Apostila de Fundamentos
Apostila de Fundamentos
Apostila de Fundamentos
Pedagogia:
DOCÊNCIA E GESTÃO EM EDUCAÇÃO
DO CAMPO
1º ANO - 2020
APOSTILA DE
FUNDAMENTOS
DA EDUCAÇÃO
Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO
Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes
Departamento de Pedagogia – DEPED/G
Pedagogia do Campo
EMENTA:
A Psicologia como ciência. A história da ciência psicológica. Psicologia científica x psicologia do
senso comum. O diálogo entre Psicologia e Educação. As diferentes visões da Psicologia sobre a
aprendizagem humana: o Behaviorismo, a Gestalt, a Psicanálise, a Fenomenologia e outras
abordagens.
OBJETIVOS:
• Compreender os principais conceitos formulados por diferentes teorias da aprendizagem;
• Identificar as contribuições da Psicologia Científica para o estudo de temas atuais em
Educação.
PROGRAMA:
1. Introdução à Psicologia.
2. História da Psicologia Educacional e Escolar
2.1. Visão crítica da Psicologia Escolar
2.2. Atuação do psicólogo escolar
2.3. Produção do fracasso escolar/ Queixa escolar
3. Escolas Psicológicas.
3.1. Contribuições da Análise do Comportamento para a Educação.
3.2. Contribuições da Epistemologia Genética para a Educação.
3.3. Contribuições da Psicologia Histórico-Cultural para a Educação.
3.4. Contribuições da Psicanálise para a Educação.
3.5. Contribuições da Gestalt, Fenomenologia e Psicologia Cognitiva para a Educação.
FORMAS DE AVALIAÇÃO:
Instrumentos: produção de textos; utilização contextualizada dos conceitos estudados; relatório de
observações práticas; análise de filmes e documentários; apresentação de trabalhos.
Critérios: domínio e clareza na utilização contextualizada dos conceitos estudados.
Para as atividades na plataforma institucional Moodle, o processo poderá ser avaliado por
meio dos acessos as atividades disponibilizadas e participação síncrona quando programado. A
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Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes
Departamento de Pedagogia – DEPED/G
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avaliação dos (das) acadêmicos (as) deverá ser adaptada garantindo a diversidade de meios e
instrumentos avaliativos considerando àqueles estudantes que não conseguirem realizar os
acessos por motivos justificáveis de problemas e/ou dificuldades com o acesso e uso da internet e
das TICs.
BIBLIOGRAFIA BÁSICA:
BOCK, A. M. B.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M. L. Psicologias: uma introdução ao estudo de Psicologia. 13
ª Ed. São Paulo: Saraiva, 1999.
BRENNER, C. Noções básicas de psicanálise. Introdução à psicologia psicanalítica. Rio de Janeiro:
Imago, 1987.
COLL, C., MARCHESI, A., PALACIOS, J. Desenvolvimento psicológico e educação: Psicologia da
Educação Escolar. (2ª Ed.). Porto Alegre: Artmed, 2004.
CUNHA, M. V. Psicologia da educação. 4 ª Ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2008.
LA ROSA, J. (Org.). Psicologia e educação. O significado do aprender. 7 ª Ed. Porto Alegre: EDIPUCRS,
2003.
MOREIRA, M. B.; MEDEIROS, C. A. Princípios Básicos de Análise do Comportamento. Porto Alegre:
Artmed, 2008.
PIAGET, J. Seis estudos de Psicologia. 24 ª Ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1999.
VIGOTSKI, L. S. Sobre a análise pedológica do processo pedagógico. In: PRESTES, Z.: Análise de
traduções de Lev Semionovitch Vigotski no Brasil (Repercussões no campo educacional). 2010. 295f. Tese
(Doutorado)- Universidade de Brasília, Faculdade de Educação, Brasília, 2010.
VIGOTSKI, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores.
7 ª Ed. Organização de M. Cole; V. John-Steiner, S. Scribner. Tradução de J. C. Neto, L. S. M. Barreto, S. C.
Afeche. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR:
GUZZO, R. S. L.; MARINHO-ARAÚJO, C. M. (Org.). Psicologia Escolar: identificando e superando
barreiras. Campinas: Alínea, 2011.
HUBNER, M. M.; MARINOTTI, M. (Org.). Análise do comportamento para a educação: contribuições
recentes. Santo André: ESETec Editores Associados, 2004.
LEONTIEV, N. O desenvolvimento do psiquismo. Tradução de R. E. Frias. São Paulo: Centauro, 2004.
MEIRA, M. E. M.; ANTUNES, M. A. M. (Org.). Psicologia escolar: teorias críticas. São Paulo: Casa do
Psicólogo, 2003.
PATTO, M. H. S. A criança pobre e a escola pública. Psicologia USP, 3 (1/2), p. 107-121, 1992.
PATTO, M. H. S. Para uma crítica da razão prisométrica. Psicologia USP, v. 8, n. 1, p. 47-62, 1997.
PATTO, M. H. S. A Produção do fracasso escolar: histórias de submissão e rebeldia. São Paulo: Casa do
Psicólogo, 1999.
SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S. E. História da psicologia moderna. Tradução de M. M. Zanella, S. S. M.
Cuccio. 10ª Ed. São Paulo: Cengage Learning, 2016.
SOUZA, B. P. Orientação à queixa escolar. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2007.
TANAMACHI, E. R.; PROENÇA, M. ROCHA, M. L. (Org.). Psicologia e Educação: desafios teóricos
práticos. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2000.
TODOROV, João Claudio (Org.). A Psicologia como estudo de interações. Psicologia: Teoria e Pesquisa,
Vol. 23, p. 57- 61, 2007.
TOMASELLO, M. Origens culturais da aquisição do conhecimento humano. 2 ª Ed. São Paulo: Martins
Fontes, 2019.
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Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes
Departamento de Pedagogia – DEPED/G
Pedagogia do Campo
______________________
Profº Dr. Marcos Gehrke
Coordenador do curso de Pedagogia
do Campo
Port. n. 669/2017-GR/UNICENTRO
__________________________
Profº Dra. Valdirene Manduca de
Moraes
Vice-Coordenador do Curso de
Pedagogia do Campo
Port. n. 760/2020-GR/UNICENTRO
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PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO I
Prof. Dr. Eduardo Moura da Costa
1
O termo vem da junção de “Paidos” (que se refere a “criança”), “agein” (que se refere
a “conduzir” ou educar) e “logos” (que vem de “razão” ou “conhecimento”). Logo, a
Pedagogia é a área do conhecimento que estuda o processo de “condução” da criança
ou de sua educação.
O sexto texto, “Para uma crítica da razão psicométrica”, tem como objetivo
criticar os instrumentos de avaliação psicológica utilizados na educação. Os testes
psicológicos foram criados para avaliar a inteligência e a personalidade das crianças. A
autora demonstra como eles são extremamente falhos. A autora aponta que os testes
servem para justificar laudos baseados no senso comum e produzem estigmas que
justificam a exclusão escolar de quase todos os examinados. Os testes se transformam
em um instrumento que justifica o fracasso escolar. Por isso, precisamos ter consciência
da sua função e dos seus limites. Esse texto mostra como devemos ser cautelosos ao
receber um aluno que possui um lado psicológico que foi baseado em textos
psicológicos.
O sétimo texto, “Funcionamentos escolares e produção do fracasso escolar e
sofrimento”, tem como objetivo mostrar como o fracasso escolar não é “culpa” da
criança ou da família, mas o resultado de vários fatores existentes no cotidiano escolar.
A autora mostra como as mudanças constantes de professores, os baixos salários,
problemas de infra-estrutura da escola, etc. dificultam o trabalho do professor e levam
à produção do fracasso escolar.
Por fim, para encerrar o módulo sobre a “Produção do fracasso escolar e a queixa
escolar”, nós analisaremos como uma queixa escolar deve ser abordada. O texto
utilizado para discussão tem como título “Apresentando a orientação à queixa escolar”.
Esse texto é voltado para psicólogos e demonstra como eles devem fazer um
atendimento de uma queixa escolar. Apesar disso, você, futuro professor, deve ter
consciência de como a abordagem da queixa escolar deve ocorrer, pois terá um papel
fundamental nesse processo.
Nós aprendemos não só quando somos ensinados por outra pessoa, mas quando
temos que colocar em prática o nosso conhecimento. Por isso, após a conclusão da
leitura dos textos, eu sugiro que realize a atividade abaixo. Assim, eu irei conseguir
verificar se você conseguiu entender o conteúdo e também se ficou com alguma
dificuldade. Com isso, eu poderei tirar as suas dúvidas e complementar a explicação.
Essa atividade será utilizada para compor a sua nota.
Após a leitura do texto “A Psicologia ou as Psicologias”, responda:
1) Qual a diferença entre senso comum e o conhecimento científico?
2) Quais os possíveis objetos da Psicologia citados no texto?
3) De modo geral, o que a Psicologia estuda?
4) Como os autores definem a “subjetividade”?
5) A subjetividade é inata ou ela é construída historicamente? Como os autores
argumentam sobre isso?
Após a leitura do texto “A evolução da ciência psicológica”, responda:
1) Qual a diferença da concepção de Sócrates, Platão e Aristóteles sobre a
“alma”?
2) Descreva o contexto social e econômico no qual surgiu a Psicologia científica.
3) Quais os critérios que a Psicologia deveria satisfazer para ser considerada uma
ciência?
4) Quais são as principais teorias da Psicologia que se desenvolveram no século
20?
Após a leitura do texto “Psicologia e Educação no Brasil: um olhar histórico-
crítico”, responda as seguintes questões:
1. Quais as ideias psicológicas existiam entre os educadores do período colonial?
2. Qual a relação entre Psicologia e Educação no início do século XX?
3. Qual a relação entre a Psicologia e a Educação após 1962?
Último comentário:
O início de qualquer estudo é difícil. Ainda mais nesse momento, quando não
podemos estar próximos para que possamos tirar dúvidas e orientar os estudos. Sendo
assim, fique tranquilo, não se desespere diante das dificuldades que irão surgir. Não se
preocupe se não conseguir entender o texto em sua totalidade na primeira leitura, isso
é normal quando se está iniciando os estudos. O importante é ler e refletir sobre o que
se está lendo. Se estiver com dificuldades, anote as palavras que não entendeu. Alguma
palavra desconhecida pode prejudicar o entendimento do texto. Identificar isso é um
ótimo primeiro passo para uma interpretação do texto. Você deve começar a
desenvolver uma “leitura ativa”, ou seja, você deve ler e anotar pequenos resumos que
sintetizam as ideias centrais do texto. As questões foram elaboradas para ajudar você a
fazer isso. Grifar o texto também ajuda, mas eu recomendo fazer o resumo (em tópicos,
por exemplo) a cada página lida ou a cada conjunto de páginas. Assim, quando precisar
interromper o estudo, essas anotações irão auxiliar você a se lembrar do que foi lido.
Desse modo, poderá retomar o estudo de onde parou. Espero que essa dica ajude nos
seus estudos.
Bons estudos!!
CAPÍTULO 1
A Psicologia ou as psicologias
O SENSO COMUM:
CONHECIMENTO DA REALIDADE
Existe um domínio da vida que pode ser entendido como vida por
excelência: é a vida do cotidiano. É no cotidiano que tudo flui, que as
coisas acontecem, que nos sentimos vivos, que sentimos a realidade.
Neste instante estou lendo um livro de Psicologia, logo mais estarei
numa sala de aula fazendo uma prova e depois irei ao cinema. Enquanto
isso, tenho sede e tomo um refrigerante na cantina da escola; sinto um
sono irresistível e preciso de muita força de vontade para não dormir em
plena aula; lembro-me de que havia prometido chegar cedo para o
almoço. Todos esses acontecimentos denunciam que estamos vivos. Já
a ciência é uma atividade eminentemente reflexiva. Ela procura
compreender, elucidar e alterar esse cotidiano, a partir de seu estudo
sistemático.
Quando fazemos ciência,
baseamo-nos na realidade cotidiana e
pensamos sobre ela. Afastamo-nos
dela para refletir e conhecer além de
suas aparências. O cotidiano e o
conhecimento científico que temos da
realidade aproximam-se e se afastam:
aproximam-se porque a ciência se
refere ao real; afastam-se porque a
ciência abstrai a realidade para compreendê-la melhor, ou seja, a
ciência afasta-se da realidade, transformando-a em objeto de
investigação — o que permite a construção do conhecimento científico
sobre o real.
Para compreender isso melhor, pense na abstração (no
distanciamento e trabalho mental) que Newton teve de fazer para,
partindo da fruta que caía da árvore (fato do cotidiano), formular a lei da
gravidade (fato científico).
Ocorre que, mesmo o
mais especializado dos
cientistas, quando sai de
seu laboratório, está
submetido à dinâmica do
cotidiano, que cria suas
próprias “teorias” a partir
das teorias científicas, seja
Mesmo não dispondo de instrumentos, sabemos avaliar a
como forma de “simplificá- distância e a velocidade de um veículo quando
atravessamos a rua.
las” para o uso no dia-a-dia,
ou como sua maneira peculiar de interpretar fatos, a despeito das
considerações feitas pela ciência. Todos nós — estudantes, psicólogos,
físicos, artistas, operários, teólogos — vivemos a maior parte do tempo
esse cotidiano e as suas teorias, isto é, aceitamos as regras do seu jogo.
[pg. 16]
O fato é que a dona de casa, quando usa a garrafa térmica para
manter o café quente, sabe por quanto tempo ele permanecerá
razoavelmente quente, sem fazer nenhum cálculo complicado e, muitas
vezes, desconhecendo completamente as leis da termodinâmica.
Quando alguém em casa reclama de dores no fígado, ela faz um chá de
boldo, que é uma planta medicinal já usada pelos avós de nossos avós,
sem, no entanto, conhecer o princípio ativo de suas folhas nas doenças
hepáticas e sem nenhum estudo farmacológico. E nós mesmos, quando
precisamos atravessar uma avenida movimentada, com o tráfego de
veículos em alta velocidade, sabemos perfeitamente medir a distância e
a velocidade do automóvel que vem em nossa direção. Até hoje não
conhecemos ninguém que usasse máquina de calcular ou fita métrica
para essa tarefa. Esse tipo de conhecimento que vamos acumulando no
nosso cotidiano é chamado de senso comum. Sem esse conhecimento
intuitivo, espontâneo, de tentativas e erros, a nossa vida no dia-a-dia
seria muito complicada.
A necessidade de acumularmos esse tipo de conhecimento
espontâneo parece-nos óbvia. Imagine termos de descobrir diariamente
que as coisas tendem a cair, graças ao efeito da gravidade; termos de
descobrir diariamente que algo atirado pela janela tende a cair e não a
subir; que um automóvel em velocidade vai se aproximar rapidamente de
nós e que, para fazer um aparelho eletrodoméstico funcionar, precisamos
de eletricidade.
O senso comum, na produção desse tipo de conhecimento,
percorre um caminho que vai do hábito à tradição, a qual, quando
estabelecida, passa de geração para geração. Assim, aprendemos com
nossos pais a atravessar uma rua, a fazer o liqüidificador funcionar, a
plantar alimentos na época e de maneira correta, a conquistar a pessoa
que desejamos e assim por diante.
E é nessa tentativa de facilitar o dia-a-dia que o senso comum
produz suas próprias “teorias”; na realidade, um conhecimento que,
numa interpretação livre, poderíamos chamar de teorias médicas, físicas,
psicológicas etc. [pg. 17]
ÁREAS DO CONHECIMENTO
Somente esse tipo de conhecimento, porém, não seria suficiente
para as exigências de desenvolvimento da humanidade. O homem,
desde os tempos primitivos, foi ocupando cada vez mais espaço neste
planeta, e somente esse conhecimento intuitivo seria muito pouco para
que ele dominasse a Natureza em seu próprio proveito. Os gregos, por
volta do século 4 a.C, já dominavam complicados cálculos matemáticos,
que ainda hoje são considerados difíceis por qualquer jovem colegial. Os
gregos precisavam entender esses cálculos para resolver seus
problemas agrícolas, arquitetônicos, navais etc. Era uma questão de
sobrevivência. Com o tempo, esse tipo de conhecimento foi-se
especializando cada vez mais, até atingir o nível de sofisticação que
permitiu ao homem atingir a Lua. A este tipo de conhecimento, que
definiremos com mais cuidado logo adiante,
chamamos de ciência.
Mas o senso comum e a ciência não
são as únicas formas de conhecimento que o
homem possui para descobrir e interpretar a
realidade.
Registro de crenças e tradições
para as futuras gerações. Povos antigos, e entre eles cabe
sempre mencionar os gregos, preocuparam-se com a origem e com o
significado da existência humana. As especulações em torno desse tema
formaram um corpo de [pg. 18] conhecimentos denominado filosofia. A
formulação de um conjunto de pensamentos sobre a origem do homem,
seus mistérios, princípios morais, forma um outro corpo de conhecimento
humano, conhecido como religião. No Ocidente, um livro muito
conhecido traz as crenças e tradições de nossos antepassados e é para
muitos um modelo de conduta: a Bíblia. Esse livro é o registro do
conhecimento religioso judaico-cristão. Um outro livro semelhante é o
livro sagrado dos hindus: Livro dos Vedas. Veda, em sânscrito (antiga
língua clássica da Índia), significa conhecimento.
Por fim, o homem, já desde a sua pré-história, deixou marcas de
sua sensibilidade nas paredes das cavernas, quando desenhou a sua
própria figura e a figura da caça, criando uma expressão do
conhecimento que traduz a emoção e a sensibilidade. Denominamos
arte a esse tipo de conhecimento.
Arte, religião, filosofia, ciência e senso comum são domínios do
conhecimento humano.
A PSICOLOGIA CIENTÍFICA
Apesar de reconhecermos a existência de uma psicologia do senso
comum e, de certo modo, estarmos preocupados em defini-la, é com a
outra psicologia que este livro deverá ocupar-se — a Psicologia
científica. Foi preciso definir o senso comum, para que o leitor pudesse
demarcar o campo de atuação de cada uma, sem confundi-las.
Entretanto a tarefa de definir a Psicologia como ciência é bem mais
árdua e complicada. Comecemos por definir o que entendemos por
ciência (que também não é simples), para depois explicarmos por que a
Psicologia é hoje considerada uma de suas áreas.
O QUE É CIÊNCIA
A ciência compõe-se de um conjunto de conhecimentos sobre
fatos ou aspectos da realidade (objeto de estudo), expresso por meio de
uma linguagem precisa e rigorosa. Esses conhecimentos devem ser
obtidos de maneira programada, sistemática e controlada, para que se
permita a verificação de sua validade. Assim, podemos apontar o objeto
dos diversos ramos da ciência e saber exatamente como determinado
conteúdo foi construído, possibilitando a reprodução da experiência.
Dessa forma, o saber pode ser transmitido, verificado, utilizado e
desenvolvido. [pg. 19]
Essa característica da produção científica possibilita sua
continuidade: um novo conhecimento é produzido sempre a partir de algo
anteriormente desenvolvido. Negam-se, reafirmam-se, descobrem-se
novos aspectos, e assim a ciência avança. Nesse sentido, a ciência
caracteriza-se como um processo.
Pense no desenvolvimento do motor movido a álcool hidratado. Ele
nasceu de uma necessidade concreta (crise do petróleo) e foi planejado
a partir do motor a gasolina, com a alteração de poucos componentes
deste. No entanto, os primeiros automóveis movidos a álcool
apresentaram muitos problemas, como o seu mau funcionamento nos
dias frios. Apesar disso, esse tipo de motor foi-se aprimorando.
A ciência tem ainda uma característica fundamental: ela aspira à
objetividade. Suas conclusões devem ser passíveis de verificação e
isentas de emoção, para, assim, tornarem-se válidas para todos.
Objeto específico, linguagem rigorosa, métodos e técnicas
específicas, processo cumulativo do conhecimento, objetividade
fazem da ciência uma forma de conhecimento que supera em muito o
conhecimento espontâneo do senso comum. Esse conjunto de
características é o que permite que denominemos científico a um
conjunto de conhecimentos.
OBJETO DE ESTUDO DA PSICOLOGIA
Como dissemos
anteriormente, um
conhecimento, para ser
considerado científico, requer
um objeto específico de estudo.
O objeto da Astronomia são os
astros, e o objeto da Biologia
são os seres vivos. Essa
Observatório Nacional — Rio de Janeiro. Estudar o
fenômeno físico é pensar sobre algo externo ao classificação bem geral
homem. Estudar o homem é pensar sobre si mesmo.
demonstra que é possível tratar
o objeto dessas ciências com uma certa distância, ou seja, é possível
isolar o objeto de estudo. No caso da Astronomia, o cientista-observador
está, por exemplo, num observatório, e o astro observado, a anos-luz de
distância de seu telescópio. Esse cientista não corre o mínimo risco de
confundir-se com o fenômeno que está estudando. [pg. 20]
O mesmo não ocorre com a Psicologia, que, como a Antropologia,
a Economia, a Sociologia e todas as ciências humanas, estuda o
homem.
Certamente, esta divisão é ampla demais e apenas coloca a
Psicologia entre as ciências humanas. Qual é, então, o objeto específico
de estudo da Psicologia?
Se dermos a palavra a um psicólogo comportamentalista, ele dirá:
“O objeto de estudo da Psicologia é o comportamento humano”. Se a
palavra for dada a um psicólogo psicanalista, ele dirá: “O objeto de
estudo da Psicologia é o inconsciente”. Outros dirão que é a consciência
humana, e outros, ainda, a personalidade.
A PSICOLOGIA E O MISTICISMO
A Psicologia, como área da Ciência, vem se desenvolvendo na
história desde 1875, quando Wilhelm Wundt (1832-1926) criou o primeiro
Laboratório de Experimentos em Psicofisiologia, em Leipzig, na
Alemanha. Esse marco histórico significou o desligamento das idéias
psicológicas de idéias abstratas e espiritualistas, que defendiam a
existência de uma alma nos homens, a qual seria a sede da vida
psíquica. A partir daí, a história da Psicologia é de fortalecimento de seu
vínculo com os princípios e métodos científicos. A idéia de um homem
autônomo, capaz de se responsabilizar pelo seu próprio desenvolvimento
e pela sua vida, também vai se fortalecendo a partir desse momento.
Hoje, a Psicologia ainda não consegue explicar muitas coisas
sobre o homem, pois é uma área da Ciência relativamente nova (com
pouco mais de cem anos). Além disso, sabe-se que a Ciência não
esgotará o que há para se conhecer, pois a realidade está em
permanente movimento e novas perguntas surgem a cada dia, o homem
está em movimento e em transformação, colocando também novas
perguntas para a Psicologia. A invenção dos computadores, por
exemplo, trouxe e trará mudanças em nossas formas de pensamento,
em nossa inteligência, e a Psicologia precisará absorver essas
transformações em seu quadro teórico.
Alguns dos “desconhecimentos” da Psicologia têm levado os
psicólogos a buscarem respostas em outros campos do saber humano.
Com isso, algumas práticas não-psicológicas têm sido associadas às
práticas psicológicas. O tarô, a astrologia, a quiromancia, a numerologia,
entre outras práticas adivinhatórias e/ou místicas, têm sido associadas
ao fazer e ao saber psicológico.
Estas não são práticas da Psicologia. São outras formas de saber
— de saber sobre o humano — que não podem ser confundidas com a
Psicologia, pois:
• não são construídas no campo da Ciência, a partir do método e dos
princípios científicos;
• estão em oposição aos princípios da Psicologia, que vê não só o
homem como ser autônomo, que se desenvolve e se constitui a partir
de sua relação com o mundo social e cultural, mas também o homem
sem destino pronto, que constrói seu futuro ao agir sobre o mundo. As
práticas místicas têm pressupostos opostos, pois nelas há a concepção
de destino, da existência de forças que não estão no campo do
humano e do mundo material.
A Psicologia, ao relacionar-se com esses saberes, deve ser capaz
de enfrentá-los sem preconceitos, reconhecendo que o homem [pg. 26]
construiu muitos “saberes” em busca de sua felicidade. Mas é preciso
demarcar nossos campos. Esses saberes não estão no campo da
Psicologia, mas podem se tornar seu objeto de estudo.
É possível estudar as práticas adivinhatórias e descobrir o que elas
têm de eficiente, de acordo com os critérios científicos, e aprimorar tais
aspectos para um uso eficiente e racional. Nem sempre esses critérios
científicos têm sido observados e alguns psicólogos acabam por usar tais
práticas sem o devido cuidado e observação. Esses casos, seja daquele
que usa a prática mística como acompanhamento psicológico, seja o do
psicólogo que usa desse expediente sem critério científico comprovado,
são previstos pelo código de ética dos psicólogos e, por isso, passíveis
de punição. No primeiro caso, como prática de charlatanismo e, no
segundo, como desempenho inadequado da profissão.
Entretanto, é preciso ponderar que esse campo fronteiriço entre a
Psicologia científica e a especulação mística deve ser tratado com o
devido cuidado. Quando se trata de pessoa, psicóloga ou não, que
decididamente usa do expediente das práticas místicas como forma de
tirar proveito pecuniário ou de qualquer outra ordem, prejudicando
terceiros, temos um caso de polícia e a punição é salutar. Mas muitas
vezes não é possível caracterizar a atuação daqueles que se utilizam
dessas práticas de forma tão clara. Nestes casos, não podemos tornar
absoluto o conhecimento científico como o “conhecimento por
excelência” e dogmatizá-lo a ponto de correr o risco de criar um tribunal
semelhante ao da Santa Inquisição. E preciso reconhecer que pessoas
que acreditam em práticas adivinhatórias ou místicas têm o direito de
consultar e de serem consultadas, e também temos de reconhecer, nós
cientistas, que não sabemos muita coisa sobre o psiquismo humano e
que, muitas vezes, novas descobertas seguem estranhos e insondáveis
caminhos. O verdadeiro cientista deve ter os olhos abertos para o novo.
Enfim, nosso alerta aqui vai em dois sentidos:
• Não se deve misturar a Psicologia com práticas adivinhatórias ou
místicas que estão baseadas em pressupostos diversos e opostos ao
da Psicologia.
• “Mente é como pára-quedas: melhor aberta.” É preciso estar aberto
para o novo, atento a novos conhecimentos que, tendo sido estudados
no âmbito da Ciência, podem trazer novos saberes, ou seja, novas
respostas para perguntas ainda não respondidas.
A Ciência, como uma das formas de saber do homem, tem seu
campo de atuação com métodos e princípios próprios, mas, como forma
de saber, não está pronta e nunca estará. A Ciência é, na verdade, [pg.
27] um processo permanente de conhecimento do mundo, um exercício
de diálogo entre o pensamento humano e a realidade, em todos os seus
aspectos. Nesse sentido, tudo o que ocorre com o homem é motivo de
interesse para a Ciência, que deve aplicar seus princípios e métodos
para construir respostas.
Texto Complementar
A PSICOLOGIA DOS PSICÓLOGOS
(...) somos obrigados a renunciar à pretensão de determinar para
as múltiplas investigações psicológicas um objeto (um campo de fatos)
unitário e coerente. Conseqüentemente, e por sólidas razões, não
somente históricas mas doutrinárias, torna-se impossível à Psicologia
assegurar-se uma unidade metodológica. (...)
Por isso, talvez fosse preferível falarmos, ao invés de “psicologia”,
em “ciências psicológicas”. Porque os adjetivos que acompanham o
termo “psicologia” podem especificar, ao mesmo tempo, tanto um
domínio de pesquisa (psicologia diferencial), um estilo metodológico
(psicologia clínica), um campo de práticas sociais (orientação,
reeducação, terapia de distúrbios comportamentais etc.), quanto
determinada escola de pensamento que chega a definir, para seu próprio
uso, tanto sua problemática quanto seus conceitos e instrumentos de
pesquisa. (...) não devemos estranhar que a unidade da Psicologia, hoje,
nada mais seja que uma expressão cômoda, a expressão de um
pacifismo ao mesmo tempo prático e enganador. Donde não haver
nenhum inconveniente em falarmos de “psicologias” no plural. Numa
época de mutação acelerada como a nossa, a Psicologia se situa no
imenso domínio das ciências “exatas”, biológicas, naturais e humanas.
Há diversidade de domínio e diversidade de métodos. Uma coisa, porém,
precisa ficar clara: os problemas psicológicos não são feitos para os
métodos; os métodos é que são feitos para os problemas. (...)
Interessa-nos indicar uma razão central pela qual a Psicologia se
reparte em tantas tendências ou escolas: a tendência organicista, a
tendência fisicalista, a tendência psico-sociológica, a tendência
psicanalítica etc. Qual o obstáculo supremo impedindo que todas essas
tendências continuem a constituir “escolas” cada vez mais fechadas, a
ponto de desagregarem a outrora chamada “ciência psicológica”? A meu
ver, esse obstáculo é devido ao fato de nenhum cientista,
conseqüentemente, nenhum psicólogo, poder considerar-se um cientista
“puro”. Como qualquer cientista, todo psicólogo está comprometido com
uma posição filosófica ou ideológica. Este fato tem uma importância
fundamental nos problemas estudados pela Psicologia. Esta não é a
mesma em todos os países. Depende dos meios culturais. Suas
variações dependem da diversidade das escolas e das ideologias. Os
problemas psicológicos se diversificam segundo as correntes ideológicas
ou filosóficas venham reforçar esta ou aquela orientação na pesquisa,
consigam ocultar ou impedir este ou aquele aspecto dos domínios a
serem explorados ou consigam esterilizar esta ou aquela pesquisa,
opondo-se implícita ou explicitamente a seu desenvolvimento. (...)
Questões
1. Qual a relação entre cotidiano e conhecimento científico? Dê um
exemplo de uso cotidiano do conhecimento científico (em qualquer
área).
2. Explique o que é senso comum. Dê um exemplo desse tipo de
conhecimento.
3. Explique o que você entendeu por visão-de-mundo.
4. Cite alguns exemplos de conhecimentos da Psicologia apropriados
pelo senso comum.
5. Quais os domínios do conhecimento humano? O que cada um deles
abrange?
6. Quais as características atribuídas ao conhecimento científico?
7. Quais as diferenças entre senso comum e conhecimento científico?
8. Quais são os possíveis objetos de estudo da Psicologia?
9. Quais os motivos responsáveis pela diversidade de objetos para a
Psicologia?
10. Qual a matéria-prima da Psicologia?
11. O que é subjetividade?
12. Por que a subjetividade não é inata?
13. Por que as práticas místicas não compõem o campo da Psicologia
científica?
Atividades em grupo
1. Você leu, no texto, que existem a Psicologia científica e a psicologia
do senso comum. Supondo que o seu contato até o momento só tenha
sido com a psicologia do senso comum, relacione situações do
cotidiano em que você ou as pessoas com quem convive usem essa
psicologia.
2. Baseando-se no texto e na leitura complementar, responda por que
falamos em Ciências Psicológicas e não em uma Psicologia.
3. Discuta nossa apresentação da Psicologia científica — sua matéria-
prima e seu enfoque. Para isso, retome as respostas que cada
membro do grupo deu às questões 10, 11, 12 e 13.
4. Verifique quantas pessoas do grupo já procuraram práticas
adivinhatórias. A partir da leitura do texto, discuta a experiência. [pg.
29]
Bibliografia indicada
Para o aluno
Para o aprofundamento da relação ciência e senso comum,
indicamos o capítulo 10 do livro Filosofando — introdução à Filosofia,
de Maria Lúcia Aranha e Maria Helena P. Martins (São Paulo, Moderna,
1987), e o capítulo 3 do livro Fundamentos da Filosofia — ser, saber e
fazer, de Gilberto Cotrim (São Paulo, Saraiva, 1993).
Esses dois livros podem ainda ser utilizados para explorar melhor o
método científico (no Filosofando — introdução à Filosofia, o capítulo
14, e no Fundamentos da Filosofia, o capítulo 12).
Quanto ao aprofundamento da questão do objeto das ciências
humanas, sugerimos ainda as partes 1 e 2 do capítulo 16 do
Filosofando — introdução à Filosofia.
Para o professor
Para o aprofundamento das questões colocadas no texto,
sugerimos a introdução do livro A construção da realidade, de Peter
Berger e Thomas Luckmann (Petrópolis, Vozes, 1983), onde os autores
discutem e apresentam com muita profundidade a relação
realidade/conhecimento.
Quanto à questão específica da Psicologia e psicologias, seus
objetos, seus métodos e a definição do fenômeno, indicamos o livro A
Psicologia dos psicólogos, de Hilton Japiassu (Rio de Janeiro, Imago,
1983). Esse livro supõe um bom conhecimento das teorias e sistemas
em Psicologia, já que procura discuti-los do ponto de vista metodológico.
Não é uma leitura fácil, mas importantíssima para os psicólogos.
Ressaltamos a introdução e o capítulo 1.
Indicamos, ainda, para aprofundamento da questão da Psicologia,
o livro Psicologia da conduta, de José Bleger (Porto Alegre, Artes
Médicas, 1987), que aborda a Psicologia do ponto de vista de seu objeto
de estudo. [pg. 30]
CAPÍTULO 2
PSICOLOGIA E HISTÓRIA
Toda e qualquer produção humana — uma cadeira, uma religião,
um computador, uma obra de arte, uma teoria científica — tem por trás
de si a contribuição de inúmeros homens, que, num tempo anterior ao
presente, fizeram indagações, realizaram descobertas, inventaram
técnicas e desenvolveram idéias, isto é, por trás de qualquer produção
material ou espiritual, existe a História.
Compreender, em profundidade, algo que compõe o nosso mundo
significa recuperar sua história. O passado e o futuro sempre estão no
presente, enquanto base constitutiva e enquanto projeto. Por exemplo,
todos nós temos uma história pessoal e nos tornamos pouco
compreensíveis se não recorremos a ela e à nossa perspectiva de futuro
para entendermos quem somos e por que somos de uma determinada
forma.
Esta história pode ser mais ou menos longa para os diferentes
aspectos da produção humana. No caso da Psicologia, a história tem por
volta de dois milênios. Esse tempo refere-se à Psicologia no Ocidente,
que começa entre os gregos, no período anterior à era cristã.
Para compreender a diversidade com que a Psicologia se
apresenta hoje, é indispensável recuperar sua história. A história de sua
construção está ligada, em cada momento histórico, às exigências de
conhecimento da humanidade, às demais áreas do conhecimento
humano e aos novos desafios colocados pela realidade econômica e
social e pela insaciável necessidade do homem de compreender a si
mesmo. [pg. 31]
A PSICOLOGIA
ENTRE OS GREGOS: OS PRIMÓRDIOS
A história do pensamento humano tem um momento áureo na
Antiguidade, entre os gregos, particularmente no período de 700 a.C. até
a dominação romana, às vésperas da era cristã.
Partenon — uma das mais belas produções da arquitetura da Grécia Antiga (séc.
5 a.C).
A PSICOLOGIA NO
IMPÉRIO ROMANO E NA IDADE MÉDIA
A PSICOLOGIA CIENTÍFICA
O berço da Psicologia moderna foi a Alemanha do final do século
19. Wundt, Weber e Fechner trabalharam juntos na Universidade de
Leipzig. Seguiram para aquele país muitos estudiosos dessa nova
ciência, como o inglês Edward B. Titchner e o americano William James.
Seu status de ciência é obtido à medida que se “liberta” da
Filosofia, que marcou sua história até aqui, e atrai novos estudiosos e
pesquisadores, que, sob os novos padrões de produção de
conhecimento, passam a: [pg. 40]
• definir seu objeto de estudo (o comportamento, a vida psíquica, a
consciência);
• delimitar seu campo de estudo, diferenciando-o de outras áreas de
conhecimento, como a Filosofia e a Fisiologia;
• formular métodos de estudo desse objeto;
• formular teorias enquanto um corpo consistente de conhecimentos na
área.
Essas teorias devem obedecer aos critérios básicos da
metodologia científica, isto é, deve-se buscar a neutralidade do
conhecimento científico, os dados devem ser passíveis de comprovação,
e o conhecimento deve ser cumulativo e servir de ponto de partida para
outros experimentos e pesquisas na área.
Os pioneiros da Psicologia procuraram, dentro das possibilidades,
atingir tais critérios e formular teorias. Entretanto os conhecimentos
produzidos inicialmente caracterizaram-se, muito mais, como postura
metodológica que norteava a pesquisa e a construção teórica.
Embora a Psicologia científica tenha nascido na Alemanha, é nos
Estados Unidos que ela encontra campo para um rápido crescimento,
resultado do grande avanço econômico que colocou os Estados Unidos
na vanguarda do sistema capitalista. É ali que surgem as primeiras
abordagens ou escolas em Psicologia, as quais deram origem às
inúmeras teorias que existem atualmente.
Essas abordagens são: o Funcionalismo, de William James
(1842-1910), o Estruturalismo, de Edward Titchner (1867-1927) e o
Associacionismo, de Edward L. Thorndike (1874-1949).
O FUNCIONALISMO
O Funcionalismo é considerado como a primeira sistematização
genuinamente americana de conhecimentos em Psicologia. Uma
sociedade que exigia o pragmatismo para seu desenvolvimento
econômico acaba por exigir dos cientistas americanos o mesmo espírito.
Desse modo, para a escola funcionalista de W. James, importa
responder “o que fazem os homens” e “por que o fazem”. Para responder
a isto, W. James elege a consciência como o centro de suas
preocupações e busca a compreensão de seu funcionamento, na medida
em que o homem a usa para adaptar-se ao meio. [pg. 41]
O ESTRUTURALISMO
O Estruturalismo está preocupado com a compreensão do
mesmo fenômeno que o Funcionalismo: a consciência. Mas,
diferentemente de W. James, Titchner irá estudá-la em seus aspectos
estruturais, isto é, os estados elementares da consciência como
estruturas do sistema nervoso central. Esta escola foi inaugurada por
Wundt, mas foi Titchner, seguidor de Wundt, quem usou o termo
estruturalismo pela primeira vez, no sentido de diferenciá-la do
Funcionalismo. O método de observação de Titchner, assim como o de
Wundt, é o introspeccionismo, e os conhecimentos psicológicos
produzidos são eminentemente experimentais, isto é, produzidos a partir
do laboratório.
O ASSOCIACIONISMO
O principal representante do Associacionismo é Edward L.
Thorndike, e sua importância está em ter sido o formulador de uma
primeira teoria de aprendizagem na Psicologia. Sua produção de
conhecimentos pautava-se por uma visão de utilidade deste
conhecimento, muito mais do que por questões filosóficas que
perpassam a Psicologia.
O termo associacionismo origina-se da concepção de que a
aprendizagem se dá por um processo de associação das idéias — das
mais simples às mais complexas. Assim, para aprender um conteúdo
complexo, a pessoa precisaria primeiro aprender as idéias mais simples,
que estariam associadas àquele conteúdo.
Thorndike formulou a Lei do Efeito, que seria de grande utilidade
para a Psicologia Comportamentalista. De acordo com essa lei, todo
comportamento de um organismo vivo (um homem, um pombo, um rato
etc.) tende a se repetir, se nós recompensarmos (efeito) o organismo
assim que este emitir o comportamento. Por outro lado, o comportamento
tenderá a não acontecer, se o organismo for castigado (efeito) após sua
ocorrência. E, pela Lei do Efeito, o organismo irá associar essas
situações com outras semelhantes. Por exemplo, se, ao apertarmos um
dos botões do rádio, formos “premiados” com música, em outras
oportunidades apertaremos o mesmo botão, bem como generalizaremos
essa aprendizagem para outros aparelhos, como toca-discos, gravadores
etc. [pg. 42]
AS PRINCIPAIS TEORIAS
DA PSICOLOGIA NO SÉCULO 20
A Psicologia enquanto um ramo da Filosofia estudava a alma. A
Psicologia científica nasce quando, de acordo com os padrões de ciência
do século 19, Wundt preconiza a Psicologia “sem alma”. O conhecimento
tido como científico passa então a ser aquele produzido em laboratórios,
com o uso de instrumentos de observação e medição. Se antes a
Psicologia estava subordinada à Filosofia, a partir daquele século ela
passa a ligar-se a especialidades da Medicina, que assumira, antes da
Psicologia, o método de investigação das ciências naturais como critério
rigoroso de construção do conhecimento.
Essa Psicologia científica, que se constituiu de três escolas —
Associacionismo, Estruturalismo e Funcionalismo —, foi substituída, no
século 20, por novas teorias.
As três mais importantes tendências teóricas da Psicologia neste
século são consideradas por inúmeros autores como sendo o
Behaviorismo ou Teoria (S-R) (do inglês Stimuli-Respond — Estímulo-
Resposta), a Gestalt e a Psicanálise.
• O Behaviorismo, que nasce com Watson e tem um desenvolvimento
grande nos Estados Unidos, em função de suas aplicações práticas,
tornou-se importante por ter definido o fato psicológico, de modo
concreto, a partir da noção de comportamento (behavior).
• A Gestalt, que tem seu berço na Europa, surge como uma negação da
fragmentação das ações e processos humanos, realizada pelas
tendências da Psicologia científica do século 19, postulando a
necessidade de se compreender o homem como uma totalidade. A
Gestalt é a tendência teórica mais ligada à Filosofia.
• A Psicanálise, que nasce com Freud, na Áustria, a partir da prática
médica, recupera para a Psicologia a importância da afetividade e
postula o inconsciente como objeto de estudo, quebrando a tradição da
Psicologia como ciência da consciência e da razão.
Nos próximos três capítulos, desenvolveremos cada uma dessas
principais tendências teóricas, a partir da apresentação de alguns de
seus conceitos básicos. Em um quarto capítulo, apresentaremos a
Psicologia Sócio-Histórica como uma das vertentes teóricas em
construção na Psicologia atual. [pg. 43]
Questões
1. Qual a importância de se conhecer a história da Psicologia?
2. Quais as condições econômicas e sociais da Grécia Antiga que
propiciaram o início da reflexão sobre o homem?
3. Quais as contribuições fundamentais para a Psicologia apontadas nos
textos de Sócrates, Platão e Aristóteles?
4. Com a hegemonia da Igreja, na Idade Média, qual a contribuição de
Santo Agostinho e São Tomás de Aquino para o conhecimento em
Psicologia?
5. Em qual período histórico situa-se a contribuição de Descartes para a
Psicologia? Qual é essa contribuição?
6. Quais as contribuições da Fisiologia e da Neurofisiologia para a
Psicologia?
7. Qual o papel de Wundt na história da Psicologia?
8. Quais os critérios que a Psicologia deveria satisfazer para adquirir o
status de ciência?
9. O que caracteriza o Funcionalismo, o Associacionismo e o
Estruturalismo?
10. Quais as principais teorias em Psicologia, no século 20?
Atividades em grupo
1. Quais as diferenças entre a Psicologia como um ramo da Filosofia e a
Psicologia científica?
2. Como a produção do conhecimento está relacionada com as
condições materiais do momento histórico em que ela se dá?
Exemplifique.
3. Construam uma linha do tempo e registrem nela os principais marcos
da história da humanidade e os principais momentos da construção da
Psicologia.
Bibliografia indicada
A história da Psicologia é um tema que não apresenta obras
adequadas aos alunos de 2° grau. Mesmo os livros introdutórios, como
os de Fred S. Keller, A definição da Psicologia (São Paulo, Herder,
1972), e de Anatol Rosenfeld, O pensamento psicológico (São Paulo,
Perspectiva, 1984), destinam-se a leitores que tenham um mínimo de
familiaridade com as questões da Psicologia. O primeiro trata da
Psicologia a partir de sua fase científica, até o Behaviorismo e a Gestalt,
excluindo a Psicanálise. O segundo é mais denso e percorre os
caminhos da Psicologia desde os filósofos pré-socráticos até a fase
científica.
Uma bibliografia mais avançada é composta pelos livros de
Antônio Gomes Penna, Introdução à história da Psicologia
contemporânea (Rio de Janeiro, Zahar, 1980), e de Fernand Lucien
Mueller, História da Psicologia (São Paulo, Nacional, 1978). [pg. 44]
P a r a um a C rític a d a R a z ã o
PSICOMÉTRICA
ir à sua raiz, definir os seus com prom issos sociais e históricos, localizar a
perspectiva que o construiu, descobrir a m aneira de pensar e interpretrar a
vida social da classe que apresenta esse conhecim ento com o universal.
(...) A perspectiva crítica pode (...) descobrir toda a am plitude do que se
acanha lim itadoram ente sob determ inados conceitos, sistem as de
conhecim ento ou m étodos. (M artins, 1977, p.2).
... se os hom ens são estes seres da busca e se sua vocação ontológica é
hum anizar-se, podem , cedo ou tarde, perceber a contradição em que a
'educação b an cária’ pretende m antê-los e engajar-se na luta por sua
libertação. Um educador hum anista, revolucionário, não há de esperar
esta possibilidade. N ão fazem os esta afirm ação ingenuam ente. Já tem os
afirm ado que a educação reflete a estrutura do poder, d aí a dificuldade
que tem um educador dialógico de atuar coerentem ente num a estrutura
que nega o diálogo. A lgo fundam ental, porém , pode ser feito: dialogar
sobre a negação do próprio diálogo, (p.70-1).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
C H A U Í, M .S. Cultura e democracia-, o discurso com petente e outras falas. São Paulo,
M oderna, 1981.
C A G L IA R I, L.C. O príncipe que virou sapo. Cadernos de Pesquisa, v.55, p.50-62,
1985.
FR E IR E , P. P edagogia do oprim ido. 2.ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1970.
241
FUNCIONAMENTOS ESCOLARES E A PRODUÇÃO DE FRACASSO ESCOLAR E SOFRIMENTO
2
Para uma compreensão mais aprofundada da política de Progressão Conti-
nuada na Educação, consulte o capítulo sobre o tema: “Dificuldades de
Escolarização e Progressão Continuada: uma relação complexa”, de Lygia
de Sousa Viégas.
242
B E A T R I Z D E P A U L A S O U Z A
3
Optamos por citar os resultados do penúltimo SAEB pela facilidade de acesso
aos resultados. Em uma rápida consulta ao endereço eletrônico do órgão do
Ministério da Educação responsável por tais avaliações, o Instituto Nacional
de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), (http://www.inep.gov.br/download/
saeb/2004/resultados/BRASIL.pdf) encontramos facilmente os principais re-
sultados dos SAEBs, de 1995 a 2003, acrescidos de análises que facilitam seu
entendimento. Quanto aos resultados do SAEB 2005, até o momento (feve-
reiro de 2007) só encontramos disponibilizadas médias.
243
FUNCIONAMENTOS ESCOLARES E A PRODUÇÃO DE FRACASSO ESCOLAR E SOFRIMENTO
Saeb 2003
4ª Série do Ensino Fundamental
Língua Portuguesa
Legenda
Muito crítico
Não desenvolveram habilidades de leitura mínimas condizentes com quatro
anos de escolarização. Não foram alfabetizados adequadamente. Não conse-
guem responder os itens da prova.
Crítico
Não são leitores competentes, leem de forma ainda pouco condizente com a série.
Construíram o entendimento de frases simples. São leitores ainda no nível primá-
rio. Decodificam apenas a superfície de narrativas simples e curtas, localizando
informações explícitas, dentre outras habilidades.
Intermediário
Começando a desenvolver as habilidades de leitura, mais próximas do nível
exigido para a série. Inferem informações explícitas em textos mais longos;
identificam a finalidade de um texto informativo; reconhecem o tema de um
texto e a ideia principal e reconhecem os elementos que constroem uma narra-
tiva, tais como o conflito gerador, os personagens e o desfecho do conflito; entre
outras habilidades.
Adequado
São leitores com nível de compreensão de textos adequados à série. São leitores
com habilidades consolidadas. Estabelecem a relação de causa e consequência
em textos narrativos mais longos; reconhecem o efeito de sentido decorrentes
do uso da pontuação; distinguem efeitos de humor mais sutis; identificam a
finalidade de um texto com base em pistas textuais mais elaboradas, depreendem
relação de causa e consequência implícitas no texto, além de outras habilidades.
244
B E A T R I Z D E P A U L A S O U Z A
4
A Teoria da Carência Cultural é um conjunto de conhecimentos gerado
principalmente no calor da explosão de movimentos de minorias oprimidas,
a partir de meados do século XX. Ideológica, tem funcionado como uma
mordaça supostamente científica a alguns destes movimentos. A partir de
pesquisas questionáveis, aponta um conjunto de deficiências nas camadas
empobrecidas da população, justificando seu lugar subalterno, legitimando a
organização social injusta de nossa sociedade.
245
FUNCIONAMENTOS ESCOLARES E A PRODUÇÃO DE FRACASSO ESCOLAR E SOFRIMENTO
suas famílias. Estas divisões têm caráter didático, uma vez que o
real se constitui na e da interação entre estas camadas (e outros
grupos e instituições que não cabe aqui tratar), as quais influem
umas nas outras, dialeticamente.
Quase todos os tópicos de tais divisões têm, em seu final,
pequenos textos em itálico. Estes trazem reflexões e “dicas”
dirigidas mais diretamente para psicólogos que atendem queixas
escolares, as quais se desdobram dos conteúdos do tópico em que
estão inseridas.
5
Para uma compreensão mais aprofundada das políticas públicas na Educação,
consulte o capítulo “A construção da escola pública democrática: algumas
reflexões sobre a política educacional”, de Sérgio A. S. Leite.
6
Para uma compreensão mais aprofundada sobre a política de Progressão
Continuada na Educação, consulte o capítulo sobre o tema: “Dificuldades
de escolarização e Progressão Continuada: uma relação complexa”, de Lygia
de Sousa Viégas.
246
B E A T R I Z D E P A U L A S O U Z A
7
Para uma compreensão mais aprofundada sobre a política de Educação Inclu-
siva, consulte o capítulo sobre o tema: “Pessoas significativamente diferentes e
o direito à educação: uma relação atravessada pela queixa”, de Carla Biancha
Angelucci e Flávia Ranoya Seixas Lins.
247
FUNCIONAMENTOS ESCOLARES E A PRODUÇÃO DE FRACASSO ESCOLAR E SOFRIMENTO
249
FUNCIONAMENTOS ESCOLARES E A PRODUÇÃO DE FRACASSO ESCOLAR E SOFRIMENTO
251
FUNCIONAMENTOS ESCOLARES E A PRODUÇÃO DE FRACASSO ESCOLAR E SOFRIMENTO
Baixos salários
Internos às escolas
256
B E A T R I Z D E P A U L A S O U Z A
257
FUNCIONAMENTOS ESCOLARES E A PRODUÇÃO DE FRACASSO ESCOLAR E SOFRIMENTO
Estratégias de homogeneização
8
Classes formadas por iniciativa própria de unidades escolares, em que se
agrupam alunos avaliados como os mais defasados. Apesar de denominarem-
se “projeto”, não temos observado a existência de projetos escolares para as
mesmas. São entregues a professoras nem sempre dispostas a assumi-las e sem
apoio institucional, nem mesmo um número de alunos menor do que o das
demais classes.
9
Semelhante ao antigo projeto de Classes de Aceleração, prevê a formação de
classes de alunos de 4a. série muito defasados, com número reduzido de alunos,
material específico e treinamento e assessoria a seus professores.
261
FUNCIONAMENTOS ESCOLARES E A PRODUÇÃO DE FRACASSO ESCOLAR E SOFRIMENTO
264
B E A T R I Z D E P A U L A S O U Z A
267
FUNCIONAMENTOS ESCOLARES E A PRODUÇÃO DE FRACASSO ESCOLAR E SOFRIMENTO
Humilhações
11
Para aprofundamento, consultar o capítulo “Humilhação social: humilhação
política”, de José Moura Gonçalves Filho
270
B E A T R I Z D E P A U L A S O U Z A
Encaminhamentos a especialistas
271
FUNCIONAMENTOS ESCOLARES E A PRODUÇÃO DE FRACASSO ESCOLAR E SOFRIMENTO
Pais brigam nas escolas por vagas para seus filhos. Pais lutam
para que seus filhos tenham acesso à educação, acreditando
que, dessa forma, terão acesso a uma vida melhor. Acreditam
no mito de que a escola é o meio de ascensão social, no mito
da igualdade de oportunidades.
É desses pais que se diz que não se interessam pela educação
de seus filhos! É deles que se apregoa o descaso, a não valori-
zação da escola! (1996, p. 183)
tência nas famílias alivia estas dores, até certo ponto, pois não
conseguem livrar-se totalmente de seus saberes fundados na ex-
periência cotidiana e concreta da vida escolar.
Reuniões na escola
275
FUNCIONAMENTOS ESCOLARES E A PRODUÇÃO DE FRACASSO ESCOLAR E SOFRIMENTO
12
Para aprofundamento, consultar o capítulo “Uma proposta de olhar para os
cadernos escolares”, de Anabela Almeida Costa e Santos.
276
B E A T R I Z D E P A U L A S O U Z A
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
278
Apresentando a Orientação
à Queixa escolar1
1
Este trabalho contou com a preciosa revisão crítica de Carla Biancha Angelucci
e baseia-se em FRELLER, C.C.; SOUZA, B.P.; ANGELUCCI; C.B.; BONADIO,
A.N.; DIAS, A.C.; LINS, F.R.S.; MACÊDO, T.E.C.R. “Orientação à Queixa
Escolar”. In: Revista Psicologia em Estudo, Universidade Estadual de Maringá,
v.6, n.2, jul./dez. 2001.
2
Psicóloga e Mestre em Psicologia Escolar pelo Instituto de Psicologia da
Universidade de São Paulo, em que coordena o Serviço de Orientação à
Queixa Escolar.
97
APRESENTANDO A ORIENTAÇÃO À QUEIXA ESCOLAR
3
Veja, por exemplo, o capítulo “Humilhação social: humilhação política”, de
José Moura Gonçalves Filho, e “Para cuidar da dor do aluno negro gerada no
espaço escolar!”, de Elisabeth Fernandes de Sousa.
99
APRESENTANDO A ORIENTAÇÃO À QUEIXA ESCOLAR
4
Veja, por exemplo, KHAN, M. Quando a Primavera Chegar. São Paulo: Escuta,
1991.
100
B E A T R I Z D E P A U L A S O U Z A
Triagem de orientação
5
Para uma discussão mais aprofundada sobre a Progressão Continuada, veja o
capítulo “Dificuldades de Escolarização e Progressão Continuada: uma rela-
ção complexa”, de Lygia de Sousa Viégas.
104
B E A T R I Z D E P A U L A S O U Z A
6
Recomendamos a leitura do capítulo “Uma proposta de olhar para os cader-
nos escolares”, de Anabela Almeida Costa e Santos.
108
B E A T R I Z D E P A U L A S O U Z A
7
O capítulo “Por uma clínica da queixa escolar que não reproduza a lógica
patologizante”, de Carla Biancha Angelucci, traz o relato e reflexões acerca de
um atendimento com estas características.
110
B E A T R I Z D E P A U L A S O U Z A
Entrevistas de fechamento
Acompanhamento
8
Nosso objetivo é conquistar uma movimentação nessa rede dinâmica que se
direcione no sentido do desenvolvimento de todos os seus participantes e da
superação da queixa escolar, que se sustente sem mais necessidade do
atendimento OQE (vide pág. 100).
113
APRESENTANDO A ORIENTAÇÃO À QUEIXA ESCOLAR
Considerações finais
9
Procurando compreender este índice de 44% de encaminhamentos, que nos
parece alto, demo-nos conta que, ao longo destes anos, tem sido alta a incidên-
cia de casos que nos chegam sem que a questão escolar seja o motivo central ou
prioritário da demanda pelo atendimento. Ainda que presente, a dificuldade
escolar assume, frequentemente, papel secundário diante da gravidade e com-
plexidade de situações extra-escola em que se encontram muitas das crianças e
adolescentes para as quais nossos trabalhos são demandados. O encaminha-
mento destes casos para atendimento psicoterápico torna-se um desdobramento
previsível — na maioria das vezes já desde o momento inicial, a Triagem de
Orientação. Percebemos que estamos diante de um grave reflexo das deficiên-
cias do sistema público de atendimento em saúde mental: uma denúncia do
desmonte a que vêm sendo submetidas suas estruturas na cidade de São Paulo.
Muitos pais chegam a nós após terem feito inscrições em diversos serviços psico-
lógicos, sem que tenham conseguido qualquer atendimento. Têm, na verdade,
uma demanda de psicoterapia para seus filhos. Mas, como não conseguem vaga
nos muitos lugares em que fazem inscrição e submetidos a longas filas de espera,
devido ao grande déficit de recursos humanos e materiais da rede pública de
saúde mental, usam a estratégia de superdimensionar as dificuldades escolares
na esperança de conseguir uma vaga conosco. Um atendimento, afinal. Com
uma política pública de saúde mais comprometida com a população, é provável
que os encaminhamentos que realizamos para outros atendimentos em saúde
mental não tivessem chegado às proporções expostas.
10
Não estão considerados os casos em que a autora não pôde, pelas informa-
ções constantes nos prontuários pesquisados, identificar a continuidade ou
conclusão dos mesmos. Isto ocorreu em 19% das vezes.
116
B E A T R I Z D E P A U L A S O U Z A
117
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
118
Sociologia da
Educação I
Prof: João Carlos de Campos
E-mail: jcvncampos@gmail.com
Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO
Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes
Departamento de Pedagogia – DEPED/G
Pedagogia do Campo
EMENTA:
Correntes da Sociologia e suas perspectivas educacionais. Compreensão e crítica dos problemas
sociais e educacionais por meio da análise sociológica.
OBJETIVOS:
• Compreender a Sociologia como disciplina que auxilia no desvelamento das contradições
sociais;
• Conhecer os conceitos e autores da Sociologia e as formas como podem nos auxiliar na
compreensão da realidade e da educação.
PROGRAMA:
1. Clássicos da Sociologia e suas implicações para os projetos educacionais
1.1 Karl Marx, marxismo e a pedagogia socialista
1.2 Conceitos fundamentais da sociologia de Max Weber. A “neutralidade axiológica” como
fundamento da neutralidade do papel do professor
1.3 Émile Durkheim e o fundamento da educação e da escola como “fato social”.
2. As perspectivas sociológicas contemporâneas
2.1 A escola como reprodução social: revisitando os “clássicos” contemporâneos
2.2 Educação e decolonização: crítica do eurocentrismo/urbanocentrismo da escola.
2.3 Educação e relações sociais capitalistas:
2.3.1 Educação e formação para o trabalho no capitalismo: da revolução industrial ao
toyotismo
2.3.2 Educação em tempos líquidos: a análise de Z. Bauman.
METODOLOGIA:
A disciplina será realizada por meio de diálogo com a turma, partindo das realidades vividas
individual e coletivamente por eles, localizando a Sociologia como ferramenta para desvelar o
complexo tecido social, com suas contradições e pela via da compreensão das lutas de classes.
Auxílio nas leituras de textos acadêmicos. Também será utilizada a forma do Seminário, para que
os/as educandos/as possam se expressar de maneira sistemática sobre determinados conteúdos
da disciplina, especialmente vinculando as teorias estudadas com a realidade. Para o tempo
comunidade será desenvolvido trabalho integrado da área. Colocar a questão da escrita. Para o
tempo comunidade será indicada aos/as educandos/as uma atividade prática de mapeamento dos
territórios em que vivem.
Emprego de tecnologias digitais da informação e comunicação para atividades não presenciais,
nos termos da Instrução Normativa n. 1-PROEN/UNICENTRO, de 17 de abril de 2020, em função
da pandemia do novo Coronavírus – COVID-19.
Atividades remotas serão alocadas e ancoradas na plataforma institucional Moodle Unicentro.
Nesse ambiente poderão ser disponibilizadas atividades síncronas, como chats e fóruns, e
assíncronas como fóruns, diários, textos coletivos/wikis. Ainda, nos termos da Instrução Normativa
n. 1-PROEN/UNICENTRO, as atividades não presenciais poderão ser disponibilizadas por outras
mídias digitais com o devido vínculo com a Plataforma Moodle e/ou informação na mesma
plataforma”); A/o docente ficará online nos horários de aula e ocasionalmente, quando necessário
e em comum acordo com as/os alunos.
Para que este conteúdo seja discutido com os alunos via Ambiente Virtual de Aprendizagem,
será possível indicar:
Atividades síncronas (em tempo real/online, quando assim for proposto pelo professor e possível
de ser executada pelos estudantes), como chats e lives (avaliativas ou não); atividades
assíncronas (aquelas que não necessitam ser executadas em tempo real/online), como fóruns,
diários, textos coletivos/wikis, envio de arquivos (em diferentes formatos e conectados a outros
recursos digitais disponíveis na internet), avaliativas ou não.
A metodologia proposta em ambiente virtual se comporá de:
-Leitura sobre material disponibilizado na plataforma Moodle;
-Análise de vídeos que complementam a temática a ser abordada, os quais deverão ter seus links
indicados na plataforma Moodle;
-Participação síncrona de alunos e professor em atividades como fórum e/ou chat, quando for
possível adequando-se aos contextos dos acadêmicos.
-Participação em reuniões, encontros e lives (se ocorrerem) por meio de outros instrumentos
midiáticos como: Facebook, Hangouts- Google Meet, Zoom, WhatsApp. Estas atividades deverão
ser registradas e agendadas com os alunos na plataforma Moodle.
-Postagem de relatórios avaliativos, conforme agendas prévias registradas na plataforma Moodle.
-Emails também poderão ser utilizados quando for necessário.
FORMAS DE AVALIAÇÃO:
A avaliação da disciplina será realizada pelas formas de atividades individuais (resumos,
fichamentos ou dissertações) e coletivas (Seminário), buscando o desenvolvimento das formas
escrita e oral, bem como o trabalho coletivo em torno das discussões dos temas da disciplina. Para
o tempo comunidade será indicada uma atividade prática de mapeamento dos territórios em que
cada um vive, visando indicar os conflitos sociais ali existentes, a história e de como analisar esta
realidade a partir da análise sociológica. Como resultado será produzido um mapa produzido por
Home Page: http://www.unicentro.br
Campus Santa Cruz: Rua Salvatore Renna – Padre Salvador, 875 – Cx. Postal 3010 – Fone: (42) 3621-1000 FAX: (42) 3621-1090 – CEP 85.015-430, GUARAPUAVA – PR
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Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO
Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes
Departamento de Pedagogia – DEPED/G
Pedagogia do Campo
BIBLIOGRAFIA BÁSICA:
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR:
BOURDIEU, P. A reprodução: elementos para uma teoria do sistema de ensino. Rio de Janeiro:
Francisco Alves, 1975.
CASTRO-GÓMEZ, S.; GROSFOGUEL, R. El giro decolonial. Reflexiones para una diversidad
epistémica más allá del capitalismo global. Bogotá: Siglo del Hombre Editores, 2007.
COSTA, CRISTINA. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. 2 ed. São Paulo: Moderna,
1997.
MANACORDA, M. A. O princípio educativo em Gramsci. Porto Alegre: Editora Artes Médicas,
1990.
PINTO, Geraldo Augusto. A organização do trabalho no século 20: taylorismo, fordismo e
toyotismo. São Paulo: Expressão Popular, 2007.
QUINTANERO, T.; BARBOSA, M.L.O.; OLIVEIRA, M.G.M. Um toque de clássicos: Marx,
Durkheim, Weber. 2.ed. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2003.
______________________
Profº Dr. Marcos Gehrke
Coordenador do curso de Pedagogia do Campo
Port. n. 669/2017-GR/UNICENTRO
__________________________
Profº Dr. Ademir Nunes Gonçalves
Vice-Coordenador do Curso de Pedagogia do Campo
Port. n. 669/2017-GR/UNICENTRO
sociologia da educação
Marília Freitas de Campos Tozoni-Reis
Professora Livre Docente do Departamento de Educação do Instituto de
Biociências da UNESP-Botucatu.
Resumo: O texto traz uma apresentação geral da Sociologia como ciência que se preocupa com a explicação
da vida social que tem origem na modernidade, isto é, uma ciência que surgiu para explicar a vida social que
se complexificou com a organização capitalista da sociedade. Em seguida, o texto aborda a importância de
três pensadores clássicos da Sociologia: Marx, Durkheim e Weber. Podemos encontrar no texto as principais
idéias de cada um desses três pensadores na explicação da vida social, culminando com a contribuição de
cada um deles para a compreensão da função social da educação na sociedade moderna. Destaca-se, portanto,
o estudo de três diferentes, porém clássicas, Sociologias da Educação.
1
sociedade, referem-se à superação do feudalismo e à consolidação do capitalismo, portanto,
à modernidade. Os grandes marcos históricos da modernidade como a Revolução Inglesa
(século XVII), a Revolução Francesa (século XVIII) e a Independência Americana (século
XVIII) e, finalmente, a Revolução Industrial (século XVIII), que transformaram tão radi-
sociologia da educação
calmente as relações econômicas e sociais, são também marcos históricos do surgimento da
Sociologia. Lembremos que as transformações vividas naquele momento foram de tal mag-
nitude que marcam também o aprofundamento das ideias sobre a organização da sociedade,
tanto aquelas que defendiam o novo regime econômico – que também era político, social e
cultural – quanto aquelas que o criticavam. Este é o sentido da afirmação de que a Sociologia
é uma ciência moderna.
Vejamos, portanto, as modificações nas relações sociais que definiram a modernidade
como forma de compreender a Sociologia como ciência para a explicação da vida social. Leo
Huberman (1987) apresenta-nos uma detalhada análise da superação da Idade Média pela
modernidade, do feudalismo pelo capitalismo, do antigo regime pelo regime moderno. Nes-
sa análise histórica, podemos buscar os elementos centrais para a explicação da vida social.
Esse autor explica a sociedade moderna, a vida social na modernidade, como a superação do
feudalismo pelo capitalismo, isto é, pela profunda transformação que a sociedade feudal so-
freu. Profunda porque se trata de transformação econômica, social, política e cultural. Nesse
sentido, a sociedade feudal caracterizava-se, do ponto de vista da Sociologia, por três classes
sociais distintas: sacerdotes, guerreiros e trabalhadores. Vale destacar que, como sociedade
que valorizava o ócio, os trabalhadores, isto é, aqueles que produziam, trabalhavam para
outras classes: eclesiástica e militar.
Do ponto de vista da organização da produção econômica, essencialmente agrícola, a
maioria das terras agrícolas da Europa ocidental estava dividida em “feudos”. Um feudo con-
sistia apenas de uma aldeia e as várias centenas de acres de terra arável que a circundavam
e na qual o povo da aldeia trabalhava. Embora com diferenças em relação ao tamanho e as
relações entre as diferentes pessoas, os feudos tinham características sociais – pela análise
sociológica – comuns. De um lado, um senhor com sua família e seus empregados (domésti-
cos e administrativos). De outro, os arrendatários das terras – os servos. Esses arrendatários
eram os camponeses, os que trabalhavam a terra arável. A principal característica desse
sistema residia no fato de a terra – sob domínio do senhor feudal – era trabalhada pelos cam-
poneses. Eles trabalhavam em uma das metades dessa terra, da qual eram arrendatários, e na
outra metade, para o senhor. E mais, o trabalho nas terras do senhor tinha prioridade sobre
o trabalho nas terras arrendadas do senhor, portanto, o trabalho dos camponeses era árduo,
intenso e garantia muito pouco para a sobrevivência desses camponeses e de suas famílias.
Tratava-se, então, de um sistema econômico fundamentado na servidão: a desigualdade en-
tre servo e senhor era a base das relações sociais de produção no campo. Mas, existiam
também diferentes graus nesta servidão. Alguns servos tinham privilégios, além de deveres
e obrigações, mas se relacionavam com o senhor, sempre, neste sistema. O senhor tinha total
poder sobre os servos, embora não fosse necessariamente o proprietário das terras, pois es-
tas, muitas vezes, eram arrendadas de outros senhores, hierarquicamente mais superiores, os
“arrendatários principais”, isto é, aqueles que arrendavam as terras diretamente do rei.
2
Segundo as explicações da Sociologia, a história das relações sociais no feudalismo ca-
racterizava uma sociedade hierarquizada, estática e imutável. Não havia propriamente a pro-
priedade privada das terras, elas eram do Rei que concedia aos nobres – hierarquicamente
organizados – as terras para que esses a arrendassem aos senhores feudais menos poderosos.
Estes, por sua vez, arrendavam a outros senhores e assim por diante, até chegarmos aos campo-
sociologia da educação
neses, aos servos, aqueles que concretamente trabalhavam a terra. A economia era exclusiva-
mente agrícola, portanto, as relações sociais existentes eram as relações feudais de exploração
da terra.
Superado o feudalismo, como modo de organização das relações econômicas, sociais,
políticas e culturais, transformações profundas nessas relações deram origem ao capitalismo.
São muitos os aspectos relacionados a essas profundas transformações que caracterizam o
capitalismo: as transformações no mundo do trabalho; a ascensão da burguesia como classe
com poder econômico e político; o surgimento de outras classes sociais; o desenvolvimento da
ciência e da técnica; novos valores sociais etc.
Sobre as transformações no mundo do trabalho, temos que a supremacia do trabalho
no campo é superada pelo trabalho urbano industrial, passando antes pela manufatura. Essa
forma tão diferente de organização do trabalho implicou em novas formas de pensar e agir no
trabalho. O trabalhador no campo, assim como no artesanato, por mais desigual que fossem
suas relações com a terra, responsabilizava-se com o processo e o produto do trabalho de for-
ma muito diferente dessas mesmas relações no trabalho industrial. Se o camponês e o artesão,
ainda que explorados, controlavam o processo de trabalho, o trabalhador no novo modo de
produção moderno não tem controle algum deste processo que é controlado externamente ao
trabalhador. O ritmo e a intensidade do trabalho, por exemplo, são definidos externamente,
isto é, quem controla o ritmo e a intensidade do trabalho não é mais o próprio trabalhador, mas
aquele que controla todo processo de trabalho e também se apropria do produto advindo dele:
os proprietários dos meios de produção.
Essa nova forma de organização do trabalho na economia capitalista foi se complexifi-
cando de tal forma que as sociedades, sob a organização capitalista, exigiram novas explicações.
Se as ciências até então desenvolvidas não eram mais suficientes para essas explicações, surgiu a
Sociologia, que colocou a vida social e suas implicações como principal objeto de estudo.
E como explica, então, a Sociologia a vida social moderna? Retomemos a ideia de que a
Sociologia explica, contraditoriamente, a sociedade moderna. Por um lado, essas explicações
dizem respeito ao aprimoramento desta sociedade como capitalista e moderna e, por outro,
dizem respeito à transformação desta sociedade. Isto é, diferentes correntes sociológicas - tra-
dições sociológicas ou distintas sociologias - têm diferentes explicações para a vida social, mas
em todas elas o objeto de estudo da Sociologia permanece: a explicação da vida social:
O caráter antagônico da sociedade capitalista, ao impedir um entendimento
comum por parte dos sociólogos entorno ao objeto e aos métodos de inves-
tigação desta disciplina, deu margem ao nascimento de diferentes tradições
sociológicas ou distintas sociologias, como preferem afirmar alguns sociólo-
gos (MARTINS, 1985, p. 35).
3
Assim, podemos afirmar, como Foracchi e Martins (1977, p. 1), que “a Sociologia debate-
se entre tendências teóricas, entre perspectivas produzidas por diferentes visões de mundo”
e, neste sentido é, segundo esses mesmos autores, “conhecimento científico historicamente
situado”. Historicamente, porque sua referência é a sociedade capitalista moderna. Destaca-se
sociologia da educação
aqui, portanto, o caráter de não neutralidade da Sociologia como ciência. É importante que
consideremos, então, as diferenciações da Sociologia na explicação da vida social, na análise
da realidade social temos mais propriamente a interpretação da realidade social:
Daí a posição peculiar da Sociologia na formação intelectual do mundo
moderno. Os pioneiros e fundadores dessa disciplina se caracterizam pelo
menos pelo exercício de atividades intelectuais socialmente diferenciadas,
que pela participação mais ou menos ativa das grandes correntes de opi-
nião dominantes na época, seja no terreno da reflexão ou da propagação
de ideias, seja no terreno da ação. As ambições intelectuais de autores
como Saint-Simon, Comte, Proudhon e Lê Play, ou de Howard, Malthus e
Owen, ou de von Stein, Marx e Riehl iam além do conhecimento positivo
da realidade social. Conservadores, reformistas ou revolucionários, aspira-
vam fazer do conhecimento sociológico um instrumento da ação. E o que
pretendiam modificar não era a natureza humana em geral, mas a própria
sociedade em que viviam (FERNANDES, 1977, p.11-12).
As diferentes Sociologias, às quais nos referimos, podem, então, ser definidas como
conservadoras, reformistas e revolucionárias. Neste sentido, podemos afirmar que as dife-
rentes interpretações da realidade social – a explicação da vida social, interpretada – têm,
desde a origem da Sociologia como ciência, esses matizes. As interpretações conservadoras
têm, em sua origem, a sociedade feudal como referência – a organização social anterior ao
capitalismo. Isso significa dizer que os estudos para análise e interpretação da vida social da
Sociologia conservadora, inclusive na contemporaneidade, referem-se a um sistema social
erguido sob um sistema rígido e imutável de privilégios de determinados grupos sociais.
4
Então, se os princípios do conhecimento sociológico são, ao mesmo tempo, integrado-
res (explicam a realidade da vida social sob o capitalismo) e contraditórios (explicam contra-
ditoriamente a vida social sob o capitalismo), isto é, não se resumem a uma forma única de
explicar a vida social, cada uma das sociologias parte de um desses princípios. Esta situação,
sociologia da educação
portanto, também está presente na explicação, pela Sociologia, de um importante fenômeno
social: a educação.
Vejamos agora, então, o que é a Sociologia da Educação:
1. Ramo da sociologia que estuda os aspectos sociológicos da educação, os
valores sociais que determinam os objetivos do ensino e seus métodos, a
relação entre os sistemas educacionais e as outras instituições, como a religião,
as instituições políticas e econômicas (HOUAISS). 2. Aplicação da Sociologia
ao estudo dos fenômenos educacionais (DUARTE, 1986). 3. Sociologia da
educação ou pedagogia social.” (BRASIL, 2010)
Dessa forma, trata-se da compreensão da educação como fenômeno social. Mas, lem-
bremos que nossos estudos sobre Sociologia até aqui empreendidos apontam, principalmente,
para a Sociologia como uma ciência que estuda a vida social no capitalismo, de forma integra-
dora ou contraditória. Temos, então, que a Sociologia da Educação trata do fenômeno educativo
como um fenômeno social manifesto no capitalismo de forma integradora ou contraditória.
Iniciemos pela ideia de que compreendemos a educação como um fenômeno essen-
cialmente humano, isto é, como uma necessidade do ser humano, incompleto, de fazer-se
humano. Esse permanente “vir-a-ser” humano (SAVIANI, 2005) refere-se a um processo,
individual e coletivo, de humanização que confere humanidade ao ser humano. Isso signi-
fica dizer que, a partir de uma base biológica-natural, o ser humano passa por um processo,
cultural, de tornar-se humano, de fazer-se humano pela apropriação do conjunto de conhe-
cimentos, comportamentos, valores, símbolos e signos produzidos pela humanidade. Isso
significa dizer que o ser humano é a única das espécies vivas que necessita “aprender” a ser,
aprender a ser o que é, o ser humano precisa aprender a ser humano. A educação, portanto,
é um processo de formação do ser humano como humano, um processo de apropriação de
elementos culturais que garantem ao humano uma formação humana.
Esse fenômeno cultural, de apropriação de conhecimentos, comportamentos, valores,
símbolos e signos produzidos pelos grupos sociais, chamado genericamente de educação, é um
fenômeno individual e coletivo, mas sempre social, um fenômeno de criação e transmissão da
cultura. Dessa forma, os temas da Sociologia – ou das Sociologias – que se relacionam direta-
mente com a educação, segundo Kruppa (1994, p. 22), são: “socialização, cultura, e especial-
mente, o aparecimento da escola enquanto instituição social, a educação escolar e a sociedade,
a educação fora da escola, conteúdos culturais do processo educativo fora e dentro da escola.”
Se não existe uma Sociologia, mas diferentes Sociologias com diferentes análises e inter-
pretações da vida social no capitalismo, também temos que considerar que existem diferentes
Sociologias da Educação. Para nosso estudo, vejamos tr~es pensadores cujas obras fazem parte
da história da Sociologia e que expressam diferentes análises: Durkheim, Marx e Weber.
5
2. O pensamento de Marx, Weber e Durkheim
sobre a vida social e a educação
2.1 K arl Marx (1818-1883)
sociologia da educação
Nascido na Alemanha, Marx foi contemporâneo de Darwin, Kierkegaard, Boudelai-
re, Dostoiévski e Tolstói, entre outros. De família burguesa de origem judaica, Marx ficou
conhecido tanto pelo seu trabalho intelectual, quanto pela sua ação revolucionária. Doutor
em Filosofia foi por motivos políticos da Universidade para o Jornalismo (1843). Toda sua
trajetória de vida foi agitada, mudando-se muitas vezes por perseguições de diferentes go-
vernos. Escreveu diversos trabalhos sobre economia, política e filosofia. Suas obras, algumas
com Engels, têm como fundamento o pensamento materialista histórico dialético. Depois da
passagem pela França, Bélgica e, novamente pela Alemanha, instala-se definitivamente em
Londres, onde, sem trabalho fixo, viveu durante longo tempo uma vida de miséria, pertur-
bada pelos problemas de saúde, o trabalho difícil e sofrendo a morte de três de seus cinco
filhos. Somente nos dez últimos anos de sua vida, teve certo equilíbrio financeiro, graças a
Engels, e algum reconhecimento de sua produção teórica e intelectual. Na então capital do
capitalismo, a Inglaterra, ele escreve a crítica mais consistente já dirigida contra este regime:
O Capital. Só o primeiro tomo foi publicado durante a vida do autor, os outros dois inacaba-
dos foram terminados por Engels e publicados depois de sua morte (KONDER, 1999).
Sua contribuição metodológica é o Materialismo Histórico e Dialético. Embora Marx
não tenha se dedicado à construção da Sociologia como nova ciência em momento algum de
sua trajetória intelectual e política, suas ideias e ações são, ainda hoje, consideradas como
a maior referência a uma Sociologia radicalmente crítica ao capitalismo. Diferentemente de
Durkheim e Weber, Marx foi um revolucionário no sentido das ideias, da crítica ao capitalis-
mo, mas também na ação: um militante das ligas operárias revolucionárias.
É, portanto, no Método Materialista, Histórico e Dialético desenvolvido por Marx e
Engels que buscamos a Sociologia marxista, uma radical crítica à vida social no capitalismo.
Em nenhum momento, na importante produção intelectual de Marx, encontraremos em sua
obra referências explícitas à Sociologia, mas suas análises sobre a realidade social foram
tão profundas que o tornou, juntamente com Durkheim e Weber, um dos três mais impor-
tantes teóricos da Sociologia. Martins afirma sobre Marx e Engels que: “Em suas obras,
disciplinas que hoje chamamos de antropologia, ciência política, economia, sociologia, estão
profundamente interligadas, procurando oferecer uma explicação da sociedade como um
todo, colocando em evidencia as suas dimensões globais” (MARTINS, 1985, p. 52). Nesse
sentido, afirma-se que Marx pode ser considerado como o fundador da Sociologia enquanto
ciência que estuda criticamente, com base na lógica dialética e na perspectiva materialista e
histórica, a vida social no capitalismo. Essa Sociologia, portanto, tem um caráter teórico e
prático-transformador.
Então, o que é o Método Materialista, Histórico e Dialético? Trata-se de um caminho
epistemológico para a interpretação da realidade, da realidade histórica e social. Esse caminho
metodológico de explicação da realidade implica em compreender, pelo movimento do pensa-
6
mento (dialética e contraditoriedade) e de forma ampla e complexa (totalidade e concreticida-
de), os fenômenos e os problemas da vida social no capitalismo. Partindo do princípio de que a
realidade humana e social é dialética, pois, longe de ser estática, mecânica e linear, mostra-se
dinâmica e contraditória, essa “filosofia” propõe captar essa dinamicidade e contradição para
sociologia da educação
que possamos compreender essa realidade de forma mais concreta para transformá-la.
Se a dialética pode ser compreendida como a lógica do movimento do pensamento
que busca na contradição a compreensão do mundo, como compreender o caráter material
e histórico do Método? A materialidade se expressa pela compreensão de que os homens
se organizam em sociedade para a produção e a reprodução da vida e a historicidade se ex-
pressa pela compreensão de que os homens vêm se organizando diferentemente através dos
tempos – da história. Isso significa dizer que, embora Marx tenha valorizado muito a ciência
como instrumento de compreensão do mundo – para alguns, valorizado até demais – ele se
distanciou de alguns paradigmas científicos de seu tempo re-inventando uma nova e original
forma para a lógica dialética. Mas
Ao contrário do positivismo, que procurou elaborar uma ciência social
supostamente “neutra” e “imparcial”, Marx e vários de seus seguidores
deixaram claro a íntima relação entre o conhecimento por eles produzido
e os interesses da classe revolucionária existente na sociedade capitalis-
ta – o proletariado. Observava Marx, a este respeito, que assim como os
economistas clássicos eram os porta-vozes dos interesses da burguesia, os
socialistas e os comunistas constituíram, por sua vez, os representantes da
classe operária (MARTINS, 1985, p. 59).
Foram muitos os temas a que ele – com ou sem Engels – se dedicou. Mas, para a com-
preensão da educação, como contribuição à Sociologia da Educação, podemos identificar no
pensamento marxista as categorias de totalidade, concreticidade, historicidade e contradito-
riedade. Essas categorias são essenciais para a compreensão e ação dos processos educativos
na perspectiva crítica. Nesse sentido, a lógica dialética supera a lógica formal que “amarra”
o pensamento impedindo-lhe o movimento necessário para a compreensão das coisas. Para
a lógica dialética, o mundo é dialético (movimenta-se e é contraditório), então, uma teoria,
que leve em conta essa dinamicidade e contraditoriedade, pode ser instrumento lógico de
interpretação da realidade. O caráter material (os homens se organizam em sociedade para
a produção e a reprodução da vida) e histórico (como eles vêm se organizando através do
tempo) do método articula-se ao seu caráter dialético.
Movimentar o pensamento, dialeticamente, significa, então, refletir sobre a realidade.
Saviani (1991) sugere, nesta perspectiva, aos educadores um caminho lógico para a compre-
ensão da realidade educativa: partir do empírico (a realidade dada, o real aparente, o objeto
assim como se apresenta à primeira vista) e pelas abstrações (elaborações do pensamento,
reflexões, teoria) chegar ao concreto (compreensão mais elaborada do que há de essencial no
objeto, concreto pensado). Assim, a diferença entre o empírico (real aparente) e o concreto
(real pensado) são as abstrações (reflexões) do pensamento que tornam mais completa, me-
lhor compreendida, filosoficamente concebida, a realidade considerada.
7
Passemos, agora, a analisar a educação em uma perspectiva metodológica históri-
ca e dialética. O primeiro ponto a ser considerado é a educação como formação humana
que implica no desenvolvimento pleno dos sujeitos, em um processo de humanização que
é histórico, concreto e dialético, expresso pela prática social (LOUREIRO, 2007). O desen-
sociologia da educação
volvimento pleno da pessoa humana é definido no pensamento marxista como “unilateral”
(MARX; ENGELS, 1979; MARX, 1993), referindo-se ao desenvolvimento total, completo,
multilateral, pleno, das possibilidades de ser humano. A educação é, portanto, a busca desse
desenvolvimento pleno.
Mas aprofundemos a ideia de desenvolvimento pleno, pois ela emerge da concepção
marxista de homem. Iniciemos pela ideia de que a essência humana – a natureza humana – é
definida pelo trabalho. O trabalho é categoria central na teoria marxista que o concebe para
além do conceito econômico, ou seja, em uma perspectiva filosófica, como uma atividade vital,
essencial e humana. Dessa forma, a humanidade no ser humano em sua relação com o mundo
é construída com base no caráter finito e limitado da naturalidade humana que coloca o ho-
mem em uma situação de dependência do seu eu complementar, chamado por Marx de “corpo
inorgânico”. Esse “corpo” refere-se ao mundo natural transformado pelo trabalho humano.
Isso significa dizer que, por pertencermos a uma espécie limitada do ponto de vista de sua
natureza, necessitamos desenvolver um “corpo inorgânico”, um “corpo complementar” para
nossa sobrevivência, e a atividade que leva ao desenvolvimento deste “corpo” é o trabalho.
Pode-se deduzir, então, que é mais importante considerar o trabalho de forma plena,
complexa, como atividade de ação dos homens no mundo, do que simplesmente de forma
econômica. Isto é, nós, humanos, necessitamos para nos relacionar com o mundo de instru-
mentos, o que Marx chamou, pela enorme importância que esses instrumentos têm para nós,
de “corpo inorgânico”. Então, a partir desta ideia, o trabalho define a natureza humana, o
homem se relaciona com o mundo natural pelo trabalho.
Pode-se notar que a concepção de homem se completa no pensamento marxista pela
consideração de que, somente, se pode compreender a essência humana no desenvolvimento
histórico, por meio do trabalho e da história. Desta forma, podemos afirmar que, para Marx:
“Tal e como os indivíduos manifestam sua vida, assim o são. O que eles são coincide, por
conseguinte, com sua produção, tanto com o que produzem como com o modo como produ-
zem” (MARX; ENGELS, 1979, p. 19). Isso leva a acrescentar, na construção da concepção de
homem, no modo de produção capitalista, a ideia da sua definição pela divisão do trabalho.
A divisão do trabalho, organização típica e original do modo de produção capitalis-
ta, que separa o intelectual do manual, colocando de um lado os proprietários dos meios de
produção – a burguesia – e de outro os proprietários da força de trabalho – o proletariado –,
aliena os trabalhadores. Aliena porque, como atividade vital, ao separar aqueles que pensam
o trabalho daqueles que o executam, “rouba” do trabalhador a possibilidade de formação
plena pelo trabalho. Isto é, a divisão do trabalho no capitalismo impede que os trabalhadores
se desenvolvam plenamente, pois os afasta da realização do processo de trabalho total: pen-
samento e ação. Esse é o sentido filosófico e sociológico da lógica capitalista de exploração
analisada por Marx.
8
Então, sob a base teórica do pensamento marxista, a omnilateralidade pode ser conside-
rada como objetivo maior, como finalidade da educação (ENGUITA, 1989; MANACORDA,
1991), no sentido em que Marx compreende a superação das condições históricas de exploração
no capitalismo: a transformação das relações sociais de dominação. Já nos Manuscritos Eco-
nômicos Filosóficos (MARX, 1993), encontramos o conceito de omnilateralidade1. A ideia de
sociologia da educação
que a relação homem-natureza é definida pelo trabalho, traz a omnilateralidade resultante da
atividade vital voluntária, consciente e universal: a apropriação plena do-ser-humano pelo ser
humano é a omnilateralidade. Temos aqui, então, a concepção filosófica do “vir a ser” huma-
no: a ideia do homem como ser natural universal, social e
1. A omnilateralidade diz respeito ao desen-
consciente – omnilateral. volvimento pleno humano, isto é, as possibili-
Nas condições de dominação da sociedade capita- dades, históricas e concretas de desenvolvi-
mento pleno das capacidades humanas que
lista, geradas em sua origem pela divisão social do traba-
não se realiza no capitalismo porque, nesse,
lho e expressas pelas contradições de classe, a omnilate-
o trabalho humano é explorado.
ralidade da pessoa humana não se realiza, resultando na
pessoa unilateral.
Vimos que, no pensamento marxista, o trabalho é a categoria central de análise des-
sas contradições, então, os temas educativos e pedagógicos analisados sob este referencial
tomam também o trabalho como categoria central. A educação, compreendida como forma-
ção humana, como instrumentalização dos sujeitos no processo de humanização, tem como
ponto de partida o trabalho, a atividade vital humana em suas formas históricas, pois elas
definem as relações dos sujeitos entre si e deles com o mundo, natural e social. Nessa linha
de raciocínio, a organização das sociedades e as relações sociais, e as formas históricas das
relações das sociedades com o mundo social e natural são fundamentais para pensar o pro-
cesso educativo na perspectiva crítica. Refletindo sobre “o homem omnilateral” e a função
da educação na sociedade capitalista, Manacorda afirma:
Quanto às implicações pedagógicas que tudo isso comporta, podem expres-
sar-se, em síntese, na afirmação de que, para a reintegração da omnilaterali-
dade do homem, se exige a reunificação das estruturas da ciência com as da
produção. Não pode, de fato, ter validade nem a extensão a todos da cultura
tradicional no tipo de escola até agora existente para as classes dominantes,
nem a permanência da formação subalterna, até agora concedida às classes
produtivas, através da antiga aprendizagem artesanal ou das novas formas de
ensino unidas à indústria moderna. (MANACORDA, 1991, p. 85).
O caráter crítico das análises empreendidas sob o referencial marxista obriga-nos a
considerar que, sob as contradições das relações sociais de dominação as quais têm sua
maior expressão – embora não única – nas formas organizativas do trabalho, não se realiza a
possibilidade de ser humano. Ao contrário, determina formas de desenvolvimento alienantes
da pessoa humana em sua dimensão social e individual. Se a pessoa humana caracteriza-se
por sua ação transformadora na natureza, sendo assim produto da natureza (seu corpo inor-
gânico), um ser natural humano, então, é no processo histórico que ela se faz mais – ou menos
– plena de humanidade.
9
Emerge dessas reflexões o conceito de alienação, fundamental no pensamento marxis-
ta, e também um dos mais importantes conceitos para a compreensão das teorias críticas da
educação e, portanto, da formulação da pedagogia crítica. A compreensão da omnilateralidade
como perspectiva para a educação crítica, exige a compreensão do seu contrário: a alienação.
sociologia da educação
A construção do conceito de trabalho alienado parte da análise da organização do trabalho
no modo de produção capitalista. Nessa forma de organização das relações sociais, segundo
Marx, a alienação é parte integrante do processo de produção, baseado na divisão social do
trabalho. O processo de trabalho que caracteriza o capitalismo implica na alienação do produto
do trabalho e da atividade do trabalho. O produto do trabalho ao transformar-se em mercado-
ria, assumindo o valor de troca que a caracteriza, torna-se objeto estranho – alienado – para
o trabalhador. Desse modo, o trabalhador produz um produto resultante de seu trabalho, mas
não tem sobre ele controle algum, ele o produz não para o seu próprio uso, mas para outro,
que lhe confere valor de troca. Além disso, a alienação do trabalhador na atividade do trabalho
caracteriza-se, na organização do processo de trabalho sob o modo de produção capitalista,
pela impossibilidade dele tomar decisões sobre essa atividade: aquele que realiza a atividade de
trabalho não tem controle do tempo e da sua intensidade. “Assim, o seu trabalho não é voluntá-
rio, mas imposto, é trabalho forçado, explorado. Não constitui a satisfação de uma necessidade,
mas apenas um meio de satisfazer outras necessidades” (MARX, 1993, p. 162).
Em decorrência da organização social do trabalho no capitalismo apresentar-se como
trabalho imposto, alienado, temos a alienação das pessoas humanas. Nesta análise, o traba-
lhador não se realiza plenamente como pessoa humana, é um ser unilateral; cindido em sua
atividade vital. Sob o capitalismo, portanto, o trabalho é uma atividade que não desenvolve
plenamente o ser humano, não o realiza, cinde-o. A divisão do trabalho, entre trabalho intelec-
tual (aqueles que pensam o processo de trabalho – os proprietários dos meios de produção) e
manual (aqueles que executam o trabalho – os trabalhadores) no capitalismo resulta em pessoas
humanas alienadas:
No trabalho alienado essa identidade se transforma em antagonismo, o outro
se apresenta a mim como um ser estranho, independente, irreconhecível.
Alienação inventa a solidão humana, transforma cada um de nós em seres
irreconhecíveis perante o outro, sem par perante a própria espécie (CODO,
1985, p. 33).
A alienação transforma, portanto, as relações sociais entre pessoas em relação entre “coi-
sas” – mercadoria. Este movimento constituinte das relações sociais transforma também os
proprietários dos meios de produção, submetidos à lógica desse mercado, em seres humanos
alienados. O capital aparece para todos como “naturalmente” determinante das vidas das pes-
soas e das classes sociais. A alienação, que reifica as relações sociais, transformando pessoas
em “coisas” e a partir delas gerando o “fetiche” (CHAUÍ, 1981), leva à compreensão das ati-
vidades humanas como alheias, independentes, autônomas à vontade dos homens, gerando
ideologias. Temos, então, que:
[...] (a alienação) torna objetivamente possível a ideologia, isto é, o fato de
que no plano da experiência vivida e imediata as condições reais da exis-
10
tência social dos homens não lhes apareçam como produzidas por eles,
mas, ao contrário, eles se percebem produzidos por tais condições e atri-
buem a origem da vida social a forças ignoradas, alheias às suas, superiores
e independentes (deuses, Natureza, Razão, Estado, destino, etc.), de sorte
sociologia da educação
que as ideias quotidianas dos homens representam a realidade de modo
invertido e são conservadas nessa inversão, vindo a constituir os pilares
para a construção da ideologia (CHAUÍ, 1981, p. 86-87).
Dessa forma, o conceito de ideologia, na formulação política que lhe deram Marx
e Engels, superou o conceito de “uma teoria geral das ideias” ao afirmar que, em toda so-
ciedade de classes, a dominação exercida pelas classes dominantes pode ser expressa pela
manipulação. Essa manipulação é obtida por um corpo de ideias produzidas pela classe
dominante que será disseminado como ideias universais, verdadeiras, válidas para todos: “a
ideologia é um dos meios usados pelos dominantes para exercer a dominação, fazendo com
que esta não seja percebida como tal pelos dominados” (CHAUÍ, 1981, p. 86).
O conceito de ideologia na sociedade de classes, portanto, tem origem na divisão do
trabalho: alienado, cindido, dividido. Essa divisão se estende para todas as relações sociais. A
divisão entre o trabalho agrícola e o pastoril, entre o realizado no campo e no comércio, entre
as diversas formas do trabalho urbano e, finalmente, em sua divisão mais elaborada entre o
manual e o intelectual leva à especialização do trabalho. No capitalismo, o trabalhador não
produz todos os bens necessários a sua subsistência, produz apenas uma parte desses bens,
sintetizados na mercadoria: o excesso do que produz e a carência do que não produz instala
o processo de troca. A divisão do trabalho e sua consequente divisão do produto do trabalho
realizam-se sob a propriedade privada dos meios de produção, dividindo a sociedade entre
proprietário das condições de produção e proprietários unicamente da força de trabalho: a
sociedade desigual. A contradição de interesses entre essas duas classes sociais constitui a
principal característica do capitalismo.
Ao realizar a divisão do trabalho e das classes sociais, o capitalismo veicula as ideias
sobre o mundo do trabalho e sobre as relações sociais de produção de forma autônoma, como
se elas fossem independentes das relações materialmente construídas pelos homens. A ideo-
logia é, então, essa explicação falsa das relações sociais, negação da realidade. Nesse sentido,
a representação da realidade na consciência dos homens sofre a intervenção da ideologia:
Os homens são os produtores de suas representações, ideias, etc., mas os
homens reais e atuantes, tal e como se encontram condicionados por um
determinado desenvolvimento de suas forças produtivas e pelo intercâm-
bio que a esta corresponde até chegar a suas formações mais avançadas.
A consciência nunca pode ser outra coisa que o ser consciente e o ser dos
homens é seu processo real de vida. Se em toda ideologia os homens e
suas relações aparecem de cabeça para baixo, como numa câmara escura,
é porque este fenômeno deriva de seu processo histórico de vida da mesma
maneira que a inversão dos objetos na retina deriva de seu processo de vida
diretamente físico (MARX; ENGELS, 1982, p. 14).
11
A ideologia, portanto, explica a realidade das relações sociais diferentemente de como
elas são na vida real. Aliás, mostra-a como “invertida”, de modo camuflado para que não seja
percebida como realmente se configura. Desse modo,
[...] é tomar o resultado de um processo como se fosse seu começo, tomar
sociologia da educação
os efeitos pelas causas, as consequências pelas premissas, o determinado
pelo determinante. Assim, por exemplo, quando os homens admitem que
são desiguais porque Deus ou a Natureza o fez desiguais, estão tomando
a desigualdade como causa de sua situação social e não como tendo sido
produzida pelas relações sociais e, portanto, por eles próprios, sem que o
desejassem e sem que o soubessem (CHAUÍ, 1981, p. 104).
Por essas razões, a ideologia somente tem sentido na sociedade de classes para manter a ex-
ploração e dominação dos homens sobre os homens, negando a existência das classes sociais como
fundamento das relações sociais. A ideologia dominante, dessa forma, é a da classe dominante. Por
isso, falamos mais da produção da contraideologia na educação crítica do que na ideologia da clas-
se dominada: “As ideias dominantes nada mais são do que a expressão ideal das relações materiais
dominantes, as relações materiais dominantes concebidas como ideias” (CHAUÍ, 1981, p. 93).
Nesse sentido, a classe que controla as condições materiais de produção controla também
a produção e a distribuição das ideias, lançando mão de diversos e diferentes meios de caráter
educativo: a família, a religião, os meios de comunicação e, particularmente, a escola. Essas
instituições sociais exercem um papel educativo de reprodução da ideologia das classes domi-
nantes. Para Marilena Chauí:
A ideologia é um conjunto lógico, sistemático e coerente de representações
(ideias, e valores) e de normas ou regras (de condutas) que indicam e pres-
crevem aos membros da sociedade o que devem pensar, o que devem valo-
rizar, o que devem sentir, o que devem fazer e como devem fazer (CHAUÍ,
1981, p. 113).
Isso significa dizer que a ideologia é possibilitada pela alienação na medida em que
as relações sociais são coisificadas. Ideologia e alienação são conceitos do pensamento mar-
xista fundamentais para a formulação da pedagogia crítica, pois se esta indica como finali-
dade da educação a omnilateralidade, indica, pois, a superação – que só pode ser histórica e
intencional – da ideologia dominante e da alienação em todas as dimensões da prática social.
Além disso, pensemos na alienação como um fenômeno que não pode ser superado apenas
pela “consciência da condição alienada”: o sujeito alienado não pode, por si próprio, a partir
da consciência da alienação, promover sua superação. A consciência da alienação é neces-
sária para a sua superação, mas insuficiente, porque é concretamente incapaz de promover a
transformação do mundo real que exige a ação social coletiva.
Essa constatação tem consequência direta e imediata para a educação: o enfrentamen-
to da ideologia e da alienação não se faz no plano abstrato, mas pela práxis (ação prática
refletida, pensada concreta e historicamente). Para Marx, a práxis é prática articulada à teo-
ria, desenvolvida com e através de abstrações do pensamento, como busca de compreensão
12
mais consistente e consequente da atividade prática. Marx vai ainda mais longe, para ele, a
prática somente existe se for pensada, compreendida pelo pensamento através da reflexão
teórica. Para ele, a prática social – ou a prática educativa – é a práxis. Para formulação de
uma pedagogia crítica, é fundamental pensarmos nessas relações entre teoria e prática, como
sociologia da educação
nos apresenta Chauí
A relação entre teoria e prática é uma relação simultânea e recíproca, por
meio da qual, a teoria nega a prática enquanto prática imediata, isto é, nega
a prática como um fato dado, para revelá-la em suas mediações e como
práxis social, ou seja, como atividade socialmente produzida e produtora
da existência social (CHAUÍ, 1984, p. 81).
A busca da superação da ideologia e da alienação é, então, parte do processo de forma-
ção humana omnilateral que implica na articulação radical, no processo educativo, da articu-
lação teoria e prática compreendida como práxis social, como atividade socialmente produzi-
da e produtora da existência social. A educação, orientada teórica e metodologicamente pelo
pensamento marxista, articula, no processo de formação humana, a consciência da alienação
e da ideologia com a ação transformadora das relações sociais que as produzem. A educação,
no âmbito da pedagogia crítica, tem como preocupação central a prática social transformado-
ra, a construção de relações sociais plenas de humanidade dirigidas para a superação da desi-
gualdade social. Trata-se, portanto, de educar para a transformação, não do sujeito individual,
mas das relações sociais de dominação que determinam relações sociais injustas e desiguais.
A educação crítica, no sentido marxista, tem caráter essencialmente político, democrático,
emancipatório e transformador. Assim, podemos afirmar que, nessa perspectiva sociológica,
a educação não transforma a realidade social, mas instrumentaliza os educandos para que
realizem, em sua prática social, a transformação das condições sociais no capitalismo. Esta é
a contribuição da Sociologia de Marx para a Sociologia da Educação.
13
Então, a análise funcionalista tem como procedimento básico a objetividade na com-
preensão das relações sociais: “Os fatos sociais devem ser tratados como coisas – eis a pro-
posição fundamental do nosso método, e a que mais tem provocado contradições” (FORAC-
CHI; MARTINS, 1977, p. 23). Os fatos sociais são, portanto, o objeto da Sociologia e o método
é a investigação objetiva, científica, positivista, desses fatos. Conforme Durkheim:
sociologia da educação
Os fatos propriamente ditos, porém, constituem para nós necessariamente,
algo de desconhecido, no momento em que empreendermos delinear-lhes a
ciência: são coisas ignoradas, pois as representações que podem ser formula-
das no decorrer da vida tendo sido efetuadas sem método e sem crítica, estão
destituídas de valor científico e devem ser afastadas (FORACCHI; MAR-
TINS, 1977, p. 24).
A explicação da vida social é o “fato social”, o objeto de estudo da Sociologia. Segundo
Foracchi e Martins (1977), o indivíduo não pode ser considerado objeto de estudo da Socio-
logia. O que realmente interessa a essa Sociologia é o enfoque no indivíduo inserido em uma
determinada realidade social objetiva que, acima dele em termos de prioridade, caracteriza-se
por ser essencialmente grupal, coletiva. Ou seja, para Durkheim, o “fato social” é exterior aos
indivíduos. Pela Sociologia, os fatos devem ser conhecidos, revelados, para que o conjunto dos
indivíduos siga regras que resultem na harmonia das relações sociais, na ordem estabelecida
para que essas relações, sob o capitalismo, consigam ser produtivas de forma a garantir o bem
estar a todos. A tarefa da Sociologia, portanto, é identificar, pela aplicação do método científi-
co, os problemas sociais e buscar soluções para eles, pois é o desconhecimento dos problemas
que impede o desenvolvimento da sociedade. Além de exteriores, os fatos sociais, são também
concebidos como coercitivos:
As nossas maneiras de comportar, de sentir as coisas, de curtir a vida, além
de serem criadas e estabelecidas “pelos outros”, ou seja, através de gerações
passadas, possuem qualidade de serem coercitivas. Com isso, Durkheim de-
sejava assinalar o caráter impositivo dos fatos sociais, pois segundo ele com-
portamo-nos segundo o figurino das regras socialmente aprovadas (MAR-
TINS, 1985, p. 49).
Podemos afirmar, assim, que Durkheim foi um dos pioneiros na análise de que os fa-
tores coercitivos garantem que o indivíduo, desde seu nascimento, se adapte, no sentido de
“moldar”, ao grupo social ao qual pertence. Isto é, o indivíduo faz-se sujeito social segundo os
parâmetros historicamente impostos pelo seu grupo. Esta estruturação do indivíduo segundo
padrões pré-estabelecidos e exteriores a ele, diz respeito aos aspectos psicológicos, morais,
pelos hábitos e costumes, pelo comportamento, ou seja, por toda sua constituição como indiví-
duo de determinada cultura. Podemos observar, então, a tese de que esse processo é, de certa
forma, um processo inconsciente. Mas, se por um lado, inconsciente, por outro, é determinante
e define todo o comportamento social dos indivíduos. Sobre isso, e sobre a polêmica que essas
afirmações causaram – e ainda causam – Durkheim afirma que a vida individual e a social são
distintas, que “a síntese sui generis que constitui toda sociedade desenvolve fenômenos no-
vos, diferentes daqueles que se passam nas consciências solitárias” (FORACCHI; MARTINS,
1977, p. 26) e que, portanto, o fato social é impositivo e externo ao indivíduo.
14
Sua tese de doutorado, intitulada De la Division du Travail Social e publicada em
1893, trata da interação social entre os indivíduos que integram a sociedade: principal tema
de estudo na Sociologia de Durkheim. Nesse sentido, a tarefa da Sociologia, de paradigma
positivista, é revelar os elementos que possibilitam a unidade e estabilidade das relações
sociologia da educação
sociais, para que permaneçam ao longo do tempo – lembremos, neste sentido, a importância
da “ordem social” do positivismo de Comte. Nessa perspectiva sociológica, a existência da
sociedade exige solidariedade e a divisão do trabalho é uma forma concreta de expressão
dessa solidariedade, de consenso entre os indivíduos.
Desse modo, a divisão do trabalho é um processo natural necessário ao equilíbrio
social assim como a divisão de funções do organismo para seu equilíbrio. A esse processo
natural, Durkheim chamou de “solidariedade orgânica” em analogia com o equilíbrio que
os diferentes órgãos e funções garantem aos organismos vivos. As crises sociais, tal como
o desequilíbrio social, consideradas pelo estudioso como uma doença, uma anomalia social,
deveriam ser corrigidas com a contribuição da Sociologia. Nesse sentido:
O pensamento de Durkheim foi usado muitas vezes para justificar atitudes
e ideologias conservadoras, interessadas em manter a ordem social vigen-
te. Como já vimos, o pensamento liberal conservador justifica a desigual-
dade social como fenômeno natural, afirmando que os homens são dotados
de capacidades diferentes. A desigualdade é tomada como uma questão
individual e não social (KRUPPA, 1994, p. 56).
O princípio integrador do pensamento de Durkheim sobre a organização da vida so-
cial, segundo Kruppa, assume essa característica porque considera a sociedade um todo
orgânico sem contradições. Esse princípio expressa, talvez de forma mais clara, o caráter
conservador dessas análises sociológicas. A sociedade é um todo orgânico organizado de
forma hierárquica, segundo características de renda, instrução, prestígios etc. Esse todo or-
gânico é, então, garantido pela complementação – integração – entre os diferentes “extratos
sociais”. Temos, então, a ideia de que, sendo a sociedade estratificada sob o modo capitalista
de organização da vida social, está garantida a ascensão social depositada no mérito indivi-
dual. Vale destacar que essa ideia defendida pelo pensamento conservador da Sociologia de
Durkheim é também um dos princípios fundamentais do pensamento liberal. Todavia o que
difere um do outro, segundo seus críticos, reside na constatação de que para os conservado-
res essa possibilidade existe, mas a partir do princípio integrador, assim, os extratos sociais
são determinados pela existência do todo orgânico. Temos em Durkheim, então, diferente-
mente da mobilidade social liberal, um determinismo social conservador.
Enguita (1999) identifica na Sociologia de Durkheim um realismo epistemológico, isto
é, no presente está toda possibilidade de realização humana: “a ordem social estabelecida
em seu presente imediato sem qualquer possibilidade de intervenção” (1999, p. 50, tradução
nossa). Sendo assim, a sociedade é um todo orgânico dotado de leis próprias, e cabe à So-
ciologia descobri-las para garantir o equilíbrio social, os indivíduos têm uma herança social
de tal magnitude que não cabe a eles intervir, mas adaptar-se de tal forma pela reprodução
de um conjunto de normas e valores que garantam a ordem social e, portanto, o equilíbrio
15
da sociedade. Por equilíbrio entendemos “harmonia”, ou seja, falta de conflitos. Conforme
Martins, Durkheim:
Disposto a restabelecer a “saúde” da sociedade, insistia que seria neces-
sário criar novos hábitos e comportamentos no homem moderno, visando
sociologia da educação
ao “bom funcionamento” da sociedade. Era de fundamental importância,
nesse sentido, incentivar a moderação dos interesses econômicos, enfatizar a
noção de disciplina e de dever, assim como difundir o culto à sociedade, às
suas leis e à hierarquia existente (MARTINS, 1985, p. 50).
Isso significa que, para Durkheim, a tarefa fundamental da Sociologia é estudar tão pro-
fundamente os problemas sociais que, descrevendo seu funcionamento, a normalidade possa
ser restabelecida, assim como o bom funcionamento da sociedade e descobertas se concreti-
zem em técnicas de controle na perspectiva conservadora das relações sociais. Lembremos do
eixo de nossos estudos nesta disciplina, a igualdade e desigualdade social para a Sociologia
de Durkeim, que se fundamenta na manutenção e preservação da ordem social capitalista.
Este problema social, pó sua vez, deve ser tratado sob a perspectiva de que a divisão social do
trabalho é um processo natural e as diferenças entre os grupos sociais são necessárias para o
equilíbrio da sociedade, do “todo orgânico” (KRUPPA, 1994). É sobre essa base teórica que se
ergue a Sociologia da Educação de Durkheim.
Então, como compreender a educação pela perspectiva sociológica de Durkheim? En-
guita (1999) considera-o fundador da Sociologia da Educação, pois dedicou-se ao estudo da
educação em sua teoria sociológica. Se o objetivo da Sociologia, assim como ele a compre-
ende, é a descoberta do funcionamento da sociedade para que se possam estabelecer normas
e técnicas de controle para a manutenção da ordem capitalista, a educação emerge como um
fenômeno social importante e privilegiado. Ou seja, a educação, na Sociologia de Durkheim,
é essencialmente adaptativa, ou seja, há uma adaptação do sujeito social à sociedade tal qual
ela se estabelece no modo capitalista de organização social. A sociedade na manutenção de seu
todo orgânico necessita preparar, no sentido de moldar, os sujeitos sociais que a constituem
como forma de manutenção da ordem exigida pela organização das relações sociais sob o ca-
pitalismo. Então,
Cada sociedade, considerada em momento determinado de seu desenvolvi-
mento, possui sistema determinado de educação que se impõe aos indivíduos
de modo geralmente irresistível. É uma ilusão acreditar que podemos educar
nossos filhos como queremos. Há costumes com relação aos quais somos
obrigados a nos conformar; se os desrespeitamos muito gravemente, eles se
vingarão em nossos filhos. Estes, uma vez adultos, não estarão em estado de
viver no meio de seus contemporâneos, com os quais não encontrarão harmo-
nia. Que eles tenham sido educados segundo ideias passadistas ou futuristas
não importa, num caso, como noutro, não são de seu tempo e, por consequên-
cia, não estarão em condições de vida normal (DURKHEIM, 1975, p.36).
Evidencia-se nessa citação a argumentação do próprio Durkheim sobre a função adap-
tativa, do ponto de vista social, da educação. Nesse sentido, o processo educativo adaptador
16
tem o funcionamento ideal da sociedade capitalista como objetivo, isto é, a formação dos
sujeitos, pela educação, tem no bom funcionamento da sociedade moderna capitalista seus
objetivos. Enguita (1999) também identifica que, na Sociologia da Educação de Durkheim,
a sociedade capitalista com a divisão social do trabalho, como um todo orgânico e solidário,
é o ponto de partida para a argumentação pela educação como “um meio privilegiado e po-
sociologia da educação
deroso para impor um modelo de sociedade superintegrada, ordenada e moral” (ENGUITA,
1999, p. 50). Isso se dá, segundo esse autor, porque:
A educação, na teoria durkheimiana, apoia-se na supersocialização do
sujeito humano, em congruência com o realismo epistemológico de sua
Sociologia, que na configuração do presente encontra o horizonte último
e inexorável de toda possibilidade de realização humana. Realismo episte-
mológico, sistema social funcional, razão positiva e educação moral, cons-
tituem dimensões de um princípio absoluto: a ordem social estabelecida
em sua imediatez presente e livre de qualquer voluntarismo. A funcionali-
dade do sistema se converte em sua própria racionalidade. Consequente-
mente, a realidade social é racional ou, em outros termos, a racionalidade
do sistema social não é outra que a inerente as instituições que o integram
e, portanto está constituída pelas normas e valores que presidem sua ação
(ENGUITA, 1999, p. 50).
Além disso, destaca-se também na teoria sociológica de Durkheim o caráter múltiplo
e uno da educação. Discutindo com pensadores que, já naquele tempo, buscavam determinar
os fins da educação de forma única e universal, e com suas preocupações metodológicas ra-
cionais e positivistas, ele afirmava – em especial em Educação e Sociedade (DURKHEIM,
1975) – que, somente, a observação empírica do funcionamento da sociedade permitiria
dizer qual a finalidade da educação.
A análise das formas educativas históricas das diferentes sociedades, segundo a Socio-
logia da Educação durkheimiana, mostra que a educação tem em comum a transmissão de
um conjunto de elementos culturais de uma geração à outra (dos adultos para as crianças),
sendo isso, portanto, uma característica: “Não há povo em que não exista certo número de
ideias, sentimentos e práticas que a educação deve inculcar a todas as crianças, indistinta-
mente, seja qual for a categoria social a que pertençam” (DURKHEIM, 1975, p. 40).
Por outro lado, é também a análise histórica que mostra como as diversas sociedades
organizaram diferentemente a educação de seus filhos, atendendo às suas necessidades so-
ciais mais características. Essa diversidade nas propostas educativas para uma determinada
sociedade é o que ele chamou do caráter múltiplo da educação. Mas, Durkheim vai além,
considerando que o eixo organizativo da sociedade moderna é a divisão social do trabalho,
argumenta a favor de diversas educações para as diferentes inserções dos indivíduos no
mundo do trabalho. Ou seja, para ele, cada profissão necessita de aptidões próprias e conhe-
cimentos especiais, inclusive no que diz respeito à formação ética e moral, portanto, as crian-
ças devem ser preparadas para certas funções sociais, relacionadas ao mundo do trabalho.
Então, a educação não pode ser a mesma para todos, mas direcionada a sua inserção social.
17
Resumindo, cada sociedade constrói um certo ideal de sujeito, do ponto de vista intelectual,
físico e moral, e esse ideal é o que define o sistema educativo desta sociedade.
Então, fica claro que a função adaptadora, moralista e disciplinatória da educação
sociologia da educação
representa a abordagem central desta Sociologia. Trata-se de uma educação que temos cha-
mado, no estudo das teorias pedagógicas, de educação tradicional (SAVIANI, 2008). O pro-
cesso educativo defendido por essa teoria sociológica concerne à transmissão racional e sis-
tematizada de normas e valores de conduta social, desejáveis para a manutenção da ordem
social e o funcionamento ideal da organização da sociedade capitalista.
Essas ideias têm sido identificadas pela teoria pedagógica tradicional. Trata-se de,
pela forma pedagógica da transmissão, da assimilação acrítica de conteúdos tradicionais e
valores morais presentes no projeto econômico, social e político conservador da sociedade
capitalista. Podemos perceber, então, que muitas propostas educativas que veiculam ideias
bastante moralistas e disciplinatórias sobre o comportamento dos educandos têm essa teo-
ria sociológica como referência. Os valores morais tradicionais reaparecem, em propostas
educativas atuais, vestidos, agora, com valores de comportamentos socialmente desejados,
socialmente corretos. Com objetivos aparentemente novos e “nobres”, esses processos edu-
cativos são os mesmos processos adaptativos e disciplinadores dos processos tradicionais: in-
teriorização, acrítica, de valores impostos através dos processos educativos, escolares ou não.
Assim, temos a educação como a tarefa de promover mudança de comportamentos socialmente
inadequados – a educação de fundo disciplinatório e moralista, ou de “adestramento” social.
18
fendia uma neutralidade própria das ciências sociais, diferentemente da neutralidade das ciên-
cias naturais, contribuindo, assim, para a construção do método e a formação desta ciência.
Opondo-se à abordagem positivista na Sociologia, principalmente à de Durkheim, We-
ber questionou os procedimentos de descrição, mensuração e experimentação no estudo do
sociologia da educação
funcionamento da sociedade e propôs, em seu lugar, a interpretação da realidade social.
Essas interpretações são pensadas, neste sentido, a partir dos indivíduos, inaugurando na
Sociologia uma proposta metodológica que viria a ser conhecida como o método “compre-
ensivo”. Isso significa dizer que a teoria sociológica weberiana dá ênfase à subjetividade, às
motivações individuais das ações dos indivíduos em suas relações sociais. A ação social é,
assim, todo tipo de ação e tem uma orientação “no outro”, ou seja, os fenômenos sociais,
podem ser compreendidos a partir da subjetividade. Desse modo, o foco na compreensão da
vida social incide sobre o indivíduo e suas ações sociais. Essa ênfase na subjetividade e no
indivíduo significa um ponto de partida importante em suas análises acerca da possibilidade
de ação individual consciente no mundo. Para Weber (1980):
Dentro das coordenadas metodológicas que se opunham à assimilação das
ciências sociais aos quadros teóricos das ciências naturais, Weber concebe
o objeto da sociologia como, fundamentalmente, “a captação da relação
de sentido” da ação humana. Em outras palavras, conhecer um fenômeno
social seria extrair o conteúdo simbólico da ação ou ações que o configu-
ram. Por ação, Weber entende “aquela cujo sentido pensado pelo sujeito ou
sujeitos é referido ao comportamento dos outros; orientando-se por ele o
seu comportamento”. Tal colocação do problema de como se abordar o fato
significa que não é possível propriamente explicá-lo como resultado de um
relacionamento de causas e efeitos (procedimento das ciências naturais),
mas compreendê-lo como fato carregado de sentido, isto é, como algo que
aponta para outros fatos e somente em função dos quais poderia ser conhe-
cido em toda a sua amplitude (WEBER, 1980, p. 2-3).
Esse aporte teórico-metodológico é de fundamental importância nessa Sociologia para
as interpretações da realidade social no capitalismo, que é fortemente marcado pela raciona-
lidade. Diferentemente de Marx, esse teórico social argumentava a favor das possibilidades
históricas de superação das sociedades conservadoras pela racionalidade na organização
da sociedade capitalista e que, para compreender o caráter revolucionário desse novo modo
de organização da vida social, a Sociologia deveria aprofundar-se na compreensão de sua
essência. Os diferentes problemas da sociedade, segundo Weber, são interpretados de forma
compreensiva, de forma a identificar – interpretar e compreender – os motivos subjetivos e
individuais que estão na origem destes problemas. Assim, busca-se compreender os aspectos
culturais, sociais, econômicos, políticos e ideológicos dos fatos sociais em sua interpreta-
ção. As ações sociais do ponto de vista empírico não são descartadas, nem analisadas em
si, mas tomadas como elementos constituintes para a interpretação do sentido (buscado no
indivíduo) dessas ações. Isso significa dizer que a violência nas sociedades atuais, por exem-
plo, sob teoria sociológica weberiana, mais do que o estudo do fenômeno social em si, seria
19
compreendida pela interpretação do significado subjetivo que ela tem para os indivíduos
envolvidos: agressores e agredidos.
É importante destacar também que as análises que Weber fez da vida social no capi-
talismo foram análises críticas, principalmente, no que diz respeito ao poder e à dominação
sociologia da educação
existente neste modo de organização da vida social. No entanto, essa crítica, interpretativa e
compreensiva, não implicava em propostas transformadoras da organização das sociedades
sob o capitalismo. Muito pelo contrário, a compreensão crítica da realidade social empre-
endida por Weber tinha como resultado político o aprimoramento racional dessa forma de
organização social. Como contribuição de seus estudos para a compreensão da vida social no
capitalismo, temos os mais diversos temas, mas os estudos sobre a religião têm papel de des-
taque entre eles: “[...] ao estudar os fenômenos da vida religiosa, desejava compreender sua
influência sobre a conduta econômica dos indivíduos” (MARTINS, 1985, p. 67). Conforme
Martins, Weber tinha a intenção:
[...] de examinar as implicações das orientações religiosas na conduta eco-
nômica dos homens, procurando avaliar a contribuição da ética protestante,
especialmente a calvinista, na promoção do moderno sistema econômico.
Weber reconhecia que o desenvolvimento do capitalismo devia-se em grande
medida à acumulação de capital a partir do final da Idade Média. Mas, para
ele, o capitalismo era também obra de ousados empresários que possuíam
uma nova mentalidade diante da vida econômica, uma nova forma de condu-
ta orientada por princípios religiosos. Em sua visão, vários pioneiros do ca-
pitalismo pertenciam a diversas seitas puritanas e em função disso levavam
uma vida pessoal e familiar bastante rígida (MARTINS, 1985, p. 67).
Essas ideias se expressam, inclusive, no título de um de seus mais importantes traba-
lhos: A ética protestante e o espírito do capitalismo, publicado pela primeira vez em 1905.
Nele, Weber apresenta, como resultados de suas pesquisas, a influência, entre outros fenô-
menos, da ética das religiões “protestantes” na constituição do capitalismo. Weber estudou o
crescimento e consolidação do capitalismo na sociedade moderna, considerando vários dos
seus aspectos e características, tendo como dados empíricos da realidade o comportamento
dos protestantes, interpretando, assim, as relações entre o protestantismo e o capitalismo.
Pela identificação das ações dos protestantes, dos indivíduos protestantes, fundamentadas
em rígidos preceitos religiosos no que diz respeito à moral e ao comportamento individual na
sociedade, Weber identificou aí um elemento importante no desenvolvimento do capitalismo
nas sociedades modernas. Isso é, essa disciplina moral e comportamental dos protestantes
revelava, do ponto de vista do comportamento individual, o “espírito do capitalismo”, um
espírito disciplinado, eficiente, racional. Para o desenvolvimento desta tese, estudou compa-
rativamente diferentes culturas – orientais e ocidentais – capitalistas e não capitalistas, assim
como alguns tipos-ideais (indivíduos que, segundo sua proposta metodológica, condensam
valores, atitudes e comportamentos sociais):
Uma vez indicado o papel que as crenças religiosas teriam exercido na
gênese do espírito capitalista, Weber propõe-se a investigar quais os ele-
mentos dessas crenças que atuaram no sentido indicado e procura definir
20
o que entende por “espírito do capitalismo”. Este é entendido por Weber
como constituído fundamentalmente por uma ética peculiar, que pode ser
exemplificada muito nitidamente por trechos de discursos de Benjamin
Franklin (1706 - 1790), um dos líderes da independência dos Estados Uni-
sociologia da educação
dos. Benjamin Franklin, representante típico da mentalidade dos colonos
americanos e do espírito pequeno-burguês, afirma em seus discursos que
“ganhar dinheiro dentro da ordem econômica moderna é, enquanto isso
for feito legalmente, o resultado e a expressão da virtude e da eficiência de
uma vocação”. Segundo a interpretação dada por Weber a esse texto, Ben-
jamin Franklin expressa um utilitarismo, mas um utilitarismo com forte
conteúdo ético, na medida em que o aumento de capital é considerado um
fim em si mesmo e, sobretudo, um dever do indivíduo. O aspecto mais in-
teressante desse utilitarismo residiria no fato de que a ética de obtenção de
mais e mais dinheiro é combinada com o estrito afastamento de todo gozo
espontâneo da vida (WEBER, 1980, p. 5).
Destaca-se o especial interesse de Weber sobre a sociedade americana em seus estudos
sobre a vida social no capitalismo. Para ele, essa nova sociedade, este novo estilo de vida,
expressava mais do que qualquer outro a possibilidade de organização social moderna, ra-
cional, ética e de valorização do papel dos indivíduos. Temos, então, a expressão prática da
ética protestante e o espírito do capitalismo.
Embora muitos estudiosos da educação e da sociologia da educação considerem que
Weber pouquíssimo se ocupou diretamente dos temas educativos – inclusive a escola –, Le-
rena (1999) afirma que ele construiu uma “ [...] brilhante e rigorosa sociologia da educação”
(p.72) no decorrer de toda sua obra. Destacam-se nos estudos desse autor a sociologia da re-
ligião e a sociologia da educação. Ambas têm para Weber o mesmo objeto: o poder de coação
sobre o indivíduo. Nesse sentido, Lerena (1999) aponta a importância da teoria sociológica
weberiana da educação nos estudos do tão conhecido e respeitado sociólogo da educação
Pierre Bourdieu. Segundo Lerena (1999), Weber concebe
a escola, a família e o aparato eclesiástico como instituições de domina-
ção. Por dominação, entende um estado de coisas pela qual uma vontade
manifesta influencia os atos dos outros (tanto do dominador quanto dos do-
minados), de tal forma que, em um grau socialmente relevante, esses atos
têm lugar como se os dominados houvessem os adotado por si mesmos.
(LERENA, 1999, p. 73)
Lerena (1999) afirma que a comparação, nos mesmos termos, dessas três instituições
implica em uma análise profunda do papel autoritário e dominador que elas exercem na
sociedade em estudo, a sociedade moderna. Entre os diferentes elementos de dominação da
escola na formação – e conformação – dos indivíduos mais jovens, Lerena (1999) destaca a
inculcação de hábitos, a noção de cultura legítima e superior, a função da escola na “imposi-
ção” de uma cultura verdadeira e legítima para os sujeitos jovens.
21
Em um outro trabalho, encontramos Gonzalez (2002) analisando as referências à educa-
ção nas obras de Weber. Essa autora definiu a contribuição desse sociólogo nos temas:
[...] educação para o cultivo do saber, educação racional para a burocracia,
educação para despertar o carisma, educação e religião, universidade, en-
sociologia da educação
sino jurídico, educação militar, educação sacerdotal, educação estamental,
educação econômica, educação política, aprendizagem no trabalho e espe-
cialização profissional (GONZALEZ, 2002, p. 1-2).
Gonzalez (2002) afirma que a contribuição de Weber para a educação pode ser compre-
endida, na Sociologia Política e na Sociologia da Religião de Weber, a partir da descrição das
formas de dominação/coação que encontramos nessas obras. Além disso, essa autora chama-
nos a atenção para um dos mais importantes conceitos que fundamentam uma Sociologia da
Educação weberiana, o de que a sociedade capitalista implica em uma luta latente entre os
indivíduos, em uma “seleção social”. Isto é, para Gonzalez “[...] a longo prazo, toda luta acar-
reta a seleção dos indivíduos possuidores de determinadas qualidades pessoais, e que o fator
sorte também contribui para o êxito do indivíduo na seleção social” (GONZALEZ, 2002,
p. 2). Nesse sentido, uma teoria sociológica da educação com esse referencial, identifica na
educação “[...] um elemento que contribui para a seleção social e possui finalidades distintas
de acordo com o tipo de dominação existente numa determinada sociedade” (GONZALEZ,
2002, p. 3). Essas finalidades definem três sistemas de educação: para o cultivo do saber;
racional para a burocracia; e carismática.
Nessa linha de raciocínio, Gonzalez (2002) chega à identificação de três aspectos funda-
mentais da teoria weberiana para as reflexões sobre educação: a) a compreensão dos fenômenos
sociais não tem como ponto de partida a economia (em discordância a Marx); b) as múltiplas
ações individuais determinam os fenômenos sociais; c) as formas de dominação determinam
os fenômenos sociais. Temos, então, como síntese da contribuição de Weber para a Sociologia
da Educação, a tese de que a educação é um processo de socialização, ou seja, a educação
prepara os indivíduos para participar da vida social por introduzi-los no amplo e complexo sis-
tema cultural do grupo humano que a compõe. Educação para preparação dos indivíduos visa
adaptá-los ao mundo cultural dominante, ou seja, à socialização dos indivíduos.
Pode-se observar que esses temas dizem respeito aos objetivos sociais dos processos Saiba Mais
educativos para os indivíduos. A ideia básica reside no conceito de que a sociedade é o con-
Saiba Mais
junto dos indivíduos e que, educados com os propósitos de aquisição de hábitos e compor-
tamentos socialmente adequados, desejados pela sociedade, teremos uma sociedade mais
eficiente. Podemos identificar a influência dessas ideias naquela que temos chamado, entre
as mais conhecidas propostas pedagógicas, de educação nova.
Referências
BRASIL, Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
(INEP). Thesaurus Brasileiro da Educação. Disponível http://www.inep.gov.br/pesquisa/thesaurus/thesaurus.
asp?te1=34181&te2=120911&te3=38648. Acesso em 23 de junho de 2010.
22
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SAVIANI, D. Do senso comum à consciência filosófica. São Paulo: Cortez/Autores Associados, 1991.
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TRATENBERG, M. Weber: vida e obra. In: Weber. São Paulo: Abril Cultural, 1980. (Os Pensadores)
Indicação de leitura: Boaventura Sousa Santos. Socialismo do século 21. Folha de São Paulo, 7 jun. 2007.
* Texto produzido especialmente para a disciplina Sociologia da Educação do Curso de Pedagogia oferecido pela UNESP através da
UNIVESP-TV.
23
Fundamentos
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Educação
Prof: Eduardo Maciel Ferreira
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EMENTA:
Perspectivas, tendências e confrontos na evolução do pensamento pedagógico universal.
Concepções de homem, mundo e sociedade: essencialismo, materialismo e dialética.
OBJETIVOS:
1. Tradicionalismo pedagógico
1.1. O espiritualismo neotomista como fundamento da vertente religiosa.
1.2. Iluminismo, positivismo e liberalismo como fundamentos da vertente conservadora laica.
4 A Educação Libertadora.
4.1. Personalismo, libertação e educação popular.
4.2. Paulo Freire e a educação para a autonomia.
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FORMAS DE AVALIAÇÃO:
Para as atividades na plataforma institucional Moodle, o processo poderá ser avaliado por
meio dos acessos as atividades disponibilizadas e participação síncrona quando programado. A
avaliação dos (das) acadêmicos (as) deverá ser adaptada garantindo a diversidade de meios e
instrumentos avaliativos considerando àqueles estudantes que não conseguirem realizar os
acessos por motivos justificáveis de problemas e/ou dificuldades com o acesso e uso da internet e
das TICs.
BIBLIOGRAFIA BÁSICA:
ARANHA, Maria Lucia de Arruda. História da educação e da pedagogia: geral e Brasil. São Paulo: Moderna,
2006.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. A educação popular na escola cidadã. Petrópolis: Vozes, 2002. CURY,
Carlos Roberto Jamil. Ideologia e educação brasileira: católicos e liberais. 2. ed. São Paulo: Cortez: Autores
Associados,1984.
FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1997.
FULLAT, O. Filosofias da educação. Petrópolis: Vozes, 1994.
GADOTTI, M. Concepção Dialética da Educação: um estudo introdutório. São Paulo: Cortez, 1983.
_________“A dialética: concepção e método”. In: Concepção Dialética da Educação. 7 ed. São Paulo:
Cortez/Autores Associados,1990.
Home Page: http://www.unicentro.br
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GALLO, Silvio. Pedagogia libertária: anarquistas, anarquismos e educação. São Paulo: Imaginário; Manaus:
Editora da Universidade Federal do Amazonas, 2007.
JAERGER, W. W. A formação do homem grego. São Paulo: Martins Fontes, 1994.
KRUPSKAYA, N. A construção da pedagogia socialista: escritos selecionados. Trad. Natalya Pavlova e Luiz
Carlos de Freitas. São Paulo: Expressão Popular, 2017.
LOWY, M. Método dialético e teoria política. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.
PISTRAK, Moisey M. Ensaios sobre a escola politécnica. Trad. Alexey Lazarev e Luiz Carlos de Freitas.
São Paulo: Expressão Popular, 2015.
SAVIANI, Dermeval. Pedagogia Histórico-Crítica: primeiras aproximações. São Paulo, Cortez, 1991.
______. Escola e Democracia. São Paulo: Cortez, 1986.
SCHLESENER, Anita Helen (org). Marxismo(s) e Educação. Ponta Grossa: Editora UEPG,2016.
TEIXEIRA, Anisio. Educação não é Privilégio. 5. ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1994.
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR:
______________________
Profº Dr. Marcos Gehrke
Coordenador do curso de Pedagogia do Campo
Port. n. 669/2017-GR/UNICENTRO
__________________________
Profº Dra. Valdirene Manduca de Moraes
Vice-Coordenador do Curso de Pedagogia do Campo
Port. n. 760/2020-GR/UNICENTRO
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ARANHA, Maria Lucia de Arruda. História da educação e da pedagogia: geral e Brasil. São Paulo: Moderna, 2006.
Páginas: 28 - 39
ARANHA, Maria Lucia de Arruda. História da educação e da pedagogia: geral e Brasil. São Paulo: Moderna, 2006. Páginas: 109 - 116
ARANHA, Maria Lucia de Arruda. História da educação e da pedagogia: geral e Brasil. São Paulo: Moderna, 2006. Páginas: 131 - 135
ARANHA, Maria Lucia de Arruda. História da educação e da pedagogia: geral e Brasil. São Paulo: Moderna, 2006. Páginas: 150 - 161
ARANHA, Maria Lucia de Arruda. História da educação e da pedagogia: geral e Brasil. São Paulo: Moderna, 2006. Páginas: 175 - 189
ARANHA, Maria Lucia de Arruda. História da educação e da pedagogia: geral e Brasil. São Paulo: Moderna, 2006. Páginas: 270 - 298
ARANHA, Maria Lucia de Arruda. História da educação e da pedagogia: geral e Brasil. São Paulo: Moderna, 2006. Páginas: 365 - 377
Capitalismo, Questão
Agrária e
Movimentos Sociais
Prof: João Carlos de Campos
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EMENTA
PROGRAMA
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METODOLOGIA
Haverá indicação de textos que deverão ser lidos previamente pelos estudantes, possibilitando
uma participação efetiva nos debates.
Serão realizadas aulas dialogadas, incentivando o posicionamento dos estudantes e análise crítica
das questões.
Também serão realizados trabalhos em grupo, aplicando a técnica do GVGO.
Será realizado um cine-debate a partir do Filme Narradores de Javé e do documentário Arquiteto
da violência.
Durante o processo serão potencializados exercícios de oralidade, leitura e escrita, importante
instrumento do trabalho do pedagogo.
Será feito um seminário a partir da leitura de algumas obras relacionadas à luta pela terra,
buscando potencializar o uso da biblioteca e os processos de leitura: Viúvas da terra (Klester
Cavalcanti); O Quinze (Raquel de Queiroz); Cangaços (Graciliano Ramos); Porecatu: a guerrilha
que os comunistas esqueceram (Marcelo Oikawa). Poderão ser inseridos outros livros, após
debate com a turma.
Construir-se-á um trabalho integrado com outras disciplinas, para o tempo comunidade: ao se
construir o inventário da realidade das comunidades nas quais estão inseridas as escolas campo-
de-estágio, os estudantes buscarão identificar coletivos organizados e ações da luta pela terra nas
referidas comunidades.
Emprego de tecnologias digitais da informação e comunicação para atividades não
presenciais, nos termos da Instrução Normativa n. 1-PROEN/UNICENTRO, de 17 de abril de 2020,
em função da pandemia do novo Coronavírus – COVID-19.
Atividades remotas serão alocadas e ancoradas na plataforma institucional Moodle Unicentro.
Nesse ambiente poderão ser disponibilizadas atividades síncronas, como chats e fóruns, e
assíncronas como fóruns, diários, textos coletivos/wikis. Ainda, nos termos da Instrução Normativa
n. 1-PROEN/UNICENTRO, as atividades não presenciais poderão ser disponibilizadas por outras
mídias digitais com o devido vínculo com a Plataforma Moodle e/ou informação na mesma
plataforma”); A/o docente ficará online nos horários de aula e ocasionalmente, quando necessário
e em comum acordo com as/os alunos.
Para que este conteúdo seja discutido com os alunos via Ambiente Virtual de Aprendizagem,
será possível indicar:
Atividades síncronas (em tempo real/online, quando assim for proposto pelo professor e possível
de ser executada pelos estudantes), como chats e lives (avaliativas ou não); atividades
assíncronas (aquelas que não necessitam ser executadas em tempo real/online), como fóruns,
diários, textos coletivos/wikis, envio de arquivos (em diferentes formatos e conectados a outros
recursos digitais disponíveis na internet), avaliativas ou não.
A metodologia proposta em ambiente virtual se comporá de:
-Leitura sobre material disponibilizado na plataforma Moodle;
-Análise de vídeos que complementam a temática a ser abordada, os quais deverão ter seus links
indicados na plataforma Moodle;
-Participação síncrona de alunos e professor em atividades como fórum e/ou chat, quando for
possível adequando-se aos contextos dos acadêmicos.
-Participação em reuniões, encontros e lives (se ocorrerem) por meio de outros instrumentos
midiáticos como: Facebook, Hangouts- Google Meet, Zoom, WhatsApp. Estas atividades deverão
ser registradas e agendadas com os alunos na plataforma Moodle.
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Para as atividades na plataforma institucional Moodle, o processo poderá ser avaliado por
meio dos acessos as atividades disponibilizadas e participação síncrona quando programado. A
avaliação dos (das) acadêmicos (as) deverá ser adaptada garantindo a diversidade de meios e
instrumentos avaliativos considerando àqueles estudantes que não conseguirem realizar os
acessos por motivos justificáveis de problemas e/ou dificuldades com o acesso e uso da internet
e das TICs.
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado
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Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, Expressão Popular, 2012.
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IANNI, Octavio. Origens agrárias do Estado brasileiro. São Paulo: Brasiliense, 2004.
MORISSAWA, Mitsue. A história da luta pela terra e o MST. São Paulo: Expressão Popular, 2001.
OIKAWA, Marcelo. Porecatu. A guerrilha que os comunistas esqueceram. São Paulo: Expressão
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RAMOS, Graciliano. Cangaços. Rio de Janeiro: Record, 2014.
STÉDILE, João Pedro. Questão agrária no Brasil. 11 ed. São Paulo: Atual, 2011.
Campus Santa Cruz: Rua Salvatore Renna – Padre Salvador, 875 – Cx. Postal 3010 – Fone: (42) 3621-1000 FAX: (42) 3621-1090 – CEP 85.015-430, GUARAPUAVA – PR
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BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
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Moraes
Vice-Coordenador do Curso de
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A LONGA M ARCHA DO CAMPESINATO BRASILEIRO : M OVIMENTOS S OCIAIS, CONFLITOS E REFORMA AGRÁRIA
A longa marcha
do campesinato brasileiro:
movimentos sociais, conf litos
e Reforma Agrária
ARIOVALDO UMBELINO DE OLIVEIRA
Os princípios e os pressupostos
que marca a Longa Marcha do campesinato brasileiro está es-
A
HISTÓRIA
crita nas lutas muitas vezes (ou quase sempre) sangrentas desta classe
social. Ao abordá-la, deixo claro que minha compreensão a respeito da
lógica do desenvolvimento capitalista moderno está calcada no entendimento de
que tal desenvolvimento se faz de forma desigual e contraditória. Ou seja, parto
do princípio de que o desenvolvimento do capitalismo – e a sua conseqüente ex-
pansão no campo – se faz de forma heterogênea, complexa e, portanto, plural.
Este quadro de referência teórica, por conseqüência, está no oposto daquele que
vê a expansão homogênea, total e absoluta do trabalho assalariado no campo
com característica fundante do capitalismo moderno.
Dessa forma, penso que o capital trabalha com o movimento contraditório
da desigualdade no processo de seu desenvolvimento. No caso brasileiro, o capi-
talismo atua desenvolvendo simultaneamente, na direção da implantação do tra-
balho assalariado, no campo em várias culturas e diferentes áreas do país, como
ocorre, por exemplo, na cultura da cana-de-açúcar, da laranja, da soja etc. Por
outro lado, este mesmo capital desenvolve de forma articulada e contraditória a
produção camponesa. Isto quer dizer que parto também do pressuposto de que
o camponês não é um sujeito social de fora do capitalismo, mas um sujeito social
de dentro dele.
po. Certamente, a maioria dos filhos dos camponeses, cujas propriedades te-
nham superfície inferior a 10 hectares, jamais terão condição de se tornar campo-
neses nas terras dos pais. A eles caberá apenas um caminho: a estrada. A estrada
que os levará à cidade, ou a estrada que os levará à luta pela reconquista da terra.
A migração tem sido, dessa forma, uma das principais características da
população brasileira. O quadro geral tem revelado, contrariando muitas inter-
pretações, que a população rural cresceu em termos absolutos e totais até 1970,
quando chegou a pouco mais de 41 milhões de pessoas. Registrada nos censos
demográficos posteriores, houve queda que fez com que ela chegasse a 38,5
milhões, em 1980; 35,8 milhões, em 1991; 33,9 milhões, em 1996; 31,8 mi-
lhões, no ano 2000. Ainda na contramão de muitas interpretações, os censos
demográficos de 1996 e 2000 continuam revelando, em vários municípios, o
crescimento absoluto da população rural. Este fato não acontece apenas nas re-
giões de fronteira, mas também na área core do capitalismo moderno brasileiro,
como é o caso do estado de São Paulo. Muitas vezes, os novos assentamentos
rurais derivados da Reforma Agrária estão na origem desse processo.
Movendo-se pelo país numa verdadeira aventura retirante, como tem afir-
mado D. Pedro Casaldaglia, os camponeses brasileiros, a seu modo, foram se
inserindo no campo. Os dados disponíveis do censo agropecuário do IBGE reve-
lam sua situação geral e importância na atualidade. Os estabelecimentos agro-
pecuários com área de até 100 hectares cresceram de 1940 (1.629.995) até 1985
(5.252.265), porém conheceram uma redução no censo de 1995-96 (4.318.861).
Contraditoriamente, esta redução não ocorreu apenas pela crise vivida pela agri-
cultura brasileira na década de 90, mas sobretudo pelos processos derivados do
crescimento da luta pela terra. Assim, se verificarmos os dados sobre a condição
do produtor, notaremos uma queda nos estabelecimentos comandados pelos
arrendatários, parceiros e posseiros que responderam por mais de 87% desta que-
da. Tal fato revela que a pressão social exercida pelos movimentos sociais em luta
pela Reforma Agrária tem levado os proprietários a não mais ceder suas terras aos
arrendatários, parceiros ou posseiros. Entretanto, é fato notório que o número
dos estabelecimentos controlados pelos proprietários também caiu 3% entre 1985
e 1995-96, mostrando que mesmo com assentamentos de Reforma Agrária, do
ponto de vista geral, continua o processo de concentração fundiária e de migra-
ção campo cidade no Brasil.
Nos 4,3 milhões de estabelecimentos com área de até 100 hectares, havia
em 1995-96, cerca de 88% do pessoal ocupado de origem familiar, ou seja, o
trabalho assalariado representava apenas os 12% restantes. Uma realidade oposta
e contrastante com a dos estabelecimentos de mais de mil hectares, onde o traba-
lho assalariado representava 81%. No Brasil do século XX, esta combinação es-
trutural marcou o campo brasileiro: nas unidades camponesas, predomínio do
trabalho familiar; nas unidades capitalistas, a presença dominante do trabalho
Dessa forma, violência tem sido a principal característica da luta pela terra
no Brasil. Os dados expressos no gráfico 1 sobre o número de mortos em confli-
tos no campo, mostram que essa violência parece não ter fim. No período entre
1964 e 1971, a maior parte das mortes ocorreram na região Nordeste (6), na
intenção dos latifundiários de frear, pela violência, os ideais semeados pelas Ligas
Camponesas. A partir de 1972 foi na Amazônia (7) que se concentrou o maior
número de assassinatos no campo, embora continuassem presentes também no
Nordeste e no Centro-Sudeste (8). A década de 70 foi marcada sobretudo pela
luta dos posseiros na Amazônia. O governo militar com sua política territorial
voltada para os incentivos fiscais aos empresários, de um lado, e de outro fomen-
tando, também na Amazônia, a colonização como alternativa à Reforma Agrária
nas regiões de ocupação antiga (NE, SE e S), criou o cenário para a violência. Os
empresários, para ter acesso aos incentivos fiscais, tinham de implantar seus projetos
agropecuários na região, que estava ocupada pelos povos indígenas e, em deter-
minadas áreas, pelos posseiros. Muitos foram os conflitos violentos. Os povos in-
dígenas foram submetidos ou ao genocídio ou ao etnocídio. Aos posseiros não
restou melhor sorte: ou eram empurrados para novas áreas na fronteira que se
expandia, ou eram expulsos de suas posses e migravam para as cidades que nas-
ciam na região.
Gráfico 1
Brasil - Mortos em conflitos no campo 1964-2000
Fonte: CPT Org.: Oliveira, A.U.
traz dados sobre as vítimas fatais de conflitos ocorridos no campo entre 1985-
1996 (9), revelando a concentração territorial da violência no campo, particular-
mente na região do “Bico do Papagaio”nas divisas de Pará, Maranhão e Tocantins,
e também, na Zona da Mata nordestina.
Mapa 1
Brasil - Vítimas fatais de conflitos ocorridos no campo 1985-1996
Fonte: Comissão Pastoral da Terra - CPT
lho; ainda, a recente filiação da Contag à CUT e a realização, por estes setores,
do Movimento Grito da Terra Brasil, além de os seringueiros na Amazônia e as
suas lutas pelas demarcações das reservas extrativistas.
O MST é parte desta luta do campesinato brasileiro, mas, sem dúvida algu-
ma, o principal desses movimentos, por ter uma organização mais sólida, de
caráter nacional. É aquele que está soldando a possibilidade de vitória da luta
destes diferentes setores que formam o heterogêneo campesinato brasileiro. O
MST, por isso mesmo, é um movimento social jovem, que nasceu no início dos
anos 80 e tem como binômio de ação a lógica acampamento-assentamento. Quem
quiser conhecer e entender o MST terá de entender este processo de luta calcado
nos acampamentos, portanto, nas ocupações e na luta nos assentamentos. Assim,
o MST é um movimento que articula simultaneamente a espacialização da luta,
combinando-a contraditoriamente com a territorialização deste próprio movi-
mento nos assentamentos. Possui e dá importância à sua estrutura organizativa
democrática, de base, efetivamente de massa. Estrutura organizativa que respeita
as diferenças desses movimentos em várias partes do país, e que tem um coletivo
nacional representante das diferentes regiões onde o movimento atua. É um mo-
vimento diferenciado, pois respeita as decisões tomadas coletivamente. É um dos
poucos lugares deste país onde a discordância se dá na discussão de uma determi-
nada concepção ou na tomada de uma decisão. Mas, uma vez vencida uma pro-
posta, ela é abraçada por todos e levada à prática por todos. Esta prática, infeliz-
mente, não ocorre nos partidos políticos, não ocorre em setores do movimento
sindical.
O MST, com esta componente nova em sua organização, nasce como um
movimento de massa, de contestação contra o não-cumprimento pelo Estado da
lei da Reforma Agrária. Um dos caminhos para entendê-lo é a análise de suas
palavras de ordem. Quando ocorreu a formação do MST, na década de 80, o
lema era Terra para quem nela trabalha (1979-83). Quando começou a enfren-
tar resistência ao acesso à terra, um novo lema surgiu: Terra não se ganha, terra se
conquista (1984). Ao se fortalecer e avançar, sobretudo durante o governo Sarney,
percebendo que o Primeiro Plano Nacional de Reforma Agrária não estava sen-
do implementado, os lemas passaram a ser: Sem Reforma Agrária não há demo-
cracia (1985) e Reforma Agrária já (1985-86). Com o aumento da violência,
que não atingiu apenas os trabalhadores, mas lideranças, advogados, políticos,
religiosos etc., o MST mudou suas palavras de ordem: Ocupação é a única solução
(1986), Enquanto o latifúndio quer guerra, nós queremos terra (1986-87) e, por
ocasião da Constituinte, Reforma Agrária: na lei ou na marra (1988) e Ocupar,
Resistir, Produzir (1989), depois que os assentamentos começaram a ser con-
quistados. Este processo mostra que politicamente o movimento não só se consoli-
dava, não só se articulava em nível nacional, mas mudava também qualitativa-
mente do ponto de vista político.
marcado por um tipo de violência que não ocorrera ainda de forma explícita no
Brasil: quem passou a matar os camponeses em luta pela terra foram as forças
policiais dos estados. Os massacres de Corumbiara e de Eldorado dos Carajás são
exemplos ocorridos no governo FHC. Ambos os massacres representam a posi-
ção das elites latifundiárias brasileiras em não ceder um milímetro sequer em
relação à questão da terra e da Reforma Agrária. O apoio dos ruralistas à base de
sustentação política do governo FHC tem tido como contrapartida duas práticas
governamentais: a primeira, posição repressiva aos movimentos sociais; a segun-
da, no plano econômico, prorrogação – não se sabe até quando – das dívidas
destes latifundiários, que não as saldam.
Gráfico 2
Brasil - Conflitos no campo 1985-1999
(Número total)
Fonte: CPT Org.: Oliveira, A.U.
Gráfico 3
Brasil - Ocupações de terra 1987-2000
(Número total e Participação regional)
deputados de que iriam aprovar o Estatuto da Terra, de que ele seria aprovado,
porém não implantado. Passado o período do governo militar, pode-se verificar
que, de fato, ele não foi implantado. Coube a José Sarney elaborar o 1º Plano Na-
cional de Reforma Agrária, previsto no Estatuto da Terra aprovado pelos militares.
Como a pressão social vinha aumentando desde o final dos anos 70 e início
dos 80, o governo da Nova República aceitou a elaboração do 1º PNRA. Duran-
te a visita que Tancredo Neves fez ao Vaticano, inclusive, a única coisa que o
Papa lhe pediu foi a realização da Reforma Agrária. Por esse motivo, Nelson
Ribeiro, ligado à Igreja, foi o primeiro ministro da Reforma Agrária.
O 1º PNRA, anunciado em um congresso de trabalhadores rurais, deu
início à movimentação contrária dos setores ruralistas que faziam parte do gover-
no da Nova República visando a impedir sua implantação. A violência no campo
cresceu brutalmente, com a rea-
ção latifundiária emergindo li- ... foi criada a UDR,
derada por Ronaldo Caiado.
Para proceder a leilões de gado que praticamente “militarizou”
foi criada a UDR, que pratica- os latifundiários ...
mente “militarizou” os latifun-
diários visando frear a implantação do plano. Como conseqüência, houve uma
sucessão de ministros no Ministério da Reforma Agrária, que culminou com a
morte de Marcos Freire, e de toda a alta cúpula do Incra, no episódio do Aero-
porto de Carajás no Sudeste do Pará, quando o avião em que estavam caiu.
Jader Barbalho, então governador do Pará – estado que tem o maior nú-
mero de assassinatos no campo neste país, a maioria absoluta, impune – assumiu
o MIRAD e, ato contínuo, extinguiu o Incra. A seguir instituiu o INTER, extin-
guindo o MIRAD e o INTER, recriando o Incra. Ou seja, desarticulou a organi-
zação mínima que havia sido montada para a implantação do Plano. No final do
governo Sarney, os resultados do 1º PRNA foram os seguintes: apenas 8% das
terras previstas foram desapropriadas, e 10% das famílias assentadas. Assim, o
sonho de 1,4 milhões de famílias assentadas, que havia sido anunciado em 1985,
ficou reduzido a pouco mais de 140 mil.
No governo Collor, a UDR praticamente assumiu o controle da Reforma
Agrária no Brasil. O ministro Antonio Cabrera Mano assumiu o Ministério da
Agricultura e promoveu o abandono completo da Reforma Agrária. A queda de
Collor e a ascensão de Itamar Franco praticamente nada mudou, pois ele era vice
de Collor. Até 1994, o resultado da ação do Estado referente aos assentamentos
rurais foi: de 1927 a 1963 foram assentadas em projetos de colonização no Brasil,
oficialmente, 53 mil famílias; de 1964 a 1984, entre colonização e assentamen-
tos, 162 mil famílias; de 1985 a 1994, foram assentadas 140 mil famílias. Estes
dados permitem afirmar que a partir das políticas do Estado brasileiro nunca se
implantou um política de acesso à terra aos camponeses.
Gráfico 4
Brasil - Assentamentos rurais 1985 a 2000
(Número de famílias)
Fonte: CPT Org.: Oliveira, A.U.
A segunda estratégia são as mudanças legais que vêm sendo realizadas pelo
Ministério do Desenvolvimento Agrário. Primeiro fez-se a securitização das dívi-
das dos ruralistas, depois criou-se o ITR progressivo, mas até hoje nada se sabe
sobre sua implantação. Posteriormente criou-se o Projeto Cédula da Terra e o
Banco da Terra visando a implantar uma autêntica reforma agrária de mercado,
como gostam de afirmar as lideranças dos movimentos sociais. Por fim, mais
duas medidas coercitivas: a MP 2109, que proíbe a vistoria por dois anos em
imóveis ocupados (155 imóveis estão nessa condição) e a Portaria MDA nº 62 de
Gráfico 5
Brasil - Assentamentos rurais 1995 a 2000
(Número de famílias)
Fonte: CPT Org.: Oliveira, A.U.
Outra estratégia política para fazer frente à pressão social por assentamen-
tos está no estímulo à criação de novos movimentos sociais que não adotam a
tática da ocupação como estratégia de luta. Adotam, estes novos movimentos, a
tática exclusiva da chamada negociação. Várias centrais sindicais simpáticas ao
governo FHC estão envolvidas nestas ações de criação de novos movimentos
sociais, visando a enfraquecer a base social do MST.
Uma quarta estratégia que vem sendo colocada em prática pelo MDA é a
realização de reuniões e seminários com intelectuais que estudam a questão agrá-
ria, para auxiliarem na elaboração de políticas e ações de governo e, principal-
mente, para formarem uma espécie de frente de ação intelectual de crítica aos
movimentos e seus intelectuais orgânicos. O MDA criou, inclusive, o Núcleo de
Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural (NEAD), para alimentar estudos e
ações voltados para a chamada agricultura familiar.
Entretanto, a quinta ação é aquela que tem sido marcada por lances espeta-
culares, de acordo com a chamada sociedade do espetáculo. A ação, na mídia,
vem mobilizando o governo, os movimentos e a opinião pública. Reportagens
procurando impingir caráter satânico às lideranças do MST, contra-propaganda
organizada a partir de grandes órgãos de imprensa, denúncias nunca provadas,
formação de equipes de jornalistas, realização de pesquisas de opinião pública
sobre o MST, produção de material virtual via internet etc. Estas ações geram na
midia um conjunto significativo de notícias que objetivam principalmente des-
montar a imagem de apoio que a população tinha formado sobre o MST e a
Reforma Agrária após a Marcha à Brasília. Certamente, deve-se a esta ação o fato
de a midia nada ter noticiado sobre a queda expressiva, desde 1998, do número
de famílias assentadas. Embora a Confederação Nacional das Associações dos
Servidores do Incra (CNASI), tenha divulgado, no início do mês de agosto, da-
dos provando a redução (13).
Tabela 1
Brasil - Projetos de Reforma Agrária até 2000
Número de Capac.
Região/ UF Projetos Famílias Área (ha)
AC 58 11.369 783.325
AM 30 16.471 1.391.348
AP 27 8.918 1.353.607
PA 382 100.035 5.649.999
RO 81 21.327 981.743
RR 29 13.723 958.185
TO 183 15.885 698.652
MA 428 62.593 1.984.228
MT 273 56.436 3.630.310
Amazônia 1.491 306.757 17.431.396
AL 40 4.223 31.336
BA 308 30.773 997.393
CE 467 22.218 768.658
PB 146 9.309 158.978
PE 186 11.770 158.418
PI 134 12.898 498.820
RN 190 13.821 344.525
SE 72 4.543 67.171
Nordeste 1.543 109.555 3.025.299
ES 34 2.396 23.120
MG 196 12.625 508.539
RJ 18 2.493 31.231
SP 134 8.931 204.882
GO 174 13.457 524.705
MS 80 11.257 306.353
Centro/Sudeste 636 51.159 1.598.831
PR 246 12.467 264.041
RS 127 5.746 133.144
SC 266 4.654 75.835
Sul 639 22.867 473.020
Brasil 4.309 490.338 22.528.546
Fonte: Incra Org.: Oliveira A.U.
Notas
EMENTA
OBJETIVOS
PROGRAMA
Campus Santa Cruz: Rua Salvatore Renna – Padre Salvador, 875 – Cx. Postal 3010 – Fone: (42) 3621-1000 FAX: (42) 3621-1090 – CEP 85.015-430, GUARAPUAVA – PR
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METODOLOGIA
Indicaremos textos que deverão ser lidos previamente pelos estudantes, possibilitando uma
participação efetiva nos debates.
Realizaremos aulas dialogadas, incentivando o posicionamento dos estudantes e análise crítica
das questões. Construiremos uma linha histórica do curso de Pedagogia no Brasil. Faremos
análise documental (PPP do curso).
Durante o processo potencializaremos exercícios de leitura e escrita, importante instrumento do
trabalho do pedagogo.
Será realizado um seminário sobre a história de vida de alguns pedagogos/educadores-referência
às questões educacionais: Luiz Carlos de Freitas, Paulo Freire, Pistrak, José Martí, Freinet,
Makarenko, Montessori, Saviani e Anísio Teixeira.
Faremos visita a um espaço escolar e um não-escolar para conhecer o trabalho desenvolvido por
pedagogos.
Construiremos um trabalho integrado para o tempo comunidade (nesta disciplina será feita uma
coleta de informações sobre a atuação dos pedagogos nas escolas campo-de-estágio, com a
utilização de entrevista semi-estruturada).
Emprego de tecnologias digitais da informação e comunicação para atividades não
presenciais, nos termos da Instrução Normativa n. 1-PROEN/UNICENTRO, de 17 de abril de 2020,
em função da pandemia do novo Coronavírus – COVID-19.
Atividades remotas serão alocadas e ancoradas na plataforma institucional Moodle Unicentro.
Nesse ambiente poderão ser disponibilizadas atividades síncronas, como chats e fóruns, e
assíncronas como fóruns, diários, textos coletivos/wikis. Ainda, nos termos da Instrução Normativa
n. 1-PROEN/UNICENTRO, as atividades não presenciais poderão ser disponibilizadas por outras
mídias digitais com o devido vínculo com a Plataforma Moodle e/ou informação na mesma
plataforma”); A/o docente ficará online nos horários de aula e ocasionalmente, quando necessário
e em comum acordo com as/os alunos.
Para que este conteúdo seja discutido com os alunos via Ambiente Virtual de Aprendizagem,
será possível indicar:
Atividades síncronas (em tempo real/online, quando assim for proposto pelo professor e
possível de ser executada pelos estudantes), como chats e lives (avaliativas ou não); atividades
assíncronas (aquelas que não necessitam ser executadas em tempo real/online), como fóruns,
diários, textos coletivos/wikis, envio de arquivos (em diferentes formatos e conectados a outros
recursos digitais disponíveis na internet), avaliativas ou não.
A metodologia proposta em ambiente virtual se comporá de:
-Leitura sobre material disponibilizado na plataforma Moodle;
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-Análise de vídeos que complementam a temática a ser abordada, os quais deverão ter seus links
indicados na plataforma Moodle;
-Participação síncrona de alunos e professor em atividades como fórum e/ou chat, quando for
possível adequando-se aos contextos dos acadêmicos.
-Participação em reuniões, encontros e lives (se ocorrerem) por meio de outros instrumentos
midiáticos como: Facebook, Hangouts- Google Meet, Zoom, WhatsApp. Estas atividades deverão
ser registradas e agendadas com os alunos na plataforma Moodle.
-Postagem de relatórios avaliativos, conforme agendas prévias registradas na plataforma Moodle.
-Emails também poderão ser utilizados quando for necessário.
FORMAS DE AVALIAÇÃO
Para as atividades na plataforma institucional Moodle, o processo poderá ser avaliado por meio
dos acessos as atividades disponibilizadas e participação síncrona quando programado. A
avaliação dos (das) acadêmicos (as) deverá ser adaptada garantindo a diversidade de meios e
instrumentos avaliativos considerando àqueles estudantes que não conseguirem realizar os
acessos por motivos justificáveis de problemas e/ou dificuldades com o acesso e uso da
internet e das TICs.
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
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Campus Santa Cruz: Rua Salvatore Renna – Padre Salvador, 875 – Cx. Postal 3010 – Fone: (42) 3621-1000 FAX: (42) 3621-1090 – CEP 85.015-430, GUARAPUAVA – PR
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Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO
Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes
Departamento de Pedagogia – DEPED/G
Pedagogia do Campo
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
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Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes
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Pedagogia do Campo
______________________
Profº Dr. Marcos Gehrke
Coordenador do curso de Pedagogia
do Campo
Port. n. 669/2017-GR/UNICENTRO
__________________________
Profº Dra. Valdirene Manduca de
Moraes
Vice-Coordenador do Curso de
Pedagogia do Campo
Port. n. 760/2020-GR/UNICENTRO
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Diretrizes curriculares do curso de pedagogia no Brasil...
Introdução
esultam das diferentes interpretações do campo da pedagogia e
das disputas político-pedagógicas dos atores sociais, nos diversos
contextos sócio-históricos, as várias identidades atribuídas ao cur-
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Notas
1. Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação (ANFOPE), Associação Na-
cional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPED), Centro de Estudos Educação e
Sociedade (CEDES), Fórum de Diretores de Faculdades/Centros de Educação das Universi-
dades Públicas Brasileiras (FORUMDIR), Associação Nacional de Política e Administração da
Educação (ANPAE), entre outras.
2. A respeito dessa discussão, consultar Aguiar e Melo (2005a; 2005b).
3. Proposta de Diretrizes Curriculares de Pedagogia elaborada por uma Comissão de Espe-
cialistas de Pedagogia, resultante de ampla consulta às universidades e de consensos
construídos com as entidades ANPED, ANFOPE, CEDES, FORUMDIR e ANPAE, em 1999.
4. A presença de cerca de 200 pessoas, que representavam a maioria dos estados brasileiros,
no painel sobre a Reformulação do Currículo da Pedagogia e das Licenciaturas na I CBE
(Anais, 1980, p. 209-217), comprova que em muitos estados germinava a idéia de orga-
nização dos educadores em torno dessas reformulações (cf. detalhes em Brzezinski, 1994).
5. Consultar <www.mec.gov.br>.
6. O único documento disponível e não aprovado data de maio de 2000.
7. Realizado em Águas de Lindóia, São Paulo.
8. Disponível em: <www.mec.gov.br>.
9. Consultar <www.mec.gov.br/cne>.
10. Conferir <www.mec.gov.br/cne>.
11. Estes documentos podem ser encontrados no site da ANFOPE : <http://lite.fae.unicamp.br/
anfope>.
12. Aprovada no CEE-SP a Indicação n. 22/2002, que estabelece distinção entre os cursos de
pedagogia licenciaturas e pedagogia bacharelado, dando cumprimento ao estabelecido no
artigo 64 da LDB.
Referências bibliográficas
Educ. Soc., Campinas, vol. 27, n. 96 - Especial, p. 819-842, out. 2006 837
Disponível em <http://www.cedes.unicamp.br>
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RELAÇÕES ENTRE EDUCAÇÃO, PEDAGOGIA E DIDÁTICA
INTRODUÇÃO
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Diretrizes curriculares do curso de pedagogia no Brasil...
Introdução
esultam das diferentes interpretações do campo da pedagogia e
das disputas político-pedagógicas dos atores sociais, nos diversos
contextos sócio-históricos, as várias identidades atribuídas ao cur-
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Notas
1. Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação (ANFOPE), Associação Na-
cional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPED), Centro de Estudos Educação e
Sociedade (CEDES), Fórum de Diretores de Faculdades/Centros de Educação das Universi-
dades Públicas Brasileiras (FORUMDIR), Associação Nacional de Política e Administração da
Educação (ANPAE), entre outras.
2. A respeito dessa discussão, consultar Aguiar e Melo (2005a; 2005b).
3. Proposta de Diretrizes Curriculares de Pedagogia elaborada por uma Comissão de Espe-
cialistas de Pedagogia, resultante de ampla consulta às universidades e de consensos
construídos com as entidades ANPED, ANFOPE, CEDES, FORUMDIR e ANPAE, em 1999.
4. A presença de cerca de 200 pessoas, que representavam a maioria dos estados brasileiros,
no painel sobre a Reformulação do Currículo da Pedagogia e das Licenciaturas na I CBE
(Anais, 1980, p. 209-217), comprova que em muitos estados germinava a idéia de orga-
nização dos educadores em torno dessas reformulações (cf. detalhes em Brzezinski, 1994).
5. Consultar <www.mec.gov.br>.
6. O único documento disponível e não aprovado data de maio de 2000.
7. Realizado em Águas de Lindóia, São Paulo.
8. Disponível em: <www.mec.gov.br>.
9. Consultar <www.mec.gov.br/cne>.
10. Conferir <www.mec.gov.br/cne>.
11. Estes documentos podem ser encontrados no site da ANFOPE : <http://lite.fae.unicamp.br/
anfope>.
12. Aprovada no CEE-SP a Indicação n. 22/2002, que estabelece distinção entre os cursos de
pedagogia licenciaturas e pedagogia bacharelado, dando cumprimento ao estabelecido no
artigo 64 da LDB.
Referências bibliográficas
Educ. Soc., Campinas, vol. 27, n. 96 - Especial, p. 819-842, out. 2006 837
Disponível em <http://www.cedes.unicamp.br>
Diretrizes curriculares do curso de pedagogia no Brasil...
838 Educ. Soc., Campinas, vol. 27, n. 96 - Especial, p. 819-842, out. 2006
Disponível em <http://www.cedes.unicamp.br>
Márcia Angela da S. Aguiar et al
Educ. Soc., Campinas, vol. 27, n. 96 - Especial, p. 819-842, out. 2006 839
Disponível em <http://www.cedes.unicamp.br>
Diretrizes curriculares do curso de pedagogia no Brasil...
840 Educ. Soc., Campinas, vol. 27, n. 96 - Especial, p. 819-842, out. 2006
Disponível em <http://www.cedes.unicamp.br>
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842 Educ. Soc., Campinas, vol. 27, n. 96 - Especial, p. 819-842, out. 2006
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CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO
CONSELHO PLENO
(*)
Resolução CNE/CP 1/2006. Diário Oficial da União, Brasília, 16 de maio de 2006, Seção 1, p. 11
Art. 4º O curso de Licenciatura em Pedagogia destina-se à formação de professores
para exercer funções de magistério na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino
Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal, de Educação Profissional
na área de serviços e apoio escolar e em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos
pedagógicos.
Parágrafo único. As atividades docentes também compreendem participação na
organização e gestão de sistemas e instituições de ensino, englobando:
I - planejamento, execução, coordenação, acompanhamento e avaliação de tarefas
próprias do setor da Educação;
II - planejamento, execução, coordenação, acompanhamento e avaliação de projetos e
experiências educativas não-escolares;
III - produção e difusão do conhecimento científico-tecnológico do campo
educacional, em contextos escolares e não-escolares.
Art. 5º O egresso do curso de Pedagogia deverá estar apto a:
I - atuar com ética e compromisso com vistas à construção de uma sociedade justa,
equânime, igualitária;
II - compreender, cuidar e educar crianças de zero a cinco anos, de forma a contribuir,
para o seu desenvolvimento nas dimensões, entre outras, física, psicológica, intelectual,
social;
III - fortalecer o desenvolvimento e as aprendizagens de crianças do Ensino
Fundamental, assim como daqueles que não tiveram oportunidade de escolarização na idade
própria;
IV - trabalhar, em espaços escolares e não-escolares, na promoção da aprendizagem de
sujeitos em diferentes fases do desenvolvimento humano, em diversos níveis e modalidades
do processo educativo;
V - reconhecer e respeitar as manifestações e necessidades físicas, cognitivas,
emocionais, afetivas dos educandos nas suas relações individuais e coletivas;
VI - ensinar Língua Portuguesa, Matemática, Ciências, História, Geografia, Artes,
Educação Física, de forma interdisciplinar e adequada às diferentes fases do desenvolvimento
humano;
VII - relacionar as linguagens dos meios de comunicação à educação, nos processos
didático-pedagógicos, demonstrando domínio das tecnologias de informação e comunicação
adequadas ao desenvolvimento de aprendizagens significativas;
VIII - promover e facilitar relações de cooperação entre a instituição educativa, a
família e a comunidade;
IX - identificar problemas socioculturais e educacionais com postura investigativa,
integrativa e propositiva em face de realidades complexas, com vistas a contribuir para
superação de exclusões sociais, étnico-raciais, econômicas, culturais, religiosas, políticas e
outras;
X - demonstrar consciência da diversidade, respeitando as diferenças de natureza
ambiental-ecológica, étnico-racial, de gêneros, faixas geracionais, classes sociais, religiões,
necessidades especiais, escolhas sexuais, entre outras;
XI - desenvolver trabalho em equipe, estabelecendo diálogo entre a área educacional e
as demais áreas do conhecimento;
XII - participar da gestão das instituições contribuindo para elaboração,
implementação, coordenação, acompanhamento e avaliação do projeto pedagógico;
XIII - participar da gestão das instituições planejando, executando, acompanhando e
avaliando projetos e programas educacionais, em ambientes escolares e não-escolares;
XIV - realizar pesquisas que proporcionem conhecimentos, entre outros: sobre alunos
e alunas e a realidade sociocultural em que estes desenvolvem suas experiências não-
escolares; sobre processos de ensinar e de aprender, em diferentes meios ambiental-
2
Resolução CNE/CP 1/2006. Diário Oficial da União, Brasília, 16 de maio de 2006, Seção 1, p. 11.
(*)
ecológicos; sobre propostas curriculares; e sobre organização do trabalho educativo e práticas
pedagógicas;
XV - utilizar, com propriedade, instrumentos próprios para construção de
conhecimentos pedagógicos e científicos;
XVI - estudar, aplicar criticamente as diretrizes curriculares e outras determinações
legais que lhe caiba implantar, executar, avaliar e encaminhar o resultado de sua avaliação às
instâncias competentes.
§ 1º No caso dos professores indígenas e de professores que venham a atuar em
escolas indígenas, dada a particularidade das populações com que trabalham e das situações
em que atuam, sem excluir o acima explicitado, deverão:
I - promover diálogo entre conhecimentos, valores, modos de vida, orientações
filosóficas, políticas e religiosas próprias à cultura do povo indígena junto a quem atuam e os
provenientes da sociedade majoritária;
II - atuar como agentes interculturais, com vistas à valorização e o estudo de temas
indígenas relevantes.
§ 2º As mesmas determinações se aplicam à formação de professores para escolas de
remanescentes de quilombos ou que se caracterizem por receber populações de etnias e
culturas específicas.
Art. 6º A estrutura do curso de Pedagogia, respeitadas a diversidade nacional e a
autonomia pedagógica das instituições, constituir-se-á de:
I - um núcleo de estudos básicos que, sem perder de vista a diversidade e a
multiculturalidade da sociedade brasileira, por meio do estudo acurado da literatura pertinente
e de realidades educacionais, assim como por meio de reflexão e ações críticas, articulará:
a) aplicação de princípios, concepções e critérios oriundos de diferentes áreas do
conhecimento, com pertinência ao campo da Pedagogia, que contribuam para o
desenvolvimento das pessoas, das organizações e da sociedade;
b) aplicação de princípios da gestão democrática em espaços escolares e não-escolares;
c) observação, análise, planejamento, implementação e avaliação de processos
educativos e de experiências educacionais, em ambientes escolares e não-escolares;
d) utilização de conhecimento multidimensional sobre o ser humano, em situações de
aprendizagem;
e) aplicação, em práticas educativas, de conhecimentos de processos de
desenvolvimento de crianças, adolescentes, jovens e adultos, nas dimensões física, cognitiva,
afetiva, estética, cultural, lúdica, artística, ética e biossocial;
f) realização de diagnóstico sobre necessidades e aspirações dos diferentes segmentos
da sociedade, relativamente à educação, sendo capaz de identificar diferentes forças e
interesses, de captar contradições e de considerá-lo nos planos pedagógico e de ensino-
aprendizagem, no planejamento e na realização de atividades educativas;
g) planejamento, execução e avaliação de experiências que considerem o contexto
histórico e sociocultural do sistema educacional brasileiro, particularmente, no que diz
respeito à Educação Infantil, aos anos iniciais do Ensino Fundamental e à formação de
professores e de profissionais na área de serviço e apoio escolar;
h) estudo da Didática, de teorias e metodologias pedagógicas, de processos de
organização do trabalho docente;
i) decodificação e utilização de códigos de diferentes linguagens utilizadas por
crianças, além do trabalho didático com conteúdos, pertinentes aos primeiros anos de
escolarização, relativos à Língua Portuguesa, Matemática, Ciências, História e Geografia,
Artes, Educação Física;
j) estudo das relações entre educação e trabalho, diversidade cultural, cidadania,
sustentabilidade, entre outras problemáticas centrais da sociedade contemporânea;
3
(*)
Resolução CNE/CP 1/2006. Diário Oficial da União, Brasília, 16 de maio de 2006, Seção 1, p. 11.
k) atenção às questões atinentes à ética, à estética e à ludicidade, no contexto do
exercício profissional, em âmbitos escolares e não-escolares, articulando o saber acadêmico, a
pesquisa, a extensão e a prática educativa;
l) estudo, aplicação e avaliação dos textos legais relativos à organização da educação
nacional;
II - um núcleo de aprofundamento e diversificação de estudos voltado às áreas de
atuação profissional priorizadas pelo projeto pedagógico das instituições e que, atendendo a
diferentes demandas sociais, oportunizará, entre outras possibilidades:
a) investigações sobre processos educativos e gestoriais, em diferentes situações
institucionais: escolares, comunitárias, assistenciais, empresariais e outras;
b) avaliação, criação e uso de textos, materiais didáticos, procedimentos e processos de
aprendizagem que contemplem a diversidade social e cultural da sociedade brasileira;
c) estudo, análise e avaliação de teorias da educação, a fim de elaborar propostas
educacionais consistentes e inovadoras;
III - um núcleo de estudos integradores que proporcionará enriquecimento curricular
e compreende participação em:
a) seminários e estudos curriculares, em projetos de iniciação científica, monitoria e
extensão, diretamente orientados pelo corpo docente da instituição de educação superior;
b) atividades práticas, de modo a propiciar vivências, nas mais diferentes áreas do
campo educacional, assegurando aprofundamentos e diversificação de estudos, experiências e
utilização de recursos pedagógicos;
c) atividades de comunicação e expressão cultural.
Art. 7º O curso de Licenciatura em Pedagogia terá a carga horária mínima de 3.200
horas de efetivo trabalho acadêmico, assim distribuídas:
I - 2.800 horas dedicadas às atividades formativas como assistência a aulas, realização
de seminários, participação na realização de pesquisas, consultas a bibliotecas e centros de
documentação, visitas a instituições educacionais e culturais, atividades práticas de diferente
natureza, participação em grupos cooperativos de estudos;
II - 300 horas dedicadas ao Estágio Supervisionado prioritariamente em Educação
Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, contemplando também outras áreas
específicas, se for o caso, conforme o projeto pedagógico da instituição;
III - 100 horas de atividades teórico-práticas de aprofundamento em áreas específicas
de interesse dos alunos, por meio, da iniciação científica, da extensão e da monitoria.
Art. 8º Nos termos do projeto pedagógico da instituição, a integralização de estudos
será efetivada por meio de:
I - disciplinas, seminários e atividades de natureza predominantemente teórica que
farão a introdução e o aprofundamento de estudos, entre outros, sobre teorias educacionais,
situando processos de aprender e ensinar historicamente e em diferentes realidades
socioculturais e institucionais que proporcionem fundamentos para a prática pedagógica, a
orientação e apoio a estudantes, gestão e avaliação de projetos educacionais, de instituições e
de políticas públicas de Educação;
II - práticas de docência e gestão educacional que ensejem aos licenciandos a
observação e acompanhamento, a participação no planejamento, na execução e na avaliação
de aprendizagens, do ensino ou de projetos pedagógicos, tanto em escolas como em outros
ambientes educativos;
III - atividades complementares envolvendo o planejamento e o desenvolvimento
progressivo do Trabalho de Curso, atividades de monitoria, de iniciação científica e de
extensão, diretamente orientadas por membro do corpo docente da instituição de educação
superior decorrentes ou articuladas às disciplinas, áreas de conhecimentos, seminários,
eventos científico-culturais, estudos curriculares, de modo a propiciar vivências em algumas
4
(*)
Resolução CNE/CP 1/2006. Diário Oficial da União, Brasília, 16 de maio de 2006, Seção 1, p. 11.
modalidades e experiências, entre outras, e opcionalmente, a educação de pessoas com
necessidades especiais, a educação do campo, a educação indígena, a educação em
remanescentes de quilombos, em organizações não-governamentais, escolares e não-escolares
públicas e privadas;
IV - estágio curricular a ser realizado, ao longo do curso, de modo a assegurar aos
graduandos experiência de exercício profissional, em ambientes escolares e não-escolares que
ampliem e fortaleçam atitudes éticas, conhecimentos e competências:
a) na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, prioritariamente;
b) nas disciplinas pedagógicas dos cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal;
c) na Educação Profissional na área de serviços e de apoio escolar;
d) na Educação de Jovens e Adultos;
e) na participação em atividades da gestão de processos educativos, no planejamento,
implementação, coordenação, acompanhamento e avaliação de atividades e projetos
educativos;
f) em reuniões de formação pedagógica.
Art. 9º Os cursos a serem criados em instituições de educação superior, com ou sem
autonomia universitária e que visem à Licenciatura para a docência na Educação Infantil e nos
anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal, de
Educação Profissional na área de serviços e apoio escolar e em outras áreas nas quais sejam
previstos conhecimentos pedagógicos, deverão ser estruturados com base nesta Resolução.
Art. 10. As habilitações em cursos de Pedagogia atualmente existentes entrarão em
regime de extinção, a partir do período letivo seguinte à publicação desta Resolução.
Art. 11. As instituições de educação superior que mantêm cursos autorizados como
Normal Superior e que pretenderem a transformação em curso de Pedagogia e as instituições
que já oferecem cursos de Pedagogia deverão elaborar novo projeto pedagógico, obedecendo
ao contido nesta Resolução.
§ 1º O novo projeto pedagógico deverá ser protocolado no órgão competente do
respectivo sistema ensino, no prazo máximo de 1 (um) ano, a contar da data da publicação
desta Resolução.
§ 2º O novo projeto pedagógico alcançará todos os alunos que iniciarem seu curso a
partir do processo seletivo seguinte ao período letivo em que for implantado.
§ 3º As instituições poderão optar por introduzir alterações decorrentes do novo
projeto pedagógico para as turmas em andamento, respeitando-se o interesse e direitos dos
alunos matriculados.
§ 4º As instituições poderão optar por manter inalterado seu projeto pedagógico para
as turmas em andamento, mantendo-se todas as características correspondentes ao
estabelecido.
Art. 12. Concluintes do curso de Pedagogia ou Normal Superior que, no regime das
normas anteriores a esta Resolução, tenham cursado uma das habilitações, a saber, Educação
Infantil ou anos iniciais do Ensino Fundamental, e que pretendam complementar seus estudos
na área não cursada poderão fazê-lo.
§ 1º Os licenciados deverão procurar preferencialmente a instituição na qual cursaram
sua primeira formação.
§ 2º As instituições que vierem a receber alunos na situação prevista neste artigo serão
responsáveis pela análise da vida escolar dos interessados e pelo estabelecimento dos planos
de estudos complementares, que abrangerão, no mínimo, 400 horas.
Art. 13. A implantação e a execução destas diretrizes curriculares deverão ser
sistematicamente acompanhadas e avaliadas pelos órgãos competentes.
Art. 14. A Licenciatura em Pedagogia, nos termos dos Pareceres CNE/CP nos 5/2005 e
3/2006 e desta Resolução, assegura a formação de profissionais da educação prevista no art.
64, em conformidade com o inciso VIII do art. 3º da Lei nº 9.394/96.
5
Resolução CNE/CP 1/2006. Diário Oficial da União, Brasília, 16 de maio de 2006, Seção 1, p. 11.
(*)
§ 1º Esta formação profissional também poderá ser realizada em cursos de pós-
graduação, especialmente estruturados para este fim e abertos a todos os licenciados.
§ 2º Os cursos de pós-graduação indicados no § 1º deste artigo poderão ser
complementarmente disciplinados pelos respectivos sistemas de ensino, nos termos do
parágrafo único do art. 67 da Lei nº 9.394/96.
Art. 15. Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação, ficando revogadas a
Resolução CFE nº 2, de 12 de maio de 1969, e demais disposições em contrário.
6
(*)
Resolução CNE/CP 1/2006. Diário Oficial da União, Brasília, 16 de maio de 2006, Seção 1, p. 11.
Mestrado em Educação
Revista Profissão Docente
GONÇALVES,Sônia
Possui graduação em Ciências pelo Instituto superior de Ciências, Artes e
Humanidades de Lavras (1987) . Atualmente é Efetivo através de
concurso do E.E.Narciso de Queirós.
DONATONI,Alaíde Rita
Aluna da quarta turma do programa de Mestrado em Educação da
Universidade de Uberaba/Uniube, Uberaba (MG), 2006. ii Alaíde Rita
Donatoni – Professora do Mestrado em Educação da UNIUBE.
alaide.donatoni@uniube.br
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Mestrado em Educação
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RESUMO
Com base em pressupostos apontados na literatura sobre o curso de Pedagogia no Brasil
desde sua criação, em 1939, este artigo enfoca os marcos históricos de relevância para
compreensão de questões que envolvem a identidade do/a pedagogo/a peranteos
desafios e as novas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) — homologadas em abril
de 2006. Este estudo é parte de uma pesquisa de campo e documental em meio a
pedagogos/as coordenadores/as de cursos de Pedagogia, pedagogos/as que atuam em
espaços escolares e pedagogos/as gestores/as em espaços não escolares na cidade de
Uberlândia (MG). Visa identificar tendências de formação do/a profissional de
pedagogia e as demandas da sociedade relativas a informação e conhecimento entre
2000 e 2006. É uma contribuição para os avanços que se fazem necessários ao curso de
Pedagogia e à identidade profissional de pedagogos/as ante os desafios contemporâneos
da sociedade, do mercado de trabalho e das tendências indicadas pelas novas DCN.
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precisa porque determinam a formação com base na docência e indicam a gestão como
possibilidade. Se isso sinaliza a abertura à atuação em espaços escolares e não escolares,
também amplia a complexidade que acompanha historicamente a identidade
profissional do/a pedagogo/a.
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teorias, sobre a inserção destas na prática pedagógica e sobre a prática como norteadores
das funções do curso — às quais se acrescentam outras para o trabalho não escolar.
Segundo Silva (2003), o período de identidade outorgada começa em 6 de maio de
1999, quando a CEEP acata o documento apresentado pela Anfope. Os princípios que
abrangem as diversas tendências de formação são mantidos na proposta a ser
apresentada ao Conselho Nacional de Educação (CNE) para a elaboração das novas
DCN. Bastante abrangente, a proposta da CEEP permanece na Secretaria de Ensino
Superior do MEC, para depois ser encaminhada ao CNE. Ela inclui as funções
apresentadas para o curso de Pedagogia e abre possibilidades para o/a pedagogo/a;
também lhe define, com um pouco mais de clareza, o perfil comum. A proposta se
caracteriza pela “flexibilidade” ao indicar conteúdos básicos, conteúdos de
aprofundamento/diversificação e os estudos independentes. Sua base comum é a
docência.
Contraditoriamente, o parecer do CES 970/99 regulamenta os Institutos de
Ensino Superior (ISES) e anula a possibilidade de o curso de Pedagogia se voltar à
formação de docentes das séries iniciais do ensino fundamental e para a educação
infantil. Para tanto, usa duplo sentido, por omissão e talvez de forma grosseira, ao
interpretar — segundo Silva (2003) — os artigos 62, 63 e 64 da LDB. Têm início,
então, intensas manifestações contrárias.
Silva (2003) reconhece ainda, neste momento, a marca dos decretos do Poder
Executivo com tendência evidente a duas alternativas para formação do/a pedagogo/a
com projetos acadêmicos distintos — docência como base da organização curricular;
identidade profissional —, que podem ser desenvolvidos nos cursos Normal Superior e
Pedagogia. As novas DCN, os desafios e as possibilidades de mudança.
Após examinar a literatura apresentada nesse longo movimento de renovação da
educação brasileira, Brzenzinski (1996) afirma ser necessário enfocar o curso de
Pedagogia como evolução da inserção na práxis educacional daqueles/as que estão no
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Estudos recentes sugerem que a pedagogia, ainda, vive a antiga crise de
identidade. Ainda se pergunta qual é a base do curso de Pedagogia, pois os conteúdos e
espaços de atuação tratados pelas novas DCN são imprecisos. Segmentos que conduzem
este debate como a Anfope e seus desdobramentos (tais como Fonape e Fórum de
Diretores das Faculdades de Educação das Universidades Federais/Forundir) defendem
a docência como base; mas há quem insista na reafirmação do que já se diz há 26 anos.
Os debates estão num momento rico de controvérsias, contradições e grandes
possibilidades — é plausível pensar até que estão num novo período: o da
ressignificação e do redimensionamento da pedagogia. Se assim o for, não resta opção:
ou há uma reversão da história em prol da identidade orientada pela profissionalidade
docente, ou se perpetuarão as fragilidade até então apontadas por alguns educadores.
Por isso, é preciso avançar rumo a novas abordagens e práticas na pedagogia, sobretudo
com seu estatuto epistemológico próprio e fortalecido pelo conhecimento de quem
estuda, pesquisa e discute com profundidade a educação, o desenvolvimento humano, as
transformações da sociedade da informação e do conhecimento.
REFERÊNCIAS
LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e pedagogos, para quê? São Paulo: Cortez, 2005.
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Mestrado em Educação
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epistemológicos face ao debate e às novas DCNs sobre esse curso. Campinas (SP):
Autores Associados, 2006.
Sônia Gonçalves
Possui graduação em Ciências pelo Instituto superior de Ciências, Artes e Humanidades
de Lavras (1987) . Atualmente é Efetivo através de concurso do E.E.Narciso de
Queirós.
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HISTÓRIA DO CURSO DE PEDAGOGIA NO BRASIL: 1939-2005
Resumo
Este texto tem por intuito buscar entender a história do curso de Pedagogia no Brasil, como
ponto de partida para, em um segundo momento, buscar a caracterização da atuação destes
profissionais, na rede estadual de educação/Núcleo Regional de Educação de Londrina.
Tentaremos traçar a trajetória do curso de Pedagogia, paralelamente ao processo de construção
da identidade do pedagogo, de 1939, quando começou o curso no Brasil, até momento atual.
Com o recurso da recuperação da sua história tentaremos ampliar a compreensão a respeito
das indefinições, dúvidas e ameaças de ser extinção pelos quais passou desde a sua criação. O
ponto de partida é a data de implantação do primeiro curso de Pedagogia no Brasil em 1939 e
as referências que usaremos para fundamentar este trabalho são Iria Brzezinski e Carmem
Silvia B. Silva que, em seus livros, refazem a trajetória do curso analisando as mudanças
legais, os decretos e pareceres que foram configurando seu perfil assim como a contribuição
do movimento de alunos e professores nestas discussões. Temas como formação de
professores e constituição da escola pública, palco em que se insere a história do curso de
Pedagogia no Brasil foi construído a partir de trabalhos de Antonio Nóvoa e Dermeval
Saviani. A partir destes quatro autores foi feita uma revisão da construção da história do curso
de pedagogia no Brasil, enfocando a formação de professores, e sua trajetória desde quando
começou, contemplando algumas leis e decretos e também os movimentos que surgiram em
torno da formação do pedagogo, e sua relevância.
Introdução
A história do curso de Pedagogia no Brasil, tema deste texto, faz parte da pesquisa para
elaboração do Trabalho de Conclusão de Curso de Pedagogia, que tem por objetivo buscar a
caracterização da atuação destes profissionais, na rede estadual de educação/Núcleo Regional
de Educação de Londrina.
A partir das considerações de Nóvoa (1995), podemos afirmar que a identidade do
pedagogo está atrelada a do processo de constituição da profissão docente e assim como ao
processo de instalação da escola pública no Brasil, e ao processo de produção de uma
profissão, a docência, entendida atualmente como a base da formação profissional do
pedagogo: esta idéia, que deveria estar no começo, explica a relação entre a discussão da
3863
discussão a respeito do curso de Pedagogia que permeia sua história, como um indicador do
processo de construção da sua profissional idade: “A formação de professores é,
provavelmente, a área mais sensível das mudanças em curso no setor educativo: aqui não se
formam apenas profissionais; aqui se produz uma profissão” (NÓVOA, 1995, p. 26).
Do final do século XIX até 1930, no Brasil, os professores eram formados pela Escola
Normal, (BRZEZINSKI, 1996). Na década de 1930 a figura Escola Normal vai sendo
substituída pelos Institutos de Educação nos quais, segundo Tanuri (2000), a formação do
professor primário se dava em dois anos contendo tanto as disciplinas tradicionalmente
conhecidas como Fundamentos quanto as Metodologias de Ensino. O Instituto de Educação
oferecia também cursos de especialização, aperfeiçoamento, extensão e extraordinários.
Este é o modelo inspirador para a criação do curso de Pedagogia no conjunto da
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, cuja proposta de criação, como já foi afirmado, teve
por objetivo a formação de professores para do ensino secundário. Assim, o curso de
Pedagogia tem entre seus objetivos iniciais a formação de professores para a Escola Normal e
os Institutos de Educação.
O primeiro curso superior de formação de professores é criado em 1935, quando a
Escola de Professores (como era chamada), foi incorporada à Universidade do Distrito
Federal. Esta recém criada Faculdade de Educação passou a conceder “licença magistral” para
àqueles que obtivessem na universidade “licença cultural”. Com a extinção da UDF, em 1939,
e a anexação de seus cursos à Universidade do Brasil, a Escola voltava a ser integrada ao
Instituto de Educação. Através do decreto lei n. 1.190 de 04 de abril de 1.939, a partir da
organização da Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, e conforme Silva
(2006), visava à formação de bacharéis e licenciados para várias áreas, inclusive o setor
pedagógico. Com duração de 3 anos era formado o bacharel, para a formação do licenciado
era acrescentado mais um ano de didática, passando a ser conhecido como o esquema 3+1.
O curso desde seu início formava bacharéis e licenciados em Pedagogia, sendo os 3
anos dedicados às disciplinas de conteúdo, ou seja, para os próprios fundamentos da
educação. O curso de Didática, no 4o ano, destinado a todos os cursos de licenciatura, contava
com as seguintes disciplinas: Didática Geral, Didática Especial, Psicologia Educacional,
Administração Escolar, Fundamentos Biológicos da Educação, Fundamentos Sociológicos da
Educação. Ao bacharel em Pedagogia bastava cursar as duas primeiras, pois o restante já
3865
O terceiro período 1979-1998 é denominado por Silva (1999) período das propostas:
identidade em discussão; tal qual diz a denominação pode ser considerado um dos mais
importantes e ricos, uma vez que as discussões se acirram com a participação de professores e
estudantes universitários em defesa do curso de Pedagogia. Na trajetória do curso de
Pedagogia este período merece destaque, justificando a concessão de um subtítulo, uma vez
que professores e estudantes se organizam e passam a constituir um movimento para resistir
às reformas em um contexto de luta contra a ditadura imposta pelo regime militar, em um
primeiro momento e de elaboração de propostas no anúncio de redemocratização instalado,
em um segundo momento, pelo fim daquele regime. Assim, movimento se inicia em 1980,
mantendo-se ativo até hoje, tendo realizados encontros nacionais bianuais e seminários
regulares cujos documentos resultantes são considerados uma grande referência para a
construção da identidade do pedagogo e do próprio curso de Pedagogia (SILVA, 1999).
A história do movimento, relatada em muitos de seus Documentos indica que os
primeiros grupos a se mobilizarem foram grupos independentes, em torno dos cursos de
3868
formação dos profissionais da educação sejam organizados a partir de um núcleo comum para
os diferentes níveis e modalidades de ensino. Na especialização seriam preparados os
profissionais para o campo não docente, tanto para os espaços escolares quanto para os não
escolares. Assim, a formação do especialista se daria na pós-graduação strictu sensu, na qual
seriam formados os pesquisadores e/ou os educadores do ensino do 3o grau. Toda a proposta é
pautada no sentido de superação da concepção tecnicista.
Segundo Brzezinski (1996) os educadores passaram a partir da década de 80 a escrever
sua própria história, não só pelo diálogo, mas também pelos conflitos, constituindo não apenas
movimentos ou organizações, mas movimentos sociais que caminhavam rumo a
“redemocratização”, de resistência ao autoritarismo imposto pela ditadura militar. Apesar dos
conflitos que surgiram entre lideranças dos professores, dos estudantes com as lideranças do
governo, e também as tensões existentes no interior dos movimentos, em novembro de 1983,
em Belo Horizonte, conseguiu-se enfim uma proposta de reformulação dos cursos de
Pedagogia e licenciatura, proposta que ficou conhecida como “Documento Final de 1983” que
passa a constituir a referência básica para I Conferência Brasileira de Educação, realizada na
PUC de São Paulo, encaminhamento das reflexões sobre a “Formação do Educador”.
A idéia de formar o professor, enquanto educador, tendo a docência como base da
identidade do pedagogo a partir de um núcleo comum é mantida, apenas muda-se o nome para
“base comum nacional” que passa a constituir-se no cerne da proposta para os cursos de
formação de educadores. A relação entre licenciatura e bacharelado neste momento, é
percebida como um debate que estava apenas começando.
As questões básicas foram discutidas e desenvolvidas nos encontros nacionais, sob a
coordenação da Comissão Nacional de Reformulação dos Cursos de Formação do Educador
(CONARCFE) até 1990, quando a Comissão se transformou em Associação Nacional pela
Formação dos Profissionais da Educação (ANFOPE). O que se vê é que a partir do
“Documento Final” (de 1983) é que não se mais questionou a Pedagogia enquanto curso, ou a
sua existência, mas outras questões permaneceram como a do profissional a ser formado neste
curso e sua estruturação. A questão da identidade do pedagogo volta às discussões, aflorando
impasses que não caminharam para uma redefinição da legislação sobre o assunto, mas sim
tentaram conciliar a aplicação dos princípios firmados ao longo do processo. Em vista disto
várias instituições passaram a iniciar processos de reformulação dos cursos, tentando
3870
pela retirada a formação de professores do curso de Pedagogia. A situação, que foi criada pelo
parecer CES 970, aprovado em 09/11/99, retira do curso de Pedagogia a possibilidade formar
docentes para séries iniciais do ensino fundamental e para educação infantil em função do
entendimento equivocado dos dispositivos da legislação e de um erro na interpretação da lei
nos artigos 62, 63 e 64.
As manifestações contrárias foram intensas, pois o Governo de Fernando Henrique
Cardoso, tendo como base a LDB no artigo 62, através do decreto 3276/99, para socorrer a
CES/CNE, acaba com a formação de professores para educação infantil e para séries iniciais
no curso de Pedagogia. O argumento para a substituição do curso de Pedagogia pelos ISEs, é,
segundo Bolmann (apud Silva, 2006) “uma exigência da modernidade, ou seja, profissionais
preparados com maior rapidez e agilidade, atendendo ao princípio da flexibilidade e
equidade”. Tal argumento se identifica com o discurso do Banco Mundial em relação a
educação para países subdesenvolvidos como o Brasil, em que as condições de
desenvolvimento exigem que o básico seja suficiente implicando aligeiramento e pouco custo
para formação de professores.
E isso também atenderia a meta colocada pela própria LDB (em consonância com as
orientações do Banco Mundial), de formar todos os docentes para atuar na educação básica
em cursos superiores até 2007. O que vemos com isso é o “alijamento” da formação dos
profissionais da educação da Universidade através do Decreto 3276/99. (posteriormente
modificado) (BRASIL, 1999b). Encerramos aqui o terceiro e longo período não no sentido do
tempo, mas porque este representou o período em que os professores de um modo geral se
organizaram em defesa do curso de Pedagogia, envolvendo os estudantes universitários em
prol de mudanças.
O quarto período é denominado período dos decretos: identidade outorgada (1999-
.....), neste período as discussões se acirram em torno do decreto presidencial 3.276, de 6 de
dezembro de 1999 que define que a formação de professores para Séries Iniciais deve ser
realizada exclusivamente nos cursos normais superiores. Novamente a comunidade acadêmica
se organiza para resistir a tal decreto, e o governo não vê outra saída se não colocar outro
decreto para “consertar” o anterior, em agosto de 2000, vem, então, o decreto lei n. 3.554 que
substitui o “exclusivamente” por “preferencialmente”.
O curso de Pedagogia recuperou assim a sua função como licenciatura, mas de forma
3873
Política tornam este profissional preparado para enfrentar a escola tal qual está posta hoje:
diversificada. Outra questão ressaltada nas diretrizes é a reafirmação das universidades como
lócus privilegiado de formação de professores. O curso passa de 2.800 horas para 3.200 horas.
As diretrizes conseguiram ampliar o conceito de docência.
Considerações Finais
Nestes quase 70 anos do curso de Pedagogia no Brasil pudemos perceber que o curso
desde o começo enfrenta problemas e dificuldades e estes o acompanham ao longo de sua
trajetória. Sua regulamentação permanece sem alterações da criação a 1972, quando foi
reformulado em função do novo projeto educacional e a conseqüente legislação educacional
do governo militar. Neste momento, buscava-se tanto atender às novas exigências legais
quanto equacionar os questionamentos acerca das funções do curso e da sua estruturação
curricular.
Durante o período 1972 a 1978 o curso sofre algumas alterações de cima para baixo,
ou seja, suas alterações são, na quase totalidade, emanadas do Conselho Federal de Educação;
esta condição se mantém até a década de 1980 quando segmentos da sociedade civil se
organizam em movimentos que buscavam mudanças a partir da análise das condições
concretas da formação e atuação docente. Sua influência nas decisões governamentais se faz
sentir a partir de Congresso e Fóruns de discussão que resultaram na elaboração de
documentos que contribuíssem para a reformulação do curso. Tal processo sofre rupturas
quando, a partir de 1999 as atenções e preocupações se voltam para os decretos presidenciais,
que atingem diretamente o curso de Pedagogia, em um movimento de limitação das suas
funções.
Durante todo este tempo a busca pelo esclarecimento da identidade do pedagogo e a
definição mais precisa da função do curso de Pedagogia se mesclaram. Para concluir voltamos
à questão da identidade do pedagogo e sua ressignificação, mais que afirmar que sua
identidade esteja definida ou indefinida, podemos sim continuar a buscar respostas,
lembrando que a identidade profissional está ligada tanto ao próprio curso como à área de
atuação do pedagogo, em processo de construção contínua.
3875
REFERÊNCIAS
SILVA, Carmem Silvia Bissoli da. Curso de Pedagogia no Brasil: história e identidade. São
Paulo: Autores Associados, 1999.
EMENTA:
Introdução a Educação do Campo e a Escola do Campo. Relações entre educação, educação rural e a
educação do campo. Marco legal da Educação do campo no Brasil. Análise dos contextos e projetos de
escola do campo, seu Projeto Político Pedagógico, Regimento Escolar e instâncias colegiadas.
OBJETIVOS:
Geral:
Compreender a trajetória da Educação do campo como contraponto à Educação Rural no Brasil, bem como
as especificidades das escolas no contexto do campo.
Específicos:
• Compreender a dicotomia entre Educação do Campo e Educação rural;
• Analisar a Educação do campo como demanda da sociedade por uma educação de qualidade no e
do Campo;
• Reconhecer as especificidades das diferentes escolas do campo, bem como os elementos comuns
entre elas;
• Compreender as relações estabelecidas entre a Educação do campo e a escola com ênfase nas
contribuições da luta por uma educação de qualidade para os camponeses;
• Dialogar sobre os conhecimentos: quotidianos e escolares e a importância da relação entre os dois;
• Refletir sobre as práticas pedagógicas no contexto do campo.
PROGRAMA:
Campus Santa Cruz: Rua Salvatore Renna – Padre Salvador, 875 – Cx. Postal 3010 – Fone: (42) 3621-1000 FAX: (42) 3621-1090 – CEP 85.015-430, GUARAPUAVA – PR
Campus CEDETEG: Rua Simeão Camargo Varela de Sá, 03 – Fone/FAX: (42) 3629-8100 – CEP 85.040-080 – GUARAPUAVA – PR
Campus de Irati: PR 153 – Km 07 – Riozinho – Cx. Postal, 21 – Fone: (42) 3421-3000 – FAX: (42) 3421-3067 – CEP 84.500-000 – IRATI – PR
Página 1 de 4
Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO
Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes
Departamento de Pedagogia – DEPED/G
Pedagogia do Campo
3. Escolas do Campo
3.1 - Diferentes escolas do campo: elementos comuns e elementos específicos – Escola Itinerante,
Escola Indígena, Casa familiar Rural, Escolas quilombolas, Escolas multisseriadas e outras.
3.2 - Relações entre a Educação do Campo e a escola.
3.4 - Contribuições pedagógicas para Escola do Campo.
Essa disciplina será desenvolvida por meio de aulas expositivas e dialogadas, leituras e discussões de
textos, trabalhos coletivos, exibição de filme e debate, planejamento e visitas na escola do campo. Trabalho
integrado para o Tempo Comunidade.
Campus Santa Cruz: Rua Salvatore Renna – Padre Salvador, 875 – Cx. Postal 3010 – Fone: (42) 3621-1000 FAX: (42) 3621-1090 – CEP 85.015-430, GUARAPUAVA – PR
Campus CEDETEG: Rua Simeão Camargo Varela de Sá, 03 – Fone/FAX: (42) 3629-8100 – CEP 85.040-080 – GUARAPUAVA – PR
Campus de Irati: PR 153 – Km 07 – Riozinho – Cx. Postal, 21 – Fone: (42) 3421-3000 – FAX: (42) 3421-3067 – CEP 84.500-000 – IRATI – PR
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-Participação em reuniões, encontros e lives (se ocorrerem) por meio de outros instrumentos
midiáticos como: Facebook, Hangouts- Google Meet, Zoom, WhatsApp. Estas atividades deverão
ser registradas e agendadas com os alunos na plataforma Moodle.
-Postagem de relatórios avaliativos, conforme agendas prévias registradas na plataforma Moodle.
-Emails também poderão ser utilizados quando for necessário.
FORMAS DE AVALIAÇÃO:
O processo avaliativo levará em consideração a autonomia dos alunos nos trabalhos; formulação oral e
escrita nos conceitos; desenvoltura e postura nas atividades; capacidade organizativa e trabalho coletivo
nas seguintes atividades: seminários, relatórios analíticos, sínteses e provas. Trabalho do Tempo
Comunidade.
Para as atividades na plataforma institucional Moodle, o processo poderá ser avaliado por
meio dos acessos as atividades disponibilizadas e participação síncrona quando programado. A
avaliação dos (das) acadêmicos (as) deverá ser adaptada garantindo a diversidade de meios e
instrumentos avaliativos considerando àqueles estudantes que não conseguirem realizar os
acessos por motivos justificáveis de problemas e/ou dificuldades com o acesso e uso da internet e
das TICs.
BIBLIOGRAFIA BÁSICA:
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Coordenador do curso de Pedagogia
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Port. n. 669/2017-GR/UNICENTRO
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Profº Dra. Valdirene Manduca de
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Vice-Coordenador do Curso de
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Linguagem e
Ensino
Prof: Eduardo Maciel Ferreira
E-mail: themacphisto@gmail.com
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EMENTA:
Linguística textual - análise de elementos macro e microtextuais da constituição da Língua escrita
e oral enfatizando a construção do sentido no texto, a coerência, a coesão, a argumentação e as
variantes linguísticas que compõem o texto escrito. Práticas e estratégias de leitura. Produção e
reestruturação de textos. Percepção das diferentes linguagens nos contextos sócio-culturais e
suas possibilidades na prática educativa.
OBJETIVOS:
- Trabalhar a leitura, escrita e reescrita de textos literários e não literários no âmbito acadêmico,
visando sua prática nos ambientes de ensino;
- Compreender a língua como fenômeno social, histórico e cultural, reconhecendo-a como parte da
identidade de um povo e da comunidade a que pertencem.
- Reconhecer a importância dos interlocutores e o contexto da enunciação nas diversas
manifestações da linguagem oral e escrita.
- Discutir conceitos linguísticos que promovam a compreensão e expressão dos alunos, tanto nas
situações de comunicação oral quanto nas de comunicação escrita.
- Compreender fundamentos básicos da norma-padrão da Língua Portuguesa.
PROGRAMA:
2. Texto e textualidade.
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FORMAS DE AVALIAÇÃO:
BAKHTIN, Mikhail. Os Gêneros do Discurso. In: Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins
Fontes, 1992, p. 278-289.
CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa. São Paulo:
Companhia Editora Nacional.
FARACO, Carlos Alberto; TEZZA, Cristovão. Prática de texto para estudantes universitários.
Petrópolis/RJ: Vozes, 1992.
GERALDI, J.W. O texto na sala de aula. 3.ed. São Paulo: Ática, 2001.
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KOCH, Ingedore Villaça. Introdução à linguística textual: trajetória e grandes temas. São Paulo:
Contexto, 2015.
KOCH, Ingedore Villaça; TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A coerência textual. São Paulo: Contexto,
2009.
KOCH, Ingedore Villaça. O texto e a construção de sentidos. São Paulo: Contexto, 2007.
KOCH, Ingedore Villaça. A coesão textual. São Paulo: Contexto, 2009.
KOCH, Ingedore Villaça; ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender: os sentidos do texto. São
Paulo: Contexto, 2009.
MEDEIROS, João Bosco. Redação Científica: a prática de fichamentos, resumos e resenhas. 11.
ed. São Paulo: Atlas, 2009.
POSSENTI, S. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas: Mercado de Letras, 2000.
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR:
FIORIN, José Luiz; SAVIOLI, Francisco Platão. Para entender o texto: leitura e redação. São
Paulo: Ática, 2008.
MOTTA-ROTH, D.; HENDGES, G. H. Produção textual na universidade. São Paulo: Parábola
editorial, 2010.
KOCH, I. V. Ler e escrever: estratégias de produção textual / Ingedore Villaça Koch, Vanda Maria
Elias. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2011.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. São Paulo:
Cortez, 2001.
MENEGASSI, Renilson. Leitura, escrita e gramática no ensino fundamental. Maringá, Eduem,
2010.
SCHNEUWLY, Bernard; DOLZ, Joaquim. Gêneros orais e escritos na escola. Campinas, SP:
Mercado de Letras, 2004.
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Profº Dr. Marcos Gehrke
Coordenador do curso de Pedagogia do Campo
Port. n. 669/2017-GR/UNICENTRO
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Profº Dra. Valdirene Manduca de Moraes
Vice-Coordenador do Curso de Pedagogia do Campo
Port. n. 760/2020-GR/UNICENTRO
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Exemplos de textos
RESUMO 01:
RESUMO 02:
RESENHA:
Noções de Língua
Brasileira deSinais
LIBRAS
EMENTA:
Abordagem histórica da educação e da pedagogia desde a Antiguidade. As condições materiais de
vida e seus desdobramentos nas configurações e movimentos da História.
OBJETIVOS:
•Compreender a importância da história e do campo específico da história da educação;
•Discutir o pensamento educacional e a criação das instituições escolares nos diversos contextos
históricos.
• Analisar as mudanças e permanências educacionais.
PROGRAMA:
2. A Educação na antiguidade
2.1 Educação nas antigas civilizações da China, Índia e Japão;
2.2. História e educação na Mesopotâmia, Fenícios, Hebreus e Egito;
2.3 Estudos históricos e a Educação em Grécia e Roma.
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METODOLOGIA:
No tempo universidade será realizado: aulas expositivas, leituras, discussão e elaboração de
textos (atividade), seminários, apresentações de trabalhos, análise de filmes e documentários, e
sínteses.
Trabalho integrado para o Tempo Comunidade.
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BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura.
7. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.
BETHELL, Leslie (Org.). América Latina colonial. São Paulo: EdUSP, 1999.
BLOCH, M. Apologia da história ou o ofício de historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.
LUZURIAGA Y MEDINA, Lorenzo. Historia da educação pública. São Paulo: Nacional, 1959.
ATA DE APROVAÇÃO Nº. xx de 20 de outubro de 2020
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Introdução História e
história da educação
2. A história da história
3. História da educação
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Tudo o que foi dito até aqui vale para a história da educação,
já que o fenômeno educacional se desenrola no tempo e faz
igualmente parte da história. Portanto, não se trata apenas de
uma disciplina escolar chamada história da educação, mas
igualmente da abordagem científica de um importante recorte
da realidade.
Estudar a educação e suas teorias no contexto histórico em
que surgiram, para observar a concomitância entre as suas
crises e as do sistema social, não significa, porém, que essa sin-
cronia deva ser entendida como simples paralelismo entre fatos
da educação e fatos políticos e sociais. Na verdade, as questões
de educação são engendradas nas relações que se estabelecem
entre as pessoas nos diversos segmentos da comunidade. A edu-
cação não é, portanto, um fenômeno neutro, mas sofre os efeitos
do jogo do poder, por estar de fato envolvida na política.
Os estudos sobre a história da educação enfrentam as mes-
mas dificuldades metodológicas já mencionadas sobre a história
geral, com o agravante de que os trabalhos no campo específico
da pedagogia são recentes e bastante escassos. Apenas no século
XIX os historiadores começaram a se interessar por uma
história sistemática e exclusiva da educação, antes apenas um
“apêndice” da história geral.
Ainda assim, conhece-se melhor a história da pedagogia ou
das doutrinas pedagógicas do que propriamente das práticas
efetivas de educação. Neste último caso, alguns graus de ensino
(como o secundário e o superior) sempre preservaram docu-
mentação mais abundante do que, por exemplo, o elementar e o
técnico, trazendo dificuldades para a sua reconstituição.
A situação é mais difícil no Brasil, até há bem pouco tempo
sem historiadores da educação de importância, com enormes la-
cunas a serem preenchidas. Segundo o professor Casemiro dos
Reis Filho, em obra publicada em 1981, “somente depois de
realizados estudos analíticos capazes de aprofundar o
16/685
Conclusão
18/685
Dropes
Leituras complementares
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1 [O trabalho do historiador][7]
Atividades
Questões gerais
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2. A educação difusa
Dropes
Leituras complementares
1 [Ritos de passagem]
O rito, a tortura
Mas essa crueldade imposta ao corpo, será que ela não visa a
avaliar a capacidade de resistência física dos jovens, a tornar a
sociedade confiante na qualidade dos seus membros? Seria o
objetivo da tortura no rito apenas fornecer a oportunidade de
demonstração de um valor individual? (…)
Entretanto, se nos limitarmos a essa interpretação, estaremos
condenados a desconhecer a função do sofrimento, a reduzir in-
finitamente o alcance de seu propósito, a esquecer que a tribo,
através dele, ensina alguma coisa ao indivíduo.
A tortura, a memória
A memória, a lei
Atividades
Questões gerais