A Tolerância e A Manipulação

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 29

Alfonso López Quintás

A tolerância e a manipulação

Introdução

“...tornou-se comum, em certo momento, enfatizar a necessidade de sermos tolerantes, no


sentido de compreensivos, com tudo que seja diferente de nós em termo de raça, origem,
convicções e crenças. Tal compreensão, limitada que o outro exista, que se manifeste
livremente, que exerça o direito de ir e vir e tenha alguma iniciativa, é em si muito boa.
É uma atitude que se encontra ano-luz à frente das discriminações que afetaram e ainda
hoje afeta tantos seres humano. No entanto, ser tolerante de verdade, felizmente, exige
muito mais do que isso. Consiste em uma atitude de colaboração positiva com o outro em
busca da verdade”. P. 17

*Autêntica vida comunitária

*Contrário da manipulação e do ser manipulado

- O manipulador: “atua com a única finalidade de vencer sem convencer, de reduzir as


pessoas a meios para atingir os seus fins, submetendo-as a uma desvalorização aviltante.
O manipulador é um ilusionista dos conceitos que deturpa os sentidos das palavras para
falsificar a seu bel-prazer a escola de valores, fazendo as pessoas perderem sua
capacidade criativa e se tornarem facilmente domináveis”. P. 17/18

“Quem manipula não busca a verdade, mas o domínio mediante o engordo”. P.18

-Quem manipula primeiro adula, depois tiraniza.

-Há certas palavras que facilitam a manipulação, tais como a Liberdade, Mudança,
Progresso.

“Conhecer de perto a capacidade construtiva da tolerância e o poder destrutivo da


manipulação é pressuposto indispensável para fundamentar corretamente uma teoria das
relações humanas, questão básica em todo trabalho educativo. Não esqueçamos que a
atitude tolerante inspira-se ao amor à verdade, e é a verdade que nos proporciona saúde
espiritual, energia e sentido. A manipulação, ao contrário, apoia-se na prática incessante
da mentira, e a mentira nos adoece espiritualmente, pois impossibilita o encontro, que é
o motor do nosso desenvolvimento”. P. 19

A tolerância e a busca em comum da verdade

“A estreiteza e a pobreza de nossos conceitos geralmente nos impedem de ser flexíveis


no diálogo e compreensíveis em relação à opinião dos outros”. P. 22

“...a autêntica liberdade consiste em sermos capazes de nos distanciar dos próprios
interesses e optar não em virtude de nossos desejos egoístas, mas do anseio maior de
realizamos na vida o ideal autêntico de nosso ser como pessoa”. P. 22

- O tolerante é aquele que verdadeiramente ouve, querendo aprender, abrindo a


possibilidade de mudar de opinião ou de pensamento. O ser tolerante é aquele que ouve
com sinceridade, mas isso não significa, necessariamente, ser fraco em relação à sua
opinião ou não defende-la (opiniões, pensamentos) com um certo rigor.

“Será que essa defesa entusiasmada e fundamentada de uma ideia é de fato uma tentativa
de imposição? É claro que não. Entusiasmar-se por uma convicção significativa que
alguém se vê enriquecido por ela e deseja conservá-la como fonte de plenitude e
felicidade”. P. 24

- A defesa de uma ideia entusiasmada e fundamentada não significa impô-la, mas desejo
de compartilha-la. Pois possui um caráter participativo e é, por si mesma, atrativa.

“Quem se entusiasma e defende com tenacidade algo valioso está disposto, sem dúvida,
a mudar de opinião, caso alguém o convença, baseado em razões, de que se encontra
equivocado”. P. 24

“Negar a procurar o que é justo, algo que corresponde às suas próprias condições e as
condições dos outros, é um traço de intolerância”. P. 26

- Ser tolerante é, acima de tudo, estar atento ao outro. Perceber onde se fala para adequar-
se às situações diversas. O tolerante é aquele capaz de segurar, controlar, o próprio desejo
em vista de respeitar e buscar uma proximidade com o outro, criando um diálogo onde
será possível a aprendizagem dos envolvidos.

- Uma opinião não é respeitável quando “não merece ser levada a sério ou analisada a
fundo”. P. 29
“Pensar no bem das pessoas, sobretudo as que pertencem a grupos culturalmente mais
vulneráveis, acarreta a obrigação de limitar nossa liberdade de ação e ajustar nossas
declarações às características de nossos destinatários. Esse ajuste não nega a liberdade de
expressão. Ao contrário, torno-a fecunda e ao mesmo tempo a justifica. Proclamar que ‘a
liberdade de expressão é absoluta’ sem realizar as necessárias adequações não é um
exemplo de rigor mental”. P. 30

“A verdadeira tolerância não é mera condescendência”. P. 35

“De modo singular não chegamos à verdade de uma hora para outra, nem isolados de
tudo. Precisamos entrar em contato diversas vezes com cada realidade, em diferentes
momentos e lugares”. P. 36

- Tanto a nossa inteligência, como nosso modo de ser, possuem suas complexidades, tal
como a realidade que desejamos conhecer.

- Sobre a tolerância: “não se trata apenas de aguentar ou suportar quem defende uma
posição diferente da minha, mas de ficar agradecido pela possibilidade de uma conversa
a dois, no qual porei todo o empenho em descobrir o que o outro possa me oferecer de
valioso”. P. 36

“Brigar não é buscar a verdade, mas lutar pelo próprio enaltecimento. Não é tentar
convencer, mas vencer o outro”. P.37

-Buscar o conceito de “espaço de liberdade”

- A grande tenacidade da questão é escutar uma opinião contrária da sua e mesmo assim
defender seu ponto de vista com um certo rigor. Nas brigas, quando brigamos, não
escutamos o outro e não nos defendemos com tenacidade, mas com uma certa ferocidade.

- A briga abre as portas para o fanatismo, pois na briga não há espaço para o diálogo e é
intrínseco a ambição de dominar.

“Para sermos tolerantes, é preciso compreender que o domínio e a posse só pertencem de


fato ao plano dos objetos e dos processos de manufatura, mas não ao plano das realidades
superobjetivas, que costumo denominar ambientais: obras de arte, pessoas, instituições,
valores, etc”. P. 37

“Toda experiência bidirecional é em si mesma tolerante”. P. 37


- Há diferenças entre o conceito de autoridade e o ato de mandar ou controlar.

“Objeto é uma realidade mensurável, situável, delimitável, tangível...Um âmbito é uma


realidade que abarca certo campo em diversos aspectos, pois é capaz de oferecer
possibilidades e receber outras”. P. 38/39

DIFERENÇA ENTRE OS CONCEITOS DE “OBJETOS” E “ÂMBITO”

“Essa distinção entre objetos e âmbitos é decisiva para a compreensão profunda da vida
humana e para a educação na tolerância, pois os âmbitos possibilitam realizar
experiências bidirecionais, dentro os quais se destacam as experiências de encontro”. P.
39

- A tolerância, através da experiência, bidirecional, transforma o diferente-distante em


diferente-íntimo.

“O fruto das experiências bidirecionais é o encontro, acontecimento que está na base de


todo processo humano de desenvolvimento. O encontro (...) pressupõe um entrelaçamento
de duas realidades que não são meros objetos, mas âmbitos”. P. 41/42

VIRTUDE≠VERTIGEM P. 42

- A virtude produz valores virtuosos

“Essa busca e esse encontro não exigem apenas tolerar, no sentido de aguentar, mas
respeitar, ato que se estende positivamente como estima, como apreço pelo valor
fundamental do outro como pessoa e pelos valores que possa trazer consigo. Essa estima
se traduz em colaboração, oferta de possibilidades em vista de um maior desenvolvimento
da personalidade”. P. 44

“A tolerância inspirada no ceticismo com relação aos valores reduz-se a um simples


aguentar”. P. 44

- O pensamento fraco, o relativismo cultural, o ceticismo e a exaltação da subjetividade


não fomentam a tolerância, ao contrário, fomentam a intolerância.

- A atitude de tolerância, devidamente compreendida, requer maturidade espiritual, e esta,


por sua vez, não se conquista quando só se exige um “mínimo de convivência”.
“Manipular é bloquear nas pessoas a capacidade de pensar por conta própria. A tolerância
é construtiva porque promove o poder de iniciativa dos outros, com relação ao pensar e
ao decidir. A manipulação é destrutiva, pois trapaceia com os conceitos e as palavras,
deturpa tudo, semeia a confusão e priva as pessoas da liberdade interior”. P 46/47

- Nas páginas 49 e 50 está explicitado os quatro tipos que englobam o conceito de


âmbito.

A manipulação e seus recursos (visão sinóptica)

-Sobre a liberdade humana e os meios de comunicação: “sua liberdade corre grande risco
em razão do modo estratégico como esses meios são usados”. P. 54

- O poder usa os meios de comunicação para manipular as pessoas com uma certa
facilidade.

- Lutar contra a manipulação, conhecer seus mecanismos, é também um ato de defesa de


nossa dignidade e de nossa liberdade.

- Manipular= manusear. Ou seja, transformamos as pessoas em objetos, tal como


manuseamos uma caneta ou uma cadeira.

“Se fizer algo semelhante com uma pessoa, reduzindo-a a um meio para os meus fins,
passo a tratá-la como objeto, o que supõe degradá-la e aviltá-la”. P. 54

“Manipular é exercer o domínio sobre pessoas ou povos reduzidos a meros objetos, a


meios para um fim determinado”. P. 54

- Ser manipulador, segundo Alfonso López, é ser sádico.

“Ser sádico não equivale a ser cruel, como se costuma pensar. Significa tentar reduzir
uma pessoa a mero objeto mediante à crueldade ou mediante certo tipo de ternura”. P. 55

“Reduzir uma pessoa à condição de objeto para dominá-la é uma prática manipuladora
sádica”. P. 55

- Reduzindo as pessoas a objetos˃ àquele reduzido despreza a si mesmo˃ dificulta a


resistência àqueles que causam essa redução por uma manipulação (sádica).

- Há dois tipos de carícias: a erótica e a pessoal.


- No erotismo podemos encontrar quatro elementos: a sexualidade, a amizade, a projeção
comunitária do amor, a fecundidade.

“Essa extrema proximidade do amor com o fenômeno misterioso e elevado da aparição


de novos seres humanos confere-lhe um caráter enigmática e profunda”. P. 56

- A carícia erótica reduz as pessoas a meros objetos ao utilizar e delimitar o corpo do


outro para alcançar o próprio desejo.

“O principal objetivo dos manipuladores é ocultar a violência sob o véu sedutor do


aparente estímulo às liberdades”. P. 59

“Manipulam-se seres humanos e povos para diminuir sua capacidade criativa e, desse
modo, adquirir domínio sobre eles”. P. 60

- A diminuição do poder criativo pela manipulação.

- Manipulação é assédio espiritual.

“Se as pessoas que integram uma comunidade perdem a capacidade criativa e não se unem
entre si com vínculos firmes e fecundos, deixam de integrar-se como autêntica
comunidade e tornam-se um amontoado amorfo de meros indivíduos. Em outras palavras,
tornam-se massa”. P. 61

“A massa se compõe de seres que agem entre si como se fossem objetos, em situação de
justaposição ou de choque. A comunidade é formada por pessoas que entrelaçam seus
âmbitos de vida para criar novos âmbitos e enriquecer-se mutuamente”. P. 61

- Na massa ocorre a produção/construção de consenso.

- Sem a coesão interna não há o impedimento da produção de consenso pelo exterior, por
exemplo; a utilização dos meios de comunicação pelo poder.

- O ditador é aquele que busca vencer sem convencer. Nas democracias existem os
chamados “espíritos ditatoriais” que, com a ajuda da manipulação, busca vencer sem
convencer.

“A criatividade humana origina-se da capacidade de estabelecer modos relevantes de


união com as realidades do entorno: as pessoas, as instituições, as obras de arte, a
literatura e o pensamento, as diferentes transições, os usos e costumes, os valores de todo
gênero, paisagem, a linguagem, o lar, o povo, a nação, o Ser-Supremo”. P. 62
“Sozinho, o ser humano é incapaz de realizar ações valiosas, por menores que sejam.
Vinculados as realidades circundantes – as do tempo presente e as que são oferecidas pela
história passada –, o ser humano dispões de possibilidades inesgotáveis.”. P. 62

- Ser criativo exige uma consciência de que somos seres dialógicos, crescemos no diálogo
com o mundo que nos rodeia – em suas diversas nuances e diversos sentidos. Sem esse
diálogo se torna impossível nosso crescimento, o regulamento enquanto ser e da própria
ação enquanto consciência.

“Só consigo perceber o valor de uma pessoa, por exemplo, na medida em que a e com ela
entro num jogo criativo. Se eu tentar reduzi-la a objeto, a um meio para meus fins,
condeno-me a jamais conhecer essa pessoa como pessoa”. P. 62

“A linguagem é um meio para comunicar algo que já se sabe, mas antes disso é meio no
qual os seres humanos criam unidade entre si”. P. 63

“A linguagem dita com ódio destrói-se a si mesma, autodissolve-se. Não há nada tão
grande na vida humana quanto a linguagem, mas, ao mesmo tempo, nada mais assustador,
devido a sua condição bifronte: a linguagem pode construir ou destruir uma vida, pode
ser afetuosa ou cruel, proclamar verdades ou difamar mentiras, pode ser profunda ou
banal, nobre ou grosseira”. P. 63

“O uso estratégico da linguagem atua de modo automático sobre a mente, a vontade e o


sentimento das pessoas antes que possam exercer sua capacidade de refletir criticamente”.
P. 63

- Formas de manipular:

1) Agir com rapidez para evitar que as pessoas pensem ou refletem;

2) Não contextualizar aquilo que se diz, um conceito, por exemplo;

3) Não apresentar fundamentos daquilo que é dito seja um consenso;

4) A criação de ilusão de que aquilo que é dito é um consenso;

5) Utilização de termos ambíguos e carentes de precisão;

6) Reduzir um conceito a uma determinada vertente, que lhe cabe, pois é a vertente que
mais lhe aproxima dos interesses do manipulador.
“Deste modo, evita que as pessoas às quais se dirige tenham elementos de Juízos
suficientes para, por si mesmos, esclarecessem as questões e elaborem uma ideia serena
e ponderada em torno dos temas tratados”. P. 64

- Manipular é desconfigurar conceitos, utilizando para atingimos nossos objetivos mais


escusos.

“Toda forma de manipulação é uma espécie de malabarismo intelectual”. P. 64

“Basta pedir a um demagogo que contextualize e explique melhor um conceito para que
diminua sua capacidade de nos hipnotizar”. P. 65

- Sobre as palavras-talismã: “nessas palavras parece concentrar-se a quinta-essência da


vida espiritual de uma época, o que há de mais notável em sua cultura, a causa de todos
os seus êxitos. Podemos denomina-las, portanto, ‘palavras-talismã’”. P. 67

“O manipulador costuma agir do seguinte modo. Começa por exaltar de diversos


maneiras a palavra talismã por excelência da nossa época, liberdade, tomando todo
cuidado para não contextualizá-la. Amparado pela confusão gerada por uma exposição
ambígua acerca do tema, sugere que a liberdade humana equivale à liberdade de fazer a
cada momento aquilo que se deseja em virtude de critérios puramente interiores,
individuais, sem referência a critérios externos. O manipulador põe essa ‘liberdade de
ação’ – liberdade para mover-se com facilidade, sem nenhum tipo de obstáculo – ao lado
da ‘autonomia’ e da ‘autencidade’. Você é autônomo – ele nos diz – quando se orienta
por critérios internos que você mesmo criou para si. Se você ajustar sua conduta e ação a
leis, determinações e critérios externos, ficará preso a uma autoridade alheia, modelando
sua personalidade conforme realidades estranhas... alienando-se, deixando de ser
autêntico e perdendo a identidade pessoal. Assim, o conceito de liberdade desvinculadade
toda norma ganha imenso prestígio e se torna padrão inquestionável de conduta”. P. 67/68

“Uma forma enviesada, tendenciosa, dissimulada de vencer as pessoas, sem convencê-


las, é repetir várias vezes, pelos meios de comunicação, ideias ou imagens carregadas de
intenção ‘ideológica’. Não se discutem as questões, não se demonstra nada, não se vai ao
fundo do problema algum. Simplesmente são transmitidos anúncios, são feitas afirmações
contundentes, propagam-se frases de efeito como se estivessem carregadas de sabedoria”.
P. 70
No mundo das democracias liberais e dos meios de comunicação o que importa é o
quantitativo (número de votos, porcentagem de quem apoia tal ideia) em detrimento do
qualitativo (não se aprofunda as ideias, não há discussão, diálogo). Esse aprofundamento
das ideias não serve ao manipulador, pois desse modo sua sedução, seus truques serão
facilmente desmascarados.

“Uma das metas do demagogo; aliás, é anular a qualquer preço todos aqueles que possam
descobrir como funcionam suas armadilhas, seus truques de ilusionismo”. P. 71

“A propaganda manipuladora tende a formar esse tipo de ‘crença’ com a intenção de


manter um controle encoberto sobre a mente, a vontade e os sentimentos da maioria”. P.

71 ˅
Crença formada por uma mentira ou meia verdade que é repetida mil vezes pelos meios
de comunicação, tornando-se verdade de fato.

“A prática do ilusionismo mental mediante a linguagem – e mediante o uso das imagens,


que são altamente eloquentes – desorienta espiritualmente as pessoas, impedindo-as de
pensar por conta própria e de modo rigoroso, e diminuindo suas sensibilidades para os
valores; restringe bastante sua capacidade de agir segundo critérios internos bem
ponderados e em nome de nobres sentimentos, o que deixa vulneráveis perante a vida e
sujeitos a um estado gregarismo e infantilismo”. P. 73

- Paternalismo tirânico ˃ “democracia” de totalitarismo

“Isso se torna possível porque um povo subjugado espiritualmente é uma coletividade


gregária, que, por falta de criatividade e poder de iniciativa, acaba pedindo, mais cedo ou
mais tarde, um guia carismático. Um povo reduzido a rebanho sente-se necessitado de um
pastos”. P. 73

- Três fases da manipulação: 1) modelação estratégica da mente, da vontade e do


sentimento das pessoas; 2) a doutrinação; 3) o recrutamento de ativistas, porta-vozes e
intermediários de um sistema de domínio que se diz como um meio de salvação social.

- Manipulação é vencer sem ter convencido

- Na fase da doutrinação o manipulador reveste o seu domínio sobre outras pessoas com
uma aparência de nobreza e racionalidade. Desta maneira transforma o discurso do
manipulador em algo legal, no sentido de legalidade, não somente para as pessoas que já
estão em seu domínio, mas para aqueles que deseja recrutar, levando a terceira fase da
manipulação.

“É fundamental percebemos que a fase decisiva é a primeira: a da modelagem das mentes,


das vontades e dos sentimentos. A segunda fase é acessória, tem apenas função

decorativa, e geralmente serve como isca”. P. 74 ˅

Nas primeiras fases tem as artes sedutoras e as técnicas de sedução espiritual.

- Um antídoto para a manipulação: preparar as pessoas contra as manipulação. E essa


preparação pode ser dividida em três partes: 1) estar atento, conhecer em detalhes as
artimanhas da manipulação; 2) aprender a pensar com rigor e saber exigir esse tipo de
pensamentos dos outros; 3) exercitar a criatividade em todas as circunstâncias.

“A pessoa criativa tem recursos para evitar que a reduzam a um ser que simplesmente
repete o que diz o seu senhor. Quem se habitua a pensar com rigor não aceita tão
facilmente o uso estratégico das palavras, a apresentação astuciosa das questões, a
mobilização de procedimentos de fácil domínio”. P. 65

- Experiência de vertigem e experiência de criatividade. P. 75/76

Manipular é rebaixar de nível

“Esse ilusionista de conceitos é um manipulador”. P. 77

“O demagogo manipulador procura destruir com astúcia, de modo firme e rápido, todo o
trabalho que os educadores realizam no sentido de que as pessoas exercitem a capacidade
de pensar com vigor e vivam de modo criativo”. P. 77

- Diferenças entre uma atitude manipulativa (1) e uma atitude criativa (2):

Linguagem: (1) a linguagem como meio, tão somente, para a comunicação e dominância;
(2) a linguagem como meio para a convivência.

Diversas realidades: (1) confusão das diversas realidades por meio de malabarismo,
reduzindo-os a meros objetos; (2) distinção e hierarquização segundo os próprios valores.

Dilema e contraste: (1) confusão do dilema com o contraste, o dilema passa a ser contraste
e o contraste, dilema; (2) discernir com precisão cada um desses dois conceitos.
Unidade do ser: (1) em vez da busca por essa unidade, a concentração é nos ganhos
imediatos , deixando de analisar valores que podem elevar a pessoa como pessoa, criando
um dependência do manipulador; (2) busca-se com todas as forças ser completo, ou a
mais próximo disso, como pessoa.

Encontro interpessoal: (1) tratar as pessoas como mero meio para alcançar seus objetos,
transformando-as em objetos. “Essa atitude reducionista permite dominar, mas destrói a
base do encontro, que é o respeito ao que são realidades do entorno e ao que estão
chamando a ser. O demagogo finge que dialoga , mas na verdade apenas monologa.
Parece que fomenta a personalidade dos outros quando, de fato, oprime”. P.79 (2) Chave
do desenvolvimento humano. “O diálogo respeitoso é o vínculo desse desenvolvimento”.
P. 79

- A manipulação – o manipulado – impede o próprio amadurecimento pessoal.

- Primeira medida contra a manipulação: estar atento. Segunda medida: pensar com rigor.
Terceira medida: viver de forma criativa.

“Nada mais importante para salvaguardar nosso desenvolvimento pessoal do que saber
com precisão como o manipulador atua e de que modo podemos enfrenta-lo”. P. 80

- Transformação de pessoas em objetos: delimita a expansão do ser e de suas ações.

“Precisamos adquirir com urgência uma chave que nos ajude a perceber quando estamos
diante de uma atitude manipulativa e como tal atividade se realiza”. P. 82

“Um objeto é um ser delimitável, tangível, pesável, manuseável. Carece de iniciativa


própria, de liberdade, de consciência. Não pode, portanto, sentir-se rebaixado em sua
condição, ao ser usado por alguém como meio para determinadas finalidades”. P. 82/83

- O objeto quando utilizado por um projeto humano eleva sua condição; transformando-
se em “âmbito”, criando possibilidades para o ser humano.

“Dotada de inteligência, vontade, sentimento e capacidade criativa em diversos aspectos,


uma pessoa se sente chamada a elaborar projetos e a realiza-las com impulso criativo. Se,
no entanto, é tomado como mero objeto ou como instrumento a serviço de projetos
elaborados por outras pessoas, sente-se rebaixada de condição e aviltada. Esse
rebaixamento injusto é uma forma de manipulação”. P. 83
- O manipulador pode transformar as pessoas em objetos maravilhosos, gostosos,
admiráveis, mas mesmo com esses adornos, ainda são meros objetos.

“Toda essa aparência enganosa não impede o aviltamento da pessoa que tenha sido
afetada por tamanha injustiça”. P. 83

“Tirar vantagens da fragilidade espiritual das pessoas com a intenção de subjugá-la é,


obviamente, uma das formas perniciosas de manipulação. Mas ainda há outros não menos
perversos”. P. 84/85

“Essa hostilidade do ser humano contra si mesmo provém da tendência redutora e dela se
alimenta. Reforcemos a ideia de que a primeira condição para atacar alguém é reduzi-lo
a mero obstáculo”. P. 86

- Exemplos dessas reduções: redução a um mero objeto sexual, redução a um mero objeto
econômico.

“A redução é um ato de violência que desencadeia mais violência”. P. 86

- O ataque ocorre quando o outro é reduzido a mero objeto.

“Aquele que respeita o ser humano naquilo que é e está chamado a ser colabora para criar
um clima de concordância e paz”. P. 86

“Não podemos porém concluir que onde se verifica algum tipo de domínio haja sempre
manipulação. Quem exerce um tipo de autoridade por ser capaz de promover outras
pessoas a posição muito elevadas em qualquer aspecto não está manipulando. Autoridade
vem do verbo latino Augere, ‘promover’. Quem domina alguém sem promove-lo a níveis
superiores de vida é porque o coage. Já aquele que realiza tal promoção aumenta a
liberdade interior dos subordinados”. P. 90

Quem Manipula

“O egoísmo leva à vertigem da ambição e a vertigem suscita a vontade de manipular”. P.


95

“Existem diversas formas de manipulação, mas todas tem um traço em comum: destroem
a criatividade humana, sua capacidade de pensar, sentir e querer por conta própria, com
perfeita liberdade interior. E operam essa destruição de forma astuciosa e dissimulada. É
por isso que devemos insistir em nosso empenho em conhecer com profundidade os
recursos manipulativos que distorcem tudo de maneira velada”. P. 95

- A democracia não garante essa liberdade interior e nem nos protege das manipulações.

- A busca dessa liberdade interior, é a busca da vivência plena, do uso livre da criatividade
e do pensamento. É uma busca “anti-manipulativa”.

“Nas democracias, a liberdade é apresentada como objeto máximo, liberdade num grau
jamais alcançado antes. De fato, recebemos uma ampla liberdade de movimentos, mas a
liberdade interior deve ser conquistada, e com muito esforço”. P. 96

“Quem não se submete aos ditames da opinião pública será excluído do jogo, não receberá
possibilidades de seu entorno, nem votos nas eleições, nem mesmo a estima do povo. Será
muito difícil ter liberdade interior para agir com critérios próprios”. P. 96

- Bom lembrar que a opinião pública pode ser entendida no macro ou no micro. Se você
foge da opinião estabelecida em um grupo, por exemplo, pode ficar estigmatizado ou
mesmo ser excluído do grupo por não compartilhar uma opinião ou um pensamento em
comum.

“A opinião pública é uma realidade envolvente que atua com a impunidade do anonimato
e exerce grande pressão sem, no entanto, ostentar um rosto preciso”. P. 97

- A opinião pública é ambígua e descolorida, desta forma não apresenta um rosto que
possa ser atacado e dificulta muito a defesa de seus ataques. Consequentemente
imobilizando um desenvolvimento interior, uma liberdade de ação. A rédea é curta para
agradar a opinião pública.

“Não há nada de estranho no fato de o manipulador tirar partido da força da opinião


pública, pois também ele nunca atua de maneira clara. Seu desejo é modelar a mente, a
vontade e o sentimento de pessoas e povos de uma forma desonesta e despercebida”. P.
97

- O manipulador sempre tem desejos inconfessáveis para aqueles que manipula.

“A primeira condição para conservar a liberdade interior diante das agressões dos
manipuladores seja trazer à luz os recursos oportunistas que eles mobilizam”. P 97

- Há diversos tipos de manipulação que ocorrem em nossa sociedade:


1) A manipulação dos comerciantes

- Mostrar as qualidades de produto que é vendido, não é manipulativo, mas orientador.


Para ser manipulativo precisa seduzir as pessoas à compra, transformando-as em meros
clientes – objetos.

“Quem manipula, ao contrário, lança mão de truques espetaculosos para seduzir as


pessoas com seus produtos”. P. 97

- Existe quatro tipos de manipuladores no campo do comércio: 1) comerciantes do poder


(políticos) que reduzem as pessoas a votantes, manipulando-as pelas promessas não
cumpridas; 2) comerciantes do dinheiro que, exatamente, transforma as pessoas em
clientes através de uma sedução. “Não procuram aperfeiçoar as mercadoria, mas tornar
favorável a opinião que as pessoas possam ter sobre o produto”. P. 98; 3) comerciantes
do sucesso, são aqueles que buscam admiradores, popularidade, e para isso evitam o
encontro da verdade se essa desagradar a opinião pública, ou os formadores de opinião
que omitem à verdade para criar uma realidade paralela visando os próprios interesses
(sucesso, dinheiro, etc.). “Maior perigo ainda, porém, reside na manipulação levada a
cabo por aqueles que desejam mudar nossa mentalidade para favorecer seus interesses”.
P. 99; 4) os comerciantes das ideias e atitudes, são aqueles que, através da propaganda,
buscam alterar a mentalidade e a hierarquia dos valores, atacando em diversas frentes,
utilizando de diversas práticas manipulativas. Por, exemplo, alguém que se importe com
os estudo ou a contemplação, não se importará, não será chamado a sua intenção, uma
propaganda de carro, mas se o vendedor disser que um carro lhe dará mais honra e
prestígio do que andar de ônibus, pode ser que esse estudioso fique tentado a comprar o
automóvel.

- Os comerciantes criam uma áurea consumista na sociedade, criando consumistas mais


“preocupados com o parecer do que com o ser”. P. 100

“A propaganda estimula nossa vontade de possuir para usufruir. Tornando-nos donos


daquilo que antes nos fascinava, deveríamos então nos sentir satisfeitos e autorrealizados.
Mas não é o que acontece. Sentimos a comichão de aumentar ainda mais as nossas posses,
e ficamos sem tempo e sossego suficientes para pensar e concluir que não alcançaremos
a felicidade ao desfrutar do domínio, que é ‘vertigem’, mas ao nos deleitamos em
colaborar, que é ‘êxtase’. Essa decepção inicialmente provoca ansiedade e, depois,
apatia”. P. 102
“O manipulador comercial não se preocupa com a situação de abatimento interior que ele
provoca, já que ele se ocupa com clientes e não com pessoas”. P. 102

2) A manipulação dos ideólogos

“Por não se ajustarem à realidade, as ideologias, conforme vimos, não têm poder de
convicção e persuasão. Só podem ser inoculadas nas pessoas de duas formas: pela
violência, em geral por meio de uma ditadura, ou pela astúcia, e entramos aqui no terreno
da manipulação ideológica”. P. 103

“Os manipuladores costumam ser verdadeiros especialistas na arte de persuadir


ardilosamente”. P. 103

“Esse malabarismo mental também é praticado pelos técnicos da publicidade, conforme


vimos antes. Utilizam a linguagem com duplo sentido, projetam imagens umas sobre as
outras, aproveitam-se dos pontos fracos das pessoas”. P. 103

- As armas utilizadas pelos manipuladores ideólogos: “transmutação de ideias,


encobrimento de conceitos e extrapolação de planos de realidade. É necessário um treino
especial para descobri-los prontamente e refutá-lo com firmeza”. P. 104

- O pensador que é independente dos próprios interesses, dos interesses do grupo ou do


partido, estão constantemente dialogando com a realidade. Desta forma há a facilitação
da própria mudança: muda-se o modo de pensar, de ver a própria realidade, de opinião,
modifica-se conceitos. A mudança é constante.

“É por essa razão que as ideologias precisam definir constantemente seus limites e
endurecer suas posições”. P. 104

“Os partidários de uma corrente política tendem a defender a ideologia que assumiram
como se defendessem uma bandeira, um símbolo de honra pessoal, e o fazem de modo
enérgico, unilateral, implacável”. P 104

“Uma conversa com um ideólogo mostra “o fracasso da razão, a humilhação da


capacidade humana de raciocinar, de pensar com profundidade e apoiar suas decisões nas
exigências da realidade”. P 105

“Os diversos sistemas de pensamento são caminhos em busca da verdade e não posições
irremediavelmente antagônicas. Nisso se transformam, porém, quando se prendem a
meros interesses tribais”. P. 106
“A comunicação é essencial para o desenvolvimento genuíno do ser humano”. P. 107

3) Manipulação dos intelectuais

4) Manipulação dos políticos

“A política deveria ser a arte de configurar a vida social do modo mais adequado possível
à vida humana. Atualmente, no entanto, está se tornando a arte de enganar e seduzir, de
melhorar a própria imagem e desfigurar a dos outros, mantendo as aparências para
conquistar as vontades”. P. 117

“O objetivo desses políticos não é aperfeiçoar a vida das pessoas, mas, ao contrário, é
fazer com que adotemos como ideal de vida a obtenção do próprio bem-estar mediante a
posse e o consumo”. P 117

5) Manipulação dos lideres

“Na vida política, familiar, acadêmica, religiosa...podem ocorrer abusos de poder. Se


aquele que detém algum tipo de autoridade vê os “subordinados” como meios para fins
particulares, alheios ao bem comum, ultrapassou os seus direitos e se tornou um
manipulador”. P. 118

“Uma ação tem sentido pleno quando contém o valor que lhe compete”. P. 119

“O chefe, superior ou governante que busca o bem comum em diálogo com seus
subordinados não renuncia ao seu dever de ordenar com autoridade, pois a ele cabe a
tarefa de dirigir a sociedade, e toda direção exige que alguém tenha a última palavra. Ele
renuncia, contudo, à possibilidade de manipular, ou seja, fazer dos subordinados simples
meios para determinados fins”. P. 119

- A autoridade pelo diálogo é uma forma de buscar a verdade as claras, onde nada se tem
a esconder.

“Uma ordem emitida após um diálogo autêntico e em virtude da luz ali conquistada jamais
será manipuladora, mas provedora”. P. 120

“O manipulador finge que dialoga para conquistar as vontades, porque sua intenção é
sempre dirigir o diálogo de modo que o desvirtue”. P. 120

6) Manipulação dos educadores


“Os tiranos procuram por todos os meios manter as pessoas num nível cultural baixo, para
que seu poder de discernimento seja o menor possível, o que as torna facilmente
manipuláveis”. P. 121

“Também nos regimes democráticos aquele que deseja vencer sem convencer costuma
conceber planos e métodos de ensino com os quais não se crie o poder de discernimento,
a sensibilidade para os grandes valores, o entusiasmo criativo, o desejo de realizar tarefas
relevantes”. P. 121

“Ensinar o povo a pensar com rigor é, efetivamente, elevada tarefa, que exige vivência
profunda e que as questões básicas sejam apresentadas com força imaginativa, de modo
que as pessoas igualmente se compenetrem dessas questões e as compreendam por dentro.
Ora, esse trabalho não deve ser realizado com a finalidade de adquirir poder e domínio
sobre o povo, mas de conferir-lhe verdadeira liberdade interior”. P. 123

- Sobre o objetivo da educação: “deve ser impulsão da personalidade de cada ser humano,
que é um fim em si mesmo e não um meio”. P. 123

7) A manipulação dos engenheiros e urbanistas

8) A manipulação dos médicos

9) A manipulação dos biólogos e geneticistas

10) A manipulação da imprensa e dos espetáculos

“Em razão da urgência em divulgar notícias chamativas, os meios de comunicação


transformam-se geralmente em porta-vozes do incomum, do anormal, do excêntrico, do
que é extravagante e insólito”. P. 128

“Para os meios de comunicação e para o mundo dos espetáculos, o importante reduz-se


quase sempre ao que é interessante, ao excitante, na medida em que estimula os sentidos
e acende a paixão”. P. 128/129

“Os meios de comunicação precisam adotar um ritmo veloz que não dê trégua a quem os
lê, ouve ou contempla. Esse fluxo de impressões superficiais de todo tipo inunda o espírito
humano, mas não lhe dá fecundidade, pois convida à recepção passiva, que é uma forma
de vertigem”. P. 129
“Toda empresa desempenha um papel na composição sociopolítica de cada momento.
Toda a sua atividade é direcionada por um grupo de estrategistas que perseguem um
objetivo. Ou esse objetivo consiste em difundir um sistema de ideias aberto, flexível,
dialogante com as pessoas, ou, ao contrário, um sistema de ideias petrificado, fechado em
si mesmo, monologante, uma ideologia. No primeiro caso, o meio de comunicação fará
um jogo limpo, defenderá abertamente suas convicções, apresentará motivos razoáveis,
dirigindo-se à inteligência de seus destinatários. No segundo caso, transformará a
informação em propaganda, mobilizará todos os recursos manipuladores para seduzir o
leitor com ideias e orientações que ele não sabe defender com galhardia. Os meios de
comunicação que seguem essa linha têm uma oculta habilidade de persuasão, são
“sedutores secretos”. P. 129/130

“Rebaixar de nível uma realidade constitui um ato de violência e aviltamento, um ato


agressivo em se tratando de algo que milhões de pessoas consideram sagrado e vital, que
lhes dá sentido e impulso de vida”. P. 131

“A liberdade de informa-se e de informar constitui um freio para os que detêm o poder.


Mas, por sua vez, constitui igualmente uma forma de poder que pode ultrapassar os
limites e torna-se manipuladora”. P. 132

- O sectarismo dos meios de comunicação (importantíssimo)

“Essa parcialidade – por vezes sectária – dos meios de comunicação mostra-se muito
perigosa, porque um bom número de cidadãos não tem outro contato com a realidade a
não ser por esses meios”. P. 133

-Os meios de comunicação, muitas vezes, não apresenta as pessoas uma realidade, mas
uma interpretação dessa realidade.

“A maioria das pessoas move-se espiritualmente num mundo configurado pelos meios de
comunicação de inclinações partidaristas”. P. 133

“Se quisermos perfurar essa trama de interpretações e alcançar em certa medida a


realidade em si mesma, teremos de recorrer a diversas fontes de informação e adotar
diante delas uma postura crítica que permita entrever onde está a verdade de cada
acontecimento”. P. 133

- Pesquisar o uso da linguagem e dos truques do jornalismo e dos meios de


comunicação, em geral.
- O que é liberdade de ação e liberdade de escolha em filosofia?

“Os outros tipos de manipulação – a comercial, a intelectual, a política, a científica, a


médica... – vão sempre acoplados com algum tipo de manipulação ideológica”. P. 135;

“A manipulação ideológica vai até as raízes de nossa conduta, afeta a orientação que
damos a nossa existência, interfere em nossa concepção de mundo e de vida, que é o que
dá sentido ao nosso ser....a manipulação ideológica decide qual deve ser a nossa opção
fundamental, o ideal que orienta e impulsiona nossaa existência. E é desse modo que
nossa vontade e nossa afetividade são totalmente dominadas. A manipulação ideológica
se apropria de nosso espírito”. P. 137

Com que intenção se manipula

“O intuito de quem manipula pessoas e povos é adquirir domínio sobre eles, aumentando
seu próprio poder: poder político, econômico, cultural”. P. 139

- É mais fácil manipular uma multidão do que uma pessoa só ou um pequeno grupos de
pessoas. Transformando a multidão em uma multidão organizada, uma multidão
psicológica (a chamada massa). Basta ter instrumentos certos para destruir organizações
sociais que possuem um viés mais democrático e de pensamento livre.

“Um grupo social é reduzido a mera massa com relativa facilidade, quando se emprega
contra ele uma forma encoberta de assédio interior”. P. 139

- Por que assédio interior? Assediando pelo exterior provoca-se o efeito de união entre as
pessoas do grupo assediado, tornando o grupo uma unidade, uma estrutura rígida e
consistente, dificultando a entrada daquele (s) que desejam dominar.

“Todo tirano, toda pessoa ou grupo desejoso de poder a qualquer preço percebe com
clareza que é mais eficaz, embora se perca em rapidez, substituir o assédio exterior pelo
interior. Esse último consiste em desvincular as pessoas de tudo aquilo que fomente seu
poder criativo. Uma pessoa criativa funda modos elevados de unidade com outras
pessoas, com instituições, com o povo e a paisagem, com obras culturais, com diversos
valores... Esses modos relevantes de união tecem a trama da vida comunitária, dando-lhe
a firmeza necessária para que se torne impermeável ao ataque que vem de fora”. P. 140

- A criatividade do ser humano advém do vínculo de si mesmo com o seu entorno.


“Façamos agora uma pergunta decisiva: de onde procede essa sensibilidade do ser
humano para abrir-se à revelação dos valores, escutar e corresponder ao seu chamado,
vibrar com sua magnitude, encantar-se diante de sua grandeza? Procede de uma atitude
inicial de generosidade, que nos dispõe a realizar experiências de êxtase ou de encontro”.
P. 141

- Para que os seres humanos abram mão de seus próprios valeres, do vibrar-se, encantar-
se com a própria vida; para que se sinta vazio, sem esperanças, e a vida perca todo o
sentido; tudo isso ocorre na medida que o ser humano, ao longo da vida, vai sendo
bombardeado com o que pode ser chamado de experiências de vertigem.

- O que seria essa experiências de vertigem? Elas “inicialmente exaltam, prometem uma
plenitude rápida e comovente, e por dentro vão esvaziando o ser humano. A vertigem
espiritual provoca em nós a sensação de sermos sugados pelo vazio, privados de tudo
aquilo que nos leva à plenitude”. P. 141

“O processo de vertigem deixa o ser humano sem defesas interiores perante as diversas
formas de sedução empregadas pelo manipulador. Por isso, fomentar experiências de
vertigem é a forma radical de manipulação, da qual todas as outras nascem e pela qual se
tornam possíveis e efetivas”. P. 141

- O ser humano não é um ser que intrinsicamente busca um guia, não é um ser
naturalmente gregário – aquele que precisa de um guia. Ao contrário, é um ser que possui
um instinto de sobrevivência e de viver a vida da melhor maneira possível. Diferente dos
animais, para buscar essa vida, usasse da criatividade e da racionalidade para melhor atuar
no seu próprio entorno e no mundo como um todo.

“Se o ser humano se abre espontaneamente às realidades que o rodeiam, reconhece seu
valor e ouve seus convites de colaboração, tende, por lei natural, a associar-se a outras
pessoas, criando comunidades, sociedades. Na medida em que vive de forma comunitária,
percebe que, entrando em jogo com outras realidades, descobre e incrementa o sentido
dessas realidades e de si mesmo, e todos, conjuntamente, fazem surgir realidades novas
de grande valor. Isso o leva a continuar aperfeiçoando a unidade criada e a instaurar
formas novas de união. Desse modo, o ser humano vai ser aperfeiçoando, ao mesmo
tempo que coopera com o aperfeiçoamento daqueles com quem convivi e se relaciona”.
P. 143/144
- Experiência de vertigem: buscar ganhos imediatos, prazeres rápidos, intensos e
puramente individuais. Não age em prol de uma unidade ou de uma comunidade. Nem na
unidade de si mesmo, quando nessa experiência não há incentivo para o diálogo e a
compreensão do seu próprio entorno.

“O manipulador dispõe de astúcia suficiente para persuadir as pessoas de que a satisfação


que a vertigem procura inicialmente equivale à plenitude pessoal que somente as
experiências de encontro podem conceder”. P. 144

“Uma comunidade é uma integração de pessoas que compartilham convicções sólidas,


ideias elevados, atividades criativas. Quando uma pessoa colabora com outra para a
realização de algo valioso, estabelece com ela um vínculo sólido, forte, íntimo. A
participação no valioso traduz-se em comunhão pessoal. A comunhão é um modo de
unidade muito profunda que supera grandemente, em qualidade, toda forma de
justaposição tangencial, por mais intensa que esta possa parecer”. P. 145

“Em geral, podemos afirmar que toda pessoa ou grupo que ambiciona o poder tenciona
destruir na sociedade as formas de encontro e de unidades mais valiosas. Essa destruição
é uma avalancha poderosa para a conquista avassaladora dos povos”. P. 148

“Na atualidade, as mais assustadoras formas de violência não são as que chamam a
atenção e mostram à luz do dia todo o seu horror, mas aquelas que vão destruindo
paulatina e sub-repticiamente a capacidade criadora do ser humano, deixando-o à mercê
dos poderosos”. P. 150

Como se manipila

1. As atitudes do manipulador

“O operário que age mecanicamente no interior da fábrica sai à rua e se vê imerso num
clima espiritual turbulento, que não o encaminha para o fomento da criatividade, e sim
para diferentes modos de fascínio, que lhe produzirão uma euforia passageira, prendendo-
o mais tarde na solidão depressiva”. P. 152

“Há diversas formas de manipular as pessoas com relação à sua maneira de pensar, querer
e sentir. Todas coincidem, porém, numa série de características básicas que é muito
importante conhecer”. P. 152
- O manipulador primeiramente exalta, faz a pessoa se sentir especial e acolhida, para
então a transformar em um meio em vista de conquistar seus objetivos pessoais.

“O ser humano suporta o rebaixamento, contanto que sua vaidade seja afagada e seu
desejo de bem-estar, atendido”. P. 153

“É curioso como, em muitas propagandas, fala-se ao cliente que ele deve sentir-se dono
de sua própria vida, ser livre, senhor de seus atos, e ao mesmo tempo é impelido a deixar-
se fascinar pelo produto à venda. Fascinar é dominar. Dominar e deixa-se fascinar
parecem atitudes inconciliáveis, mas na realidade trata-se de duas manifestações
diferentes de uma mesma atitude: o egoísmo, que leva a afastar-se para dominar e a
fundir-se para usufruir”. P. 154

- Metáfora para a ação manipuladora: “O procedimento das iniciais palmadinhas no


ombro para depois envolver nosso pescoço com uma corda, sem que percamos o sorriso”.
P. 156

“Quem pretende dominar, desvia-se sempre do que é essencial e nuclear, preferindo


ressaltar os detalhes que lhe interessam para impressionar a sensibilidade das pessoas, e
não para dar uma solução à questão em jogo”. P. 157

“O manipulador tem interesses velados, e por isso sempre atua de modo parcial, no duplo
sentido da expressão, no sentido de incompleto – voltado apenas para um aspecto de uma
questão complexa – e de unilateral – para desviar a nossa atenção de outros aspectos da
realidade que poderiam prejudicar a sua tese”. P. 158

- O manipulador empobrece a linguagem (palavras e figuras) para poder deturpá-la,


movimentá-la, reduzi-la a seu bel prazer em vista sempre de alcançar seus objetivos. É
nesse empobrecimento que ocorre a manipulação, pois ele pode usá-la como bem quiser,
na direção que quiser.

“O uso banal da linguagem – que é veículo da criatividade – permite ao manipulador fazer


tábula rasa de convicções profundas, tradições valiosas, critérios e normas seculares de
conduta, ou seja, de tudo aquilo que significa apoio espiritual para um povo. E essa ação
manipuladora ocorre sem que o povo se dê conta. Um povo desprotegido espiritualmente
é facilmente manipulável”. P. 158/159

- A manipulação torna as pessoas submissas e gregárias.


“Para que a mentira constitua um recurso manipulador, deve ser levada ao extremo.
Aquele que mente com relação a algo de muita importância, e o faz de modo enérgico,
empenhando nisso o seu prestígio pessoal, tem muitas probabilidades de que a maioria
acredite nele por considerar impossível que alguém se arrisque deste modo a ser
desmentido”. P. 159/160

“O demagogo procede com estudada precipitação, a fim de que a multidão não perceba
suas manobras intelectuais e aceite como possíveis as tramoias conceituais mais
inverossímeis”. P. 160

“O manipulador recusa-se sistematicamente a debater de modo sereno e


profissionalizado”. P. 161

“O manipulador emprega excessivamente os verbos ter e fazer, totalmente inadequados


para expressar atividades criativas e realidades superiores aos meros objetos. Com o
simples uso de tais termos, o manipulador simplifica a expressão, mas a reduz a um plano
de realidade muito rasteiro”. P. 163

- A manipulação, o tema, não é algo estritamente acadêmico, mas “algo que afeta o
próprio núcleo de nossa existência como pessoas”. P. 168

“Manipuladores podemos ser nós mesmos, quando nos deixamos levar pela tendência a
dominar os outros, recorrendo a artimanhas”. P. 169

“O cultivo das experiências de êxtase prepara o ser humano para conservar a liberdade
interior perante o assédio do manipulador”. P. 171

Como se manipula

2. Uso tático dos vocábulos

- O manipulador: “com as mãos limpas, aparenta sinceridade e honradez. ‘Nada nesta


mão, nada na outra’, parece nos dizer. ‘Tudo é transparente em minhas mensagens,
propostas e formulações’. O manipulador finge estar convicto do que diz e, para confirmar
essa impressão, costuma expressar-se com firmeza, sem vacilar. Para inspirar confiança,
coloca-se ao lado daqueles a quem se dirige”. P. 173

- Objetivo dos manipuladores: mudar a mentalidade e o modo de vida das pessoas que
são manipuladas.
- Como o manipulador consegue mudar a mentalidade das pessoas? 1) empobrecendo as
palavras e os conceitos. 2) Difundindo doutrinas a partir dessas palavras e conceitos
empobrecidos e esvaziados. 3) A partir da criação de uma doutrina molda tudo aquilo que
orienta a vida de uma pessoa, molda a sua vontade, molda o seu sentimento.

- A manipulação é: “a modelação dissimulada das mentes”. P. 176

- O manipulador: “procura atingir a medula dorsal do pensar, do querer e sentir das


pessoas, que se constitui de uma série de conceitos básicos”. P. 177

- Palavras Talismã: aquelas palavras que possuem inúmeros significados, no qual o


manipulador irá ressaltar certos aspectos que facilitaram a sua manipulação.

“A primeira regra do demagogo manipulador é não deixar em evidência os diferentes


matizes de um conceito. Desse modo, ele, manipulador, poderá usar a cada momento o
sentido que julgar mais adequado para suas finalidades de estrategista do pensamento.
Em contrapartida, a defesa de nossa liberdade intelectual consiste em exigir que o
demagogo esclareça as coisas com precisão”. P. 182

- O manipulador sempre pretende criar uma imagem de si que fascina as outras pessoas.

“A linguagem manipulativa é nebulosa. A linguagem veraz é clara, transborda


luminosidade quando é meio no qual se fundam âmbitos de convivência”. P. 186

“Aquele que domina algo não se encontra com esse algo. A linguagem – ao converter-se
em meio de dominação – deixa de ser lugar vivente de encontro, e perde sua beleza e sua
bondade. Atenta contra a sua essência, tornando-se antilinguagem”. P. 186

Como se manipula

3. Prestígio artificial da palavra “mudança”

“Dar como certo que mudança equivale a progresso, no sentido positivo desta palavra, é
uma frívola precipitação. Devemos adquirir o hábito de utilizar esses termos de um modo
bem mais cuidadoso”. P. 190

- O manipulador cria esquemas vazios para que possa enevoar os olhos daqueles que vão
escutar. Ou, utilizando esquemas já criados e definidos, faz uma leitura apressada para
que possa também enevoar aquele que o escuta. Como são os casos dos esquemas a partir
das palavras mudanças e progresso.
“O manipulador nunca se dá ao trabalho de demonstrar racionalmente coisa alguma, mas
considera como óbvio aquilo que é do seu interesse”. P. 193

- O que o manipulador não faz? “Apresentar razões convicentes”. O que o manipulador


faz? “Se limitar as malabarismos mentais”. P. 194

“O manipulador, porém, sempre mistura alhos com bugalhos, operando com conceitos
confusos que ele próprio se encarregou de obscurecer”. P. 195

“Nessa situação de asfixia lúdica, na qual ficamos isolados e sem possibilidade de entrar
em nenhum tipo de jogo criador, o trabalho de manipulação e destruição espiritual não só
será visível e fácil, mas até mesmo bem recebido”. P. 195/196

“Essa sarcástica contradição de que o povo acolha com gratidão e simpatia um


procedimento que, na realidade, é humilhante e aviltante resulta da capacidade que tem
certas ideias de produzir um clima de ambiguidade e de obscurecimento do sentido
verdadeiro de tudo aquilo que acontece na vida humana”. P. 196

“O homem manipulado aceita ingenuamente tudo o que ouve e lhe é sugerido, porque o
manipulador não se dirige à sua inteligência nem à sua liberdade: deixa que a linguagem
atue, sorrateiramente, sobre os centros de decisão das pessoas”. P. 196

“Essa maneira automática de operar os recursos manipuladores tem consequências


terríveis para a sociedade, pois permite que os poderosos sem escrúpulos cultivem
estratégias ardilosas, desprezando o estudo fiel da realidade e os problemas sociais”. P.
196

“A força que move as massas não é a agudeza da inteligência, a profundidade do


pensamento ou a energia de uma vontade disposta a enfrentar os grandes problemas
sociais, mas simplesmente a carga emocional que contêm certos vocábulos cujo sentido
foi submetido a uma deturpação tática”. P. 197

“A metodologia filosófica enfatiza a necessidade indispensável de sermos fiéis a cada


modo de realidade e não darmos saltos injustificáveis de um nível de realidade a outro.
Os manipuladores não cumprem esse preceito óbvio e decisivo”. P. 197

Como se manipula

IV. A deturpação dos esquemas mentais


“Lembremo-nos de que quando nós, seres humanos, pensamos e falamos, mobilizamos
termos para expressar realidades e acontecimentos, configurando esquemas mentais para
relacionar tais acontecimentos e realidades”. P. 210

“A criatividade implica assumir ativamente possibilidades de ação repleta de sentido”. P.


212

“O encontro significa a fundação de um campo de jogo. Neste, há múltiplas relações que


já não estão pautadas pelos esquemas dentro-fora, aqui-ali, acima-abaixo...mas por
outros, mais flexíveis, como chamamento-resposta”. No encontro existe uma colaboração
“numa mesma atividade, durante a qual há uma diferença entre os dois, porém não uma
cisão, nem uma separação, mas uma colaboração fecunda”. P. 212

- O encontro: a interseção do dentro com o fora. Desta maneira não preciso sair de mim,
esquecer-me, para que eu possa viver o meu entorno. Eu faço parte do entorno e o entorno
faz parte de mim no encontro.

- Sobre o esquema eu-âmbito: “esse esquema corresponde a uma mentalidade relacional,


à atitude da pessoa que tende a ver as realidades ao seu redor não como meros objetos,
mas como âmbitos”. P. 124

- A manipulação “consiste em interpretar de modo falacioso os esquemas mentais e tomar


impossível o estabelecimento de autênticas relações de unidade com as realidades do
entorno”. P. 125

- “O encontro só é possível entre realidades que se fazem presentes. A presença ocorre


apenas quando dois ou mais âmbitos se entrelaçam. Essa forma intensa e fecunda de
unidade não se dá entre seres diferentes, distantes, externos, estranhos e alheios”. P. 215

- É questão de interpretação: se o diferente é externo e estranho para nós, desta maneira,


não há a possibilidade do diálogo, a possibilidade do encontro.

“A manipulação é uma tática destinada a empobrecer a vida intelectual. Os conceitos,


uma vez banalizados, empobrecidos em seu sentido, lutam entre si e produzem dilemas.
Quando a vida intelectual está povoada de falsos dilemas, a vida humana desarticula-se
interiormente e se enfraquece. Essa vida enfraquecida fica exposta a todo tipo de erro e
desorientação”. P. 229

Como se manipula
V. Os procedimentos enganadores

“O demagogo tenta empobrecer nossa vida para dominar-nos com mais facilidade. O
recurso básico que utiliza é procurar nos seduzir com ganhos imediatos, a fim de que
entreguemos euforicamente às diferentes experiências de vertigem. Basta fomentar nossa
tendência a procurar gratificações intensas e fáceis”. P. 233

“As experiências de vertigem, vistas em si mesmas, privam-nos do que nos constitui como
pessoas e destroem nossa personalidade”. P. 233

“As experiências de êxtase nos elevam ao que há de melhor em nós, à plenitude de nossas
possibilidades”. P. 233/234

“Procuremos pensar cada um por conta própria. Se vivemos obcecados pela conquista de
gratificações imediatas, veremos as pessoas que nos rodeiam como fontes de
possibilidades para criar algo valioso? Não. Olharemos para elas como fonte de estímulo
prazerosos, reduzindo-as de categoria. E tal rebaixamento será acompanhado pela
redução do nosso próprio ser pessoal a meros detectores de sensações de prazer”. P. 234

“Devemos abrir bem os olhos e tomar consciência de que o manipulador, ao fomentar a


vertigem, não pretende com isso intensificar os vícios praticados pelas pessoas. Isso seria
muito banal. O que ele tenciona é baixar o nível da nossa criatividade e fragilizar nossas
defesas interiores”. P. 236

“Por querer mesclar as pessoas aos ganhos imediatos, privando-as da perspectiva


necessária para viver criativamente, o manipulador se esforça para afastá-la do seu
passado. Rigorosamente falando, o passado não é tudo o que aconteceu antes do presente,
mas aquilo que continua tendo vigência na vida atual, oferecendo-nos possibilidades para
conferir sentido à nossa existência e projetar o futuro”. P. 240/241 (passado e
acontecimento)

“A constante transmissão de possibilidades é o verdadeiro decurso histórico, que não


consiste em simplesmente deixar os ponteiros do relógio avançarem, mas é afloramento,
transmissão, assunção de diversas possibilidades em vista de um conhecimento melhor
das realidades do entorno e do incremento de unidade com essas realidades”. P. 241
(futuro e acontecimento ou o devir do acontecimento)

“O manipulador tende a romper com o passado, lançando-se ao futuro com o exclusivo


apoio de promessas utópicas. Qualquer um pode falar sobre o futuro com palavras
sugestivas e fascinantes, sem correr o risco de ser desmentido imediatamente, sem ter de
se submeter à precisão e a cálculos realistas”. P. 242/243

“A projeção ao futuro é levada a cabo mediante a remodelação estratégica da linguagem,


impregnando-se dos valores que se deseja exaltar”. P. 243

“Essa linguagem desvirtuada pela desconexão com a realidade encontra-se extremamente


empobrecida e carente de recurso para comunicar às pessoas os inúmeros matizes que a
vida apresenta” P. 244

“A mudança torna-se o novo Absoluto de uma sociedade despojada da história e de seu


caráter histórico. O ser humano e a sociedade perdem seu caráter de seres históricos para
se reduzir a seres cambiantes. Não obstante sua pobreza interna, a realidade cambiante é
valorizada ao máximo, pois já não se reconhece nada cujo o valor extrapole o decurso e
os vaivéns do sentimento”. P. 245

“Para truncar a capacidade criadora do ser humano, o manipulador seduz as pessoas com
torrentes de imagens reduzidas a meras figuras”. P. 247

“A imagem nos conduz e remete a zonas íntimas dos seres expressivos, pois é na imagem
que estas se revelam e vibram”. P. 247

“A figura é a parte sensível da imagem vista de modo estático, sem a vibração que, nela,
imagem, é comunicada pela revelação de uma realidade que possui intimidade”. P. 247

“A imagem instaura-se de dentro para fora, em virtude de um impulso criador”. P. 247

“A figura é um conjunto de traços que formam um todo cheio de sentido, mas que são
tomados em si mesmos, como algo independente. É por isso que a figura pode ser
desenhada artificialmente”. P. 248

“Uma imagem deve ser criada de dentro para fora”. P. 248

“Por ser lugar de expressão, a imagem é eloquente, constitui uma forma de linguagem
humana. Como toda linguagem verdadeira, não comunica somente algo já existente: dá
corpo expressivo aos âmbitos de vida e realidade que vão sendo instaurados ao longo do
tempo”. P. 248

“A imagem é um nó de relações, um lugar de confluência e vibração”. P. 249


“Em seu significado mais profundo, guardar silêncio não significa estar calado. O mero
calar pode reduzir-se a silêncio de mudez. Guardar silêncio implica, positivamente,
prestar atenção global a diversas realidades confluentes que produzem um
transbordamento expressivo”. P. 249

“Essa forma de silêncio carregado de expressividade, transbordante de sentido, só pode


dar-se quando o ser humano adota perante as imagens o ritmo lento que corresponde à
sua profundidade”. P. 250 (questão do tempo)

“Por sua própria riqueza, cada imagem pede ao contemplador tempo e atenção, que dê
serenidade ao ritmo do seu olhar, para que possa entrelaçar seu âmbito de vida com o das
realidades que confluem nela, na imagem. Ao contrário, o fluir frenético de figuras obriga
o espectador a deixar-se levar e abandonar-se à vertigem devoradora da torrente de meros
estímulos”. P. 250

“A pessoa imaginativa – diferentemente da pessoa fantasiosa – não vive no mundo do


irreal, mas no mundo do ambital, que é fonte de sentido”. P. 253

“Mediante o poder da imaginação, o ser humano antecipa-se ao futuro, pois é capaz de


configurar em sua mente estruturas chamadas a constituir a base de modos originários de
realidade”. P. 253

“O ser humano aberto à riqueza da realidade tende a tomar a imagem como ponto de
vibração e manifestação de algo que transcende a vertente sensorial dos seres”. P. 253/254

Como se manipula

VI. Segunda e terceira fases da manipulação ideológica

“Devemos suportar grandes cargas nesta vida, mas dando-lhes sentido, e não
simplesmente suportando-as”. P. 267

Consequências da manipulação e seu antídoto

Você também pode gostar