O Papel Do Brasil Na Nova Ordem Mundial
O Papel Do Brasil Na Nova Ordem Mundial
O Papel Do Brasil Na Nova Ordem Mundial
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Introdução
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O conceito foi introduzido no debate acadêmico pelo livro de Hardt e Negri (2000)
Empire, Cambridge, MA, Harvard University Press.
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Conceito de Keohane “The Theory of Hegemonic Stability and Changes in
International Economic Regimes, 1967-1977” en Holsti et.al. Change in the
International System.
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Citado em Fiori (2001:11) do livro Arrighi (1982) “The crisis of hegemony” em Amin;
Arrighi; Frank e Wallerstein: Dynamics of Global Crisis, Mac Millan Press, Londres.
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“O aumento da ‘pressão competitiva’ foi provocado –quase sempre– pelo
expansionismo de uma ou várias ‘potências’ líderes, e envolveu também um aumento
do número e da intensidade dos conflitos, entre as outras unidades políticas e
econômicas do sistema. E a ‘explosão expansiva’ que se seguiu projetou o poder destas
unidades o ‘potências’ mais competitivas para fora de si mesmas, ampliando as
fronteiras do próprio ‘universo’”. (Fiori, 2008:22).
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Esta discussão vai na mesma direção com a que pretendermos
desenvolver neste trabalho, embora consideremos que o Brasil está
aumentando sua importância no contexto mundial, este papel não seria
principal sem uma consolidação da sua liderança e supremacia no nível
regional.
Por ultimo, além do debate existente sobre a suposta perda de
hegemonia norte-americana, o que é indiscutível são as mudanças no
sistema mundial. O fato de que as relações econômicas entre as grandes
regiões do mundo tenham mudado radicalmente, a África e a America
Latina tem um cada vez maior percentagem de comercio com Índia e
China, é interessante dado que estes fluxos comerciais crescentes
provêem das regiões subdesenvolvidas do mundo (desde onde vinha
também o movimento de países não alinhados). Estas transformações
estão evidenciadas a partir de alguns fatos que podem se considerar como
oportunidades para os países emergentes, baixo a condição de estes
lograrem obter as ferramentas suficientes para administrar as mudanças a
seu favor. Neste sentido, parece que o Brasil está tendo certo sucesso.
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Wallerstein (1970): The Capitalist World-Economy, New York: Cambridge University
Press. (1984) The Politics of the World-Economy, New York: Cambridge University
Press. (1985) “The relevance of the concept of the Semi-Periphery to Southern Europe”,
en Arrighi (ed.) Semiperipheral Development: The Politics of Southern Europe in the
Twentieth Century. Beverly Hills, CA: Sage, 531.
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desenvolvimento. Noutras palavras, os países desenvolvidos chutam a
escada (composta por um conjunto de instituições e políticas específicas)
a través da qual conseguiram seu nível de desenvolvimento e preconizam
que os países em desenvolvimento adotem políticas diferentes.
Até que ponto Brasil adotou estas políticas? Em primeiro lugar, é
acertado dizer que na década dos 90 o Brasil adotou as receitas
neoliberais do Consenso de Washington ao pé da letra. No entanto, na
atualidade constitui um desafio teórico muito grande afirmá-lo com tanta
determinação. Mesmo assim, Chang (2002) entende que a
institucionalização nos países em desenvolvimento não deve seguir os
patrões do século passado, nem as exigências que atualmente se impõem
em termos de prazos, já que se parte de cenários diferentes dos que
partiram os países desenvolvidos. Neste ponto é aonde começa a ter
especial relevância a dependência de trajetória e as instituições criadas
pelo Brasil na sua época desenvolvimentista.
Neste sentido, Kohli (2004) estuda ao Estado como ator econômico
e suas capacidades de intervir na economia para promover a
industrialização. Sua hipótese central é que a criação de Estados
interventores efetivos nos países em desenvolvimento ajuda à emergência
de economias industrializadas. Em primeiro lugar, vale esclarecer que o
autor não considera que o desenvolvimento implique unicamente
crescimento econômico, nem que este se alcance pela única via da
industrialização. Mas toma estas trajetórias como ponto de partida de sua
análise e aponta que o Brasil dá dois passos para frente e um para trás.
Por um lado, cria instituições estatais que lhe permitem industrializar-se
relativamente cedo; mas, mesmo assim, é incapaz de sair do patrão de
desenvolvimento dependente.
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Já que não é preciso esperar a engrandecer o bolo para depois repartir.
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Em segundo lugar, a política exterior brasileira já tem um longo
desenvolvimento como área estratégica da política local. A partir da
década dos 60, o Brasil tem feito grandes esforços por desenvolver uma
política exterior autônoma apesar do alinhamento com os Estados
Unidos. O maior passo neste sentido se deu a partir do ano 2002, quando
a integração sul-americana foi definida como ação prioritária da política
exterior brasileira.
Na América Latina, o Brasil é considerado um dos países que mais
tem tirado proveito das últimas mudanças no nível político-estratégico.
Embora este fato gere também certas reticências, sobretudo de parte da
Argentina e Venezuela. Contudo, a idéia de que o Brasil é o líder nato da
América Latina, ainda que generalizada (não unicamente na região) não
implica um consenso. A este respeito, Coutinho (2008:275) explica que
não existe uma liderança natural, senão que esta deve ser construída.
Além disso, a existência de um líder supõe também a de liderados que
demandam certas vantagens em troca. Neste sentido, o governo Lula teve
uma política externa mais ativa que seu antecessor, sobretudo no segundo
governo se fez mais evidente uma mudança de foco desde o Mercosul
para a América Latina em geral.
Além disso, o Brasil está dentro dos países emergentes
denominados BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Este
grupo de países que lideram suas respectivas regiões enquanto ao
tamanho tanto da economia, quanto do território, tem um grande desafio
se querem se consolidar como uma alternativa geopolítica válida para
lidar com os países desenvolvidos nos organismos internacionais. Este
desafio é tentar ter uma agenda política comum que supere as enormes
diferenças e conflitos de interesses que tem cada um deles dentro da sua
própria região e no contexto mundial, e que esta coligação consiga
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Declaração feita por o Presidente dos Estados Unidos da época, Richard Nixon em
1971.
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primeiro lugar, as relações históricas entre Brasil e os países da América
Latina. Como já tem se assinalado, alguns consideram que o Brasil tem
sido historicamente protagonista na região; no entanto, também existem
teses que apontam que o Brasil apenas está ocupando o lugar que os
Estados Unidos lhe deixara, antes ocupado pela Espanha e Inglaterra
(Coutinho, 2009). Hirst, por sua parte, considera que há uma perda de
liderança dos Estados Unidos que já não tem forças para lidar com as
turbulências periféricas, fato que abre passo à consolidação do Brasil
como potência regional. Historicamente estas relações entre vizinhos não
tem evadido certas desconfianças, seja por questões culturais, de língua e
ate por determinações históricas derivadas das diferentes trajetórias, o
resto dos países da América Latina tem olhado ao Brasil como uma
ameaça imperialista no continente. Se bem esta trajetória de pais
imperialista não tem muitos fundamentos, já que desde 1870 o Brasil tem
mantido relações pacíficas com o resto dos países, existem algumas
visões que consideram a Brasil o sócio auxiliar da hegemonia americana
na região (Fiori, 2007:104).
Segundo Hirst (2009) existem quatro fatores que estão
determinando a política exterior brasileira com respeito a seus vizinhos:
em primeiro lugar, a projeção que a região tem sobre a estabilidade
democrática brasileira; em segundo, sua relação direta com os interesses
econômicos locais; em terceiro, a afirmação do Brasil como um poder
regional a escala mundial e, por último, as especificidades de cada
relação bilateral. A interação específica destes quatro fatores na
conjuntura marca o signo da política exterior brasileira. A autora
identifica, ademais, dois momentos da sua política exterior para a região.
O primeiro está caracterizado pelas variáveis brandas do poder, com uma
política marcada pela Presidência da União de diálogo político e de
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As dificuldades para concretizar as metas econômicas de integração
de mercados dentro do Mercosul abrem um novo desafio nos inícios do
século XXI, a necessidade de fechar acordos que atinjam a América
Latina toda. Neste sentido, a constituição da Comunidade Sul-americana
de Nações (União Sul-americana de Nações) constitui uma tentativa por
dar-lhe uma nova dimensão política à integração regional,
fundamentalmente a través da abertura de novos processos de
institucionalização.
Por outro lado, no que diz respeito aos assuntos militares, são
surpreendentes as cifras citadas por Vágner e Heye (2008) nas que o
Brasil gasta 71% dos gastos militares da América Latina desde 1990 a
2006. Esta cifra é ainda mais surpreendente se compararmos com o gasto
da Colômbia (7%) e Venezuela (4,1%) do gasto militar da região. As
notícias da compra de armamento e das investigações nucleares do Brasil
não deveriam nos surpreender, levando em conta estes dados. Além
disso, segundo estes autores: No ano corrente [2008] o Presidente Luis
Inácio Lula Da Silva propôs um orçamento de defesa 53% maior do que
o de 2007. Com gastos, nos últimos 15 anos, 10 vezes maior do que o
segundo colocado, a Colômbia, o Brasil não conta com rival na região
nesse quesito.8 No entanto, os autores não consideram que esteja
acontecendo efetivamente uma corrida armamentista na América Latina
(como a imprensa vem alardeando nos últimos anos, em especial, diante
das compras militares feitas pela Venezuela) pelo contrário, consideram
que é devido a uma mudança natural de material bélico aproveitando o
aumento nos preços dos commodities.
8
Vágner, C. y Heye, T., 2008:3.
Conclusões
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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http://www.economist.com/opinion/displaystory.cfm?story_id=14
845197
VÁGNER, Camilo e HEYE, Thomas. (2008), Tamanho é Documento? O
Brasil e o Equilíbrio de Poder na América do Sul. Análise de
Conjuntura OPSA, n.8:2-13. Disponível em:
http://observatorio.iuperj.br/pdfs/49_analises_AC_n_08_ago_200
8.pdf
ZAKARIA, Fareed. (2008), The Post-American World. New York, W.W.
Norton & Company Inc.