102 Natureza e Administração Do Capital de Giro

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Natureza e administração

do capital de giro

José Wladimir Freitas da Fonseca* *


Doutorado em Ciências
Econômicas pela Universi-
té de Toulouse 1. Mestrado
em Desenvolvimento Eco-
nômico pela Universidade
Federal do Paraná (UFPR).

Introdução
Especialização em Enge-
nharia Econômica pela
Universidade São Judas
Tadeu (USJT). Graduação
em Ciências Econômicas
A administração do capital de giro para uma empresa é de fundamen- pela Faculdade Católica
de Administração e Eco-
tal importância na medida em que envolve grupos de contas-chave para a nomia (FAE). Atualmente
é Professor Adjunto da
administração financeira. Trata-se, por exemplo, dos estoques, do caixa, das Universidade Federal do
Paraná. Tem experiência
aplicações financeiras de curto prazo, das duplicatas a receber, das contas a na área de Economia.
Atua nos seguintes temas:
pagar e assim sucessivamente. Note que essas contas, como veremos adian- projetos industriais, trans-
ferência de tecnologia,
te, estão relacionadas ao ciclo operacional, ao ciclo financeiro e ao ciclo eco- processo de inovação nas
Biotecnologias.
nômico da empresa que possibilitam, quando bem administrados, alcançar
bons resultados sob o ponto de vista econômico e financeiro.

Assim, este capítulo procura apresentar as principais características do


capital de giro bem como as ferramentas para sua análise e administração.

Natureza e definições
da administração do capital de giro
Quando falamos em Capital de Giro (CG), estamos nos referindo aos re-
cursos de curto prazo da empresa, ou seja, aqueles que podem ser conver-
tidos em caixa o mais rapidamente possível num prazo máximo de um ano.
Para que esses recursos possam ser convertidos em caixa o mais rapidamen-
te possível, é necessário que seu ciclo de produção-venda-produção não ul-
trapasse um ano. Existe, porém, empresas que ultrapassam esse ciclo de um
ano, por exemplo, as atividades rurais, as atividades de estaleiros, a perfura-
ção-extração-refino de petróleo etc. Nesses casos, a delimitação de um ano
não costuma ser seguida por essas empresas prevalecendo, nessa situação,
um ciclo operacional mais longo para se definirem os recursos correntes.

Se os elementos do giro são aqueles de fácil conversão, em um ano fica


fácil identificar que esses recursos encontram-se no Ativo Circulante (AC) e
no Passivo Circulante (PC). Em outros termos, encontram-se no curto prazo.

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Conhecido também por capital circulante, o capital de giro é representa-


do pelo ativo circulante, no qual podemos identificar as aplicações correntes
tais como os disponíveis (caixa e bancos), os valores a receber (duplicatas) e
os estoques (sejam eles de matéria-prima, de produtos em processo ou de
produtos acabados).

Nesses termos, podemos ainda definir o capital de giro como sendo os re-
cursos demandados por uma empresa para financiar suas necessidades ope-
racionais identificadas desde a aquisição de matéria-prima (no caso de uma
empresa de produção industrial) ou mercadorias (no caso de uma empresa
comercial) até o recebimento pela venda do produto acabado.

É importante notar que os elementos que compõem o ativo circulante


não apresentam sincronização temporal equilibrada em seus níveis de ativi-
dade. Isso quer dizer que não existe sincronia entre o caixa de uma empresa,
por exemplo, e todos os seus compromissos de curto prazo. Se fosse o con-
trário e houvesse sincronização, não haveria necessidade de se manterem re-
cursos aplicados em capital de giro. Para ilustrar, imagine se todas as vendas
fossem realizadas à vista, dessa forma não haveria duplicatas a receber e,
portanto, não haveria necessidade de existir investimento nesta conta. Igual-
mente, se houvesse sincronização entre o que é produzido e o que é vendido
não haveria necessidade de estoques de produtos acabados.

Assim, a boa administração financeira procura a eficiência na gestão de


recursos, através da maximização de seus retornos ao mesmo tempo que
procura a minimização de seus custos.

O capital de giro fixo e variável


Quando estudamos o capital de giro, podemos dividi-lo em duas partes
ou segmentos: capital de giro fixo (ou permanente) e capital de giro variável
(ou sazonal).

Enquanto o capital de giro permanente refere-se ao volume mínimo de


ativo circulante necessário para manter a empresa em condições normais de
funcionamento, o capital de giro variável, por seu lado, é definido pelas ne-
cessidades adicionais e temporais de recursos. Essas necessidades adicionais
são verificadas em determinados períodos e ocorrem, principalmente, por
compras antecipadas de estoques, maior morosidade no recebimento de
clientes, recursos do disponível em trânsito, maiores vendas (picos de vendas

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(os períodos de festas natalinas, a Páscoa cristã, dia dos namorados etc.) em
certos meses do ano etc. Essas operações promovem variações temporais no
circulante e, por isso, são denominadas de sazonais ou variáveis.

O comportamento fixo e sazonal é representado na figura 1.

(ASSAF NETO; TIBÚRCIO SILVA, 2007. Adaptado.)


$ milhões 17
16
15
14
Capital de giro sazonal $3
13
12 $2
10
Capital de giro permanente (fixo)

1 2 3 4 Anos
Figura 1 – Comportamento fixo e sazonal.

Na ilustração podemos observar uma ligeira evolução no capital de giro


fixo ao longo dos anos acompanhando o crescimento da empresa, o que é
perfeitamente normal, dado que o capital de giro permanente não é fixo
indefinidamente ao longo dos anos (ele, na verdade, evolui sensivelmente
ao longo do tempo). A parte variável do capital de giro pode ser vislumbrada
na figura como aquela linha que sobe num determinado momento e depois
desce, para num momento seguinte subir novamente.

Quando estudamos a administração do capital de giro nossa preocu-


pação deve estar voltada para a administração das contas dos elementos
de giro, ou seja, dos ativos e passivos correntes (circulantes) e suas inter-
relações existentes. A partir do estudo do capital de giro são estudados
fundamentalmente:

 o nível de estoques que a empresa deve manter;

 seus investimentos em crédito a clientes;

 o gerenciamento do caixa; e

 as contas dos passivos correntes (salários a pagar, fornecedores etc.)

O estudo desses grupos de contas na administração do capital de giro


deve ser consistente com os objetivos da empresa e ter por base fundamen-
tal a manutenção dos níveis de rentabilidade e liquidez.
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Capital de Giro ou Capital Circulante Líquido


Em termos contábeis e observando um Balanço Patrimonial, o Capital de
Giro (CG) ou Capital Circulante Líquido (CCL) pode ser visto algebricamente
através das expressões a seguir:

Capital Circulante Líquido = Ativo Circulante – Passivo Circulante

CCL = AC – PC

ou

Capital Circulante Líquido = (Patrimônio Líquido + Passivo Não


Circulante) – Ativo Não Circulante

CCL = (PL + PNC) – ANC

Compreende o Ativo Não Circulante (ANC):

 realizável a longo prazo;

 investimento;

 imobilizado;

 intangível.

Compreende o Passivo Não Circulante (PNC)

 exigível a longo prazo;

 receita de exercícios futuros (somente para construtoras e imobiliárias).

Exemplo 1 – CCL Positivo


Vejamos um exemplo:

AC PC
R$80,00 R$40,00
PNC R$20,00
CCL Positivo
PL
ANC
R$120,00
R$100,00
Total R$180,00 Total R$180,00

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CCL = Ativo Circulante – Passivo Circulante


CCL = AC – PC
CCL = R$80,00 – R$40,00 = R$40,00

ou

CCL = (Patrimônio Líquido + Passivo Não Circulante) – Ativo Não Circulante


CCL = (PL + PNC) – ANC
CCL = (R$120,00 + R$20,00) – R$100,00 = R$40,00

Observe que do total de R$80,00 aplicado no ativo circulante, R$40,00 são


financiados por créditos de curto prazo (passivo circulante), e os R$40,00 res-
tantes, que representam o capital de giro líquido da empresa, são oriundos
de recursos de longo prazo (passivo não circulante e patrimônio líquido).

Em outros termos, dos R$140,00 captados a longo prazo (R$20,00 que


estão no passivo não circulante e R$120,00 que estão no patrimônio líquido),
R$100,00 estão aplicados em ativos também de longo prazo (ativo não cir-
culante, por exemplo, em imobilizado) e os R$40,00 excedentes são direcio-
nados para financiar o capital de giro próprio da empresa, denotando certa
folga financeira.

Exemplo 2 – CCL Negativo


Por outro lado, uma empresa com capital de giro líquido negativo, isto é,
com passivo circulante maior que ativo circulante, denota que os recursos de
longo prazo da empresa não são suficientes para cobrir suas aplicações de
longo prazo, devendo utilizar recursos do passivo circulante para tal fim. Ou
seja, um CCL negativo revela que a empresa está usando recursos passivos
correntes para financiar seus investimentos permanentes. Vejamos o exem-
plo a seguir:

AC PC
R$80,00 R$100,00
CCL Negativo
PNC
ANC
R$40,00
R$140,00
PL
R$80,00
Total R$220,00 Total R$220,00

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CCL = Ativo Circulante – Passivo Circulante


CCL = AC – PC
CCL = R$80,00 – R$100,00 = – R$20,00

Ou

CCL = (Patrimônio Líquido + Passivo Não Circulante) – Ativo Não Circulante


CCL = (PL + PNC) – ANC
CCL = (R$80,00 + R$40,00) – R$140,00 = – R$20,00

Nesse exemplo, o CCL é de – R$20,00, indicando que R$40,00 dos R$140,00


aplicados em ativo não circulante, por exemplo, em máquinas, no imobiliza-
do, são financiados por dívidas de curto prazo.

De outro modo, observa-se que a empresa tem levantado R$120,00 de


recursos de longo prazo (PNC = R$40,00 + PL = R$80,00), mas esse montan-
te não é suficiente para cobrir suas aplicações em ativos não circulantes de
R$140,00, sendo a diferença de R$20,00 (recursos de longo prazo = R$120,00
– aplicações em ativos não circulantes = R$140,00) coberta por obrigações
correntes (passivo circulante). Dito diferentemente a soma de recursos de
longo prazo (próprios = R$80,00 + terceiros = R$40,00 = R$120,00) é menor
do que os R$140,00 aplicados no ativo não circulante. Na verdade quem está
financiando parte dos recursos no ANC é o PC.

Então, temos o seguinte: no ANC temos R$140,00 aplicados em máquinas


e equipamentos. Esse valor é financiado em parte com recursos de longo
prazo: PNC + PL = R$120,00. Note que faltam R$20,00. A pergunta é a se-
guinte: esses R$20,00 surgem da onde? Do Passivo Circulante (R$100,00 –
R$80,00 = R$20,00).

O Capital de Giro Próprio


Não é raro empresas adotarem, na prática, o conceito de Capital de Giro
Próprio (CGP), que é determinado pela diferença entre o Patrimônio Líquido
e o Ativo Não Circulante, ou seja:

Capital de Giro Próprio = Patrimônio Líquido – Ativo Não Circulante

ou

CGP = PL – ANC

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No caso do exemplo 1 teríamos:

CGP = PL – ANC
CGP = R$120,00 – R$100,00
CGP = R$20,00

Já no caso do exemplo 2 teríamos:

CGP = PL – ANC
CGP = R$80,00 – R$140,00
CGP = – R$60,00

Essa medida de liquidez revela, basicamente, que os recursos próprios da


empresa é que estão financiando suas atividades correntes (ativo circulante).
É um indicador limitado, notadamente, por pretender identificar a natureza
(origem) dos recursos de longo prazo – próprios ou de terceiros – que se
encontram financiando as atividades circulantes.

A importância do ciclo operacional,


econômico e financeiro para o capital de giro

Ciclo operacional
Como vimos anteriormente, uma importante característica na análise do
capital de giro é a existência da falta de sincronização temporal entre os re-
cursos de uma empresa e seus compromissos. Nesses termos, o capital de
giro convive ainda com duas outras importantes características: a curta dura-
ção e a rápida conversão de seus elementos em outros do mesmo do grupo,
e sua consequente reconversão. Observa-se, nos ativos correntes, a presen-
ça de um fluxo contínuo e permanente de recursos, entre seus vários ele-
mentos, estabelecendo forte inter-relação no grupo e tornando seus valores
bastante mutáveis. Por exemplo, a empresa precisa comprar matéria-prima
(estoques) e assim há uma redução do disponível (caixa e/ou banco), pois
ela precisa pagar por elas. Essa matéria-prima é transformada em produtos
e posteriormente em vendas. Se essas vendas forem à vista, ocorre uma ele-
vação do disponível (caixa por conta da entrada de dinheiro), por outro lado,
se as vendas forem a prazo, haverá uma alteração no saldo de duplicatas a
receber, que somente será disponível (caixa) quando essas duplicatas forem
resgatadas (transformadas). E assim segue o ciclo de uma empresa.
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Dessa forma a administração do capital de giro deve promover uma alta


rotação (giro) ao circulante (ativo e passivo circulante), tornando mais dinâ-
mico seu fluxo de operações. Esse incremento de atividade no capital de giro
proporciona, de forma favorável à empresa, menor necessidade de imobili-
zação de capital no ativo circulante e consequente incentivo ao aumento da
rentabilidade.

Nesse processo descrito no parágrafo anterior, surge de forma natural o


ciclo operacional da empresa que se inicia na aquisição da matéria-prima
para a produção – no caso de uma empresa industrial – e se finaliza no rece-
bimento pela venda do produto final (na conversão das duplicatas a receber
1
No caso de uma em-
presa comercial, o ciclo
em disponível)1. Em outras palavras, o ciclo operacional incorpora sequen-
começa com a compra
da mercadoria e termina
cialmente todas as fases operacionais presentes no processo empresarial de
com o recebimento (paga-
mento) pela venda dessa
produção-venda-recebimento, conforme é ilustrado na figura 2.
mercadoria.

José Wladimir Freitas da Fonseca.


Recebimento da venda

PME PMF PMV PMC

Compra de MP Início da fabricação Fim da fabricação Venda

Figura 2 – Esquema básico do ciclo operacional.

Onde :

PME = Prazo Médio de Estocagem (de matéria-prima)

PMF = Prazo Médio de Fabricação

PMV = Prazo Médio de Venda (prazo médio de estocagem dos produtos


acabados)

PMC = Prazo Médio de Cobrança (ou PMR = prazo médio de recebimento)

O ciclo operacional varia em função do setor de atividade e das caracte-


rísticas de atuação da empresa. A maior parte das empresas tem ciclo opera-
cional com prazo inferior a um ano por ser mais comum. Entende-se nessas
situações que o ciclo operacional se repete várias vezes no ano, evidenciando
maior giro (rotação) para os investimentos operacionais. Os exemplos mais
comuns de ciclo operacional inferior a um ano são as empresas de peças
automotivas, indústria moveleira, calçadista, têxtil etc. Já como exemplo de

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empresas com ciclo operacional superior a um ano podemos citar a indústria


automotiva, as montadoras de veículos. Outras empresas como construtoras
e empresas rurais apresentam ciclos mais longos, por vezes maiores que um
ano, exigindo assim a presença de um volume maior de financiamento de
capital de giro.

Cada fase do ciclo operacional demanda de forma crescente certo mon-


tante de recursos para financiar suas atividades. Dito diferentemente, quanto
maior o ciclo operacional maiores serão as necessidades.

Necessidade

(ASSAF NETO; TIBÚRCIO SILVA, 2007)


acumulada
de recursos
($)
Financiamento do capital de giro

Ciclo
Operacional

Compra de Início da Fim da Recebimento


Venda
matéria-prima fabricação fabricação da venda

Pagamento de Desconto de
fornecedores duplicatas

PME (Mp) PMF PMV PMC

Figura 3 – Ciclo operacional e necessidade de recursos.

A estocagem da matéria-prima e as vendas a prazo constituem uma fase


que pode receber certa parcela de financiamento proveniente de créditos de
compras a prazo de fornecedores e de descontos de duplicatas. Para as demais
fases operacionais devem ser alocados recursos financeiros de outras origens.

Observa-se que as necessidades financeiras de cada fase operacional não


são constantes ao longo do tempo, apresentando incrementos em cada pe-
ríodo pela absorção dos dispêndios correspondentes. Por exemplo, o investi-
mento demandado no período de estocagem das matérias-primas é menor
que o verificado no período de fabricação, em razão de serem agregados

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nesta fase os custos de produção. Da mesma forma, a necessidade de finan-


ciamento cresce mais durante os prazos de venda e cobrança pela presença
de custos e despesas específicos.

Por outro lado, os financiamentos provenientes de fornecedores man-


têm-se inalterados ao longo dos períodos, exigindo que a empresa demande
cada vez mais recursos à medida que avança em seu ciclo operacional. Em
verdade, os prazos de pagamento em geral (assim como os descontos de du-
plicatas) partem de determinado valor, não absorvendo nenhum dispêndio
que foi verificado nas fases operacionais.

A partir do ciclo operacional é possível identificar o ciclo financeiro e o


ciclo econômico.

Ciclo financeiro
Enquanto o ciclo operacional envolve todas as etapas do processo de pro-
dução, o ciclo financeiro revela a distância que existe entre o pagamento da
matéria-prima (o que implica em desembolso) e o processo de produção e
recebimento das vendas (o que implica em entrada de caixa). Trata-se de um
hiato que ocorre nas empresas por conta da falta de sincronização entre pa-
gamentos e recebimentos. Se não houvesse essa distância e tudo fosse sincro-
nizado entre o pagamento da matéria-prima e o recebimento das vendas não
existiria o ciclo financeiro. O ciclo financeiro é demonstrado na figura 4.

José Wladimir Freitas da Fonseca.


Recebimento
Compra de MP Início da fabricação Fim da fabricação Venda da venda

PME PMF PMV PMC


($)
(PMPF)
Ciclo financeiro

($)

Figura 4 – Esquema básico do ciclo financeiro.

Note que o ciclo financeiro começa exatamente quando do pagamen-


to da matéria-prima adquirida e termina exatamente no recebimento das
vendas, ou seja, esse ciclo é demarcado por ($) que indica tanto a saída de

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recursos (pagamento de matéria-prima) quanto a entrada de recursos (rece-


bimento pelas vendas). No esquema, a sigla PMPF significa Prazo Médio de
Pagamento a Fornecedores.

Ciclo econômico
O ciclo econômico inicia na compra da matéria-prima (independente do
seu pagamento) e termina na venda do produto (independente do seu rece-
bimento). É um conceito que não se prende aos momentos de pagamento e
recebimento de numerário e tão somente aos momentos-chave do processo
de produção.

José Wladimir Freitas da Fonseca.


Recebimento
Compra de MP Início da fabricação Fim da fabricação Venda da venda

PME PMF PMV PMC

Ciclo econômico

Figura 5 – Esquema básico do ciclo econômico.

A representação dos três ciclos é feita na figura 6:

Compra de Início da Fim da Recebimento (ASSAF NETO; TIBÚRCIO SILVA, 2007)


matéria-prima fabricação fabricação Venda da venda

PME (Mp) PMF PMV PMC

PMPF
Ciclo operacional

Ciclo financeiro (caixa)

Ciclo econômico

Figura 6 – Esquema básico dos ciclos operacional, financeiro e econômico.


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Uma vez reconhecido cada ciclo e suas especificidades, vejamos cada ru-
brica dos ciclos identificados:

Ciclo Operacional = PME (MP) + PMF + PMV + PMC

Ciclo Financeiro = Ciclo Operacional – PMPF

Ciclo Econômico = Ciclo Operacional – PMC

Onde:

PME = Prazo Médio de Estocagem

Estoque de matéria-prima
PME = . número de dias
Consumo de matéria-prima (MP)

PMF = Prazo Médio de Fabricação

Estoque de produtos em processo


PMF = . número de dias
Custo dos produtos elaborados

PMV = Prazo Médio de Vendas


Estoque de produtos acabados
PMV = . número de dias
Custo dos produtos vendidos (CPV)

PMC = Prazo Médio de Cobrança

Duplicatas a receber
PMC = . número de dias
Vendas

PMPF = Prazo Médio de Pagamento a Fornecedores

Fornecedores a pagar
PMPF = . número de dias
Compras

Exemplo
Vejamos um exemplo que nos ajudará a compreender o cálculo e a com-
preensão dos três ciclos:

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Tabela 1 – Informações contábeis da Cia W – 1.° trimestre de X9

Ativo circulante operacional Passivo circulante operacional


Duplicatas a receber R$6.400,00 Fornecedores a pagar R$3.000,00
Estoques:
Matéria-prima R$200,00
Produtos em processo R$400,00
Produtos acabados R$800,00
Total R$7.800,00 Total R$3.000,00

Tabela 2 – Informações adicionais da Cia W – 1.° trimestre de X9

Vendas R$18.000,00
CPV R$6.000,00
MP consumida no trimestre R$2.000,00
Compras realizadas no trimestre R$5.000,00

Obs.: para esse caso o número de dias será 90, pois representa a quantidade de dias
no trimestre. Se estivéssemos tratando de um quadrimestre seriam 120 dias, um
semestre seriam 180 dias e assim sucessivamente.

A partir dessas informações, determine: o ciclo operacional, o ciclo finan-


ceiro e o ciclo econômico da empresa.

Resolução
Determinando o ciclo operacional
Prazo Médio de Estocagem de Matéria-Prima (PME)
PME = (Estoque de matéria-prima/consumo de matéria-prima) . número
de dias
PME = (R$200,00 / R$2.000,00) . 90
PME = 9 dias

Prazo Médio de Fabricação (PMF)


PMF = (Estoque de Produtos em Processo/custo dos produtos elabora-
dos) . número de dias
PMF = (R$400,00/R$6.000,00) . 90
PMF = 6 dias

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(Obs.: para esse caso assume-se o CPV por desconhecer o custo dos pro-
dutos elaborados.)

Prazo Médio de Vendas (PMV)


PMV = (Estoque de Produtos acabados/custo dos produtos vendidos) .
número de dias
PMV = (R$800,00 / R$2.000,00) . 90
PMV = 12 dias

Prazo Médio de Cobrança (PMC)


PMC = (Duplicatas a receber/vendas) . número de dias
PMC = (R$6.400,00 / R$18.000,00) . 90
PMC = 32 dias

Ciclo Operacional = PME (MP) + PMF + PMV + PMC


Ciclo Operacional = 9 + 6 + 12 + 32
Ciclo Operacional = 59 dias

Determinando o ciclo financeiro


PMPF (Prazo Médio de Pagamento a Fornecedores)
PMPF = (Fornecedores a pagar/compras) . número de dias
PMPF = (R$3.000,00 / R$5.000,00) . 90
PMPF = 54 dias

Ciclo Financeiro = Ciclo Operacional – PMPF


Ciclo Financeiro = 59 dias – 54 dias
Ciclo Financeiro = 5 dias

Determinando o ciclo econômico


Ciclo Econômico = Ciclo Operacional – PMC
Ciclo Econômico = 59 dias – 32 dias
Ciclo Econômico = 27 dias

Vejamos a seguir a representação dos ciclos a partir de um esquema.

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José Wladimir Freitas da Fonseca.


PMF
PME PMF PMV
9 15 27 54 59

PMPF

Ciclo Operacional = 59 dias

Ciclo Econômico = 27 dias Ciclo Financeiro = 5 dias

Figura 7 – Esquema básico dos ciclos: operacional, financeiro e econômico.

Conflito risco-retorno
na administração do capital de giro
Como pôde ser visto mais acima, dado um volume de atividade (produ-
ção), quanto maior forem os recursos aplicados em ativos correntes (circu-
lantes) menor será a rentabilidade oferecida pelo investimento (na medida
em que o AC for maior que o ANC) e, em contrapartida, menos arriscada será
a política de capital de giro adotada. Nessa situação, revela-se maior imo-
bilização de capital em giro (maior folga financeira), que promove retornos
relativos inferiores àqueles apurados ao optar-se por uma estrutura finan-
ceira de menor liquidez, com reduzido volume de capital de giro. O inverso
também é verdadeiro.

Assim, considere as alternativas abaixo onde se manteve uma estrutura


com fontes de financiamento proporcionalmente constantes. Os passivos cor-
rentes financiam 20%, os de longo prazo 30% e o PL 50% do total dos ativos.

Tabela 3 – Avaliação de risco


José Wladimir Freitas da Fonseca.

Alto risco CCL Baixo risco CCL


Ativo Circulante R$210.000,00   R$104.000,00 R$380.000,00   R$240.000,00
Ativo Não Circulante R$320.000,00     R$320.000,00    
Total R$530.000,00     R$700.000,00    
Passivo Circulante R$106.000,00 20%   R$140.000,00 20%  
Passivo Não Circulante R$159.000,00 30%   R$210.000,00 30%  
Patrimônio Líquido R$265.000,00 50%   R$350.000,00 50%  
Total R$530.000,00 100%   R$700.000,00 100%  

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A alternativa de alto risco é a que apresenta menor investimento em capi-


tal de giro e, provavelmente, maior rentabilidade. Ao contrário, a redução do
risco (baixo risco) é verificada pelo aumento do CCL, promovendo, pela mais
elevada imobilização de capital, uma redução do retorno percentual.

Considere que o lucro operacional tenha atingido R$140.000,00 (estamos


supondo o valor do lucro operacional na medida em que este não se encon-
tra na tabela) para ambas as alternativas de capital de giro, e o lucro líqui-
do R$62.000,00 (supondo) na situação de maior risco e R$43.000,00 na de
menor risco, são apuradas as seguintes taxas de retorno:

Tabela 4 – A relação risco e retorno

  Alto risco Baixo risco


Retorno sobre Ativo (Lucro R$140.000,00 / R$530.000,00 R$140.000,00 / R$700.000,00
operacional / Ativo total) = 26,42% = 20%

Retorno sobre Patrimônio


R$62.000,00 / R$265.000,00 R$43.000,00 / R$350.000,00
Líquido (Lucro líquido / Patri-
= 23,40% = 12,29%
mônio líquido)

Observe que quanto maior for a participação do CCL (estrutura financei-


ra da empresa for menos arriscada), menor será a rentabilidade. Posturas
empresariais de maior risco, com menor CCL, costumam promover retornos
compensatórios mais elevados.

Nessa posição de conflito, conclui-se que uma empresa não pode deci-
dir por uma posição de mais alta liquidez e rentabilidade simultaneamente,
devendo optar por um CCL que lhe proporcione um nível de segurança e
rentabilidade adequado aos padrões definidos pela relação risco-retorno.

Conclusão
Neste capítulo podemos destacar que a administração do capital de giro
é de fundamental importância para as finanças da empresa na medida em
que as variáveis contempladas estão relacionadas ao curto prazo da empre-
sa. O caixa, os estoques, as duplicatas representam grupos de contas que,
quando bem administradas, possibilitam bons resultados de liquidez e de
rentabilidade para a empresa.

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Devemos destacar, ainda, que a administração do capital de giro está in-


timamente relacionada ao ciclo operacional, financeiro e econômico da em-
presa, impondo ao administrador o acompanhamento e controle da estabi-
lidade dos ciclos, sobretudo no que concerne ao ciclo financeiro, na busca
constante de otimização, pois sua redução representa entradas de recursos
de capital cíclico, que podem ser alocados em outras contas.

Ampliando seus conhecimentos

O caso da Hutter Barry Enterprises e da Crone


Paper Company: uma aplicação
(GITMAN, MADURA, 2006)

A Hutter Barry Enterprises tem, em média, R$50.000,00 em caixa e títulos


negociáveis, R$1.250.000,00 em estoques e R$750.000,00 em contas a receber.
O negócio da Hutter Barry tem sido bastante estável, por isso seus ativos ope-
racionais podem ser vistos como permanentes. Além disso, as contas a pagar,
no valor de R$425.000,00, são estáveis. Assim, a Hutter Barry tem um investi-
mento permanente em ativos operacionais de R$1.625.000,00 (R$50.000,00 +
R$1.250.000,00 + R$750.000,00 – R$425.000,00). Esse montante também seria
igual a sua necessidade permanente [grifo nosso] de captação de fundos.

Em contraste, a Crone Paper Company, que produz papel para caderno,


tem necessidades sazonais de captação de fundos. A Crone tem vendas sa-
zonais, com seu pico de vendas guiado pelas compras de papel na época de
volta às aulas. A Crone tem, no mínimo, R$25.000,00 em caixa e títulos ne-
gociáveis, R$100.000,00 em estoques e R$60.000,00 em contas a receber.
Em épocas de pico, o estoque da Crone aumenta para R$750.000,00 e suas
contas a receber aumentam para R$400.000,00. Para ter eficiência na produ-
ção, a Crone produz papel a uma taxa constante durante o ano todo. Assim, as
contas a pagar permanecem em R$50.000,00 o ano todo. Consequentemen-
te, a Crone tem uma necessidade de captação permanente de fundos para seu
mínimo de ativos operacionais de R$135.000,00 (R$25.000,00 + R$100.000,00
+ R$60.000,00 – R$50.000,00) e uma necessidade sazonal de recursos na época
de pico (além de sua necessidade permanente) de R$990.000,00 [(R$25.000,00
+ R$750.000,00 + R$400.000,00 – R$50.000,00) – R$135.000,00]. O total das
necessidades de captação de recursos da Crone para ativos operacionais

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varia de um mínimo de R$135.000,00 (permanente) a um pico sazonal de


R$1.125.000,00 (R$135.000,00 + R$990.000,00).

Atividades de aplicação
1. Calcule o CCL para a seguinte estrutura patrimonial (Balanço Patrimo-
nial):

PC
AC
R$80,00
R$100,00
PNC
R$120,00
ANC
PL
R$200,00
R$100,00
Total R$300,00 Total R$300,00

2. Se o passivo circulante de uma empresa é maior que seu ativo circu-


lante, o que isso representa em termos de recursos de longo prazo e
aplicações?

3. Enquanto o ciclo financeiro de uma empresa compreende o momento


em que a empresa paga pelas compras de matéria-prima para pro-
duzir seu produto até o momento do recebimento das vendas, o que
compreende o ciclo operacional de uma empresa?

4. Com base nas informações abaixo, encontre: o PME, o PMF, o PMV,


o PMC, o PMPF e depois informe o ciclo operacional, financeiro e
econômico.

Ativo Passivo
Duplicatas a receber R$8.400,00 Fornecedor a pagar R$4.000,00
Estoque MP R$400,00  
Estoque de produtos em processo R$800,00  
Estoque produtos acabados R$1.000,00  
Total R$10.600,00 Total R$4.000,00

Vendas R$24.000,00  
CPV R$8.000,00  
MP consumida no quadrimestre R$6.000,00  
Compras no quadrimestre R$8.000,00    

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5. Considere o Balanço Patrimonial a seguir e informe o CCL desta empresa:

PC
R$100,00
AC
PNC R$20,00
R$200,00

PL
R$180,00
ANC
R$100,00

Total R$300,00 Total R$300,00


-

6. Com base no BP anterior, informe o capital de giro próprio dessa empresa.

Gabarito
1. CCL = Ativo Circulante – Passivo Circulante

CCL = R$100,00 – R$80,00

CCL = R$20,00

2. Representa que os recursos de longo prazo da empresa em ques-


tão não são suficientes para cobrir suas aplicações de longo prazo e,
portanto, a empresa utiliza recursos de curto prazo para esse fim. Em
outros termos: a empresa está usando recursos de curto prazo para
financiar aplicações de longo prazo (ativo não circulante).

3. Compreende desde o momento da aquisição da matéria-prima para


produzir o produto até o momento do recebimento das vendas.

4. PME = Estoque de matéria-prima/consumo de MP x 120 = R$400,00 /


R$6.000,00 x 120 = 8 dias

PMF = Estoque de produtos em processo/CPV x 120 = R$800,00 /


R$8.000,00 x 120 =12 dias

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PMV = Estoque de produtos acabados/CPV x 120 = R$1.000,00 /


R$8.000,00 x 120 =15 dias

PMC = Duplicatas a receber/vendas x 120 = R$8.400,00 / R$24.000,00 x


120 = 42 dias

PMPF = Fornecedores a pagar/compras x 120 = R$4.000,00 / R$8.000,00


x 120 = 60 dias

Ciclo Operacional = PME (MP) + PMF + PMV + PMC

Ciclo Operacional = 8 + 12 + 15 + 42 = 77 dias

Ciclo Financeiro = Ciclo Operacional – PMPF

Ciclo Financeiro = 77 – 60 = 17 dias

Ciclo Econômico = Ciclo Operacional – PMC

Ciclo Econômico = 77 – 42 = 35 dias

5. Cálculo do CCL :

CCL = Ativo Circulante – Passivo Circulante

CCL = AC – PC

CCL = R$200,00 – R$100,00 = R$100,00

6. Cálculo do CGP

CGP = PL – ANC

CGP = R$180,00 – R$100,00 = R$80,00

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