Salmos - Tradução Paulinas - Introdução

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Salmos
Salmos

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Introdução aos Salmos
Na tradição cristã, o livro das Salmo 116,10-19 Salmo 115
orações do antigo Israel, de Jesus de Salmos 117–146 Salmos 116–145
Nazaré e da Igreja recebeu o nome de Salmo 147,1-11 Salmo 146
Salmos, palavra grega usada para Salmo 147,12-20 Salmo 147
traduzir o termo hebraico mais pre- Salmos 148–150 Salmos 148–150
sente nos títulos colocados acima de
diversas orações (ver, por exemplo, O livro dos Salmos revela ele-
mizmor em Sl 3,1). O termo indica mentos que indicam ser a obra or-
uma oração em forma de recita- ganizada literariamente. Podem
ção poética, ou seja, cantada com o ser observadas quatro fórmulas do-
acompanhamento de instrumentos xológicas (Sl 41,14; 72,18-19; 89,53;
de cordas. A expressão grega Salté- 106,48) que, sem terem ligação di-
rio, também utilizada pelos cristãos reta com as orações das quais lite-
para o conjunto dos Salmos, refere- rariamente fazem parte, dividem o
-se ao instrumento musical lira. livro dos Salmos em cinco grandes
O povo judeu, no entanto, chama o partes, formando uma estrutura
livro dos Salmos de louvores (heb.: paralela ao Pentateuco (Gênesis,
tehilim), pois as muitas orações Êxodo, Levítico, Números e Deute-
(Sl 72,20) em forma de lamentações, ronômio). Dessa forma, a tradição
preces e súplicas irão resultar em um judaica compreende os Salmos como
louvor múltiplo (Sl 150,6). resposta que Israel dá à proposta fei-
A numeração dos Salmos varia ta na Torá. Além disso, observando
de acordo com suas antigas edições. os títulos dos Salmos, percebe-se a
A regra básica é de que o número formação de grupos de orações. Cin-
maior sempre se refere à Bíblia He- co coleções são atribuídas a Davi (Sl
braica. A Septuaginta, tradução 3–41; 51–72; 101–103; 108–110; 138–
grega das Sagradas Escrituras de 145). Doze Salmos (Sl 50; 73–83),
Israel, estabeleceu uma numeração voltados sobretudo à leitura teológi-
diferente, sendo nisso seguida pela ca da história de Israel, são ligados a
Vulgata, tradução latina do Antigo Asaf. Outros doze (Sl 42–49; 84–85;
Testamento: 87–88), com foco na importância
Texto hebraico Traduções grega e teológica de Sião, são atribuídos aos
latina
filhos de Coré. Quinze Salmos
Salmos 1–8 Salmos 1–8
formam um conjunto chamado
Salmos 9–10 Salmo 9
Cantos das subidas (Sl 120–134),
Salmos 11–113 Salmos 10–112
como orações provavelmente rela-
Salmos 114–115 Salmo 113
Salmo 116,1-9 Salmo 114
cionadas às festas de peregrinação,
quando o povo se deslocava até Je-
8
– I n t r o d u ç ão ao s s a l m o s
rusalém. Vale lembrar também o Destaca-se a superioridade e a so-
Halel Egípcio (Sl 113–118). Os dois berania do Deus de Israel. Contudo,
primeiros Salmos (Sl 1–2) e os cinco se de um lado Deus é insondável, do
últimos (Sl 146–150) estabelecem outro a história se torna espaço e ce-
uma moldura em torno de toda a nário da relação entre o Senhor e seu
composição literária do livro. povo eleito, visto que esse relaciona-
Os Salmos podem ser classifi- mento quer servir de experiência
cados de acordo com determinados exemplar para a humanidade in-
gêneros literários. Existem hinos, teira. Sobretudo, o evento do êxodo
com os elementos característicos de e a transformação dessa experiência
um apelo, que convidam os ouvin- de libertação em um projeto jurídico
tes-leitores ao louvor, sendo depois são oferecidos como modelo de fé e
apresentada a justificativa do lou- comportamento para todas as gera-
vor. Além disso, há lamentações ções. Com o êxodo, Deus revelou sua
individuais e coletivas, as quais justiça. O Senhor, Deus de Israel, é
por excelência aquele que se propõe
apresentam uma invocação (mui-
fazer justiça a quem está sendo in-
tas vezes com a menção do nome de
justiçado. Isso, por sua vez, traz con-
Deus), a descrição do sofrimento (por
sequências para a vida cotidiana do
vezes acompanhada de perguntas
fiel. Em especial, ao refletir sobre a
sobre a origem do mal) e a formu-
estrutura do mundo e sobre a expe-
lação da prece ou súplica; é possível
riência do sofrimento e da morte,
que declarações de confiança ou pro-
assim como sobre a possibilidade de
messas de louvor acompanhem as
encontrar a felicidade na vida, o ho-
lamentações. Às lamentações corres- mem se pergunta a respeito da exis-
pondem os cantos de ação de graça, tência de uma ordem divina, capaz
nos quais se narra, sobretudo, como de guiar quem procura orientação.
Deus salvou o fiel ou a comunidade O texto aqui apresentado traz
dos fiéis, suscitando nos últimos o uma tradução dos Salmos segundo
agradecimento. Além disso, certas a Bíblia Hebraica. Prevaleceu, com
temáticas – por exemplo, a realeza isso, o princípio da fidelidade ao
do Senhor, a figura messiânica do rei texto provavelmente mais original,
de Israel, Sião, a história do povo de mesmo que este, com suas dificul-
Deus ou a proposta de vida oriunda dades textuais em relação à forma e
da sabedoria – dão origem à forma- ao conteúdo, exija do ouvinte-leitor
ção de paralelismos e, com isso, de mais do que boa parte das tradu-
grupos de textos no livro dos Salmos. ções antigas e modernas exige. Para
Quanto ao conteúdo, certas con- amparar os leitores, notas de rodapé
vicções e esperanças norteiam o mais extensas se propõem acom-
conjunto dos cento e cinquenta poe- panhar, estrofe por estrofe, a lógica
mas contidos no livro dos Salmos. interna do que está sendo pensado
9
– I n t r o d u ç ão ao s s a l m o s
em cada Salmo. Essas explicações se va (Sl 23). Além disso, as estrofes dos
baseiam num diálogo com os estu- poemas são de tamanho irregular.
dos exegéticos mais atuais. Em espe- Em vez de usar a rima, a poesia he-
cial, vale lembrar os estudos amplos braica trabalha com diversos tipos
de Erich Zenger (†) e Frank-Lothar de paralelismos. Poéticos, com sua
Hossfeld (†), biblistas alemães (Die linguagem enfática fundamentada
Psalmen I; Psalm 1–50. Würzburg: nos paralelismos, nas metáforas e,
Echter, 1993; Psalmen 51–100. 2. sobretudo, no diálogo dramático,
ed. Freiburg: Herder, 2000; Psal- os Salmos parecem corresponder à
men 101–150. Freiburg: Herder, experiência de fé que o orante é con-
2008). vidado a fazer, haja vista esta envol-
Além disso, é importante lem- ver as experiências do dia a dia em
brar que os Salmos são textos poe- sua conversa com Deus.
ticamente compostos. Os discursos Jesus de Nazaré acolheu os
diretos trabalham, em diversos mo- Salmos como orações em sua vida,
mentos, com assíndetos, ou seja, sem especialmente nas controvérsias e
conjunções ou conectivos explícitos. durante sua paixão. Com dezenas
Multiplicam-se as imagens metafó- de trechos diretamente mencionados
ricas, bem como expressões artísticas nos escritos do Novo Testamento –
e arcaizantes. Repetições, sequências alguns deles em diversos lugares –,
incomuns de palavras e frases, mas o livro dos Salmos é o escrito vete-
também figuras descritivas, ocupam rotestamentário mais citado pelos
os versos. A alternância de discursos autores neotestamentários. Além
nem sempre deixa claro quem os disso, existem centenas de alusões
enuncia: ora se fala sobre alguém aos Salmos no Novo Testamento.
(ele/eles, terceira pessoa), ora se fala Consequentemente, os Salmos se tor-
diretamente a este alguém (tu/vós, naram também a oração dos cristãos
segunda pessoa), exigindo grande e da Igreja, fazendo parte da herança
atenção para acompanhar as rápi- religiosa que originalmente pertence
das mudanças de pessoa e perspecti- ao povo judeu.

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Sl 1
Salmo 1

1  Feliz o homem que não andou conforme o plano dos perversos,


não se colocou de pé no caminho dos pecadores
e não se sentou no assento dos zombadores.
2  Pelo contrário, seu apreço é pela instrução do Senhor;
dia e noite sussurra a instrução dele.
3  Será como uma árvore plantada junto a canais de água,
que dá seu fruto a seu tempo
e cuja folhagem não murcha.
Tudo o que faz terá êxito.

4  Não são assim os perversos;


pelo contrário, são como o debulho que o vento dispersa.
5  Por isso, os perversos não se levantarão no julgamento,
nem os pecadores na comunidade dos justos.

6  Porque o Senhor conhece o caminho dos justos;


o caminho dos perversos, porém, perecerá.

1,1-3 Na primeira parte do poema, um ho- 1,4-5 Os ventos da história se encarregam


mem é felicitado porque resistiu aos perver- de dispersar os perversos e pecadores.
sos – pessoas que “tramam contra o justo Com isso, surgem assembleias formadas
[...], a fim de fazer cair o oprimido e pobre” somente por justos, capazes de promover
(Sl 37,12.14) –, aos pecadores – pessoas que com seus julgamentos uma convivência
insistem em pensamentos e atos opostos à mais igualitária e fraterna entre as pessoas.
ordem divina – e aos zombadores – pessoas 1,6 A sobrevivência dos justos somente é
arrogantes (Pr 21,24), responsáveis por “ri- possível porque o Senhor está ao lado de-
xas, litígios e humilhações que agitam a ci- les. O homem que, no início da oração, se
dade” (Pr 22,10; 29,8). O homem feliz soube opôs sozinho a uma multidão de maldo-
dizer “não” a todos eles, acolhendo e medi- sos – ver as sete menções dos perversos (vv.
tando em voz baixa a instrução do Senhor 1b.4a.5a.6b), pecadores (vv. 1c.5b) e zomba-
presente na Torá, que é chamada também dores (v. 1d) – encontra-se, no final, integra-
de Pentateuco. Assim, tornou-se produti- do à comunidade dos justos.
vo, sempre jovem e bem-sucedido em to-
dos os seus empreendimentos.
11
Sl 2
Salmo 2

1  Por que as nações ficam inquietas


e os gentios sussurram em vão?
2  Os reis da terra se posicionam
e os dignitários conspiram juntamente
contra o Senhor e seu ungido:
3  “Rompamos suas amarras
e arremessemos de nós suas cordas!”

4  Ri quem está sentado nos céus,


o Senhor escarnece deles.
5  Depois lhes falará em sua ira
e com seu ardor os assustará:
6  “Eu mesmo consagrei meu rei sobre Sião,
o monte de minha santidade!”

7  Vou proclamar a prescrição do Senhor,


que me disse: “Tu és meu filho,
hoje eu te gerei!
8  Pede-me e te darei as nações como herança,
os confins da terra como tua propriedade!
9  Com um cetro de ferro as despedaçarás;
como o vaso de um oleiro as quebrarás”.

2,1-3 Na primeira estrofe, o orante imagina 2,4-6 Na segunda estrofe, ocorre uma mu-
uma revolta dos povos não israelitas con- dança de lugar. Imagina-se a reação do
tra o Senhor e seu ungido. Este último é o Senhor que está nos céus. Seu escárnio
rei de Israel, consagrado pelo Senhor (v. 6) e riso revelam sua soberania; ira e ardor
e aclamado como seu filho (vv. 7.12). Como transmitem a paixão com que ele defende
instrumento nas mãos de Deus, sua tarefa sua ordem, seu rei e Sião como seu lugar
consiste na promoção da ordem divina escolhido. Enfim, sua palavra (v. 6) se opõe
no mundo. Em especial, deve aprender o à palavra de todas as autoridades que cons-
temor ao Senhor, seu Deus, e observar as piraram contra ele e seu ungido.
palavras da Torá (Dt 17,19), uma instrução 2,7-9 De volta a Sião, o rei messiânico apre-
capaz de promover tanto a liberdade dos senta um discurso semelhante ao dos pro-
oprimidos quanto uma convivência mais tocolos cerimoniais de entronização no
igualitária, com base no respeito à digni- Antigo Oriente (2Rs 11,12). Três promessas
dade e à sobrevivência de todos. Contudo, acompanham o novo rei: sua filiação di-
justamente esse projeto de Deus é avaliado vina (v. 7b), a entrega a ele de toda a terra
pelos reis da terra como algo que os apri- como propriedade (v. 8) e seu domínio to-
siona. Por isso, a intenção deles é ficar li- tal sobre as nações (v. 9). No entanto, será
vres dessa ordem (v. 3). na dependência da palavra do Senhor que
o rei exercerá sua autoridade.
12
Sl 2

10  E agora, ó reis, percebei!


Deixai-vos corrigir, ó juízes da terra!
11  Servi ao Senhor com temor
e exultai com tremor!
12  Beijai o filho,
para que não se irrite
e pereçais no caminho,
pois sua ira pode acender-se num instante!
Felizes todos aqueles que nele se abrigam!

2,10-12 Em vez de exercer seu governo de porém, precisam conhecer a instrução, ou


forma violenta, o ungido do Senhor dirige, seja, a Torá (Js 1,7-8). Assim tomarão conhe-
na quarta estrofe, um apelo aos reis e juí- cimento da ordem prevista por Deus para o
zes rebeldes. Convida-os a acertarem seu mundo e, servindo ao Senhor, poderão evi-
caminho, deixando-se instruir. Para isso, tar que pereçam.
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