A Tolerância e A Manipulação
A Tolerância e A Manipulação
A Tolerância e A Manipulação
A tolerância e a manipulação
Introdução
“Quem manipula não busca a verdade, mas o domínio mediante o engordo”. P.18
-Há certas palavras que facilitam a manipulação, tais como a Liberdade, Mudança,
Progresso.
“...a autêntica liberdade consiste em sermos capazes de nos distanciar dos próprios
interesses e optar não em virtude de nossos desejos egoístas, mas do anseio maior de
realizamos na vida o ideal autêntico de nosso ser como pessoa”. P. 22
“Será que essa defesa entusiasmada e fundamentada de uma ideia é de fato uma tentativa
de imposição? É claro que não. Entusiasmar-se por uma convicção significativa que
alguém se vê enriquecido por ela e deseja conservá-la como fonte de plenitude e
felicidade”. P. 24
- A defesa de uma ideia entusiasmada e fundamentada não significa impô-la, mas desejo
de compartilha-la. Pois possui um caráter participativo e é, por si mesma, atrativa.
“Quem se entusiasma e defende com tenacidade algo valioso está disposto, sem dúvida,
a mudar de opinião, caso alguém o convença, baseado em razões, de que se encontra
equivocado”. P. 24
“Negar a procurar o que é justo, algo que corresponde às suas próprias condições e as
condições dos outros, é um traço de intolerância”. P. 26
- Ser tolerante é, acima de tudo, estar atento ao outro. Perceber onde se fala para adequar-
se às situações diversas. O tolerante é aquele capaz de segurar, controlar, o próprio desejo
em vista de respeitar e buscar uma proximidade com o outro, criando um diálogo onde
será possível a aprendizagem dos envolvidos.
- Uma opinião não é respeitável quando “não merece ser levada a sério ou analisada a
fundo”. P. 29
“Pensar no bem das pessoas, sobretudo as que pertencem a grupos culturalmente mais
vulneráveis, acarreta a obrigação de limitar nossa liberdade de ação e ajustar nossas
declarações às características de nossos destinatários. Esse ajuste não nega a liberdade de
expressão. Ao contrário, torno-a fecunda e ao mesmo tempo a justifica. Proclamar que ‘a
liberdade de expressão é absoluta’ sem realizar as necessárias adequações não é um
exemplo de rigor mental”. P. 30
“De modo singular não chegamos à verdade de uma hora para outra, nem isolados de
tudo. Precisamos entrar em contato diversas vezes com cada realidade, em diferentes
momentos e lugares”. P. 36
- Tanto a nossa inteligência, como nosso modo de ser, possuem suas complexidades, tal
como a realidade que desejamos conhecer.
- Sobre a tolerância: “não se trata apenas de aguentar ou suportar quem defende uma
posição diferente da minha, mas de ficar agradecido pela possibilidade de uma conversa
a dois, no qual porei todo o empenho em descobrir o que o outro possa me oferecer de
valioso”. P. 36
“Brigar não é buscar a verdade, mas lutar pelo próprio enaltecimento. Não é tentar
convencer, mas vencer o outro”. P.37
- A grande tenacidade da questão é escutar uma opinião contrária da sua e mesmo assim
defender seu ponto de vista com um certo rigor. Nas brigas, quando brigamos, não
escutamos o outro e não nos defendemos com tenacidade, mas com uma certa ferocidade.
- A briga abre as portas para o fanatismo, pois na briga não há espaço para o diálogo e é
intrínseco a ambição de dominar.
“Essa distinção entre objetos e âmbitos é decisiva para a compreensão profunda da vida
humana e para a educação na tolerância, pois os âmbitos possibilitam realizar
experiências bidirecionais, dentro os quais se destacam as experiências de encontro”. P.
39
VIRTUDE≠VERTIGEM P. 42
“Essa busca e esse encontro não exigem apenas tolerar, no sentido de aguentar, mas
respeitar, ato que se estende positivamente como estima, como apreço pelo valor
fundamental do outro como pessoa e pelos valores que possa trazer consigo. Essa estima
se traduz em colaboração, oferta de possibilidades em vista de um maior desenvolvimento
da personalidade”. P. 44
-Sobre a liberdade humana e os meios de comunicação: “sua liberdade corre grande risco
em razão do modo estratégico como esses meios são usados”. P. 54
- O poder usa os meios de comunicação para manipular as pessoas com uma certa
facilidade.
“Se fizer algo semelhante com uma pessoa, reduzindo-a a um meio para os meus fins,
passo a tratá-la como objeto, o que supõe degradá-la e aviltá-la”. P. 54
“Ser sádico não equivale a ser cruel, como se costuma pensar. Significa tentar reduzir
uma pessoa a mero objeto mediante à crueldade ou mediante certo tipo de ternura”. P. 55
“Reduzir uma pessoa à condição de objeto para dominá-la é uma prática manipuladora
sádica”. P. 55
“Manipulam-se seres humanos e povos para diminuir sua capacidade criativa e, desse
modo, adquirir domínio sobre eles”. P. 60
“Se as pessoas que integram uma comunidade perdem a capacidade criativa e não se unem
entre si com vínculos firmes e fecundos, deixam de integrar-se como autêntica
comunidade e tornam-se um amontoado amorfo de meros indivíduos. Em outras palavras,
tornam-se massa”. P. 61
“A massa se compõe de seres que agem entre si como se fossem objetos, em situação de
justaposição ou de choque. A comunidade é formada por pessoas que entrelaçam seus
âmbitos de vida para criar novos âmbitos e enriquecer-se mutuamente”. P. 61
- Sem a coesão interna não há o impedimento da produção de consenso pelo exterior, por
exemplo; a utilização dos meios de comunicação pelo poder.
- O ditador é aquele que busca vencer sem convencer. Nas democracias existem os
chamados “espíritos ditatoriais” que, com a ajuda da manipulação, busca vencer sem
convencer.
- Ser criativo exige uma consciência de que somos seres dialógicos, crescemos no diálogo
com o mundo que nos rodeia – em suas diversas nuances e diversos sentidos. Sem esse
diálogo se torna impossível nosso crescimento, o regulamento enquanto ser e da própria
ação enquanto consciência.
“Só consigo perceber o valor de uma pessoa, por exemplo, na medida em que a e com ela
entro num jogo criativo. Se eu tentar reduzi-la a objeto, a um meio para meus fins,
condeno-me a jamais conhecer essa pessoa como pessoa”. P. 62
“A linguagem é um meio para comunicar algo que já se sabe, mas antes disso é meio no
qual os seres humanos criam unidade entre si”. P. 63
“A linguagem dita com ódio destrói-se a si mesma, autodissolve-se. Não há nada tão
grande na vida humana quanto a linguagem, mas, ao mesmo tempo, nada mais assustador,
devido a sua condição bifronte: a linguagem pode construir ou destruir uma vida, pode
ser afetuosa ou cruel, proclamar verdades ou difamar mentiras, pode ser profunda ou
banal, nobre ou grosseira”. P. 63
- Formas de manipular:
6) Reduzir um conceito a uma determinada vertente, que lhe cabe, pois é a vertente que
mais lhe aproxima dos interesses do manipulador.
“Deste modo, evita que as pessoas às quais se dirige tenham elementos de Juízos
suficientes para, por si mesmos, esclarecessem as questões e elaborem uma ideia serena
e ponderada em torno dos temas tratados”. P. 64
“Basta pedir a um demagogo que contextualize e explique melhor um conceito para que
diminua sua capacidade de nos hipnotizar”. P. 65
“Uma das metas do demagogo; aliás, é anular a qualquer preço todos aqueles que possam
descobrir como funcionam suas armadilhas, seus truques de ilusionismo”. P. 71
71 ˅
Crença formada por uma mentira ou meia verdade que é repetida mil vezes pelos meios
de comunicação, tornando-se verdade de fato.
- Na fase da doutrinação o manipulador reveste o seu domínio sobre outras pessoas com
uma aparência de nobreza e racionalidade. Desta maneira transforma o discurso do
manipulador em algo legal, no sentido de legalidade, não somente para as pessoas que já
estão em seu domínio, mas para aqueles que deseja recrutar, levando a terceira fase da
manipulação.
“A pessoa criativa tem recursos para evitar que a reduzam a um ser que simplesmente
repete o que diz o seu senhor. Quem se habitua a pensar com rigor não aceita tão
facilmente o uso estratégico das palavras, a apresentação astuciosa das questões, a
mobilização de procedimentos de fácil domínio”. P. 65
“O demagogo manipulador procura destruir com astúcia, de modo firme e rápido, todo o
trabalho que os educadores realizam no sentido de que as pessoas exercitem a capacidade
de pensar com vigor e vivam de modo criativo”. P. 77
- Diferenças entre uma atitude manipulativa (1) e uma atitude criativa (2):
Linguagem: (1) a linguagem como meio, tão somente, para a comunicação e dominância;
(2) a linguagem como meio para a convivência.
Diversas realidades: (1) confusão das diversas realidades por meio de malabarismo,
reduzindo-os a meros objetos; (2) distinção e hierarquização segundo os próprios valores.
Dilema e contraste: (1) confusão do dilema com o contraste, o dilema passa a ser contraste
e o contraste, dilema; (2) discernir com precisão cada um desses dois conceitos.
Unidade do ser: (1) em vez da busca por essa unidade, a concentração é nos ganhos
imediatos , deixando de analisar valores que podem elevar a pessoa como pessoa, criando
um dependência do manipulador; (2) busca-se com todas as forças ser completo, ou a
mais próximo disso, como pessoa.
Encontro interpessoal: (1) tratar as pessoas como mero meio para alcançar seus objetos,
transformando-as em objetos. “Essa atitude reducionista permite dominar, mas destrói a
base do encontro, que é o respeito ao que são realidades do entorno e ao que estão
chamando a ser. O demagogo finge que dialoga , mas na verdade apenas monologa.
Parece que fomenta a personalidade dos outros quando, de fato, oprime”. P.79 (2) Chave
do desenvolvimento humano. “O diálogo respeitoso é o vínculo desse desenvolvimento”.
P. 79
- Primeira medida contra a manipulação: estar atento. Segunda medida: pensar com rigor.
Terceira medida: viver de forma criativa.
“Nada mais importante para salvaguardar nosso desenvolvimento pessoal do que saber
com precisão como o manipulador atua e de que modo podemos enfrenta-lo”. P. 80
“Precisamos adquirir com urgência uma chave que nos ajude a perceber quando estamos
diante de uma atitude manipulativa e como tal atividade se realiza”. P. 82
- O objeto quando utilizado por um projeto humano eleva sua condição; transformando-
se em “âmbito”, criando possibilidades para o ser humano.
“Toda essa aparência enganosa não impede o aviltamento da pessoa que tenha sido
afetada por tamanha injustiça”. P. 83
“Essa hostilidade do ser humano contra si mesmo provém da tendência redutora e dela se
alimenta. Reforcemos a ideia de que a primeira condição para atacar alguém é reduzi-lo
a mero obstáculo”. P. 86
- Exemplos dessas reduções: redução a um mero objeto sexual, redução a um mero objeto
econômico.
“Aquele que respeita o ser humano naquilo que é e está chamado a ser colabora para criar
um clima de concordância e paz”. P. 86
“Não podemos porém concluir que onde se verifica algum tipo de domínio haja sempre
manipulação. Quem exerce um tipo de autoridade por ser capaz de promover outras
pessoas a posição muito elevadas em qualquer aspecto não está manipulando. Autoridade
vem do verbo latino Augere, ‘promover’. Quem domina alguém sem promove-lo a níveis
superiores de vida é porque o coage. Já aquele que realiza tal promoção aumenta a
liberdade interior dos subordinados”. P. 90
Quem Manipula
“Existem diversas formas de manipulação, mas todas tem um traço em comum: destroem
a criatividade humana, sua capacidade de pensar, sentir e querer por conta própria, com
perfeita liberdade interior. E operam essa destruição de forma astuciosa e dissimulada. É
por isso que devemos insistir em nosso empenho em conhecer com profundidade os
recursos manipulativos que distorcem tudo de maneira velada”. P. 95
- A democracia não garante essa liberdade interior e nem nos protege das manipulações.
- A busca dessa liberdade interior, é a busca da vivência plena, do uso livre da criatividade
e do pensamento. É uma busca “anti-manipulativa”.
“Nas democracias, a liberdade é apresentada como objeto máximo, liberdade num grau
jamais alcançado antes. De fato, recebemos uma ampla liberdade de movimentos, mas a
liberdade interior deve ser conquistada, e com muito esforço”. P. 96
“Quem não se submete aos ditames da opinião pública será excluído do jogo, não receberá
possibilidades de seu entorno, nem votos nas eleições, nem mesmo a estima do povo. Será
muito difícil ter liberdade interior para agir com critérios próprios”. P. 96
- Bom lembrar que a opinião pública pode ser entendida no macro ou no micro. Se você
foge da opinião estabelecida em um grupo, por exemplo, pode ficar estigmatizado ou
mesmo ser excluído do grupo por não compartilhar uma opinião ou um pensamento em
comum.
“A opinião pública é uma realidade envolvente que atua com a impunidade do anonimato
e exerce grande pressão sem, no entanto, ostentar um rosto preciso”. P. 97
- A opinião pública é ambígua e descolorida, desta forma não apresenta um rosto que
possa ser atacado e dificulta muito a defesa de seus ataques. Consequentemente
imobilizando um desenvolvimento interior, uma liberdade de ação. A rédea é curta para
agradar a opinião pública.
“A primeira condição para conservar a liberdade interior diante das agressões dos
manipuladores seja trazer à luz os recursos oportunistas que eles mobilizam”. P 97
“Por não se ajustarem à realidade, as ideologias, conforme vimos, não têm poder de
convicção e persuasão. Só podem ser inoculadas nas pessoas de duas formas: pela
violência, em geral por meio de uma ditadura, ou pela astúcia, e entramos aqui no terreno
da manipulação ideológica”. P. 103
“É por essa razão que as ideologias precisam definir constantemente seus limites e
endurecer suas posições”. P. 104
“Os partidários de uma corrente política tendem a defender a ideologia que assumiram
como se defendessem uma bandeira, um símbolo de honra pessoal, e o fazem de modo
enérgico, unilateral, implacável”. P 104
“Os diversos sistemas de pensamento são caminhos em busca da verdade e não posições
irremediavelmente antagônicas. Nisso se transformam, porém, quando se prendem a
meros interesses tribais”. P. 106
“A comunicação é essencial para o desenvolvimento genuíno do ser humano”. P. 107
“A política deveria ser a arte de configurar a vida social do modo mais adequado possível
à vida humana. Atualmente, no entanto, está se tornando a arte de enganar e seduzir, de
melhorar a própria imagem e desfigurar a dos outros, mantendo as aparências para
conquistar as vontades”. P. 117
“O objetivo desses políticos não é aperfeiçoar a vida das pessoas, mas, ao contrário, é
fazer com que adotemos como ideal de vida a obtenção do próprio bem-estar mediante a
posse e o consumo”. P 117
“Uma ação tem sentido pleno quando contém o valor que lhe compete”. P. 119
“O chefe, superior ou governante que busca o bem comum em diálogo com seus
subordinados não renuncia ao seu dever de ordenar com autoridade, pois a ele cabe a
tarefa de dirigir a sociedade, e toda direção exige que alguém tenha a última palavra. Ele
renuncia, contudo, à possibilidade de manipular, ou seja, fazer dos subordinados simples
meios para determinados fins”. P. 119
- A autoridade pelo diálogo é uma forma de buscar a verdade as claras, onde nada se tem
a esconder.
“Uma ordem emitida após um diálogo autêntico e em virtude da luz ali conquistada jamais
será manipuladora, mas provedora”. P. 120
“O manipulador finge que dialoga para conquistar as vontades, porque sua intenção é
sempre dirigir o diálogo de modo que o desvirtue”. P. 120
“Também nos regimes democráticos aquele que deseja vencer sem convencer costuma
conceber planos e métodos de ensino com os quais não se crie o poder de discernimento,
a sensibilidade para os grandes valores, o entusiasmo criativo, o desejo de realizar tarefas
relevantes”. P. 121
“Ensinar o povo a pensar com rigor é, efetivamente, elevada tarefa, que exige vivência
profunda e que as questões básicas sejam apresentadas com força imaginativa, de modo
que as pessoas igualmente se compenetrem dessas questões e as compreendam por dentro.
Ora, esse trabalho não deve ser realizado com a finalidade de adquirir poder e domínio
sobre o povo, mas de conferir-lhe verdadeira liberdade interior”. P. 123
- Sobre o objetivo da educação: “deve ser impulsão da personalidade de cada ser humano,
que é um fim em si mesmo e não um meio”. P. 123
“Os meios de comunicação precisam adotar um ritmo veloz que não dê trégua a quem os
lê, ouve ou contempla. Esse fluxo de impressões superficiais de todo tipo inunda o espírito
humano, mas não lhe dá fecundidade, pois convida à recepção passiva, que é uma forma
de vertigem”. P. 129
“Toda empresa desempenha um papel na composição sociopolítica de cada momento.
Toda a sua atividade é direcionada por um grupo de estrategistas que perseguem um
objetivo. Ou esse objetivo consiste em difundir um sistema de ideias aberto, flexível,
dialogante com as pessoas, ou, ao contrário, um sistema de ideias petrificado, fechado em
si mesmo, monologante, uma ideologia. No primeiro caso, o meio de comunicação fará
um jogo limpo, defenderá abertamente suas convicções, apresentará motivos razoáveis,
dirigindo-se à inteligência de seus destinatários. No segundo caso, transformará a
informação em propaganda, mobilizará todos os recursos manipuladores para seduzir o
leitor com ideias e orientações que ele não sabe defender com galhardia. Os meios de
comunicação que seguem essa linha têm uma oculta habilidade de persuasão, são
“sedutores secretos”. P. 129/130
“Essa parcialidade – por vezes sectária – dos meios de comunicação mostra-se muito
perigosa, porque um bom número de cidadãos não tem outro contato com a realidade a
não ser por esses meios”. P. 133
-Os meios de comunicação, muitas vezes, não apresenta as pessoas uma realidade, mas
uma interpretação dessa realidade.
“A maioria das pessoas move-se espiritualmente num mundo configurado pelos meios de
comunicação de inclinações partidaristas”. P. 133
“A manipulação ideológica vai até as raízes de nossa conduta, afeta a orientação que
damos a nossa existência, interfere em nossa concepção de mundo e de vida, que é o que
dá sentido ao nosso ser....a manipulação ideológica decide qual deve ser a nossa opção
fundamental, o ideal que orienta e impulsiona nossaa existência. E é desse modo que
nossa vontade e nossa afetividade são totalmente dominadas. A manipulação ideológica
se apropria de nosso espírito”. P. 137
“O intuito de quem manipula pessoas e povos é adquirir domínio sobre eles, aumentando
seu próprio poder: poder político, econômico, cultural”. P. 139
- É mais fácil manipular uma multidão do que uma pessoa só ou um pequeno grupos de
pessoas. Transformando a multidão em uma multidão organizada, uma multidão
psicológica (a chamada massa). Basta ter instrumentos certos para destruir organizações
sociais que possuem um viés mais democrático e de pensamento livre.
“Um grupo social é reduzido a mera massa com relativa facilidade, quando se emprega
contra ele uma forma encoberta de assédio interior”. P. 139
- Por que assédio interior? Assediando pelo exterior provoca-se o efeito de união entre as
pessoas do grupo assediado, tornando o grupo uma unidade, uma estrutura rígida e
consistente, dificultando a entrada daquele (s) que desejam dominar.
“Todo tirano, toda pessoa ou grupo desejoso de poder a qualquer preço percebe com
clareza que é mais eficaz, embora se perca em rapidez, substituir o assédio exterior pelo
interior. Esse último consiste em desvincular as pessoas de tudo aquilo que fomente seu
poder criativo. Uma pessoa criativa funda modos elevados de unidade com outras
pessoas, com instituições, com o povo e a paisagem, com obras culturais, com diversos
valores... Esses modos relevantes de união tecem a trama da vida comunitária, dando-lhe
a firmeza necessária para que se torne impermeável ao ataque que vem de fora”. P. 140
- Para que os seres humanos abram mão de seus próprios valeres, do vibrar-se, encantar-
se com a própria vida; para que se sinta vazio, sem esperanças, e a vida perca todo o
sentido; tudo isso ocorre na medida que o ser humano, ao longo da vida, vai sendo
bombardeado com o que pode ser chamado de experiências de vertigem.
- O que seria essa experiências de vertigem? Elas “inicialmente exaltam, prometem uma
plenitude rápida e comovente, e por dentro vão esvaziando o ser humano. A vertigem
espiritual provoca em nós a sensação de sermos sugados pelo vazio, privados de tudo
aquilo que nos leva à plenitude”. P. 141
“O processo de vertigem deixa o ser humano sem defesas interiores perante as diversas
formas de sedução empregadas pelo manipulador. Por isso, fomentar experiências de
vertigem é a forma radical de manipulação, da qual todas as outras nascem e pela qual se
tornam possíveis e efetivas”. P. 141
- O ser humano não é um ser que intrinsicamente busca um guia, não é um ser
naturalmente gregário – aquele que precisa de um guia. Ao contrário, é um ser que possui
um instinto de sobrevivência e de viver a vida da melhor maneira possível. Diferente dos
animais, para buscar essa vida, usasse da criatividade e da racionalidade para melhor atuar
no seu próprio entorno e no mundo como um todo.
“Se o ser humano se abre espontaneamente às realidades que o rodeiam, reconhece seu
valor e ouve seus convites de colaboração, tende, por lei natural, a associar-se a outras
pessoas, criando comunidades, sociedades. Na medida em que vive de forma comunitária,
percebe que, entrando em jogo com outras realidades, descobre e incrementa o sentido
dessas realidades e de si mesmo, e todos, conjuntamente, fazem surgir realidades novas
de grande valor. Isso o leva a continuar aperfeiçoando a unidade criada e a instaurar
formas novas de união. Desse modo, o ser humano vai ser aperfeiçoando, ao mesmo
tempo que coopera com o aperfeiçoamento daqueles com quem convivi e se relaciona”.
P. 143/144
- Experiência de vertigem: buscar ganhos imediatos, prazeres rápidos, intensos e
puramente individuais. Não age em prol de uma unidade ou de uma comunidade. Nem na
unidade de si mesmo, quando nessa experiência não há incentivo para o diálogo e a
compreensão do seu próprio entorno.
“Em geral, podemos afirmar que toda pessoa ou grupo que ambiciona o poder tenciona
destruir na sociedade as formas de encontro e de unidades mais valiosas. Essa destruição
é uma avalancha poderosa para a conquista avassaladora dos povos”. P. 148
“Na atualidade, as mais assustadoras formas de violência não são as que chamam a
atenção e mostram à luz do dia todo o seu horror, mas aquelas que vão destruindo
paulatina e sub-repticiamente a capacidade criadora do ser humano, deixando-o à mercê
dos poderosos”. P. 150
Como se manipila
1. As atitudes do manipulador
“O operário que age mecanicamente no interior da fábrica sai à rua e se vê imerso num
clima espiritual turbulento, que não o encaminha para o fomento da criatividade, e sim
para diferentes modos de fascínio, que lhe produzirão uma euforia passageira, prendendo-
o mais tarde na solidão depressiva”. P. 152
“Há diversas formas de manipular as pessoas com relação à sua maneira de pensar, querer
e sentir. Todas coincidem, porém, numa série de características básicas que é muito
importante conhecer”. P. 152
- O manipulador primeiramente exalta, faz a pessoa se sentir especial e acolhida, para
então a transformar em um meio em vista de conquistar seus objetivos pessoais.
“O ser humano suporta o rebaixamento, contanto que sua vaidade seja afagada e seu
desejo de bem-estar, atendido”. P. 153
“É curioso como, em muitas propagandas, fala-se ao cliente que ele deve sentir-se dono
de sua própria vida, ser livre, senhor de seus atos, e ao mesmo tempo é impelido a deixar-
se fascinar pelo produto à venda. Fascinar é dominar. Dominar e deixa-se fascinar
parecem atitudes inconciliáveis, mas na realidade trata-se de duas manifestações
diferentes de uma mesma atitude: o egoísmo, que leva a afastar-se para dominar e a
fundir-se para usufruir”. P. 154
“O manipulador tem interesses velados, e por isso sempre atua de modo parcial, no duplo
sentido da expressão, no sentido de incompleto – voltado apenas para um aspecto de uma
questão complexa – e de unilateral – para desviar a nossa atenção de outros aspectos da
realidade que poderiam prejudicar a sua tese”. P. 158
“O demagogo procede com estudada precipitação, a fim de que a multidão não perceba
suas manobras intelectuais e aceite como possíveis as tramoias conceituais mais
inverossímeis”. P. 160
- A manipulação, o tema, não é algo estritamente acadêmico, mas “algo que afeta o
próprio núcleo de nossa existência como pessoas”. P. 168
“Manipuladores podemos ser nós mesmos, quando nos deixamos levar pela tendência a
dominar os outros, recorrendo a artimanhas”. P. 169
“O cultivo das experiências de êxtase prepara o ser humano para conservar a liberdade
interior perante o assédio do manipulador”. P. 171
Como se manipula
- Objetivo dos manipuladores: mudar a mentalidade e o modo de vida das pessoas que
são manipuladas.
- Como o manipulador consegue mudar a mentalidade das pessoas? 1) empobrecendo as
palavras e os conceitos. 2) Difundindo doutrinas a partir dessas palavras e conceitos
empobrecidos e esvaziados. 3) A partir da criação de uma doutrina molda tudo aquilo que
orienta a vida de uma pessoa, molda a sua vontade, molda o seu sentimento.
- O manipulador sempre pretende criar uma imagem de si que fascina as outras pessoas.
“Aquele que domina algo não se encontra com esse algo. A linguagem – ao converter-se
em meio de dominação – deixa de ser lugar vivente de encontro, e perde sua beleza e sua
bondade. Atenta contra a sua essência, tornando-se antilinguagem”. P. 186
Como se manipula
“Dar como certo que mudança equivale a progresso, no sentido positivo desta palavra, é
uma frívola precipitação. Devemos adquirir o hábito de utilizar esses termos de um modo
bem mais cuidadoso”. P. 190
- O manipulador cria esquemas vazios para que possa enevoar os olhos daqueles que vão
escutar. Ou, utilizando esquemas já criados e definidos, faz uma leitura apressada para
que possa também enevoar aquele que o escuta. Como são os casos dos esquemas a partir
das palavras mudanças e progresso.
“O manipulador nunca se dá ao trabalho de demonstrar racionalmente coisa alguma, mas
considera como óbvio aquilo que é do seu interesse”. P. 193
“O manipulador, porém, sempre mistura alhos com bugalhos, operando com conceitos
confusos que ele próprio se encarregou de obscurecer”. P. 195
“Nessa situação de asfixia lúdica, na qual ficamos isolados e sem possibilidade de entrar
em nenhum tipo de jogo criador, o trabalho de manipulação e destruição espiritual não só
será visível e fácil, mas até mesmo bem recebido”. P. 195/196
“O homem manipulado aceita ingenuamente tudo o que ouve e lhe é sugerido, porque o
manipulador não se dirige à sua inteligência nem à sua liberdade: deixa que a linguagem
atue, sorrateiramente, sobre os centros de decisão das pessoas”. P. 196
Como se manipula
- O encontro: a interseção do dentro com o fora. Desta maneira não preciso sair de mim,
esquecer-me, para que eu possa viver o meu entorno. Eu faço parte do entorno e o entorno
faz parte de mim no encontro.
Como se manipula
V. Os procedimentos enganadores
“O demagogo tenta empobrecer nossa vida para dominar-nos com mais facilidade. O
recurso básico que utiliza é procurar nos seduzir com ganhos imediatos, a fim de que
entreguemos euforicamente às diferentes experiências de vertigem. Basta fomentar nossa
tendência a procurar gratificações intensas e fáceis”. P. 233
“As experiências de vertigem, vistas em si mesmas, privam-nos do que nos constitui como
pessoas e destroem nossa personalidade”. P. 233
“As experiências de êxtase nos elevam ao que há de melhor em nós, à plenitude de nossas
possibilidades”. P. 233/234
“Procuremos pensar cada um por conta própria. Se vivemos obcecados pela conquista de
gratificações imediatas, veremos as pessoas que nos rodeiam como fontes de
possibilidades para criar algo valioso? Não. Olharemos para elas como fonte de estímulo
prazerosos, reduzindo-as de categoria. E tal rebaixamento será acompanhado pela
redução do nosso próprio ser pessoal a meros detectores de sensações de prazer”. P. 234
“Para truncar a capacidade criadora do ser humano, o manipulador seduz as pessoas com
torrentes de imagens reduzidas a meras figuras”. P. 247
“A imagem nos conduz e remete a zonas íntimas dos seres expressivos, pois é na imagem
que estas se revelam e vibram”. P. 247
“A figura é a parte sensível da imagem vista de modo estático, sem a vibração que, nela,
imagem, é comunicada pela revelação de uma realidade que possui intimidade”. P. 247
“A figura é um conjunto de traços que formam um todo cheio de sentido, mas que são
tomados em si mesmos, como algo independente. É por isso que a figura pode ser
desenhada artificialmente”. P. 248
“Por ser lugar de expressão, a imagem é eloquente, constitui uma forma de linguagem
humana. Como toda linguagem verdadeira, não comunica somente algo já existente: dá
corpo expressivo aos âmbitos de vida e realidade que vão sendo instaurados ao longo do
tempo”. P. 248
“Por sua própria riqueza, cada imagem pede ao contemplador tempo e atenção, que dê
serenidade ao ritmo do seu olhar, para que possa entrelaçar seu âmbito de vida com o das
realidades que confluem nela, na imagem. Ao contrário, o fluir frenético de figuras obriga
o espectador a deixar-se levar e abandonar-se à vertigem devoradora da torrente de meros
estímulos”. P. 250
“O ser humano aberto à riqueza da realidade tende a tomar a imagem como ponto de
vibração e manifestação de algo que transcende a vertente sensorial dos seres”. P. 253/254
Como se manipula
“Devemos suportar grandes cargas nesta vida, mas dando-lhes sentido, e não
simplesmente suportando-as”. P. 267