Poesias Infantis - Olavo Bilac
Poesias Infantis - Olavo Bilac
Poesias Infantis - Olavo Bilac
POESIAS INFANTIS
Olavo Bilac
2020
MAIS DO QUE NUNCA, UM LIVRO QUE NOS FALTA
1. BILAC, O. “Instrução e patriotismo” In: Conferências literárias. cit., p. 301. (Trecho citado em ht-
tps://sibila.com.br/mapa-da-lingua/olavo-bilac/2736 - novembro de 2020)
2. BILAC, O. “A língua portuguesa”. Conferência de 1916. Repr. in: Últimas conferências e discursos.
(Trecho citado em https://sibila.com.br/mapa-da-lingua/olavo-bilac/2736 - novembro de 2020)
3
AO LEITOR
Quando a Casa Alves & Companhia me incumbiu de preparar este livro para uso
das aulas de instrução primária, não deixei de pensar, com receios, nas dificuldades grandes
do trabalho. Era preciso fazer qualquer coisa simples, acessível à inteligência das crianças;
e quem vive de escrever, vencendo dificuldades de forma, fica viciado pelo hábito de fazer
estilo. Como perder o escritor a feição que já adquiriu, e as suas complicadas construções
de frase, e o seu arsenal de vocábulos peregrinos, para se colocar ao alcance da inteligência
infantil?
Outro perigo: a possibilidade de cair no extremo oposto – fazendo um livro ingê-
nuo demais, ou, o que seria pior, um livro, como tantos há por aí, falso, cheio de histórias
maravilhosas e tolas que desenvolvem a credulidade das crianças, fazendo-as ter medo de
coisas que não existem. Era preciso achar assuntos simples, humanos, naturais, que, fugindo
da banalidade, não fossem também fatigar o cérebro do pequenino leitor, exigindo dele
uma reflexão demorada e profunda.
Mas a dificuldade maior era realmente a da forma. Em certos livros de leitura que
todos conhecemos, os autores, querendo evitar o apuro do estilo, fazem períodos sem sin-
taxe e versos sem metrificação. Uma poesia infantil conheço eu, longa, que não tem um só
verso certo! Não é irrisório que, querendo educar o ouvido da criança, e dar-lhe o amor da
harmonia e da cadência, se lhe deem justamente versos errados, que apenas são versos por
que rimam, e rimam quase sempre erradamente?
Não sei se consegui vencer todas essas dificuldades. O livro aqui está. É um livro
em que não há animais que falam, nem fadas que protegem ou perseguem crianças, nem as
feiticeiras que entram pelos buracos das fechaduras; há aqui descrições da natureza, cenas
de família, hinos ao trabalho, à fé, ao dever; alusões ligeiras à história da pátria, pequenos
contos em que a bondade é louvada e premiada.
Quanto ao estilo do livro, que os competentes o julguem. Fiz o possível para não
escrever de maneira que parecesse fútil demais aos artistas e complicada demais às crianças.
Se a tentativa falhar, restar-me-há o consolo de ter feito um esforço digno. Quis dar
à literatura escolar do Brasil um livro que lhe faltava.
O.B.
4
PREFÁCIO À PRIMEIRA EDIÇÃO
O autor deste livro destinado às escolas primárias do Brasil não quis fazer uma obra
de arte: quis dar às crianças alguns versos simples e naturais, sem dificuldades de linguagem
e métrica, mas, ao mesmo tempo, sem a exagerada futilidade com que costumam ser feitos
os livros do mesmo gênero.
O que o autor deseja é que se reconheça neste primeiro volume, não o trabalho de
um artista, mas a boa vontade com que um brasileiro quis contribuir para a educação moral
das crianças de seu país.
Se, nas escolas, as crianças gostarem dos seus versos, o rimador das Poesias Infantis
ficará satisfeito, e dará por otimamente empregados o seu tempo e o seu trabalho.
Olavo Bilac,
1904
5
A AVÓ
6
O PÁSSARO CATIVO
7
O SOL
8
AS ESTRELAS
9
A BORBOLETA
10
NATAL
11
OS REIS MAGOS
Diz a Sagrada Escritura
Que, quando Jesus nasceu,
No céu, fulgurante e pura,
Uma estrela apareceu.
Estrela nova... Brilhava
Mais do que as outras; porém
Caminhava, caminhava
Para os lados de Belém.
Avistando-a, os três Reis Magos
Disseram: “Nasceu Jesus!”
Olharam-na com afagos,
Seguiram a sua luz.
E foram andando, andando,
Dia e noite a caminhar;
Viam a estrela brilhando,
Sempre o caminho a indicar.
Ora, dos três caminhantes,
Dois eram brancos: o sol
Não lhes tisnara os semblantes
Tão claros como o arrebol.
Era o terceiro somente
Escuro de fazer dó...
Os outros iam na frente;
Ele ia afastado e só.
Nascera assim negro, e tinha
A cor da noite na tez:
Por isso tão triste vinha...
Era o mais feio dos três!
Andaram. E, um belo dia,
Da jornada o fim chegou;
E, sobre uma estrebaria,
A estrela errante parou.
E os Magos viram que, ao fundo
Do presépio, vendo-os vir,
O Salvador deste mundo
Estava, lindo, a sorrir.
Ajoelharam-se, rezaram
Humildes, postos no chão;
E ao Deus-Menino beijaram
A alva e pequenina mão.
E Jesus os contemplava
A todos com o mesmo amor,
Porque, olhando-os, não olhava
A diferença da cor...
12
OS POBRES
13
A BONECA
14
AS ESTAÇÕES
O INVERNO
15
A PRIMAVERA
16
O VERÃO
17
O OUTONO
18
AS FORMIGAS
Cautelosas e prudentes,
O caminho atravessando,
As formigas diligentes
Vão andando, vão andando...
Marcham em filas cerradas;
Não se separam; espiam
De um lado e de outro, assustadas,
E das pedras se desviam.
Entre os calhaus vão abrindo
Caminho estreito e seguro,
Aqui, ladeiras subindo,
Acolá, galgando um muro.
Esta carrega a migalha;
Outra, com passo discreto,
Leva um pedaço de palha;
Outra, uma pata de inseto.
Carrega cada formiga
Aquilo que achou na estrada;
E nenhuma se fatiga,
Nenhuma para cansada.
Vede! enquanto negligentes
Estão as cigarras cantando,
Vão as formigas prudentes
Trabalhando e armazenando.
Também quando chega o frio,
E todo o fruto consome,
A formiga, que no estio
Trabalha, não sofre fome...
Recorde-vos todo o dia
Das lições da Natureza:
O trabalho e a economia
São as bases da riqueza.
19
O UNIVERSO
(Paráfrase)
A Lua:
Sou um pequeno mundo;
Movo-me, rolo e danço
Por este céu profundo;
Por sorte Deus me deu
Mover-me sem descanso,
Em torno de outro mundo,
Que inda é maior do que eu.
A Terra:
Eu sou esse outro mundo;
A lua me acompanha,
Por este céu profundo...
Mas é destino meu
Rolar, assim tamanha,
Em torno de outro mundo,
Que inda é maior do que eu.
O Sol:
Eu sou esse outro mundo,
Eu sou o sol ardente!
Dou luz ao céu profundo...
Porém sou um pigmeu,
Que rolo eternamente
Em torno de outro mundo,
Que inda é maior do que eu.
O Homem:
Por que, no céu profundo,
Não há de parar mais
O vosso movimento?
Astros! qual é o mundo,
Em torno ao qual rodais
Por esse firmamento?
Todos os Astros:
Não chega o teu estudo
Ao centro d’isso tudo,
Que escapa aos olhos teus!
O centro d’isso tudo,
Homem vaidoso, é Deus!
20
DOMINGO
21
PLUTÃO
Negro, com os olhos em brasa,
Bom, fiel e brincalhão,
Era a alegria da casa
O corajoso Plutão.
Fortíssimo, ágil no salto,
Era o terror dos caminhos,
E duas vezes mais alto
Do que seu dono Carlinhos.
Jamais à casa chegara
Nem a sombra de um ladrão;
Pois fazia medo a cara
Do destemido Plutão.
Dormia durante o dia,
Mas, quando a noite chegava,
Junto à porta se estendia,
Montando guarda ficava.
Porém Carlinhos, rolando
Com ele às tontas no chão,
Nunca saía chorando
Mordido pelo Plutão...
Plutão velava-lhe o sono,
Seguia-o quando acordado:
O seu pequenino dono
Era todo o seu cuidado.
Um dia caiu doente
Carlinhos... Junto ao colchão
Vivia constantemente
Triste e abatido, o Plutão.
Vieram muitos doutores,
Em vão. Toda a casa aflita,
Era uma casa de dores,
Era uma casa maldita.
Morreu Carlinhos... A um canto,
Gania e ladrava o cão;
E tinha os olhos em pranto,
Como um homem, o Plutão.
Depois, seguiu o menino,
Segui-o calado e sério;
Quis ter o mesmo destino:
Não saiu do cemitério.
Foram um dia à procura
Dele. E, esticado no chão,
Junto de uma sepultura,
Acharam morto o Plutão.
22
O BOI
23
O AVÔ
24
DEUS
25
O REMÉDIO
A Amelinha está doente,
Chora, tem febre, delira;
Em casa, está toda gente
Aflita, e geme, e suspira.
Chega o médico e a examina.
Tocando a fronte abrasada,
E o pulso da pequenina,
Diz alegre: “Não é nada!
Vou lhe dar uma receita.
Amanhã, o mais tardar,
Já de saúde perfeita
Há de sorrir e brincar.”
Vem o remédio. Amelinha
Grita, faz manha, esperneia:
“Não quero!”
O pai se avizinha,
Mostrando-lhe a colher cheia:
“Toma o remédio, querida!
Dar-te-ei como recompensa,
uma boneca vestida
De seda e rendas, imensa...”
“— Não quero!”
Chega a titia:
“Amélia é boa, não é?
Se fosse boa, teria
Toda uma arca de Noé...”
“— Não quero!”
Prometem tudo:
Livros de figuras cheios,
Um vestido de veludo,
Brinquedos, jóias, passeios...
Teima Amelinha, faz manha.
E diz o pai, já com tédio:
“— Menina! você apanha,
Se não toma este remédio!”
E nada! a menina grita,
Sem querer obedecer.
Mas nisto, a mamãe aflita,
Põe-se a chorar e a gemer.
Logo Amelinha, calada,
Mansa, a colher segurando,
Sem já se queixar de nada,
Vai o remédio tomando.
“—Então? mau gosto sentiste?”
Diz o pai... E ela, apressada:
“— Para não ver mamãe triste,
Não sinto mau gosto em nada!”
26
JUSTIÇA
27
O TEMPO
28
A MADRUGADA
29
MEIO-DIA
30
AVE-MARIA
31
MEIA-NOITE
O filho:
Ó Mamãe! quando adormecem
Todos, num sono profundo,
Há mesmo almas do outro mundo,
Que aos meninos aparecem?
A mãe:
Não creias nisso! É tolice!
Fantasmas são invenções
Para dar medo aos poltrões:
Não houve ninguém que os visse.
Não há gigantes nem fadas,
Nem gênios perseguidores,
Nem monstros aterradores,
Nem princesas encantadas!
As almas dos que morreram
Não voltam à terra mais!
Pois vão descansar em paz
Do que na terra sofreram.
Dorme com tranqüilidade!
— Nada receia, meu filho,
Quem não se afasta do trilho
Da Justiça e da Bondade.
32
OS MESES
JANEIRO
33
II
FEVEREIRO
34
III
MARÇO
35
IV
ABRIL
36
V
MAIO
Coro de crianças:
Passem os meses desfilando!
Venha cada um por sua vez!
Dancemos todos, escutando
O que nos conta cada mês!
Maio:
Dai-me vivas! Dai-me palmas!
Exultem todas as almas,
Cheias de um vivo fulgor
Todo o Brasil, congregado,
Saúde o mês consagrado
da Liberdade e do Amor!
À grande raça oprimida
Abri as portas da vida,
As portas da redenção!
Mudei em risos as dores,
Mudei em tufos de flores
Os ferros da escravidão!
Treze de Maio! A desgraça
Findou de toda uma raça!
— Aos beijos, dando-se as mãos
Os brasileiros se uniram,
E o cativeiro aboliram,
Ficando todos irmãos.
Coro de crianças:
Maio já deu o seu recado...
Prossiga, em danças, a função!
Entre na roda o mês amado,
O alegre mês de São João!
37
VI
JUNHO
Coro de crianças:
Passem os meses desfilando!
Venha cada um por sua vez!
Dancemos todos, escutando
O que nos conta cada mês!
Junho:
Em chamas alvissareiras,
Ardem, crepitam fogueiras...
— E os balões de São João
Vão luzir, entre as neblinas,
Como estrelas pequeninas,
Entre as outras, na amplidão.
Não há casinha modesta
Que não se atavie, em festa,
Nestas noites, a brilhar:
Não se recordam tristezas...
Estalam bichas chinesas,
Estouram foguetes no ar.
Fogos alegres, pistolas,
Bombas! ao som das violas,
Ardei! cantai! crepitai!
Num largo e claro sorriso,
Seja a terra um paraíso!
Folgai, crianças, folgai!
Coro de crianças:
Aí vem Julho, o mês do frio...
Vamos os corpos aquecer,
Acelerando o rodopio...
— Pode outro mês aparecer!
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VII
JULHO
39
VIII
AGOSTO
40
IX
SETEMBRO
Coro de crianças:
Passem os meses, desfilando!
Venha cada um por sua vez!
Dancemos todos, escutando
O que nos conta cada mês!
Setembro:
Eu trago a primavera;
Trago a aprazível era
De universais festins;
Mais belas, mais viçosas,
Surgem sorrindo as rosas
E as dálias nos jardins.
Sou o jovial Setembro!
E aos brasileiros lembro
A data sem rival,
Em que o Brasil potente,
Ficou independente
Do velho Portugal.
As vozes elevemos
Em hinos, e beijemos
O pavilhão gentil,
Que no seu lema encerra
O ideal da nossa terra,
A glória do Brasil!
Coro de crianças:
Adeus, Setembro! Já descubro,
Cheio de flores, a cantar,
Lépido e alegre, o mês de Outubro,
Que em nossa roda quer entrar!
41
X
OUTUBRO
42
XI
NOVEMBRO
Coro de crianças;
Passem os meses desfilando!
Venha cada um por sua vez!
Dancemos todos, escutando
O que nos conta cada mês!
Novembro:
Neste mês, compremos ramos
De belas flores, e vamos
Aos cemitérios orar!
Só pode ser bom na vida
Quem, com calma comovida,
Sabe os mortos respeitar.
Visitemos os finados,
— Aqueles, que, descansados,
Dormem o sono final!
— Mas, logo depois, cantemos!
E com hinos celebremos
Nossa data nacional!
Pátria que todos amamos!
Aos teus pés depositamos
Saudações e flores mil!
Sempre sobre a tua história
Fulgure a estrela da Glória!
Deus engrandeça o Brasil!
Coro de crianças:
Dançai, dançai mais vivamente!
Saia Novembro, e entre, a cantar
O mês querido que, contente,
As férias vem anunciar!
43
XII
DEZEMBRO
44
ANO BOM
45
AS FLORES
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O RIO
Da mata no seio umbroso,
No verde seio da serra,
Nasce o rio generoso,
Que é a providência da terra.
Nasce humilde, e, pequenino,
Foge ao sol abrasador;
É um fio d’água, tão fino,
Que desliza sem rumor.
Entre as pedras se insinua,
Ganha corpo, abre caminho,
Já canta, já tumultua,
Num alegre burburinho.
Agora o sol, que o prateia,
Todo se entrega, a sorrir;
Avança, as rochas ladeia,
Some-se, torna a surgir.
Recebe outras águas, desce
As encostas de uma em uma,
Engrossa as vagas, e cresce,
Galga os penedos, e espuma.
Agora, indômito e ousado,
Transpõe furnas e grotões,
Vence abismos, despenhado
Em saltos e cachoeirões.
E corre, galopa, cheio
De força; de vaga em vaga,
Chega ao vale, larga o seio,
Cava a terra, o campo alaga...
Expande-se, abre-se, ingente,
Por cem léguas, a cantar,
Até que cai, finalmente,
No seio vasto do mar...
Mas na triunfal majestade
Dessa marcha vitoriosa,
Quanto amor, quanta bondade
Na sua alma generosa!
A cada passo que dava
O nobre rio, feliz
Mais uma árvore criava,
Dando vida a uma raiz.
Quantas dádivas e quantas
Esmolas pelos caminhos!
Matava a sede das plantas
E a sede dos passarinhos...
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Fonte de força e fartura,
Foi bem, foi saúde e pão:
Dava às cidades frescura,
Fecundidade ao sertão...
E um nobre exemplo sadio
Nas suas águas se encerra;
Devemos ser como o rio,
Que é providência da terra:
Bendito aquele que é forte,
E desconhece o rancor,
E, em vez de servir a morte,
Ama a Vida, e serve o Amor!
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A INFÂNCIA
49
A MOCIDADE
50
A VELHICE
O neto:
Vovó, por que não tem dentes?
Por que anda rezando só.
E treme, como os doentes
Quando têm febre, vovó?
Por que é branco o seu cabelo?
Por que se apóia a um bordão?
Vovó, por que, como o gelo,
É tão fria a sua mão?
Por que é tão triste o seu rosto?
Tão trêmula a sua voz?
Vovó, qual é seu desgosto?
Por que não ri como nós?
A Avó:
Meu neto, que és meu encanto,
Tu acabas de nascer...
E eu, tenho vivido tanto
Que estou farta de viver!
Os anos, que vão passando,
Vão-nos matando sem dó:
Só tu consegues, falando,
Dar-me alegria, tu só!
O teu sorriso, criança,
Cai sobre os martírios meus,
Como um clarão de esperança,
Como uma benção de Deus!
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O TRABALHO
52
A CORAGEM
53
MODÉSTIA
Se a todos os condiscípulos
Te julgas superior,
Esconde o mérito, e cala-te
Sem ostentar teu valor.
Valem mais que a inteligência,
A constância e a aplicação:
Sê modesto! estuda, aplica-te,
E foge da ostentação!
Mais vale o mérito próprio
Sentir, guardar e ocultar:
Porque o verdadeiro mérito
Não gosta de se mostrar.
54
O CREDO
55
A PÁTRIA
56
A CASA
57
A RÃ E O TOURO
(Fábula de Esopo)
58
O SOLDADO E A TROMBETA
(Fábula de Esopo)
Um velho soldado
Um dia por terra
A espada atirou;
Da guerra cansado,
Com nojo da guerra.
As armas quebrou.
Entre elas estava
Trombeta esquecida:
Era ela que no ar
Os toques soltava,
E à luta renhida
Tocava a avançar.
E disse: “Meu dono,
É justo que a espada
Tu quebres assim!
Mas que, no abandono,
Fique eu sossegada!
Não quebres a mim!
Cantei tão somente...
Não sejas ingrato
Comigo também!
Eu sou inocente:
Não piso, não mato,
Não firo a ninguém...
Nas horas da luta
Alegre ficavas,
Ouvindo o meu som.
Atende-me! escuta!
Se então me estimavas,
Agora sê bom!”
E o velho guerreiro
Lhe disse: “Maldita!
Prepara-te! sus!
Teu som zombeteiro
As gentes excita,
À guerra conduz!”
Terrível, irado,
Jogou-a por terra,
Sem dó a quebrou...
E o velho soldado,
Cansado da guerra
Por fim repousou.
59
O LEÃO E O CAMUNDONGO
(Fábula de Esopo)
60
O LOBO E O CÃO
(Fábula de Esopo)
Encontraram-se na estrada
Um cão e um lobo. E este disse:
“Que sorte amaldiçoada!
Feliz seria, se um dia
Como te vejo me visse.
Andas gordo e bem tratado,
Vendes saúde e alegria:
Ando triste e arrepiado,
Sem ter onde cair morto!
Gozas de todo o conforto,
E estás cada vez mais moço;
E eu, para matar a fome,
Nem acho às vezes um osso!
Esta vida me consome...
Dize-me tu, companheiro:
Onde achas tanto dinheiro?”
Disse-lhe o cão:
“Lobo amigo!
Serás feliz, se quiseres
Deixar tudo e vir comigo;
Vives assim porque queres...
Terás comida à vontade,
Terás afeto e carinho,
Mimos e felicidade,
Na boa casa em que vivo!”
Foram-se os dois. Em caminho,
Disse o lobo, interessado:
“Que é isto? Por que motivo
Tens o pescoço esfolado”
— “É que, às vezes, amarrado
Me deixam durante o dia...”
“Amarrado? Adeus, amigo!
(Disse o lobo) Não te sigo!
Muito bem me parecia
Que era demais a riqueza...
Adeus! inveja não sinto:
Quero viver como vivo!
Deixa-me, com a pobreza!
— Antes livre, mas faminto,
Do que gordo, mas cativo!”
61
HINO À BANDEIRA NACIONAL
62