314-Texto Do Artigo-649-1-10-20200324 PDF
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Resumo: Ao refletir sobre qual alfabetização para qual tempo, teço considerações
sobre as práticas de leitura e da escrita e as práticas de ensino da leitura e
escrita nas condições da contemporaneidade. Assumindo uma perspectiva
histórico-cultural, indago sobre os efeitos da produção tecnológica, que
vem transformando tais práticas, e argumento sobre a necessidade de se
aprofundarem os estudos da sociogênese do desenvolvimento humano,
levando-se em conta a complexidade do tempo histórico, a complexidade
da língua em suas múltiplas facetas, a complexidade das relações sociais e
a desigualdade das condições de vida. Num movimento histórico dialético
de interconstituição, as crianças se desenvolvem nas relações com os
professores também em desenvolvimento, participando colaborativamente
das (trans)formações, tanto da atividade de ensinar quanto das atividades
de ler e de escrever.
Palavras-chave: Alfabetização. Relações de ensino. Desenvolvimento
humano. Vivência atribuída de sentido. Perspectiva histórico-cultural.
Abstract: In inquiring about which literacy for which time, I discuss about reading
and writing practices as well as the teaching practices of reading and
writing in contemporary conditions. Assuming a historical-cultural
perspective, I ask about the effects of technological production, which
has been affecting and transforming such practices, and I argue
about the need to deepen the studies of the sociogenesis of human
development, taking into account the complexity of historical time,
the complexity of language in its many facets, the complexity of
social relations and the inequality of living conditions. In a dialectical
historical movement of interconstitution, children develop in relation
to teachers also in development, both collaboratively participating in
Introdução
4 POE, Edgar Allan. Histórias Extraordinárias. São Paulo: Victor Civita, 1981.
5 Como discutem, por exemplo, em diferentes momentos e de diversas formas, Roland Barthes (1987),
Joaquim Fontes (2000), Roxane Rojo (2009).
6 Leroi-Gouhran (1994); Clot (2006).
M: eu acho que tem algo que é da própria sala de aula que é uma
questão que está ali, eu acho que sempre esteve, que é essa coisa
de dar conta das diferenças entre as crianças. (...) A gente tem
essa característica do trabalho em sala que é algo que é gritante, que
é o desafio o tempo todo de você lidar com tempos diferentes,
com saberes diferentes, temperamentos, personalidades...
S: porque é o que mais nos aflige (...) eu sinto uma espada pendu-
rada na minha cabeça, eu sinto isso, sabe, porque, é uma cobrança
daquilo que as crianças TEM que saber até determinada DATA
marcada... Então transforma a escola em ciclo, acredita que o desen-
volvimento dele, alfabetização, letramento, não se dá em um período
de um ano, mas te cobra isso. Eu acho que é o que mais nos aflige.
Eu tenho que trabalhar diversificado, eu tenho que pensar nas
necessidades individuais, eu tenho.
11 MEC INSTITUI CONABE e painel de especialistas em alfabetização. Portal MEC, Brasília, 19 ago. 2019.
Disponível em: http://portal.mec.gov.br/component/content/article?id=79261.
12 Perejivanie é o termo em russo, usado no cotidiano e no campo da psicologia, que Vigotski destaca e ela-
bora conceitualmente, atribuindo relevância teórica e significado especial. Termo e conceito encontram-se
hoje como foco em intenso debate. Cf. Delari Jr. (2009); Toassa (2010); Veresov (2016).
13 Goulart e Wilson (2013), Goulart e Souza (2015), Goulart (no prelo) trazem instigantes análises dessas
relações, por uma perspectiva discursiva na alfabetização. Eventos como Fala outra escola mostram-se
como importantes locus de compartilhamento de práticas. https://www.fe.unicamp.br/eventos/agenda-
-de-eventos/ix-fala-outra-escola-co-lecionar-praticas-de-humanizacao-com-e-para-a
14 Freinet (1976).
15 Vigotski (1984, 1995) comenta sobre o brincar da criança, fazendo referência a Espinosa. Expandimos
aqui essa ideia para abarcar, na vivência significativa das crianças com a escrita, a emergência do desejo
de compreender e dominar as regras ortográficas, sintáticas, convencionalizadas.
16 Bakhtin, 1981; Voloshinov, 2017; Smolka, 2004.
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