PIMENTEL, Figueiredo. O Príncipe Querido (Conto)
PIMENTEL, Figueiredo. O Príncipe Querido (Conto)
PIMENTEL, Figueiredo. O Príncipe Querido (Conto)
O PRÍNCIPE QUERIDO
Histó rias da avozinha, de Figueiredo Pimentel
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fazendo-te um presente.
E no mesmo instante colocou um anel de ouro no dedo do moço, dizendo-lhe:
— Guarda com muito cuidado este anel, que vale mais que todos os tesouros da
terra. Todas as vezes que fizeres uma açã o má , ele espetará teu dedo. Mas, se apesar disso,
persistires, perderá s a minha amizade e tornar-me-ei tua maior inimiga.
Dizendo tais palavras Câ ndida desapareceu, deixando o príncipe admirado.
Querido conservou-se sensato por muito tempo, a ponto de nã o sentir o anel espetá -
lo nenhuma vez.
Tempos depois, indo à caça, sentiu que o anel o incomodava, mas nã o fez caso; e,
como nã o encontrasse pá ssaro algum para matar, voltou para casa de mau humor.
Entrando em seu quarto, uma cadelinha que possuía, chamada Mimosa, começou a
saltar-lhe em frente, festejando-o, latindo alegremente.
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dizendo consigo mesmo que ele poderia esperar pela sua raçã o até o dia seguinte, e a pobre
parecia estar com tanta fome que era bem capaz de morrer.
Estava pensando na miséria da desgraçada, quando ouviu grandes gritos. Eram
quatro homens que empurravam Zélia pelo meio da rua, forçando-a entrar numa casa.
O cã o sentiu nã o ser a fera que tinha sido, para poder livrar a moça que tanto amava.
Contentou-se, porém, em latir, até ver se chegava alguém que a defendesse dos malfeitores.
Nã o aparecendo quem viesse em socorro da vítima, o cã o começou a esperar por
Zélia para ver se ela aparecia.
Nisso viu uma janela abrir-se e imediatamente jogarem uma porçã o de carne assada
perto do lugar onde ele estava.
O cã o, que nã o comia desde a véspera, estava já disposto a comer aquela carne, vinda
tã o a propó sito, quando a pobre, vendo-o, gritou:
— Nã o comas desta carne, meu cã ozinho que está envenenada. No mesmo
instante o príncipe ouviu uma voz que dizia:
— Vês tu que uma boa açã o nã o fica sem recompensa?
E imediatamente viu-se mudado num belo pá ssaro azul. Começou a voar até a casa
onde vira Zélia entrar, e, depois de percorrer todos os quartos, voou em direçã o a um
bosque perto.
Qual nã o foi o seu espanto quando viu a moça sentada à sombra de uma á rvore ao
lado de um ermitã o!
Assim que a viu, voou ao seu ombro, e começou a festejá -la.
Zélia encantada pela mansidã o do pá ssaro, correspondeu à s carícias e disse que havia
de o amar para sempre.
Entã o o pá ssaro se transformou no príncipe Querido, tal como a moça o tinha visto da
primeira vez.
O ermitã o, vendo aquilo, transformou-se também na fada Câ ndida, e disse:
— Está quebrado o encanto, príncipe. Só voltarias à tua forma humana no dia em
que Zélia gostasse de ti. Ela acabou de o confessar. Vou conduzir-te ao teu reino, onde está à
tua espera o mais leal dos vassalos, o velho Salomã o. Confia nele, que é o teu segundo pai.
Segue-lhe sempre os conselhos, que te nã o arrependerá s.
Mal a fada acabou de proferir estas palavras, o príncipe Querido viu-se no seu palá cio,
em companhia de Zélia.
O velho Salomã o, quando o viu, chorou de alegria.
Querido tomou conta do reino, e casou-se com a pastora Zélia, vivendo desde então
na mais completa felicidade.
Salomã o escreveu a histó ria do príncipe Querido, tal como acabamos de narrá -la,
para ensinamento de todos, grandes e pequenos, ricos e pobres, fidalgos, e plebeus, reis e
vassalos, a fim de que toda a gente se convença que a felicidade, neste mundo, consiste
unicamente em vivermos em paz com a nossa consciência, fazendo sempre o bem, mesmo à
custa dos maiores sacrifícios e nunca praticando o mal.
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