Refugiados Ambientais2
Refugiados Ambientais2
Refugiados Ambientais2
Belo Horizonte
2013
Gésun Fernando Prestes
Belo Horizonte
2013
PRESTES, Gésun Fernando.
P936r
101 f.
5. hatianos. I.Título
ESCOLA SUPERIOR DOM HELDER CÂMARA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO
__________________________________________________________
Orientador: Prof. Dr. Sebastien Kiwonghi Bizawu
_________________________________________________________
Professor Membro: Prof. Dr. Emilién Vilas Boas
_________________________________________________________
Professor Membro: Prof. Dr. Bruno Wanderley Junior
Nota:___
Belo Horizonte
2013
Dedico o presente trabalho aos meus pais e
amigos, que sempre me apoiaram. Agradeço os
incentivos, a compreensão e carinho, os quais
foram primordiais para a conclusão do meu
objetivo.
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao meu tio Paulo pela oportunidade e motivação, pertinentes para realização deste
sonho.
Agradeço aos funcionários e amigos da Escola Superior Dom Helder Câmara, que sempre
torceram por mim.
ABSTRACT
This work intends to think over about the environmental refugees and their legal nature, based
on international instruments established, such as United Nations Convention about Refugees’
Status of 1951, Declaration of Human Rights (1948), and Protocol relating to the Status of
Refugees (1967), protecting chased individuals ethnic, religious, race, nationality, social
group or political opinion reason. However, the 1951 Convention is not longer suiting reality,
once such reasons have been weakened to the existence of a new problem, caused by climate
events. The environmental crisis externalized by human actions, such as global warming has
contributed to the increased migration of affected people by environmental disasters, resulting
some refugees in a foreign territory. In this scene, there are environmental refugees, as
refugees Haitians people living in Brazil, without legal support because they are not
contemplated by Refuggees’ Convention 1951.
SUMÁRIO
LISTA DE SIGLAS ............................................................................................................... 11
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 12
1.7 Alto Comissariado das Nações Unidas Para Refugiados – ACNUR ........................... 35
2.1 Tutela Jurídica dos Direitos dos Refugiados no Estado Brasileiro, Constituição da
Republica de 1988 e Lei 9.474, 22 de julho de 1997 ............................................................. 47
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................94
ÌNDICE DE SIGLAS
CNUMAD – Convenção das Nações Unidas para o Meio Ambiente / ECO 92 / RIO 92
DI – Direito Internacional
INTRODUÇÃO
Nosso planeta Terra sempre sofreu com as mudanças climáticas que, de forma abrupta,
transformaram o ambiente em que vivemos, modificando-o através dos ciclos naturais com
surgimento de novos territórios e extinção de outros, variações de temperatura constantes,
períodos de eras geológicas que interferem, diretamente, nas espécies tanto humana como
animais.
Entrementes, o último século (XX) e o início deste (XXI) chamam a atenção pela
interferência humana nesse processo, pois as ações antrópicas como derrubada de florestas,
desvio de curso de rios, mudanças do espaço físico (construção civil), extração mineral,
queima de combustíveis fósseis, poluição de resíduos sólidos são causas que vem
contribuindo para um aumento significativo do aquecimento global, resultando em desastres
ambientais mais frequentes do que em outras épocas.
Analisar-se-á na presente pesquisa essa realidade, observando as variações da
temperatura global, suas consequências e problemas causados pelas alterações climáticas, em
especial pela análise da perda de habitat humano provocado por transformações significativas
no ambiente em que vive o próprio ser humano que, em muitas vezes, é forçado a se deslocar
de um território para outro.
Observa-se que os resultados dessas ações afetam tanto o meio ambiente quanto as
condições humanas de sobrevivência, cujas consequências são passíveis de provocar um
transtorno humanitário causado pela migração forçada. Por esse motivo, trar-se-á no bojo
desta discussão no primeiro capítulo, uma abordagem principiológica dos direitos humanos.
A intenção do estudo dos princípios que norteiam os direitos humanos se faz
necessário para adentrar na esfera de proteção dos indivíduos que buscam refúgio em outros
territórios, e que, geralmente, encontram-se em situação de vulnerabilidade, ficando,
desprotegidos, marginalizados, sem proteção das garantias fundamentais.
Para Alexy (2011, p. 107), os princípios são razões que concretizam as regras, logo, “a
compreensão de que os princípios são razões para regras e as regras são razões para decisões
concretas (normas individuais) tem, à primeira vista, algo plausível”.
É fundamental que perceba-se o caráter objetivo da construção dos princípios e
direitos fundamentais na história contemporânea com início na Revolução Francesa de 1789,
que nos faz remontar a um contexto internacional de mudanças significativas, que
13
maiores serão as incidências de eventos climáticos como: a falta de água, ou até mesmo de
extinção de alguns territórios. Dessa forma, a quem caberá a função de se manifestar sobre
essas questões que afetam a população deslocada?
Deflagra-se, no Brasil, um caso específico, fruto de nosso estudo, que é o dos
haitianos refugiados no território nacional, em virtude de evento ambiental, a saber o
terremoto que assolou o Haiti em 2010, os quais têm enfrentado diversos problemas de cunho
regulatório para permanência no Brasil e outros de cunho social e ambiental.
Frise-se que tal realidade está cada vez mais frequente, dado o grande número de
imigrantes provenientes daquele país buscando moradia em território nacional, objetiva-se
analisar a atuação do Estado brasileiro quanto a presença dos haitianos em seu solo, bem
como a implementação de medidas administrativas e jurídicas para a sua permanência.
Por fim, ressaltar-se-á algumas soluções plausíveis e esforços pertinentes a matéria,
para aferição de uma proteção satisfatória aos refugiados ambientais no âmbito do Direito
Internacional, priorizando os princípios basilares dos direitos humanos.
16
sociedade na qual a garantia dos direitos não é assegurada, nem a separação dos poderes
determinada não possui Constituição”, contudo, a função desse instrumento político não deve
sobrepujar a liberdade dos cidadãos, consoante ao paradigma de Estado de Direito.
José Alfredo Baracho Junior (2008), em sua obra “Proteção do Meio Ambiente na
Constituição da República”, cita Bobbio, o qual cientifica que o direito serve como
desencorajador de certas atitudes e encoraja outras, mas neste estado de interpretação deve-se
tomar cuidado com a proteção dos direitos dos demais indivíduos participantes da sociedade.
Segundo Alexy (2011), o direito se perfaz pelas normas fundamentais, encontrando na
liberdade e na dignidade humana o material necessário para concretizar os valores que a
sociedade vê como essenciais. Elas, também, servem como controle para combater as
violações de direitos, no entanto, a liberdade atua de forma negativa como um subprincípio da
dignidade humana.
Alexy ( 2011) trabalha com o direito como liberdade negativa na convicção de se ter
um Estado global de democracia positiva, pois do contrário, os indivíduos agiriam apenas
conforme o que fosse instituído a eles, através de condutas obrigatórias ou proibitórias.
Mas tão certo quanto o fato de que a liberdade negativa não compõe sozinha o
estado global de liberdade é o fato de que sem ela um estado global nunca poderia
ostentar o predicado axiologicamente positivo “de liberdade”. Um estado no qual
não há liberdade negativa, ou seja, no qual qualquer ação imaginável ou é
obrigatória ou é proibida, é, até por razões conceituais, algo problemático em si
mesmo. ( ALEXY, 2011, p. 379-380)
Defende ainda Alexy (2011, p. 391), que os “Direitos fundamentais têm, certamente,
também, o objetivo de garantir um estado global de liberdade, do qual todos se beneficiem”,
criando-se, assim, uma relação entre todos os indivíduos, tornando-os responsáveis.
Já Sarlet (2011), faz uma distinção entre direitos fundamentais e direitos humanos,
para ele os direitos humanos têm uma relação de reconhecimento jurídico internacional
aplicado ao indivíduo como ser dotado de direitos, e independem de norma Constitucional
local para serem praticados, lado outro, os direitos fundamentais são, determinados por uma
norma Constitucional Estatal. Segundo o autor, “a história dos direitos fundamentais é
também uma história que desemboca no surgimento do moderno Estado Constitucional”.
Com o reconhecimento do direito de igualdade e liberdade, os direitos fundamentais se
efetivam em concordância com as garantias e princípios de um Estado democrático,
determinado por meio da representação de cada indivíduo no espaço social, outorgado pela
comunidade política através da participação popular, indispensável para o exercício desses
direitos.
No âmbito de um Estado social de Direito – e o consagrado pela nossa evolução
constitucional não foge à regra – os direitos fundamentais sociais constituem
exigência inarredável do exercício efetivo das liberdades e garantia da igualdade de
chances (oportunidades), inerentes à noção de uma democracia e um Estado de
19
Direito de conteúdo não meramente formal, mas, sim, guiado pelo valor da justiça
material. (SARLET, 2009. P. 62)
Com essa idéia o Estado vivenciou uma nova ordem de profunda transformação,
objetivando sua atuação em constantes mudanças de situações jurídicas, que na medida do
possível e do necessário criam e conservam valores sociais que desenham a estrutura
organizacional.
Responsável pela construção dos Estados, tanto o Direito Internacional como as
Constituições Estatais, têm a função de interligar o público e o privado com pluralidade de
esforços, envolvendo toda sociedade, desta maneira para que se possa tratar de questões de
cunho social como a qualidade de vida é necessário abranger as normas positivas, morais,
éticas e pragmáticas.
Podemos concluir que se cria assim, nesse apreço, uma responsabilidade que nos
proporciona adequar nossa realidade a determinados casos concretos e estimular uma
normatização capaz de promover uma situação mais favorável de proteção aos direitos de
forma universal.
Tais lições, oportunizam uma vinculação entre as noções de Estado de Direito,
Constituição e direitos fundamentais, legitimando outros aspectos como o princípio da
dignidade humana e promovendo a dimensão do Estado Democrático de Direito emanado
pelos valores consagrados de liberdade e igualdade. Tal definição, produzida por Sarlet, nos
propicia a interpretar os direitos positivados no Estado Constitucional e compreender a
história da sua concepção.
Como veremos mais adiante neste trabalho, o termo refugiado surgiu após a segunda
guerra mundial, apresentando-se em um ambiente de total descaso com as garantias de
sobrevivência dos seres humanos. A proteção dos direitos humanos começa a ser discutida,
em consequência da ausência de direitos fundamentais, que o ambiente pós-guerra
proporcionava.
Mas os direitos fundamentais, ainda que pouco presentes naquele cenário, possuíam
uma compreensão advinda do passado, uma construção histórica que buscava proteger a
dignidade do ser humano.
20
A única maneira pela qual alguém se despoja de sua liberdade natural e se coloca
dentro das limitações da sociedade civil é através de acordo com outros homens para
se associarem e se unirem em uma comunidade para uma vida confortável, segura e
pacífica uns com os outros desfrutando com segurança de suas propriedades e
melhor protegidos contra aqueles que não são daquela comunidade . (LOCKE p. 139,
apud JUBILUT, 2007, p 53)
E foi no século XVIII, após momentos de inconformismos com as ações dos lideres
estatais, que os indivíduos começaram a se rebelar contra a estrutura do Estado, vindo a gerar
um ambiente de conflitos, que serviram para dar força ao surgimento de revoluções, como a
Americana (1776) e a Francesa (1789).
A sociedade ocidental europeia e a americana passam por modificações políticas e
sociais que acabam por culminar em mudanças internas nos Estados, principalmente no que
compete a assegurar direitos à dignidade, liberdade e fraternidade dos indivíduos.
Nesse cenário, surgem documentos importantes que postulam a evolução dos direitos,
como o Bill of Rights na Inglaterra em 1689, fruto da Revolução Gloriosa, a Declaração de
Direitos da Virgínia em 1776 que inspirou a Constituição Americana em 1787 e, consequente
independência Americana, e por último e talvez a mais importante das revoluções daquele
século para a positivação dos direitos humanos, a Revolução Francesa de 1789, tendo como
principal resultado a produção da Declaração dos Direitos do Homem.
Com esses importantes documentos, os direitos humanos passam a ser positivados
podendo ser reivindicados pelos cidadãos, todavia, tal situação não perdura por muito tempo
sendo interrompida pelas duas grandes guerras mundiais.
Descobriu-se, após as guerras, a necessidade do seu reconhecimento internacional,
razão pela qual em 1945 a Organização das Nações Unidas – ONU reuniu-se para discutir
questões que envolviam os conflitos entre as Nações, na intenção de promover a paz e a
defesa dos direitos humanos.
Nessa égide, surge a necessidade de se criar mecanismos próprios para proteção desses
indivíduos, formalizando um ambiente jurídico que fosse permeado pelos direitos humanos e
aplicado a determinados casos concretos.
Cria-se nesse cenário, o Direito Internacional Humanitário e o Direito Internacional
dos Refugiados, duas importantes vertentes que vêm para atender as demandas de caráter
específico.
Jubilut(2007 ), em sua obra o Direito Internacional dos Refugiados, trata de diferenciar
essas duas vertentes, em seus casos específicos, concluindo que:
O Direito Internacional Humanitário, para os casos de conflito bélico, que tem sua
origem antes mesmo da fase de generalização da positivação nacional dos direitos
humanos, como já mencionado; e o Direito Internacional dos Refugiados, para
pessoas que são perseguidas dentro de seus países de origem e que, portanto, são
obrigadas a se deslocar para outro local. (JUBILUT, 2007, p. 57)
Tal citação vem corroborar com a proteção do Direito Internacional dos Refugiados,
vindo a nortear as situações específicas, oferecendo segurança jurídica a elas.
Nessa esteira a doutrinadora Flávia Piovesan (2007) perpetua a ideia do Direito
Internacional dos Direitos Humanos possuir um papel de fonte dos demais direitos, com a
função de definição dos princípios gerais a serem atendidos.
Ao discorrer sobre esse tema, a autora ainda formula dois pontos de discussão: no
primeiro, diz respeito ao indivíduo em situação de requerer o asilo, devendo ser respeitado os
direitos à segurança e não-discriminação; e o segundo, o indivíduo já está sendo perseguido,
devendo fazer jus ao direito de locomoção, podendo buscar o refúgio em local que lhe forneça
segurança.
O objetivo pretendido com esses pontos é forçar os Estados a respeitar esses direitos,
buscando fornecer uma proteção satisfatória para que essas pessoas consigam viver como
cidadãos.
Tais argumentos podem ser vistos, também, na obra de Jubilut (2007), no seguinte
parágrafo:
Esse órgão foi fundado em 1863 com o nome de Comitê Internacional de Ajuda aos
Feridos, e acabaria por virar mais tarde, em 1880, no Comitê Internacional da Cruz Vermelha.
Pretendia-se realizar serviço comunitário de prestação de socorro, em situações que
envolvessem conflitos armados, e após curto período, o comitê já era reconhecido
internacionalmente através da Convenção de Genebra de 1864, que a institui como sendo
fonte do Direito Internacional Humanitário.
Fábio Konder Comparato, assim se refere à Convenção de Genebra de 1864:
artigo, o autor afirma que há a expressa confirmação da ligação entre as vertentes do Direito
Humanitário e dos Refugiados.
Quanto ao Direito Internacional dos Refugiados, primeiramente é preciso
identificarmos que sua intenção é a de proteger as pessoas perseguidas por motivos políticos,
raça, religião, o que diferencia do Humanitário stricto sensu, mas não deixa de produzir a
mesma eficácia quanto a essência dos direitos humanos.
Em síntese, verifica-se, portanto, que as condições a que se destinam tais direitos,
tanto dos refugiados como humanitário diferem quanto a suas obrigações, o primeiro tem a
função de zelar pelo indivíduo que procura refúgio, assegurando que este não sofra nenhuma
violação de direitos em total observância aos preceitos jurídicos a ele salvaguardado, através
dos elementos fundamentados e garantidos pelo Direito Internacional dos Direitos Humanos,
contemplando assim, a equiparação entre eles no âmbito internacional.
Para professora Flávia Piovesan (2001) citada por PEREIRA, (2009), são quatro os
preceitos jurídicos que contemplam essa proteção:
O primeiro deles seria anterior ao refúgio ou asilo em si, quando aquele que é
perseguido deve, ou pelo menos deveria, ter seus direitos à segurança e à não-
discriminação respeitados em seus país de origem ou residência habitual. Em
segundo lugar, já que está sendo perseguido, o indivíduo tem o direito de liberdade
de locomoção, de ir e vir, para poder sair da situação de perseguição e ir buscar
refúgio em outro local que lhe ofereça segurança, fugindo, assim, de uma eventual
prisão injusta, ameaça à vida ou à sua integridade física. Nesse sentido, após ser
acolhido no país de sua nova morada, mediante concessão de asilo ou
reconhecimento dos status de refugiado, o Estado de acolhida terá o dever de zelar
por sua proteção, respeitando os direitos fundamentais do refugiado ou asilado. Por
fim, e em um quarto momento dessa perspectiva idealista, a necessidade do respeito
aos direitos humanos no país de origem, após a cessação das causas que
fundamentaram a perseguição. (PIOVESAN, 2001, p. 37 apud PEREIRA, 2009, p.
35 – 36).
Para Boaventura de Souza Santos (1997) mencionado por Piovesan (2008), os direitos
humanos têm caráter multicultural. É preciso entender a legitimidade local para potencializar
a competência global. Discorre ainda o autor, no seguinte sentido:
Sem embargos, toma-se como base a este diálogo, a dignidade da pessoa humana, um
diálogo aberto entre as culturas chamado por Amartya Sen (2006. p . 12, apud PIOVESAN,
2008. p. 13) de “dialogue among civilizations”.1
O que a DUDH fez, portanto, foi universalizar os direitos, mas ao mesmo tempo
promover garantias que pudessem ser observadas em determinadas condições geradas pelo
homem. Nesse ponto, Piovesan (2008) faz a seguinte reflexão sobre a universalidade e
indivisibilidade desses direitos:
Universalidade porque clama pela extensão universal dos direitos humanos, sob a
crença de que a condição de pessoa é o requisito único para a titularidade de direitos,
considerando o ser humano como um ser, essencialmente, moral, dotado de
unicidade existencial e dignidade. Indivisibilidade porque a garantia dos direitos
civis e políticos é condição para a observância dos direitos sociais, econômicos e
culturais e vice-versa. (PIOVESAN, 2008, p. 5)
E mais importante, ela contemplou o direito internacional com princípios que fizeram
surgir os demais ramos de proteção de direitos, como o direito dos refugiados, moldando o
sistema para atuar na proteção dos indivíduos.
Passa-se, então, a identificar tais princípios para sabermos as limitações e opções que
os indivíduos em situação de refugiados podem usufruir no direito internacional.
Nota-se, em primeiro momento, o princípio da proteção internacional da pessoa
humana, consentâneo do artigo 14 da DUDH (1948), cuja função é destinar às pessoas
perseguidas ampla proteção dos seus direitos e liberdades fundamentais.
Em segundo lugar, o Princípio da cooperação e da solidariedade internacional,
transformada em provimento jurisdicional internacional pela Convenção dos Refugiados de
1951, identificando o caráter de solidariedade, como elemento precípuo para o acolhimento
dos refugiados pelos Estados.
1
Tradução: Diálogo entre culturas, religiões e civilizações hoje é necessário, particularmente desde todas as
guerras, especialmente as guerras mundiais.
29
outro local que não sua terra natal.” (STOESSINGER, 1956. p 03, apud PEREIRA, 2009. p
42).
Em Roma, o asilo ganha contornos jurídicos, de sistematização dada pelo direito
romano no ano de 27 a. C, período em que os romanos dominaram a Grécia, expandindo seu
território. O asilo era destinado às pessoas que eram perseguidas injustamente, mas não
beneficiava pessoas que cometessem algum tipo de crime no país de origem ( MAEKELT,
1982. P. 140, apud PEREIRA, 2009, p. 44).
No direito romano, o asilo deixava de ter uma visão apenas religiosa, e esse era o
grande embate com esse instituto, já que a intenção tanto na Grécia como no Egito era
proteção de um indivíduo em um lugar que fosse considerado sagrado e lá a pessoa era
intocada. Isso para os romanos não era aceito.
Na Idade Média, a estrutura política do Ocidente ganha novo contexto, com a queda
do Império Romano em 476 d. C, e desta época até o ano de 1453, a história do Ocidente foi
redesenhada pelo período feudal, onde os donos de terras ditavam o poder e a Igreja Católica
detinha uma grande influencia no Estado (PEREIRA, 2009. p. 46).
Neste período segundo Pereira (2009) o Ocidente passa por uma reformulação
deixando de ter interferências de natureza transcendental para dar lugar a um direito prático,
consuetudinário, tendo como fundamentação o poder da Igreja e do feudalismo.
Com o poder que a Igreja possuía nesse período, ela mesma passou a regulamentar o
direito de asilo, determinando que os locais religiosos, protegidos por Deus, serviriam de asilo
para pessoas perseguidas e ameaçadas. Nestes locais elas ficariam sob a proteção de Deus (V.
ANDRADE, 2001. p. 105 – 106, apud PEREIRA, 2009, p. 47).
Outro período da história inicia-se no final do século XV, o surgimento de ideais
antropológicos com o renascimento e protestantismo que culminaram na compreensão de uma
nova era, a da Idade Moderna, época em que o Ocidente recebe influência de Martinho Lutero
(1483 – 1546) da Alemanha e João Calvino (1509 – 1564) da França, através do
protestantismo, que passa a desempenhar um papel crítico dos dogmas utilizados pela Igreja
Católica.
Os protestantes começam a ser perseguidos pela Igreja e precisando de asilo,
encontram em alguns reinos europeus, sobre esse contexto, discorre Andrade (2001. P. 108
apud PEREIRA, 2009. P. 48), ipsis litteris:
Diante desse fenômeno o asilo recebe uma projeção ainda maior, sendo determinante a
aplicação de uma postura mais jurídica e relevante para servir de alento à sociedade, com essa
nova noção o jurista Hugo Grotius (1583 – 1645), cria um estudo jurídico sobre guerra e paz
Pereira (2009, p. 49) cita que “para Grotius, o auxílio humanitário representava uma boa ação
dos Estados Nacionais, à época recém-instituídos”
Grotius estabeleceria que somente pessoas perseguidas por questões religiosas e
políticas deveriam fazer jus ao asilo, no mesmo entendimento que era aplicado pelo império
romano, sendo assim, se um indivíduo praticasse algum crime no país de origem, não era
merecedor de asilo.
Passado um grande período, entrando no século XVIII, o conceito de asilo encontra
seu ápice jurídico, amparado pelo Iluminismo da Revolução Francesa de 1789, cominado com
os ideais liberais, ele passa a ser normatizado na Constituição Francesa de 24 de junho de
1793, em seu artigo 120, dando asilo aos estrangeiros exilados por motivo de liberdade de sua
pátria.(RODRIGUES, 2013, online)
Outro momento significante citado por Bueno (2012) ocorreu no ano de 1921, quando
o Conselho da Liga das Nações, organização internacional criada para assegurar a paz, criou
um Alto comissariado para Refugiados Russos (ACRR), com a intenção de prestar assistência
jurídica e reassentar os refugiados russos.
Em 1922 o Alto Comissariado Russo cria um passaporte para que as pessoas
pudessem ser identificadas, sabendo-se o país de origem dela, possibilitando seu retorno.
Para Pereira e Unneberg (2013), a figura do refugiado ganha contorno internacional
com a Segunda Guerra mundial, em virtude das inúmeras atrocidades dos regimes nazista,
fascista e demais regimes totalitários na Europa.
Nesse período, um grande número de pessoas buscavam asilo político em outros
países, com a intenção de fugir das perseguições, como no caso mais conhecido que foi dos
Judeus, perseguidos na Alemanha de Adolf Hitler.
A Europa encontrava-se devastada por essa guerra, considerada a mais sangrenta e
avassaladora de todos os tempos, as condições humanas eram as mais inapropriadas, não
havia comida, vestuário e muito menos moradia que pudesse atender a população, as vítimas
chegavam a soma esdrúxula de “55 milhões de mortos, 35 milhões de feridos, 20 milhões de
órfãos, 40 milhões de deslocados e 190 milhões de refugiados”. (RODRIGUES,2013)
No estado em que se encontrava a Europa, pós segunda guerra, seria difícil reconstruir
tudo sem que houvesse um sentimento de união entre os países. O grande número de pessoas
desalojadas causava um transtorno ainda maior, e o sentimento que ganhava força era de unir-
se para construir uma nova Europa.
É criado em 1943, antes do fim da guerra, um órgão que pudesse servir de amparo aos
refugiados, ele se chamava “Administração das Nações Unidas para o Auxilio e o
Restabelecimento (ANUAR)” tendo como função a de forçar uma discussão em torno dos
refugiados, e lutar pela proteção dessas vítimas que se encontravam sem assistência alguma.
Pressionada, a comunidade internacional, em 1945 cria a Organização das Nações
Unidas (ONU), tendo como objetivo manutenção da paz e segurança internacional, proteger
os direitos humanos, respeito à dignidade das pessoas, promover a paz e lutar por um mundo
mais justo, conforme pode ser observado no preâmbulo da Carta das Nações Unidas:
O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados é um órgão criado pelas
Nações Unidas para defender os interesses dos refugiados, protegendo-os e buscando soluções
para os problemas que os envolve.
Criado em 1950, o ACNUR tem autonomia para programar seus próprios mecanismos
jurídicos, mas sem deixar de observar os preceitos da Assembleia Geral das Nações Unidas, e
tendo como diretriz levar a discussão sobre os direitos dos refugiados a nível internacional,
buscando uma efetivação para proteção desses indivíduos, promovendo soluções que possam
sanar maiores preocupações.
O ACNUR além de ter representação na ONU, possui representação em todos os
continentes, através de escritórios, alocados em determinada região estratégica.
Com o advento do ACNUR, todas as questões envolvendo refugiados não mais são
resolvidas apenas pelos países envolvidos, podendo ter interferência deste órgão através de
uma colaboração participativa, aliando aspectos humanitários e sociais.
Lastreado nessa perspectiva social, o ACNUR, tem uma atuação importante no
acolhimento dos refugiados pelos Estados, pois, além de assessorar o governo local, contribui
com recursos financeiros para as entidades que acolhem diretamente os refugiados, como por
exemplo, no Brasil as Cáritas Arquidiocesanas de São Paulo e Rio de Janeiro.
O objetivo desses recursos é para pagar aluguéis e alimentação, no entanto, a própria
entidade do ACNUR reconhece que estes recursos não são suficientes para determinados
Estados, como no Brasil, “pois por ter um número de refugiados baixo. Em comparação a
outros países, a maior parte desses recursos acaba sendo direcionada para operações maiores
que envolvem um grande número de pessoas”( INSTITUTO HUMANITAS UNISINOS)
No que tange à competência para atuar do ACNUR, esta pode ser estendida para
tutelar indivíduos que se encontram em situação de deslocados internos e apátridas, não
somente aos refugiados.(JUBILUT,2007)
36
Após insipiente e irracional conflito bélico entre as nações do Ocidente europeu, pós-
segunda guerra mundial, período evidenciado por um aspecto público de subserviência ditado
pelos poderes totalitários de alguns Estados, acabou por resultar em uma eloquente
manifestação sobre os direitos dos seres humanos.
Tal atributo de expressão social, cuja manifestação partiria para coação institucional
dos Estados daria por iniciar uma conduta que mudaria os valores sociais, sendo assim, a
soberania só poderia ser alcançada se defendida por princípios que levassem em consideração
a dignidade da pessoa humana.
Hannah Arendt (1989) ao tratar sobre o regime totalitarista impregnado na Europa no
início do século XX, define-o como sendo uma ficção inventada pelos líderes da época, e esse
mundo fictício imanente de convicções filosóficas desmedidas, onde só é possível enxergar
uma verdade irreal, uma sociedade secreta, acaba por erigir um movimento revolucionário.
Parte ainda, Arendt (1989, p.301), a teorizar aquele cenário como sendo uma
“atmosfera de desintegração”, proporcionada pelas duas guerras mundiais revelando um apelo
a solidariedade e humanitarismo, nessa ordem traduz a autora:
Deste resultado, surgiu uma classe de pessoas que não possuíam nenhum grupo social,
eram considerados como marginalizados da sociedade, chamados por Hannah Arendt (1989,
p. 301) como “apátridas”, de número tão expressivo que poderiam formar uma nação, nação
das minorias, desnudos de direitos.
Esses apátridas eram desnacionalizados, isentos de identificação, perambulando como
mendigos, sem fronteiras, em uma constante falta de valores morais.
Foi nessa realidade que as afirmações acerca dos direitos humanos estavam descrentes.
Não havia uma postura que pudesse trazer algum alento. As perseguições dos indivíduos
silenciavam qualquer apelo de democracia.
Hannah Arendt (1989, p. 302), bem esclarece o lampejo subjetivo de revolta
assinalando que: “A própria expressão direitos humanos tornou-se para todos os interessados
39
Exibindo à luz o resíduo entre nascimento e nação, o refugiado faz surgir por um
átimo na cena política aquela vida nua que constitui seu secreto pressuposto. Neste
sentido, ele é verdadeiramente, como sugere Hannah Arendt, “o homem dos
direitos”, a sua primeira e única aparição real fora da máscara do cidadão que
constantemente o cobre. Mas, justamente por isto, a sua figura é tão difícil de definir
politicamente. (AGAMBEN,2010. p. 128)
O refugiado deve ser considerado por aquilo que é, ou seja, nada menos que um
conceito-limite que põe em crise radical as categorias fundamentais do Estado-
nação, do nexo nascimento-nação àquele homem-cidadão, e permite assim
desobstruir o campo para uma renovação categorial atualmente inadiável, em vista
de uma política em que a vida nua não seja mais separada e excepcionada no
ordenamento estatal, nem mesmo através da figura dos direitos humanos
(AGAMBEN,2010, p.130)
Uma vida sem valor é “vida indigna de ser vivida”, frase que Agamben (2010)
sumarizou para retratar a politização que o conceito de cidadão ganhou dos Estados soberanos
40
Uma tentativa de contornar essa situação foi tomada pelos estados, através da abolição
do direito de asilo, assim, sem esse direito os Estados poderiam intervir no país vizinho para
proteger os seus cidadãos que lá viviam.
Outro marco importante foi a conscientização dos Estados de que os refugiados eram
uma realidade que deveria ser enfrentada. A Europa entra em crise diplomática pois a
repatriação muitas vezes não era aceita por alguns países.
A crise de nacionalidade transformava os apátridas em grupos minoritários com
expressões típicas de determinadas nações que pudessem até conter uma identidade uniforme,
logo, gerava-se uma dúvida quanto a cidadania desses povos.
2
Refugiados, solicitantes de refúgio, deslocados internos, apátridas e outras pessoas dentro da competência do
ACNUR. Final de 2011. África 13.054.069; Ásia 14.525.986; Europa 3.020.792; América Latina e Caribe
4.315.819; Estados Unidos e Canadá 483.219; Oceania 40.243. Refugiados 10.404.806; Solicitantes de refúgio
895.284; Refugiados retornados 531.907; Deslocados internos 15.473.378; Deslocados internos retornados
3.245.804; Apátridas 3.477.101; Outros 1.411.848. Total 35.440.128 pessoas.
43
Depreende-se disso que o que se pretende é a criação de princípios que possam servir
de alento aos direitos humanos, não só ao refugiado, mas de tal forma sirva de corolário a
igualdade jurídica para proteção de todos os cidadãos.
A começar com a dignidade humana, um direito que existe insculpida na essência do
ser humano. Um indivíduo que tem suas razões e convicções se retirado tais valores a força,
ele perde sua dignidade, sua essência e sua relevância para os demais indivíduos.
Portanto, a dignidade humana é composta por um conjunto de valores, não apenas a
condições mínimas de sobrevivência, mas com a função de assegurar ao indivíduo um status
quo que lhe dê oportunidade de viver da forma que achar correto, com suas convicções e seus
valores.
Neste mérito, a dignidade passou a ser o principal direito adquirido pelos refugiados,
sem este os demais ficariam prejudicados, pois ele abrange as mínimas garantias para uma
qualidade de vida.
Fábio Konder Comparato citado por Jubilut (2007), faz alusão a este princípio,
retratando a sua importância para os tempos atuais, criando uma associação com a pretensão
do indivíduo de ter direito a uma vida feliz, sem diferenças culturais ou biológicas.
Outro valor importante é o da solidariedade, presente em nossa sociedade desde os
tempos mais remotos, os reis criavam ações que pudessem beneficiar seus súditos, e assim
serem considerados como solidários, mas esse não era a real intenção, havia sempre interesses
por trás.
Foi então no século XIX que o direito de solidariedade se firmou e teve um impacto
mais significativo nos Estados, pois foi nesse período que se formulou uma transformação
social, e o combate as desigualdades sociais.
Isto nos direciona a pensar a solidariedade como uma proposta que admite um vínculo
social sem o qual o indivíduo não poderá desfrutar de condições mínimas de sobrevivência
em sociedade, e essa estrutura atingiria principalmente as pessoas que estivessem em
condições menos favorecidas.
No ambiente internacional a solidariedade tem significativa importância quando os
Estados tentam combater as desigualdades sociais com medidas paliativas que visam repelir
as desigualdades sociais, como ocorre certamente com as situações dos refugiados.
Comparato (p. 62, apud JUBILUT, 2007. p. 68) mais uma vez nos brinda com uma
interlocução que define as diretrizes que a solidariedade deve se pautar, ao teor que segue:
44
Partindo desse fundamento, a solidariedade deve ser proposta como condição sine qua
non para que os refugiados tenham proteção, pois ela se torna uma responsabilidade a todas as
nações.
No âmbito dessas discussões surge outro valor que tem a função de demonstrar a
sociedade que os indivíduos têm opiniões, e opções diferentes de encarar a vida, é a
tolerância.
A tolerância é uma virtude que se aplica a quem tem diante de uma situação concreta a
discricionariedade de tolerar a maneira de ser de outra pessoa, de pensar e agir.
É necessário entendermos que a tolerância é essencial para que os direitos humanos e
os direitos dos refugiados sejam observados. Para Alberto do Amaral Junior (2001. 74-77,
apud JUBILUT, 2007, p. 70) ela se fundamenta na forma com que é encarada politicamente,
podendo trazer benefícios em situações de discordância, também deve ser observada pelo
princípio da razoabilidade com interferência no excesso de poder e auferida como princípio
moral, reconhecendo a dignidade dos demais indivíduos como direito supremo.
Outro fator importante deste valor é a possibilidade que ele proporciona de elidir as
diferenças, nas palavras de Michael Walzer (1999, p XII, apud JUBILUT, 2007. p. 70), “a
tolerância torna a diferença possível, a diferença torna a tolerância necessária”, um princípio
que pactua com o significado de aceitar a polarização dos indivíduos no ambiente
multicultural.
Em consonância a essa percepção multicultural, que inspira as diferenças entre as
pessoas, por motivo de crença, religião, etnia, entre outras, Jubilut (2007), faz menção a
essencialidade da tolerância nos seguintes termos:
Por todo exposto, podemos concluir que tanto a dignidade, como a solidariedade e a
tolerância, são princípios inerentes ao fundamento filosófico da proteção aos direitos humanos
e dos refugiados, pois sem eles a sociedade e os indivíduos ficam a mercê de sofrerem uma
violência ainda maior, um genocídio cultural.
No ano seguinte, em 1992, o Brasil debruça-se sobre um novo prisma para defender os
interesses dos refugiados, recepcionando o ditames incitados pela Declaração de Cartagema
de 1984, onde é instaurada uma concepção mais ampla de proteção aos direitos dos
refugiados, tal definição vem a ser formalizada pela Lei 9.474 de 1997.
47
Nesse ponto, o Brasil passa a ser considerado como exemplo, em que pese o
tratamento despendido aos refugiados, ampliando seus direitos e minimizando irregularidades,
essa postura faz do Brasil uma referência, conforme Jubilut (2007. p 176), “atualmente o
Brasil é o segundo maior receptor de refugiados da América Latina, estando atrás somente do
México, e um dos únicos que é um país de reassentamento”.
Em 1998, sendo reconhecido internacionalmente o trabalho interno do Brasil, em prol
das garantias dos direitos dos refugiados, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os
Direitos Humanos, desativa seu escritório no território brasileiro, confiando assim, na
estrutura criada pelo Brasil para equacionar e sanar todos os problemas ligados aos
refugiados.
Mais adiante, no período entre 1999 e 2004, outro avanço ocorre no Estado brasileiro,
no que tange a proteção jurídica dos direitos dos refugiados, com a participação da Ordem dos
Advogados do Brasil – OAB, no que tange ao auxílio nos processos de reconhecimento,
prestando auxílio técnico aos refugiados.
Também, nesse período o ACNUR, que possuía apenas escritório em Buenos Aires, na
Argentina, com a função de prestar serviço para toda América Latina, resolve ativar
novamente o escritório situado no Brasil, ampliando sua atuação junto ao CONARE onde
participava das reuniões como membro efetivo, mas sem direito de voto (JUBILUT, 2007).
2.1 Tutela jurídica dos direitos dos refugiados no Estado Brasileiro, Constituição da
Republica de 1988 e Lei 9.474, 22 de julho de 1997.
de situações com temáticas assentadas em valores morais compatíveis com os que se almejam
em uma sociedade democrática.
Nesse sentido, Ronald Dworkin (2013) afirmava que a democracia só era legítima se
concebida por instituições políticas que a sustentasse, e pudessem reafirmá-la perante a
sociedade, fazendo alusão as Constituições dos Estados.
Sob essas considerações, passamos para o estudo da compreensão e interpretação das
normas constitucionais, antes de percorrer os diplomas legais pertinentes, pois para construir
uma normatização sobre determinado tema, se faz necessário interpretar o que a norma
constitucional dispõe em sua morfologia, através de seus limites e competências atribuídas ao
legislador perante a complexidade de conteúdo que lhe são vinculados.
Estes conteúdos interferem na compreensão e definição do sentido pratico, e sua
analise deve ser robusta ao sentido que lhe é dado pelo legislador, mas no tocante a esta
celeuma a interpretação das normas não olvida em receber intervenção do jurista, doutrinador
e magistrado, cujas interpretações corroboram com o provimento jurisdicional pleiteado.
Sob essa égide, os métodos de interpretação podem atribuir a determinada norma uma
compreensão distinta do que realmente se quis, essa é a realidade da maioria dos
ordenamentos jurídicos da atualidade, ocasionada pelo Estado democrático de direito que
delimita todas as normas de forma programática.
Exclui-se dessa realidade a Constituição Americana cujo conteúdo jurídico se delineia
por princípios de liberdade e garantias individuais, tornando-se sincrética e axiológica, o que
pode ser comparada neste ponto a brasileira.
Mas no que compete a interpretação das normas da Constituição Americana, ela difere
e muito dos demais ordenamentos jurídicos estatais, pois se norteia na compreensão da norma
em determinado caso concreto, o que ocorre na Judicial review, valorizando as ações de
iniciativas privadas.
2.2 Proteção dos direitos dos refugiados na Constituição da República do Brasil de 1988.
Por princípios entende-se as linhas gerais que devem ser adotadas pelo governo
brasileiro no exercício de suas atividades. Trata-se de regras jurídicas, apontam os
objetivos a serem alcançados por essas, tendo assim papel de destaque nos
ordenamentos jurídicos. (JUBILUT 2007, p. 180)
Esse processo de complexificação dos direitos dos refugiados também pode ser
alicerçado pelo artigo 5º da Constituição da República de 1988. Nele podemos observar a
intenção do constituinte em estender aos estrangeiros os direitos e garantias de liberdade,
segurança, igualdade, inviolabilidade do direito à vida, entre outros.
O Brasil passa a ser um Estado que reconhece os direitos humanos na sua essência e
aplica-os aos refugiados que aqui se encontram, com o mesmo zelo e discricionariedade para
todos que necessitam desse amparo, brasileiros e estrangeiros.
Por esse motivo, os tratados internacionais que criam compromissos para defesa dos
direitos humanos geralmente são ratificados no Brasil, como ocorreu com a Convenção de
1951.
Outro ponto importante que deve-se frisar é que conforme previsão constitucional
cabe ao presidente da República celebrar os tratados internacionais, consentâneo do art. 84,
VIII da Constituição da República de 1988, que terão força de lei ou status constitucional uma
vez aprovados pelo Congresso Nacional.
Na prática, uma vez celebrado, o tratado deve ser apresentado ao Congresso Nacional
para votação nas duas casas legislativas, após finaliza-se com a promulgação do Presidente.
Quanto ao poder normativo que este terá, assim nos esclarece Jubilut
O Estado brasileiro achou, por bem, confeccionar uma lei própria para tratar dos
direitos dos refugiados, e assim o fez em 22 de julho de 1997, com a promulgação da Lei
9.474/97, determinando as diretrizes para implementação do Estatuto dos refugiados.
51
A Lei 9.474/1997 é extremamente bem estruturada do ponto de vista formal: ela traz
em seu Título I os aspectos caracterizadores dos refugiados; o Título II trata do
ingresso no território nacional e do pedido de refúgio; o Título III institui e
estabelece as competências do CONARE (que, como já mencionado, vem a ser o
órgão responsável pelo reconhecimento do status de refugiado); o Título IV traz as
regras do Processo de Refúgio; o Título V trata das possibilidades de expulsão e
extradição; o Título VI se ocupa da cessação e da perda da condição de refugiado; o
Título VII relaciona as soluções duráveis; e o Título VIII cuida das disposições
finais (JUBILUT, 2007. p. 190).
Tal artigo não foge da definição clássica do conceito previsto na Convenção de 1951,
contudo, a lei não estabelece nenhum limite temporal para concessão como ocorre com a
Convenção quando ela definiu que ela se aplicaria as causas que fossem anteriores a 1951,
vinda a ser internacionalizada apenas com o Protocolo de 1967.
A referida lei toma uma postura diferenciada em seu inciso III do artigo 1º,
densificando o objetivo do universalismo totalitário dos direitos humanos, no ápice dos
processos de reconhecimento de refugiados, mensurando que a simples violação desses
direitos pode servir para caracterizar o refúgio, e por outro lado, se a causa do refúgio advém
de problemas com tráfico de drogas ou terrorismo, a norma prevê a expulsão.
Salientamos que, em outros territórios, a legislação sobre refugiados não vem de forma
autônoma como no Brasil, geralmente ela é subserviente a outras normas de caráter mais
52
Nos artigos 38 e 39 da lei 9.474 (BRASIL, 1997), são definidas as situações de perda e
cessação do status de refugiado, segundo a lei a cessação se dá quando os motivos que
levaram o refúgio não existem mais e a perda, quando o refugiado comete algum ato contrário
à segurança nacional.
Da decisão que reconhece ou não o status de refugiado é passível de recurso de
Apelação no prazo de 15 dias, contados da notificação da decisão ao requerente, conforme
previsão do artigo 40 da lei 9.474 (BRASIL, 1997).
Cessando a condição de refugiado o indivíduo pode permanecer no território brasileiro
desde que observados os ditames legais estabelecidos pelo Estatuto dos Imigrantes, nos
termos do artigo 39 da lei 9.474 (BRASIL, 1997).
53
Pode-se dizer que o Brasil passou, com o advento desse diploma legal, a ter um
sistema lógico, justo e atual de concessão de refúgio, razão pela qual tem sido
apontado como paradigma para a uniformização da prática do refúgio na América do
Sul, apesar de sempre haver espaço para melhoras e
aperfeiçoamento.(JUBILUT,2007,p.195-196)
final do processo, nesse período a Justiça Federal emite um documento que autoriza a
permanência provisória do solicitante de refúgio até a decisão final.
Em seguida, o solicitante é submetido a uma entrevista, realizada por um representante
do CONARE, a qual é remetida a apreciação de um grupo formado por representantes do
CONARE, do Ministério das Relações Exteriores, do ACNUR e da sociedade civil, esta
última representada pelo Instituto de Migrações e Direitos Humanos, após, esse grupo emite
um parecer que é encaminhado ao plenário do CONARE, onde será
apreciado.(JUBILUT,2007)
Sendo aceito o pedido de refúgio, a polícia Federal emite documentação de
autorização, documento com o nome de Registro Nacional de Estrangeiro – RNE, caso não
seja deferido o pedido, o solicitante terá apenas o prazo de 15 dias para permanecer no
território brasileiro.(JUBILUT,2007)
Sobre esse processo, Jubilut (2007) faz elogios aduzindo que o Brasil instrui de forma
dinâmica e bem regulamentada, com pouca possibilidade de fraudes, e principalmente com
rapidez, assegurando todas as proteções necessárias ao pretendente do refúgio.
55
O meio ambiente sofreu e vem sofrendo cada vez mais com o processo de
desenvolvimento globalizado, este processo atinge em suas características globais a pretensão
do crescimento econômico sem importar como e onde esse crescimento pode nos levar.
É fundamental mensurarmos que esse processo de alavanca da economia é propulsor
de um progresso ofensivo ao meio ambiente, causador de poluição e degradação de ambientes
naturais, reduzindo a biodiversidade de vida e de plantas no planeta, entre outros fatores que
são considerados propícios a consequências naturais desastrosas e de mudanças climáticas.
Na expectativa de impor limites para esse desenvolvimento econômico desenfreado, a
comunidade internacional manifestou preocupação com os índices alarmantes de agressão ao
meio ambiente, organizando encontros políticos no intuito de discutir essas questões na
expectativa de conscientizar os países desenvolvidos e em desenvolvimento, principais
agentes agressores ao meio ambiente, da importância de diminuírem os impactos causados ao
planeta.
Especialistas defendem que a mudança do clima é o resultado de um processo de
acúmulo de gases de efeito estufa na atmosfera, que está em curso desde a revolução
industrial, fato que deve ser atribuído a população mundial, cujas responsabilidades por esse
fenômeno são mais significativas em alguns países que outros, segundo os volumes de suas
emissões.
56
A solução encontrada para provocar uma discussão global foi a criação de uma
Conferência social internacional articulada pela Organização das Nações Unidas, cuja
principal intenção era forçar os Estados a pactuarem um tratado que provocasse a diminuição
da emissão de gases do efeito estufa.
Em 1992, no Rio de Janeiro, foi realizada a Convenção das Nações Unidas para o
Meio Ambiente e Desenvolvimento - CNUMAD, chamada de ECO 92 ou RIO 92, também
conhecida como “Cúpula da Terra”, nesta oportunidade além de tratar de assuntos relevantes
sobre o meio ambiente e o desenvolvimento os países envolvidos assinaram um acordo
prevendo ações concretas para mitigar a interferência humana no ambiente natural do planeta.
Nesta Conferência ECO 92, é tomado um passo importante com a assinatura da
Agenda 21, comprometendo os signatários a estabilizar em níveis mais seguros os índices de
concentração de emissão de gases poluentes.
Tal princípio afere que todos os países detêm sua respectiva responsabilidade quanto
às mudanças climáticas, contudo, como os países desenvolvidos e em desenvolvimento são
mais impactantes para o aumento das mudanças climáticas, devem ter uma atuação
diferenciada.
Para que essas ações fossem pactuadas entre a comunidade internacional a Convenção
elaborou a Conferência das Partes (COP), órgão supremo da Convenção, composta por todos
os países que a ratificaram (THOMÉ,2011), sua função é de atuação prática, tornando
eficazes as decisões implementadas na Convenção.
No entanto, somente com indicadores de emissão desses gases, poderia se ter uma
noção do que cada país vinha interferindo no aumento do aquecimento global, daí a
persecução de uma medida mitigatória.
Neste contexto, no ano 1995 em Berlim, com a primeira Conferência das Partes COP1,
os países em número de 160, chancelam a importância de se estabelecer estudos e pesquisas
sobre a emissão dos gases do efeito estufa (GEE) por seus pares, a fim de prever as medidas
paliativas necessárias, no ano seguinte em Genebra, na Suíça, acontece a COP2, com poucas
modificações concretas, apenas reconhecendo a importância de se limitar a emissão dos GEE.
Já em Kyoto no Japão, em 1997, acontece a mais significativa Conferência, a COP3
que cria um protocolo capaz de mensurar e adequar uma proposta de diminuição e
estabilização das emissões dos gases do efeito estufa pelos países participantes.
O protocolo de Kyoto, como é chamado, abrange de maneira eficaz a pretensão que,
até então, estava apenas pactuada em princípios desde a Convenção-Quadro sobre mudança
do clima de 1992, o protocolo prevê a diminuição dos GEE, apresentando os índices
necessários para se alcançar tal objetivo.
No primeiro momento, não houve aceitação de todos os países, principalmente os
desenvolvidos, principais poluidores, em 2002 houve a ratificação da União Europeia, Japão,
Polônia e Canadá, mas esses países eram responsáveis por emissão apenas de 43,7% dos
GEE, e para o protocolo entrar em vigor era necessário participação de no mínimo 55 % de
emissões, o que veio a acontecer apenas em 2005 com a ratificação da Rússia, completando
esse índice. Os Estados Unidos, um dos maiores emissores, não ratificaram por questões
econômicas.
O objetivo principal era fazer com que os países assumissem um compromisso de
diminuição das emissões dos GEE num percentual estipulado para cada país pactuante no
período de 2008 até 2012. Os países desenvolvidos e em desenvolvimentos eram os mais
afetados por essas medidas mitigadoras, os demais poderiam aderir espontaneamente.
58
Quando os danos que poderão ocorrer são resultado de nossas decisões, estaremos
falando de riscos; quando danos podem ocorrer sem que seja possível nosso
controle, estaremos no âmbito dos perigos, os quais cada vez mais são influenciados
pela ação humana, implicando na necessidade de buscar o controle sobre os perigos,
ou seja, transformá-los em riscos (decisão).(WEYERMÜLLER, 2010. p 50)
Sem embargos, pode-se afirmar que os efeitos globais desses riscos são perceptíveis
não só no arcabouço ecológico, mas também no econômico, social e cultural, o que acaba por
implicar em uma interferência negativa no desenvolvimento da humanidade.
Natascha Trennepohl credita essa crescente ordem de agressão a natureza ao
capitalismo moderno, assim se manifestando:
A presença de riscos não é uma característica inovadora da sociedade atual, uma vez
que tais situações já existem há muito tempo. O grande diferencial está no potencial
global de abrangência: os danos não se limitam ao espaço geográfico em que a
atividade perigosa foi produzida. Ademais, antigamente, estes eram decorrentes de
uma falta de estrutura, seja ela tecnológica, higiênica, etc; agora, são frutos da super
estrutura industrial, são produtos da modernidade.(TRENNEPOHL, 2008. p 22,
apud RAMOS, 2011. p. 49)
3
Aquecimento Global. Disponível em: http://www.suapesquisa.com/geografia/aquecimento_global.htm.
Acesso em: 03 abr. 2013
64
Ulrich Beck (2010, p. 100), em um tom mais pessimista acredita que a humanidade
sofrerá com “êxodo de ecorrefugiados e asilados climáticos”, principalmente para regiões
mais ricas, e o países mais pobres, poderão sofrer com guerras por água e alimento.
Uma pretensa preocupação com esses eventos já havia sido objeto de discussão no
Quarto Relatório do IPCC, em especial na página 53, com o seguinte teor: “O aumento da
seca, da atividade intensa dos ciclones e aumento do nível do mar tem como um dos seus
principais impactos sociais o potencial de movimentos migratórios” (Intergovernmental Panel
on Climate Change, 2013, p.53)
Eventos como tsunamis de 2004 na Indonésia e 2011 no Japão, furacão Katrina e
Sandy nos EUA, terremoto do Haiti em 2010, nos levam a uma correlação destes com as
mudanças climáticas, e com o crescimento do número de refugiados ambientais. Só no Haiti
foram 1,5 milhão4 de desalojados.
O terremoto que atingiu o Haiti em 2010, o maior em 200 anos no país e o pior
desastre urbano da atualidade, que resultou em mais de 300 mil vítimas fatais e
aproximadamente um milhão e meio de pessoas desabrigadas, comprova tal
hipótese. O custo da catástrofe foi avaliado pelo Banco Mundial em 7.9 bilhões de
dólares e a reconstrução vem sendo financiada por organizações, fundos e doadores
internacionais.(ALTERNET, 2011)
O Brasil é um dos países que acolhe esses refugiados ambientais Haitianos, dentre os
quais, mais de 4 mil já conseguiram visto para permanecer em território nacional, estima-se
que 3 mil ainda estão ilegais. As dificuldades que eles encontram no território brasileiro são
muitas, principalmente quanto ao descaso do nosso governo brasileiro, tais angústias foram
reveladas em entrevista proferida ao Instituto Humanistas Unisinos, pelo padre Jesuíta Tadeu
Berausse membro do projeto Pró-Haiti, conforme trecho abaixo:
4
Dois anos do terremoto do Haiti. Disponível em: http://topicos.estadao.com.br/terremoto-no-haiti.
Acesso em 03 de abr. 2013.
65
Atualmente, o aquecimento global tem sido uma das questões mais discutidas no
contexto internacional por todas as esferas econômicas, políticas e sociais, a preocupação com
o aumento na temperatura do planeta fica ainda mais latente após eventos ambientais
catastróficos cada vez mais frequentes.
Derretimentos das geleiras, e, por consequência, o aumento do nível dos oceanos,
tempestades tropicais, enchentes, secas, extinção de espécies, são alguns desses eventos
provenientes da mudança no clima.
Outro evento causado pelo aquecimento global, que talvez mereça mais apreço pela
comunidade internacional por sua significância, é a restrição do acesso a água, sobretudo
porque nos estágios iniciais atinge a população mais carente.
Segundo a ONU (2010), estima-se que 1 bilhão de pessoas não possuem acesso
suficiente a água com abastecimento de no mínimo 20 litros diário por pessoa, esse número
reflete uma realidade que tende a se ficar cada vez mais agravada a cada ano que passa.
66
Desses 1 bilhão, 884 milhões não tem acesso a água potável de qualidade, ou seja, tem
contato com água contaminada imprópria para o consumo, aumentando risco de doenças
fatais. (FUNDACIÓN AVINA,2011,online)
A ONU estima que, até 2025, cerca de dois terços da população mundial estarão
carentes de recursos hídricos, sendo que cerca de 1,8 bilhão enfrentarão severa
escassez de água. Na metade do século, quando já seremos 9 bilhões de habitantes
do mundo, 7 bilhões enfrentarão a falta do recurso em 60 países.( O ESTADO,
2013, online)
A Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), emitiu um dado importante
sobre a contaminação da água no território Sírio, em virtude do conflito armado que
completou dois anos em março de 2013 naquele Estado, apenas 35% da água está sendo
tratada, cerca de 4 milhões de pessoas estão consumindo água contaminada, sendo a metade
crianças, o que vem elevando o número de doenças.
No mundo, esses fatores ligados ao consumo impróprio da água e inadequado serviço
de saneamento básico levaram ao óbito 1,8 milhões de crianças.( SCHONS, 2011)
Não precisamos enfatizar que a água é um elemento de suma importância para vida,
ela é necessária para agricultura, para a indústria e para o objetivo principal que é o consumo.
O acesso a água saudável representa uma boa qualidade de vida, nesse sentido é
necessário olhar para as comunidades pobres que não possuem acesso de qualidade a esse
bem primordial, e os riscos que esse problema poderá levar a sociedade internacional,
verificando-se a possibilidade de migração desses locais de escassez de água.
Essas pessoas que por esse motivo migram para outros países em busca de água
podem ser consideradas como refugiados ambientais, pois se trata de um fenômeno causado
pelo aquecimento global.
Outro problema que deve ser combatido é o consumo de água em excesso por parte da
população, nos EUA por exemplo o número de litros por pessoa é de 575, na Austrália é de
495, Itália 385, Japão 375, México 365, Brasil 185, China 85, Angola, Camboja, Etiópia,
Haiti e Ruanda é de 15 litros por pessoa.(GUIA DO ESTUDANTE, 2013, online)
No Brasil, detém 13% da água do planeta, sendo que 70% da água do nosso território
está distribuída na região da Amazônia e apenas 10% nos demais Estados.
Nos EUA, praticamente não há escassez um quinto da água utilizada provém do
aquífero Ogalalla, mas devido a exploração excessiva corre risco de esgotar, visto que está em
uma área que não recebe infiltração da água da chuva. (GUIA DO ESTUDANTE, 2013)
67
Em alguns países da África a crise da água já está instalada, e esse problema atinge
principalmente a população mais carente, apenas 25% da água doce é aproveitada, não há
infraestrutura adequada, a falta de saneamento básico acaba por poluir as pequenas reservas
de água doce. (GUIA DO ESTUDANTE, 2013, online)
Ainda na África, em especial Dadaab no Quênia, fica o maior campo de refugiados do
mundo, esses refugiados são provenientes da Somália, da Etiópia e do próprio Quênia, onde
acontecem conflitos armados há duas décadas, atualmente está abrigando quase 500 mil
refugiados segundo ACNUR (UNHCR,2013,online), vivendo em total falta de recursos
básicos de sobrevivência, sem alimentação adequada, e sem água, devido uma seca que
castiga a região considerada a maior dos últimos 60 anos.
Em países vizinhos africanos como Burkina Faso, Níger e Mauritânia a escassez
também já está presente, o acesso a água é de 15 a 17 litros por pessoa, tal quantia é propensa
ao acometimento de doenças como a cólera, quanto a essa realidade o ACNUR tenta angariar
fundos para ajudar na distribuição de água potável, no entanto, as arrecadações estão na
quantia da metade do que seria necessário
Hoje, 257 mil refugiados do Mali passam por dificuldades terríveis e privações”,
afirmou Guterres durante sua visita a Damba, onde vivem cerca de 1.200 refugiados
malineses. “As fronteiras que eles cruzaram são de países pobres, como Níger,
Mauritânia e Burkina Faso, que já possuem problemas de segurança alimentar. No
entanto, estes refugiados têm sido recebidos com generosidade pelas populações
locais, que dividem com eles o pouco que possuem e até agora não receberam a
devida atenção da comunidade internacional. As agências humanitárias estão
lutando para garantir que as necessidades básicas – água, saneamento, alimentação e
saúde - sejam atendidas”, disse Guterres.
Ao longo deste um ano e meio de conflito o ACNUR vem tentando lidar com a falta
de recursos para as operações. Apesar da recente doação de US$10 milhões dos
Estados Unidos e contribuições de outros doadores, foram arrecadados apenas US$
49.9 milhões dos US$153 milhões necessários para assistir os refugiados e
deslocados internos do Mali (ACNUR,2013,online)
No dia 22 de março de 2013, a ONU celebrou o dia mundial da água com uma reunião
em Nova York, nos EUA, nesta oportunidade o Secretário Geral da ONU Ban Ki-moon,
alertou que até 2030 a demanda por água superará a de oferta em 40% o que causará
racionalização mundial, devido crescimento demográfico e o mal uso.
O chefe da ONU fez um apelo por mais cooperação entre os países dizendo que a
água é um recurso natural comum, além de ser a chave para um desenvolvimento
sustentável. Ele afirmou que todos devem usá-la de forma mais inteligente e sem
desperdício (UOL,2013, online)
68
5
Tradução: O termo foi popularizado pela primeira vez Lester Brown, do Instituto World Watch em 1970, mas
talvez as contribuições mais citadas sobre o assunto são as de El-Hinnawi (1985) e Jodi Jacobson (1988).
70
Pessoas que fogem ou deixam sua terra natal em função de ameaças de vida e
segurança provocadas pelo meio ambiente, dentre essas ameaças quaisquer
mudanças físicas, químicas e biológicas nos ecossistemas ou diretamente nos
recursos naturais que o transformam tornando o meio ambiente impróprio para
manter ou reproduzir a vida humana (BARROS, 2011. p 61).
No mesmo ano Jodi Jacobson e Lester Brown criam três categorias de refugiados
ambientais:
I – deslocados temporários, em virtude de degradação temporária do meio ambiente
e, portanto, reversível. Nesta hipótese, existe a possibilidade de retorno a médio
prazo, dos refugiados ambientais para seus respectivos locais de origem;
II – deslocados permanentes, em virtude de mudanças climáticas perenes;
III – deslocados temporários ou permanentes, de acordo com uma progressiva
degradação dos recursos ambientais do Estado de origem ou de moradia habitual dos
refugiados ambientais. ( PEREIRA, 2009, p.117)
Já em 1988, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), deu
ênfase a um conceito próprio:
6
Tradução: pessoas que já não ganham um sustento seguro em suas terras tradicionais por causa principalmente
de fatores ambientais de âmbito incomum.
71
a de refugiados ambientais, mas consoante a seu entendimento, segundo ele, as pessoas que
migram por motivo de ordem ambiental são consideradas como “ecomigrantes”.
O autor defende essa palavra argumentando que no Direito Internacional (DI) não há
proteção jurídica para legitimar o termo refugiados ambientais, através da definição da busca
de refúgio por motivos de questões ambientais, visto que no DI a proteção de refugiado tem
outra definição, para o autor, o expressão eco tem um significado mais profícuo ao buscar
uma identificação tanto na ecologia quanto na economia, dois termos relativos a compreensão
de refugiados ambientais pela inter-relação que possuem com as questões econômicas.
Desta forma, no entendimento do autor acima os fatores ambientais e econômicos
andam na mesma direção, de tal forma que ambos provocam as migrações, ou seja, somente
um fator ambiental não seria capaz de provocá-las. Para Luciana Diniz Durães Pereira essa
expressão ampliaria a proteção dos indivíduos atingidos por eventos ambientais, segundo ela
Contudo, esses conceitos não refletem uma realidade jurídica, pois o que temos em
nosso universo jurídico são apenas proteções ao refugiado político e social de caráter
humanitário, como podemos observar na Convenção de 1951 – Conferência das Nações
Unidas de Plenipotenciários sobre o Estatuto dos refugiados e apátridas, em Genebra em
1951, convocada para discutir e regularizar os direitos dos refugiados, cuja entrada em vigor
se deu em 1954.
A referida Convenção de 1951 criou um ordenamento sobre as condições e tratamento
despendido as pessoas que se encontram em situação de necessária retirada de determinado
território, em especial em seu artigo 1º, parágrafo 1º, alínea c, exprime que se encontra em
situação de refugiado qualquer pessoa que:
Sendo assim, a temática dos refugiados ambientais deve ser objeto de analise no
Direito Internacional por meio de uma introspecção, e, depois, auferir uma pretensa ampliação
do termo para adequar a realidade em que estamos vivenciando. Com eventos ambientais cada
vez mais frequentes a proteção aos indivíduos que são atingidos por essas tragédias poderá se
tornar mais desastrosa se não forem discutidas políticas de prevenção, principalmente, para
que possíveis eventos ambientais causem menor índice de vítimas ou de emigrantes.
Em Estocolmo, foi criado o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
(PNUMA) tendo objetivo de postular a proteção ao meio ambiente num contexto
internacional, também nessa conferência foram elaborados 26 princípios que visam a
preservação do meio ambiente.
Na conferência de Toronto, no Canadá, em 1988, a ONU cria o Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), este painel tem a função de
apresentar a comunidade internacional estudos científicos sobre as mudanças climáticas e suas
consequências ao planeta, o que ocorreu em Genebra em 1990, com a divulgação do primeiro
relatório sobre as mudanças climáticas.
No Brasil, ocorre uma das conferências mais importantes, a ECO 92, na Cidade do Rio
de Janeiro em 1992, nesta oportunidade foram desenvolvidos programas de ação para um
desenvolvimento sustentável como a Agenda 21, Conferência das Nações Unidas para o Meio
Ambiente e o Desenvolvimento e a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças
do Clima, com intuito de conscientizar a comunidade internacional dos riscos das emissões de
gases do efeito estufa na atmosfera.
Em 1995, na Alemanha, cidade de Berlim, dá-se início a um novo ciclo de debates por
meio das Conferências das Partes (COP), essas COPs dão origem ao protocolo de Kyoto no
Japão em 1997, “um instrumento legal que sugere a redução de emissões de gases do efeito
estufa nos países signatários”(BARROS,2011, p.63)
De 2000 a 2008, ocorrem sucessivas COPs onde são trabalhadas negociações para
forçar os Estados a reduzirem as emissões de gases do efeito estufa em um pretenso resultado
de diminuição do aquecimento global.
Na Conferência das Partes de 2008 em Poznan na Polônia dá-se início a preocupação
com as pessoas atingidas pelos eventos ambientais, além dos demais assuntos pertinentes ao
aquecimento global, abre-se uma discussão sobre os “refugiados do clima”.
Dados recentes consideram que, até 2100, o nível do mar poderá subir um metro,
devido a um propenso aquecimento da terra em 2,4 °C, o que levaria ao desalojamento de
milhares de pessoas que moram em cidades litorâneas, outro fator negativo é a escassez de
água o que pode tornar impossível a existência humana em determinadas regiões.
74
Miguel Daladier Barros (2011) aponta dados de que há 5.000 novos refugiados
ambientais por dia segundo Relatório Mundial sobre Desastres, o que leva a afetar,
consideravelmente, a estrutura econômica global, fazendo menção que sem uma política
internacional eficaz essa realidade poderá ser cada vez maior.
Contudo, tais previsões podem servir de alento para uma mudança paradigmática, que
viria suprir uma
Fato que contribui para uma nova concepção jurídica em atenção a essa categoria de
refugiados se dá pelos motivos que esses indivíduos permanecem no asilo. No caso dos
refugiados que buscam proteção política, por exemplo, cessados os motivos há o retorno deste
ao país de origem, mas com os refugiados ambientais a realidade é outra, pois o local onde
viviam no país de origem geralmente sofre profundas mudanças o que torna a volta
impossível, portanto, a intenção é de se instalarem definitivamente no país de asilo.
Essa crise já pode ser observada em algumas regiões mais vulneráveis do planeta,
tanto por questões climáticas quanto sociais, é o exemplo de alguns países africanos, da Ásia e
algumas ilhas como Tuvalu e as ilhas Maldivas no Pacífico, a pobreza e a geografia desses
locais são fatores determinantes para inferência de possíveis catástrofes, como a que ocorreu
em 2008 na Birmânia em Mianmar sul da Ásia, assolada por um ciclone tropical que resultou
em 140 mil mortos e 800 mil refugiados ambientais.(TERRA,2013,online)
Nas ilhas Maldivas, ao sul da Ásia, formada por um complexo de pequenas ilhas ou
atóis, já está sofrendo com o aumento do nível do mar, estima-se que este fator já tem
contribuído para o deslocamento de 300 mil pessoas, o mesmo ocorre na Guiana Francesa ao
norte da América do Sul com previsão de cerca de 600 mil refugiados ambientais para os
próximos anos. .(TERRA,2013,online)
75
sempre refugiados, ou algum outro Estado terá que acolhê-los? Eles podem se tornar cidadãos
em um novo Estado e manter sua própria cidadania [...]”.
Em síntese, torna-se premente desenvolver-se uma nova concepção para os direitos
dos refugiados ambientais, adequando-os à realidade no plano da consideração dos aspectos
não só formais, mas culturais e sociais.
A depender do DI, neste caso representado pela Convenção de 1951 sobre refugiados,
pode-se colacionar o que vem sendo praticado na tentativa de conciliar a proteção do
imigrante cujo território não foi possível recebê-lo por motivos seja de caráter jurídico e
físico, seja por questões mais específicas, com a pretensão de melhor adequação ao novo
território, através do direito ao reassentamento.
O reassentamento consiste na possibilidade do refugiado de procurar abrigo em outro
Estado, uma vez que o Estado em que inicialmente tenha recebido-o não promoveu os
recursos necessários de proteção, de auxílio e demais requisitos em prol da permanência deste
naquele território.
Nesse sentido, poderia-se pensar em uma recepção deste direito ao refugiado
ambiental que dentro das peculiaridades inerentes a este, encontrando dificuldade no tocante
ao reconhecimento de direitos sociais e culturais, poderia ser beneficiado com o
reassentamento de forma voluntária em outro Estado que o acolhesse respeitando seus
costumes étnicos.
Acerca do reassentamento Jubilut assim se manifesta:
Com essa prática, o ACNUR tem por fim aumentar as perspectivas de refúgio e de
proteção para os refugiados, considerando as peculiaridades culturais de cada
indivíduo, que podem dificultar, ou até mesmo impedir uma adaptação no país de
acolhida. Tanto que “a seção de Reassentamento do ACNUR, localizada em
Genebra, prioriza, no momento a consolidação e o apoio aos programas lançados
nos países escolhidos pela organização para serem os novos centros de
reassentamento: Argentina, Brasil, Chile, Benin, Burkina Fasso, Irlanda, Islândia e
Espanha.( JUBILUT ,2007. p. 200)
primeiras cidades a receberem refugiados, e após o acordo, Porto Alegre (RS), Santa Maria
Madalena (RJ) e Mogi das Cruzes (SP), também passariam a recebê-los ou reassentá-los.
Atualmente, apenas Mogi das Cruzes (SP) se retirou do Convênio.
A ONU já esboçou uma tentativa de se criar normas específicas para proteção dos
refugiados ambientais, em 2008 na Conferência de Poznan na Polônia, na oportunidade foi
aferida a definição de refugiados ambientais no relatório “Alterações Climáticas e Cenário de
Migrações”.
Neste relatório a ONU provoca a comunidade internacional a discutir e regulamentar a
situação dos indivíduos que migram para outros países com fim de procurar refúgio devido
alterações climáticas sofridas no país de origem.
No entanto, até o momento nada foi legitimado para proteger esses indivíduos
resultando a eles apenas a atuação dos direitos humanos em prol do princípio da dignidade
humana como norma universal.
Muito se dedica essa situação ao fato do Direito Internacional dos Refugiados já
possuírem um enunciado próprio que não aborda a temática ambiental, limitando o tratamento
destes apenas como refugiados nos termos da Convenção de 1951: “qualquer pessoa que
temendo ser perseguida por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões
políticas”.
Ocorre que o elemento perseguição componente determinante que dá amparo ao termo
refugiado não se aplica ao refugiado ambiental, sendo assim, se torna plausível a existência de
uma regulamentação própria no Direito Internacional para estes últimos.
Salientamos que para a salvaguarda dos direitos dos refugiados o Alto Comissariado
das Nações Unidas para Refugiados – ACNUR, vem desempenhando suas funções de forma
contundente, juntamente com organizações não governamentais dando proteção e segurança.
No entanto, com o número crescente de refugiados, agora por motivos que não se
enquadram na conceituação da Convenção de 51, vislumbramos uma ausência de políticas
para auxiliar estes indivíduos e os Estados que se tornam responsáveis por eles.
80
Conforme dados da ONU, até o ano de 2010, o mundo terá cerca de 50 milhões
de refugiados ambientais e, em 2050, o número será de 200 milhões de pessoas.
Entre eles estão habitantes de ilhas que desaparecerão, populações de áreas
atingidas por tempestades e furacões, terras que se tornarão improdutivas
obrigando o êxodo de seus moradores. Hoje o maior problema é a situação das
pessoas que vêm sendo expulsas de seus territórios pela elevação dos mares.
Ambientalistas afirmam que existem sérias possibilidades de muitas ilhas
desaparecerem. Exemplos disso são as ilhas do Pacífico, Tuvalu, e as Ilhas
Maldivas, localizada no Oceano Índico, consideradas geograficamente como
nação com a costa mais próxima ao nível do mar. A ONU estima que se as
alterações climáticas ocasionadas pelo aquecimento global continuarem em
ritmo acelerado como estão, poderão culminar no desaparecimento desses
arquipélagos e consequentemente gerarão número ainda maior de desabrigados,
ou seja, aumentará ainda mais o número de refugiados ambientais.(
JUS,2013,online)
A termo de exemplo citamos o fluxo migratório dos Haitianos no Brasil, como não são
considerados refugiados e sim migrantes pelo ACNUR, ao chegarem em território brasileiro
encontram diversos enclaves para tentativa de regularização da permanência no Brasil. No dia
09/04/2013 o Estado do Acre pertencente ao Brasil, decretou estado de emergência por
motivo de descontrole dos imigrantes haitianos, visando demonstrar ao governo federal
brasileiro o crescente fluxo de imigrantes haitianos que atravessam a fronteira de Bolívia e
Peru para o Brasil.
Em entrevista a página de notícias eletrônica do site terra, o governador do Acre Tião
Viana (PT), deu a seguinte afirmação: "Temos uma nova rota internacional de imigração que
pode se configurar inclusive como tráfico de pessoas e precisamos de uma solução para isso,
pois fechar as fronteiras é uma questão muito delicada e complexa, que precisa ser vista com
muita cautela"(TERRA, 2013,online)
Os números de imigração já estão em percentual preocupante, segundo dados
publicados pelo governo do Acre, cerca de 1,7 mil haitianos adentraram no Estado nos
últimos 15 dias e desde a catástrofe ambiental promovida pelo terremoto que assolou o Haiti
em 2010, cerca de 5 mil haitianos já se refugiaram no território brasileiro, mais de R$ 2,5
milhões foram gastos pelo Estado do Acre e R$ 650 mil pelo governo federal, num total de
R$ 3 milhões em ajuda humanitária. (TERRA, 2013,online)
Esse problema já faz parte de uma realidade socioambiental provocada pelos
refugiados ambientais, cujo fluxo imigratório começa a demandar uma atenção especial,
inclusive uma regulação própria para envidar esforços de cooperação internacional, haja vista
o caráter humanitário de proteção a esse tipo de imigrantes.
Os motivos do propósito da intervenção do Direito Internacional devem visar a
pretensão de solucionar as questões de proteção jurídica e de direitos humanos desses
refugiados, uma vez que eles geralmente, realizam uma epopeia até chegarem ao seu destino,
como ocorre aos que chegam no Brasil, primeiramente eles aportam na “República
Dominicana, de lá, partem para o Panamá e, após conexão, para Quito, no Equador. Depois
seguem por uma dura jornada terrestre até Cuzco, no Peru. De Cuzco para Puerto Maldonado
e de Puerto Maldonado para Inapari, já na fronteira com o Brasil”.7
Uma vez na fronteira brasileira, os haitianos entram pelo município de Brasiléia, no
Estado do Acre, onde vivem em estado de miséria. Geralmente residem em acampamentos
7
Refugiados do Haiti lutam por comida e trabalho no norte do Brasil. Disponível em:
http://portuguese.ruvr.ru/2013_04_19/Refugiados-do-Hailti-lutam-por-comida-e-trabalho-no-norte-do-Brasil.
Acesso em 20 de abr de 2013.
82
Esta saída para a proteção dos “refugiados ambientais” seria, em análise histórica
comparativa, próxima à criação do Passaporte Nansen, em 1922, quando uma
situação que não tinha solução jurídica passou a tê-la mediante a adoção,
reconhecida por cinquenta e dois países, à época, de uma criativa inovação jurídica
de natureza protetiva, qual seja, a de um documento específico de identificação para
os refugiados.(PEREIRA, 2009. p. 132-133)
83
Em suma, podemos concluir que se não houver uma tutela específica, corremos o risco
de uma regressão quanto à proteção dos direitos desses indivíduos, uma vez que o tratamento
direcionado ao refugiado de forma genérica cria uma dependência de instrumentos que não
atendem à realidade atual, no tocante aos refugiados ambientais.
Com essa medida, foi possível construir uma realidade que atendesse aos interesses do
Brasil, e, da mesma forma, regularizar a situação dos haitianos que permaneciam em um
limbo jurídico. Contudo, a mesma prerrogativa que sanaria o problema também criou outro,
uma vez que a Resolução Normativa do CNI nº 97/2012, define que o visto humanitário só
será concedido ao número máximo de 1.200 (mil e duzentos) por ano, e, conforme já citamos
neste trabalho, apenas nos últimos 15 dias cerca de 1.700 (mil e setecentos) haitianos deram
entrada na fronteira do Acre, e um total de 5.000 (cinco mil) já estão no território brasileiro.
Esta situação alcança níveis elevados de preocupação, tanto para os aspectos
econômicos, políticos como sociais, bem como ambiental uma vez que o quadro que se
apresenta no momento acaba incentivando a propagação da criminalidade provocada por
criminosos que utilizam o estado crítico dessas pessoas para se infiltrarem, e adentrar no
território brasileiro. Segundo o secretário de Justiça e Direitos Humanos do Acre, Nilson
Mourão, uma intervenção federal se faz necessária.
Em entrevista para a revista eletrônica Rede Brasil Atual, Nilson Mourão defende a
necessidade de uma assistência aos imigrantes, e alerta sobre os perigos advindos da presença
de traficantes:
A grande maioria são pessoas pobres, humildes, que buscam dias melhores aqui no
Brasil. São vítimas, tanto da catástrofe como vítimas dos coiotes. É claro que no
meio deles existem coiotes e traficantes infiltrados. Há todo um problema de tráfico
de drogas, de contrabando, tráfico de armas que sempre acompanham movimentos
migratórios que são feitos dessa forma.(REDE BRASIL ATUAL,2013, online)
O Ministério Público Federal no Estado do Acre ajuizou em janeiro de 2012 uma Ação
Civil Pública para que a União reconhecesse os haitianos como refugiados, nesta ação o
Ministério Público Federal do Estado do Acre expõe seu pedido com apreço aos seguintes
fundamentos:
(...) os direitos humanos, conforme descrito na Carta Internacional de
Direitos Humanos3 e acolhidos pelos Estados democráticos como parte de
seus sistemas internos, são universais, sobrepondo-se ao direito
convencional e servem, inclusive, como limite à soberania dos países,
conforme reconhecido atualmente pela doutrina internacional. O procurador
assinala que o instituto do refúgio não está isolado no Direito Internacional e
deve ser compreendido como instrumento de garantia do exercício pleno dos
direitos humanos. O MPF argumenta que mesmo a legislação brasileira se
atualizou e ampliou a possibilidade de concessão de refúgio ao incluir na Lei
9474/97 a condição de refugiado a todo aquele que “devido a grave e
generalizada violação dos direitos humanos, é obrigado a deixar seu país de
nacionalidade e buscar refúgio em outro país” (...) O MPF cita os casos de
tragédias ambientais ou naturais, principalmente se tais eventos são
potencializados pelo caos social e político da região, como é o caso
específico do Haiti, que viveu esse caos durante décadas antes do grande
terremoto de 2010, levando seus cidadãos exatamente à situação de vítimas
87
À época a ação teve liminar deferida em primeira instância, mas acabou sendo cassada
no Tribunal Regional Federal da 1ª Região, o relator Desembargador Olindo Menezes
proferiu sua decisão com o seguinte convencimento:
Novo recurso foi impulsionado contra essa decisão, contudo, não houve provimento,
permanecendo a decisão a quo proferida pelo Desembargador Olindo Menezes.
Com esta atitude do judiciário, não havia outra maneira senão uma intervenção do
governo federal para tentar solucionar este problema, foi então que o Conselho Nacional de
Imigração publicou a Resolução 97, de janeiro de 2012, criando o visto humanitário a estes
estrangeiros.
Atualmente, os números de solicitação para refúgio ou visto humanitário no Brasil são
expressivos, e demonstram uma nova preocupação. Para se ter uma ideia nos últimos três anos
o número de refugiados no país triplicou, sendo que só nos dois últimos os pedidos de refúgio
passaram de 566 para 2.008, aumento de 254%.(MATTOS, 2013,online)
Credita-se a essa crescente procura por refúgio no Estado brasileiro, à atual situação
em que o Brasil se encontra no ambiente internacional, fatores de natureza econômica
resultantes de investimentos em outros países, questões culturais de receptividade e demais
intervenções políticas internacionais vem chamando a atenção da comunidade internacional.
Para o presidente do Conare, Paulo Abrão, “temos hoje um conjunto de programas de
integração social, convênios firmados com organizações da sociedade civil e também políticas
sociais do governo como vagas em universidades”, e na pauta de medidas para melhorar ainda
mais o panorama da política de aperfeiçoamento de integração do refugiado, há um projeto
que pretende elaborar um perfil sociodemográfico das pessoas refugiadas no Brasil, que será
88
ministrado pelo Conare em conjunto com o Ipea (Instituto de pesquisa econômica aplicada), e
o ACNUR.
Algumas medidas devem ser estabelecidas para prevenir o controle de fluxo, entrada,
saída e permanência desses refugiados, tanto na esfera internacional, no que compete ao
direito de migração, como na esfera nacional, no que compete aos requisitos de livre
circulação, e condições de permanência, como exigência de atividade laboral e moradia
adequada.
Primeiramente, chamamos a atenção sob o prisma da globalização como interferência
no fenômeno migratório e seu exercício favorável a proliferação da expatriação.”Urge
enfatizar esse novo aspecto dos direitos humanos: o direito de ser cidadão do mundo. “A
migração alarga o conceito de pátria para além das fronteiras geográficas e políticas, fazendo
do mundo a pátria de todos”(MILESI;UCHOA,2001, online)
Algumas características como a livre circulação criada por alguns blocos econômicos,
a pertinência das questões políticas fundadas na proliferação das nações democráticas, a
aproximação cultural, entre outras, são algumas das peculiaridades que provocam as
migrações de pessoas que buscam melhores condições de vida.
É de cunho alvitre salientar que esse processo de migração sofre maior interferência
causada por fatores econômicos, mesmo os provenientes de eventos ambientais, a condição
financeira das pessoas mais pobres atrelada ao mercado competitivo, a falta de recursos
básicos, a segurança e demais parâmetros sociais, são os maiores impulsionadores dessa
realidade.
A sobrevivência no mundo globalizado, com ênfase no econômico e
financeiro, se torna difícil e complexa. Cresce a competição cujo único
critério é o lucro e a prosperidade financeira, em vez de solidariedade e luta
pelos espaços de direitos sociais (MILESI,UCHOA,2001,online).
Esse período, deu inicio com o fim da guerra fria, nos anos 90, abrindo a comunidade
internacional aos movimentos de consumo e industrialização sem fronteiras. Nesse contexto,
as migrações começaram a se tornar um problema para os países desenvolvidos, pois se
tornaram um celeiro de indivíduos que buscavam trabalho e melhores condições de vida.
O número de trabalhadores migrantes no final do século XX já era considerado
expressivo, hoje, não há país que não tenha um contingente significativo de trabalhadores
migrantes.
Por esses motivos, os Estados criaram normas que dispusessem sobre a entrada e
permanência desses indivíduos, com determinado prazo e definíveis exigências, como no caso
do ordenamento brasileiro que concede visto permanente, desde que com atividade certa e
fixado em determinada região.
Este dispositivo não resolve o problema, apenas tapa o sol com peneira, pois não cria
nenhuma restrição quanto a sua concessão, o que seria diferente se o refugiado tivesse uma
condição própria, definida já no país de origem.
Problemas como trabalho escravo, ou em situação similar, estão surgindo com a vinda
descontrolada dos haitianos no Brasil, cerca de 1.700 permanecem ilegalmente, enfrentando
dificuldade em regularizar a situação trabalhista, como emissão de carteira de trabalho.
Muitos saem a procura de um trabalho mesmo sem cumprir com as exigências legais
trabalhistas, ficando a mercê de aproveitadores que oferecem emprego com determinadas
garantias, mas não cumprem com o pactuado.
Em entrevista para o portal eletrônico Tribunal Regional do Trabalho da 14ª Região, o
juiz do trabalho da comarca de Epitaciolândia / AC, Wadler Ferreira, deu a seguinte versão:
Outro fator que impulsiona essa migração, segundo a ONU são os desalojados internos
dentro dos seus próprios países, estes sofrem com as condições sub-humanas, miséria, e
demais carências de recursos básicos, logo, esses problemas devem ser discutidos em uma
complexidade que todos os países possam intervir, caso contrário o que poderá acontecer é
apenas uma transferência desse problema para outros países.(SOUZA,2004,online)
90
Algumas alternativas como direito humanitário e direito dos refugiados poderão ser
utilizadas como soluções para a problemática dos refugiados ambientais, porém, não
estabelecem um compromisso formal.
Ambos os institutos têm o mesmo objetivo, ou a mesma pretensão que é a proteção de
garantias aos indivíduos de outros países que encontram-se em situação de risco, ou por
perseguições políticas, conflitos armados, violência aos direitos humanos, decorrendo assim,
de causas similares mas com natureza jurídica diferentes, como já estudado anteriormente.
No entanto, outro sujeito de Direito Internacional vem se destacando no plano
mundial, o indivíduo que se torna refugiado por motivos de significativa transformação do
local habitado resultante de eventos ambientais catastróficos, ou de interferência humana no
meio ambiente, habitualmente chamado de refugiado ambiental.
Para esse indivíduo ainda não há nenhuma proteção jurídica do Direito Internacional a
fim de buscar soluções para minimizar ou sanar os problemas sofridos por eles, nem os
problemas que podem ser causados por eles, em vista do preocupante aumento do fluxo
migratório.
Uma vez identificado a diferenciação entre esse indivíduo – refugiado ambiental, com
o refugiado da Convenção de 1951, e com o imigrante - que tem a intenção de permanecer em
território estrangeiro com objetivo determinado, cabe agora regularizar a situação desses para
91
que possam ser sujeitos determinados de direitos e ao mesmo tempo responsabilizados por
seus atos perante a comunidade internacional.
O refugiado ambiental demonstrou ao Direito Internacional que tem um perfil
diferente, mas que se assemelha aos demais institutos quanto a proteção dos direitos humanos,
cuja preocupação se deve aos Estados comprometidos pela segurança intergovernamental dos
direitos consolidados na Declaração dos Direitos Humanos de 1948.
Com esse intuito a comunidade internacional criou em 1945 a Organização das Nações
Unidas (ONU), principal instituição internacional atuante na prevenção, promoção e defesa
dos direitos humanos, focada no seu primórdio na atuação em conflitos armados entre as
Nações, mas que agora deve versar suas atenções para outra guerra, do homem com a
natureza.
É perceptível a necessidade dessa relação entre a ONU, com essas questões ambientais
e suas consequências sociais, como ocorre com os refugiados ambientais, estes sem um
arcabouço jurídico tutelado correm o risco de se perpetuarem de forma ilegal afetando tanto
os Estados que recebem quanto os de origem, visto que esses últimos se não forem
imprimidos a sanarem os problemas que levaram o refúgio, com intuito de recebê-los de
volta, poderão impulsionar uma desordem internacional.
O papel das Nações Unidas foi desenhado sob a égide de representação e atuação das
Nações, portanto, deve envolver-se não somente nas questões humanitárias, sociais, culturais
e econômicas, mas também na seara ambiental, que também estão afetando seus cidadãos.
A defesa dos direitos humanos, a proteção dos indivíduos que se encontram em estado
social crítico com problemas econômicos, a intervenção humanitária em casos de conflitos,
são algumas das medidas protetivas que estão dispostas no artigo 1ª da Carta das Nações
Unidas de 1945, mas como todo diploma legal com mais de 60 anos de existência necessita de
uma implementação para adequar-se a realidade.
Essa adequação não requer uma modificação deliberativa dos diplomas legais antigos,
mas uma reformulação atual sem necessidade de mudar o padrão de adoção
92
refugiado ambiental o direito de não ser deportado, dando a esse a possibilidade de ficar no
país receptor até o final do prazo previsto em Estatuto.
Esse princípio, elaborado de forma precisa para adequar ao refugiado ambiental,
evitaria, por exemplo, o que ocorreu nos EUA, que não consideraram os haitianos como
refugiados, impedindo-os de entrar naquele território, com o argumento de que não se
enquadravam nas características de refugiado da Convenção de 1951.
Quanto as questões administrativas, como órgão responsável para representar os
direitos dessa categoria, protegendo e solucionando conflitos poderia ser reputado ao próprio
Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados - ACNUR, no âmbito internacional e
aos mesmo tempo, aos órgãos nacionais próprios dessas atividades, como o Comitê Nacional
para Refugiados – CONARE, no Brasil, para dirimir o processo de solicitação do refúgio.
A repatriação voluntária, recepção do direito de estrangeiro previsto nas Constituições
Nacionais, também deveria figurar como garantia aos refugiados ambientais.
Com efeito, os Estados deveriam estabelecer compromissos visando a recepção dos
princípios do Direito Internacional, com intuito de minimizar as consequências negativas dos
deslocamentos e, na mesma medida, proporcionar segurança e assistência nessas situações.
Enfim, o refugiado ambiental “existe” e deve ser responsabilidade de todos nós, sem
distinção.
94
CONSIDERAÇÕES FINAIS
8
Termo cunhado por Zygmunt Bauman em seu Livro Vida Líquida.
96
Os Estados devem intervir nessa realidade com o propósito de promover uma maior
proteção jurídica de fortalecimento das instituições que primam pelo prevalecimento das
condições humanas em detrimento das econômicas, como no caso dos refugiados ambientais,
criando mecanismos de proteção, assistência e amparo legal a esses indivíduos, através da
elaboração ou adaptação dos institutos já existentes.
Com efeito, o Direito Internacional, postulado aqui pela Organização das Nações
Unidas (ONU), deve intervir nesse ambiente com fim de contribuir para a construção de uma
ordem que identifique e formule questões práticas para atender essa realidade e ao mesmo
tempo proporcionar uma preservação dos valores já existentes.
Sem embargos, a concessão de uma situação jurídica protetiva aos refugiados
ambientais que possibilite um mínimo essencial de prioridades, se fará valer na medida em
que outras situações se concretizam conjuntamente, como a conscientização e preservação do
meio ambiente e a conservação dos direitos humanos.
Vislumbra-se que há necessidade de codificar os direitos dos refugiados ambientais a
nível internacional e a consolidação de prévios instrumentos legais, internacionalmente
discutidos e debatidos, estabelecendo dentre os princípios do direito internacional padrões
básicos para assegurar um tratamento digno e humanitário aos refugiados ambientais.
Dai, a pertinência da criação de um instituto para proteção dos refugiados ambientais
para nortear os Estados em situações concretas, como a que ocorreu no Brasil com a
imigração dos haitianos provenientes de Porto Príncipe/Haiti. Levando-se em consideração a
falta de informações, estrutura e demais problemas de caráter regulatório de permanência que
estas pessoas enfrentaram, demonstrando-se assim, latente a criação deste instituto ou
aperfeiçoamento do já existente.
97
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