Testes Neuropsicológicos Aplicados À Demência de Alzheimer: Velhas E Novas Perspectivas de Aplicação
Testes Neuropsicológicos Aplicados À Demência de Alzheimer: Velhas E Novas Perspectivas de Aplicação
Testes Neuropsicológicos Aplicados À Demência de Alzheimer: Velhas E Novas Perspectivas de Aplicação
Brasília – DF
Julho de 2009
DANIEL PORTELA DE DEUS ALBANO
Professor - orientador:
Alexandre Russo.
__________________________________________________________
Prof. Alexandre de Souza Russo, Mestre em Psicologia
__________________________________________________________
Prof. Sérgio Jacques Jablonski Júnior, Doutor em Psicologia
_________________________________________________________
Prof. Sérgio Henrique de Souza Alves, Doutor em Psicologia
____________________
Agradecimentos
Agradeço aos meus pais, Alfredo Júnior e Glisse, que mesmo achando que a vida de
servidão pública é o caminho mais seguro, acreditaram na minha formação e apostam no meu
sucesso futuro. Aos meus irmãos, Diego e Anna Luisa, que propiciaram momentos de afetos e
brigas dentro de casa, mas que, mesmo assim, conseguiram me impulsionar nos estudos.
Aos meus avós por parte de pai, Alfredo e Ismênia, por sempre darem uma palavra
amiga em tempos de crise e sempre saberem como lidar com situações extremas. Muito
obrigado mesmo! Por parte de mãe, João de Deus e Maria das Graças, mesmo longe, estão
sempre tão perto em minhas memórias.
À minha musa inspiradora, Amanda, meu ideal de amor que sempre procurei em
alguém. Entrou na minha vida num momento crítico e fez um furacão de sentimentos. Devo
muito do que sou a você e muitos dos meus sorrisos também. Te amo.
Tenho que agradecer aos meus tios, Herbert e Ana Heloísa, que também são da área da
saúde e sempre me estimularam a continuar em frente. Aos meus primos, Marina, Gabriel e
Felipe, que sempre me questionavam sobre assuntos interessantes e divertidos.
Aos meus sogros, Eduardo e Estrela, que me acolheram como um filho e me tratam
como um membro da família. Nunca me senti tão bem na casa de outras pessoas como na de
vocês. Devo também ao André, Fabrício e Daniel, meus grandes cunhados que me divertiram
neste meio tempo.
Aos grandes amigos que se foram e aos grandes que continuam. Vocês não cabem em
uma folha, nem duas ou três... Tenho que citar pelo menos três: Camila, Flávia e Antônio. As
duas primeiras sempre dando um suporte técnico aos meus dilemas e vice-versa e o grande
Tonhão, um irmão praticamente. Devo a ele todas as risadas de adolescente que demos
embaixo do bloco.
A Laura Cibulska merece um parágrafo só dela. As aulas não teriam graça sem você, a
faculdade não teria graça sem você. Obrigado por entrar na minha vida e acrescentar, mesmo
discordando na maioria das vezes. Obrigado também pela ajuda na monografia. Se ela está
bonita é por sua causa.
O Felipe também merece, afinal, são seis anos de convivência e convergência. Amigo
melhor não há, parceiro de risadas e rival futebolístico (são paulino doente). Foi um orgulho
ter estudado esse tanto de tempo contigo, “gato”.
Aos outros membros do “Movimento Matutino”: Rachel, Camila Godinho, Camila
Barros e Juliana. Saídas furadas e gestos estranhos marcam essas pessoas. Mas, um dia, a
gente há de se reunir sem falta.
Ao Danilo por ter dado a oportunidade de fazer um estágio de pesquisa no IBNeuro
para que pudéssemos colher os resultados desta monografia. Espero ter dado algum retorno...
Ao meu professor-orientador Alexandre Russo, palmeirense sofredor, pelo incentivo,
presteza e simpatia no auxílio de montagem e discussões sobre o andamento desta
monografia. Garanto que melhor orientador de estágio/monografia não há.
Aos professores que ajudaram na minha formação, não só acadêmica, como também
cidadã: Fernando González-Rey, Sandra Báccara, Ana Maria Beier, entre outros. Mostraram
que a vida é mais do que passa na nossa frente. A vida é muito mais.
A todos que me toleraram ao longo dos anos, a você, a mim. Por tudo, obrigado.
v
Iván Izquierdo
vi
Sumário
Introdução ................................................................................................................................. 1
Desenvolvimento ..................................................................................................................... 13
Metodologia ......................................................................................................................... 18
Resultados ........................................................................................................................... 18
Conclusão ................................................................................................................................ 29
Anexos......................................................................................................................................41
vii
Resumo
quantidade de vida, mas também começa a fazer parte das concepções do senso comum. Há
algum tempo, é observado em países desenvolvidos, mas agora também faz parte da realidade
brasileira.
Distrito Federal, esta expectativa sobe para consideráveis 75,11 anos. Entretanto, o
envelhecimento não é um fato recente. Começou a acontecer na década de 60, quando as taxas
neste período ficou entre os 33,3 e 37,6 anos para homens e 31,9 e 39,4 anos para mulheres. A
população era extremamente jovem; os membros com menos de 15 anos compunham cerca de
42% a 46% da população, enquanto o total de idosos era de 2,5% (Chaimowicz, 1997).
estenderia até a década de 70. Na década de 40, a taxa de mortalidade caiu 13%. A
expectativa de vida aumentou 4 anos para homens e 6,8 anos para mulheres, e chegou a
fecundidade, a população saltou de 41 milhões para 93 milhões no período entre 1940 e 1970,
crescendo em média 2,8% ao ano. A população, porém, continuou jovem, pois a redução da
fecundidade caiu de 5,8 para 2,7 por mulher, entre 1970 e 1991. Um decréscimo de mais de
50%. Como conseqüência, a porção relativa aos jovens caiu de 41,9% para 34,7% e a
proporção de idosos subiu de 3,1% para 4,8%, no mesmo período (Fundação IBGE, 1994,
aos 65 anos era de 25%, em 1990 já superava os 78% entre as mulheres e 65% entre os
homens. Nesta época, a expectativa de vida ao nascer já ultrapassava os 65 anos (Santos et al.,
Atualmente, o Brasil ocupa a sexta posição no ranking de países com grande parte de
idosos (Schoueri Júnior et. al, 2000). Em 2000, foram registrados quase 14 milhões de idosos
no país, o que corresponde a 8,6% da população total. Há ainda uma projeção de mais de 31
milhões até o ano de 2025 (Corazza, 2001). Além disso, envelhecemos rapidamente. A
terceira idade cresce em torno de 260 mil novos idosos por ano (Caixeta, 2007).
próximo, já anunciado aumento dos casos de demência, tais como: Doença de Alzheimer,
demência tem origem do grego dementia, composto pela partícula primitiva “de” (falta,
ausência) e mentia, que deriva de mens (mente). É definida pelo dicionário Aurélio como
caráter crônico e geralmente progressivo, que causa restrições graduais nas atividades diárias
3
(higiene, cuidados da casa, família, etc.) e que não pode ser explicado por modificações da
Existem mais de 70 tipos de demências, algumas com etiologias bem definidas, outras nem
Entretanto, o conceito de Demência não foi este sempre. Sua compreensão vem
ciência. Nos tempos do Império Romano, demência queria dizer “sem mente”, ou seja, um
estado mental no qual o indivíduo estaria ausente de sua própria razão. Antes do século
No Egito antigo, por meio do papiro de Eber, datado de 1500 a.C., foi relatado o
primeiro caso de deterioração senil. Importante destacar que os egípcios situavam a mente nas
vísceras (coração e fígado, por exemplo). Os gregos consideravam a memória como algo
sobrenatural, atribuindo à deusa Mnemosyne o poder de capacitar poetas e adivinhos para que
todo estado prévio, prejuízo de julgamento, atos repetidos de extravagância, tudo isto numa
início do século XX. Nesta época, vários grupos de pesquisa surgiram, entre eles o chefiado
pelo alemão Emil Kraepelin (1856-1926), com quem trabalharam Alois Alzheimer (1864-
1915), Arnold Pick (1851-1924) e Franz Nissl (1860-1919). Desta equipe, surgiram conceitos
de vários anos”.
A Demência se coloca entre uma das maiores causas de morbidade entre os idosos e
sua prevalência está entre 2% e 25% dos idosos com 65 anos ou mais (Fratiglioni et al.,
afetando pelo menos 5% dos indivíduos com mais de 65 anos e 20% dos idosos com mais de
A DA, foco deste trabalho, foi descoberta pelo neurocirurgião Alois Alzheimer, em
1906, ao fazer a necropsia de uma mulher de 55 anos, que outros pesquisadores consideravam
ter morrido por uma doença mental rara. Ele descreveu, tanto do ponto de vista clínico como
como uma patologia neurológica não conhecida, parecida com demência (Botelho, 2008).
Algum tempo depois, ele expôs suas descobertas sobre a anatomia patológica desta
descobriu no cérebro de Auguste D. (assim a chamou) lesões nunca vistas antes. O problema
estava dentro dos neurônios, que em vários lugares apareciam atrofiados, cheios de placas
estranhas e de fibras retorcidas, enroscadas umas nas outras. Os sintomas iniciais da paciente
(Botelho, 2008).
tendo efeito tóxico e nocivo no sistema nervoso central. Ou seja, as células cerebrais
chamadas placas senis. Estas, aliadas à morte dos neurônios, vão gradualmente impedindo o
simples, o HSV1. Um estudo realizado por cientistas ingleses revela que as placas de proteína
do cérebro dos que sofrem de DA contêm DNA do vírus do herpes. Os cientistas suspeitam
herpes e estabelece ali uma infecção latente, ativada por fatores como estresse, supressão
E finalmente, em 2005 foi sugerido por Rivera et al. que o aparecimento da doença
de Alzheimer pode estar associado com uma nova forma de diabetes, denominada pelos
autores de Diabetes tipo 3. Apesar de ser o pâncreas o principal responsável pela distribuição
da insulina, a queda dos níveis desta no cérebro provoca a denominada diabetes tipo 3. No
estudo, verificou-se que o cérebro produz uma pequena quantidade de insulina e de proteínas.
O fato de existir um adequado nível de insulina, bem como o correto funcionamento dos
O primeiro estágio tem como principal característica a perda de memória para fatos
recentes, com preservação dos fatos remotos. A linguagem também pode estar alterada,
sobretudo nos casos pré-senis. O paciente apresenta discurso vazio, com pobreza de
Caramelli, 2008).
fluência verbal se reduz à ecolalia (repetição da última ou últimas palavras que alguém dirigiu
palavras que ele mesmo emitiu) ou mutismo (ausência de resposta verbal oral). Ocorre
Caramelli, 2008).
conceituais de memória lançadas por estes dois filósofos são válidas até hoje (Costa, 2003).
7
A idéia de que uma parte especial do cérebro fosse dedicada à memória foi defendida
por Avicena, um médico persa do século XI. Abertos Magno, no século XIII, colocou-a na
métodos experimentais no estudo da memória. Em suas experiências, descobriu que era capaz
de reproduzir uma lista de sílabas após uma única apresentação se o número destas fosse
inferior a seis ou sete, mas acima disto, a aprendizagem exigia vários ensaios ou repetições da
lista. Para mais de sete sílabas, Ebbinghaus adotou como medida de aprendizagem o número
(Pinto, 1985).
William James (1890) propõe, em seu célebre livro The Principles of Psychology, a
memória como dois sistemas, denominados memória primária e secundária. A primeira teria
única, já a segunda deve ser considerada como uma manifestação do “livre arbítrio”, capaz de,
por meio de um esforço mental de vontade, evocar traços individuais de experiências passadas
(Luria, 1981).
monovalentes formadas por impressões individuais umas com as outras. Esta visão não
memórias se formam pela associação de estímulos inicialmente neutros com outros que são
biologicamente significativos (fome, medo). Freud e seus discípulos tentaram demonstrar que
havia mais que apenas respostas reflexivas, que também dependia da experiência, mas que
processo complexo baseado em uma série de estágios sucessivos que diferem em sua estrutura
Lezak (1995), um autor mais contemporâneo, definiu a memória como “um sistema
complexo que por meio de um organismo registra, armazena, retêm e recupera partes de um
evento ou experiência”.
empiricamente que a maior parte dos esquecimentos resulta da falta de uso das sinapses, ou
seja, quanto mais sejam utilizadas as capacidades cognitivas, melhores serão suas funções,
memorizado por um longo período de tempo). Por fim, ocorre a evocação ou lembrança
esquecimento?
Ribot (1881), após estudar extensivamente a memória, propôs o que ficou logo
tempo de formação da memória, isto é, quanto mais recente é a memória, mais rapidamente
esta hipótese foi muito contestada, no sentido de que, algumas vezes, com a passagem do
tempo, pode-se observar não o decaimento, mas a reprodução aumentada de traços. Outro fato
que bate de frente com a teoria do decaimento natural é que freqüentemente os indivíduos
cometem erros na evocação de sua memória antes de decorrido o tempo apropriado para que
responsável pela formação de novas memórias. Esta memória tem vida curta enquanto
Pode haver uma perda de neurônios no envelhecimento, por alguns motivos (estresse
crônico acumulado ao longo da vida ou acentuado por doenças degenerativas, como o mal de
10
Alzheimer). Se o hipocampo não faz o seu papel, não será possível formar-se novas memórias
e, por isso, o sujeito provavelmente não se lembre do que fez ontem (Herculano-Houzel,
2007).
informações seja gigantesca, porém, com o tempo, ela pode ser saturada. A maior parte dos
esquecimentos, ainda segundo ele, é resultante da falta de uso das sinapses, como foi dito por
Eccles, ocasionando atrofia e conseqüentemente perda das funções das conexões entre as
células nervosas. O hipocampo seria a principal estrutura do sistema nervoso dos mamíferos,
indivíduo, nascem as avaliações neuropsicológicas. Sua história data do início dos anos 1950.
Rao (1996) relata que a testagem deveria responder a perguntas sobre “sinais de
Neuropsicologia. Segundo Luria (1981), essa ciência tem como objetivo investigar o papel
dos sistemas cerebrais de cada indivíduo nas formas complexas de atividade mental. Para
científicas vêm sendo acumuladas apenas nos últimos anos. Os testes neuropsicológicos,
Apesar disso, poucos foram os testes criados por psicólogos (Lezak, 1995). Segundo Mäder
inferências sobre os testes é neuropsicológico”. A testagem data de antes do século XX, mas
vários profissionais e serviços, médicos ou não-médicos, tendo em vista que ela propicia um
amplo leque de aplicações em diferentes contextos (Camargo, 1997, citado em Ávila &
Bottino, 2008). Os testes são norteados por seis tipos de requisições: auxílio diagnóstico,
No auxílio diagnóstico, a avaliação visa responder uma pergunta que tem a ver com a
origem, a natureza ou dinâmica da condição em estudo. Em boa parte das solicitações, indica
o diagnóstico já está feito, mas deseja-se estabelecer o curso da evolução e o impacto que tal
Por fim, a avaliação no contexto forense (perícia) tem a função de auxiliar a tomada
de decisão que os profissionais da área de direito precisam fazer em uma determinada questão
Neste trabalho, serão analisados os testes com ênfase no auxílio para planejamento
de reabilitação. Estes são os testes mais utilizados nos hospitais e clínicas do Distrito Federal.
12
Como exemplo deles, podemos citar o Mini-Exame do Estado Mental (MMS), desenvolvido
por Folstein e cols. (1975) e traduzido por Bertolucci et al. (1994) para a realidade brasileira e
que, aqui, será considerado o “padrão-ouro”. Isto significa que, além dos outros testes
possuírem uma correlação significativa com o MMS, ele será usado como referência de
Bateria Rápida de Avaliação Frontal (BREF), dentre outros, serão usados para verificar uma
vez que é difícil haver um teste que diferencie uma demência da outra. Ao fazer isto, será
sugerida uma nova bateria para uso em todo o sistema público e particular de saúde. E, por
fim, propor perspectivas futuras a respeito de novas tecnologias que estão sendo
Desenvolvimento
Como foi visto na introdução deste trabalho, existem três hipóteses possíveis para o
amilóide. Esta última é a mais aceita atualmente, pois a beta-amilóide é o elemento central das
placas senis. A beta-amilóide é derivada de uma membrana neuronal conhecida como proteína
precursora de amilóide (APP). Uma pista foi encontrada nos indivíduos portadores de
braço do cromossomo 21. Em 1995, foi descrita a associação entre a DA familiar e os genes
energético são reguladas pela insulina e pela insulina como fator de crescimento I (insulin-like
seria uma doença neuro-endócrina, fazendo um paralelo com a diabetes mellitus (Riviera et
al, 2005).
Na última hipótese citada, a do Herpes, foi descoberto por Dobson & Itzhake (1999)
que o vírus HSV1 (herpes simples) é encontrado em muitos dos cérebros dos idosos. No
de risco para a herpes labial e, em outros estudos, ela estaria diretamente ligada à DA. Foi
descoberto que o vírus do herpes pode danificar o sistema nervoso e que há uma relação entre
Para tal, desenvolveram alguns mecanismos de rastreio, os quais foram tratados na introdução
comuns, é dividido em questões de: orientação (ex: dia, mês, ano atuais), memória imediata (o
terapeuta fala palavras como “caneca”, “tijolo” e “tapete”, e o indivíduo deve repetir tais
palavras logo em seguida), cálculo (subtrações de sete, começando por 100), evocação (repetir
o terapeuta está indicando para o sujeito), repetição (repetir uma determinada frase), comando
em três estágios (solicitar para que o paciente faça uma ação em três estágios), leitura, escrita
e cópia do desenho.
e especificidade para o diagnóstico de demência (Tombaugh & McIntyre, 1992). Contudo, ele
não é um teste específico para o rastreio de DA. Por esta razão, é sempre acompanhado de
A partir desta afirmação, alguns testes, como os que foram citados anteriormente,
têm uma correlação sensível com o MMS. O Teste do Relógio (TR) é um deles e é
15
et al., 1992).
Tanto o teste de Atividades da Vida Diária (AVKATZ), desenvolvido por Katz et. al.
(1963) e traduzido por Scazufca (2002), quanto o Inventário das Atividades da Vida Diária
(AIVDLAWTON), desenvolvido por Lawton & Brody (1969), têm a finalidade de avaliar a
alimentação. Os escores para cada um destes itens variam de: 0 para quando não realiza; 0,5
quando realiza com alguma ajuda; e 1 para realiza sozinho. Já o segundo aborda questões
básicas da vida diária, como atender o telefone, cuidados com a casa, cozinhar e lavar roupas,
até atividades que possuem um grau maior de dificuldade, como fazer compras, tomar
medicamento sozinho, cuidar das próprias finanças e usar o transporte. O teste possui itens
que são avaliados com a pontuação 0 para quando não realiza a atividade, 0,5 para quando a
O AVD e o AIVD são amplamente aplicados por serem testes de fácil aplicação e
interpretação, de baixo custo e por consumir pouco tempo de preenchimento. São importantes
para a detecção precoce de incapacidade. Eles ajudam a mostrar em qual dos três estágios de
mais comum na terceira idade, tendo impacto negativo em todos os aspectos de vida (Ferrari
& Dalacorte, 2007). Yevasage e cols. (1983) desenvolveram um instrumento de triagem para
depressão, a Escala de Depressão Geriátrica (EDG). Existem duas versões desta escala, uma
Para Almeida & Almeida (1999), o EDG versão curta mostrou-se confiável e válido
Uma das escalas para avaliar a gravidade do quadro demencial é o Escore Clínico de
Demência (CDR), que tem como objetivo avaliar o nível de comprometimento em seis
descritivo e cada uma das categorias pode ser graduada em cinco níveis diferentes: 0 para
quando o indivíduo está saudável; 0,5 para quando a saúde mental esteja em estado
questionável; 1 para quando haja indícios de demência leve; 2 para quando a demência já
esteja em um grau mais moderado; e 3 para quando esteja em fase grave. É usado quando a
suspeita de demência está mais concreta e há uma necessidade de se conhecer em qual estágio
o indivíduo se encontra.
(2000) e adaptado para o português por Cunha & Novaes (2004), é um instrumento que
estima funções dependentes do lobo frontal. É composto por seis itens: similitudes
funções executivas. Ainda não existem estudos de validação desta avaliação para a realidade
brasileira.
indivíduo deve relatar o que há de comum entre dois itens, como: laranja e banana, gato e
leão, calça e camisa, etc. É um teste amplamente utilizado, pois avalia funções executivas do
cérebro, porém, é usado apenas como teste complementar e a bateria WAIS-III não é aplicada.
cuidador. O potencial portador de demência realiza o teste que possui 16 questões como
tentativa de uma correlação, já que o enfermo tem uma visão de sua demência e o cuidador
outra.
problemática de se fazer uma bateria única para detecção e distinção das demências. Assim,
Cognitivas (IBNeuro), uma pesquisa foi encomendada pela Secretaria de Saúde para que
metodologia de cada um. Assim, a partir dos resultados, seria possível eliminar alguns testes
para enxugar a bateria, estudar novos testes que são lançados e traduzidos e tentar criar uma
bateria nova e uniforme para a utilização dos hospitais públicos do Distrito Federal.
18
Metodologia
O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Secretaria da Saúde de Brasília
A amostra total foi de 183 indivíduos, dos quais 129 eram mulheres (70,49%) e 54
eram homens (29,51%). As idades variaram entre 61 e 101 anos, tendo uma média etária de
77 anos.
A coleta de dados se deu no próprio hospital. Foi feito um levantamento tanto dos
dados pessoais ─ como nome, idade, sexo, data de nascimento, escolaridade, diagnóstico
realizadas nos pacientes. Todos os dados estavam contidos nos prontuários dos sujeitos da
pesquisa.
Resultados
entre alguns testes. Algumas positivas, ou seja, quanto maior o resultado de um, maior
também será o do outro. Outras negativas, indicando que, quanto maior o valor final de um,
menor será o do outro teste. Com estes resultados pode-se diagnosticar a presença de
demência no indivíduo.
muito encontrado na bibliografia este resultado, ou seja, nada de novo apareceu por aqui. É
importante salientar, porém, sua significância. Entre os dois, foram encontrados 75 indivíduos
19
no banco de dados, com correlação r = 0,706, p < 0,01 (ver Figura 1). Uma correlação alta e
O MMS teve uma boa correlação com o teste BREF (N = 74, r = 0,702; p < 0,01, ver
Figura 2). Um pouco menor que a primeira citada, porém, isto significaria que não há
AIVDLAWTON. Ambos medem praticamente a mesma função, porém, em muitos casos são
aplicados juntos, o que causa um aumento de bateria. A correlação entre os dois é razoável (N
= 53, r = 0,494, p < 0,01, ver Figura 3), logo, um dos testes poderia ser descartado.
21
O MMS tem uma boa correlação com o teste AIVQLAWTON (N = 154, r = 0,768, p
< 0,01), porém apenas mediana em relação ao AVKATZ (N = 40, r = 0,455, p < 0,01),
embora os dois que avaliam qualidade de vida sejam significantes entre si, como pôde ser
visto no gráfico anterior. Seria importante a escolha de um, em detrimento do outro, para
diminuir a escala e melhorar a precisão. Pela melhor correlação que o MMS obteve com o
O CDR tem uma correlação bastante significativa com o MMS (N = 75, r = -0,818, p
< 0,01). Estes dois testes juntos poderiam indicar se há demência e em que grau ela se
encontra. A correlação é negativa nestes dois testes, pois quanto maior o escore obtido no
Mini-Mental State, menor o grau de demência apresentado pelo sujeito. Este teste poderia
já que o neuropsicólogo que aplica os testes não avalia o grau de debilidade do sujeito. O
indivíduo julga a si próprio e o cuidador o avalia. O MMS não teve correlação alguma com a
versão do paciente (N = 38, r = 0,079), mas teve uma correlação significativa negativa com a
Teste de Semelhanças (TS) possui uma correlação moderada com o MMS (N = 72, r
= 0,450 p < 0,01). O primeiro possui pares de itens para que o indivíduo descubra sua relação
mais lógica. O MMS não mede este tipo de memória semântica e este pode ser um dos
motivos para se usar este subteste ao invés da bateria WAIS-III por completo.
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O teste EDG teve uma correlação significativa com o item Atividade Física da
anamnese realizada no hospital (N = 43, r = -0,388 p < 0,05). Este resultado mostra que
idosos que praticam alguma atividade física têm menor propensão a desenvolver depressão.
Isto é confirmado por Cooper (1982), que escreveu sobre a relação entre atividade física,
especialmente a aeróbica, e o alívio de estresse ou tensão. Isto é devido ao aumento das taxas
Apesar desta correlação, não foi encontrada outra correlação com os testes ou outros
itens da anamnese. Isto indicaria que ele não é um teste para rastreio de demência, e sim de
depressão. Uma vez que o quadro depressivo está ligado ao demencial, seria interessante
uma correlação, mesmo que baixa, entre o índice Sexo e o teste AIVQLAWTON (N = 163, r
= - 0,160, p < 0,05). Neste, existem vários itens que remetem a afazeres domésticos ligados a
estudo não responderam a alguns itens, tais como lavar roupa, cuidar da casa e cozinhar,
O índice Escolaridade obteve correlações significativas com muitos dos testes, como:
o MMS (N = 83, r = 0,377, p < 0,01), o Teste do Relógio (N = 68, r = 0,417, p <0,01), o
BREF (N = 65, r = 0,265, p < 0,05), o Teste de Semelhanças (N = 69, r = 0,269, p < 0,05), o
ISAACS (N = 74, r = 0,345, p < 0,01) e o AIVQLAWTON (N = 141, r = 0,345, p < 0,01).
Pode-se afirmar que é necessário adaptar os testes para a realidade e cultura brasileira. A
maioria dos testes em questão foi apenas traduzida para o português e existem poucos estudos
56 (30,6%), pessoas com nível fundamental incompleto é de 75 (41%), pessoas com nível
pessoas com nível médio completo é de 16 (8,74%) e pessoas com nível superior completo ou
incompleto é de 7 (3,82%). Ou seja, quase três quartos da população neste estudo podem não
compreender os comandos e itens propostos nos testes ou nunca terem entrado em contato
Os dados mostram ainda que apesar da correlação entre etilismo e tabagismo ser alta
(N = 11, r = 0,682, p < 0,05), o etilismo obteve correlação apenas com o Teste do Relógio (N
= 7, r = 0,873, p < 0,05) e o tabagismo com nenhuma das avaliações. A literatura não tem um
dado certo a respeito do tabagismo: alguns estudos mostram que o tabagismo aumenta o risco
de ocorrência de DA; outros não encontraram relação alguma. O álcool também não possui
28
relação com a DA na literatura, apesar de agir como um fator ambiental para a doença
Conclusão
reflexão e a contínua pesquisa acerca do assunto tratado neste trabalho final sobre a demência
construção de uma pesquisa científica é um processo sem fim, pois mesmo quando esta
dificuldade de tratar de um tema que possui pouca referência no Brasil é um desafio. Este
Como se pode ver ao longo dos resultados obtidos, muito do que se aplica hoje na
rede hospitalar pública brasileira em relação à detecção de Alzheimer é falho. Uma bateria
muito longa de avaliações, testes repetitivos, testes que não deixam claro um diagnóstico e
pacientes sem saber o que realmente possuem (alguns possuem demência vascular, outros
frontotemporal, etc.). Tudo isto contribuiu para que uma atitude fosse tomada.
CDR. Combinando os dois, nota-se o quanto o demenciado está afetado e quais as tarefas que
ele pode realizar. O MMS correlacionado com o Teste do Relógio pode dar uma percepção
ainda maior ao avaliador. O TR indicaria onde há uma lesão cerebral a partir do desenho.
ambos medem qualidade de vida, mas um possui mais itens relacionados ao cotidiano
feminino de antigamente que o outro. Apesar dos dois terem uma correlação importante com
o MMS, ambos são avaliações muito antigas para as realidades de hoje em dia. Seria
30
interessante a busca de uma nova bateria que medisse a autonomia do enfermo. Ou uma nova
quanto do paciente, demonstra que não se pode medir a subjetividade da doença a partir do
está em seus cuidados, tem uma visão mais correta dos comportamentos do cliente. A
correlação entre o teste para o cuidador obteve correlação com o MMS, enquanto que a versão
do paciente, não. Este teste seria interessante para ser aplicado apenas com os acompanhantes
O teste do EDG, apesar de ser muito sensível para detecção de depressão, não obteve
correlação alguma com os outros testes. É um teste que indicaria o nível de depressão do
demenciado (normal, leve e severa), mas isto pode ser medido em outros testes de qualidade
de vida. Caso apareça um teste que tenha sensibilidade de qualidade de vida e Alzheimer,
Muitas das palavras que estão nos testes e muitas das semânticas colocadas em questão são
da escolaridade no resultado do MMS (Butler et. al, 1996 e Schmand et. al, 1995, por
esta percentagem caiu para 13,6% (Ferraro, 2002). Em alguns anos, os índices de demências
cairão por um maior entendimento dos itens contidos nos testes. Assim, serão necessários
O BREF é uma bateria rápida que rastreia possíveis danos no lobo frontal. Por não
existirem muitos estudos sobre ele no Brasil, seria interessante explorá-lo, afinal, muitas das
funções executivas são medidas nesta avaliação. O MMS possui uma boa correlação com esta
bateria e ambos tentam medir a mesma coisa. A exclusão de um deles diminuiria o tempo de
resolução. O uso conjunto pode trazer maior eficácia no diagnóstico, mas a combinação dos
substituído pelo BREF que também mede similitudes. O MMS teve uma correlação
significativa com o TS e, apesar de não medir semelhanças, tem uma maior acurácia no
portadores de Alzheimer (Agência USP, 2009). A ASHA FACS é composta por 43 itens
divididos em quatro domínios: comunicação social (situações que exigem interação com o
do telefone e calendário). Para cada um destes itens, o sujeito pode obter índice de 1 a 7,
sendo 7 quando realiza a tarefa sem nenhum problema e 1 quando não consegue realizar de
forma alguma, assim por diante. A escala foi traduzida e adaptada para os padrões culturais
brasileiros. Os resultados do estudo mostraram que a escala pode ser aplicada para verificar
capacidades de comunicação dos pacientes que sofrem da doença. Esta escala ajudará na
avaliação da evolução do quadro, além de mostrar aos cuidadores e à família onde estão as
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maiores dificuldades de comunicação do indivíduo. Poderia ser uma alternativa mais atual e
O MMS se mostrou muito sensível para detecção de demência; como se pôde notar
na pesquisa realizada e em bibliografias citadas (Bertolucci et. al, 1994, Almeida, 1997 e
etc.), não diferencia as demências. Ainda assim, é bastante indicado para a detecção de
Alzheimer. Uma versão ampliada, desenvolvida por Teng & Chui (1987) e denominada Mini-
Exame do Estado Mental Modificado (3MS) é uma boa alternativa ao antigo MMS. Este teste
possui 100 itens e, além daqueles medidos na versão anterior, há questões de semelhanças,
segunda recuperação (o avaliador pede no início do teste que o sujeito memorize três palavras
e estas devem ser evocadas neste momento), reversão mental (contar de 5 até 1 e falar a as
letras da palavra MUNDO de trás para frente), entre outros. Um item retirado foi o de cálculo,
provavelmente por haver problemas com a população analfabeta. Este teste está sendo
aplicado e validado no IBNeuro e poderá entrar na nova bateria de testes da rede pública.
Ainda é cedo para propor uma nova bateria, apesar de esta ter sido uma das propostas
iniciais. Entretanto, com os resultados obtidos e com as novas escalas e avaliações sendo
validadas, pode-se prever, num futuro próximo, que o Alzheimer poderá ser detectado com
maior facilidade. É possível reduzir a enorme bateria aplicada na rede pública para uma maior
Há ainda outra conclusão importante: a falta de atenção para com o cuidador durante
poucos são os estudos que abordam este tema. Neste trabalho, apenas um teste mostra a
relação cuidador-idoso e, mesmo assim, tem pouca validade por sua vasta subjetividade. Seria
necessária a criação de uma nova avaliação com maior validade e objetividade de respostas.
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ANEXOS