Africa Religioes Afro-Brasileiras e Igre PDF
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Dr. Júlio Cesar R. de Araújo (UFC) Dr. Wagner Bandeira Andriola (UFC)
Gledson Ribeiro de Oliveira
Jeannette Filomeno Pouchain Ramos
Bruno Okoudowa
Organizadores
Fortaleza
2013
Cá e Acolá: Experiências e Debates Multiculturais
© 2013 Gledson Ribeiro de Oliveira, Jeannette Filomeno Pouchain Ramos e Bruno
Okoudowa (Organizadores)
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Normalização Bibliográfica
Perpétua Socorro Tavares Guimarães
Projeto Gráfico e Capa
Carlos Alberto A. Dantas (carlosalberto.adantas@gmail.com)
Revisão de Texto
Leonora Vale de Albuquerque
339p. : il.
Isbn: 978-85-7282-607-5
CDD: 370.5
SOBRE OS AUTORES
1
Colonização e Descolonização do Saber
2
Religião, Política e Igualdade Racial
3
Literatura, Língua e Filosofia
d 13
O deslocamento ou dissolução dessas fronteiras nacio-
nais através de diásporas complexas tem como uma de suas
expressões flagrantes os fluxos migratórios globais pelos quais
pessoas e grupos passam de uma comunidade de pertenci-
mento para outro lugar, sem começo nem fim (IANNI, 1999;
HALL, 2011). Esse movimento de idas e vindas nem sempre se
materializou a partir da vontade subjetiva, mas, muitas vezes
do contexto histórico-social, podendo ser compulsória, como
foi o caso do tráfico de negros africanos para a América, Eu-
ropa e Ásia e, como ainda hoje, no caso do tráfico de pessoas
e órgãos.
Stuart Hall (2011), que cresceu na Jamaica e vive na In-
glaterra, tem contribuído significativamente para a compre-
ensão desse fenômeno. Para Hall, o estudo da diáspora deve
ser relacional e não estático, como também deve fomentar
uma análise tanto de aspectos sociais como simbólicos, ou
seja, em sua complexidade e totalidade. Dessa forma, ele re-
jeita o pensar reducionista que trata apenas do que é visível
aos olhos. Nessa perspectiva, não há uma identidade cultural.
As identidades culturais são múltiplas, pois, na modernidade,
as comunidades são transnacionais (2011, p.26).
A concepção fechada de tribo, de diáspora e de pátria
sugere uma identidade cultural “com um núcleo imutável e
atemporal, ligando ao passado o futuro e o presente numa
linha ininterrupta. Esse cordão umbilical que se chama ‘tra-
dição’”. (HALL, 2011, p.29). A identidade é uma questão
histórica, portanto, não está restrita a um movimento de
continuidade, mas também de rupturas, como é o caso da
diáspora africana. Tanto os aspectos “autênticos da origem”,
como genético, hereditário e do Eu interior (p.28), bem
como os diferentes elementos culturais africanos, asiáticos e
europeu, em fusão na fornalha colonial, resultaram em cul-
14 d GLEDSON RIBEIRO DE OLIVEIRA • JEANNETTE FILOMENO POUCHAIN RAMOS • BRUNO OKOUDOWA
turas híbridas, múltiplas. Pode-se afirmar que, nas zonas de
contato coloniais, a copresença espacial e temporal de su-
jeitos antes isolados geográfica e historicamente forjaram e
forjam, na dialética do hibridismo cultural, uma identidade-
-como-diferença, isto é, um processo em que a diferenciação
cultural tem como ponto de partida não o que é idêntico no
interior do grupo, mas a constituição de uma operação em
que se nega, negocia-se e se deslocam as fronteiras entre o
Eu e o Outro.
Tratando dos paradigmas dos estudos culturais, Hall
(2011, p. 123) sintetiza que o que importa são as rupturas
significativas “em que as velhas correntes de pensamento
são rompidas, velhas constelações deslocadas, e elementos
novos e velhos são reagrupados ao redor de uma nova gama
de premissas e temas”. Não necessariamente é o cá dos para-
digmas culturalistas nem o acolá dos estruturalistas, mas, é no
confronto entre os dois grupos que despontam outras possibi-
lidades de análises. Nesse sentido, as pesquisas reunidas nesta
coletânea pressupõem uma diversidade cultural, paradigmáti-
ca e cognitiva na apreensão da realidade que apontam o desafio
da ruptura política e epistemológica do pensamento único e da
formação de intelectuais orgânicos “comprometidos com um
trabalho intelectual radical que gera mudanças sociais e eco-
nômicas” (p.14).
A partir de outras lentes do cá e do acolá, Catherine
Walsh (2008), ao tratar sobre as insurgências na refundação
do Estado na América do Sul, destaca que é fundamental ana-
lisar as relações culturais cunhadas nas possibilidades de in-
ter, pluri e multiculturalidade, pois a diversidade cultural na
transição para o século XXI tem se materializado de diferentes
formas no hemisfério norte e no sul. Para a autora, o multicul-
turalismo emerge no ocidente como uma possibilidade de re-
16 d GLEDSON RIBEIRO DE OLIVEIRA • JEANNETTE FILOMENO POUCHAIN RAMOS • BRUNO OKOUDOWA
versidade de olhares e objetos indica, igualmente, diferentes
domínios do conhecimento e trajetórias de vida. Em aborda-
gens interdisciplinares, os autores se utilizam de instrumen-
tos conceituais e metodológicos de variadas searas do saber
na construção de seus objetos.
“Acolá” refere-se tanto aos falantes da língua portugue-
sa da outra margem do Atlântico como de Timor-Leste. No
que diz respeito ao continente africano, trata-se de um espaço
formado por 54 países de línguas, etnias e culturas diferentes.
A divisão da maioria desses países resultou de um processo
de invasão regularizada pelo tratado de Berlim de 1884-1885.
Essa divisão foi feita sem considerar as línguas e culturas
nativas africanas. As consequências disso são sofridas pelos
africanos até hoje. Igualmente o Timor-Leste está transpas-
sado pela empresa colonial capitaneada por Portugal e pela
ocupação militar da Indonésia. As trocas multiculturais nos
continentes africano, asiático e americano foram envolvidos
na mesma história, pelo continente europeu, através do tráfi-
co negreiro, da busca por temperos na Índia e pela exploração
de riquezas via colonização.
No que diz respeito à relação Brasil-África, há ainda
muitos passos a serem dados para que um diálogo multicul-
tural contemple o continente africano como um todo. Dos
54 países africanos, apenas cinco formam os Países Africa-
nos de Língua Oficial Portuguesa- PALOP’s, sendo três no
continente: Angola, Guiné Bissau e Moçambique; e dois
formados por ilhas: Cabo Verde e São Tomé e Príncipe. A
invenção da África explicita desafios linguísticos, sociais,
econômicos, cultural, entre outros. Quanto ao continente
asiático, a ‘lusofonia’ nele é representada por três espaços:
Goa, na Índia, Macau, na China e Timor-Leste, que é um
país recém-independente.
18 d GLEDSON RIBEIRO DE OLIVEIRA • JEANNETTE FILOMENO POUCHAIN RAMOS • BRUNO OKOUDOWA
poderá possibilitar a conscientização, a superação, o sentir-
-se e saber-se tão sujeito quanto os outros; da caminhada que
ainda está por vir a ser e da busca do saber e ser mais.
Em cadência com o dito acima, este livro socializa as
experiências de pesquisa que têm por objeto a diáspora afro-
-brasileira, a África Negra e além, a citar, Timor-Leste e Por-
tugal, em seus diferentes lapsos temporais.
Abrindo a primeira seção desta coletânea, Colonização
e descolonização do saber, Aline N. Rodrigues Alves, José
Antônio S. de Deus e Nilma Lino Gomes propõem um estu-
do da comunidade quilombola de Barro Preto, Minas Gerais.
Explorando a história do movimento negro e quilombola no
Brasil, os autores refazem o percurso das lutas pelo reconhe-
cimento social e acesso à terra dos remanescentes das comu-
nidades dos quilombos. A noção de lugar, como subjetivação
do espaço pelo qual se apreende os significados e relações de
pertencimento da comunidade, é compreendida metodologi-
camente por meio de “mapas mentais” elaborados por estu-
dantes do ensino fundamental que vivem na comunidade de
Barro Preto. Nestes, as representações das crianças sobre seu
lugar de pertença, a relação com seus parentes e o senso de
identidade quilombola ganham contornos reais por meio de
traços pueris. No segundo texto, Luís Tomás Domingos anali-
sa os efeitos “ambíguos” da educação formal em Moçambique.
Ao contrário da educação ocidental, centrada no domínio de
técnicas e conteúdos, a educação africana valoriza a harmo-
nia e a compatibilização global de todas as disciplinas face ao
Universo, tendo por fundamento gnoseológico a “dinâmica da
alteridade”. Sua problematização busca compreender os desa-
fios educacionais, em um contexto de África Negra, que con-
jugue as contribuições da educação europeia e a cultura an-
cestral africana na construção de uma educação pós-colonial.
20 d GLEDSON RIBEIRO DE OLIVEIRA • JEANNETTE FILOMENO POUCHAIN RAMOS • BRUNO OKOUDOWA
lomalo discorre sobre os desafios a serem transpostos em
África para alcançar um desenvolvimento socioeconômico
sustentável. Estudando o caso da República Democrática do
Congo, reconstrói, na longa duração, a dinâmica histórica
de dominação, exploração e autoritarismo que levou o país
a figurar entre as mais desiguais do globo, ponderando que a
resposta aos dilemas da sociedade congolesa passa por uma
educação voltada à complexidade e solidariedade, sustenta-
bilidade ambiental e comprometimento social dos dirigentes
políticos.
Vera Rodrigues toma as políticas públicas de igualda-
de racial dos períodos Collor, Fernando Henrique Cardoso e
Lula, e as trajetórias de lutas dos movimentos negros como
materiais de sua reflexão sobre as conquistas e recuos na pro-
moção das políticas de igualdade racial no Brasil. Compreen-
de que as desigualdades por motivo de “cor” e “procedência”
só podem ser superadas com a igualdade de acesso aos bens
públicos “como um direito inerente ao exercício pleno da ci-
dadania.” Já Fábio Baqueiro Figueiredo, traça um panorama
de dois grandes pólos simbólicos, África e Terceiro Mundo,
situando as raízes do novo discurso africano de emancipa-
ção à virada do século XIX para o XX, num inventário que
vem se estabelecendo como uma espécie de “contracânone”
da modernidade. Para o autor, as raízes intelectuais do na-
cionalismo africano das independências revela uma longa e
multiforme tradição pan-africana que combinam-se com a
emergência do Terceiro Mundo, como categoria de identifi-
cação coletiva que mudou o panorama do campo nacionalis-
ta, e dão forma ao complexo e conflituoso campo da política
africana a partir da década de 1960.
Iniciando a terceira seção, Literatura, Língua e Filo-
sofia, Rodrigo Ordine faz emergir de Sôbolos rios que vão,
22 d GLEDSON RIBEIRO DE OLIVEIRA • JEANNETTE FILOMENO POUCHAIN RAMOS • BRUNO OKOUDOWA
nos sistemas culturais negro-africanos radicados no Brasil.
As variações linguísticas apreendidas pela experiência de en-
sino da língua portuguesa aos alunos de Angola, Cabo Verde,
Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste e Brasil, do
curso de agronomia da UNILAB, é o tema do estudo de Bruno
Okoudowa. No processo de apreensão do português, explica,
o “discente ou falante estrangeiro quando não encontra o som
do português na sua língua materna, a tendência natural é
substituí-lo por um som semelhante que exista na sua língua”.
O ensaio de Ivan Maia parte da noção de “estética da
existência” de Foucault para traçar uma cartografia da produ-
ção poética afro-brasileira em autores como Solano Trindade
e Oliveira Silveira. Maia considera a negritude poeticamente
enunciada como uma ação coletiva que expressa valores es-
téticos que remetem a um modo de ser transformado que,
construindo o domínio de si, resiste às relações de poder e
controle. Finalizando essa coletânea, Ramon Souza Capelle de
Andrade oferece uma caracterização de identidade pessoal à
luz da Teoria Geral dos Sistemas ao traçar como hipótese que
a identidade pessoal constitui uma propriedade emergente de
um sistema (ou feixe) de hábitos. A identidade pessoal ou sis-
têmica poderia ser concebida, da perspectiva que o autor de-
fende, como emergindo de um conjunto próprio, e individual,
de hábitos inscritos na estrutura ou sistema psicocomporta-
mental de um agente.
Acreditamos que esta coletânea permitirá ao leitor tran-
sitar pelos diferentes tons teóricos e caminhos de investigação
percorridos pelos autores, além de contribuir para o debate,
em vários campos do saber, das múltiplas interfaces entre o
continente negro, a diáspora afro-brasileira, a cultura lusita-
na e o Timor-Leste, numa perspectiva de ruptura política e
epistemológica.
24 d GLEDSON RIBEIRO DE OLIVEIRA • JEANNETTE FILOMENO POUCHAIN RAMOS • BRUNO OKOUDOWA
1
Colonização
e Descolonização do Saber
COMUNIDADES QUILOMBOLAS: UMA POSSÍVEL INTERPRETAÇÃO DO
LUGAR COM O USO DE MAPAS MENTAIS
Introdução
d 27
cidas como portadoras de direitos específicos por sua história
e legado social. Visa também contribuir teoricamente, ainda
que com certas limitações, com as discussões a respeito da
Educação sobre o direito à diferença, notadamente o direito
a uma identidade étnico-racial, que pode ser encontrada em
comunidades quilombolas, rurais e urbanas em todo o país.
Além disso, insere-se nas recentes reflexões sobre a categoria:
Lugar da Geografia Humanístico Cultural num diálogo possí-
vel a partir do uso de mapas mentais.
Para isso, o presente trabalho de pesquisa envolveu as
ações cotidianas e a história de uma comunidade quilombola
rural denominada Barro Preto, situada no município de San-
ta Maria de Itabira, no estado de Minas Gerais, em articula-
ção com as práticas educativas de âmbito escolar. Para tal, os
principais sujeitos acompanhados e entrevistados foram um
grupo de crianças, estudantes do quinto ano do Ensino Funda-
mental de uma escola pública municipal localizada no interior
dessa comunidade. A escolha destas crianças deve-se ao fato
de estarem cursando o último ano escolar ofertado dentro da
comunidade e por isso, terem passado maior tempo de estudos
naquela escola. Além das crianças-estudantes, o trabalho in-
cluiu entrevistas com moradores, professores, diretora e técni-
cos da Secretaria Municipal de Educação dessa escola, buscan-
do-se uma compreensão do histórico da comunidade e outras
ações ligadas ao seu reconhecimento enquanto quilombolas.
Assim, o estudo teve por objetivo compreender a vivên-
cia de crianças da comunidade de Barro Preto e suas inter-re-
lações com a educação escolar e com os processos educativos
mais gerais, levando-se em consideração o lugar de vivência,
as relações étnico-raciais e a questão quilombola.
A investigação foi realizada por meio de estudo de caso,
com observação e intervenção em campo, entrevistas, produ-
28 d ALINE NEVES RODRIGUES ALVES • JOSÉ ANTÔNIO SOUZA DE DEUS • NILMA LINO GOMES
ção de mapas mentais, oficinas com crianças e uma oficina
com moradores adultos. Para Cláudia Rosa Acevedo, a pro-
pósito, o estudo de caso “caracteriza-se pela análise em pro-
fundidade de um objeto ou um grupo de objetos, que podem
ser indivíduos ou organizações” e, enquanto método preocu-
pa-se “com planejamento, as técnicas de coleta de dados e as
abordagens de análise dos dados” (ACEVEDO, 2007, p.56).
Como forma de aproximação das crianças e tentativa
de compreender como concebem o seu “estar no quilombo”
do ponto de vista geográfico e espacial, os mapas mentais
foram os principais procedimentos metodológicos adotados.
Esses foram construídos por um grupo de dezessete estu-
dantes da escola da comunidade. Por mapas, entende-se a
metodologia de investigação nos debates sobre percepção
ambiental, percepção de paisagens e nos trabalhos de antro-
pólogos, em que se procura visualizar, nas imagens mentais
traçadas pelos homens, traços ligados à cultura, conforme
Nogueira (2002).
COMUNIDADES QUILOMBOLAS:
UMA POSSÍVEL INTERPRETAÇÃO DO LUGAR COM O USO DE MAPAS MENTAIS d 29
de instituição sociopolítica militar conhecida na África Cen-
tral, já a sua conceituação, atualmente, é passível de várias
interpretações. Algumas são interpretações que remontam
à sua primitiva concepção, ainda no século XVIII, e que se
transformaram social e politicamente, de acordo com as mu-
danças sofridas por essas mesmas comunidades, suas reali-
dades rurais e urbanas, e há outras ligadas à ressignificação e
ressemantização do conceito.
O processo de ressignificação e ressemantização de-
corre das mudanças, tendências e interferências dos estudos
realizados pelo campo teórico, sobretudo da antropologia, na
arena jurídica, pelas instituições governamentais e pelo movi-
mento social negro e quilombola brasileiros, principalmente
após a promulgação da Constituição da República Federa-
tiva do Brasil de 1988, na qual consta o Art. 68, do Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), que versa:
“aos remanescentes de comunidades quilombos que estejam
ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva,
devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos”.
No século XVIII, o conceito clássico e que perduraria
até a década de 1970, foi definido pelo Conselho Ultramarino
em 1740 ao dirigir-se à Coroa Portuguesa: “toda habitação de
negros fugidos, que passem de cinco, em parte despovoada,
ainda que não tenham ranchos levantados e nem se achem pi-
lões nele”. Tal definição, ao tornar-se jurídica, marginalizava
e penalizava os grupos quilombolas que eram identificados,
então, de forma depreciativa (CARRIL, 2006, p.53).
Uma análise desse conceito é encontrada em Almeida
(1999), que, entre suas reflexões, nos apresenta uma crítica à
visão de senso comum da época em que apontava as comuni-
dades quilombolas como grupos que estariam fora do mundo
do trabalho. De acordo com Schimitt (2002), paralelamente
30 d ALINE NEVES RODRIGUES ALVES • JOSÉ ANTÔNIO SOUZA DE DEUS • NILMA LINO GOMES
ao aparelho de perseguição aos fugitivos, existiu também uma
rede de informações que ia das senzalas a muitos comercian-
tes. Estes tinham interesse na manutenção dos grupos, pois
eram lucrativas as trocas de produtos agrícolas dos quilombos
por outros, repassados a eles pelos comerciantes por não exis-
tirem no interior dos quilombos.
No século XIX, principalmente nos finais do período
escravista, foi formado um grande número de quilombos no
Brasil que conseguiam sobreviver durante a escravidão, sen-
do que obtinham mais êxito aqueles que mantiveram relações
de reciprocidade com brancos pobres, indígenas e outros seg-
mentos populacionais. Portanto, os quilombolas mantinham
laços de solidariedade e convivência com seu entorno. Os
quilombos não correspondiam exclusiva ou essencialmente,
portanto, a refúgios de escravos fugidos, mas sua gestação
vinculava-se ao esforço dos negros escravizados em resgatar
sua liberdade e dignidade.
Além disso, as diferentes formas de ocupação de terras,
praticamente negadas com o sistema de Sesmarias e Lei de
Terras de 1850 no Brasil, foram, aos poucos, ganhando sen-
tido a partir da necessidade de designação da realidade qui-
lombola, sobretudo, para efeito de medidas legais, jurídicas
ou definição de direitos sociais, econômicos, políticos para
esses grupos e seus descendentes. As novas definições com-
preenderiam as estratégias de sobrevivência e outras relações
sociais criadas para além da fuga. Afinal, poderíamos encon-
trar terras doadas, compradas ou mesmo sua existência a par-
tir da apropriação de grandes propriedades que entraram em
decadência (LITTLE, 2002, p.6).
Temos assim, comunidades negras rurais, terras de
pretos, terras de santo ou santíssimo e/ou mocambos, qui-
lombos contemporâneos, comunidades quilombolas e rema-
COMUNIDADES QUILOMBOLAS:
UMA POSSÍVEL INTERPRETAÇÃO DO LUGAR COM O USO DE MAPAS MENTAIS d 31
nescentes de quilombos. Ou seja, é possível vislumbrarmos
vários critérios para denominar a luta desses grupos, ao indi-
car que o conceito elaborado anteriormente à abolição formal
da escravatura, além de ampliado, foi também ressignificado1.
Constatam-se, ainda nessa luta, os atributos simbólicos, como
o caso do quilombo de Palmares e o líder Zumbi.
Sobre esses territórios2 étnicos, entendemos os “espa-
ços” cujas referências de uma possível origem comum estão
grafadas pelas construções materiais ligadas à identidade e ao
pertencimento territorial (ANJOS, 2007), e em que são va-
lorizadas as tradições culturais a partir de “normas de per-
tencimento explícitas, consciência de sua identidade étnica”
(MOURA, 2007, p.10).
Vale ressaltar ainda que a identidade desses grupos
étnicos pressupõe experiências coletivas compartilhadas por
meio de uma trajetória comum. Portanto, o quilombo não se
define pelo tamanho da comunidade ou número de membros.
(O’DWYER, 1995). Além disso, a constituição da identidade é
algo transitório, no tempo e no espaço, e se transforma duran-
te toda uma vida, aí consideradas as mudanças de seu contex-
to sociopolítico-econômico e cultural (HALL, 2003).
1 É nessa perspectiva que nos aproximamos dos seguintes autores: Alfredo Wag-
ner Berno de Almeida (1999); José Maurício Arruti (2006), Kabengele Munanga
e Nilma Lino Gomes (2006); Lourdes Carril (2006); Paul Elliott Little (2002)
ou ainda, para reflexões acerca da atualidade da luta quilombola no campo das
lutas jurídicas: Carlos Hasenbalg (1992), Luiz Fernando Linhares (2002) e Lílian
Cristina Gomes (2009).
2 As atuais leituras dessa autora sobre território, como categoria geográfica,
32 d ALINE NEVES RODRIGUES ALVES • JOSÉ ANTÔNIO SOUZA DE DEUS • NILMA LINO GOMES
Hoje, as comunidades quilombolas urbanas ou rurais,
longe de serem reproduções do passado, realizam em seus ter-
ritórios um movimento de respeito ao passado e desenvolvi-
mento contemporâneo de busca do direito à terra, à cultura e
educação de qualidade. Portanto, não é mais possível ostentar-
mos uma visão estática e cristalizada no passado sobre os qui-
lombos ou calcada no binômio isolamento e segregação, salvo
no imaginário social. Segundo Carril (2003), os atuais estudos
sobre a formação quilombola têm sido realizados sob a pers-
pectiva aberta pelos estudos antropológicos, assim, não aban-
donam a problemática cultural nem a influência marxista.
Há autores que identificam uma visão de inversão ao
tratamento da questão quilombola, haja vista que, se no perí-
odo colonial, os quilombolas foram tratados como criminosos,
após a Constituição de 1988, na República, esses atores sociais
tornaram-se público-alvo de políticas de reparação aos danos
historicamente sofridos. Almeida (2002) relembra que isso
ocorre com limitações/restrições dada a dificuldade destes su-
jeitos terem efetivamente acesso aos direitos que lhes cabem.
O movimento social negro e quilombola denuncia o atual tra-
tamento recebido por vários outros coletivos sociais, pois ain-
da são, muitas vezes, taxados por alguns como “baderneiros” e
“aproveitadores” ao lutarem pela reparação aos danos sofridos
no passado e sua justa correção no tempo presente.
Hoje, os quilombolas lutam também contra os interes-
ses do mercado econômico que explora suas terras em busca
de recursos naturais e mercadorias, planeja implantar proje-
tos hidrelétricos e viários, realiza compra de terras e implanta
unidades de conservação. Obviamente a temática quilombola
se tornou cara ao país por transitar nas esferas das questões
raciais e de distribuição de terras. As terras brasileiras, desde
sua origem com o sistema de sesmarias, são um bem possuído
COMUNIDADES QUILOMBOLAS:
UMA POSSÍVEL INTERPRETAÇÃO DO LUGAR COM O USO DE MAPAS MENTAIS d 33
por poucos e, com a abolição da escravatura, em 1888, fazen-
deiros e políticos latifundiários se organizaram para impedir
que negros pudessem se tornar donos de terras.
Segundo Carlos Hasenbalg (1992), as tensões provo-
cadas pelo regime autoritário produziram a necessi-
dade da sociedade, através dos movimentos sociais,
articularem-se e refletirem sobre números temas, entre
eles a questão racial e da terra. Esses temas foram
suprimidos por mais de duas décadas e incorporados
à agenda nacional através do movimento social negro.
(ALVES, 2012, p.27).
34 d ALINE NEVES RODRIGUES ALVES • JOSÉ ANTÔNIO SOUZA DE DEUS • NILMA LINO GOMES
E ainda é importante refletir a respeito da ideia redu-
cionista de comunidades vulneráveis, caracterizadas por sua
condição rural, que impede o reconhecimento de sua identi-
dade específica e, consequentemente, induz a opção política
por ações assistencialistas em detrimento das políticas de di-
versidade (MIRANDA, 2011).
Entre as várias políticas de diversidade voltadas às comu-
nidades quilombolas no Brasil, destacamos a Educacional, em
que, a partir do século XXI, as organizações governamentais,
não governamentais e sociais (entidades do movimento negro)
interessadas em debater e criar condições de enfrentamento
aos problemas raciais no Brasil, visualizaram na “3ª Conferên-
cia Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xe-
nofobia e as Formas Correlatas de Intolerância”, ocorrida em
Durban (África do Sul), a oportunidade de verem seus esforços
e reivindicações contemplados, especialmente aquelas vincula-
das ao reconhecimento de responsabilidade pelo governo bra-
sileiro em criar condições estratégicas de políticas de superação
do racismo, notadamente no âmbito escolar, em que os prejuí-
zos de ações discriminatórios e racistas se manifestam em fra-
cassos escolares das crianças negras, de acordo com pesquisas.
Destacamos aqui pressões sociais, notadamente do mo-
vimento social negro, em prol de melhores condições de acesso
da comunidade negra ao ensino público de qualidade, valoriza-
ção e reconhecimento das contribuições do negro na História
do Brasil, a introdução nos currículos escolares da História da
África e cultura afro-brasileira, a participação dos pesquisado-
res e militantes negros na elaboração dos currículos, e a sanção
no ano de 2003, da Lei no 10.639/03 (alterada para 11.645/08,
que dá a mesma orientação quanto à temática indígena)
A fim de regulamentar essa alteração da Lei de Diretri-
zes e Bases (LDB), o Conselho Nacional de Educação (CNE)
COMUNIDADES QUILOMBOLAS:
UMA POSSÍVEL INTERPRETAÇÃO DO LUGAR COM O USO DE MAPAS MENTAIS d 35
aprovou o Parecer CNE/CP 03/2003 que instituiu as Diretri-
zes Curriculares para a Educação das Relações Étnico-Raciais
e o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileiras e Africanas a
serem implantadas pelos estabelecimentos de ensino público
e privado em todo país. Esse parecer é ratificado pela resolu-
ção CNE/CP 01/2004, a qual explicita os deveres dos sistemas
de ensino na implementação da Lei.
Esse conjunto de medidas legais, assim como as reivin-
dicações e propostas do Movimento Negro e Quilombola ao
longo do Século XX, pode ser considerado como instrumento
de implementação de políticas de ações afirmativas respon-
sáveis por reconhecer e valorizar a diversidade cultural no
âmbito da educação. Essas medidas têm, na escola, o lugar
de formação cidadã e a responsabilidade em reparar a pro-
dução e reprodução de imaginários coletivos de supremacia
e subordinação de um grupo étnico-racial em relação a outro.
Ou seja, visam transformar positivamente a ordem cultural,
pedagógica e psicológica alicerçadas no mito da democracia
racial que atinge particularmente os negros.
Ainda levando em consideração a realidade histórica e
política que envolve a questão quilombola, ou seja, seu his-
tórico de reivindicações, lutas e ações compreendidas pelos
movimentos sociais que não dissociam a necessidade de pos-
suírem uma escola com qualidade, em territórios étnicos, e
atendendo às suas especificidades, é que temos a recente in-
clusão da educação escolar quilombola como modalidade da
educação básica por meio do parecer do Conselho Nacional de
Educação/Câmara de Educação Básica(CNE/CEB) 16/2012 e
da Resolução CNE/CEB 08/2012 que instituem as Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Quilombola.
Estas terão por objetivo orientar os sistemas de ensino para
que eles possam colocar em prática a Educação Escolar Qui-
36 d ALINE NEVES RODRIGUES ALVES • JOSÉ ANTÔNIO SOUZA DE DEUS • NILMA LINO GOMES
lombola mantendo um diálogo com a realidade sociocultural
e política das comunidades e do movimento quilombola.
COMUNIDADES QUILOMBOLAS:
UMA POSSÍVEL INTERPRETAÇÃO DO LUGAR COM O USO DE MAPAS MENTAIS d 37
Pastoral Afro de Itabira, entidade filiada à Igreja Católica de
município vizinho, e posteriormente, novas ações pessoais de
moradores e líderes comunitários que conseguiram mobilizar
a escola em prol da necessidade de serem reconhecidos, e,
portanto, respeitados, por sua identidade étnica.
Destacamos dessa nova rede social em Barro Preto, o
envolvimento da escola e seu corpo docente, e também, ges-
tores da Secretaria Municipal de Educação, que buscaram
implantar, a partir de recursos públicos e acompanhamento
pedagógico específico, a Lei no 10.639/20035 e suas Diretri-
zes Curriculares para Educação das Relações Étnico-Raciais
na escola da comunidade no período de 2003 a 2008. E como
consequência dos novos conhecimentos a respeito da luta qui-
lombola, temos a reforma da escola local, a construção de uma
quadra de esportes, calçamento da rua principal e a criação da
Associação dos Quilombos Unidos de Barro Preto e Indaiá6,
cuja importância está em representar a comunidade nos as-
suntos político-jurídicos referentes ao reconhecimento e titu-
lação das terras. Nesse movimento, temos ainda a iniciativa
de moradores, com apoio da comunidade escolar, de criação
do Museu do Negro no interior da comunidade e que constitui
motivo de orgulho para a comunidade quanto a suas origens.
Toda essa articulação, ao envolver a escola, traz consigo
uma importante mobilização juntamente com os estudantes,
no sentido de desenvolver o espírito crítico e de valorização
da cultura local. O grupo de crianças, cuja faixa etária oscila
5 A Lei no 10.639/03 torna obrigatório o Ensino de História da África e Cultura
Afro-Brasileira nas escolas públicas e privadas de todo o país.
6 Indaiá é uma comunidade quilombola localizada no município vizinho de Antônio
Dias e distanciada cerca de sete quilômetros de Barro Preto. De acordo com Maria
Aparecida S. Tubaldini (2009), as duas comunidades possuem laços de parentesco.
De Indaiá, partiram famílias que contribuíram para a origem de Barro Preto. Vale
ressaltar que ambas possuem uma área de uso comum localizada em Indaiá, daí
a justificativa de criarem uma única Associação.
38 d ALINE NEVES RODRIGUES ALVES • JOSÉ ANTÔNIO SOUZA DE DEUS • NILMA LINO GOMES
entre dez e onze anos, além de presenciar as manifestações
políticas no interior da comunidade, participou das ações cul-
turais com apresentações nos municípios vizinhos, e também
recebeu, na comunidade e no museu, a visita de outras esco-
las da rede de ensino do município. E, para compreendermos
suas experiências com o lugar de vivência, é que apresenta-
mos na sequência, a discussão conceitual sobre a categoria de
análise: Lugar, no campo da Geografia Cultural.
COMUNIDADES QUILOMBOLAS:
UMA POSSÍVEL INTERPRETAÇÃO DO LUGAR COM O USO DE MAPAS MENTAIS d 39
da referenciados por aspectos localizacionais, classificatórios
ou determinando a presença de fenômenos, porém, nesta
nova abordagem, conferindo-lhe significados (KOZEL, 2001,
p.152). É relevante assinalar que o lugar poderá ser um bairro,
um povoado, um terreiro, uma casa, uma rua e outros.
[...] o lugar é uma unidade entre outras unidades ligadas
pela rede de circulação; o lugar, no entanto tem mais
substância do que nos sugere a palavra localização; ele
é uma entidade única, um conjunto “especial” que tem
história e significados. O lugar encarna as experiências
e as aspirações das pessoas. O lugar não é só um fato
a ser explicado na ampla estrutura do espaço, ele é a
realidade concreta a ser esclarecida e compreendia
sob a perspectiva das pessoas que lhes dão significados
(TUAN, apud HOLZER, 1999, p.70).
40 d ALINE NEVES RODRIGUES ALVES • JOSÉ ANTÔNIO SOUZA DE DEUS • NILMA LINO GOMES
Assim, relacionada à categoria lugar, a Topofilia seria:
o elo afetivo entre a pessoa e o lugar ou ambiente físico. A
palavra topofilia é um neologismo, útil quando pode ser defi-
nida em sentido amplo, incluindo todos os laços afetivos dos
seres humanos com o meio ambiente material. Estes diferem
profundamente em intensidade, sutileza e modo de expres-
são. Outro conceito importante seria: topofobia, que inver-
samente ao primeiro, decorre da ideia de paisagem do medo
(TUAN, 1980)
Com a geografia humanístico-cultural contemporânea
há assim o privilégio da subjetividade, das experiências, dos
simbolismos que por sua vez reduzem/relativizam a tendên-
cia homogeneizante que muitas teorias geográficas produzi-
ram sobre o espaço e sobre fenômenos sociais, tais como as
comunidades quilombolas e seu movimento de luta por terra
e reconhecimento de suas identidades.
COMUNIDADES QUILOMBOLAS:
UMA POSSÍVEL INTERPRETAÇÃO DO LUGAR COM O USO DE MAPAS MENTAIS d 41
Na elaboração dos mapas mentais, a ideia principal é
representada/posicionada no centro de uma folha de papel
em branco, utilizada na horizontal para proporcionar maior
visibilidade. E vale ressaltar que, embora utilizemos a ima-
gem enquanto representação do espaço desde a pré-história,
foi a partir da década de 60 (do século XX) que houve a bus-
ca por novas perspectivas de comunicação e preocupação em
desvendar essa imagem.
Os mapas mentais, portanto, são imagens construídas
por “sujeitos históricos reais, reproduzindo lugares reais vivi-
dos, produzidos e construídos materialmente”. E que portan-
to, devem ser lidos como produtos em movimento, ou seja, não
estáticos e não apenas cartográficos7 (KOZEL E NOGUEIRA,
1999, p.240)
Nos mapas mentais, a imagem é apenas uma faceta da
representação. Em Kozel (2007) temos que essa representa-
ção é indissociável de tudo que envolve o sujeito e a lingua-
gem. Esta linguagem uma vez referendada por signos, que são
construções sociais e refletem o espaço vivido representado
em todas as suas nuances. E ancorando-se na sociolinguística
é que Kozel nos apresenta um referencial teórico-metodológi-
co para interpretação ou decodificação desses signos constru-
ídos socialmente.
A autora parte do pressuposto que o objeto de análi-
se é uma forma de linguagem e encontra em Mikhail Bakhtin
(1986) o referencial para análise dos signos (mapas mentais)
como enunciados. Assim, os mapas mentais enquanto cons-
truções sígnicas que requerem interpretação/decodificação
7 Ressaltamos que os mapas mentais são imagens que os homens constroem dos
lugares, paisagens e regiões. Assim houve na geografia uma tentativa de se trazer
para o campo das técnicas cartográficas estas representações, que na verdade
devem ser tratadas enquanto fatos cartográficos com significações subjetivas.
(AMORIM, 1999, p.141).
42 d ALINE NEVES RODRIGUES ALVES • JOSÉ ANTÔNIO SOUZA DE DEUS • NILMA LINO GOMES
estão inseridos em contextos sociais, espaciais e históricos co-
letivos, apresentando singularidades e particularidades (KO-
ZEL, 2007, p.114-115).
O método bakhtiniano estuda a linguagem e o homem
numa interação ou encontro dialógico. O ser humano é visto
aí como ser social, portanto, esta teoria leva em consideração
expressões ou interações entre a linguagem e a importância do
ser humano como elemento de expressão da sociedade. E é as-
sim que o signo, produzido dentro de um contexto que lhe dá
sentido, poderá ser decodificado como forma de linguagem.
Kozel (2007), em sua metodologia, entende que o ser hu-
mano utiliza signos para representar a realidade, de modo que
a construção destes não ocorre de maneira vazia, mas a partir
da consciência que geralmente coincide com a orientação se-
mântico-ideológica de sua realidade. O que, numa perspectiva
sociológica, significa dizer que os signos, quando retirados do
contexto real vivido transformam-se, apenas, em sinais.
Assim, a codificação dos signos que formam a imagem
à medida que compartilham valores, significados com comu-
nidades e redes de relações tornam-se uma representação não
apenas individual, mas coletiva, referendando um signo social
em comum (KOZEL, 2007).
Os aspectos de interpretação dos mapas mentais foram
realizados de forma qualitativa a partir da metodologia pro-
posta por Kozel (2007), que adaptada8, assim define os se-
guintes aspectos a serem avaliados:
COMUNIDADES QUILOMBOLAS:
UMA POSSÍVEL INTERPRETAÇÃO DO LUGAR COM O USO DE MAPAS MENTAIS d 43
3. Interpretação quanto à especificidade dos ícones;
yyRepresentação dos elementos da paisagem natural
yyRepresentação dos elementos da paisagem construída
yyRepresentação dos elementos móveis
yyRepresentação dos elementos humanos
4. Apresentação de outros aspectos ou particularidades.
44 d ALINE NEVES RODRIGUES ALVES • JOSÉ ANTÔNIO SOUZA DE DEUS • NILMA LINO GOMES
A. Questão da água:
Andréia, 11 anos
Rosiane, 10 anos
COMUNIDADES QUILOMBOLAS:
UMA POSSÍVEL INTERPRETAÇÃO DO LUGAR COM O USO DE MAPAS MENTAIS d 45
A economia local se caracteriza por trabalhos sazonais
nas fazendas do entorno e trabalhos de capina em empresas
locais de recuperação e recomposição vegetal de áreas degra-
dadas. Já o trabalho de cultivo em áreas próprias da comuni-
dade, ou seja, na roça, sofreu retração motivada pelo confina-
mento territorial. Anteriormente, as práticas de cultivo eram
desenvolvidas nas serras, todo o entorno da comunidade.
C. Relações de vizinhança:
Brenda, 11 anos
46 d ALINE NEVES RODRIGUES ALVES • JOSÉ ANTÔNIO SOUZA DE DEUS • NILMA LINO GOMES
D. Relações com o urbano:
Eliel, 10 anos
Luana, 10 anos
COMUNIDADES QUILOMBOLAS:
UMA POSSÍVEL INTERPRETAÇÃO DO LUGAR COM O USO DE MAPAS MENTAIS d 47
As fronteiras criadas a partir de porteiras não parecem
sugerir limitação na circulação das pessoas. Porém, ganham
dimensões de limites no uso dos espaços, isto devido ao con-
finamento territorial que a comunidade sofre pela ação siste-
mática de cerceamento dos fazendeiros do entorno.
Luis, 11 anos
48 d ALINE NEVES RODRIGUES ALVES • JOSÉ ANTÔNIO SOUZA DE DEUS • NILMA LINO GOMES
G. Relações com os projetos educacionais:
Izadora, 11 anos.
Conclusões
COMUNIDADES QUILOMBOLAS:
UMA POSSÍVEL INTERPRETAÇÃO DO LUGAR COM O USO DE MAPAS MENTAIS d 49
de comunidade quilombola, direta ou indiretamente, a partir
do resultado dos mapas mentais que engloba: a valorização
de elementos materiais e simbólicos resultantes da autodecla-
ração; pertencimento territorial com consciência dos limites/
restrições ao domínio e usufruto desse território; afirmação
das relações de parentesco; as referências de identidade; e por
fim, a constatação de que os sujeitos investigados não se en-
contram isolados ou alheios às inovações que ocorrem no seu
entorno. E mesmo as ausências significaram aqui, de alguma
forma, um dado importante da realidade experimentada pelas
crianças de Barro Preto.
Vale ressaltar que a própria ação coletiva entre comuni-
dade, entidades do movimento negro e poder público que re-
sultaram no reconhecimento da comunidade de Barro Preto,
é representada por seus elementos materiais e simbólicos, e
em alguns casos perceptíveis na análise dos mapas mentais.
Entre as melhorias advindas do reconhecimento do povoado
como comunidade quilombola, temos a captação e distribui-
ção da água, que, além de ser uma questão conflitiva discutida
entre a comunidade, fazendeiros e poder público, mostrou-se
como uma experiência que gerou satisfação entre as crianças
que a retrataram registrando em seus desenhos com frequên
cia as caixas de água sobre as casas da comunidade, além de
expressarem/ documentarem também a sua satisfação em ob-
terem um local de lazer, a quadra esportiva da comunidade.
Outras questões políticas foram apresentadas, tal qual
o atual confinamento territorial experimentado pelos ha-
bitantes de Barro Preto e suas consequências na vida deles.
Partimos da constatação de que o reservatório de água da co-
munidade situa-se em terras hoje não mais sob domínio dos
quilombolas e, além disso, a presença de cercas e porteiras
arbitrariamente instaladas pelos fazendeiros da vizinhança e,
50 d ALINE NEVES RODRIGUES ALVES • JOSÉ ANTÔNIO SOUZA DE DEUS • NILMA LINO GOMES
por consequência, a dificuldade de se manter a reprodução de
roças em áreas para além desses limites, as quais eram terras
ocupadas por seus antepassados, foram retratados pelos estu-
dantes. Portanto são perceptíveis as noções que eles possuem
da potencialidades e limites de seu território, como também,
de pertencimento ao Lugar, ou seja, “o fato e o sentimento de
pertencer àquilo que nos pertence”, a identidade. (SANTOS,
2001, p.96).
Outra importante vivência apresentada pelas crianças
é o fato de identificarem os moradores do lugar integrantes
de uma família extensa, corroborando com a ideia de que as
comunidades quilombolas no Brasil “[...] são comunidades
negras rurais habitadas por descendentes de escravos que
mantêm laços de parentesco” vivendo de “[...] culturas de sub-
sistência em terra doada/comprada/secularmente ocupada”
(MOURA, 2007, p.10). No caso de Barro Preto, as terras foram
compradas por ex-escravos das fazendas do atual entorno da
comunidade e trazidos do Rio de Janeiro – RJ (diferentemen-
te, portanto, da ideia generalizada de fuga de escravos, recor-
rente no imaginário social brasileiro sobre os quilombos).
A luta quilombola e do próprio movimento negro local,
em busca da construção de uma escola que seja realmente di-
ferenciada para suas crianças e adultos, ou seja, que respeite
as diferenças étnicas sem, contudo, hierarquizá-las, foi expli-
citamente verificada no conteúdo de apenas um mapa mental,
na inscrição “Barro Preto Resgata sua História e tem Orgulho
de sua Cor”. Esta escrita na parte central do mapa diz respeito
ao nome do primeiro projeto pedagógico realizado na escola e
remete a uma leitura de consciência da identidade étnica, des-
pertada por projetos que buscaram quebrar o silêncio produ-
zido socialmente pelo racismo ao trazer a afirmação positiva,
e ruptura com as experiências de muitos adultos quilombolas,
COMUNIDADES QUILOMBOLAS:
UMA POSSÍVEL INTERPRETAÇÃO DO LUGAR COM O USO DE MAPAS MENTAIS d 51
que ser negro é sim um motivo de orgulho. Assim, percebemos
também que uma proposta antirracista na escola só encontra
sentido quando o racismo é desmistificado, pois o silêncio re-
força e perpetua as suas conseqüências (GOMES, 2005, p.51).
Embora se trate de um trabalho que para ser eficaz é de dura-
ção prolongada, e ademais, não pontual, localizado.
Percebemos ainda que essas comunidades não se encon-
tram imobilizadas em relação ao que se passa ao seu redor,
e, nessa perspectiva, gostaríamos de enfatizar o contato dessa
comunidade rural com o urbano e seus aparatos. Portanto, não
é difícil para Barro Preto conceber em seu interior a valori-
zação das tradições culturais dos antepassados, as normas de
pertencimento, acompanhadas simultaneamente da vontade
de ter acesso a novas tecnologias e outros valores sociocultu-
rais, que em nossa ótica, devem ser vistos como “processos que
não devem ser negados, eles existem, e ao contrário, devem
ser compreendidos enquanto direitos” (ALVES, 2012, p.56).
Portanto, diferentemente do imaginário social para o qual os
quilombolas estariam “congelados” no tempo (em um passa-
do remoto e isolados), eles se atualizam culturalmente e com
essas novas experiências adquiridas, lutam em busca de con-
cretização de direitos, dentre eles, territoriais e educacionais.
Já o importante dado que nos coube traduzir em “pro-
dução de ausências” liga-se à seguinte constatação: embora a
escola tenha profunda importância no processo de reconhe-
cimento da comunidade, ela atualmente não desenvolve um
trabalho que sustente práticas e ações determinantes/ signi-
ficativas para as crianças em que o processo educativo formal
dê sentido aos conteúdos, à aprendizagem, ao conhecimento,
extrapolando os muros institucionais. Nos mapas mentais
elaborados pelos estudantes há poucos registros da existên-
cia da escola no território quilombola. Contraditoriamente, a
52 d ALINE NEVES RODRIGUES ALVES • JOSÉ ANTÔNIO SOUZA DE DEUS • NILMA LINO GOMES
estrutura escolar foi reformada e, diferentemente das cons-
truções comunitárias locais, ela tem um imenso muro de cor
laranja, possui o único telefone público de Barro Preto, com-
porta o museu criado pelos moradores e está localizada na rua
principal da comunidade.
Outra constatação que emergiu do trabalho sobre as au-
sências nos resultados dos mapas mentais situa-se no plano
das relações humanas, salvo aquelas estabelecidas entre as
próprias crianças. Curiosamente, há poucos adultos em suas
imagens (representações nos mapas mentais). Pelas investi-
gações da pesquisa, percebemos que possivelmente essa re-
presentação tenha relação com o próprio distanciamento das
crianças da comunidade com o atual mundo adulto. Sabe-se
que os adultos (assim como os jovens) estão imersos no mundo
do trabalho, e mesmo da escola (nas séries sequenciais do En-
sino Médio), e por isso ficam fora da comunidade, durante os
dias da semana. No seu cotidiano, os cuidados das crianças
ficam a cargo dos mais velhos e da escola e, portanto, são pou-
cos os adultos que permanecem cotidianamente no interior
das casas, e talvez, por isso, nos mapas mentais eles são repre-
sentados apenas nas janelas das casas.
Tais resultados nos aproximam, em certa medida, do
conceito de comunidade quilombola elaborado para o aten-
dimento do Artigo 68 da ADCT, em que se busca conjugar a
referência da identidade ao uso territorial tentando, portanto,
superar as ideias clássicas a respeito do tema. Pelo Decreto
Lei no 4.887 do ano de 2003, temos:
remanescentes das comunidades dos quilombos os gru-
pos étnicos raciais, segundo critérios de auto-atribuição,
com trajetória histórica própria, dotados de relações
territoriais específicas, com presunção de ancestralidade
negra relacionada com formas de resistência à opressão
histórica sofrida. (BRASIL, 2003).
COMUNIDADES QUILOMBOLAS:
UMA POSSÍVEL INTERPRETAÇÃO DO LUGAR COM O USO DE MAPAS MENTAIS d 53
Concluímos assim que os elementos que configuram, na
atualidade, uma comunidade quilombola e a rede de comuni-
cação que a mesma experimenta em busca de direitos geram
ou intensificam outros elementos simbólicos e materialmen-
te construídos, que podem ser assimilados pelas crianças em
diferentes graus. E nessa pesquisa eles foram reproduzidos e
puderam ser passíveis de decodificação (não sem o auxílio de
uma pesquisa que busca revisar conceitos e com o auxílio de
diálogos oportunamente estabelecidos in loco entre o pesqui-
sador e os sujeitos da pesquisa).
Portanto, o significado de comunidade quilombola, em-
bora não seja objetivo da pesquisa, pôde ser verificado e anali-
sado pelos mapas mentais, sendo possível inclusive nos aproxi-
marmos do lugar de vivência experimentado pelas crianças. É
válido procurarmos resgatar, por fim, os postulados do grande
geógrafo sino-americado Yi-Fu Tuan quando ele demarca que:
[...] muitos lugares, altamente significantes para certos
indivíduos e grupos, têm pouca notoriedade visual para
seus visitantes. São conhecidos emocionalmente, e não
através do olho crítico ou da mente. (TUAN, 1983).
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UMA POSSÍVEL INTERPRETAÇÃO DO LUGAR COM O USO DE MAPAS MENTAIS d 57
DESAFIOS DA EDUCAÇÃO NA ÁFRICA:
MOÇAMBIQUE E SUA BUSCA POR ALTERIDADE
Introdução
58 d
tradicional? Uma cultura não europeia, diante do processo de
globalização, pode se modernizar sem nada alterar da sua for-
ma de ver e construir a sua própria história, cultura e valores?
Enfim, o setor da educação formal está habilitado, capacitado
e preparado para responder a estes múltiplos desafios? Nós
consideramos essas e outras preocupações como desafios da
educação em Moçambique e na África em geral.
Na sociedade moderna, onde sistemas educativos for-
mais tendem a privilegiar o acesso, muitas vezes, ao conheci-
mento escolar, em detrimento de outras formas de saberes e
aprendizagem, é essencial conceber a educação do ser huma-
no de uma maneira integral.
O conhecimento de outras culturas, outras formas de
educação, interfaces de saberes, o confronto através do diálo-
go e de trocas de argumentos, é um dos meios indispensáveis
para enfrentar os desafios da educação.
Esta perspectiva deve inspirar e orientar as reformas
educativas, tanto na elaboração de programas quanto na defi-
nição de novas políticas pedagógicas que respeitem as diver-
sidades socioculturais. A nossa reflexão tem como objetivo
ultrapassar a visão puramente instrumental da educação for-
mal, considerada hoje como a via obrigatória para obtenção
de algo (diplomas, ascensão e status social, aquisição de capa-
cidades diversas com fins econômicos etc).
No mundo da educação tradicional africana, diversos
elementos do Cosmos estão em função do homem. O homem
está no centro do universo. E é nesta dinâmica que o negro
africano se organiza e vive a totalidade das realidades visí-
veis e invisíveis. E a razão da existência do homem na cultu-
ra africana se realiza no seu equilíbrio consigo mesmo, com
a sociedade, a natureza e o universo. Trata-se de um esforço
permanente de integração das energias do Cosmos no circuito
Conclusão
Referências Bibliográficas
Introdução
Não há uma educação universal, boa em si. Ela é uma
forma irresistível, imposta sobre os outros para cum-
prir fins determinados de fora. Se não podemos nos
libertar totalmente do seu poder, o conhecimento dele
pode atenuar seus efeitos.
Se cada sociedade considerada em determinado
momento histórico do seu desenvolvimento, impõe
um tipo de educação, é necessário que conheçamos
esta sociedade e seu momento histórico se queremos
desnudar o seu sistema de Educação. Especialmente
quando é preciso reverter o processo em que se está
mergulhado. (RODRIGUES, 2001, p.78).
d 87
diretrizes da coroa portuguesa. Mas em que se fundamentava
o seu projeto educativo? O que ele promovia? A emancipação
do homem ou a formação para submissão? Houve processos
de resistência ao padrão educativo colonial português?
Este artigo intenta desvelar o cenário educativo mo-
derno e suas pretensões colonializantes (QUIJANO, 1991;
FIGUEIREDO, 2010; LANDER, 2005; WALSH, 2008), pre-
sentes, embora de modo sutil e invisibilizado, nos primeiros
passos que prenunciam e consolidam, posteriormente, um
projeto educativo no Brasil, o que se materializa fortemente
por meio das reformas e políticas implementadas de 1549 a
1890. Neste interstício, desvela-se a educação para a submis-
são (1549-1890) com a chegada e a expulsão dos jesuítas, a
Independência Monárquica em 1822, sinalizando os feitos
de regulamentação da educação escolar e a Proclamação da
República (1889). Destacamos, porém, que este trajeto não
se dá de forma incólume, sem oposições. Desde sua origem,
encontramos muitos(as) que se posicionam favoravelmente
a uma proposta educativa descolonializante, libertadora, na
linguagem de Paulo Freire (1983).
Nessa viagem, nossa nau favorece e estimula um passeio
relevante pela pesquisa documental e bibliográfica, com base
em autores como Romanelli (2000), Werebe (1997), Saviani
(2004), Walsh (2008), Figueiredo (2012) e Ribeiro (2001), o
que nos permite analisar não só o contexto nacional, mas tam-
bém o de Portugal, por compreendermos que a história do Bra-
sil, “[...] com interpretação consequente de organização social,
deve começar antes do descobrimento” (DUARTE, 1939, p.11).
Em outras palavras, os fundamentos desse modelo edu-
cacional colonializante, opressor, foram instituídos bem antes
de acontecerem em nossa pátria. Este navegar também possi-
bilita a releitura da literatura e dos documentos com o intuito
1 Salientamos que, segundo Lander (2005, p.34), esta lógica eurocêntrica estrutura
e organiza tempo e espaço para toda a humanidade, desde sua percepção única
válida e referência superior e universal para todos os demais. Define um marco zero
desde 1935, sobre a relação entre a língua, a evolução social e o Instituto Africano
Internacional – IAI, organismo internacional, com o seu plano colonializante de
escolarização, com a elaboração de manuais escolares africanos destinados a iniciar
os estudantes no estudo da civilização e do pensamento ocidentais, cuja influência
seria decisiva na formação de futuros chefes.
balhar diretamente com seus colegas, reforçando o ensinado pelos mestres momentos
antes. Além desta seleção, vale registrar o papel do inspetor de ensino, que deve
vigiar os monitores e apontar ao mestre os que devem ser premiados ou corrigidos.
Considerações Finais
Tales reconocimientos hacen interculturalizar y des-
colonizar la lógica y racionalidade dominantes, abri-
éndolas a modos otros de concebir y vivir, modos que
encuentran sus fundamentos en el pensamiento, los
Referências Bibliográficas
d 115
ticipar de uma feira sobre a cultura africana. Como contra-
proposta à atividade, os estudantes decidiram realizar uma
apresentação sobre as missões evangélicas na África. Para os
professores, a atividade fugia ao objetivo da feira, a saber, o
estudo da cultura africana através de obras selecionadas da
literatura brasileira. Não obstante, os estudantes ergueram
uma tenda à porta da escola para falar do trabalho missio-
nário no continente. A atitude foi entendida como um ato
de intolerância étnico-religiosa pelos professores. Já os es-
tudantes alegaram discriminação por serem evangélicos.
Um dos argumentos apresentados em reunião com os repre-
sentantes do Conselho de Direitos Humanos, do Movimento
Religioso de Matriz Africanas, da Comissão de Diversidade
Sexual, da Ordem dos Advogados do Brasil e da Marcha
Mundial de Mulheres era de que na obra de Jorge Amado,
Jubiabá, uma das personagens possuía amizade com um
“pai de santo” e que, além disso, havia citação de práticas
homoafetivas. Já a obra Casa Grande & Senzala, de Gilberto
Freyre, foi considerada insidiosa aos princípios evangélicos.
Diante da repercussão, e retirando do foco a resistência em
apresentar um trabalho sobre a cultura africana, um pastor,
em defesa dos pais e dos estudantes, argumentou que a lite-
ratura indicada pelo professor continha “homossexualismo
no meio.” (EVANGÉLICOS, 2012a).
Em Olinda, Pernambuco, ocorreu uma tentativa de in-
vasão do terreiro Pai Jairo de Iemanjá Sabá. Segundo o baba-
lorixá, que presenciou a ação, membros de uma igreja evan-
gélica gritavam em frente ao terreiro “Sai daí, satanás”. Com
seu filho à frente da entrada, e buscando filmar e impedir a
invasão, ele ouviu de um dos que forçavam o portão que eles
tomassem cuidado, pois “era evangélico, mas era também um
ex-matador.” (EVANGÉLICOS..., 2012b).
segunda uma coação sobre Deus, isto é, a religião é “por favor”, respeito, prece,
culto e doutrina; a magia é coerção do sagrado, implicando a subordinação dos
deuses e a conjuração dos espíritos. (PIERUCCI, 2001). Se o monoteísmo judaico e a
teologia calvinista na Europa seiscentista e setecentista – e depois o protestantismo
estadunidense – buscaram expurgar a magia da religião através da racionalização
ético-ascética do cotidiano, nos países de forte religiosidade popular, como no caso
do Brasil, a magia permaneceu como fundamento inexterminável. (WEBER, 2009).
cor ser considerado ultrajante para quem sofre e degradante para quem pratica,
continua intocável no cotidiano desde que se mantenha o decoro no seu exercí-
cio. Essa “ambiguidade axiológica”, em parte produzida por um ethos católico de
comportamento, aponta para um dilema racial brasileiro no qual o preconceito
de cor, mesmo não institucionalizado como foi nos Estados Unidos e na África do
Sul, continua a pautar as relações sociais atravessando todo o espectro social. Seu
resultado tem sido uma forma historicamente gestada e elaborada de dissimulação
da discriminação que teve no mito da democracia racial, com sua defesa da mesti-
çagem, o seu principal expoente teórico (Cf. FERNANDES, 2007).
8 No campo evangélico, a transmissão familiar da filiação religiosa também sofre
perturbações externas como em outras religiões. Hoje não é mais incomum ver
filhos de pais evangélicos “desviados”, ou seja, que deixaram suas igrejas de
origem para transitar em outras religiões e crenças, para tornarem-se agnósticos
ou, raramente, para negarem qualquer profissão de fé. A fase em que as rupturas
começam a surgir é ao final da adolescência e começo da vida social adulta,
momento em que estímulos externos a família e a igreja influenciam a conduta de
vida do fiel e abalam suas convicções religiosas.
Referências Bibliográficas
Bas´Ilele Malomalo
Exílio
A toda diáspora africana exilada e migrante
No meu país
Só os pássaros cantam
[...]
Eu sinto a morte, o cheiro da pobreza
Vergonha que carrego na terra do exílio
Vergonha de um exilado
Sem país
[...]
(Bas´Ilele Malomalo).
Introdução
134 d
Sugiro, portanto, o seguinte tema para nossa reflexão:
“Desafios da democracia e do desenvolvimento na África: um
olhar sobre a República Democrática do Congo a partir da di-
áspora negra brasileira”. A minha intenção não é abordar a
realidade social, cultural, política e econômica do continen-
te africano na sua generalidade, que pode ser encontrada no
relatório 2006 da União Africana (UA), mas destacar uma de
suas realidades, tendo a RD Congo como um caso particular
por dois motivos. Primeiro: foi nesse país que nasci e comecei
a alimentar a minha consciência crítica sobre a negritude/afri-
canidade. Segundo: o advento da III República, nessa parte da
África, é um belo exemplo para discutirmos – nós, intelectuais
africanos, negros da diáspora, africanistas e simpatizantes da
nossa luta – sobre o nosso futuro e o dos nossos filhos.
Desenvolverei esta reflexão a partir dos instrumentos
teóricos que fazem parte da minha realidade intelectual na
atualidade, qual seja os estudos do desenvolvimento, espe-
cificamente a sociologia do desenvolvimento e das relações
raciais e do multiculturalismo. Articularei o meu discurso a
partir de três pontos: 1) o campo dos estudos do desenvolvi-
mento: dos velhos aos novos temas; 2) o paradoxo do subde-
senvolvimento africano: o caso da RD Congo; 3) os desafios
da democracia e do desenvolvimento na África a partir da Re-
pública Democrática do Congo. Finalizo o meu texto com uma
nota de esperança para o Congo, tendo por pano de fundo a
epígrafe de um poema de minha autoria intitulado de “Exílio”.
Inflação 6%
Conclusão
Vera Rodrigues
158 d
determinada circunstância ou evento se transforme em
um problema, é preciso que as pessoas se convençam de
que algo precisa ser feito. É quando os policy makers do
governo passam a prestar atenção em algumas questões
e ignorar outras. [...] Esses empreendedores constituem
redes sociais que envolvem contatos, vínculos e cone-
xões que relacionam os agentes entre si. [...] O foco
está no conjunto de relações, vínculos e trocas entre
entidades e indivíduos. (SOUZA, 2006 p.32).
[...] Kingdon considera as políticas públicas como um
conjunto formado por quatro processos: o estabeleci-
mento de uma agenda de políticas públicas; a conside-
ração das alternativas para a formulação de políticas
públicas, com base nas quais escolhas serão realizadas;
a escolha dominante entre o conjunto de alternativas
disponíveis e, finalmente, a implementação da decisão.
Em seu modelo de multiple streams, o autor preocupa-
-se especificamente com os dois primeiros processos,
chamados estágios pré-decisórios: a formação da agenda
(agenda-setting) e as alternativas para a formulação das
políticas (policy formulation). (CAPELLA, 2007, p.88).
Quadro
Programa Nacio-
Programa Nacio-
Secretaria de Pro-
nal do Centenário nal de Direitos moção da Igualda-
da Abolição da Humanos de Racial
Escravatura Grupo de Traba-
Política Nacional
Criação da Fun-
lho Interministe- de Promoção da
dação Cultural rial Igualdade Racial
Palmares Grupo de Tra-
Programa Brasil
Artigo 68 da
balho para Eli- Quilombola
Constituição minação da Dis- Decreto nº 4.887
Federal: Reco- criminação no referente à regu-
nhecimento dos Emprego e Ocu- larização fundiária
Direitos das Co- pação das comunidades
Ações Governa-
munidades Qui- Conselho Nacio-
quilombolas
mentais
lombolas nal de Combate à Conferência Re-
Discriminação gional para Amé-
Programa Diver-
rica Latina
sidade na Univer-
sidade
Programa Nacio-
nal de Ações Afir-
mativas
Marcha
Zumbi
dos Palmares pela
Cidadania e pela
Vida
Referências Bibliográficas
1 Este artigo é uma versão ligeiramente modificada de uma seção de minha tese de
178 d
defender cada vez mais clara e urgentemente a necessidade
da independência política tout court. Essa viragem, além de
estar fundamentada no aumento decidido das demandas de
participação política africana — expresso através da crescente
adesão a sindicatos, associações e partidos políticos, e corpo-
rificado em um sem-número de manifestações e greves — foi
facilitada pelo contexto internacional do pós-guerra, em que
determinados fundamentos políticos liberais foram erigidos
em princípios estruturantes da nova ordem mundial que esta-
va sendo construída.
Que o primeiro-ministro britânico, Winston Churchill,
e o presidente dos Estados Unidos, Franklin D. Roosevelt,
considerassem natural negar às colônias africanas e asiáticas
o direito universal e inalienável à autodeterminação dos po-
vos sacramentado na Carta do Atlântico, que assinaram em
1941 e que serviria de base para a constituição da Organiza-
ção das Nações Unidas (ONU), era algo previsível nos termos
da “lei da diferença colonial”. (CHATTERJEE, 1993, p.16-18).
A grande novidade era existirem então grandes contingentes
africanos prontos a exigi-lo, e a apoiar com atos de rebeldia a
denúncia, repetida incansavelmente por seus intelectuais, do
racismo implícito na perpetuação do domínio colonial, frente
a um público europeu extremamente sensível às lembranças
sangrentas da guerra, e vacilante em seu apoio a alegações de-
masiado explícitas de sua própria superioridade racial.
Ainda em 1943, por exemplo, o jornalista e nacionalis-
ta nigeriano Nnamdi Azikiwe distribuía um panfleto intitu-
lado The Atlantic Charter and British West Africa (A Carta
do Atlântico e a África Ocidental Britânica), em que propu-
nha um cronograma para a obtenção da independência em 15
anos. Esse programa serviu de plataforma para reivindicações
formais dos nacionalistas nigerianos diante do poder metro-
and University Archives, W. E. B. Du Bois Papers (US UM SCUA MS 312),
doc. mums312‑b018‑i017, Congrès des Noirs à Paris, Paris, 5 set. 1921. Disponível
em: <http://credo.library.umass.edu/view/full/mums312‑b018‑i017>. Acesso
em: 22 jun. 2012.
Referências Bibliográficas
Rodrigo Ordine
d 205
a reconstrução de uma nova identidade, e nele se envolve
um outro processo que define o quão bem a resposta a um
trauma pode(pôde) ser elaborada: o processo de coping ou
enfrentamento. De modo geral, o coping pode ser entendido
como o modo de se articular o estresse envolvido no trauma,
ou seja, da relação particular entre o indivíduo e o ambien-
te, o qual é apreciado por aquele como excedente aos seus
recursos de compreensão. Havendo uma boa administração
do estresse envolvido, fundamenta-se o coping, um conjunto
de esforços cognitivos e comportamentais utilizados com o
objetivo de lidar com demandas específicas que surgem em
situação de estresse (LAZARUS & FOLKMAN apud YUNES
& SZYMANSKY, 2001).
Por via de adaptação, sugiro o entendimento do pro-
cesso de enfrentamento através do que propõem os teóricos
da Sociologia do Conhecimento, Peter Berger e Thomas Lu-
ckman (1991), quando definem o conceito de “alternação”, ou
seja, uma constante, necessária e semiconsciente escolha por
mundos simbólicos disponíveis baseada em processos de ins-
talação e manutenção de realidade, mediada pelo diálogo e
por interações face a face. Resumidamente, à medida que o
indivíduo se desenvolve, toma contato com diferentes mun-
dos simbólicos que ele apreende como existentes e possíveis
através do diálogo e de outros elementos presentes em intera-
ções com outros indivíduos. Quanto maior o número de inte-
rações em que ele é capaz de participar, mais mundos simbó-
licos podem lhe ser apresentados e, com isso, o indivíduo se
vê impelido a determinadas escolhas a partir de seus critérios
pessoais e também grupais. Dito de outro modo: a identidade
individual será reconstruída continuamente a partir de sele-
ções de mundos simbólicos reconhecíveis como pertinentes a
uma vivência harmônica em determinada sociedade. Como o
MEMÓRIA E REALIDADE TRAUMÁTICA: UMA ANÁLISE DE SÔBOLOS RIOS QUE VÃO d 207
comportar uma administração cotidiana e provoca no indiví-
duo uma imobilidade de respostas aos eventos, muitas vezes
não expressa por inatividade, mas pela repetição de diálogos
e comportamentos; reações ao invés de ações; ou mesmo em
padrões contínuos de relacionamento. Dessa forma, uma
vez que se pense em um componente resiliente relacionado
ao trauma, é preciso ajustar esse conceito ao que Martineau
(1999) denomina de “resiliência performática” ou, por outras
palavras, a tentativa de restaurar o contexto original de um
indivíduo através de ferramentas que tornarão a sua existên-
cia significativa e lhe darão, ao menos, uma justificativa para
que ele continue vivendo. Uma dessas ferramentas seria a
narrativa: alguns indivíduos encontram na narração de seus
traumas uma forma de apaziguamento de suas dores e tam-
bém um modo de tentar dar sentido à experiência que lhe
trouxe um mundo simbólico impossível de ser digerido cog-
nitivamente. Contudo, esse desencontro com o real se apre-
senta de modo tão intenso que a própria linguagem não se
mostra capaz de descrever com exatidão a experiência vivida,
impossibilitando um espaço de intelecção. Assim, o que se
testemunha é um excesso de realidade e o que configurará o
testemunho enquanto narração é uma falta, isto é, uma rup-
tura entre o evento e a linguagem, “a impossibilidade de re-
cobrir o vivido (o ‘real’) com o verbal” (SELIGMANN-SILVA,
2003, p.46). Todavia, como também aponta Seligmann-Silva,
essa impossibilidade pode ser enfrentada através da arte que,
pela via da imaginação, utiliza-se da “linguagem entravada”
para enfrentar o “real” (Op.cit., p.47).
É nesse sentido que proponho a análise da obra Sôbolos
rios que vão (2012), do escritor português António Lobo An-
tunes. Pretendo, porém, refletir inicialmente sobre as primei-
ras obras do autor para depois chegar ao objetivo enunciado.
MEMÓRIA E REALIDADE TRAUMÁTICA: UMA ANÁLISE DE SÔBOLOS RIOS QUE VÃO d 209
was not only a place but a set of values and a time which
history had already condemned 2 (MOUTINHO, 2008).
MEMÓRIA E REALIDADE TRAUMÁTICA: UMA ANÁLISE DE SÔBOLOS RIOS QUE VÃO d 211
constrói sua história. O gênero do nome do autor que figura na
capa (César Aira) não concorda com a voz que enuncia o título
“como virei freira”, voz que remete a um sujeito feminino.
Klinger (2007) também pontua sobre a novela de Fer-
nando Vallejo, La virgem de los sicarios, onde um “anjo ex-
terminador” percorre as ruas de Medellín, limpando-a de par-
te de seus moradores e ao mesmo tempo livrando seu amante
daquilo que mais parece incomodá-lo: o outro, o ser humano.
O narrador da novela, gramático de profissão, voltara já velho
à Colômbia da sua infância e iniciara uma relação homosse-
xual com o “anjo”, um rapaz chamado Alexis, um sicário (ou
assassino profissional). Em Noches vacías, de Washington
Cucurto (apud KLINGER, 2007), o narrador relata suas aven-
turas noturnas no mundo marginal da “cumbia” (gênero mu-
sical que se produz, ouve-se e se dança às margens da cultura
oficial, possivelmente comparável ao funk brasileiro), povoa-
do pelas recentes imigrações de latino-americanos que chega-
ram à Argentina dos anos noventa com a ilusão de encontrar
melhores condições de vida. Em Nove Noites, de Bernardo
Carvalho (apud KLINGER, 2007), um jornalista se interna
na aldeia de índios krahô no Xingu em busca de dados sobre
Bell Quain, promissor antropólogo norte-americano que, em
1938, aos 27 anos, suicidou-se em circunstâncias misteriosas
quando voltava da aldeia indígena para a cidade de Carolina.
O que une os últimos três romances citados e os torna
especialmente curiosos para a análise literária é justamente
o campo movediço da memória, das relações autobiográfi-
cas e dos pactos autobiográfico e ficcional. Segundo Klinger
(2007), em Noches vacías, o nome do personagem coincide
com o pseudônimo do autor, Washington Cucurto. Na novela
de Fernando Vallejo, o narrador possui vários traços da bio-
grafia do autor, fora o fato de que ele mesmo declarou para a
imprensa de que se trataria de uma “história de amor autobio-
MEMÓRIA E REALIDADE TRAUMÁTICA: UMA ANÁLISE DE SÔBOLOS RIOS QUE VÃO d 213
minha hipótese é que as memórias do narrador devem ser en-
tendidas não como a lembrança de um passado como “antes”,
mas sim fundido numa ideia de passado como “agora”, como
se o passado só fosse possível no tempo presente.
Ainda durante a narrativa da data de 21 de março de
2007, o narrador irá mesclar o seu olhar do mundo presente
ao olhar do mundo passado, inserindo nesse “terceiro mun-
do” justaposto as falas de personagens que travam com ele
algum tipo de interação nesse espaço/tempo uno e indivisí-
vel, nesse espaço de memória marcadamente ambíguo e dia-
lógico. Falas como “— Aproxima-te rapaz”, proveniente de D.
Lucrécia, e “— Ainda não”, usada em diferentes contextos e
para diferentes personagens, são passíveis de serem observa-
das em quantidade no excerto datado. O mesmo se dará nos
capítulos/datas seguintes, como no capítulo seguinte (22 de
março de 2007), onde a fala de uma prima (“— Quando cres-
ceres compreendes”) irá se repetir por mais seis vezes, sendo
utilizadas para contextos diferentes.
As constantes repetições de falas e sucessivas iterações
trazem à tona a noção de um ato dialógico em que o outro
(o receptor) parece ser destituído de valor significativo, ge-
rando uma manutenção da realidade cotidiana muito mais
centrada na contingência de um emissor que supervaloriza
o seu dizer como aquele único capaz de imprimir sentido e
manter o “real” de maneira a satisfazer necessidades do pre-
sente, principalmente frente à contraposição ao passado. É
óbvio, entretanto, que esse mecanismo de construção de um
“real” como fruto de uma contingência individual, sem inte-
ração face a face, é somente uma ficção derivada do próprio
processo semiconsciente de construção de realidade.3 Tanto
3 Defino “ficção” aqui como construção e/ou manufatura (derivado do latim fingo,
MEMÓRIA E REALIDADE TRAUMÁTICA: UMA ANÁLISE DE SÔBOLOS RIOS QUE VÃO d 215
o papel de gerar adaptabilidade a uma situação presente não
mais identificável, em especial, a possibilidade de morte.
Contudo, a memória não traz garantia de paz. Não apa-
zigua seu detentor e nem é capaz, pelo menos na narrativa
de Sôbolos rios que vão, de construir um senso de cronolo-
gia linear para dar um tom mais aceitável (agradável?) a uma
narrativa de vida, principalmente porque esse passado tradi-
cional, passível de organização, seja de fato uma ficção neces-
sária à vida cotidiana de muitos indivíduos.4
Problematizando o conceito de passado, Beatriz Sarlo,
em sua obra Tempo Passado (2007), argumenta que:
há algo inabordável no passado. Só a patologia psicoló-
gica, intelectual ou moral é capaz de reprimi-lo; mas ele
continua ali, longe e perto, espreitando o presente como
a lembrança que irrompe no momento em que menos
se espera ou como a nuvem insidiosa que ronda o fato
do qual não se quer ou não se pode lembrar. Não se
prescinde do passado pelo exercício da decisão nem da
inteligência; tampouco ele é convocado por um simples
ato da vontade. O retorno do passado nem sempre é um
momento libertador da lembrança, mas um advento,
uma captura do presente (SARLO, 2007, p.9).
MEMÓRIA E REALIDADE TRAUMÁTICA: UMA ANÁLISE DE SÔBOLOS RIOS QUE VÃO d 217
Nessa fala, a construção literária dá à personagem An-
tónio a capacidade de fabricar um caminho interessante de
analogias de memórias: sua memória de D. Lucrécia como
imortal (gerada pela memória do menino que vê impossível a
morte daqueles que ama, pelo adulto canceroso que é assom-
brado pela sua própria perecibilidade e por sua concepção do
papel imortalizador da memória) se liga à lembrança do freixo
e dos pardais (numa analogia óbvia entre freixo e câncer) que
se liga ao seu presente de humilhações quando ele volta a ser
criança (o uso de fraldas). Embora isso não o incomode, o fato
proporciona ligação a outra memória – o encontro do meni-
no com uma mulher adulta à beira de uma piscina, mulher
esta que já havia sido apresentada na narrativa de capítulos
anteriores simbolizada como um objeto de desejo à época.
Por outro lado, o encontro com a mulher o incomoda pois,
consciente de sua meninice, vê a impossibilidade da realiza-
ção do desejo carnal, evento que se amálgama à sensação de
seu órgão sexual inútil no presente, como inútil no passado
de criança, no que concerne à realização do desejo. Contu-
do, é fundamental observar que as memórias de António são
mescladas a comentários de um outro narrador, um narrador
onisciente que aponta para uma 3ª pessoa: “...engolia-o con-
forme a doença o engolia a ele...”; “...puseram-lhe fraldas...”;
“... limpavam-no com um pano...”. Essa construção traz em si
o tom de ambiguidade tão caro aos narradores de Lobo An-
tunes: ou se entende que de fato há um narrador onisciente
na obra ou se conclui que António se refere a si em 3ª pessoa,
como se olhasse para si próprio a partir do exterior – o Antó-
nio do presente que se refere ao António do passado (ou vice-
-versa). Embora essa discussão extrapole os objetivos aqui
propostos, permiti-me apontá-la para que estudos futuros se
dediquem a ela.
MEMÓRIA E REALIDADE TRAUMÁTICA: UMA ANÁLISE DE SÔBOLOS RIOS QUE VÃO d 219
três locais referidos nas redondilhas, nomeadamente
Sião, Babilónia e Jerusalém, a pátria celeste, correspon-
derão a passado, presente e futuro. Só o conhecimento
do bem, da felicidade, correspondendo ao passado e a
Sião, e, simultaneamente, o conhecimento do mal da
tristeza, que correspondem ao presente e a Babilónia,
darão ao sujeito poético o conhecimento total que lhe
permitirá ascender a um grau superior, a uma verdade
absoluta. (RIBEIRO, 2008).
MEMÓRIA E REALIDADE TRAUMÁTICA: UMA ANÁLISE DE SÔBOLOS RIOS QUE VÃO d 221
Referências Bibliográficas
MEMÓRIA E REALIDADE TRAUMÁTICA: UMA ANÁLISE DE SÔBOLOS RIOS QUE VÃO d 223
O LUGAR DE HABITAR E SUA RECONFIGURAÇÃO AMBIENTAL: O CASO DE
“BALADA DO AMOR AO VENTO”, DE PAULINA CHIZIANE
224 d
tureza como entidade físico-material e como entidade social
ativamente envolvida na dinâmica das construções culturais”
(WALTER, 2009, p.116).
Com efeito, é a partir do conceito de ecocrítica que ana-
lisamos os lugares de habitar, à medida que os personagens
Sarnau e Mwando se movimentam, tornando-os evidentes,
quer seja em seu cotidiano, quer seja por meio de lembranças
do passado, evocadas no presente, de onde emergem imagens
de elementos da natureza, bem como as relações de ambos
com seus afins.
A história narrada, predominantemente em primeira
pessoa, se passa no período da colonização portuguesa, em
Moçambique. Os espaços geográficos identificados são: a al-
deia de Mambone, um povoado de além-mar, Vilanculos, ba-
nhado pelo Oceano Índico, e a cidade de Lourenço Marques.
Também há uma referência a Angola, para onde muitos ho-
mens e mulheres são conduzidos para o trabalho escravo, nas
lavouras e na construção civil, nessa época. Isoladamente, cada
um deles proporciona uma conjuntura social e cultural, com
geografia específica. A narrativa, então, conduzida por Sarnau,
demarca cada um desses espaços em que os acontecimentos se
desenrolam, ao mesmo tempo em que estabelecem contrastes
e paralelos, principalmente, em sua vida e na de Mwando.
Referências Bibliográficas
Denise Rocha
Introdução
242 d
Na visão crítica do Brasil, Jorge Amado trabalha com
a contraposição histórica do branco perante o preto e
oferece, como resposta positiva, o imenso estuário da
miscigenação. E mitiga os diferentes jogos opositivos
com a força do progresso, a astúcia do amor, a alegria
de viver, a ruptura das regras e o sincretismo religioso.
(LUCAS, 1997, p.108).
UM GUARDIÃO DA MEMÓRIA AFRICANA EM SALVADOR: JUBIABÁ (1935), DE JORGE AMADO (1912-2001) d 243
Ao promover uma releitura do passado escravocrata e
de opressão da Bahia, com ênfase na oralidade presente na
tradição cultural dos folhetos sobre a saga de Zumbi dos Pal-
mares e sobre a vida dos cangaceiros -Antonio Silvino e Lucas
da Feira-, Jorge Amado destaca a voz de protagonistas anôni-
mos e ilustres, históricos e ficcionais, que se insurgiram con-
tra o poder instituído, e enfoca, pela primeira vez na literatura
brasileira, as questões de raça e classe, sob uma perspectiva
comunista.
Em Jubiabá, o protagonista Antonio Balduíno (Baldo),
negro órfão criado pela tia Luísa no morro do Capa Negro que
teve uma vida turbulenta – moleque de rua, pedinte, lutador
de boxe, compositor de samba, agricultor nas plantações de
fumo, trabalhador de circo pobre, estivador e líder grevista-
sonhava ter sua existência imortalizada em um texto literário
com estrutura de ABC, presente na literatura popular conhe-
cida como folhetos. Charmoso amante e malandro, Baldo se
projeta na paisagem portuária de Salvador, como condutor de
greves, que sempre retorna ao terreiro de Jubiabá para rece-
ber conselhos e se purificar.
No romance, Amado destaca paralelamente à trajetó-
ria de Baldo, a longa vida do pai de santo, Jubiabá, que era o
último remanescente da geração de escravos e o patriarca de
negros e mulatos. Profundo conhecedor da vida de Zumbi, o
ancião, como líder dos cultos aos orixás, praticava medicina
espiritual e real, por meio de aconselhamento e apoio às ques-
tões físicas e psicológicas, em rituais de descarregos, purifica-
ções e proteções. No seu terreiro, de caráter sincrético, tinha
um altar com imagens de entidades e divindades africanas
bem como de santos e santas celebrados no cristianismo. A
filosofia de Jubiabá era explicada, de forma clara, por meio da
metáfora dos olhos: o ser humano podia expressar seus sen-
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Amado em Jubiabá vai retratar o universo da cosmogonia nagô
em terreiro do pai de santo ancião. Esse tipo de líder religioso
era conhecido também como babalorixá ou babalaô.
A cultura africana pode ser preservada na Bahia não so-
mente pelo interesse dos escravos em preservar sua identida-
de, mas também com a autorização do Conde de Arcos, sétimo
vice-rei do Brasil, o qual aprovou, no ano de 1758, as danças
e cânticos ritualísticos, como forma dos negros guardarem as
lembranças das raízes e para não se esquecerem a aversão re-
cíproca que sentiam pelos adversários, os quais combatiam
no continente africano (VERGER, 1981, p.25).
Para justificar suas preces, louvações e pedidos por aju-
da aos orixás ou proteção na sociedade branca e católica, os
cativos diziam que louvavam os santos cristãos, criando uma
prática religiosa sincrética: Oxalá era o Senhor do Bonfim;
Oxóssi = São Jorge, Xangô = São Jerônimo, Ogum = Santo
Antônio, Obaluê= São Lázaro, Omolu = São Roque, Iemanjá =
Nossa Senhora da Conceição, Nanã Buruku = Santa Ana, mãe
da Virgem Maria, e Oiá-Iansã = Santa Bárbara (VERGER,
1981, p.26).
A casa de candomblé, conhecida como terreiro ou roça,
foi originariamente o centro sociocultural e religioso de afro-
-descendentes, mas na contemporaneidade acolhe pessoas de
cores, profissões e credos diversos. O terreiro tem diversos
edifícios: uma casa é destinada à moradia das pessoas que fa-
zem parte do candomblé; a construção principal (o barracão)
é uma grande sala para danças e cerimônias públicas, e nas
outras casas estão instalados os péjis, consagrados aos diver-
sos orixás. Existe ainda um cômodo, sem janelas, mobiliado
somente com uma esteira, conhecido como a camarinha, onde
são feitas as iniciações de filhos ou filhas de santos. No cen-
tro do barracão são reunidos alguns recipientes que têm as
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Oxóssi corre, perseguindo a caça; Ogum guerreia; Oxalufã, en-
fraquecido e curvado pelo peso dos anos, arrasta-se mais do
que anda, apoiado no seu “paxorô”. (VERGER, 1981, p.73).
O terreiro é um espaço organizado onde acontecem:
“As práticas religiosas, os rituais, os trabalhos, as obrigações,
a consulta aos orixás, as atividades de cura e tratamento”. Em
relação ao método terapêutico, ocorre o diálogo com o orixá
no quarto de consulta (o consultório): “Para lá acorrem os que
padecem de dor física, moral e psíquica. Os que padecem fome
e sede de justiça. Os perseguidos da má sorte, do destino, da
perdedeira na vida.” (PÓVOAS, 1999, p.216 e 218).
O pai ou mãe de santo exercem diversas funções e seu
“poder sacerdotal não está simplesmente na detenção do co-
nhecimento adquirido, está também no desempenho eclesiás-
tico dentro de um terreiro [...]. O axé do orixá foi sacramen-
tado na cabeça/corpo do sacerdote, tornando-o um único ser.
O divino não se separa do profano, apenas existem momentos
de vivência diferentes”. Em relação ao significado do contato
com o sagrado, o filho ou a filha de santo incorporam o orixá
no momento do transe: “Ao vivenciar a divindade, todos os
membros da comunidade o reverenciam.” (VALLADO, 1999,
p.143 a 146).
Os iniciados na categoria de ogãs, que aprendem os
cantos e os ritmos (toques), não entram em transe (BARROS,
2006, p.269). São dignatários, sem funções religiosas espe-
ciais, que ajudam o terreiro de forma material e contribuem
para a sua proteção. Colocados sob a invocação de um santo
católico, eles constituem uma sociedade civil de apoio recí-
proco; alguns recebem o prestigioso título de obá no Terreiro
Axé Opô Afonjá (VERGER, 1981, p.71). Jorge Amado recebeu
essa denominação honrosa do terreiro tradicional da nação
nagô-queto.
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vam ser espíritas e não serem membros do dendê, conforme
esclarece Raul Lody na obra Tem Dendê, tem Axé: etnografia
do dendezeiro:
O estigma cultural do dendê é tão impregnado do saber,
do comportamento, do jeito, do conhecimento e reco-
nhecimento dos adeptos do Candomblé, do chamado
Povo do Santo – principalmente os feitos ou iniciados,
podendo se incluir também simpatizantes e aqueles
que não são feitos, mas têm obrigação ou ainda Santo
assentado – onde o azeite, o dendezeiro e seus muitos
produtos somente atestam como é próximo e uno o
ser do santo como o ser do dendê. (LODY, 1992, p.13).
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ao jornal O Estado da Bahia, e publicada no dia 11 de maio
de 1936, com o seguinte título “No mundo cheio de mistérios
dos espíritos e ‘pais de santos’”, e dois subtítulos: 1-“Inician-
do uma larga reportagem sobre espiritismo e candomblés o
Estado da Bahia viu e ouviu o famoso Jubiabá, herói do últi-
mo romance de Jorge Amado”; e 2- “De incrédulo a médium
curador – Cruz do Cosme e seu reduto – Até entre os espíritos
há melindres e vaidades – Pai de 22 filhos vivos e influência
política”.
O capitão Severiano residia em uma casa chique e gran-
de, possuía fazendas e terrenos e era orgulhoso por ter liga-
ções com membros e assessores do governo, como Martinelli
Braga, oficial de gabinete do governador Juracy Magalhães.
Sentia-se poderoso, pois exercia influência política no seu re-
duto espiritual: o Centro Espírita Paz, Esperança e Caridade,
localizado na rua Cruz do Cosme, 205, renomeada de Avenida
Saldanha Marinho:
– Minha casa, diz ele, é freqüentada por muitas pessoas
de importância. Médicos, bacharéis, negociantes e auto-
ridades vêm aqui. Dentre os meus amigos eu conto o dr.
Martinelli Braga. Eu sou amigo do governo! Nas eleições
municipais dei mil e tantos votos ao dr. Americano da
Costa a pedido do dr. Martinelli.
UM GUARDIÃO DA MEMÓRIA AFRICANA EM SALVADOR: JUBIABÁ (1935), DE JORGE AMADO (1912-2001) d 253
Santo Antonio, na sala principal do palacete de Jubiabá”; o
edifício do Centro Espírita Paz Esperança e Caridade; o retra-
to dele sentado em sua famosa cadeira, com a legenda: “Se-
veriano Manoel de Abreu (Jubiabá) capitão do Exército de 2ª
linha e curador espírita, posando para Estado da Bahia para
mostrar-se como ele verdadeiramente é” e a imagem de São
Tomé, o guia espiritual de líder religioso e o de seu altar.
No final do encontro, realizado em maio de 1936, o jor-
nalista e o fotógrafo desceram o morro e tropeçaram:
na ladeira com um pombo enfeitado e cheio de pipocas
e azeite e mais adiante com uma galinha preta um ‘ebó’
perfeito, completíssimo, que, com certeza, não era des-
tinado a trazer felicidade. (CLAY, [s.d.], p.14).
2 Para convencer de que seu personagem nada tem a ver com o Jubiabá da vida
real, Jorge Amado cita dois depoimentos: “... um artigo do poeta Aydano do Couto
Ferraz (“Jubiabá e a poesia do mar”, publicado no “Diário de Notícias”, do Rio),
onde o escritor baiano esclarece bem a diferença entre os “xarás” e uma nota no
livro de Edison Carneiro, o grande estudioso das questões do negro brasileiro, que
se acha no prelo: “Religiões Negras”. Edison também faz notar que muito diferem
os dois sujeitos do mesmo nome, o do romance e o da vida”. (CLAY, [s.d.], p.27).
UM GUARDIÃO DA MEMÓRIA AFRICANA EM SALVADOR: JUBIABÁ (1935), DE JORGE AMADO (1912-2001) d 255
publicidade, aliás. O pior é esse negócio do mulato Severiano
estar a fazer a publicidade dele às minhas custas [...]”. (CLAY,
[s.d.], p.27).
UM GUARDIÃO DA MEMÓRIA AFRICANA EM SALVADOR: JUBIABÁ (1935), DE JORGE AMADO (1912-2001) d 257
em um hospital psiquiátrico, e apaixona-se pela jovem Lindi-
nalva. Perseguido pela empregada portuguesa, é alvo de intri-
gas delas sendo espancado pelo patrão, pois fora acusado de
olhar para as coxas da loura filha dele. Injustiçado e incapaz
de se defender, Baldo parte para o mundo.
Desde sua infância, ele conhece Jubiabá, mas tinha medo
dele, porque o pai de santo era acusado por algumas pessoas
de ser lobisomem. Desfeito o engano, Baldo o procurava para
receber conselhos e foi iniciado na macumba para ser ogã.
Jubiabá tinha carapinha branca, o corpo seco e encur-
vado, apoiado em um bastão, e trazia sempre
um ramo de folhas que o vento balançava e resmunga-
va palavras em nagô. Vinha pela rua falando sozinho,
abençoando, arrastando a calça velha de casimira em
cima da qual o camisu bordado se oferecia ao capricho
do vento como uma bandeira. (AMADO, 1975, p.15).
Ele era:
[...] como que o patriarca daquele grupo de negros e
mulatos que morava no Morro do Capa Negro em casas
de sopapo, cobertas com zinco. Quando ele falava todos
os escutavam atentamente e aplaudiam com a cabeça,
num respeito mutuo. Nessas noites de conversas Anto-
nio Balduíno abandonava os companheiros de corridas
e de brincadeiras e se postava a ouvir. Dava a vida por
uma história, e melhor ainda se essa história fosse em
versos [...] (AMADO, 1975, p.16).
UM GUARDIÃO DA MEMÓRIA AFRICANA EM SALVADOR: JUBIABÁ (1935), DE JORGE AMADO (1912-2001) d 259
corpo, segurando com uma das mãos o seio punjante
e bem feito, num gesto de oferecimento. E era Iansã,
deusa das águas, que o homem branco chama de Santa
Bárbara. (AMADO, 1975, p.84).
UM GUARDIÃO DA MEMÓRIA AFRICANA EM SALVADOR: JUBIABÁ (1935), DE JORGE AMADO (1912-2001) d 261
nância do vermelho vivo, e um pano branco amarrados nos
peitos. Sensual reverenciou Baldo e outros. Excitadas, as pes-
soas queriam dançar e cantavam em coro: “— Êolô biri ô b’ajá
gbá kó a péhindá e estavam dizendo que ‘o cachorro quando
anda mostra o rabo’”. Outro orixá, Oxóssi, o deus da caça, sur-
giu, vestido de branco, verde e um pouco de vermelho e com
um arco e flecha, pendurado na lateral do cinto, e portando
um capacete de metal de casco de pano verde.
A assistência estava em quase êxtase, as mulheres ba-
tiam os pés descalços na terra batida e requebravam, em com-
passo ritualístico: “Havia quem apertasse os lábios e mãos
tremiam, corpos tremiam no delírio da dança sagrada”. E o
maior dos orixás, Oxalá, que representava pessoas diferentes
– Oxodian, o moço, e Oxulafá, o velho –, surgiu e escolheu
a moça Maria dos Reis. Com traje branco e apoiado em um
bordão com lantejoulas, ele foi reverenciado pelo cântico da
mãe do terreiro:
— Ê inun ójá l’a ô jô, inun li a ô lo [— O povo da feira que
se prepare. Vamos invadí-la. E o coro respondia: — Êrô
ójá é pará món, ê inun ójá li a ô lô. [— Povaréu, cuidado,
entraremos na feira.]. (AMADO, 1975, p.78).
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Eu faço que ela nunca mais largue você [...] Fica amarrada
como cachorro [...]” (AMADO, 1975, p.85). Em conversa com
Baldo, o guia percebeu que ele desejava a moça noiva, tentou
dissuadi-lo do intento imoral, mas nada conseguiu.
Pai Jubiabá, que, às vezes, trajava um lindo camisu
longo até o chão, bordado no peito, atendeu a muitas outras
pessoas que queriam resolver seus problemas e umas foram
rezadas com ramos de mastruço. Na madrugada seguinte, a
cidade de Salvador se encheu de “coisas feitas que entulha-
vam as ruas e das quais os transeuntes se afastavam receo-
sos.” (AMADO, 1975, p.85).
UM GUARDIÃO DA MEMÓRIA AFRICANA EM SALVADOR: JUBIABÁ (1935), DE JORGE AMADO (1912-2001) d 265
Em sua sabedoria ancestral, o pai de santo, posterior-
mente, começa a entender a sociedade em renovação: De um
lado, em busca de melhores condições de vida pra todos, e,
de outro, o início de aceitação das religiões africanas pela eli-
te. Tal fato estava evidenciado nas visitas de ricos, brancos e
estrangeiros em seu terreiro e no reconhecimento, principal-
mente do poder da etnobotânica de raiz afro na cura de enfer-
midades físicas. O reencontro de pai e filho, de líder religioso
e ogã, ocorre quando:
Antonio Balduíno vai para a casa de Jubiabá. Agora
olha o pai-de-santo de igual. E lhe diz que descobriu o
que os ABC ensinavam, que achou o caminho certo. Os
ricos tinham secado o olho da piedade. Mas eles podem
na hora que quiser secar o olho da ruindade. E Jubia-
bá, o feiticeiro, se inclina diante dele como se ele fosse
Oxolufã, Oxalá velho, o maior dos santos. (AMADO,
1975, p.245).
Conclusão
UM GUARDIÃO DA MEMÓRIA AFRICANA EM SALVADOR: JUBIABÁ (1935), DE JORGE AMADO (1912-2001) d 267
que aquele. Mas todo pobre agora já virou negro, é o
que explica Jubiabá. (AMADO, 1975, p.217).
Referências Bibliográficas
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UM GUARDIÃO DA MEMÓRIA AFRICANA EM SALVADOR: JUBIABÁ (1935), DE JORGE AMADO (1912-2001) d 271
OS RECURSOS CINEMATOGRÁFICOS NO CONTO “QUANDO O MALANDRO
VACILA”, DE MÁRCIO BARBOSA1
Fausto Antonio
272 d
ciados no seu grupo étnico-racial, é questão nuclear para a
efetiva inclusão do negro nos espaços sociais e ficcionais, o
que justifica a crítica à mera inclusão alicerçada apenas nas
profissões de prestígio socialmente falando e, no entanto, sem
densidade humana e ficcional.
Para incluir personagens negros, jovens e do universo
das favelas, Márcio Barbosa valeu-se da oralidade e de uma
técnica de roteiro que pontua e vincula os meandros inter-
nos da narrativa (enredo e história) com os ganchos externos
soprados pelo histórico-social, considerando a crítica feita
acima no que concerne às densidades humanas e ficcionais.
“Quando o malandro vacila” traz, subjacente à linguagem
oral, uma expressiva técnica de roteiro cinematográfico. As
chamadas que aparecem a título de referência para o leitor,
antecedendo a cada um dos 34 blocos que compõem a his-
tória, lembram também as manchetes jornalísticas. A partir
desse suporte, cada fragmento do conto de Barbosa (1987) é
iniciado por uma frase informativa, como por exemplo: “De
como ele quase deixou a pretinha” (p.85); “Aí, otário, segu-
ra...” (p.85); “Eu avisei você p’ra largar a Kizzy, otário” (p.85)
e “Que está acontecendo, preto?” (p.88).
Destinam-se estas frases, como chamadas de texto jor-
nalístico, manchetes, à unificação do discurso fragmentado da
narrativa e/ou orientar o leitor e, ao mesmo tempo, resumir
a ideia de cada um dos episódios que compõe, na íntegra, o
conto. Os recursos de roteiro e manchete jornalística fundam
uma gramática textual através da qual os personagens Kizzy e
William trafegam pela oralidade e pelos recursos visuais.
Há dois tempos no transcorrer do conto. Um deles é o
tempo cinematográfico, dado pelas marcas rápidas sinteti-
zadas nos títulos oralizados: “Certo, Preta. Então eu vou me
adiantar”. (BARBOSA,1987 , p.88). Além disso, no corpo dos
Bruno Okoudowa
Introdução
d 283
obras consultadas. A metodologia usada foi a de comparar os
diferentes falares em alguns países da CPLP e, a partir daí, iso-
lar algumas palavras e expressões típicas de cada país. Quanto
à análise do português falado no Timor Leste, ela baseou-se,
em grande parte, no trabalho de Albuquerque (2011).
Algumas palavras
Portugal Brasil
Comboio Trem
Hospedeira de bordo Aeromoça, comissária de bordo
Mandioca Mandioca, aipim, macaxeira
Mais novo (a) Caçula
Puto Menino, moleque, rapaz, guri etc.
Roupa interior Camisola
Sumo Suco
Algumas expressões
Portugal Brasil
Dar opinião Dar pitaco
Fazer desordem Fazer bagunça(1)
Fazer escândalo Armar barraco
Um bocadinho Um pouquinho
Uma pessoa muito feia Um cão chupando manga (azeda)
Expressões Significado
Aguentar desavenças ou escutar
Engolir sapos
barbaridades e ficar quieto
Falar pelos cotovelos Falar muito
Utilizada para generalizar um com-
Farinha do mesmo saco
portamento reprovável
Utilizada para mandar alguém
Pentear macaco cuidar da sua própria vida, não a dos
outros
Quebrar um galho Fazer um favor
Rebolar no mato(2) Jogar fora (no mato), arremessar
Ter um plano B, uma alternativa,
Ter uma carta na manga
outra estratégia
Nota: 1 Palavra de origem banta, da segunda classe dos nominais, por ter o prefixo
ba- e plural da primeira classe que tem como prefixo mo- realizado [mu]. Portanto
o singular de bagunça, em proto-banto, seria mugunça.
2 Expressão muito usada no estado do Ceará (Nordeste brasileiro). Trata-se, por-
tanto, de um regionalismo.
O português em Angola
O português falado em Angola reflete também a rea-
lidade local. Isto é, a sua convivência com as línguas locais
(Umbundu, Quimbundu, Quikongo etc.) que pertencem, na
sua maioria, ao grupo banto (GUNTHRIE, 1967).
Alguns exemplos
Exemplo 1: a) muá1 ngolé2 = filho de Angola (angolano)
b) brazuka = brasileiro
Exemplo 2: “E aí, muangolé. Está tudufich?” = “E aí ir-
mão, está tudo bem?”
“Yaa, tudufich!” = “Sim, tudo bem.”
O português em Guiné-Bissau
Em Guiné-Bissau, o contato do português com as lín-
guas locais: fula, balanta, mandinga, mancanha, bijagó etc.,
línguas que se dividem entre as famílias mande e atlântica.
(HEINE; NURSE, 2000). Esse contato produziu um crioulo
de base portuguesa.
a maneira mais fiel de reproduzir o som na escrita. Aqui, neste caso ‘ngolé’ tem
duas sílabas ‘ngo’ e ‘lé’. O ‘n’ da primeira sílaba não se separa do ‘g’. Portanto se
pronunciam juntos. Trata-se de uma consoante pré-nasalizada: oclusiva velar pré-
-nasalizada. São sons comuns nas línguas africanas em geral e bantas em particular.
É o caso da língua lembaama (OKOUDOWA, 2005).
Português Crioulo
Está Stá
Escuro Sukuru
Limpo Limpu
3 C = Consoante e V = Vogal
Mudanças Fonéticas
yy Variação na realização dos segmentos palatais:
Caso 1: O segmento fricativo alveolar S pode ser
realizado S ou Si.
Exemplos:
a) Chegar pode ser realizado [se.‘ga.a] ou [‘sie. ga.a].
b) Bicho é realizado [‘bi.su].
yy Homonímia
A homonímia entre segmentos de diferentes significados
é o outro fenômeno fonológico que notamos nos falantes timo-
renses. Por exemplo: Ouvir, ouvi, houve são todos realizados
[‘o.vi]. Pois não há distinção fonética na realização dessas pa-
lavras. Tanto o [r] quanto o [e] são simplesmente apagados na
yy Mudanças semânticas
Trata-se da mudança de sentido das palavras. São pala-
vras que adquirem outros significados nos ouvidos dos estu-
dantes timorenses:
yy Léxico quinhentista
Outro aspecto do português falado no Timor Leste é a
presença de palavras usadas nos anos 1500. Exemplos:
Considerações Finais
Referências Bibliográficas
d 295
Em termos legais, a justificativa para essa pesquisa ba-
seia-se nas Leis nos 10.639/03 e 11.645/08 que tornaram obri-
gatório o estudo da cultura afro-brasileira em todas as escolas
do Brasil nos diversos níveis de ensino, o que dá relevância à
pesquisa voltada para aspectos dessa cultura, como a literatu-
ra afro-brasileira de poetas negros. Isto torna necessário que
estudos concernentes à poesia afro-brasileira sejam empre-
endidos possibilitando a compreensão dos mais diversos as-
pectos relativos à produção literária dos poetas negros, tanto
aspectos propriamente linguísticos quanto os históricos, so-
ciológicos, antropológicos e filosóficos.
Do mesmo modo, essa pesquisa é necessária para dar
visibilidade, com a devida apreciação crítica, a essa produ-
ção literária que, no entanto, tende a ser marginalizada nos
espaços editoriais e na imprensa literária brasileiros pelos
mesmos motivos que levaram à promulgação da referida lei:
o desinteresse e o preconceito em relação à contribuição dos
negros para a cultura brasileira.
Particularmente no campo acadêmico da pesquisa em
filosofia, mesmo entre aqueles poucos pesquisadores que se
voltaram para a relação entre filosofia e literatura como os
que participam das coletâneas Filosofia e Literatura (2004)
e Poetas que Pensaram o Mundo (2005), a produção poética
afro-brasileira não tem sido apreciada, o que torna necessário
que se leve adiante uma problematização filosófica capaz de
avaliar criticamente os aspectos estéticos relativos à lingua-
gem, sobretudo os que dizem respeito à poética, assim quanto
outros de natureza ético-política relativas aos valores e posi-
ções assumidas no discurso desses autores.
Teoricamente, a pesquisa proposta neste ensaio se jus-
tifica tomando como fundamentos as concepções teóricas de
alguns pensadores críticos da noção de sujeito que renovaram
Referências Bibliográficas
Introdução
310 d
Na seção 03 procuramos, em uma primeira aproxima-
ção (bastante parcial e provisória), caracterizar a concepção de
pessoa à luz do pensamento africano. Essa concepção de pes-
soa, além do corpo (ara), da mente/corpo (emi), e da mente
interna (ori), pressupõe a ancestralidade como traço identitá-
rio, fonte de proteção, sabedoria e orientação. Como, contudo,
os ancestrais (mesmo que concebidos como pertencentes aos
traços identitários da pessoa) não estão, por assim dizer, no
interior do indivíduo, a concepção africana de pessoa e uma
concepção externalista de pessoa (mais distante, pela mesma
razão, de uma concepção internalista ou cartesiana de pessoa).
Considerações Finais
Referências Bibliográficas
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147. A História, Autores e Atores: compreensão do mundo, educação e cidadania.
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149. Dinamérico Soares do Nascimento: uma história de poesia, paixão e dor.
Charliton José dos Santos Machado, Eliel Ferreira Soares e Fabiana Sena (Autores).
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151. Pesquisas Biográficas na Educação. José Gerardo Vasconcelos, José
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152. Vejo um museu de grandes novidades, o tempo não para... Sociopoe-
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153. A construção da tradição no Jongo da Serrinha: uma etnografia visual
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156. Educação Ambiental e sustentabilidade IV. Kelma Socorro Alves Lopes
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164. Cá e Acolá: experiências e debates Multiculturais. Gledson Ribeiro de Olivei-
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