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Créditos:

Conteudista - Major PM Mauro Lopes dos Santos - Corpo de Bombeiros da PMESP

Carga horária – 60h

Apresentação do curso

Bem-vindo (a) ao Curso Bombeiro Educador I que tem como contexto principal a
atividade de educação pública nos serviços de bombeiros.
Mais do que ensinar simplesmente, o que é certo ou errado, o propósito do bombeiro
educador é promover na comunidade, insistentemente, a mudança de hábitos,
atitudes e comportamento. A prevenção é o foco principal e o objetivo sempre será a
redução de acidentes e sinistros em geral, principalmente, de suas vítimas decorrentes.
Tenha em mente que suas ações de educador devem estar sempre alinhadas com
a missão precípua e institucional de cada Corpo de Bombeiros Militar no Brasil: a
“proteção da vida, do meio ambiente e do patrimônio”, com ênfase maior à vida
humana.
Para auxiliá-lo nesta tarefa, este curso criará condições para que você possa, frente
às demandas de ações educacionais do dia-a-dia de sua corporação, planejar e
atuar em atividades educativas, tais como, visitas, palestras e apresentações para o
público externo, bem como, trabalhar os temas de prevenção de forma estruturada
e padronizada, estabelecendo rotinas e processos para as atividades educacionais.

Nota: O conteúdo deste curso foi elaborado com base no Caderno Guia do Bombeiro
Educador, hoje, já empregado no Estado de São Paulo e que você estudará a partir do
módulo 3.

Objetivos do curso

Ao final do curso, você será capaz de:

• Compreender os objetivos e propósitos da “Educação Pública nos serviços de


bombeiros” e sua importância no contexto de redução de ocorrências e de vítimas
decorrentes;
• Identificar problemas e estabelecer públicos-alvo para ação de prevenção;
• Elaborar roteiros pré-definidos para apresentações e palestras, de acordo com cada
tema de interesse preventivo;
• Reconhecer a expectativa de cada público e entregar a mensagem correta e de
forma seletiva.

Estrutura do curso

Módulo 1 A educação pública nos serviços de Bombeiros


Módulo 2 A preparação de palestras e apresentações
Módulo 3 O Caderno Guia do Bombeiro Educador – Parte 1
Módulo 4 O Caderno Guia do Bombeiro Educador – Parte 2
Módulo 5 O Caderno Guia do Bombeiro Educador – Parte 3
Módulo 1

A educação pública nos


serviços de Bombeiros
Apresentação

Antes de iniciar o estudo desse módulo, reflita sobre a seguinte questão:


Por que o Corpo de Bombeiros necessitam atuar no campo educacional?

Compete a qualquer Corpo de Bombeiros do mundo empreender ações preventivas,


zelando pela vida humana. Isto pode parecer óbvio, e talvez não fosse necessário
também, os legisladores preverem oficialmente aos bombeiros tal função. Aos olhos
da compreensão humana, a prevenção para o bombeiro, é algo nato, presente no
cerne desse profissional.

No Corpo de Bombeiros Militar do Brasil, a atividade de prevenção deve permear


dois campos distintos: um relativo às normatizações e regulamentações na área de
segurança contra incêndio e pânico – hoje, muito bem amparada e consolidada em
normas e em legislações específicas; e outro, voltado à relação direta entre bombeiros
e comunidade, com o objetivo de levar a mensagem da prevenção diretamente ao
público-alvo, quer seja por programas educacionais, campanhas de prevenção ou
outras ações educativas. É a prevenção em seu mais estrito significado. É aqui que o
bombeiro se reveste de outra maior importância: a de um “educador”.

As atividades de educação pública não se iniciam e nem se completam em um simples


encontro, entre bombeiros e comunidade. Há que se ter doutrina, planejamento, tempo,
investimento em recursos materiais, financeiros e, principalmente, humanos, visando
a dar solução específica a um ou quantos problemas de demandas operacionais forem
necessários resolver, com mensuração dos resultados e reavaliação dos processos
empregados. Esse processo, quando adequado, também passa obrigatoriamente,
pelo preparo e pela capacitação dos que executarão a atividade.

Busca-se, com todo esse esforço, a redução de ocorrências evitáveis e de suas


decorrentes mortes, ferimentos e danos à propriedade, por meio da conscientização
e ensinamentos às pessoas, fomentando na comunidade uma mudança de atitudes
e de comportamentos.

Objetivos do módulo
Ao final do estudo desse módulo, você será capaz de:

Ampliar conhecimento sobre:


• a contextualização histórica da atividade educacional como meio do exercício da
prevenção dos bombeiros;
• os conceitos, a doutrina, a filosofia e os objetivos da atividade de educação pública
nos serviços de bombeiros;
• a atividade de prevenção do Corpo de Bombeiros Militar e as ocorrências evitáveis;
• os diferentes tipos de atividades de educação pública e suas características de
emprego; e
• a identificação de públicos-alvos com relação às demandas operacionais, seu perfil
e suas características.

Desenvolver/ exercitar habilidades para:


• empregar a modalidade de educação pública da forma adequada de acordo com a
demanda ou problema encontrado; e
• identificar público-alvo e interagir de acordo com suas características.

Fortalecer atitudes para:


• atuar junto à comunidade;
• reconhecer a importância de manter-se informado e capacitado para a atividade de
educação pública; e
• atuar conforme as diretivas de sua organização.

Estrutura do Módulo

Aula 1 – Educação pública nos serviços de bombeiros: contextualização e necessidade


Aula 2 – As “ocorrências evitáveis”: ponto de partida para o trabalho de mudança de
atitudes
Aula 3 – Educação pública nos serviços de bombeiros: objetivos e modalidades das
atividades

AULA 1 - A educação pública nos serviços de bombeiros: contextualização e


necessidade

1.1 Primeiros passos da educação pública nos serviços de bombeiros


Para contextualizar o tema “Educação pública nos serviços de bombeiros”, cumpre
destacar que os principais Corpos de Bombeiros (CB) do mundo, além de executarem
suas missões consagradas de combate a incêndios, resgates e salvamentos,
empreendem, com igual ou maior importância, atividades preventivas de acidentes.
Proteger a vida humana é mais do que imprescindível, é a essência da missão dos
bombeiros.

Historicamente, há quatro décadas e, de forma específica, nos Estados Unidos da


América (EUA), com as mudanças inerentes e contínuas da sociedade moderna, as
autoridades públicas e as corporações de bombeiros que atuavam, principalmente,
em cidades e regiões economicamente desenvolvidas, de forte adensamento
populacional e intensa atividade comercial e industrial, despertaram para o fato de
que, proteger vidas, exclusivamente durante o atendimento operacional, destacando-
se os incêndios, implicaria um elevado custo e esforço operacional cada vez maior.

Esse processo de agravamento contínuo, com risco de afetar sua capacidade de resposta
frente uma demanda operacional crescente, levou os bombeiros a compreenderem
que algo a mais deveria ser feito “fora do campo operacional”, com o objetivo claro de
frear e controlar suas demandas operacionais e, principalmente, diminuir ao máximo
o número de mortes e de pessoas feridas nos incêndios e incidentes evitáveis.

Nos EUA, mais precisamente em 1973, o governo norte-americano, preocupado com


o número crescente de incêndios, nomeou uma Comissão Nacional de Prevenção e
Controle de Incêndios que, ao final dos trabalhos de pesquisa e análise, publicou um
Relatório denominado “America Burning”, que tinha por objetivo principal fazer um
diagnóstico sobre os problemas relacionados aos incêndios naquele país.
Para saber mais...
O relatório América Burning apontou problemas importantes que precisavam ser
resolvidos. O principal era a necessidade de sensibilização do público, das pessoas
em geral, em relação ao problema do incêndio. A prevenção de incêndio ainda não
era percebida como uma alta prioridade. Mesmo os próprios bombeiros precisavam
ter uma maior apreciação da questão da proteção contra incêndios.
Clique aqui e leia sobre o relatório “America Burning”.

1.2 Atividade de educação pública nos serviços de bombeiros no Brasil

A Educação Pública nos Serviços de Bombeiros é uma atividade estratégica na área de prevenção
executada junto à comunidade por meio de programas educacionais, campanhas de prevenção e
outras ações educativas em que são transmitidas informações e mensagens seletivas a determinado
público-alvo, visando ensejar mudanças de comportamento e atitudes.

Uma pesquisa realizada em 2009 com o Corpo de Bombeiros Militar do Brasil, sobre
a temática de educação pública buscou avaliar e conhecer como tais corporações
pensavam a respeito dessa atividade, de que forma executavam e desenvolviam
seus próprios programas educacionais e, principalmente, como tais atividades eram
organizadas e realizadas.

Em linhas gerais, a pesquisa apontou as principais considerações:

a. Embora todos os entes federativos apurados executem de alguma forma a atividade,


apenas uma pequena parcela deles, um terço, possui alguma normatização ou diretriz
para regular as ações de educação preventiva;

b. A metade dos estados apurados sequer possuía programas educacionais próprios;

c. As atividades da grande maioria, 17 estados (89,5%), não são mensuradas. Além


disso, 84% deles, também não utilizam os apontadores estatísticos como norteador
da atividade;

d. A redução de acidentes, não é a principal razão ou motivo para a execução da


educação preventiva, esta foi apenas a 3ª opção mais escolhida ou lembrada;

e. Quase de forma unânime, os estados se utilizam dos recursos próprios, provenientes


do erário estadual, para o custeio de suas ações, porém, mais da metade, não soube
informar o valor ou estimativa, de quanto foi empregado na prevenção;

f. Apenas 3 (três) estados utilizam bombeiros designados exclusivamente para a


função. Mas a realidade é que a maioria dos estados, (58%), não possui uma regra
definida para emprego de bombeiros na atividade;

g. Uma maioria expressiva (84%) dos Corpos de Bombeiros, não determina os “temas”
a serem explorados pela educação pública em razão de apontadores estatísticos.
Além disso, metade deles, não executa suas ações educativas de forma padronizada
no seu estado.
1.3. A atividade de prevenção dos Corpos de Bombeiros Militares

Na atuação de prevenção de incêndios ou de acidentes, o Corpo de Bombeiros, seja


de qualquer lugar do Brasil e do mundo, tem o dever de zelar pela proteção da vida,
do meio ambiente e do patrimônio.

No Brasil, a prevenção como atividade precípua do Corpo de Bombeiros,


historicamente, e no aspecto legal, sempre esteve direta e, prioritariamente, ligada à
questão dos incêndios.

A Constituição Federal 1988 estabelece no artigo 144 que as Polícias Militares e Corpos de Bombeiros
Militares são integrantes do aparelhamento do Estado, no sentido de preservar a ordem pública e a
incolumidade física dos cidadãos:

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é


exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do
patrimônio, através dos seguintes órgãos:
I - polícia federal;
II - polícia rodoviária federal;
III - polícia ferroviária federal;
IV - polícias civis;
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares

Mais adiante, no mesmo texto constitucional, no parágrafo 5º do mesmo artigo constitucional, fica
estabelecido que:
“Às polícias militares cabem à polícia ostensiva e a preservação da ordem pública; aos corpos de bombeiros
militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil”.

Sobre este aspecto, há que se considerá-la como um conjunto de medidas que possam
evitar o seu surgimento, sendo realizada em duas vertentes: normativa e educacional.

• Normativa: diz respeito ao conjunto de normas e legislações específicas


que visam à prevenção de incêndios em edificações, excetuando-se as residências
unifamiliares. É a forma pela qual as Unidades Federativas passaram a exigir medidas
de segurança contra incêndio, estabelecendo os parâmetros de segurança contra
incêndio a serem seguidos.

• Educacional: diz respeito à mudança de comportamentos e atitudes das


pessoas, como preceitua a NFPA (National Fire Protection Association), visando coibir
o comportamento humano inadequado como agente causador de incêndios.
Refletindo sobre a questão...
Para a prevenção, a questão normativa ou legislativa deve se ater apenas para os incêndios?

Não, no Brasil há outras normas e legislações que protegem o cidadão, como por exemplo, a
Lei Ambiental que proíbe a confecção, transporte, venda e soltura de balões, a norma que
prevê o uso do cinto de segurança, uma lei que proíbe o uso de cerol, etc. Tais legislações
servem para coibir uma prática que favoreça a incidência desses incêndios ou acidentes.
Lembre-se que, as ações do Estado sobre a sociedade devem sempre buscar o bem comum,
destacando-se a segurança e a proteção à vida.

Há que se considerar que a prestação de serviços oferecidos atualmente pelos Corpos


de Bombeiros não se restringe apenas à prevenção e ao combate a incêndios, há uma
elevada gama de outras ocorrências que preenchem sua demanda operacional, tais
como os acidentes diversos que acarretam vítimas fatais e feridas, além de danos
patrimoniais e ao meio ambiente, a maioria delas causadas pelo comportamento
humano inadequado ou inseguro.

Essas ocorrências causadas por tais comportamentos, ou seja, de caráter previsível,


são as tipificadas como “ocorrências evitáveis”. Cita-se como exemplo, os incêndios
residenciais causados por brincadeira de crianças, por velas, por displicência ao
cozinhar, as ocorrências que causam lesões e mortes, quedas, afogamentos, acidentes
de trânsito, etc.

IMPORTANTE!
As normas de proteção contra incêndio são eficazes e, de maneira constante, aperfeiçoadas,
mas deixam lacunas de proteção, como no caso das residências unifamiliares, onde a maioria
das pessoas no país reside. E, não havendo normas que as protejam, parte-se para a
educação pública como melhor viés de prevenção, até porque a grande maioria das causas
desses incêndios decorre de algum comportamento inseguro.

Para saber mais...


Veja exemplos de leis cujo objetivo principal é a proteção da vida e do meio-ambiente.
AULA 2 - As “ocorrências evitáveis”: ponto de partida para o trabalho de mudança
de atitude

2.1 O que são ocorrências evitáveis?

Uma ocorrência evitável é todo aquele fato não desejado, mas previsível, em sua
maioria, e que sua causa se dá em razão de alguma conduta humana inadequada, quer
seja, de omissão, inapropriada ou insegura e que se fazem presentes nas estatísticas
e no dia a dia operacional de todos os Corpos de Bombeiros Militares do Brasil, sendo
essas as principais naturezas:

• afogamentos;
• acidentes e Incêndios domésticos;
• acidentes envolvendo crianças;
• acidentes de Trânsito;
• acidentes envolvendo animais peçonhentos;
• incêndios e acidentes envolvendo balões e fogos de artifício;
• ocorrências envolvendo elevadores;
• enchentes; e
• ocorrências envolvendo gás de cozinha – Gás Liquefeito de Petróleo (GLP) –, entre
outras.

IMPORTANTE!

A diversidade e quantidade de ações operacionais de uma Corporação de Bombeiros


determinarão também, dentro do seu critério de prioridades, uma variedade de ações
preventivas que deverão efetivamente ser executadas.

Caberá a cada corporação de bombeiros analisar e estabelecer quais temas são


adequados e necessários abordar de forma preventiva, dentro de sua área geográfica
de atuação, quer seja pela constância de uma determinada ocorrência ou por indicação
dos apontadores estatísticos. Além do mais, ocorrências que invariavelmente causam
mortes, lesões ou perda de patrimônio, justificam por si só a necessidade de prevenção.
Refletindo sobre a questão...
Por que é importante identificar as ocorrências de causas evitáveis e classificá-las?

Quando um Corpo de Bombeiros realiza periodicamente uma análise dos seus dados
estatísticos operacionais e verifica que a demanda de certas ocorrências são constantes, ou
pior, em grau de evolução de incidência, causando por consequência, uma enorme demanda
de empenho de seus recursos e um número elevado de vítimas é o sinal para que a
corporação comece a adotar mecanismos para frear tal demanda. Classificá-las ajudará a
identificar o momento, a duração e o modo certo da intervenção preventiva, em muitos
casos, pela educação pública.
Na sequência, identificar as causas de cada uma delas ajudará na construção das mensagens
e na identificação do público-alvo que você estudará mais adiante.

2.3 O foco do trabalho de educação pública: mudança de atitude

Além do temário de ocorrências a serem prevenidas, caberá também a você, Bombeiro


Educador, em razão do escopo principal de promover na comunidade uma mudança
de atitude e de comportamento, ensinar e incentivar algumas ações ou atitudes que
poderão ser úteis no dia a dia das pessoas, como por exemplo:

• noções de primeiros socorros;


• uso de extintores de incêndios;
• acionamento do telefone de emergência do Corpo de Bombeiros - 193; e
• procedimentos de segurança no caso de incêndios em edificações, etc.

Os Corpos de Bombeiros devem ter consciência de quais ocorrências, dentro do seu


universo operacional, representam de fato “problemas” e que podem e devem ser
minimizados com o auxílio das atividades de educação pública.

2.3.1 Problema

Por problema entendem-se as ocorrências a serem evitadas e as vítimas a serem


minimizadas.

Nesse aspecto, as ocorrências, ou melhor, os problemas, devem ser compreendidos


sobre dois aspectos:

• Problemas macros: são problemas de ordem geral e permanente. Via de regra,


sua incidência se dá em toda a área territorial de responsabilidade de um Corpo
de Bombeiros e em qualquer época do ano. As ações de prevenção requerem a
necessidade de fomentar uma cultura prevencionista na população, (partindo-se,
geralmente, do público infantil, por meio de programas educacionais permanentes).

Exemplos: acidentes e incêndios domésticos envolvendo crianças.


• Problemas locais: são as ocorrências em que os indicadores operacionais
evidenciam um aumento significativo ou que sua incidência maior se dá em uma
determinada época do ano ou em uma região específica e, assim, necessitam de
medidas preventivas específicas para a sua redução em determinada região, época
e segmento da comunidade. O foco, neste caso, é a redução imediata desses índices.

Exemplos: incêndios causados por balões em época de festas juninas, afogamentos no litoral em
época de férias e verão.

As ocorrências evitáveis que, merecem atenção para a realização de atividades


educativas, podem, também, ser classificadas em três tipos:

a) Recorrentes – ano a ano, são presentes e mesmo com pequenas oscilações na


sua quantidade, numericamente são significativas, além de principalmente causar
mortes, lesões e perda de patrimônio. Em alguns casos, a sua incidência regular se dá
também, por ausência de norma ou regulamentação que proteja o cidadão.

Exemplos: ocorrências envolvendo GLP, acidentes domésticos e incêndios residenciais.

b) Sazonais – aquelas em que a incidência ressalta-se em determinada época do ano.


Também causam mortes, lesões e perda de patrimônio

Exemplos: Balões e incêndios em vegetação (junho a agosto), afogamentos nas praias


(predominantemente no verão).

c) Evolutivas – aquelas que por alguma razão (fator socioeconômico, natural, social,
etc.) os apontadores estatísticos registram um aumento significativo ano a ano ou um
aumento repentino ou desproporcional em curto espaço de tempo, despertando a
atenção da Corporação. Também causam mortes, lesões e perda de patrimônio.

Exemplos: acidentes de trânsito envolvendo motocicletas nas grandes cidades do


Brasil.
Exercício prático: investigando a realidade

Agora que você aprendeu a tipificação das ocorrências a serem evitadas, faça uma
análise, baseada no seu conhecimento e sua experiência profissional e descreva no
quadro a seguir, as principais ocorrências atendidas na sua cidade ou no seu Estado,
conforme as classificações:

Recorrentes____________________________________________________________

Sazonais______________________________________________________________

Evolutivas_____________________________________________________________

AULA 3 - Educação pública nos serviços de bombeiros: objetivos e modalidades


das atividades

Na aula anterior, você estudou que a demanda operacional é o fator principal de


motivação da educação pública. Monitorar os índices operacionais é, ao mesmo
tempo, identificar os “problemas” que serão alvo da educação. Sendo assim, é prudente
que essa análise seja realizada nos Corpos de Bombeiros pelo órgão responsável pela
área de prevenção, pois o mesmo saberá buscar os dados de interesse.

Nesta aula, você estudará os objetivos da educação pública nos Serviços de Bombeiros
e suas formas de atuação e emprego conforme o “problema” de demanda operacional
a ser resolvido.

Mas, a pergunta a ser respondida continua a ser:

Qual o problema da corporação que a educação pública deve resolver?

Observe que o enunciado da própria pergunta convida a uma reflexão para a sua
resposta. A essência da profissão de bombeiros não é obviamente, “educar pessoas”
e sim, prioritariamente, combater incêndios (razão de sua existência, em qualquer
lugar do mundo), bem como, realizar salvamentos e prestar socorro nas emergências
e calamidades, de uma maneira bem simples e resumida.

Você se lembra da contextualização histórica e do motivo pelo qual os bombeiros


começaram a empreender atividades educativas?

Pois bem, se os bombeiros aumentaram o leque da sua prestação de serviços na área


de prevenção, derivando tempo, recursos e pessoas para a atividade educacional,
significa que algum “problema” de demanda operacional, seja de incêndios ou
acidentes, motivou isso e, que devem em parte, serem solucionados por meio da
educação.
3.1 Educação com viés de prevenção: Os 3 “E”s

As legislações e normas atuais de proteção contra incêndio e pânico evoluíram nas


últimas décadas, quer seja pela experiência adquirida nos grandes incêndios em
edificações da história, bem como pelo avanço da tecnologia na área de proteção
contra incêndios e pânico.

Mas como se sabe, por si só, elas não garantem a nulidade total dos incêndios e
pânico, porque o comportamento humano ainda é fator decisivo para a causa deles,
principalmente os residenciais, em que as normas praticamente nada podem fazer, a
exemplo do Brasil.

Para mudar este comportamento, a experiência em muitos países tem revelado que a
educação é ainda o remédio mais recomendável.

Você conhece ou já ouviu falar da teoria dos 3 “E”s?

Nos Estados Unidos, prevalece uma cultura e doutrina governamental que preceitua
que as atividades de prevenção devem ser analisadas, executadas ou resolvidas,
concomitantemente ou em separado, pelos 3 “E”s:

EXECUÇÃO

ENGENHARIA

EDUCAÇÃO
a) Engenharia
O uso da tecnologia para criar e desenvolver produtos mais seguros ou qualquer
ação ou atitude que modifiquem o ambiente onde o risco está ocorrendo (exemplo
– materiais retardantes para o fogo, alarmes de detecção de fumaça, engenharia de
trânsito, etc.);

Estudo de Caso
Em uma determina cidade do Brasil, havia o registro de inúmeras quedas de motos em
uma mesma esquina, onde o sentido do trânsito obrigava os veículos a entrarem em
uma rua com leve aclive (subida). Ao fazer tal curva na esquina, vários motociclistas
sofreram queda, despertando o interesse do Corpo de Bombeiros. Uma completa
análise dos fatos, com visita ao local, entrevista com acidentados, verificou-se que
em tal esquina sempre havia areia. Essa areia era proveniente de um depósito de
construção próximo e, toda vez que um caminhão daquele depósito fazia o transporte
de areia, ao virar a esquina e subir a rua, derramava uma quantidade no asfalto, a
partir daí, as motos que ali transitavam derrapavam e causavam a queda dos seus
condutores. De posse de tal conclusão, os bombeiros interagiram com o proprietário
daquele depósito e os caminhões mudaram seu trajeto. A queda do número de
ocorrências foi imediata.

Perceba que a simples mudança de trajeto (engenharia de trânsito) resolveu um


“problema local”.

b) Execução
É a regra que exige o uso de uma iniciativa de segurança, a parte normativa, legal
(exemplo: Leis, Normas, Código de Proteção contra Incêndios, Leis de Trânsito,
etc.);

Estudo de Caso
Em janeiro de 2006, o Governo de São Paulo sancionou uma lei estadual que proíbe a
venda e uso de cerol para empinar pipas, papagaios, etc. Principalmente nas periferias,
o produto era facilmente encontrado em lojinhas, por preços irrisórios. Uma mistura
de cola e pó de vidro, passada na linha, o chamado “cerol” gera um efeito altamente
cortante. A graça dessa prática está em cortar, ainda no ar, a pipa de outras crianças.
O problema é que inúmeros acidentes vinham sendo registrados com a prática,
até mesmo com o resultado morte, principalmente em vítimas que conduziam
bicicletas ou motocicletas e que eram atingidos, em velocidade, na altura do pescoço,
produzindo cortes profundos e enorme hemorragia.
A lei, em vigor, prevê, além da apreensão do material, uma multa de cerca de R$ 70
para quem for flagrado usando ou vendendo a mistura em todo o Estado. Os policiais
que, em suas rondas ou atendendo a denúncias (que podem ser feitas pelo telefone
190), fazem o trabalho de repressão à brincadeira.
c) Educação
A entrega seletiva de informações (fatos) e mensagens (educativas) sobre o risco e a
prevenção a determinados públicos-alvos.

Estudo de Caso
Também em uma determina cidade do Brasil, havia o registro de inúmeras quedas
acidentais de pessoas. Uma completa análise das ocorrências atendidas evidenciou
que as vítimas, em sua grande maioria, eram pessoas idosas. Detalhando ainda mais
as informações, verificou-se também, que tais quedas ocorriam no interior de ônibus
de uma empresa de transporte público. De posse de tais informações, os bombeiros
procuraram a direção daquela empresa de transporte para que adotassem todas
as medidas possíveis para evitar tais quedas, como por exemplo, mais assentos
destinados aos idosos e redução da velocidade e de freadas bruscas, bem como,
solicitou que os bombeiros educadores pudesse realizar uma palestra de prevenção
com os motoristas daquela empresa.

Perceba que neste caso, houve uma integração de medidas de engenharia (colocar
mais assentos para os idosos) e educação (palestra) empregadas ao mesmo tempo,
para a resolução de mais um “problema local”.

Para saber mais...

Uma política e um forte planejamento de educação pública nos serviços de


bombeiros podem colher bons resultados em uma corporação de bombeiros. Um
bom exemplo, é o caso da cidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos.
Para conhecer mais sobre este exemplo, leia o texto Corpo de Bombeiros de Nova
Iorque - Um Case de sucesso”.

3.2 Classificação e conceituação das atividades de educação pública

O objetivo dos esforços da educação pública nos serviços de bombeiros é muito claro
e conciso:

1 - REDUZIR OCORRÊNCIAS,
EDUCAÇÃO
2 - MORTES E
PÚBLICA
3 - LESÕES DECORRENTES
Este objetivo pode ser alcançado, por meio da educação, a partir de dois
direcionamentos, de acordo com a tipificação das ocorrências evitáveis, conforme
você já estudou:

EDUCAÇÃO PÚBLICA

ocorrências ocorrências
sazonais e
recorrentes evolutivas

Objetivo prioritário: Objetivo prioritário:


fomentar cultura reduzir ocorrências
prevencionista e vítimas decorrentes

Execução prioritária: Execução prioritária:


Programas educacionais Campanhas de
e campanhas de prevenção e
prevenção ações específicas

Dessa forma, o responsável pelas atividades de educação pública na Corporação,


procurará resolver os problemas determinando a melhor forma de emprego das
seguintes atividades:

• programas educacionais; e
• campanhas de prevenção ou ações educativas.

Programas e Campanhas demandarão da corporação, de uma fase de planejamento.

Mas... o que diferencia cada uma delas?

Veja a seguir!
PROGRAMAS EDUCACIONAIS

Requisitos Características
Objetivo principal
obrigatórios principais

execução anual;
Fomentar uma cultura Equipe de Planejamento; perenidade;
de prevenção na
comunidade Parceria com a rede de executados em ambiente
ensino público; escolar;
Materiais didáticos e planos aulas presenciais
de aula padronizados; (Bombeiros Educadores ou
Professores) ou aulas por
Capacitação específica para
EAD;
os bombeiros educadores;
currículo próprio.

CAMPANHAS DE PREVENÇÃO

Requisitos Características
Objetivo principal
obrigatórios principais

Equipe de Planejamento; execução anual;


Reduzir a incidência, Período de execução pré- perenidade;
mortes e lesões de determinado (início e
determinados incidentes término) diversidade nas formas de
em razão de sua Multiplicidade de ações; execução;
sazonalidade ou pela são realizadas em razão
identificação de público-
regularidade ou de uma temática.
alvo;
ascendência repentina
Possibilidade de parcerias
nos registros operacionais.
diversas;
Cronograma de ações.

AÇÕES DE EDUCAÇÃO PÚBLICA

Requisitos Características
Objetivo principal
obrigatórios principais

Em razão de uma Período de execução curto; execução rápida e


oportunidade ou evento, Não é necessário localizada;
empreende-se uma ação planejamento;
educativa com a finalidade de diversidade nas formas de
disseminar na comunidade as Público-alvo seletivo; execução;
mensagens construídas de Emprego de Bombeiros avaliação facultativa;
prevenção.
Educadores;
monitora-se apenas a
O objetivo é de prevenção Material didático
padronizado de acordo com audiência;
dentro de uma oportunidade
ou ocasião, a critério do gestor o tema solicitado; ações mais comuns:
da atividade. Emprego do Caderno Guia palestras e apresentações.
do Bombeiro Educador.
3.3 Adequação da mensagem ao público-alvo

Uma vez que as atividades de Educação Pública visam a corrigir ou diminuir os


“problemas” dos incêndios ou acidentes e, mais especificamente, de comportamentos,
resta saber como as informações ou mensagens de prevenção serão apresentadas ao
público-alvo.

O Público-alvo é uma parte ou todo da comunidade a que se destina às atividades educativas, em razão da sua
relação com as causas, vitimização ou o local de maior incidência de um determinado tipo de incêndio ou acidente.

Isso dependerá de uma série de informações sobre como o “problema” vem ocorrendo
na comunidade. Isso desenvolve um perfil dos tipos e frequências dos incêndios ou
acidentes, causas possíveis, locais de origem, tipos de comportamento das vítimas e
padrões de incidência em uma cidade, bairro ou região.

Antes que as pessoas possam ser ensinadas a evitar o início dos incêndios ou a se
prevenir de algum tipo de acidente, o comportamento ou mau comportamento
deve ser identificado. Além disso, o perfil das pessoas que dão causa aos incêndios
necessitam ser determinadas de modo que o programa, campanha ou ação possam
ser adequados para aquele determinado público-alvo.

Exemplo
As mensagens sobre como prevenir queimaduras em crianças por líquidos quentes, muitas vezes, o alvo são os pais
ou adultos que cuidam deles. Por outro lado, adolescentes também podem ser instruídos a protegerem seus pais e
avós de incêndios e acidentes.

Dessa forma, o público-alvo é o grupo do qual com conhecimento ganho, se procura


obter mudanças de comportamento e do meio ambiente onde estão.
Neste módulo, você estudou que:

A educação pública nos serviços de bombeiros é uma atividade estratégica dos


bombeiros como meio de redução de ocorrências e de vítimas, sendo este seu
objetivo essencial.

Ela é uma atividade extremamente seletiva, pois pode exigir bem mais do que ações
simples como palestras ou distribuição de materiais impressos. As Campanhas de
prevenção ou programas educacionais bem sucedidos passaram, inicialmente, por
um processo necessário de maturação, não obstante, a abordagem com o público em
geral pode ser um processo de longo prazo.

Os “problemas” de demanda operacional, macros ou locais são os fatores motivadores


e que determinarão atitudes prevencionistas, dentro do contexto da teoria dos 3 “E”s
(Engenharia, Execução e Educação).

Classificar as ocorrências de sua demanda operacional (ocorrências recorrentes,


sazonais e evolutivas) pode auxiliar na escolha da medida mais adequada de
prevenção.
EXERCÍCIOS

1. Considerando a contextualização história, responda: por que os bombeiros


buscaram atuar na educação, fora do campo operacional?

a. ( ) porque seus recursos estavam ameaçados pelas incertezas da economia.


b. ( ) para poupar seus próprios recursos e diversificar suas atividades.
c. ( ) para frear e controlar suas demandas operacionais e, principalmente,
diminuir ao máximo o número de mortes e de pessoas feridas nos incêndios.
d. ( ) para estreitar o relacionamento entre bombeiros e comunidade.

2. Com base no que estudou sobre educação pública nos serviços dos corpos de
bombeiros no Brasil, marque (V) para as sentenças verdadeiras e (F) para as falsas:
a. ( ) A maioria dos Corpos de Bombeiros executam de alguma forma a atividade de
educação pública e a maioria deles possui normatização ou diretriz para regular as
ações de educação preventiva.
b. ( ) As atividades de educação pública do Corpos de Bombeiros, não são mensuradas,
além disso, também não utilizam os apontadores estatísticos como norteador da
atividade.
c. ( ) O maior temor dos Corpos de Bombeiros atualmente é ter sua capacidade de
resposta maior que a sua demanda operacional.
d. ( ) Ocorrências recorrentes que não registram aumentos a cada ano, e que causam
mortes e lesões, merecem medidas preventivas.

3. Considerando a natureza das ocorrências, analise as situações colocadas e


associe a segunda coluna de acordo com a primeira.
A - recorrentes
B - sazonais
C - evolutivas
a. ( ) O aquecimento da economia possibilitou as classes C e D a comprarem
motocicletas a preços acessíveis e parcelados. A frota aumentou e o número de queda
também.
b. ( ) Prática de soltar pipas no período de férias aumenta o número de ocorrência
envolvendo acidentes com cerol.
c. ( ) A falta de normas e regulamentações que proteja o cidadão estão relacionadas
a acidentes domésticos e a incêndios residenciais.

4. Associe as características às respectivas atividades de educação pública:


A – Programas Educacionais
B – Campanhas de Prevenção
C – Ações Educativas

a. ( ) – são perenes e de execução anual.


b. ( ) – de curta duração e localizada.
c. ( ) – geralmente atendem as demandas solicitadas no dia a dia.
d. ( ) – obedecem uma unidade temática.
e. ( ) – data de início e de término.
f. ( ) – currículo e material didático próprio.
GABARITO

1. C

2. F/ V/ F/ V

3. C-B-A

4. A-C-C-B-B-A

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