Sobre Ontens 2016 v2
Sobre Ontens 2016 v2
Sobre Ontens 2016 v2
www.revistasobreontens.site
ISSN 2176-1876
Editorial
EDITORES
Prof. André Bueno [UERJ]
Prof. Dulceli Tonet Estacheski [UFMS]
Prof. Everton Crema [UNESPAR]
COMISSÃO CIENTÍFICA
Prof. Carla Fernanda da Silva [UFPR]
Prof. Carlos Eduardo Costa Campos [UFMS]
Prof. Gustavo Durão [UFRRJ]
Prof. José Maria Neto [UPE]
Prof. Leandro Hecko [UFMS]
Prof. Luis Filipe Bantim [UFRJ]
Prof. Maria Elizabeth Bueno de Godoy [UEAP]
Prof. Maytê R. Vieira [UFPR]
Prof. Nathália Junqueira [UFMS]
Prof. Rodrigo Otávio dos Santos [UNINTER]
Prof. Thiago Zardini [Saberes]
Prof. Vanessa Cristina Chucailo [UNIRIO]
Prof. Washington Santos Nascimento [UERJ]
COMISSÃO EDITORIAL
Prof. Aristides Leo Pardo [UNESPAR]
Prof. Caroline Antunes Martins Alamino [UFSC]
Prof. Jefferson Lima [UDESC]
Summary:
With the fall of goods produced in the countryside in the fifteenth century, the
European internal market has undergone serious economic complications. To avoid
spending coming from the Middle goods negotiations, the Europeans needed to seek
alternative routes to find the way to the Indies. This research brings together some
reflections on the first expedition of Vasco da Gama, during the reign of King Manuel I
of Portugal , where the Portuguese arrived in Calicut in 1498. Specifically, we present
an analysis of the " Vasco da Gama Travel Diary " , which it was written by Alvaro Velho
who was on board navigation . This achievement was important for Portugal be able to
create a new trade route.
Keywords: Maritime Expansion; Vasco da Gama; Álvaro Velho .
Introdução:
7
Em 22 de janeiro seguiram pelo mar, onde avistaram uma terra muito
baixa, com altos arvoredos, onde mais adiante encontraram um rio, e
neste se estabeleceram por 32 dias. Depois de dois dias de estadia, dois
soberanos da terra foram vê-los acompanhados de um jovem que dizia já
ter visto navios grandes como aqueles. Neste local, vários homens
adoeceram durante o período em que ali residiam. "Os pés e mãos
inchavam, e as gengivas cresciam tanto sobre os dentes que não podiam
comer." (VELHO,1998:55) Neste relato, temos o primeiro registro durante
as grandes navegações de Escorbuto. No domingo 25 de fevereiro, eles
avistaram três pequenas ilhas (hoje Moçambique). A ilha de Moçambique
também foi descrita por Álvaro Velho:
Eram mercadores que negociam com mouros brancos, dos quais haviam
quatro embarcações instaladas naquele lugar. Negociavam ouro, prata,
tecidos, cravo, pimenta, gengibre, anéis de prata, com muitas pérolas,
aljôfar e rubis, que eram transportadas pelos mouros. Neste lugar da ilha,
estava um Senhor que eles chamavam de Sultão, que era como um vice-
rei, onde ele e o capitão-mor trocaram refeições e objetos. Um outro
contato com povos não europeus ocorreu no dia 11 de março. Nicolau
Coelho entrou em uma ilha, sendo bem recebido pelo senhor da terra,
pois pensavam que os navegantes eram turcos ou mouros: 8
No meio dessa tensão, depois de dois dias, veio uma almadia com quatro
pessoas, e como o capitão os recebeu com generosidade , todos os dias
seguintes, a cada dia que se passava, vinham mais pessoas para o navio.
Em 19 de agosto, vieram cerca de 25 homens, onde Vasco da Gama notou
que 6 deles eram honrados. Capturou ao todo 19 pessoas, mandando o
restante para a terra, com o objetivo de ter de volta os seus homens que
estavam presos em Calicute.
Quando o Samorim soube do ocorrido com os homens da sua terra,
mandou que chamasse Diogo Dias, onde o recepcionou muito bem, e
propôs que ele deveria ir de encontro com Vasco e mandar soltarem os
seus homens, pois poderiam estabelecer sua feitoria, mas deveria deixar
com ele Diogo Dias. Mandou também uma carta ao rei D. Manuel I: 14
Assim que Diogo retorna ao navio, o capitão decide não cumprir a ordem
de el-rei, devolvendo somente seis homens que estavam com ele, e
quando viu que não havia meios de recuperar a sua mercadoria decidiu
partir de volta para Portugal, levando o restante dos homens com ele.
Avisou para que aguardasse, pois ele esperava voltar em breve a Calicute
onde eles descobririam se os lusos eram ou não ladrões, como eram
acusados pelos mouros.
Vasco da Gama iniciou a viagem de regresso a 29 de agosto de 1498. No
dia seguinte, notaram que estavam sendo seguidos por cerca de 70
barcas, que ao irem de encontro ao navio, passaram a atirar com as suas
armas. O capitão e os outros também revidaram, ficando nisso por volta
de uma hora e meia. No entanto, começou a chover e acabou levando o
capitão e os seus homens para o mar, colocando fim a esse conflito.
Na viagem de ida, cruzar o Índico até à Índia com o auxílio dos ventos de
monção demorara apenas 23 dias. A de regresso, navegando contra o
vento, consumiu 132 dias, tendo as embarcações aportado em Melinde a
7 de janeiro de 1499. Nesta viagem cerca de metade da tripulação
pereceu, e muitos dos que sobraram foram severamente atingidos pelo 15
Referências:
ALVES, Daniel Vecchio. A Viagem Continua: As memórias reescritas de
Vasco da Gama. In: ______. O Bestiário como Representação da Memória
Em Peregrinação de Barnabé das Índias de Mário Cláudio. 2013. 223 f.
Dissertação (Mestrado em Letras). Programa de Pós-Graduação em Letras,
Universidade Federal de Viçosa. Viçosa, 2013.
BARROS, Amândio Jorge Morais Barros. O Porto e a construção dos navios
de Vasco da Gama. In:______. Estudos em homenagem ao Professor
Doutor José Marques, vol. 1, 2006. 131-141p.
CLIFF, Nigel. Guerra santa : como as viagens de Vasco da Gama
transformaram o mundo. Tradução Renato Rezende. São Paulo : Globo,
2012.
FONSECA, Luís Adão da . Vasco da Gama. O homem, a viagem, a época. 1.
ed. Lisboa: Expo 98, 1997. v. 1. 362p. 17
1
Artigo final da pesquisa de iniciação científica dada entre agosto de 2014 e julho de 2015 na
Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), com subsídio do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq) e orientação de Marco Antonio Stancik (DEHIS-UEPG).
2
Graduanda de bacharelado em História na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e integrante
do projeto de pesquisa continuada “História e Imagens: discursos imagéticos e representações”.
Resumen: La Primera Guerra Mundial (1914-1918) fue escenario de conflictos que se 2
extenderan de las unidades de poder institucionalizadas a lo campo de las ideas y
representaciones, construidas mediante el diálogo entre la realidad vivida y realidad
pensada. Estas representaciones no son discursos neutros ni la única verdad sobre el
pasado, ya que están sujetas a las intencionalidades de la coyuntura en que fueron
construidas. También configurarse a sí mismo como un campo de juego de la selección
de lo que se hablará / recordará y de lo que va a ser silenciado / olvidado. Sin
embargo, estas representaciones son valiosos medios de acceso a las diferentes
formas de pensar, sentir y actuar en el mundo. En este sentido, el discursos de género,
siendo estas la construcción sociocultural variable de las categorías femenino y
masculino, han renunciado a través de los enfrentamientos entre continuidades y
rupturas debido a una nueva caracterización de los roles sociales y las posiciones
adoptadas por los hombres y las mujeres. Por lo tanto, este estudio tiene como
propósito la análisis iconográfica y iconológica de las representaciones imaginistas
transportadas en postales francesas en ese contexto. El objetivo es entender la
construcción social del discursos de género expuestos por medio de la comunicación
no verbal.
Palabras clave: Tarjetas postales; Representaciones; Género.
Introdução
A Primeira Guerra Mundial, ocorrida entre 1914 e 1918, opôs o
mundo entre a Tríplice Entente (França, Grã-Bretanha, Rússia) e a Tríplice
Aliança (Alemanha, Itália, Império Austro-Húngaro), tendo como desfecho 3
que, por vezes, não são suscitadas e acessíveis aos pesquisadores através
de outros documentos. Deste modo, o seguinte estudo tem como objetivo
central a análise de imagens fotográficas presentes em cartões-postais
franceses veiculados no referido período e que discorrem sobre tal
temática com o propósito de compreender os modos de pensar, sentir e
agir nessa realidade.
Fontes e Metodologia
No período da Primeira Guerra Mundial a veiculação de cartões-
postais era um meio de comunicação que trazia como adendo imagens de
diversas temáticas. A imagem postada enquanto representação do social
expõe a relação entre o real vivido e o real pensado, apresentando em
entrelinhas o imaginário da época. Assim como todas as outras fontes
históricas, a representação não é neutra e nem a verdade única de um
contexto, pois está submetida às intencionalidades e discursos
particulares do contexto em que foi construída, sendo um vestígio de um
passado específico e meio de "compreender os mecanismos pelos quais
um grupo impõe, ou tenta impor, os valores que são os seus, e o seu
domínio.” (CHARTIER, 1990, p. 17).
Além de vestígios do passado, os cartões são o passado
selecionado para ser lembrado (MAUAD, 1996; STANCIK, 2013a). Aquilo
que é perenizado na representação traz a realidade segundo uma
perspectiva, cabendo ao historiador “identificar o modo como em
diferentes lugares e momentos uma determinada realidade social é 5
As representações do feminino
Com o início dos conflitos no ano de 1914, os movimentos
feministas, até então ocupados com a luta pelo direito ao sufrágio e a
igualdade política, tenderam a reverter suas ações, segundo um
patriotismo disseminado desde as instituições educacionais, ao apoio e
ordem social (BOURDÉ & MARTIN, 1983). Segundo as ativistas Marguerite
Durand e Jane Misme, o país precisava das mulheres, que para serem
dignas da cidadania que tanto almejavam tinham, muito mais do que
direitos, deveres para cumprir com a sociedade francesa (apud: THÉBAUD,
1993, p. 51). Enquanto isso, homens viam- se diante da oportunidade de
expressar valores morais e patrióticos de masculinidade, tão em voga
neste período da França.
O próprio presidente do Conselho de Ministros solicitou que as
camponesas substituíssem os homens nas colheitas (ISNENGHI, 1995, p.
86). De acordo com Françoise Thébaud (1993, p. 55) as atividades 8
Referências
RESUMEN: Este estudio tiene como objetivo a través del prisma de la relación de la historia
del cine analizar la relación entre el fútbol y la política en Brasil, especialmente en el período
de la dictadura militar (1964-1985), una relación que era poner de relieve el logro perdedor
Tri-Campeonato de la selección brasileña en la Copa del mundo celebrada en 1970 en
México, que contaba con una generación de grandes jugadores que encantó al mundo con
su estilo de juego. Sobre la base de los trabajos de cine "para enfrentar a Brasil" (1982),
Roberto Farías y "El año que mis padres se fueron de vacaciones" (2006), Cao Hamburger,
encontró que, aunque diferentes en las representaciones, y separados por más de dos
décadas, se complementan y se retratan el tiempo vivido en el país en los primeros años de
la fase que se conoce en la historia como "años de plomo", el régimen militar más brutal,
1
Especialista em História: Cultura, Memória e Patrimônio, pela UNESPAR/UV (2014), Historiador formado pela
mesma instituição (2014) e Bacharel em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo, pela Faculdade de
Filosofia de Campos – FAFIC, (2007). Contato: tidejor@gmail.com
representada por los generales "línea dura" que rigen la nación, Ernesto Geisel (1907-1996)
y Emilio Garrastazu Medici (1905-1985). A pesar del clima de terror, la euforia causada por el
tricampeonato y el "milagro económico", que forjó el crecimiento a expensas de la deuda
del país, tuvo en cuenta la gente, incluyendo allí, los dueños del poder, que capitalizan gran
popularidad entre los conquista del mundo, mientras que las familias fueron destruidas por
la acción del gobierno militar que la yuca, torturados y asesinados sin piedad a sus
oponentes y críticos, lo que produce heridas aún no han cicatrizado, el fútbol siguió
2
representando la fuerza y la identidad del pueblo brasileño.
PALABRAS CLAVE: cine. Historia. Fútbol. Dictadura militar
ABSTRACT: This study aims through the prism of Cinema History relationship analyze the link
between football and politics in Brazil, especially in the period of military dictatorship (1964-
1985), a relationship that was to highlight the achievement loser Tri-Championship for the
Brazilian team in the world Cup held in 1970 in Mexico, which boasted a generation of great
players who charmed the world with his style of play. Based on the film works "To face
Brazil" (1982), Roberto Farias and "The Year My Parents Went on Vacation" (2006), Cao
Hamburger, found that although different in representations, and separated by more than
two decades, they complement and portray the time lived in the country in the early years
of the phase which would be known in history as "years of Lead", the most brutal military
regime, represented by the generals "Hard Line" which governed the nation, Ernesto Geisel
(1907-1996) and Emilio Garrastazu Medici (1905-1985). Despite the climate of terror, the
euphoria caused by the Tri-Championship and the "Economic Miracle", which forged growth
at the expense of the country's debt, took people's account, including there, the owners of
power, which capitalized huge popularity with conquest of the world, while families were
destroyed by the action of the military government that cassava, tortured and killed
mercilessly his opponents and critics, thus producing wounds still have not healed, football
continued to represent the strength and identity of the Brazilian people.
KEYWORDS: Cinema. History. Soccer. Military dictatorship
INTRODUÇÃO
Desde o seu surgimento no Brasil em finais do século XIX, o futebol foi
um dos protagonistas da história brasileira, refletindo a sociedade em diversos
momentos e paulatinamente foi ganhando seu espaço e se consolidando como
“esporte nacional”, ao mesmo tempo em que foi construída a nossa própria
identidade cultural, por isso, ele não escapou de ser objeto de interesse de
governos e governantes, sejam eles de regimes autoritários ou democráticos,
todos souberam utilizar o poder do futebol ao seu favor.
Com o golpe militar de abril de 1964, que depôs o então presidente
João Goulart, o “Jango” e colocou no poder o Marechal Castelo Branco, o
primeiro dos cinco mandatários indicados pela cúpula militar, para comandar
os destinos da nação durante a Ditadura que durou duas décadas, o futebol foi
3
logo utilizado com fins propagandísticos do novo regime vigente e uma das
primeiras ações da Confederação Brasileira de Desportos (CBD) no período, foi
o cancelamento de uma partida amistosa contra a União Soviética, uma clara
tentativa do governo anterior de uma aproximação diplomática através do
esporte, o que de maneira nenhuma interessava aos militares.
Com o golpe, o presidente da entidade esportiva, João Havelange,
curiosamente foi mantido no cargo, diferentemente de ministros, governantes
e funcionários dos primeiros escalões do governo deposto, que foram
demitidos sumariamente e substituídos por pessoas alinhadas ao novo regime,
uma amostra de sua adaptação a novos sistemas políticos que o beneficiaria
pessoalmente e em contrapartida ao regime. Havelange seria eleito presidente
da Federação Internacional de Futebol (FIFA), em 1974, cargo que ocuparia até
1998. Foi em sua gestão na FIFA que o Brasil conquistou o Tri-Campeonato
mundial de futebol, na Copa de 1970, em gramados mexicanos, conquista esta
que soube ser muito bem aproveitada politicamente pelos militares.
Com o fracasso na Copa do Mundo da Inglaterra, em 1966, a primeira
das cinco que a seleção brasileira disputaria sob o regime ditatorial, as
cobranças e críticas por parte de torcedores e imprensa não pararam e visando
a próxima edição do mundial, em 1970, no México. Numa estranha estratégia
até hoje não muito bem explicada, a CDB colocou na direção técnica do
selecionado nacional, um de seus principais críticos, o radialista João Saldanha,
ex-treinador do Botafogo, declaradamente seu clube do coração e militante
comunista assumido.
Talvez por conta de sua popularidade e para acalmar a imprensa que
tanto atacava a seleção, Saldanha tenha sido o escolhido, e não decepcionou,
4
montando um time repleto de craques, obteve a classificação para o mundial
um ano antes da Copa e da chegada ao poder de Emílio Garrastazu Médici. Um
general “linha dura” e fanático por futebol, que bem soube utilizar a seu favor
as benesses do esporte para sua aproximação com os setores populares,
tornando-se “O torcedor nº 1 da Seleção” e após o êxito no México capitalizou
a vitória futebolística para fins propagandísticos de seu governo, associando a
vitória em campo, com o próprio modelo de país almejado pelos militares.
O cinema, enquanto agente histórico, não apenas ilustra os
acontecimentos, mas os recria, redimensionando os diversos contextos e
criando leituras distintas daquele momento e suas representações, nas mais
diferentes óticas e épocas, e é justamente essas visões que analisaremos neste
trabalho ao confrontar duas obras cinematográficas que retratam o mesmo
tema, a euforia da conquista do Tri-Campeonato em 1970, em meio ao período
mais repressivo da Ditadura Militar brasileira.
Com o aporte de uma revisão bibliográfica sobre o período trabalhado
e a teorização do uso do cinema na pesquisa Histórica, apontaremos
semelhanças e distanciamentos entre as obras: “Pra frente Brasil” (1982), de
Roberto Farias e “O ano em que meus pais saíram de férias” (2006), de Cao
Hamburger, separadas por mais de duas décadas o lançamento de uma para
outra, mas que retratam uma parte de nossa história recente que precisa ser
revisitada constantemente, para que não caia no esquecimento e que novas
perspectivas sejam expostas, e com elas, a respostas de novos (e velhos)
questionamentos.
FUTEBOL E DITADURA
5
7
“Certa vez, em Porto Alegre, um repórter perguntou a
Saldanha: “O Presidente Médici teria muita vontade de ver
o Dario no comando do ataque da Seleção. Por que você
não o coloca lá? E o treinador retrucou: “Quando o
presidente formou o seu gabinete, não me consultou, de
modo que para formar o meu time, não preciso perguntar a
ele”. Tal declaração teria custado o cargo a Saldanha.
(RAMOS, 1988, p. 36)
2
Radialista e torcedor fanático do Botafogo do Rio de Janeiro. Simpatizante declarado do comunismo e
membro do PCB. Faleceu em 12 de julho de 1990.
O país sede da competição, assim como o Brasil, também vivia um
regime ditatorial, igualmente marcado pela perseguição, prisão e
desaparecimento de opositores e críticos do governo, e dessa forma, ansiavam
pela conquista do primeiro título para o futebol argentino em Copas do Mundo.
8
A alta cúpula da CBD ordenou que o treinador colocasse no time titular
o jogador Roberto Dinamite, do Vasco da Gama, no lugar de Reinaldo, do
Atlético Mineiro, pois segundo afirma (GUTERMAN, 2009) o jogador poderia
ser um problema para o regime, já que comemorava seus gols com o punho
fechado e o braço erguido, símbolo do grupo marxista norte-americano
“Pantera Negra”, além de ter sido fotografado certa vez, com um livro de Lênin,
líder socialista soviético.
Porém, a ditadura argentina mostrou que não estava disposta a perder
a oportunidade de ser campeã do mundo em seus domínios, quando marcou a
partida entre Brasil x Polônia para algumas horas antes de Argentina x Peru,
pois os donos da casa saberiam exatamente por qual placar deveria vencer.
Com a vitória brasileira pelo placar de 3 a 1, os donos da casa teriam a
obrigação de derrotar os peruanos, já sem chances de avançar no torneio, por
no mínimo quatro gols de diferença. Em partida suspeita até os dias de hoje, a
Argentina venceu pelo elástico placar de seis a zero. A visita do presidente
argentino Jorge Videla ao vestiário peruano antes da partida e o fato do goleiro
da seleção peruana, Quiroga, ser argentino naturalizado, aumenta as suspeitas
de um resultado arranjado, que serviu para levar o time argentino para a
grande final contra a Holanda e assim conquistar seu primeiro título mundial de
futebol.
Sem perder uma partida sequer, os brasileiros ainda venceriam a Itália
por 2 a 1 e garantiria assim, o terceiro lugar na competição, o que levou o
treinador Coutinho a dizer que sua equipe era “A Campeã Moral” do torneio.
No Brasil, a situação piorava e o regime vigente começava a ficar cada
9
vez mais insustentável, levando os militares a se pronunciarem a favor de uma
abertura política “lenta, gradual e segura”, para garantir a manutenção da
ordem social existente.
Na última Copa do Mundo dos militares no poder, em 1982, na
Espanha, aconteceu uma grande onda de otimismo no país, já que a seleção
montada por Telê Santana era uma das melhores já vista, com Zico, Sócrates,
Falcão, Cerezo, Éder, entre outros craques e naquele mesmo ano ocorreriam
eleições diretas para governadores.
Tudo corria bem nos gramados espanhóis quando no dia 5 de julho, a
seleção dava adeus ao sonho do tetracampeonato (que chegaria somente 12
anos mais tarde), ao perder por 3 x 2 para a Itália, que levantou sua terceira
taça e igualou em número de títulos do Brasil.
Embalados pelo futebol arte apresentado na Espanha, a “Seleção
Canarinho” encantou o mundo com seu belo futebol, os militares acharam que
poderiam capitalizar a seu favor mais uma conquista brasileira nos gramados, e
se sustentar no poder apesar de mostrar-se cada vez mais agonizante.
Com a derrota na Copa e sem mais nenhuma popularidade, a Ditadura
caiu depois de findado o mandato do Presidente João Figueiredo e a eleição,
ainda indireta, pelo Colégio Eleitoral de Tancredo Neves, que não chegaria a
assumir o poder em razão de sua morte, mas que virava uma triste página da
história brasileira.
CINEMA E HISTÓRIA: FARIAS X HAMBURGUER
12
Em seu início, o cinema era desprezado pelos intelectuais e
pela elite que se proclamava culta, sendo até 1960,
desprezado também pela academia, mas as mudanças no
conceito de fonte histórica mudaram esta visão e hoje, o
filme tem direito de cidadania, tanto nos arquivos, quanto
nas pesquisas. (FERRO, 2010. p. 9).
CONCLUSÃO
FONTES
HAMBURGUER, Cao (Dir.). O Ano que meus pais saíram de férias, 2006
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, Paulo César. Eu não sou Cachorro, Não: Música Popular Cafona e
Ditadura Militar. Rio de Janeiro: Record, 2003
Áthyla Caetano1
1
Bacharel em Ciências Biológicas – UFES/Licenciado em Biologia – IFES/Especialista em Educação - IFES
Cláudia.
No documentário, Cláudia confidencia suas descobertas e fala das várias
formas de preconceito culminadas em agressões - físicas, psicológicas e
morais, sofridas ao assumir sua travestilidade. O cenário era inóspito, o
diretor destaca a Operação Tarântula, criada em 1987 pelo prefeito Jânio 2
Quadros, onde a polícia civil prendeu mais de 300 travestis sob a acusação
de transmitir aids.
Nessa mesma época, Wonder chocava ao aparecer nua na capa de uma
revista voltada ao público masculino heterossexual. E, não era a primeira
vez, Cláudia havia encenado o primeiro pornô brasileiro com uma travesti
no elenco – Sexo dos anormais, com direção de Alfredo Sternheim. Atuou
na peça O homem e o cavalo, dirigida por José Celso Martinez Corrêa e
participou de longas como O marginal e A próxima vítima. Cláudia Wonder
se torno performer e fez história na noite paulistana. Além de engajar-se
em defesa dos direitos LGBT. No filme, Cláudia aborda a transfobia dentro
da própria comunidade LGBT – provocadas por gays, lésbicas e bissexuais.
Cláudia aponta o advento da Aids – Peste gay, como causa do
recrudescimento da discriminação e da violência física contra travestis e
homossexuais na década de 1980.
O filme destaca a importância de Cláudia nas causas sociais das travestis e
transexuais, presidindo uma ONG localizada na esquina da Rêgo Freitas
com a Major Sertório, no centro de São Paulo.
O filme também revela a veia musical da multiartista que, nos anos 80, foi
vocalista das bandas de rock Jardim das Delícias e Truque Sujo.
Meu Amigo Cláudia conta ainda com depoimentos respeitosos de pessoas
que conviveram com a musa inspiradora, como José Celso Martinez Corrêa,
Glauco Mattoso, Sergio Mamberti, Grace Gianoukas, Leão Lobo, Leilah
Rios, Alfredo Sternheim, Kid Vinil, Edward MacRae, Reka, Ézio Fernandes
de Avilla entre outros. 3
REFERÊNCIA
PINHEIRO, D.; MENDONÇA, C.; SORO, D.; WERDESHEIM , B.; CHALABI, A.
Meu Amigo Cláudia. [Filme-vídeo]. Produção de Chica Mendonça, Daniel
Soro, Biba Werdesheim e Alexandre Chalabi, direção de Dácio Pinheiro.
São Paulo, Piloto Cine e TV, 2009. Digital, 87 minutos. Color. son.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=itkOf5BMflI>. Último
acesso em: 10 de jun. de 2016.
DA TRABALHADORA A ESTUPRADA: UM BREVE APANHADO
SOBRE A MULHER TUPINAMBA
Resumo
Refletir sobre as questões de gênero é algo que vai muito além do debate que
compreende a relação entre homens e mulheres na sociedade. Refletir sobre gênero é
fazer uma reflexão cultural e histórica, pois construções referentes ao feminino
diferenciam-se entre as culturas e alteram-se com o passar do tempo. Logo trabalhar
com gênero é também eleger um espaço, um tempo e uma cultura. Neste trabalho nos
norteamos principalmente pelo aspecto cultural da sociedade tupinambá no que se
refere às posições e significações atribuídas à mulher tupinambá. Para isso nos
apoiamos em duas principais obras de uma bibliografia especializada nos estudos
tupis. Buscando destacar as características e posições da mulher tupinambá nesta
cultura.
Palavras- Chave: Gênero; Mulher tupinambá; cultura.
Abstract
Reflect on gender issues is something that goes far beyond the debate that
understands the relationship between men and women in society. Reflect on gender is
to make a cultural and historical reflection, because the female related constructions
differ between cultures and change with the passage of time . Soon work with gender
is also elect a space, time and culture. In this work we are guided primarily by the
cultural aspect of Tupinambá society with regard to the positions and meanings
attributed to tupinambá woman. For this we rely on two main works of a specialized
bibliography in Tupi studies. Seeking to highlight the features and positions of
tupinambá woman in this culture.
Keywords : Gender; tupinambá woman; culture.
1
Carolyne do Monte De Paula, graduanda em Licenciatura em História-UPE. Colaboradora no Grupo de
Pesquisas Interdisciplinares em Formação de Professores, Política e Gestão Educacional/UPE.
Introdução
As questões de gênero tem sido alvo de diversos debates na
academia e de construções que ainda estão a se fazer nos campos
teóricos, visto que o tema constitui-se como relativamente novo. Os
debates tornam-se ainda mais calorosos quando se trata do debate no 2
2
Análise feita por Norvell em seu artigo: NORVELL,Jonh M.A brancura desconfortável das camadas
médias brasileiras. IN: Raça como retórica: a construção da diferença/ Organizadoras, Claudia Barcellos
Rezende e Yvonne Maggie. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 2001.p. 247-267.
A partir do texto de Beatriz é possível identificar as funções da
mulher, assim como a visão que os próprios tupinambás possuem de suas
mulheres.
A primeira função da mulher citada por Perrone-Moisés é
desempenhada ao amanhecer o dia, é a de reavivar o fogo que ficou aceso 6
3
Segundo a mitologia tupinambá anhagas são os espíritos de pessoas que morreram em um incêndio
que provocou a destruição do mundo, e esses espíritos vivem na terra atormentando os tupinambás.
4
O termo tribo aqui utilizado, não é sinônimo de etnia, conceito difundido por Melatti. Mas se aproxima
mais da ideia de grupo tribal, visto a diversidade cultural e a falta de homogeneização social entre as
populações indígenas no Brasil. Considera-se então a cultura compartilhada entre dialetos e língua,
Tupinambá, e o local habitado. SILVA, Kalina Vanderlei; São Paulo: SILVA,Maciel Henrique. Dicionário de
Conceitos Históricos. São Paulo: Contexto, 2005.p.409-410.
“A cerâmica é uma atividade cercada de cuidados e
restrições... Cada uma delas deve cuidar de queimar a
peça que fabricou para que não rache no cozimento,,
e também, posteriormente, com um pincel, da
delicada decoração de cor acinzentada sempre
diferente.” (PERRONE-MOISÉS,p.15).
7
visitantes. “Uma mulher traz, assim uma boa quantidade de farinha, e sai
satisfeita com algumas pulseiras e coisas coloridas... Outra entrega ao
visitante um cesto cheio de frutas .... Uma moça oferece um papagaio já
domesticado...(PERRONE-MOISÉS,p.17) São elas que mediam as trocas
realizadas entre os europeus e sua aldeia, aparecendo como um tipo de
cartão postal da mesma.
Do mesmo modo que elas entoam a canção lacrimosa, elas são as
responsáveis por carregar os mantimentos e utensílios necessários para o
empreendimento da guerra. Mas estas não acompanham os homens
guerreiros em sua saída para o ataque, estas ficam atrás e depois o
encontram no local combinado. Pois estas são a parte indefesa do grupo.
Assim como as crianças e os velhos, as mulheres compõe o quadro da
parte frágil dos Tupi. 5
Passemos agora para a análise na obra de Mussa. A obra que se
analisa aqui, intitula-se “Meu destino é ser Onça” mito Tupinambá
restaurado por Alberto Mussa com base em relatos de contemporâneos
aos tupi. A obra de Mussa se divide em duas partes, a primeira refere-se
ao mito reconstruído por ele, que compreende uma narrativa de
5
“Com seus cativos amarrados, e sujeitos a repetidos por golpes e ameaças verbais ao longo do
percurso, os guerreiros e suas mulheres, empreendem a viagem de volta. Chegam finalmente à aldeia,
na qual permaneceram, entrementes, uns poucos homens para defender as mulheres, crianças e velhos
de um eventual ataque inimigo. (PERRONE-MOISÉS,p.18)
cosmogonia, e a segunda ele analisa e comenta as fontes que foram
utilizadas para o trabalho.
A primeira vez que Mussa toca no assunto da mulher, é para falar
da mistura entre as mesmas e os europeus, assim afirma: “... as fontes
históricas são pródigas, explicitas e enfáticas em demonstrar que houve 9
6
Alusão ao mito de Adão e Eva. A narrativa bíblica inicia-se com a criação do mundo por Deus, Javé, o
Deus dos Hebreus2, e dentro dessa criação Ele cria o homem cheio de direitos e livre para desfrutar de
tudo do melhor da criação do seu criador exceto o fruto da árvore do conhecimento do bem e o do mal.
Nesse contexto Deus cria a mulher que surge num contexto totalmente diferente do homem.
Primeiramente a mulher não surge como fruto de uma inspiração de Deus, mas como fruto da
perspicácia de Deus que percebe que nãoé bom que o homem viva só, em vez de liberdade e soberania
na terra a mulher vem ao mundo subjugada marcada por uma funcionalidade, de auxiliar e
corresponder ao homem. ( Gênesis 2: 15-18)
um dia de caminhada encontra um homem que a convida para dormir em
sua oca, e, “aproveitando seu descuido, deitou ao lado dela e a
violentou... deixando-a grávida” (MUSA,2009, p.52)
Estes estupros constroem as tramas dentro da história, e acabam
sendo indicadores dos questionamentos, das angustias, das aflições e até 11
Considerações finais
Tanto o texto de Beatriz Perrone-Moisés que mostra o quanto a
mulher Tupinambá é cheia de afazeres, atividades tão importantes para o
funcionamento da aldeia, porém não equiparadas a guerra realizada pelos
homens. Assim como a violência que pode ser observada dentro da obra
de Mussa, a partir dos atos dos homens para com mulheres são
indicadores da posição social da mulher nesta sociedade. O que nos
remete a ideia de estratificação social.
É tanto quanto delicado tratar de uma aplicação dessa ideia na
sociedade Tupi. Segundo Oliveira “A estratificação social indica a
existência de diferenças, de desigualdades entre pessoas de uma
determinada sociedade. Ela indica a existência de grupos de pessoas
diferentes.” (OLIVEIRA, 1998,p.71), fica bem claro o quanto a ideia de
estratificação e mobilidade, isto é, “ mudança de posição social de uma
pessoa num determinado sistema de estratificação social.” (OLIVEIRA, 12
Referências Bibliográficas
CALDEIRA, Jorge (org.) Brasil: A história contada por quem viu. 1ed. São
Paulo: Mameluco,2008.
CARVALHO, Alexandre Flirordi. Educação e Imagens na Sociedade do
Espetáculo: as pedagogias culturais em questão. Educação & Realidade,
Porto Alegre, v. 38, n. 2, p. 587-602, abr./jun. 2013. Disponível em:
http://www.ufrgs.br/edu_realidade Acesso em: 15/03/2016.
CHARTIER,R A história ou a leitura do tempo. Belo Horizonte: Autêntica
Editora, 2009.
FERNANDES,João Azevedo. De Cunha a Mameluca: A mulher Tupinambá
e o nascimento do Brasil. João Pessoa: editora Universitária/UFPB,2003.
História dos índios no Brasil. Manuela carneiro de Cunha (org.). São
Paulo: Cia. Da Letras/ Fapesp/SMC-SP, 1998
MUSSA, Alberto. Meu destino é ser Onça. Rio de Janeiro: Record, 2009.
OLIVEIRA,Pérsio dos santos de. Introdução à sociologia. São Paulo: editora
Ática, 1998.
PERRONE-MOISÉS, Beatriz. A Vida nas Aldeias dos Tupis da Costa, in:
Oceanos nº42. Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos
Descobrimentos Portugueses, 2000.
SILVA, Kalina, SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de Conceitos Históricos.
São Paulo: Contexto, 2005.
14
O CAMPO POLÍTICO: AS DISPUTAS PELA LIDERANÇA DO
PARTIDO REPUBLICANO FEDERAL NO AMAZONAS EM 1910
RESUMO: 1
A presente pesquisa tem como tema: O campo político: as disputas pela liderança do
Partido Republicano Federal no Amazonas em 1910. O objetivo geral que se pretende
alcançar com o estudo da presente pesquisa é: compreender as disputas pela liderança
do Partido Republicano Federal no Amazonas em 1910, em que se utilizara a
perspectiva teórica de campo político de Pierre Bourdieu. Pode-se elencar alguns dos
periódicos que consultou-se em nossa pesquisa como: Correio do Purus, Correio do
Norte, Diário do Amazonas, A Notícia e Folha do Amazonas (estes com circulação e
funcionamento no Amazonas), estes jornais nos ajudam a visualizar a disputas políticas
em torno da liderança do Partido Republicano Federal no Amazonas, pois os mesmos,
funcionavam como órgãos propagadores de representação de visão social do mundo
dos grupos antagônicos. Entende-se que muito há para pesquisar sobre a temática que
de forma breve foi apresentada nestas páginas. Onde a leitura e análise crítica das
fontes, em especial os jornais que circularam no período em questão, nos permitem
compreender as disputas acirradas em torno dos cargos de liderança na política
amazonense, e dessa forma, levar ao conhecimento acontecimentos tão importantes
da História Política do Amazonas na primeira década do século XX.
PALAVRAS-CHAVE: Partido Republicano Federal no Amazonas. Representação de visão
social do mundo. Liderança e disputas. Antonio Bittencourt. Silvério Nery.
RESUMEN:
Esta investigación tiene como tema: El campo político: las disputas por el liderazgo del
Partido Republicano Federal en el Amazonas en 1910. El objetivo general de lograr con
el estudio de esta investigación es: entender las disputas por el liderazgo del Partido
Republicano Federal en el Amazonas en 1910, en el que se había utilizado la
perspectiva teórica del campo político de Pierre Bourdieu. Puede enumerar algunas de
las revistas consultadas en nuestra investigación como Purús electrónico, correo de
Norte, Diario de Amazon, La Hoja de Noticias y Amazon (éstos con el movimiento y el
funcionamiento de la Amazonia), estos periódicos nos ayudan vista las disputas
políticas en torno a la dirección del Partido republicano Federal en la Amazonia, ya que
funcionaban como Propagadores órganos de la visión social de la representación del
mundo de grupos antagónicos. Se entiende que hay mucho que investigar sobre el
1
Graduado em Licenciatura em História (UNIASSELVI). Especialista em Ensino de História pela Faculdade
de Educação e Tecnologia da Região Missioneira (FETREMIS). Mestrando em História (UFAM). Professor
tutor externo da UNIASSELVI do Curso de Licenciatura em História.
tema que se presentó brevemente en estas páginas. Donde la lectura y el análisis
crítico de las fuentes, especialmente los periódicos que circularon en el período en
cuestión, nos permiten comprender las amargas disputas sobre posiciones de liderazgo
en la política del Amazonas, y por lo tanto para informar a este tipo de eventos
importantes en la política de la historia Amazonas en la primera década del siglo XX.
INTRODUÇÃO
2
Ver seguintes obras: BITTENCOURT, Agnello. Corografia do Estado do Amazonas. Manaus: ACA-Fundo
Editorial, 1985; FEITOSA, Orange Matos. Sob o Império da Lei: o amanhecer da República no Amazonas
(1892-1893). Manaus: Laureate; Uninorte; Fundação Encontro das Águas, 2008; LOUREIRO, Antônio José
Souto. Síntese da História do Amazonas. Manaus: Imprensa Oficial, 1978; SANTOS, Eloína Monteiro dos.
A Rebelião de 1924 em Manaus. 2ª Edição – Manaus. SUFRAMA; Gráfica Lorena, 1990.
Uma obra de extrema relevância é O Poder Simbólico (1989), onde
no capítulo VII- A representação política: Elementos para teoria de um
campo, Pierre Bourdieu, fala sobre o campo do poder e o campo político,
em que demonstra como se estabelecem as visões de mundo que se
legitimam e se tornam autênticas e hegemônicas dentro da política, 4
5
Percebe-se, dessa forma, o Habitus como uma forma de
organização de percepção de mundo que ajuda a compreender o
comportamento dos indivíduos em nível de agrupamentos sociais e no
nível individual. É, além disso, uma experiência biográfica, em que ele
acaba dividindo a realidade social em classes, que possuem mecanismos
de distinção.
3
Silvério José Nery, natural do Amazonas, nasceu em Coari, a 8 de outubro de 1858, faleceu em
Manaus, a 23 de junho de 1934. Foi vereador municipal na monarquia, deputado estadual eleito várias
vezes na república, deputado federal, governador do estado, senador e chefe de partido. (Ver:
BITTENCOURT,1973, p. 458-462)
4
Antonio Clemente Ribeiro Bittencourt nasceu a 23 de novembro de 1853, faleceu em março de 1926.
Exerceu por 25 anos o cargo de diretor na Secretaria Geral da Província do Amazonas. Deputado
estadual em várias legislaturas e Govenador do Amazonas (1908-1912), além de chefe do Partido
Republicano Federal no Amazonas. (Ver: BITTENCOURT, 1973, p. 77-81)
entre os dois caciques, instituindo duas frentes. Uma liderada por Nery, a
outra por Bittencourt. A primeira representa a ortodoxia e a segunda a
heterodoxia.
24
Esta delegação de poder que o governador do Estado, Antonio
Bittencourt, acaba recebendo de diversos membros PRF no Amazonas, em
detrimento ao antigo líder do partido (Silvério Nery), põem sua
representação do mundo social como autêntica, hegemônica e legítima,
dentro da instituição, em que, de acordo com BOURDIEU:
5
Antonio Guerreiro Antony, nasceu no Amazonas, descendente do negociante italiano Henrique
Antony. Deputado estadual (1908-1912) e vice-governador (1913-1917). Foi chefe do Partido
Republicano federal. (Ver: BITTENCOURT, 1973, p. 251-254)
6
Antônio Gonçalves Pereira de Sá Peixoto, natural do Rio de Janeiro. Foi nomeado por Floriano Peixoto,
Juiz federal no Amazonas. Foi Deputado Federal, Senador e Vice governador do Amazonas (1908-1912).
(Ver: BITTENCOURT, 1973, p. 443-445)
anormal, a flagrante desconfiança que reina no seio
do próprio partido.
Agora mesmo o Sr. Dr. Sá Peixoto, digno vice-
governador do Estado, acaba de publicar no Jornal do
Commercio, justamente no dia em que o Diario do
Amazonas devia dar publicidade à chapa oficial, a 26
seguinte declaração:
‘Não devendo transigir em questão de princípios,
nenhuma ligação ou solidariedade mantenho com o
Directorio do partido político de que é presidente o Sr.
Coronel Guerreiro Antony. Manaus, 12 de setembro
de 1910. - A.G. P. Sá Peixoto’. (CORREIO DO PURUS,
Lábrea, 29 de setembro de 1910, ano: XIII, p. 2)
7
AMAZONAS. Mensagem do Governador do Estado do Amazonas Antonio Bittencourt de 10 de julho de
1911 à Assembleia Legislativa do Estado, em que expõe sobre o bombardeio de 1910.
8
O Partido Republicano Conservador no Amazonas possuía os seguintes membros: Presidente: Senador
Silvério Nery. Senador Jonathas pedrosa, Dr. A. G. Pereira de Sá Peixoto, Deputado Henrique F. Pena de
Azevedo, Deputado Aurelio Amorim, Deputado Antonio Nogueira, Coronel Affonso de Carvalho, Coronel
Hildebrando Antony, Coronel Joaquim Cardoso de Faria, Coronel Domingos José Andrade, Coronel
Manuel de Castro Paiva, Coronel Eduardo Felix de Azevedo, coronel José Maria Corrêa, coronel Rozendo
Silva. (CORREIO DO PURUS, Lábrea, 17 de abril de 1911, ano XIV, nº sem identificação)
9
“Em 5 de novembro de 1910, Pinheiro Machado assinava em segundo lugar, após o nome de Quintino
Bocaiúva tão usado como fachada histórica, a convocação para fundar o partido*...+”. (CHACON,
Vamireh, 1998, p. 78)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
LUCA, Tânia Regina de. História dos, nós e por meio dos periódicos. In:
PINSKY, Carla Bassanezi (Org.). Fontes Históricas. São Paulo: Contexto,
2005. p. 111-153.
JORNAIS
FONTES OFICIAIS
BITTENCOURT, Antonio Clemente Ribeiro. Mensagem lida perante o
Congresso do Amazonas na Abertura da Segunda sessão ordinária da
sétima legislatura pelo exm. Snr. Governador do Estado em 10 de julho
de 1911. Manáos: Imprensa Official, 1911.
33
A TRAJETÓRIA DA PESQUISA E DO ENSINO DE HISTÓRIA
NO BRASIL ATÉ A PRIMEIRA REPÚBLICA
*
Mestranda em Ensino de História pelo Programa de Pós-graduação em Ensino de História da
Universidade Federal do Tocantins, sob orientação do Prof. Dr. Vasni de Almeida. Bolsista da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e professora da rede pública de
ensino no Estado do Pará. E-mail: daraujof@yahoo.com.br.
Abstract: This work deals with the history of education in Para during the first decades
of the twentieth century. It is a research field that slowly begins to be valued because
it puts the teaching of history as the center of the concerns of the intellectuals of the 2
area. It is known that for a long time, perhaps since the recognition of history as a
discipline in the nineteenth century, the professionals were concerned more with the
research methodology in history and about the assumptions underlying this "science"
than properly with "didactics of history." Thus, in all "historical current" questions that
guide historians are: what is history? What are your methods, procedures and
grounds? It is clear, however, that gradually the dichotomy between teaching and
research was being broken and historians began to ask, to teach history? This text aims
to analyze the trajectory of history as a school subject in Brazil in the First Republic
(1888-1930), revealing the role of official institutions of research in history, in
particular the Brazilian Historical and Geographical Institute (IHGB) and the Historical
Institute Geographic and Pará (IHGP) in the direction of the teaching of history.
Keywords: teaching of history; historiography school; First Republic.
Introdução
O século XIX se constituiu como um marco para a pesquisa e o
ensino de História. Foi o século de afirmação da História como ciência,
campanha empreendida, especialmente, pela escola metódica alemã, dita
positivista; no rastro desse evento foram criados os institutos oficiais de
pesquisa em História, em sua grande parte, vinculados com a área da 3
2
Segundo Fonseca (2003), o modelo proposto por Martius apresentava a formação do povo brasileiro a
partir da mistura de brancos, índios e negros. Mas, enfatizava o papel dos europeus no processo que
levaria o Brasil a se assentar entre as nações civilizadas.
Ensinaram à elite imperial, num período (1831-1840)
decisivo na definição dos rumos do processo de
consolidação da Monarquia constitucional, que a
História Nacional aparece no interior das grandes
nações, no processo civilizatório da humanidade. O
Brasil estava na linha do tempo da modernidade, no
processo de constituição das nações europeias ele é 8
descoberto e integrado ao mundo civilizado pelo
colonizador português (TOLEDO, 2005, p.07).
autor
disso,
3
De acordo com Cardoso (2013), o IHGP é criado nesse momento, mas permanece praticamente
inativo, dado o comprometimento de seus membros com outras atividades, sendo reinstalado apenas
em 1917. Esta última data permanece por algum tempo remetendo a fundação do instituto, pois
representava a necessidade da criação de um mito de origem ao apresentar a reinstalação do IHGP
como homenagem ao centenário da Revolução Pernambucana de 1817.
nacionalidade e valoração do patriotismo, assim como a obra italiana. De
acordo com Cardoso (2013, p.116) o livro de Amanajás
4
No Estado do Pará, conforme Silva (2011), apenas em 1954 foi criado o primeiro curso de graduação
em História, pela Universidade Federal do Pará.
dos membros do IHGP e na análise de manuais didáticos para desvelar os
caminhos da História escolar durante a Primeira República. Através de tal
trabalho se evidenciou a equivalência entre os objetivos para o ensino de
História que se tinha nas esferas federal e estadual, e também, que os
intelectuais paraenses se comportaram tais quais os seus pares do IHGB, 19
Referências
ABUD, Kátia. Currículo de História e políticas públicas: os programas de
História do Brasil na escola secundária. In: BITTENCOURT, Circe (org.). O
Saber histórico na sala de aula. São Paulo. Contexto, 2009.
Resumo
Este trabalho faz uma análise histórica de Júlio de Paula, antepassado de nossa família
e que teve uma relação direta com o primeiro ciclo da navegação a vapor entre os
anos de 1890 e 1910. A sua e a sua História com relação aos vapores era comentado
entre a nossa família, práticas da história oral que se seguia de geração a geração.
Porém ainda faltavam muitas provas ou evidencias para chegar a uma exatidão desses
relatos. Mas durante os últimos meses de 2016, encontramos importantes fontes que
relacionavam Júlio de Paula e a navegação. Antes se comentava que Júlio era um
“artífice” responsável pela manutenção ou montagem dos vapores, mas as fontes
comprovaram que Júlio de Paula era proprietário de dois vapores que navegavam no
Rio Iguaçu, o vapor “Brasil” e o “Cruzeiro”. As fontes encontradas datadas entre os
anos de 1900 e 1910 e deram um novo direcionamento histórico sobre a História de
Júlio de Paula. A obra “Vapores” de Arnaldo Bach (2006) também contribuiu para o
desenvolvimento desse trabalho. Este é ainda um trabalho inicial e o primeiro passo
na tentativa de reconstruir a trajetória Histórica de Júlio de Paula e a sua relação com
os vapores.
1
Graduado História pela Fafiuv; Especialista Em Gestão Pública Municipal –Unicentro Irati
Abstract
This work is a historical analysis of Júlio de Paula, ancestor of our family and had a
direct relationship with the first cycle of steam navigation between the years 1890 and
1910. Its history and its relationship with the vapor was discussed between our family,
practice of oral history that followed from generation to generation. But there were
still plenty of evidence or evidence to reach an accuracy of these reports. But during
the last months of 2016, we find important sources related Julio de Paula and
navigation. Before it was said that Julius was a "journeyman" responsible for the 2
maintenance or installation of vapor, but sources confirmed that Paula Julius was
owner of two steamers sailed the Iguaçu River, the steam "Brazil" and "Cruise". The
sources found dated between the years 1900 and 1910 and gave a new historical
direction on the History of Julio de Paula. The work "Vapors" Arnold Bach (2006) also
contributed to the development of this work. This is still an early work and the first
step in trying to rebuild the Historical trajectory of Julio de Paula and his relationship
with the vapors.
12
Iguaçu e que ele afirmava que um dos vapores denominado vapor Leão
navegava pelo Iguaçu noite adentro. Dizia meu pai; “o Vapor leão tinha
um grande farolete que clareava o rio”. Esses relatos e muitos outros
colaboraram para a construção da história da navegação do Iguaçu. Este
romantismo e a fascinação e a busca de espaço no contexto econômico na
qual esse vapores proporcionavam, trouxeram muitos empreendedores
para a navegação na região.
4 – O que ainda tem a História para nos revelar sobre Júlio de Paula?
O que se refere ano nosso antepassado Júlio de Paula ainda tem
muito para nos revelar sobre a sua trajetória de vida. Ainda não podemos
afirmar que este trabalho esta finalizado, e racional que muito se tem a
pesquisar sobre a sua trajetória com relação a navegação.
O objeto de estudo aqui é essencialmente o resgate histórico desse
personagem para além da oralidade, ou seja, relacionamos objetos dessa
oralidade com as fontes documentais encontradas até e que serviram
como elementos para a construção desse trabalho. Como Legoff (1990)
afirma a história não se apresenta apenas pela tradição oral pelas diversas 14
culturas, mas também pelos arquivos, documentos em geral que tratam
das trajetórias históricas do homem ou da sociedade.
Referências Bibliográficas
Resumo:
O presente trabalho tem como objetivo fazer uma reflexão a respeito do pensamento
católico conservador dos anos 20 do século XX no Brasil. Para isso, adentraremos o
tema através de uma discussão bibliográfica, percorrendo brevemente a parte da
história do catolicismo no Brasil que vai da segunda metade do século XIX ao início do
XX, com maior ênfase na década de 1920. Procuraremos tratar dos acontecimentos
políticos relevantes na conjuntura nacional para compreender os seus
desdobramentos na Igreja e a reação desta. Objetivamos realizar uma sucinta reflexão
a respeito das ações tomadas pelo catolicismo frente as transformações gestadas ao
longo da Primeira República, se debruçando com maior atenção na década de 1920, e
procurando refletir sobre as ações de reaproximação entre as duas esferas de poder, a
Igreja e o Estado brasileiro. Acima de tudo, buscamos entender como estabelecia-se e
como foi moldado, nesse processo, o pensamento católico. Observamos que ao longo
da década de 1920 o pensamento católico aprofundou-se em tradicionalismo e
conservadorismo. A partir dessas considerações, buscaremos nas considerações finais
sucintamente refletir a respeito das continuidades desse pensamento católico
conservador na atualidade.
Palavras-chave: Catolicismo; Conservadorismo; Tradicionalismo.
Abstract:
This study aims to reflect about the conservative Catholic thought of the 20s of the
twentieth century in Brazil. For this, we will enter deeply the theme through a
bibliographic discussion, briefly covering the part of the history of Catholicism in Brazil
that goes from the second half of the nineteenth century to the early twentieth, with
greater emphasis in the 1920s will seek to address the relevant political developments
in national situation to understand its consequences in the Church and the reaction of
this. We aimed to conduct a brief reflection on the actions taken by Catholicism across
the gestated transformations over the First Republic, leaning more attention in the
1920s, seeking to reflect on the actions of rapprochement between the two spheres of
power, the Church and the Brazilian State. Above all, we seek to understand how
established itself and how it was shaped in the process, the Catholic thought. We note
that throughout the 1920s the Catholic thought deepened in traditionalism and
1
Acadêmico de História na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).
conservatism. From these considerations, we will seek in the final considerations
briefly reflect on the continuities of this conservative Catholic thought today.
Referências bibliográficas
1
Isaias Holowate
2
Dones Claudio Janz Junior 1
Resumo:
O presente artigo faz um estudo da atuação do jornalista Hugo dos Reis na sociedade
ponta-grossense entre os anos de 1908 e 1921. Tendo vindo do Rio de Janeiro em
1908, ele atuou em Ponta Grossa junto ao jornal local O Progresso – depois Diário dos
Campos -, em diversas funções, sendo redator, diretor e posteriormente, proprietário
do jornal. No periódico, promoveu o surgimento de uma classe de colaboradores da
publicação, permitindo a presença de uma diversidade de representações sobre a
sociedade daquele período. Na pesquisa utiliza-se como fonte, as publicações dos
jornais O Progresso e Diário dos Campos e entre 1908 e 1921 e embasados pela teoria
das Representações do historiador Roger Chartier, analisa-se os sentidos produzidos
pelo jornalista sobre o meio social ao qual fez parte, compreendendo que as
representações são socialmente construídas e se relacionam com o ambiente social e
cultural em que seus signos são produzidos.
Palavras-chave: Representações; Relações sociais; Diário dos Campos.
Abstract:
The following article observes the work of the journalist Hugo dos Reis in the society of
the city of Ponta Grossa on the years between 1908 e 1921. Coming from Rio de
Janeiro in 1908, he worked on the local paper O Progresso – and after that in the
Diário dos Campos – in various assignments, being a drafter, director and soon after,
owner of the newspaper. He was responsible for bringing up a new class of
collaborators to the publication, allowing for a diversity of representations about the
society of that time period. In this research we use the publications of the newspaper
O Progresso e Diário dos Campos that were created in the time period between 1908
and 1921 as sources and we base our conjectures on the Theory of Representations of
the historian Roger Chartier by analyzing his impressions about the social ambient
where he was inserted, understanding that those representations are social constructs
and relate to the social and cultural ambient where their signs are reproduced.
Keywords: Representations; Social Relations; Diário dos Campos.
1
Graduado em História pela Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG. E-mail:
isaiasholowate@gmail.com.
2
Orientador. Mestre em História pela Universidade Estadual do Paraná - UFPR. Docente na Universidade
Estadual de Ponta Grossa – UEPG. E-mail: donesjanz@gmail.com.
Introdução
No ano de 1908, o jornalista carioca Hugo Mendes de Borja Reis
chegou a cidade de Ponta Grossa, no Paraná. Tendo fixado residência, ele
que já tinha experiência com o jornalismo no Rio de Janeiro, tratou de
ligar-se ao periódico local O Progresso – que depois se chamaria Diário dos 2
3
Espiritualismo científico é a uma corrente ideológica que atingiu boa parte da intelectualidade
brasileira no final do século XIX e início do século XX. Partindo do movimento Kardecista, teve
notoriedade na segunda metade do século XIX, após a morte de Allan Kardec, e a primeira metade do
século XX. Seus propagadores associavam o discursos espiritualista com científico e que deveria ser
compreendida no sentido estrito da palavra. Segundo Maldonado (2008, p. 11) “boa parte da
intelectualidade brasileira do século XIX interessou-se pela doutrina espírita e até mesmo converteu-se
a ela”.
se posicionou defendendo bandeiras relativas à melhoria da educação e
da saúde.
Uma das características da participação de Hugo dos Reis na
sociedade ponta-grossense, foi o seu rápido reconhecimento no meio
jornalístico local. Numa época de fortalecimento das profissões liberais, a 3
4
Nas citações de fontes, optou-se por realizar a transcrição literal das fontes, de forma a manter a
fidelidade da grafia e a historicidade dos termos do período estudado.
Luca (2011, pp. 111-153) aponta para os avanços na pesquisa em
jornais, que se tornaram uma importante fonte de pesquisa para diversas
áreas. Os documentos jornalísticos contém uma diversidade de
representações sobre seu tempo e apresentam uma variedade de
possibilidades de pesquisa, pois, tais documentos, além de serem uma 4
Reis, que também era poeta, foi aceito e começou a atuar como
redator literário, tornando-se pouco tempo depois, o redator do
periódico, onde no período entre 1908 e 1921, galgou as funções desde a
redação, até a direção, e após 1915, tornou-se proprietário da publicação,
onde se manteve até 31 de agosto de 1921.
Durante sua participação, o jornalista acompanhou os desafios e as
mudanças na sociedade e buscou refletir nas páginas da publicação,
envolvendo-se constantemente em debates políticos e sociais da Ponta
Grossa de sua época, tendo particicipado de diversas campanhas, como
pela fundação de uma agremiação de luta pelos direitos dos
trabalhadores, pela promulgação do espiritismo, pelo povoamento do
interior, e pelo reflorestamento da região, que já era alvo das indústrias
madeireiras.
Numa Ponta Grossa que até 30 anos antes fora típicamente
escravagista7, que mesmo após ser sancionada a lei da abolição de 1888,
7
De acordo com o historiador Magnus de Mello Pereira, que elaborou uma tabela sobre a situação da
sociedade paranaense com base no relatório do governador Zacarias de Góes e Vasconcelos, Ponta
Grossa possuía por volta de 1850, uma populaçãode 3.033 habitantes, dos quais 1.889 eram
considerados brancos e outros 1.144 eram compostos por pessoas considerados pardos ou pretos. Das
pessoas consideradas não brancas, 1.059 eram escravos, o que significa que, 92,57% da população não-
branca de Ponta Grossa era escrava (PEREIRA, 1996, pp. 53-54).
não havia superado, o regime social e cultural de discriminação racial que
existia durante a escravidão, e onde a presença constante de discursos
sobre a raça apontam para a existência de racismo mesmo após a
libertação dos escravos, também Hugo dos Reis, foi alvo de atitudes
racistas por parte redatores do jornal ponta-grossense Diário do Paraná, 15
tendo a publicação rival afirmado que Reis era negro de “más acções", o
que, numa época em que a associação entre raça e qualidade morais era
comum8, equivalia a afirmar que o redator do Diário dos Campos era
dotado de defeitos morais e racialmente inferior. A defesa de Reis no
editorial intitulado “Uma resposta”, apresenta, contudo, uma visão de
raça diferente do discurso comum na sociedade ponta-grossense daquele
período, pois o jornalista afirma que suas ações, e não a sua cor, é que
definiam a sua personalidade. Defendendo-se das acusações do redator
do Diário do Paraná Reis afirma que:
8
A ascensão da eugenia provocou mudanças significativas na forma que a sociedade do final do século
XIX e início do século XX interpretava o mundo, havendo neste momento, um discurso que legitimava e
ao mesmo tempo exigia ações dos cientistas com o intuito de provocar modificações na sociedade. A
raça se tornou um fator determinante para a evolução da sociedade e o aprimoramento racial era
percebido como a melhor possibilidade de promover o crescimento de uma nação (SILVEIRA, 2005,p.
32).
Em outro caso, Hugo dos Reis, foi agredido com uma violenta
pancada na cabeça, em 28 de maio de 1.909, correndo o risco de ser
linchado por um grupo de seus rivais. O fato foi inclusive noticiado no
jornal paulista, O Estado de São Paulo, na edição de 29 de maio de 1909. 16
9
O paranismo foi um movimento regionalista, surgido a partir dos meios intelectais paranaenses, foi
definido em 1927, por Romário Martins, para nomear aqueles que possuíam um “amor pelo Paraná” e
lutavam pela “glorificação” do Estado. Contudo, os inícios do movimento surgem logo após a
emancipação política do Estado em 1853, e durante a disputa entre o Paraná e Santa Catarina pela
região do Contestado,os animos paranistas são exacerbados (BATISTELLA, 2012: 1)
É preciso também, que de uma vez por todas, que se
fique sabendo que o Paraná é meu, é o meu Estado.
Aqui eu renasci de moléstia incurável que,
maravilhosamente, se curou...o ser tellurico da terra
passou para o meu organismo e talvez eu não precise,
como o kaiser, derramar algumas gotas de sangue
fluminense para ficar inteiramente paranaense. O 17
poucochito que por ahi pelas pedras das calçadas
ficou derramado, em guerra aberta e acesa, o foi pela
questão dos limites. E, talvez, não precise reviver a
scena kaiseriana pois segundo uns, o cerebro se
renova inteiramente a cada 7 anos – o tempo exacto
que eu cá estou; sendo, como o corpo, o meu
pensamento, paranaense (REIS, 18 fev. 1915, p. 1).
Considerações Finais
Os discursos produzido por Hugo dos Reis, são representações da
realidade, ressignificadas a partir da visão do jornalista. Nesse aspecto,
concordamos com Chartier, quando este defende que os significados das
representações são socialmente construídos e aponta para a necessidade
de se “identificar o modo como em diferentes lugares e momentos uma 20
Dr. Toscano de Brito e depois José Cadilhe. Após essa data, Hugo dos Reis
continua por alguns anos como uma figura eminente da sociedade ponta-
grossense. Contudo, na metade da década de 1920, ele se muda para o
interior de São Paulo. A maioria dos outros colaboradores ainda é citada e
alguns publicam alguns artigos pelo periódico, como Flávio C. Guimarães,
que continuou atuando na cidade como advogado. Todavia, a sua
presença é mais esparsa. Enquanto isso, outros pensadores mais
polêmicos como F. Barbosa Maciel e Martins Pinto, desaparecem das
páginas do jornal.
No momento pós-Hugo dos Reis, o jornal perde parte da
combatividade dos discursos. Não encontram-se mais os debates
acirrados que envolveram dezenas de edições e que apresentaram uma
diversidade de representações como aquele envolvendo o médico F.
Barbosa Maciel e colaboradores do jornal, como Flavio C. Guimarães e
Junqueira e Guerra entre os anos de 1915 e 1916. O jornal se torna mais
de pensamento unilateral, e menos aberto às discussões que tanto
caracterizaram a publicação enquanto esteve sob a égide do jornalista
Hugo dos Reis.
REFERÊNCIAS
BATISTELLA, Alessandro. O paranismo e a invenção da identidade
paranaense. Revista Eletrônica História em Reflexão: Vol. 6 n. 11.
Dourados, UFGD; jan/jun 2012.
LUCA, Tania Regina de. História dos, nos e por meio dos periódicos. In:
PINSKY, Carla Bassanezi, (org). Fontes Históricas. 3º ed. São Paulo,
Contexto, 2011.
MALDONADO, Elaine Cristina. Machado de Assis e o espiritismo: diálogos
machadianos com a doutrina de Allan Kardec (1865-1896). Dissertação
de Mestrado. Assis, UNESP, 2008, p. 11.
Resumo:
Neste artigo, analisamos a estruturação entre o esporte e a sociedade, buscando
compreender através de uma reflexão histórico-sociológico as relações e os
deslocamentos entre o esporte e a sua disciplinarização na sociedade atual. Partindo
do pressuposto que as práticas esportivas possuem uma intrínseca relação com os
valores da sociedade em que são produzidas, compreendemos que tais atividades,
sejam individuais, ou coletivas, caracterizam-se por uma relação, que produz e
reproduz essas práticas culturais, sejam a partir do jogo lúdico ou do esporte
profissionalizado. Na pesquisa, apontamos que na sociedade pós moderna, o esporte
profissional se tornou cada vez mais, uma ferramenta mercantilizada que promove o
estímulo de determinados valores e atua uma ferramenta panóptica de controle do
indivíduo, “prendendo-o” na sua posição social.
Palavras-chave: Corpo; Esporte; Mercantilização; Sociedade.
Abstract:
The objective of this paper is to analyze the organization between sports and society,
seeking comprehension about the relationship of sports with its disciplinarization on
the contemporary society. Following the assumption that sports practices have an
intrinsic relationship with the values of the society where they are created, we
understand that such activities, being them individual or collective, are characterized
by the reproduction of the cultural values of the society where they are inserted. With
this research we appoint that professional sports became commodified, and a tool for
control of individuals, keeping them on their respective social positions.
Keywords: Body; Commodification; Society; Sport.
1
Acadêmico do 3º ano do Curso de Bacharelado em Educação Física na Universidade estadual de Ponta
Grossa (UEPG). Email: natonjoly@gmail.com.
2
Graduado em História pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Email:
isaiasholowate@gmail.com.
Introdução
15
Podemos, portanto, sem nos prender a “lado” algum, observar, de
forma crítica, o peso e a importância do esporte e do lazer, como nossa
prisão e nossa libertação. Observamos que o esporte e o lazer
substituíram outras “prisões”, que poderiam ser muito piores que a atual,
funcionando tambem como espaço de controle social a partir do
símbolico, ao qual nota-se que a multiplicação das ferramentas
disciplinares é correlata à sua desinstitucionalização, “*...+ as disciplinas
maciças e compactas se decompõem em processos flexíveis de controle,
que se pode transferir e adaptar” (FOUCAULT, 2011, p. 199).
O controle do indivíduo a partir do estímulo à busca por um ideal de
felicidade em nossos momentos “livres”, é, para a sociedade pós
moderna, mais sedutor e aparentemente melhor do que não ter momento
“livre” algum, mesmo que tal liberdade seja cercada por aspas.
Considerações Finais
O esporte está profundamente enraizado nos processos culturais
que constituem a sociedade, sendo transformador dela e transformado
por ela em uma relação mútua.
A “cultura corporal” é participante das transformações sociais ao
moldar os indivíduos de acordo com valores inseridos no esporte, valores
nascidos da sociedade que gerou tal esporte. Tais transformações são
correlatas à modificações ocorridas na cultura pós moderna, que
produziram uma hibridização da identidade cultural e o deslocamento das
relações entre os indivíduo na coletividade (HALL, 2004).
Sendo assim, na atualidade, o lazer e as grandes realizações no
esporte refletem as necessidades individuais de grandeza, e as 16
REFERÊNCIAS
Palavras-chave
Antônio Vieira dos Santos; Historiografia; Paraná.
1
Graduando de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).
2
Graduando de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).
Resumen
2
Antônio Vieira dos Santos nació en la ciudad portuguesa de Oporto en 1784, y murió
en la ciudad de Morretes, en la provincia de Paraná en 1854. En sus memorias
históricas, habla de la flora, la fauna, muestra interés en los diferentes culturas de los
pueblos que viven en la región costera de la provincia, en la vida de los pueblos
indígenas, los europeos que se asentaron allí, entre otros temas. Así pues, el trabajo
proporciona diversos datos e información, por lo que es un documento importante
para la historia de Paraná. Asumiendo - definido por Hartog - que los diferentes
regímenes de historicidad se ejecutan a través de la misma obra, vamos a analizar las
memorias Vieira dos Santos presentes en la memoria histórica, chronologica,
topográficas y descriptivos de la ciudad de Paranaguá y su comarca (1850-1851). A la
luz de la discusión Certeau sobre la operación historiográfica, nuestro objetivo es
entender el concepto de la historia que guió a su escritura de la historia. Queremos
imaginar lo Vieira dos Santos entiende por la historia; lo que era su posición social;
¿cuál era su objeto de estudio y el período tratado; a quien se dirigía a su trabajo y
cuáles eran sus objetivos al escribir este libro.
Palabras clave
Antonio Vieira dos Santos; la historiografía; Paraná.
Introdução
Antônio Vieira dos Santos nasceu na cidade portuguesa do Porto,
em 1784. Aos treze anos de idade, em 1797, junto ao irmão mais velho
embarcou rumo a nuova terra, a América portuguesa, desembarcando no
Rio de Janeiro, onde após uma breve residência, transferiu-se para a vila
de Paranaguá, no ano seguinte. Nessa cidade se ocupou de atividades 3
3
Fonte de tais dados biográficos de Vieira dos Santos: GOMES, Sandro Aramis Richter. Estratégias de
integração social: a trajetória de Antonio Vieira dos Santos na vila de Morretes (1814-1851). Anais [do] V
Encontro Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional. Porto Alegre, UFRS, 2011, p. 1.
Ele foi um autodidata, um homem de muitas leituras: de Lisboa, do
Rio de Janeiro e de outras partes do Império chegavam-lhe jornais e livros.
Além de deixar registros autobiográficos, Vieira dos Santos é autor, entre
outros títulos, de Memória histórica, chronologica e descritiva da Villa de
Morretes e do Porto Real, vulgarmente Porto de Cima 4; Memória Histórica 4
4
VIEIRA DOS SANTOS, Antonio. Memória histórica, chronologica e descritiva da Villa de Morretes e do
Porto Real, vulgarmente Porto de Cima. Curitiba: Museu Paranaense, 1950, 2 v.
5
O primeiro tomo teve três edições, em 1907, 1923 e 1951; o segundo tomo foi editado em 1952.
6
HARTOG, François. Tempo, história e escrita da história: a ordem do tempo. Revista de História, São
Paulo, USP, n. 148, 2003, p. 12.
entendimento do todo. Isso não significa negar as características
peculiares, e sim refletir sobre uma obra tendo em vista a pluralidade dos
procedimentos que a construiu. Segundo Certeau:
7
CERTEAU, Michel de. A operação historiográfica. In: A escrita da história. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 1982.
8
BENATTE, Antonio Paulo. A escrita da história em Antônio Vieira dos Santos (1850/51). Anais [do] XIII
Encontro Estadual de História da ANPUH. Londrina, UEL, 2013, p. 801.
Desde o fim do século XVIII a monarquia portuguesa impelia as
câmaras de todo o império para que escrevessem um livro no qual são
narradas memórias históricas a respeito da região onde se localizam.
Como Vieira dos Santos relata, esse induzimento veio de uma profissão de
D. Maria I, rainha de Portugal, expedida pelo Conselho Ultramarino em 6
9
VIEIRA DOS SANTOS, Antonio. Memória histórica, chronologica, topographica e descritiva da cidade de
Paranaguá e seu município. Curitiba: Museu Paranaense, 1951, v. 1, p. 4.
10
Idem, p. 4.
mesmo. Esse penar de Vieira dos Santos paradoxalmente é também uma
espécie de autoelogio velado, pois o autor aparenta querer deixar
subentendido que apesar das inúmeras dificuldades que enfrentou ele
conseguiu redigir as suas memórias, recorrendo as fontes e ordenando-as
e analisando-as teórico-metodologicamente. 7
11
VIEIRA DOS SANTOS, Memória Histórica da Cidade de Paranaguá..., op. cit., p. 4.
cronista12. A obra do comerciante português é uma história factual,
detalhista, recheada de nomes de personagens, “homens bons”, que
ocuparam as cadeiras da administração da província e do restante do
Império em suas diferentes estâncias. É uma narrativa repleta de datas,
ordenadas de forma linear à luz do método cronológico, baseada no 8
13
VIEIRA DOS SANTOS, Memória Histórica da Cidade de Paranaguá..., op. cit., p. 1.
e representações culturais de povos. Nas minhas poucas luzes, acredito
que a escrita da história de Vieira dos Santos detém características
correspondentes a fase da história cultural defina por Burke como
“clássica”. Segundo ele, “o período entre 1800 e 1950 foi uma etapa que
poderia se chamar de história cultural ‘clássica’”. 14 10
14
BURKE, Peter. O que é história cultural? Tradução: Sérgio Goes de Paula. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Ed, 2005, p. 16.
15
BENATTE, op. cit., p. 804.
16
“A história é a testemunha dos tempos, a luz da verdade, a vida da memória, a mestra da vida, a
anunciadora da antiguidade”. CÍCERO, Do Orador, II, 36.
17
VIEIRA DOS SANTOS, Memória Histórica da Cidade de Paranaguá..., op. cit., p. 7.
sustentada pela noção da historia magistra vitae, que norteia a escrita de
“feitos tão heroicos, e gloriosos que, a memoria dos tempos e dos
homens, nos Annaes da historia, as deverião perpetuamente conservar a
fim de que taes exemplos, desse hum gaz patriótico aos presentes, e os
vindouros os imitassem no futuro”.18 Escreve Vieira dos Santos: 11
18
VIEIRA DOS SANTOS, Memória Histórica da Cidade de Paranaguá..., op. cit., p. 10.
19
Idem, p. 9.
heroicos feitos ela pode produzir o que sejam leais e
bons cidadãos, bons pais de famílias e obediente às
leis, pode finalmente até produzir os mais
famigerados heróis. 20
20
Idem, p. 8.
21
BENATTE, op. cit., p. 801.
para navegares, nos Seculos fucturos com mais claridade” 22, baseia-se na
articulação entre acontecimentos da história política municipal e os da
história-pátria. Isso é feito de tal forma que se cria uma sintonia entre
eles. Em consequência, fica subentendido em sua narrativa que os fatos
estão interligados e, por isso, aquilo que acontece na capital direta ou 13
22
VIEIRA DOS SANTOS, Memória Histórica da Cidade de Paranaguá..., op. cit., p. 4.
23
BENATTE, op. cit., p. 803.
imigrante português discorre sobre todas as épocas da história do país,
dando igual importância a elas e procura examina-las consoante critérios a
elas adequados, adotando o mesmo raciocínio para as diversas
espacialidades.
Ainda de acordo com Benatte, diferente das concepções 14
24
BENATTE, op. cit., p. 808.
ordenando à Mãe da natureza fizesse recolher em
seus cofres este leite precioso que só servia de
alimentar o orgulho dos soberbos; e quando outra vez
estivesse prenhe de tais cabedais repartil-os nas
futuras gerações as que mais forem de seu agrado. 25
25
VIEIRA DOS SANTOS, Memória Histórica da Cidade de Paranaguá..., op. cit., p. 404-405.
26
BENATTE, op. cit., p. 806.
27
VIEIRA DOS SANTOS, Memória Histórica da Cidade de Paranaguá..., op. cit., p. 7.
usar”28. Tal nível de exigência, faz com que a escrita da história de Vieira
dos Santos esteja, concordando com Benatte, “mais próxima da narrativa
literária que dos modelos, emergentes na Europa, de História ciência” 29.
Partindo da análise, a obra de Vieira dos Santos está assim entre a História
e a Literatura, mais próxima desta do que daquela. 16
Considerações finais
Com base em nossa análise, chegamos à conclusão de que mais do
que compreender o passado e contribuir para a construção de uma
narrativa que sustente as representações da história-pátria atreladas a
história da província, envolvendo para isso o máximo possível de
características ambientais, culturais e humanas, Vieira dos Santos se
debruçou sobre a escrita de suas memórias históricas com o objetivo de se
aproximar das elites regionais através do reconhecimento de sua
intelectualidade. Foi para essas pessoas que a sua obra se dirigiu, e com o
intuito de o autor se aproximar delas. Como demonstramos, o
memorialista português passou por inúmeros debacles econômicos. À
vista disso, só o caminho da erudição possibilitaria a ele se integrar as
elites locais.
Como observamos, Vieira dos Santos tem como objeto de estudo
principal a história dos feitos do estado nacional. Os critérios de
periodização da história-pátria se articulam com a provincial, numa inter-
relação que cria uma aproximação perfeita e lhe dá caráter
28
Idem, p. 7.
29
BENATTE, op. cit., p. 807.
homogeneizante. O período que ele se debruça vai de 1500 a 1850. E
quanto ao lugar social da operação historiográfica de Vieira dos Santos? A
que “meio” pertence? O imigrante português não fazia parte da elite local,
mas detinha influências políticas, militares e eclesiásticas. Foi um homem
que de certa forma estava inserido na política local; um “homem público” 17
Referências bibliográficas
Resumo: Este artigo relata uma experiência interdisciplinar (Alvarenga et al., 2011)
desenvolvida em sala de aula entre as disciplinas de Língua Portuguesa e História
envolvendo o poema Navio Negreiro: uma tragédia no mar (1893), escrito por Castro
Alves, contextualizando-o com o conteúdo de Brasil Colonial, estudado em aulas
anteriores; para posteriormente, os alunos, através de suas percepções sobre o poema
contextualizado com o assunto, construírem Histórias em Quadrinhos (HQs) e uma
encenação baseada no teatro das sombras com o objetivo último de utilizar o texto
literário como recurso metodológico na construção do conhecimento histórico pelos
próprios alunos do Ensino Fundamental II na Escola Municipal “Manoel dos Santos
Pedroza”.
Palavras-chave: História. Literatura. Poema.
1
Graduado em História e mestrando em Cognição e Linguagem na Universidade Estadual Norte
Fluminense “ Darcy Ribeiro” – UENF.
1. Introdução
Na sociedade contemporânea os docentes das mais diversas áreas do
conhecimento deparam-se com o percalço cotidiano de criar e manter o
interesse dos alunos no conteúdo proposto e no processo de ensino-
2
aprendizagem. Por anos o ensino de História no Brasil evidenciou a
mecanização da aprendizagem, pois o aprender estava intrinsicamente
relacionado ao ato de decorar datas, nomes e os grandes feitos. Contudo,
as novas correntes pedagógicas em união com as vertentes históricas que
surgiram durante o século XIX e XX logo questionaram a visão da História
Positivista e seus métodos de aprendizagem, por consequência
acarretando mudanças dentro das salas de aula possibilitando nas últimas
décadas um estudo histórico mais amplo e didático (SCHMIDT, 2004).
As fontes históricas utilizadas por historiadores para produção do
conhecimento histórico podem ser usadas em sala de aula, criando um
ambiente de socialização de conhecimento, no qual os educandos
participam de maneira ativa, pois para Schmidt (2004, p.54) precisa-se
“entender que o conhecimento histórico não é adquirido como um dom”,
mas consegue-se através de pesquisas e descobertas. Torna-se, portanto,
necessário transformar a sala de aula em um mundo onde os alunos
precisam descobrir sua historia, ou seja, faz-se necessário outro modelo
educacional que privilegia o ensino nas suas múltiplas variações, pois “o
que é desejado é que o professor deixe de ser um expositor satisfeito em
transmitir soluções prontas; o seu papel deveria ser aquele de um mentor,
estimulando a iniciativa e a pesquisa” (PIAGET, 1973. p16).
Entretanto, para uma melhor compreensão sente-se a necessidade
de evidenciar que o conceito de fonte histórica, o qual na concepção
positivista do século XIX privilegiava o documento escrito e oficial foi
alargado a partir da contribuição revolucionaria da Escola dos Annales e
3
passou a abarcar, também, a cultura material, as imagens, a Literatura
(SILVA; SILVA, 2009).
Chartier foi um dos expoentes da revolução historiográfica, pois em
seus estudos, o historiador francês distanciava-se de uma visão oficial e
marxista e esboçava um novo campo historiográfico em que as relações
culturais, literárias e as diversas significações tinham um denominador
comum que era a História Cultural. Atente-se que para Chartier (1990, p.
24) “a literatura representa a complexidade que o homem vive em seu
meio social”.
Segundo Navarrete (2011, p.33), “Chartier define a literatura como
uma relação intrínseca entre a crítica literária e a História”. Visto que, o
escritor está inserido no contexto e o historiador pode se apropriar de
seus relatos em forma de prosa, poesia ou conto para construir o
conhecimento histórico visando uma análise cientifica e imparcial da
literatura.
Pensando que as narrativas, sejam históricas ou literárias,
ou outras, constroem uma representação acerca da
realidade, procura-se compreender a produção e a
recepção dos textos, entendendo que a escrita, a
linguagem e a leitura são indivisíveis e estão contidas no
texto, que é uma instância intermediária entre o produtor e
o receptor, articuladora da comunicação e da veiculação
das representações. (BORGES, 2010, p 95).
Essa concepção de fonte histórica possibilita flexionar o seu uso como
recurso didático em sala de aula, pois permite o diálogo do aluno com o
passado ao desenvolver o sentido da análise histórica (CORREIA, 2013).
Afirmando isso, objetiva-se relatar uma experiência com a utilização do
4
poema como fonte histórica contextualizado com o conteúdo de História
no ensino-aprendizagem deste campo do conhecimento.
2. Metodologia
Para alcançar o objetivo proposto a proposta desenvolvida segue em uma
primeira etapa o conceito do estudo exploratório através de uma pesquisa
bibliográfica, que segundo Gil (2008) “é um estudo desenvolvido a partir
de material já elaborado, constituído de livros e artigos científicos”. Diante
das considerações teóricas, buscou-se relacioná-las com a prática do uso
do poema enquanto fonte histórica no processo de ensino- aprendizagem
da disciplina de História e Língua Portuguesa.
5
3. Resultados e Discussões
Atualmente, a sociedade vivencia e valoriza o presenteísmo, porquanto se
acredita viver um presente continuo desvinculado de qualquer passado.
Portanto, é necessário do professor uma postura de reconciliação entre a
história e os novos sujeitos mostrando-os que são atores e principalmente
construtores diários do conhecimento histórico. Para que isso ocorra
torna-se necessário do docente transformar sua sala de aula em um
grande laboratório trocando por vezes livros por documentos-fontes que
são acessíveis em diversos sites de domínio público como da Biblioteca
Nacional e outros arquivos de competência estadual.
4. Considerações Finais
A partir da resignificação dos conceitos teórico-metodológicos acerca do
que pode ser considerado documento histórico ou fonte histórica, criou-se
o interesse por parte dos professores de História e de Literatura
descontruir paradigmas e aproximar o conhecimento dos discentes. A
aceitação da Literatura pelos adolescentes e também enquanto recurso
histórico possibilitou o seu uso como mediador e construtor de um
9
conhecimento interdisciplinar abarcando teorias e metodologias da
ciência literária quanto da ciência histórica.
A História e a Literatura, no processo de ensino-aprendizagem,
viabilizaram um espaço privilegiado de produção do conhecimento
pedagógico. A integração das referidas áreas do conhecimento conferiu
sentido e prazer à realidade cotidiana escolar dos alunos, pois estes
perceberam que estavam interagindo com e construindo conhecimento.
Diante do relato apresentado é importante destacar que alguns dos
métodos utilizados durante as aulas, comprovaram as hipóteses e as
teorias de pesquisa de grandes autores como: Correia (2013), Silva (2010)
e Fonseca (2003) quando afirmam que os alunos aprendem fazendo, pois
as atividades demonstraram que os métodos de ensino interferem
diretamente no interesse pelo conteúdo e no processo de ensino-
aprendizagem.
Deve-se então ter em mente que os professores exercem um papel
insubstituível no processo da transformação social, pois a formação dos
educadores não se baseia apenas em técnica prontas, e nem como apenas
executora de decisões alheias, mas, na formação de cidadãos com
competências e habilidades na capacidade de decidir e agir. Em suma,
novas técnicas de ensino tem o poder de produzir novos conhecimentos
para além da teoria e da prática de ensinar, pois torna-se preciso
(re)significar o ensino e colocar o aluno no papel de construtor do
conhecimento.
10
5. Referências
ALBUQUERQUE JUNIOR, Durval Muniz de. Discursos e pronunciamentos: a
dimensão retórica da historiografia. In: Pinsky, Carla Bassanezi e Luca,
Tânia Regina de (Orgs). O historiador e suas fontes. São Paulo: Contexto,
2009.
RESUMO: O Haiti conquistou sua independência após quase três séculos de domínio
europeu, fruto da união dos escravos, que organizados se revoltaram e deram início a 1
revolta de São Domingos (1791-1804), em plena Revolução Francesa (1789-1799), que
instigou o mundo com seus ideais de Igualdade, Liberdade e Fraternidade. A situação
do país nunca foi das melhores, mas piorou a partir de 1957 quando teve início a
“Dinastia Duvalier”, considerado o pior e mais cruel regime ditatorial do Haiti.
Atualmente, já se passaram mais de dois séculos desde sua independência e o país
ainda sofre com a miséria, doenças, descaso político e esquecimento mundial e se vê
obrigado a sobreviver com as migalhas das elites branca e mulata que se afirmaram no
poder após sucessivos golpes de estado.
ABSTRACT: Haiti won its independence after almost three centuries of European rule,
marriage fruit of slaves, who organized revolted and began the revolt São Domingos
(1791-1804), in full French Revolution (1789-1799), which He urged the world with
their ideals of equality, liberty and fraternity. The situation of the country was never
the best, but worsened from 1957 when it began to "Duvalier dynasty", considered the
worst and most cruel dictatorial regime in Haiti. Currently, it's been more than two
centuries since independence and the country still suffers from poverty, disease,
political neglect and world oblivion and forced to survive on the crumbs from the
white elites and mulatto who claimed in power after successive blows state .
INTRODUÇÃO:
Segundo Bona após a independência do Haiti, Dessalines (um dos
líderes comandados por T´oussaint) “tornou-se o primeiro chefe de Estado
haitiano” o qual foi coroado imperador, foi responsável pela unificação da
1
Acadêmico do 4º ano do Curso de Licenciatura em História da Unespar, Campus de União da Vitória-
PR.
ilha, porém foi morto dois anos depois e a ilha novamente foi dividida em
duas:
Henri Christopher, que funda um reino ao norte, e
Alexandre Pétion, que lidera uma república ao sul, e
voltando o leste aos espanhóis. A unificação do país só
acontece em 1820 sob o governo de Jean-Pierre 2
Boyer, que governou como ditador até 1843. 2
O país agora independente saiu do mercado mundial de açúcar e
os ex-escravos retornam as suas tradições africanas de agricultura de
subsistência (produção de alimentos para sobrevivência).
Porém, apesar de não fazer mais parte do mercado mundial do
açúcar, o Haiti ainda continuou atraindo os negativos olhos do mundo,
pois sua independência passou a ser vista pelas nações livres como um
perigo, principalmente pelos Europeus, que temiam que o acontecimento
na ilha se espalhasse para as outras colônias mundiais e desta forma
servisse como um estopim para novas revoltas. Nesse contexto, segundo
Bona, a própria França só teria aceitado a independência do Haiti em
1824, mediante uma altíssima indenização, que embora aceita pelos
líderes haitianos, jamais se conseguiria quitar, ainda mais levando em
consideração a situação lastimável em que o país se encontrara depois da
saída do mercado mundial do açúcar.
Segundo Matijascic 3 os mulatos que auxiliaram no processo de
revolta e independência se constituíram como elite (por serem
proprietários de terras) e não mudaram a estrutura social do país, ou seja,
os ex-escravos continuaram a ser utilizados nas lavouras de produtos
primários, desta forma isto se tornou uma divergência de interesses
sociais, que elencaram uma série de conflitos e disputas internas pelo
poder do país.
Essas disputas internas do poder tornaram a situação entre mulatos
e negros incontroláveis e nesse sentido os conflitos entre ambos
ganharam força, vejamos:
2
BONA. Marco Aurélio. Presença do Brasil no Haiti: Missão de paz e cooperação técnica. UFPI.
Dissertação de mestrado.Teresina. 2011. p 24.
3
MATIJASCIC. 2009. p. 5 Apud BONA. 2011. p. 24
[...] a hostilidade entre os dois grupos levou a cada
um, quando ocupou o governo, preferir intervenções
externas em assuntos domésticos a permitir que o
grupo rival tomasse o poder. Frequentemente
observamos que os políticos haitianos solicitaram
assistência estrangeira militar em troca de benefícios
como ceder parte do território para uma base naval 3
ou oferecer vantagens comerciais. No início do século
XIX, os britânicos e franceses estavam mais propensos
a obter privilégios no Haiti; ao final do mesmo século,
essa situação foi gradualmente substituída pelos
Estados Unidos e pela Alemanha. 4
1 - DEPENDÊNCIA MUNDIAL NOS ASSUNTOS INTERNOS
Observa-se que desde a independência do Haiti, seus dirigentes
preferiram as mais variadas intervenções militares em seus territórios a
uma eventual alternância de poder, desta maneira se sobressaíram os
interesses mundiais sobre a ilha, vejamos a seguir:
As ilhas caribenhas ofereciam uma estratégica posição
de parada para os navios mercantes rumo a países do
continente americano. Grande parte das posses era de
domínio britânico e espanhol. O Haiti foi alvo das
disputas entre as potências, pois era o único país sem
influência predominante de uma delas. A
vulnerabilidade do Haiti a interesses externos foi uma
conseqüência da instabilidade política e da
dependência econômica do país.5
Até 1915, segundo Matisjascic, os exércitos da França, EUA,
Alemanha e Inglaterra estiveram em domínios haitianos, sempre pelo
mesmo motivo, de resolver problemas considerados domésticos, ou seja,
problemas internos que os dirigentes não conseguiam ou nem tentavam
resolver, tornando o país um dependente crônico das políticas
econômicas mundiais.
4
MATIJASCIC. 2009. p. 5-6 Apud NICHOLLS. 1996. p. 8 Apud BONA. 2011. p. 25
5
MATIJASCIC. 2009. p. 5-6 Apud NICHOLLS. 1996. p. 8 Apud BONA. 2011. p. 25
Esta forte dependência assistencial mundial, tem seus pilares
calcados na violência do povo para resolver problemas, aliado a formação
de grupos rivais que buscavam a liderança do país e forçavam a população
a tomar partido de uma causa específica. Desta maneira, até a intervenção
dos Estados Unidos da América em 1915, “o Haiti conheceu 21 (vinte e
um) governantes que tiveram final trágico. Digno de nota foi Faustin
Soulouque, que, nomeado presidente em 1847, conquistou a República 4
Dominicana em 1849 e foi proclamado imperador”6, o qual foi deposto em
1858 e exilado. Outro governante teria sido envenenado “outro morreu na
explosão de seu palácio, outros foram condenados à morte e um deles,
Vilbrum Sam, foi linchado pelo povo.” 7
Para Bona, a intervenção Norte Americana no Haiti se deu através
de um projeto de política expansionista iniciado após o fim da Guerra Civil
nos Estados Unidos (1861-1865). Desta maneira as intervenções militares
em países da América Central, Caribe e Pacífico tinham o ideal mascarado
de dominação desses mares. Fato este que é sustentado por Schmidt,
vejamos:
[...] o objetivo da expansão norte-americana era
conquistar a hegemonia nos mares do Caribe e do
Pacífico. Quanto ao cumprimento desse objetivo no
mar caribenho, Porto Rico foi cedido aos Estados
Unidos em 1898 e, na mesma data, Cuba foi ocupada
por tropas norte-americanas. O mesmo aconteceu no
Panamá em 1903, na Nicarágua em 1909 e nas Ilhas
Virgens em 1916. A República Dominicana cedeu um
porto comercial aos norte-americanos em 1905 e foi
ocupada militarmente pelos marines em 1916. O Haiti
também esteve incluído no contexto de expansão e
intervenções militares dos Estados Unidos. Além das
razões expansionistas, eliminar a presença germânica
6
BONA. Marco Aurélio. Presença do Brasil no Haiti: Missão de paz e cooperação técnica. UFPI.
Dissertação de Mestrado.Teresina. 2011. p 26
7
Idem.
era fundamental para concretizar os interesses norte-
americanos [...].8
Segundo Schmidt o Haiti encontrava-se em uma posição geográfica
avantajada que aguçou as ambições Norte Americanas, o local escolhido
para construção da base naval teria sido Cuba, porém, “outro importante
ponto estratégico não poderia ser ignorado, Môle-Saint-Nicolas, localizado 5
a noroeste do Haiti por dar acesso livre ao Canal do Panamá.” 9 Desta
maneira, em julho de 1915, os Estados Unidos interviram no Haiti, sob
alegação de intervenção humanitária, descartando a hipótese de que a
intervenção tenha ocorrido com o objetivo de evitar que a Alemanha ou
outro país Europeu anexasse esse território aos seus domínios.
Em 1917, tropas norte-americanas acrescidas de
tropas britânicas na Jamaica controlaram a maior
parte das ilhas no Caribe desde Cuba a oeste até Porto
Rico e Ilhas Virgens a leste, impedindo que várias ilhas
que estavam no caminho para o Canal do Panamá
fossem atacadas pela Alemanha durante a Primeira
Guerra Mundial.10
8
SCHMIDT, 1995 Apud MATIJASCIC, 2009. p. 7-8 Apud BONA, 2011. p. 26-27.
9
Idem
10
Ibidem, p. 27.
11
MATIJASCIC, 2009. p. 9 Apud BONA, 2011. p. 28.
12
Idem.
Verificamos que após a retirada das tropas Norte Americanas em
1934, o país voltou a um período de crise político-econômica semelhante
a que se encontrava antes da intervenção militar de 1915. Porém, desta
vez, conforme Bona, ganhou um novo membro, as Gendarmerie d’Haïti
(Polícia Montada do Haiti) que foi criada e treinada pelos militares norte
americanos, tinha o poder de polícia e sua criação visava impedir a
anarquia, guerra civil e revoltas populares. Mas indo além de suas 6
atribuições passou a influenciar diretamente na conduta política do país,
por ser o setor mais organizado da sociedade.
Os governos estabelecidos no Haiti entre os anos de
1934 a 1956 foram marcados pelo autoritarismo,
impopularidade e ausência de apoio político ou
militar. Sténio Vincent (1930-1941), último presidente
da intervenção norte-americana, de conduta
autoritária, por suas atitudes à frente da condução
governamental, perdeu o apoio das Gendarmerie
d’Haïti, agora elemento marcante da vida política
haitiana. Pretendia um terceiro mandato, tendo sido
orientado pelo governo norte-americano a desistir. 13
13
HAGGERTY, 1991 apud MATIJASCIC, 2009, Apud BONA, 2011. p. 28.
14
Ibidem, p. 29.
nova constituição que deu ao povo a oportunidade do voto direto para
presidência da república, porém, com isso ele se tornaria o presidente
vitalício do Haiti e tinha o apoio do exército. “Em reação às intenções de
Magloire de perpetuar-se no governo, houve uma violenta reação
popular, que resultou na renúncia do presidente. A impopularidade do
presidente tinha como fator principal a corrupção instaurada em seu
governo.”15 7
Bona cita que nos nove meses seguintes a saída de Magloire, o país
voltou ao período de instabilidade, passando por sete diferentes tipos de
governo, até o ano de 1957, quando através de um processo eleitoral
duvidoso sobe ao cargo um negro intelectual chamado François Duvalier.
3 - DINASTIA DUVALIER: O regime ditatorial mais cruel do Haiti.
Segundo Haggerty16, da renúncia de Magloire até a posse de
Duvalier, o Haiti conheceu três presidentes provisórios, dos quais um
renunciou e os outros dois Sylvian e Fignolé foram depostos pelo Exército,
nesse período foi que Duvalier ganhou sua ascensão política, por ser
ativamente participativo nas questões políticas e por ganhar o prestígio e
o apoio dos militares.
Para Bona o regime Duvalierista foi o regime mais cruel do Haiti,
teve início em 1957 com François Duvalier sendo eleito para a presidência
da república do Haiti, após um processo eleitoral duvidoso, já eleito,
Duvalier instaurou um regime autoritário e com forte concentração de
poder. “François Duvalier foi médico sanitarista com certo prestígio
mundial. Devido a suas fortes ligações com o movimento negro, realizara
excelente trabalho junto às populações rurais no combate à malária
*...+”17, por esses motivos adquiriu a simpatia do povo e passou a ser
chamado de “Papa Doc” (papai médico). Como forma de sustento de seu
governo e perpetuação do poder, ele montou um forte esquema de
repressão militar, que torturava e assassinava seus opositores mantendo a
hierarquia da sua estrutura social.
15
BONA. Marco Aurélio. Presença do Brasil no Haiti: Missão de paz e cooperação técnica. UFPI.
Dissertação de Mestrado.Teresina. 2011. p 29.
16
Haggerty 1991, p. 232 apud MATIJASCIC, 2009, p. 11 Apud BONA, 2011. p. 30.
17
BONA. Marco Aurélio. Presença do Brasil no Haiti: Missão de paz e cooperação técnica. UFPI.
Dissertação de mestrado.Teresina. 2011. p. 30.
Segundo Matijascic, mais do que possuir o apoio da população,
Duvalier teve a adesão de vários setores conservadores da sociedade,
como dos militares, Igreja católica, elite mulata, além de servir aos
interesses dos norte americanos, como o controle de revoltas populares e
a extinção da ameaça comunista no país. Duvalier permaneceu no poder
como cargo vitalício de 1957 a 1971.
8
Para se manter no poder por tanto tempo, Duvalier adotou uma
série de medidas que visavam a estabilidade de seu regime, desta maneira
“modificou os cargos de maior poder dentro das Gendarmerie d’Haïti, com
o intuito de afastar do governo aqueles envolvidos nos golpes de Estado
que atingiram as presidências passadas”.18
A antiga estrutura da Guarda Presidencial, composta e
coordenada pelas Gendarmerie d’Haïti, também
passou por alterações em 1959. A nova Guarda
Presidencial incorporou milícias civis armadas
recrutadas para agirem sob o comando de Duvalier.
Em 1962, os Voluntários da Segurança Nacional (VSN),
conhecidos pela população como Tonton Macoutes,
foram designados para o sistema de informação,
inteligência e controle. Tinham também como função
perseguir, prender e eliminar qualquer contestador do
governo. [...] a criação dos VSN reduziu a histórica
influência dos militares na escolha dos líderes políticos
do Haiti, pois neutralizou o poder das Gendarmerie
d’Haïti. Esta redução de influência deu estabilidade ao
regime ditatorial e uniu Gendarmerie d’Haïti e VSN no
papel de combate às ameaças internas. Entretanto, o
que diferenciou uma força da outra foi o fato dos VSN
não serem remunerados e não serem uma instituição
do Haiti. O caráter voluntário da milícia fez com que os
recursos econômicos necessários para o seu
funcionamento fossem obtidos por meio de atividades
ilícitas [...].19
18
HAGGERTY. 1991 apud MATIJASCIC, 2009 Apud BONA, 2011. p. 30.
19
MATIJASCIC, 2009 Apud SEITENFUS, 1994 Apud BONA, 2011. p. 31.
Para Bona ao criar os Voluntários da Segurança Nacional, Duvalier
achou um método que lhe garantiu sobrevida no poder, pois com isso
afastava de uma vez a Gendarmerie d’Haïti das questões políticas do Haiti
unindo-as aos Voluntários da Segurança Nacional. Outro método
importante foi criado mais tarde, quando em 1971 já com a saúde
debilitada, Duvalier “conseguiu impor seu filho Jean-Claude Duvalier como
sucessor na presidência vitalícia do Haiti, nos termos da Constituição por 9
ele outorgada em 1964.”20 Conseguiu isso obrigando a “Assembleia
Nacional a reduzir a idade mínima de exercício do mandato de presidente
para que seu filho pudesse assumir e, assim, prolongar seu regime
ditatorial.”21
Haggerty22 relata que na segunda metade da década de 1970, Jean-
Claude Duvalier (o Baby Doc) buscou uma aproximação norte americana e
desta forma deu o primeiro passo em direção ao desmantelamento de seu
regime. Pois a aproximação entre ambos propiciou uma abertura no
regime e permitiu que a população recuperasse alguns privilégios civis,
como a recuperação de partidos políticos civis de oposição, livre exercício
da imprensa (com algumas liberdades) e a recriação ou reabertura da
Academia militar, facilitando a manifestação de grupos de oposição.
Em 1984, eclodiu uma grande onda de violência
popular. Contê-la foi tarefa praticamente impossível
de ser cumprida. Buscando preservar a imagem da
corporação, as tropas militares se negaram a atirar
contra o povo. Diante da falta de habilidade de Jean-
Claude Duvalier para lidar com os conflitos internos e
considerando que o presidente não era unanimidade
entre as forças militares do Haiti, setores do exército
sugeriram que o presidente deixasse o país em 1986.23
4 - PAÍS SEM RUMO: Com o fim da Dinastia Duvalier o país sofre com
sucessivos golpes de estado provocados pelos militares.
20
BONA. Marco Aurélio. Presença do Brasil no Haiti: Missão de paz e cooperação técnica. UFPI.
Dissertação de mestrado.Teresina. 2011. p. 31.
21
Idem.
22
HAGGERTY, 1991 Apud MATIJASCIC, 2009 Apud BONA, 2011. p. 31.
23
MATIJASCIC, 2009 apud HAGGERTY, 1991 Apud BONA, 2011. p. 31-32.
Conforme Bona, após o golpe de estado provocado pelos militares,
estes se sucederam no poder por vários anos, até o ano de 1990, quando
o povo escolheu através de eleições livres o padre Jean-Bertrand Aristide
para presidente. Com o afastamento de “Baby Doc” o caos se instala
novamente no Haiti e as Gendarmerie d’Haïti novamente assumem o
poder. Porém, os setores conservadores como (Igreja católica, elite mulata
e trabalhadores rurais representantes da classe média) viam agora a 10
oportunidade de mudanças que mantivessem seu status social.
Com o poder nas mãos das Gendarmerie d’Haïti, os
antigos VSN de François Duvalier, comumente
conhecidos como Tonton Macoutes ("Tio do Saco", em
crioulo haitiano; uma alusão às figuras que
provocavam medo como o "homem do saco" ou
"bicho papão"), perderam a razão de existir como tais
e deixaram de servir à segurança da Guarda Presencial
para tornarem-se um grupo paramilitar armado,
agindo na ilegalidade, que passou a fornecer armas a
outros grupos civis.24
Nesse contexto, todas as tentativas para promover eleições que
levassem ao poder um líder político eleito democraticamente entre os
anos de 1986 e 1990 fracassaram. Ocorreu no Haiti uma sucessão de
golpes militares. Durante esse período, as organizações internacionais
estiveram atentas *...+”25, até que em dezembro de 1990, ocorreram
eleições livres no Haiti “a Organização dos Estados Americanos (OEA) e a
ONU uniram-se para observar o processo eleitoral que se instalara. O
padre Jean-Bertrand Aristide, ligado à Teologia da Libertação, venceu as
eleições com 67% dos votos *...+”.26 Porém foi deposto em outubro de
1991 pelo general Raoul Cedras, Aristide se exilou nos Estados Unidos e
seus partidários foram punidos ou mortos.
A comunidade internacional decretou um embargo
contra os novos donos do poder, que só fez aumentar
24
BONA. Marco Aurélio. Presença do Brasil no Haiti: Missão de paz e cooperação técnica. UFPI.
Dissertação de mestrado.Teresina. 2011. p. 32.
25
MATIJASCIC, 2009, p. 15 Apud BONA, 2011. p. 32.
26
Ibidem, p. 33.
a miséria, pois o regime sobreviveu estabelecendo
uma aliança com o narcotráfico internacional,
permitindo a utilização do seu território como rota
para os Estados Unidos. Milhares de refugiados fugiam
em pequenas embarcações para a Flórida, gerando
uma crise que levou o presidente americano Bill
Clinton a agir. Depois de 31 infindáveis gestões, 11
apenas em outubro de 1994 uma força internacional,
liderada pelos Estados Unidos, forçou os golpistas a
entregar o poder e partir para o exílio.27
5 - NOVAS TENTATIVAS DE REDEMOCRATIZAÇÃO DO PAÍS
Segundo Vizentini, após os Estados Unidos obrigar os golpistas a
aceitar o exílio, Jean Bertrand Aristide retomou o poder, pois foi eleito
para um mandato de cinco anos. Aristide reassume o poder por mais dois
anos e desta vez assume um padrão de governo diferente do que teria
iniciado, quando utilizava-se de políticas reformistas, desta vez, assumiu a
postura dos seus antecessores, instaurando uma polícia que atendia as
questões políticas e levando a morte ou exílio os seus opositores. Após o
término do mandato de Aristide, elege-se René Garcia Préval, um aliado
político de Aristide, sendo empossado em fevereiro de 1996 e no ano de
2000 “Jean-Bertrand Aristide candidatou-se novamente à sucessão de
Préval e, mais uma vez, reelegeu-se para um mandato que iniciou em
fevereiro de 2001. Com isso, os problemas políticos avolumaram-se.”28
Jean-Bertrand Aristide não tinha a simpatia do novo
presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, por
isso não havia investimentos sociais e econômicos por
parte desse país, motivo para que os membros da elite
mulata desejassem restabelecer o poder. Nesse
momento, parte da população apartou-se do
governo.29
27
VIZENTINI, 2004, p. 1 Apud BONA, 2011. p. 33.
28
BONA. Marco Aurélio. Presença do Brasil no Haiti: Missão de paz e cooperação técnica. UFPI.
Dissertação de mestrado.Teresina. 2011. p. 33.
29
Ibidem, p. 34.
Além de não contar com a simpatia dos norte americano o novo
governo de Aristide passou a ser taxado de corrupto e autoritário, deste
modo começou a perder terreno e aliados políticos para a oposição, tendo
em vista a fragilidade da sociedade haitiana aliado ao forte poder de
convencimento da população mulata que via no governo um político que
deixava de lado às questões inerentes a elite mulata.
12
Segundo Bona com a fragilização do governo de Aristide surgem
duas linhas partidárias que de certo modo dividem em duas partes a
sociedade haitiana: A primeira estava ligada à Família Lavalas ou Família
Avalanche, que compunha o partido de Aristide agora “parcialmente
transformado em milícia 30 *...+”31 e a segunda chamada Convergência
Democrática formada pelas ditaduras que perduraram no Haiti nos
períodos que antecederam à Aristide.
Sabendo da instabilidade política que agora cercava Aristide, a
extrema direita comandada por Louis Chamblain braço direito do General
Raoul Cedras que acabara de retornar do exílio, inicia uma série de
protestos “munidos de armas e mercenários”32 que seguiam as ordens do
General Cedras. Após saber que o reduto político do governo conservador
havia sido tomado pelas forças de Cedras, não houve outra saída para
Aristide a não ser pedir apoio às comunidades internacionais, porém seus
pedidos foram ignorados, deste modo “em dezembro de 2003, sob
pressão crescente da ala rebelde, Jean-Bertrand Aristide, acusado de
corrupção, de arbitrariedades e de violências, promete novas eleições
dentro de seis meses.”33
Porém, os protestos continuam por toda a capital Porto Príncipe,
ocasionando várias mortes nesta região, sem ter forças para continuar no
comando Aristide foge para a África e o país se depara com uma nova
intervenção militar da “Organização das Nações Unidas e o poder é
30
Milícia: É A designação genérica das organizações militares ou paramilitares compostas por cidadãos
co.muns, armados ou com poder de polícia que teoricamente não integram as forças armadas de um
país. Disponível em <http://www.dicionarioinformal.com.br/milícia/>. Acesso em 13 de janeiro de 2016.
31
73 BONA. Marco Aurélio. Presença do Brasil no Haiti: Missão de paz e cooperação técnica. UFPI.
Dissertação de mestrado.Teresina. 2011. p. 34.
32
Idem.
33
Ibidem, p. 34.
entregue novamente à elite mulata haitiana, que reorganiza a Polícia
Nacional Haitiana.”34
Intervenção militar da Organização das Nações Unidas ou ameaça a
soberania haitiana?
Segundo o dicionário consultado 35 a palavra “soberania” tem por
13
significado: “Qualidades ou estado do que é soberano; Autoridade de
soberano; Poder supremo; Autoridade moral; e Excelência”, dos quais
podemos dizer sem melindre e com certeza de posse de toda a
informação já consultada, até aqui, que o Haiti não possuía nenhuma das
já citadas qualidades de soberania, desta forma, é possível entender que a
Missão de paz no Haiti não fere ou ameaça à soberania daquele país, pois
se trata de uma força multidimensional constituída e desta maneira
aprovada por duas autoridades competentes, sendo elas a ONU
(Organização das Nações Unidas e a CARICOM (Comunidade do Caribe),
esta última “é um bloco de cooperação econômica e política, criado em
1973, formado por quatorze países e quatro territórios da região
caribenha”36do qual o Haiti também faz parte.
Segundo Stochero com a renúncia de Aristide em fevereiro de 2004
o então Presidente Interino do país foi pressionado pelo Conselho de
Segurança da ONU e acabou concordando com uma nova intervenção
militar a Força Multinacional Interina (MIF) que tinha sua sustentação
econômica assegurada pelos norte-americanos e Canadenses. Essa força
“recebeu da ONU a tarefa de manter a ordem no país e, três meses
depois, foi sucedida pela Missão das Nações Unidas para Estabilização do
Haiti (MINUSTAH).”37
34
Idem.
35
Dicionário do Aurélio. Disponível em: < http://www.dicionariodoaurelio.com/soberania>. Acesso em
13 de janeiro de 2016.
36
Congresso Nacional, Comissão Parlamentar Conjunta do Mercosul. Disponível em: <
http://www.camara.gov.br/mercosul/blocos/CARICOM.htm>. Acesso em: 13 de janeiro de 2016.
37
STOCHERO. Tahiane. Dopaz, como a tropa de elite do exército brasileiro pacificou a favela mais
violenta do Haiti. Rio de janeiro. Objetiva. 2010, p. 39.
demais intervenções militares que a sucederam em pelo menos dois
aspectos: Modificação do aspecto administrativo da missão, passando o
comando da missão a partir de 2004 para o Brasil e segundo, modificando
o discurso de resolver conflitos internos, para, ensinar a resolver conflitos
internos, ou seja, passou-se a dar mais atenção a formação dos militares
haitianos, treinamentos específicos para controle de distúrbios, maior
atenção à população, aumentando a aproximação das tropas militares 14
com a população haitiana.
Resumo: As cidades, sejam elas reais ou imaginárias, são constituídas por seus mapas
textuais, nos quais estão contidas suas histórias e suas personagens. Esses elementos
foram captados pelos mais diversos discursos, dentre eles, o literário. Em relação ao
crescimento dessas cidades, a imprensa tornou-se um importante instrumento de
difusão da literatura em fins do século XIX/início do século XX, tendo sido a
responsável por construir a imagem da nação, conforme os postulados de Benedict
Anderson (2008). Naquele cenário, a crônica foi um gênero de grande importância,
fruto da modernidade, "filha do jornal", ou seja, uma narrativa urbana por excelência.
Dentro desse contexto, este artigo tem por objetivo lançar um olhar acerca da
presença da prostituição judaica no Rio de Janeiro da Belle Époque através da análise
das crônicas de Francisco Ferreira da Rosa, publicadas no Jornal O Paiz, em 1895-1896,
sob o título de A Podridão do Vício. Ademais, o estudo das crônicas de Ferreira da Rosa
será articulado aos textos historiográficos sobre o tema, tais como: SOARES (1992);
MEDEIROS (1992); ENGEL (1989), o que nos permite desvelar véus que muitas vezes
encobriram as polacas. Dessa forma, é possível fazer com que a história de um grupo
de "vencidos", usando o termo de BENJAMIM (1985), possa brilhar por instantes, ainda
que fugidios.
Palavras-chave: Cidade, crônica, mulher.
Abstract: The cities, regardless of being real or not, are made by their textual maps, in
which we can find their stories and characters. These elements were captured by many
different discourses, among which there is Literature. Concerning the growth of these
cities, the press became an important tool to spread the literary discourse by the end
of the 19th century and beginning of the 20th, being responsible for building a national
image, according to Benedict Anderson (2008). In this context, the chronicle was an
important genre, coming from the modernity and being "newspaper's daughter", in
1
Acadêmicos do Curso de Letras Português-Inglês da Faculdade de letras da UFRJ, Bolsitas PIBIC/CNPq
2014-2015 e 2015-2016. Docente do Departamento de Ciência da Literatura da Faculdade de Letras da
UFRJ. Docente do Programa Interdisciplinar de Pós- Graduação em Linguística Aplicada da UFRJ. Este
trabalho contou com o apoio do CNPq, por meio de Bolsa de Iniciação científica para os acadêmicos e
Bolsa de Produtividade em pesquisa PQ2 para a Docente. Esse trabalho constitui resultados do projeto
desenvolvido no âmbito do Programa Institucional de Iniciação Científica 2014-2016.
other words, a prototypical urban narrative. In this perspective, this article intends to
analyze the presence of Jewish prostitution in Rio de Janeiro throughout the chronicles
by Francisco Ferreira da Rosa, published in O Paiz, in 1895-1896, entitled A Podridão
do Vício. Besides, the study of these texts will be articulated to historical studies about
the theme, such as SOARES (1992), MEDEIROS (1992) and ENGEL (1989); which allow
us to discover the veils that many times hid these women. Therefore, we aim to tell
the "history of losers" using the concept by BENJAMIM (1985).
Key words: City, chronicle, woman. 2
I. Introdução
O século XIX foi atravessado por profundas transformações nos
campos político, social e cultural. A modernidade engendrada no século
XIX, imersa na era industrial, trouxe, de acordo com Nízia Villaça e Fred
Góes, novos elementos para a vida coletiva nas grandes cidades,
ocasionando transformações na vida econômica, no trabalho, nas relações
sociais, na vivência privada das pessoas nas cidades e no nascimento da
moderna urbe que antecedeu a vida metropolitana atual. (VILLAÇA; GÓES,
1998, p. 38.). Nesse cenário, Marshall Berman expressa muito bem a
modernidade como turbilhão:
Segundo Broca:
Osvaldo Cruz inicia a campanha pela extinção da febre
amarela e o Prefeito Pereira Passos vai tornar-se Barão
Haussmann do Rio de Janeiro, modernizando a velha cidade
colonial de ruas estreitas e tortuosas. Com uma diferença:
Haussmann remodelou Paris, tendo em vista objetivos
político-militares, dando aos “boulevards” um traçado
estratégico, a fim de evitar as barricadas das revoluções
liberais de 1830 e 48; enquanto Pereira Passos se orientava
pelos fins exclusivamente progressistas de emprestar ao Rio
uma fisionomia parisiense, um aspecto de cidade europeia.
Foi o período do “Bota abaixo.” (BROCA, 2005, p.13)
Avenida Central):
questão de meios para obtê-lo. (...) A America é campo vasto para seus
negócios immundos; para a America elle remove a sua tenda nefanda.
(ROSA, 1896, p. 21). 2
Sendo assim, conforme nos aponta Soares, a cidade da Belle Époque
trazia, em suas franjas, personagens que estavam distantes dos salões,
como foi o caso das Judias Polacas, mas que possuem sua importância na
composição do mosaico citadino, tendo em vista que são também sujeitos
construtores da história. A presença dessas mulheres, imersas na podridão
subalterna do esquecimento, não passou despercebida, uma vez que
suscitou inúmeros olhares desde os documentos produzidos pela
imigração aos relatórios de polícia, chegando à literatura por intermédio
da crônica jornalística. Sua existência, porém, era indesejada e incômoda
dentro da paisagem luxuosa da modernidade carioca. Isso é evidente na
crônica Antes de tudo, de Ferreira da Rosa, integrante do grupo de textos
que serão enfocados por este trabalho:
2
Nas citações feitas das crônicas de Ferreira da Rosa, optamos pela reprodução original de seu texto, o
que implica no uso do Português da época.
É doloroso e desagradabillissimo o trabalho de revolver
podridões. Ninguem ha que por gosto, nem mesmo simples
curiosidade, baixe da esphera sã em que vive, aos lodaçaes
pútridos em que a sociedade immerge de um lado, tranquila,
como que fazando cessão de uma parte do seu corpo,
julgando que essa se corromperá sósinha, sem comunicar-lha
a gangrena. (ROSA, 1896, p. 5) 13
3
Há um trabalho da Historiadora Beatriz Kushnir sobre o Cemitério das Judias Polacas do Rio de Janeiro,
intitulado “Nomear é conhecer: as lápides das polacas no Cemitério Israelita de Inhaúma – um relato”.
In: História, imagem e narrativas No5, ano 3, setembro/2007 – ISSN 1808-9895 -
http://www.historiaimagem.com.br. Destacamos que a Historiadora Dra. Beatriz Kushnir é grande
estudiosa do assunto acerca da história da prostituição das judias polacas e de suas Sociedades
Beneficentes de Ajuda Mútua, tendo sido a pioneira nesses estudos, com a publicação do livro “Baile de
máscaras- Mulheres judias e prostituição.”
A ideia por trás de “Polacas”, de acordo com Gruman (2006),
simbolizava a imagem das mulheres das camadas mais pobres e, em geral,
habitantes das regiões agrícolas e industrialmente atrasadas do
continente europeu. Tanto no Rio de Janeiro como em São Paulo, o termo
“polaca” significava a meretriz estrangeira, não necessariamente oriunda 19
da Polônia, mas dos países do Leste Europeu. O termo abrangia uma gama
de mulheres loiras vindas dos países da Europa oriental que o imaginário
popular unificava em um único rótulo. No imaginário masculino, havia
uma atração exercida, seja a polonesa, a austríaca, a russa ou a judia,
constituindo-se um imaginário voltado para a atração por regiões
distantes e de povos distintos. Segundo Margareth Rago:
4
Em 2009, o neto do autor, Carlos Ferreira da Rosa, organizou uma reedição da obra, com o auxílio de
Verena Kael e Matilde Teles, diretoras do documentário “Aquelas mulheres”, o qual aborda a temática
dessas mulheres esquecidas. O neto do jornalista produziu uma edição de apenas 100 exemplares, os
quais foram doados a bibliotecas e centros de referência, mantendo o português da época.
“Affrontando commodidades, conveniencias, odios e ingratidões,
penetrámos n’uma cidade completamente nova, Babylonia
desconhecida...”. Em seus textos, o autor registra a rotina daquela
comunidade numa escrita que reflete a visão geral da sociedade da época,
marcada por um misto de curiosidade, preconceito e espanto. Na Edição 22
formação discursiva policial, tendo em vista que, em seus textos, ele lança
mão de reportagens, casos e dados fornecidos por delegacias, citando,
inclusive, o discurso de delegados. Em texto publicado no dia 20 de Maio
de 1896, essa relação fica evidente:
Ainda que o caso pareça estar resolvido, a crônica nos deixa aberto
o suspense em relação à real identidade de Siegmond Richer. Vale lembrar
que os textos de Ferreira da Rosa foram pensados para publicações em
jornais, isto é, havia, mesmo que não de forma prioritária, a preocupação
em cativar seu público, induzindo-o a acompanhar as próximas edições de
sua coluna. Para atingir essa popularidade, nada mais frutífero que o
suspense, pois “o suspense tem uma relação bastante estreita com a
ficção popular” (LODGE, 2009, p. 24). Isso se dá no parágrafo final da
crônica, quando o leitor já imagina que tudo havia sido elucidado:
Agora outra face deste homem. Veja o publico com quanto
artificio elle pretende occultar a sua verdadeira condição.
Depois de ouvil-o modesto nas suas ambições, convicto dos
seus direitos, orgulhoso das suas virtudes, vamos observal-o
desde 1879 até à data presente, accusado por negociantes
sérios, anathematisado e descarnado por uma de suas
victimas, expulso da maçonaria brazileira, processado pelo Dr. 37
Felix da Costa, emquanto, peitando uns e illudindo outros,
elle conseguia alistar-se como nosso concidadão! (ROSA,
1896, p. 44).
Por tudo isso, Ferreira da Rosa, de fato, não está ilibado de críticas.
No entanto, o registro do desamparo em sua escrita precisa ser lembrado,
pois foi capaz de usar os poderes da palavra para dar voz às mulheres que
jamais frequentaram espetáculos ou pisaram os salões luxuosos da capital
fluminense. Portanto, almejamos, com este trabalho, contribuir para os
estudos de um autor pouco estudado na Historiografia literária e, assim,
colaborar para o escopo de pesquisas em Ciência da Literatura. Ademais, é
buscada uma compreensão mais profunda e exemplificada da realidade da
prostituição carioca à época, aliando o discurso histórico ao literário-
jornalístico na investigação da marginalização e da memória. Sendo assim,
para além desses objetivos, este projeto é, antes de tudo, a voz das
polacas emudecidas e uma homenagem às mulheres que não puderam ter
nomes, identidades, nem lápides.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARRIGUCCI Jr., David. Fragmentos sobre a crônica. In: Enigma e
comentário. Ensaio sobre literatura e experiência. São Paulo. Companhia
das Letras, 1987.
RIO, João do. A alma encantadora das ruas. [Ed. Especial]. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 2012.
Abstract: Urbanization and the invention of the modern city caused great fascination for
writers, creating new sociability, because the metropolis has become a space conflicting
and contradictory. Walter Benjamin (1994), in his study about the literary modernity of
Baudelaire, tells us that the city emerges in the pages of books, magazines and
newspapers, allowing for the vogue of panoramic literature and in this way, as a
consequence, cities are immortalized by writers: Charles Baudelaire writes the 19th
century Paris; London is thematized by Dickens; Buenos Aires by Borges; Rio de Janeiro is
performed in the literature of Machado de Assis, João do Rio and Lima Barreto; and Lisbon
is inscribed in Eça de Queiroz’ fiction. This work intends to draw some considerations about
city representation in Julio Cesar Machado´s works so as to present evidences of the urban
space from different aspects as such as: the daily life, leisure, the advent of modern
equipment and how these changes are thematized in the literature.
Key Words: Portuguese Literature, 19th century, modernity, city.
1
Este trabalho foi realizado com apoio do CNPq. Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico. Brasil. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq. Docente do Departamento de
Ciência da Literatura da Faculdade de Letras da UFRJ e do PIPGLA- Programa Interdisciplinar de Pós-
Graduação em Linguística Aplicada da UFRJ.
Introdução
Neste trabalho, temos por objetivo fazer uma reflexão sobre a relação
literatura e cidade, pensando o discurso literário como representação da
cidade, a partir da leitura da narrativa A vida em Lisboa.2 Romance
Contemporâneo, de Julio Cesar Machado. Vale ressaltar que a cidade exerceu
grande fascinação sobre os literatos, e eles, por sua vez, produziram e fizeram
circular na cidade moderna, no período abordado, muitos textos literários
cuja temática era a paisagem citadina, sejam eles crônicas, contos, romances
ou poesia e, sem dúvida, tais textos captaram significativamente a nova
sensibilidade urbana e moderna.
1. Escrevendo a cidade
2
Vale ressaltar que os estudos acerca das descrições de Lisboa foram denominados de Olisipografia. Cf.
PIMENTEL, 2012.In: QUEIROZ, et al. Lisboa nas narrativas. Olhares exteriores sobre a cidade antiga e
contemporânea.2012. Há uma abordagem bastante interessante e atual, representada pelos estudos
interdisciplinares entre Literatura e paisagem, dentro dos postulados de Michel Collot, bem como os
estudos da Geografia Cultural Yu-Fu-Tuan e Cosgrove.
discurso tanto para a linguagem falada como para a escrita. De acordo com o
autor, o discurso é moldado pela estrutura social, estabelecendo um
contraponto: “ Um modo de ação uma forma em que as pessoas podem agir
sobre o mundo e especialmente sobre os outros como também um modo de
representação. O discurso contribui para construir as relações sociais entre as 4
margens, seu lixo, ou seja, sua face mais perversa, advinda das contradições do
complexo desenvolvimento econômico-industrial:
sua Lisboa, Julio César Machado demonstrava estar sintonizado com a sua
época, ao expressar o vigor, a novidade e o entusiasmo da modernidade
de então, conforme as palavras de Camilo Castelo Branco:
Júlio César Machado tinha a clara e fluente linguagem que
o género requer; tinha ironias e remoques comedidos,
como a cortesania manda; realçava no bem discernir o
quilate das óperas cantadas, do cantor louvável, e do actor
inteligente; achava de pronto as finas pedras do livro novo
e assoprava mui delicadamente o cisco em que se
deslapidavam, de jeito e modo que não fosse incomodar os
olhos do autor. Estes felizes atributos deram ao folhetinista
de diversos jornais um bem ganhado e soado nome.
(CASTELO BRANCO, 1969, p. 190)
João das Chagas,em sua obra Vida literária, destaca que o folhetim
desempenhou o papel de entreter a nação, o que conferia um tom mais
ameno à série literária, e Julio Cesar Machado também representava esse
locus amoenus, embora houvesse folhetins e crônicas que tematizavam a
vida econômica e política da época. Entretanto, essa consciência crítica
para a reflexão acerca dos problemas da pátria portuguesa só se daria
mais tarde, com a geração de 70: “ninguém melhor do que Júlio César
Machado compreendeu esta índole especial do folhetim, ninguém soube
melhor do que ele fazer do folhetim uma conversação escrita” (CHAGAS,
1866, p. 93-94).
A narrativa de A Vida em Lisboa - Romance contemporâneo (1858)
gira em torno de uma intriga amorosa, cujo pano de fundo é a cidade de
Lisboa, produzindo, assim, uma fisiologia da sociedade da época, ao 14
3. Considerações finais
Resumo:
O trabalho a seguir tem por método a revisão bibliográfica e elabora-se sobre os
pressupostos da Didática da História, destacando a função da História como
orientadora da vida prática, deste modo sendo necessário alcançar o aluno de maneira
diversa, dando-lhe a oportunidade de estabelecer-se como sujeito dentro da
comunidade em que se encontra. O método aqui sugerido para sair-se do modelo
tradicional é o cinema em sala de aula, ou seja, os recursos audiovisuais, deste modo
ampliando o leque de leituras críticas que o aluno pode fazer, munindo-o de
argumentos plausíveis para fazer suas escolhas dentro da sociedade que o mesmo está
inserido.
Palavras-Chave: Consciência Histórica; Ensino de História; Cinema em Sala de Aula;
Educação.
Abstract :
The following work has as method the bibliographic review and it's elaborated on the
assumptions of History's Didactics, highlighting History's role as a daily life advisor, in
this way being necessary to reach the student in various ways, giving him/her the
opportunity to stablish as an individual the community he/she is inserted. The present
suggested method to step out of the traditional model is the cinema in classroom, in
other words, audiovisual resources, expanding the range of critical readings that can
be made by the student, equipping him/her with plausible arguments to make his/her
choices in the society he/she is inserted.
Keywords: Historical Conscience; History Teaching; Cinema in Classroom; Education.
1
Acadêmico do Curso de Licenciatura em História pela Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG,
com experiência de trabalho na Rede Estadual de Ensino de Santa Catarina e do Paraná e na Rede
Particular da cidade de Ponta Grossa - PR.
2
Possui graduação em História (1992), mestrado (1996) e doutorado (2000) em Educação pela
Universidade Estadual de Campinas. Atualmente é professor associado no Departamento de História da
Universidade Estadual de Ponta Grossa. Atua no mestrado acadêmico e no mestrado profissional
(ProfHistória) da UEPG. Tem experiência na área de História, com ênfase em ensino de História, atuando
principalmente nos seguintes temas: cultura histórica, didática da história, consciência histórica,
identidade social, ensino de história. Líder do Grupo de Estudos em Didática da História (GEDHI). É
diretor do Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes da UEPG.
Introdução
O estudo a seguir teve sua inspiração nas aulas da Disciplina de
Prática de História Antiga e Medieval. Essa disciplina ofertada pela
Universidade Estadual de Ponta Grossa e ministrada pelo professor Luis
Fernando Cerri tem como proposta “aproximar os conteúdos curriculares 2
3
Nesse artigo o professor Luis Fernando Cerri justifica a criação dessa disciplina dentro do curso de
licenciatura em História baseado na Didática da História como área da Teoria da História.
Marcos Napolitano (2008) é outro estudioso que defende o cinema
como fonte histórica, deixando bem claro isso quando assegura o cinema
como descobridor da história antes da História descobri-lo como fonte de
pesquisa e veículo de aprendizagem. Além dessa característica da fonte
ele afirma primeiramente que o cinema já vinha utilizando a história, ou 3
seja, clara menção aos filmes épicos e históricos que desde muito são
produzidos.
Com isso, é importante destacar, que o cinema, em sua relação com
a História, pode ser abordado de três maneiras: cinema na História, a
história no cinema e a história do cinema (NAPOLITANO 2008, 240).
Para fins deste texto abordaremos a primeira e a segunda faceta,
aquela representando o cinema como fonte histórica da onde podemos
tirar informações para passar aos alunos e esta como a valorização da
abordagem que o cinema faz da própria história.
Sendo o cinema uma fonte histórica deve cumprir o papel, como tal,
de ser uma ferramenta “no sentido amplo que esta pode alcançar
auxiliando a compreensão do presente através do passado” (CUNHA e
XAVIER 2010, 645).
O recurso audiovisual sobressai às fontes escritas e as iconográficas,
uma vez que traz à vida de modo dinâmico aquilo que outra fonte não
consegue fazer. É preciso que tenhamos consciência que o cinema foi
muito além de apenas, inclusive Edlene Silva (2011a) chama a atenção
para que o professor possa desapegar da utilização de texto, que são
basicamente as fontes utilizadas nas aulas, e abrir-se para explorar com
seus alunos outros caminhos de construção do conhecimento.
A ideia do cinema em sala de aula deve ser abordada com cuidado,
pois (...)
(...) em relação a alguns benefícios oferecidos pelo
recurso cinematográfico, precisamos ressaltar o papel
do professor que, além de mediador, precisa ser um
conhecedor da metodologia aplicada. Um filme não 4
pode fazer e não faz sozinho o papel de despertar o
conhecimento em uma criança (SILVA e Davi 2012,
24).
é uma ciência, que tem seus métodos, como Circe Bittencourt explica
muito bem (1997, 25). A Didática da História abrange também esse
processo de transposição didática dos conteúdos históricos para dentro da
sala de aula e isso não quer dizer simplesmente simplificar, mas é dominar
o conteúdo e, a partir daí, poder passá-lo ao aluno de maneira mais
acessível e muito mais prática, até porque os trabalhos oriundos da
academia são teóricos demais e os jovens a quem nós, como professores,
comunicamos não tem, ainda, os requisitos suficientes para trazer à sua
vida cotidiana aquelas informações, ou seja, dar, de fato, significado aos
estudos egressos dos meios universitários. Cerri (2013, 38) afirma,
ressaltando o que foi dito antes, que “é preciso considerar que a Didática
da História é também uma área de produção de conhecimento, mas não
como uma área aplicada, da qual a História seria uma espécie de ‘ciência
básica’”.
O papel do professor é demonstrar como a História, no nosso caso
de estudo aqui, pode ser útil para o cotidiano e para a formação dos
sujeitos dentro da própria comunidade, não estereotipando o aluno
perfeito, mas trabalhando dentro de cada situação buscando sempre
inserir os conteúdos dentro da realidade daquele aluno para que ele possa
ver-se como um sujeito da história também e, aí sim, possa ser
protagonista dentro da sociedade em que ele vive. Enquanto houver
supervalorização do tradicional e não se perceber que a escola está ali
para servir ao seu entorno, construindo juntamente com ele a educação
necessária para suprir os problemas daquela comunidade, deixando de
lado modelos importados que não cabem à realidade de quem os importa, 8
4
Marc Ferro discute essa guerra pela História em seu livro A História Vigiada. (FERRO 1989)
pode ser considerado o litígio entre japoneses e estadunidenses pelas
ilhas Filipinas; como S’n pode ser considerado o ataque a Pearl Harbor;
como Dn temos o contexto da II Guerra Mundial; por fim temos o
resultado desseprocesso como a entrada dos EUA na II Guerra Mundial,
que para explicar a vitória dos Aliados sobre as potências do Eixo pode ser 10
5
Para compreender melhor o que é Consciência Histórica e a sua função na sociedade de modo mais
lúdico aconselho ver o filme “O Doador de Memórias”, título original “The Giver”, do ano de 2014.
percebida que passa a ser vista como história; a orientação é a
responsável por dirigir a vida cotidiana através dessas vivências; e a
motivação é a que mobiliza forças através das vivências do passado
(RÜSEN 2001, 10-11).
Em outro trabalho Rüsen (2010) vai esclarecer que se podem gerar 11
Conclusão
A História tem o seu lugar e é tido como ponto de litígio, pois é dela
que emana a orientação temporal, através dela é possível compreender
aquilo que nos tornamos, tanto como pessoas, como sociedade. A
consciência história tem papel ímpar dentro da sociedade democrática,
uma vez que essa é firmada na liberdade e no debate, é a história e a
maneira como esta está organizada pelo sujeito que lhes darão as bases
para as escolhas desse mesmo sujeito dentro da comunidade que vive
alterando assim todo um círculo a sua volta.
Com esse papel se aumenta a responsabilidade do professor de
História, já que este é o responsável por mediar a construção do 17
2011a).
O CAMPO DA HISTÓRIA E SEU ENSINO: DISCUSSÃO EM
TORNO DA CONSTRUÇÃO DO CURRÍCULO DE HISTÓRIA
RESUMO
Neste artigo o debate que será realizado tomará como foco de suas abordagens o
ensino de História e a elaboração do currículo de História. Será realizado um balanço
historiográfico pelos caminhos percorridos na elaboração do currículo de História, das
modificações ocorridas ao longo do século XX, como ocorreu no governo de Vargas,
especialmente no chamado Estado Novo (1937-45), e da influência, principalmente da
perspectiva da linha francesa, na compreensão da História como campo de estudo.
Palavras-chave: currículo de história; tempo; ensino-aprendizagem; conhecimento.
ABSTRACT
In this article, the debate that will be held will focus on the teaching of History and the
elaboration of the history curriculum. A historiographic balance will be carried out by
the paths taken in the elaboration of the curriculum of History, of the modifications
that occurred throughout the XX century, as happened in the Vargas government,
especially in the so-called Estado Novo (1937-45), and the influence, especially from
the perspective of the French line, in the understanding of history as a field of study.
Key words: history curriculum; time; teaching-learning; knowledge.
1
Mestre em Relações étnico-raciais pelo CEFET/RJ. Especialização em Educação pela Universidade
Federal Fluminense (UFF) e graduado em História pelo Centro Universitário Abeu (UNIABEU).
Atualmente professor de História no município do Rio de Janeiro. E-mail:
bscarpaguedes@yahoo.com.br
DISCUSSÃO E ANÁLISE
O conhecimento científico está intimamente ligado ao processo histórico –
cultural de uma sociedade e sistematicamente transparece a
preponderância dos interesses exercidos pelas classes hegemônicas nas
relações estabelecidas no âmbito desta mesma sociedade. Dessa maneira, 2
CHOPPIN (2004) aponta que os livros didáticos são muito mais do que
instrumentos pedagógicos utilizados pelos educadores no contexto
escolar para a prática do ensino, passando a ganhar status de documentos
detentores de informações privilegiadas e até certo ponto incontestáveis
pelos discentes devido ao caráter de verdade que lhe é conferido.
No Brasil, principalmente a partir da década de 90 do século XX,
amplia-se a discussão a respeito das extensões inerentes a Didática da
História, questão que paulatinamente vem renovando-se. BERGMANN na
década de 1990 já iniciava o Brasil o debate sobre a explanação em língua
portuguesa em relação as recomendações de Jorn Russen referentes à
Didática da História.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
RESUMO: Este artigo visa discutir algumas concepções que se referem ao processo da
globalização no âmbito de uma sociedade pós-moderna, a discussão perpassará a
cultura, as tecnologias emergentes e a identidade do sujeito pós-moderno. Desse
modo a problematização do conceito de globalização, aldeia global, sociedade líquida
e identidade cultural terá um grande foco para compreender as modificações advindas
do processo da globalização. Portanto o principal ponto será discutir as relações
globalizadas e as transformações que esse evento causou, questionando se é possível
manter a identidade cultural nesse mundo globalizado, onde tudo se tornou
instantâneo.
Palavras-chaves: Globalização – Cultura – Identidade
ABSTRACT: This study presents some concepts that refer to globalization process in
the context of a postmodern society, the discussion thread through culture, emerging
technologies and the identity of the subject. Thus the questioning of the concept of
globalization, global village, net society and cultural identity will have a major focus to
understand this process. Therefore, the main points to be discussed are globalized
relations and the changes that caused this event, questioning whether it is possible to
maintain the cultural identity in this globalized world where everything has become
instantaneous.
Keywords: Globalization – Culture – Identity
1 - Introdução:
2 – Globalização e Cultura:
5 – Sociedade Líquida:
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS