Exegese Final
Exegese Final
Exegese Final
São Paulo
2020
1
ISAAC DIZOLELE MAUNGUDI
Trabalho apresentado em
cumprimento às exigências
da disciplina Exegese do AT
do Curso Livre de Teologia
EAD FECP, ministrada pelo
facilitador José Roberto
Cristofani.
São Paulo
2020
2
SUMÁRIO
Introdução..........................................................................................................................4
1. Tradução................................................................................................................4
2. Gênero literário......................................................................................................8
3. Análise semântica................................................................................................11
4. Análise
contextual................................................................................................14
3
INTRODUÇÃO
4
idiomas originais do salmo 126, antes, a tradução será resultado das escolhas pessoas
entre as traduções comparadas.
Salmo 126
Verso 1
Quando Iahweh fez voltar os exilados de Sião, ficamos como quem sonha (BJ)
Quando o Senhor mudou a sorte de Sião, parecíamos sonhar (BP)
Quando o Senhor restaurou a sorte de Sião, ficamos como que sonha (ARA)
Verso 2
a boca se nos encheu de riso, e a língua de canções... Até entre as nações se comentava:
“Iahweh fez grandes coisas por eles!” (BJ)
nossa boca se enchia de risos, de júbilo a língua. Até os pagãos comentavam: “O Senhor
foi grande com eles”. (BP)
Então, a nossa boca se encheu de riso, e a nossa língua, de júbilo; então, entre as nações
se dizia: Grandes coisas o SENHOR tem feito por eles. (ARA)
Verso 3
Iahweh fez grandes coisas por nós, por isso estamos alegres. (BJ)
O Senhor foi grande conosco, e celebramos festa. (BP)
Com efeito, grandes coisas fez o SENHOR por nós; por isso estamos alegres (ARA)
Verso 4
Iahweh, faze voltar nossos exilados, como torrentes pelo Negueb! (BJ)
Muda, Senhor, a nossa sorte, como as torrentes do Negueb. (BP)
Restaura, SENHOR, a nossa sorte, como as torrentes no Neguebe (ARA)
Verso 5
Os que semeia com lágrimas, ceifarão em meio a canções. (BJ)
Os que semeiam com lágrimas colhem com júbilo. (BP)
Os que com lágrimas semeiam com júbilo ceifarão. (ARA)
Verso 6
5
Vão andando e chorando ao levar a semente; ao voltar, voltam cantando, trazendo seus
feixes. (BJ)
Indo, ia chorando, levando a sacola de semente; voltando, volta cantando, trazendo seus
feixes. (BP)
Quem sai andando e chorando, enquanto semeia, voltará com jubilo, trazendo os seus
feixes. (ARA)
Conforme podemos observar na comparação destas versões, no que diz
respeito a concordância entre as versões, elas apresentam bastante similaridades. Não
são idênticas, mas, muitas das expressões adotadas pelos tradutores são muito próximas.
No que diz respeito as discordâncias, a principal e mais relevante discordância que
podemos destacar está no verso 1 e 4. Enquanto a BJ traduz, “Quando Iahweh fez
voltar os exilados de Sião”, a BP traduz, “Quando o Senhor mudou a sorte de Sião”, já
a ARA traduz, “Quando o Senhor restaurou a sorte de Sião”.1
1
Grifo nosso.
2
Bíblia de Jerusalém, p.1094 (Nota de rodapé).
3
Grifo nosso.
4
Bíblia do Peregrino, p.1174 (Nota de rodapé).
6
Não pode haver dúvida de que a experiência no exílio foi algo amargo
para o povo hebreu (cf. SI 137). Mas a restauração à pátria trouxe
intensa alegria. Embora o povo não pudesse cantar em Babilônia (SI
137.1-6), quando foram trazidos de volta a Judá entoaram "cânticos de
alegria" (v. 2). Este salmo expressa algo da maravilha do qul' Deus
fizera por seu povo. Há muitas semelhanças entre este salmo e o
Salmo 85, bem como a profecia de Joel. Como no Salmo 85, este
tc111 os mesmos dois aspectos em vista restauração passada e um
apelo por mais livramento. Seguindo o decreto de Ciro em 537 a.C.,
alguns dos exilados c111 Babilônia voltaram a Jerusalém. O
fundamento do segundo templo fora lançado com uma mistura de
pranto e alegria (Ed 3 .13). Deus havia soerguido a Ciro para este
exato propósito (ver Is 44.25.7), e através dele efetuou o regresso do
povo.
Por outro lado nós também temos bons argumentos sustentando a mudança de
sorte como uma fórmula abrangente e não especificamente relativo ao cativeiro
Babilônico. Kidner, por exemplo diz que,
5
Alonso Schokel, p.1492
6
Derek Kidner, 1981, p.450
7
Tokunboh, 2010, p.752.
7
atualizada usam a expressão “Muda a nossa sorte” e “Restaura a nossa sorte”
respectivamente, de modo mais abrangente.
Nós optamos pela primeira opção por causa dos elementos contextuais que
discutiremos posteriormente, de maneira mais detalhada. Com base nessa comparação a
nossa tradução ficou da seguinte forma:
2. GÊNERO LITERÁRIO
8
2.1. Definição
2.2. Classificação
Para Sellin este é um salmo de lamento coletivo (LC). Ele não dá detalhes da
razão pela qual ele chegou a essa conclusão. Ele apenas fornece essa informação.9
Também o faz Norman K. Gottwald. Ele usa a expressão “Lamentações comunais”.
Este autor diz que este gênero de Salmos (12, 44, 58, 60, 74, 79, 80, 83, 85, 90, 108,
123, 126, 137, 144,), era próprio das seguintes ocasiões,
8
Stadelmann, 1998, p.423
9
Sellin, 2007, p.404.
10
Gottwald, 1988, p.367.
9
Ao classificar este salmo como uma lamentação coletiva, os autores que assim
o classificam, parecem estar enfatizando a segunda parte do salmo, do verso 4-6, que se
revela mais claramente na forma de lamento, observe, “Restaura, SENHOR, a nossa
sorte, como as torrentes do Neguebe. Os que semeiam com lágrimas colhem com júbilo
Quem sai andando e chorando, enquanto semeia, voltará com júbilo, trazendo seus
feixes”. Estes versos sem dúvida, nos descrevem um contexto de lamento.
Portanto apesar deste salmo ser classificado de maneira genérica como salmo
de lamentação coletiva, a lamentação propriamente dita, diz respeito aos versos 4-6. Os
versos anteriores são ação de graças pelos livramentos que Deus realizou pelo seu povo
no passado. Portanto, a melhor classificação para este salmo é gênero misto, conforme
proposto por Tyler.13
10
3. ANÁLISE SEMÂNTICA
11
mudado por outro texto ou conjuntos de palavras. O texto como conjunto deve ser
analisado no contexto”17.
Esse conceito traz diversos nomes que apontam para a mesma coisa, ele é
chamado de eixo semântico, faixa de significado, campo semântico, semântica de
campo18, todos querem dizer a mesma coisa. Osborne explica que eixo semântico “não
apenas os vários significados que um termo em si possui em contextos diferentes, mas
os outros termos que com ele guardam relação” 19. Portanto o contexto interno do texto é
a chave para a análise do eixo semântico.
17
Ibidem, p.5.3
18
Osborne, 2009, p.129.
19
Ibidem, p.128.
20
Cristofani, Op. Cit, p.53.
21
Ibidem, p.55.
12
Vejamos os eixos semânticos do salmo 126. Os principais são três.
Esse eixo sugere uma transformação não apenas da situação geográfica, mas
também da situação emocional, as lágrimas e tristezas transformadas em júbilo e
alegria.
O salmista usa essa expressão duas vezes, no verso primeiro “Quando o Senhor
restaurou a sorte de Sião” e no verso quatro, “Restaura, Senhor a nossa sorte”. No verso
1 ele se refere a um acontecimento do passado, verso 4, ele se refere ao presente. Ele faz
um pedido para que o Senhor restaure a atual situação deles, com base naquilo que ele
já fez no passado.
22
Harman, 2011, p.432
23
Schokel, 1998, p.1493
24
Lellis, 2017, p.4
13
mana leite e mel, onde desfrutavam de liberdade, paz, descanso e boas colheitas.
Restaurar a sorte é a restauração desse status quo.
Neste eixo semântico é nota-se que o autor faz uso de símile para se referir ao
período do exílio e a restauração. Harman diz que,
4. ANÁLISE CONTEXTUAL
25
Harman, p.433-434
26
Schokel, p.1494.
14
Esse passo é de grande importância no nosso trabalho exegético, pois, por meio
dele, buscaremos definir o contexto deste salmo, a situação vivencial do salmo. E isso é
um elemento de suma importância para aquilo que nos propusemos alcançar por meio
deste trabalho exegético, buscando entender a intenção do autor deste salmo, com a
finalidade de uma leitura e compreensão mais profunda e fidedigna do texto.
27
“Kristeva cunha, elabora e fixa o conceito de intertextualidade, dizendo que um texto é um conjunto de
enunciados, tomados de outros textos, que se cruzam e se relacionam ou que “todo texto se constrói como
um mosaico de citações, todo texto é absorção e transformação de um em outro texto” (A
intertextualidade na teoria literária e nos estudos bíblicos. Disponível em <http://www2.dbd.puc-
rio.br/pergamum/tesesabertas/0610542_10_cap_02.pdf> acesso em 18 de agosto de 2020)
28
Veja também em Salmo 14.7 53.6; 85.1,4 .
29
Na tradução da Almeida Revista e Atualizada.
30
Na tradução da Nova Versão Transformadora.
31
Na tradução da Bíblia Judaica Completa. Também na Bíblia de Jerusalém e na tradução do Novo
Mundo.
32
Na tradução da Bíblia do Peregrino.
33
Segundo o comentário da Bíblia do Peregrino, essa subida pode fazer alusão a “’subida do desterro’, ou
a subida da peregrinação, ou a subida pelos degraus da escadaria do templo. A subida mais razoável me
parece a de salmos de peregrinação: centrados em Jerusalém...o contexto festivo acolhe facilmente
sentimentos vários” (Bíblia do Peregrino, p.1170).
15
alegria pela volta do desterro na primeira repatriação, ou no
tempo de Neemias.34
Os editores da Bíblia de Genebra comentam que “ao que parece, pela tradição e
pelo conteúdo, esses salmos foram compostos para ser entoados pelos peregrinos
enquanto faziam uma peregrinação ao monte de Deus (Sião) para adorar”35.
Cristofani mostra que todos os salmos desta coleção lidam com essa temática
do protótipo do Êxodo. Por exemplo, “Abrindo a coleção, o Salmo 120 apresenta um
peregrino (ger – “estrangeiro residente”) em uma situação de opressão (aflição). Longe
de sua terra, este fiel convive com pessoas que odeiam a paz (v.6b) e que teimam pela
guerra, mesmo quando o salmista e pela paz (v.7)”37. Já o “Salmo 121 põe o liberto a
caminho. As alusões a caminhada no deserto, como trajeto necessário para a Terra
Prometida, são encontradas no verso 6 onde se lê: “De dia o sol não te ferira, nem a lua
de noite”38.
Em cada um dos salmos pode ser percebida essa temática do Êxodo. Pelas
limitações deste trabalho não será possível mostrar a conexão intertextual de cada destes
salmos da coleção com o salmo 126. Mas pela brilhante conexão demonstrada pelo
professor Cristofani, concordamos e subscrevemos essa intertextualidade. E passemos
agora para a análise do contexto histórico deste salmo.
34
Bíblia do Peregrino, p.1174.
35
Bíblia de Estudo Genebra, 2009, p.787
36
Mota, 2019, p.56
37
Ibidem, p.58.
38
Ibidem, p.59.
16
de composição dos mesmos. Com isto em consideração, o caminho mais promissor para
a análise que nos propomos a fazer é por meio da percepção dos temas tratados no
salmo. São esses temas que nos fornecerão pistas do período do salmo e assim nos
ajudar a compor o cenário sócio-histórico do mesmo.
Quem nos ajude a compreender este contexto é o autor Schokel, ele diz que,
41
Davidson, 1980 p.10.
17
riquezas dos seus vizinhos, para essa empreitada42. Certamente isso só poderia ser uma
obra do Senhor. O próprio Ciro confessa isso 43. Mas agora essas pessoas que voltaram
têm de lidar com novos desafios. Que desafios são estes? O castigo da terra seca por
falta de chuvas, como castigo Divino, por causa da negligencia para com a reconstrução
do templo em detrimento dos próprios interesses, como a reconstrução das próprias
casas. Lellis44 faz essa abordagem de maneira mais profunda, que a que podemos
apresentar aqui. E concordamos com essa perspectiva
5. RELEITURA
18
salmo. O passo anterior, assim como todos outros foram uma preparação para o presente
passo. O 5º e último passo, diz respeito a atualização ou o que poderíamos chamar de
uma aplicação da exegese ao nosso contexto atual. E o tipo de atualização que
escolhemos é um breve estudo do salmo em tela.
Este salmo nos abre uma janela para a realidade da caminhada do povo de
Deus neste mundo. A vida cristã acontece numa constante tensão. E que tensão é esta?
É a tensão de que já fomos salvos, mas ainda seremos salmos, já somos justos mas ainda
somos pecadores, já somos santos, mas ainda seremos plenamente santificados. Já
fazemos parte do Reino de Deus, mas aguardamos pelo Reino de Deus. Pensando nisso,
proponho o seguinte tema, “Vivendo entre o já e o ainda não”.
19
Mas, de maneira tremenda, Deus mudou a sorte deles. Deus fez uma poderosa
reviravolta nessa situação. E o choro se tornou em riso, um pranto em festa. E esta
restauração produziu dois resultados. E, creio que estes dois resultados, se aplicam ao
povo de Deus em todas as épocas e etnias:
1.1. Alegria
No v2a o texto diz, “Então, a nossa boca se encheu de riso, e a nossa língua,
de jubilo”. A alegria produzida em seus corações foi fruto da restauração realizada pelo
Senhor. A verdadeira e real alegria é experimentada na restauração produzida por Deus.
A mudança de sorte é experimentada por aqueles que são alvos da ação Salvífica de
Deus. Essa mudança de sorte produz alegria incomparável. Todos aqueles que fazem
parte do povo de Deus, um dia tiveram a sua sorte mudada pela ação redentora de Deus.
A morte e a ressurreição de Jesus é a obra que mudou eternamente a nossa sorte e é
nessa realidade que consiste a alegria incomparável do povo de Deus.
1.2. Testemunho
20
aguardada. E há três maneiras de aguardar por essa restauração futura que nos é
ensinada por este salmo.
2.1. Em Oração
O salmista faz um pedido a Deus, “Restaura Senhor a nossa sorte”. Essa frase
caracteriza uma oração. A oração é a atitude daqueles que reconhecem que não se
bastam para mudar a sua própria sorte, e por isso precisam da ajuda Divina e buscam
nEle a restauração da sua sorte. “O Neguebe fica na região sul de Israel, onde a terra e
extremamente árida e os rios são sazonais. Quando vem as chuvas, porém, os rios
transbordam, as plantas florescem e a terra se cobre de verde. As plantações voltam a
produzir alimentos para o povo”.45
2.2. Em Serviço
No verso 5 e 6 o texto diz, “Os que com lágrimas semeiam com júbilo ceifarão.
Quem sai andando e chorando, enquanto semeia, voltará com jubilo, trazendo os seus
feixes”. Enquanto os israelitas aguardavam a restauração da sorte, eles trabalhavam,
semeando. Não se aguarda de braços cruzados, a maneira de esperar a mudança de sorte
é fazer o que está ao alcance, semear. Trabalhar.
2.3. Em Esperança
Este salmo nos consolar com fato de que temos um Deus que o Deus que
mudou a nossa sorte no passado, é poderoso e gracioso para mudar a nossa sorte diante
45
Adeyemo, 2010, p.753.
21
das nossas aflições no tempo presente e um dia Ele mudará a nossa sorte
definitivamente e eternamente, quando cumprir todas as suas promessas.
Neste último passo, nós apresentamos uma possível atualização do salmo 126
com base nas conclusões exegéticas que apresentamos nos passos anterior. E esperamos
com isso que este trabalho traga algum insight para os que desejam se aprofundarem na
compreensão deste salmo e que abençoe o povo de Deus.
Tendo analisado o texto do salmo TAL, o que nos resta de trabalho, neste passo, é fazer
a transposição do seu sentido de então para o hoje.
A enfática mensagem do salmista ressoa até nossos dias e, para ouvi-la, vamos
apresentá-la em forma de (aqui você escolhe a forma: Sermão ou Estudo bíblico).
OBS: SÓ VOU CORRIGIR ESTE PASSO DEPOIS DE TODAS AS CORREÇÕES
FEITAS, POIS AS CORREÇÕES PODEM MODIFICAR O QUE VOCÊ ESCREVEU
COMO ATUALIZAÇÃO!!!!!
3. Junte todos os passos e coloque na metodologia da Escola (capa, folha de rosto etc)
22
1. Tradução – Comparação de Traduções
2. Gênero Literário
3. Análise Semântica
Bibliografia
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BIBLIOGRAFIA
Bíblia Judaica Completa: o Tanakh [AT] e a B’rit Hadashah [NT]. São Paulo: Vida,
2010.
Bíblia Sagrada: Nova Versão Transformadora. São Paulo: Mundo Cristão, 2016.
DAVIDSON, F. O Novo Comentário da Bíblia. 2.ed. São Paulo: Vida Nova, 1980.
24
GOTTWALD, Norman K. Introdução socioliterária à Bíblia Hebraica. São Paulo:
Edições Paulinas, 1988.
KIDNER, Derek. SALMOS 73 – 150. Introdução e Comentário aos Livros III a V dos Salmos. São
Paulo: Vida Nova e Mundo Cristão, 1981.
SELLIN, Ernest. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Ed. Academia Cristã
Ltda, 2007.
SCHOKEL, Alonso. Salmos II: Salmos (73-150). São Paulo: Paulus, 1998.
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