BOOK Estudo Cavalo PDF
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CDU 636.1:338.43(81)
Sumário
Apresentação 5
Depoimentos 6
1. Introdução 8
2. Metodologia 10
O Brasil tem hoje a consciência de que é uma potência no agronegócio, com reflexos dentro e fora do País. Este reco-
nhecimento se estende a vários segmentos da agropecuária: soja, café, cana-de-açúcar, pecuária de leite e de corte, entre
outros. Todos estes produtos já contam com espaços apropriados à discussão de suas agendas no âmbito da Confederação
da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Com o terceiro maior rebanho do mundo, seria descabido a eqüinocultura não se
organizar a ponto de ter, também, um foro permanente de debate de suas questões.
Inicialmente, nas conversas mantidas com as 23 associações de produtores de cavalos no Brasil, foi unânime a conveniência
de se criar este foro único, principalmente após a desativação da antiga CCCCN (Comissão Coordenadora da Criação do
Cavalo Nacional). Esta união foi restabelecida pela Comissão Nacional do Cavalo, criada na CNA. Na nossa primeira reu-
nião, identificou-se a inexistência de estudos, documentos e pesquisas que oferecessem informações consistentes sobre a
composição e o funcionamento do agronegócio cavalo no Brasil.
Pio Guerra
Vice-Presidente Executivo da CNA Assim, a primeira deliberação foi buscar o apoio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para a
Presidente da Comissão Nacional
do Cavalo da CNA
contratação de uma entidade séria, que pudesse fazer a radiografia dos diversos agentes econômicos que atuam em torno
Presidente da Câmara Setorial da criação de cavalos no Brasil. Tivemos a sorte de contratar a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq). O
da Eqüideocultura do MAPA
resultado é este estudo pioneiro, cujos dados preliminares atestam, por si só, a sua importância: a eqüinocultura mobiliza
R$ 7,3 bilhões e gera 3,2 milhões de empregos diretos e indiretos no Brasil.
Resta, agora, a todos que tiverem acesso a este documento identificar as oportunidades de aperfeiçoamento nas ações de
cada segmento empresarial envolvido e as alianças possíveis entre os setores público e privado para ampliarmos as possi-
bilidades de sucesso do setor. Com um clima apropriado ao uso do cavalo durante todo o ano, uma diversidade ambiental
e cultural que incentiva as atividades esportivas e de lazer com o cavalo, além de 100 milhões de hectares agricultáveis
ainda por explorar, não será uma tarefa difícil.
Boa leitura!
Depoimentos
A iniciativa deste estudo faz jus à dimensão econômica e social da eqüinocultura brasileira, cujos resultados ressaltam a realidade deste segmento do agronegócio.
Sem informações precisas e dados confiáveis, é pouco provável encontrarmos respostas adequadas às necessidades do setor. Agora, os caminhos ficam mais claros
e as soluções poderão ser construídas com eficiência. O agronegócio cavalo emergiu deste trabalho revelando sua grandiosidade e a capacidade de interagir com
um número inimaginável de atores econômicos.
Roberto Rodrigues – Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
A criação de cavalos no Brasil é uma atividade que emprega milhares de pessoas, em todo o País. Não pode ser vista como simples conseqüência da valorização
para o homem urbano, da vida do campo. A criação de cavalos e, de maneira especial, a criação de cavalos de raças nacionais representa base econômica e social
relevante, cujo produto é competitivo no mundo inteiro.
Senador Sérgio Guerra – Presidente da Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado Federal
O universo rural tem lá suas contradições! Beleza e rusticidade, lazer e trabalho, riqueza e simplicidade. Na diversidade da atividade rural, o cavalo é o meio
de transporte, é o que tange o gado, é o motivo de orgulho do criador, é o lazer da meninada, é o prazer do peão, é aquele que primeiro começa o trabalho na
fazenda. Além das suas incríveis habilidades, o cavalo também é fonte de trabalho e renda. Milhares de brasileiros dependem da criação e da atividade do cavalo.
O Estudo que a Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) brilhantemente publica é importantíssimo para que possamos compreender a dinâmica
do agronegócio cavalo. Por meio dessa iniciativa vamos conhecer as ações necessárias para promover a expansão da criação desse animal, que tem sido o grande
parceiro do homem em todos os tempos.
Deputado Abelardo Lupion – Presidente da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados 2006
“Ao dimensionar o agronegócio cavalo no Brasil, quantificando finalmente o leque de empreendimentos que giram em torno da criação de cavalo no País, este
estudo mostra a relevância das atividades do turfe nacional. Somente quatro Jockeys Clubs criam cerca de quatro mil empregos e movimentam em torno de R$
359,5 milhões por ano”.
“Primeiro o homem anda a pé, depois à cavalo, mais para frente tem um carro velho, depois uma Ferrari. E, por fim, quer outra vez o cavalo. Além de sua enorme
importância como fator econômico, o cavalo é um instrumento de lazer contemporâneo que ganha espaço na agenda do homem urbano, trazendo-o de volta ao
atavismo do campo”.
Os negócios que envolvem a criação e utilização do cavalo ocu- tema. Ao contrário de bovinos, aves, suínos e ovinos, os eqüinos não
pam uma posição de destaque nos países desenvolvidos e em muitos aparecem com destaque nas pesquisas e censos governamentais.
daqueles em desenvolvimento, como o Brasil. No entanto, pouco se
Com o objetivo de contribuir para o preenchimento desta lacuna,
conhece sobre a configuração do Agronegócio Cavalo, particularmen-
te a sua contribuição na geração de renda e de postos de trabalho. o presente estudo buscou verificar a configuração do Complexo do
Mais grave, muitas vezes, a imagem do setor é distorcida e carregada Agronegócio Cavalo no Brasil, assim como sua dimensão econômica
de preconceitos. Para muitos, a “indústria” do cavalo está relacio- e social. Pretendeu-se, também, discutir alguns aspectos institucio-
nada ao interesse restrito de uma elite e distante da realidade do nais, de estrutura e desempenho do setor. Esta iniciativa é o primei-
brasileiro médio. ro produto resultante de uma solicitação da Comissão Nacional do
Cavalo e de seu presidente, Pio Guerra, com apoio do Ministério da
O rompimento dessa imagem, formada ao longo de extenso período
Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
que tem origem no início da formação do Brasil, não deverá ser ta-
refa fácil, muito menos rápida. É necessário conhecer e dimensionar Ao identificar e analisar as relações e interações de quase 30 diferen-
o Agronegócio Cavalo, criar sustentação teórica para a formulação tes agentes e/ou segmentos envolvidos com a “indústria do cavalo” o
de políticas que permitam o desenvolvimento da eqüinocultura no estudo inovou ao propor uma concepção inédita para a compreensão
Brasil, assim como dos diversos segmentos econômicos relacionados da atual estruturação desta importante atividade. Da mesma forma,
a essa atividade, que são responsáveis pela geração de centenas de deve-se destacar o pioneirismo do estudo ao revelar a importância
milhares de empregos diretos. social e econômica da atividade, traduzida por uma movimentação
Ainda são muito escassas as iniciativas visando o aprofundamento econômica da ordem de R$ 7,3 bilhões por ano e a ocupação direta
dos conhecimentos sobre o Agronegócio Cavalo. Aquelas até agora de cerca 640 mil pessoas, cifra que poderia atingir a casa de 3,2 mi-
empreendidas não alcançaram a extensão e a profundidade necessá- lhões se forem incluídos aqueles empregos considerados indiretos. Na
rias para a sustentação de políticas e ações de maior alcance para o Tabela 1 apresenta-se uma síntese da dimensão social e econômica
desenvolvimento da eqüinocultura brasileira. Até mesmo o Governo, atingida pelos diversos segmentos que compõem o Complexo do Agro-
através dos seus ministérios e órgãos, tem dado pouca atenção ao negócio Cavalo no Brasil.
Movimentação Empregos
Segmento
econômica (R$) diretos
Medicamentos Veterinários 54.142.630,20 300
Rações 53.440.000,00 nc
Selaria 174.600.000,00 12.000
Essa expressividade do Complexo do Agronegócio Cavalo no
Casqueamento e Ferrageamento 143.640.000,00 2.100
Brasil ainda não se traduz em prioridades em termos de po-
Transporte de Eqüinos 86.400.000,00 85
líticas públicas de apoio à atividade nem na disponibilização
SENAR 976.000,00 30
de instrumentos de fomento que tradicionalmente são dire-
Mídia 10.000.000,00 nc
cionados para outros setores ou complexos do agronegócio
Militar 176.000.000,00 6.286 brasileiro.
Lida 3.954.275.000 505.050
Equoterapia 43.200.000,00 2.500 Pela sua natureza exploratória e pioneira em termos de
Esportes (hipismo) 57.600.000,00 2.000
abrangência, este estudo não tem a pretensão de ser com-
pleto e nem definitivo. Trata-se de um primeiro trabalho
Pólo 1.684.400,00 1.500
– inédito, de filtragem e organização de informações dis-
Vaquejada 164.000.000,00 1.430
persas e muitas vezes inconsistentes – no universo do ca-
Turismo Eqüestre 21.000.000,00 1.500
valo no Brasil. Mais do que servir de apoio à formulação
Escolas de Equitação 78.000.000,00 9.000
de políticas e estratégias, deverá mostrar futuros caminhos
Jockey 359.500.000,00 4.000
para o melhor entendimento da indústria eqüestre. Espera-
Trote 1.000.000,00 150
se que, a partir deste estudo, novas políticas – de crédito,
Exposições e Eventos 146.100.000,00 nc sociais, de fomento, entre outras – venham a ser formuladas
Segmento “Consumidor” 1.654.400.000,00 91.429 para apoio, desenvolvimento e consolidação do Complexo
Leilões 19.100.000,00 200 do Agronegócio Cavalo no Brasil.
Exp. e imp. de Cavalos Vivos 8.833.623,68 nc
Carne 80.000.000,00 1.000
Curtume 15.000.000,00 160
Seguro 2.500.000,00 nc
Veterinários 20.000.000,00 500
Total 7.325.391.653,88 641.220 n c – não calculado
O caráter pioneiro do estudo sobre o Complexo do Agronegócio Ca- nifica que muitos valores podem estar subestimados. Em momentos
valo no Brasil pode caracterizá-lo como de amplo escopo e natureza em que não foram encontrados dados quantitativos sobre o tamanho
exploratória, tendo em vista as peculiaridades da evolução e da confor- e a movimentação econômica em torno de determinado segmento do
mação desta atividade, marcadas pela escassez e dispersão das infor- agronegócio cavalo, optou-se por não proceder cálculos ou estima-
mações. Em seu desenvolvimento, o estudo envolveu desde a revisão tivas que pudessem não atingir a confiabilidade desejada. Deve-se
da literatura disponível, da geração de dados primários até a validação destacar que, em muitos segmentos, não existe um mecanismo siste-
dos resultados obtidos, por meio da realização de painéis com atores e mático de coleta, depuração e verificação, armazenamento e divul-
especialistas do agronegócio cavalo. gação de informações referentes, por exemplo, ao número de pessoas
empregadas (e/ou o número de diárias trabalhadas). Nos casos em
Inicialmente, foram identificados os principais agentes econômicos que foi possível realizar estimativas, foram estimados:
– privados e públicos – atuantes no setor, buscando o entendimento
da dinâmica do complexo do agronegócio cavalo. O universo pesquisa- •a- número de pessoas ocupadas - nestas estimativas foram consi-
do incluiu representantes das associações de criadores e de diversos deradas pessoas ocupadas na atividade, tanto com emprego formal
segmentos considerados chaves, tais como: indústrias de medicamen- quanto os trabalhadores informais. Para estas pessoas, foi conside-
tos, de equipamentos para transporte, selarias, hípicas, sindicatos e rada apenas a proporção do tempo dedicado à atividade ligada ao
associações de profissionais, entre outros. Nesta fase, pesquisadores cavalo;
foram a campo e aplicaram questionários junto a criadores (dos mais •b- movimentação econômica - nas diversas atividades, foi estimado
diversos portes e para diversas finalidades) nos Estados do Rio Grande não apenas o faturamento formal, mas toda a dimensão econômica da
do Sul, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Distrito Fe- atividade. Por exemplo, para uma atividade de educação que fornece
deral, Bahia e Sergipe. Adicionalmente, inúmeras entrevistas foram cursos gratuitos aos alunos, foram considerados as remunerações dos
realizadas – por telefone e por e-mail – com criadores, empresários e instrutores, o material utilizado, transporte, luz, aluguel e demais
pessoas ligadas ao Agronegócio Cavalo. Também foram visitados even- custos e despesas incorridos para a realização da atividade.
tos – exposições e festas – para complementar o trabalho dos levan-
O procedimento metodológico detalhado, bem como todas as memó-
tamentos de campo.
rias de cálculo utilizadas, encontram-se no Relatório Final do Estudo
Ao longo do estudo, algumas estimativas foram realizadas. Optou-se do Complexo do Agronegócio Cavalo apresentado à Confederação da
sempre pela consideração dos números mais conservadores. Isto sig- Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
O surgimento desse conceito está associado às transformações que A Figura 1 apresenta um diagrama genérico de uma cadeia de produ-
ocorreram no setor ao longo do tempo. Com a evolução dos sistemas ção agroindustrial. No caso da pecuária de corte (cadeia de produção
de produção e o surgimento de modernos parques industriais forne- da carne bovina) , por exemplo, não é difícil identificar os diversos
cedores de bens e insumos para o campo as relações entre indústria, elos da cadeia. No seu início, no item “insumos”, localizam-se os for-
serviços e agropecuária se estreitaram. necedores de rações, de sementes para pastagem, a indústria de me-
dicamentos veterinários etc. A seguir, tem-se o pecuarista, o criador
Associado ao conceito de agronegócio tem sido utilizado com muita do gado de corte. Este fornece o boi para o próximo elo, o frigorífico.
freqüência, o conceito de cadeia de produção agroindustrial – en- Antes de o produto final chegar ao consumidor (elo final da cadeia),
tendida como o conjunto de etapas consecutivas pelas quais os di- ainda há duas atividades responsáveis pela distribuição final: o ata-
versos insumos passam e vão sendo transformados e transferidos, cado e o varejo.
Ambiente Institucional
Cultura, Tradições, Educação, Costumes, Regras, Aparato Legal
Registro Genealógico
Turismo
Laboratórios Rural
Lazer
Empresas Veterinárias
Expos.
Eventos
Escolas
Empresas de Nutrição Equit.
Criadores Hipismo
Esportes
Jockey
Construção
Uso Mercado
Máq. e Implementos Militar Externo
Agrícolas.
Sementes
Forrageiras Lida
Fertilizantes /
Corretivos Defensivos
Casqueamto
Selarias Frigoríf.
Ferageamto
Produtos
Fonte: CEPEA (2006). Secund.
Militar
Nutrição
Frigorífico
Trabalho Lida
Medicam. Criadores
Centro de Esporte Eventos
Treinamento
Laborat.
Mercado Externo
(*)
O cavalo exerceu importante papel na formação de São Domingo. Na América do Sul, a introdução do ca-
econômica, social e política do Brasil. Esta memória, valo ocorreu em 1532, quando Pizarro utilizou cavalos
pouco discutida na literatura, permite compreender as- na sua incursão no Peru.
pectos fundamentais para a configuração do atual perfil
Oficialmente, a chegada de cavalos no Brasil só foi re-
do agronegócio do cavalo. Adicionalmente, esta revisão
gistrada em 1549. Naquele ano, Tomé de Souza, pri-
histórica auxilia a melhor compreensão da configuração
meiro governador-geral, mandou vir alguns animais de
e da dinâmica dos segmentos que compõem a ativida-
Cabo Verde para a Bahia, na caravela Galga. Assim, nos
de, conforme se verá a seguir.
primeiros anos da Colônia, a sua criação junto com o
No aspecto econômico, desempenhou as funções de gado bovino foi iniciada formalmente e seria funda-
sela (para o vaqueiro e o peão, nas lides comuns à pe- mental para a formação do Brasil.
cuária); de carga (nos comboios ou comitivas); e, de
A base econômica do Brasil colonial era composta por
tração (“motor” de veículos de carga e de moendas).
duas atividades principais: a açucareira e a criatória
No aspecto social – englobando exibicionismo, vaidade,
(ressalta-se que a criação de gado bovino sempre era
orgulho e diferenciação social – o cavalo desempenhou
acompanhada de tropa de cavalos para a lida3), mas,
seu papel tanto na função de sela quanto de tração dos
com diferenças significativas em suas características,
veículos. A partir da segunda metade do século XIX, des-
uma vez que, enquanto a atividade açucareira limitou-
tacam-se no aspecto social, as atividades de esportes e
se à zona da mata, a pecuária foi o principal fator de
lazer, como corrida e salto.
penetração e ocupação do interior do Brasil.
4.1 – A Introdução do Cavalo no Brasil Outra importante diferença ocorreu na ocupação ter-
As características do processo de introdução do cavalo ritorial. Numa época em que ainda não existia arame,
no Brasil diferem daquelas verificadas nos demais paí- logo surgiram conflitos entre agricultores que viam suas 3- Segundo Simonsen (1969,
ses do continente americano. Nos países de colonização lavouras invadidas (e destruídas) por animais e os cria- p.151), em Pernambuco, “um bom
estabelecimento carecia de qua-
espanhola, a principal função do cavalo foi como armas dores. O Governo português regulamentou esta disputa.
renta negros adultos de ambos os
de guerra. Na sua segunda viagem à América, em 1494, Uma Carta Régia de 1701 proibiu a criação de animais sexos, outros tantos bois e igual
Cristóvão Colombo trouxe alguns exemplares para a Ilha a menos de 10 léguas da costa, onde se localizavam as número de cavalos”.
Unidos enviaram 923.580 eqüinos para Europa, enquanto a Alemanha No século XIX tiveram início os esforços do exército na formação de
contou com 1.236.000 animais. Mesmo na Segunda Guerra Mundial reserva de eqüinos para fins de segurança nacional, com a abertura
(1939-1945), a utilização do cavalo militar foi intensa. E, ainda nos da primeira Coudelaria Nacional de Saican, no Estado do Rio Grande
dias atuais, o uso do cavalo tem sido uma opção valiosa na guerra do Sul. Lamentavelmente, a busca de resultados imediatos e a falta
travada pelos Estados Unidos nas montanhas do Afeganistão. de planejamento prejudicaram os resultados da Saican. No entanto,
O Brasil, com sua ampla dimensão geográfica, diversidade de relevo e pre- ao longo do século XX foram abertas outras coudelarias. No final do
cária malha rodo e ferroviária, teve e tem no cavalo grande utilidade. século XX, o Exército optou por fechar as diversas coudelarias no País,
centralizando as atividades numa única coudelaria (Rincão), no Rio
O surgimento da Cavalaria no Brasil está relacionado ao término da
Grande do Sul.
guerra contra os holandeses em Pernambuco. Naquela época, foi orga-
nizado o Regimento de Dragões Auxiliares. Posteriormente, já no gover- No entanto, o papel do cavalo militar vai além dos aspectos de segu-
no do Marquês de Pombal, foi criado o Regimento de Dragões, no Rio de rança, tendo sido relevante no desenvolvimento de outras áreas, como
Janeiro, para garantir a lei e a ordem. Na região Sul, devido a lutas em
a educação e o esporte. Passando por várias designações, historica-
torno da Colônia do Sacramento, foi organizado o Regimento de Dragões
mente, a equitação sempre fez parte do treinamento militar. Atual-
do Rio Grande, preocupado com a segurança na fronteira brasileira.
mente, o Exército mantém a Escola de Equitação localizada na cidade
Em 1765, foi criado o Regimento de Cavalaria Ligeira com duas Compa- do Rio de Janeiro, no mesmo aquartelamento do Regimento Escola de
nhias, com objetivo de fazer a guarda particular dos Vices-Reis. No ano Cavalaria, e tem capacidade para alojar um plantel de 100 cavalos.
de 1808, pouco antes da chegada da família real portuguesa no Brasil,
D. João VI criou o 1º Regimento de Cavalaria de Guardas. Posteriormen- Atualmente, no Exército, os eqüinos são utilizados para diversas fina-
te, em 1946, este Regimento, a mais tradicional unidade de cavalaria lidades, tais como: ações de garantia da lei e da ordem nos Regimen-
do Exército brasileiro, teve sua denominação alterada para Primeiro tos de Cavalaria; participação em cerimonial militar (desfiles, guarda
Regimento de Cavalaria de Guardas, os Dragões da Independência. de honra e escoltas de autoridades); patrulhamento em organizações
O cavalo tem sua importância também em outra Arma, a Artilharia, militares e nos campos de instrução; instrução militar nas escolas de
destacando-se o 32º Grupo de Artilharia de Campanha, conhecido formações de oficiais e praças; produção de imunobiológicos (soro
como Bateria Caiena. A origem do nome se deve à tropa que leva- antiofídico); prática desportiva, integrando comissões de desportos
va seu armamento tracionado por cavalos, que conquistou a ilha de nacionais; atividades de eqüoterapia; e programas de estudos e me-
Caiena, em 1809, na Guiana Francesa. lhoramentos da eqüídeocultura nacional, na Coudelaria de Rincão.
Este estudo enfrentou o desafio da escassez de dados quantita- tatísticas publicadas pela FAO (Food and Agriculture Organization of
tivos da tropa nacional e a qualidade das informações disponíveis. A the United Nations). Embora a PPM não tenha o rigor dos levantamen-
Pesquisa Pecuária Municipal (PPM), elaborada anualmente pelo IBGE, tos do Censo Agropecuário, tem a grande vantagem de apresentar
foi uma das principais fontes utilizadas. Essa publicação contém inú- dados mais recentes, além de ter demonstrado interessante grau de
meros dados com abrangência nacional, desagregados por Município confiabilidade na pesquisa de campo. Verifica-se a evolução recente
e atualizados até o ano de 2004. Esta base de informação alimenta, do efetivo eqüino brasileiro na Figura 4, na qual se destaca forte ajus-
também, os bancos de dados de importantes instituições, como as es- te nas estatísticas após a realização do Censo Agropecuário de 1995.
6.600.000
6.400.000
6.200.000
6.000.000
cabeças
5.800.000
5.600.000
5.400.000
5.200.000
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
Fonte: IBGE (2006).
De acordo com os dados da PPM, a tropa brasileira totalizava 5.787.250 bovino, conforme mostrado na Tabela 2. Essa correlação entre quan-
eqüinos em 2004. Assim como o plantel localizado nos principais es- tidade de bovinos e de eqüinos indica que as distribuições territoriais
tados criadores, esse número indica leve tendência de redução do dos rebanhos são muito próximas.
efetivo nos últimos anos (Figura 5).
Nas últimas décadas, a pecuária bovina de corte atravessou período de
A análise dos dados entre 1990 e 2003 indica que a tropa deslocou-se
grandes mudanças estruturais. Entre outros fatores, os ganhos de pro-
em direção às regiões Centro-Oeste e Norte, com destaque para o
dutividade no setor têm permitido conquistas de novos mercados in-
Estado de Rondônia, demonstrando que a tropa nacional está pas-
ternacionais e a expansão da atividade, inclusive com a redistribuição
sando por um processo de desconcentração. Ver Figura 6. A exemplo
do que tem ocorrido desde a introdução do cavalo no Brasil, esta geográfica do rebanho no território nacional. Os principais promotores
redistribuição ocorre, ainda hoje, pela associação de grande parcela dessa migração são o baixo valor relativo das terras brutas, disponibi-
do rebanho de cavalo com as atividades da pecuária bovina. Isto é lidade de grandes áreas para expansão da fronteira e condições edafo-
confirmado pela alta correlação entre a tropa (eqüinos) e o rebanho climáticas favoráveis.
Figura 5 – Brasil: evolução da tropa nos principais Estados criadores no período de 1990 a 2004.
1.000.000 Bahia
800.000
São Paulo
cabeças
600.000
Rio Grande
400.000 do Sul
Goiás
200.000
Paraná
0
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
1990
2003
Equinos por microrregião
De 0 a 1.000
De 1.001 a 5.000
De 5.001 a 10.000
De 10.001 a 25.000
De 25.001 a 50.000
Acima de 50.000
0,00%
-5,00%
PI
GO
MG
CE
PE
RN
RJ
ES
RO
SP
RS
SE
PR
RR
PB
SC
MS
TO
DF
PA
MT
AP
BA
MA
AC
AL
AM
Bovino Equino
Fonte: IBGE (2006).
cia de crescimento na participação do cavalo outras atividades, em especial com a criação de Asininos - 18,5%
bovinos, tanto para corte quanto para leite. A Muares - 0,6%
de lazer4 na tropa nacional. Um indicador desta
Bovinos - 0,6%
tendência é o crescimento do número de eventos Figura 8 apresenta a composição do plantel pre-
esportivos. Trata-se de um fenômeno mundial, sente na amostra, por espécie. Fonte: CEPEA
Na maior parte das propriedades (75,68%), a criação de cavalos Figura 9 – Grau de instrução do administrador.
aparece como uma atividade secundária. Em geral, os seus pro-
45
prietários são profissionais com atividade principal desenvolvida
40
no setor urbano, tais como: médicos, advogados, empresários, en-
35
tre outros. Este fato explica o baixo percentual de criadores que
30
residem na propriedade onde ficam os cavalos (apenas 33,78%).
25
Mesmo assim, a gerência, em grande parte, é realizada pelo pro-
prietário. Apenas um terço das propriedades delegam a adminis- 20
tração a terceiros. O grau de instrução do administrador é ele- 15
vado, conforme pode ser observado na Figura 9. A gerência das 10
propriedades é executada destacadamente por pessoas na faixa 5
etária de 41 a 60 anos. O tempo médio que os criadores estão na 0
Analfabeto
Graduado
Fundam.
Superior
Incompl.
Incompl.
Incompl.
Completo
Completo
Completo
Fundam.
Superior
Médio
atividade de eqüinocultura está em torno de 14 anos.
Médio
Pós
Cerca de três quartos dos criadores utilizam apenas mão-de-obra
contratada. Os demais dividem-se igualmente entre aqueles que
Fonte: CEPEA (2006)
utilizam exclusivamente mão-de-obra familiar e os que utilizam
uma combinação de mão-de-obra contratada com famíliar (Fi-
Figura 10 – Tipo de mão-de-obra utilizada.
gura 10). Entre os que utilizam mão-de-obra contratada, 85,26%
registram seus funcionários. A maioria dos criadores (67,57%) re-
cebem apoio técnico de profissionais especializados, como vete- Contratada - 75,2%
rinários e zootecnista. Familiar e contratada - 12,6%
Familiar - 12,2%
Aqui se apresenta e discute os principais segmentos que Figura 11 – Brasil: evolução do faturamento anual do mercado de medicamentos
fornecem insumos, produtos e serviços para que a criação veterinários, 1997 a 2004, em milhões de reais e em milhões de dólares.
de cavalos possa ocorrer. Nesta parte do Complexo do Agro-
negócio Cavalo, enquadram-se, entre outros, os seguintes 2.500
segmentos: medicamentos veterinários; rações; selarias e 2.000
acessórios; casqueamento e ferrageamento; transporte de 1.500
eqüinos; educação e pesquisa. 1.000
6.1 – O Mercado de Medicamentos Veterinários
500
0
Mundialmente, os países desenvolvidos detêm cerca de 70%
do mercado de insumos veterinários. No entanto, o Brasil
1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
é o terceiro maior mercado de produtos veterinários, atrás R$ milhões US$ milhões
Fonte: SINDAN (2005)
apenas de Estados Unidos e Japão.
Embora o mercado brasileiro tenha apresentado um signi- A Figura 12 mostra a distribuição do mercado por classes terapêuticas.
ficativo crescimento nominal entre 1997 e 2004 – quando Observa-se que cerca de 50% do mercado é composto por produtos bioló-
as vendas mais que dobraram, passando de R$ 923.629.719 gicos e antimicrobianos
para R$ 2.058.202.871 – em termos reais, o mercado não
tem crescido. A evolução dos valores convertidos em dó-
Figura 12 – Brasil: distribuição percentual do mercado de medicamentos veteriná-
lares, por exemplo, mostra que nesse período houve uma
rios por classe terapêutica, 2004.
queda média de 2,3% a.a., atingindo volume de faturamen-
to equivalente a US$ 706.522.679, em 2004 (Figura 11). Outros - 8,4%
Biológicos - 31,5%
Anticoccidianos - 6,8%
Antimicrobianos - 17,3%
Endoparas / Vermífugos - 4,0%
Ectoparasiticidas - 13,5%
Prom. Cresc. / Antibióticos - 3,5%
Endectocidas - 11,6%
Vitamínicos / Tônicos Fort. - 3,4%
A cadeia industrial dos medicamentos veterinários está Figura 14 – Cadeia de produção industrial de medicamentos veterinários.
representada na Figura 14. A distribuição de insumos ve-
terinários para a eqüinocultura é feita pelos distribuido-
Indústria
res exclusivos, representando 75% da comercialização
Química Farmacêutica
de antiparasitários e 77% das vendas de antibióticos. Em de base
termos geográficos, as vendas de medicamentos con- Ind. Farm.
Veterinária Distribuidor
centram-se na Região Sudeste, seguida pela Região Sul.
O segmento de cavalo de trabalho caracteriza-se por ani- O mercado nacional é disputado por mais de 30 empresas
mais alimentados com volumoso de beira de estrada ou produtoras de rações comerciais para eqüinos. Três em-
pasto, milho e farelo de trigo. Eventualmente, utilizam ra- presas detêm 78% do mercado brasileiro (Figura 17). O
ção (de baixo custo). Quadro 1 apresenta algumas características das principais
empresas do setor de rações no Brasil.
A Figura 16 apresenta a distribuição do consumo de ração en-
tre os diversos segmentos por região. Observa-se, também, Em pesquisa de campo encontrou-se que o consumo médio
uma segmentação regional do mercado de ração. Nessa di- diário de ração é de 5,12 kg/animal, quantidade um pouco
visão, a região Sudeste participa com 58% do mercado. superior aos dados obtidos na pesquisa de mercado. Isto por-
que uma parcela da ração fornecida aos cavalos é fabricada
O mercado de lazer – menos técnico, menos especializado (“batida”) na própria propriedade9. Considerando o consumo
e menos exigente – tem potencial expressivo de cresci- médio de ração industrial (de acordo com os diversos seg-
mento: estima-se que poderia ser seis vezes maior do que mentos de atividade) pode-se estimar que a população de
9- É comum a prática de forne-
é hoje. Atualmente, o mercado total de ração é de 320.000 eqüinos que consomem ração industrial corresponde a cerca
cer ração misturada com rolão
toneladas anuais. Estima-se que o potencial do mercado de 360 mil animais. Estima-se que o mercado de rações para de milho, aveia e outras maté-
brasileiro seja de um milhão de toneladas anuais. eqüinos movimente R$ 53.440.000,00 anualmente. rias primas.
Trabalho Criação/Haras
Fonte: Cintra (2005) Lazer Esporte
Empresa Capital Atuação no mercado interno Atuação no mercado mundial Foco de atuação
Agribands Multi- Forte em âmbito nacional. Fábricas em Paulínia/SP, Barra Mansa/ EUA (sede mundial), Europa Ração de baixo preço e linha de
Purina nacional RJ, São Lourenço da Mata/PE, Inhumas/Go e Canoas/RS (atuação discreta) e Ásia (crescente) alta performance.
Possui uma linha de combate
Guabi-Mogiana Regional. Sudeste e Centro-Oeste. Fábricas em Sales de Oliveira/
Nacional –x– (preço baixo) e linha de alta
Alimentos SP, Pará de Minas/MG, Além Paraíba/MG e Anápolis/GO.
performance.
Multi- Nacional. Fábricas em Descalvado/SP, Nova Iguaçu/RJ, Holding entre as 3 maiores da
Socil Evialis Linha de alta performance.
nacional Contagem/MG e São Lourenço da Mata/PE. Europa. Sendo líder na França.
Total Nacional Regional. Sudeste. Fábrica em Três Corações/MG. –x– Ração de baixo preço.
Regional. Sudeste. Fábrica em Ribeirão Preto/SP. Atua no
Fri-Ribe Nacional –x– Ração de baixo preço.
Nordeste em parceria com fábrica local.
Ração de baixo preço.
Regional. Sul e Centro-Oeste. Fábricas em São Leopoldo/RS, América do Sul, Portugal, Rússia,
Alisul Supra Nacional Investimento em linha de alta
Carazinho/RS, Itajaí/SC, Maringá/PR e Anápolis/GO) Grécia, Turquia, China e Japão.
performance.
Iniciou atuação p/ eqüinos em
Agroceres Nacional Nacional. Fábricas em São Paulo, Minas Gerais e Goiás. –x–
2005.
Agrocosta Nacional Regional. Fábrica em S. Joaquim da Barra/SP. –x– Linha de alta performance
Camponesa Nacional Região do Vale do Paraíba/SP. –x– Ração de baixo preço
Carol Nacional Regional. Orlândia/SP. –x– Ração de baixo preço.
Comigo Nacional Regional. Sudoeste Goiano. –x– Ração de baixo preço.
D’Vita Nacional Regional. Minas Gerais. –x– Ração de baixo preço.
Douamix Nacional Regional. Dourados/MS. –x– Ração de baixo preço.
Embramil Nacional Regional. Bragança Paulista/SP. –x– Ração de baixo preço.
Fanton Nacional Regional. Bauru/SP. –x– Ração de preço médio.
Fazendeiro Nacional Regional. Jundiaí/SP. –x– Ração de baixo preço.
Itambé Nacional Regional. Contagem/MG. –x– Ração de baixo preço.
Mauricéia Nacional Exclusiva na Região Nordeste. –x– Ração de baixo preço.
Ração de baixo preço e linha de
Milklop Nacional Regional. Brasília/DF. –x–
alta performance.
Sadia Nacional Discreta e regionalizada. –x– Ração de baixo preço.
Alta qualidade e preço
Supremais Nacional Produção de premix e núcleos para rações. Fábrica em Valinhos/SP. –x–
diferenciado.
Além do mercado consolidado das rações industriais Uma barreira à entrada de produtores mais eficien-
inclui-se neste segmento do Complexo Brasileiro do tes (em termos tanto de produtividade física quan-
Agronegócio Cavalo outro importante mercado repre- to qualidade e custo unitário) é a necessidade de
sentado pela produção e comercialização de feno. elevados investimentos em máquinas (enfardadeira,
carretas, tratores, segadeira, entre outros). Outra
A produção do feno comercializado no Brasil é rea- dificuldade para o desenvolvimento do mercado é
lizada em diversos tipos de propriedades. Pequenos que poucos criadores e proprietários de eqüinos di-
proprietários, em geral antigos criadores de cavalos, ferenciam adequadamente a qualidade do feno. Em
que possuem máquinas para fenação realizam pro- geral a tomada de decisão é feita com base no preço,
dução em pequena escala, muitas vezes com baixo sem ponderar a qualidade do produto. Nota-se que
preço e baixa qualidade. No outro extremo, há gran- uma melhor padronização do feno comercializado,
des produtores, com áreas plantadas superiores a com transparência das características citadas ante-
700 ha. Entre estes extremos, há inúmeros produto- riormente, permitiria a precificação mais justa dos
res de feno dos mais diversos tamanhos. No entanto, diferentes fenos ofertados no mercado.
todos possuem área de atuação limitada pelo custo
6.3 – Selaria e Acessórios
do frete10. Distâncias superiores a 200 km, em geral,
inviabilizam economicamente o transporte. Assim, O segmento de selaria e acessórios é bastante diversi-
as empresas atuam localmente e, em alguns casos, ficado. Há uma grande variabilidade de tipos de selas
regionalmente, mas nunca nacionalmente. e acessórios, cada um voltado para um determinado
público específico. O equipamento utilizado no Rio
O preço do feno apresenta grande variação estacio- Grande do Sul, por exemplo, difere muito daquele 10- Um caminhão transporta aproxima-
nal, atraindo produtores nos períodos de alta e tendo utilizado na lida na região Centro-Oeste. Este, por sua damente seis toneladas de feno (empre-
redução do número de produtores na baixa. O Estado vez é diferente daquele utilizado no Nordeste. A di- sas com máquinas mais modernas, de
de São Paulo é o principal produtor, seguido por Mi- maior compactação, conseguem trans-
ferenciação não é apenas regional, mas também por
portar maior quantidades por caminhão),
nas Gerais. Rio Grande do Sul e Paraná apresentam modalidades tais como: hipismo clássico, baliza, ca- com um valor total de aproximadamente
produções próximas a Minas Gerais. valgada, entre outros. R$ 1.500,00.
De acordo com os dados coletados, as selas correspondem a cerca aproximadamente 70% do valor de venda das selas e acessórios.
de 50% do faturamento deste segmento. O restante é composto por
Este segmento, confecção de selas, apresenta dois problemas que
vendas de acessórios (cabeçadas, rédeas, barrigueiras e peitorais, en-
têm sido limitantes ao seu crescimento e que poderão vir a compro-
tre outros). Isto significa que o faturamento total com a produção e
meter o desempenho futuro. O primeiro é a dificuldade de obtenção
comercialização de selas e acessórios atinge por volta do montante
de mão-de-obra qualificada. Antigamente, crianças e adolescentes
de R$ 174.600.000,00 anuais.
aprendiam cedo, como auxiliares, o trabalho de seleiro. As altera-
Neste total está incluída a remuneração da mão-de-obra utilizada na pro- ções na legislação e a elevação da fiscalização em relação ao trabalho
dução destes equipamentos. Estima-se que 12.000 pessoas estão ocupa- infantil – atitudes justificáveis e corretas – implicaram no rompimento
das no setor, com rendimento médio mensal de dois salários mínimos. do processo de formação de novos seleiros. Quando o jovem atinge
Considerando os encargos sociais (e a informalidade existente no merca- idade para ingresso no mercado de trabalho, a atividade de selaria
do) a renda do trabalho corresponde a R$ 122.372.383,56 anuais, ou seja, não apresenta mais interesse e, para aqueles que eventualmente se
sintam atraídos, nem sempre têm acesso aos cursos de em menor escala, na produção de ferramentas (facas,
formação disponíveis. Outro fator limitante é a ausên- escovas, pinças, etc.) e ferragens.
cia de máquinas e equipamentos nacionais específicos
Deve-se ressaltar que há diferentes tipos de ferraduras,
para confecção de selas. O que se observa, em todo o
com características específicas para cada finalidade e
Brasil, são máquinas e equipamentos de outras finalida-
que variam no formato e no tipo de material utilizado
des, como indústria de calçados, adaptados para o uso
na confecção. Existe, atualmente, apenas uma empre-
em selaria.
sa fabricante de ferraduras com atuação em todo o ter-
6.4 – Casqueamento e Ferrageamento ritório nacional, que compete com diversos fabricantes
locais e regionais.
Em seu habitat natural, andando em busca de água e
comida, o cavalo desgasta o casco na mesma propor- Entre os ferradores habilitados (qualificados), estima-
ção em que ele cresce. O animal domesticado, confina- se que a produtividade média seja de 90 jogos de ferra-
do em pequenos pastos e baias, não causa o desgaste duras colocadas por mês. Embora em hípicas, nos gran-
necessário no casco. Adicionalmente, muitas vezes, o des centros, os pagamentos sejam significativamente
cavalo é forçado a caminhar em solos que provocam superiores, o valor médio cobrado para colocação de
quebras nos cascos. Daí a necessidade do casqueamen- um jogo de ferraduras é de R$ 70,0012. Assim, estima-se
to e ferrageamento e de profissionais especializados e que o rendimento bruto médio mensal de um ferrador
habilitados para essa atividade. seja de R$ 6.300,00. Deste total, cerca de 40% é repre-
sentado pelo custo das ferraduras e cravos. A durabili-
Na Inglaterra, por exemplo, a profissão é regulamenta-
dade de uma ferradura varia de 30 a 45 dias.
da e ela só pode ser exercida por ferradores diplomados
em escola, com curso específico para a atividade. No Calcula-se que este segmento (casqueamento e ferra- 12- Estes valores apresentam
Brasil, não existe o mesmo rigor. Embora o País já conte geamento) ocupe 2.100 pessoas, das quais, 90% são fer- grande amplitude, variando de
com cursos especializados, muitos ferradores não são radores. A atividade – incluindo ferradores, indústrias R$ 20,00 (mercado informal) até
valores superiores a R$ 150,00
específica e formalmente treinados para o exercício da e comércio de equipamentos e ferragens – deve movi-
(hípicas em grandes centros).
atividade. A falta de profissionalização também ocorre, mentar cerca de R$ 143.640.000,00, anualmente.
O SENAR tem diversas iniciativas voltadas para o cursos que ocorrem em todo o território nacional.
aprimoramento do capital humano no segmento do O curso de formação de trabalhador na Eqüideocul-
cavalo. No campo da formação profissional, possui tura busca a capacitação para “executar as tarefas
dois cursos: o primeiro, de trabalhador na eqüide- relativas à criação de eqüídeos de forma eficiente,
ocultura (criação de eqüídeos para a produção de visando à produção de animais para esporte, lazer,
animais para esporte, lazer, serviços e reprodução, serviços e reprodução, utilizando-se de técnicas
utilizando técnicas modernas e adequadas a cada modernas adequadas a cada caso” (Brito, 1996).
caso); e, o segundo, de trabalhador na doma racio- Para atender a este objetivo, a carga horária total
nal de eqüídeos (domesticação de eqüídeos para é de 320 horas que são ministradas pelas Adminis-
obter animais para esporte, lazer, serviços e repro- trações Regionais do SENAR em módulos que va-
dução). Estes cursos ocorrem em todo o território riam a carga horária e o conteúdo.
nacional, mas há uma concentração nos Estados
de Minas Gerais e São Paulo, onde são ministrados Essa atividade – formação profissional – fundamen-
pouco mais de 50% dos cursos do SENAR. Na linha tal para a melhoria da qualificação da mão-de-obra
de prestação de serviços, conta com outros três envolvida nas diversas atividades relacionadas ao
cursos relacionados ao Agronegócio Cavalo: seleiro cavalo, tem apresentado comportamento crescen-
(prestação de serviços na confecção e nos repa- te, tanto no número de cursos ministrados, quan-
ros de materiais de couro – sela, cabresto, rédea, to na carga horária e no número de participantes.
etc.), ferreiro (prestação de serviços na fabricação Em 2005, o SENAR ministrou 488 cursos para 7.415
e nos reparos de ferraduras em geral) e trabalha- pessoas, com carga horária total de 16.222 horas.
dor no turismo rural. Considerando um custo médio de R$ 2.000,00 por 14- O Projeto Diadorim, criado em 2004, des-
tina-se à formação de mão-de-obra para ma-
curso, os cursos profissionalizantes do SENAR movi-
Os cursos de formação profissional do SENAR con- nejo de eqüinos. Seu grande diferencial está
mentaram R$ 976 mil em 2005. no seu público alvo: jovens carentes entre 16
tam com cerca de 4.000 instrutores capacitados e 18 anos. Trata-se de uma iniciativa da As-
(treinados pelo SENAR). Na área de eqüideocultura, Destaque também deve ser dado à potencialidade sociação Brasileira dos Criadores de Cavalos
cerca de 300 instrutores cadastrados ministram os existente no País em termos de capacitação e in- Mangalarga (AACCMM).
retomado com a quantificação do faturamento relacionado aos Figura 18 – Brasil: itens possuídos na residência (cidade ou fazenda) de produ-
inúmeros eventos eqüestres. tores rurais, em percentual, safras 1998/99 e 2003/2004.
sociações de criadores, com circulação praticamente restrita aos Microcomputador NÃO LIGADO à Internet 14
25
segmento15 seja de R$ 10 milhões. Apesar do pequeno faturamen- 15- Não foram consideradas, neste cálculo, revistas que tratam
to, o setor apresenta boas perspectivas de crescimento. do cavalo marginalmente (como, por exemplo, Globo Rural)
nem revistas como a Pólo, do Helvetia, pois, apesar do nome,
De forma bastante gradual, têm surgido programas na televisão está mais associada às atividades profissionais, sociais e em-
relacionados ao tema cavalo. Estes novos programas têm sido presariais dos atletas do que ao cavalo propriamente dito.
Esta parte apresenta e discute os principais agen- 484 cavalos, que ocupam 4.500 ha do total de 14.936
tes que, diretamente, utilizam cavalo em suas ativi- ha da Coudelaria.
dades. Nesta parte do Complexo do Agronegócio Ca-
Além do efetivo de eqüinos alocados nas diversas or-
valo, enquadram-se, entre outros, os segmentos de
ganizações militares do Exército brasileiro, as Polícias
criação, treinamento, esportes e trabalho (militar,
Militares de diversas Unidades da Federação também
terapêutico, lida do gado bovino e outros).
possuem tropas. A partir das informações obtidas de 18
7.1 – O Cavalo Militar Unidades da Federação, foram realizadas estimativas
quanto as atividades relacionadas aos cavalos nas diver-
Para atender às diversas finalidades em que se uti- sas polícias estaduais. Tais estimativas apontam para um
liza o cavalo no âmbito militar, a tropa do exército total de cerca de 3.730 cavalos utilizados pelas Polícias
brasileiro é composta atualmente por 1.570 animais Militares, os quais, ao contrário dos cavalos do Exército
distribuídos em sete estados da Federação. As ativi- brasileiro, ficam em sua maior parte, estabulados.
dades ligadas ao cavalo no Exército Brasileiro ocu-
pam profissionais (empregos diretos) em diferentes Excetuando-se as despesas de pessoal envolvido, cada
níveis: veterinários, enfermeiros, tratadores, ferra- cavalo custa, em média, R$ 160 mensais em manu-
dores e cavaleiros, entre outros. tenção, sendo que, desse valor, cerca de 78% corres-
pondem a ração (incluindo-se sal, linhaça e feno), 10%
A Coudelaria de Rincão, localizada em São Borja (RS)
correspondem a medicamentos, 9% correspondem a
merece destaque especial por se tratar da principal
despesas com ferrageamento e 3% correspondem a
fonte de reposição de animais para o exército brasi-
despesas com implantação e manejo de capineira.
leiro, com uma média de 120 animais por ano. Criada 16- Esta estimativa foi realizada com
base nos orçamentos aprovados e infor-
em 1922, foi extinta em 1975. Recriada por meio da Considerando a remuneração (acrescida de encar-
mações obtidas nas entrevistas realiza-
Portaria Ministerial nº 034-Res, de 19 de agosto de gos sociais) dos diversos profissionais envolvidos e das com as unidades militares. Por soli-
1987, incorporou o plantel da extinta Coudelaria de os gastos de manutenção (previstos em orçamento), citação de alguns dos entrevistados, que
Campinas. Esta organização militar tem a finalida- estima-se que o agronegócio cavalo – considerando consideraram o tema estratégico e confi-
dencial, foi assumido o compromisso de
de de produzir eqüinos destinados à força terrestre apenas o segmento militar do Exército brasileiro e divulgação apenas do resultado consoli-
para emprego em cerimonial militar, patrulhamento, das Polícias Militares estaduais – movimenta cerca de dado, não discriminando os valores indi-
instrução e desporto. Atualmente, o seu efetivo é de R$ 176 milhões, anualmente16. viduais utilizados nessa consolidação.
Outro aspecto relevante levantado neste estudo trata do baixo custo 7.3 – A Equoterapia
de manutenção em relação aos animais utilizados na lida. O consumo
O cavalo é utilizado como recurso terapêutico no tratamento de por-
de produtos veterinários praticamente limita-se a 2 ou 3 vermifu-
tadores de dificuldades nas áreas cognitiva, psicomotora e sócio-afe-
gações por ano e poucos consomem ração (basicamente, durante o
tiva. Isto é feito através da equoterapia, que é definida pela Associa-
período da seca). O custo anual de manutenção destes animais é de
R$ 82,27, sendo o valor médio dos animais estimado em R$ 536,36. ção Nacional de Equoterapia (ANDE-BRASIL, 2005) como sendo:
Adicionalmente, estimou-se que o gasto médio mensal dos proprie- “... um método terapêutico e educacional que utiliza o cavalo dentro
tários em salário (direto e indireto) e encargos sociais com os peões de uma abordagem interdisciplinar, nas áreas de saúde, educação e
em R$ 560,00. equitação, buscando o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas
Partindo da estimativa de que, do efetivo total da tropa brasileira portadoras de deficiência e/ou com necessidades especiais”.
(5.787.250 animais, em 2004), cinco milhões de cavalos estão sendo A utilização da equoterapia tem sido crescente em todo o mundo,
utilizados na lida do gado ou no apoio as outras atividades agrope- destacando-se a Europa. Na Alemanha existem 925 centros especiali-
cuárias e que, em média, cada peão dedica um terço de seu tempo
zados; a França possui mais de 700; e a Bélgica mais de 300.
às atividades associadas ao cavalo, foram elaborados os cálculos de
valores anuais apresentados a seguir: No Brasil, a equoterapia foi oficializada somente em 1989, com o sur-
gimento da Associação Nacional de Equoterapia (ANDE). Como prática
a) gastos com manutenção dos animais de lida: R$ 411.350.000,00
terapêutica, o reconhecimento da equoterapia pelo Conselho Federal
b) gastos com reposição dos animais de lida: R$ 148.988.888,89 de Medicina ocorreu em 1997.
c) remuneração da mão-de-obra envolvida com o cavalo: De acordo com a ANDE, existem 231 centros de equoterapia no Brasil,
R$ 3.393.936.000,00 concentrados nas regiões Sul e Sudeste. Em menor intensidade, des-
taca-se o número de centros na região Centro-Oeste e no Estado da
Assim, a estimativa da contribuição total do segmento cavalo de lida
Bahia. Nos demais Estados, o número de centros ainda é pequeno.
para a movimentação econômica anual do Agronegócio Cavalo é de
aproximadamente R$ 3.954.275.000,00. Cada centro emprega, em média, seis funcionários. O trabalho é exe-
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
tempo, o paciente executa cerca de 2.000 deslocamentos18, rea-
lizando movimentos tridimensionais, que agem no sistema ner-
voso profundo, responsável pelas noções de equilíbrio, distância Fonte: ANDE-BRASIL (2005).
do SUS ter incorporado recentemente esta modalidade entre as te- 18- O cavalo transmite ao praticante um movimento tridimensio-
rapias cobertas pelo sistema, a iniciativa privada (planos de saúde) nal – para cima e para baixo; para frente e para trás; e de um
lado para outro. Esse movimento provoca um deslocamento na
já iniciou, através de convênio, o atendimento em um centro da
pelve do cavaleiro, exigindo ajustes tônicos, do cavaleiro, para
região Norte. adaptar seu equilíbrio a cada movimento (Haddad et al., 2005).
Estima-se que este segmento – a equoterapia – empregue 2.500 pes- 19- Estimativa realizada a partir do número de profissionais
soas19. A movimentação econômica decorrente dessa atividade atinge capacitados nos cursos básicos de equoterapia realizados pela
ANDE-BRASIL.
cerca de R$ 44 milhões de renda, agregada ao agronegócio cavalo.
7.4 – Esportes O hipismo foi introduzido nos Jogos Olímpicos em 1900 (Paris) e a
primeira participação brasileira ocorreu nos Jogos de 1948 (Londres).
O esporte eqüestre está difundido no Brasil desde longa data. O pri-
Sete anos antes, em 19 de dezembro de 1941, surgiu a Confederação
meiro registro oficial de competições envolvendo cavalos remete a
Brasileira de Hipismo (CBH), órgão máximo do esporte nacional, se-
1641, quando, por ordem de Maurício de Nassau, foi realizado o Tor-
diada no Rio de Janeiro (RJ). Ela foi criada pelas Federações Paulista
neio de Cavalaria, na Cidade Mauricea (Pernambuco). A competição
de Hipismo (São Paulo – SP), Hípica Metropolitana (Rio de Janeiro
envolveu participantes de diversas nacionalidades – portugueses, bra-
sileiros, holandeses, franceses e alemães – e foi vencida por brasilei- – RJ) e Hípica Fluminense (Niterói – RJ). Atualmente, possui 19 fede-
ros e portugueses. rações filiadas, além da Comissão de Desportos do Exército. A CBH é
filiada ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e à Fédération Equestre
Como atividade organizada, o esporte ganhou evidência a partir do Internationale (FEI).
início do século XIX, com a inclusão da equitação, em 1810, entre as
disciplinas da Academia Real Militar (Rio de Janeiro) e as provas de Estima-se que cerca de 50 mil atletas praticam esportes hípicos,
corrida. No início do século seguinte, surgem os primeiros clubes hípi- nas suas diversas modalidades. No entanto, apenas aproximada-
cos como, por exemplo, o Club Esportivo de Equitação (hoje, Centro mente nove mil são filiados às Federações de Hipismo. O esporte
Hípico do Exército), no Rio de Janeiro, e a Sociedade Hípica Paulista, hípico no Brasil abrange diversas modalidades, conforme mostrado
em São Paulo, ambos em 1911. no Quadro 2.
Modalidade Prática
Hipismo Rural Demonstração em espaço fechado: baliza, tambor, salto de obstáculos e recuos
Adestramento Hipismo clássico: passo, trote ou galope
Salto Percurso com oito a doze obstáculos, com tempo de um ou dois minutos
Concurso Completo Três dias de competição, com provas de adestramento; enduro de curta distância, steeple-
de Equitação - CCE chase21 cross-country e salto.
Volteio Ginástica sobre o cavalo em movimento
Apesar do grande número de atletas que não participam de competi- eventos foi de 315% nos últimos cinco anos, ou seja, um aumento
ções oficiais, o Brasil ocupa posição de destaque entre os 46 filiados médio de 15,3% a.a. no período de 1999 a 2004.
da FEI que promovem competições internacionais. Embora com par-
O Brasil conta com cerca de 200 clubes e escolas de equitação onde
ticipação bem inferior em relação aos três principais países, o Brasil
estes esportes são praticados. Além disso, centenas de eventos são
ocupa a sétima posição entre os promotores de eventos internacio-
promovidos por associações de criadores e empresas de turismo
nais (Figura 20). Em 2004, ocorreram 1.533 competições internacio-
eqüestre (ver comentários em capítulo específico neste estudo).
nais organizadas por filados à FEI.
Especificamente em relação à atividade esportiva do Rodeio, esta
Figura 20 – Número de eventos internacionais organizados por federações
é praticada no Brasil em cerca de 100 estádios com arquibancada
filiadas à FEI, 2004.
em concreto armado, iluminação e capacidade entre 4 mil e 35 mil
pessoas. Entretanto, nestes eventos, o cavalo ocupa uma posição se-
Outros países – 810 (52,8%) Austrália – 68 (4,4%)
cundária. As principais atrações para o público são espetáculos de
França – 193 (12,6%) Bélgica – 68 (4,4%)
artistas, em geral cantores de música sertaneja e popular e monta-
Estados Unidos – 151 (9,8%) Grã-Bretanha – 66 (4,3%)
Alemanha – 134 (8,7%)
rias em touros. Assim, mesmo sabendo-se da grandiosidade e da com-
Brasil – 43 (2,8%)
plexidade na organização de alguns desses eventos, a valoração da
Fonte: FEI (2005). contribuição do cavalo na movimentação econômica dessa atividade
tem sido uma tarefa de elevado nível de incerteza, pelo que optou-se
por não incluí-la neste estudo.
Deve-se ressaltar que o número de competições hípicas tem crescido
expressivamente no mundo todo. Nos últimos dez anos, a quantidade Em relação às atividades esportivas do Pólo Eqüestre e da Vaquejada,
de eventos internacionais organizados por federações filiadas à FEI devido suas características, dimensão e grau de organização serão
aumentou, em média, 12,4% a.a. (223% no período de 1994 a 2004). comentadas em separado a seguir.
Esta tendência tem ocorrido nas diversas modalidades, com exceção
Finalmente, considerando apenas o segmento representado por atle-
do volteio, que tem se mantido estável.
tas filiados às federações de hipismo – os demais esportistas serão
As diversas modalidades de esportes eqüestres também têm apre- discutidos no capítulo referente à escolas de equitação – este merca-
sentado expressivo crescimento no Brasil. Tomando como exemplo do movimenta cerca de R$ 57.600.000,00 anuais, empregando apro-
a Federação Paulista de Hipismo – FPH, o crescimento do número de ximadamente 2.000 pessoas.
ra turística especializada em cavalgadas. Até então aluno pode – desde a infância – ter aulas nas diversas
o Brasil, ao contrário de Argentina30, Chile e Uruguai, modalidades esportivas, conforme apresentadas an-
não constava nos roteiros eqüestres das agências in- teriormente. O custo mensal das aulas, considerando
ternacionais. A demanda do mercado internacional é duas aulas semanais de 45 minutos cada, varia de R$
por roteiros de cinco dias de cavalgada, em média. 100,00 a R$ 400,00. O valor da aula inclui todos os
custos que o aluno incorre, exceto o vestuário (equi-
Deve-se destacar o trabalho que vem sendo desen-
pamento). Este equipamento completo custa entre
volvido para a adequada exploração do grande po-
R$ 150,00 e R$ 300,00, conforme a qualidade e o
tencial do Turismo Rural. A atividade de cavalgadas
local de compra.
deverá ser regulamentada em 2006. Entre as normas
previstas, deverá ser dada atenção especial à segu- Neste tópico, o Município de Volta Redonda (RJ)
rança. Outra importante iniciativa é o ordenamento merece destaque. Desde 2003, encontra-se em fun-
e estruturação do turismo eqüestre no Brasil promo- cionamento nesta cidade uma escola municipal de
vido pelo Bureau de Cavalgadas. hipismo. Com uma procura por vagas superior a mil
alunos, a escola está estruturada para atender, gra-
Estima-se que atualmente existem 100 mil usuários
tuitamente, mais de 100 alunos com recursos prove-
das atividades de cavalgadas, utilizando cerca 500
nientes de uma parceria com um grupo empresarial.
empreendimentos, a maior parte sem a estrutura
Os alunos competem em provas oficiais e têm obtido
adequada. Os turistas rurais em suas atividades re-
lacionadas ao cavalo proporcionam R$ 21 milhões bom desempenho. Esta experiência, em que o cava-
de movimentação econômica e 1.500 postos de tra- lo é utilizado com sucesso formando e recuperando
balho no segmento. cidadãos, poderia ser replicada em diversos outros
municípios. Potencialmente, isso poderia gerar ren-
7.6 – Escolas de Equitação da e emprego para o Agronegócio Cavalo e produzir
excepcionais resultados para a sociedade brasileira.
As escolas de equitação apresentam grande dis-
persão, tanto geográfica quanto em tamanho. Os As escolas de equitação empregam um número con-
principais clubes hípicos possuem escolas em suas siderável de pessoas. Pode-se raciocinar com as se- 30. O Ministério do Turismo da Argentina, por
instalações. Mas existem também escolas menores guintes relações: três funcionários fixos (gerente, exemplo, elaborou um folheto indicando 61 pon-
distribuídas por todo o território brasileiro. Nelas, o guarda, picador) e mais outros três funcionários tos de cavalgada, separados por regiões.
A Figura 23 apresenta a distribuição do movimento geral de apos- Considerando as principais atividades relacionadas com os jo-
tas nos principais jockeys do País, no ano de 2004, que totalizou R$ ckeys, calcula-se que esse segmento movimente em torno de R$
303.009.515,50. Os jockeys de São Paulo e Rio de Janeiro têm grande 359.500.000,00 anualmente.
destaque, participando com 96,6% do movimento total.
Figura 23 – Brasil: distribuição do movimento geral de apostas entre os principais Figura 24 – Participação percentual das diferentes origens no total das apostas
hipódromos, em R$ e percentagem, ano hípico 2003/2004 da Gávea, ano hípico 2003/2004
*Outros: dentre os quais destacam-se Campos, Goiás, Pernambuco e São Vicente. Fonte: CEPEA (2006)
As diversas associações de criadores realizam ao menos um encontro mento de baias e cama para os cavalos fatura R$ 4,2 milhões por ano
anual. Nestes encontros ocorrem a combinação de atividades como, por durante os eventos. Já o segmento de fotografia e filmagens adiciona
exemplo, competição, confraternização, operações comerciais e divulga- um produto de R$ 1,2 milhão, anualmente.
ção da raça. São eventos bastante ecléticos, de diversos tamanhos. Hou-
ve, no último ano, desde exposição com custo inferior a R$ 1.000,00 até Figura 26 – Custos médios de exposições e eventos relacionados às associações
eventos que totalizaram centenas de milhares de reais, alguns atingindo de criadores, em percentual.
valores próximos a R$ 1 milhão. Além dos eventos específicos de cada Outros 5,90%
raça, são também promovidos encontros que reúnem animais de diversas Camisas/bonés 0,30%
raças criadas no Brasil, com a participação de milhares de pessoas. Veterinário 1,50%
Juiz / inspetores 2,00%
Anualmente, cerca de 400 exposições e eventos são organizados com Limpeza 2,90%
o apoio das diversas associações de criadores, movimentando um mon- Foto/Imagem 3,50%
tante estimado33 em R$ 35.000.000,00. Somando-se a este movimento Impressos 3,50%
Segurança 4,10%
o valor apurado em leilões de cavalos34, atinge-se a movimentação
Água e Luz 5,50%
total de R$ 146.100.000,00. Em geral, cada raça realiza um evento 7,10%
Aluguel do Parque
nacional, sendo que as associações de criadores com maior número de Propaganda 7,70%
associados realizam também diversos eventos de menor porte (alguns Alimentação/hotel/transp. 8,30%
com características de selecionarem os participantes para o evento Troféus 9,50%
nacional). O principal custo de um evento está na sua montagem e Baias/cama/feno 16,20%
administração. (Figura 26) Montagem/Administração 21,80%
A maior concentração desses eventos está nas regiões Sul e Sudeste, mas 0,00% 5,00% 10,00% 15,00% 20,00% 25,00%
outras regiões, mais recentemente, têm sido sede de importantes eventos. Fonte: CEPEA (2006)
Este é o caso da região Nordeste, que, com o sucesso da vaquejada, passou
33 - Estimativa realizada a partir de questionário respondido
a sediar exposições e provas que antes só ocorriam na região Sudeste.
pela maior parte das associações de criadores de cavalos, de-
talhando os eventos promovidos no âmbito de cada entidade.
Os dados coletados permitem dimensionar alguns mercados relevantes
para o Agronegócio Cavalo. O de troféus, por exemplo, fatura cerca 34 - R$ 111,4 milhões, segundo informações da DBO Editores
de R$ 3,3 milhões dentro do Complexo do Agronegócio Cavalo. O seg- Associados.
Tipo Finalidade
Assim, a estimativa da contribuição total des-
Principal atividade é a criação, mas pode realizar outras atividades,
te segmento para o valor bruto do Agronegó-
Haras cio Cavalo é representado pela soma dos va-
como de centro de treinamento.
Principal atividade é a manutenção de animais treinamento, destinados lores obtidos nos itens a, b e d, ou seja: R$
Centro Hípico ou Centro Eqüestre
às diversas modalidades esportivas.
São cocheiras de aluguel. Em geral os cavalos permanecem confinados
1.654.400.000,00.
Pensionato
(não possuem piquetes para soltar os cavalos)
Manége Similar a um centro hípico, porém menor.
Local de treinamento e/ou criação, principalmente de cavalos das 35 - R$ 100,00/mês/animal.
Rancho
modalidades western. 36 - Estimativa conservadora.
Local onde um profissional da modalidade prepara cavalos de
Centro de Treinamento
propriedade de seus clientes e seus próprios animais. Fonte: Marins & Leschonski (2005).
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
animais vivos está relacionada ao melhoramento genético dos plan-
téis, verifica-se também saudável diversificação dos destinos desses a) Exportações b) Importações
animais importados. Estados que tradicionalmente não eram desti-
nos das importações brasileiras – Espírito Santo, Goiás e Mato Grosso O segmento de importação e exportação de cavalos vivos movimenta
– surgem com volumes significativos de importações em 2005. cerca de R$ 9 milhões anualmente.
Figura 29 – Participação percentual dos maiores países exportadores de carne de Figura 30 – Participação percentual dos maiores países exportadores mundiais
cavalo no total mundial, em 2004. líquidos – em US$ – de carne de cavalo, em 2004.
US$ milhões
17,9 20,6 19,2 19,5
cido anualmente. Nos últimos 15 anos, entre 1990 e 2005, as ex- 18,3
20 15,8 17,5
portações setuplicaram, passando de menos de US$ 5 milhões para 13,9
valores próximos a US$ 34 milhões, com crescimento médio anual 15
8,8
de 13,8%. A Figura 32 apresenta a evolução das exportações anuais 10 5,7 4,9
brasileiras de carne eqüina, desde 1989. Em termos estacionais, 5
as exportações de carne de cavalo apresentam estabilidade, sem 0
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
oscilações significativas ao longo do ano.
Figura 31 – Participação percentual dos países importadores no montante total, O meio de transporte mais utilizado na exportação de carne de ca-
em US$, comercializado de carne de cavalo no mundo, em 2004. valo é o marítimo que responde por 86% do valor das exportações. A
carne exportada por via marítima, é a congelada, sendo que a carne
França - 25% Suíça - 7,53% resfriada, de maior valor unitário (US$/t), é transportada via aérea.
Bélgica - 21,47% Rússia - 6,44%
Itália - 17,48% Japão - 6,20%
Outros - 9,22% Holanda - 6,01%
Entre os destinos das exportações brasileiras de carne de cavalo trabalhadores nos frigoríficos é de um funcionário para cada animal
destacam-se Bélgica e Holanda (juntos, respondem por 50,5% das abatido ao dia. Ou seja, para um abate de 100 animais ao dia, o
exportações), além de Itália, Japão e França (Figura 33). frigorífico deve ter em torno de 100 funcionários. Além destes, a
indústria gera também milhares de empregos indiretos, como tro-
O Brasil tem aparecido como um dos principais exportadores mun-
peiros, motoristas, empregos em curtumes, entre outros.
diais e tem apresentado melhoria em diversos indicadores de com-
petitividade, tais como: elevação da sua participação no mercado Segundo informações do Sistema de Inspeção Federal (SIF), são aba-
mundial e vantagens comparativas com relação aos países do Merco- tidos cerca de 200.000 eqüídeos anualmente. Considerando que,
sul. Entretanto, as vendas brasileiras estão concentradas em países para atingir essa quantidade de abate, os frigoríficos estejam ope-
também exportadores, como Holanda, Bélgica e Itália. Assim, per- rando com abate de 1.000 animais por dia, estima-se que estejam
cebe-se que há espaço para o crescimento das exportações brasilei- empregadas 1.000 pessoas nesse segmento.
ras de carne de cavalo. Porém, para tanto, é necessário continuar
Considerando o volume exportado em 2005 (US$ 34.109.303) e a
elevando a competitividade, buscando maior aproximação aos índi-
taxa de câmbio no encerramento de 2005 (R$ 2,34/US$), estima-se
ces atingidos pelos demais países do Mercosul, assim como explorar
que o segmento carne no Complexo do Agronegócio Cavalo movi-
melhor os principais mercados importadores, como, por exemplo, a
mente cerca de R$ 80 milhões por ano.
Rússia (através da adequação sanitária).
Em torno da atividade do segmento carne deve-se agregar a análi-
A indústria de carne de cavalo é responsável pela criação de milha-
se de um outro segmento integrante do Complexo, responsável pelo
res de empregos diretos e indiretos no País. A demanda direta de
curtimento das peles dos animais abatidos nos frigoríficos. A pele de
cavalo, salgada nos frigoríficos e processada no curtume (no Brasil,
Figura 33 – Brasil: principais destinos das exportações de carne de cavalo no ano esta atividade está limitada em apenas um curtume no Rio Grande do
de 2005, em percentagem do valor total das exportações. Sul), é destinada para fábricas de calçados femininos (ela é muito fina
e frágil para os masculinos), bolsas e artefatos, além de exportação.
Bélgica - 29,1% Finlândia - 1,1%
A qualidade do couro de cavalo é inferior ao do bovino. Ao contrário
Holanda - 21,4% Cazaquistão - 0,4%
do boi, o cavalo é abatido velho. Isso eleva a probabilidade de o
Itália - 18,3% Rússia - 0,4%
animal ter enfrentado doenças e problemas que prejudicam a qua-
Japão - 15% Uzbequistão - 0,2%
lidade de seu couro. Como conseqüência, o seu preço é inferior ao
França - 12,5% Espanha - 0,2%
couro bovino. Cerca de 160 pessoas trabalham no setor, que fatura
Austrália - 1,2% Suíça - 0%
Fonte: MDIC (2006) R$ 15 milhões por ano.
O mercado brasileiro de seguro de cavalos está concentrado em duas Os valores dos animais segurados variam de cerca de R$ 5.000,00
seguradoras que operam com um número relativamente baixo de até centenas de milhares de reais. O valor médio é estimado em R$
animais. Estima-se que apenas cinco mil cavalos são segurados. Em 28.280,00. Observa-se que a distribuição do valor dos animais segu-
suas diversas modalidades, os seguros realizados garantem a cober- rados é assimétrica, com aproximadamente três quartos dos animais
tura básica, que inclui vida e transporte, podendo ser contratadas apresentando valores inferiores a R$ 30.000,00 (que é muito próxi-
coberturas adicionais, dentre as quais tem-se as opções: mo do valor médio citado acima), conforme Figura 34.
Quanto ao sexo dos animais segurados, 58% são fêmeas, 39% são doras internacionais (off-shore). Calcula-se que este mercado tenha
machos e 5% são animais castrados. Quanto à idade a maioria dos potencial para atingir um volume de prêmios da ordem de R$ 5 mi-
animais segurados é jovem, 48% têm idade de até 4 anos e 33% têm lhões, em médio prazo. Entre os desafios de crescimento que este
idade entre 5 e 10 anos, embora também se encontrem animais se- mercado enfrenta, destaca-se o desconhecimento – pelos criadores
gurados com idade superior a 20 anos. e proprietários – das alternativas de seguro existentes.
Embora seja possível encontrar animais segurados nos diversas Esta- O cálculo do número de trabalhadores envolvidos nesta atividade é
dos da União e no Distrito Federal, cerca de dois terços dos cavalos complicado na medida em que os empregados, em geral, dividem
com seguro localizam-se em três Estados: São Paulo, Rio Grande do seu tempo entre seguros de eqüinos e bovinos. Assim, estima-se que
Sul e Rio de Janeiro. a atividade demanda o equivalente a 25 postos de emprego, ocupa-
dos por profissionais ligados ao seguro de cavalos.
Apesar de o prêmio médio anual ser de aproximadamente 4% do
valor do animal segurado, o desembolso médio – por apólice – é de 9.2 – Instituições Financeiras
apenas R$ 500,00. Ou seja, apenas 1,8% do preço médio dos cavalos
Para muitos dos atores do Complexo do Agronegócio Cavalo a ausência
segurados. Isto ocorre porque muitas apólices são emitidas por pra-
de crédito para a eqüinocultura é vista como um ponto fraco do setor.
zos inferiores a um ano.
Nas entrevistas conduzidas com agentes do mercado financeiro, veri-
No total, estima-se que esta modalidade de seguro movimente, anu- ficou-se que a queixa procede e, em grande parte, está relacionada
almente, cerca de R$ 2,5 milhões em prêmios de seguro. No entan- à dificuldade de acesso às linhas de crédito decorrente de problemas
to, uma parcela significativa deste volume é realizada por segura- de informação, em que o criador é prejudicado em vários aspectos.
A análise do ambiente de negócios no âmbito do Complexo do Agro- menor atualização e reciclagem da parte técnica – veterinária, zoo-
negócio Cavalo no Brasil revela alguns aspectos que demandam ini- técnica e administrativa.
ciativas principalmente no campo institucional e das políticas públi-
Felizmente, neste aspecto, o setor está melhorando. Essa alte-
cas para o setor, onde se devem destacar: a ausência de iniciativas
ração positiva se deve, em parte, à reação à crise dos anos 90 e,
de marketing envolvendo o setor, especificamente para criação e
em parte, ao resultado do movimento crescente de centros de for-
esportes; a dificuldade de acesso ao crédito; e a falta de conheci- mação profissional – para todos níveis de trabalhadores, dos mais
mento de legislação. básicos até a pós-graduação.
Foi constatado como característica do setor o fato de muitos con- As interferências do Governo no setor têm sido pontuais. Em alguns
tratos firmados serem feitos informalmente, prevalecendo a “pa- momentos foram decisivas, como quando evitou a extinção do cavalo
lavra” das partes envolvidas. Este grau de informalidade existente pantaneiro. Na década de 70 do século passado, dois fatores – cruza-
nas operações prejudica o crescimento do agronegócio. Deve-se mento com muitas outras raças mestiças e disseminação da anemia
destacar que a informalidade é elevada no Brasil, cerca de 40% do infecciosa eqüina (AIE) – reduziu drasticamente o plantel do cavalo
PIB, segundo estudos mais recentes. Esta informalidade, genera- pantaneiro. Em 1972, o Ministério da Agricultura implantou o Projeto
lizada na economia, tem impacto nas operações que envolvem o Cavalo Pantaneiro, criando um núcleo de criação, preservação e fo-
Agronegócio Cavalo. A questão mais importante é a falta de trans- mento para a raça. No entanto, observa-se que a presença do Estado
parência em muitas operações devido à informalidade. Em muitos poderia ser mais incisiva em muitos momentos.
casos, falta ao potencial patrocinador ou analista de crédito uma
A defesa animal é um dos pontos em que se observa um preo-
visão das dimensões e resultados do Agronegócio Cavalo. A infor-
cupante afastamento do Estado. A preocupação, neste sentido, é
malidade de algumas atividades não permite a visão clara da real
agravada com o baixo volume de recursos contemplados pelo Orça-
(positiva) situação.
mento da União para as atividades sanitárias na pecuária nacional.
Da mesma forma, o amadorismo em muitas atividades decorre, em O volume anual de recursos orçados para defesa animal têm sido
parte, do fato de a criação não ser a principal fonte de renda de em torno de R$ 100 milhões (Figura 35). Isto para todas as espécies
muitos empresários e profissionais liberais atuantes no Complexo de animais e, o que é pior, sistematicamente apenas uma parcela
do Agronegócio Cavalo. Este aspecto, equivocadamente, resulta em deste orçamento é executada.
Figura 35 – Brasil: Evolução das despesas autorizadas para defesa animal pelo Orçamento
Geral da União, período de 1995 a 2005, em reais de 2005 (deflacionado pelo IGP-DI).
200.000.000
150.000.000
Reais (R$)
100.000.000
50.000.000
0
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Fonte: Elaborado a partir de valores nominais apresentados no site www.pt.org.br/
assessor/ comparativoAgropecuario1995e1006.doc.
As atividades envolvendo a produção de produtos e serviços rela- atividades eqüestres; desempenho insuficiente das atividades relacio-
cionados com o cavalo no Brasil configuram um verdadeiro Complexo nadas a defesa pecuária; falta de instrumentos de apoio à populariza-
do Agronegócio, com dimensão social e econômica das mais expressi- ção do uso da equoterapia; insuficiência orçamentária para um melhor
vas. As estimativas realizadas apontam para um valor de movimenta- dimensionamento do uso do cavalo militar; relativa desestruturação
ção econômica no complexo superior a R$ 7,3 bilhões anuais. Somente dos mercados de produtos veterinários e de rações, entre outros.
nas atividades analisadas, foram estimadas cerca de 640.000 pessoas
O apoio do Governo e instituições como a CNA, recentemente, tem se
ocupadas, número que poderia atingir a casa de 3,2 milhões de pessoas
voltado para a solução de problemas antigos, como a crise do turfe,
se forem incluídos aqueles empregos considerados indiretos.
buscando alternativas para o desenvolvimento sustentado da eqüi-
Após uma bolha de crescimento artificial nos anos 80 e a crise subse- nocultura. Neste contexto, os resultados propiciados pelo presente
qüente, nos anos 90, o setor encontra-se em nova fase de crescimen- trabalho certamente serão muito úteis na busca do melhor entendi-
to, com maior maturidade. O nível de profissionalismo na atividade mento da indústria eqüestre. Espera-se que, a partir dos resultados
vem se elevando, contribuindo para a melhoria dos principais indica- obtidos, novas políticas – de crédito, sociais, de fomento, entre outras
dores de desempenho em geral e para a melhoria da qualidade gené- – venham a ser formuladas para apoio e consolidação do Complexo do
tica entre as principais raças de nosso plantel. Novos e bons cursos Agronegócio Cavalo.
têm sido ofertados e demandados em todos os níveis profissionais. As
associações de criadores, de um modo geral, encontram-se em rees- Outras iniciativas devem ser mantidas, como a busca por maior trans-
truturação na busca de maior eficiência e transparência. parência, divulgação e profissionalização dos diversos segmentos. Os
ótimos resultados sociais, como a equoterapia brasileira e a forte
A análise empreendida de cada um dos segmentos do Agronegócio Ca- geração de empregos devem ser destacadas para remover a idéia,
valo permitiu a identificação de vários gargalos ou pontos considera- histórica, de que as atividades relacionadas ao cavalo limitam-se à
dos críticos, demandando iniciativas para a sua superação com vistas
elite econômica do País. A divulgação de casos de sucesso e de im-
ao melhor desempenho da atividade. Dentre esses pontos podem ser
pacto econômico e social – como a experiência da escola municipal
destacados: falta de acesso a linhas de crédito; custo elevado e en-
de hipismo em Volta Redonda (RJ) – deve ser a mais ampla possível,
traves operacionais nas exportações e importações de animais vivos;
contribuindo para mostrar a importância do Agronegócio Cavalo.
necessidade de revitalização dos jockeys clubs e do turfe; ausência
ou inadequação da regulamentação envolvendo algumas atividades Novos estudos, aprofundando e estendendo os resultados deste estu-
eqüestres; insuficiência de mão-de-obra qualificada em determinadas do pioneiro são recomendados.