Mapa Orientação Sul Ponto de Vista
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MUNDO
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Milton Cappelletti
Texto
De acordo com a publicação, é possível utilizar mapas com a parte sul para
cima, desde que respondam a três questões importantes para a cartografia: qual
é a orientação do mapa, o que se deve colocar no meio e como se desenha uma
esfera num plano.
#sschat
Tanya!
@_guptanya_
Fonte: https://observador.pt/2015/04/22/mapas-provam-norte-sul-podem-direcoes-
arbitrarias/
El pais
21 ABR 2015 - 10:14 BRT
De vez em quando, alguém nos recorda que todos os mapas são ruins. Como este tuíte.
Estes mapas com o sul para cima não são usados tão habitualmente na Austrália, mas são
comuns como forma de demonstrar que a orientação com o norte para cima é arbitrária:
poderia ser de qualquer outro jeito. Na verdade, ele expõe três dos problemas que os
cartógrafos enfrentaram ao longo da história.
Nos parece tão óbvio que os mapas estejam voltados para o norte que nos esquecemos de que
essa é uma convenção, e que norte e para cima não são sinônimos. “Não há nenhuma razão
puramente geográfica pela qual uma direção seja melhor do que a outra, ou pela qual os
mapas ocidentais modernos tenham naturalizado a suposição de que o norte deveria estar
para cima”, escreve Jeremy Brotton em seu livro A History of the World in 12 Maps (“uma
história do mundo em 12 mapas”).
De fato, nos mapas medievais judaico-cristãos e até o final do século XV, a Terra era
representada orientada para o leste, com a Ásia para cima, a Europa abaixo à esquerda e a
África abaixo à direita, como no mapa-múndi de Saint Sever. Afinal de contas, “orientar” vem
de “oriente”.
Mapa-múndi do Beato de Saint Sever.WIKIPEDIA
O leste era preferido em muitas culturas por ser a direção de onde vinha o sol, sendo o sul a
segunda direção em termos de preferência. O oeste estava associado à decadência e morte, e
o norte “à escuridão e à maldade”. Mas não em todo lugar: os mapas babilônios e chineses,
por exemplo, orientavam-se para o norte, assim como as cartas propostas pelo
astrônomo Ptolomeu no século II da era cristã. Parece sensato, de fato, que os mapas para
navegação levem em conta o eixo norte-sul, dado o uso de bússolas, mas Brotton nos recorda
que seria igualmente fácil optar pelo sul acima.
Aliás, “todos os estudiosos da Idade Média sabiam que a Terra era uma esfera”, explica
Umberto Eco em seu História das Terras e Lugares Lendários, citando Dante, Orígenes,
Ambrósio, Alberto Magno, Tomás de Aquino e Isidoro de Sevilha, que inclusive calculou o
comprimento da linha do equador. As dúvidas sobre a rota proposta por Colombo, diga-se de
passagem, não decorriam do temor de cair num abismo, e sim do fato de que Colombo teria
subestimado o tamanho da Terra, traçando assim uma rota que não era tão curta quanto ele
imaginava (e não era mesmo).
Se alguém ainda tem dúvidas sobre como é arbitrário orientar um mapa para qualquer
direção, basta ver esta foto. É a Terra fotografada da nave Apollo 17, com o Polo Sul acima.
Sim, normalmente giram a imagem para que ninguém fique nervoso.
A ilha no centro é Madagascar.NASA
Como se pode ver no mapa do tuíte, a Austrália está situada no meio. A maioria dos mapas
“coloca no centro a cultura que os produziu”, como explica Brotton. O que tem um sentido não
só político, mas também prático: como quando abrimos o Google Maps e a primeira coisa que
queremos saber é onde estamos, para saber qual caminho precisamos seguir.
“Alguma vez você já quis tanto ser o centro das atenções que partiu a Ásia em dois?”, pergunta
esse ‘meme’ sobre os mapas norte-americanos que colocam as Américas no centro
Esse é um dos problemas mais complexos para os cartógrafos, explica Brotton, já que
é impossível projetar uma esfera em uma superfície bidimensional sem que haja algum tipo de
distorção na forma ou nos ângulos. Usemos como exemplo um mapa que segue a projeção de
Mercator, um planisfério de 1569 no qual muitos dos mapas atuais se baseiam.
Mapa-múndi com a projeção Mercator.STREBE / WIKIPEDIA
Conforme recorda este vídeo do Buzzfeed, esse mapa contém proporções que não são
corretas.
Mas, ainda que pareça estranho, o mapa de Mercator está longe de ser ruim. As distorções
permitem manter os rumos marítimos em linhas retas, o que era um de seus objetivos. Ainda
hoje, Google Maps, Bing e OpenStreetMap, por exemplo, usam uma variante do Mercator para
seus mapas em grande escala, já que seus “retângulos simétricos se adequam perfeitamente
aos mosaicos de pixels que compõe um mapa digital”, explica Simon Garfield em seu livro On
the Map: Why the World Looks the Way It Does (“sobre o mapa: por que o mundo tem a
aparência que tem”).
Mercator em Google Maps, como pode ser apreciado pelo tamanho da Groenlândia, por
exemplo
Ou seja, todas as projeções têm suas vantagens, mas também seus inconvenientes (e
distorções, que podem ser medidas com os chamados indicadores de Tissot). Até mesmo a
projeção de Arno Peters, criada em 1973. No seu mapa, os continentes do norte aparecem
radicalmente reduzidos em tamanho, enquanto a África e a América do Sul se apresentam
como “lágrimas enormes escorrendo para a Antártida”, como descreve Brotton. Esse
planisfério buscava corrigir as falhas de proporções do Mercator e demonstrar que a nossa
forma de ver o mundo tem consequências políticas. O mapa de Peters foi o mais vendido
durante as duas décadas seguintes, sendo adotado por entidades como as Nações Unidas e a
ONG Oxfam. Chegou inclusive à série de TV West Wing, na qual um cartógrafo pronuncia a
frase: “Nada está onde você acha que está”.
Projeção de Gall-Peters.STREBE / WIKIPEDIA
Mas essa projeção também tem distorções e erros de cálculo: a Nigéria e o Chade, por
exemplo, aparecem com o dobro do tamanho real. Ainda por cima, Peters não mencionou que
se baseara no trabalho de James Gall. Apesar de todos esses defeitos, Brotton recorda que seu
grande mérito é ter “obrigado os cartógrafos a admitirem que seus mapas nunca haviam sido e
nunca poderiam ser ideologicamente neutros ou representações cientificamente objetivas”. O
modelo também contribuiu para que fossem criadas (ou recuperadas) projeções adequadas
para fins específicos, levando-se em conta que cada uma tem suas aplicações.
A de Goode, de 1923, mantém a proporção de tamanhos, mas as direções e distâncias não são
fidedignas.
Projeção de Goode.STREBE / WIKIPEDIA
A Winkel Tripel, de 1921, é uma das projeções que menos distorcem. Desde 1998, a National
Geographic a utiliza como padrão, substituindo a Robinson.
Projeção Winkel TripelSTREBE / WIKIPEDIA
À medida que nos familiarizamos com a imagem do mundo, os mapas passaram a ser usados
para refletir temas sociais, políticos e econômicos. Na verdade, os planisférios frequentemente
são distorcidos de modo a refletir esses aspectos. Um dos principais exemplos desta tendência
é o Atlas of the Real World: Mapping the Way We Live (“Atlas do mundo real: mapeando a
forma como vivemos”, de 1998), em que Daniel Dorling, Mark Newman e Anna Barford
desenharam 366 mapas adaptando-os segundo dados demográficos, de migração, de
mortalidade infantil e de mortalidade em conflitos bélicos, entre outros temas. Na mesma
linha, este mapa de TeaDranks, usuário do foro Reddit, mostra os tamanhos dos países
segundo sua população em 2015. Austrália e Canadá quase desaparecem, e a Índia fica maior
que a África.
Os mapas também podem nos servir para ver o tamanho da África em perspectiva. E isso que
este exemplo segue a projeção de Mercator –o Reino Unido na realidade tem metade do
tamanho de Madagascar, e não um tamanho semelhante, por exemplo.
O mapa anterior ganha especial relevância se além do mais o comparamos com a riqueza de
cada país.
Adere a
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Cartografia
Geografia
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Fonte: https://brasil.elpais.com/brasil/2015/04/14/cultura/1429016086_681676.html