Lucas Idalgo Pensar Imagens

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3.3 Imagens e recordação.

Reviver o passado é reviver imagens. Somos produtos da memória. Existe memorias corporais
e individuais que se entrelaçam na vida. É de ordem mundana separá-las, como uma criança
que aprende nos limites e no adestramento do corpo, sei que não é fácil por uma criança para
assistir uma aula, é tanta descoberta, tudo serve de epifania, para ela tudo é uma revelação
divina. Até para os adultos se manter concentrado por uma hora, sem que nossos aparelhos
nos puxem para o mundo corrido, o mundo das redes.

A memória da espécie humana e a imagem produzida por isso, são produzidas


independentemente da existência do indivíduo (do individual) são memorias que adquirimos
no coletivo, elas nos atravessam, como a produção histórica, comportamental e tecnológica.

Produzimos um mundo que nos fazem sofrer e nem sabemos o porquê, encarceramos nossas
vontades, o corpo e sempre pensando nesse futuro que está por vir, isto é, somos a espécie
que produz imagem sobre a memória (aqui eu estou falando sobre algumas narrativas, como:
Um passado glorioso, um futuro que é imagem pura utópico ou distópico*.) Os seres humanos
são capazes de produzir metaforicamente, reativamos e experimentamos o corpo na memória.
Podemos revisitar alguns lugares através da metáfora, a imagem vista em sonho pode ser o
lugar para processar algumas informações. Freud psicanalista estuda a psique humana através
da intepretação dos sonhos, um jeito de revisitar a imagem na sua forma mais plástica, logo na
sua forma mais metamorfoseada, transitória e transformante.

O que é o lugar, se ele perdura? O mundo. Mas ao visitar um lugar estranho completamente
novo, onde não se está habituado e de imediatos achamos feio. Temos uma imagem produzida
na memória que é pré-concebida, tiramos juízo de valor para achar nossa localização,
geográfica, temporal e sensorial, comparamos e analisamos através de um referencial.

As imagens condensam-se no tempo e se transformam em lei. Imagens congeladas de um deus


metafisico, justiça e moral. As imagens têm em seu interior distinguir do seu mundo originado,
pois as mesmas podem ser forjadas pela nossa percepção de mundo, dependendo das nossas
memórias sociais e físicas.

Trabalhar com imagens é trabalhar com o imaginado o inventado, a imagem é a aparição da


áurea do objeto registrado, mesmo ao registrarmos uma fotografia o memorizado nunca é o
real ele pode ser semelhante, até o desenho abstrato ele possui uma áurea, pode não parecer
com nada representado no mundo, mas ele sai de algum lugar, no fundo do inconsciente, seria
a maneira do que se é esquecido se revelar? O desejo, a força, as vontades? Esquecer também
é um fator para se ter o novo, criar o mundo e imaginar um outro caminho.

O mundo físico é da corporalização, tocando as coisas mundanas; viver, morrer o mundo está
cheio de embates, as contradições. As imagens fazem parte de dois planos, recebendo um
caráter místico, ela reside na memória, não sozinha, ela transcende, sendo a falsificação do
real riscando o inesgotável.

“Sem nenhum esforço, e como objetos, documentos e ícones, referimos pinturas e fotografia à
nossa própria memória imaginal “. Trecho do capítulo do livro Antropologia da imagem.

A memória coletiva é também esquecimento, ela tem a força destrutiva e construtiva de


valores, na destruição da lembrança ou sua negação, essa memória tem o caráter
transformador e transitório. Ideologia, dogmas imagens bíblicas são revistas e reinventadas
constantemente. É notável como o fascismo, construiu instrumentos para controlá-las, não é
tão distante podemos deslocar a discussão para o século XIX, aonde a fé no paraíso caiu, mas o
futuro no homem das máquinas moldava o Eden. Charlie Chaplin cria a alegoria do operário
industrial, em “Tempos Modernos”, através da linguagem de símbolos no cinema para um
alerta de um possível futuro e um presente terrível.

“la vrai est ce qu’il peut  ;le faux est ce qu’il veut.’’ (o verdadeiro é o que ele pode, o falso é o
que ele deseja)-Madame de Duras.

“O esmaecimento da memória oficial e coletiva seria compensado e simultaneamente,


acelerado pela acumulação cega de materiais nas memorias técnicas dos arquivos e dos atuais
meios de comunicação”. Trecho do capítulo do livro Antropologia da imagem.

Quando pensamos no capitalismo/capitalismo de vigilância, o consume é fundado em si


mesmo e sem fim, somos todos dados a serem colocados e sendo consumidos. O retrato do
nosso século é a empresa “facebook”, introjetando imagens vinte-quatro horas por dia sete
dias por semana, em 2019 seu número de usuário de usuários 2,3 bilhões de usuários, estas
imagens afetam o mundo real, o tempo, a vida. Tudo é escorregadio e liquido, a memória é
passageira, a memória é gasosa.

Arte torna-se lugar das coisas sem uso, as imagens nos transportam para um passado,
símbolos da memória. Para ter imagem tem que ter o outro?

O mundo imaginado só é possível viajar, mas não se pode viver. A história em quadrinhos, o
livro de romance, uma pintura, evocam memória e produzimos imagens.

Nossas lembranças são uma forma de reviver imagens, lugares e situações, através destas
imagens que construímos conceitos, histórias e "verdades absolutas". Tendo em vista estas
percepções de interpretação sobre o mundo, podemos considerar que criamos um imaginário
sobre o real, desta forma levando em conta que as imagens se modificam, criamos novas
realidades com o passar do tempo.

Hoje com a tecnologia encontramos muitos métodos de armazenar as imagens, o que não nos
obriga armazenar na memória todas as imagens. Esta "perda de memória" faz com que em um
processo lento, nos desapeguemos de conceitos culturais pré-estabelecidos e antes definidos
como certo, e esta descontinuidade com o passado pode tornar o presente uma experiência
nova onde novas imagens podem ser criadas.

São as imagens de nossas recordações sobre épocas e símbolos que nos levam a museus e
antiquários, onde encontramos um passado que podemos reviver através destas peças. Por
muito tempo as recordações e imagens moldadas por poetas e viajantes através das palavras,
serviram de modelo para descrever um lugar ou uma época inacessível, o que o tornava
interpretável.

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