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FUNDAÇÃO EDUARDO CARLOS PEREIRA

ISAAC DIZOLELE MAUNGUDI

EXEGESE DO ANTIGO TESTAMENTO:


SALMO 126

São Paulo
2020

1
ISAAC DIZOLELE MAUNGUDI

EXEGESE DO ANTIGO TESTAMENTO:


SALMO 126

Trabalho apresentado em
cumprimento às exigências
da disciplina Exegese do AT
do Curso Livre de Teologia
EAD FECP, ministrada pelo
facilitador José Roberto
Cristofani.

São Paulo
2020

2
SUMÁRIO

Introdução..........................................................................................................................4
1. Tradução................................................................................................................4
2. Gênero literário......................................................................................................8
3. Análise semântica................................................................................................11
4. Análise
contextual................................................................................................14

3
INTRODUÇÃO

O salmo 126 é um salmo belíssimo e muito conhecido. Particularmente sempre


apreciei este salmo. Mas apesar de ser muito conhecido, o que de fato ele tem a dizer
para nós como povo de Deus no século XXI? Por meio do presente trabalho exegético,
buscaremos examinar o significado mais fiel possível deste salmo.

Para esse empreendimento, nosso trabalho está baseado em cinco passos. No


primeiro passo, vamos estabelecer a nossa tradução para este salmo, usando a
metodologia da comparação de três versões bíblicas. No segundo passo, buscaremos
descobrir qual é o gênero literário deste salmo. No terceiro passo, faremos a análise
semântica, para encontrar os principais eixos semânticos deste texto. No passo quatro
faremos uma análise contextual. E finalmente no passo cinco faremos uma releitura
deste salmo.

Por meio destes passos mencionados, poderemos ter melhor apreensão do


contexto, significado, interpretação e aplicação deste salmo. Podendo assim tirar melhor
proveito da palavra de Deus para nós. É bom esclarecer, este não é o único método
exegético, existem diversos, mas para este trabalho utilizaremos esse modelo descrito
acima. Vamos ao primeiro passo.

1. TRADUÇÃO – COMPARAÇÃO DAS TRADUÇÕES

O objetivo deste passo é fazer uma comparação de três traduções, para


estabelecer uma versão autoral. E para este objetivo, usaremos três versões, a Bíblia de
Jerusalém (BJ), a Bíblia do Peregrino (BP) e a versão Almeida Revista e Atualizada
(ARA). Por meio desta comparação analisaremos os seguintes elementos comparativos:
a. onde as versões concordam; b. onde as versões discordam; c. quais são as maiores
diferenças e; d. quais as ausências (se houver).

Por meio deste trabalho comparativo, comporemos uma tradução autoral. A


proposta não é produzir uma tradução original, nem mesmo uma tradução direta dos

4
idiomas originais do salmo 126, antes, a tradução será resultado das escolhas pessoas
entre as traduções comparadas.

Salmo 126
Verso 1
Quando Iahweh fez voltar os exilados de Sião, ficamos como quem sonha (BJ)
Quando o Senhor mudou a sorte de Sião, parecíamos sonhar (BP)
Quando o Senhor restaurou a sorte de Sião, ficamos como que sonha (ARA)

Verso 2
a boca se nos encheu de riso, e a língua de canções... Até entre as nações se comentava:
“Iahweh fez grandes coisas por eles!” (BJ)
nossa boca se enchia de risos, de júbilo a língua. Até os pagãos comentavam: “O Senhor
foi grande com eles”. (BP)
Então, a nossa boca se encheu de riso, e a nossa língua, de júbilo; então, entre as nações
se dizia: Grandes coisas o SENHOR tem feito por eles. (ARA)

Verso 3
Iahweh fez grandes coisas por nós, por isso estamos alegres. (BJ)
O Senhor foi grande conosco, e celebramos festa. (BP)
Com efeito, grandes coisas fez o SENHOR por nós; por isso estamos alegres (ARA)

Verso 4
Iahweh, faze voltar nossos exilados, como torrentes pelo Negueb! (BJ)
Muda, Senhor, a nossa sorte, como as torrentes do Negueb. (BP)
Restaura, SENHOR, a nossa sorte, como as torrentes no Neguebe (ARA)

Verso 5
Os que semeia com lágrimas, ceifarão em meio a canções. (BJ)
Os que semeiam com lágrimas colhem com júbilo. (BP)
Os que com lágrimas semeiam com júbilo ceifarão. (ARA)

Verso 6

5
Vão andando e chorando ao levar a semente; ao voltar, voltam cantando, trazendo seus
feixes. (BJ)
Indo, ia chorando, levando a sacola de semente; voltando, volta cantando, trazendo seus
feixes. (BP)
Quem sai andando e chorando, enquanto semeia, voltará com jubilo, trazendo os seus
feixes. (ARA)
Conforme podemos observar na comparação destas versões, no que diz
respeito a concordância entre as versões, elas apresentam bastante similaridades. Não
são idênticas, mas, muitas das expressões adotadas pelos tradutores são muito próximas.
No que diz respeito as discordâncias, a principal e mais relevante discordância que
podemos destacar está no verso 1 e 4. Enquanto a BJ traduz, “Quando Iahweh fez
voltar os exilados de Sião”, a BP traduz, “Quando o Senhor mudou a sorte de Sião”, já
a ARA traduz, “Quando o Senhor restaurou a sorte de Sião”.1

Essas diferenças de tradução se dão por questões de escolhas de linhas de


interpretação dos tradutores quanto ao contexto histórico da composição do salmo. A
Bíblia de Jerusalém, por exemplo, inclui a seguinte nota de rodapé, “Para os repatriados,
lutando com as dificuldades da restauração (cf. Ne 5, etc), a volta do exílio da Babilônia
prefigura a vinda da era messiânica”2. Inclusive esta versão traz como título para este
salmo, “A volta do exílio”.

Diferente da BJ, a BP e a ARA, não são específicos na tradução, ambas optam


por uma linguagem mais abrangente, “...mudou a sorte de Sião” e “restaurou a sorte de
Sião”, respectivamente. Apesar da BP não traduzir tão especificamente, a BJ traz um
comentário a respeito deste salmo dizendo o seguinte, “Ação de graças por uma
restauração3, e pedido para que esta se complete. A maioria dos textos, com a fórmula
‘mudar a sorte’, se refere à volta do desterro de Babilônia (...). Parece bastante provável
que o salmo expresse a alegria pela volta do desterro na primeira repatriação, ou no
tempo de Neemias”4.

As opiniões dos estudiosos a respeito desta questão, se dividem, Alan Harman,


por exemplo diz que,

1
Grifo nosso.
2
Bíblia de Jerusalém, p.1094 (Nota de rodapé).
3
Grifo nosso.
4
Bíblia do Peregrino, p.1174 (Nota de rodapé).

6
Não pode haver dúvida de que a experiência no exílio foi algo amargo
para o povo hebreu (cf. SI 137). Mas a restauração à pátria trouxe
intensa alegria. Embora o povo não pudesse cantar em Babilônia (SI
137.1-6), quando foram trazidos de volta a Judá entoaram "cânticos de
alegria" (v. 2). Este salmo expressa algo da maravilha do qul' Deus
fizera por seu povo. Há muitas semelhanças entre este salmo e o
Salmo 85, bem como a profecia de Joel. Como no Salmo 85, este
tc111 os mesmos dois aspectos em vista restauração passada e um
apelo por mais livramento. Seguindo o decreto de Ciro em 537 a.C.,
alguns dos exilados c111 Babilônia voltaram a Jerusalém. O
fundamento do segundo templo fora lançado com uma mistura de
pranto e alegria (Ed 3 .13). Deus havia soerguido a Ciro para este
exato propósito (ver Is 44.2􀂘5.7), e através dele efetuou o regresso do
povo.

Outro autor corroborando com Harman, diz que,

Concluindo, parece bastante provável que o salmo expressa o gozo pela


volta do desterro: na primeira repatriação, ainda incompleta, ou nos
tempos de Neemias. Depois o salmo fica disponível para a repatriação
da diáspora e para outras mudanças transcendentais da sorte. 5

Por outro lado nós também temos bons argumentos sustentando a mudança de
sorte como uma fórmula abrangente e não especificamente relativo ao cativeiro
Babilônico. Kidner, por exemplo diz que,

As frases-chaves nos vv. 1 e 4, no entanto, podem abranger muito


mais do que isto, e, na realidade, os vv. 4-6 pintam um quadro de
labuta coroada com bênçãos, afinal, ao invés da simples misericórdia
da volta ao lar. Assim, RSV e ARA (cf. NEB) fazem bem ao
empregarem os termos gerais da sorte restaurada nestes versículos.6

Corroborando com kidner, os autores do comentário africano dizem que,

É bem provável, contudo, que a referência seja mais ampla. ARA


deixa mais claro o significado original: Quando o Senhor restaurou a
sorte de Sião (126:1a). Jerusalém havia passado por muitas
dificuldades, de modo que não precisamos restringir a restauração a
um único acontecimento.7

As diferenças e semelhanças do verso 4, seguem os mesmos princípios já


mencionados. A Bíblia de Jerusalém, usa a expressão “Iahweh, faze voltar nossos
exilados” por causa da interpretação do exílio babilônico, fazendo referência, aos que
permaneceram no exílio, enquanto as Bíblia do Peregrino e a Almeida Revista e

5
Alonso Schokel, p.1492
6
Derek Kidner, 1981, p.450
7
Tokunboh, 2010, p.752.

7
atualizada usam a expressão “Muda a nossa sorte” e “Restaura a nossa sorte”
respectivamente, de modo mais abrangente.

Nós optamos pela primeira opção por causa dos elementos contextuais que
discutiremos posteriormente, de maneira mais detalhada. Com base nessa comparação a
nossa tradução ficou da seguinte forma:

v1 Quando o Senhor restaurou a sorte de Sião, ficamos como quem sonha


v2 A nossa boca se encheu de riso e a nossa língua, de jubilo, então, entre as nações se
dizia: Grandes coisas o SENHOR tem feito por eles.
v3 O Senhor fez grandes coisas por nós, por isso estamos alegres.
v4 Restaura, SENHOR, a nossa sorte, como as torrentes do Neguebe.
v5 Os que semeiam com lágrimas colhem com júbilo
v6 Quem sai andando e chorando, enquanto semeia, voltará com júbilo, trazendo seus
feixes.

Neste passo, apresentamos a comparação de três tradução. Apontamos as


grandes semelhanças e principais diferenças. Mostramos que a grande diferença entre as
versões consiste no verso 1 e o 4 na expressão “Restaurou a sorte de Sião” ou “Restaura
a nossa sorte”. Vimos que a tradução, varia por causa da linha de interpretação do
contexto histórico a que se refere este salmo e fizemos as escolhas que nos pareceram
mais apropriadas.

No próximo passo abordaremos a questão do gênero literário. Buscaremos


analisar de maneira mais detalhada, a que gênero pertence o salmo em tela. Quais são os
critérios e caminhos para fazermos essa classificação de maneira segura e acadêmica.

2. GÊNERO LITERÁRIO

No passo anterior buscamos compor uma tradução autoral, embora não


original. Fizemos isso por meio de um método de comparação de três versões bíblicas
tradicionais e que gozam de grande respeito quando o assunto é estudo bíblico e
exegese, isto deve-se a seriedade e confiabilidade do processo de tradução destes três
textos, Bíblia de Jerusalém, Bíblia do Peregrino e Almeida Revista e Atualizada.

8
2.1. Definição

Neste presente passo, o nosso objetivo é classificar o gênero literário do salmo


em tela. Para isso usaremos as considerações de alguns especialistas no assunto. Mas,
antes de classificarmos o gênero literários do salmo 126, precisamos entender o que
gênero literário. Esse detalhe é muito importante para aqueles que não estão
familiarizados com o termo. E quem nos ajuda a compreender o que é gênero literário
de uma maneira muito simples é Luis Stadelmann, ele diz o seguinte,

São formas literárias específicas, que caracterizam os diferentes tipos


de salmos, fornecem os elementos constitutivos de sua estrutura,
servem como instrumento de comunicação e correspondem às
necessidades de expressão da comunidade. Por isso, quem estuda os
gêneros literários, com maior facilidade capta o plano seguido e a
mensagem do autor, seja uma homenagem de louvor, um preito de
gratidão, uma explicitação da súplica ou uma comunicação sapiencial.
Pela forma literária se conhece a situação específica na vida do povo e
a atmosfera espiritual da comunidade de fé. Em função da oração
comunitária foram compostos os salmos para serem rezados pelos
fiéis.8

2.2. Classificação

Para Sellin este é um salmo de lamento coletivo (LC). Ele não dá detalhes da
razão pela qual ele chegou a essa conclusão. Ele apenas fornece essa informação.9
Também o faz Norman K. Gottwald. Ele usa a expressão “Lamentações comunais”.
Este autor diz que este gênero de Salmos (12, 44, 58, 60, 74, 79, 80, 83, 85, 90, 108,
123, 126, 137, 144,), era próprio das seguintes ocasiões,

“Atormentada por fome, praga, opressão socioeconômica, ou


desastre militar, a comunidade reúne-se para o jejum, a
lamentação e o sacrifício. A lamentação comunal segue a
mesma estrutura básica que a lamentação individual, se bem que
por vezes seja mais explicita acerca da desgraça a que se alude.
As queixas estão usualmente na forma de "nos", com um falante
"eu" ocasional representando a comunidade. E possível que
lamentações individuais fossem igualmente expressas durante os
dias de jejum público que caracterizavam lamentações com
mais”.10

8
Stadelmann, 1998, p.423
9
Sellin, 2007, p.404.
10
Gottwald, 1988, p.367.

9
Ao classificar este salmo como uma lamentação coletiva, os autores que assim
o classificam, parecem estar enfatizando a segunda parte do salmo, do verso 4-6, que se
revela mais claramente na forma de lamento, observe, “Restaura, SENHOR, a nossa
sorte, como as torrentes do Neguebe. Os que semeiam com lágrimas colhem com júbilo
Quem sai andando e chorando, enquanto semeia, voltará com júbilo, trazendo seus
feixes”. Estes versos sem dúvida, nos descrevem um contexto de lamento.

Entretanto, os versos 1-3, parecem não se enquadrar no gênero lamento.


Observe, “Quando o Senhor restaurou a sorte de Sião, ficamos como quem sonha. A
nossa boca se encheu de riso e a nossa língua, de jubilo, então, entre as nações se dizia:
Grandes coisas o SENHOR tem feito por eles. O Senhor fez grandes coisas por nós, por
isso estamos alegres”. Esses versos parecem se enquadrar melhor no gênero de ação de
graça. Os autores africanos comentam que neste salmo, “ouvimos um cântico jubiloso
que celebra o livramento”. Eles denominam os versos 1-4 de “Cântico de ação de
graça”11. A Bíblia do Peregrino também classifica este salmo como ação de graça,
“Ação de graças por uma restauração, e pedido para que esta se complete”.12

Portanto apesar deste salmo ser classificado de maneira genérica como salmo
de lamentação coletiva, a lamentação propriamente dita, diz respeito aos versos 4-6. Os
versos anteriores são ação de graças pelos livramentos que Deus realizou pelo seu povo
no passado. Portanto, a melhor classificação para este salmo é gênero misto, conforme
proposto por Tyler.13

Neste passo trabalhamos a questão do gênero literário, e descobrimos que o


salmo 126, diferente do que é proposto por muitos autores não é apenas um salmo de
lamentação comunitária, apenas parte dele é, e também não é apenas um salmo de ação
de graças, conforme proposto do outro grupo de autores, mas, por conter ambos os
gêneros no seu conteúdo, ele se classifica como um salmo misto.

No próximo passo faremos uma análise semântica deste salmo. Conforme


veremos, a analise semântica nos proporcionará uma compreensão holística deste salmo,
dentro de um contexto mais amplo, afim de que possamos assegurar uma leitura e
interpretação mais profunda e fidedigna do texto bíblico.
11
Tokunboh, 2010, p.752.
12
Bíblia do Peregrino, p.1174
13
Tyler, 2006, p.5.

10
3. ANÁLISE SEMÂNTICA

Este é o terceiro passo da análise exegética do Salmo 126. No passo anterior


tratamos do gênero literário. Apresentamos a classificação deste salmo. Neste passo, o
terceiro, faremos a análise semântica, buscando perceber as repetições de expressões
correntes no salmo, assim como os contrastes, e os vocábulos importantes.

Essa análise nos proporcionará maior aproximação do significado integral do


salmo, bem como de suas partes, com a finalidade de uma leitura e compreensão mais
profunda e fidedigna do texto, buscando entender a intenção do autor do salmo, para
maior e melhor aproveitamento deste salmo.

3.1. Definição de semântica

O professor Cristofani argumenta que a “análise semântica é o coração da


Exegese. É a partir dela que podemos descobrir o sentido do texto” 14. Mas, para que
você possa compreender os resultados da nossa análise e do o seu processo, é
importante compreender o que é semântica, para então compreender o que se entende
por análise semântica. Para facilitar a compreensão, talvez seja melhor contrastar a
Semântica com outros conceitos.

A semântica não é um estudo léxico, que se ocupa do significado das palavras.


A semântica também se distingue da morfologia, que se ocupa com a processo da
formação dos termos. A semântica também é diferente da etimologia, que se dedica a
compreender a origem das palavras e seus significados originais. Também não pode ser
confundida com a sintaxe, que se aplica a distinguir a função das palavras dentro de
uma oração15.

Com base nessa diferenciação, podemos formular que a semântica se ocupa


“com o significado que a palavra tem na frase, o sentido que tem no texto em relação às
outras palavras. Por isso a mesma palavra pode ter vários significados no decorrer do
texto”.16 O professor Cristofani acrescenta ainda que “a análise semântica lida com o
significado das palavras dentro de determinado contexto. O significado pode ser
14
Cristofani, 2017, p.51
15
Ibidem, p.52.
16
Ibidem.

11
mudado por outro texto ou conjuntos de palavras. O texto como conjunto deve ser
analisado no contexto”17.

Muitos caminhos podem ser adotados para se fazer a análise semântica. O


método adotado por este trabalho para a análise do salmo 126, será especificamente a
análise dos eixos semânticos deste salmo, pois entendemos que por meio deles
obteremos maior aproximação do sentido intencionado pelo autor. A seguir
explicaremos resumidamente o que é um eixo semântico e logo em seguida, faremos a
análise do eixo semântico do salmo em consideração.

3.2. Eixo semântico: Salmo 126

Esse conceito traz diversos nomes que apontam para a mesma coisa, ele é
chamado de eixo semântico, faixa de significado, campo semântico, semântica de
campo18, todos querem dizer a mesma coisa. Osborne explica que eixo semântico “não
apenas os vários significados que um termo em si possui em contextos diferentes, mas
os outros termos que com ele guardam relação” 19. Portanto o contexto interno do texto é
a chave para a análise do eixo semântico.

A explicação do professor Cristofani, traz bastante clareza. Ele explica o eixo


semântico como,
o agrupamento de palavras que pertencem, pelo seu significado,
a um determinado campo semântico, ou seja, os termos guardam
relações de significados entre si de tal forma que as palavras,
mesmo não sendo sinônimas, aprofundam, ampliam e explicam
umas às outras.20
E o professor nos oferece o método de achar o eixo semântico de um texto,
com base em três elementos,
Primeiro: Observar repetições de palavras e seus correlatos
(quase uma estatística); Segundo: Observar contrastes no texto,
o que eu chamo de “oposição semântica” (oposição semântica é
o grupo de palavras que está em contraste com outro grupo de
palavras); Terceiro: Observar a posição de determinados
vocábulos no texto (nem sempre a palavra mais” importante é a
mais repetida)21.

17
Ibidem, p.5.3
18
Osborne, 2009, p.129.
19
Ibidem, p.128.
20
Cristofani, Op. Cit, p.53.
21
Ibidem, p.55.

12
Vejamos os eixos semânticos do salmo 126. Os principais são três.

3.2.1. Eixo semântico 1: Alegria, riso x lágrimas, chorando (oposição semântica)

Esse eixo é denominado de oposição semântica, pois, apesar dos termos


fazerem parte do mesmo campo semântico, eles são opostos. O verso 2 menciona “riso”
e “júbilo”, o verso 4 menciona “alegres”, o verso 5 e o 6 mencionam “júbilo”. O verso 5
menciona “lágrimas” e verso 6 menciona “chorando”. Se como dissemos esse salmo faz
referência ao exilio babilônico, então a tristeza e o choro mencionados são decorrentes
desse período de sofrimento no exílio, longe da sua terra.

Esse eixo sugere uma transformação não apenas da situação geográfica, mas
também da situação emocional, as lágrimas e tristezas transformadas em júbilo e
alegria.

3.2.2. Eixo semântico 2: Restaurar (2x), cativos, muda nossa sorte

O salmista usa essa expressão duas vezes, no verso primeiro “Quando o Senhor
restaurou a sorte de Sião” e no verso quatro, “Restaura, Senhor a nossa sorte”. No verso
1 ele se refere a um acontecimento do passado, verso 4, ele se refere ao presente. Ele faz
um pedido para que o Senhor restaure a atual situação deles, com base naquilo que ele
já fez no passado.

Há uma discussão entre os comentaristas sobre o que de fato significa essa


restauração da sorte do verso 1. Muitos como Allan Harman, atribuem essa restauração
ao retorno do exílio babilônico22. Alonso Schokel também caminha na mesma direção 23.
Nelson Lellis também está em concordância com os dois autores anteriores 24. Apesar de
outras opiniões contrárias, concordamos com os autores supra citados.

A expressão restaurar a sorte aponta para o estado de bem-aventurança


anterior. E se essa expressão se refere a restauração do cativeiro babilônico como
sustentamos, então ela aponta para a situação antes do cativeiro. As circunstancias
favoráveis que o povo desfrutava na terra que lhe fora concedida pelo Senhor, terra que

22
Harman, 2011, p.432
23
Schokel, 1998, p.1493
24
Lellis, 2017, p.4

13
mana leite e mel, onde desfrutavam de liberdade, paz, descanso e boas colheitas.
Restaurar a sorte é a restauração desse status quo.

3.2.3. Eixo semântico 3: Símile: semeiam/colhem, semente/feixes

Neste eixo semântico é nota-se que o autor faz uso de símile para se referir ao
período do exílio e a restauração. Harman diz que,

O salmista fala do tempo do exílio como a semeadura, e da


restauração como a ceifa. Ele faz um retrospecto das lágrimas
anteriores que foram substituídas pela alegria. (...) O período da
dolorosa semeadura passou, e a colheita chegou. Como o salmo
começou, assim termina com a nota de alegria25.
Alonso Schokel sugere que o tempo da semeadura é uma imagem que faz
referência ao período do desterro26.

Assim, podemos concluir que o salmo de modo geral fala da restauração do


Senhor. Essa restauração renova a alegria dos que se encontram abatidos e entristecidos
pelas situações de sofrimentos. E o salmo fornece aos seus leitores um tom de
esperança, de que apesar da lagrimas da semeadura, a colheita compensará essas
lágrimas. O choro não é o estado final, a alegria sim.

Finalizamos mais um passo do nosso trabalho exegético. Neste passo, fizemos


análise semântica do Salmo 126, apresentando três eixos semânticos deste salmo. No
próximo passo apresentaremos a análise contextual. No próximo passo, 4º passo
estudaremos a análise contextual do nosso salmo.

4. ANÁLISE CONTEXTUAL

No passo anterior apresentamos a análise semântica do salmo 126. Fizemos


isso optando pelo caminho da análise dos principais eixos semânticos do nosso texto. E
o concluímos que o texto nos apresenta pelo menos três eixos semânticos. Chegamos a
essa conclusão analisando as repetições, contrastes e os vocábulos importantes no corpo
do texto. Neste passo, o 4º passo, nos debruçaremos sobre a análise contextual.

25
Harman, p.433-434
26
Schokel, p.1494.

14
Esse passo é de grande importância no nosso trabalho exegético, pois, por meio
dele, buscaremos definir o contexto deste salmo, a situação vivencial do salmo. E isso é
um elemento de suma importância para aquilo que nos propusemos alcançar por meio
deste trabalho exegético, buscando entender a intenção do autor deste salmo, com a
finalidade de uma leitura e compreensão mais profunda e fidedigna do texto.

A análise contextual será feita em duas etapas. No primeiro momento


analisaremos o contexto literário do salmo. Buscando perceber nesta análise conexões
intertextuais27 presentes no texto. Na segunda etapa, o nosso desafio será apresentar a
análise do contexto histórico, isto é, o momento social, histórico, político em que o
texto foi escrito. Isto dito, comecemos pela análise do contexto literário.

4.1. Contexto literário

A análise do contexto literário28 exige a identificação e análise do entorno


textual em que o texto em tela está inserido. No nosso caso, o salmo 126 faz parte de
uma coleção de 15 salmos (Do Salmo 120 até o 135), conhecidos por diversos nomes
dependendo da tradução bíblica e escola de interpretação. Alguns os chamam de
“cântico de romagem”29, outros de “cântico para os peregrinos a caminho de
Jerusalém”30, “canção das subidas”31, “salmos graduais”32.

Os editores da Bíblia do Peregrino que optam pela nomenclatura “salmos


graduais33” comentam que,

A maioria dos textos, com a fórmula “mudar a sorte”, se refere à


volta do desterro de Babilônia: Dt 30,3; oito vezes no bloco Jr
29,14-33,26. Parece bastante provável que o salmo expresse a

27
“Kristeva cunha, elabora e fixa o conceito de intertextualidade, dizendo que um texto é um conjunto de
enunciados, tomados de outros textos, que se cruzam e se relacionam ou que “todo texto se constrói como
um mosaico de citações, todo texto é absorção e transformação de um em outro texto” (A
intertextualidade na teoria literária e nos estudos bíblicos. Disponível em <http://www2.dbd.puc-
rio.br/pergamum/tesesabertas/0610542_10_cap_02.pdf> acesso em 18 de agosto de 2020)
28
Veja também em Salmo 14.7 53.6; 85.1,4 .
29
Na tradução da Almeida Revista e Atualizada.
30
Na tradução da Nova Versão Transformadora.
31
Na tradução da Bíblia Judaica Completa. Também na Bíblia de Jerusalém e na tradução do Novo
Mundo.
32
Na tradução da Bíblia do Peregrino.
33
Segundo o comentário da Bíblia do Peregrino, essa subida pode fazer alusão a “’subida do desterro’, ou
a subida da peregrinação, ou a subida pelos degraus da escadaria do templo. A subida mais razoável me
parece a de salmos de peregrinação: centrados em Jerusalém...o contexto festivo acolhe facilmente
sentimentos vários” (Bíblia do Peregrino, p.1170).

15
alegria pela volta do desterro na primeira repatriação, ou no
tempo de Neemias.34

Os editores da Bíblia de Genebra comentam que “ao que parece, pela tradição e
pelo conteúdo, esses salmos foram compostos para ser entoados pelos peregrinos
enquanto faziam uma peregrinação ao monte de Deus (Sião) para adorar”35.

O professor Cristofani Jr adota a nomenclatura “Cânticos das Subidas”. E ele


argumenta que esse conjunto de salmos está conectado pela temática que ele denomina
de Exodus Design. Que tem como o tema do livro do Êxodo (por isso a nomenclatura
Exodus Design) como um protótipo que conecta esses 15 salmos. É o tema da opressão
– travessia – prosperidade. Segundo o professor, essa temática não é apenas um padrão
no livro do Êxodo, mas um padrão que se repete em todas as Escrituras.36

Cristofani mostra que todos os salmos desta coleção lidam com essa temática
do protótipo do Êxodo. Por exemplo, “Abrindo a coleção, o Salmo 120 apresenta um
peregrino (ger – “estrangeiro residente”) em uma situação de opressão (aflição). Longe
de sua terra, este fiel convive com pessoas que odeiam a paz (v.6b) e que teimam pela
guerra, mesmo quando o salmista e pela paz (v.7)”37. Já o “Salmo 121 põe o liberto a
caminho. As alusões a caminhada no deserto, como trajeto necessário para a Terra
Prometida, são encontradas no verso 6 onde se lê: “De dia o sol não te ferira, nem a lua
de noite”38.

Em cada um dos salmos pode ser percebida essa temática do Êxodo. Pelas
limitações deste trabalho não será possível mostrar a conexão intertextual de cada destes
salmos da coleção com o salmo 126. Mas pela brilhante conexão demonstrada pelo
professor Cristofani, concordamos e subscrevemos essa intertextualidade. E passemos
agora para a análise do contexto histórico deste salmo.

4.2. Contexto Sócio-Histórico

O contexto sócio-histórico dos salmos se apresenta como um enorme desafio


ao trabalho do exegeta, haja a vista, as dificuldades com elementos como autoria, e data

34
Bíblia do Peregrino, p.1174.
35
Bíblia de Estudo Genebra, 2009, p.787
36
Mota, 2019, p.56
37
Ibidem, p.58.
38
Ibidem, p.59.

16
de composição dos mesmos. Com isto em consideração, o caminho mais promissor para
a análise que nos propomos a fazer é por meio da percepção dos temas tratados no
salmo. São esses temas que nos fornecerão pistas do período do salmo e assim nos
ajudar a compor o cenário sócio-histórico do mesmo.

Quem nos ajude a compreender este contexto é o autor Schokel, ele diz que,

A maioria dos textos em que aparece a formula referem-se a volta do


desterro da Babilônia; alguns desses textos acrescentam pormenores
que podem iluminar o SI 126; uns poucos referem-se a outras nações
ou a outras mudanças. (...)Concluindo, parece bastante provável que o
salmo expressa o gozo pela volta do desterro: na primeira repatriação,
ainda incompleta, ou nos tempos de Neemias. Depois o salmo fica
disponível para a repatriação da diáspora e para outras mudanças
transcendentais da sorte39.
Schokel, está em concordância com muitos outros autores, como é o caso de
Davidson40. Ele argumenta que,

Certamente pertence ao período quando o cativeiro babilônico havia


terminado e as esperanças dos fiéis tinham crescido quase até o êxtase,
ao preverem o mundo inteiro maravilhado por causa dá admirável
operação do Senhor. Não obstante, ao retornarem à sua terra natal,
tiveram de enfrentar as refratárias consequências de seu prolongado
exílio, na forma de cidades e campos desolados. A pressão do exílio
fora removida, mas o cativeiro deixara uma impressão, no ambiente
deles, que era inescapavelmente espantosa. A imagem agrícola da
segunda metade do cântico era peculiarmente relevante, embora
cobrisse muito mais que as dificuldades naturais do restabelecimento
de uma comunidade rural em torno de uma cidade arruinada. Em
primeiro lugar, os colonos sentiam escassez de alimentos por causa da
pobreza daquela área e a negligência em que fora deixada; pelo que a
semeadura de semente própria para alimento seria particularmente
difícil para aqueles que tinham seguido outras atividades na velha
cidade.41

Segundo este raciocínio, o contexto sócio-histórico deste salmo é aquele


narrado no livro de Esdras, no capítulo 1. Deus usando o rei da Pérsia, Ciro, para
restaura a sorte dos israelitas a sua terra. E não apenas isso, ordenando que recebessem
39
Schokel, 1998, p.1492
40

41
Davidson, 1980 p.10.

17
riquezas dos seus vizinhos, para essa empreitada42. Certamente isso só poderia ser uma
obra do Senhor. O próprio Ciro confessa isso 43. Mas agora essas pessoas que voltaram
têm de lidar com novos desafios. Que desafios são estes? O castigo da terra seca por
falta de chuvas, como castigo Divino, por causa da negligencia para com a reconstrução
do templo em detrimento dos próprios interesses, como a reconstrução das próprias
casas. Lellis44 faz essa abordagem de maneira mais profunda, que a que podemos
apresentar aqui. E concordamos com essa perspectiva

Neste passo apresentamos o contexto literário e o contexto sócio-histórico.


Existem posições divergente a respeito do texto histórico deste salmo, mas optamos por
aquele que entendemos ter mais subsídios literários. No próximo passo apresentaremos
uma releitura deste salmo com base nos resultados exegéticos que obtivemos nos passos
anteriores.

5. RELEITURA

No passo anterior apresentamos o contexto literário e o contexto histórico do


salmo 126, com o objetivo de captarmos o Sitz im laben (“situação vivencial”) deste
42
Morton, 2010, p.1841
43
Esdras 1.1-4.
44
Lellis, 2017, p.10. O autor acrescenta ainda que, Esta pesquisa propõe desenvolver o contexto
histórico-social do salmo em tela que, aqui se acredita, fora escrito no período entre 350-300 a partir de
memórias oferecidas pela tradição campesina sob o domínio persa (após – e não logo após – o edito de
Ciro, de 538; cf. Esdras 6.1-5). Essas memórias registrariam que aqueles que retornaram do exílio e se
uniram aos demais no campo, passaram por dois estágios negativos: a) sofreram o período de estiagem e;
b) foram atingidos diretamente pela política (econômica) persa3 em que Judá deveria se concentrar na
produção de vinho e azeite (como outros povos subjugados haveriam de focar em diferentes cultivos na
terra), o que prejudicaria os que viviam da cultura do cereal4 – o caso dos deportados. A esperança desses
agricultores não se traduziria além da possibilidade de poder continuar produzindo para subsistência e,
com isso, louvando a Deus com a entrega da colheita no Templo (p.4-5)
Kraus, analisando o contexto histórico-social, aponta a seca.21 Resta saber se o entendimento sobre a
seca, na concepção do salmista, é resultado da influência da teologia sacerdotal, onde seria necessário
manter fidelidade a Iahweh para receber o dom da chuva.22 Por esta plataforma, a seca estaria ligada ao
penoso trabalho que simboliza a condenação dada pela literatura sacerdotal de Gn 3.18- 19? O que se
sabe é que o povo deveria pedir pela “intervenção divina que dará fertilidade à terra (v. 4). (p.8)
Aqui encontra-se o cerne da questão: grande parte dos que chegavam em Jerusalém era instalada em vilas
agrícolas tendo contato com os remanescentes. Ou seja, os que retornaram da Babilônia e que mexiam
com o cultivo de cereais “se misturaram com os que haviam permanecido durante o exílio”;37 na visão de
Liverani “foram agregados [...], mas em posição marginal” (p.10)
No livro de Ageu, o templo é descrito como obra de maior importância, que excede até mesmo o zelo pela
construção do próprio lar – o que, na visão do escritor deste livro, a falta de atenção para com o Santuário
é a razão pela qual o povo passa por dificuldades. Aqui estaria, portanto, na visão sacerdotal, a razão
porque Iahweh reteria as chuvas (p.11)

18
salmo. O passo anterior, assim como todos outros foram uma preparação para o presente
passo. O 5º e último passo, diz respeito a atualização ou o que poderíamos chamar de
uma aplicação da exegese ao nosso contexto atual. E o tipo de atualização que
escolhemos é um breve estudo do salmo em tela.

A título de introdução, creio que este salmo é bastante propício ao momento


que estamos atravessando no mundo inteiro, como consequência da pandemia do Covid-
19. Essa pandemia instalou no mundo inteiro aquilo que tem sido chamado de novo
normal. É um novo normal que tem produzido choro por causa das mortes que tem
ocasionado, por causa dos estragos psicológicos, espirituais e econômicos e muito mais.
Creio que este salmo nos traz acalento diante deste cenário posto.

Os hebreus no contexto deste salmo, foram obrigados a experimentarem um


novo normal. Longe da vida que eles estavam acostumados, foram obrigados a se
afastarem daquilo que lhes era familiar, suas famílias, suas ocupações profissionais,
suas responsabilidades religiosas, seus planos de curto, médio e longo prazo, amigos,
parentes, enfim, tudo que lhes era normal. E agora eles tinham diante deles um novo
normal posto.

Este salmo nos abre uma janela para a realidade da caminhada do povo de
Deus neste mundo. A vida cristã acontece numa constante tensão. E que tensão é esta?
É a tensão de que já fomos salvos, mas ainda seremos salmos, já somos justos mas ainda
somos pecadores, já somos santos, mas ainda seremos plenamente santificados. Já
fazemos parte do Reino de Deus, mas aguardamos pelo Reino de Deus. Pensando nisso,
proponho o seguinte tema, “Vivendo entre o já e o ainda não”.

1. A restauração já realizada vv1-3

O salmo começa dizendo “Quando o Senhor restaurou a sorte de Sião, ficamos


como quem sonha” (v1). Eu compreendo que essa expressão diz respeito a restauração
dos judeus que tinham sido levados ao exílio babilônico. Esta restauração se deu no
período de Ciro. O exílio foi uma expressão da disciplina de Deus por causa do
pecaminosidade desse povo. No exílio eles perderam sua liberdade, se tornaram
escravos. Esse era o novo normal posto diante deles.

19
Mas, de maneira tremenda, Deus mudou a sorte deles. Deus fez uma poderosa
reviravolta nessa situação. E o choro se tornou em riso, um pranto em festa. E esta
restauração produziu dois resultados. E, creio que estes dois resultados, se aplicam ao
povo de Deus em todas as épocas e etnias:

1.1. Alegria

No v2a o texto diz, “Então, a nossa boca se encheu de riso, e a nossa língua,
de jubilo”. A alegria produzida em seus corações foi fruto da restauração realizada pelo
Senhor. A verdadeira e real alegria é experimentada na restauração produzida por Deus.
A mudança de sorte é experimentada por aqueles que são alvos da ação Salvífica de
Deus. Essa mudança de sorte produz alegria incomparável. Todos aqueles que fazem
parte do povo de Deus, um dia tiveram a sua sorte mudada pela ação redentora de Deus.
A morte e a ressurreição de Jesus é a obra que mudou eternamente a nossa sorte e é
nessa realidade que consiste a alegria incomparável do povo de Deus.

1.2. Testemunho

O segundo resultado que a restauração produz é o testemunho. O verso 2b diz,


“então, entre as nações se dizia: Grandes coisas o SENHOR tem feito por eles”. Os
atos redentores de Deus foram conhecidos entre as nações que não temiam o Deus de
Israel. O testemunho fala do grande poder de Deus, capaz de redimir o seu povo e fala
da graça de Deus, que se agrada em conceder o seu favor, ao seu povo, apesar dos seus
pecados contra Deus. O povo de Deus é chamado a testemunhar os atos redentores de
Deus na história.

2. A restauração ainda não realizada vv4-6

Apesar da restauração da sorte e retorno do cativeiro, esses israelitas que


voltaram estavam passando por sérias dificuldades. A luta do solo árido, a luta do
doloroso trabalho da semeadura. Apesar da restauração inicial, essa restauração não era
plena e definitiva. Por isso o verso 4 diz, “Restaura, Senhor a nossa sorte, como a
torrentes do Neguebe”. Apesar da restauração já realizada, o povo de Deus ainda precisa
de restauração. Uma restauração definitiva e plena. O povo de Deus vive nessa
intersecção, entre a primeira restauração já realizada e a restauração definitiva

20
aguardada. E há três maneiras de aguardar por essa restauração futura que nos é
ensinada por este salmo.

2.1. Em Oração

O salmista faz um pedido a Deus, “Restaura Senhor a nossa sorte”. Essa frase
caracteriza uma oração. A oração é a atitude daqueles que reconhecem que não se
bastam para mudar a sua própria sorte, e por isso precisam da ajuda Divina e buscam
nEle a restauração da sua sorte. “O Neguebe fica na região sul de Israel, onde a terra e
extremamente árida e os rios são sazonais. Quando vem as chuvas, porém, os rios
transbordam, as plantas florescem e a terra se cobre de verde. As plantações voltam a
produzir alimentos para o povo”.45

2.2. Em Serviço

No verso 5 e 6 o texto diz, “Os que com lágrimas semeiam com júbilo ceifarão.
Quem sai andando e chorando, enquanto semeia, voltará com jubilo, trazendo os seus
feixes”. Enquanto os israelitas aguardavam a restauração da sorte, eles trabalhavam,
semeando. Não se aguarda de braços cruzados, a maneira de esperar a mudança de sorte
é fazer o que está ao alcance, semear. Trabalhar.

2.3. Em Esperança

E finalmente, o Gran finale do salmo, é que a oração e o trabalho do povo de


Deus não são vãos, eles serão recompensados. O trabalho da semeadura deve ser
movido pela esperança da colheita futura, no v5 “com jubilo ceifarão” e no v6 “voltará
com jubilo trazendo seus feixes. Esse é o papel da esperança, ela produz fé,
engajamento no presente, por causa do olhar esperançoso na restauração futura. A
esperança que nos lembra que o toda lágrima e esforço no presente não é vão, e não será
sempre assim. Há dias de semear com lágrimas sim, mas essa estação não é definitiva,
porque o futuro em Deus sempre reserva uma colheita com jubilo. Essa é a esperança do
povo de Deus.

Este salmo nos consolar com fato de que temos um Deus que o Deus que
mudou a nossa sorte no passado, é poderoso e gracioso para mudar a nossa sorte diante

45
Adeyemo, 2010, p.753.

21
das nossas aflições no tempo presente e um dia Ele mudará a nossa sorte
definitivamente e eternamente, quando cumprir todas as suas promessas.

Neste último passo, nós apresentamos uma possível atualização do salmo 126
com base nas conclusões exegéticas que apresentamos nos passos anterior. E esperamos
com isso que este trabalho traga algum insight para os que desejam se aprofundarem na
compreensão deste salmo e que abençoe o povo de Deus.

A Atualização é a CONCLUSÃO da exegese!!

Inicie com uma frase de ligação ao resto do trabalho, assim:

Tendo analisado o texto do salmo TAL, o que nos resta de trabalho, neste passo, é fazer
a transposição do seu sentido de então para o hoje.
A enfática mensagem do salmista ressoa até nossos dias e, para ouvi-la, vamos
apresentá-la em forma de (aqui você escolhe a forma: Sermão ou Estudo bíblico).
OBS: SÓ VOU CORRIGIR ESTE PASSO DEPOIS DE TODAS AS CORREÇÕES
FEITAS, POIS AS CORREÇÕES PODEM MODIFICAR O QUE VOCÊ ESCREVEU
COMO ATUALIZAÇÃO!!!!!

 Falta uma boa revisão do português e da digitação

 Agora vamos juntar todos os passos, corrigi-los e entregar

 ORIENTAÇÕES PARA ENTREGA FINAL (VALE COMO PROVA)

1. Faça a correção de cada passo, conforme correções e orientações;

2. Faça um BOA revisão de linguagem e digitação em todo o trabalho;

3. Junte todos os passos e coloque na metodologia da Escola (capa, folha de rosto etc)

4. Organize a sua exegese da seguinte forma:

 Estrutura da Exegese Final

Introdução – Motivação de ter escolhido o Salmo

22
1. Tradução – Comparação de Traduções

2. Gênero Literário

3. Análise Semântica

4. Análise Contextual – Contexto Literário e Histórico

Conclusão – Atualização do texto

Bibliografia

Conclusão – Atualização do texto Fazer a Conclusão


Pode ser: Um sermão ou um Estudo Bíblico

23
BIBLIOGRAFIA

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<http://www2.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/0610542_10_cap_02.pdf> acesso
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PEREGRINO, Bíblia do. Disponível em:


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