmo e velocidade na leitura proveitosa consiste, resumidamente, nas
seguintes orientações:
1. Praticar a leitura oral sempre que possível e, aos poucos, procurar dar-lhe a expressão natural das
narrativas orais.
2. Durante a leitura, abarcar com os olhos todo um conjunto de palavras ou unidades de
pensamento expressas no texto.
3. Ao terminar a leitura de uma linha, passar para a primeira palavra da linha seguinte, mas
fixando-se mais nas palavras que se encontram no centro das linhas.
A VEZ DO VOCABULÁRIO
Talvez você julgue que domina um vasto vocabulário. Se tem hábito de ler frequentemente e se
sua leitura é ampla e abrange vários assuntos distintos, então deve realmente dominar um
vocabulário significativo. Contudo, faça uma experiência e responda depressa qual é o
significado das seguintes palavras:
Atelépode
Atelectasia
Atramentário
Azeite
Se você não consultou um dicionário, provavelmente só foi capaz de dizer qual é o significado
de azeite, óleo extraído da oliva ou azeitona. Em verdade, dos quatro vocábulos apresentados no
teste acima, “azeite” é o único de uso frequente e difundido na linguagem geral. Os demais são
termos empregados apenas em áreas específicas de actividade. Assim:
Atelépode é um adjectivo usado em Zoologia para designar os seres aos quais “ falta qualquer
dedo”.
Em qualquer língua há sempre uma quantidade de vocábulos de uso comum, popular e geral, e
de vocábulos especializados, de uso restrito a determinadas áreas. O acervo vocabular da língua
10
portuguesa não é uma excepção e somente os eruditos são capazes de dominar com segurança
sua maior parte.
Por outro lado, ao contrário dos eruditos, as pessoas de pouca instrução dominam apenas um
pequeno número de palavras, confundem o sentido de outras tantas e desconhecem praticamente
a totalidade das empregadas em áreas especializadas, pelo menos das áreas de actividades que
nada têm a ver com a sua. Esse vocabulário reduzido constitui uma barreira à leitura proveitosa.
Muitas pessoas alegam que lêem pouco precisamente porque seu vocabulário insuficiente não
lhes possibilita a compreensão do que lêem. Mas, ao adoptar essa atitude de inércia, jamais
aprendem outras palavras e, consequentemente, vivem um ciclo vicioso: não lêem porque não
têm vocabulário; não têm vocabulário porque não lêem. Com isso estão condenadas a
permanecer na ignorância.
A maneira mais prática de se adquirir bom vocabulário é conviver com as palavras, estar em
contacto com elas e observá-las em acção. Assim, aprende-se não apenas o seu significado, mas
também o seu uso. E isso se faz através de leitura constante.
Mas, como ler, e entender o que se lê, quando se desconhece o significado de certas palavras?
Simplesmente tratando de descobrir qual é esse significado. Para isso é que existem dicionáros:
esclarecer o sentido dos vocábulos.
Quanto à táctica a ser empregada, alguns autores são favoráveis à interrupção da leitura no
momento em que surge a palavra desconhecida, a fim de que seu sentido seja imediatamente
esclarecido. Outros, igualmente respeitáveis, são partidários da postergação do esclarecimento,
dando-lhe a possibilidade de ocorrer no prosseguimento da leitura. Ou seja, o leitor deve tentar
descobrir o sentido do vocábulo desconhecido através do contexto em que está inserido. Esses
autores sugerem que se anote a palavra e se, ao final do capítulo ou do texto, seu sentido não
ficar bem estabelecido, então deve-se recorrer ao dicionário.
Em verdade, não há porque optar por uma ou por outra orientação táctica sem antes
experimentar ambas. É o leitor que deve decidir qual das duas tácticas serve melhor à sua
necessidade, de acordo com as circunstâncias da situação real.
O que realmente importa na aquisição de maior domínio vocabular é, em primeiro lugar, que se
leia muito e frequentemente; em segundo, que se esclareça o sentido de todas as palavras
desconhecidas, porque só assim pode-se ter certeza de que o texto foi correctamente
compreendido.
Se você não dispõe de fontes de consultsa adequadas, ou não encontra determinado vocábulo
em seu dicionário, não se deixe vencer pela inércia – trate de agir. Faça uma visita à biblioteca
mais próxima, levando a lista das palavras desconhecidas; consulte o professor ou um
especialista da área de estudo; vá à casa de um amigo que disponha da fonte de consulta
requerida. Faça o que lhe for mais prático e conveniente, mas esclareça as dúvidas.
11
Às vezes uma palavra mal compreendida ou mal interpretada pode desfigurar ou mudar todo o
sentido do texto. Corre-se esse risco principalmente quando isso acontece com uma palavra-
chave. Portanto, o tempo gasto em pesquisar no dicinário ou em esclarecer as dúvidas com
outras fontes jamais é desperdiçado – dele pode depender o resultado do estudo. Quem come
gato por lebre confunde alho com bugalho e certamente está sujeito a sofrer indigestão. Daí a
significativa importância do domínio vocabular no estudo, outro item do treinamento que visa a
aumentar o rendimento da leitura proveitosa.
RESUMO ESQUEMÁTICO
Em síntese, a atitude a adoptar quanto à ampliação do vocabulário pessoal consiste nas seguintes
providências gerais:
Se você compreendeu o que foi dito neste capítulo, tente responder às questões apresentadas
abaixo. Para melhor aproveitamento, seleccione algumas como tema de um trabalho ou de
discussão com alguém.
12
16. Quais são os meios de que dispomos para ampliar o nosso domínio vocabular? Há algo
que contra- indique a memorização de dicionários?
13