Contrato de Depósito Bancário
Contrato de Depósito Bancário
Contrato de Depósito Bancário
1. INTRODUÇÃO
(*)
Professor da Faculdade de Direito da Universidade do Porto.
(1)
Aspecto que será desenvolvido com mais detalhe infra, n.º 4.1.1.
escritural — pelo sistema bancário. Numa sociedade que é cada vez mais
cashless (seguramente para as transacções de maior valor (2)), os pagamen-
tos das diversas transacções fazem-se recorrendo a transferências de moeda
escritural, através de diferentes figuras bancárias (p. ex., transferências
bancárias, cartões de débito, autorizações de débito, etc.), de conta para
conta (3). Contas que tem de estar para tal aprovisionadas. Através de
depósitos de dinheiro (integralmente, se se recorrer a uma concepção ampla
destes).
Mas não só. Na verdade, para além das funções acima vistas, e que
estão sobretudo ligadas aos depósitos à ordem, os depósitos bancários a
prazo (principalmente) são, para os depositantes, um importante meio
colocação de poupanças de baixo risco e, para as instituições de crédito,
um relevantíssimo meio de financiamento, a que recorrem para a conces-
são de crédito. Portanto: da realização da função de intermediação finan-
ceira, característica dos bancos, e que é fundamental para a concessão de
crédito aos diversos agentes económicos (em particular, nos países cujo
crédito seja essencialmente o bancário, tendo o recurso ao financiamento
junto do mercado de capitais um papel reduzido).
O depósito bancário (rectius: os diferentes depósitos bancários) tem
deste modo um papel central tanto no sistema bancário como na economia
em geral. O que justifica que este tema, que desde sempre tem merecido
a atenção da doutrina (4), sendo nessa medida um tema clássico (5), seja
agora revisitado.
(2)
Aquelas de valor diminuto continuam, pelo menos de momento, a realizar-se
com recurso a numerário, ou moeda legal. Estamos sempre a referir-nos a transacções
lícitas.
(3)
Ver E. P. ERLLINGER/E. LOMNICKA/R. J. A. HOOLEY, Erllinger’s modern banking
law, 4.ª ed., Oxford University Press, Oxford, 2006, pp. 202 ss.
(4)
Já no Direito romano, ver: ANTÓNIO DOS SANTOS JUSTO, “As acções do pretor
(actiones praetoriae)”, separata do vol. LXV, do Boletim da Faculdade de Direito da Uni-
versidade de Coimbra, Coimbra, 1989, p. 25; REINHARD ZIMMERMANN, The law of obliga-
tions, roman foundations of the civilian tradition, Juta & Co./Beck, Africa do Sul/ Munique,
1993, pp. 215 ss.
(5)
Objecto de análise em todas as obras de Direito bancário e tendo sido, ainda,
recentemente, entre nós, objecto de uma monografia bastante completa: PAULA PONCES
CAMANHO, Do contrato de depósito bancário, Almedina, Coimbra, 1998. Há ainda a
apontar o desenvolvido estudo de CARLOS LACERDA BARATA, “Contrato de depósito ban-
cário”, in: Estudos em homenagem ao Professor Doutor Inocêncio Galvão Telles, vol. II,
Direito bancário (organizado pelos Professores Doutores António Menezes Cordeiro, Luís
Menezes Leitão e Januário da Costa Gomes), Almedina, Coimbra, 2002, pp. 7 ss.
2. O DEPÓSITO EM GERAL
(6)
Ver, sobre este ponto, entre nós, DIOGO LEITE DE CAMPOS, “Ensaio de análise
tipológica do contrato de locação financeira”, Boletim da Faculdade de Direito da Univer-
sidade de Coimbra, 1987, pp. 1-2. Ver ainda especificamente sobre o depósito bancário,
e ao relevo deste tipo de análise, ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO, Manual de direito bancá-
rio, 3.ª ed., Almedina, Coimbra, 2006, p. 482.
(7)
Uma ressalva final: os depósitos de que aqui curamos são só aqueles que se
integram (em maior ou menor grau, parcial ou integralmente) na actividade de intermedia-
ção financeira dos bancos, não os que se inserem, exclusivamente, na sua actividade de
prestação de serviços, como sucede, p. ex., com o depósito de uma quantia de dinheiro
para o banco proceder à sua administração.
(8)
Cfr. WOLFGANG FIKENTSCHER/ANDREAS HEINEMANN, Schuldrecht, 10.ª, de Gruyter,
Berlim, 2006, § 90 I, p. 645
III. O depositário não pode usar a coisa depositada, a não ser que o
depositante o tenha autorizado. Havendo essa autorização, e quando o
depósito seja gratuito, há aqui uma aproximação grande ao comodato em
que existe igualmente uma obrigação de guarda da coisa [art. 1135.º,
al. a)]. As figuras, no entanto, não se confundem.
Para além de, como se referiu, o dever de guarda constituir o elemento
marcante do depósito (sendo um dever principal de prestação), enquanto é
meramente secundário no comodato ou na locação (dever secundário), o uso
da coisa tem igualmente no caso do depósito um relevo de segunda linha
relativamente à guarda da coisa, sendo esse elemento que marca o contrato
e o interesse primeiro que este visa satisfazer; ao contrário do que sucede
no comodato ou na locação, em que o uso da coisa pelo comodatário ou
locatário passa para o primeiro plano, sendo nuclear no contrato.
Em segundo lugar, existem diferenças de regime relevantes. Com
efeito, enquanto o comodatário pode efectuar as deteriorações “inerentes
a uma prudente utilização” da coisa (arts. 1043.º, n.º 1, e 1137.º, n.º 3),
(9)
As normas doravante citadas sem outra indicação pertencem ao Código Civil.
(10)
Ver, desenvolvidamente, sobre este ponto JOSÉ CARLOS BRANDÃO PROENÇA, “Do
dever de guarda do depositário e de outros detentores precários: âmbito e função, critério
de apreciação da culpa e impossibilidade de restituição”, Direito e Justiça, tomo 2, 1994,
pp. 45 ss.; tomo 1, 1995, pp. 47 ss.
(11)
FIORENTINO, apud PIRES DE LIMA/ANTUNES VARELA, Código civil anotado,
vol. II, cit., p. 837.
IV. Tendo sido fixado prazo, ele é a favor do depositante, o que sig-
nifica que este poderá exigir a restituição da coisa a qualquer momento
(mas se o depósito for oneroso terá que pagar a retribuição por inteiro,
salvo se tiver justa causa (13) — art. 1194.º), embora o depositário só a
possa restituir decorrido o prazo. Não tendo sido fixado o prazo, a obri-
gação de restituição da coisa é pura, podendo o depositário restitui-la a
todo o tempo (art. 1201.º) e tendo de o fazer quando o depositante,
interpelando-o, o exigir.
(12)
Assim, LUÍS MENEZES LEITÃO, Direito das obrigações, vol. III, Contratos em
especial, 6.ª ed., Almedina, Coimbra, 2009, p. 490.
(13)
Trata-se aqui de uma resolução com justa causa, ver PEDRO ROMANO MARTINEZ,
Da cessação do contrato, 2.ª ed., Almedina, Coimbra, 2006, p. 548.
(14)
A obrigação de restituir no depósito aproxima-se daquela que se verifica na
locação, no comodato, no transporte e no penhor. Ver, para a análise destas obrigações de
restituição e sua distinção das obrigações que tenham por objecto prestações principais de
coisa, PEDRO MÚRIAS/MARIA DE LURDES PEREIRA, “Prestações de coisa: transferência de
risco e obrigações de reddere”, in: Cadernos de Direito Privado, Julho/Setembro, 2008,
pp. 11 ss.
(15)
Cfr. JORGE RIBEIRO DE FARIA, Direito das obrigações, vol. I, Almedina, Coimbra,
1990, p. 247.
10 — RFDUP
(16)
W. FIKENTSCHER/A. HEINEMANN, Schuldrecht, cit., § 90 I, p. 645.
3. O DEPÓSITO IRREGULAR
(17)
Sobre este, ver JOÃO TIAGO MORAIS ANTUNES, Do contrato de depósito escrow,
Almedina, Coimbra, 2007, pp. 72 ss.
(18)
Ver PIRES DE LIMA/ANTUNES VARELA, Código civil anotado, vol. II, cit., p. 847.
(19)
Quanto a este, ver: PIRES DE LIMA/ANTUNES VARELA, Código civil anotado,
vol. II, cit., p. 859; A. MENEZES CORDEIRO, Manual de direito bancário, cit., pp. 475 ss.;
PAULA PONCES CAMANHO, Do contrato de depósito bancário, Almedina, Coimbra, 1998,
pp. 179 ss.; C. LACERDA BARATA, “Contrato de depósito bancário”, cit., pp. 41 ss.; ARTURO
DALMARTELLO/GIUSEPPE B. PORTALE, “Deposito (diritto vigente)”, in: Enciclopedia del
Diritto, XII, pp. 269 ss.; ERNESTO SIMONETTO, “Deposito irregulare”, in: Digesto delle
discipline privatistische, sezione civile, V, pp. 279 ss.; DIETER MEDICUS, Schuldrecht II,
Besonderer Teil, 12.ª ed., C.H. Beck, Munique, 2004, § 107, p. 218; HANS BROX/WOLF-DIE-
TRICH W ALKER , Besonderes Schuldrecht, 29.ª ed., C.H. Beck, Munique, 2004, § 30,
pp. 342-343; W. FIKENTSCHER/A. HEINEMANN, Schuldrecht, cit., § 90 III, p. 646.
(20)
PIRES DE LIMA/ANTUNES VARELA (Código civil anotado, vol. II, cit., p. 862;
posição a que adere A. MENEZES CORDEIRO, Manual de direito bancário, cit., p. 476)
sustentam a aplicação do art. 1148.º, n.º 1, uma vez que este, com o prazo de 30 dias, teria
sido fixado em atenção ao carácter fungível dos bens. Não cremos que seja assim.
O depósito irregular, como se verá já de seguida em texto, distingue-se do mútuo pela
permanente disponibilidade dos bens, mesmo quando tenha sido fixado prazo, uma vez que
este é a favor do depositante. Não faria sentido conceder este prazo de trinta dias ao
depositário quando não tenha sido fixado prazo. A norma faz sentido no mútuo, onde é
essencial a existência de uma dilação temporal, mesmo que reduzida, a favor do mutuário,
mas já não, pelo motivo apontado, no depósito irregular.
(21)
Neste sentido, C. LACERDA BARATA, “Contrato de depósito bancário”, cit.,
pp. 41 ss., p. 46; E. SIMONETTO, “Deposito irregulare”, cit., p. 281.
(22)
Neste sentido: JOSÉ DIAS MARQUES, Noções elementares de direito civil (com a
colaboração de Paulo Almeida), Lisboa, 1992, p. 262; JOÃO DE CASTRO MENDES, Teoria
geral do direito civil, vol. I, AAFDL, Lisboa, 1978, p. 409; HEINRICH E. HÖRSTER, A parte
geral do código civil português, Almedina, Coimbra, 1992, p. 186.
(23)
A. MENEZES CORDEIRO, Manual de direito bancário, cit., p. 477.
(24)
Sustentando estarmos perante um “negócio especial”, que não é nem mútuo nem
depósito, ADRIANO VAZ SERRA, “Anotação ao acórdão do STJ de 17-3-1961”, Revista de
legislação e de jurisprudência, ano 94.º, p. 380, em nota.
(25)
Os Autores do projecto do Código sabiam da divergência doutrinal e escolheram,
e bem, não tomar partido, limitando-se a fixar o regime do contrato. Ver I. GALVÃO TEL-
LES, “Contratos civis, exposição de motivos”, Revista da Faculdade de Direito da Univer-
sidade de Lisboa, 1953, p. 215.
(26)
A questão era já debatida em Roma. Como refere A. SANTOS JUSTO [“As acções
do pretor (actiones praetoriae)”, cit., p. 25]: “o depósito de res fungíveis — dito depositum
irregulare ou bancário —, considerado pela doutrina clássica um mútuo e por Justiniano
um verdadeiro depósito.”
(27)
Cfr. A. MENEZES CORDEIRO, Manual de direito bancário, cit., p. 476.
(28)
CARLOS FERREIRA DE ALMEIDA (Contratos II, conteúdo, contratos de troca,
Almedina, Coimbra, 2009, p. 159) sustenta que o depósito “não prescinde, em nenhum das
suas modalidades de um elemento de guarda que só é compatível com as coisas corpóreas”.
Razão pela qual entende que sempre que se trate de moeda escritural, faltando a natureza
corpórea, não estariam preenchidos os requisitos da obrigação de guarda.
Como se verá pela exposição que se faz de seguida em texto, não podemos acom-
panhar este Autor.
(29)
A. DALMARTELLO/G. B. PORTALE, “Deposito (diritto vigente)”, cit., p. 270.
(30)
Cfr. PAULA PONCES CAMANHO, Do contrato de depósito bancário, cit., p. 180.
(31)
Ver JOSÉ SIMÕES PATRÍCIO, Direito do crédito. Introdução, Lex, Lisboa, 1994,
pp. 55 ss.
(32)
C. LACERDA BARATA, “Contrato de depósito bancário”, cit., p. 45; D. MEDICUS,
Schuldrecht II, Besonderer Teil, cit., § 107, p. 218; MICHELE FRAGALI, Del mutuo, in: Com-
mentario del Codice Civile (a cura do Antonio Scialoja e Giuseppe Branca), Libro quarto, Delle
obbligazioni, art. 1754-1860, Zanichelle Editore/Foro italiano, Bolonha/Roma, 1953, p. 332.
(33)
M. FRAGALI, Del mutuo, cit., p. 329.
(34)
Salvo os casos do comércio bancário, e mesmo aí com limites, como se verá
infra, n.º 4.1.
(35)
Noutro sentido, entendendo que não saímos do campo do depósito irregular:
PIRES DE LIMA/ANTUNES VARELA, Código civil anotado, vol. II, cit., p. 862. Acrescente-se
que, o contrário do que sustentam os ilustres Autores (ob. cit., ibidem), não se trata de uma
“possibilidade mais teórica do que real”. É mesmo muito comum, como se verifica no
depósito bancário à ordem. Mas este, conforme se verá, infra, n.º 4, não é um (puro)
depósito irregular.
(36)
Como foi anteriormente observado, a permanente disponibilidade das coisas por
parte do depositante implica que o depositário tenha sempre de ter na sua disponibilidade
coisas do mesmo género e quantidade para poder, a qualquer momento, satisfazer o pedido
de reembolso (tratando-se de dinheiro terá sempre que ter a totalidade da quantia no seu
património, ou a possibilidade de a obter a todo o momento, para a qualquer altura a poder
entregar ao depositante).
(37)
Esta dupla disponibilidade só é possível, adiante-se já, dadas as particularidades
do comércio bancário. Não fosse assim, seria muito difícil ao depositante dispor das
coisas e ao mesmo tempo poder restitui-las a qualquer momento do depositante.
(38)
Mas não só de mútuo, pelas razões antes expostas.
(39)
Este aspecto será desenvolvido, infra, n.º 4, a propósito do depósito bancário de
dinheiro.
(40)
Sublinhando este aspecto, E. SIMONETTO, “Deposito irregulare”, cit., p. 290.
(41)
Sobre a fiducia cum amico, ver L. MIGUEL PESTANA DE VASCONCELOS, A cessão
de créditos em garantia e a insolvência, Em particular da posição do cessionário na
insolvência do cedente, Coimbra Editora, Coimbra, 2007, pp. 48 ss.
4. O DEPÓSITO BANCÁRIO
(42)
Ver M. PESTANA DE VASCONCELOS, A cessão de créditos em garantia e a insol-
vência. Em particular da posição do cessionário na insolvência do cedente, cit., pp. 237
ss., nota 512.
(43)
Quanto ao depósito bancário, ver: JOSÉ GABRIEL PINTO COELHO, “Operações de
banco”, Revista de Legislação e de Jurisprudência, ano 81.º, pp. 19 ss.; JOÃO ANTUNES
VARELA, “Depósito bancário”, Revista da Banca, 1992, pp. 43 ss; VASCO LOBO XAVIER/
MARIA ÂNGELA COELHO BENTO SOARES, “Depósito bancário a prazo. Levantamento ante-
cipado por um contitular”, Revista de Direito e Economia, 1988, pp. 289 ss:, A. MENEZES
CORDEIRO, Manual de direito bancário, cit., pp. 477 ss.; J. CALVÃO DA SILVA, Direito
bancário, cit., pp. 346 ss.; JOSÉ ENGRÁCIA ANTUNES, Direito dos contratos comerciais,
Coimbra, 2009, pp. 492 ss.; C. FERREIRA DE ALMEIDA, Contratos II, conteúdo, contratos
de troca, cit., pp. 158 ss.; C. LACERDA BARATA, “Contrato de depósito bancário”, cit.,
pp. 47 ss.; PAULA PONCES CAMANHO, Do contrato de depósito bancário, cit., pp. 69 ss.;
AUGUSTO DE ATHAÍDE/LUÍS BRANCO, “Operações bancárias”, in: Direito das empresas
(organizado por Diogo Leite de Campos), INA, Lisboa, 1990, pp. 320 ss.; JOSÉ SIMÕES
PATRÍCIO, A operação bancária de depósito, Elcla, Porto, 1994; PAULO OLAVO CUNHA,
Cheque e convenção de cheque, Almedina, UCP, Coimbra, 2009, pp. 402 ss.; idem, Lições
de direito comercial, Almedina, Coimbra, 2011, p. 227; JOSÉ MARIA PIRES, Elucidário de
direito bancário, Coimbra Editora, Coimbra, 2002, pp. 527 ss.; ANTÓNIO PEDRO A. FER-
REIRA, Direito bancário, Quid Juris, Lisboa, 2005, pp. 599 ss.; GIUSEPPE FERRI,” Deposito
bancário”, in: Enciclopedia del Diritto, vol. XLI, pp. 278 ss.; LINO GUGLIELMUCCI, “Depo-
sito bancário”, in: Digesto delle discipline privatistische, sezione commerciale, IV, pp. 255
ss.; GIACOMO MOLLE, “I contratti bancari”, 4.ª ed., in: Trattato di diritto civile e commer-
ciale (de Antonio Cicu, Francesco Messineo e Luigi Mengoni), vol. XXXV, t. 1, Giuffrè,
Milão, 1981, pp. 97 ss.; GIACOMO MOLLE/LUIGI DESIDERIO, Manuale di diritto bancário e
dell'intermediazione finanziaria, 7.ª ed., Giuffrè, Milão, 2005, pp. 163 ss., FRANCESCO
GIORGIANNI/CARLO-MARIA TARDIVO, Manuale di diritto bancario, Giuffrè, Milão, 2005,
pp. 227 ss.; CHRISTIAN GALVADA/JEAN STOUFFLET Droit bancaire, instituitions — comptes
— opérations — services, 5.ª ed., Litec, Paris, 2002, pp. 167 ss.; JEAN-LOUIS RIVES-LANGE/
/MONIQUE CONTAMINE-RAYNAUD, Droit bancarire, Dalloz, Paris, 1995, pp. 267 ss.; WOLF-
GANG GÖßMANN, “Einlagengeschäft”, in: H. SCHIMANSKY/H.-J. BUNTE/H.-J. LWOWSKY,
Bankrechts-Handbuch, Band II, C. H. Beck, Munique, 1997, p. 1463 ss.; HANS-PETER
SCHWINTOWSKI/FRANK SCHÄFER, Bankrecht. Commercial Banking-Investment Banking,
2.ª ed., Carl Heymanns, Colónia, Berlim, Bona, Munique, 2004, pp. 91 ss.; SIEGFRIED
KÜMPEL, Bank— und Kapitalmarktrecht, Otto Schmidt, Colónia, 2004, pp. 314 ss.; JOSE
LUIS GARCIA-PITA Y LASTRES, “El deposito bancario de efectivo”, in: Contratos bancarios y
para bancarios (dirigido por Ubaldo Nieto Carol), Lex Nova, Valladolid, 1998, pp. 891 ss.
(44)
Na maior parte das vezes o depósito terá por objecto moeda escritural e, por-
tanto, não há em rigor transmissão da propriedade de coisas corpóreas, como as notas.
(45)
Sobre estes, ver PAULA PONCES CAMANHO, Do contrato de depósito bancário,
cit., pp. 71 ss.
(46)
Não aqueles, resultantes da inovação financeira, que juntam aos depósitos ele-
mentos de risco que os afastam desta qualificação, sendo, antes, produtos financeiros
complexos (ver, para a noção, art. 2.º do Dec-Lei n.º 211-A/2008, de 3-1). Estes consistem
em instrumentos que, assumindo a “forma jurídica de um instrumento jurídico pré-existente,
têm características que não são directamente identificáveis com as desse instrumento em
virtude de terem associados outros instrumentos de cuja evolução depende, total ou par-
cialmente, a sua rendibilidade…”
É o que sucede com os depósitos indexados e depósitos duais, regulados pelo Aviso
do Banco de Portugal n.º 5/2009 (que estabelece deveres de informação a observar pelas
instituições de crédito).
(47)
As disposições do depósito mercantil não têm aplicação a este contrato, pelo
seguinte. Em primeiro lugar, porque a lei comercial o autonomiza no art. 407.º (J. G.
PINTO COELHO, “Operações de banco”, cit., p. 146), depois porque as disposições deste
contrato não se adequam ao depósito bancário. Com efeito, não há neste contrato “per-
missão expressa do depositante para o depositário se servir da cousa, já para si ou seus
negócios…”. Ela não é aqui necessária, uma vez que a propriedade do dinheiro passa para
o depositário, que naturalmente a utilizará para os seus negócios. Cfr., C. LACERDA
BARATA, “Contrato de depósito bancário”, cit., p. 21. Acresce que muitas vezes não haverá
qualquer remuneração ao depositário pelo depósito.
(48)
Há aqui um fenómeno de tipicidade social. Para efeitos da análise realizada em
texto, recorremos a alguns modelos contratuais, verdadeiros contratos a celebrar por adesão,
de alguns bancos nacionais. Efectivamente, é daqui que se tem que partir para, articulando
com o regime legal, caracterizarmos e qualificarmos este, ou estes, contrato(s) de depó-
sito.
(49)
É neste sentido que a doutrina entende “estatutos” — cfr. V. LOBO XAVIER/M.ª
ÂNGELA BENTO SOARES, “Depósito bancário a prazo. Levantamento antecipado por um
contitular”, cit., p. 301.
(50)
Em Itália, pelo contrário, o depósito bancário aparece regulado no Codice Civile
no seio dos contratos bancários, (arts. 1834 e segs.), sendo assim um negócio legalmente
típico.
(51)
Distinguindo igualmente um conceito de depósito para efeitos da KWG (Kredi-
twesengesetz) da noção civilística e, por fim, da prática bancária, H.-P. SCHWINTOWSKI/F.
SCHÄFER, Bankrecht. Commercial Banking-Investment Banking, cit., p. 94.
(52)
Cfr. J.-L. RIVES-LANGE/M. CONTAMINE-RAYNAUD, Droit bancarire, cit., p. 268;
J. L. GARCIA-PITA Y LASTRES, “El deposito bancario de efectivo”, cit., p. 910.
(53)
Nos termos do qual “entende-se por depósito os saldos credores que, nas con-
dições legais e contratuais aplicáveis, devam ser restituídos pela instituição de crédito e
consistam em disponibilidades monetárias existentes numa conta ou que resultem de situa-
ções transitórias decorrentes de operações bancárias normais.”; assim como no art. 4.º do
Regulamento do Fundo de Garantia de Depósitos (Portaria n.º 285-B/95, de 19-9).
(54)
E a que recorre igualmente na doutrina FERNANDO CONCEIÇÃO NUNES, “Depósito
e conta”, in: Estudos em homenagem ao Professor Doutor Inocêncio Galvão Telles, vol. II,
Direito bancário (organizado pelos Professores Doutores António Menezes Cordeiro, Luís
Menezes Leitão e Januário da Costa Gomes), Almedina, Coimbra, 2002, pp. 75-76. De
forma próxima, também, PAULO OLAVO CUNHA, Lições de direito comercial, cit., p. 227,
RGICSF (55). Neste últimos casos, a sua amplitude justifica-se pela teleo-
logia de ambas as disposições.
Esta concepção alargada do depósito (além de ter, principalmente, em
vista os depósitos à ordem) abrange no seu seio quaisquer entregas de
fundos (realizada pelo cliente/titular da conta, por terceiros ou o próprio
banco, tendo subjacentes as mais diversas figuras — os denominados
“contratos de recepção de depósitos” (56) —, como sucede com a inscrição
em conta de um empréstimo, de um desconto de uma letra, etc.) (57) que
venham a ser creditadas numa conta (numerário ou moeda escritural (58)).
O depósito aqui traduz-se numa entrega (ou transferência) de fundos
para uma conta (por isso denominada conta depósito à ordem (59)), inde-
pendentemente de quem a realize e do acto a que se recorre para o efeito
(entrega de numerário, transferência (60), cheque).
notas 399 e 400. Parecem igualmente subscrever esta posição, AUGUSTO DE ATHAYDE/
/A. ALBUQUERQUE ATHAYDE/DUARTE DE ATHAYDE, Curso de direito bancário, vol. I, 2.ª ed.,
Coimbra Editora, Coimbra, 2009, pp. 151.
(55)
Os depósitos a que alude esta disposição são, na expressão de F. CONCEIÇÃO
NUNES [“Recepção de depósitos e outros fundos reembolsáveis”, in: Direito bancário, Actas
do Congresso comemorativo do 150.º aniversário do Banco de Portugal (22-25 de Outubro
de 1996), Revista da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, Coimbra Editora,
Coimbra, 1997, p. 63], “depósitos-fundos”, ou seja, “disponibilidades monetárias cuja
recepção origina a constituição de um dever de restituir a cargo da instituição de crédito
receptora, expresso pelo saldo credor de uma conta aberta mediante contrato celebrado com
o cliente”.
(56)
F. CONCEIÇÃO NUNES, “Depósito e conta”, cit., p. 76. Numa perspectiva seme-
lhante, C. GALVADA/J. STOUFFLET, Droit bancaire, cit., p. 167.
(57)
Para F. CONCEIÇÃO NUNES (“Depósito e conta”, cit., p. 75), na linha apontada,
“o depósito caracteriza-se por o crédito à restituição dos fundos ser reapresentado pelo
saldo credor de uma conta aberta junto de uma instituição de crédito receptora.”
(58)
Resultante, p. ex., de uma transferência de uma conta noutro banco. Cfr. MARIA
RAQUEL GUIMARÃES, As transferências electrónicas de fundos e os cartões de débito,
Almedina, Coimbra, 1999, p. 40; C. LACERDA BARATA, “Contrato de depósito bancário”,
cit., p. 48, nota 135.
(59)
Como o fazem a generalidade dos contratos de abertura de conta que consultá-
mos.
(60)
A lei define transferência como “a operação efectuada por iniciativa de um
ordenante, operada através de uma instituição e destinada a colocar quantias em dinheiro
à disposição de um beneficiário, podendo a mesma pessoa reunir as qualidades de ordenante
e de beneficiário [art. 3.º, al. a), do Dec.-Lei 18/2007, de 22-1]. A transferência pode ser
entre contas no mesmo banco (interna ou intrabancária), entre contas de bancos nacionais
diferentes (transferência interbancária nacional), ou entre bancos em Estados diferentes
(transferência interbancária internacional). Ver, sobre ela: BEATRIZ SEGROBE, “A transfe-
(64)
A distinção entre o depósito de numerário e cheque e as transferências bancárias
tem base na lei. Com efeito, o Dec.-Lei 18/2007, de 22-1, que estabelece a data valor de
qualquer movimento de depósitos à ordem e transferências efectuados em euros, distingue
os “depósitos de numerário, de cheques e de outros valores [art. 2.º, n.º 1, al. a)] e as
“transferências intrabancárias e interbancárias” [art. 2.º, n.º 1, al. b)], o mesmo sucedendo
com o Dec.-Lei n.º 317/2009, de 30-10 que transpõe para a ordem jurídica interna a Direc-
tiva n.º 2007/64/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 13-11, relativa aos serviços
de pagamento no mercado interno, no art. 4.º [cfr. als. a) e b) e alíneas seguintes], assim
como nos arts. 82.º e segs., que diferenciam entre depósitos e transferências.
A distinção feita nestes diplomas prender-se-á com a necessidade de separar as figu-
ras objecto de regulamentação.
(65)
Esta concepção mais limitada é, na nossa perspectiva, a mais sujeita a críticas.
Efectivamente, em regra, na perspectiva do depositante há uma equivalência entre a moeda
legal e a escritural. O numerário começa por ser depositado para depois circular ente
contas no seio do sistema bancário, e um quantia depositada sob forma de moeda escritu-
ral pode (a qualquer momento, no depósito à ordem, ou nas condições fixadas, nas outras
modalidades de depósito) ser convertida em moeda legal (salvo numa situação de crise
bancária).
Além disso, a constituição de um depósito a prazo faz-se, em regra (constando mesmo
esse procedimento de algumas cláusulas contratuais bancárias), por transferência de uma
conta à ordem. Portanto, necessariamente, por circulação de moeda escritural. Simplesmente,
neste caso, a transferência é já uma forma de entrega da quantia, da moeda escritural.
(66)
Para efeitos do RGICSF, a noção é mais ampla, como acima se referiu, e com-
preende figuras que possam estar afastadas do desenho do contrato, tal como decorre das
cláusulas contratuais gerais bancárias.
(67)
Estes dois aspectos (em particular o primeiro, uma vez que não à qualquer
caracterização legal do depósito bancário em si, apenas uma regulação para certos tipos de
depósitos) são fulcrais para se apreender o tipo jurídico-estrutural do contrato. Quanto a
este, ver KARL LARENZ, Metodologia da Ciência do Direito, 2.ª edição (tradução por José
Lamego da 5.ª edição alemã de Methodenlehre der Rechtswissenschaft, 1983), Fundação
Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1989, pp. 568 ss.
(68)
Alterado pelo Dec.-Lei n.º 88/2008, de 28-5. Os depósitos são ainda regulados
pelo Aviso do Banco de Portugal n.º 6 de 2009, que se estabelece um conjunto de dispo-
sições a que devem obedecer os depósitos bancários, desde os mais simples, e aqui objecto
de análise, aos que assumem a forma de produtos complexos de acordo com o art. 2.º
do Dec.-Lei n.º 211-A/2008, de 3-11, assim como pelo Aviso do Banco de Portugal n.º 4
de 2009 (quanto aos deveres de informação a prestar pelas instituições de crédito).
(69)
Interessam-nos agora as quatro primeiras modalidades e não estes últimos.
(70)
No sentido de que se trata de um verdadeiro depósito irregular: PIRES DE LIMA/
ANTUNES VARELA, Código civil anotado, vol. II, cit., p. 863; J. ANTUNES VARELA, Depósito
bancário, cit., p. 66; L. MENEZES LEITÃO, Direito das obrigações, vol. III, Contratos em
especial, cit., pp. 498-499; J. CALVÃO DA SILVA, Direito bancário, Almedina, Coimbra,
2001, p. 349. É a posição prevalecente em Itália, ver L. GUGLIELMUCCI, “Deposito ban-
cário”, cit., p. 256. Neste sentido, na Alemanha: W. GÖßMANN, “Einlagengeschäft”, cit.,
p. 1469 (porém, só para os Sichteinlagen ou depósitos à ordem); H.-P. SCHWINTOWSKI/
/F. SCHÄFER, Bankrecht. Commercial Banking-Investment Banking, cit., p. 95 (também
para os Sichteinlagen ou depósitos à ordem); S. KÜMPEL, Bank— und Kapitalmarktrecht,
cit., p. 342 (igualmente para os Sichteinlagen ou depósitos à ordem).
Na jurisprudência, ver, p. ex.: o Acórdão do STJ de 10-1-1995 (Cura Mariano), in:
www.dgsi.pt. (qualificando o depósito bancário como depósito irregular), o Acórdão do
STJ de 27-5-2003 (Abílio Vasconcelos), in: www.dgsi.pt. (“O depósito bancário constitui
um depósito irregular, a que se aplicam as regras do mútuo na medida em que sejam
compatíveis com a função específica do depósito, mais as normas do depósito que não
colidam com o efeito real da transferência da propriedade do dinheiro depositado.”), o
Acórdão do STJ de 7-5-2009 (Sebastião Póvoas), in: www.dgsi.pt (“depósito bancário tem
como matriz o contrato de depósito previsto na lei civil, de natureza irregular, aplicando-se-lhe,
tentam que se trata de um mútuo (71) e outros ainda que estaremos perante
uma figura autónoma (72).
Como acima foi referido, cremos que o depósito bancário de dinheiro
não tem uma natureza unitária. Em rigor, não há um contrato de depósito
bancário, mas diversos contratos de depósito bancário. Não se deve,
mesmo, falar de depósito bancário, como se de um único negócio se tra-
tasse, mas em depósitos: à ordem, a prazo, com pré-aviso.
Efectivamente, pesem embora os aspectos comuns aos diferentes depósi-
tos, como seja a sua ligação a uma conta, a sua inserção no comércio bancário,
com as suas regras específicas de funcionamento, a tutela que é concedida pelos
órgãos públicos, tanto por via do Fundo de Garantia de Depósitos, como pelo
enquadramento normativo em que os bancos actuam (regulação e supervisão
bancária), o seu papel económico central como, em maior ou menor medida,
instrumento financiador dos bancos e, dado o papel de intermediação financeira
que estes desempenham, também da economia, há relevantes diferenças entre
eles. Este aspecto será melhor demonstrado na análise subsequente.
De momento basta-nos adiantar que cremos ser essencial distinguir,
nos termos da lei, os depósitos à ordem [a)], dos depósitos com pré-aviso
[c)], e os depósitos a prazo [b)] (73). Começaremos por os caracterizar,
para depois procedermos à determinação da sua natureza jurídica.
4.1.1. Caracterização
marktrecht, cit., p. 341. Noutro sentido, PAULA PONCES CAMANHO, Do contrato de depó-
sito bancário, cit., p 173.
(74)
Pode definir-se conta bancária, com F. CONCEIÇÃO NUNES (“Depósito e conta”,
cit., p. 79), como “um registo, organizado numa base pessoal, cronológico e sintético das
operações de entrega e reembolso de fundos, constitutivas, modificativas ou extintivas do
11 — RFDUP
(75)
PAULA PONCES CAMANHO, Do contrato de depósito bancário, cit., pp. 96-97, em
nota.
(76)
Mas não são os únicos movimentos tanto a débito como a crédito que, como
vimos, esta regista.
(77)
Entre contas no mesmo banco (interna ou intrabancária), entre contas de bancos
nacionais diferentes (transferência interbancária nacional), ou entre bancos em Estados
diferentes (transferência interbancária internacional).
(78)
Sobre o pagamento com cartões, ver, desenvolvidamente, MARIA RAQUEL GUI-
MARÃES, O contrato-quadro no âmbito de utilização de meios de pagamento electrónicos,
Coimbra Editora, Coimbra, pp. 173 ss.
(79)
Existe também uma conta-cartão onde se inscrevem as quantias utilizadas pelo
titular, as comissões, imposto, as despesas, as taxas, os juros devidos, decorrentes da uti-
lização do cartão e cujo saldo, ou parte dele, conforme o acordado, é depois debitado na
conta depósito à ordem a que está associado.
(80)
Insere-se aí também, p. ex., o pagamento de comissões pelos serviços prestados
pelo banco, ou impostos devidos pelo cliente (imposto de selo).
(81)
Sendo até mais frequente a transferência para terceiro.
(82)
As cláusulas contratuais gerais elaboradas pelos bancos, a que tivemos
acesso, incluem no seu seio, desde logo, a movimentação da conta a crédito através de
depósitos.
(83)
Os requisitos a observar na abertura de conta estão previstos no Aviso do Banco
de Portugal n.º 11/2005, alterado pelo Aviso do Banco de Portugal n.º 2/2007.
(84)
Sobre esta, ver PAULO OLAVO CUNHA, Lições de direito comercial, cit., pp. 240 ss.
(85)
A conta bancária tem depois modalidades diversas, consoante o número dos seus
titulares e as regras de movimentação. Ela pode ser singular ou colectiva, e ainda, sendo
colectiva, solidária, conjunta ou conjunta mista. A movimentação da conta neste último
caso depende sempre da modalidade acordada. Ver, em geral, sobre este ponto, ANTÓNIO
PEDRO A. FERREIRA, Direito bancário, cit., pp. 582 ss.
II. Por outro lado, fazendo a análise recair agora sobre o contrato de
abertura de conta (normalmente celebrado por tempo indeterminado, ces-
sando pois por denúncia) (86), importa destacar que ele encerra igualmente,
para além do contrato de depósito, os diversos serviços de caixa (87) que
lhe estão associados. Com efeito, aí está previsto o regime de um conjunto
de serviços que o banco pode prestar ao cliente (autorizações de débito,
transferências), bem como o regime geral de outros contratos, que podem
vir a ser concluídos entre as partes, como a convenção de cheque, cartão
de crédito e tipo de depósitos (a prazo, com pré-aviso) (88).
É, aliás, o recurso a esses serviços, essenciais na vida moderna (trans-
ferências, autorizações de débito (89), cartões de débito), quer para as empre-
sas quer para as pessoas singulares, que leva celebração do contrato de
abertura de conta, do qual o depósito é um simples “instrumento” de apro-
visionamento (mas indispensável à participação nesse tráfego) (90) (91).
(86)
Sobre este, ver PAULO OLAVO CUNHA, Cheque e convenção de cheque, cit.,
pp. 387 ss.
(87)
Quanto a estes, ver JOÃO CALVÃO DA SILVA, Banca, bolsa e seguros, Direito
europeu e português, t. I, Parte geral, Almedina, Coimbra, 2005, p. 19; JOSÉ SIMÕES
PATRÍCIO, Direito bancário privado, Quid Juris, Lisboa, 2004, p. 145.
(88)
O que confere a este contrato um carácter normativo.
(89)
Através das autorizações de débito, o cliente realiza o pagamento de um conjunto
de despesas correntes como, o telefone, a luz e a água, justamente através de débitos, que
autoriza, na sua conta e mediante uma instrução de cobrança dada pelo credor (para um
único pagamento, ou, como é mais comum, para um conjunto reiterado de pagamentos).
Sobre estas, ver MARIA RAQUEL GUIMARÃES, As transferências electrónicas de fundos e os
cartões de débito, cit., pp. 40-41.
(90)
Portanto: para qualquer destes sujeitos recorrer aos serviços de caixa de um
banco terá que celebrar um contrato de abertura de conta, onde eles estarão já directamente
previstos (embora nalguns casos, como na convenção de cheque, seja necessário um acordo
posterior), e depois terá que a manter aprovisionada através de depósitos. Excepto no que
diz respeito às transferências de terceiros para o titular da conta. Para esses basta a simples
abertura da conta.
(91)
Por essa razão se pode dizer com E. P. ERLLINGER/E. LOMNICKA/R. J. A. HOOLEY
(Erllinger’s modern banking law, cit., p. 202) que o banco actua ao mesmo tempo “as the
costumer’s paymaster and as the recipient of amounts payable to him”. No que diz respeito
aos cheques que o cliente aí entrega (aí os deposita) para cobrança junto de outro banco,
o papel do banco (o primeiro) é mesmo mais extenso. Ele é o seu cobrador.
Por isso, o depósito à ordem deve ser visto de uma forma dinâmica no
âmbito de uma conta (92), regendo as entregas e as restituições ou transfe-
rências para terceiros. É o saldo dessa conta, para o qual contribuem nos
termos assinalados os diversos actos de execução do depósito, que tem
relevo económico e sobre o qual se calculam os juros (quando sejam pac-
tuados) (93).
O crédito pecuniário sobre o banco, decorrente do saldo da conta, é um
dos mais relevantes bens do património do titular da conta, podendo ser
penhorado (art. 861.º-A CPC), empenhado e transferido (94) (eventualmente em
garantia, como sucede, mas não só, nos contratos de garantia financeira) (95).
(92)
Sublinhando que é “redutor circunscrever o depósito a uma relação singular,
ocultando na sombra o fluxo de múltiplas e simultâneas relações solidárias e fungíveis,
que corresponde o exercício da actividade de recepção de fundos reembolsáveis, do público,
para utilização por conta própria, exclusiva de certas instituições de crédito”, F. CONCEIÇÃO
NUNES, “Depósito e conta”, cit., p. 67.
É de facto redutor, e daí a precisão que é realizada. No entanto, colocando as coisas
no contexto a que nos referimos em texto, tal não retira nada à utilidade da determinação
da natureza do depósito bancário de dinheiro.
(93)
É também, muitas vezes, este valor em termos médios que permite ao banco
decidir se remunera ou não o dinheiro depositado. Se esse valor for baixo, o banco não
pagará qualquer remuneração. De facto, em termos económicos, a vantagem de disposição
dessas quantias por parte da instituição de crédito é compensada pelo benefício atribuído
ao cliente de custódia dessas mesmas quantias (bem como do recurso ao serviço de caixa
do banco, embora, na verdade, grande parte das vezes esses serviços são isoladamente
pagos através de uma comissão, p. ex., as transferências bancárias). Quando o montante
do saldo for bastante baixo, o custo para o banco pelo serviço que presta é superior ao
proveito que retira da disponibilidade (bastante reduzida, já se vê) das quantias e cobra
uma comissão por ele.
(94)
Cfr. CLAUS-WILHELM CANARIS, Bankvertragsrecht, 3.ª ed., vol. I, Walter de
Gruyter, Berlim, Nova Iorque, 1988, pp. 107-108.
(95)
Claro está: não só os créditos decorrentes do saldo da conta à ordem, mas das
outras contas, em particular as contas dos depósitos a prazo.
(96)
Estas podem ser contas de depósito de dinheiro, à ordem ou a prazo, e decorrem
da celebração de um novo contrato onde, através das denominadas condições particulares,
se completa, pormenorizando e adaptando, o regime decorrente do contrato de abertura de
conta. Há ainda as contas de registo de valores mobiliários escriturais e contas de depósito
de valores mobiliários titulados, denominadas conjuntamente por “contas de activos finan-
ceiros”.
(97)
Quanto aos principais efeitos e a importância da abertura de conta, donde
decorre a “relação bancária geral”, ver A. MENEZES CORDEIRO, Manual de direito bancário,
cit., p. 416.
(98)
Mas não só. A própria conta-corrente está aí inserida.
(99)
Os denominados “contratos satélites”, cfr. J. ENGRÁCIA ANTUNES, Direito dos
contratos comerciais, cit., p. 487.
(100)
Apontando a conta como o núcleo do tráfego bancário, C. P. CLAUSSEN, Bank-
und Börsenrecht, cit., p. 103.
(101)
É, aliás, perfeitamente possível conceber uma abertura de conta sem que se faça
qualquer entrega de moeda, legal ou escritural, pelo depositante. Basta, p. ex., que o banco
aí credite o montante do empréstimo concedido.
(102)
A importância em termos económicos e sociais de uma conta e do recurso a
alguns dos serviços de caixa do banco é demonstrada pela consagração em certos termos
de um direito à conta (de depósito à ordem) integrada nos serviços bancários mínimos.
Sobre estes, ver ANTÓNIO PEDRO A. FERREIRA, Direito bancário, cit., pp. 592 ss.
prestado pelo banco), mas em termos tais que mantenha sobre ela uma
constante disponibilidade, podendo exigir a sua restituição a qualquer
momento. Ora esta permanente disponibilidade do dinheiro depositado,
que é característica do depósito, não é compatível com o mútuo, como
decorre do art. 1148.º (103)
(103)
Quanto à necessidade do deferimento no mútuo, ver: GIORGIO GIAMPICCOLO,
“Mutuo (diritto privato)”, in: Enciclopedia de Diritto, XXVII, p. 445; F. GIORGIANNI/C.-M.
TARDIVO, Manuale di diritto bancario, cit., p. 221; G. MOLLE/L. DESIDERIO, Manuale di
diritto bancário e dell'intermediazione finanziaria, cit., p. 164; G. MOLLE, “I contratti
bancari”, cit., p. 116.
(104)
Como refere PAULA PONCES CAMANHO (Do contrato de depósito bancário,
cit., p. 188): “o banco recebe o dinheiro para poder usá-lo, tal como acontece com o
mutuário.”
(105)
Sublinhando correctamente que o depósito se deve inserir no “fenómeno das
operações comerciais em massa”, F. GIORGIANNI/C.-M. TARDIVO, Manuale di diritto ban-
cario, Giuffrè, Milão, 2005, p. 227.
(106)
E esta afirmação vale, como é claro, para qualquer modalidade de depósito.
(107)
O que significa que quando se dá uma ordem de transferência de moeda escri-
tural de uma conta para outra, o banco está a movimentar, através de um sistema de cré-
ditos e débitos, dinheiro (dinheiro escritural, dinheiro criado pelos bancos) que lhe pertence.
Para os titulares das contas, que são respectivamente creditadas e debitadas, o que se
verifica é um aumento ou diminuição da quantia de que o banco lhes é devedor, portanto
duzido no serviço que dessa forma o banco lhe presta), assim como a
possibilidade de recorrer aos serviços de caixa do banco, que a taxa de
juros destes depósitos tem um valor mais reduzido (111) (substancialmente
mais reduzido, ao ponto de se tornar quase, por vezes, simbólica) do que
sucede com os depósitos a prazo (112).
(111)
Em rigor, a taxa de juro incidirá não só sobre os montantes depositados, mas
sobre o saldo da conta.
(112)
PAULA PONCES CAMANHO (Do contrato de depósito bancário, cit., pp. 197 ss.)
defende a tese do mútuo, porque, na sua perspectiva, este contrato é conciliável com a
exigibilidade à vista, sustentando que, sendo o art. 1148.º “uma norma supletiva, só se
aplicará na ausência de manifestação de vontade das partes.” (ob. cit., p. 198). Neste ponto,
pelas razões apontadas em texto, não acompanhamos a Autora. Ressalve-se, porém, que
é correcto — e neste ponto já acompanhamos a Autora — o sublinhar a incongruência na
tese do depósito irregular que consiste no pagamento de juros por parte do depositário,
que o faz porque tem um evidente interesse na disponibilidade da quantia.
Acrescente-se ainda que tese semelhante era sustentada no âmbito do Direito anterior
ao Código de 1966 por J. G. PINTO COELHO, Operações de banco, cit., p. 100. Escrevia
este Autor (ob. cit., ibidem): “Não afecta nem afasta a qualificação do depósito como
empréstimo (mútuo) — queremos acentuá-lo aqui — o facto de não haver prazo determi-
nado para o reembolso, e poder o credor reclamá-lo a qualquer tempo (à vista). O prazo
ou termo não é elemento essencial, mas acidental, do empréstimo.”
(113)
De forma passiva, como simples destinatário dos fundos transferidos por ter-
ceiros, bastaria a simples abertura de conta.
(114)
É este aspecto que explica que a restituição ao depositante/titular da conta seja,
como se disse, simplesmente eventual, porque ele utilizará as quantias aí inscritas a crédito
para fazer pagamento de transacções realizadas com terceiros. Pelo que a entrega, por
transferência, dessas quantias não se fará ao depositante, mas antes a estes últimos. Esta
conformação específica do depósito bancário de somas pecuniárias afasta-o (neste ponto)
quer em termos de estrutura, quer em termos de interesses, do depósito irregular.
(115)
Sublinhavam já este aspecto V. LOBO XAVIER/M.ª ÂNGELA BENTO SOARES, “Depó-
sito bancário a prazo. Levantamento antecipado por um contitular”, cit., p. 293, nota 5.
(116)
Pelo menos, sempre que seja este a realizá-los.
(117)
Como referimos supra, a conformação dos depósitos pelos bancos nos contra-
tos pode afastar do âmbito do depósito as transferências.
(118)
A situação é diversa da do depósito a favor de terceiro, porque para que assim
fosse era necessário que do contrato resultasse a atribuição do crédito à restituição a outrem,
o terceiro. Não é o que aqui se verifica. O cumprimento é que se realiza por ordem do
depositante, em regra, a um terceiro.
(119)
O que não se verificará nos outros casos de depósito irregular de dinheiro fora
do comércio bancário. Aí, conforme se viu no número anterior, o depositário não tem a
disponibilidade das quantias (ou será muito limitada), uma vez que tem que estar sempre
preparado para as restituir, logo que exigidas, por inteiro. O interesse é só, nos termos
apontados, do depositante que poderá mesmo remunerar a outra parte pelo serviço que ela
lhe presta.
(120)
A contrapartida patrimonial a que nos referimos assume a forma de comissão
pela manutenção de conta cuja existência, e montante, como se visse (nota 111) está ligada
ao saldo médio de conta e, consequentemente, embora de forma algo indirecta, aos depó-
sitos que aí vão sendo realizados.
4.2.1. Caracterização
(121)
Art. 4.º do Aviso do Banco de Portugal n.º 6 de 2009.
(122)
Quando assim é, o “respectivo montante não poderá ser considerado como
indisponível na conta de origem antes da data-valor da constituição ou reforço [do depósito
não à ordem], salvo instrução expressa emitida pelo depositante…”. art. 5.º, n.º 4, do Aviso
do Banco de Portugal n.º 6 de 2009.
(123)
E vice-versa. Note-se que, nos termos do art. 5.º, n.º 1, do Aviso do Banco
de Portugal n.º 6 de 2009, “o lançamento a crédito do reembolso no vencimento dos
depósitos não à ordem, deve ser realizado com data-valor e data de disponibilização no
próprio dia.”
(124)
Ou, como já se verá, sempre que a instituição de crédito permitir a sua mobi-
lização antecipada, ela poderá calcular os montantes previsíveis de que tem que ter dispo-
nibilidade imediata para satisfazer essa preferência pela liquidez (e que serão relativamente
baixos, dadas as penalizações que a mobilização antecipada, contratualmente, impõe).
(125)
Em rigor, trata-se de contrato misto de depósito bancário e mandato, sendo o
mandato o elemento dominante do contrato. Sobre este contrato, quando seja celebrado
com um banco, ver MIGUEL PESTANA DE VASCONCELOS, “Modalidades especiais de depó-
sitos. O depósito com finalidade de cumprimento, o depósito para administração, o depó-
sito em garantia e seus regimes insolvenciais”, em curso de publicação nos Estudos em
Homenagem ao Prof. Doutor Heinrich Ewald Hörster.
(126)
Os depósitos à ordem também podem ser utilizados para este fim (inserindo-se, deste
modo, embora de forma bastante limitada, na intermediação financeira bancária), como decorre
do anteriormente exposto, mas, como se compreende, com uma relevância muito menor.
(127)
Mas também, embora em menor medida, pelos depósitos à ordem.
a quem dele carece a uma taxa mais elevada, sendo o ganho do banco a
diferença entre as duas taxas. É desta forma que a banca desempenha a
função de intermediação no dinheiro (128) (129).
III. Parece claro que, para o banco, são contratos de crédito. Resta
saber se são mútuos, o que se prende com a regra do art. 1147.º nos termos
(128)
L. GUGLIELMUCCI, “Deposito bancário”, cit., p. 256.
(129)
Este aspecto é claramente espelhado na noção de instituição de crédito: “empre-
sas cuja actividade consiste em receber do público depósitos ou outros fundos reembolsá-
veis, a fim de os aplicarem por conta própria mediante a concessão de crédito” (art. 2.º,
n.º 1, RGICSF).
Note-se que a noção de instituição de crédito adoptada no RGICSF diverge na
consagrada na segunda Directiva comunitária e tem sido geralmente alvo de críticas e
sujeita a interpretações correctivas, no que diz respeito à aparente necessidade de os
fundos recebidos estarem vinculados somente à concessão de crédito. Cfr. AUGUSTO DE
ATHAYDE/A. ALBUQUERQUE ATHAYDE/DUARTE DE ATHAYDE, Curso de direito bancário,
vol. I, cit., pp. 144 ss.
Diga-se ainda que o elenco das operações que os bancos, que são uma espécie
— a mais relevante — de instituições de crédito (art. 3.º RGICSF), podem praticar tem
uma amplitude muito maior do que a mera concessão de crédito, como decorre com toda
a clareza do elenco, que não é taxativo, do art. 4.º RGICSF, e que há instituições de
crédito que não podem receber depósitos do público, como p. ex., as sociedades de
cessão financeira e as sociedades de locação financeira. Por isso se pode afirmar que a
definição do art. 2.º, n.º 1, RGICSF tem um “conteúdo muito escasso” (A. MENEZES
CORDEIRO, Direito bancário, cit., p. 798). Além do mais, como se começou logo por
referir no início deste texto, tem hoje enorme relevo o papel desempenhado pelos bancos
no âmbito dos sistemas de pagamento.
Contudo, a actividade de intermediação no dinheiro, recolhido junto do público através
de depósitos (ou outras formas de colecta de fundos) e a sua utilização por conta própria para
a concessão de crédito consiste, como se disse, no núcleo tradicional da actividade bancária.
E é a esse núcleo que o art. 2.º, n.º 1, RGICSF se refere. Cfr. J. CALVÃO DA SILVA, Direito
bancário, cit., pp. 179 ss.; J. SIMÕES PATRÍCIO, Direito bancário privado, cit., pp. 263-264;
F. CONCEIÇÃO NUNES, Direito bancário, vol. I, AAFDL, Lisboa, 1994, pp. 158 ss.
Repare-se que isto não significa que os bancos não possam financiar-se, para
desenvolver a sua actividade de concessão de crédito, de outra forma, em particular
junto dos outros bancos no mercado monetário inter-bancário ou através da emissão
de obrigações.
O recurso aos depósitos ou ao recurso aos mercados para obter financiamento depende
de um conjunto de variáveis, em particular, desde logo, que esses mercados estejam aber-
tos, ou seja, que se disponham a emprestar a bancos de um determinado Estado, e das
próprias taxas de juros que, na hipótese afirmativa, lhes são exigidas. Quando assim não
seja, há uma procura de financiamento no mercado interno, principalmente através de
depósitos, cujas taxas passam a ter que se tornar atractivas. A dívida dos bancos passa,
pelo menos em parte, por via dos depósitos, a ser interna.
(130)
No sentido de que os depósitos a prazo são mútuos, C. LACERDA BARATA,
“Contrato de depósito bancário”, cit., p. 29, pp. 50-51. Também: C. P. CLAUSSEN, Bank-
und Börsenrecht, cit., p. 136; W. GÖßMANN, Einlagengeschäft, cit., § 70, p. 1470; H.-P.
SCHWINTOWSKI/F. SCHÄFER, Bankrecht. Commercial Banking-Investment Banking, cit.,
p. 96.
(131)
Art. 4 do Aviso do Banco de Portugal n.º 6 de 2009.
(132)
Noutro sentido, sustentado tratar-se de um depósito irregular, C. LACERDA
BARATA, “Contrato de depósito bancário”, cit., p. 29.
(133)
Na Alemanha, no âmbito dos Termineilagen, distinguem-se os Festgelder, que
consistem em depósitos a prazo, dos Kündigunsgelder. Este últimos são contratos cele-
brados por tempo indeterminado que cessam por denúncia, necessariamente precedida de
pré-aviso. Quando este for de um mês, denominam-se Monatsgelder. São assim seme-
lhantes aos nossos depósitos com pré-aviso. Em ambos os casos, o entendimento doutrinal
é que estamos perante mútuos pecuniários. Cfr. H.-P. SCHWINTOWSKI/F. SCHÄFER, Bank-
recht. Commercial Banking-Investment Banking, cit., p. 96.
5. NOTAS FINAIS