Recomendação SQS 314 Bloco B
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APRESENTAÇÃO
A presente análise decorre do pedido de atuação junto ao condomínio do Bloco B da SQS 314, em função de
reforma que prevê a re rada de azulejos originais da edificação, encaminhada à Subsecretaria do Patrimônio Cultural – SUPAC, da
Secretaria de Estado de Cultura e Economia Cria va – SECEC, em 03/07/2020.
Foi argumentado que os azulejos situados nos pilo s dos blocos SQS 314, construída na década de 1970,
caracterizam-se pela sua concepção em conjunto com outros edi cios da mesma Superquadra, sendo que o uso da cor nas
fachadas, em harmonia com os azulejos são marcas de seu trabalho. O arquiteto responsável pelo projeto, Eduardo Negri,
integrou a equipe de Oscar Niemeyer nos primeiros anos de construção de Brasília. Nesse sen do, a interessada afirmou que os
edi cios residenciais mais an gos e, por isso, representa vos da história de Brasília, estão em risco, em função de reformas sem
critérios que não consideram e respeitam a historicidade e qualidade tanto das edificações, quanto da cidade.
Citando a publicação “Superquadra de Brasília - preservando um lugar para viver” (Iphan-DF, 2015), o documento
reitera a importância das superquadras brasilienses para a história do urbanismo mundial, destacando as orientações de
preservação dos elementos cons tu vos das fachadas.
Diante do exposto, foi solicitado que a SUPAC orientasse o condomínio quanto à necessidade de preservar suas
caracterís cas constru vas originais, com apresentação de critérios que devem ser observados em função de valores históricos e
arquitetônicos, considerando não haver uma norma específica para controle de intervenções, nesse sen do.
Em anexo à solicitação, também foi encaminhado um documento do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do DF –
CAU-DF informando que, “no desempenho de seu papel ins tucional (...) exerce ações informa vas sobre questões de interesse
público e é promotora de discussão e proporção de temas relacionados à Arquitetura e Urbanismo no âmbito de polí cas públicas
em geral, programas ou inicia vas de interesse social e cole vo”. Nesse sen do, o CAU-DF informa que “foi criada a Comissão
Temporária de Patrimônio, com o intuito de valorizar, mediante reconhecimento público, profissionais e empresas que tenham
contribuído significa vamente para o desenvolvimento da Arquitetura e Urbanismo, além de fomentar meios capazes de
promover a profissão de Arquitetura e Urbanismo junto à sociedade”.
O documento prossegue esclarecendo quanto à elegibilidade do Bloco K da SQS 314, que possui a mesma pologia
do Bloco B, para receber o selo/placa de “Qualidade de Arquitetura Moderna”, em função do respeito ao legado histórico da
Arquitetura Moderna e manutenção de suas caracterís cas fundamentais, mesmo diante de reformas e adequações necessárias
às necessidades contemporâneas.
Os elementos considerados para a qualificação em questão referem-se, basicamente, à preservação dos
reves mentos originais das fachadas e dos pilo s, assim como o cuidado com a área circundante e a preocupação com
acessibilidade.
Diante da atuação da SECEC no Grupo de Trabalho Execu vo decorrente do Acordo de Cooperação Técnica entre
IPHAN-DF e GDF, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação – SEDUH, SECEC e Secretaria de Estado de
Proteção da Ordem Urbanís ca – DF Legal, a demanda foi apresentada para pronunciamento do grupo, por meio da presente
recomendação.
ANÁLISE
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Cons tuem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados
individualmente ou em conjunto, portadores de referência à iden dade, à ação, à memória dos diferentes
grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:
I–as formas de expressão;
II–os modos de criar, fazer e viver;
III–as criações cien ficas, ar s cas e tecnológicas;
IV–as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços des nados às manifestações ar s co-
culturais;
V–os conjuntos urbanos e sí os de valor histórico, paisagís co, ar s co, arqueológico, paleontológico,
ecológico e cien fico.
Em seguida, o § 1º do mesmo ar go define, sem esgotar o assunto, estratégias e instrumentos de reconhecimento
desses bens, assim como a corresponsabilidade, entre os entes e agentes envolvidos, nessa função:
§ 1o O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural
brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras
formas de acautelamento e preservação.
Verifica-se que a iden ficação de bens materiais, imateriais e outras referências culturais, por meio de algum po
de chancela ins tucional, decorre da prévia existência de valores intrínsecos a eles, reconhecidos por segmentos da sociedade,
seja pela comunidade envolvida, seja por organizações de classe, en dades de pesquisa, entre outros.
Nesse sen do, existe o entendimento de que o patrimônio cultural, latu sensu representa o conjunto de elementos
de referência reconhecidos por segmentos da sociedade, ou por ela como um todo.
Já a noção de patrimônio cultural, strictu sensu, é formado pelo conjunto de bens e referências que passaram pelo
processo administra vo de iden ficação e reconhecimento, chancelado por um ato norma vo.
O tombamento, especificamente, cons tui-se em instrumento jurídico que existe em função de valores
previamente atribuídos ao bem e que, por isso, exige do poder público e da sociedade o cumprimento de diretrizes e
procedimentos de preservação.
Nesse caso, a aplicação de referenciais legais, teóricos e categorias analí cas possibilita fundamentar processos de
iden ficação, reconhecimento e ressignificação de valores atribuídos a edificações, lugares ou mesmo objetos.
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Os valores seriam atributos derivados diretamente das qualidades obje vas dos edi cios. A iden ficação
dos valores seria, portanto, um trabalho dos indivíduos cultos como, por exemplo, os historiadores da
arte e os arquitetos especialistas na conservação patrimonial, que têm o conhecimento necessário para
interpretar corretamente os valores por meio das análises das qualidades arquitetônicas da edificação.
Essa é a visão que está por trás da Carta de Burra. (ZANCHETI e HIDAKA, 2014, 5)
Quanto à determinação da significância, esta “é realizada por meio de uma análise do edi cio, um entendimento
da história e do contexto e a iden ficação dos valores para as comunidades” envolvidas, sendo que “o valor é uma categoria
analí ca central para a determinação da significância”, a par r da qual se baseia a declaração, com base no “uso de um sistema
de valores que possa representar a importância cultural atribuída por uma comunidade para seus edi cios”. (ZANCHETI e HIDAKA,
2014, 6)
Ainda sob a análise de critérios de iden ficação e avaliação que fundamentam a declaração de significância,
destaca-se a proposta de classificação, em função de critérios rela vos a:
(a) origem e autoria: edi cios de origem específicas, construídos sob condições especiais, para comemorar fatos
ou eventos e desenhados por arquitetos representa vos de sua época;
(b) representa vidade: edi cios que reúnem caracterís cas exemplares, ou marcantes, de uma categoria, ou
família, de edificações, passível de subdivisão em várias categorias, como autor, po arquitetônico, de uma época, de uma técnica
constru va, entre outras;
(c) raridade: edi cios únicos em uma categoria, por exis rem poucos exemplares remanescentes de uma época, de
um po constru vo, de um proje sta ou por serem exemplares pouco usuais – o critério de raridade pode vir associado do
critério de representa vidade;
(d) condição de completude ou integridade: edi cios íntegros, completos quanto à sua forma, materiais
constru vos, obras de arte integradas, entorno, e outras caracterís cas significa vas;
(e) potencial interpreta vo: critério rela vo à capacidade de expressar e permi r a interpretação de temas
históricos, experiências sociais de grupos, pos de usos e a vidades e emprego de técnicas e materiais constru vos, que
cumprem a função de elos necessários para a narra va histórica da cultura, da sociedade, de pessoas, de grupo, apesar de não
possuírem valores patrimoniais significa vos – possuem potencial educa vo decorrente de valores cogni vos.
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2.3.1. Publicação “Superquadra de Brasília - preservando um lugar para viver” (IPHAN, 2015)
Quanto à necessidade de preservação de aspectos arquitetônicos em função de sua concepção enquanto conjunto,
assim como em função de sua historicidade e caracterís cas esté cas, está o entendimento expresso na publicação in tulada
“Superquadra de Brasília - preservando um lugar para viver”:
As fachadas dos blocos pertencentes às quadras do período inicial de implantação da cidade cons tuem exemplos
expressivos e únicos dos princípios de arquitetura moderna.
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Ao se fazer intervenções, reformas e modernizações, deve-se ter o cuidado de alterar o mínimo possível as
caracterís cas originais do edi cio, principalmente quando se tratar de fachadas, reves mentos, painéis decora vos de azulejos,
po e desenho de esquadrias e cobogós. São orientações que vão na linha de preservação das caracterís cas da arquitetura
própria da cidade, para que ela não se desvalorize nem desapareça. (IPHAN, 2015: 76)
Ainda como recomendação, visando preservar e manter a qualidade visual e de conjunto dos edi cios das
Superquadras, “Recomenda-se também buscar soluções padronizadas, por exemplo para os aparelhos de ar condicionado, que
devem se integrar harmonicamente à arquitetura do edi cio” (IPHAN, 2015:78)
CONCLUSÃO
Diante do exposto, verifica-se que o Bloco B da SQS 314 possui inques onável valor histórico, arquitetônico e
esté co, dentro da construção e caracterização modernista de Brasília, assim como critérios complementares, iden ficados como
(a) autoria, (b) representa vidade, (c) raridade, (d) integridade e (e) potencial interpreta vo (conforme classificações decorrentes
da metodologia de Declaração de Significância).
Para tanto, considerando a necessidade de preservação dos edi cios e aspectos remanescentes e representa vos
das várias etapas de construção de Brasília, marcadas pelo Movimento Moderno na arquitetura e urbanismo, assim como por
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especificidades próprias, como referencial de sua história e diversidade de contribuições es lís cas, ideológicas e espaciais, o
Grupo se posiciona favoravelmente à conservação das caracterís cas que conferem auten cidade ao imóvel, assim como às
inicia vas alterna vas de iden ficação, reconhecimento e promoção desses atributos e valores.
O Grupo também recomenda ao condomínio em questão a preservação de suas caracterís cas pológicas e
esté cas, como parte integrante do conjunto de edi cios que ainda guardam tais atributos.
Nesse sen do, os elementos constru vos, especialmente os materiais de reves mentos externos, destacam-se
como caracterís cas principais das edificações reconhecidas por seus valores intrínsecos, sejam tombados ou não.
REFERÊNCIAS
FERREIRA, Marcílio Mendes e GOROVITZ, Matheus. A invenção da Superquadra: o conceito de Unidade de Vizinhança em Brasília.
Brasília: IPHAN, 2007.
IPHAN. Educação Patrimonial: inventários par cipa vos. Brasília: IPHAN, 2016.
IPHAN. Superquadra de Brasília - preservando um lugar para viver. Brasília: IPHAN, 2015.
ZANCHETI, Silvio Mendes e HIDAKA, Lúcia Tone Ferreira. A declaração de significância de exemplares da arquitetura moderna.
Olinda: CECI, 2014 - Texto para Discussão V. 57.
ZANCHETI, Silvio Mendes et al. Da auten cidade nas cartas patrimoniais ao reconhecimento das suas dimensões na cidade.
Olinda: CECI, 2008 - Texto para Discussão V. 28.
Documento assinado eletronicamente por Laura Ribeiro de Toledo Camargo, Usuário Externo,
em 16/10/2020, às 16:32, conforme art. 6º do Decreto n° 36.756, de 16 de setembro de 2015,
publicado no Diário Oficial do Distrito Federal nº 180, quinta-feira, 17 de setembro de 2015.
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conforme art. 6º do Decreto n° 36.756, de 16 de setembro de 2015, publicado no Diário Oficial
do Distrito Federal nº 180, quinta-feira, 17 de setembro de 2015.
SCS Quadra 06 Bloco A Lotes 13/14 - Bairro Asa Sul - CEP 70306918 - DF
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