9ºano Prof - 4ºbim - LP PDF
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e Literatura
Professor
Caderno de Atividades
Pedagógicas de
Aprendizagem
Autorregulada - 04
9º ano | 4° Bimestre
Habilidades Associadas
1. Diferenciar a descrição objetiva da subjetiva.
2
Caro Tutor,
Neste caderno, você encontrará atividades diretamente relacionadas a algumas
habilidades e competências do 4° Bimestre do Currículo Mínimo de Língua Portuguesa
do 9º ano do Ensino Fundamental. Estas atividades correspondem aos estudos durante
o período de um mês.
A nossa proposta é que você atue como tutor na realização destas atividades
com a turma, estimulando a autonomia dos alunos nessa empreitada, mediando as
trocas de conhecimentos, reflexões, dúvidas e questionamentos que venham a surgir no
percurso. Esta é uma ótima oportunidade para você estimular o desenvolvimento da
disciplina e independência indispensáveis ao sucesso na vida pessoal e profissional de
nossos alunos no mundo do conhecimento do século XXI.
Neste Caderno de Atividades do 4º bimestre, o aluno vai estudar fragmentos
de alguns capítulos do romance “O cortiço” para compreender melhor as habilidades
contempladas para estudo neste caderno. Na primeira aula, vai aprender a diferenciar
a descrição objetiva da subjetiva. Na segunda aula, vai recordar algumas das figuras de
linguagem mais recorrentes nos textos, como a metáfora, por exemplo. Na aula 3, vai
aprender a identificar os personagens protagonistas e antagonistas. Já na aula 4,
aprenderá a identificar o discurso indireto livre. Reservamos a aula 5 para aprender a
usar adequadamente o dicionário. E, por fim, na aula 6, o aluno terá um estudo sobre
ortografia para tentar minimizar possíveis dificuldades ortográficas.
Este documento apresenta 08 (oito) Aulas. As aulas serão compostas por uma
explicação base, para que você seja capaz de auxiliar o aluno a compreender as
principais ideias relacionadas às habilidades e competências do bimestre em questão, e
atividades respectivas. As Atividades são referentes a dois tempos de aulas. Para
reforçar a aprendizagem, propõe-se, ainda, uma avaliação e uma pesquisa sobre o
assunto.
3
Sumário
Introdução ............................................................................................... 03
Objetivos Gerais ....................................................................................... 05
Materiais de apoio pedagógico ............................................................... 05
Orientação didático-pedagógica ............................................................. 06
Aula 01: Como descrever as personagens? .............................................. 07
Aula 02: As “artimanhas” da linguagem ................................................... 13
Aula 03: Mocinho ou bandido? ................................................................. 18
Aula 04: Com a palavra: personagens e narrador ..................................... 23
Aula 05: O amigo certo nas horas incertas ................................................ 29
Aula 06: “...como é mesmo que se escreve? Com ‘z’ ou com ‘s’?” ........... 34
Avaliação.................................................................................................... 42
Pesquisa ..................................................................................................... 48
Referências ............................................................................................... 52
4
Objetivos Gerais
08 – EF http://www.conexaoprof
18 – EF essor.rj.gov.br/download
19 – EF s/cm/cm_74_9_9A_3.pdf
Aula 2
20 – EF
22 – EF http://www.conexaoprofessor.r http://www.conexaoprof
41 – EF j.gov.br/downloads/cm/cm_11_ essor.rj.gov.br/download
5
44 – EF 9_9A_3.pdf s/cm/cm_75_9_9A_3.pdf
45 – EF
http://www.conexaoprof
essor.rj.gov.br/download
11– EF s/cm/cm_74_9_9A_3.pdf
http://www.conexaoprofessor.r
15 – EF
Aula 3 j.gov.br/downloads/cm/cm_11_
http://www.conexaoprof
22 – EF 9_9A_3.pdf
32 – EF essor.rj.gov.br/download
s/cm/cm_75_9_9A_3.pdf
http://www.conexaoprof
essor.rj.gov.br/download
11– EF s/cm/cm_74_9_9A_3.pdf
http://www.conexaoprofessor.r
15 – EF
Aula 4 j.gov.br/downloads/cm/cm_11_
http://www.conexaoprof
22 – EF 9_9A_3.pdf
32 – EF essor.rj.gov.br/download
s/cm/cm_75_9_9A_3.pdf
18 – EF http://www.conexaoprof
19 – EF essor.rj.gov.br/download
s/cm/cm_74_9_9A_3.pdf
20 – EF http://www.conexaoprofessor.r
Aula 5 44 – EF j.gov.br/downloads/cm/cm_11_
http://www.conexaoprof
64 – EF 9_9A_3.pdf
essor.rj.gov.br/download
65 – EF s/cm/cm_75_9_9A_3.pdf
84 – EF
18 – EF http://www.conexaoprof
19 – EF essor.rj.gov.br/download
s/cm/cm_74_9_9A_3.pdf
20 – EF http://www.conexaoprofessor.r
Aula 6 44 – EF j.gov.br/downloads/cm/cm_11_
http://www.conexaoprof
64 – EF 9_9A_3.pdf
essor.rj.gov.br/download
65 – EF s/cm/cm_75_9_9A_3.pdf
84 – EF
6
Orientação Didático-Pedagógica
7
Aula 1: Como descrever as personagens?
8
Atividade Comentada 1
O romance “O cortiço” é a obra que servirá como base para o estudo das
habilidades contempladas no 4º bimestre do 9º ano do Ensino Fundamental.
Romance de cunho social, O Cortiço, de Aluísio Azevedo, é uma história
envolvente e sombria de uma habitação coletiva no Rio de Janeiro do Segundo
Império. A obra tem como tema central a ambição e a exploração do homem pelo
próprio homem. De um lado, João Romão, que aspira à riqueza; e Miranda, já rico, que
aspira à nobreza. Do outro lado, a “gentalha”, caracterizada como um conjunto de
“animais”, movidos pelo instinto e pela fome.
O livro narra inicialmente a saga de João Romão rumo ao enriquecimento. Para
acumular capital, ele explora os empregados e se utiliza até do furto para conseguir
atingir seus objetivos. João Romão é o dono do cortiço, da taverna e da pedreira. Sua
amante, a negra Bertoleza, o ajuda de domingo a domingo, trabalhando sem descanso.
Nesta aula, você vai ler um fragmento do primeiro capítulo da obra, em que o
narrador conta como João Romão enganou a escrava Bertoleza, sua amante, dizendo-
lhe que tinha comprado sua carta de alforria.
... E por tal forma foi o taverneiro ganhando confiança no espírito da mulher, que
esta afinal nada mais resolvia só por si, e aceitava dele, cegamente, todo e qualquer
arbítrio. Por último, se alguém precisava tratar com ela qualquer negócio, nem mais se
dava ao trabalho de procurá-la, ia logo direito a João Romão. Quando deram fé
estavam amigados.
Ele propôs lhe morarem juntos e ela concordou de braços abertos, feliz em
meter-se de novo com um português, porque, como toda a cafuza, Bertoleza não
queria sujeitar se a negros e procurava instintivamente o homem numa raça superior à
sua.
João Romão comprou então, com as economias da amiga, alguns palmos de
terreno ao lado esquerdo da venda, e levantou uma casinha de duas portas, dividida
ao meio paralelamente à rua, sendo a parte da frente destinada à quitanda e a do
fundo para um dormitório que se arranjou com os cacarecos de Bertoleza. Havia, além
9
da cama, uma cômoda de jacarandá muito velha com maçanetas de metal amarelo já
mareadas, um oratório cheio de santos e forrado de papel de cor, um baú grande de
couro cru tacheado, dois banquinhos de pau feitos de uma só peça e um formidável
cabide de pregar na parede, com a sua competente coberta de retalhos de chita. O
vendeiro nunca tivera tanta mobília.
— Agora, disse ele à crioula, as coisas vão correr melhor para você. Você vai ficar
forra; eu entro com o que falta.
Nesse dia ele saiu muito à rua, e uma semana depois apareceu com uma folha de
papel toda escrita, que leu em voz alta à companheira.
— Você agora não tem mais senhor! declarou em seguida à leitura, que ela ouviu
entre lágrimas agradecidas. Agora está livre. Doravante o que você fizer é só seu e
mais de seus filhos, se os tiver. Acabou-se o cativeiro de pagar os vinte mil réis à peste
do cego!
— Coitado! A gente se queixa é da sorte! Ele, como meu senhor, exigia o jornal,
exigia o que era seu!
— Seu ou não seu, acabou-se! E vida nova!
Contra todo o costume, abriu-se nesse dia uma garrafa de vinho do Porto, e os
dois beberam-na em honra ao grande acontecimento. Entretanto, a tal carta de
liberdade era obra do próprio João Romão, e nem mesmo o selo, que ele entendeu de
pespegar-lhe em cima, para dar à burla maior formalidade, representava despesa
porque o esperto aproveitara uma estampilha já servida. O senhor de Bertoleza não
teve sequer conhecimento do fato; o que lhe constou, sim, foi que a sua escrava lhe
havia fugido para a Bahia depois da morte do amigo...
Disponível em http://www.lunaeamigos.com.br/fragmentos/fragmentos8.htm Acesso em 16 out.
2013.
Resposta comentada:
10
a) A cor da pele; ela é negra.
b) Bertoleza é uma escrava.
Professor(a), qualquer uma das três passagens a seguir está correta.
“O senhor de Bertoleza não teve sequer conhecimento do fato; o que lhe
constou, sim, foi que a sua escrava lhe havia fugido para a Bahia depois da morte do
amigo...”
“— Agora, disse ele à crioula, as coisas vão correr melhor para você. Você vai
ficar forra; eu entro com o que falta.”
“— Você agora não tem mais senhor! declarou em seguida à leitura, que ela
ouviu entre lágrimas agradecidas. Agora está livre. Doravante o que você fizer é só
seu e mais de seus filhos, se os tiver. Acabou-se o cativeiro de pagar os vinte mil réis
à peste do cego!”
4) O que é possível deduzir a partir da leitura do trecho “Contra todo o costume, abriu
se nesse dia uma garrafa de vinho do Porto(...)”?
Resposta comentada:
11
Ambos os personagens não tinham o hábito de tomar vinho do Porto, que é uma
bebida cara; portanto, privilégio de poucos. Também pode-se entender que João
Romão queria que a ocasião parecesse tão especial. Embora sempre muito avaro,
abriu a garrafa do vinho caro para iludir a negra e fazê-la acreditar que realmente
estava livre e que ele estava feliz com a conquista.
Descrição subjetiva:
“E por tal forma foi o taverneiro ganhando confiança no espírito da mulher, que esta
afinal nada mais resolvia só por si, e aceitava dele, cegamente, todo e qualquer
arbítrio.”
12
Aula 2: As “artimanhas” da linguagem
13
Personificação: é a figura de linguagem que consiste em atribuir linguagem,
sentimento e ações próprios dos seres humanos a seres inanimados ou irracionais.
Exemplo: A raposa disse algo que convenceu o corvo.
Hipérbole: é a figura que consiste em expressar uma ideia com exagero, a fim de
destacar, enfatizar uma ideia.
Exemplos: dizer mil vezes, morrer de rir, sair voando...
Nesta aula, você vai ler um trecho do capítulo III de “O cortiço”, em que o autor
descreve o amanhecer no cortiço.
Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a
sua infinidade de portas e janelas alinhadas.
Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada sete horas de
chumbo. Como que se sentiam ainda na indolência de neblina as derradeiras notas da
última guitarra da noite antecedente, dissolvendo se à luz loura e tenra da aurora, que
nem um suspiro de saudade perdido em terra alheia.
A roupa lavada, que ficara de véspera nos coradouros, umedecia o ar e punha-
lhe um farto acre de sabão ordinário. As pedras do chão, esbranquiçadas no lugar da
lavagem e em alguns pontos azuladas pelo anil, mostravam uma palidez grisalha e
triste, feita de acumulações de espumas secas.
Entretanto, das portas surgiam cabeças congestionadas de sono; ouviam se
amplos bocejos, fortes como o marulhar das ondas; pigarreava se grosso por toda a
parte; começavam as xícaras a tilintar; o cheiro quente do café aquecia, suplantando
14
todos os outros; trocavam-se de janela para janela as primeiras palavras, os bons-dias;
reatavam-se conversas interrompidas à noite; a pequenada cá fora traquinava já, e lá
dentro das casas vinham choros abafados de crianças que ainda não andam. No
confuso rumor que se formava, destacavam-se risos, sons de vozes que altercavam,
sem se saber onde, grasnar de marrecos, cantar de galos, cacarejar de galinhas. De
alguns quartos saiam mulheres que vinham pendurar cá fora, na parede, a gaiola do
papagaio, e os louros, à semelhança dos donos, cumprimentavam-se ruidosamente,
espanejando se à luz nova do dia.
Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma aglomeração
tumultuosa de machos e fêmeas. Uns, após outros, lavavam a cara, incomodamente,
debaixo do fio de água que escorria da altura de uns cinco palmos. O chão inundava se.
As mulheres precisavam já prender as saias entre as coxas para não as molhar; via-se
lhes a tostada nudez dos braços e do pescoço, que elas despiam, suspendendo o
cabelo todo para o alto do casco; os homens, esses não se preocupavam em não
molhar o pêlo, ao contrário metiam a cabeça bem debaixo da água e esfregavam com
força as ventas e as barbas, fossando e fungando contra as palmas da mão. As portas
das latrinas não descansavam, era um abrir e fechar de cada instante, um entrar e sair
sem tréguas. Não se demoravam lá dentro e vinham ainda amarrando as calças ou as
saias; as crianças não se davam ao trabalho de lá ir, despachavam se ali mesmo, no
capinzal dos fundos, por detrás da estalagem ou no recanto das hortas.
O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos os dias acentuava-se; já se
não destacavam vozes dispersas, mas um só ruído compacto que enchia todo o
cortiço. Começavam a fazer compras na venda; ensarilhavam se discussões e resingas;
ouviam se gargalhadas e pragas; já se não falava, gritava-se. Sentia-se naquela
fermentação sanguínea, naquela gula viçosa de plantas rasteiras que mergulham os
pés vigorosos na lama preta e nutriente da vida, o prazer animal de existir, a triunfante
satisfação de respirar sobre a terra.
Disponível em http://www.lunaeamigos.com.br/fragmentos/fragmentos8.htm Acesso em 16 out. 2013.
15
Atividade Comentada 2
Resposta comentada:
a) hipérbole (exagero: “sua infinidade de portas e janelas”)
b) metáfora.
c) personificação.
d) hipérbole/metáfora.
e) metáfora.
2) Agora, você será desafiado a localizar a figura de linguagem indicada nos parágrafos
a seguir.
a) 4º parágrafo – COMPARAÇÃO:
b) 4º parágrafo – ONOMATOPEIA:
c) 5º parágrafo – ONOMATOPEIA:
d) 5º parágrafo – ANTÍTESE:
Resposta comentada:
a) 4º parágrafo – COMPARAÇÃO: “(...) ouviam-se amplos bocejos, fortes como o
marulhar das ondas (...)”
b) 4º parágrafo – ONOMATOPEIA: “...grasnar de marrecos (...), cacarejar de
galinhas...”
c) 5º parágrafo – ONOMATOPEIA: “...em volta das bicas era um zunzum...”
16
d) 5º parágrafo – ANTÍTESE: “... era um abrir e fechar de cada instante um entrar e
sair sem tréguas.”
3) O espaço do cortiço pode ser considerado uma das personagens da obra. Além de
apresentar características tipicamente humanas, é um elemento vivo e determinante
para o enredo.
a) Qual é a figura de linguagem que atribui aos seres inanimados ou irracionais
características humanas?
Resposta comentada:
Personificação.
17
Aula 3: Mocinho ou bandido?
Atividade Comentada 3
18
cortiço e rival de João Romão) que fora contemplado pelo governo português com o
título de Barão do Freixal.
... No outro dia a casa do Miranda estava em preparos de festa. Lia-se no “Jornal
do Comércio” que Sua Excelência fora agraciado pelo governo português com o título
de Barão do Freixal; e como os seus amigos se achassem prevenidos para ir
cumprimentá-lo no domingo, o negociante dispunha-se a recebê-los condignamente.
Do cortiço, onde esta novidade causou sensação, via-se nas janelas do sobrado,
abertas de par em par, surgir de vez em quando Leonor ou Isaura, a sacudirem tapetes
e capachos, batendo-lhes em cima com um pau, os olhos fechados, a cabeça torcida
para dentro por causa da poeira que a cada pancada se levantava, como fumaça de um
tiro de peça. Chamaram-se novos criados para aqueles dias. No salão da frente, pretos
lavavam o soalho, e na cozinha havia rebuliço. Dona Estela, de penteador de cambraia
enfeitado de laços cor de rosa, era lobrigada de relance, ora de um lado, ora de outro,
a dar as suas ordens, abanando-se com um grande leque; ou aparecia no patamar da
escada do fundo, preocupada em soerguer as saias contra as águas sujas da lavagem,
que escorriam para o quintal. Zulmira também ia e vinha, com a sua palidez fria e
úmida de menina sem sangue. (...) Entretanto, a figura gorda e encanecida do novo
Barão, sobre-casacado, com o chapéu alto derreado para trás na cabeça e sem largar o
guarda-chuva, entrava da rua e atravessava a sala de jantar, seguia até a despensa,
diligente, esbaforido, indagando se já tinha vindo isto e mais aquilo, provando dos
vinhos que chegavam em garrafões, examinando tudo, voltando-se para a direita e
para a esquerda, dando ordens, ralhando, exigindo atividade, e depois tornava a sair,
sempre apressado, e metia-se no carro que o esperava à porta da rua.
— Toca! toca! Vamos ver se o fogueteiro aprontou os fogos!
(...)
Ah! ele [João Romão] esse dia estava intolerante com tudo e com todos; por
mais de uma vez mandara Bertoleza à coisa mais imunda, apenas porque esta lhe
fizera algumas perguntas concernentes ao serviço. Nunca o tinha visto assim, tão fora
de si, tão cheio de repelões; nem parecia aquele mesmo homem inalterável, sempre
calmo e metódico.
E ninguém seria capaz de acreditar que a causa de tudo isso era o fato de ter
sido o Miranda agraciado com o título de Barão.
19
Sim, senhor! aquele taverneiro, na aparência tão humilde e tão miserável; aquele
sovina que nunca saíra dos seus tamancos e da sua camisa de riscadinho de Angola;
aquele animal que se alimentava pior que os cães, para pôr de parte tudo, tudo, que
ganhava ou extorquia; aquele ente atrofiado pela cobiça e que parecia ter abdicado
dos seus privilégios e sentimentos de homem; aquele desgraçado, que nunca jamais
amara senão o dinheiro, invejava agora o Miranda, invejava-o deveras, com dobrada
amargura do que sofrera o marido de Dona Estela, quando, por sua vez, o invejara a
ele. Acompanhara-o desde que o Miranda viera habitar o sobrado com a família; vira-o
nas felizes ocasiões da vida, cheio de importância, cercado de amigos e rodeado de
aduladores; vira-o dar festas e receber em sua casa as figuras mais salientes da praça e
da política; vira-o luzir, como um grosso pião de ouro, girando por entre damas da
melhor e mais fina sociedade fluminense; vira-o meter-se em altas especulações
comerciais e sair-se bem; vira seu nome figurar em várias corporações de gente
escolhida e em subscrições, assinando belas quantias; vira-o fazer parte de festas de
caridade e festas de regozijo nacional; vira-o elogiado pela imprensa e aclamado como
homem de vistas largas e grande talento financeiro; vira-o enfim em todas as suas
prosperidades, e nunca lhe tivera inveja. Mas agora, estranho deslumbramento!
quando o vendeiro leu no “Jornal do Comércio” que o vizinho estava barão — Barão!
— sentiu tamanho calafrio em todo o corpo, que a vista por um instante se lhe apagou
dos olhos.
— Barão!
E durante todo o santo dia não pensou noutra coisa. “Barão!... Com esta é que
ele não contava!...”
Disponível em http://www.lunaeamigos.com.br/fragmentos/fragmentos8.htm Acesso em 16 out. 2013.
20
2) A partir das descrições apontadas no capítulo X sobre os personagens João Romão e
Miranda, complete o quadro a seguir com dados que caracterizam a descrição objetiva
e a subjetiva dessas personagens.
Resposta comentada:
3) Você deve ter percebido que há algumas palavras no texto que não fazem parte da
nossa linguagem cotidiana. Mesmo assim, é possível deduzir o significado de muitas
delas ao considerar o contexto em que aparecem. A partir disso, aponte o possível
significado dos termos destacados nos fragmentos a seguir.
e) “(...) a causa de tudo isso era o fato de ter sido o Miranda agraciado com o título de
Barão.”
Resposta comentada:
21
a) alvoroço, comentários, expectativa.
b) alvoroço, bagunça, confusão.
c) levantar, suspender.
d) relativas, relacionadas, sobre.
e) contemplado, beneficiado, premiado.
Resposta comentada:
a) Inveja.
b) Seu prestígio social, seus bens materiais, seu luxo e sua filha.
22
Aula 4: Com a palavra: personagens e narrador
23
nem pelos dois pontos e travessão, nem aspas, a fala do narrador confunde-se com a
de Fabiano.
Atividade Comentada 4
24
Não pôde dormir; pôs-se a malucar:
Ainda bem que não tinham filhos! Abençoadas drogas que a Bruxa dera à
Bertoleza nas duas vezes em que esta se sentiu grávida! Mas, afinal, de que modo se
veria livre daquele trambolho? E não se ter lembrado disso há mais tempo!... parecia
incrível!
João Romão, com efeito, tão ligado vivera com a crioula e tanto se habituara a
vê-la ao seu lado, que nos seus devaneios de ambição pensou em tudo, menos nela.
E agora?
E malucou no caso até às duas da madrugada, sem achar furo. Só no dia
seguinte, a contemplá-la de cócoras à porta da venda, abrindo e destripando peixe, foi
que, por associação de ideias, lhe acudiu esta hipótese:
— E se ela morresse?...
1) Como você sabe, o narrador de um texto pode ser uma das personagens da história,
quando participa dela. A esse tipo de narrador chamamos de narrador-personagem e
dizemos que o foco narrativo está na 1ª pessoa. Entretanto, quando o narrador está
de fora da história, dizemos que se trata de um narrador-observador e que o foco
narrativo está na 3ª pessoa. Para esse tipo de narrador ainda há uma subdivisão:
i. narrador intruso (fala com o leitor e julga o comportamento das personagens);
ii. narrador neutro (busca não julgar os fatos, apenas narrá-los)
iii. narrador onisciente (releva o sentimento e/ou os pensamentos das
personagens).
a) Em relação do foco narrativo, o narrador conta a história em 1ª ou 3ª pessoa?
b) A partir da leitura dos fragmentos dos capítulos I, III e XIII de “O cortiço”, responda:
que tipo de narrador predomina no romance?
c) Retire um trecho do capítulo X que comprove sua afirmativa.
Resposta comentada:
a) 3ª pessoa.
b) Narrador-onisciente.
25
c) “E tinha de estirar-se ali, ao lado daquela preta fedorenta a cozinha e bodum de
peixe! Pois, tão cheiroso e radiante como se sentia, havia de pôr a cabeça naquele
mesmo travesseiro sujo em que se enterrava a hedionda carapinha da crioula?...”
“Uma vez deitado, sem ânimo de afastar-se da beira da cama, para não se
encostar com a amiga, surgiu-lhe nítida ao espírito a compreensão do estorvo que o
diabo daquela negra seria para o seu casamento.”
“Ainda bem que não tinham filhos! Abençoadas drogas que a Bruxa dera à
Bertoleza nas duas vezes em que esta se sentiu grávida! Mas, afinal, de que modo se
veria livre daquele trambolho? E não se ter lembrado disso há mais tempo!... parecia
incrível!”
“E agora?”
26
“Ainda bem que não tinham filhos! Abençoadas drogas que a Bruxa dera à
Bertoleza nas duas vezes em que esta se sentiu grávida! Mas, afinal, de que modo se
veria livre daquele trambolho? E não se ter lembrado disso há mais tempo!... parecia
incrível!”
“E agora?”
“... No outro dia a casa do Miranda estava em preparos de festa. Lia se no “Jornal
do Comércio” que Sua Excelência fora agraciado pelo governo português com o título
de Barão do Freixal; (...) Chamaram-se novos criados para aqueles dias. No salão da
frente, pretos lavavam o soalho, e na cozinha havia rebuliço.”
Há, na passagem destacada, metáfora ou metonímia? Explique.
Resposta comentada:
27
Metonímia. Preta é a cor da pele dos empregados que realizam o serviço doméstico
na casa de Miranda, ex-escravos. Como as pessoas que vieram realizar o trabalho nas
lavouras de cana-de-açúcar no período colonial no Brasil eram negros africanos, a
característica da pele negra passou a designar a própria pessoa.
28
Aula 5: O amigo certo nas horas incertas
Você já percebeu que cada vez que lemos um texto sempre nos deparamos com
palavras cujo significado desconhecemos? Certamente você também já notou que a
linguagem escrita exige de nós muita atenção, pois não podemos escrever da maneira
como bem entendemos. Além dos cuidados básicos que devemos ter com a ortografia
no momento em que produzimos nossos textos, é preciso saber a melhor maneira de
transpor para o papel nossas ideias para que o interlocutor (a pessoa para a qual
escrevemos) possa nos entender claramente. Nessas horas, algumas dúvidas surgirão
em relação à maneira correta de grafar esta ou aquela palavra. E sabe quem deverá ser
seu companheiro inseparável? Ele mesmo, o dicionário!
Por esta indiscutível razão é que iremos ver agora um pouco mais sobre as
características dele, para aprendermos cada vez mais a valorizá-lo, assim como ele
merece.
Vamos recordar algumas informações que são essenciais para você utilizar o
dicionário de forma adequada e eficiente.
Você sabe que o nosso alfabeto é constituído de 26 letras, e que as palavras
contidas nos dicionários aparecem organizadas em ordem alfabética, assim como
observamos em alguns gêneros textuais, como é o caso da lista telefônica,
enciclopédias, diário de classe, entre outros. E você sabe o porquê dessa organização?
Ela serve para facilitar ainda mais nossa busca.
Ao abrirmos uma página do dicionário, logo percebemos a presença de duas
palavras que se destacam, principalmente porque elas vêm escritas no canto direito e
no canto esquerdo. Além de serem denominadas de palavras-chave, elas também
servem para orientar nossa consulta, pois indicam a primeira e a última palavra de
cada página e cada palavra do dicionário recebe o nome de verbete.
Para que você possa compreender melhor, vamos analisar o verbete
“abreviatura”:
Abreviatura, s.f. 1. Fração de palavra que designa o vocábulo todo. 2. Sinal com
que se representa uma palavra. 3. Qualquer coisa em ponto pequeno; miniatura.
a.bre.vi.a.tu.ra
29
Após localizamos o verbete que procuramos, percebemos a presença de algumas
letras que surgem abreviadas. Viu só? Estamos falando de abreviatura e logo a
encontramos!
No caso do nosso exemplo, “s.” e “f.” significam “substantivo” e “feminino”,
uma vez que representam informações importantes que devemos saber sobre a
palavra em estudo. No entanto, podemos identificar outras abreviaturas, como, por
exemplo:
adj. – adjetivo sing. – singular
s. m. – substantivo masculino pl. – plural
num. – numeral
30
Disponível em http://www.escolakids.com/uso-do-dicionario.htm Acesso em 19 out. 2013.
Atividade Comentada 5
31
pedaço de ferro em brasa; e ali mesmo, perto deles, a forja escancarava uma goela
infernal, de onde saiam pequenas línguas de fogo, irrequietas e gulosas.
3) Leia com atenção as passagens a seguir. Após, procure explicar o significado das
expressões destacadas, considerando-se o contexto em que aparecem.
a) “(...) os sapatos enfarinhavam-se de uma poeira clara.”
32
b) “(...) que parecia ter sido bebido de um trago por aquele sol sedento (...)”
c) “(...) barulho metálico do picão que feria o granito.”
d) “(...) de onde saíam pequenas línguas de fogo (...)” faíscas
Resposta comentada:
a) Os sapatos ficavam cheios de pó fino de pedra, uma espécie de poeira que se
assemelhava à farinha.
b) Bebeu rapidamente, num único gole.
c) Partia, quebrava o granito.
d) Faíscas.
33
Aula 6: “... como é mesmo que se escreve? Com ‘z’ ou com ‘s’?”
“Professora, ‘desli_e’ é com ‘z’ ou com ‘s’? ‘Ma_estade’ é com ‘g’ ou ‘j’?
‘En_arcar’ é com ‘x’ ou ‘ch’?” Você se lembra de quantas vezes teve dúvidas quanto à
ortografia oficial das palavras? Certamente inúmeras vezes. Ter esse tipo de dúvida é
algo normal, mas você precisa estar sempre atento, pois não é legal escrever um texto
com muitos erros de ortografia. Há quem acredite que o indivíduo que comete muitos
erros ortográficos não domina a língua. Na verdade, o que a pessoa talvez não domine
é a linguagem padrão, mas não significa que ela não sabe português. Se fosse assim,
não conseguiria se comunicar minimamente em português, tanto na modalidade oral
quanto escrita da língua. Portanto, escrever de forma inadequada em determinadas
ocasiões cria uma imagem desfavorável do usuário da língua, o que pode trazer
consequências desastrosas para sua vida, como ser reprovado numa prova de
concurso, por exemplo, ou até mesmo ser ridicularizado.
Vale lembrar que escrever é algo que vai além da vida escolar, das provas e das
redações de concursos. É uma forma de transmitir ideias e conhecimentos adquiridos,
expressar opiniões, promover reflexões, influenciar o outro, etc. Obviamente, escrever
é uma atividade que exige conhecimento da ortografia, da gramática e do léxico
(vocabulário) de sua língua, adquirido ao longo dos anos na escola e nas inúmeras
práticas comunicativas de que participamos todos os dias como sujeitos sociais que
somos.
A leitura frequente de diversos gêneros textuais, sobretudo os mais formais,
como artigos, reportagens, textos didáticos, editoriais, resenhas, entre outros, ajuda
bastante na escrita, pois você toma contato com uma grande quantidade de palavras
grafadas da maneira correta e, através do contato permanente com os textos, você
inevitavelmente memorizará a ortografia de muitas palavras e as dúvidas serão menos
frequentes. Assim, escreverá com mais domínio e segurança.
Com o acesso à Internet e o advento da comunicação virtual através de e-mails,
blogs, Twitter e Facebook, surgiu uma nova forma de linguagem escrita, o chamado
internetês. Expressões como “vc”, “bjs”, “pq”, “ta”, “oq”, “blz”, “vlw” são muito
comuns e foram criadas para agilizar a comunicação nesses ambientes virtuais.
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Entretanto, é sempre bom lembrar que, da mesma forma que se torna entediante e
demorado escrever tudo “certinho” (letra por letra, acentos, vírgulas, ponto final...)
num bate-papo informal no face, também não cabe utilizar o internetês numa prova,
num trabalho da escola, num currículo e nem num e-mail formal, por exemplo, pois
esses textos exigem um grau maior de formalidade em função dos seus propósitos
comunicativos e do papel social do interlocutor. Cada nível de linguagem deve ser
adequado à situação de comunicação do qual o usuário da língua participa.
Sempre que você tiver dúvidas quanto à ortografia oficial das palavras, recorrera
a um dicionário. Ele vai te ajudar com a grafia das palavras, a acentuação gráfica, a
separação silábica e o significado. E não confie totalmente no corretor ortográfico do
Microsoft Word. Ele pode errar feio! Como vimos na aula passada, o dicionário é
sempre o amigo certo nas horas incertas!
Vamos , agora, testar seus conhecimentos sobre a ortografia oficial das palavras?
Disponível http://portuguesatualblog.blogspot.com.br/2010/07/dificuldades-ortograficas-emprego-de-
s.html Acesso em 20 out. 2013.
Atividade Comentada 6
CADEADO BRUXA
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MEXERICA PINÇA
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es – pe – lho me – lan – ci – a
i – tem e – co – no – mia – a
PARÔNIMAS
Tráfico – comércio ilegal Tráfego – fluxo intenso de veículos
Inflação: desvalorização do dinheiro Infração: desobediência às leis
Despensa: lugar onde se guarda alimentos Dispensa: isenção, licença
Descrição: ato de descrever, caracterizar Discrição: reserva de atitudes
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5) No texto a seguir, algumas palavras tiveram sua ortografia padrão modificada. Com
base nisso:
a) CIRCULE somente as palavras cuja ortografia está em desacordo com norma culta
escrita.
Resposta comentada:
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aparece alguém querendo fazer dessas escolhas uma regra. Geralmente são os que
não estão bem inteirados da língua e buscam soluções rápidas nos guias práticos de
redação. Nada contra. O problema é julgar inquestionáveis as informações que esses
manuais contêm, esquecendo-se de que eles estão, na maioria dos casos, sendo
práticos – deixando para as gramáticas a explicação dos fundamentos da língua
portuguesa.
Com informação, vocabulário e o auxílio da gramática, você tem plenas
condições de escrever um bom texto. Mas, antes de se aventurar, considere quem vai
ler o que você escreveu. A galera da faculdade, o pessoal da empresa ou a turma da
balada? As linguagens são diferentes.
Afinal, a língua está viva, renovando-se sem parar, circulando em todos os lu-
gares, em todos os momentos do seu dia. Estar antenado, ir no embalo, baixar um
arquivo, clicar no ícone – mais que expressões – são maneiras de se inserir num grupo,
de socializar-se.
Disponível em http://valdinere123.blogspot.com.br/2011/05/o-teatro-da-etiqueta-
no-seculo-xv.html Acesso em 20 out. 2013.
Animais no espaço
Os ru ___os já u___aram cachorros em suas e___periên___ias. Eles têm o
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sistema cardíaco parecido com o dos seres humanos. Estudando o que acontece com
eles, os cientistas descobrem quais problemas podem acontecer com as pe___oas.
A cadela Laika, tripulante da Sputnik-2, foi o primeiro ser vivo a ir ao espaço, em
novembro de 1957, quatro anos antes do primeiro homem, o astrona___ta Gagarin.
Os norte-americanos gostam de fazer e___periên___ias científicas espaciais com
macacos, pois o corpo deles se parece com o humano. O chimpan__é é o pref___rido
porque é inteli___ente e convive melhor com o homem do que as outras espé___ies
de macacos. Ele aprende a comer alimentos ___intéticos e não se incomoda com a
roupa espacia___.
Além disso, os macacos são treinados e podem fazer tarefas a bordo, como
a___ionar os comandos das naves, quando as lu___es coloridas a___endem no painel,
por e___emplo.
Enos foi o mais famo___o macaco a viajar para o espaço, em novembro de 1961,
a bordo da nave Mercury/Atlas 5. A nave de Enos teve problemas, mas ele voltou são e
a sa___vo, depois de ter trabalhado direitinho. Seu único erro foi ter comido muito
depre___a as pasti____as de banana durante as refei___ões.
Disponível em http://provasdeportugues.blogspot.com.br/2013/09/avaliacao-de-portugues-
ensino-medio.html#!/2013/09/avaliacao-de-portugues-ensino-medio.html Acesso em 20 out. 2013 –
com adaptações.
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exemplo.
Enos foi o mais famoso macaco a viajar para o espaço, em novembro de 1961, a
bordo da nave Mercury/Atlas 5. A nave de Enos teve problemas, mas ele voltou são e
salvo, depois de ter trabalhado direitinho. Seu único erro foi ter comido muito
depressa as pastilhas de banana durante as refeições.
41
Avaliação
1° Possibilidade:
As disciplinas nas quais os alunos participam da Avaliação do Saerjinho, pode-se utilizar
a seguinte pontuação:
Saerjinho: 2 pontos
Avaliação: 5 pontos
Pesquisa: 3 pontos
Participação: 2 pontos
Avaliação: 5 pontos
Pesquisa: 3 pontos
Caro(a) aluno(a),
Agora que você estudou as seis aulas deste bimestre, está preparado para testar
os conhecimentos adquiridos ao longo destas quatro semanas! A seguir, você deverá
responder às questões propostas. Elas foram formuladas de acordo com as habilidades
trabalhadas neste caderno. Bom trabalho e boa prova!
Você vai ler um fragmento do capítulo XIX, em que o narrador conta como
Bertoleza percebeu o esforço de João Romão para ascender socialmente. Após,
responda às questões de 1 a 5.
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... Era isto justamente o que, tanto o Barão como o Botelho, morriam por que lhe
dissessem. Sim, porque aquela boa casa que se estava fazendo, e os ricos móveis
encomendados, e mais as pratas e as porcelanas que haviam de vir, não seriam
decerto para os beiços da negra velha! Conservá-la ia como criada? Impossível! Todo
Botafogo sabia que eles até aí fizeram vida comum!
Todavia, tanto o Miranda, como o outro, não se animavam a abrir o bico a esse
respeito com o vizinho e contentavam-se em boquejar entre si misteriosamente,
palpitando ambos por ver a saída que o vendeiro acharia para semelhante situação.
Maldita preta dos diabos! Era ela o único defeito, o senão de um homem tão
importante e tão digno.
Agora, não se passava um domingo sem que o amigo de Bertoleza fosse jantar à
casa do Miranda. Iam juntos ao teatro. João Romão dava o braço à Zulmira, e,
procurando galanteá-la e mais ao resto da família, desfazia-se em obséquios brutais e
dispendiosos, com uma franqueza exagerada que não olhava gastos. Se tinham de
tomar alguma coisa, ele fazia vir logo três, quatro garrafas ao mesmo tempo, pedindo
sempre o triplo do necessário e acumulando compras inúteis de doces, flores e tudo o
que aparecia. Nos leilões das festas de arraial era tão feroz a sua febre de obsequiar a
gente do Miranda, que nunca voltava para casa sem um homem atrás, carregado com
os mimos que o vendeiro arrematava.
E Bertoleza bem que compreendia tudo isso e bem que estranhava a
transformação do amigo. Ele ultimamente mal se chegava para ela e, quando o fazia,
era com tal repugnância, que antes não o fizesse. A desgraçada muita vez sentia-lhe
cheiro de outras mulheres, perfumes de cocotes estrangeiras e chorava em segredo,
sem ânimo de reclamar os seus direitos. Na sua obscura condição de animal de
trabalho, já não era amor o que a mísera desejava, era somente confiança no amparo
da sua velhice quando de todo lhe faltassem as forças para ganhar a vida. E
contentava- se em suspirar no meio de grandes silêncios durante o serviço de todo o
dia, covarde e resignada, como seus pais que a deixaram nascer e crescer no cativeiro.
Escondia-se de todos, mesmo da gentalha do frege e da estalagem, envergonhada de
si própria, amaldiçoando-se por ser quem era, triste de sentir-se a mancha negra, a
indecorosa nódoa daquela prosperidade brilhante e clara.
E, no entanto, adorava o amigo, tinha por ele o fanatismo irracional das caboclas
do Amazonas pelo branco a que se escravizam, dessas que morrem de ciúmes, mas
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que também são capazes de matar-se para poupar ao seu ídolo a vergonha do seu
amor. O que custava aquele homem consentir que ela, uma vez por outra, se chegasse
para junto dele? Todo o dono, nos momentos de bom humor, afaga o seu cão... Mas
qual! o destino de Bertoleza fazia-se cada vez mais estrito e mais sombrio; pouco a
pouco deixara totalmente de ser a amante do vendeiro, para ficar sendo só uma sua
escrava. Como sempre, era a primeira a erguer-se e a última a deitar-se; de manhã
escamando peixe, à noite vendendo-o à porta, para descansar da trabalheira grossa
das horas de sol; sempre sem domingo nem dia santo, sem tempo para cuidar de si,
feia, gasta, imunda, repugnante, com o coração eternamente emprenhado de
desgostos que nunca vinham à luz. Afinal, convencendo-se de que ela, sem ter ainda
morrido, já não vivia para ninguém, nem tampouco para si, desabou num fundo
entorpecimento apático, estagnado como um charco podre que causa nojo. Fizera-se
áspera, desconfiada, sobrolho carrancudo, uma linha dura de um canto ao outro da
boca. E durante dias inteiros, sem interromper o serviço, que ela fazia agora
automaticamente, por um hábito de muitos anos, gesticulava e mexia com os lábios,
monologando sem pronunciar as palavras. Parecia indiferente a tudo, a tudo que a
cercava...
“Sim, porque aquela boa casa que se estava fazendo, e os ricos móveis
encomendados, e mais as pratas e as porcelanas que haviam de vir, não seriam
decerto para os beiços da negra velha! Conservá-la ia como criada? Impossível! Todo
Botafogo sabia que eles até aí fizeram vida comum!”
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No fragmento analisado, pode-se depreender que João Romão e Bertoleza eram
amantes e viviam juntos, como qualquer casal. Essa informação pode ser confirmada
por meio da expressão: “fizeram vida comum”. Portanto, a alternativa A é a resposta
correta. As informações contidas nas demais alternativas não podem ser
confirmadas no fragmento, pois não há qualquer pista que leve o leitor a deduzi-las.
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c) agradar e adquiria.
d) cortejar e completava.
Resposta comentada:
Essa questão pode ser resolvida analisando-se com atenção o contexto em que os
termos aparecem. É possível deduzir que “obsequiar” significa “agradar”, “oferecer”,
“presentear”, “cortejar”. “Arrematava” significa, no contexto, apenas “adquiria”, já
que João Romão comprova muitos presentes.
4) Das passagem a seguir, qual a única que NÃO apresenta uma descrição subjetiva da
personagem Bertoleza?
a) “(...) feia, gasta, imunda, repugnante, com o coração eternamente emprenhado de
desgostos (...)”
b) “Fizera-se áspera, desconfiada, sobrolho carrancudo, uma linha dura de um canto ao
outro da boca.”
c) “(...) sem interromper o serviço (...) gesticulava e mexia com os lábios,
monologando sem pronunciar as palavras.”
d) “E contentava- se em suspirar no meio de grandes silêncios durante o serviço de todo
o dia, covarde e resignada (...)”
Resposta comentada:
A descrição subjetiva é influenciada pela emoção de quem escreve, podendo ou não
distorcer a realidade. Dessa forma, a única alternativa que NÃO contém uma descrição
subjetiva é a letra C. Nela, a descrição do narrador é objetiva, pois apresenta ações
concretas da personagem. Nas alternativas A, B e D, há presença de adjetivos,
caracterizando psicologicamente e com evidente marca de subjetividade a
personagem Bertoleza (feia, gasta, imunda, repugnante, áspera, desconfiada,
sobrolho carrancudo, covarde e resignada).
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Nesses trechos, pode-se verificar, respectivamente, a presença das figuras de linguagem
a) hipérbole e metáfora.
b) antítese e comparação.
c) onomatopeia e gradação.
d) metonímia e personificação.
Resposta comentada:
No texto I, os termos “primeira” e “última” se opõe quanto Ao sentido; caracterizam,
portanto, uma antítese. No texto II, o estado psicológico de Bertoleza é comparado a
um “charco podre que causa nojo”. Nesse caso, temos uma comparação.
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Pesquisa
Caro professor aplicador, para esta atividade, sugerimos que divida a turma em
duplas ou em grupos .
Se possível, permita que os alunos acessem a sala de informática ou consultem
jornais, revistas e livros na sala de leitura da escola para dinamizarem o trabalho com
novas possibilidades de fontes de pesquisa.
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Escondia se de todos, mesmo da gentalha do frege e da estalagem, envergonhada de si
própria, amaldiçoando-se por ser quem era, triste de sentir-se a mancha negra, a
indecorosa nódoa daquela prosperidade brilhante e clara.”
Disponível em http://www.lunaeamigos.com.br/fragmentos/fragmentos8.htm Acesso em 16 out. 2013.
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De posse dessas informações, você deverá realizar uma pesquisa, dividida em
duas etapas, que poderá ser realizada em duplas ou em grupos:
Você poderá fazer outras perguntas que achar interessantes. A partir das
informações fornecidas pelo entrevistado, organize-as em um texto em que você
apresente a pessoa entrevistada (se ela consentir, é claro!) e exponha as informações
colhidas. Leia seu texto para seu (sua) professor(a) e colegas.
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Pixinguinha, Cartola (compositores);
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Referências
[1] ABAURRE, Maria Luiza M.; ABAURRE, Maria Bernadete M.; PONTARA, Marcela.
Português: contexto, interlocução e sentido. São Paulo: Moderna, 2010. 2º vol., p.
174-230.
[2] BAGNO, Marcos. Português ou brasileiro? São Paulo: Parábola, 2001.
[3] Brasil, Ministério da Educação. PDE: Plano de Desenvolvimento da educação:
SAEB: ensino médio: matrizes de referência, tópicos e descritores. Brasília: MEC,
SAEB; Inep, 2008.
[4] CEREJA, William Roberto; MAGALHÃES, Thereza Cochar. Português: linguagens. V.
2, ensino médio. 7. ed. ref. São Paulo: Saraiva, 2010.
[5] GANCHO, Candida Vilares. Como analisar narrativas. São Paulo: Ática, 2006.
[6] ILARI, Rodolfo. Introdução à semântica: brincando com a gramática. 5 ed. São
Paulo: Contexto, 2004.
[7] KOCH, Ingedore. Ler e compreender os sentidos do texto. São Paulo: Contexto,
2006.
[8] MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão.
3. ed. São Paulo: Parábola, 2008, p. 233.
[9] (Org.) Editora Moderna. Projeto Araribá. Português 7ª série. São Paulo: Ed.
Moderna, 2006.
[10] PLATÃO, Francisco; FIORIN, José Luiz. Para entender o texto: leitura e redação.
10. ed. São Paulo: Ática, 1995.
[11] Rio de Janeiro. Secretaria de Estado de Educação. Orientações Pedagógicas para o
9º ano do Ensino Fundamental – 1º e 2º ciclos do 4º bimestre. Rio de Janeiro, 2013.
[12] Rio de Janeiro. Secretaria de Estado de Educação. Roteiro de Atividades para o 9º
ano do Ensino Fundamental – 1º e 2º ciclos do 4º bimestre. Rio de Janeiro, 2013.
52
SITES PESQUISADOS:
http://stat.correioweb.com.br/arquivos/educacao/arquivos/AlusioAzevedo-
OCortio0.pdf
http://provasdeportugues.blogspot.com.br/2013/09/avaliacao-de-portugues-ensino-
medio.html#!/2013/09/avaliacao-de-portugues-ensino-medio.html Acesso em 20 out.
2013.
http://valdinere123.blogspot.com.br/2011/05/o-teatro-da-etiqueta-no-seculo-xv.html
Acesso em 20 out. 2013
http://portuguesatualblog.blogspot.com.br/2010/07/dificuldades-ortograficas-
emprego-de-s.html Acesso em 20 out. 2013.
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Equipe de Elaboração
PROFESSORES ELABORADORES
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