Uma Avaliação Da Economia Brasileira No Governo Dilma
Uma Avaliação Da Economia Brasileira No Governo Dilma
Uma Avaliação Da Economia Brasileira No Governo Dilma
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André Luis Contri Economista da FEE e Professor da PUCRS
Resumo ∗
Abstract
This paper aims to evaluate the Brazilian macroeconomic performance
during Dilma’s presidency. Its motivation is in the several critiques of the
government’s economic policy and in the widespread debate about the
macroeconomic conditions in 2013. In the first part it is analyzed the
weak economic growth of the last three years and its causes from the
demand side. Secondly, it is evaluated the inflation’s persistency and its
relation with unemployment and exchange rate. In the third part, the
paper examines the evolution of the gross and net government’s debt.
The main conclusion is that many of Brazilian economic problems have
structural causes, which solution is not an object of short run policies.
Furthermore, the economic policy has to move within the limits put by
these problems. In spite of that, the government has adopted measures
that address many solutions to these problems. Finally, the analysis of
the main economic indexes does not indicate a deterioration of the
Brazilian economic framework.
*
Artigo recebido em 09 jan. 2014.
Revisor de Língua Portuguesa: Breno Camargo Serafini.
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E-mail: contri@fee.tche.br
Indic. Econ. FEE, Porto Alegre, v. 41, n. 4, p. 9-20, 2014
10 André Luis Contri
ção dos níveis de pobreza e com o consequente aces- tas da política econômica. Ao contrário, é justamente a
so ao consumo. Convém destacar ainda, do ponto de política econômica que deve se mover circunscrita por
vista político, o amadurecimento da democracia brasi- tais problemas. O conjunto de transformações pelos
leira e o cumprimento de todos os contratos firmados quais o Brasil vem passando, mencionados anterior-
pelo Governo. Essas transformações ganham ainda mente, colocam em evidência tais problemas estru-
mais importância, na medida em que elas não têm turais, os quais acabam tendo impacto direto nas variá-
apenas um caráter conjuntural, mas se têm mantido ao veis macroeconômicas. O outro lado da moeda é o fato
longo dos últimos anos, caracterizando o que os eco- de que, na ausência daquele conjunto de transforma-
nomistas classificam como mudanças estruturais. Mui- ções, tais problemas ficariam subsumidos e, portanto,
tas dessas transformações tiveram seu início durante o não estariam sendo objeto de uma busca por soluções.
Governo Lula e têm sido estimuladas pela gestão Dil- Muitas das críticas feitas ao atual governo, apesar de
ma. Aliás, foram essas transformações que permitiram corretamente destacarem tais carências presentes na
as sucessivas reeleições do Partido dos Trabalhadores economia brasileira, acabam, incorretamente, atribuin-
e a continuidade do projeto que se iniciou com o pri- do tais desajustes à condução da política econômica.
meiro Governo Lula. O presente artigo pretende examinar a evolução
Diante desse cenário, emerge a questão sobre de alguns indicadores macroeconômicos, com o obje-
quais teriam sido as mudanças promovidas pelo Go- tivo de melhor contextualizar a evolução recente da
verno Dilma que originaram aquele conjunto virulento economia brasileira e de procurar qualificar os argu-
de críticas. Poder-se-ia afirmar que a atual gestão mentos apresentados em torno da situação macroeco-
promoveu uma mudança na condução da política eco- nômica do País, muitos deles de caráter meramente
nômica que havia sido tão elogiada durante o governo retórico. Além desta Introdução, o artigo está estrutu-
Lula? Além disso, até que ponto os indicadores eco- rado em outras quatro seções. Na primeira parte, é
nômicos apontam para uma degradação das condi- feita uma análise do crescimento econômico brasileiro
ções macroeconômicas brasileiras? nos últimos anos, procurando evidenciar os elementos
A hipótese defendida aqui é a de que a economia da demanda agregada que têm limitado o mesmo e
brasileira tem sofrido os impactos negativos da crise compará-lo com o desempenho da economia mundial.
econômica mundial e que grande parte do desempe- Na segunda parte, é feita uma análise do comporta-
nho macroeconômico não tem suas origens na má mento da inflação, procurando apontar os principais
administração da política econômica, na má gestão da determinantes da sua resistência a se manter dentro
dívida pública ou na leniência do Governo em relação da meta de 4,5% estipulada pelo Comitê de Política
à inflação. O desvio da trajetória que a economia bra- Monetária (Copom). Na terceira seção, analisa-se o
sileira vinha apresentando nos anos pré-crise se deve, comportamento do endividamento público ao longo dos
essencialmente, às dificuldades de adaptação e de últimos anos, buscando destacar tanto a dívida liquida
administração da mesma em uma economia globa- quanto a dívida bruta da Administração Pública. Ainda
lizada, que continua em estagnação desde 2007. Isso nessa seção, é feita uma comparação entre a trajetória
não significa ignorar os determinantes internos da de- da dívida pública brasileira com a de alguns países no
saceleração. Obviamente, a adoção de uma política período pós-crise econômica mundial. Por fim, são
fiscal contracionista, os gargalos no mercado de traba- feitos alguns apontamentos conclusivos.
lho, os problemas de infraestrutura e a administração
da política monetária e cambial são elementos deter-
minantes para o desempenho macroeconômico do
País. O argumento apresentado aqui, no entanto, é o
A desaceleração do
de que tais problemas devem ser analisados dentro da crescimento no Governo
trajetória de uma economia dependente, imersa em
uma crise internacional, e com diversos desequilíbrios Dilma
de caráter estrutural. Nesse cenário, não existe “uma”
política econômica “correta”, capaz de sanar os diver- O principal foco das críticas ao Governo Dilma es-
sos desequilíbrios econômicos. teve nas reduzidas taxas de crescimento do PIB. De
Outra ideia subjacente à presente análise é o fato fato, depois de uma rápida recuperação apresentada
de que a economia brasileira apresenta uma estrutura em 2010 (7,5%), as taxas de crescimento reduziram-se
na qual se manifestam diversos problemas de longo para 2,7% e 1,0% nos anos subsequentes. Em 2013, o
prazo, cuja solução não depende das medidas imedia- crescimento do PIB ficou em 2,3%. Dentre os fatores
determinantes desse desempenho, destaca-se a desa- tivar os investimentos através de isenções, sua receita
celeração do crescimento do consumo das famílias, o fica comprometida, impactando diretamente na meta
qual havia sido estimulado em anos anteriores, mas de superávit primário e no endividamento público. Esse
parece ter encontrado seu limite de crescimento na é o caso, por exemplo, dos empréstimos feitos pelo
própria capacidade de endividamento das mesmas, na Governo ao BNDES, os quais tem sido um importante
restrição maior ao crédito, bem como no aumento das catalizador dos investimentos, mas também alvo de
taxas de juros ocorrido em 2013. Associado a isso, muitas críticas, por aumentar a dívida bruta do Gover-
teve-se uma desaceleração nos investimentos, a partir no Federal, como se verá adiante.
de 2011, o qual chegou até a apresentar uma significa-
tiva variação negativa (-4,0%) em 2012. Gráfico 1
A acentuada desaceleração do consumo deslo- Taxas de crescimento do PIB, do consumo das famílias, da
formação bruta de capital fixo (FBKF) e dos gastos da
cou a atenção dos analistas para a necessidade de o Administração Pública no Brasil — 2003-13
País buscar uma forma de crescimento puxada pelos
25,0
investimentos. Esse, aliás, foi o ponto central da critica
do Financial Times ao Governo brasileiro, já mencio- 20,0
nada anteriormente. A partir daí, passou-se a criticar o 15,0
Governo por suas políticas de estímulo ao consumo, 10,0
ao invés de o mesmo incentivar os investimentos. 5,0
Criou-se uma falsa dicotomia entre o esgotamento de
0,0
um modelo puxado pelo consumo e a necessidade de
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
se propor reformas que forjassem um modelo liderado -5,0
pelos investimentos. Uma análise do Gráfico 1, no -10,0
entanto, demonstra que, exceto em alguns poucos Legenda: PIB
anos, os investimentos apresentaram taxas de cresci- Consumo
FBKF
mento superiores ao consumo e ao próprio PIB. O que Administração pública
parece ser desconsiderado na maior parte das análi- FONTE: IBGE (2014).
ses é o cenário de estagnação da economia mundial e
o seu efeito sobre a economia brasileira. Assim, o Aliás, a busca de atingir a meta de superávit pri-
crescimento dos investimentos, por exemplo, não de- mário, o qual iria dar a “credibilidade” ao Governo bra-
pende única e exclusivamente da iniciativa governa- sileiro, e o controle do aumento da dívida pública é
mental. Muitas das grandes empresas sequer têm o justamente outro fator que tem limitado o crescimento.
seu centro de decisões no território nacional e tampou- Como também se pode verificar no Gráfico 1, os gas-
co têm no mercado doméstico o principal destino de tos da Administração Pública tem crescido a taxas
suas vendas. Conforme destacam Belluzzo e Almeida módicas nos último três anos. O pequeno aumento
(2013, p. 28), o processo de globalização das últimas verificado em 2012 (3,3%) foi extremante importante
duas décadas trouxe “[...] alterações de grande monta para compensar a queda dos investimentos e a desa-
na distribuição espacial das cadeias manufatureiras”. celeração do consumo verificados naqueles anos. No
Ainda conforme destacam os autores “O Brasil e a entanto, em 2013 os gastos do Governo voltaram a
América Latina ficaram praticamente à margem desse apresentar baixo crescimento (1,9%). No atual cenário,
processo de reestruturação das cadeias produtivas” a política fiscal deve percorrer o difícil equilíbrio entre
(Belluzzo; Almeida, 2013, p. 28). Ignorar esses deter- não permitir uma desaceleração ainda maior do cresci-
minantes dos investimentos e atribuir a sua fraca per- mento e, ao mesmo tempo, evitar o descontrole das
formance à credibilidade da política econômica é sim- contas públicas. Os críticos do Governo, em geral,
plificar demais o problema. Além disso, por mais que debruçam-se sobre uma dessas duas variáveis. Ou
se destaque a importância da existência de um ambi- criticam o Governo por não estar conseguindo atingir a
ente favorável para que os investimentos sejam reali- meta de superávit estipulada, ou por não estar conse-
zados, a sociedade brasileira, do ponto de vista tanto guindo promover um crescimento maior do PIB. O fato
institucional como de sua economia, não sinaliza para é que tem-se aqui uma daquelas situações em que as
um quadro de desorganização que venha a compro- dificuldades de caráter estrutural acabam circunscre-
meter a credibilidade do setor privado em relação ao vendo a política econômica.
setor público. Por outro lado, caso o Governo procure, Ainda no que se refere à desaceleração do cres-
através dos poucos instrumentos de que dispõe, incen- cimento dos últimos anos, uma breve comparação com
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o desempenho internacional não parece apontar para crescimento recente puxado pelas economias emer-
alguma anomalia da economia brasileira. Compara- gentes (World..., 2013).
ções internacionais devem sempre ser feitas com mui- As baixas taxas de crescimento mundial, notada-
ta precaução, em função da diversidade de estruturas mente a dos países avançados, associadas com a
econômicas e institucionais dos países. No entanto, desaceleração da China e Índia, têm sido um impor-
uma breve análise do crescimento mundial permite tante limitador do crescimento em volume das exporta-
situar a desaceleração da economia brasileira. Assim, ções brasileiras (Gráfico 2). Tem-se, aqui, portanto,
pode-se observar que, no período 2007-13, a econo- outra variável determinante do fraco desempenho da
mia brasileira apresentou um crescimento médio anual economia brasileira. Por outro lado, as importações
ligeiramente superior ao da economia mundial (Tabela (com exceção de 2012) têm apresentado taxas eleva-
1). Embora esse desempenho tenha se reduzido signi- das de crescimento, fazendo com que o setor externo
ficativamente, nos três últimos anos, convém destacar tenha uma contribuição líquida negativa para a varia-
que o crescimento brasileiro ainda esteve acima das ção do PIB. O Governo procurou reverter esse quadro,
1
economias avançadas e acompanhou a desacelera- através da desoneração da folha de pagamentos de
ção de outras duas importantes economias “emergen- alguns setores exportadores. Mas, como se verificou
tes”, a saber, China e Índia. posteriormente, tais desonerações foram incapazes de
China e Índia continuam a ser os países destoan- aumentar as exportações, apenas propiciando um
tes do crescimento mundial, ao longo de todo o século aumento da margem de lucro dos setores beneficia-
XXI, apesar da considerável desaceleração apresenta- dos. (Coeficientes..., 2013; Martins, 2013). Trata-se,
da nos últimos três anos. Muitas vezes, tais países, portanto, de outra importante restrição à atuação da
assim como o Brasil, classificados como emergentes, política econômica. Com certeza, uma maior competiti-
são usados como parâmetro para destacar o baixo vidade da indústria brasileira poderia ter propiciado
crescimento brasileiro. No entanto, como é de conheci- melhores resultados no setor externo, mas, como des-
mento geral, esses países tem se beneficiado “[...] de taca Belluzzo (2013), esta tem sofrido as consequên-
sua extensíssima força de trabalho e criaram a mira- cias negativas de vários anos de uma “falsa inserção
gem de formidáveis aumentos de produtividade de competitiva” da economia brasileira, que esteve base-
trabalho, na verdade comandada pela combinação de ada na abertura comercial e na histórica apreciação da
progresso técnico e execráveis salários” (Oliveira, moeda nacional. Reverter esse quadro não será obra
2006, p. 35). Ainda conforme destaca o autor, a eco- de políticas de curto prazo e está além da capacidade
nomia brasileira não deveria “[...] perseguir a miragem das políticas fiscal e monetária. Um reposicionamento
da China e da Índia, de salários aviltados: neste capí- da taxa de câmbio, que já tem sido feito no Governo
tulo, os mastodontes asiáticos são imbatíveis” (Olivei- Dilma, deverá trazer benefícios para a competitividade
ra, 2006, p. 56). São justamente esses os fatores que nacional, mas tal medida deverá ser feita gradualmen-
tem propiciado que a economia mundial tenha o seu te, em função de seus impactos sobre a inflação.
1
Tabela 1
Taxa de crescimento do PIB, por países e grupos de países selecionados — 2007-13
ECONOMIAS AMÉRICA LATINA
PERÍODO MUNDO CHINA ÍNDIA BRASIL
AVANÇADAS E CARIBE
2007 5,3 2,7 5,7 14,2 9,8 6,1
2008 2,7 0,1 4,2 9,6 3,9 5,2
2009 -0,4 -3,4 -1,2 9,2 8,5 -0,3
2010 5,2 3,0 6,0 10,4 10,5 7,5
2011 3,9 1,7 4,6 9,3 6,3 2,7
2012 3,2 1,5 2,9 7,7 3,2 1,0
2013 (1) 2,9 1,2 2,7 7,6 3,8 2,3
2007-13 3,2 0,9 3,5 9,7 6,5 3,5
2011-13 3,3 1,4 3,4 8,2 4,4 2,0
FONTE: FMI (2013).
FONTE: IBGE (2014).
(1) Estimativas preliminares.
1
O FMI classifica como economias avançadas os seguintes paí-
ses: Estados Unidos, Canadá, países da Área do Euro, Reino
Unido e Japão.
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14 André Luis Contri
Gráfico 2
Taxa de crescimento do volume das exportações e importações brasileiras — 2003-13
(%)
40,0
35,0
30,0
25,0
20,0
15,0
10,0
5,0
0,0
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
-5,0
-10,0
Legenda: Exportações Importações
desemprego cair em mais de 50%, em cerca de 10 tem sido extremamente prejudicial não só para o ajuste
anos. O desemprego continuou caindo mesmo após o das contas externas do País como também para a
início da crise mundial. Embora a queda observada competitividade da indústria nacional. Nesse aspecto,
durante o Governo Dilma tenha sido bem menor do o governo atual tem adotado medidas extremamente
que a verificada nos anos anteriores, deve ser ressal- positivas, mas que, inevitavelmente, acabam contri-
tado o fato de que o desemprego se estabilizou em buindo para o aumento do nível de preços. Assim,
níveis muito baixos. Não há economia que passe por depois de atingir o seu valor mais baixo em julho de
tamanha transformação sem sentir diversos de seus 2011, iniciou-se um processo de reposicionamento da
efeitos. Um dos primeiros destes efeitos foi que o País taxa de câmbio. Desde então, em dois anos e meio, o
se deparou com uma carência de mão de obra qualifi- real já se desvalorizou mais de 33,0%. Embora o Ba-
cada. Como consequência, verificou-se que o salário cen, até certo ponto, tenha controle do câmbio, a atual
na indústria começou a subir acima da produtividade, conjuntura de incerteza com relação à política monetá-
gerando pressões inflacionárias. Como boa parte dos ria norte-americana, associada à sobrevalorização do
produtos industrializados são comercializáveis, tais real em anos anteriores, cria uma forte pressão no
pressões, em boa parte, são absorvidas pela indústria, sentido de desvalorização nos anos vindouros.
mas outra parcela acaba sendo repassada aos preços. Em que pese esse conjunto de elementos: cho-
que de oferta, estrangulamento no mercado de traba-
Gráfico 3 lho e desajuste cambial, todos eles vinculados a pro-
Taxa de desemprego no Brasil — 2002-13 blemas de oferta, o Governo voltou a adotar a taxa de
(%) juros como mecanismo de combate à inflação. O dis-
12 curso do Bacen e do mercado financeiro, sustentado
10 no modelo de metas de inflação, é o de que um au-
8
mento da Selic dá credibilidade à política monetária,
demonstrando a determinação das autoridades de
6
combater a inflação. Tais fatos teriam um efeito positi-
4
vo sobre as expectativas dos “agentes” e, consequen-
2
temente, sobre a inflação. Apesar desse discurso, o
0 fato é que o aumento da taxa de juros atua como um
2002
2003
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2012
2013
sido outro alvo das críticas à política econômica. O fato Conforme se tem procurado enfatizar aqui, o
é que, de forma semelhante à necessidade de se usar crescimento do nível de preços no Brasil é um proble-
a política fiscal em momentos de desaceleração do ma que tem diversos condicionantes, muitos deles de
crescimento, tais preços devem ser controlados em caráter estrutural. As transformações pelas quais a
fases de choque de oferta como os mencionados ante- economia brasileira tem passado implicarão um com-
riormente. O ajuste dos preços monitorados deverá se junto de realinhamentos das variáveis micro e macro-
dar, gradualmente, em períodos de ausência de cho- econômicas no interior de sua economia, dentre elas
ques de oferta e/ou de estabilidade cambial. De qual- os preços. Reduzir a política de combate à inflação ao
quer forma, tem-se aqui mais um elemento que sinali- aumento da taxa de juros é não só uma simplificação
za para uma resistência à queda da inflação. do problema, mas também um equívoco.
Gráfico 4
Variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e do preço dos serviços, acumulado em 12 meses, no Brasil — 2004-13
(%)
10,00
9,00
8,00
7,00
6,00
5,00
4,00
3,00
2,00
1,00
0,00
Jan./04
Maio/04
Jan./05
Maio/05
Jan./06
Maio/06
Jan./07
Maio/07
Jan./08
Maio/08
Jan./09
Maio/09
Jan./10
Maio/10
Jan./11
Maio/11
Jan./12
Maio/12
Jan./13
Maio/13
Set./04
Set./05
Set./06
Set./07
Set./08
Set./09
Set./10
Set./11
Set./12
Set./13
Legenda: IPCA Serviços
FONTE: IBGE (2014).
FONTE: Bacen (2014).
Gráfico 5
Taxa de câmbio no Brasil — 2005-13
(R$/US$)
2,6
2,4
2,2
2,0
1,8
1,6
1,4
1,2
1,0
Jan./06
Maio/06
Jan./07
Maio/07
Jan./08
mai/08
Jan./09
Maio/09
Jan./10
Maio/10
Jan./11
Maio/11
Jan./12
Maio/12
Jan./13
Maio/13
Set./06
Set./07
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Set./13
que as medidas de caráter contábil devem ser cuida- Banco Central não permitem falar em deterioração das
dosamente adotadas e serem o mais transparente contas públicas e nem em falta de transparência na
possível, mas os dados mensalmente publicados pelo gestão da mesma.
Gráfico 6
Dívida líquida do setor público consolidada (DLSP) e dívida bruta do Governo Federal (DBGF), em relação ao PIB, no Brasil — 2002-13
90,0
80,0
70,0
60,0
50,0
40,0
30,0
Jan./02
Maio/02
Jan./03
Maio/03
Jan./04
Maio/04
Jan./05
Maio/05
Jan./06
Maio/06
Jan./07
Maio/07
Jan./08
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Legenda: DLSP DBGF
Tabela 2
Relação dívida bruta do Governo Geral/Produto Interno Bruto, por países e grupo
de países selecionados — 2008-13
vido e que eventuais problemas se devem a uma má análise que desconsidere tais elementos está conde-
administração da política econômica, ou ainda a algum nada à superficialidade.
distúrbio recente. Nos últimos cinco anos, a economia Em que pesem todos esses problemas, a traje-
brasileira tem sofrido o impacto negativo da crise eco- tória de economia brasileira nos últimos anos não
nômica mundial. Esta última tem se refletido no baixo aponta um cenário de deterioração do quadro econô-
crescimento econômico, nas oscilações cambiais, na mico e institucional. O que parece certo é que, de for-
balança de pagamentos e na inflação. Apesar da ob- ma alguma, a superação do atraso e das sequelas
viedade de que o Brasil não é uma ilha dentro da eco- apontadas ocorrerá sem que haja crescimento econô-
nomia mundial, muitos analistas praticamente des- mico. Essa deve ser a principal meta a ser atingida
consideram aqueles efeitos e analisam a economia do pelos gestores da política econômica. Por outro lado,
País como se esta dependesse apenas da competên- é importante destacar que, a despeito dos diversos
cia dos responsáveis pela política econômica. indicadores positivos da economia brasileira, é preciso
O que os principais indicadores macroeconômicos admitir que o País ainda não atingiu o que se deno-
parecem mostrar é que, nesse cenário de crise econô- mina estabilidade econômica. Diversas análises, princi-
mica mundial que se vem arrastando por mais de cinco palmente as críticas da atual gestão, fazem questão de
anos, a economia brasileira vem apresentando uma pôr em evidência a estabilidade econômica alcançada
estabilidade relativa. Da mesma forma, na ausência de nos anos 90. Se, por um lado, o País alcançou, em al-
uma ciência exata da política econômica, o Governo guns anos, o controle da inflação, tal fato, isolada-
brasileiro tem lançado mão de medidas que se fazem mente, não caracteriza uma estabilidade econômica.
necessárias em um contexto recessivo. Tais medidas, Ora, um país que convive com uma taxa de câmbio
inevitavelmente, acabam comprometendo o desempe- apreciada, com as maiores taxas de juros do mundo,
nho de outras metas, como a de superávit primário e com elevada dependência do influxo externo de capi-
de inflação. O que é preciso ter presente é que a supe- tal, com uma inflação que dificilmente fica abaixo dos
ração dos desequilíbrios estruturais, historicamente 5,0% e que tem seu crescimento dependente do cená-
herdados, irá requerer medidas que vão além das rio externo está muito longe de atingir tal estabilidade.
preocupações monetárias. Uma das primeiras preocu- A questão central nesse cenário, a qual o presente
pações deverá ser a manutenção de taxas relativa- estudo procurou enfatizar, é que a solução de tais
mente baixas de desemprego e a continuidade do problemas poderá ocorrer apenas no longo prazo, e,
crescimento econômico. Não haverá qualificação da para tanto, a atual gestão macroeconômica tem dado
mão de obra com taxas elevadas de desemprego, passos extremamente importantes.
como tampouco haverá um equacionamento das con-
tas do Governo num quadro recessivo. Uma inflação
relativamente elevada, ainda que sob controle, talvez
seja um custo que a sociedade brasileira terá que pa-
Referências
gar para superar atrasos ainda maiores.
BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN). Séries
A antiga abordagem que apontava a existência de
Temporais. 2014. Disponível em:
grandes problemas estruturais como fonte de diversos
<http://www.bcb.gov.br/?serietemp>. Acesso em: 10
desequilíbrios nas economias latinoamericanas deve
mar. 2014.
ser resgatada, quando se trata da análise recente da
economia brasileira. O País ainda convive com profun- BELLUZZO, L. G. Governo perdeu a batalha contra o
das sequelas, que, não só devem ser atacadas, como mercado financeiro. Folha de São Paulo, São Paulo,
também têm criado empecilhos ao desenvolvimento. 29 dez. 2013a. Disponível em:
Tais sequelas, algumas delas destacadas aqui no tex- <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/145639-
to, incluem os elevados níveis de pobreza e de desi- governo-perdeu-a-batalha-contra-o-mercado-
gualdade, até a necessidade de reconstrução de um financeiro.shtml>. Acesso em: 5 jan. 2014.
aparato de estado capaz de conduzir e atuar de forma
BELLUZZO, L. G. Os desafios da indústria brasileira.
eficiente, numa nova fase de crescimento. Somam-se
Carta Capital, São Paulo, 6 mar. 2013. Versão eletrô-
a isso as dificuldades de administração das políticas
nica.
monetária e fiscal, tendo-se uma moeda não conversí-
vel num mundo globalizado, associado a um estado BELLUZZO, L. G.; ALMEDA, J. S. G. de. A indústria
fragilizado financeira e estruturalmente pelo conjunto brasileira e as cadeias globais. Carta Capital, São
de políticas neoliberais dos anos 1980-90. Qualquer Paulo, 27 fev. 2013. Versão eletrônica.