Introdução Ao Audiovisual
Introdução Ao Audiovisual
Introdução Ao Audiovisual
audiovisual
Introdução ao audiovisual
Presidente
Rodrigo Galindo
Conselho Acadêmico
Alberto S. Santana
Ana Lucia Jankovic Barduchi
Camila Cardoso Rotella
Cristiane Lisandra Danna
Danielly Nunes Andrade Noé
Emanuel Santana
Grasiele Aparecida Lourenço
Lidiane Cristina Vivaldini Olo
Paulo Heraldo Costa do Valle
Thatiane Cristina dos Santos de Carvalho Ribeiro
Revisão Técnica
Daniela Delgado
Brian Hagemann
Luciara Bruno Garcia
Editoração
Adilson Braga Fontes
André Augusto de Andrade Ramos
Cristiane Lisandra Danna
Diogo Ribeiro Garcia
Emanuel Santana
Erick Silva Griep
Lidiane Cristina Vivaldini Olo
ISBN 978-85-8482-837-1
2017
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/
Sumário
Produtos audiovisuais
Convite ao estudo
Vamos lá?
8 Produtos audiovisuais
U1
Seção 1.1
O produto audiovisual
Diálogo aberto
Como primeiro passo para seguir os caminhos do audiovisual, essa seção traz alguns
pontos elementares sobre a narrativa, característica fundamental de todo o produto
audiovisual, e aspecto que os aproxima e os diferencia entre si. Falando de narrativas
é que entramos na discussão da diferenciação básica entre formatos audiovisuais e
gêneros narrativos, redimensionando a percepção do produto audiovisual.
Por que tratar inicialmente desses tópicos? Porque através da narrativa você
reconhece elementos comuns e distintivos de estrutura, que definem aspectos formais
e modos de realização das obras audiovisuais. Assim, você diferencia os formatos
audiovisuais dos gêneros narrativos, aspectos que como espectadores facilmente
confundimos, organizamos e categorizamos. Além disso, trazendo conceitos de
janelas de exibição e suas articulações com formatos e gêneros, você percebe a
relevância do público para a obra audiovisual sob o ponto de vista do realizador do
audiovisual moderno.
Para que ao final da unidade você, caro aluno, se descubra apto a assumir um papel
com esse olhar mais aguçado, compondo cenários para uma grade de programação,
cabe um problema para reflexão: suponha que você tenha sido contratado por uma
emissora de televisão fechada, que trabalha com produtos de ficção, para cumprir a
função de assistente. O coordenador de programação indicou que a emissora levará
dois programas brasileiros ao ar, a fim de cumprir com a obrigatoriedade de exibição
de produtos nacionais semanalmente. Você tem 1h30min a ser preenchida. Que tipo
de produto você escolheria? A emissora trabalhar com produtos de ficção, muda
alguma coisa para você? Os produtos seriam de janela primária ou secundária? Você
indicaria produtos de um formato e gênero específicos? Para quais horários da grade
e por quê?
Bons estudos!
Produtos audiovisuais 9
U1
A questão que se coloca é que essa gramática do audiovisual torna você apto
a compreender filmes e acompanhar narrativas, no entanto, a fim de que venha a
se aprofundar na prática audiovisual ou nos estudos da área, esse ponto de vista do
espectador deve ser acrescido do ponto de vista daqueles que realizam filmes ou
séries ou esquetes de comédia. Para além de ver os produtos audiovisuais e entender
suas narrativas, você já pensou em como contar as histórias nas telas?
O audiovisual conta histórias e isso é feito através de uma linguagem formal que
articula imagens em movimento e sons dentro da narrativa. “São elementos estilísticos
que se organizam de acordo com as demandas da disposição narrativa da trama,
construídos pelo classicismo” (RAMOS, 2005, p. 20).
1
Conceito extraído de uma fala transcrita de Noam Chomsky abordando aspectos da natureza
humana e os relacionando à sua teoria da linguagem. O diálogo entre Chomsky e Foucault foi realizado
na Holanda, em 1971, falado em inglês e francês. A recente transcrição em língua inglesa foi publicada
em 2006.
10 Produtos audiovisuais
U1
Produtos audiovisuais 11
U1
Pesquise mais
- Para compreender o mecanismo de catarse aristotélica e o arrebatamento
emocional do público:
12 Produtos audiovisuais
U1
Daí vem nosso gosto por um tipo de história ou pela maneira como é contada:
percebemos os produtos audiovisuais por afetividade e credibilidade. Algumas
pessoas preferem filmes na sala de cinema, outras gostam de assistir a programas
variados de televisão. Comumente gostamos de dramas e comédias, ou então de
histórias de terror, ou ainda de uma história real. E quando nos referimos aos nossos
gostos audiovisuais, chamamos quase tudo por uma palavra mágica: gênero. Por
que chamamos de gênero coisas tão distintas como uma comédia romântica e
um seriado? O que é realmente um gênero e o que é chamado de formato?
O formato está ligado, portanto, à forma final do produto. Daí não faz sentido
equiparar uma comédia a uma série, são denominações que indicam categorias
distintas. Temos, então, filmes de diversos formatos: filmes e telefilmes que podem
ser ficções ou documentários e se apresentar como longas-metragens, médias-
metragens curtas-metragens; séries de televisão de ficção: os dramas de uma
hora, os dramas de meia hora, as sitcoms (comédias de situação), os humorísticos
outros, que podem se apresentar como séries (do inglês, serials), seriados (do
inglês, series), folhetins (as famosas telenovelas) e soap operas; e, ainda, uma
miríade Temos, ainda, uma miríade de programas de formatos distintos de não
ficção e jornalísticos.
Produtos audiovisuais 13
U1
No entanto, caro aluno, não considere esses elementos como fórmulas fixas,
são antes princípios de análise e organização formal. Essas definições mudam em
diferentes tradições, diferentes culturas, épocas e até mesmo de região para região
dentro dos países. Aqui você tem um guia, mas não se furte de buscar mais dados
sobre as questões.
Assimile
Lembre-se de que há uma diferença fundamental entre formatos e gêneros
narrativos audiovisuais. As nomenclaturas ajudam a definir melhor o seu
produto audiovisual. O conceito de formato trabalha aspectos formais
de realização, enquanto o conceito de gênero dramático-narrativo se
relaciona aos elementos da história que codificam sensações e emoções.
14 Produtos audiovisuais
U1
Produtos audiovisuais 15
U1
Reflita
O que será que desencadeou esse processo de mudança profunda na
concepção das janelas de exibição? Você já refletiu sobre isso?
Quais são seus apontamentos, leitor, sobre o tema? Você concorda com
esse privilégio das salas de cinema frente a outras plataformas de exibição?
Como você observa esse mercado?
16 Produtos audiovisuais
U1
Podemos observar essa mudança por nós mesmos. Basta notar nossos padrões
de consumo. Os conteúdos on-line, sejam consumidos como vídeo sob demanda
(VoD) ou streaming, já são realidade em nossos hábitos. Desde 2005, o iTunes,
da companhia Apple, oferece distribuição de vídeos (ITUNES, 2016). A Netflix,
originalmente uma empresa de locação e distribuição de DVDs pelos correios,
iniciou seu serviço streaming em 2007, nos Estados Unidos (PAIXÃO, 2016). Hoje,
assistimos a produtos audiovisuais em nossos computadores pessoais, em nossos
aparelhos de telefonia celular e em consoles de videogames. Será que você
acompanhou algum longa-metragem ou série dramática sem ir a uma sala de
cinema ou ligar seu aparelho televisor? Possivelmente sim. Estamos acostumados
a um acesso ubíquo aos conteúdos audiovisuais.
Produtos audiovisuais 17
U1
Exemplificando
Note que ao contratarmos o serviço de difusão de produtos audiovisuais,
comumente encontramos no pacote a possibilidade de conexões
simultâneas em diversos dispositivos. As empresas de conteúdo oferecem
possibilidades de dois, três, cinco ou até mais aparelhos conectados
simultaneamente a seus servidores, a fim de permitir uma experiência de
consumo audiovisual multiusuário.
18 Produtos audiovisuais
U1
Produtos audiovisuais 19
U1
Nesse contexto, fica evidente que a grade de programação, com seu rol de
produtos audiovisuais, responde diretamente ao público esperado ou a pesquisas
de mercado que delimitem parâmetros dos espectadores. Assim, a grade de
programação de uma emissora de televisão tem íntima relação com o público-
alvo dos produtos que ela elenca.
Pesquise mais
Entrevista com a diretora artística e de programação do SBT, Daniela
Beyruti, falando sobre a montagem da grade da emissora:
20 Produtos audiovisuais
U1
Produtos audiovisuais 21
U1
Fez tudo isso? Ótimo, então você já deve ter bem claras algumas possibilidades.
Perceba que é importante ponderar sobre os tipos de produtos audiovisuais que são
exibidos por sua emissora de televisão. Apenas isso já trará algumas linhas a seguir,
especialmente no tocante aos formatos a serem indicados.
Assimile
- Lembre-se de que os formatos audiovisuais estão ligados tanto à forma
final do produto, quanto ao seu modo narrativo, ou seja, seja, eles têm a
ver com duração, serialidade e caráter de ficção ou não ficção.
Avançando na prática
Descrição da situação-problema
22 Produtos audiovisuais
U1
e gêneros narrativos. Seu superior imediato solicitou, então, sua proposta com dois
exemplos de produtos para cada categoria. A única exigência é a manutenção da ordem
dos elementos pedidos. Quais seriam suas indicações? Note que sua empresa trabalha
tanto com filmes, como com telefilmes. Isso faz alguma diferença nas categorias que
tem em mente? Como você pode justificar suais indicações. Lembre-se de que seus
posicionamentos sobre os produtos podem significar uma organização equivocada.
Resolução da situação-problema
Produtos audiovisuais 23
U1
24 Produtos audiovisuais
U1
Produtos audiovisuais 25
U1
26 Produtos audiovisuais
U1
Seção 1.2
Diálogo aberto
Na primeira seção desta unidade, nós passamos por conceitos-chave das narrativas
para esclarecer a importância de o produto audiovisual mover e emocionar o
espectador; também verificamos as bases do que podem ser os diferentes formatos
e gêneros narrativos na intenção de elucidar e organizar o olhar do realizador e sua
clareza frente aos produtos que desenvolve; ainda verificamos as janelas de exibição e
as grades de programação para que ficassem claras as relações diretas com o público.
Para os estudos desta seção, então, você já traz uma base elementar que permite um
olhar mais aguçado para os diferentes formatos audiovisuais.
É certo que você já sabe a diferença entre uma série e um seriado, mas como
isso se manifesta estruturalmente nos produtos? Quais narrativas seriadas podemos
chamar de séries? O que significa uma estrutura processual ou de procedimento em
um seriado? Como os formatos se articulam com os gêneros? A série estadunidense
Arrow pode ser considerada uma narrativa de formato híbrido?
Para responder a essas perguntas esta seção aborda algumas diferenças elementares
entre narrativas de ficção e não ficção, pensando em como essas diferenças
influenciam e definem alguns formatos dos produtos audiovisuais; aprofunda as
definições sobre os diferentes formatos, lançando o olhar para as principais formas
narrativas do audiovisual; e busca alguns caminhos para elucidar os formatos híbridos
e suas manifestações. Os objetivos são o correto reconhecimento e a identificação
dos diversos formatos do audiovisual moderno e suas características.
Produtos audiovisuais 27
U1
Quais aspectos dos formatos e de suas relações com os espectadores devem ser
considerados? Quais seriam suas indicações para a grade de exibição? Os programas
são pensados para janelas de exibição específica? Como isso se relaciona com a
exibição pelo canal? Há relação entre os formatos dos programas a serem exibidos
e seu posicionamento na grade geral da emissora? Quais são os caminhos para se
considerar dias e horários de transmissão dos produtos?
Bons estudos!
Por que ficção? Por que não ficção? Essas duas formas narrativas são percebidas
desde a Antiguidade. São maneiras de se contar uma história que acompanham a
humanidade há muito tempo e com as quais temos contato desde cedo em nossa
vida. Certamente a diferença já lhe é familiar, leitor. É importante notar, no entanto, o
papel central que essa distinção das narrativas ocupa na maneira de contar histórias.
Essas diferenças definem um tipo específico de discurso e até mesmo as formas
estruturais finais de uma narrativa.
28 Produtos audiovisuais
U1
Voltando para definições mais distintivas entre a ficção e a não ficção, podemos
apontar que nos documentários clássicos do russo Dziga Vertov e do estadunidense
Produtos audiovisuais 29
U1
Pesquise mais
Para discutir a percepção da realidade fílmica, para além da suspensão
da descrença, os conceitos de diegese e extradiegese narrativa são base.
Nesses dois breves artigos se esclarecem as noções dos termos e suas
aplicações nos produtos audiovisuais.
30 Produtos audiovisuais
U1
Assimile
Ora, você mesmo pode constatar essas observações: procure rever
seu filme favorito e defina valores para o início e para o fim da história,
compare em seguida. Você pode, ainda, tentar identificar o momento
mais pronunciado de mudança do protagonista. Além disso, fique atento
para a ordem de apresentação das informações. Quando são reveladas as
informações relevantes para a história? O que a personagem principal sabe
ou não sobre os eventos que o filme narra? Quando você, espectador,
recebe a informação fundamental da história? Se você fosse o diretor,
quando revelaria essa informação? Qual é o melhor formato para contar
essa história e por quê?
Grifo do autor.
1
2
Grifo do autor.
3
Grifo do autor.
4
Tradução do autor. Trecho extraído do original em inglês: “Only by delaying the revelation of some
information can the syuzhet arouse anticipation, curiosity, suspense, and surprise”.
Produtos audiovisuais 31
U1
Filmes e telefilmes
Alguns dos formatos mais antigos de produtos audiovisuais podem ser agrupados
sob o nome de filmes. Que, segundo o professor de roteiro Syd Field (2001, p. 2),
pode ser compreendido como “um meio visual que dramatiza um enredo básico; lida
com fotografias, imagens, fragmentos e pedaços de filme […]. É uma história contada
em imagens, diálogos e descrições, localizada no contexto da estrutura dramática
[…] com um início, um meio e um fim” Implicando, assim, a ideia de uma história
contada por imagens e sons que se apresenta com alguma duração e com um final
delimitado claro. Os filmes comumente apresentam organização em três atos, com
uma apresentação, uma confrontação e uma resolução (FIELD, 2001), e podem ser
destinados à exibição primária tanto em salas de cinema, como canais de televisão
ou canais de internet. Segundo a Agência Nacional do Cinema (ANCINE, 2004), são
caracterizados em função de sua duração: a) longas-metragens, quando com duração
superior a 70 minutos; b) médias-metragens, com duração entre 15 e 70 minutos; e c)
curtas-metragens, com duração de até 15 minutos.
Exemplificando
Observe as características de filmes e telefilmes quanto à estrutura em três
atos (apresentação, confrontação e resolução) acompanhando a trajetória
da personagem Dorival, protagonista do curta-metragem “O dia em que
Dorival enfrentou a guarda”, de Jorge Furtado e José Pedro Goulart.
Pesquise mais
- Além dos formatos cinematográficos e televisivos, são canônicos
os formatos comerciais. Normalmente, são inserções nos intervalos
de programação de 15”, 30” ou 01’00”, mas há também as chamadas
assinaturas comerciais e as imagens comerciais, com tempo de exibição
mais curto. O manual da TV Globo de comerciais pode te ajudar a entender
um pouco mais sobre esses formatos.
32 Produtos audiovisuais
U1
Séries e seriados
Ainda sobre narrativas de ficção seriadas, temos dois formatos bastante próximos:
os folhetins (telenovelas) e as soap operas. Este último muito comum na Europa e nos
Estados Unidos, aquele muito comum em países latino-americanos, especialmente
no Brasil e no México. Apesar de aparentados com os formatos de exibição semanal,
os folhetins e soap operas comumente têm exibição diária e suas narrativas, com um
grande número de capítulos ao longo do ano, demandam um esforço de escrita mais
robusto.
Produtos audiovisuais 33
U1
Mais comuns nos Estados Unidos e na Europa, as soap operas também têm exibição
diária e apresentam a mesma característica de consumo de apenas alguns capítulos por
semana. A diferença reside na estrutura narrativa. As soap operas não trabalham com
expectativas de um final. Isso implica preocupação com o público ainda maior do que
se tem nos folhetins. A necessidade de o público acompanhar várias personagens, que
devem ser familiares, por longos períodos e perdendo capítulos, obriga uma atenção
narrativa, que também incide em aspectos espaciais. Muitas vezes importam os locais
das narrativas, acompanhando histórias diversas no passar dos anos. Talvez a mais
famosa soap opera estadunidense seja General hospital, exibida desde 1963. No Brasil,
duas das mais famosas soap operas são Malhação e Chiquititas (SOAP OPERA, 2016).
- Você já assistiu às séries The office (são duas)? Já viu o filme Zelig, de
Woody Allen? Já assistiu a Isto é Spinal Tap ou A bruxa de Blair? Ou quem
sabe assistiu a É tudo verdade, de Orson Welles? Esses produtos são falsos
documentários. Pesquise sobre eles! São estratégias híbridas de narrativa
importantes para entender a construção da representação de realidade.
34 Produtos audiovisuais
U1
Como vimos, as fronteiras entre ficção e não ficção são bastante controversas, mas
existem. “Muitas vezes, o conceito documentário confunde-se com a forma estilística
da narrativa documentária em sua forma clássica, gerando confusão” (RAMOS, 2008, p.
21). Significando que o documentário é comumente tomado por sua estética clássica,
ou seu gênero clássico. No entanto, as revoluções narrativas e estilísticas levaram o
documentário para além desse horizonte dogmático. Mesmo com recursos digitais
manipulados e narrativas dinâmicas e ágeis, o grande parâmetro da não ficção são as
asserções ou proposições sobre o mundo histórico. Novamente: o documentário traz
muito das proposições e enunciados de seus realizadores. Mesmo sem uma narração
propriamente dita, “há sempre uma voz que enuncia, estabelecendo asserções e
relações” (RAMOS, 2008, p. 23). Nesse sentido, apesar de algumas semelhanças de
forma com as narrativas ficcionais, os formatos documentais se preocupam muito
mais com esse diálogo assertivo com o espectador. Isso deixa uma marca na forma
do produto.
Ora, todos os filmes documentais têm uma carga de realidade percebida pelo
olhar da câmera, ou pelas entrevistas e depoimentos, ou ainda pela mediação direta
do realizador. A questão que se coloca, então, é que esses modos narrativos não
se prendem exclusivamente aos formatos fílmicos, mas antes se espalham pelos
produtos não ficcionais como estratégias de construção de um discurso de realidade.
Produtos audiovisuais 35
U1
Reflita
- Estratégias documentais aproximam a narrativa de não ficção do
espectador que consome e absorve esses produtos que se apresentam
como realidade. No entanto, isso é mesmo verificável? Qual é a realidade
mostrada pelo documentário?
One-offs
Nos one-offs, narrativas de início, meio e fim claros e bem definidos, os modos
narrativos documentais são largamente aplicados. Os filmes, claro, são alguns deles,
mas são nos programas de televisão especiais e de exibição única que as estratégias
narrativas documentais apresentam maior influência. A narrativa de não ficção
é mais marcante em formatos televisivos, ora mostrando um show ao vivo, ora se
apresentando como grandes reportagens etc.
Evidentemente, não foram apenas os formatos de final definido e com exibição única
que absorveram as estratégias documentais de narração. Os programas conhecidos
como series factual e os reality shows, com seu caráter serial de exibição, também
trabalham com linguagens tipicamente identificadas pelo público como “reais”, e que
são originárias da tradição documental. As câmeras escondidas que acompanham
realidades construídas e ambientes controlados dos reality shows trazem um aspecto
expositivo direto, quase sem interferência dos realizadores. Nos programas de series
factual, em que equipes de gravação acompanham acontecimentos in loco, os modos
expositivo e interativo se mesclam com um caráter informativo jornalístico, que toma
de assalto a percepção do espectador. No Brasil, os reality shows são muito comuns,
já os programas series factual nem tanto. Isso se deve pela confusão que se faz por
aqui entre os dois formatos. O programa Polícia 24h, por exemplo, apesar de se tratar
claramente de um factual, é constantemente referido como reality show.
Jornalismo
36 Produtos audiovisuais
U1
apropria de construções ficcionais para ir além da não ficção, apontando formatos mais
híbridos. Você já notou as diferenças entre apresentações dos locutores noticiaristas
de telejornais dos anos 1970 e de hoje em dia? As matérias mediadas pelos repórteres
de campo passaram também por algumas transformações. Câmeras inquietas ou
simplesmente expositivas, narradores, comentadores. Os formatos jornalísticos
foram os mais influenciados pelas representações documentais e desenvolveram, ao
longo dos anos, diferentes produtos de diversos formatos. O telejornal é um formato
moldura, que carrega em si segmentos distintos: escalada, matérias, sonoras, notícias
urgentes, hard news. Além do telejornal, temos as grandes reportagens, as entrevistas,
os debates e as mesas redondas.
Pesquise mais
- O artigo da Dra. Egle Spinelli fornece um panorama estendido dos
formatos jornalísticos, trazendo tanto um breve histórico, quanto olhares
sobre a produção corrente na televisão e na internet. Seu ponto de vista
são as abordagens das notícias em relação aos meios.
Por fim, os game shows são disputas e jogos televisionados e mediados que
apresentam conteúdos gravados ou transmissão ao vivo. Passa ou repassa é um bom
exemplo de game show que ocupa a grade do Sistema Brasileiro de Televisão (SBT)
desde o final dos anos 1980.
Produtos audiovisuais 37
U1
percebe essa fusão? Os seriados A grande família e The good wife, por exemplo, são
claramente seriados de procedimento, mas também apresentam uma evolução da
história em curso, de maneira continuada.
A famosa série Twin Peaks, já em 1990 trazia aspectos de folhetins e soap operas.
No Brasil, telenovelas e minisséries de emissoras como a TV Globo e a RBS TV já
trabalham largamente o ponto de vista da crossmidiação, com disseminação em
multiplataformas e considerando aspectos norteadores de circulação, recepção
e consumo dos produtos pelo público (LOPES, 2011). Vale notar que até mesmo
programas jornalísticos se utilizam de mesclas de estratégias narrativas, com códigos
cruzados de ficção e não ficção.
Webséries
38 Produtos audiovisuais
U1
A questão mais interessante das webséries, portanto, está na subversão dos formatos
em estruturas narrativa e e formalmente menos rígidas, tendendo inclusive a atravessar
plataformas ou a desenvolver conteúdos narrativos complementares em várias mídias.
O produto com destinação para a internet traz uma liberdade intimamente ligada ao
padrão de consumo dos espectadores atuais, em sua lógica multitelas e de acesso em
qualquer lugar e a qualquer momento.
Derivados dessa lógica narrativa transmidiática que vem acompanhando muitos dos
games atuais, os alternate reality games (ARGs) e o conceito de realidade aumentada
trabalham a ideia narrativa transmidiática em uma lógica que “mistura realidade com
ficção em ambientes virtuais e físicos, encorajando a interação entre participantes
e personagens, além de incentivar o público a explorar a narrativa” (KUCHEMBUCK,
2009, p. 73). Se em um ARG o espectador é convidado a entrar na narrativa de um
game, de um filme ou de uma série com ações no ambiente físico, na realidade
aumentada são as personagens que ganham o ambiente físico mediadas por uma tela.
Por fim, caro aluno, vale notar os programas jornalísticos que se utilizam de
estratégias ficcionais de melodrama, afim de construir uma aproximação com os
espectadores. As revistas eletrônicas brasileiras Fantástico e Hoje em dia, são os mais
claros exemplos dessa estratégia de hibridismo. Os diversos segmentos dos programas
apresentam uma moldura aproximada daquela utilizada em telejornais, mas suas
Produtos audiovisuais 39
U1
Quais aspectos dos formatos e de suas relações com os espectadores devem ser
considerados? Quais seriam suas indicações para a grade de exibição? Os programas
são pensados para janelas de exibição específica? Como isso se relaciona com a
exibição pelo canal? Há relação entre os formatos dos programas a serem exibidos e
seu posicionamento na grade geral da emissora? Quais caminhos para se considerar
dias e horários de transmissão dos produtos?
Procure pensar sobre cada programa piloto indicado. Se precisar, faça uma lista
com as características dos formatos desses produtos. Considere a janela primária de
exibição desses produtos e como isso se relaciona com os públicos-alvo específicos.
Note que quando pensamos sobre as relações dos produtos, seus formatos e janelas
primárias e como isso se relaciona com os espectadores, temos um desenho claro da
própria emissora de televisão.
Se você seguir esse caminho, já terá uma lista de programas que você indicaria.
A duração desses programas importa para a indicação. Importam os aspectos dos
produtos e sua adequação com a emissora na qual você trabalha, além das temáticas
as temáticas e do público-alvo de cada piloto apresentado. Você percebe em que
medida os formatos definem pontos da grade de programação?
40 Produtos audiovisuais
U1
Avançando na prática
Narrativas documentais
Descrição da situação-problema
Resolução da situação-problema
Produtos audiovisuais 41
U1
42 Produtos audiovisuais
U1
Produtos audiovisuais 43
U1
44 Produtos audiovisuais
U1
Seção 1.3
Gêneros dramático-narrativos
Diálogo aberto
Esta seção investiga aspectos das questões e traz algumas observações sobre
a questão dos gêneros no audiovisual, trabalhando também a ideia de cânone.
Auxiliando no estudo, propõem-se reflexões sobre os gêneros predominantes dos
produtos audiovisuais. Imagine-se como assistente de programação em uma emissora
de televisão fechada. O programador solicitou um relatório indicando dois cenários
com três novos programas cada, para cobrir um espaço de 1h30min na programação
semanal. Lembrando que sua emissora é especializada em séries, seriados e filmes de
ficção, quais programas você apresentaria nessa situação, baseado na ideia de gênero
narrativo? Quais são as relações dos diferentes gêneros principais com a linha da
emissora? E as relações com o público? Qual é o público-alvo de cada programa? O
que os gêneros e suas convenções dizem sobre esses pontos? Por que você apontaria
Produtos audiovisuais 45
U1
Bons estudos!
Se por um lado temos que os gêneros dramáticos modernos advêm dos modelos
do audiovisual hegemônico, especialmente do estadunidense, como observam os
professores Steve Neale (2000); por outro, não é possível negar que outros países
trabalhem com suas próprias referências culturais e convencionais. São os casos de
Bollywood, na Índia; ou as produções de artes marciais no Japão e na China, por
exemplo (NOGUEIRA, 2010). E o que dizer sobre o Brasil, com o melodrama de seus
folhetins ou com as chanchadas ou com os favela movies? Então, o problema está em
como definir algo tão diverso.
Em Aristóteles essa já era uma questão. E foi uma questão para escritores como
Goethe; filósofos como Friedrich Schiller; ou para teóricos como Georges Polti,
Vladmir Propp, Roland Barthes, Robert McKee e Luís Nogueira, entre outros tantos
autores que trabalharam as questões narrativas. O que se percebe claramente
sobre os gêneros é que eles apresentam convenções verificáveis: cargas de valores
convencionais, ambientações convencionais, papéis convencionais. A historiadora
estadunidense Janet Stainer elenca quatro maneiras de se definir o gênero do produto
audiovisual: 1) o método idealista, no qual se julgam padrões pré-determinados; 2) o
método empírico, que identifica o gênero comparando-o a uma lista de obras de um
gênero já determinado; 3) o método a priori, que usa elementos genéricos comuns
identificados com antecedência; e 4) o método de convenções sociais, que identifica
o gênero baseado no consenso cultural (STAINER, s.d., apud WIKIPEDIA, 2016).
46 Produtos audiovisuais
U1
Pesquise mais
O livro básico para uma compreensão mais profunda acerca dos gêneros
dramático-narrativos é o manual de cinema de Luís Nogueira. Com ele
você terá uma leitura aprofundada sobre os gêneros clássicos.
Essas diversas articulações nos levam a uma subdivisão entre os gêneros e seus
subgêneros. Além disso, nos ajudam a pensar sobre settings, que são os cenários, o
meio ou o ambiente em que a história e a ação narrada ocorrem. Ora, os settings,
apesar de relacionados aos elementos convencionais citados e de serem também
um elemento convencional das obras audiovisuais, respondem menos às questões
dramático-narrativas e mais aos aspectos de ambientação das histórias. Evidentemente
que um ambiente traz pontos característicos às narrativas, mas são as emoções,
temas, arcos de história e personagens que, no fim, definem os gêneros. Faroestes
e ficções científicas podem se aproximar mais do drama, da comédia ou do horror,
dependendo de suas histórias.
O que deve ficar claro, portanto, é que os gêneros dramáticos articulam convenções
Produtos audiovisuais 47
U1
O drama e a tragédia
A ideia do que vem a ser um drama evoluiu ao longo do tempo. Antes, um drama
era entendido como toda ação ou acontecimento narrado com força emocional
e que podia ser representado. O drama era entendido não como um gênero, mas
como a própria ação em cena e a tragédia era o gênero em si. Modernamente,
porém o drama ganhou contornos genéricos e um esforço narrativo em passar
a seriedade e a intensidade dos fatos ou acontecimentos narrados (NOGUEIRA,
2010), enquanto a tragédia manteve seus contornos clássicos de queda do herói.
O objeto do drama “são as personagens humanas comuns, normais, em situações
cotidianas mais ou menos complexas, mas sempre com grandes implicações
afetivas ou causadoras de inescapável polêmica social” (NOGUEIRA, 2010, p. 23).
Diferencia-se da tragédia por esta última tratar de personagens, em certa medida,
grandiosas e heroicas.
48 Produtos audiovisuais
U1
A comédia
A comédia, tão antiga quanto a tragédia e o drama, foi descrita por Aristóteles
(ARISTÓTELES; HORÁCIO; LONGINO, 2005) como a arte de imitação das pessoas
“inferiores”, no sentido de ressaltar as fragilidades de defeitos do ser humano.
Ela busca suscitar o riso expondo ao ridículo “o vício, a negligência, a pompa, a
presunção ou a insensatez” (NOGUEIRA, 2010, p. 20). Desde a Idade Média, arrasta
um histórico de depreciação exatamente por expor ao ridículo o ser humano.
Nesse sentido, esteve ligada às manifestações ditas rasteiras e chulas, como as
comédias de rua ou o teatro de Vaudeville, “desenvolvendo a clássica piada de
preparação-remate, humor pastelão, e diálogos ágeis e espirituosos” (SEDITA,
2012, p. 16) . Sobre a comédia, Woody Allen (apud TIRARD, 2006, p. 86-87) ainda
acrescenta:
O fantástico e a aventura
Produtos audiovisuais 49
U1
Reflita
Vamos parar um pouco e levantar algumas questões. O que se pode dizer
sobre a ficção científica? Não seria também fantasia? Não seria um gênero
em si? Aqui, vale a reflexão sobre os limites dos gêneros. É importante
considerar a diferença entre gênero e setting. O setting diz respeito à
ambientação, seja ela física ou mesmo narrativa, como no caso da ficção
científica. Porém, até que ponto é possível considerar essas divisas?
O horror e o suspense
50 Produtos audiovisuais
U1
Exemplificando
Você mesmo pode notar diferença entre os produtos audiovisuais em
geral e os produtos de animação. Nos produtos comuns, a ação em
frente às câmeras é capturada continuamente, com movimentos sem
interrupções. Os atores contracenam e interagem sem precisar parar para
serem fotografados e então se mover ligeiramente para nova fotografia.
Na animação é isso que ocorre. As imagens são capturadas fixas ou com
leve movimento (como na técnica de go-motion) e depois passadas
continuamente para criar a ilusão de movimento. Mesmo em animações
digitais realizadas com a técnica de desbaste de superfície, que possibilitou
os longas Cassiopeia e Toy Story, a captura é frame by frame.
Produtos audiovisuais 51
U1
O infantil e juvenil, por sua vez, trazem uma clara ligação com o público-
alvo, notadamente infantil ou juvenil. Novamente, há uma miríade de gêneros e
subgêneros que podem ser trabalhados, mas há a preocupação de adequação de
linguagem a públicos específicos de espectadores. No entanto, a adequação de
linguagem resulta desprestígio do gênero infantil e, de modo geral, da produção
chamada “de gênero”, em relação ao audiovisual adulto de drama devido a uma
visão arbitrária de cânone.
A produção experimental tem por caráter alguma reflexão sobre a arte do fazer
audiovisual. Nogueira (2010) considera que o gênero experimental tenha uma
ligação mais nítida com a arte em seu sentido mais nobre. Reforça a percepção
de uma produção mais iminentemente conceitual. Ainda assim, como pontua o
professor McKee (2006, p. 92), “a noção de vanguarda sobre escrever fora dos
gêneros é ingênua. Ninguém escreve no vácuo. Nenhuma história é tão diferente
a ponto de não ter nenhuma similaridade com tudo o que já foi escrito”. Isto
posto, o experimental pode ser considerado um supragênero, com os padrões
convencionais de: ou trabalhar uma trama esgarçada e minimalista; ou apostar
na antitrama e antiestrutura; ou em uma multitrama; ou até na experimentação
puramente gráfica. Há uma premissa de quebra de gêneros e subversão da
linguagem que, no entanto, funciona como um conjunto convencional.
52 Produtos audiovisuais
U1
Lembra-se dos filmes De volta para o futuro: parte III e Cowboys & aliens
citados à abertura desta unidade? Pois bem, são dois exemplos de produtos
que trabalham com settings bem claros. Ambos são faroestes ou westerns. São
produtos locados no velho-oeste estadunidense, com elementos de espírito das
personagens em relação à locação e ainda elementos de costumes e figurinos.
Podem ser caracterizados como de outros gêneros? Claro! São aventuras com os
elementos convencionais do gênero, mas também com elementos de comédia.
E além de tudo apresentam convenções de outro setting: a ficção científica. São
produtos híbridos por excelência.
Produtos audiovisuais 53
U1
Existem outros possíveis settings, mas a questão das divisas entre essas
molduras de histórias e os gêneros é controversa. É você que deve observar
como essa complexidade se manifesta nos produtos audiovisuais modernos.
Os gêneros e settings trarão uma visão clara de elementos convencionais dos
produtos. Elementos que se conectam diretamente com o público espectador,
que são reconhecíveis em alguma medida. “Shakespeare não chamou sua peça de
‘Hamlet’, chamou-a de ‘A tragédia de Hamlet, príncipe da Dinamarca’. Ele deu às
comédias títulos como ‘Muito barulho por nada” e ‘A comédia dos erros’, de modo
que […] seu público estava psicologicamente preparado para chorar ou rir” (MCKEE,
2006, p. 96).
Assimile
Lembre-se de que os settings funcionam como molduras para a história,
trazendo elementos convencionais de ambientação que indicam aspectos
da história para o público espectador. Não confunda, no entanto, com
a ambientação que dispara a narrativa de um seriado. A ambientação
de um seriado de procedimento põe em curso a narrativa episódica. A
ambientação no conceito de setting é um elemento convencional do
produto audiovisual. São configurações molduras, dentro das quais a
narrativa se desenrola delimitada por esses elementos convencionais
reconhecíveis. Tome, como exemplo, o seriado médico Grey’s anatomy.
Sua estrutura básica de formato é procedural, com casos médicos sendo
resolvidos a cada episódio. O “ambiente” da doença define os rumos das
tramas do episódio. O ambiente de setting, por sua vez, é o hospital com
suas problematizações.
54 Produtos audiovisuais
U1
Produtos audiovisuais 55
U1
e aventuras são os mesmos? Essas definições devem oferecer a você também alguns
padrões de horários de exibição.
Por último, pense nas tramas, nos enredos. Séries e seriados funcionam de
maneira distinta com relação à história. Um formato foca mais no desenvolvimento
das personagens, outro procura desenvolver as tramas do episódio. Considere se há
ligações entre formatos e gêneros. Pense nas tramas e como os gêneros específicos
trabalhariam esses enredos.
Vamos lá?
Atenção
Tenha muita atenção e cuidado com a questão dos cânones. Note que
produtos audiovisuais de drama ou tragédia gozam de maior prestígio
em relação a produtos de comédia. É importante perceber que isso não
significa maior ou menor índice de audiência. Comédias ocupam grandes
faixas de horários, com programas exibidos no início do horário nobre, por
exemplo, além de apresentarem bons índices de espectadores. Pesquise
sobre a questão.
Avançando na prática
Descrição da situação-problema
56 Produtos audiovisuais
U1
Resolução da situação-problema
Uma das chaves de solução dessa situação posta é a identificação da emissora para
qual está sendo sugerido o produto. Observe, aluno, que a emissora Warner Bros. TV
tem uma linha de produtos específica que visa públicos-alvo específicos. Um caminho
possível para buscar um bom projeto para essa emissora é entender sua característica.
Que gênero narrativo se adéqua melhor à grade da emissora? Falta algum gênero ou
setting que pode ser explorado seguindo as características do canal?
Mãos à obra!
Produtos audiovisuais 57
U1
“Alguns diretores fazem seus filmes para o público. Outros, como Hitchcock,
o fazem ao mesmo tempo para o público e para si. Hitchcock tinha um
conhecimento perfeito do público, sabia como seduzi-lo, sabia como
manipulá-lo. É claro que se poderá dizer que Hitchcock só fazia filmes de
suspense. Mas, havia por trás disso tudo uma filosofia e uma psicologia que
o que ele fazia era disfarçar filmes pessoais em filmes de suspense" (TIRARD,
2006)
58 Produtos audiovisuais
U1
Produtos audiovisuais 59
U1
60 Produtos audiovisuais
U1
Referências
Produtos audiovisuais 61
U1
62 Produtos audiovisuais
U1
Produtos audiovisuais 63
U1
64 Produtos audiovisuais
Unidade 2
Linguagem e história do
audiovisual
Convite ao estudo
Preparado?
Seção 2.1
Linguagem audiovisual
Diálogo aberto
Vamos lá!
Enquadramentos de ambientação
Plano aberto (do inglês, wide shot ou extreme long shot) – o plano aberto abrange
toda a cena e por isso se caracteriza por referenciar o ambiente ou o tema da cena.
Pode ser desde um quadro em escala geográfica, com uma visão ampla de paisagem,
até a tomada geral de um prédio ou mesmo um único cômodo.
Enquadramentos de personagem
Plano geral (do inglês, full shot) – o plano geral apresenta a personagem inteira
na tela. A relevância muda. Não há necessidade de estabelecer relações entre
ambientação e personagem. O foco é a personagem em si. É o mais aberto entre os
quadros que enfatizam a ação e a expressão das personagens.
Plano médio (do inglês, medium shot) – o plano médio apresenta a personagem
enquadrada desde a linha da cintura. Comumente é interpretado como um quadro
neutro de apresentação da personagem.
Plano de médio conjunto (do inglês, two shot ou three shot) – é o quadro que
inclui mais de uma personagem em plano médio ou aproximado. Diferentemente
do plano de conjunto, seu interesse está nas personagens e não na relação com a
ambientação.
Pesquise mais
- Para além dos limites espaciais do plano, os enquadramentos também
podem apresentar variações de ângulo e de posicionamento em relação
à personagem ou ao objeto de cena. Temos, por exemplo, o plongée e
o contra plongée, que são quadros relativos ao ângulo da câmera, em
“mergulho” (ângulo alto) ou “contra mergulho” (ângulo baixo).
Uma imagem sobre os ombros de uma personagem mostra o diálogo com outra
personagem em segundo plano. São as reações da personagem em segundo plano
que observamos. É um direcionamento do olhar. Em Uma história real, o diretor
estadunidense, David Lynch, faz isso com o som, jogando com as distâncias das
personagens em relação à câmera. Quentin Tarantino trabalha o segundo plano em
Os oito odiados, com ações no fundo da imagem tão relevantes quanto as de primeiro
plano. Segundo o fotógrafo Blain Brown (2012, p. 54), essa composição é elemento-
chave, pois nas telas “projetamos o espaço tridimensional no espaço bidimensional e,
exceto quando queremos obter um nivelamento, o objetivo é recriar a profundidade
da cena […] criando primeiro plano, plano intermediário e segundo plano”.
Para além dos planos, temos as transições, que são os cortes que darão sentido
às imagens justapostas dos planos em relação uns com os outros. Segundo Mamet
(2002, p. 22), “Um plano de uma xícara de chá. Um plano de uma colher. Um plano de
um garfo. Um plano de uma porta. Deixem que o corte conte a história”! O audiovisual
desenvolveu sua sintaxe entre planos e transições. Os cortes contam a história, e
as transições organizam os planos para montar as cenas e as sequências. São três
transições básicas: a) o corte seco; b) o fade; e c) a fusão. O corte seco marca a
passagem instantânea de um plano para outro; o fade marca um esmaecimento da
imagem para a tela preta ou para a tela branca; e a fusão marca uma mescla breve
entre planos. São elementos que foram lapidados no curso da história. Os quadros,
com os movimentos, e com a consideração de cortes e transições, compõem a
linguagem audiovisual.
Assimile
- Lembre-se de que o plano é um elemento que implica um quadro
revelando algo ao espectador em um período de tempo: entre o
disparo de início da tomada e seu final, no corte. Primeiro a tomada de
uma mão remexendo o café na xícara com uma colher, em seguida
uma pessoa bebendo o café. São dois planos distintos, enquadrados de
maneiras diferentes, delimitando o que o público vê e construídos num
espaço de tempo. Percebe a diferença entre plano, nomenclaturas dos
enquadramentos e os conceitos de primeiro plano, plano intermediário e
segundo plano? Procure observar produtos audiovisuais distintos a fim de
identificar esses elementos!
Ora, a câmera traz um ponto de vista para o plano, um ponto de onde parte o olhar
do espectador (JULLIER; MARIE, 2009). Isto é, a câmera é posta em cena a fim de
construir um plano articulando elementos de quadro, movimentos, foco e perspectiva
para que este se encaixe com outros planos, compondo a cena e emanando sentido.
Agora, aluno, você já assistiu a algum filme ou programa televisivo com planos
longos, narrando diversos acontecimentos? Já assistiu a Desejo e reparação? Ou
quem sabe viu Old boy? Esses são exemplos de produtos que não apenas montam
os planos em cenas e sequências, mas aplicam uma técnica narrativa chamada de
plano-sequência. Nos planos-sequência não ocorrem cortes ou transições, a câmera
acompanha as diferentes ações sem interrupções, com a ação variando entre o
primeiro e segundo plano da imagem. Hitchcock rodou seu Festim diabólico em
plano-sequência, assim também o fez Aleksandr Sokurov no recente Arca russa.
Exemplificando
- Você mesmo pode observar a diferença entre as formas de construção
das sequências. Enquanto nas sequências de uso corrente, o corte seco
e as transições com fades e fusões definem a passagem de um plano a
outro e narram a história; nos planos-sequência é a câmera que se move
através do espaço físico, registrando as ações nos planos da imagem.
- No vídeo, você encontra, além disso, outra explicação para esse tipo de
construção da sequência: O que é plano-sequência? Direção: Lully de
Verdade. Curitiba: Lully de Verdade – cinema e cultura. 2016. 4'53''. son.
color. vídeo digital. Disponível em: <https://youtu.be/QznAVuhwY0I>.
Acesso em: 20 out. 2016.
Reflita
- Você percebe a importância de se pensar a construção dos planos e
sequências em relação à narrativa que se pretende? Consegue perceber
isso nos programas que vê? Procure analisar as cenas e sequências de
diferentes produtos audiovisuais e verifique as questões de continuidade.
Trata-se de um problema de fato ou apenas de uma regra que pode ser
quebrada?
1
Traduzido e adaptado pelo autor.
que interfere com a narrativa e com a ilusão dramática (MAMER, 2009). Observada a
“correta” continuidade, a história segue em frente, “sem dar pulos incômodos ou que
desorientam a narrativa” (GERBASE, s.d., s.p.).
Pesquise mais
- Sobre continuidade e noções básicas de linguagem e estrutura do
audiovisual, o livro on-line de Carlos Gerbase é bastante acessível e
esclarecedor.
É válido trazer exemplos que você julgar interessantes para fundamentar seus
apontamentos. Uma breve pesquisa também pode ajudar, verificando a pontuação da
linguagem audiovisual. O procedimento de exemplificação pode trazer robustez para
suas justificativas sobre o que você aponta como quebra ou transgressão da gramática
do audiovisual.
Atenção!
Avançando na prática
Nesta situação, quais seriam suas escolhas de enquadramentos? Por qual plano
você iniciaria a gravação? Qual seria o posicionamento das câmeras? Como você
trabalharia os cortes? Utilizaria alguma outra transição além do corte seco?
Vamos começar?
Resolução da situação-problema
Bons estudos!
Seção 2.2
Diálogo aberto
Diálogo aberto
O pai do cinema talvez tenha sido o inventor francês Louis Le Prince que, em 1888,
rodou duas cenas curtas com uma câmera e um filme sensível de papel fotográfico
(PRINCE, 2016). O primeiro filme, chamado de Roundhay garden scene, tem duração
de apenas 2,11 segundos (ROUNDHAY GARDEN SCENE, 2016). Outros inventores
de destaque foram o cronofotógrafo inglês William Friese-Greene, dono da primeira
patente de uma câmera capaz de rodar um filme de celuloide (FRIESE-GREENE,
2016); e os irmãos alemães Max e Emil Skladanowsky, que realizaram a primeira
exibição pública de um filme, dois meses antes dos irmãos Lumière. O período, no
entanto, acabou por destacar os irmãos franceses Auguste e Louis Lumière, além de
o empresário e inventor estadunidense Thomas Edison. Como esclarece Mascarello
(2009), os melhores aparatos tecnológicos dos Lumière e de Edison, além de suas
habilidades em negócios, caracterizaram essa dominância.
Pesquise mais
- Georges Mélies foi um dos grandes realizadores do cinema de novidades,
competindo com os irmãos Lumière e Thomas Edison. Compare alguns
filmes a fim de visualizar as diferenças entre os curtas-metragens da
época. Viagem à Lua, de Georges Mélies: LE VOYAGE dans la Lune
(1902). Direção: George Mélies. Los Angeles: Lobster Films. 2011. 15’36’’.
son. color. vídeo digital. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=s5x_M_vcNVY>. Acesso em: 12 nov. 2016.
“Em 1907, a maioria dos filmes já procurava contar histórias” (MASCARELLO, 2009,
p. 41). Os filmes eram mais longos e já se observava a intenção dramática. O grande
salto narrativo e de linguagem, porém, ocorreria nos filmes do cineasta estadunidense
David Wark Griffith que rejeitou a lógica de um plano único e padrão e desenvolveu
uma série de planos que permitiram aproximação e distanciamento das personagens
em cena. Percebeu a intensidade dramática e emocional da alternância entre os planos,
utilizando uma montagem analítica ao fracionar a cena. Trabalhou uma montagem
paralela, técnica de alternância entre situações narradas em simultâneo, percebendo
um “método narrativo poderoso para criar cenas de suspense” (MASCARELLO, 2009,
p. 43). Utilizou planos subjetivos, com pontos de vista das personagens; e planos de
motivação, com interrupção das ações em cena. Com eles explicitou os motivos
das ações, caracterizando a emergência do narrador fílmico. Griffith manipulava
as narrativas com o direcionamento do olhar do espectador. Mais tarde, o cinema
clássico tornou esse narrador invisível.
Reflita
- Se Griffith foi responsável por uma montagem explícita e, de certa
maneira, exagerada na construção narrativa, como pode ser considerado
o criador da linguagem clássica? Em que sentido a tendência para um
cinema de transparência da linguagem está presente em Griffith?
O crítico Filipe Furtado (s.d.) aponta para a ausência de retórica nas produções,
esvaziadas de obrigações sobre as conclusões que o espectador pode retirar dali.
Griffith pode ser compreendido como o criador de uma linguagem que somente
seria preenchida de discurso e de articulação com o desenvolvimento da montagem
dialética, pelo russo Sergei Eisenstein. D. W. Griffith foi um realizador de um cinema
industrial ainda nascente nos Estados Unidos; inovador, mas ainda sem as sutilezas de
discurso.
Assimile
– Perceba que a chamada Hollywood clássica, das décadas de 1930, 1940
e meados de 1950 já se construía nos anos 1920. Os estúdios foram para
Los Angeles buscando a realização de filmes como espetáculos mais
ajustados ao público.
Se o studio system floresceu com o cinema mudo; a revolução sonora que tomou
de assalto as produções após o sucesso comercial de O cantor de jazz, longa da
Warner Bros., dirigido por Alan Crosland, em 1927, consolidou o sistema. Apesar de
a ideia de imagens e sons sincronizados ter acompanhado o cinema desde o início,
com filmes de curtas-metragens sonoros já nos anos 1900; a tecnologia para garantir
a sincronização em filmes de longa duração somente foi dominada em fins da década
de 1920. Os pesquisadores Cook e Sklar (2016), sobre a questão, afirmam que, entre
os sistemas de sincronização, foram os vitafones, e posteriormente os sistemas de
som óptico (Figura 2.2), com áudio na própria película de filme, que dominaram o
mercado. A arte muda cedeu espaço ao cinema de intensificação do drama, com
diálogos contando histórias.
Figura 2.2 | Dois sistemas de som óptico registrado no filme: densidade variável e área
variável
Nos anos 1920, o rádio estava estabelecido, mas se buscava a difusão de imagens
por ondas eletromagnéticas, tecnologia alcançada em 1923, pelo engenheiro
eletrônico russo Vladmir Kosma Zworykin, que patenteou o iconoscópio (Figura
2.3), capaz de transmitir imagens a distância utilizando um tubo de raios catódicos.
Ainda assim, foi apenas quatro anos mais tarde que o estadunidense Philo Taylor
Farnsworth desenvolveu um aparelho transmissor de imagens estáveis (TUDO SOBRE
TV, 2010). Ocorre que, interessada no iconoscópio, a Radio Corporation of America
(RCA), empresa de telecomunicações estadunidense, contratou Zworykin a fim de
desenvolver televisores de tubo. A primeira transmissão oficial ocorreu na Alemanha,
em 1935; e a National Broadcast Corporation (NBC) iniciou suas transmissões regulares
em 1939.
Pesquise mais
- Vale pesquisar o cinema de ciclos regionais brasileiro. Em São Paulo
destacaram-se os cineastas Antônio Campos e Vittorio Capellaro; no
Rio de Janeiro, Luís de Barros e Mário Peixoto; Edison Chagaz e Gentil
Roiz, em Recife; Humberto Mauro, em Cataguases; Paulo Benedetti, em
Barbacena; além de Francisco Santos, em Pelotas.
No Brasil, o primeiro grande estúdio foi a Cinédia S. A., fundada em 1930, no Rio
de Janeiro, pelo jornalista Adhemar Gonzaga. Sua importância se explica pela visão da
Cinédia como um “estúdio autóctone, que juntava o teatro de revista, o rádio, o circo
e o carnaval, em grandes produções cinematográficas” (CCBB, 2006, p. 3). Gonzaga
pensou um cinema realizado num centro produtor qualificado, focado em longas-
metragens de ficção e produzidos de forma contínua, mas a industrialização efetiva
não veio. O fechamento se deu em 1952, deixando 55 longas-metragens e mais de
700 produções curtas (CCBB, 2006). Do primeiro longa, Lábios sem beijos, dirigido
por Humberto Mauro; passando por filmes como Ganga bruta, também de Mauro;
Alô, alô, carnaval, de Adhemar Gonzaga; Anjo do lodo, de Luís de Barros; Bonequinha
de seda, de Oduvaldo Vianna; Somos dois, com roteiro de Nelson Rodrigues; até o
seu maior sucesso, O ébrio, de Gilda Abreu; a Cinédia levou às telas atores e atrizes
como Carmen Miranda, Oscarito, Grande Otelo, Dercy Gonçalves, Carmen Santos e
Ary Barroso.
Em São Paulo, o grande estúdio foi a Companhia Cinematográfica Vera Cruz. Tinha
instalações de mais de 100.000m2 e foi o maior estúdio brasileiro (Figura 2.4). Foi
fundada em 1949, pelo produtor Franco Zampari, responsável pelo Teatro Brasileiro
de Comédia (TBC); pelo industrial Francisco Matarazzo Sobrinho; e pelo cineasta
Alberto Cavalcanti, de carreira internacional reconhecida. Continuou rodando filmes
até meados dos anos 1970 e hoje funciona apenas como distribuidora (MARTINELLI et
al., 2002). Originalmente, a distribuição nas mãos da Universal e depois da Columbia
Pictures significou acordos custosos. Os filmes apresentaram qualidade técnica,
estética e narrativa. A Vera Cruz produziu filmes de cangaço, caipiras, dramas diversos,
policiais e comédias. Seus astros incluíram Paulo Autran, Renato Consorte, Tônia
Carrero, Anselmo Duarte, Ruth de Souza, Cleyde Yaconis, Eliane Lage, além de Amácio
Mazzaropi. Entre os mais de 40 longas-metragens destacam-se Caiçara e Tico-tico no
fubá, de Adolfo Celi; Terra é sempre terra, Sai da frente e Nadando em dinheiro, de
Abílio Pereira de Almeida; Uma pulga na balança e Floradas na serra, de Luciano Salce;
Sinhá moça, de Tom Payne e O cangaceiro, de Lima Barreto, vencedor dos prêmios
de melhor filme de aventura e melhor trilha sonora no Festival Internacional de Cannes
de 1953.
Exemplificando
- Tome, como exemplo, a atuação da estadunidense Netflix. Antes uma
empresa de home video, hoje com atividades diversas. Trata-se de uma
produtora com estúdios, que desenvolve produtos de cinema e televisão
interconectados e ainda opera na internet com sistema de streaming.
Quais são os limites entre seus produtos? Quais os limites de sua atuação?
Quais suas janelas? Tudo isso parece uma imagem borrada e pouco clara.
Não há divisas estabelecidas.
A subversão dos modelos clássicos parece ser a tônica desse momento midiático
que articula cinema, televisão, conteúdos para a web, jogos eletrônicos e interatividade
de realidade. Muitas vezes, os jogos complementam os filmes, peças de teatro
oferecem outro tipo de apreciação do universo narrativo, livros amarram todas as
histórias e os spin offs (narrativas derivadas) garantem a continuidade dos produtos.
O audiovisual é, hoje, ubíquo à vida moderna e foi o desenvolvimento de sua história
que nos trouxe de um cinema rudimentar, passando por um período de conflito com
a nascente televisão, por uma época de convivência, até o ponto de convergência.
Atenção!
Avançando na prática
tela como fundamentais para seus períodos? Você teria alguma vinheta representando
a época do cinema mudo? Como isso pode ser marcado na imagem? E em relação
ao período da televisão ao vivo?
Resolução da situação-problema
Inicie com uma separação de seis ou sete períodos históricos do audiovisual. Defina
todos eles com poucas linhas. Indique aspectos de linguagem: enquadramentos,
planos fixos ou móveis, cor, som etc. Partindo de uma amostra mais ampla, você terá
condições de escolher períodos relevantes. Nesse momento, será capaz de responder
a si mesmo quais momentos entende serem interessantes para uma homenagem.
Seção 2.3
Diálogo aberto
Olá aluno!
Quem foram, então, os realizadores dessas obras específicas? Quais foram seus
objetivos? Por que chamar uma “escola” de audiovisual? A fim de responder aos
questionamentos, esta seção passa por alguns movimentos do audiovisual, mais
precisamente pelo Expressionismo alemão do início do século XX; pelas revoluções
do cinema não estadunidense dos anos 1960 e 1970; pela reestruturação em uma
nova Hollywood nos anos 1970; e pela nova narrativa televisiva desde os anos 1990.
O Expressionismo alemão indicou “novas relações entre filmes e artes gráficas, ator
e representação, imagem e narrativa” (ROBINSON apud MASCARELLO, 2009, p. 55).
Se nos Estados Unidos, o cinema clássico trazia representação realista; na Alemanha
pós-Primeira Guerra, o audiovisual ganhou aspectos de representação expressiva
da subjetividade psicológica e emocional. Segundo a crítica de cinema, Lotte Eisner
(2002), as visões perturbadoras marcadas pelo claro-escuro, evocadas de maneira
simultaneamente concreta e irreal, moldaram os filmes expressionistas, que trouxeram
morbidez psicológica freudiana, além de fantasias críticas à modernidade. Foi um
movimento urbano, crítico e com atmosfera de pesadelo. Muito diferente do cinema
clássico estadunidense, escapista frente à realidade, e que visava a uma narrativa e
técnicas transparentes de corte e montagem.
O primeiro filme, O gabinete do dr. Caligari (Figura 2.5), dirigido por Robert Wiene
em 1919, apresentou um pesadelo na tela: cenários distorcidos, sombras marcadas
e maquiagem pesada. Investiu na linguagem de maneira decisiva. No início, lento;
mais adiante, acelerado; até uma ruptura do clímax até o final (EISNER, 2002). A obra
mudou a percepção sobre o cinema, agora uma poderosa linguagem de expressão.
Pesquise mais
- Outro movimento relevante do cinema europeu foi o Impressionismo
francês. O artigo de Heloá Pizzi Mauro e Lucas Scalon traz um breve
panorama. MAURO, H. P.; SCALON, L. O Impressionismo francês no
cinema. In: RUA – Revista Universitária do Audiovisual. São Carlos:
Departamento de Artes e Comunicação – UFSCar, 15 abr. 2012. Disponível
em: <http://www.rua.ufscar.br/o-impressionismo-frances-no-cinema/>.
Acesso em: 20 nov. 2016.
O filme de estreia da Nouvelle Vague francesa foi Nas garras do vício, de Claude
Chabrol, em 1958. Alain Resnais lançou Hiroshima, meu amor; François Truffaut estreou
Os incompreendidos; e em seguida veio Acossado, de Jean-Luc Godard. A estética
“levou às telas expectativas e frustrações de uma geração de jovens amadurecidos na
Guerra Fria, numa Europa sem inocência, massificada e hiperpovoada de imagens do
cinema, da publicidade e da televisão” (MASCARELLO, 2009, p. 222) Os filmes trouxeram
mise-en-scène diferenciada, olhando para a câmera, falando com o espectador;
trouxeram cortes aparentes, montagem fragmentada; e romperam a continuidade
clássica de pretensões ilusionistas. Esses faux raccords (ou falsas continuidades)
escancararam o fazer fílmico, explorando espaço, diálogos e personagens. O grupo
chamado Rive Droite era formado por Claude Chabrol, Jean-Luc Godard, Éric Rohmer
e François Truffaut. Outro grupo, o Rive Gauche, era formado por diretores mais
velhos, porém, alinhados com as ideias de juventude dos primeiros. Foram eles: Alain
Resnais e a diretora Agnès Varda, entre outros. Os nomes dos grupos faziam referência
às margens direita e esquerda do rio Sena.
O filme fundador da estética japonesa foi Conto cruel da juventude, dirigido por
Nagisa Oshima, em 1960. A ele se seguiram O túmulo do sol e Noite e neblina no
Japão, também de Oshima. De Shohei Imamura destacaram-se Desejo assassino, A
mulher inseto e Profundo desejo dos deuses. A flor seca e Duplo suicídio em Amijima
foram dirigidos por Masahiro Shinoda. E Yoshishige Yoshida realizou As termas de
Akitsu, A mulher do lago, Eros + massacre, além de Purgatório Eroica.
Tardio em relação às suas escolas aproximadas, o Novo Cinema alemão teve início
no meio dos anos 1960, continuando até a década de 1980. Foi influenciado pela
Nouvelle Vague francesa, pelo Cinema Novo brasileiro e pelos protestos sociais e
sindicalistas de 1968 (NEW GERMAN CINEMA, 2016). Através do Oberhausen Manifesto,
foi uma escola formalmente instituída, que postulou a morte do “velho cinema” e o
surgimento de um “novo cinema”. Tinha interesse em estabelecer uma nova indústria
cinematográfica, baseada no conceito autoral e desvinculada da lógica comercial dos
estúdios. Trouxe uma estética suja e agressiva, aliada à crítica social e política, refletindo
a complexa situação alemã desde a II Guerra Mundial (MASCARELLO, 2009). Contou
com linhas de financiamento que partiam dos canais de televisão, resultando uma
narrativa de linguagem híbrida e bastante renovadora (NEW GERMAN CINEMA, 2016).
Considera-se Rio, 40 graus, de Nelson Pereira dos Santos, como o marco fundador
do Cinema Novo, em 1955. Segundo Glauber Rocha (2003), foi a visibilidade na Bienal
de 1961 que trouxe corpo à escola estética. Nelson Pereira ainda dirigiu Rio, zona
norte, Boca de ouro e Vidas secas. Glauber Rocha realizou Barravento, Deus e o
Diabo na terra do sol, Terra em transe, premiado pela crítica no festival de Cannes,
e O dragão da maldade contra o santo guerreiro, vencedor de melhor direção em
Cannes. Cacá Diegues dirigiu um segmento de Cinco vezes favela. De Ruy Guerra
se destacaram Os cafajestes e Os fuzis; Paulo César Saraceni dirigiu Porto das Caixas
e O desafio; Roberto Santos fez O grande momento e As cariocas; e Roberto Farias
realizou Assalto ao trem pagador. Por fim, o ator e cineasta Anselmo Duarte adaptou
O pagador de promessas, vencedor da palma de ouro de melhor filme no festival de
Cannes de 1962.
Assimile
- Os Novos Cinemas dos anos 1960 e 1970 tinham por característica
comum alguma rejeição aos modelos de produção em estúdios,
preferindo a realização de produtos autorais e independentes. Além
disso, trouxeram inovações e liberdades técnicas, narrativas e estéticas
fundamentais para a moderna linguagem audiovisual.
Reflita
- Os Novos Cinemas acompanharam movimentos de revolução e
liberação, especialmente na Europa, dos anos 1960, mas quais são seus
reais desdobramentos para a linguagem do audiovisual? A experiência
autoral, fora dos sistemas de estúdios, pode ser tomada válida,
especialmente considerando que, depois essas maneiras de produção,
irão se reconciliar?
Pesquise mais
- Sobre a Nova Hollywood, o artigo da pesquisadora Dáphine Ponte
Gomes traz elementos de análise dividindo o movimento em três: Nova
Hollywood, blockbusters e high concept. Vale a leitura para um mergulho
no cinema estadunidense contemporâneo partindo de seu momento
transformador.
Em 1976 foi ao ar, na TV Globo, o programa de comédia Planeta dos homens, de Max
Nunes e Haroldo Barbosa. O seriado exibiu humor refinado, baseado em esquetes de
sátira de costumes, crítica social e paródias. No roteiro, contou com nomes como Luís
Fernando Veríssimo, Jô Soares e Afonso Brandão; e as esquetes eram conduzidas por
comediantes renomados. Mesmo sob franca censura e enfrentando cortes frequentes
de piadas políticas e de crítica social, realizou quadros inovadores; marcados pelo
distanciamento da ação, por constantes olhares e indagações diretas ao telespectador
e humor anárquico. Se o programa foi ao ar por uma emissora que recebeu, do
governo ditatorial, “amplas condições para a expansão dos serviços de transmissão”
(MATTOS, 2002, p. 107); mesmo assim, esteve sujeito às agências controladoras.
Segundo Mattos (2002), a censura mutilou e limitou a televisão brasileira, incluindo
Planeta dos homens. Enfrentando essas questões, o seriado representou mudanças
narrativas e discursivas concretas e viu desdobramentos noutros tantos programas de
comédia ou drama.
Se por um breve período a crítica mais ácida se limitou, em grande parte, aos
conteúdos de comédia, as narrativas de ficção dramáticas foram continuamente
absorvendo essas renovações. A experimentação com hibridismo narrativo aparecia
com mais e mais frequência e as linguagens revolucionárias foram sendo incorporadas
aos conteúdos das emissoras de televisão. Nos Estados Unidos, a influência do high-
concept, nascido no bojo da Nova Hollywood, trouxe a percepção de uma ideia
clara, sucinta, com potencial crítico e com força para extravasar as fronteiras de mídia
(TOBIN, 2000). Isso alterou a maneira de se contar histórias. A linguagem moderna do
audiovisual passou a exigir um esforço de complexidade e densidade.
Então, estreou Twin peaks, de Davis Lynch e Mark Frost. A série trouxe à TV um claro
high-concept, com densidade crítica e hibridismo narrativo, mesclando influências
do cinema contemporâneo, da moderna linguagem audiovisual, apresentando uma
mistura de gêneros dramáticos e de formatos televisivos. Apesar de ter sido cancelada
logo após a segunda temporada, a narrativa com temática mais aprofundada despertou
o potencial da ficção televisiva nos Estados Unidos; e ainda apontou no sentido de
desdobramento narrativo para além do veículo, derivando em um longa-metragem,
em livros, em produtos de home video e de áudio trazendo seu universo expandido
de história (TWIN PEAKS, 2016).
Exemplificando
- Perceba que o fenômeno das séries e seriados, em muitos sentidos, é
derivado do desenvolvimento de linguagem, desenvolvimento narrativo,
além da lógica de convergência entre os veículos do audiovisual para
um padrão multitelas e multiplataformas, com ampliação do universo da
história. Por exemplo, na animação Pokémon, a liberdade de linguagem
e câmeras dos jogos se reflete no seriado televisivo e chega à narrativa de
interatividade.
Na ordem cronológica, você irá se perguntar sobre as épocas, o que levará você
ao contexto histórico. A importância dos movimentos pode ser medida pelo contexto
histórico? Os períodos históricos influenciam as escolas de que maneira?
Além disso, vale buscar outros tantos movimentos. Você pode se interessar pelo
Neorrealismo italiano, pelo Dogma 95 etc. A questão é, portanto, organizar e se
questionar sobre suas validades. Respondendo a essas perguntas para si mesmo, a
indicação de movimentos relevantes se esclarecerá, e você se descobrirá capaz de
elencar as qualidades e marcos dessas estéticas.
Avançando na prática
Resolução da situação-problema
Procure definir, sob seu ponto de vista, se certos movimentos têm prevalência
sobre outros. Isso pode ajudar você a escolher entre realizar recortes de momentos
da produção do cineasta ou um tom de panorama sobre a obra. Em seguida, reflita
sobre influências e confluências. É importante citá-las? Ou é mais importante mostrar
relações da obra do cineasta com seus contemporâneos de escola estética?
Passando por essas decisões, você terá os pontos para justificar suas escolhas de
investigação para o documentário.
Referências
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Princípios de produção
audiovisual – filmagem e
gravação
Convite ao estudo
Ao trabalho!
Seção 3.1
Câmeras e objetivas
Diálogo aberto
Preparado?
As câmeras de vídeo, conhecidas como camcorders, são bem mais variadas. Desde
o uso analógico ocorre a distinção entre equipamentos amadores, semiprofissionais
e profissionais: a) as chamadas handycams ou câmeras de mão são equipamentos
compactos e com as funções automáticas para facilitar o uso amador; b) as câmeras
compactas de lentes não intercambiáveis, que permitem funções manuais são
para uso semiprofissional; e c) as câmeras profissionais de broadcast (transmissão)
são frequentemente maiores e mais pesadas e permitem mudanças de lentes. É
o controle sobre o equipamento que prevalece na consideração entre câmeras
amadoras ou profissionais. Isso fica mais evidente quando notamos que mesmo
câmeras profissionais de TV apresentaram, em algum momento, definição SDTV.
Na época de formatos analógicos, tínhamos as possibilidades de gravação em fitas
VHS, Beta Max e Hi-8; em seguida, os formatos digitais de fita trouxeram o DVCam,
o MiniDV e o Beta Digital (BROWN, 2012). Nas últimas duas décadas, os formatos
se multiplicaram e o armazenamento do material gravado abandonou a fita. Hoje,
utilizam-se cartões de memória; memória rígida acoplada ou memória flash externa.
Ainda, com o movimento da abertura e democratização da produção, o uso de
câmeras de fotografia digital para realização de vídeos se tornou recorrente. Também
se verifica uma mudança nos equipamentos de broadcast, que vem apresentando
sensores maiores, próximos aos full frame das câmeras de cinema digitais. E, apesar
de o padrão da televisão ainda ser o HDTV, já se discutem as definições UHDTV, 4K,
UHDTV2 e 8K. A tendência de um mercado amalgamado é percebida em câmeras
como a Sony F-65, a Canon C-300 ou a Sony PMW-F3, que se voltam para os dois
mercados simultaneamente (BASSET, 2012).
Assimile
- As câmeras de cinema e vídeo compartilham de um mesmo mecanismo
básico: uma abertura para entrada de luz; um obturador ou shutter
eletrônico para controle do registro da imagem (controlando a entrada de
luz no caso do cinema analógico ou controlando a varredura no caso de
todos os equipamentos eletrônicos); e um anteparo para a captura, que
pode ser um filme negativo ou um sensor fotossensível.
Pesquise mais
- Para uma abordagem mais completa das questões das câmeras digitais,
o artigo do cineasta e colorista digital Richard Lackey traça um panorama
da evolução dessas câmeras.
Distância focal
A distância focal é tanto um indicador para diferenciar objetivas, como uma medida
que indica a distância entre o centro do conjunto de lentes e o anteparo sensível. É a
base óptica do conjunto de lentes, pois define o que cada objetiva "vê", ou seja, seja,
define um enquadramento específico. Uma objetiva com 50mm de distância focal
é considerada “normal” para filmes de 35mm ou sensores full frame, com relações
de proporção da imagem próximas à normalidade da visão humana. Objetivas com
distâncias focais menores do que 50mm são chamadas grande angulares e resultam
um quadro mais aberto e amplo. De outro modo, objetivas com distância focal maior
do que 50mm são chamadas teleobjetivas, mostrando quadros mais fechados e
aproximados. Vale notar que a relação se altera com filmes ou sensores de tamanhos
diferentes. Filmes de 8mm ou 16mm e sensores pequenos têm seus padrões de
objetivas normais com distância focal menor do que 50mm. Similarmente, o filme de
70mm ou sensores maiores do que full frame têm seu padrão de objetiva normal com
distância focal maior do que os 50mm.
O foco
Todas as objetivas apresentam um anel de foco que controla uma parte móvel
de lentes. Quando a objetiva focaliza um objeto, consideramos que apresenta o
objeto exatamente como o percebemos na vida real (BROWN, 2012). Ocorre que o
olho humano trabalha o foco como resultado da relação entre os olhos e o cérebro.
As mudanças de foco da imagem, no olho humano, são múltiplas e sutis e não
percebemos, na maioria das situações, as áreas desfocadas.
Diafragma e f-stops
e mais luz entra na câmera; quanto maior o número indicado, menor é a abertura
angular e menos luz entra na câmera (Figura 3.3). A maior parte das objetivas apresenta
números de f-stops (pontos f) entre f/1 e f/22, no entanto, existem objetivas mais
luminosas, com f-stops mais baixos; além de objetivas com possibilidade de diafragma
mais fechado que o f/22 (MAMER, 2009). A sequência de f-stops seguiria, em teoria,
até o infinito. Entretanto, as lentes permitem o fechamento do diafragma até um limite.
Um parâmetro bastante completo de aberturas, consideradas de meio em meio stop,
segue a seguinte ordenação: f/1; f/1.4; f/2; f/2.8; f/4; f/5.6; f/8; f/11; f/16; f/22; f/32;
f/45 e f/64.
Exemplificando
- Note que o diafragma ou íris funciona em aproximação à íris humana
ou de outros animais. Você já notou como nossas pupilas se dilatam em
período noturno ou em ambientes com pouca luz? Já notou como isso
ocorre ainda mais claramente com cães e gatos? Percebeu como a íris se
fecha, deixando a pupila mínima em dias ensolarados? Esse movimento
da íris controla a entrada de luz, a fim de aguçar a percepção do ambiente
em situação limite de iluminação. O mesmo ocorre com o anel de
diafragma das objetivas. A entrada de luz nas câmeras profissionais está
sob o controle dos fotógrafos e operadores de câmera.
Bom, o padrão reflex sempre foi hegemônico, então, a que se deve o interesse do
audiovisual nessas câmeras? Deve-se à indicação de alta definição em um único sensor
digital, aspecto que vem se tornando padrão inclusive para câmeras de broadcast de
televisão que comumente traziam três sensores distintos para cada cor. Além disso,
vale a informação de objetivas intercambiáveis para uso com vídeo, pois permite
liberdade de escolhas por características da imagem. Além disso, as HDSLRs são
equipamentos relativamente baratos e com total controle de suas funções, permitindo
a realização de produtos mais bem-acabados, com custos mais baixos. Ainda assim,
para o mercado audiovisual essas câmeras são consideradas semiprofissionais devido
às suas limitações de áudio e por não terem autonomia de gravação por períodos
longos.
ISO
Assim, o sensor configurado com ISO baixo precisa de mais luz para captar
uma boa imagem. Do mesmo modo, a configuração em ISO mais alto implica boa
imagem com menos luz. No entanto, cabem dois alertas: a utilização de ISO com alta
sensibilidade significa imagens com mais ruídos e menor resolução; além de menor
quantidade de dados realmente captados. Dessa maneira, o ISO baixo frequentemente
resulta imagens melhores quando corretamente expostas (BROWN, 2012).
Outro aspecto interessante para o uso das câmeras HDSLRs em gravações de vídeo
é a geração de um arquivo de saída com a imagem em extensão RAW. Essa extensão,
que traduzida do inglês significa “cru”, traz a imagem exatamente como a capturada
pela câmera. O arquivo RAW apresenta todas as configurações e balanceamentos
do momento da gravação, mas permite um trabalho de edição e finalização mais
profundo na imagem. Por ser uma extensão de imagem sem compactação, diferente
do que ocorre, por exemplo, com arquivos .jpeg, o arquivo RAW não implica perdas
de informação, o que permite um uso avançado de recursos de softwares e suítes
de tratamento de imagem e de vídeo, incluindo programas dedicados ao trabalho
com arquivos dessa extensão. Nesse sentido, o RAW se tornou extensão padrão para
muitas emissoras que utilizam as HDSLRs em equipes leves de produção. Mesmo se
comparado a um codec de compactação com excelente amostragem de cor nos
pixels, o RAW frequentemente leva vantagem (VILHENA, 2013).
Pesquise mais
- No artigo de Eduardo Baptista, da Zoom Magazine, você terá um panorama
sobre o uso do timecode, um código de tempo que acompanha os dados
das imagens e do som captados em sincronia com a claquete eletrônica.
ROZZO, F. O que faz um logger? In: Blog E-Mania (on-line). [S.l.]: Emania.
com.br, 28 out 2015. Disponível em: <http://blog.emania.com.br/logger/>.
Acesso em: 23 dez. 2016.
Reflita
- A relevância de procedimentos de checagem e limpeza dos equipamentos
é clara, mas qual é a relevância de equipes completas de profissionais
quando tratamos de produções pequenas? É necessária a utilização de
três assistentes e mais operadores para lidar com as câmeras em situações
de jornalismo ou documentário?
Avançando na prática
Resolução da situação-problema
Um bom caminho de resolução é definir ponto a ponto cada uma das câmeras.
De maneira geral, todas devem trabalhar com uma definição igual, mas é interessante
gravar com definição mais alta ou com a mesma da finalização? Quais câmeras se
adéquam às duas condições?
Aqui você já terá algumas opções. Agora, deve considerar, também, o tamanho
dos sensores das câmeras. Todas devem ter sensores de tamanhos iguais? Sensores
de tamanhos diferentes mudam alguma coisa? O que deve ser considerado?
Note, ainda, que as câmeras rodarão em simultâneo. O que isso implica? Quais as
necessidades de configuração nas câmeras para facilitar a edição do material bruto?
Seção 3.2
Diálogo aberto
Vamos lá?
São três as dimensões do som para o audiovisual: a) a trilha sonora, que pode ser
original, incidental ou mista; b) os efeitos sonoros, que incluem som ambiente, sons
de cobertura, sons de ruidagem direta e sons e efeitos de foley, aqueles construídos
em estúdio que complementam a paisagem sonora (SEU FÁBIO, 2009); e c) os
diálogos, comumente registrados em som direto ou gravados em dublagem, também
chamada de substituição automática de diálogo (automatic dialog replacement –
ADR) (RABIGER, 2007). As gravações de trilha sonora e ruídos e efeitos de foley são
comumente realizadas em pós-produção. As partes de diálogos, ruídos diretos, som
ambiente e sons de cobertura são gravadas em locação, com som direto.
Assimile
- Perceba que o desenho de som é complexo e envolve uma grande
quantidade de material gravado. O som direto trabalha diálogos e ruidagem;
os sons de ambiente e cobertura ajudam a compor a paisagem; os sons
de foley complementam esse panorama sonoro do produto, a fim de
amplificar pontos de tensão ou relaxamento da narrativa. E é exatamente
daí, da narrativa e da tensão dramática, que decorre sua importância,
muitas vezes negligenciada.
A configuração em single system tem a vantagem de ser mais barata, mas acumula
desvantagens. Como o áudio é capturado pela câmera, há a limitação dos controles
ficarem no corpo das camcorders, inviabilizando o acesso do técnico e a manipulação
e ajustes finos durante a cena; além de ocorrer a limitação de microfones aos canais
disponíveis na câmera; e de não oferecer qualidade fina de monitoração do som.
A configuração double system tem respaldo em produções maiores e se divide em
uma estrutura de alta portabilidade, quando o técnico leva o gravador junto a seu
corpo; ou ainda baixa portabilidade, quando há uma estação fixa ou uma plataforma
móvel grande. A desvantagem dessa configuração se deve à obrigatoriedade de
sincronização entre som e imagem. O uso da claquete, nesse método de captação,
é obrigatório.
A captação do som depende, ainda, das escolhas dos microfones para cada
situação. Em set de filmagem ou gravação, são adequados os microfones direcionais
ou lapelas, por exemplo. Na gravação da trilha sonora, microfones com direcionalidade
mais geral podem ser úteis, se posicionados entre os músicos. Num programa de
televisão, um microfone direcional de mão pode bastar para alguns usos. Como você
nota, aluno, são as características das locações e as exigências das cenas e ações que
definirão as escolhas de microfonia.
Por fim, cumpre falar das direcionalidades dos microfones ou, como também são
referidas, dos padrões polares de captação. As direcionalidades se relacionam aos
padrões de captação, à maneira com que cada microfone “ouve” ou registra a energia
acústica percebida. Assim, há mais uma forma de categorização de microfones: por
suas propriedades direcionais. Os padrões polares de captação são, basicamente, o
omnidirecional, microfone capaz de captar som de todas as direções; e o direcional,
microfone projetado para captar som por uma direção específica.
Pesquise mais
- Um bom artigo sobre a direcionalidade e os padrões polares dos
microfones está disponível no blog “Bunker 4.0.9”. No texto, você terá
todas as informações sobre a direcionalidade e os desenhos de padrões
polares para compreender mais sobre o universo dos microfones.
Reflita
- Em que sentido é realmente importante a percepção dos princípios
operacionais dos microfones? Como você pode utilizar essa informação?
Em que medida ou em quais situações importa saber sobre a sensibilidade
de um microfone?
Com base na temperatura de cor, os refletores para cinema e televisão podem ser
divididos em nove categorias gerais: 1) unidades fresnel HMIs; 2) unidades fresnel de
tungstênio; 3) unidades abertas de tungstênio; 4) unidades fluorescentes com correção
de cores; 5) unidades softs; 6) unidades PARs; 7) unidades xênon; 8) unidades de LED;
e 9) unidades de luzes práticas.
Unidades xênon, de LED, e práticas – unidades xênons são semelhantes aos HMIs,
pois são arcos de descarga de gás com um reator. São, atualmente, as lâmpadas
com a mais alta luminescência por watt e são unidades de uso relativamente recente
na indústria audiovisual (BROWN, 2012). O mesmo ocorre com as unidades LED,
Pesquise mais
- Além de os tipos de refletores apresentados, existem outros com uso
menos frequente na indústria. Uma pesquisa em sites de locação de
equipamentos pode auxiliar para um panorama sobre iluminação, além
de reforçar as diferenças entre cada tipo de refletor profissional. A seguir
os links para as locadoras Quanta, Locall e Electrica.
Exemplificando
- Considere que você realizará uma tomada na rua. Perceba que há a
necessidade de uma estrutura básica para toda a equipe e para os
equipamentos de filmagem e gravação. Os operadores de câmera
necessitam de uma base de operações para configurar o equipamento e
para salvaguardar as objetivas e os cases de câmera. O mesmo ocorre com
os técnicos de som direto e o microfonista. São necessárias plataformas
praticáveis e similares.
Avançando na prática
Quais equipamentos você indicaria para locação? HMIs são interessantes para a
configuração solicitada? São interessantes os fresnéis com controle de foco de feixe
de luz ou alguns abertos? A opção por luzes suaves pode ajudar em alguma condição?
E as luzes muito duras, como as PAR?
É interessante indicar um dollie com braço ou uma grua pequena? Quem sabe
ambos os equipamentos. A operação dentro do estúdio permite gruas com lugares
para o operador e o foquista? Algum equipamento com controle de movimento
remoto pode ajudar a operação na grua? Trilhos são indicados para uma situação
controlada como a de estúdio? Quais seriam suas propostas?
Resolução da situação-problema
Seção 3.3
Diálogo aberto
Olá, aluno!
Para auxiliar seu desenvolvimento na seção, propõe-se uma situação prática para
reflexão sobre os problemas factuais do dia a dia da produção. Considere, então, que
a produtora para qual você trabalha iniciou a produção de uma minissérie de baixo
orçamento para distribuição on-line, via streaming. Os valores previstos no projeto
foram inteiramente captados, mas os custos de produção não podem ser elevados. O
diretor busca uma narrativa ágil, com muitos takes de “câmera na mão” e movimentos,
o que implica equipes adequadas à tarefa, a fim de garantir organização, bom fluxo de
trabalho e boas relações entre os profissionais envolvidos.
Tudo pronto?
É ainda relevante salientar, caro aluno, que o modelo hollywoodiano pode não
funcionar para produções médias ou pequenas ou ainda para profissionais iniciantes
(RABIGER, 2007). Note que os processos e a montagem das equipes, no modelo de
estúdios, especialmente dos majors, são de uma segmentação extensa de funções.
Basta um olhar nos créditos finais de qualquer longa-metragem ou de produções de
dramaturgia para televisão que se nota a diferença das robustas equipes estadunidenses
se comparadas com as equipes europeias e brasileiras. Além disso, como afirmado
pelo diretor Martin Scorsese (2004), os diretores hollywoodianos são profissionais do
sistema de estúdios, com as limitações do que é definido pelo produtor. Por aqui,
muito do fluxo de trabalho parte do diretor e da equipe de direção. Há mais liberdade
ao que se pode realizar com a parte técnica, escolhas de linguagem e trabalho com
os atores. Isso tudo, claro, refletido na tela.
Assimile
- A equipe de fotografia e câmera é uma equipe que frequentemente
interage com outras equipes na etapa de produção. O relacionamento
óbvio é com eletricistas e maquinistas, mas há pontos de ligação com a
produção, com o som direto e com a direção, claro. Lembrando que, por
vezes, as relações e interações ultrapassam a definição em níveis.
Reflita
- Em que as definições de produção, forçosamente, irão interferir com
as equipes? A questão de dimensionamento econômico não é mais
relevante do que as ideias de captação e finalização?
Outra função importante é a de best boy electric, também indicada como segundo
eletricista ou assistente do eletricista-chefe. Sob sua responsabilidade está o desenho
de distribuição elétrica do set de filmagem ou gravação. Note: não se trata apenas
das instalações para iluminação de cena, mas também das instalações elétricas de
apoio e de luzes de serviço. Assim, é responsável pelo dimensionamento do set de
modo que não ocorra sobrecarga. Geradores, caixas primárias, caixas de distribuição e
cabos estão sob seus cuidados. Além disso, verifica a eficiência das unidades de luzes
e comanda a equipe de técnicos de elétrica que montam toda iluminação do set.
A equipe de maquinaria, por seu turno, tem como principal função a de maquinista-
chefe, que frequentemente é o operador principal de dollies e gruas ou braços
com controle de movimento remoto (BROWN, 2012). Seleciona os equipamentos
necessários para as cenas e tomadas da diária. Em etapa de preparação para a
filmagem ou gravação, elabora e distribui as fichas de análise técnica de equipamentos.
Na produção em si, controla a maquinaria com os relatórios de produção. Na
prática, o maquinista-chefe providencia os meios de trabalho para todas as equipes,
especialmente para as equipes de elétrica e câmera (RODRIGUES, 2007).
Seu assistente direto é chamado de best boy grip, ou ainda de segundo maquinista.
A ele cabe a supervisão da equipe de técnicos maquinistas e a responsabilidade de
montagem de todos os equipamentos necessários à produção. A enorme quantidade
de equipamentos (Figura 3.9) resulta uma série de deveres no set. Aos maquinistas
cumpre o trato com todos os tripés, leves ou pesados e com ou sem rodinhas; também
redes, bandeiras, rebatedores, molduras e difusores; além de praticáveis, três tabelas,
treliças, cunhas ou quaisquer materiais de estabilização (BROWN, 2012). Lidam, ainda,
com todos os tipos de equipamento de montagem ou fixação, como garras, grampos,
traves tubulares ou outros.
Pesquise mais
- Para uma pesquisa detalhada sobre gelatinas para refletores, uma visita
aos sites das principais fabricantes: a Rosco e a Lee Filters podem ser úteis.
Exemplificando
- O trabalho de eletricistas e maquinistas deve ser bem coordenado. Perceba
que se um técnico falhar, todo o departamento de fotografia sofre atrasos.
As funções são interligadas. Não é apenas uma questão de organização
hierárquica de funções, mas antes, um trabalho interdependente.
Como afirma o diretor inglês Michael Rabiger (2007, p. 286), “a gravação do som é
a meia-irmã negligenciada do cinema de baixo orçamento e universitário”. No entanto,
o som direto é relevante no trabalho de set. Tão relevante que, em locações e, por
vezes, até em estúdios, há a necessidade de um preparo acústico para a gravação
O que é mais adequado para uma produção com câmera na mão e de extrema
agilidade? Que tipo de operação exige um equipamento leve? A definição das equipes
de fotografia e câmera e de som direto tanto se relaciona a esses aspectos, como
segue uma lógica ligada ao workflow geral da produção. Além disso, a delimitação
orçamentária pode auxiliar.
Um ponto que deve ser considerado é que quanto mais equipamentos, maiores
deverão ser as equipes de elétrica e maquinaria, pois devem responder às necessidades
da produção. Ora, com uma ideia clara do tipo de produção, do orçamento e dos
equipamentos principais, as linhas gerais para mensurar a quantidade de técnicos
aparecem com maior clareza.
Avançando na prática
Suponha que você seja um dos produtores de uma agência paulistana contratada
para um job de realização de comerciais de um carro novo a ser lançado. O cliente
exige inserções de 1 minuto, 30 segundos e 15 segundos. No pitching de direção
agradou a você uma diretora indicando elementos novos, trabalhando um olhar das
mulheres sobre o veículo, com notas muito urbanas e modernas, com efeitos de
câmera, imagens congeladas e variações de velocidade da imagem, mas sem diálogos.
Ela pediu meia dúzia de locações entre externas e internas. A produção é grande.
Em seu papel de produtor, como você estruturaria sua equipe? Qual é o fluxo
de trabalho principal? Quais janelas seu comercial privilegiará? Quais são os reflexos,
nas equipes, das peculiaridades conceituais do produto? Há necessidade de equipe
robusta de fotografia e câmera? E quanto às equipes de elétrica e maquinaria? Qual é
a importância da equipe de arte? E a de som?
Resolução da situação-problema
a) 1º assistente de produção.
b) Apoio de set.
c) Gerente de locações.
d) Diretor de produção.
e) Secretário de produção.
Referências
Princípios de pós-produção
audiovisual: tratamento, edição
e finalização
Convite ao estudo
Vamos lá!
Seção 4.1
Diálogo aberto
Está preparado?
Assimile
- O som da batida de claquete, aliado à imagem dessa mesma batida
capturada pela câmera, são os pontos de sincronização, que garantem
com exatidão a concordância entre o áudio e os movimentos labiais
dos atores ou ainda batidas de objetos na cena.
Reflita
- Qual é a validade da utilização do lined script em relação aos relatórios
de continuidade? A simples uniformização de workflows significa
alguma coisa na prática? A discussão do fazer audiovisual é importante.
Essas práticas distintas significam algo para você? Se você estivesse
na função de um montador com cerca de quatro ou cinco horas de
material bruto em mãos, o roteiro ajuda? Como?
Desde o tempo dos letreiros todos brancos, com escritos fixos nas telas do cinema
ou ainda das legendas eletrônicas da televisão, com aspecto um tanto quadrado
das imagens geradas por computador (CGI – Computer-Generated Imagery) em
fins dos anos 1980 e início dos anos 1990, ocorreram mudanças na maneira de
criar e realizar animações de abertura e créditos finais dos produtos audiovisuais. Se
antes tínhamos as letras queimadas nas películas ou cartelas fixas com fundo preto
ou ainda as gerações eletrônicas sobrepostas na imagem do vídeo em qualidade
SDTV vazando e misturando cores, hoje, os letreiros e animações são trabalhados
com mattes digitais. Os mattes, ou máscaras, são criados para garantir o recorte
suave e a composição sem halos ou mistura de cores ou quaisquer problemas que
identifiquem os recortes de camadas de imagem (PERESIC, 2000). E isso vale tanto
para as atuais vinhetas de televisão de programas diários, como para aberturas de
séries, seriados e filmes. Hoje, a evolução da técnica de máscaras, existentes de
maneira primitiva no audiovisual desde o primeiro cinema, ainda na virada do século
XIX para o século XX, garante qualidade para as artes de abertura e créditos finais.
Assimile
- “A maior parte do trabalho com efeitos visuais envolve combinar dois
ou mais elementos no mesmo quadro. E isso é conseguido mascarando
uma parte do frame, criando um matte” (PERESIC, 2000, p. 11).
Vale colocar, no entanto, que esse primeiro desenho de abertura e dos créditos
finais dos produtos audiovisuais no início da montagem, são ainda apenas esqueletos
das aplicações finais. Servem de referência ao montador e aos assistentes de edição
no processo do corte das imagens. Composições finalizadas somente ocorrerão
mais adiante na pós-produção. É esse corte, com abertura e créditos, que guiará os
processos de edição de som e de efeitos visuais, pois indicam o produto como um
todo. Os elementos são apenas posicionados para garantir a totalidade e o ritmo
do produto. Possíveis telas divididas nos créditos finais ainda não estão acabadas;
animações de abertura não apresentam finalização etc.
Guiados pelos primeiros cortes, que definem os limites dos takes, pelos boletins
de câmera e iluminação, que indicam ângulos, movimentos e posicionamentos
de luz, e ainda pelos boletins de efeitos visuais de captação e com as marcações
nas imagens, os técnicos de efeitos visuais trabalham na efetiva criação dos
efeitos. Sejam para animações digitais com técnicas de desbaste de superfície
ou modelagem 3D, simples recortes e composições, ou até complexas técnicas
aliando motion control photography, o controle de movimentos da câmera em si,
com motion capture, o rastreamento de movimentos dos atores e suas expressões
corporais e faciais (PERISIC, 2000), todas essas notações dão os parâmetros para
os efeitos visuais do produto.
É importante frisar, caro aluno, que nos referindo aos efeitos visuais, falamos
sobre todos os efeitos ópticos ou digitais e de animação presentes no produto,
ou seja, são os efeitos artificialmente executados por algum tipo de composição,
a fim de causar impressões específicas integradas aos produtos audiovisuais
(TIETZMANN, 2007). Isso pode ser desde efeitos realizados na filmagem e gravação,
como alterações de velocidade da câmera, até efeitos de pós-produção, mas não
se deve confundi-los com efeitos especiais, que são os efeitos físicos, como tiros,
explosões, chuva ou o que for dessa natureza.
Exemplificando
- Nos filmes da saga Star wars, os efeitos dos sabres de luz foram criados
através de rotoscopia digital. A imagem original apresentava as armas
como bastões. No software, os bastões foram recortados e foi criada
uma máscara para que a imagem dos sabres, modelada digitalmente,
fosse inserida em composição.
Pesquise mais
- Para um panorama sobre as técnicas básicas de efeitos visuais,
acompanhe o vídeo legendado com diretor de efeitos visuais Clinton
Jones no Cinematrográfico.com.br.
Essas técnicas são aplicadas nos takes planejados e passam por uma
composição em layers para a construção da imagem final. Os planos finalizados
integram, então, a montagem do produto em definição HDTV. O mesmo ocorre
com as artes de abertura e os créditos. Com isso, tem-se o corte final, com uma
lista indicando pontos e frames exatos de corte das tomadas do material bruto,
códigos das aplicações de efeito, os takes compostos e as indicações de áudio.
Ao saber como foi a captação, você poderá indicar métodos de efeitos visuais
para fazer a composição final dos planos. Foi utilizada tela de fundo de cor? Isso
altera algo em relação às técnicas de máscaras e recortes? Como devem ser feitos
os mattes nas condições das imagens brutas? Quais técnicas podem ser aplicadas.
Verifique as possibilidades.
Ao tomar nota das várias possibilidades, você certamente terá um panorama das
técnicas que possibilitam unir as imagens. Considere, ainda, outras possibilidades,
a fim de aprimorar suas próprias percepções sobre a realização de efeitos visuais.
Avançando na prática
Descrição da situação-problema
Quais técnicas você indicaria? Como fazer isso com imagens sem fundo de cor? É
necessária alguma técnica de controle de movimento? Como capturar as expressões
dos atores e atrizes? Como você pode retornar a animação à imagem original?
Resolução da situação-problema
Agora, pense em como será possível extrair as expressões dos atores em cena
sem a utilização de motion capture. Isso é possível? Quais são as suas fontes de
imagem? É possível extrair as expressões dos atores da filmagem direta? O que
você pode fazer para replicar as condições da filmagem original em ambiente
virtual? São essas definições que levarão você para a animação em computador.
O que você pode fazer com as imagens dentro do software de modelagem? É
importante manter os planos filmados? E os movimentos de câmera?
Seção 4.2
Diálogo aberto
Vamos começar!
Em uma regra geral, “sempre que se faz um corte em uma base, seja no som ou
na imagem, deve ocorrer um corte igual e recíproco na outra base” (MAMER, 2009,
p. 388). Isso significa que: no som direto de diálogos, os cortes de som e imagem,
mesmo que com sobreposições, devem apresentar tamanhos relativos idênticos.
Se há vinte frames de imagem num corte, haverá vinte frames de som nesse
corte, mesmo que deslocados em corte de sobreposição. Essa regra mantém,
em amplo sentido, uma sincronia entre o som e a imagem. No caso dos clipes
de áudio complementares como o som direto de ambiente gravado fora de cena,
Pesquise mais
- Para um panorama bastante completo das questões fundamentais do
sound design, vale a leitura do trabalho do pesquisador Vinícius Vital
Sasaki. No texto, você encontra um panorama de etapas e métodos
para um mapa sonoro, além de considerações criativas da função.
Exemplificando
- A criação de sons para efeitos sonoros críveis tem relação com
conceitos e ideias, muito mais do que com a realidade do som.
Por exemplo, no clássico filme de longa-metragem de Steven
Spielberg, Parque dos dinossauros, os sons dos animais extintos
tiveram, obrigatoriamente, que ser criados. Assim, o sound designer
estadunidense Gary Rydstrom, que sabia ser fundamental trabalhar
com sons orgânicos para um bom resultado, gravou algumas dezenas
de animais e mixou os sons, alterando levemente algumas frequências.
Por sua vez, a trilha sonora licenciada é aquela que exige o pagamento de
direitos autorais e direitos de uso. Ora, “nunca suponha que a música que você
gostaria de usar estará disponível quando você precisar dela; a pior hora para se
negociar direitos […] é quando sua produção já se tornou dependente daquela
gravação específica” (RABIGER, 2007, p. 343). Procure tratar dos direitos sobre
músicas já sabidamente importantes para a trilha com alguma agilidade. Problemas
com os direitos autorais e de reprodução frequentemente implicam atrasos e altos
custos. Além disso, cumpre observar, aluno, que diferentes músicas podem trazer
diferentes licenças de utilização. Em algumas músicas o pleno uso será liberado
após a compra dos direitos, em outras haverá limitações de tempo de uso bruto
no produto, outras ainda não permitirão manipulação. Considere, por exemplo,
o musical Moulin Rouge!: amor em vermelho, do diretor Baz Luhrmann, que
apresenta canções pop com letras alteradas. Pense nas dificuldades, caso alguma
música escolhida tivesse direitos que não permitissem esse tipo de manipulação. A
trilha sonora licenciada é interessante e traz identificações com os espectadores,
especialmente com trechos e músicas conhecidos, mas requer cuidado e atenção
às exigências dos direitos autorais no momento da edição.
ou samba. Nessas bibliotecas, além das trilhas brancas, são comuns áudios de
ruidagem. Os estúdios têm por hábito manter vastas bibliotecas de som que
alimentam as produções. São clipes de áudio bastante úteis ao processo de edição,
pois podem compor momentos específicos encaixando com o sound design
planejado. As três possibilidades, assim, podem ser aplicadas para momentos
distintos do produto, visando complementar as passagens musicadas entre os
trechos da trilha original e adjacentes.
Reflita
- Em que momento é interessante a escolha por uma trilha sonora
licenciada? Não seria lógico evitar a compra de direitos se há a
possibilidade de utilização de trilhas brancas? Em que medida as
questões de trilha sonora são relevantes para o produto audiovisual?
Não bastariam os efeitos sonoros? Para você, o que cada uma das
escolhas implica em termos financeiros? É uma escolha real que se
deve fazer, ou a mistura das três possibilidades é mais interessante?
Pesquise mais
- Sobre o processo de trilha sonora original, a vídeo-reportagem com
o compositor Fernando Moura esclarece o que significa compor para
imagens. Aborda os caminhos da trilha sonora e o que ela pode trazer
em sua relação com a imagem. Além de traçar um panorama do
mercado de trilha sonora no Brasil.
Assimile
- A dublagem é necessária em situações de problemas com o som
direto, tais como: ruídos de interferência, interferência eletrônica,
falhas, problemas com os atores e suas linhas de diálogo etc.
Pesquise mais
- Para uma visão aprofundada sobre o processo de mixagem,
considerando aspectos de pré-mix e dos padrões multicanais, vale a
leitura do artigo de Lyana Peck Guimarães para a Revista Luz & Cena.
As falas do ator foram gravadas? É interessante utilizá-las como som guia para
auxiliar o trabalho de sincronia labial num estúdio de dublagem? Com o que
você deve se preocupar nessa possível dublagem? Há a necessidade de alguma
preparação prévia do ator? Como você coordenaria a dinâmica dessas sessões de
gravação? É possível gravar trechos de áudio take a take? É possível estabelecer
gravações a cada linha da fala? Anote cada elemento e seus apontamentos sobre
a questão. Você terá algumas possibilidades bastante claras.
Avançando na prática
Descrição da situação-problema
Pronto?
Resolução da situação-problema
Após todos esses questionamentos, você terá soluções bem claras e caminhos
definidos para a mixagem e finalização do áudio.
Seção 4.3
Finalização
Diálogo aberto
Caro aluno!
cópia em 35mm com som mixado em 5.1 canais; outro solicita uma cópia em
4K; o último festival pede uma cópia em 2K. Todos eles exigem legendagem em
inglês. Como um dos produtores de pós-produção do filme, o que você faria para
viabilizar o longa-metragem nos três festivais? O que você pode considerar em
relação ao áudio já mixado? Com o filme já finalizado e seguindo para copiagem,
há possibilidade de trabalhar com outras definições? Como você pode fazer isso?
O que fazer com a matriz de distribuição digital? Há necessidade de um transfer
digital? Como você aplicaria as legendas? Há diferenças em relação à matriz de
distribuição internacional?
Tudo pronto?
Assimile
- Note que a conformação é fundamental quando a filmagem trabalha
com outra velocidade de captação nativa. Na trilogia de O Hobbit,
por exemplo, o diretor Peter Jackson captou toda imagem em 48fps
e, posteriormente, viu seu longa-metragem ter lançamento comercial
em algumas centenas de salas de exibição, rodando a 24fps. Aqui, há a
necessidade de extremo controle na conformação, considerando que
ocorrerão cortes de frames para exibição. É importante que se saiba
quais frames serão excluídos e como deve ocorrer o controle para
sincronização com o som. Por isso, a listagem do workprint é necessária.
Pesquise mais
- Abordando a questão de conformação de arquivos de vídeo nativos de
diversas fontes, o vídeo de Maurício Fonteles versa especialmente sobre
os diferentes tipos de vídeos, com diferentes definições e frame rates.
Reflita
- Qual é a efetiva necessidade do retorno para uma definição mais alta,
seja em 2K, 4K, UHDTV ou qualquer outra? A qualidade da imagem
é realmente um diferencial? Essa passagem da pós-produção faz
sentido para produtos sem cenas com efeitos visuais? A preparação
de masterização em 4K não poderia ser utilizada apenas em produtos
com amplos efeitos visuais?
Exemplificando
- A cor, seja em termos de paleta de cores para cenário e figurinos
ou em relação à iluminação geral, cumpre papel narrativo marcante.
Assistindo ao filme de longa-metragem estadunidense Traffic, é
marcante o uso de cores frias para apresentar os momentos da trama
passados nos Estados Unidos e o uso de cores quentes ao apresentar
a narrativa no México.
Pesquise mais
- Sobre o processo de correção de cor, o artigo em quatro partes do
diretor, roteirista e editor da TV Globo, Paulo M. de Andrade, é bastante
esclarecedor. Nele, o autor discute, inclusive, diferenças entre os
processos de correção de cor e color grading, tomando cada um dos
processos como etapas relacionadas, mas distintas.
Figura 4.7 | Scanner para video transfer, da película para o vídeo, ArriScan
Figura 4.8 | Gravador laser para transfer digital, do vídeo para a película, ArriLaser
Cópia zero
digital
Matriz de
distribuição
digital
Transfer Interpositivo Internegativo Cópia zero
35mm 35mm 35mm 35mm
Matriz
digital 4K
Matriz Cópia zero
Transfer Interpositivo
Negativo digital para 35mm para
35mm sem 35mm sem
original transfer sem distribuição
letreiros letreiros
letreiros internacional
Produto
Arquivos de
editado e
edição HD
mixado
Figura 4.10 | Fluxograma de elementos genéricos para captura digital e finalização em película
Cópia zero
digital
Matriz de
distribuição
digital
Transfer Interpositivo Internegativo Cópia zero
35mm 35mm 35mm 35mm
Matriz
digital 4K
Matriz Cópia zero
Material Transfer Interpositivo
digital para 35mm para
original 35mm sem 35mm sem
transfer sem distribuição
digital letreiros letreiros
letreiros internacional
Produto
Arquivos de
editado e
edição HD
mixado
Note que o trabalho digital já cumpre com muitos dos processos gerais de
uma produção audiovisual e domina amplamente toda a pós-produção. Nas
figuras, os quadros avermelhados correspondem a arquivos digitais; e os quadros
esverdeados indicam a imagem em película. Na prática atual, com a intermediação
digital, para além da captação, a película somente entra para finalização visando à
exibição em salas ainda equipadas com projetores tradicionais.
Bons estudos!
Avançando na prática
Descrição da situação-problema
Resolução da situação-problema
a) I – 2 e 3; II – 1, 2 e 3; III – 1; IV – 1; V – 2 e 3; VI – 1 e 2.
b) I – 2 e 3; II – 1; III – 1; IV – 1; V – 2 e 3; VI – 2 e 3.
c) I – 1 e 3; II – 2; III – 2; IV – 2; V – 1 e 3; VI – 1 e 3.
d) I – 2; II – 3; III – 1; IV – 1, 2 e 3; V – 2 e 3; VI; 1 e 3.
e) I – 1 e 3; II – 2 e 3; III – 1, 2 e 3; IV – 3; V – 2; VI – 1.
Referências