O Tesouro de Artur

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Texto: Francisca Ferreira

Ilustrações: Li Mendes
Texto: Francisca Ferreira
Ilustrações: Li Mendes

Fortaleza ● Ceará ● 2018


Copyright © 2018 Francisca Ferreira
Copyright © 2018 Li Mendes

Governador Coordenador de Cooperação


Camilo Sobreira de Santana com os Municípios (COPEM)
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Preparação de Originais e Revisão Maria Fabiana Skeff de Paula Miranda
Raymundo Netto Sammya Santos Araújo
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Projeto e Coordenação Gráfica
Sandra Maria Silva Leite
Daniel Dias
Antônia Varele da Silva Gama
Revisão Final
Catalogação e Normalização
Marta Maria Braide Lima
Gabriela Alves Gomes

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

N244t Nascimento, Francisca do.


O tesouro de Artur / Francisca do Nascimento; ilustrações de Li Mendes.
- Fortaleza: SEDUC, 2018.
28p.; il.
ISBN 978-85-8171-176-8 A Deus, pelas bênçãos diárias.
1. Literatura infantojuvenil. I. Mendes, Li. II. Título. À escritora Fabiana Guimarães, que me
CDU 028.5
apresentou o caminho do Paic, Prosa e Poesia.
Às sobrinhas Lara e Melissa, futuras leitoras
e participantes de um mundo melhor.
SEDUC - Secretaria da Educação do Estado do Ceará Às crianças do mundo inteiro
Av. Gen. Afonso Albuquerque Lima, s/n - Cambeba - Fortaleza - Ceará | CEP: 60.822-325
(Todos os Direitos Reservados)
que habitarão um planeta de paz.
Há muito tempo, no sopé da serra, em uma
casinha coberta de telhas de barro, morava
Artur e a sua avó Ana. Aliás, a brincadeira
predileta do menino era a de adivinhações com
Ana, todas as noites.
O pequeno Artur tinha um sonho:conhecer
e escrever as palavras.
A avó tinha um potinho de barro que
guardava em lugar especial na casa e que,
durante a brincadeira, ela pegava e dizia: “Aqui
dentro está o seu sonho. Ele é o seu tesouro.”
Um dia, porém, ela estava na varanda,
segurando aquele potinho quando, de repente,
o macaco passou e lhe tomou o potinho.
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A velhinha deu um suspiro profundo e contou
da molecagem daquele macaco:
—Meu netinho, aquele pote de barro era o seu
tesouro. O danado do macaco o levou para o alto
da serra, e não sei como trazê-lo de volta.
Corajoso e com pena da avó, Artur falou:
— Mas vovó, se esse potinho é o meu tesouro,
eu vou atrás desse macaco e vou trazê-lo de volta.
Pode deixar.

Ana saiu correndo atrás do mico, que alegre


pulava de galho em galho, levando o potinho com
o “sonho do Artur”, até desaparecer.
Logo que amanheceu, Artur acordou e foi
direto para a cozinha onde a avó preparava o
café da manhã. O menino percebeu que ela estava
triste. Quis saber o motivo:
— Vovó, por que essa tristeza?
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A avó ficou com uma pontinha de medo, mas
pensou que essa aventura fosse importante para
ele. Então, preparou uma moringa com água,
separou alguns frutos e um pouco de mel de cana.
E lá se foi o Artur.
O menino nunca tinha se aventurado pela
serra. Ficou admirado com tantas árvores e rochas
imensas numa subida que parecia não ter fim.

Sentado, em uma pedra verdinha, ouvia o canto


de passarinhos, uma sinfonia melódica que parecia
vir de todo lugar. Misturado com o som dos
passarinhos, ouvia um barulhinho gostoso de água
corrente. Ali por trás, sentia a umidade de um
riachinho que percorria entre as pedras tão antigas
que repousavam naquela serra.
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Seguiu o curso do riachinho e chegou a
um olho d’água. Ouviu, um dia, a sua avó lhe
contar que não era um olho d’água qualquer,
mas encantado. Alguns viajantes vinham à sua
margem para pedir conselhos e fazer pedidos.
Seria verdade? Não custava tentar.
Assim, Artur encheu a sua moringa, bebeu um
pouco de sua água e falou:
— Senhor Olho d’Água Encantado, eu preciso
saber como encontrar o danado de um macaco que
roubou meu tesouro das mãos de minha vó Ana.
Mostre-me o caminho de seu esconderijo!

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Não demorou nada e o Olho d’Água Encantado
borbulhou e lhe respondeu:
— Garoto, quem teria coragem de fazer isso
com a vovó Ana, uma de nossas mais antigas e
respeitadas moradoras? Huuuummmm... Então você
é neto dela, é? Sinto no seu coração de menino
muita coragem e amor. Não posso deixar de ajudar
você. Pessoas assim são cada vez mais raras...
Artur não sabia falar a língua das águas,
mas conseguiu entender tudo e até ficar muito
orgulhoso das palavras do Olho d’Água, um olho
que parecia tudo ver, até o coração das pessoas.

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— Siga, menino, a trilha das palmeiras. Há uma
escadaria de pedra construída pelos índios, os
guardiões dessa floresta. No alto, encontrará diversos
pássaros, aves e pequenos animais. O cão-cão, o
alarme das aves, vai lançar seu canto, pois não o
conhece. Os animais ficarão atentos, mas você chegará
sem tirar nem deixar nada no lugar. Nas mãos levará
uma muda que ajudarei você a preparar aqui. Desse
jeito, nem se preocupe, encontrará o bem-te-vi e ele
lhe dirá o que quer saber.

Artur, seguindo as orientações do Olho d’Água,


juntou a areia molhada de sua margem, com
minhoquinhas e tudo, juntou as folhas secas, misturou
bem e formou um bolo. No meio desse bolo, enfiou
um ramo de árvore. Enrolou o bolo, ali mesmo, para
sustentar durante a viagem. Sim, a sua muda estava
pronta para ser plantada no alto da serra.
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Despediu-se do sábio Olho d’Água e subiu Nisso, apareceu o bem-te-vi, um pássaro ainda
os degraus, seguindo o brilho da luz do sol que comum na serra, sendo um dos primeiros a cantar
surgia por entre as imensas copas de árvores. ao amanhecer:
Lá no alto, muito tempo depois, procurou um — Parabéns, menino. Precisamos de mais crianças
lugar onde plantar a sua muda e o fez, sendo como você nos visitando. A floresta agradece.
acompanhado por diversos animaizinhos que Artur não estranhou. Se era possível entender
estavam mais acostumados em ver o homem a língua das águas, é claro que poderia entender
destruindo do que plantando. também a língua das aves.

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— Seu bem-te-vi, preciso encontrar o seu macaco.
Ele está com um potinho de barro de minha avó
Ana. Roubou dela o danado. E esse é o meu tesouro.
— Hahaha — gargalhou o bem-te-vi. — Na
verdade, Artur, o macaco fez isso para atrair você
para cá. Não sei que potinho é esse, mas a mata,
a floresta, os animais que aqui vivem também
são tesouros que o homem está destruindo. Você
foi convidado para ensinar às outras crianças da
importância desse tesouro, que é a vida. Se não fizer
isso, no futuro, seus filhos não nos conhecerão.

O sol já ia desaparecendo por detrás da Serra


Grande. O bem-te-vi voou, acompanhado por
Artur, levando-o para a árvore onde morava o
macaco fujão:
— Até que enfim, pensei que não viria, Tutu...
— Falou o macaco que o reconheceu e já trazia
nas mãos o potinho de barro. — Peça desculpas,
por mim, para sua vovó, mas tinha que ser assim.
Precisamos de você.
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—Meu netinho, quanta aflição eu senti. Que
Os olhos do menino brilharam. O bem-te-vi,
bom que está em casa.
emocionado, disse ao menino para correr. Vovó
Quando Vó Ana percebeu que Artur trazia o
Ana deveria estar preocupada e a noite vinha
famoso potinho, ela sorriu e percebeu que seu
ganhando o céu.
netinho havia crescido e aprendido a lutar pelas
E foi o que Artur fez. Ao lado dele, uma coruja
coisas que eram suas.
murucututu, de grandes olhos redondos, e uma
Artur tomou banho e se arrumou para
orelhuda lhe apontavam o caminho, traçado por
jantar. Mas agora estava mesmo curioso para
centenas de pirilampos brilhantes.
saber o que tinha dentro daquele potinho. Então,
Enquanto se afastava, ouvia uma coleção de
o colocou sobre a mesa, retirou a tampa e, aos
vozinhas distantes que lhe falavam como sussurros:
poucos, viu sair de dentro dele umas plaquinhas
— Vá, Artur, não se esqueça de nós, nunca
mágicas e falantes, de várias formas, de acordo
mais... nunca mais... Volte sempre.
com o tamanho das palavras escritas nelas.
Na serra já fazia frio, as pedras estavam, cada vez
Na primeira plaquinha que saiu do pote, estava
mais, lisas e úmidas. Não fossem os pirilampos com
escrita a palavra ARTUR. A plaquinha falava:
suas luzinhas verdes, seria completa, a escuridão. E
— O que é,o que é, que está escrito aqui?
foi assim, iluminado pelas pequenas lanternas dos
O sonho do menino era aprender a ler e a
insetos e com o auxílio das corujas que Artur desceu
escrever e, imediatamente, compreendeu estar ali o
a serra e chegou em casa, ainda com tempo, para
seu nome:
jantar com sua avó.
— É o meu nome... o meu nome: Artur!

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E a plaquinha continuou:
— E você poderia me dizer qual é a outra
palavra que se encontra dentro do seu nome?
Artur ficou pensando, pensando, olhou para
a avó e respondeu:
—Dentro do meu nome, eu posso encontrar
a palavra AR... O mesmo ar que nós respiramos.
Outra plaquinha pulou de dentro do potinho
e muito dinâmica perguntou:
—O que é, o que é, que está escrito aqui?
E Artur novamente leu:
—A palavra é CANA, de onde se tira o mel que
faz o caldo, que faz a rapadura, que faz o alfenim
e muitas outras coisas gostosas. E dentro dessa
palavra tem outra linda, que é o nome da pessoa
que mais eu amo: minha avó ANA.

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Saltou outra plaquinha:
— O que é, o que é, que está escrito aqui?
Artur gritou:
— TESOURO! O meu tesouro! E dentro do meu
tesouro tem a palavra OURO.
Outra plaquinha saliente saiu de seu potinho:
—Hummmm... JABUTICABA!
— E dentro da jabuticaba? Mas não vale dizer
caroço! Advertiu a plaquinha mágica.
— O meu amigo JABUTI, que devagar vai longe...
Saía outra plaquinha mágica, muito esperta,
brilhando aos olhos do menino:
—TABAJARA! TABAJARA! É o nome da tribo
dos meus antepassados, os guardiões da floresta,
que moravam em ocas lá em cima da serra. E
dentro da palavra, podemos encontrar TABA, que
é um conjunto de várias ocas.
Nesse momento, foi impossível não olhar pela
janela e se lembrar do juramento que fez ao seu
bem-te-vi: não esquecer o que aprendeu e passar
a outras crianças.
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A avó percebeu o olhar do menino e o
acalentou.
Então, do potinho saiu mais uma palavra, mais
brilhante do que todas:
— VIDA! E dentro dela eu posso dizer o que
eu VI lá em cima e que é muito bonito. Preciso
mostrar a todos, vovó.
Daquele dia em diante, Artur passava o dia
escrevendo, registrando tudo que via e ouvia naquele
lugar encantador. Os amigos também traziam novas
palavras e, dentro dessas palavras, encontravam
outras palavras e a descoberta era infinita.

Todas as semanas, crianças compartilhavam de


um tesouro que não era apenas de Artur, mas de
todos. Subiam os degraus construídos pelos índios,
tomavam banho nas águas da serra, plantavam novas
árvores, comiam frutos, brincavam com os animais.
Naquela serra, com a leitura e a natureza, a
vida se tornou maior e o mundo melhor do que
todo o mundo.
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Francisca Ferreira
Olá! Eu me chamo Francisca Ferreira. Nasci em 8 de
novembro na “terra de Iracema”, Ipu, Ceará.
Sou membro da Academia Ipuense de Letras, Ciências
e Artes. Leciono no Ensino Fundamental I e II.
Sou licenciada em letras Plena e pós-graduada em
psicopedagogia. Escrevo histórias desde quando aprendi
a ler e a escrever. Foram meus pais e minhas avós os
meus contadores de histórias. É uma grande alegria
participar pela segunda vez da coleção Paic, Prosa e Poesia.
Meu primeiro livro foi Iracema Curuminha. Escrever
para as crianças é ter a certeza que teremos um mundo
melhor, pois é através da leitura que elas encontrarão
conhecimentos para a construção de um mundo mais justo.

Li Mendes
Sou Li Mendes. Sou artista plástica, atriz, figurinista,
ilustradora e designer. Nasci em 10 de julho de 1982, na
cidade Fortaleza, onde moro até hoje. Além deste livro, já
fiz ilustrações para alguns projetos, Mariposas são feitas
de cobre, Matilde viu o Maracatu e também a Emoção do
Camaleão. Adoro trabalhar com atividades artísticas e lúdicas
para crianças. Contribuir para a formação e o aprendizado de
pequenos leitores encanta-me e faz dessa feliz missão uma
forma de compartilhar com as crianças a energia criadora
e transformadora da imaginação, desenvolvendo o senso
criativo de cada uma delas. Ler imagens é brincar com o
imaginário e criar possibilidades.
Apoio

Realização

O Governo do Estado do Ceará desenvolve, com os seus 184 municípios, o


Programa de Aprendizagem na Idade Certa - MAIS PAIC, com o compro-
misso de garantir e elevar a qualidade e os resultados da educação de suas
crianças e seus jovens.
Publicada pela Secretaria da Educação do Estado, através do MAIS PAIC, a
Coleção Paic, Prosa e Poesia, rica em identidade cultural, reúne narrativas
de autores do Ceará que tiveram seus textos selecionados por meio de se-
leção pública. Esse acervo constitui um estímulo a mais para se ler e contar
histórias em sala de aula, garantindo, assim, um letramento competente.

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