Iniciacao A Gestalt Terapia

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Iniciação à

Gestalt – Terapia
A Terapia Gestalt é uma abordagem
psicoterapêutica experiencial, baseada na tomada
de consciência da experiência actual do ser
humano, de uma forma global e holística.
Inicie-se nesta Terapia com este curso!
A Gestalt Terapia
• Gestalt-terapia é uma das muitas maneiras de
se fazer psicoterapia. Foi concebida por Fritz
Perls na década de 1950 e pretende buscar
explicações racionais e lógicas para o que
acontece ao homem quando se encontra em
desequilíbrio psicológico.
• A Gestalt-terapia é uma forma criativa, científica,
poética e artística de se fazer psicoterapia. É
uma caminhada com a mente e com o coração.
• O objetivo da terapia desta abordagem é
habilitar a pessoa a usar, além da cognição,
suas sensações, emoções e sentimentos,
integrando todo o potencial que a natureza lhe
disponibilizou para fazer frente à sua realidade.
• Gestalt, mais que uma terapia, se apresenta
também como uma filosofia existencial,
humanista, uma “arte de viver”. Busca sair do
determinismo alienante do passado e do meio.
• A Gestalt-Terapia, também conhecida como
terapia do contato, tem como finalidade
conhecer e trabalhar a consciência da pessoa, e
com o todo que essa pessoa traz. Perls, o
mentor desta abordagem se dedicou a colocar
na prática toda a filosofia titulada por Wolfgang
Köhler (pai da Gestalt).
• A Gestalt foi por muito tempo, e ainda é
considerada a terapia do contato. Atualmente é
nomeada como Gestalt-Terapia, a qual Perls foi
o responsável por adaptar os conceitos
filosóficos da Gestalt para a prática de maneira
simples e clara. Ribeiro (1985, p.132) assegura
que, “[…] a Gestalt-Terapia é uma proposta
humanística de ver o homem em toda a sua
plenitude, em pleno desenvolvimento de suas
potencialidades”.
• Na teoria de Perls, a noção de organismo como
um todo é central, tanto em relação ao
funcionamento orgânico quanto à participação
do organismo em seu meio para criar um campo
único de atividades. Perls insistia em dizer que
os seres humanos são organismos unificados e
que não há nenhuma diferença entre o tipo de
atividade física e mental. Esta é a visão de
homem da Gestalt: um ser dotado de potencial
em constante relação com o meio onde vive.
• Nesta concepção, sabe-se que o papel do
terapeuta é o de funcionar como uma tela de
projeção na qual o paciente vê seu próprio
potencial ausente e a tarefa da terapia é a
recuperação deste potencial do paciente. O
terapeuta ajuda o paciente perceber como ele
ou ela constantemente se interrompe, evita a
conscientização, desempenha papéis e assim
por diante.
• Finalmente, o terapeuta é humano e seu
encontro com o paciente envolve o encontro de
dois indivíduos, o que inclui, mas também vai
além do encontro definido de papéis terapeuta-
paciente.
História da Gestalt Terapia
• O principal criador da Gestalt-terapia foi
Frederick Salomon Perls, o Fritz Perls, como
ficou conhecido. Fritz nasceu em Berlim, em
1893, filho de pais judeus.
• Em 1920, aos 27 anos, portanto, graduou-se em
Medicina, passando a trabalhar como
neuropsiquiatra.
• Em 1926, em Frankfurt, trabalhou com o
neuropsiquiatra Kurt Goldstein e com sua
assistente, Laura Posner, mais tarde co-
fundadora da Gestalt-terapia, assim como Paul
Goodman e Ralph Hefferline. Perls e Laura
casaram-se algum tempo depois de seu
trabalho com Goldstein.
• Goldstein é um dos expoentes da teoria
organísmica, uma das principais influência
exercidas sobre Perls e, por extensão, sobre a
Gestalt-terapia. Vem daí a idéia central na
Gestalt-terapia de se considerar o indivíduo
como um todo, uma entidade
biopsicossocioespiritual.
• Do trabalho de Goldstein, imensamente
importante para a Gestalt-terapia, pode-se
deduzir que “o ser humano é regulado e tende
ao equilíbrio. Realiza-se intensamente
atendendo às suas necessidades. Para tanto,
compõe-se com o ambiente e/ou redistribui
intensamente sua energia pelo organismo.
• Bases da Gestalt-terapia: assim como muitas
das abordagens em psicoterapia, a Gestalt-
terapia é, de certa forma, filha da Psicanálise.
Fritz Perls e sua mulher, Laura, eram
psicanalistas quando lançaram as bases da
Gestalt-terapia.
• Durante este tempo de trabalho, fizeram um
trajeto desde a Alemanha (de onde fugiram do
terror nazista) até os EUA, onde finalmente se
radicaram, passando pela Holanda e pela África
do Sul, onde residiram e trabalharam por alguns
anos, até fugirem do fascismo representado
pelo “apartheid”, chegando finalmente aos EUA.
• As influências da Psicanálise sobre a Gestalt-
terapia são um dos pontos mais debatidos no
interior da abordagem gestáltica, havendo
mesmo teóricos que dizem que ela se dá muito
mais pelo que não fazer que pelo que fazer em
um trabalho psicoterapêutico. Voltarei mais
adiante a este tema.
• De Friedlander, Perls aproveita o conceito de
indiferença criativa e a maneira de ver as
polaridades, ou seja, o aspecto da qualidade
polar da vida humana: a polaridade da
personalidade é um dos pilares da Gestalt-
terapia. De Jan Smuts, Fritz traz importantes
reflexões sobre o holismo.
• Com relação ao trabalho com os sonhos, há
influência de Jung, que via os sonhos mais
como expressões pessoais criativas do que
como disfarces inconscientes de experiências
problemáticas ou apenas motivados por
realizações de desejos. Em Gestalt-terapia, os
sonhos são entendidos também em termos de
situações inacabadas que clamam por
satisfação e finalização.
• Este conceito (situação inacabada) nos leva a
outra influência recebida pela Gestalt-terapia: a
teoria da aprendizagem da Gestalt,
desenvolvida por Wertheimer, Köhler e Koffka,
na Alemanha dos anos vinte. Influência tão
marcante que acabou por determinar o nome da
teoria que Perls criaria.
• A fundamentação básica da Psicologia da
Gestalt é a de que a percepção depende da
totalidade das condições estimulantes, ou seja,
depende do campo total (indivíduo-meio), quer
dizer, depende de características do estímulo e
da organização neurológica e perceptiva da
pessoa.
• A palavra “Gestalt”, derivada da raiz germânica
“Gestalten”, significa todo ou configuração. Na
Psicologia da Gestalt, gestalten são totalidades
significantes da experiência. Para a Psicologia
da Gestalt o todo é diferente da soma de suas
partes.
• Há uma condição inata de necessidade humana
de organização e de integridade da experiência
perceptual, da qual podemos depreender que
uma pessoa não pode prosseguir seu processo
de crescimento até antes de haver completado
qualquer coisa que experiencie como
incompleta em sua vida.
• O conceito da Psicologia da Gestalt de figura e
fundo é básico para a Gestalt-terapia. Tal
conceito permite ao ser percipiente organizar
suas percepções numa unidade dinâmica a
mais vigorosa possível. Os conceitos, oriundos
da Psicologia da Gestalt, principalmente o que
se refere a figura e fundo, são importante base
para as noções de saúde e de doença da
Gestalt-terapia.
• Além disso, há que se dar atenção a uma série
de princípios que regem a percepção, segundo
os teóricos da Psicologia da Gestalt:
proximidade, similaridade, direção, disposição
objetiva, destino comum e pregnância. Também
como conceito básico importante é o que trata
do aqui e agora em termos de percepção : a
experiência da percepção aqui e agora tem
mais influência na percepção de um objeto ou
de uma forma que a experiência passada com
essa mesma figura.
• Além disso, subjacente a estes e a outros
conceitos oriundos da Psicologia da Gestalt está
a diferença entre a realidade psíquica (o que eu
percebo) e a realidade objetiva (o mundo das
coisas) e a impossibilidade de compreender o
homem sem uma visão holística do mesmo, que
agrupe numa Gestalt (numa configuração) as
partes deste homem bem como sua relação
com os outros homens e com a natureza.
(Martins, 1995, p. 55)
• Outra influência colhida pelo casal Perls veio de
Adler, cujas concepções “do estilo de vida e do
eu criador apoiaram a participação única e ativa
de cada indivíduo que – no curso de sua
evolução pessoal – entalha a sua natureza
específica. (…) Adler relembrou aos
psicoterapeutas a importância da superfície da
existência.
• Para a Gestalt-terapia, a superfície da existência
é o plano do foco preordenado, a própria
essência do homem psicológico. É nesta
superfície que existe a consciência, dando à
vida sua orientação e significado. Vem de Adler
a influência para que, em Gestalt-terapia,
acreditemos “que o homem cria a si mesmo”. A
maior energia para a realização deste esforço
prometeico provém de sua consciência e da
aceitação de si mesmo tal qual é.” (Ribeiro,
1985, p. 21)
• A orientação humanista da Gestalt-terapia se
deve a algumas influências sofridas pelo casal
Perls, notadamente de Otto Rank, que
acreditava que a primeira luta humana é aquela
pela individuação pessoal, o que se tornou
também uma das preocupações centrais da
Gestalt-terapia. Esta luta se dá através dos
esforços que a pessoa faz para integrar seus
medos polares de separação e de união, ou
seja, a eterna luta humana entre autonomia e
heteronomia.
• Se nos separamos demais, corremos o risco da
perda da relação com o outro; se nos unimos
demais, o risco é o da perda da individuação.
• A idéia da resistência vista como criativa e como
facilitadora de uma nova organização pessoal
também advém de Rank e é capital na Gestalt-
terapia. A resistência não deve ser combatida,
mas sim deve ser trazida à consciência do
cliente e respeitada como um limite do seu
agora.
• Outra base importante para a Gestalt-terapia é a
filosofia existencial, principalmente através de
Heidegger, Martin Buber, Binswanger, Rollo
May e Merleau-Ponty.
• O ser humano como um ser em relação é uma
das contribuições que o movimento
existencialista do pós-guerra trouxe à Gestalt-
terapia. Além desta, podemos listar outras
contribuições dos existencialistas: experiência;
autenticidade; confrontação; ação viva e
presente.
• Para a Gestalt-terapia, isto implicou na ênfase
na “singularidade, particularidade, e concretude
do homem diante de suas relações e de sua
responsabilidade frente a seus projetos e às
suas escolhas.” (Barbalho, 1995, p. 2)
Metodologicamente, a implicação diz respeito à
fundamentação da terapia no relacionamento
dialógico e na fenomenologia.
• Tratando da influência de Buber no trabalho
gestáltico, Cardella (2002, p. 36 e ss)
argumenta que Buber acredita que a civilização
moderna, ao não valorizar os aspectos
relacionais da vida, ampliou o espaço para o
narcisismo e para o isolamento do ser humano.
• Esta relação, o inter-humano, está presente no
e dando sentido ao diálogo, entendendo aqui
diálogo não somente no que se refere ao
discurso, mas ao fundamento relacional da
existência humana.
• Este diálogo acontece “na esfera do ‘entre’,
mediante a vivência de duas polaridades, EU-
TU e EU-ISSO, as duas atitudes fundamentais
do ser humano para relacionar-se com os outros
e com o mundo.” (Cardella, 2002, p. 37) Para
Buber (1979, passim), o ser humano não pode
viver sem relações EU-ISSO, mas não é
humano aquele que só vive relações EU-ISSO.
Diz o filósofo que a realização do EU se dá na
relação com o TU, uma relação de seres em sua
totalidade.
• Assim, a relação EU-TU valoriza o outro na sua
alteridade, de modo que a outra pessoa é um
fim em si mesma. Na relação EU-ISSO, a outra
pessoa é considerada um objeto a partir do qual
se atinge um fim.
• O encontro EU-TU não pode ser forçado, de
maneira que só podemos nos colocar
disponíveis para ele; este encontro é algo que
acontece, é quase que uma graça, se me é
permitido usar de um termo religioso. A
existência sadia pode ser caracterizada, dentro
deste ponto de vista, pela possibilidade da
vivência da dualidade EU-TU e EU-ISSO, uma
alternância entre aproximação (relação) e
separação, um ritmo de ir e vir, uma alternância
de contato e retraimento num compasso sempre
muito pessoal.
• Aquilo que nos une como seres humanos não é,
necessariamente, o visível e o palpável, mas,
sim, a dimensão invisível e impalpável ‘entre’
nós. É o espírito humano que permeia qualquer
interação nossa. É o ‘fundo numinoso’ que nos
envolve e interpenetra. A partir dele emergem
nossa singularidade e individualidade, tornando-
se figura. É a fonte da cura.
• Data de 1927, a mudança de Fritz para Viena e
o começo de seu treinamento em Psicanálise.
Fritz foi analisando de Wilhelm Reich; teve
também Karen Horney como supervisora e
terapeuta. Sem dúvida, uma das maiores
influências exercidas sobre os Perls veio de
Reich. O corpo, os gestos, o olhar, a entonação
da voz, passam a fazer parte da terapia. Além
disto, há uma preocupação não só com a
estrutura da fala, mas também com a forma da
fala.
• Reich reformulou o conceito de libido, definindo-
a como excitação, o que torna adequada para
explicar a atividade presente no indivíduo, sem
ter que apelar para especulações sobre os
instintos ou sobre a infância. Através do
conceito de couraça muscular do caráter, Reich
fez com que “a terapia se devotasse ao
afrouxamento desta rigidez corporal restritiva,
de forma a liberar a excitação para o
comportamento natural que o indivíduo havia
enterrado.
• (…) Esta foi uma perspectiva
surpreendentemente simples do homem, que
iluminou os aspectos básicos e simples do
comportamento: a sensação, o orgasmo, e a
riqueza da expressão imediata e não distorcida.
(…) A tendência de Reich de ver com
simplicidade as ações simples levou a uma
fenomenologia mais vigorosa.” (Polster e
Polster, 1979, p. 275/276)
• Em 1942, Fritz escreveu o livro “Ego, Fome e
Agressão”, no qual critica a teoria psicanalítica
com base em pesquisas sobre percepção e
motivação. Neste livro Fritz lança uma
importante discordância teórica com relação à
psicanálise: a idéia de que a base da agressão
e do sadismo está na fase oral e não na fase
anal do desenvolvimento infantil.
• É também neste livro que Perls lança alguns
conceitos básicos do que seria, mais tarde, a
Gestalt-terapia: a realidade do aqui e agora, o
organismo como totalidade, a unidade
organismo/meio, a dominância da necessidade
emergente e uma reflexão sobre o conceito de
agressão, que é entendida como uma força
biológica importante para o crescimento.
• Data de 1951 o lançamento de Gestalt Therapy
– Excitement and Growth in Human Personality,
escrito por Frederick Perls, Paul Goodman e
Ralph Hefferline, livro no qual, pela primeira vez,
foi utilizado o termo “Gestalt-terapia”, e que é o
livro mais básico da Gestalt-terapia.
• Em 1962, Perls entra em contato com o zen-
budismo ao passar uns tempos em um mosteiro
no Japão e aprende lá alguns conceitos que se
incorporam à filosofia da Gestalt-terapia; dentre
esses conceitos, quero aqui destacar três:
permitir o fluir da experiência, ou seja, seguir o
fluxo de awareness; a aceitação do que se é; e
a possibilidade de se aprender a lidar com o
vazio, o qual é fértil de possibilidades, uma vez
que, não raro, é o momento que precede o ato
criativo.
• Fritz faleceu em 14 de março de 1970, no
Canadá. Laura, em 1990, nos EUA. Deixaram
como legado uma das mais importantes
abordagens da Psicologia e da psicoterapia
atual, uma abordagem em constante
desenvolvimento e em constante luta por um
mundo mais humano e mais simples.
Pressupostos Filosóficos da Gestalt-Terapia
• A Gestalt-terapia é uma abordagem psicológica
que teve influência de várias correntes
filosóficas. As mais importantes dessas
correntes são o humanismo, o existencialismo e
a fenomenologia. Para Ribeiro (1985), o
homem, enxergado nesta tríplice visão, se torna
inteligível e os modos de abordá-lo se tornam
mais eficazes.
• A Gestalt Terapia e o Humanismo
• Para Ribeiro (1985), no humanismo, o homem é
o centro do mundo e da existência. Heidegger
(apud Ribeiro, 1985), afirma que o homem é o
centro das coisas porque só o homem existe, as
coisas são, pois só ele tem maneiras
características de se fazer e de se realizar.
• Para Monteiro em seu artigo, os valores
humanistas abarcam a “consideração da
‘dignidade individual, liberdade interior e
criatividade’, em que cada homem possui um
imenso potencial criador”.
• Oliveira, em seu artigo, também afirma que o
humanismo considera o homem como centro de
todas as coisas. Acrescenta ainda que ele
exalta as potencialidades do homem, valoriza o
homem como um ser em busca de si mesmo e
de seu desenvolvimento e que, para o
humanismo, o valor do homem é infindável.
• Ou seja, a filosofia humanista preocupa-se com
a valorização do ser humano, lida com o que de
positivo tem a pessoa, com seu potencial de
vida. O homem é, assim, o centro, com valor
positivo capaz de se auto gerir e regular-se
(RIBEIRO, 1985).
• A Gestalt Terapia e o Existencialismo
• O existencialismo tem como mote principal a
existência humana (Monteiro). Ribeiro (1985)
afirma em seu livro que essa existência é uma
grande interrogação e ela que vai além da
relação entre ato humano e intenção, pois para
o existencialismo, todo ato psíquico é intenção.
• Essa intencionalidade é própria da consciência,
pois ela não é um depósito morto de objetos e
imagens. A consciência é ativa, viva e livre,
cabendo a ela dar sentido às coisas. Husserl
(apud Ribeiro, 1985) já dizia que toda
consciência é consciência de alguma coisa.
Essa intencionalidade da consciência implica
num passar a ação após uma conscientização e
isso requer vontade e liberdade.
• Por sua vez, nessa existência, por ser provido
de vontade e liberdade, o homem é o único
responsável por tomar suas próprias decisões,
sendo então o “culpado” pelas consequências
indesejáveis que estavam fora da sabedoria
antes de se transformar em ações
(MONTEIRO).
• “O homem escolhe o que projeta ser, usando de
sua liberdade. E os seus valores serão criados
através da escolha por ele feita, escolha da qual
não há como fugir, pois mesmo a recusa em
não escolher já é uma escolha”. (SARTRE, apud
MARQUES).
• Marques afirma ainda que a liberdade, no
existencialismo, permite ao sujeito
encaminhar/projetar o que será de sua vida,
sendo ele mesmo responsável por seus atos.
• O projeto é um conceito fundamental no
existencialismo. Para ele, o homem é o único
ser que pode se projetar a si mesmo. Ou seja, o
homem é um ser se fazendo.
• Nesse sentido, o homem nada mais é do que
aquilo que ele deseja ser, do que aquilo que ele
projeta ser. Projeto e escolha estão diretamente
ligados à noção de liberdade. É sendo livre que
ele escolhe o que será e consequentemente é o
responsável por tudo que faz. Sua essência
surge como resultante de seus atos. (RIBEIRO,
1985).
• Para Ribeiro, o homem é visto como um ser
concreto com vontade e liberdade pessoais,
consciente, responsável, particularizado,
singularizado no seu modo de ser e agir,
concebendo-se como único no universo e
individualizando-se a partir do encontro
verdadeiro com sua subjetividade e sua
singularidade.
• A Gestalt Terapia e a Fenomenologia
• A palavra Fenômeno, do grego significa
manifestar-se, aparecer. Pode ser definido
como aquilo que aparece ou a aparência da
coisa. Husserl a definia como a ciência
descritiva das essências da consciência e seus
atos. Passa a ser assim o estudo da
constituição do mundo na consciência.
(RIBEIRO, 1985).
• Para Silva, Lopes e Diniz, tal abordagem
filosófica mostra que o mundo é o fenômeno, é
o que se mostra, porém precisa ser desvelado.
Desvelar o fenômeno significa chegar àquilo
que a coisa é. O fundamental nesta corrente
está na descrição. A descrição fenomenológica
é fundamental, porque o nosso olhar habitual
não nos permite evidenciar o fenômeno em si
mesmo.
• Nesse sentido, o fenômeno não pode ser
considerado independentemente das
experiências concretas de cada sujeito. O
fenômeno não chega a nós independente de
nós, ou seja, a interpretação do fenômeno é e
pode ser diversa, pois existe em todo fenômeno
um sentido relacional entre a coisa em si e a
sua percepção por parte de outro. Ou seja, a
coisa em si não é percebida em si
identicamente de pessoa para pessoa, apesar
de o fenômeno em si ser ele próprio. (RIBEIRO,
1985).
• Ribeiro, portanto, afirma que o fenômeno busca
captar a essência mesma das coisas. Essa
essência mesma das coisas busca descrever a
experiência assim como ela acontece e se
processa. Para Husserl (apud RIBEIRO, 1985),
para isso acontecer é preciso colocar a
realidade entre parênteses, suspendendo todo e
qualquer juízo, não negando, nem afirmando,
mas sim abandonando-se a compreensão.
• Dessa forma, conseguimos chegar às coisas
mesmas, assim como são, como se
apresentam. Silva, Lopes e Diniz, em seu artigo
afirmam que essa foi a direção primeira que
Husserl deu à fenomenologia, a de ir às coisas
mesmas. É a chamada redução
fenomenológica.
• A redução fenomenológica é a busca do
significado que é a chegada da totalidade á
minha consciência. É a totalidade que contem o
significado e que é feita de momentos
fenomenológicos como sensação percepção
intuição introversão. (RIBEIRO, 1985).
• Segundo Husserl (apud GALEFFI), a redução
fenomenológica proporciona o “retorno à
consciência”. Assim, os objetos se revelam na
sua constituição, retornando à consciência,
como correlatos da consciência. Esse retorno
pressupõe a redução fenomenológica.
• Outra contribuição da fenomenologia é o
conceito de aqui e agora da Gestalt. Ele
significa o momento presente. O presente é a
única possibilidade, a única realidade possível.
O comportamento é uma função do campo e
não depende do passado. (PERLS, 1981). Para
Monteiro o aqui e agora se refere à
fenomenologia, pois “todas as emoções e
sentimentos do cliente, embora vivenciados no
passado, podem ser recuperados e (re)
experienciados, sendo este um dos objetivos da
psicoterapia: ajudar o cliente a tomar
Principais Conceitos
Saúde em Gestalt-terapia
• Kurt Goldstein foi um teórico que muito
influenciou a Gestalt-terapia e seus estudos
sobre os efeitos secundários das lesões
cerebrais estabeleceram a base para o seu
ponto de vista organísmico. Não temos como
falar de saúde na Gestalt terapia sem explicar a
visão do sintoma para esta abordagem.
• Goldstein foi o primeiro teórico que passou a ver
o sintoma como uma forma adaptativa, portanto
saudável, diferente do que se pensava, até
então, que seria “um sinal” de que algo estaria
errado e que deveria ser eliminado.
• Não podemos falar da organização primária do
organismo de Goldstein sem entender que esta
faz parte do processo de figura/fundo. Ou seja,
figura é qualquer processo que emerge, que
tem fronteira definida e destaca-se de um fundo
a partir de uma necessidade do próprio
organismo. O fundo é contínuo e se estende por
trás da figura. Depois, novas figuras emergem
como tarefas da mudança do organismo.
• Goldstein também salientou que existem três
tipos de comportamento: os desempenhos, que
são atividades voluntárias; as atitudes,
organização emocional mais ampla incluindo os
valores, os sentimentos, os estados de ânimo,
etc.; e os processos, que são funções corporais
que só podem ser experienciadas
indiretamente.
Ele também aborda a diferença entre o
comportamento concreto e comportamento
abstrato. No primeiro, reagi-se a um estímulo de
maneira automática ou direta, já no segundo,
pensa-se antes de agir. Estes dois dependem de
atitudes contrastantes em relação ao mundo.
• Os principais conceitos apresentados por
Goldstein são: o processo de equalização, no
qual aparece como a base para o conceito de
ciclo de autorregulação; a autorrealização é o
que dá sustentação ao potencial humano e o
“chegar a um acordo” com o ambiente (ou
mundo), afinal este ambiente se impõe ao
organismo estabelecendo uma interação entre
ambiente e organismo, necessária para que
este lhe proporcione meios pelos quais a
autorrealização possa ser obtida.
• O processo de equalização consiste em fazer
com que o organismo volte para um estado
“médio” de tensão depois que um estímulo
muda o equilíbrio originário Portanto, podemos
dizer que a meta de uma pessoa normal não é
simplesmente descarregar a tensão, mas
equalizá-la, redistribuindo toda a energia
necessária.
• A autorrealização traduz, na verdade, o único
motivo que o organismo possui que é realizar-
se, e representa a tendência criativa da
natureza humana. A maneira como cada pessoa
busca esta autorrealização varia muito conforme
as potencialidades inatas de cada um. Estas
potencialidades ou preferências dão forma aos
fins e dirigem o desenvolvimento e o
crescimento individuais. Este princípio orgânico
torna o organismo mais desenvolvido e mais
complexo.
• Com relação à interação organismo/ambiente
podemos dizer que o ambiente perturba o
organismo por meio de estímulos e, este, busca
no próprio ambiente aquilo que necessita para
equalizar o seu funcionamento normal.
• Porém, se a discrepância entre as metas do
organismo e as realidades do ambiente for
muito grande, o organismo entra em colapso, ou
desiste de algumas metas e tenta realizar-se em
um nível inferior de existência.
• Em conformidade com as ideias de Goldstein,
Perls traz a concepção de que nenhum
organismo é autossuficiente, e que necessita do
mundo para satisfazer suas necessidades. Há
uma interdependência do organismo e seu
ambiente, dentro de uma realidade objetiva e
uma realidade subjetiva. É a partir do mundo
objetivo que o indivíduo cria seu mundo
subjetivo.
• Partes do mundo objetivo são selecionadas de
acordo com nossos interesses, limitadas apenas
pelos instrumentos de percepções e por
inibições sociais e neuróticas. A realidade que
importa é a realidade dos interesses – a
realidade interna e não a realidade externa.
• Relacionando estas ideias com o conceito de
figura/fundo, podemos concluir que não
percebemos a totalidade de nosso ambiente,
mas ao mesmo tempo selecionamos objetos de
acordo com nossos interesses, e estes objetos
aparecem como figuras proeminentes contra um
fundo “escuro”.
• O organismo e o mundo apresentam uma
relação tão integrada que não podemos definir
quem serve a quem; ou seja, as ações e
reações que ocorrem no mundo e no organismo
estão entrelaçadas, sem que haja uma relação
de causalidade, ou uma simples resposta para
uma pergunta.
• Em toda e qualquer investigação biológica,
psicológica ou sociológica temos de partir da
interação entre o organismo e seu ambiente.
Podemos ir, além disso, quando percebemos
que na verdade não apenas selecionamos
nosso mundo, como podemos ser selecionados
por outras pessoas como objetos de seus
interesses.
• Toda esta realidade sugere uma organização
maior, uma realidade coletiva, por meio de leis,
compromissos, convenções, etc. Não podemos
nos esquecer também da realidade imaginária,
em que o homem cria um mundo adicional,
cheio de projeções. Desse modo, em qualquer
estudo de ciências do homem, incluindo a
psicoterapia, temos de falar de um campo no
qual interagem pelo menos fatores
socioculturais, animais e físicos.
• Tudo isto comprova e denota uma
interdependência muito forte e dinâmica que
ocorre entre o organismo e o ambiente.
Ampliando este conceito, podemos dizer que a
própria psicologia estuda a operação da
fronteira de contato no campo
organismo/ambiente.
• Esta relação pode ser bem representada por
meio do ciclo de contato sugerido por Perls, em
que há uma compreensão de um dos
fenômenos mais importantes, a autorregulação
organísmica, muito diferente da regulação de
instintos por princípios morais ou autocontrole.
O princípio que governa nossas relações com o
mundo externo é o mesmo princípio
intraorgânico de busca de equilíbrio, que é a
autorregulação.
• Entender a abordagem holística dentro da
saúde também é um novo movimento de quebra
de paradigmas, afinal nem todas as culturas
tradicionais abordaram a saúde desta forma.
Por meio dos tempos, as culturas têm oscilado
entre o reducionismo e o holismo em suas
práticas médicas.
• Enquanto o foco da medicina científica ocidental
incide sobre os mecanismos biológicos e os
processos fisiológicos que produzem a
evidência da enfermidade, a principal
preocupação do xamanismo está relacionada
com o contexto sociocultural em que a
enfermidade ocorre, obedecendo a um enfoque
psicossomático e trabalhando com o
inconsciente coletivo e social, compartilhado por
toda a comunidade.
• No âmago da medicina hipocrática, a medicina
devia ser exercida como uma disciplina
científica. As doenças não são causadas por
demônios ou forças sobrenaturais, mas são
fenômenos naturais que podem ser estudados e
influenciados por procedimentos terapêuticos e
pela conduta de vida do indivíduo, incluindo a
influência dos fatores ambientais (ar, água,
alimentos, etc.).
• A tradição hipocrática, com sua ênfase na inter-
relação fundamental de corpo, , mente e meio
ambiente, representa um ponto alto da filosofia
médica ocidental. Estes princípios foram
desenvolvidos na China antiga, muito
influenciado pelo xamanismo, taoísmo e
confucionismo.
• Para a medicina Chinesa, o universo inteiro,
natural e social, encontra-se em estado de
equilíbrio dinâmico, e o organismo humano é
um microcosmo do universo. A doença é o
resultado de um conjunto de causas que
culminam em desarmonia e desequilíbrio. A
finalidade da medicina chinesa é, antes, realizar
a melhor adaptação possível do indivíduo ao
meio ambiente como um todo.
• O paciente, para isso, desempenha um papel
importante e ativo e é responsável pela
manutenção da sua própria saúde. Embora o
sistema chinês apresente esta concepção
holística da saúde, ainda sim negligenciou o
holismo no que se refere aos aspectos
psicológicos e sociais da doença.
• Para entender esta complexidade holística que
envolve a saúde, é necessária compreender o
conceito de saúde. Saúde é um estado de bem-
estar que se estabelece quando o organismo
funciona de certa maneira, e que reflete uma
teia de relações entre múltiplos aspectos do
fenômeno da vida. A saúde é um fenômeno
multidimensional, que envolve aspectos físicos,
psicológicos e sociais, todos interdependentes.
• Podemos então dizer que a saúde é uma
experiência subjetiva. Baseado no novo
paradigma da visão sistêmica a saúde é
encarada como um processo contínuo,
refletindo a resposta criativa do organismo aos
desafios ambientais.
• Saúde, também pode ser entendida como um
equilíbrio dinâmico que envolve os aspectos
físicos, psicológicos e sociais do organismo,
assim como suas interações com o meio
ambiente natural e social.
• Este conceito de saúde é compatível com a
concepção sistêmica de vida, com a tradição
hipocrática e a tradição da medicina do leste
asiático.
• A doença é, portanto, uma consequência de
desequilíbrio e harmonia, e por outro lado, ser
saudável significa estar em sintonia consigo
mesmo – física e mentalmente – e com o mundo
circundante.
• Como indivíduos, temos o poder e a
responsabilidade de manter nosso organismo
em equilíbrio, respeitando algumas regras de
qualidade de sono, alimentação, exercícios e
medicamentos. Atualmente, entendemos que a
natureza psicossomática da doença subentende
a possibilidade de autocura psicossomática.
• Como exemplo, podemos citar o fenômeno do
biofeedback (vasta gama de processos físicos é
influenciada pelos esforços mentais de uma
pessoa). Algumas enfermidades graves exigirão
um enfoque terapêutico que inclua além dos
aspectos físicos e psicológicos, o estilo de vida
e a visão de mundo do paciente. Tudo isso
como parte integrante do processo de cura.
• Acredita-se que o estresse excessivo contribua
para a origem e o desenvolvimento da maioria
das doenças, manifestando-se no desequilíbrio
inicial do organismo.
• O pensamento sistêmico é um pensamento
ambientalista, ou melhor, a percepção ecológica
profunda traz o novo paradigma da visão de
mundo holística e reconhece a interdependência
fundamental de todos os fenômenos, enquanto
indivíduos e sociedade, e a interligação dos
processos cíclicos da natureza.
• A nova ciência da ecologia enriqueceu a
maneira sistêmica de pensar introduzindo duas
novas concepções – comunidade e rede.
• Comunidade ecológica é um conjunto de
organismos aglutinados em um todo funcional
por meio das suas relações mútuas. A
concepção de sistemas vivos como redes
fornece uma nova perspectiva sobre as
camadas hierárquicas da natureza.
• Devemos considerar que os sistemas vivos são
redes, interagindo à maneira de rede com
outros sistemas. A teia da vida consiste em
redes dentro de redes. Para esta proposta não
há separação entre seres humanos e meio
ambiente natural, concebendo os seres
humanos apenas como um fio particular na teia
da vida, baseados nos valores ecocêntricos
(centralizados na Terra).
• Podemos concluir que esta percepção ecológica
profunda é uma percepção espiritual ou
religiosa, fortalecida pelas sensações de
pertinência, de conexidade com o cosmos como
um todo. Esta mudança de paradigma exige
uma expansão nas nossas percepções,
maneiras de pensar, e, principalmente, nos
valores. Para isso, é necessário que as
tendências autoafirmativas e integrativas
funcionem de forma equilibrada.
• A partir da visão sistêmica teremos que ter em
mente que um grande desafio do nosso tempo é
a criação de comunidades sustentáveis, ou seja,
ambientes sociais e culturais que podem
satisfazer as necessidades e aspirações sem
diminuir as chances das gerações futuras.
• Em contrapartida, temos muitos trabalhos de
corpo que podem ajudar a manter o equilíbrio. A
terapia de trabalho de corpo baseia-se na
crença de que todas as nossas atividades,
pensamentos e sentimentos refletem-se no
organismo físico, manifestando-se em nossa
postura e movimentos, nas tensões e nos sinais
corporais. Outro recurso é trabalhar padrões de
respirações que refletem a dinâmica de todo o
sistema corpo/mente.
• A Gestalt-terapia se destina a “curar” as
patologias “comuns”, decorrentes da frustração
de necessidades de nível inferior, além das
metadoenças de nossa sociedade, os
sofrimentos do espírito e das mais altas
potencialidades humanas. É importante inspirar
os clientes, propondo um modelo humano de
amplo espectro, capaz de instigá-lo a almejar
metas que antes não tinham compreendido e
cogitado alcançar.
• A autorregulação organísmica é a consciência
espontânea da necessidade dominante e sua
organização das funções de contato. Numa
situação de perigo, quando a tensão se inicia a
partir de fora, a cautela e a deliberação são
similarmente espontâneas.
• A ação autorreguladora é mais vívida, mais
intensa e mais sagaz, o que parece
espontaneamente importante de fato organiza
realmente a maior parte da energia do
comportamento.
• Porém, a experiência neurótica é também
autorreguladora e se caracteriza por excesso de
deliberação, fixação da atenção e músculos
preparados para uma resposta específica. O self
fica impossibilitado de passar de uma energia
para outra, a energia fica presa a uma tarefa
que não pode ser completada. O neurótico tem
uma sensibilidade ao perigo extremamente
aguçada, ou seja, ele é cauteloso quando
poderia relaxar com segurança.
• O que ocorre em situações de emergência é
que fica clara a hierarquia subjacente e, assim,
descobre-se “o que um homem é”. Podemos
concluir que a autorregulação ocupa uma
posição ética privilegiada, porque só ela guia a
consciência organísmica e a força mais
vigorosa. Qualquer outro tipo de avaliação tem
de atuar com energia reduzida.
• O problema da psicoterapia é arregimentar o
poder de ajustamento criativo do paciente sem
forçá-lo a encaixar-se no estereótipo da
concepção científica do terapeuta. É obviamente
desejável ter uma terapia que estabeleça o
menos possível uma norma, e tente retirar o
máximo possível da estrutura da situação
concreta, aqui-agora pois assim, podemos ter
melhores esperanças de dissolver os elementos
neuróticos.
• O sintoma é tanto uma expressão de vitalidade
quanto uma “defesa” contra a vitalidade, além
de representar a expressão da singularidade de
um homem. O impulso neurótico não é
unicamente negativo, ele exerceu um efeito
modelador sobre o paciente, e não se pode
explicar um efeito positivo por uma causa
negativa. Portanto, é uma estrutura intrínseca
de elementos vitais e embotadores, e que o
melhor self do paciente está investido nela.
• Quando simplesmente se dissolve as
resistências, corre-se o risco do paciente tornar-
se menos do que era. Dentro deste contexto, o
terapeuta deve usar o método de empregar
cada parte que funciona como sendo funcional,
e não abstrair qualquer parte que funcione na
situação concreta, incluindo o contexto do
paciente e encontrando um experimento que
ativará todas as partes como um todo do tipo
exigido.
• As partes que funcionam são: a autorregulação
do paciente, o conhecimento do terapeuta, a
ansiedade liberada, a coragem e o poder
criativo e formativo em cada pessoa.
Leis da Gestalt
• A Teoria da Gestalt, em suas análises
estruturais, encontrou determinadas leis que
regem a percepção humana das formas,
facilitando a compreensão das imagens e
idéias. Essas leis seriam conclusões sobre o
comportamento natural do cérebro, no que
concerne ao processo de percepção. Os
elementos constitutivos são agrupados de
acordo com as características que possuem
entre si, como semelhança, proximidade e
outras que veremos a seguir.
• São estas, resumidamente, as Leis da
Gestalt:
• PROXIMIDADE: Os elementos são agrupados
de acordo com a distância a que se encontram
uns dos outros. Logicamente, elementos que
estão mais perto de outros numa região tendem
a ser percebidos como um grupo, mais do que
se estiverem distante de seus similares.
• SEMELHANÇA: Eventos semelhantes se
agruparão entre si. Essa semelhança se dá por
intensidade, cor, odor, peso, tamanho, forma
etc. e se dá em igualdade de condições.
• CONTINUIDADE: Há uma tendência de a nossa
percepção seguir uma direção para conectar os
elementos de modo que eles pareçam
contínuos ou fluir em uma direção específica.
• PREGNÂNCIA: A mais importante de todas,
possivelmente, ou pelo menos a mais sintética.
Diz que todas as formas tendem a ser
percebidas em seu caráter mais simples. É o
princípio da simplificação natural da percepção.
Quanto mais simples, mais facilmente é
assimilada.
• EXPERIÊNCIA PASSADA: Esta se relaciona
com o pensamento pré-Gestáltico, que via nas
associações o processo fundamental da
percepção da forma. A associação aqui, sim, é
imprescindível, pois certas formas só podem ser
compreendidas se já a conhecermos, ou se
tivermos consciência prévia de sua existência.
• Da mesma forma, a experiência passada
favorece a compreensão metonímica: se já
tivermos visto a forma inteira de um elemento,
ao visualizarmos somente uma parte dele
reproduziremos esta forma inteira na memória.
• CLAUSURA: Ou “fechamento”, o princípio de
que a boa forma se completa, se fecha sobre si
mesma, formando uma figura delimitada. O
conceito de clausura relaciona-se ao
fechamento visual, como se completássemos
visualmente um objeto incompleto.
• A psicologia da Gestalt também fala da questão
da “figura/fundo” que seria a tendência de
organizar as percepções do objeto sendo visto e
do fundo sobre o qual ele aparece. A figura
seria aquilo que procuramos ou voltamos a
atenção e fundo seria o contexto no qual a
figura está inserida, como por exemplo: quando
você está com fome e busca um restaurante e o
encontra, a figura é o restaurante e o fundo
seria a rua. Assim como as páginas para o livro,
as letras para o papel.
Exemplificações sobre as leis da Gestalt
• Alguns exemplos gráficos sobre as leis da
Gestalt:
• Lei da Semelhança
• A lei da semelhança defende que coisas que
possuem algum tipo de semelhança parecem
estar agrupadas. O agrupamento pode ocorrer
tanto nos estímulos visuais quanto nos
auditivos.
Itens que são similares tendem a ser
visualizados como formando um grupo.
Na imagem acima, a maioria das pessoas
vê colunas verticais de círculos e
quadros.
• Lei da Pregnância
• A palavra pregnância provém do termo
alemão pragnanz, que tem o significado de “boa
forma” ou “boa figura”. A lei da pregnância é
referida como lei da boa forma ou a lei da
simplicidade. Esta lei defende que objetos no
ambiente são vistos de modo que se constituam
o mais simples possível.
A realidade é organizada ou reduzida à
forma mais simples possível.
Por exemplo, nós vemos a imagem acima
preferivelmente como uma série de
círculos, ao invés de uma forma muito
mais complexa.
• Lei da Proximidade
• De acordo com a lei da proximidade, as coisas
que estão próximas umas das outras parecem
formar um grupo só.
Objetos próximos um do outro tendem a
ser agrupados.
Os círculos da esquerda parecem estar
agrupados em colunas verticais, enquanto
os da direita aparentam estar agrupados
em fileiras horizontais.
• Lei da Continuidade
• A lei da continuidade defende que que pontos
que estão conectados por linhas retas ou curvas
são vistas de modo que sigam o caminho mais
suave. Ao invés de ver linhas e ângulos
separados, as linhas são vistas como estando
agrupados juntos.
As linhas são vistas seguindo o caminho
mais suave
Na imagem acima, o ramo superior é visto
como continuando o primeiro segmento da
linha. Isto nos permite ver as coisas como
um fluxo suave, sem romper a linha de
cima em múltiplas partes.
• Lei da Clausura
• De acordo com a lei da clausura, as coisas são
visualizadas juntas se elas parecem completar
alguma imagem ou forma conhecida. Nossa
mente freqüentemente ignora informações
contraditórias e completam um fechamento na
informação.
Objetos colocados juntos são vistos como
um todo.
Nós tendemos a ignorar lacunas e
completar linhas de contorno. Na imagem
acima não há triângulos ou círculos, mas
nossas mentes completam as informações
faltantes para criar formas e imagens
familiares.
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Ponciano Ribeiro, Summus Editorial, 1985

• HYCNER, R.; JACOBS, L. Relação e Cura em


Gestalt-Terapia. São Paulo: Summus, 1997.

• ORGLER, S.; LIMA, P.; D’ACRI, G. Dicionário


de Gestalt-Terapia: Gestaltês. Summus
Editorial, 2007.
• RODRIGUES, H. E. Introdução à Gestalt-
terapia: Conversando sobre os fundamentos
da abordagem gestáltica. 4ª Ed. Petrópolis,
Rio de Janeiro: Vozes, 2007

• PERLS, Frederick; RALPH Hefferline;


GOODMAN Paul. Gestalt-terapia. Summus
Editorial. 1997.

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