Escola Familia
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3UBSqDIOS PARA PRfTICAS ESCOLARES
*ANE -ARGARETH #ASTRO E -ARILZA 2EGATTIERI /RGS
Os autores são responsáveis pela escolha e apresentação dos fatos contidos neste livro, bem como pelas
opiniões nele expressas, que não são necessariamente as da UNESCO, nem comprometem a Organização.
As indicações de nomes e a apresentação do material ao longo deste livro não implicam a manifestação de
qualquer opinião por parte da UNESCO a respeito da condição jurídica de qualquer país, território, cidade,
região ou de suas autoridades, tampouco a delimitação de suas fronteiras ou limites.
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3UBSqDIOS PARA PRfTICAS ESCOLARES
*ANE -ARGARETH #ASTRO E -ARILZA 2EGATTIERI /RGS
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© 2009 Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e Ministério da
Educação (MEC).
Impresso em 2010.
Leitores Críticos
Maria Luiza Martins Aléssio – Diretora de Fortalecimento Institucional e Gestão Educacional – SEB/MEC
Clélia Mara Santos – Coordenadora Geral de Articulação Transversal –SEB/MEC
Oroslinda Taranto Goulart - Assessora Especial do Ministro da Educação
Néstor López – IIPE Buenos Aires
Tânia Resende – FAE/UFMG
Equipe de campo
Ana Leda Vieira Barreto
Cynthia Paes de Carvalho
Maria das Graças Galvão de Souza
Maria Luiza Canedo Queiroz
Mara Bergamaschi
Maura Marzocchi
Patrícia Monteiro Lacerda
Assistente de Pesquisa: Olívia Von der Weid
ISBN: 978-85-7652-111-2
SAS, Quadra 5 Bloco H, Lote 6, Ed. CNPq/IBICT/UNESCO, SEB – Secretaria de Educação Básica
9º andar, 70.070-912 – Brasília – DF – Brasil Esplanada dos Ministérios, Bloco L, Sala 500
Tel.: (55 61) 2106-3500 70.097-900 – Brasília, DF
Fax: (55 61) 3322-4261 Tel.: (55 61) 2022-8318
Site: www.unesco.org/pt/brasilia Fax.: (55 61) 2022-8326
E-mail: grupoeditorial@unesco.org.br Site: www.mec.gov.br
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SUMÁRIO
Apresentação ...........................................................................................................................7
I – Introdução ........................................................................................................................ 9
IX. 4 – Bibliografia............................................................................................................ 70
APRESENTAÇÃO
Todo profissional da educação experiente sabe que os resultados de seu trabalho junto aos
alunos são influenciados pelo apoio que estes recebem ou não por parte de seus familiares.
Este saber intuitivo é corroborado por inúmeras pesquisas nacionais e internacionais que têm
demonstrado que a origem e os apoios familiares – que vão desde as expectativas positivas até
investimentos de tempo e financeiros na carreira escolar dos filhos – impactam decisivamente
no desempenho escolar de crianças e jovens.
Pesquisas também têm demonstrado que, se a percepção de um professor sobre cada um
de seus alunos é decisiva para a promoção de uma boa relação escola-aluno, um diagnóstico
baseado em suposições e não em evidências sobre os fatores que estão interferindo nos
problemas de aprendizagem pode gerar intervenções pedagógicas pouco eficazes e com
resultados possivelmente desastrosos.
A mera constatação dessa estreita correlação entre mundo familiar e mundo escolar não
basta para mudar o quadro tão antigo e atual da conversão das desigualdades sociais em
desigualdades escolares. Na perspectiva de uma educação de qualidade para todos, essa situação
precisa ser enfrentada, pois a escola pública eficaz deve ser capaz de ajudar a garantir a cada um
de seus alunos, independentemente das condições de seu grupo familiar, o direito de aprender.
O presente estudo, realizado pela UNESCO, em parceria com o Ministério da Educação,
elege como prioridade, dentre tantas funções importantes que a aproximação das escolas e
das famílias pode ter, a recuperação da singularidade do aluno visto no seu contexto mais amplo.
Percebeu-se por meio da análise de experiências concretas identificadas juntamente com a
Representação da Ministério da
UNESCO no Brasil Educação
8
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I – INTRODUÇÃO
em uma única fórmula ou receita1. O desafio ao qual nos propusemos foi organizar
informações disponíveis em pesquisas acadêmicas, articuladas a algumas iniciativas relevantes
que vêm sendo desenvolvidas nos municípios, em escolas isoladas ou em coordenação
com as Secretarias Municipais de Educação, e apresentá-las de forma acessível.
A fim de identificar as iniciativas que já estão ocorrendo no Brasil, foi feita uma chamada via
internet para que as Secretarias Municipais de Educação (SMEs) e escolas relatassem suas boas
experiências de parceria com famílias. Além de uma breve explicação sobre o propósito
deste projeto, apresentamos uma ficha para coleta de informações nos sítios da UNESCO
e da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), entre 28 de outubro
e 28 de novembro de 2008. O Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed)
enviou correspondência a todos os seus filiados. Assim foi possível disponibilizar, para a
totalidade dos municípios brasileiros, a oportunidade de apresentar sua iniciativa.
Outras formas de prospecção das experiências foram: contatos com redes de
pesquisadores, professores universitários, gestores públicos e avaliadores que conhecessem
várias SMEs e pudessem indicar experiências de interação escola-família; pesquisa junto a
bancos de experiências de organismos governamentais, internacionais ou privados e busca
direta na internet. Conseguimos localizar 2 18 experiências coordenadas por Secretarias
Municipais de Educação e 14 realizadas por escolas sem a intervenção direta das SMEs.
As informações sobre tais experiências foram obtidas por meio de fichas preenchidas
por Secretarias Municipais e escolas e de entrevistas por telefone. O passo seguinte foi
selecionar experiências a serem visitadas, para uma análise mais aprofundada daquela iniciativa3.
Adotaram-se como critérios de seleção: projetos centrados no tema da relação escola-família,
articulados com a aprendizagem dos alunos e coordenados pelas Secretarias Municipais de
Educação. Privilegiamos experiências que tivessem estratégias distintas entre si para obter
um repertório mais amplo. Os municípios visitados foram: Iguatu (CE), Itaiçaba (CE), Taboão
da Serra (SP) e Teresina (PI).
Belo Horizonte (MG), embora não tenha sido visitada naquela ocasião, acabou impondo-se INTERAÇÃO ESCOLA-FAMÍLIA • Subsídios para práticas escolares
como experiência importante para os objetivos pretendidos. Ao longo deste trabalho, tivemos
contato direto com os gestores estratégicos do Programa Família-Escola e, como já havia
informações qualificadas sobre o histórico desta iniciativa4, foi possível incluí-la no estudo.
A fim de identificar o que as pesquisas e ensaios dizem sobre as interações escola-família,
fizemos um levantamento documental, selecionando principalmente textos nacionais produzidos
1. Pelo alcance da publicação, optamos por uma visão mais geral do problema sem considerar os contextos específicos como o da educação
no campo, educação indígena, escolas quilombolas, escolas especiais ou outras situações particulares.
2. O quadro com a identificação das experiências encontra-se em anexo.
3. Nota metodológica – As visitas foram feitas por duplas de pesquisadores experientes com duração média de três dias em cada município,
com o apoio dos coordenadores de cada projeto na Secretaria Municipal de Educação. O trabalho foi desenvolvido tendo como perspectiva
metodológica a abordagem qualitativa, buscando abranger representantes de todos os atores sociais envolvidos na experiência. Utilizamos
quatro tipos de instrumentos de coleta de dados: análise documental, entrevistas individuais e coletivas e observação. Nas entrevistas por
telefone, utilizou-se um roteiro de perguntas especialmente elaborado para este fim e, em seguida, foram levantados os indicadores
socioeducacionais dos municípios. 11
4. A experiência é bem documentada e sistematizada, tendo duas das pesquisadoras da equipe conduzido processos de avaliação in loco em Belo
Horizonte para o Prêmio Inovação do Laboratório de Experiências Inovadoras de Gestão Educacional nas duas primeiras edições (2006 e 2008).
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5. Nos dias 17 e 18 de junho ocorreram dois seminários consecutivos em Brasília para discussão da versão preliminar do texto. Foram
convidados responsáveis pelas experiências visitadas e prospectadas de modo a cobrir as cinco regiões brasileiras; seus nomes constam na
ficha técnica deste trabalho.
6. Os leitores especialistas foram Néstor López, coordenador de projetos de equidade e educação (SITEAL) do Instituto Internacional de
12 Planejamento da Educação (IIPE) de Buenos Aires e Tânia Resende, professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG) e pesquisadora do Observatório Sociológico Família-Escola (Osfe) da mesma universidade.
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II – CAMINHOS E ESCOLHAS
A perspectiva deste trabalho coloca no centro da cena os alunos da escola pública que
estão nos anos iniciais do ensino fundamental. Ao olharmos com cuidado para esses
meninos e meninas, vemos que é impossível entendê-los sem considerar seu contexto
familiar de referência. Como dizia José Ortega y Gasset “eu sou eu e minhas circunstâncias”,
ou seja, não é possível dizer quem é o aluno sem considerar suas circunstâncias sociais.
Na nossa sociedade, a responsabilidade pela educação das crianças e dos adolescentes
recai, legal e moralmente, sobre duas grandes agências socializadoras: a família e a escola7.
A educação abrange os processos formativos amplos que se desenvolvem na convivência
humana ao longo da vida. Trataremos aqui especialmente da educação escolar
obrigatória, tendo o Estado a responsabilidade de oferta primária e as famílias o dever de
matricular e enviar seus filhos à escola.
DEFININDO OS TERMOS8
Escola: Parte do sistema público de ensino que é responsável primário
pela educação escolar. Segundo a LDB (1996), a educação escolar tem
como objetivo, no ensino fundamental, “a formação básica do cidadão
compreendida como: I – o desenvolvimento da capacidade de aprender,
tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do
cálculo; II – a compreensão do ambiente natural e social, do sistema
político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a
sociedade; III – o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem,
7. O texto da Constituição Federal de 1988 diz no art. 205. “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e
incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho.”
8. Desde já é importante frisar que existem múltiplas possibilidades de ser escola e de ser família de forma que, mesmo usando a expressão
escola-família no singular, subentende-se uma pluralidade de arranjos.
9. Grifo nosso chamando a atenção sobre a responsabilidade que a lei atribui à educação escolar de reforçar o lugar do aluno como membro 13
de uma família e de uma comunidade mais ampla.
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No mundo familiar as crianças são filhos; no mundo escolar elas são alunos. A passagem
de filho a aluno não é uma operação automática e, dependendo da distância entre o
universo familiar e o escolar, ela pode ser traumática. Dentro da escola, o responsável
direto pela condução dos alunos é o professor, um adulto que também passou por um
processo de formação para alcançar a condição de profissional da educação.
As crianças que chegam à escola são membros-dependentes de um núcleo familiar que
lhes dá um nome e um lugar no mundo. Os professores, conectados ou não com o lugar
social deste aluno, têm como principal função garantir o direito educacional de cada menino
e menina, guiando-se pelas diretrizes do sistema/estabelecimento de ensino com o qual
tem vínculo de trabalho. O conjunto de professores, funcionários, coordenadores
pedagógicos, diretores escolares e familiares configura uma comunidade escolar, que tem
funções deliberativas sobre vários aspectos do projeto da escola.
As famílias estão inseridas em uma comunidade, localizada em determinado território,
com seus costumes, valores e histórias a que chamaremos de contexto social. As escolas
fazem parte de um sistema ou rede de ensino, sob coordenação da Secretaria Municipal
de Educação, que compartilha um mesmo marco regulatório (leis, decretos, atos
normativos do Conselho Nacional de Educação etc.) com as Secretarias de Estado e o
Ministério da Educação. A essas relações denominaremos contexto institucional.
A comunidade local se organiza como sociedade civil para exercer direitos e deveres,
enquanto o sistema de ensino representa o poder público que, em um Estado democrático
de direito, tem obrigação de cobrar deveres e garantir o exercício da cidadania também
pela oferta de serviços sociais a toda a população.
No mundo globalizado e complexo em que vivemos, as relações entre setores,
instituições e atores sociais estão muito imbricadas. Fica cada vez mais difícil entender os
problemas educacionais apontando apenas para as dificuldades originadas fora da escola ou
somente pelos processos internos a ela. Se, por um lado, não podemos desconsiderar a
influência da situação socioeconômica, da violência, das mudanças de costumes sobre o
comportamento e desempenho dos alunos, por outro, não podemos admitir que a escola
se transforme numa agência de assistência social e negligencie sua função específica de zelar
pela aprendizagem escolar.
É recomendável optar por uma abordagem relacional entre educação e contexto social.
Sempre com foco nos processos de ensino-aprendizagem, enxergamos as relações
professor-aluno em uma perspectiva ampliada que considera a cadeia de relações que está
por trás e entre esses dois atores, conforme sugere o esquema da página seguinte.
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2ELAljO POLqTICAS EDUCACIONAIS OUTRAS POLqTICAS
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2ELAljO GOVERNO FEDERAL ESTADUAL MUNICIPAL
2ELAljO GOVERNO FEDERAL ESTADUAL MUNICIPAL
2ELAljO %STADO NACIONAL INSThNCIAS SUPRANACIONAIS
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Podemos dizer que a relação entre escola e família está presente, de forma compulsória10,
desde o momento em que a criança é matriculada no estabelecimento de ensino. De
maneira direta ou indireta, essa relação continua viva e atuante na intimidade da sala de aula.
Assim, sempre que a escola se perguntar o que fazer para apoiar os professores na relação
com os alunos, provavelmente surgirá a necessidade de alguma interação com as famílias.
Nesta corrente, cabe aos sistemas de ensino o estabelecimento de programas e políticas que
ajudem as escolas a interagir com as famílias, apoiando assim o processo desenvolvido pelos
professores junto aos alunos.
Apesar de ser uma atribuição formal e inevitável da escola, a interação escola-família não
será tratada neste estudo como um fim em si mesmo. Sabemos que ela pode estar a serviço
de diversas finalidades, tais como: o cumprimento do direito das famílias à informação sobre
a educação dos filhos; o fortalecimento da gestão democrática da escola; o envolvimento
da família nas condições de aprendizagem dos filhos; o estreitamento de laços entre
comunidade e escola; o conhecimento da realidade do aluno; entre outras.
As ideias aqui expostas não devem ser entendidas como “mais um pacote pronto” que
cai na cabeça de quem está nas salas de aula. Pelo contrário: ao começar a elaborar
projetos e políticas, cada município ou escola estaria criando e estruturando suas próprias
INTERAÇÃO ESCOLA-FAMÍLIA • Subsídios para práticas escolares
ações, conectadas ao conjunto das demais práticas educacionais consideradas válidas
para a sua realidade.
A possibilidade de várias abordagens e usos da interação escola-família exige que
explicitemos algumas reflexões e escolhas que norteiam o estudo:
• A expressão interação escola-família se baseia na ideia de reciprocidade e de
influência mútua, considerando as especificidades e mesmo as assimetrias existentes
nessa relação.
• O Dicionário Houaiss traz definições da palavra interação: a) atividade ou trabalho
compartilhado, em que há trocas e influências recíprocas e b) comunicação entre
pessoas que convivem; diálogo, trato, contato.
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10. Pelo menos no caso do ensino fundamental.
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Por isso, priorizamos, dentre todas as finalidades que a interação escola-família pode
ter, o conhecimento do aluno no seu contexto social como insumo para revisão das
práticas pedagógicas, escolares e educacionais.
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Voltemos a pensar no que é necessário para que uma criança incorpore a identidade de
aluno. Será que todos têm as mesmas condições de fazer essa passagem? Quais
características uma criança precisa trazer consigo para transitar bem pelos códigos e regras
escolares? Que tipo de situação familiar facilita a entrada e permanência das crianças e
adolescentes na escola e que tipo dificulta?
Assumimos que a educação é para todos e, sob a perspectiva inclusiva, não podemos
usar características individuais ou sociais para negar o acesso e progresso de qualquer um
na escola. No entanto, não podemos ignorar que o trabalho escolar, em geral, pressupõe
que uma criança chegue à escola com uma série de características: físicas – deve estar
saudável e bem alimentada; linguísticas – precisa entender bem a língua usada pelos
professores e pelos colegas; e atitudinais – tem de respeitar os professores, cumprir
acordos, assumir compromissos, saber se controlar etc.
Parte das características fundamentais para o sucesso escolar, no entanto, não é ensinada
pela ou na escola: ela deve vir como pré-requisito do aluno, desde o seu primeiro dia de
aula. Se a criança não está desde cedo no sistema educacional, por falta, por exemplo, de
acesso à educação infantil, espera-se que ela aprenda estes comportamentos no
convívio familiar.
Uma família cujos membros mais velhos frequentaram a escola por um tempo
significativo tende a entender e valorizar o que acontece nesta instituição. Isso facilita a
transmissão das regras escolares aos seus membros mais jovens. A importância do
uniforme, a capacidade de esperar a vez de falar, por exemplo, são normas que têm de
ser aprendidas. O acompanhamento do dever de casa é outro exemplo de como a escola
requisita espaço e tempo do cotidiano familiar. Entretanto, muitas famílias simplesmente
não sabem ou não conseguem realizar esse acompanhamento com a disponibilidade e/ou
INTERAÇÃO ESCOLA-FAMÍLIA • Subsídios para práticas escolares
competência que se espera delas.
Assim, os alunos cujas famílias têm experiências e valores próximos aos da escola, além
de recursos para investir no apoio a sua carreira escolar, ocupam o lugar do “aluno
esperado”. Já os alunos cujas famílias têm culturas, valores diferentes dos da escola e têm
poucos recursos para empregar no suporte à escolarização dos filhos são, muitas vezes,
classificados simplesmente pela distância que os separa do aluno esperado. Esta identidade
marcada pelo que falta à criança para se transformar no aluno dentro dos “moldes
desejados” tende a afetar sua relação com os professores, coordenadores escolares e
diretores. Como os projetos político-pedagógicos – e as práticas deles decorrentes – irão
considerar essa criança, se a comunidade escolar só a conhece pelo que ela não é e não
conhece seu rosto? É difícil incluir e valorizar o que não se conhece.
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Desde o final dos anos 1980, as lutas pelos direitos das minorias e em defesa da diversidade
confrontaram os discursos consolidados sobre a igualdade vigentes até então. A fórmula
18 “somos todos iguais” começou a ser revista a partir do reconhecimento de que somos
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todos diferentes: a igualdade não deve ser tomada como um ponto de partida, mas sim
como um horizonte a ser alcançado. Coloca-se assim a noção de equidade como base de
um projeto político de igualdade que parte do reconhecimento das desigualdades iniciais.
Mas como essa noção se aplica à educação? Inicialmente, é preciso reconhecer que a
concepção de que todos somos iguais, por desconsiderar as diferenças de origem,
contribuiu para converter desigualdades sociais em desigualdades escolares. A oferta
educativa homogênea, pensada para atender o grupo dos alunos esperados, reforçava a
desvantagem inicial dos alunos que se distanciavam desse perfil.
No Brasil, com a quase universalização do acesso ao ensino fundamental, a desigualdade
nas condições de aprendizagem e no alcance dos resultados educacionais está sendo
assumida como um problema de qualidade da escola/sistema – além de ser uma questão
prioritária na agenda social nacional.
A busca pela qualidade com equidade, ou seja, todos os alunos aprendendo e
progredindo na carreira escolar na idade certa, está presente na pauta das políticas, nos
projetos e também nos programas de pesquisa na área da Educação.
Na empreitada pela equidade, a relação escola-família ressurge como um fator-chave.
Mesmo que não haja uma comprovação científica da influência direta da interação escola-
família na melhoria do aprendizado dos alunos, inúmeras pesquisas no Brasil e no mundo
todo têm mostrado que as condições socioeconômicas, as expectativas e a valorização da
escola e o reforço da legitimidade dos educadores são fatores que emanam da família e
estão altamente relacionados com o desempenho dos alunos.
A proposta deste estudo é organizar uma compreensão mais acurada do que está em
jogo quando os agentes educacionais tomam a iniciativa do contato com as famílias dos
alunos. Esperamos que contribua para o resgate da disposição dos profissionais da escola
em conhecer a realidade de cada aluno e entender o alcance da sua prática social.
Para isso, frisamos mais uma vez, os professores precisarão ser apoiados pela equipe de
gestão escolar – que, por sua vez, terá de contar nesta tarefa com o suporte da Secretaria INTERAÇÃO ESCOLA-FAMÍLIA • Subsídios para práticas escolares
de Educação.
O conhecimento das condições de vida das crianças e adolescentes em idade de
escolarização obrigatória pode dar origem a ações interligadas em dois níveis:
1) a revisão dos projetos e práticas educacionais, pensando na diversidade dos alunos
e não apenas no aluno esperado;
2) a convocação de novos atores e a articulação das políticas educacionais com
políticas setoriais capazes de apoiar as famílias dos alunos para que elas possam
exercer suas funções.
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O presente estudo assume uma proposta de interação escola-família que está baseada
nos seguintes princípios norteadores:
• A educação de qualidade, como direito fundamental de todas as pessoas, tem
como elementos essenciais a equidade, a relevância e a pertinência, além de dois
elementos de caráter operativo: a eficácia e a eficiência.
• O Estado (nos níveis federal, estadual e municipal) é o responsável primário pela
educação escolar.
• A escola não é somente um espaço de transmissão da cultura e de socialização. É
também um espaço de construção de identidade.
• O reconhecimento de que a escola atende alunos diferentes uns dos outros
possibilita a construção de estratégias educativas capazes de promover a igualdade
de oportunidades.
• É direito das famílias ter acesso a informações que lhes permitam opinar e tomar
decisões sobre a educação de seus filhos e exercer seus direitos e responsabilidades.
• O sistema de educação, por meio das escolas, é parte indispensável da rede de
proteção integral que visa assegurar outros direitos das crianças e adolescentes.
• A proteção integral das crianças e adolescentes extrapola as funções escolares e
deve ser articulada por meio de ações que integrem as políticas públicas intersetoriais.
Tanto a escola quanto a família, as duas instituições cuja relação é nosso objeto de análise,
sofreram transformações profundas ao longo da nossa história. Mediador e regulador dessa
relação, o papel do Estado também foi se modificando. Ao percorrer esta história, podemos
compreender a origem de algumas ideias que ainda hoje estão presentes no pensamento
educacional e verificar sua atualidade ou anacronismo. A recuperação deste fio de meada pode
inspirar cada município a identificar conexões desse cenário geral com a história local, com
seus traços específicos, e assim melhor compreender o terreno simbólico no qual irá atuar.
nasce marcada pelo ideário da civilização e do progresso para todos. A ação educacional no
Brasil começou, ainda no período colonial, como uma ação para as elites, calcada nos valores
da cultura europeia, de conteúdo livresco e aristocrático. Para as classes populares, a edu-
cação, quando existia, voltava-se para a preparação para o trabalho e era quase uma catequese
– o objetivo principal era moralizar, controlar e conformar os indivíduos às regras sociais.
Configurou-se assim, desde o início da história da educação brasileira, uma proposta
educacional marcada pela diferenciação de atendimento para ricos e pobres.
Nos primeiros anos da República, as poucas escolas primárias existentes – criadas ainda
no período do Império – atendiam cerca de 250 mil alunos, em um país com cerca de 14
milhões de habitantes, dos quais 85% eram analfabetos. Até o final do século XIX, o abismo
entre os setores da sociedade brasileira no que se refere à educação manteve-se
praticamente inalterado: enquanto os filhos dos fazendeiros eram enviados à Europa para
aprofundar seus estudos, formando a elite política e intelectual do país, a imensa maioria
da população era analfabeta. Durante todo o período imperial e ainda no início da República,
a escolarização doméstica de iniciativa privada, às vezes organizada em grupos de parentes
ou vizinhos em áreas rurais, atendia um número considerável de alunos, ultrapassando
inclusive a rede de escolas públicas existente.
Foi especialmente a partir da proclamação da República em 1889 que a escolarização
ganhou impulso em direção à forma escolar que conhecemos atualmente. Pode-se mesmo
afirmar que a escola se transforma numa instituição fundamental para a sociedade brasileira
há pouco mais de 100 anos, e nesse sentido, ela pode ser considerada uma instituição
republicana. No ideário republicano a educação escolar se associava à crença na civilização
e no progresso. A importância crescente da escola primária teve como contraponto a
desqualificação das famílias para a tarefa de oferecer a instrução elementar, progressivamente
delegada à instituição escolar, cujos profissionais estariam tecnicamente habilitados para isso.
Apesar da importância conferida à educação pela República, não se verificou uma substancial
melhoria da situação de ensino: o recenseamento de 1906 apresentou uma média nacional INTERAÇÃO ESCOLA-FAMÍLIA • Subsídios para práticas escolares
de analfabetismo de 74,6%.
Com a criação das escolas públicas pelo novo regime, começa-se a questionar a
capacidade da família para educar os filhos. É neste quadro de contraposição da educação
moderna à educação doméstica que se consolidam as primeiras ideias – que resistem ao
tempo, mesmo fora de contexto –, de que as famílias não estavam mais qualificadas para
as tarefas do ensino. Além de terem de mandar os filhos à escola, os familiares precisavam
também ser educados sobre os novos modos de ensinar. O Estado passa a ter um maior
poder diante da família, regulando hábitos e comportamentos ligados à higiene, saúde e
educação.
A construção dos grupos escolares durante o período da Primeira República (1889-1930)
colocava em circulação o modelo das escolas seriadas. O novo sistema educacional permitia 21
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desconhecidos numa época em que os alunos só aprendiam o que estava nos livros e
nem se falava em pesquisa escolar.
A professora Armanda Álvaro Alberto fazia parte do Movimento dos Pioneiros da
Escola Nova, que surgiu na década de 1920 e teria forte presença e influência no
cenário educacional das décadas seguintes. Os escolanovistas lutavam pela garantia
de educação como direito básico e trabalharam pela modernização não apenas dos
espaços escolares, mas também das práticas pedagógicas. Neste período, muitos
desses educadores realizaram reformas educacionais nos estados, como a de
Lourenço Filho, no Ceará, em 1923, a de Francisco Campos e Mario Casassanta,
em Minas Gerais em 1927, a de Fernando de Azevedo, no Distrito Federal (atual
Rio de Janeiro) em 1928 e a de Carneiro Leão, em Pernambuco, em 1928 e a do
próprio Anísio Teixeira na Bahia em 1925.
Já sob o governo Vargas, em 1932, os Pioneiros da Escola Nova divulgaram o
Manifesto “A Reconstrução Educacional no Brasil – Ao Povo e ao Governo”. Armanda
foi uma das três mulheres signatárias do documento – que retratava o inconformismo
com a educação no país e defendia a montagem de um sistema de educação pública,
laica, gratuita e obrigatória para todos. O Manifesto, marco inaugural do projeto de
renovação educacional, consolidava a visão de um segmento da elite intelectual
que via a possibilidade de interferir na organização da sociedade brasileira a partir
da educação.
Entre as várias propostas, trataram da função social da escola, reconhecendo a
importância da família como agente de educação vale destacar: “A educação não se
faz somente pela escola, cuja ação é favorecida ou contrariada, ampliada ou reduzida
pelo jogo de forças que concorrem ao movimento das sociedades modernas.
Numerosas e variadíssimas são as influências que formam o homem através da
existência. Há a herança que é a escola da espécie, a família que é a escola de pais,
o ambiente social que é a escola da comunidade”. INTERAÇÃO ESCOLA-FAMÍLIA • Subsídios para práticas escolares
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Dessa forma, não tem sentido fazer referência a essas diferentes configurações como
“famílias desestruturadas”, uma vez que na verdade elas configuram novas estruturas e não
a falta de estrutura. Isso não significa dizer que não existam famílias negligentes ou omissas,
nem implica em negar a situação de vulnerabilidade de muitas – mas é preciso discernir
entre o que realmente traz problemas para as crianças e o que é apenas sinal de novos
tempos. Vale lembrar que estas transformações e rearranjos familiares se encontram
atualmente presentes em todos os grupos sociais e nem todas as crianças oriundas destas
novas estruturas familiares vivenciam problemas escolares ou sociais.
Nas últimas décadas do século XX, a revolução tecnológica, a globalização, a
comunicação e a computação criam novos costumes e demandas. Nesse período,
especialmente nos grandes centros urbanos do Brasil, os altos índices de violência e de
conflitos sociais impactam a vida das famílias e a rotina das escolas públicas. Ao mesmo
tempo, a consolidação da democracia e a busca conjunta pela qualidade do ensino parecem
abrir espaço para o maior entendimento e colaboração entre escola e família.
Estudos sociológicos recentes iluminam de modo mais específico essa relação, buscando,
entre outros objetivos, identificar os efeitos do envolvimento dos responsáveis na
escolaridade dos filhos. Os estudiosos do tema atestam que hoje a escola e a família
intensificaram como nunca suas relações. A presença e a participação dos responsáveis nas
atividades escolares são cotidianas e acontecem além das instâncias formais. A relação entre
responsáveis e profissionais da educação é cada vez mais individualizada, em favor não
apenas do desenvolvimento intelectual da criança, mas de seu bem-estar emocional.
11. “Direito público subjetivo é aquele pelo qual o titular de um direito pode exigir direta e imediatamente do Estado o cumprimento de um
26 dever e de uma obrigação. O titular deste direito é qualquer pessoa, de qualquer idade, que não tenha tido acesso ou à escolaridade obrigatória
na idade apropriada ou não...” (Saviani, 2002, p. 21 e 22).
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12. Na sessão seguinte, os aspectos mais contemporâneos da história desta relação, bem como os marcos reguladores desta relação serão 27
aprofundados.
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MARCOS LEGAIS
Ao longo das últimas décadas, a criança foi sendo deslocada da periferia para o centro
da família. Do mesmo modo, ela passou a ser o foco principal do sistema educativo. O
deslocamento é fruto de uma longa história de emancipação, na qual as propostas
educacionais têm peso importante. Esse movimento alinha-se ao dos direitos humanos e
consolida-se na Carta Internacional dos Direitos da Criança, de 1987, que registra o acesso
da criança ao estatuto de sujeito de direitos e à dignidade da pessoa. Tais conquistas
invertem a concepção de aluno como página em branco, encerrada no projeto inicial da
escola de massa e que organizava a hierarquia das posições no sistema escolar. Estas
mudanças incidem diretamente nas transformações das relações entre as gerações, tanto
de pais e filhos quanto entre professores e alunos. Com relações mais horizontais, o
exercício da autoridade na família e na escola como estava configurado até então – adultos
mandavam e crianças/adolescentes obedeciam – tende a entrar em crise.
Na consolidação dos direitos das crianças, as responsabilidades específicas dos adultos que
as cercam vão sendo modificadas e a relação escola-família passa a ser regida por novas normas
e leis. No Brasil, em termos legais, os direitos infanto-juvenis estão amparados pela Consti-
tuição e desdobrados no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei nº 8.069, de
1990, e na nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), promulgada em 199613.
Segundo a LDB, os profissionais da educação devem ser os responsáveis pelos processos
de aprendizagem, mas não estão sozinhos nesta tarefa. A lei prevê a ação
Ação integral das integrada das escolas com as famílias:
escolas com as famílias “Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns
prevista na LDB e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de:
(...) VI – articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos
de integração da sociedade com a escola; (...)
Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de:
(...) VI – colaborar com as atividades de articulação da escola com as famílias e a
comunidade.
Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino
público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os
seguintes princípios:
(...) II – participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou
equivalentes”.
28
13. Com relação à rede de escolas privadas, o Código de Defesa do Consumidor é também referência para balizar as relações entre escolas e famílias.
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Tanto no ECA quanto na LDB, a efetividade do direito à educação das crianças e dos
adolescentes deve contar com a ação integrada dos agentes escolares e pais ou INTERAÇÃO ESCOLA-FAMÍLIA • Subsídios para práticas escolares
crianças e adolescentes têm direitos a serem respeitados, mas também seus educadores e
demais profissionais. As discussões em torno do tema devem ocorrer a partir de uma
compreensão acurada da doutrina da proteção integral, que precisa estar incorporada à
formação inicial e continuada de professores, gestores escolares e educacionais. Com o
envolvimento consciente desses profissionais, a realização do direito à educação da criança
e do adolescente certamente será mais facilmente alcançada.
Outra questão é que, para a efetivação do Estatuto, novos atores, como o Conselho
Tutelar14 – órgão permanente e autônomo, não jurisdicional – e o Ministério Público,
passam a ser interlocutores dos agentes educacionais e das famílias. Essas mediações afetam
o equilíbrio das relações de poder dentro das escolas, das famílias e entre escolas e famílias.
Conflitos antes tratados na esfera privada ganham os holofotes e os rigores da esfera pública.
Atualizando os marcos existentes, o Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação,
do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), formalizado pelo Decreto nº 6.094,
de 24/4/2007, reforça a importância da participação das famílias e da comunidade na busca
da melhoria da qualidade da educação básica. O Plano de Metas estabelece as seguintes
diretrizes para gestores e profissionais da Educação:
14. O Conselho Tutelar não possui capacidade legal de interferência em assuntos internos da escola. No entanto, ele pode verificar, por
exemplo, a frequência e o aproveitamento escolar de determinada criança ou adolescente. Não para interferir na escola, mas para determinar
30 aos pais ou ao responsável as medidas para a correção das insuficiências (artigo 129, inciso V). O que se percebe na prática é que em muitas
ocasiões basta que os pais sejam orientados com relação às suas obrigações para reverter a ausência dos alunos.
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Mas seria possível, ou desejável, anular a assimetria entre os familiares dos alunos e os
profissionais da educação? Entendemos que por trás da assimetria há diferenças reais. Os
educadores escolares são profissionais especializados que têm autorização formal para
ensinar e, conforme já mencionado, para emitir certificações escolares. Eles formam um
coletivo com interesses profissionais e institucionais a zelar, enquanto os familiares, geralmente
pouco organizados, são movidos por interesses individuais centrados na defesa do próprio filho.
Mais recentemente, além de representantes dos filhos, os familiares têm sido estimulados
– inclusive pela legislação educacional – a interagir com os profissionais da educação também
como cidadãos que compõem a esfera pública da instituição escolar. A participação em
conselhos escolares (ou associações de pais e mestres), em conselhos do Fundeb15, conselhos
de merenda etc. é parte desta tarefa de representação da sociedade civil e de controle
social. Essa dupla função – representante do filho e representante da comunidade – torna mais
complexa a delimitação dos lugares reservados aos pais e mães na escola, mas abre possibi-
lidades importantes de exercício democrático de participação que podem beneficiar todos.
Quando falamos em interação, pensamos em atores distintos que têm algum grau de
reciprocidade e de abertura para o diálogo. Nessa perspectiva, é importante identificar e
negociar, em cada contexto, os papéis que vão ser desempenhados e as responsabilidades
específicas entre escolas e famílias. Por exemplo, considera-se que o ensino é uma atribuição
prioritariamente da escola. Esta, porém, divide essa responsabilidade com as famílias,
quando prescreve tarefas para casa e espera que os pais as acompanhem. Em um contexto
de pais pouco escolarizados, com jornadas de trabalho extensas e com pouco tempo para
acompanhar a vida escolar dos filhos, essa divisão pode mostrar-se ineficaz. Por isso, da
mesma forma como procura diagnosticar as dificuldades pedagógicas dos alunos para
atendê-los de acordo com suas necessidades individuais, a escola deve identificar as
condições de cada família, para então negociar, de acordo com seus limites e possibilidades,
a melhor forma de ação conjunta. Assim como não é produtivo exigir que um aluno com
dificuldades de aprendizagem cumpra o mesmo plano de trabalho escolar dos que não têm
dificuldades, não se deve exigir das famílias mais vulneráveis aquilo que elas não têm para dar.
32 15. Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação.
16. Conforme já foi dito, foram localizadas e contatadas experiências propostas por Secretarias Municipais em 18 municípios e 14 experiências
propostas por escolas sem coordenação da SME local.
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localizadas via internet, haviam sido interrompidas com pouco tempo de duração. Isso pode
indicar tanto que tais experiências foram projetadas como eventos pontuais – dia da família
na escola, ação comunitária, festividades –, quanto a dificuldade de conceber e implementar
uma proposta mais consistente.
Estes fatos contrastam com o discurso difundido por pesquisadores, educadores,
gestores educacionais e legisladores sobre a importância de se trabalhar em conjunto com
a família dos alunos. Como ler esta distância entre o suposto consenso sobre a relevância
de aproximação das escolas com as famílias e a dificuldade de se conceber e implementar
programas ou políticas nessa direção?
Parte da explicação parece estar na conjunção da complexidade do tema e das inúmeras
dificuldades que as escolas públicas brasileiras enfrentam para acolher o universo das crianças
em idade de escolarização obrigatória. As pesquisas mostram também que esta interação
nem sempre é cordial e solidária. Ela pode ser uma relação armadilhada, onde nem tudo
o que reluz é ouro ou um diálogo (im)possível, como descrevem alguns teóricos mais
influentes sobre a questão17. Um agravante da dificuldade do empreendimento pode ser,
justamente, a falta de referências concretas de experiências municipais e escolares que
obtiveram resultados comprovados18 de uma interação que resultasse em melhoria na
qualidade educacional. O presente estudo pretende avançar, mesmo que de forma
exploratória, na remoção deste último obstáculo.
Com base nas informações coletadas, fizemos uma leitura transversal que aglutinou as
experiências em quatro tipos de intencionalidade.
17. Estamos nos referindo a Pedro Silva (2003), Ramiro Marques (in Silva, 2003) e Montandon; Perrenoud (1999), respectivamente.
18. Nas entrevistas e visitas realizadas, colhemos informações de diversos atores que mostram indícios de bons resultados. No entanto, como
nenhuma das experiências tinha passado por uma avaliação rigorosa, consideramos que as evidências obtidas ainda não são suficientemente
consistentes.
19. Utilizamos como referência o método de “tipos ideais” proposto por Max Weber, que pode ser entendido como uma forma de classificar 33
e comparar fatos sociais produzidos em uma mesma sociedade, em sociedades do mesmo tipo ou em sociedades de tipos diferentes, para
descobrir seus traços comuns, suas regularidades, tendências, fatores e efeitos sociais.
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Interagir Reduzir as taxas de Reuniões envolvendo pais, Maior clareza sobre os papéis
abandono e repetência professores e gestores familiares e escolares no apoio
com a
dos alunos. educacionais focadas na à vida escolar do aluno.
família para aprendizagem dos alunos.
Reduzir os episódios de Maior credibilidade do
melhorar os indisciplina dos alunos. Discussão sobre os direitos e trabalho da escola pela
deveres dos responsáveis em comunidade escolar
indicadores Conscientizar os
relação à escolaridade dos filhos. e de entorno.
familiares da importância
educacionais
de seu envolvimento Busca conhecer melhor a Melhora do índice de
para o sucesso escolar organização e condição das frequência e participação
do aluno. famílias – questionários e dos alunos na escola.
visitas domiciliares.
Organização de serviços de
Articulação com conselho apoio escolar aos alunos.
tutelar para cuidar de casos
de infrequência e evasão.
34
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Toda tipologia deve ser tomada como uma das possíveis interpretações dos dados e
tem efeito simplificador que redunda em perdas. Perdem-se a riqueza dos contextos, as
nuances de situações muito distintas e os detalhes de cada experiência concreta. Na
realidade, uma mesma experiência pode ter simultaneamente objetivos, estratégias e
resultados de diferentes tipos, de forma que eles não são mutuamente excludentes.
Nossa expectativa com esta classificação é ajudar os gestores e educadores a reconhecer
em que medida já realizam atividades de interação escola-família e refletirem como podem
ampliá-las, redirecioná-las ou iniciar novos cursos de ação segundo as necessidades
diagnosticadas.
Educar as famílias
Praticamente todas as escolas e redes de ensino fazem reuniões de pais e promovem
debates sobre as mudanças sociais que afetam as crianças, jovens e consequentemente
escolas e famílias. Nessas ocasiões apresentam seus projetos pedagógicos, falam de seus
planos e convidam palestrantes para esclarecer sobre o perigo do envolvimento com
drogas, o risco de uma gravidez precoce, a dificuldade de impor limites e manter a
autoridade do adulto etc. Às vezes, as reuniões são organizadas de forma mais lúdica, com
técnicas de dinâmica de grupo para que as pessoas se sintam mais acolhidas. Mas, na medida
em que a escola defende seu lugar de protagonista e abre poucos canais de escuta sobre
o que os pais têm a dizer, esse acolhimento fica num nível muito superficial.
Não estamos negando a importância desse tipo de atividade, mas é importante também
analisar alguns de seus limites.
A ideia de educar as famílias costuma ter por base a suposição de que elas são omissas
em relação à criação de seus filhos. Essa “omissão parental” que alguns autores nomeiam
como um mito, aparece reiteradamente no discurso dos educadores como uma das
principais causas dos problemas escolares. Esse tipo de explicação incorre numa inversão
perigosa de responsabilidades: uma coisa é valorizar a participação dos pais na vida escolar INTERAÇÃO ESCOLA-FAMÍLIA • Subsídios para práticas escolares
dos filhos; outra é apontar como principal problema da educação escolar a falta de
participação das famílias.
como voluntários em ações cotidianas da escola, inclusive em alguns casos como auxiliares
das professoras em salas de aula. Os eventos abertos ao público costumam ser planejados
conjuntamente por representantes de pais e equipe escolar. No entanto, a ação
propriamente pedagógica continua sendo uma questão de especialistas e um pedaço da
conversa onde não cabe bem a opinião familiar.
Embora o diálogo neste tipo de interação seja mais fecundo do que no tipo descrito
anteriormente, os estudos que focam especificamente a participação dos pais na escola
revelam que as oportunidades e espaços destinados a esta participação costumam privilegiar
um tipo de família, que geralmente já se encontra mais próxima da cultura escolar, em
detrimento de outros20. Em outras palavras: são sempre os mesmos e poucos pais e mães
que participam da gestão escolar. Nesse sentido a ideia de representação é questionada
diante da dificuldade em reunir um número realmente significativo de pais para a tomada
de decisões coletivas. Assim, aqueles familiares que assumem os postos de representação
tendem a defender visões particulares, muitas vezes a favor dos seus próprios filhos – e
não exatamente os interesses de seus pares. Isso pode contribuir para manter afastadas as
famílias menos escolarizadas e reforçar as desigualdades sociais dentro da escola, barrando
oportunidades de equidade educacional.
Sendo assim – e sem deixar de reconhecer que os mecanismos de participação e gestão
democrática são conquistas preciosas e relevantes –, a forma como eles são praticados
deve ser objeto de atenção cuidadosa por parte das escolas e redes de ensino. A
legitimidade é uma moeda importante na gestão escolar/educacional. Além disso, cabe
lembrar que há hoje programas de formação de conselhos municipais de educação,
conselhos escolares e outros, que ajudam a qualificar esses processos de decisão coletiva.
36 20. Há pesquisas que ressaltam a existência de elementos híbridos como os pais-professores que costumam desempenhar um papel de ponte
entre os interesses institucionais e o dos pais, quando ocupam posições de representação dos pais de alunos.
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para cada município e escola. Muitas redes de ensino começam a estabelecer incentivos
com base nestas medidas.
Cumprindo a determinação legal, neste tipo de interação as informações são
compartilhadas com os familiares e as metas estabelecidas para os alunos são colocadas
como um horizonte de interesse comum. Profissionais da educação orientam familiares a
atuarem complementarmente ao trabalho da escola, valorizando e acompanhando a vida
escolar dos filhos. Ajudam também a encontrar alternativas, quando a família não consegue
auxiliar nas atividades de apoio escolar. Coloca-se assim o princípio de responsabilização
de cada parte para a mesa de negociações e novos atores entram em cena, como o
Conselho Tutelar – convocado para ajudar no combate à infrequência e ao abandono
escolar, por exemplo.
Neste tipo de interação, o foco está posto nos resultados da educação escolar. Mediada
por resultados de avaliações escolares, este tipo de interação ajuda a organizar um diálogo
mais produtivo. As questões de disciplina são tratadas como um problema comum e não
como falha da educação familiar. As funções e metas de ensino ajudam a estabelecer
os compromissos a serem assumidos pela escola. A dificuldade que se apresenta é que
isso exige dos professores e gestores escolares segurança para defender seu trabalho
educacional e abertura para ouvir críticas em caso de resultados negativos, além da
necessária disposição para buscar soluções de forma compartilhada. No contexto atual,
as ações de interação com a família para melhorar os indicadores educacionais tendem
a se multiplicar.
Nesse tipo de abordagem, a aproximação das famílias tem como ponto inicial o
conhecimento sobre as condições de vida dos alunos e sobre como elas podem interferir
nos processos de aprendizagem. Para estabelecer o diálogo, a escola tanto recebe as famílias
quanto vai até elas por meio de visitas domiciliares, entrevistas com familiares, enquetes,
troca de informações com outros agentes sociais que interagem com as famílias, como os
agentes de saúde do Programa Saúde da Família etc. A equipe de gestão escolar atua na
preparação dessa aproximação e no planejamento das atividades pedagógicas a partir do
que foi apreendido sobre os alunos e seu contexto familiar.
A interação com as famílias é universal, isto é, atinge todos os alunos, mas as consequências
do programa dão origem a formas diferenciadas de atendimento aos alunos. Por exemplo:
os casos de vulnerabilidade e abuso são notificados, encaminhados e acompanhados em 37
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conjunto com outros órgãos públicos. A partir daí, serviços de atendimento educacional aos
alunos com menos apoio familiar podem ser organizados e assumidos pelas escolas.
Este é um tipo de relação que requer uma disposição de revisão permanente das práticas
e posturas da instituição escolar e também a articulação de outros profissionais para compor
uma rede de proteção à criança e ao adolescente que seja realmente integral.
intervenção no ambiente familiar para que ele responda de forma mais efetiva às demandas
da escola. Essa diferença pode parecer sutil – porém é bastante significativa. Para ilustrá-la,
vamos pensar em posturas diferentes diante de uma atividade que está presente em todos
os estabelecimentos de ensino: as reuniões de pais na escola.
Uma reunião pode ter elementos muito semelhantes, mas, dependendo da sua
condução, pode aumentar a distância entre os participantes ou abrir canais de diálogo.
A reunião poder ser marcada no horário de conveniência da escola sem consultar a
disponibilidade dos responsáveis, ter como conteúdo mensagens que a escola quer passar
aos familiares, independentemente de qualquer tipo de demanda destes, e a dinâmica pode
ser os profissionais da educação falarem e os familiares escutarem. Nesses casos, os
cuidados com acolhimento e participação são pequenos e podem acontecer situações nas
quais os pais se sentem excluídos, como a projeção de textos escritos para uma plateia
com muitos analfabetos ou o uso de linguagem técnica que não é compreendida pela
audiência. A equipe escolar, ao fim desse tipo de encontro, só sabe o que quis dizer e não
o que foi compreendido pelas famílias. A consequência é continuar trabalhando com
suposições sobre as famílias, sem ter avançado no conhecimento sobre elas e muito menos
na construção de uma agenda de colaboração mútua.
Numa reunião em que há uma preocupação maior com a interação, a equipe da escola
organiza informações sobre o desempenho dos alunos (geral e individual) e também
orientações sobre como as famílias podem estimular os alunos a se empenharem nas
atividades escolares. Esse tipo de interação exige maior clareza dos papéis dos agentes
educacionais, que ajudam a delinear para pais e mães os lugares que podem ocupar no
apoio/complementação da educação escolar. Como a interação pretende influenciar
positivamente o desempenho dos alunos, toma-se mais cuidado com a linguagem e
procura-se criar espaços de manifestação e esclarecimento de dúvidas. Os horários das
reuniões são normalmente marcados após consulta aos familiares, os assuntos são
registrados em ata e os compromissos de cada um são estabelecidos e acompanhados INTERAÇÃO ESCOLA-FAMÍLIA • Subsídios para práticas escolares
tanto pela escola, como pelos responsáveis junto com a avaliação processual dos alunos.
Nos casos onde a relação escola-família já está mais desenvolvida, os motivos
apresentados pelas famílias para não participar dos encontros das escolas são pesquisados
e utilizados para o planejamento das próximas atividades. Em vez de uma série de respostas,
os profissionais da escola fazem também perguntas e dialogam com os pais antes de propor
ações de responsabilidade conjunta. Para os pais ausentes, são pensadas estratégias não
somente para disseminar as informações da reunião, mas também para apoiá-los, se for o
caso, com ações da rede comunitária ou de proteção social disponível. Os familiares podem
propor temas para a reunião com a escola. Os agentes escolares se posicionam claramente
como responsáveis pelo ensino e negociam com as famílias suas possibilidades de ajudar
na escolarização dos filhos. Observa-se, enfim, nesse tipo de reunião, uma efetiva abertura 39
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O calor não dava trégua, mesmo no final da tarde. Não havia nem ventilador, muito
menos ar refrigerado. Mesmo assim cerca de 60 mães/pais/avós de alunos da Escola
Municipal Santa Maria de Vassouras se reuniram para ouvir um texto, assistir a um
filme e, depois, bater um papo sobre o que ouviram e viram com a diretora e técnicos
da Secretaria de Educação. O texto Nó do Afeto dizia que, mesmo com pouco
tempo, um pai e uma mãe podem mostrar ao filho que o amam e se interessam por
sua vida escolar. O filme Vida Maria mostrava o efeito do trabalho precoce e da falta
ou interrupção da escola na vida de crianças de um meio rural. O legado de uma
geração para a outra era só a miséria. A tristeza do filme emudeceu um pouco as
mães. Mas uma avó logo soltou a voz: “no meu tempo, era assim mesmo. A gente
não ia para a escola porque era longe e porque precisava trabalhar. Ninguém aprendia
nada”, disse. Perguntada se via mudanças, afirmou: “hoje tem escola em todo o lugar
e ajuda para estudar”, resumiu.
Esta reunião foi uma das várias realizadas em 2008 nas escolas de Teresina, dentro
do projeto Conversando a Gente se Entende. O pessoal das escolas e os familiares
têm gostado dessas reuniões: dizem que são diferentes, interessantes e agradáveis.
Depois de sensibilizar os pais para o debate, a estratégia do Conversando a Gente
se Entende tem sido exortar a participação deles na busca de uma educação de
qualidade para os filhos.
40
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Esta seção aponta alguns elementos para a elaboração de uma política ou programa de
interação escola-família, reconhecendo que a base empírica do estudo não nos permite ir
muito além disto. Inicialmente retomaremos aspectos mais estratégicos, como a definição
de ações (que podem configurar um projeto, um programa, uma política), para, num
segundo momento, detalharmos aspectos que ajudem a pensar a operacionalização do
programa/política.
Reiteramos que este estudo não pretende ser normatizador e sim sinalizar um caminho
de reflexões para repensar as práticas estruturantes do fazer pedagógico a partir da interação
entre escolas e famílias.
vimento dos filhos. De novo, temos que passar da “família esperada” à “família real” para
traçar estratégias mais eficazes visando o envolvimento familiar na vida escolar dos alunos.
Uma política ou programa de interação escola-família é uma forma de estabelecer uma
racionalidade produtiva para essa delicada relação, de modo a tirá-la tanto do lugar de bode
expiatório – situação na qual a ausência das famílias é, reiteramos, motivo alegado para os
maus resultados da rede de escolas –, quanto do otimismo ingênuo – segundo o qual basta
haver vínculos amistosos entre professores, gestores, mães, avós e demais parentes para
se julgar que há complementaridade entre os dois universos de referência das crianças.
42
21. Ver página 20
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via questionário, pela presença de pais nos espaços escolares e mesmo por atividades
realizadas diretamente com os alunos.
Muitos professores ouvidos nesse estudo afirmam que, ao verem com mais nitidez a
realidade de alunos, modificavam sua interpretação sobre seu comportamento em sala de
aula, deixando de lado a expectativa de aluno ideal e abraçando o aluno real. Vários
exemplos apareceram nos municípios visitados. Em um deles, uma professora relatou que
tinha dificuldades para lidar com um aluno que atrapalhava o ritmo dos colegas: ficava
sempre brincando, circulando pela sala, e não se concentrava nos seus afazeres. Quando
conversou com sua mãe, se deu conta de que ele tinha uma série de atribuições domésticas
e era responsável, na ausência dos adultos, pelos irmãos mais novos. Assim, o único espaço
que ele tinha para relaxar e ser criança era a escola. Numa outra história, a professora de
educação física contou que não conseguia envolver vários de seus alunos nas atividades de
dança. Ela argumentava com a turma o quanto soltar o corpo era bom e prazeroso e tinha
como resposta os olhares desconfiados de boa parte da turma. Quando se aproximou das
famílias, percebeu que a orientação religiosa da maioria das mães e pais pregava que a dança
era um ato pecaminoso. Assim, a professora percebeu que, ao insistir na atividade, gerava
um sério conflito moral em seus alunos.
Os exemplos acima sinalizam que uma compreensão mais apurada das condições de
vida e da cultura dos alunos pode gerar mudanças produtivas no planejamento pedagógico
e na relação professor-aluno. Este ponto merece especial atenção, pois, desde o fim dos
anos 1960, pesquisas já constatavam que as expectativas dos docentes funcionam como
uma profecia autorrealizadora para seus alunos.
A profecia autorrealizadora, também conhecida como efeito pigmaleão, foi fundamentada
por Rosenthal e Jacobson (1968)22. O estudo mostrou que os professores tendem a tratar
os alunos conforme expectativas prévias que terminam por influenciar o desempenho
INTERAÇÃO ESCOLA-FAMÍLIA • Subsídios para práticas escolares
efetivo dos estudantes. Por exemplo, um professor classifica um aluno como desatento e
passa então a agir em relação a este aluno sempre segundo este pensamento. Com o
tempo, o aluno acaba se convencendo de que é mesmo desatento, intensificando
comportamentos nesse sentido.
Se a percepção de um professor sobre cada um de seus alunos é decisiva para a
promoção de uma boa relação escola-aluno, um diagnóstico baseado em suposições e não
em evidências sobre os fatores que estão interferindo nos problemas de aprendizagem
pode gerar intervenções pedagógicas pouco eficazes e com resultados possivelmente
desastrosos. Além disso, os julgamentos escolares costumam influenciar a expectativa das
famílias – o que, por sua vez, impacta consideravelmente as chances de uma criança,
43
22. ROSENTHAL e JACOBSON, 1968.
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adolescente ou jovem ter sucesso como aluno. O círculo vicioso se quebra quando “a
escola abraça até o mau aluno”, como disse uma coordenadora pedagógica entrevistada.
A interação com as famílias nos moldes como estamos concebendo aqui é recente na
história da educação brasileira, por isso ela requer mudanças de mentalidade de todos os
envolvidos. Segundo várias pesquisas, as escolas frequentemente representam as famílias
como uma extensão de si mesmas, sem perceber as diferenças de lógica de um espaço a
outro. Esse traço, de colocar a lógica da instituição escolar no centro do diálogo, é chamado
escolacentrismo 23 e costuma impedir que os agentes escolares escutem e compreendam
o ponto de vista das famílias.
O estudo Participación de las familias en la educación infantil latinoamericana24 destaca
alguns fatores que costumam inibir uma boa interação com algumas famílias. Todos esses
fatores podem, de alguma forma, ser relacionados com a ideia de “escolacentrismo”:
• Os professores sentem-se incomodados quando os pais opinam na área que julgam
de sua competência exclusiva. Não veem importância ou não acreditam que as
famílias possam participar dessa relação de contornos mais pedagógicos.
• Educadores culpam a família pelas dificuldades apresentadas pelos alunos e alunas.
É comum ouvir: a mãe não se preocupa, abandona o filho, não estabelece limites
em casa.
• Professores criticam os pais (principalmente as mães) por não ajudarem no dever
e nos pedidos da escola, ignorando as mudanças do papel da mulher na sociedade.
Assim, o aluno que se apresenta sem o apoio do adulto é desprestigiado em sala de
aula e tende a piorar seu rendimento.
• Gestores e docentes desqualificam aspectos da cultura familiar sem sequer
conhecer o sentido das práticas, o espaço e a rotina familiar.
• A escola persiste com atividades dirigidas a modelos de famílias tradicionais, apesar
das mudanças na sociedade25.
• A escola mantém a mesma rotina de reuniões, oficinas, palestras e atividades, sem
consultar os pais sobre temas de seu interesse, necessidade e horários adequados.
A identificação das práticas e atitudes que distanciam as famílias de um diálogo focado
no desenvolvimento escolar dos seus filhos é importante para, por exemplo, rever os
conteúdos de formação dos docentes, reorganizar a forma como as escolas convocam e
recebem familiares dos alunos, repensar as instâncias de participação na gestão da escola,
entre outras providências.
23. Pedro Silva é um autor que desenvolve este conceito na sua obra.
24. OREALC/UNESCO, Santiago do Chile, 2004.
44 25. Os tradicionais Dia das Mães e Dia dos Pais muitas vezes se convertem em constrangimento para muitos alunos que têm configurações
familiares distintas do modelo biparental. Várias escolas estão substituindo estas comemorações pelo Dia da Família, que é mais abrangente.
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26. Caso o serviço não esteja disponível, mas seja uma demanda legítima da população, a secretaria ou órgão responsável deverá ser apoiado, 45
com dados coletados pela rede educacional, para pleitear junto à administração municipal a instalação deste serviço ou política.
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46 27. Informações sobre estes e outros programas na Sessão Para Saber Mais, página 63.
28. Os nomes dos alunos e suas atividades são fictícios.
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A Secretaria Municipal de Educação (SMED) apoia, além das atividades internas a cada
escola, o Fórum Família-Escola – encontros nos quais os familiares expõem suas dúvidas,
queixas e sugestões sobre a educação e a escola de seus filhos. Todas as famílias também
recebem trimestralmente o Jornal Famíla-Escola e contam com o serviço de relacionamento
por telefone chamado Alô, Educação! Todas essas atividades orientam-se, segundo a SMED,
para criar uma rede de colaboração, diálogo e parceria entre famílias, escolas, comunidades
e serviços públicos, garantindo não só a permanência dos alunos em sala de aula, mas
também o aprendizado de crianças, adolescentes e jovens.
48 29. Em Taboão da Serra há um decreto municipal amparando a função de visitação às famílias e, em 2008, cada professor recebia
R$ 35,00 (trinta e cinco reais) por visita acompanhada de relatório padrão.
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aula das escolas quando o projeto Família Presente, Aluno Ideal foi escrito. Ele passou
então a ser apresentado nas igrejas, quadras, auditórios e divulgado por um grupo
de alunos por meio da Rádio Itinerante, espaço semanal dos alunos na rádio
comunitária local, nas sete escolas municipais.
Em Itaiçaba, os envolvidos no projeto veem muitos benefícios. “Eu estudo mais
porque minha mãe está ali me olhando e ajudando a professora”, disse um aluno.
“Até a merenda está melhor”, completa uma mãe. “Eu vi quando minha filha aprendeu
a ler e escrever as primeiras palavras”, testemunhou um pai emocionado. O projeto
produziu ainda efeito cascata, ativando e revitalizando outras ações no ambiente
escolar. Um desses programas é o Laboratório de Redação, onde pais, mães, alunos
e professores escrevem sobre temas eleitos em conjunto e debatem semanalmente 49
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30. Iguatu (CE) e Pedras de Fogo (PB) são municípios que selecionam e formam jovens universitários ou concluintes do ensino médio para
irem periodicamente à casa dos alunos, ajudando a controlar a infrequência, evasão e mesmo informar sobre problemas de aprendizagem e 51
comportamento.
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Vimos também iniciativas nas quais os familiares dos alunos se fazem presentes em vários
espaços escolares: auxiliam no recreio, apoiam os professores em sala de aula, abrem suas
casas para a realização de reforço escolar para seus filhos e vizinhos etc. É importante
salientar, conforme indicam outras pesquisas, que a participação das famílias nas atividades
escolares pode gerar conflitos com professores, que veem suas salas de aula ocupadas por
adultos que não têm as mesmas responsabilidades institucionais nem a formação requerida
para desempenhar funções de ensino. Além disso, a presença voluntária de mães e pais
no cotidiano escolar tem de respeitar a disponibilidade destes para não gerar uma pressão
extra sobre a carga de responsabilidades parentais. Na experiência de Itaiçaba, no entanto,
como esta aproximação foi feita de forma paulatina e fruto da boa relação escola-
comunidade, os efeitos dessa presença foram relatados como benéficos para alunos,
responsáveis e docentes.
Seja qual for a estratégia de aproximação, é fundamental preparar todos os profissionais
envolvidos no programa para que atuem com segurança. Para isso, o dirigente municipal e
sua equipe técnica devem estruturar linhas de formação continuada31, apoio e
monitoramento das atividades que serão planejadas e executadas pelos professores e
gestores escolares.
Algumas decisões prévias são definidoras do escopo do plano de ação. Por exemplo:
numa ação de aproximação com as famílias, todos os alunos serão contemplados?
Comparando as experiências, concluímos que, desde que as famílias permitam32, todas
devem ter a oportunidade de um encontro no qual possam se apresentar e conhecer
melhor o ambiente e as pessoas encarregadas da formação escolar de seus filhos. Esse é
o momento para a família se dar a conhecer. Observamos que, quando a aproximação
está ligada apenas a problemas como infrequência, evasão e mau desempenho, ela ganha
uma conotação negativa que estigmatiza os alunos visitados e faz com que os demais não
queiram os agentes escolares em seus lares. Pais e mães, quando sentem que a escola só
pensa na repreensão, costumam se afastar do ambiente escolar.
Como a experiência mais sistematizada que encontramos foi a de Taboão da Serra (SP),
que está em vigor há mais de cinco anos, disponibilizamos a seguir um exemplo mais
operacional da estratégia de aproximação escolhida, que no caso se realiza por meio da
visita domiciliar realizada por professores a todos os alunos. Ressaltamos, mais uma vez,
que essa é apenas uma das possibilidades de interação escola-família.
31. Abordaremos com mais detalhes os desafios dessa formação para interação escolas-famílias no próximo tópico, página 52.
52 32. É sempre importante que as famílias tenham o direito de dizer se desejam ou não receber uma visita, por exemplo, e possam participar
de outro tipo de atividade.
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Uma referência para eleger dados que permitem relacionar a influência do contexto
familiar no desempenho dos alunos é o Estudo Internacional Comparativo33 entre vários
países – inclusive o Brasil –, que se propôs a identificar os fatores associados ao desempenho
em linguagem e matemática para alunos do terceiro e do quarto anos do ensino
fundamental. O estudo construiu um índice correlacionando o desempenho dos alunos
em testes padronizados com aspectos do contexto familiar tais como:
• O nível de educação dos responsáveis;
• O número de horas que os responsáveis passam em casa nos dias de trabalho;
• Os recursos de leitura que estão disponíveis na moradia; e
• A estrutura do núcleo familiar (se tem pai e mãe, mesmo que não sejam formalmente
casados).
A análise das respostas mostrou que o aumento da média de anos de escolaridade dos
responsáveis resulta no aumento dos rendimentos escolares de seus filhos. Mostrou
também que as crianças/adolescentes cujos responsáveis leem para eles, costumam ganhar
entre três a seis pontos, especialmente em linguagem, acima daqueles cujos responsáveis
não o fazem. O efeito combinado de ler com frequência para os filhos e dispor de livros
em casa é poderoso para melhorar o rendimento na escola.
Essas informações ajudam a pautar práticas pedagógicas que não deixem em
desvantagem as crianças e adolescentes que não contam em casa com os recursos (família
nuclear, pais escolarizados e disponíveis, livros em casa) de apoio para sua escolarização.
Além disso, conhecer os hábitos da criança, o que gosta de fazer – que atividades culturais
frequenta, que responsabilidades assume em casa e como faz as tarefas escolares -, são
informações relevantes para a equipe escolar organizar seu trabalho.
com o passar do tempo esse trabalho tende a ser absorvido pela rotina e, melhor, pode
renovar o repertório de práticas pedagógicas e estimular a revitalização do trabalho escolar.
Concluímos que, para lidar com as famílias dos alunos sem reproduzir os mecanismos
que reforçam a desigualdade, a formação dos educadores não deve ser pensada apenas
como mais informação técnica: ela deve ser um espaço de revisão de pressupostos e de
exposição de conflitos e receios, ou seja, deve abranger também as dimensões pessoais,
éticas e políticas.
35. A avaliação é uma atribuição eminentemente de Gestão Educacional e está contemplada no PAR por meio do indicador 6: Existência, 57
acompanhamento e avaliação do Plano Municipal de Educação, com base no Plano Nacional de Educação.
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não haviam passado por uma avaliação, apesar de este mecanismo estar previsto em vários
dos projetos e de sua importância ser reconhecida.
Por isso enfatizamos a importância e o cuidado que é preciso ter com os registros sobre
as experiências: sem registros não há memória e muito menos avaliação ou aprendizado
consistente e cumulativo para o aperfeiçoamento das ações. O registro organizado e
sistemático das atividades possibilita a sistematização do conhecimento adquirido, bem
como a possibilidade de socialização e integração das novas informações no planejamento
continuado da ação educativa.
58
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Este estudo se propôs a dar um passo para a articulação de esforços teóricos e práticos
a partir do levantamento de experiências já implementadas e de pesquisas sobre a relação
escola-família no Brasil. Será bem-sucedido na medida em que conseguir mostrar que,
apoiados pelas Secretarias de Educação, os programas de interação têm possibilidades de
realmente impactar o trabalho cotidiano da escola. Não encontramos nem criamos um
modelo pronto de interação. Organizamos um conjunto de informações e reflexões que
podem ser úteis se bem adaptadas às situações de cada município brasileiro.
Vimos que as fronteiras e as relações entre escola e família mudaram vertiginosamente
no Brasil e no mundo nos últimos 60 anos. De uma escola para poucos, chegamos a uma
escola de massas com um alunado com características completamente diferentes daquelas
apresentadas nos tradicionais cursos de formação de professores. Esse novo aluno e essa
nova família desafiam os educadores. No passado recente, quando nos deparamos com
os problemas sociais do entorno, trazidos para a escola na bagagem de seus novos alunos,
cometemos alguns erros que devem ser evitados:
1 – Não podemos retomar a mítica de que a escola como sistema educativo é o único
e principal fator da mudança social. Uma das poucas certezas que temos hoje é que o
desafio de garantir o direito de todas as crianças a uma educação de qualidade transcende
as políticas educativas e se inscreve no centro das políticas sociais de desenvolvimento. Isso
não significa retirar da escola seu papel específico na socialização do saber e na formação
de atitudes compatíveis com a vida em sociedade, mas sim atribuir-lhe novas funções de
articulação de outros atores para que não se sobrecarregue tentando resolver os problemas
do mundo, que atravessam as salas de aulas.
2 – Não podemos persistir em práticas homogêneas que desconsiderem as diferenças
dos alunos e obriguem todos a se conformar a um modelo de aluno esperado. Além
de não ser desejável, isso não é possível. As diferenças linguísticas, culturais, étnicas, INTERAÇÃO ESCOLA-FAMÍLIA • Subsídios para práticas escolares
anacronismos nas relações escola-família que precisam ser revistos. Boa parte desses
profissionais, infelizmente, atribuiu ou ainda atribui o insucesso escolar à ausência ou
omissão dos responsáveis. Dizer que as condições para o sucesso da educação escolar
estão nas mãos das famílias é o mesmo que admitir que a escola só é capaz de ensinar a
alunos que já vêm educados de casa.
As pesquisas revelam que há um conhecimento ainda precário sobre os alunos e suas
condições de vida. Isso significa que o trabalho desenvolvido nas escolas pode não estar
considerando a diversidade e as reais necessidades de seu público.
Iniciar um movimento da escola em direção às famílias está no escopo da respon-
sabilidade legalmente atribuída aos sistemas de ensino, mas o conhecimento gerado nesta
aproximação e sua utilização no planejamento pedagógico têm sido pouco enfatizados.
Por isso, das várias funções que a interação escola-família pode ter – informar os pais,
orientá-los para se envolverem na vida escolar dos filhos, fortalecer a participação em
conselhos e outras instâncias de democratização da escola etc –, privilegiamos o
conhecimento dos alunos no seu contexto como um primeiro passo necessário para o
estabelecimento de uma relação que vai se desenvolvendo ao longo do tempo.
Muitos se perguntam se a estratégia de deslocar os educadores do seu espaço
institucional para compreender o território no qual está situada a escola e seus alunos não
produzirá uma perda de foco da função específica da educação escolar, chamando para si
demandas que a ultrapassam. Isso não seria assistencialismo, ou seja, um retrocesso? No
contexto aqui proposto, aproximar-se da vida de cada um dos alunos é uma forma de
conhecer, reconhecer e utilizar as lições da realidade a favor de sua aprendizagem. Está,
portanto, intrinsecamente relacionada com a missão da instituição escolar. Devemos
sempre lembrar que o fato de a escola não ter como lidar sozinha com todas as questões
que afetam a vida de seus alunos não fará com que esses problemas deixem de existir ou
de desafiá-la. Pelo contrário: se não forem enfrentados, eles tenderão a se agravar e
continuarão a se manifestar dentro da escola. Pois é para a escola que as crianças e
adolescentes diariamente trazem seus pedidos de ajuda, ainda que balbuciantes ou
silenciosos. E é na escola que pode ser garantido o direito a uma aprendizagem de qualidade.
Diante da complexidade que afeta a vida dos alunos, e para cumprir sua missão de
assegurar um ensino público de qualidade, a estrutura educacional deve assumir a iniciativa
da aproximação com as famílias, tendo sempre em seu horizonte a articulação de políticas
com outros atores e serviços sociais. Para isso, as escolas e os sistemas de ensino poderiam
responder perguntas simples, tais como:
1 – Por que chamar as famílias à escola?
2 – Quando e por que ir às famílias?
3 – Nos encontros programados pelos educadores, os familiares têm oportunidades
60 para falar o que pensam?
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assinada pela mãe ou pai, para que a professora Vânia, a sua professora, visitasse sua
casa. Eufórico, lia o papel, mas quando terminou seu sorriso havia murchado. E se o
pai ou a mãe não quisessem, por algum motivo, a visita? Watson resolveu pôr fim à
dúvida: assinou seu nome na autorização e entregou-a na mesma hora para a
professora. “Eles sempre dizem que eu também sou dono da casa”, justificou, abrindo
novamente o sorriso.
Falamos, durante todo este estudo, dos efeitos favoráveis da implantação de um
programa de interação entre profissionais da educação e familiares, para o processo
educacional e até para a consolidação de políticas sociais. Mas reservamos para o final
destacar a mudança mais visível, imediata e incontestável: a elevação da autoestima
dos alunos. Quando ocorre um bem conduzido processo de aproximação entre
escola e família, as crianças tornam-se mais participativas em salas de aula, animadas
com os estudos e alegres com a escola. Ou seja: alunos felizes.
62
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devem estar localizadas em capitais ou cidades de regiões metropolitanas com mais de 200
mil habitantes, além de terem aderido ao Plano de Metas Compromisso Todos pela
Educação e de possuírem mais de 100 alunos matriculados, conforme o Censo Educacional
de 2007.
Além de diversas iniciativas do próprio MEC, dialogam com o Mais Educação projetos
de outras áreas do governo. Por meio deles, o MEC apresenta os recursos e materiais
disponíveis para as escolas. Sua descrição detalhada encontra-se no Roteiro Manual
Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) 24.04, disponível no site do FNDE.
Abaixo, as principais parceiras do Mais Educação:
Ministério Projetos
Esporte Esporte e Lazer na Cidade e Segundo Tempo
Cultura Cineclube na Escola, Cultura Viva e Casas do Patrimônio
Desenvolvimento Atenção Integral à Família, ProJovem Adolescente, Centro
Social e Combate de Referência Especializado de Assistência Social (Creas)
à Fome e Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti)
Casa Brasil Inclusão Digital, Centros Vocacionais
Ciência e Tecnologia
Tecnológicos e Centros Museus da Ciência
Sala Verde, Municípios Educadores Sustentáveis e Viveiros
Meio Ambiente
Educadores
<http://www.fnde.gov.br/home/index.jsp.>
<http://pdemec.grupotv1.com/resultados_acoes/mais_educacao.php>
4 – Escola Aberta
Ministério da Educação (MEC), Organização das Nações Unidas para a Educação,
a Ciência e a Cultura (UNESCO) e secretarias estaduais e municipais de educação
Criado em 2004, o programa busca repensar a instituição escolar como espaço
alternativo para o desenvolvimento de atividades de formação, cultura, esporte e lazer para
os alunos da educação básica das escolas públicas e suas comunidades nos finais de semana.
Abrange 22 estados e atinge, por mês, cerca de dois milhões de pessoas das comunidades
escolares em todas as regiões. Estreitar as relações entre escola e comunidade, contribuir
com a consolidação de uma cultura de paz e estreitar as relações entre escola e comunidade
são alguns dos objetivos centrais do programa.
<www.mec.gov.br / www.fnde.gov.br/ escolaaberta@mec.gov.br>
<http://www.fnde.gov.br/home/index.jsp?arquivo=escola_aberta.html>
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UF Cidade/ Descrição da
Experiência Abrangência Resultados
Nº
experiência
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REGIÃO NORDESTE
Cidade/ Descrição da
Nº UF Abrangência Resultados
Experiência experiência
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Cidade/ Descrição da
Nº UF Abrangência Resultados
Experiência experiência
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UF Cidade/ Descrição da
Experiência Abrangência Resultados
Nº
experiência
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UF Cidade/ Descrição da
Experiência Abrangência Resultados
Nº
experiência
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UF Cidade/ Descrição da
Experiência Abrangência Resultados
Nº
experiência
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UF Cidade/ Descrição da
Experiência Abrangência Resultados
Nº
experiência
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UF Cidade/ Descrição da
Experiência Abrangência Resultados
Nº
experiência
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UF Cidade/ Descrição da
Experiência Abrangência Resultados
Nº
experiência
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REGIÃO CENTRO-OESTE
UF Cidade/ Descrição da
Experiência Abrangência Resultados
Nº
experiência
86
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direcionando esforços
para uma nova visão,
auxiliando para
modificações de
comportamentos
dogmáticos e viciados.
Parceria
escola/universidade –
Desenvolve ações com
as famílias
intermediadas por
alunos estagiários
regularmente
matriculados no curso
de Assistência Social a
partir de um conjunto
de atividades pautadas
na identificação das
situações de agravo
dos quadros de conflito
e desagregação familiar.
Pais colaboradores –
Ameniza a escassez de
servidores escolares
chamando pais
UF Cidade/ Descrição da
Experiência Abrangência Resultados
Nº
experiência
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UF Cidade/ Descrição da
Experiência Abrangência Resultados
Nº
experiência
UF Cidade/ Descrição da
Experiência Abrangência Resultados
Nº
experiência
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UF Cidade/ Descrição da
Experiência Abrangência Resultados
Nº
experiência
UF Cidade/ Descrição da
Experiência Abrangência Resultados
Nº
experiência
A Secretaria foi formada
22 SP Sud Mennucci Cinco escolas •Maior participação
em 2001. A experiência
municipais da família em
foi motivada a partir
reuniões periódicas,
do diagnóstico de
nas atividades
problemas como
diárias da escola,
analfabetismo dos pais,
na elaboração
baixo rendimento dos
do projeto
alunos, professores sem
pedagógico,
formação adequada. Até
na tomada de
2004, a política foi
decisões,
promover a autonomia e
nas regras de
a independência de cada
funcionamento e na
escola, para que esta
participação nos
conhecesse o seu
eventos e atividades
contexto particular e
integradas com os
suas necessidades.
pais e familiares
Projeto de gestão
participativa que delega
às APMs a
responsabilidade e
autonomia de decisão
sobre as questões
escolares. A Secretaria
apoia projetos de cada
unidade, como Pais
Participantes, Filhos
Atuantes e Tempero de
Mãe. Implantação da EJA
e do projeto de
inclusão digital.
Secretaria tem, em
23 SP Limeira Todas as escolas •Aproximação entre
parceria com o governo,
da rede municipal escolas e famílias.
o programa Escola da
Integração Família. As escolas abrem • Implantação de
Família-Escola seus espaços nos finais serviço social escolar
de semana para atividades
de esporte/lazer. Outro
programa é o Familiando,
nas creches com as mães,
para melhorar as relações
familiares, auxiliar no
cuidado com os filhos,
inserção na sociedade.
Os diversos programas
oferecidos pela
Secretaria não são
92 articulados entre si.
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UF Cidade/ Descrição da
Experiência Abrangência Resultados
Nº
experiência
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UF Cidade/ Descrição da
Experiência Abrangência Resultados
Nº
experiência
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REGIÃO SUL
UF Cidade/ Descrição da
Experiência Abrangência Resultados
Nº
experiência
UF Cidade/ Descrição da
Experiência Abrangência Resultados
Nº
experiência
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UF Cidade/ Descrição da
Experiência Abrangência Resultados
Nº
experiência
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UF Cidade/ Descrição da
Experiência Abrangência Resultados
Nº
experiência
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RESUMO DAS
CIDADE /
Nº UF INFORMAÇÕES
EXPERIÊNCIA
OBTIDAS
RESUMO DAS
CIDADE /
Nº UF INFORMAÇÕES
EXPERIÊNCIA
OBTIDAS
Promoção da participação
dos pais nas reuniões
10 PI São José do Piauí
escolares e nas associações
de pais e mestres.
Rede municipal.
O projeto se concentra
Nortelândia
em uma semana por ano,
12 MT quando são promovidas
Campanha pela Família
atividades na escola com
na Escola
o incentivo à
participação dos pais.
Experiência noticiada
101
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Macatuba (SP)
Lucinéia Paffetti – Secretária de Educação
Aparecida das Graças dos Santos Canduzin – Coordenadora da Secretaria de Educação
Aparecida dos Santos Amoriello – Diretora da Escola Municipal Caic Cristo Rei
Ana Paula Daré Ramos – Coordenadora Pedagógica da Escola Municipal Odila Galli
Suely Bueno de Lima – Coordenadora Pedagógica da Escola Municipal Waldomiro Fantini
Teresina (PI)
Fábio André Freire Miranda – Secretário Executivo da Secretária Municipal da Educação
Maria Madalena Caminha Leal Silva – Gerente de Assistência ao Educando/Semec
Geovania Maria Rodrigues Lura – Diretora da Escola Municipal Barjas Negri
Maria das Dores da Silva – Professora da Escola Municipal de Educação Fundamental Barjas Negri
Maria Valdenilsa da Silva Pereira – Pedagoga da Escola Municipal de Educação Fundamental
Barjas Negri
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Itaiçaba (CE)
Pedro Ivo Alves Bezerra – Secretário de Educação
Darliane Silva do Amaral – Coordenadora da Secretaria de Educação
Valzenildo Alves Freitas – Diretor da Escola Municipal de Ensino Fundamental Padre
Marcondes Cavalcante
Itabuna (BA)
Fátima Cristina Vasconcelos Souza Góis – Diretora do Departamento de Educação
Básica da Secretaria de Educação
Maria da Paz Ferreira Gonçalves – Assessora Técnica Pedagógica da Integração
Escola/Comunidade
Elionai Ramos Andrade – Diretora do Grupo Escolar João Alves Araújo
Karine Reis Santos – Professora do Grupo Escolar Norma Vídero
Dejanira Maria de Jesus Souza – Coordenadora Pedagógica do Educandário Isa Brito
Iguatu (CE)
Maria Benildes Uchoa de Araújo – Secretária de Educação
Geovania David de Souza Meneses – Coordenadora de Gestão Escolar
Raimunda Chaves Clementino – Diretora do Centro Educacional Municipal Padre
Januário Campos
Francisca Chaves de Oliveira – Professora do Centro Educacional Municipal Padre
Januário Campos
Maria Geany dos Santos Viana – Coordenadora Pedagógica da Escola Municipal de Ensino
Fundamental Carlota Távora
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Vitória (ES)
Haroldo Corrêa Rocha – Secretário de Educação do Estado
Josemária Soares Nascimento de Oliveira – Diretora da Escola Estadual de Ensino Fundamental
Teotônio B. Vilela
Cariacica (ES)
Angela Cristina Sartório Lovatti – Professora da Escola Estadual Prof. Geraldo Costa Alves
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