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Prova - EPI

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Universidade Católica de Brasília

Pró-Reitoria de Graduação
Curso de Relações Internacionais
Disciplina: Economia Política Internacional
Prof. Dr. Jean Santos Lima
Aluno: Matheus Nascimento Moraes
Matrícula: UC18100908

1° Avaliação

Cenário I

Mais uma década histórica encontra seu fim. O ano é 2030, e o Brasil se vê
como um país adepto do modelo social-democrata, que está enredado em um
mundo que vivencia um período de intensificação vertiginosa da globalização dos
processos elementares. Isto é, pressões pela liberalização econômica e política do
país emergem interna e externamente. Dessa forma, os desafios se intensificam. O
país enfrenta a carência de líderes capazes de produzir consensos mínimos e reunir
a sociedade brasileira, que tem a marcante polarização política direita-esquerda
como característica, agora, fundamental. Os reflexos da grave crise sanitária
globalmente vivenciada em 2020 e do insensato gerenciamento desta pelo governo
brasileiro de então se fazem presentes até hoje. Ao mesmo tempo, os objetivos e
rumos do país estão bem definidos, já que o desenvolvimentismo se tornou a
doutrina orientadora. No fim dessa década, apesar de a modernidade global impor
duras cargas aos ombros da nação tupiniquim, assim como as consequências
históricas da década passada, o país tem se demonstrado capaz de gerar
crescimento econômico, ainda que leve, e integridade política-institucional.

O mundo terminou a década passada com o gosto amargo da crise sanitária


do COVID-19 na boca. Uma grave recessão econômica em escala global provocada
por ela foi o fator condicionante principal do início desta década. Por conta disso, os
índices de crescimento médio do PIB na década dos países de alta renda se
assemelham aos da década de 1960, por volta de 5%. Portanto, o modelo
político-econômico do período entre guerras representa uma referência para

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compreender a orientação adotada durante os anos de 2021-2025, com políticas
nacionalistas e voltadas para a reconstrução interna (FRIEDEN, 2012). Nota-se,
contudo, que as taxas de crescimento do comércio internacional foram maiores do
que no período entre-guerras e aumentaram paulatinamente, um sintoma da força
da globalização, pois, apesar de circunstâncias adversas, os negócios
internacionais ainda ocorrem significativamente. Em seguida, o período de
2026-2029 se caracteriza principalmente pela retomada geral da intensidade dos
fluxos comerciais e de serviços, e, como a ciência e a tecnologia se desenvolveram
fortemente, os índices de crescimento dos países de alta renda se mantiveram.

Por outro lado, apesar da necessidade de recuperação, as relações


internacionais são fluidas, as dinâmicas sociais se mantêm, as variadas agendas
(segurança, meio ambiente, política, etc.) devem ser administradas. Eis algumas
mudanças conjunturais interessantes: a população mundial agora aglomera mais de
8 bilhões de pessoas, o que complexifica questões como desigualdade, distribuição
de renda e alimentícia; urbanização massiva das populações; Estados Unidos e
China arrefeceram sua rivalidade, de modo a coordenar operações conjuntas no
âmbito da reintegração econômica, tendo em vista que Joe Biden (candidato de
esquerda) exerceu um mandato de oito anos na presidência dos EUA; a União
Europeia ganha mais espaço na política mundial para exercer liderança.

A noção de desenvolvimento adotada neste cenário consiste, basicamente,


na teoria da modernização e inovação. Desenvolvimento, então, ocorre quando
aumentam-se os padrões de vida da população de um país e moderniza-se o seu
aparelho industrial (O’BRIEN, 2016). Aplicando essa noção ao caso brasileiro, em
um sistema que aparenta ser de socialdemocracia, ou seja, pressupõe-se a
existência da liberdade de mercado, porém, há um maior equilíbrio entre a noção de
liberdade e igualdade; e tem-se uma retomada do desenvolvimentismo como vetor
nacional desde 2022. Contudo, essa iniciativa enfrenta desafios como a pressão de
grupos de interesses compostos por empresários e banqueiros porque esse tipo de
capitalismo mina a liberdade do mercado como um todo. Além disso, o
desenvolvimento do país acaba sendo menor, pois, de acordo com Schirm (1999),

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uma postura menos liberal do Estado não é atrativa para os negócios estrangeiros,
portanto afasta novas indústrias e empresas do Brasil. Isto é, há uma taxa constante
de crescimento do PIB do Brasil, mas é uma taxa baixa, por volta de 1,7% ao ano.

Porém, a distribuição de renda se encontra menos desequilibrada


atualmente, de modo que a quantidade de pessoas que passam fome, assim como
o número de desabrigados, tenha diminuído de forma significativa. Vale mencionar,
também, que há menos desempregados no país. Eleito em 2022, o governo atual
elencou propostas de desenvolvimento que estão alicerçadas no desenvolvimento
da educação do Brasil. Interessante é o fato de que, nos últimos oito anos, todo o
orçamento destinado à área da educação foi de fato apreciado por ela. Ou seja, não
há registro de cortes de orçamento de bolsas do CNPq ou de verba das
universidades e escolas públicas nos últimos oito anos. Em vista disso, os índices
educacionais do Brasil sofreram uma suave, mas relevante, melhoria com relação a
dez anos atrás. É importante mencionar que a ciência e a tecnologia brasileira se
desenvolveram de forma suave, tendo como um dos grandes eventos desta década
a criação de um complexo de ciência e tecnologia, com a construção de uma
universidade em parceria com os EUA, laboratórios e centros de estudos
aeroespaciais na base aérea de Alcântara. Contudo, nos últimos anos, tem
circulado a notícia da escassez de aparelhagem adequada.

Por fim, a política externa brasileira tem sido executada nos moldes da
Política Externa Independente do período Jânio-Jango, em que buscava-se uma
política de alcance global e independente dos Estados Unidos (CERVO, 2015). O
objetivo é estabelecer relações diplomáticas e comerciais eficientes com a maior
quantidade de países no mundo, o que não significa desconsiderar os dois maiores
parceiros comerciais do país (China e EUA), mas sim expandir a projeção, alcance,
influência e os negócios externos do Brasil, tendo em vista o objetivo de recuperar o
respeito e o prestígio do corpo diplomático brasileiro, perdidos durante o governo
eleito em 2018. O que, de outra parte, tem gerado debates crescentes e, muitas
vezes, acalorados, em que se opõem as alas conservadoras, que apoiam a ideia do
alinhamento aos EUA como principal fator condicionante, e as alas progressistas.

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Cenário II

O Brasil vivencia o período mais liberal de sua história. As propostas do


governo eleito em 2022 consistiam fundamentalmente em liberalizar a economia
brasileira para dar uma resposta funcional à crise que se arrastava no Brasil desde
2020. O ano é 2030, e o mundo vivencia o aumento e a extensão dos processos
econômicos tal como aquela percebida a partir de 1970 durante o período de
hiperglobalização. Notam-se no Brasil, elementos do que Amado Cervo (2015)
chamaria de “Estado Normal”, uma espécie de amálgama de modelo
político-econômico vigente no governo de Fernando Henrique Cardoso. Por fim, a
modernização industrial é a noção que parece orientar o rumo brasileiro em questão
de desenvolvimento.

Após cinco anos consecutivos de recuperação econômica da crise gerada


pelo Coronavírus, os mercados puderam restabelecer seus fluxos e iniciar um
processo de aceleração e intensificação, que viria a equiparar-se à
hiperglobalização da época de 1970, o que culminou em um crescimento
exponencial dos países desenvolvidos e em desenvolvimento. Por outro lado, esse
crescimento é responsável pelo aumento também exponencial da desigualdade
social e da pobreza tanto nos países subdesenvolvidos, quanto nos países
desenvolvidos. Portanto, realidades como a fome e a degradação ambiental
tornaram-se ainda mais presentes e perceptíveis no mundo.

A noção de desenvolvimento como modernização industrial e inovação então


permeia cada vez mais crescentemente os Estados, pois, coincidentemente ou não
com o momento internacional, há uma onda neoliberal atingindo os governos. Dessa
forma, a cooperação internacional sofreu aumentos significativos. Vale mencionar
que China e EUA controlaram sua rivalidade nos últimos anos, o que faz sentido já
que as perspectivas de ganhos são muito mais altas. De outra parte, os blocos
econômicos também vêm desempenhando papéis importantes em prol da
cooperação comercial. A celebração de tratados entre os blocos e entre os países

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por intermédio de Mercosul e União Europeia, por exemplo, simplificou e
desregulamentou as operações comerciais entre seus entes.

O Brasil se insere totalmente nesse cenário. A partir da nova onda neoliberal


do mundo, um plano de abertura econômica foi posto em prática em 2023, logo
após a eleição do governo atual. Nesse sentido, um plano de desestatização em
massa foi posto em prática, e em 2030 é possível dizer que funcionou parcialmente.
O governo agora detém 30% do capital da Petrobrás, número bem inferior aos 51%
anteriores, por exemplo, o que desonera um pouco o Estado, mas elimina também
parte do retorno financeiro que era gerado. Vale mencionar também que reformas
nos processos burocráticos, especialmente para abertura e fechamento de CNPJ, e
reformas tributárias (no intuito de reduzir os impostos) e trabalhistas. Além disso, um
“enxugamento” dos funcionários do Estado através de reformas administrativas que
facilitam a terceirização das funções estatais também foi feito.

Tais medidas tornaram o Brasil um dos países mais atrativos do mundo para
as empresas e para o investimento estrangeiro, culminando em boas taxas de
crescimento ao longo dos anos, cerca de 2,5% ao ano. Esse crescimento se
materializa na queda das taxas de desemprego, no aumento do empreendedorismo
no Brasil, e na proliferação de startups que trabalham com tecnologia e
desenvolvimento de softwares, formando um pequeno centro tecnológico em São
Paulo. Porém, houve consequências negativas como a queda no preço do petróleo
mundialmente, o que fez com que várias empresas brasileiras de energia alternativa
(eólica e biocombustível, principalmente) tivessem de ser fechadas.

No entanto, a realidade no Brasil tem sido menos próspera do que parece.


Primeiramente, as reformas trabalhistas retiraram boa parte da população do
desemprego, de modo a realocá-las para as indústrias estrangeiras. Mas suas
condições de trabalho são ínfimas, pois recebem salários mínimos (hoje em dia
correspondem a 1300 reais) e, muitas vezes, trabalham mais do que oito horas por
dia. Essa mecânica altamente globalizada - buscar nos países em desenvolvimento
mão-de-obra barata - faz com que a desigualdade dos países e entre os países

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cresça, uma vez que fornecem aos atores privados do mercado meios para exercer
controle sobre os Estados. Em 2030, a diferença de renda entre as classes é a
maior em décadas.

Economicamente, elementos do Estado Normal de FHC são perceptíveis.


Cervo (2015) explica que ele consiste em um modelo que possui três parâmetros de
conduta: subserviente, pois sujeita-se às coerções do centro hegemônico do
capitalismo; destrutivo, uma vez que dissolve o núcleo central da economia
nacional; e regressivo, já que reserva para a nação o setor primário da iniciativa
privada nacional (2015). O Brasil de 2030 é destrutivo, pois cedeu boa parte da
receita gerada por suas estatais para investidores estrangeiros; e é regressivo
porque, apesar da proliferação de startups, o grande produto de negócio do Brasil
ainda são as commodities.

Por fim, em relação à política externa, o Brasil está alinhado aos EUA
politicamente, mas comercialmente demonstra-se a capacidade de negociar
eficientemente tanto com os EUA, quanto com a China. O que gera frutos na
balança comercial anual, com os superávits constantes nos últimos anos. Além
disso, as relações diplomáticas com esses países também melhoraram: os EUA
reafirmaram seu apoio ao ingresso brasileiro na OCDE, o que deve acontecer por
volta do ano que vem; já a China expandiu sua integração com o Brasil com a
renovação do Plano Decenal de Cooperação até 2040.

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Referências

CERVO, Amado Luiz; BUENO, Clodoaldo. História da Política Exterior do Brasil.


5° Edição rev. e amp. Brasília: UnB, 2015.

FRIEDEN, Jeffry (2012). The modern capitalist world economy-A historical


overview”. Oxford Handbook of Capitalism, 2012.

O’BRIEN, Robert; WILLIAMS, Marc. Global Political Economy: evolution and


dynamics. 5° Edição. Palgrave, 2016.

SCHIRM, Stefan A. Mercados globais e margem de ação do Estado. Papers, n.º


36. São Paulo: Fundação Konrad-Adenauer-Stiftung, 1999.

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