Museologia Decolonial
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MUSEOLOGIA DECOLONIAL:
OS PONTOS DE MEMÓRIA E A INSURGÊNCIA DO
FAZER MUSEAL
Lisboa
2018
Marcele Regina Nogueira Pereira
Museologia Decolonial:
os Pontos de Memória e a insurgência do fazer museal
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OS PONTOS DE MEMÓRIA E A INSURGÊNCIA DO
FAZER MUSEAL
Lisboa
2018
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AGRADECIMENTOS
As pessoas que tecem esta tese são muitas e certamente não consigo aqui
nominar todas, por ser fruto de uma reflexão coletiva e decolonizadora – não poderia dar
conta da imensidão de agradecimentos que deveria fazer. Mas, para que eu não pareça
injusta ao diluir no todo pessoas fundamentais para esse processo, darei nomes a algumas
delas e espero que possa traduzir um pouco de minha gratidão.
Em Brasília:
Agradeço ao Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), pela acolhida e oportunidade de
contribuir com esse Programa, instituição que foi minha segunda casa por quase cinco anos.
Parabenizo aos competentes consultores contratados, especialmente à Cristina Holanda,
em nome de quem eu agradeço todos pela produção de farto material que certamente
contribuirá com o fortalecimento do Programa e da Museologia Social.
Em Rondônia:
Começo por agradecer à minha querida Universidade Federal de Rondônia (UNIR)
e aos amigos que lá deixei para mergulhar nesta jornada d’além mar. Agradeço aos meus
companheiros de Reitoria, na figura do magnífico reitor da instituição, Ari Miguel Teixeira Ott,
pelo apoio e incentivo.
Agradeço à equipe da Pró-reitoria de Cultura, Extensão e Assuntos Estudantis, por
dividir comigo tantos momentos de angústias e por estarem sempre do meu lado com
sorriso e palavras de apoio. Especialmente, em nome de todos, agradeço à Elyzania Torres,
amiga que trago no peito.
Agradeço aos colegas de Departamento de Arqueologia, por me ajudarem
reduzindo a carga de disciplinas em momentos mais difíceis.
Agradeço ao Partido das Divas Empoderadas (PDE), formado por Rossi, Val,
Rosangela, Renata e ao Poeta (Diego) – valeu por todo o carinho!
Agradeço aos amigos dedicados e maravilhosos que andaram a me ouvir, lamentar,
questionar, chatear e, principalmente, negar convites para os encontros de luz e festa:
Elyzeu Braga, Poeta Mado, Adilson Siqueira, Papagaio, Seone, Brena Barros, Raissa
Dourado, Inaê, Thais Passos, Adriana, Edinair...
Aos amados Rubens Vaz Cavalcanti, Cida Louzada e Edson Arcanjo, um
agradecimento muito especial pelos momentos de partilha sobre a construção deste
caminho e de tantos outros caminhos de vida.
Agradeço aos amigos da quarta do peixe, grupo que virou família, me acolhe e
dedica amor. Sou grata demais por vocês existirem, João, Marly, Donizete, Zé, Marleti, Luiz,
Telminha, Ismael, Alcilene, Maurício, Mayara, Robson...
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Agradeço a esta terra que viu nascer esta tese: Porto Velho, Rondônia. Sou já
desse lugar que aprendi a amar. Seu chão de barro vermelho me segurou quando caí, e não
me deixou cair mais.
Agradeço ao Rio Madeira, por me acalmar toda vez que me desesperei e perdi a
esperança. Ele dizia que ia dar tudo certo, e eu sempre acreditei.
No Rio de Janeiro:
Agradeço aos companheiros do Museu de Favela, com os quais pude
exercitar ainda mais a Museologia Social – foi lá, nas subidas e descidas do morro, na
companhia de Rita, Antônia, Sidney e Katia, que eu decidi trabalhar na tese. Por intermédio
deles, agradeço por todos os Pontos de Memória, seus integrantes cheios de perseverança
e que não desistem, seguem acreditando que é possível investir na melhoria dos territórios e
de nossas vidas. Militantes dessa causa e que acreditam, acima de tudo, no poder de
transformação social que a memória tem.
Agradeço aos meus amigos que sentem falta da minha presença, mas que
compreendem a ausência. Fui salva pelos encontros com as minhas queridas Carina,
Elizangela, Kassia, Flávia e Michelle. Nossa amizade é longa: desde os corredores da
Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), vocês fazem parte disso.
Em Lisboa:
Agradeço a oportunidade concedida pela Universidade Lusófona de Humanidades
e Tecnologias (ULHT), em especial ao Curso de Doutoramento em Sociomuseologia, aos
colegas de estudo e aos responsáveis pelo Programa. Com seriedade, competência e
dedicação, seguem fortalecendo o campo da Museologia Social – a ULHT foi uma escolha
da qual me orgulho muito.
Também agradeço às sugestões do júri prévio, que contribuiu de forma significativa
para que o meu trabalho ganhasse contornos proveitosos. Foi um júri sensível e atento que
emocionou e motivou ainda mais a minha crença na generosidade das pessoas, fazendo
com que eu aperfeiçoasse a minha escuta.
Ah, não posso deixar de registrar aqui a presença doce e instigante do meu mais
novo amigo e companheiro de tese, Francisco Moutinho – conviver contigo valeu cada
minuto (até disse que eu merecia folga!). Aprendi muito com esse pequeno rapaz cheio de
energia e encantamento. A seus pais, meus queridos amigos Judite Primo e Mario Moutinho,
sem palavras para agradecer pelo incentivo. Acolheram-me na alma, e isso não tem lugar
para descrição neste plano físico. Gratidão!
Em todos os lugares:
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Adriano Almeida, Paula Nunes Costa, João Bispo, Wellington Silva, Terezinha
Resende, Cláudia Feijó, Cláudia Rose, Viviane Rodrigues, Helena Quadros, agradeço
imensamente o apoio e a ajuda para a construção desta tese. Seja como interlocutores,
incentivadores ou no envio de informações valiosas, as constituições foram fundamentais.
Agradeço a orientação segura e cheia de entusiasmo de Mario Moutinho, sempre
dedicado a me fazer perceber meu potencial e os limites. Só pude concluir este trabalho por
que estavas ao meu lado, como um grande amigo sensível e solidário. Gratidão!
Mario de Souza Chagas, sempre atento e presente, me ajudou a ter dúvidas e a
olhar de maneira diferente para as mesmas coisas. Assim como o Programa Pontos de
Memória teve nossa energia, esta tese também a possui. Estar ao seu lado na construção
do Programa e na realização deste trabalho é como um ciclo que se fecha para abrir outros
tantos. Juntos temos ideias e queremos ganhar o mundo com elas, principalmente porque
também podem mudar o mundo. Gratidão, meu amigo!
In memoriam, dedico à Ilone Seibel, amiga e companheira de vida e de amor à
educação, com quem tive tantas ideias. Você ficaria contente com isso, né? Eu consegui!
Para minhas avós, Mariazinha e Marta, vejam: aquela menina pobre de São
Gonçalo que vocês tanto amaram e agora é DOUTORA! Gratidão!
Agradeço aos meus pais, companheiros carinhosos desta jornada. Quando
embarquei para Lisboa, me lembro dos olhos cheios de ternura e orgulho do meu pai
querido e amado, que me ajudou a chegar até aqui. Mãezinha, ter você perto garante minha
paz. Ao meu amado irmão Marcelo, só digo que chegou ao fim – vou parar de falar em tese.
Gratidão!
Por fim, dedico esta tese para minhas filhotas, porque delas vêm toda a minha
inspiração para a vida. Agradeço pelo carinho e incentivo presentes, sempre
compreendendo minhas ausências e acreditando na mãe. Agradeço pela paciência de
tantos momentos roubados para esta escrita. Dedico todo meu esforço e conquistas a
vocês, suas lindas. Myllena, Mylla e Ana Vitória, ACABOU! Eu consegui.
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RESUMO
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ABSTRACT
This study presents the trajectory of Points of Memory Program since its launch year
in 2008 to the present day. The purpose of this thesis is to analyze the documents from the
Technical Cooperation between the Brazilian Institute of Museums, a Ministry of Culture’s
autarchy, the Organization of Ibero-American States and the Ministry of Justice, with the
intention of encouraging museum processes in popular communities located in 12 Brazilian
capitals considered violent by the National Program of Security with Citizenship (Pronasci, in
Portuguese abbreviation).
In order to discuss the accumulations, difficulties and potency of this Program for the
museums and Museology field, we propose to analyze aspects related to the political, poetic
and pedagogical dimension of Points of Memory, especially the Decolonial suppositions that
are fruit of the studies from the Modernity/Coloniality group.
This Program, with a focus on the role of museums and Museology in society,
accumulates advances in the consolidation of Social Museology in Brazil, result of a National
Museum Policy that is strengthened towards social policies that are dedicated to guarantee
the Right to Memory and the dignity of historically excluded groups and communities in the
social and cultural spheres. We understand this program as an insurgent and decolonizing
action of museological thought and practice.
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ABREVIATURAS E SIGLAS
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ÍNDICE GERAL
RESUMO.......................................................................................... 8
ABSTRACT ...................................................................................... 9
ABREVIATURAS E SIGLAS ......................................................... 10
ÍNDICE DE IMAGENS.................................................................... 16
ÍNDICE DE QUADROS .................................................................. 18
ÍNDICE DE TABELAS .................................................................... 19
ÍNDICE DE ESQUEMAS ................................................................ 20
ÍNDICE DE MAPAS ........................................................................ 21
INTRODUÇÃO ............................................................................... 22
Procedimentos metodológicos ............................................................ 31
As fontes................................................................................................. 39
CAPÍTULO 1 – PONTOS DE INFLEXÃO ...................................... 55
1.1 Abordagem conceitual .................................................................... 56
1.1.1 Um olhar feminino sobre o papel social dos museus .......................... 56
1.1.2 Museologia, Nova Museologia e Museologia Social: interfaces e
conjuntura ........................................................................................................ 71
1.1.3 Teoria Decolonial .................................................................................... 80
1.1.4 Decolonização do pensamento museal e museológico ....................... 83
1.1.5 Museologia das ausências e das emergências .................................... 93
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ÍNDICE DE IMAGENS
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ÍNDICE DE QUADROS
Quadro 1 – Cronograma de atuação das consultorias (junho de 2009 a julho de 2013) ...... 53
Quadro 2 – Relatório de localidades do Pronasci – parte 1................................................ 127
Quadro 3 – Relatório de localidades do Pronasci – parte 2................................................ 127
Quadro 4 – Relatório de localidades do Pronasci – parte 3................................................ 127
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ÍNDICE DE TABELAS
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ÍNDICE DE ESQUEMAS
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ÍNDICE DE MAPAS
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INTRODUÇÃO
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que medida os Pontos de Memória, museus (comunitários, sociais etc.) se relacionam com a
intervenção do Estado?
De fato, os acréscimos conceituais e metodológicos a serem observados nessa
experiência impulsionam um cenário mais complexo para o campo dos museus. Surgem
novos problemas para essa área e novas oportunidades de compreensão dos processos
estabelecidos entre atores sociais diferentes e como eles se apropriam de tal campo,
revendo a trajetória deste e as formas de relacionamento entre os museus, o acervo
museológico e o papel do museu na sociedade. Essa experiência nos permite perceber
claramente as amarras chamadas pelos autores decoloniais de colonialidade do poder, do
saber do ser, impostas pela sociedade que funciona conforme uma visão colonizadora e
socialmente discriminatória. Consideramos que os Pontos de Memória, estimulados pela
PNM e os pressupostos da Museologia Social, permitem uma reflexão acerca da
necessidade da de(s)colonização do pensamento museal brasileiro, contribuindo com a
reflexão acerca do surgimento de práticas museais e museológicas insurgentes e
de(s)colonizadoras.
Com o escopo de problematizar tais questões, propomos a divisão deste trabalho
em quatro partes, interligadas por pontos estratégicos que nos auxiliam a percorrer a
narrativa. A primeira parte, vista como o ponto de partida, pretende compreender as fontes
de inspiração conceitual do Programa. Para isso, convidamos quatro autoras que, em
diferentes contextos e pensamentos, contribuíram para a formação do campo da Museologia
Social – Marta Arjona Pérez, Waldisa Rússio Camargo Guarnieri, Maria Célia Teixeira Moura
Santos e Myrian Arroyo – e realizam, em suas trajetórias profissionais, reflexões que
consideramos importantes e que ajudam a compreender a necessidade de uma
aproximação maior com as questões sociais, recolocando as discussões acerca do papel
dos museus diante da sociedade.
Escolhemos as mulheres para demonstrar a riqueza do pensamento delas para o
campo dos museus e da Museologia. Reforçar as contribuições femininas na constituição do
campo da Museologia Social reforça um dos princípios relacionados a essa área de
atuação, pautado pelo fortalecimento da presença feminina no pensamento museal e os
aportes dados à discussão sobre os museus sociais. A partir disso, exercitamos o
pensamento decolonial.
As autoras desenvolvem suas reflexões segundo contextos e tempos distintos, o
que nos permite observar uma sintonia nos trabalhos executados e influência nas formas de
pensamento. Maria Célia Santos tem a oportunidade de transitar e promover intercâmbios
com Waldisa Rússio e Miriam Arroyo, corroborando com a ênfase dada ao diálogo acerca
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Procedimentos metodológicos
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1 A OEI é um organismo internacional de caráter governamental que atua na cooperação entre os países no
campo da educação, ciência, tecnologia e cultura, com vistas ao desenvolvimento integral da democracia e da
integração regional (Organização de Estados Ibero-americanos, 2017).
2 Esta expressão é utilizada pela OEI para denominar os profissionais contratados por meio de um Termo de
Referência, equivalente a um edital, para a execução técnica e analítica de seus convênios e cooperações. Com
finalidades distintas e comprovada experiência nos assuntos objetos das contratações, esses profissionais
desenvolvem relatórios chamados de “produtos” após a seleção e a assinatura de contrato, em benefício dos
respectivos programas e projetos. Importante destacar que a propriedade intelectual dos resultados obtidos a
partir dos produtos, segundo os contratos assinados, é da contratante – nesse caso, a OEI e o Ibram.
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existem, de que não esperaram por nós, de que há muita gente que está
farta, que pensa, sente e trabalha em direções análogas: nada a ver com
moda, mas com um “ar do tempo” mais profundo, no qual se fazem
investigações convergentes em domínios muito diversos (Guattari &
Rolnik, 2009, p. 14).
3 Em 20 de janeiro de 2009, por meio da Lei n. 11.906, o então Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva
cria o Ibram, cargos efetivos e comissionados e dá outras providências. Este fato contribui de forma significativa
para a consolidação da Política Nacional de Museus (PNM) e, por conseguinte, fortalece um conjunto de práticas
já iniciadas com a atuação do Demu/Iphan, em especial as dedicadas à Museologia social junto às comunidades.
O Ibram iniciou as atividades com a equipe que originalmente esteve à frente do Demu/Iphan na criação e
execução da PNM. Tal instituto agrega os pressupostos da Museologia Social em suas bases, especialmente ao
pensar uma coordenação denominada Museologia Social e Educação (Comuse). Importante destacar que o
Departamento de Processos Museais (DPMUS) também possui avanços em sua constituição, pois permite
compreender os museus em perspectiva ampliada, incluindo os processos museais. É o DPMUS que fará a
gestão do Programa Pontos de Memória, em articulação com os demais departamentos do Ibram, sobretudo
pela equipe do Departamento de Difusão, Fomento e Economia dos Museus (DDFEM) que, à época de
constituição do Programa, era dirigido por Eneida Braga Rocha (Ibram, 2017).
4 Atuei como coordenadora de Museologia Social e Educação do Departamento de Processos Museais ligado ao
5 A execução do Programa Pontos de Memória teve início apenas em 2009, se constituindo como uma das
primeiras ações da Comuse na gestão do Ibram; todavia, sua elaboração, negociação e tramitação começaram
ainda em 2008. Portanto, para as análises desta tese, consideramos o ano de 2008 como o início do Programa.
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cartas, filmes e fotografias. Os materiais acima descritos podem ser identificados também
como fontes secundárias e primárias, respectivamente (Oliveira, 2007).
Os relatórios dos consultores do Programa Pontos de Memória serão detalhados no
próximo capítulo, assim como uma breve apresentação dos profissionais que
desenvolveram tais atividades no âmbito do Ibram. Esses materiais, considerados fontes
primárias, receberam um tratamento cuidadoso, pois não foram ainda objeto de outras
análises e são resultados da gestão de um programa institucional que certamente ainda
será verificado pelos gestores da iniciativa, com vistas ao desenvolvimento, à ampliação e à
consolidação da proposta.
Para a análise documental a partir dos relatórios, com a finalidade de compreender
a trajetória do Programa Pontos de Memória e seus acúmulos para o campo da Museologia
Social em perspectiva decolonial, foi preciso investir na reelaboração de conhecimentos
presentes nos documentos, criando outras formas de compreensão do fenômeno estudado
para a interpretação e a sistematização dos dados. Foram abordados neste estudo os 236
produtos provenientes do trabalho de 34 consultores6 contratados por meio do Prodoc
OEI/BRA 08/007 – do conjunto de fontes foram trabalhados apenas 111 produtos
elaborados por 24 consultores7. Importante destacar que esse recorte considera que os
relatórios contribuem expressivamente para a narrativa acerca dos anos iniciais do
Programa, identificando de forma sistemática aspectos relacionados às dimensões política,
poética e pedagógica dos Pontos de Memória.
Após a seleção e a análise preliminar dos documentos, foi possível proceder à
análise dos dados e identificar, a partir do quadro teórico proposto, o contexto, os interesses
6 Segundo a consultora Cristina Rodrigues Holanda (2015), em seu produto 20: Documento técnico contendo
relatório de avaliação final da execução dos objetivos do Prodoc OEI/BRA 08/007, no período de 2013-2016
(Projeto – OEI/BRA 08/007), com execução nacional pelo Ibram e em parceria com a OEI, os consultores do
Programa Pontos de Memória podem ser identificados a partir de três categorias:
a) 11 consultores locais, ou seja, profissionais que residiam ou mantinham diálogo direto com os “Pontos de
Memória pioneiros”, à exceção da Brasilândia (Adriano Silva, Adriano Almeida, Camila Moura, Deuzani Noleto,
Gustavo Gervásio, Isabela Santos, Lucas Morates, Marcelo Rocha, Rita Pinto, Viviane Rodrigues e Wellington
Pedro). Eles produziram três produtos cada, com exceção de Rita Pinto, com quatro. Total: 34 produtos.
b) 20 consultores especialistas, que ficaram mais diretamente vinculados à gestão do Programa Pontos de
Memória, numa perspectiva mais estrutural. O número de produtos elaborados por profissional, em ordem
decrescente, foi: Sara Couto Schuabb (25); Cristina Holanda (20); Natália Spim (19); Inês Gouveia (15); João
Paulo Vieira (14); Ana Maltez (13); Wélcio Toledo (12); Lavínia Cavalcanti (10); Mônica Freitas (8); Vera
Demoliner (8); Christiana Storino (7), Elmer Oliveira (7); Silvana Bastos (7); Cláudia Castro (6); César Valente
(3); Cyntia Oliveira (3); Beatriz Lana (2); Ana Paula Varanda (1); Daniel Fernandes (1) e Mariângela Ribeiro (1).
Assim, temos 190 produtos. Obs.: Pedro Welligton foi “consultor local” e depois “consultor especialista” com oito
produtos, por isso não está contabilizado entre os 19 do segundo grupo, para não haver duplicidade.
c) Três consultores da Secretaria da Cidadania e da Diversidade Cultural (SCDC) foram assim denominados
porque receberam recursos ao Prodoc OEI/BRA/08/007 vindos da referida secretaria do Ministério da Cultura
(MinC) e voltaram suas atividades tanto para Pontos de Memória, como aos Pontos de Cultura: Maristela Simão
(5), Rodolfo Fonseca (4) e Eliete Pereira (3). Total: 12 produtos. Obs.: João Paulo Vieira, a partir do segundo
semestre de 2014, teve seu contrato pago com o aporte da SCDC, mas, como foi mencionado entre os
consultores especialistas, não está contabilizado aqui, para não haver duplicidade.
7 Informações mais detalhadas acerca dos consultores selecionados podem ser vistas no item “Fontes” desta
tese.
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As fontes
etapa do Programa Pontos de Memória foi fundamental. Além das elaborações, com o cumprimento dos
produtos demandados, auxiliou com a identificação e os contatos iniciais a partir de seus conhecimentos prévios
em algumas comunidades, indicando nomes e organizações sociais que possuíam experiências de memória em
cada cidade.
10 O livro “Pontos de Memória: metodologia e prática em Museologia social”, editado pelo Ibram e pela OEI em
2016, apresenta uma relação com os nomes dos consultores contratados de 2009 a 2015, período anterior à
publicação da obra. Ele não indica os produtos produzidos por esses profissionais, o que consideramos ser uma
pena, pois poderia ser um registro público importante de tais materiais.
11 Projeto – OEI/BRA 08/007, cuja execução nacional é realizada pelo Ibram, em parceria com a OEI.
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12 Reconhecemos, para fins desta tese, a produção individual realizada pelos consultores para a elaboração dos
produtos e o esforço intelectual deles. Dessa forma, para melhor situar o leitor diante das construções desta
narrativa, cada profissional será identificado considerando que representam, nos trabalhos, suas opiniões e
agregam os acúmulos profissionais provenientes das suas variadas áreas de formação. É importante destacar
que, por mais que reflitam um trabalho feito em equipe, com acréscimos consideráveis advindos da vivência e
das dinâmicas presentes no desenvolvimento da proposta provenientes da articulação e reflexões entre os
membros da equipe de funcionários do Ibram e dos Pontos, os produtos configuram impressões pessoais e
esforço individual. Portanto, para que possamos conduzir esta narrativa que busca traçar a trajetória do
Programa, cada produto terá os autores citados adequadamente e relacionados na parte final como fontes. No
entanto, caso exista o interesse de consulta aos produtos originais apresentados para compor esta tese, eles
deverão ser solicitados ao Ibram, que detém os direitos pela divulgação de tais trabalhos. Aproveitamos a
oportunidade para agradecer ao Ibram pela autorização para utilizar produtos, fato que viabilizou a realização
desta tese – esperamos que esta possa contribuir para o enriquecimento das discussões acerca do Programa.
13 Os consultores contratados foram: Adriano Almeida (Bom Jardim – CE), Lucas Morates (Lomba do Pinheiro –
RS), Camila Moura (Terra Firme – PA), Deuzani Noleto (Estrutural – DF), Rita Pinto (Museu de Favela – RJ),
Viviane Rodrigues (Jacintinho – AL), Marcelo Rocha (Sítio Cercado – PR) e Wellington Pedro Silva (Taquaril –
MG). Esses profissionais produziram, em média, três produtos cada, com exceção de Marcelo Rocha (2),
Adriano Almeida, Viviane Rodrigues e Wellington Pedro (1), perfazendo 17 produções (Holanda, 2015).
14 No período de 2009 a 2011, quando começou a ser executado, o Prodoc OEI/BRA 08/007 contratou 10
consultores que ficaram diretamente vinculados à gestão do Programa Pontos de Memória, numa perspectiva
mais estrutural. O número de produtos elaborados, em ordem decrescente, foi: Inês Gouveia e Sara Couto
Schuabb (10); Christiana Storino, Welcio Toledo e Elmer Oliveira (7); Cláudia Castro (6); Beatriz Lana e Lavínia
Santos (2); Ana Paula Varanda e Daniel Fernandes (1). Assim, temos 53 produtos (Holanda, 2015).
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Marcele Regina Nogueira Pereira
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os Pontos de Memória e a insurgência do fazer museal
15 Possui graduação em História pelo Centro Universitário de Brasília (1993) e mestrado em Educação pela
Universidade de Brasília (UnB) (2003). Foi assessor pedagógico da Fundação Oswaldo Cruz – Brasília,
professor da Secretaria de Educação do DF, professor de didática para facilitadores da Escola Nacional de
Administração Pública e coordenador adjunto da Escola de Governo em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz –
Brasília. Trabalhou no Ibram como consultor responsável pela implantação do projeto Pontos de Memória, ao
elaborar os marcos teórico e metodológico. Tem experiência na área de Educação, formação para a gestão no
serviço público e didática para servidores da Administração Pública. Trabalha com Memória e Museologia Social
e atua com movimentos sociais e culturais ligados à literatura, identidade e pertencimento. É escritor, poeta, com
três livros publicados e participação em diversas revistas e coletâneas. Faz parte da Caravana Rolidey –
Literatura na Estrada, grupo de escritores de diversas cidades que tem como proposta levar o debate sobre
literatura contemporânea brasileira e apresentar a produção literária dos autores em diversas cidades do país
(texto retirado da plataforma Lattes em 13 agosto, 2017).
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sondagem dos 12 Pontos de Memória; 6. Documento final com uma proposta de estrutura
de processo de trabalho para a capacitação dos agentes da comunidade que irão implantar
o Projeto Pontos de Memória (junho de 2010); 7. Documento final com a consolidação dos
resultados e validação de instrumentos e propostas de metodologia para implantação dos
Pontos de Memória (junho de 2010).
Em conformidade com o TOR16 134, a consultora Inês Cordeiro Gouveia17 percorre
os anos iniciais do Programa apresentando, por meio de entrevistas com os personagens
que executam a proposta, um amplo panorama e contextualização histórica com as bases
para a elaboração e execução metodológica dos anos iniciais de execução do Prodoc
Pontos de Memória. Os resultados desse trabalho auxiliam na compreensão dos processos
e das tomadas de decisão, o que contribui com a narrativa proposta para o surgimento e
desenvolvimento dos Pontos de Memória: 1. Documento preliminar com o Plano de Trabalho
para o registro da memória do processo de implantação e desenvolvimento do Projeto Ponto
de Memória (dezembro de 2010); 2. Registro do processo de concepção do Projeto Ponto
de Memória desde a sua proposição no âmbito do Programa Nacional de Segurança com
Cidadania (Pronasci) (fevereiro de 2010); 3. Relatório das estratégias adotadas para a
identificação e sensibilização de comunidades e dos interlocutores locais envolvidos no
Projeto Pontos de Memória (junho de 2010); 4. Relatório das estratégias adotadas para a
formação das instâncias deliberativas dos Pontos de Memória, como parte do
desenvolvimento do modelo de gestão (setembro de 2010); 5. Relatório analítico das
oficinas realizadas com as comunidades envolvidas nos Pontos de Memória (julho de 2010);
6. Relatório das estratégias adotadas para a consolidação da metodologia do IP a ser
desenvolvido nas localidades dos Pontos de Memória (outubro de 2010); 7. Relatório de
sistematização e registro de estratégias e processos testados no âmbito da implementação
do Projeto Pontos de Memória, contendo plano do registro de memória das próximas ações
(janeiro de 2011); 8. Proposta de organização de conteúdos para produção editorial, de
acordo com reflexões teórico-metodológicas produzidas no âmbito do Projeto Pontos de
Memória (fevereiro de 2011).
Por sua vez, o TOR 19/2009 foi responsável pelas diretrizes para a contratação de
profissional que realizaria o monitoramento e a sistematização das informações referentes
ao Programa, incluindo o acompanhamento da instalação e da manutenção dos Pontos de
16 TOR: Abreviação de Termo de Referência, equivalente a um edital, com indicações sobre requisitos
profissionais, produtos esperados, prazos, valores, indicados pelos contratantes OEI e Ibram.
17 Articuladora da Rede de Museologia Social do Rio de Janeiro. Doutoranda em Museologia e Patrimônio,
mestre em Memória Social, historiadora com experiência de atuação em docência. Pesquisadora dedicada ao
campo da Museologia, a partir dos seguintes temas e áreas: Museologia Social, patrimônio, política cultural,
diversidade cultural (texto retirado da plataforma Lattes em 13 agosto, 2017).
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Memória. Nesse sentido, a consultora Beatriz Lanna Lyra18 desenvolveu dois produtos: 1.
Plano de trabalho contendo cronograma das ações que envolvem a implementação dos
Pontos de Memória (julho de 2009); 2. Documento preliminar de consultores e atividades
para a implementação dos Pontos de Memória (novembro de 2009).
Já Elmer Alexandre de Oliveira19, consultor em Tecnologia da Informação, foi
contratado para, em conformidade com o TOR 98/2009, desempenhar os seguintes
produtos: 1. Autenticação de documentos em mídias digitais com o uso da tecnologia de
Certificação Digital padrão ICPI-Brasil e a sua aplicação nos Pontos de Memória; 2. Padrões
de armazenamento de arquivos digitais em “banco de dados centralizado”, compatíveis com
os padrões de metadados internacionais e a sua aplicação nos Pontos de Memória; 3.
Padrões de armazenamento de arquivos digitais de “imagens fotográficas” em bancos de
dados centralizados, compatíveis com os padrões de metadados internacionais e a sua
aplicação nos Pontos de Memória; 4. Padrões de armazenamento de arquivos digitais de
“áudio” em bancos de dados centralizados, compatíveis com os padrões de metadados
internacionais e a sua aplicação nos Pontos de Memória; 5. Padrões de armazenamento de
arquivos digitais de “vídeo (imagens em movimento e documentos sonoros)” em banco de
dados centralizado, compatíveis com os padrões de metadados internacionais e a sua
aplicação nos Pontos de Memória; 6. Criação de base de dados centralizada que possibilite
a documentação, gestão de acervos museais e mídias eletrônicas, produção e disseminação
da informação, seguindo os padrões internacionais e a sua aplicação nos Pontos de
Memória; 7. Desenvolvimento de portal de internet (web) em linguagem Active Server
Pages, com informações disponíveis em base de dados centralizada, prevendo as áreas de
notícias, políticas, eventos museais, políticas, programas e ações do campo museal, bem
como a disponibilização dos arquivos digitais de textos, sons, imagens e vídeos.
O consultor contratado para o desenvolvimento da Pesquisa Diagnóstica Qualitativa
do Programa foi Daniel Mendes Fernandes20, em conformidade com o TOR 135, em que foi
solicitado este produto: 1. Plano preliminar de implantação de pesquisa diagnóstica e seu
monitoramento (abril de 2010).
Para a empreitada relacionada aos desafios da Sustentabilidade, contratou-se Ana
Paula de Moura Varanda21 pelo TOR 27/2010, tendo sido realizado apenas o primeiro
Montes Claros (Unimontes). Dedica-se atualmente às pesquisas em etnologia sobre os povos Timbira e demais
sociedades da família linguística Jê e suas relações históricas com o aparato cultural ocidental. Também tem
experiência em etnografia com populações rurais no norte de Minas (texto retirado da plataforma Lattes em 13
agosto, 2017).
21 Possui graduação em Geografia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), mestrado em
Planejamento Urbano e Regional pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e doutorado em Geografia
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pela Universidade Federal Fluminense (UFF), com período sanduíche no Centro de Estudos Sociais da
Universidade de Coimbra. Desenvolve, há mais de dez anos, atividades de investigação e assessoria a
microempreendimentos produtivos familiares, associativos e comunitários no Brasil. Ao longo de sua trajetória
profissional, coordenou projetos de fomento a essas experiências e pesquisas, com o intuito de avaliar
programas sociais e políticas públicas de apoio ao cooperativismo, à economia solidária e ao desenvolvimento
de tecnologias sociais no país. Mais recentemente, ao participar como pesquisadora do Laboratório Herbert de
Souza: Tecnologia e Cidadania da UFRJ, desenvolveu atividades de assessoria ao Fórum Brasileiro de
Mudanças Climáticas. Essas ações tinham como foco os impactos das mudanças climáticas em populações
vulneráveis, fomentando o debate sobre o conceito de adaptação e a necessidade de se incidir sobre as causas
que provocam as situações de vulnerabilidade, relacionando a garantia de direitos humanos e de acesso a
modelos alternativos de desenvolvimento, como ações estratégicas e estruturantes para uma agenda nacional
de adaptação às alterações no clima. Atualmente é professora na Universidade do Estado de Minas Gerais
(UEMG), onde coordena projetos de pesquisa e extensão por meio do Núcleo de Estudos sobre Diversidades
Socioculturais e Produção do Espaço. É pesquisadora do eixo Outras Economias, vinculado ao Laboratório de
Estudos de Movimentos Sociais e Territorialidades (Lemto) do Programa de Pós-graduação em Geografia da
UFF (texto retirado da plataforma Lattes em 13 agosto, 2017).
22 Não encontramos registros na plataforma currículo Lattes. Último acesso em 13 agosto, 2017.
23 Formada em Comunicação Social – Jornalismo e tem pós-graduação em Comunicação Pública pelo Instituto
de Educação Superior de Brasília (Iesb). Atuou, de 2010 a 2016, no Programa Pontos de Memória, do Ibram,
como consultora em Comunicação Institucional e Comunitária. De 2006 a 2010, trabalhou na Assessoria de
Comunicação do Departamento de Museus e Centros Culturais do Instituto do Patrimônio Histórico Artístico e
Nacional (Demu/Iphan). E, de 2003 e 2006, atuou na Secretaria de Articulação Institucional (SAI) e na Secretaria
de Fomento e Incentivo à Cultura (Sefic) do MinC (texto informado pela autora em 17 fevereiro, 2018).
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24 É bacharel em Música pela Universidade de Brasília (UnB), Brasil (1995), mestre em Performance Musical
pela New York University, EUA (2000) e mestre em Administração das Artes pela Boston University, EUA (2004).
Em 2014 foi agraciada com a Chevening/Clore Leadership Fellowship para realizar treinamento e
desenvolvimento profissional com líderes culturais na Inglaterra. É professora efetiva da Secretaria de Educação
do Governo de Brasília, lotada na Escola Parque 303/304 norte. Participou de festivais de música e concertos no
Brasil, Argentina, Alemanha, EUA e Inglaterra, tendo atuado como flautista na Orquestra Sinfônica de Ribeirão
Preto em 1996. Foi professora da Escola de Música de Brasília. Como gestora cultural, possui experiência em
âmbito nacional e internacional nas áreas de cooperação técnica internacional, planejamento estratégico e
gestão de programas e projetos institucionais nas áreas de museus, arte/educação e setores criativos (artes de
espetáculo). Atuou em organizações artísticas e culturais como OEI, MinC em Brasília, Brasil, The Nora Theatre
Company, Project STEP, The Boston Conservatory e Herbert Barrett Management, EUA. É fundadora e membro
do conselho diretor da The Aarya Foundation, organização sediada em Londres, Inglaterra, que advoga pelo
ensino da música nas escolas e a prática do canto em comunidades para o bem-estar individual e coletivo (texto
retirado da plataforma Lattes em 13 agosto, 2017).
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25 Minha trajetória é dividida entre dois países: Brasil e Espanha. Nasci e vivi no Rio de Janeiro até terminar a
graduação em História na UFRJ. Em 1987, recém-graduada, obtive uma bolsa do governo espanhol (Instituto de
Cooperação Ibero-americana) para uma pós-graduação na Faculdade de História da Universidade Complutense
de Madri. Depois disso, lá permaneci mais quatro anos, já como bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior (Capes), cursando o doutorado. Com uma abordagem interdisciplinar, estudei a
obra do jesuíta José de Anchieta a partir da ótica da História Cultural e da Antropologia Pós-Moderna. Na época,
colaborei também com o grupo de pesquisa do Consejo Superior de Investigaciones Científicas (CSIC/Madri),
dedicado à análise do valor etnográfico de textos dos cronistas europeus sobre o Novo Mundo. Depois de uma
breve temporada de volta ao Brasil, retornei à Espanha em finais de 1993, onde permaneci até 2011. Durante
esse longo período, residi em diferentes lugares, até me estabelecer em Almeria, onde me dediquei à gestão do
Museu Pedro Gilabert, uma instituição pública que pertence à Rede de Museus da Andaluzia e que tem como
missão a conservação e difusão da obra escultórica do artista Naif Pedro Gilabert. Além das salas de exposição
permanente, possui duas amplas salas de exposições itinerantes e um auditório com 200 lugares, o que permite
a criação de uma programação dinâmica e variada, fazendo do museu um lugar de referência da vida cultural
local. Esse trabalho me despertou o interesse por uma formação na área museológica, o que me fez cursar o
Máster em Museologia da Universidade de Alcalá, que concluí em 2009. De volta ao Brasil em 2011, dei
continuidade à minha atuação na área museológica, trabalhando como consultora no Programa Pontos de
Memória, do Ibram, em parceria com a OEI. O trabalho com os Pontos de Memória me permitiu conhecer
diversas iniciativas de memória e Museologia Social, desenvolvidas por comunidades periféricas de diferentes
cidades brasileiras, colaborando para a construção de uma política pública pautada no Direito à Memória.
Sempre em busca de uma formação voltada à minha atuação profissional, em 2012 fiz o curso de especialização
em Gestão Cultural da Fundação Itaú Cultural, em parceria com a Universidade de Girona (Espanha). Desde
2013 sou servidora pública da carreira de Analista Técnica de Políticas Sociais (ATPS). Trabalho no Ministério do
Desenvolvimento Social (MDS) com o Programa Bolsa Família. A ocasião de atuar no maior programa de
transferência de renda do mundo é, sem dúvida, desafiante. Dedico-me especialmente à elaboração de materiais
que alimentam a base de conhecimento do Programa, utilizada para dar resposta aos questionamentos que
chegam pelos diferentes canais de comunicação do Ministério. A carreira dos ATPS foi criada em 2009 e tem
como atribuições legais as atividades especializadas de assistência técnica em projetos e programas nas áreas
de saúde, previdência, emprego e renda, segurança pública, desenvolvimento urbano, segurança alimentar,
assistência social, educação, cultura, cidadania, direitos humanos e proteção à infância, à juventude, ao portador
de necessidades especiais, ao idoso e ao indígena no âmbito do Poder Executivo (texto retirado da plataforma
Lattes em 13 agosto, 2017).
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tese, em que abordaremos a atuação de tais profissionais e sua importância para a dinâmica
do Programa – neste momento apresentaremos quem são e quais produtos desenvolveram
no âmbito do projeto. Importante ressaltar que os produtos encaminhados por eles possuem,
em grande parte, a assinatura dos membros das instâncias deliberativas ou conselhos
gestores locais como símbolo da construção participativa26.
Nesses termos, 12 consultores locais que contribuíram para a viabilização do
Programa Pontos de Memória – Adriano Almeida (Bom Jardim – CE), Lucas Morates
(Lomba do Pinheiro – RS), Camila Moura (Terra Firme – PA), Deuzani Noleto (Estrutural –
DF), Rita de Cássia Santos Pinto (Museu de Favela – RJ), Viviane Rodrigues (Jacintinho –
AL), Marcelo Rocha (Sítio Cercado – PR) e Wellington Pedro Silva (Taquaril – MG) – e
produziram uma média de três produtos cada, com exceção de Marcelo Rocha (2), Adriano
Almeida, Viviane Rodrigues e Wellington Pedro (1), perfazendo 17 produções (Holanda,
2015).
Os consultores locais desempenharam as mesmas funções no âmbito do
Programa. Seus produtos, ao observamos a exata especificidade de cada localidade, eram
iguais: 1. PA do Ponto de Memória, preenchido em conformidade com a solicitação do Ibram
e aprovado pela instância deliberativa do referido Ponto, contendo informações a respeito da
instância deliberativa, das perspectivas museológicas do ponto e a previsão do
desenvolvimento de suas ações no que se refere ao IP e ao PD; 2. Relatório descritivo e
analítico, previamente aprovado pela instância deliberativa do Ponto de Memória,
apresentando resultados parciais relativos à atuação do consultor em conjunto com a
instância deliberativa, visando ao desenvolvimento de 50% do IP, em conformidade com o
PA (setembro de 2012); 3. Relatório descritivo previamente aprovado pela instância
deliberativa do Ponto de Memória, a respeito do desenvolvimento do PD (dezembro de
2012).
Todos os consultores listados até aqui foram contratados de 2009 a 2012,
especificamente durante as fases27 1 e 2 do Programa. No entanto, entre 2013 e 2014, nas
etapas 2 e 3, várias ações ainda precisavam ser consolidadas e, por isso, muitos deles
foram recontratados para continuá-las, especialmente os consultores locais, já que os
Pontos de Memória possuem dinâmicas e tempos diferentes para serem constituídos e
realizados. Além deles, mantiveram-se Sara Schuabb, com trabalhos nas iniciativas de
memória, no que se refere à comunicação; e Lavínia Cavalcanti Martini Teixeira dos Santos,
26 O conselho gestor é eleito pela comunidade e responsável por aprovar os produtos entregues pelo consultor
ao Ibram, para que o pagamento seja efetuado. O PA é parte integrante da metodologia do Programa e será
igualmente abordado em mais detalhes ainda nesta tese. Procuraremos, ao longo do trabalho, apontar a
importância e as articulações realizadas entre esses profissionais e as instâncias participativas durante o
desenvolvimento da proposta, ressaltando aspectos que possam ajudar em seu entendimento.
27 As fases propostas para o Programa serão detalhadas em esquema que pode ser consultado na p. 124.
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com o acompanhamento dos PAs. Outros dois consultores, atuantes na primeira e segunda
fase do Programa, retornam para completar a participação, com destaque para a terceira
etapa – Wélcio Silvério de Toledo e Inês Cordeiro Gouveia –, com a produção de resultados
entre os anos de 2013 e 2014, período em que os Pontos amadurecem a perspectiva da
atuação em rede.
Segundo Holanda (2015, p. ):
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28 Não encontramos registros na plataforma currículo Lattes. Último acesso em 13 agosto, 2017.
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29 Iniciou a Licenciatura em História na Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos (Fafidam), campus da
Universidade Estadual do Ceará (UECE), em 1994. Transferiu-se em 1996 para a Universidade Federal do
Ceará (UFC), onde concluiu a Licenciatura no ano 2000. É mestre em História Social também pela UFC (2004).
Foi professora por 10 anos dos ensinos fundamental e médio em escolas da rede particular de Fortaleza e da
Secretaria de Educação do Estado do Ceará (Seduc-CE) (via concurso público para cargo efetivo em 2002).
Atuou como professora de Cursos de Licenciatura em História no período de 2003 a 2012, bem como em cursos
de Especialização em História entre 2007 e 2012, especialmente nos institutos particulares associados à
Universidade Vale do Acaraú (UVA). Colaborou no Instituto da Memória do Povo Cearense (Imopec) entre 2005
e 2007. Na Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult-CE), trabalhou por 11 anos no Museu do Ceará,
equipamento vinculado, exercendo as seguintes funções: pesquisadora do Projeto Museu 70 anos (2002-2003),
professora de História do Núcleo Educativo (2004-2006) e diretora da instituição (2008-2013). Como diretora do
Museu do Ceará, coordenou a Coleção Outras Histórias (dos números 53 a 66), participou como parecerista do
Fundo Estadual da Cultura (FEC), do corpo editorial da Coleção Nossa Cultura e de outros trabalhos. Ainda na
Secult, foi gerente do Sistema Estadual de Museus (2006-2007; 2008-2013), membro do Comitê Gestor do
Sistema Brasileiro de Museus (2012-2013) e diretora do Museu Sacro São José de Ribamar – Aquiraz, ambos
vinculados à administração do Museu do Ceará (2008-2013). Foi aluna do Curso de Estudos Avançados em
Museologia (Extensão, 193 horas/aula), no Rio de Janeiro, em 2008, numa parceria entre a Associação
Brasileira de Museologia (ABM) e a Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias (UHTL – Lisboa),
cujas disciplinas correspondiam às do Doutorado em Museologia. Foi membro da comitiva organizada pelo
Demu/Iphan em visitas de trabalho aos museus americanos de New York, Philadelphia e Washington, como
parte do International Visitor Leadership Program (2009). De 2013 a 2016 foi consultora de Planejamento e
Avaliação do Programa Pontos de Memória, do Ibram. Atualmente é presidente da Fundação Memorial Padre
Cícero. Suas publicações e experiência profissional se concentram nos seguintes âmbitos: História do Ceará,
Ensino de História, Memória, Museus e Educação Patrimonial (texto retirado da plataforma Lattes em 20 janeiro,
2018).
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Consultor Área temática 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Edital
Escopo conceitual e
metodológico dos X X 19/2009
Toledo, W.
Pontos de Memória
S. de
Políticas Públicas
X X 113/2013
Participativas
Processos e técnicas de
Storino, C. relacionamento X 136/2009
comunitário
Configurações de
19/2009
Lyra, B. L. processos de trabalho X
no âmbito do projeto
TI – métodos e técnicas
de tratamento e
Oliveira, E. X X 98/2009
armazenamento de
dados e informações
Diagnósticos de
Fernandes,
iniciativas de Memória X 135/2009
D.
Social
Varanda, A. Sustentabilidade dos
X 27/2010
P. Pontos de Memória
Comunicação X X 133/2009
Schuabb, comunitária X 66/2011
S.
Relações comunitárias e
X X X 74/2012
institucionais
Memória Social: X X 134/2009
sistematização e
registro de estratégias e
Gouveia, I. processos testados X 67/2011
Museu, memória e
cidadania na X X 111/2013
diversidade cultural –
30 Importante destacar que o produto faz referência a 2012 como último ano de análise, mas o quadro e o corpo
do produto incluem a sistematização dos dados, incluindo 2013 e 2014.
31 Para obter mais informações a respeito de cada um dos termos de referência publicados pela OEI, consultar a
base de dados da OEI, no item seleções. Com a palavra-chave memória e indicando o ano de interesse, pode-se
obter a lista completa com os TORs para consulta.
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capacitação em rede
Definição de conteúdos
Castro, C. programáticos para X 9/2011
publicação
Cavalcanti, Desenvolvimento de
X X X 117/2011
L. projetos socioculturais
Pinto, R. de Consultora local – MUF
X X 22/2011
C. (Rio de Janeiro, RJ)
Consultor local – GBJ
Almeida, A. X X 99/2011
(Fortaleza, CE)
Consultor local – Lomba
Morates, L. do Pinheiro (Porto X X 96/2011
Alegre, RS)
Consultora local – Terra
Moura, C. X X 93/2011
Firme (Belém, PA)
Consultor local –
Rocha, M. Mupe/Sítio Cercado X X 97/2011
(Curitiba, PR)
Consultora local –
Rodrigues, Museu Cultura
X X X 98/2011
V. Periférica/Jacintinho
(Maceió, AL)
Consultor local – Museu
Silva, W. Taquaril (Belo Horizonte, X X X 95/2011
MG)
Consultora local –
Noleto, D. Estrutural (Estrutural, X X X 47/2011
DF)
Gervásio, Consultor local – São
X X X 94/2011
G. Pedro (Vitória, ES)
Consultor local – Beiru
Silva, A. F. X X 18/2012
(Salvador, BA)
Consultora local –
Santos, I.
Museu Mangue do X X 136/2012
M. G.
Coque (Recife, PE)
Legislação, normas e
procedimentos de
Spim, N. processos X X 75/2013
governamentais e
sociais
Inventários
Vieira, J. P. Participativos – X X 112/2013
capacitação em rede
Planejamento e
Holanda, C. acompanhamento das X X 117/2013
ações em rede
Quadro 1 – Cronograma de atuação das consultorias (junho de 2009 a julho de 2013).
Fonte: quadro formulado pela consultora Lavínia Cavalcanti.
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32Depoimento de Rosane Caetano à Rede de Museologia Social do Rio de Janeiro, Museu Sankofa Memória e
História da Rocinha, & Museu do Horto (2018).
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Marta foi uma mulher latino-americana que militou em um país que deu ao mundo
um exemplo de coragem ao enfrentar os algozes políticos, por acreditar em transformação e
igualdade social. Ao se confrontar com os desafios a que foi submetida junto ao povo
cubano, se interessou pelo aspecto social dos museus, contribuindo para que, até hoje,
Cuba mantivesse os espaços de memória conectados com os interesses sociais de forma
manifesta. Seu texto pode ser considerado um amplo convite à lucidez, pois chama a
atenção para o fato de que os museus possuem responsabilidades que vão além das já
descritas pelo Icom e seus inúmeros artigos, manuais técnicos e cartas.
Por serem espaços que expõem memórias, acervos, arte e patrimônio cultural, os
museus devem dedicar os itinerários aos enfrentamentos políticos, econômicos, sociais e
culturais, comprometidos com uma sociedade que pretende ver suas representações em
33 Marta Arjona Pérez foi escultora e ceramista cubana. Atuou como gestora máxima no resgate aos bens
culturais da nação antes mesmo do triunfo da Revolução Cubana. Foi representante de Cuba na Convenção
sobre a Proteção do Patrimônio Mundial desde 1972. Nascida em La Habana em maio de 1923, em 1954
ingressa como militante nas filas do Partido Socialista Popular e começa a trabalhar na organização da Sociedad
Cultural Nuestro Tiempo, dirigindo a sessão de Artes Plásticas, além de fundar uma galeria permanente onde
expõem grandes mestres do movimento moderno cubano. Com a vitória da Revolução assume cargos no novo
governo, dentre eles diretora de Artes Plásticas da Direción Nacional de Cultura e, posteriormente, se torna
diretora nacional de Museos y Monumentos del Consejo Nacional de Cultura. Em 1977 passa a fazer parte da
Direción de Patrimonio Cultural del Ministerio de Cultura, cargo que ocupou até sua morte em 2006, como
presidente do Consejo Nacional de Patrimonio Cultural. Foi também secretária executiva da Comisión Nacional
de Monumentos, presidente do Icom, membro da comissão e cultura da comissão nacional cubana da
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), delegada de Cuba frente ao
Comitê Intergovernamental para a Restituição aos Países de Origem e presidente da Comissão Nacional para a
Salvaguarda do Patrimonio Imaterial. Atuou fortemente na execução da Legislação Nacional de Proteção ao
Patrimônio Cultural e Natural em Cuba e contribuiu de forma decisiva para a criação da Cátedra de Licenciatura
de Restauração de Móveis, com colaboração do Instituto Superior de Arte. Um de seus grandes legados foi a
criação, em 1982, do Centro Nacional de Conservación, Restauración y Museologia (Cencrem) (Ecured, 2018).
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transformação com impulso e influência. Nesse caso, destacam-se novas formas de ver e
estar no mundo, com atitude mais colaborativa em suas perspectivas de interação.
Ao propor a discussão sobre a relevância de um museu e seu papel em sociedade,
Marta nos provoca a pensar em situações-limite do ponto de vista social, para que
compreendamos outros sentidos atribuídos ao termo “social” e sua articulação com o campo
museal. A autora indica um grande desafio ao (re)colocar de forma direta uma questão
urgente, em se tratando do compromisso dos museus com os dilemas sociais mais graves,
com a intenção de sacudir os pré-conceitos em uma perspectiva problematizadora,
impelindo alguns dos grupos responsáveis por pensar os museus que saiam da zona de
conforto, especialmente aqueles que se referem a tais instituições de maneira retórica como
absolutamente “sociais” em essência. Vejamos sua provocação:
Responder às perguntas postas por Marta Arjona não é tarefa fácil, principalmente
se levarmos em consideração que ela tem razão. Vistos por alto, poderíamos nos deslocar e
recolocar a questão de forma distante ao não responsabilizarmos os museus pela condição
imposta por conjunturas maiores; logo, a situação em que se encontram as famílias mais
pobres dos países não é de responsabilidade dos museus, e sim dos poderes públicos. Ora,
se essa seria uma alternativa de resposta, outra pergunta surge: Para que servem os
museus nesse caso? A partir da perspectiva social, se não tem a função de contribuir com a
retirada das pessoas dessa situação de calamidade social, serve para quê? Ao imaginar
uma criança pobre ou um adulto descalço que tem fome e sofre por falta de comida e
condições dignas de existência, como podemos exigir que ele tenha interesse pelo universo
dos museus em busca de melhoria de vida e rompimento das amarras sociais que o
mantém nessas condições? Sem titubear, Marta faz com que pensemos em alternativas
para esse tema, fazendo nascer o que consideraremos mais adiante como Museologia
Social. A perspectiva de atuação prática dos museus, por meio da ação museológica no
âmbito museal, deve mudar tais realidades sociais dentro ou fora dessas instituições, em
conformidade ou não com os manuais e as construções teóricas e acadêmicas, buscando
encontrar eco na capacidade deles de gerar mudanças na vida (e para a vida) das pessoas.
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Com base na provocação descrita acima, encontramos eco que, somado a outras
reflexões anteriores já forjadas no campo da Museologia35, nos auxiliará nas formulações e
concepções cada vez mais arrojadas e radicais que darão origem a pensamentos acerca da
Museologia. Eles impulsionarão construções teóricas alinhadas com a necessidade de
propor outros conceitos que consigam discutir a atuação da Nova Museologia e, em
consequência, da Museologia Social.
Em 2014, na Conferência do Movimento Internacional para uma Nova Museologia
(Minom), Marta Arjona Pérez recebe o reconhecimento de seus pares museólogos, em se
tratando dos aportes no cenário cubano para o fortalecimento das práticas e reflexões
museológicas que hoje denominamos de Museologia Social (Minom, 2004a).
Suas ideias e postura diante dos temas dos museus influenciaram avanços
consideráveis que justificam o prestígio da profissional e seus serviços prestados, entre eles
o impacto social da Lei n. 23/1979, referente à criação dos museus municipais em Cuba. A
carta de La Habana produzida ao fim do encontro homenageia e celebra essa mulher e suas
contribuições ao campo (Minom, 2004b).
Em 1977, ano em que Marta publica o livro “Patrimonio Cultural e Identidad” em
Cuba, Waldisa Rússio Camargo Guarnieri36, no Brasil, termina sua dissertação de mestrado
“Museu: um aspecto das organizações culturais num país em desenvolvimento”, algo
impactante para o campo da Museologia. Suas ideias trazem ânimo teórico novo para os
debates acerca do papel dessa área, e o diálogo com outros autores e teóricos torna as
35 O campo da Museologia, nesse período, é influenciado por discussões e eventos promovidos especialmente
no âmbito do Icom, a exemplo do encontro realizado em Santiago do Chile em 1972, que deu origem ao
documento amplamente comentado, chamado de Carta de Santiago do Chile. Nela, os museus foram
considerados a partir de sua vocação integral em articulação e diálogo com comunidades, influenciando o
surgimento de movimentos como os da Nova Museologia. Esse aspecto retornará em nossas discussões mais à
frente.
36 Pesquisadora e professora do campo dos museus e da Museologia, com grande contribuição teórica e prática,
sua atuação profissional inclui, entre outras ações, a criação do primeiro curso de pós-graduação em Museologia
do país, além de ter se comprometido com a regulamentação da profissão de museólogo e a consequente
criação do Conselho Regional de Museologia de São Paulo. Outras informações a respeito do trabalho da autora
e sua interface com o campo da Museologia, consultar Gouveia (2010).
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reflexões ainda mais importantes, especialmente no âmbito dos fundamentos teóricos, com
perspectiva de que será abertamente influente para o fortalecimento dos museus e seu
papel social. Nessa dissertação e em outros textos produzidos ao longo da carreira como na
obra organizada por Bruno, Araujo e Coutinho (2010), ela indica o profundo interesse pelo
campo dos museus e sua articulação com as demandas sociais de um país, em acordo com
o entendimento da época, que estava em desenvolvimento. Ela e Marta Arjona Pérez são
expoentes femininos de um compromisso social que será amplamente debatido a partir de
suas ideias e acrescidos de novas percepções, contribuindo para a conformação do que
chamaríamos de Museologia Social.
Waldisa Rússio amplia o alcance da percepção que articula a sociedade como um
novo campo de estudos da Museologia, atrelando a isso o papel dos museus nesse
contexto, além de diminuir em suas reflexões a ênfase dada aos estudos centrados nos
objetos e nas instituições. Suas ideias avançam para notar os museus como processos e,
enquanto tais, não podem ser reduzidos a um conjunto de técnicas e teorias com foco
restrito em conservação, restauração e exposição dos objetos pautados por interesses e
dinâmicas institucionais. Os museus, segundo Waldisa, se justificam pela formação do
sujeito voltado para as pessoas.
Com papel marcado por uma militância que a permite ousar ela constrói, em
momento delicado de limitação política, um cenário em que o papel do homem livre se volta
à realização do museu em seu contexto. Ao expressar a necessidade de considerar o
homem a partir de sua capacidade crítica, Waldisa oferece um caminho aberto para que
outras construções possam seguir seus indícios; e ao identificar o papel relevante do
homem como produtor sua própria história, a autora permite avançar no entendimento de
que os museus são espaços necessários para experimentar “(...) a leitura não do símbolo,
mas do elemento simbolizado” (Guarnieri, 1974/2010, p. 55).
Contemporânea de outros autores relevantes que contribuíram com a perspectiva
teórica da Museologia, tais como Anna Gregorová37 e Zbynek Stránský38, Waldisa
37 Visa definir a Museologia como disciplina independente e, “(...) ao mesmo tempo, um aspecto da existência
material do mundo e de suas relações e fenômenos” (Gregorová, 1981, p. 34).
38 Dedicado a estruturar em seus escritos uma base teórica para a Museologia, com auxílio de Jan Jelínek
fundou uma Escola de Pensamento Museológico em Brno, onde aprofundou seus estudos para aliar teoria à
prática dos museus.
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incrementa o diálogo que sedimenta ainda mais as concepções sobre o campo teórico da
Museologia. Em trabalho que reúne os pensamentos dos estudiosos supracitados, Anaildo
Baraçal analisa as contribuições teóricas deles, com destaque para a produção da revista
Museological Working Papers (MuWoP), com vistas a compreender as preocupações
teóricas, especialmente no que se refere à Museologia enquanto ciência e ao papel dos
museus como espaço propício para que ocorram as relações entre homem e objeto. No
entanto, é importante ressaltar, conforme Carla Renata Gomes (2015), que:
realizados “para” a comunidade é radicalmente afetada pela ideia de que eles devem ser
feitos “com” ela, algo essencial para as reflexões acerca da Museologia, na medida em que
é possível reconhecer a mudança de percepção no trabalho teórico de Waldisa, como ponto
fundamental para o trabalho no campo da Museologia Social, sobretudo porque o que
realmente importa para a autora é “(...) o reconhecimento do museu pela comunidade”
(Guarnieri, 1984, p. ).
As ideias de Waldisa Rússio brevemente apontadas nos indicam um terreno fértil
para a problematização das práticas relacionadas ao campo dos museus e sua articulação
com a sociedade. A partir dessas ideias precursoras, outros autores39 tiveram a
oportunidade de se inspirarem para construir uma base teórica capaz de enriquecer as
reflexões acerca das práticas museológicas que seriam possíveis a partir de então.
A museóloga Maria Célia Teixeira Moura Santos40 faz parte desse conjunto de
profissionais que se dedica ao campo social dos museus e traz, para esta construção, a
educação como um elemento que considera fundamental. Seus textos chamam atenção
para as relações estabelecidas a partir da Museologia, em parceria com o campo da
educação, o que enriquece ainda mais o debate e as oportunidades de entendimento do
papel e da dimensão social dos museus. Em constante exercício de pensar os museus e a
Museologia, Maria Célia aponta questões estratégicas que, somadas às ideias
anteriormente apresentadas, sedimentam um caminho acerca da atual Museologia Social.
A partir de suas percepções, encontramos muitos desafios para o campo dos
museus, algum alento e bastante provocação:
39Chagas, Bruno, Araujo, Scheiner, Santos, M. C. T. M., entre outros em diferentes regiões do país.
40Professora aposentada do Curso de Museologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Possui graduação
em Museologia (1973), mestrado (1981) e doutorado em Educação (1995), todos pela referida instituição. É
consultora nas áreas de Museologia, Educação e Gestão e Organização de Museus e professora da
Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias (ULHT). Integra o Conselho Consultivo do Patrimônio
Museológico do Ibram/MinC. Faz parte do Conselho Editorial da Revista do Museu Antropológico da
Universidade Federal de Goiás (UFG); do Conselho de Redação do Centro de Sociomuseologia da ULHT; e do
conselho consultivo da Associação Brasileira de Ecomuseus e Museus Comunitários (Abrenc). Foi conselheira
do Conselho Internacional de Museus no Brasil (IcomBR) e coordenadora do eixo 3 da PNM/MinC. Foi diretora
do Instituto do Patrimônio Histórico e Cultural do Estado da Bahia. É membro do Conselho Internacional de
Museus (Icom) e da Associação Brasileira de Museologia. Tem experiência nas áreas de Museologia e
Pedagogia, atuando nos seguintes temas: plano museológico, ação educativa em museus, PNM, museus
comunitários, formação e capacitação em Museologia. Tem vários artigos e livros publicados (texto retirado da
plataforma Lattes em 2 janeiro, 2018).
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Optei por realizar uma tese de doutorado que tivesse como objeto de
estudo a implantação de um museu em um colégio público da cidade de
Salvador. Mais uma vez, busquei sair do espaço fechado da
universidade, evitando construir uma tese destinada somente à
academia. Assumindo que há possibilidade de produzir conhecimento
em todos os níveis de escolarização e que esse conhecimento pode ser
construído em uma determinada ação de caráter social, reconhecendo o
papel ativo dos observadores na situação pesquisada e dos membros
representativos dessa situação (Santos, M. C. T. M., 2008, p. 106).
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Maria Célia aprimora o diálogo com a memória de Waldisa Rússio e enfatiza, a seu
ver, as significativas contribuições da autora para o campo da Museologia: “(...) o museu
construído com a participação do cidadão; a Museologia além do cenário museu; o fato
museal...; Intercâmbio entre os profissionais da América Latina e entre os cursos de
Museologia do país” (Santos, M. C. T. M., 2008, p. 27).
O esforço de Waldisa Rússio em colocar o Brasil no cenário de práticas
museológicas latino-americanas, quando organiza o I Seminário Latino-Americano de
Museologia, em 1990, no Memorial da América Latina, na cidade de São Paulo, evidencia
sua preocupação em fortalecer o diálogo acerca dos museus e seu papel frente aos desafios
enfrentados pela sociedade, especialmente no que diz respeito à cultura e ao patrimônio. Tal
iniciativa permite a ampliação das discussões, a troca de saberes e de experiências que
permeiam a Museologia comprometida com o papel social dos museus, em articulação com
as experiências latinas.
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A experiência da Casa del Museo, ativa por oito anos, foi responsável por incentivar
o surgimento de uma concepção teórico-metodológica que daria origem aos museus
comunitários em diversas regiões do México. Com isso, estimular-se-ia uma abordagem
participativa e dedicada que abarcasse a problematização e a discussão de processos de
conscientização e apropriação das histórias particulares e coletivas, com vistas a superar
conjunturas sociais engessadas e esmagadas pela ordem vigente (Méndez Lugo, 2008).
O projeto influencia as novas gerações de museus que seguiriam se fortalecendo
rumo à autonomia dos povos, no que se refere à tomada de decisão e à imposição de suas
visões de mundo e necessidades sociais marginalizadas, silenciadas e subalternizadas. Os
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museus comunitários, fortemente incentivados no México, são definidos por Arroyo (1983, p.
) como:
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formas distintas, com o fortalecimento das práticas museais e museológicas. Tal lista visa
apenas compreender que esse campo é feito também por mulheres que compartilham
aprendizados, ideias, sonhos e esperança, que lutam pela própria dignidade e a das
comunidades a que pertencem. Consideramos a participação feminina preponderante para
consolidar o campo da Museologia Social, uma vez que fortalecem também a batalha das
mulheres por condições de igualdade e respeito à vida, temas de interesse da Museologia
Social e que ajudam a construir.
O campo dos museus e da Museologia tem se forjado em meio a disputas que nem
sempre são debatidas em profundidade. A esse respeito, é importante perceber, por
exemplo, os conflitos que advêm das adjetivações complementares para a Museologia,
41A Missiva de Nazaré foi escrita durante uma travessia de barco no Rio Madeira. A construção coletiva se deu
no âmbito da XVII Conferência Internacional do Minom, realizada no Distrito de Nazaré, cidade de Porto Velho
em Rondônia, região Norte do Brasil (Amazônia Legal). O evento aconteceu com o apoio do Programa de
Extensão em Defesa do Patrimônio Cultural Ribeirinho: educação, memória e cidadania no Baixo Rio Madeira e
da Pró-reitoria de Cultura, Extensão e Assuntos Estudantis da Universidade Federal de Rondônia (UNIR).
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42A respeito da Nova Museologia encontramos diversificados trabalhos dedicados ao tema, sem a intenção de
esgotar as referências, segue alguns autores que tem dedicado tempo a esta discussão: Santos (2002); Araújo &
Bruno (1995); Bruno (1997, 2006, 2009); Varine Bohan (2000, 2013); Duarte (2014); Primo (1999, 2008, 2011);
Moutinho (1993); Chagas (1994, 1996, 1999, 2002, 2007,2017); Brulon (2006, 2008, 2014).
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década de 1960 que, com um profundo estado de inconformismo, tomam fôlego diante das
reivindicações dos estudantes ativistas no famoso maio de 1968 (Santos, M. C. T. M., 2008.
Nesse cenário de contestação e indignação, até mesmo os conceitos de cultura e
patrimônio são revisados, com uma proposta de ampliação das características de gestão e
valorização dos museus em todo o mundo. Conforme os elementos históricos que
circunscrevem as origens de um movimento que pressupõe libertação, entendemos que
surgem ideais que moldariam a presença de uma atmosfera indicativa de uma mudança
estratégica sobre as formas de pensamento museal de então. Nem todas as práticas e
reflexões viam os museus segundo uma perspectiva ampliada da participação social. Assim,
a década de 1970 pode ser considerada um período rico de reflexão, com vazão à
necessidade de rever conceitos e ideias pautados por uma grande onda de imperialismo que
se pretende reafirmar a partir dos velhos mecanismos de dominação ao controlar a
consciência popular (Santos, M. C. T. M., 2008).
Como já apontado anteriormente, encontramos Marta Arjona Pérez em Cuba, no
front de batalha, defendendo o protagonismo e os interesses do patrimônio, com vistas a
proteger a supremacia do povo a partir da escolha de seus patrimônios e o interesse em
fortalecer as escolhas políticas elaboradas por aquele país. Há os projetos desenvolvidos
pelos mexicanos com apoio de Miriam Arroyo, com atenção para os bairros periféricos,
alimentando a esperança por uma sociedade diferente em equilíbrio de oportunidades. E
estimulados por George Henry Riviére e Hugues de Varine, surgem a experiência dos
ecomuseus e a necessidade de criar espaços que reafirmassem a perspectiva de que a
população deveria se tornar parte integrante do museu.
Somada a essas inquietações houve as mesas de discussão propostas pelo Icom,
com o propósito de ampliar o debate acerca das novas ideias e dos desafios de
compreensão das necessidades apontadas pelo momento propício a rupturas e
desconstruções, como em 1958 no Rio de Janeiro. À época, o Seminário Regional da
Unesco sobre a Função Educativa dos Museus43 priorizou a discussão sobre museu e
educação, e, em 1971, em Paris, ocorreu a IX Conferência dedicada ao tema “o museu a
serviço do homem, atualidade e futuro – o papel educativo e cultural”. No entanto, para o
universo museal, a mesa de Santiago do Chile promovida pelo Icom em 1972, pouco antes
do que viria a ser um verdadeiro massacre democrático vivenciado pelo Chile, com a
ascensão do general Augusto Pinochet, foi responsável por lançar as bases do que seria
mais tarde denominado como Movimento da Nova Museologia e, posteriormente,
43Para conhecer melhor os documentos citados, ver: Bruno, M. C. O. (2010). O Icom-Brasil e o pensamento
museológico brasileiro: documentos selecionados. (Vol. 1-2). São Paulo: Pinacoteca do Estado; Secretaria de
Estado da Cultura; Icom.
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Museologia Social. Assim, para Judite Primo, que analisa a produção dos cinco documentos
básicos44 que traduzem o pensar museológico no século XX:
44Os cinco documentos listados e analisados foram “(...) produzidos no Seminário Regional da UNESCO sobre a
Função Educativa dos Museus, ocorrido no Rio de Janeiro no ano de 1958, na Mesa-Redonda de Santiago do
Chile em 1972, no I Atelier Internacional da Nova Museologia na cidade de Quebec no Canadá realizado em
1984, na Reunião de Oaxtepec ocorrida no México em 1984 e na Reunião de Caracas na Venezuela em 1992.
Documentos que foram elaborados no seio do Icom – Conselho Internacional de Museologia” (Primo, 1999, pp.
5-6).
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45 “(...) fórum internacional para o debate museológico. Em seu sentido mais amplo, a Museologia trata do
enfoque teórico sobre qualquer atividade humana, individual ou coletiva, relacionada à preservação,
interpretação e comunicação de nossa herança cultural e natural, e sobre o contexto social em que ocorre a
relação específica entre o homem e o objeto. Embora o campo do Museologia seja muito mais amplo que o
próprio estudo de museus, seu foco principal permanece nas funções, atividades e o papel dos museus na
sociedade, como depositórios da memória coletiva. Icofom estuda também as várias profissões que atuam no
museu. Um tópico importante é o inter-relacionamento entre a teoria e a prática. Os aspectos práticos do
trabalho do museu são denominados de Museografia ou Expografia. Os trabalhos apresentados nas
conferências anuais são publicados na Icofom Study Series. Um boletim de notícias mantém os membros
informados sobre o que está acontecendo”. Recuperado em 21 fevereiro, 2018, de
http://www.icom.org.br/?page_id=186
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O tema também possui outro desdobramento, e a indicação que faz acerca das
Museologias, no plural, reconhece que é necessário abrir caminhos para outros olhares e
novas percepções sobre as transformações no campo dos museus:
A militância de Hugues Varine, expressão usada pelo próprio autor para explicitar
seu envolvimento com o campo do patrimônio e dos museus, sempre na perspectiva de
valorização do desenvolvimento local como objetivo das práticas patrimoniais e museais, o
torna ainda mais especial para as análises apreendidas. No âmbito de seu relacionamento
com a área museológica, dedicou-se a refletir sobre outras museologias possíveis,
destacando, entre outros aspectos, o caráter inovador de tais práticas, sobretudo a relação
dos profissionais da época com o tema:
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atrelá-los a uma concepção politizada e socialmente engajada como papel social deles. Em
contrapartida, essa perspectiva é abandonada quando observamos, a partir desses marcos,
a prática relacionada aos museus – podemos, porquanto, ser mais audaciosos e investir em
uma razão diametralmente oposta.
Para alguns autores, a questão principal que norteia o debate acerca da valorização
dos resultados da mesa de Santiago do Chile e dos acréscimos que advêm desse
documento (somado às propostas teóricas e práticas que surgem a partir dele para o campo
da Museologia e que se dedicam, especialmente, aos aspectos sociais) se resume ao
reconhecimento de pioneirismo ou ineditismo atinente ao aspecto social. Assim, retira-se o
foco do teor emblemático da carta, desconsiderando o que é mais significativo de seus
legados: os desdobramentos de tais práticas para o fortalecimento do campo da Museologia,
no que se refere às inúmeras e novas possibilidades de relacionamento entre os museus, as
comunidades, os movimentos sociais e os territórios, frente às questões sociais, indicando
um marco para a constituição do movimento da Nova Museologia.
Em contrapartida, o documento-alvo de disputas por um campo que se quer manter
hegemônico e unificado permite chances de observar como o fato de que existem outras
museologias possíveis influenciará outras formas de compreender os museus,
problematizando-os em diálogos. Nesse caso se destacam soluções museográficas,
museais e museológicas dedicadas ao ato de denunciar, salvaguardar e contextualizar
zonas de opressão, violência e desigualdades sociais.
Os museus que surgem na década de 1970, a exemplo das proposições
desenvolvidas a partir da atuação de Hugues de Varine e George Henry Riviére com base
comunitária, sinalizam uma abertura de caminhos que inspiram outras práticas e que
permitem aprofundar o debate sobre fundamentos e bases que sustentam as museologias
como possibilidades de narrativas conceituais. Assim podemos identificar em que medida se
diferenciam e se constituem como autônomas – dialogaremos, nesse sentido, com a
constituição do movimento da Nova Museologia e a Museologia Social/Sociomuseologia.
Sobre a Nova Museologia, Maria Célia de Moura Santos aduz que o movimento
estabelece bases para o surgimento de novas práticas e reflexões que conformarão um
campo de conhecimentos denominado como Museologia Social ou Sociomuseologia. Ele
terá um papel metodológico e disciplinar que contribuirá com as reflexões e práticas
dedicadas aos aspectos sociais dos museus, sobretudo as práticas relacionadas aos
movimentos sociais, protagonistas locais e exercícios museais pautados em novos
processos. Assume-se um papel voltado ao ato de transgredir conceitual e
epistemologicamente no campo dos museus e da Museologia experimentado até então.
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Diante desse cenário, iniciativas dedicadas aos museus comunitários, sociais e aos
Pontos de Memória se configuram como um aspecto importante do campo museológico e
museal, quase se sobrepondo às demais áreas de conhecimento da Museologia. Esse
cenário pode crescer e se dedicar às políticas públicas construídas pelo governo Lula e,
antes disso, por discussões e articulações interpessoais como as do I Encontro Internacional
de Ecomuseus46, que aconteceu na cidade do Rio de Janeiro em 1992 e marcou a troca de
experiências entre professores, pesquisadores e militantes que passariam a construir práxis
voltadas à área da Museologia Social ou Sociomuseologia em âmbito internacional.
A seguir, para que possamos compreender melhor a aproximação teórica acima
esboçada, abordaremos conceitos relacionados ao pensamento decolonial, que nos ajudam
a pensar a Museologia Social e a fortalecer o campo da Museologia a partir da
Decolonização do pensamento museal, ao exercer práticas decolonizadoras. Um exemplo
disso é a experiência do Programa Pontos de Memória, que veremos no Capítulo 2 desta
tese.
Com o intuito de elaborar uma breve sistematização dos principais autores que
abordam aspectos pós-coloniais e decoloniais em suas pesquisas, partimos do grupo
Modernidade/Colonialidade (M/C), formado a partir da década de 1990 por intelectuais
latino-americanos situados em diferentes universidades. Uma das principais contribuições
da equipe foi revisitar o argumento pós-colonial por meio da noção de “giro decolonial”,
promovendo uma drástica revisão epistemológica e a consequente renovação crítica e
utópica das ciências sociais no século XXI. A defesa do “decolonial”, nas esferas política,
epistêmica e teórica, é posta como estratégia de sobrevivência para estar no mundo cercado
pela permanente colonização em escala global, contribuindo com a renovação da tradição
crítica do pensamento latino-americano.
Nesses termos, a colonialidade é definida como:
46 A esse respeito, ver os anais do I Encontro de Ecomuseus realizado nos dias 18 a 23 de maio de 1992 na
cidade do Rio de Janeiro.
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47 A produção bibliográfica possui referenciais pautados por estudos produzidos, entre outras esferas, no âmbito
do Icofom, com destaque para Vinos Sofka, Klaus Shreinner, Zbynek Z. Stransky, Tomislav Sola, Ana Gregorová,
Peter Van Mench, André Desvallées, Hugues de Varine, Georges Henri Rivière e outros. Tais autores refletem
sobre museus e Museologia, podendo ser encontrados em abundância, por exemplo, nas publicações do Icom e
do Icofom, além de conceitos-chave de Museologia organizados por André Desvallées e François Mairesse,
traduzidos pelos museólogos brasileiros Bruno Brulom e Marilia Xavier Cury, em versão publicada no Brasil, em
2013, dos quais depreendemos questões para compartilhar. Ao analisarmos algumas definições, pretendemos
não destituir de valor os acréscimos conceituais e a sua importância, assim como as contribuições do Icofom e
de seus autores para o cenário nacional e internacional da Museologia. No entanto, é preciso destacar que tais
expressões não se adéquam a mudanças ocorridas no campo museológico, especialmente as acumuladas pelas
práticas e reflexões advindas da Museologia Social. Questões em torno dos temas abordados na publicação
sofrem cotidianamente alterações marcadas por práticas cada mais audaciosas que emergem de comunidades e
grupos sociais que aceitaram o desafio de pensar e fazer museus e, por conseguinte, fazer e pensar Museologia.
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que desejam subverter a lógica da colonialidade do poder, saber e ser no âmbito dos
processos museais.
Atentos às necessidades de uma sociedade que pretende desobedecer à ordem
imposta pelo exercício da colonialidade do poder, saber e ser, articulados com práticas
museais transgressoras e indisciplinadas, do ponto de vista da não adequação a formatos e
marcos cronológicos, compreendemos que a Museologia Social, de acordo com os
pressupostos decoloniais e o pós-colonialismo de oposição, pretende empreender novas
alternativas para pensar o campo dos museus para além de suas representações e da
ideologia já esboçada e inaugurada, com mais ênfase, em 1972.
Quando o próprio campo percebe que a Nova Museologia pode ter uma herdeira
poderosa chamada Museologia Social, é notável uma complicação nesse contexto, dada a
capacidade aglutinadora do termo. Assim, parte da produção acadêmica e teórica da
Museologia passa a configurar o discurso de que toda Museologia é social, assim como,
anteriormente a essa discussão, na mesma perspectiva, a Nova Museologia indicou uma
área que avança com postura crítica, porém sem nada de novo em seu escopo que pudesse
justificar uma “Nova Museologia”; logo, George Henri Rivière considera ilegítimo o discurso
de ruptura entre uma Museologia ampla e crítica, pregada pelo Icofom, e a “Nova
Museologia”, correntes disseminadas por profissionais que motivam o rompimento a partir
de outras noções epistêmicas. Nessa linha de pensamento, o termo social também é
problematizado como algo “novo”, com a ideia de que esse aspecto social sempre fez parte
das preocupações do campo museal, voltada a uma Museologia que pretende ser crítica.
Mas, afinal, para onde vamos com essa discussão? Como fortalecer as alternativas
epistemológicas para o campo museal e, assim, fazê-lo forte e concreto, ao invés de apenas
girar em torno de questões que não nos permitem avançar?
Além dessa discussão, há inegavelmente questões específicas para serem
abordadas, em que o campo de possibilidades museais avança de maneira considerável. A
Museologia, como disciplina, não pode aglutinar e dissolver tanto acúmulo em seu espectro
de pensamento que se pretende uníssono, sendo necessário reconhecer o espaço
diferenciado, sob o ponto de vista teórico e prático, da construção social na Museologia de
forma específica, com o intuito de compreender seu papel e desdobramentos para o campo.
A desobediência epistêmica proposta por Walter Mignolo (2010) oportuniza o
rompimento com as fronteiras do pensamento museológico e a ampliação do conceito de
museus e Museologia para outras esferas localizadas, quem sabe, para além (e muito além)
das configurações e amarras de museus condicionados à lógica eurocêntrica. Aliás, vale
destacar que, mesmo os museus comunitários e ecomuseus muitas vezes se condicionam
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museu e como ele pode estar atrelado a princípios diferentes dos que são postos como
únicos caminhos de entendimento e realização – afinal, a comunidade ou o grupo que
propõe se apropriar desse lugar, muitas vezes (e arrisco a dizer, na maioria das vezes) não
sabe o que isso significa. São estimulados a partir de um discurso de possibilidades, e a
realidade de seu envolvimento com o tema levanta idiossincrasias que devem ser
identificadas e formuladas como questões para a Museologia Social. Tal assunto, cerne de
nossa discussão, será tema aprofundado nos próximos capítulos ao analisarmos o
Programa Pontos de Memória.
A partir de uma análise preliminar da publicação “Conceitos-chave em Museologia”,
visamos identificar como as construções teóricas amarram ou colonizam o entendimento
acerca dos objetos e objetivos da Museologia Social, a partir de termos frequentemente
utilizados pelos museólogos. A esse respeito, os tradutores oportunizam o debate acerca
dos conceitos apresentados numa perspectiva aberta a críticas e reflexões, em que
pretendem promover o diálogo, ampliando as possibilidades do campo e dos estudos.
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clássicos e tradicionais, ela não deixou de considerar em suas práticas a inovação nessas
instituições. A intenção de provocar mudanças de atitude, frente às limitações impostas,
criou uma cisão profunda entre uma Museologia e outra, além de profunda discordância
como explicitado por André Desvallées, a respeito da incongruência de propor outra
Museologia para pensar problemas museais diferentes. O conceito de museu atrelado à sua
capacidade de significação científica é uma longa busca, e isso também ocorre com os
teóricos tradicionais, que precisam lidar com uma ruptura e a descaracterização de uma
Museologia em benefício da outra que se pretendia melhor, nova, inovadora, jovem e
promissora.
Uma Museologia clássica não resistiria aos encantos propagados pela mais jovem,
dado que as ideias progressistas avançariam com rapidez e perderiam terreno conceitual
com uma Museologia tão frágil em sua constituição – esse é quase um pecado imperdoável.
Os teóricos que não aceitavam a “ruptura”, em seus discursos “de inauguração” de uma
Nova Museologia ou “Museologia Nova”, reforçavam que as ideias de inovação surgem no
campo da Museologia tradicional; logo, os “novos” problemas podem (e devem) ser tratados
por ela. A batalha travada nesse contexto origina o Minom, que prossegue à revelia dessa
configuração “oficial” da construção teórica do campo museal.
Não há mais volta: a Nova Museologia aparece desafiadora e militante, em que
arregimenta adeptos, seduz e encoraja aqueles que querem atribuir sentido à Museologia
para além do reforço a acervos, patrimônio artístico e científico e reflexões ajustadas ao
cenário institucionalizado e organizado pelo Icom, conforme seus pressupostos e regras.
Dedicado à prática, o termo “nova” perdeu força e precisava de fôlego. Assim, em
1993 foi criada a expressão Museologia Social48, oxigenando as práticas museais,
juntamente com o curso de especialização em Sociomuseologia e, depois, o mestrado e o
doutorado da ULHT em Lisboa, Portugal. Essa construção tem rendido dissertações e teses
preocupadas em refletir sobre a Museologia Social ou Sociomuseologia que se consolida,
cresce e produz movimentos inovadores a respeito dos museus e da Museologia, obrigando
os teóricos do campo a perceberem a necessidade de aprofundar as categorias e o
entendimento acerca de uma área que possui a mesma base da Nova Museologia, mas que
rompe com alguns pressupostos clássicos para transgredir as possibilidades museais. É
necessário experimentar, vivenciar, abordar desafios e exercitar o estranhamento, as
parcerias, a aproximação com o poder público, gerando oportunidades atreladas aos
movimentos sociais, entre outras maneiras de romper com a dicotomia entre clássico e
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Ainda influenciados pelo pensamento que exprime o desejo de romper com uma
colonialidade do saber, é preciso discorrer, por exemplo, sobre o papel dos museólogos na
Museologia Social, pois claramente assumem condição e atuação diferenciada. A partir das
reflexões propostas por Porto-Gonçalves (2005), podemos abordar outro tipo de museólogo
que, assim como nos assuntos relativos ao pós-colonialismo e à colonialidade do saber,
compreende as necessidades de pensar outro intelectual.
É preciso, para nossa prática museal social, pensar em outro tipo de museólogo.
Assim:
Por mais aproximações que façamos com os conceitos esboçados pelos teóricos
do campo museológico, as questões epistemológicas do campo de experimentações da
Museologia Social se distanciam e muito do arcabouço teórico até aqui citado. Apesar das
tentativas de pensar uma Museologia que consiga explicar tais movimentos, claramente
verificamos que o campo precisa de um anteparo mais arrojado, definido talvez pelas
urgências e necessidades dos dias atuais. Assim como a Nova Museologia já pleiteava
autonomia para seguir construindo um caminho inovador junto ao campo museal, como
herdeira, a Museologia Social avança em sua construção teórica e prática, em movimento,
em diálogo, a partir da articulação epistêmica que leva em consideração novos atores e
protagonistas do campo museal.
Não é necessário justificar o pertencimento epistemológico como algo constante
para rever conceitos e ideias, dado que o distanciamento produz alternativas, novos
caminhos e outras ambições. A esse respeito, há uma forte e contundente crítica em que se
esboçam os limites frente à constituição dos desafios contra-hegemônicos – talvez
estejamos:
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sociologia das ausências, há cinco formas sociais de produção da não existência, atribuídas
à epistemologia e à racionalidade hegemônica – o ignorante, o residual, o inferior, o local e o
improdutivo –, fruto de reflexões baseadas em monoculturas estabelecidas para
compreender a produção de invisibilidade: 1) a do saber e do rigor do saber; 2) a do tempo
linear; 3) a da naturalização das diferenças; 4) a do universal e do global; e 5) a dos critérios
de produtividade (Santos, B. S., 2004).
Nesse contexto, a monocultura do saber e do rigor do saber é a mais poderosa
forma social de produção da não existência, em que consiste na transformação da ciência
moderna e da alta cultura em critérios únicos de verdade e qualidade estética,
respectivamente. A cumplicidade que une as duas culturas reside no fato de ambas se
arrogarem ser, cada uma no seu campo, cânones exclusivos de produção de conhecimentos
ou de criação artística. Tudo que o cânone não legitima ou não reconhece é declarado
inexistente, e a não existência se torna ignorância ou de incultura (Santos, B. S., 2004).
Na monocultura do tempo linear, a história possui sentido e direção únicos que,
formulados de diversas formas, dão sentido ao que chamamos de progresso, revolução,
modernização, desenvolvimento, crescimento e globalização. A ideia de que o tempo é
linear corrobora com a justificativa dos países sempre à frente de seu tempo, produzindo
conhecimentos válidos e certificados, instituições legitimadas e formas de sociabilidade
determinadas. “Esta forma produz não existência declarando atrasado tudo que, segundo a
norma temporal, é assimétrico em relação ao que é considerado avançado” (Santos, B. S.,
2004, p. 13).
Quanto à monocultura que concerne à naturalização das diferenças, ela “(...)
consiste na distribuição da população em categorias que naturaliza hierarquias. A
classificação racial e sexual são as mais salientes manifestações desta lógica” (Santos,
2004, p. 13). Assim, a não existência resulta da produção de uma inferioridade insuperável
porque é considerada natural, e quem é inferior nunca pode chegar a ser superior.
Já a monocultura universal e global pressupõe uma lógica que consiste em
considerar a escala escolhida para ser a primordial e determinante, em que as outras
escalas possíveis são irrelevantes.
(...) a globalização é a escala que nos últimos vinte anos adquiriu uma
importância sem precedentes nos mais diversos campos sociais. Trata-
se da escala que privilegia entidades ou realidades que alargam o seu
âmbito para todo o globo e que, ao fazê-lo, adquirem a prerrogativa de
designar entidades ou realidades rivais como locais (Santos, B. S., 2004,
p. 13).
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uma nova conjuntura social pautada na renovação da teoria crítica, assim como para a
reinvenção da chamada emancipação social (Santos, B. S., 1999, 2002).
Diante das possibilidades que consideram a Museologia um campo de
conhecimentos favorável para a prática da autonomia de grupos sociais diante de seus
patrimônios, narrativas e identidades culturais, afere-se que o terreno para crescimento e
experimentações da Museologia Social brasileira é vasto e promissor e se configura pelo
interesse no debate em torno das discussões em defesa da ampla garantia por direitos e na
criação de contextos interativos de comunicação pautados por reivindicações de grupos
vulneráveis. Os grupos e movimentos sociais, nesse caso, podem utilizar a potência
geradora dos museus a serviço de seus ideais e projetos de poder contra-hegemônicos com
discussões libertárias e dialógicas (Chagas, 2007).
A partir da perspectiva de que os museus podem (e devem) ser (re)inventados por
diferentes grupos sociais, consideramos que a sociologia das ausências visa “(...) revelar a
diversidade e a multiplicidade das práticas sociais e credibilizar este conjunto por
contraposição à credibilidade exclusivista das práticas hegemônicas” (Santos, B. S., 2004, p.
253) – igualmente, a Museologia Social pretende retirar do esquecimento e da produção
forçada de não existência as práticas sociais silenciadas e marginalizadas. Por meio da
musealização, criam-se estratégias que permitem a visibilidade das memórias produzidas,
assegurando o diálogo e o enfrentamento de ideias. Essa é uma estratégia educacional que
garante espaço para reconhecer identidades e culturas provenientes de variados grupos
humanos.
Os museus se tornam aliados da sociologia das ausências, quando atuam como
espaços construtores de narrativas apresentadas desde o ponto de vista dos esquecidos e
ausentes da produção social dita legítima. As possibilidades de enfrentamento social são
encaradas pelos grupos sociais ao se apropriarem da ferramenta “museu” como fonte de
experimentações voltadas às ecologias sugeridas. Nesse caso, as ecologias propostas
podem se tornar linguagem, inspiração e arcabouço teórico para a Museologia Social na
batalha contra as linhas abissais impostas cotidianamente ao universo dos museus.
A Museologia inspirada pelo desejo de promover espaços de diálogo imbricados em
ideias de participação e solidariedade dialoga com a sociologia das ausências, quando se
articula a movimentos populares para provocar discussões acerca das conquistas de direitos
já estabelecidos, propondo novos debates e garantias de direitos – esses grupos encontram
nos museus um território propício para a manifestação de suas lutas e o enfrentamento de
injustiças sociais. Por meio de narrativas de objetos/acervos escolhidos, as lideranças
comunitárias realizam processos museais que se destacam por características autônomas
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comprometidas com as realidades locais, ganhando vida e espaços para ecoarem suas
vozes. Dessa maneira, discursos, histórias e memórias são musealizados, levando à
reinvenção e à experimentação das práticas sociais, a diálogos e à produção de presenças.
A luta pela garantia do direito à memória de grupos negligenciados passa a ser
prioridade para os movimentos, na medida em que a valorização e identificação das
memórias que retratam as dificuldades, lutas, resistências e conquistas inauguram o
reconhecimento, a visibilidade e a transformação em que resultados podem ser vistos,
contemplados e postos para serem conhecidos por um maior número de pessoas. Os
movimentos sociais se fortalecem quando reivindicações e trajetória são reconhecidas e
debatidas em sociedade com maior profundidade. Como instrumento didático e de
veiculação midiática, os museus se tornam aliados poderosos na perpetuação das
memórias e do poder. Não se trata de uma supervalorização da memória dos oprimidos,
tampouco a crença de uma autenticidade pretérita (Sarlo, 2007), pois as práticas de
Museologia Social empreendidas pelos movimentos sociais devem considerar a linha tênue
que separa as narrativas múltiplas e polifônicas das narrativas unificadas que identificam um
passado escolhido como testemunho da legitimidade da memória (Abreu, Chagas, & Santos,
2007).
À medida que o campo da memória e patrimônio é amplamente discutido,
especialmente no que se refere aos patrimônios locais, o debate sobre a proteção e
preservação do patrimônio no século XXI está relacionado ao medo do desaparecimento e
ao fortalecimento das culturas provenientes de populações tradicionais. A esse respeito,
devemos considerar a “patrimonialização das diferenças”, num movimento que pretende
atentar para a riqueza do diferente presente nas populações tradicionais expressas em suas
culturas, modos de fazer, ser e saber (Abreu, 2010). A patrimonialização citada pela autora
possui tom de alerta, pois desperta discussões de direitos sobre a produção de
conhecimentos e a garantia de autonomia diante da produção de tecnologias tradicionais. As
lutas das minorias e dos grupos vulneráveis socialmente também podem ser igualmente
importantes e necessárias, pautadas por questões contemporâneas de garantia de direitos
negados, discriminação e intolerância para as diferenças de religião, cor, condição sexual,
entre outras.
Diante do termo proposto pela autora, propomos pensar em uma “musealização
das diferenças” estreitamente relacionada com a ecologia do reconhecimento citada por
Santos (1999, 2002, 2004). Importa perceber que a musealização pode ser propagada por
variados processos museais que exercitam a salvaguarda do direito a ser diferente, à
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50A Rede de Educadores em Museus, criada em 2003, é fonte de inspiração para outros movimentos em rede
nesse contexto. Com espírito ancorado nas trocas de informações, contribuiu para o enriquecimento da
expressão “educação museal”, hoje amplamente divulgada entre os educadores museais. Para mais detalhes,
acessar: www.remrj.blogspot.com.br
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Diante disso, a PNM apresentou sete eixos visando ao desenvolvimento das ações
museológicas a partir das diretrizes apontadas: 1) gestão e configuração do campo
museológico, com destaque para a implementação do Sistema Brasileiro de Museus, o
incentivo à criação de sistemas estaduais e municipais de museus e outras instituições de
memória, e a criação do Cadastro Nacional de Museus; 2) democratização e acesso aos
bens culturais; 3) formação e capacitação de recursos humanos, com a criação de um
programa de formação e capacitação de recursos humanos em museus e Museologia; 4)
informatização de museus; 5) modernização de infraestruturas museológicas, com obras de
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De fato, a PNM ampliou a ideia de museu que tem como base (e foco de suas
ações) as pessoas e os processos que valorizam questões sociais. Em franco alinhamento
com os pressupostos da Museologia Social, investem-se esforços em um discurso que
potencializa a natureza social dos museus e do patrimônio museológico, rumo a uma
consolidação ideológica atrelada às concepções do governo que visaram à participação
popular na formulação de uma política pública com forte inspiração social.
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Com a constituição da PNM e até mesmo antes, de forma mais tímida, a equipe do
Iphan/Demu buscou apoio a novas experiências de museus e memória, relacionadas a
comunidades e a movimentos sociais, com o intuito de acompanhar e fortalecer tais
iniciativas. Esse é o caso, por exemplo, do Museu da Maré, com um trabalho iniciado em
1997, a partir da criação do Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (Ceasm) que,
com ações dedicadas à memória local, fortaleceu práticas inovadoras para valorizar a
memória local e, em consequência, do museu.
51Esta citação foi retirada do texto da PNM. No entanto, o mesmo fragmento, na íntegra, faz parte da tese de
doutoramento de Chagas (2003).
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52 O Museu da Maré é contemplado pelo edital Pontos de Cultura do MinC, desenvolvido no âmbito do Programa
Cultura Viva de 2005.
53 Para mais informações sobre a atuação do Museu de Favela, acessar: www.museudefavela.org
54 A respeito da Rede de Museus, Memória e Movimentos Sociais, acessar o blog que reúne informações
importantes sobre este período inicial de atuação da rede, como atas e documentos de referência para o campo
da Museologia Social. Ressaltamos o apoio de Sara Schuabb no desenvolvimento e na alimentação dessa
ferramenta que hoje é um dos principais meios de acesso à memória de um processo importante para a trajetória
da Museologia no Brasil:
http://redemuseusmemoriaemovimentossociais.blogspot.com.br/2010/08/memoria-da-reuniao-da-rede-
museus.html
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construção de uma agenda onde poderemos pensar em ações que promovam o intercâmbio
com o coletivo”.
Ambos organizaram a movimentação em torno da rede, com o intuito de ampliar o
escopo de atuação do Demu para os movimentos sociais, atribuindo o tom necessário para
o enraizamento dessas práticas nos ambientes museais. Para esclarecer a finalidade da
reunião e expor a forma com que os museus são pensados no âmbito da rede ali
configurada, Chagas (2007) compara os museus a lápis. Consideramos essa passagem
esclarecedora para os caminhos seguidos pela rede, com mais dois encontros e que,
depois, toma rumos práticos a partir do fortalecimento do Programa Pontos de Memória e a
criação do Ibram.
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55Entrevista concedida a Inês Gouveia, em razão do Programa Pontos de Memória, realizada em Brasília, no dia
14 setembro 2010.
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Dessa forma, o MinC, por meio do Programa Mais Cultura56 e, nesse caso, com o
Documento de Projeto (Prodoc) celebrado com a OEI, referente ao desenvolvimento
institucional e técnico operacional para a ampliação e consolidação de projetos relacionados
à memória social no Brasil, se tornou mais uma ação social que contribuiria com a
diminuição da violência local a partir de ações dedicadas às memórias realizadas junto à
população, em especial com a atuação voltada para os jovens em situação de risco, no
âmbito do Pronasci.
Conforme o relato de Eneida, ela destaca as parcerias desenvolvidas para a
viabilização do Programa, é possível compreender a ênfase dada à articulação com o
Pronasci, alguns desafios enfrentados pela equipe para a condução compartilhada da
experiência e o papel do coordenador Celso Paz:
56 Lançado em outubro de 2007, o Programa Mais Cultura, criado pelo Governo Federal, representa o
reconhecimento da cultura como necessidade básica, direito de todos os brasileiros, tanto quanto a alimentação,
a saúde, a moradia, a educação e o voto. Para mais informações, acessar: http://www.cultura.gov.br/mais-cultura
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57 Entrevista concedida a Inês Gouveia, em razão do Programa Pontos de Memória, realizada em Brasília, no dia
14 setembro 2010.
58 Importa destacar que não levaremos em consideração, nas análises aqui propostas, os valores orçamentários
utilizados pelo Programa para ser desenvolvido. Consideramos que esse esforço ainda precisa ser feito e
certamente irá aprofundar o entendimento acerca dessa prática em âmbito governamental.
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O que foi passado é que seria mais uma, dentre várias ferramentas, que
ajudaria na redução da violência, ou seja, por meio do trabalho com a
Museologia, trabalhando identidade, pertencimento, sentimento de
cultura, de comunidade (...). Só que estas questões, a meu ver, foram
colocadas de maneira muito simplista, nós não fizemos trabalhos,
discussões, debates com o Pronasci sobre isso.
O Prodoc (2008) firmado entre a OEI e o MinC possui estrutura baseada no formato
padrão de projeto contendo apresentação, objetivos, justificativa, orçamento, metas, ações e
cronograma. As ações programadas visam atualizar e aperfeiçoar instrumentos gerenciais e
técnico-operacionais destinados “(...) à ampliação e consolidação de estruturas de apoio
cognitivo e metodológico às comunidades que atuam com memória social no Brasil”. Para
59Entrevista concedida a Inês Gouveia, em razão do Programa Pontos de Memória, realizada em Brasília, no dia
14 setembro 2010.
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Nesse ínterim, o Prodoc foi pensado conforme quatro metas (um geral e três
específicos) definidas pela experiência de apoio aos museus que contribuíram para a
consolidação da ideia do Programa Pontos de Memória. O Prodoc (2008) se baseia num
objetivo geral que, inclusive, dá nome a ele: “(...) atualizar e aperfeiçoar instrumentos
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61 O Programa Pontos de Memória teve início ainda na fase de planejamento, escrita e formalização de parcerias
em 2007 e 2008, com atuação direta do Demu/Iphan. Em 2009, o Programa foi lançado sob a responsabilidade
do recém-criado Ibram, que passou a se responsabilizar pela gestão. Com vistas a esclarecer a utilização dos
termos a partir das ações realizadas em 2009, apenas iremos nos referir à equipe do Ibram.
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62 De acordo com a metodologia proposta, o PD é a última etapa do Programa Pontos de Memória e consiste em
dar retorno à comunidade sobre as ações de formação e IP. Voltaremos a esse assunto com mais detalhes na
terceira parte desta tese.
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Houve facilidade nos contatos iniciais com o bairro de São Pedro, na cidade de
Vitória, Espírito Santo por conta das ações já empreendidas pelo Pronasci. A partir daí, eles
foram aprofundados por meio das ações desenvolvidas na escola como eixo temático
central, ampliando a capacidade de articulação e ativismo daqueles preocupados em
garantir a discussão acerca da memória do lugar, com vistas a prosseguir com as práticas
de cidadania e dignidade dos moradores. O Ponto de Memória da Grande São Pedro reúne
lideranças culturais, comunitárias e educacionais, além de artistas e representantes de
escolas de samba, dançarinos, “(...) jovens e idosos engajados na reflexão sobre a
importância da (re)construção da memória local para o fortalecimento das identidades que
perpassam as lutas e conquistas da região, conhecida pela forte atuação de movimentos
sociais” (Ibram, 2016, p. 18).
Em Brasília, na cidade da Estrutural, já existiam grupos e lideranças, a exemplo das
demais localidades, que viram, na proposta apresentada pela equipe do Programa, uma
oportunidade de agregar os movimentos existentes para potencializá-los e, assim, contribuir
com a difusão das conquistas atribuídas as histórias de luta da comunidade e dos
moradores. “A iniciativa também funciona como um ponto agregador de movimentos que
desenvolvem projetos socioculturais e de educação popular da cidade, sempre pautados em
ações criativas, solidárias e voltados à melhoria de qualidade vida da população local”
(Ibram, 2016, p. 61). Com capacidade aglutinadora, os diferentes grupos, moradores,
coletivos e instituições parceiras iniciaram o processo que levou ao desenvolvimento do
Ponto de Memória que, posteriormente, viria a ser considerado pelos moradores como um:
Na região Sul foram contatadas lideranças atuantes nos bairros do Sítio Cercado,
em Curitiba, e Lomba do Pinheiro, em Porto Alegre. Na primeira localidade, os grupos que
participaram das reuniões iniciais encontraram, desde muito cedo, afinidade com a proposta
adotada pelo MUF; por isso, ao longo do trabalho desempenhado junto ao Programa,
construíram a ideia do Museu de Periferia. O bairro já realizava atividades relacionadas às
diferentes lutas dos movimentos sociais, especialmente por direito à moradia, o que garantiu
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63Havia um apoio desses setores por intermédio do professor Antônio Motta, visto que o Ibram promoveu uma
reunião no local em outubro de 2009.
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populares. (...) Uma comunidade que tem o acervo, que valoriza, que
quer... porque compreendeu que aquele acervo é importante; não somos
nós que vamos dizer que é importante, mas a comunidade compreendeu
que é importante, quer preservar... Muitas vezes, [daremos] um apoio,
para dizer: “Não faça isso, esse não é o bom caminho da preservação.
Existe uma outra tecnologia, uma outra forma”. Esse é o saber que nós
temos acumulado, é um saber desenvolvido, no que se refere à técnica
de conservação preventiva, técnicas de pesquisa, técnicas de
conservação... e quando esse saber não estiver no Ibram, nós
saberemos onde buscá-lo65.
66 Fala de Leila Regina da Silva, integrante do Ponto de Memória do Taquaril, em 13 de novembro de 2010, Belo
Horizonte, Minas Gerais, citada por Gouveia (2011).
67 A esse respeito, consultar: Toledo (2010, Produto 2, 1º contrato); Varanda (2010, produto 1); Gouveia,
tal instrumento, o recurso financeiro poderia chegar diretamente a cada iniciativa, já que não
era possível, por meio da execução via Prodoc, outra forma de repassar diretamente os
investimentos para os pontos. O modelo de cooperação com a OEI tem caráter focado na
formação e colaboração para ferramentas metodológicas de gestão, e não no
desenvolvimento de práticas atinentes ao fomento e financiamento das experiências.
Dessa forma, adotou-se uma estratégia para solucionar a falta de recursos nos
Pontos, conforme os padrões legais exigidos pela Cooperação Técnica. Nesse momento
surge a figura do consultor local contratado para estabelecer vínculo e relacionamento direto
com os gestores do Ponto, em que uma das exigências do TOR sobre esse profissional se
refere a residir ou ter vínculos próximos com a comunidade atendida; assim, os produtos
viabilizariam ações locais, e o grupo estabeleceria com ele a melhor forma de realização das
atividades. Essa foi a única vez em todo o desenvolvimento do Prodoc, com exceção do
Prêmio Pontos de Memória, que os Pontos receberam diretamente algum tipo de recurso
para viabilizar as ações.
Para cada localidade, um TOR específico foi elaborado, e nele constavam aspectos
semelhantes, a exemplo do documento adotado na Estrutural:
Formação Acadêmica
A.1 Formação acadêmica (Coordenador Local para implantação do
Ponto de Memória da Estrutural) Nível superior, com experiência de
atuação em projetos de base comunitária.
B. Exigências Específicas do Contratado
B.1 Exigências específicas (Coordenador Local para implantação do
Ponto de Memória da Estrutural) Ser, preferencialmente, residente da
comunidade da Estrutural, no Distrito Federal, e ter experiência com
processos de construção coletiva de memória (Organização dos Estados
Ibero-americanos, 2011, p. 2).
Programa.
O PA foi encaminhado como o primeiro produto dos consultores locais, e todos
contaram com aprovação do conselho gestor dos Pontos de Memória. O plano possui
campos para preenchimento obrigatório dos Pontos, o que nos auxilia a compreender a
estrutura de cada iniciativa e compará-las, observando como se desenvolvem na primeira e
na segunda fase do Programa. Tal documento é composto pelos seguintes campos para
preenchimento: Identificação, Instância Deliberativa, Perfil da Localidade, Memória Social
Representada, Tipologia de Museu, Acervo, PD, Possibilidades de Desenvolvimento, Plano
de Aplicação, Cronograma de Execução e Cronograma de Desembolso. Essas questões
são respondidas pelo consultor local contratado, que levanta os dados e os sistematiza a
partir do trabalho desenvolvido por diretores, coordenadores, lideranças dos Pontos. O PA
deve ter a aprovação dos membros que integram o conselho gestor, de forma a respaldar o
Ibram de que as ações são desempenhadas a partir de uma visão mais ampla, respeitando
o coletivo e refletindo uma realidade compartilhada de tomada de decisão. Vale ressaltar
que os produtos seguintes também deveriam ser encaminhados ao Ibram contendo a
assinatura dos membros do conselho para indicar concordância com as ações ali descritas.
Além do acompanhamento e o diálogo intermediado pelos consultores locais
contratados, o Ibram passa a desenvolver, junto aos Pontos de Memória, oficinas de
qualificação para formar integrantes, como as de IP e a de Museu, Memória e Cidadania,
uma das primeiras ofertadas, exatamente pelo caráter introdutório. Outras atividades
também foram realizadas nas etapas subsequentes:
Wélcio destaca que houve muita reclamação por parte dos Pontos
pioneiros (da Ação-Piloto), uma vez que várias oficinas prometidas não
foram realizadas, não sendo cumprido o plano de formação. Haveria
intenção de capacitar agentes envolvidos tanto na área de gestão como
de Museologia/expografia. Teriam sido previstas oficinas de captação de
recursos, prestação de contas e elaboração de projetos, não realizadas,
além das duas oficinas basilares do Programa: Museu, Memória e
Cidadania e Inventário Participativo (Avelar, 2015, p. 66).
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A luta hoje no bairro já não é mais por paredes, por água, por esgoto.
Essa estrutura mínima para se levar uma vida digna já existe. Hoje o que
está faltando é a cultura. As pessoas do bairro têm muito pouco acesso à
cultura. Isso porque a prefeitura do bairro não valoriza o Sítio Cercado
como merecedor desse tipo de atenção. (...) Pensam que o Sítio
Cercado é uma favela. (...) Temos bolsão de pobreza, mas a maioria da
população tem casa própria e carros. O que acontece, por não ter
nenhuma atenção, a maioria dos jovens fica desocupada, e então
buscam outras “experiências”. Então, precisamos mesmo de trabalhar
com cultura (Professora Simone)70.
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Ainda segundo a Rede São Paulo de Memória e Museologia Social, a IV Teia não
considerou a integração entre as iniciativas, gerando profundo desgaste ao longo do
processo. O que deveria servir para aglutinar ideias e provocar debates acerca de outras
oportunidades para fortalecer as iniciativas, unindo saberes e fazeres, configurou um grande
espetáculo de disputas entre elas, sem a capacidade gerencial do Ibram, que pretendia
promover a integração a acumular avanços. Percebemos que a Carta da Rede dos Pontos
de Memória e Iniciativas Comunitárias em Memória e Museologia Social – firmada ainda em
2012 com elementos indicativos de avanços já considerados à época e em perspectiva
amplamente agregadora das experiências que viriam a somar à estrutura nacional do
Programa – foi solenemente ignorada na configuração e nas propostas indicadas no V
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Fórum de Museus (retornaremos a esse ponto na quarta parte desta tese, item 4.1 Rumo à
autonomia: Carta de Princípio das Redes).
Vejamos a posição da Rede São Paulo a respeito da IV Teia e da carta de
princípios:
Nesse contexto, o item “fomento” é desenvolvido por meio dos editais Pontos de
Memória elaborados pelo Ibram desde 2012, data da primeira edição, cujo foco se refere à
premiação de práticas museais e à memória social, com destaque para os pressupostos da
Museologia Social, diversidade sociocultural e sustentabilidade. “É voltado para grupos
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3.3. Para efeito deste Edital, entende-se por: 3.3.1. atividades museais –
aquelas relacionadas à memória social e à valorização, pesquisa,
preservação, conservação, comunicação e sustentabilidade dos bens
culturais de natureza material e imaterial de comunidades e localidades;
que tenham como consequência: o respeito à diversidade cultural, a
promoção da dignidade humana, o protagonismo cidadão, o direito à
cultura, à memória e ao desenvolvimento social; e 3.3.2. grupos, povos e
comunidades em âmbito nacional – os grupos, povos e comunidades
tradicionais que se diferenciam culturalmente e se reconhecem enquanto
tais; que possuam formas próprias de organização social; que utilizem os
territórios e seus recursos para sua manutenção, articulando suas
práticas, conhecimentos e inovações, a exemplo de ribeirinhos,
indígenas, quilombolas, ciganos, afrodescendentes, litorâneos,
periféricos, rurais, urbanos, entre outros.
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Além dos princípios propostos pela Carta e que definem, de forma clara e direta, os
compromissos assumidos pelo Ibram com o Programa, é possível identificar algumas
propostas para a criação, o funcionamento, o conteúdo e a sustentabilidade das redes
estaduais, em que há 14 sugestões voltadas ao fortalecimento das redes. Na primeira delas,
pretende-se: “1. Criar plataforma virtual colaborativa com mapa da rede74, autogerida,
preferencialmente em software livre, com a finalidade de armazenar e difundir amplamente
informações sobre a rede, suas ações e formas de participação, com o financiamento do
74Esse item nunca foi posto em prática, mesmo a consultora Sara Schuabb tendo entregado um produto com
projeto de elaboração de um site, com possibilidade para o avanço de sistema de mapeamento dos pontos.
Schuabb (2010, Produto 5).
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75 Foi formada em 2000 por representantes de bases comunitárias de países como Bolívia, Venezuela, Panamá,
Costa Rica, Nicaragua, El Salvador, Guatemala e México. Para mais informações, acessar:
http://museoscomunitarios.org/redamerica
76 Para mais informações sobre a Abrenc, acessar: https://www.facebook.com/abremc/
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Social foi fundada em 2014; a Rede Indígena de Memória Social no Brasil começou suas
atividades em 2015; e a Rede de Memória e Museologia Social Capixaba foi criada em
2017. O Norte do país também se organiza em rede e promove ações integradas, como no
Ecomuseu da Amazônia, no Ponto de Memória Terra Firme, no Museu Goeldi, entre outras
experiências.
Segundo a articulação em rede, os movimentos se fortalecem pelas trocas que são
promovidas, pelos auxílios mútuos e pela difusão de ideias e projetos que fomentam as
ações, com vistas ao comprometimento dos órgãos públicos (manutenção, fomento e
formação técnica). Com as redes e a criação da Cogepaco, compreendemos que essa
instância já aparece como reivindicação na Carta da Rede dos Pontos de Memória e
Iniciativas Comunitárias em Memória e Museologia Social (2012):
Sobre esse dispositivo legislativo, importante observar o art. 6º, que prevê a
formação do comité consultivo do Programa Pontos de Memória: além dos integrantes do
Ibram, chama atenção a presença dos Pontos de Memória Pioneiros, assim denominado na
portaria. Isso é algo emblemático e bastante significativo, fruto de muita negociação na
estrutura do Programa para que pudessem ser respeitados não só como Pontos de
Memória, mas como pioneiros, em razão da especificidade e do compromisso institucional
anteriormente firmado.
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Este é o “Rap do MUF”, considerado um hino que alimenta a alma dos seus
idealizadores. Ele é importante devido à força de seu chamado e indignação, e, por meio
desse tipo de música tão presente em morros e favelas brasileiras, sobretudo nas
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Poderia ter sido escolhida outra atração ou canção – uma de Gilberto Gil ou de
qualquer outro tropicalista que acredita num país mais justo socialmente – mas não foi.
Naquele dia, o palco pertenceu a dois jovens negros, nascidos numa comunidade
caracterizada e considerada por autoridades e pela mídia violenta de origem pobre e
marginalizada, produtores de uma arte que nasce nos guetos, nas vielas, nos becos e nas
quebradas do morro, agora território do museu. Somada às lutas e resistências, essa arte dá
vida e forma ao museu de favela, numa combinação estreita e afinada entre memória e
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indignação, temas centrais nesse contexto. O amadurecimento das atitudes propostas por
militantes, artistas e ativistas culturais por meio da capoeira, do grafite, dos cuidados com a
beleza, da dança, música, do artesanato e da culinária invade o campo dos museus,
provocando, desarrumando, desafiando e sugerindo novos jeitos de musealizar e de pensar
tais instituições. Numa clara apropriação do termo, garantem a ele outra definição, a partir
dos interesses e das vivências de quem sobe o morro.
O jeito MUF de musealizar é marca registrada dos fundadores como grande
descoberta acerca das possibilidades desse espaço e contribuição para o cenário da
Museologia nacional. Para Rita de Cássia, moradora da comunidade e diretora do Museu, o
jeito MUF de musealizar pode ser assim descrito:
Quem pensa que na intenção de trabalhar uma cultura local vai chegar e
que vai ser igual a jogar comida pra passarinho, tá enganado. Tem que
ter uma sabedoria filha da mãe, enfrentar segregação dentro e fora do
morro; vamos fazer com capricho, nada de bate-entope, onde é o
fundamento do MUF? O fundamento é olho no olho, a memória, a cultura
da gente, papo reto (Pinto, Carlos, & Loureiro, 2012, p. 25).
Esse relato apresenta as motivações que deram origem ao MUF, o que permitiu que
os moradores e integrantes do conselho comunitário pudessem interagir conforme a
construção de um museu de território, base para as experimentações relacionadas ao
campo da Museologia e do Programa Pontos de Memória. O lançamento do MUF serviu de
mote para a primeira apresentação dos Pontos de Memória, uma excelente vitrine para
ilustrar o potencial do Programa e suas premissas; por conseguinte, o museu passa a fazer
parte do conjunto de iniciativas que pretendem contribuir para as discussões e o
78 Dilma Rousseff, ministra da Casa Civil, descreve que o Programa visa promover o crescimento de maneira
mais célere e sustentada, com distribuição de renda tanto no âmbito social como no regional. O PAC incentiva os
recursos privados a partir de iniciativas e projetos de investimento público e outras formas de parcerias
(Ministério do Planejamento).
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Uma coisa que eu até costumo chamar a atenção das pessoas é assim,
se você passa num lugar, quer dizer, passou numa ruela dessas aí da
comunidade, do território, aí tá limpinho, não tem nada no caminho,
naquele momento aquilo é o museu. Aí você vai lá na rua e volta, quando
você volta, o carregador de material fez uma pilha de saco de material, aí
você vai dizer: “Ué, mas quando eu passei aqui não tinha isso. Por que
que agora tem?” O museu mudou, né? Eu inclusive costumo dizer que o
Museu de Favela, ele se renova a cada instante. Ele é como uma vida,
né? Nunca o agora é exatamente o que era há pouco tempo, né? E a
gente não sabe como será daqui a pouco. O Museu de Favela está
sempre nessa modificação (Antônia Ferreira Soares)80.
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82Conhecida como Minha Gal, ela é Yalorixá do Ilê Axé Gezubum, fundado em 1940 por mãe Rosalina Santiago
dos Santos.
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bairro, é retratada no texto de Ana Paula Fiuza (2014), a partir de informações do Jornal A
Tarde, de 20 de abril de 1987:
Ainda de acordo com as lideranças comunitárias, essa estratégia teria sido uma
manobra política, o que também é comentado por Fiuza (2014). Afinal, a disputa por nomes
se deu no período da abertura democrática do país, que via o nome de Tancredo Neves um
elemento simbólico mais condizente com uma elite política que dominava a região.
Como elemento histórico importante, o depoimento do pesquisador, procurador e
pai pequeno do Terreiro de São Roque, Eldon Araújo Lage, apelidado de Gígio, corrobora
com a visão de Beiru escravo que deu origem a um pequeno quilombo:
Nos produtos de Sara Schuabb há detalhes acerca das ações realizadas pelos
Pontos que iniciaram o diálogo com as comunidades, a fim de apresentar a proposta do
Ibram e sensibilizar a localidade para se interessarem em colaborar e fazer parte das ações.
Assim, em reunião do dia 27 de abril de 2010, os moradores discutiram a relevância do
museu na localidade e criaram o conselho gestor que daria a eles legitimidade para o
desenvolvimento das atividades.
Nesse encontro, alguns depoimentos nos ajudam a esclarecer as expectativas
desses moradores, ao replicar a intenção do Ibram em realizar um processo museal no
bairro Beiru:
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Relato importante é feito pela professora e militante Norma Ribeiro que se indigna
pelo fato de o bairro ter sido nomeado como Tancredo Neves:
Eu vou dizer uma coisa, não sei se foi porque nasci aqui, mas acho que
o Pontal é abençoado. Aqui tem corrida de canoa é muito lindo. Vem de
diversos lugares e se junta com as daqui. É aquela enxurrada de velas
amarelas, verde, azul, vermelha. É uma maravilha! É lindo! Na festa do
87 Depoimento encontrado no Blog do Museu Cultura Periférica (s/d). Recuperado em 6 abril, 2017, de
www.museuculturaperiferica.blogspot.com.br/p/d-gerusa-e-o-pontal.html
88 “O Mirante Cultural nasceu com a intenção de trazer para o bairro do Jacintinho uma discussão política e
cultural. O Jacintinho pode ser considerado um quilombo urbano, por possuir diversas manifestações culturais de
raízes africanas – Grupos de Capoeira, Coco de Roda, Dança Afro, escolas de samba, Bandas Afro e Bumba-
Meu-Boi –, além de vários terreiros de matrizes africanas. Esse projeto poderia dinamizar os grupos culturais do
bairro, trazer a cultura para perto de seu povo. Ele abriu espaço para que grupos de outros bairros e até de
outros municípios também se apresentassem, mostrassem sua arte, trocassem experiências. A comunidade
realmente “abraçou” o projeto e o consolidou. Recuperado em 1º dezembro, 2017, de
www.culturadebairro.blogspot.com.br/p/o-cepa-quilombo.html
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90 Noleto (2013).
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92 “(...) inaugurada em 21 de maio de 2011, retratou a história de luta do povo da Estrutural – DF, uma área nobre
do Distrito Federal, ao lado do Parque Nacional de Brasília e a poucos quilômetros do Palácio do Planalto. A
mostra fez um recorte da imensa labuta que foi conquistar a Estrutural, marcado por lutas que custaram vidas e
saúde de muita gente, mas que também geraram muitas conquistas, que fazem hoje da Estrutural um lugar vivo.
Há muitas outras imagens, muitas outras lutas que ainda não foram representadas, mas a exposição marcou o
início e o incentivo para que a o povo da Estrutural, tão guerreiro, continue a contar sua história” (Noleto, 2013, p.
10).
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93Depoimento concedido a Fernandes (2010). No documento produzido por esse consultor, não encontramos o
sobrenome da moradora, apenas a indicação ao seu nome como Nerci.
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os Pontos de Memória e a insurgência do fazer museal
A parceria firmada entre o Museu Goeldi e os militantes do bairro Terra Firme já era
sinônimo de sucesso e de realizações quando a proposta do Ponto de Memória chegou aos
moradores por intermédio do Museu. A essa altura, as articulações desenvolvidas
aumentaram as possibilidades de atuação do Ponto de Memória Terra Firme (PMTF), e as
iniciativas previam a participação do Museu em todas as etapas – isso garante ao Ponto
mais condições de trabalho e ampliam as chances de amadurecimento das discussões
dentro da comunidade. O projeto “Museu Goeldi leva Educação em Ciências à
Comunidade”, realizado desde 1985 pela funcionária Helena Quadros, trabalha na
perspectiva socioambiental, buscando interface com a sociedade por intermédio do museu.
Helena contribui com o Programa Pontos de Memória como conselheira, tendo sido
escolhida pelos moradores. O Museu oferece apoio ao PMTF para desenvolver as ações
desejadas, algo fundamental para que a prática se estabelecesse, sendo também
importante avaliar os limites dessa articulação embrionária.
Terra Firme é um ponto feito e ancorado por mulheres fortes e batalhadoras. Como
símbolo suas presenças, produzem enfrentamentos que se armam de afeto, aproximação e
perseverança. Esse fato se evidencia ao analisarmos os relatórios produzidos por Alcântara,
a partir da participação dos membros do conselho gestor, em se tratando das narrativas das
ações, garantindo aos leitores o entendimento sobre a força dessa comunidade e a atuação
central das mulheres nas tomadas de decisão e escolhas do Ponto. Importante destacar
também a presença dos conselheiros João Batista Costa dos Anjos e José Maria Vale de
Souza, integrantes que contribuem com a força das mulheres do PMTF, ao criarem
condições para o avanço das atividades.
As ações foram desenvolvidas diretamente com as ruas, feiras e escolas do bairro
de Terra Firme, o que mobilizou os moradores a perceberem as belezas e as riquezas de
viver em um bairro marginalizado onde a violência é posta em primeiro lugar como
descrição, resumindo a vastidão de possibilidades do lugar ao aspecto mais negativo, além
de levar o restante da cidade a compreender o território apenas por um estigma proposital.
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A trajetória do Ponto de Memória Mangue do Coque pode ser traduzida pelas ações
museais desenvolvidas por seus integrantes, com vistas a defender a memória local. Assim
se valorizam seus saberes e fazeres, além de estimular a participação dos moradores por
meio de exposições, rodas de memória, oficinas e produtos de comunicação, como blog e
fanzine.
De fato, a trajetória do Ponto e as etapas provenientes da metodologia proposta
pelo Ibram devem ser consideradas, uma vez que conflitos tangenciaram os anos iniciais
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firmadas com escolas, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e grupos
terceira idade. Além da exposição permanente existem realizam Rodas de Memórias com
grupos focais, em parceria com a Universidade de Mapeamentos Culturais do bairro.
Por meio da parceria com o Programa Pontos de Memória, o conselho gestor foi
formado basicamente por mulheres, à exceção de Eduíno de Mattos e Lucas Morates.
Cláudia Feijó, Márcia Vargas, Teresinha Medeiros, Teresa Dutra e Izolina Anhaia, que
compõem o conselho gestor no início das ações, garantindo a maioria de mulheres para
essa experiência de gestão compartilhada.
Essa instituição e o MUF são duas experiências consolidadas ao se assumirem
como museus e compreenderem as práticas como sendo museais, anteriores ao início do
Programa. Como as comunidades onde eles se situavam foram indicadas pelo Pronasci
como locais possíveis, não era interessante ignorar a existência de tais iniciativas; ao
contrário, era mais vantajoso permitir, de alguma forma, ações que contribuíssem com o
enraizamento, tendo maior alcance das iniciativas. Assim, as ações desenvolvidas por
Lomba do Pinheiro foram citadas, pela consultora Lavínia Cavalcante, como uma
experiência de impacto; afinal, nota-se que o grupo já sabia o que poderia ser feito com os
recursos, com vistas a potencializar ainda mais as práticas e reflexões:
Na perspectiva de Ana Maria Dalla Zen, Cláudia Feijó da Silva e David Kura
Minuzzo (2009), o Museu Lomba do Pinheiro:
passa a compor um cenário nacional de práticas da Museologia Social, o que fica evidente a
com a publicação “Práticas comunitárias e educativas em memória e Museologia Social”,
organizada por Jean Batista e Cláudia Feijó, uma das principais articuladoras do Programa e
integrante do Ponto de Memória Lomba do Pinheiro. Na apresentação do livro, os autores se
referem às análises realizadas a partir da experiência dos Pontos de Memória na região Sul
e demonstram o alcance da PNM, bem como os avanços representados pelo Programa às
comunidades. Segundo os pressupostos da Museologia Social, os autores, em especial os
articuladores dos Pontos de Memória, “(...) convidam os leitores e leitoras a pensar em
como podemos construir alternativas dignas para as comunidades a que pertencemos a
partir de articulação entre memórias, educação e ações afirmativas” (Batista & Feijó, ano, p.
).
Essas realizações mostram que o Programa Pontos de Memória estimulou (e ainda
estimula) a produção de iniciativas museais, além de criar condições para o avanço das
reflexões em torno de temas relacionados aos museus comunitários e às práticas de
memória e Museologia Social. Seus integrantes fortaleceram laços acadêmicos e
institucionais já existentes, além de contribuírem com o campo museal. Voltaremos a
abordar aspectos referentes ao Museu Lomba do Pinheiro em outros momentos nesta tese.
100 Depoimento concedido durante a I Teia da Memória, citado por Fernandes (2010).
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101 Rocha, M. Relatório acerca do desenvolvimento da exposição “Memórias e Sonhos do Sítio Cercado”, como
produto de difusão do Ponto de Memória Mupe – Sítio Cercado, realizado em dezembro de 2011.
102 Informações que constam do blog: https://mupe.wordpress.com/
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A estrutura inicial do Museu parte das lutas por moradia e direito ao lugar. Em uma
grande movimentação popular, os desabrigados e aqueles que reivindicavam pelo direito à
terra permaneceram em uma mobilização que rende muitas histórias e memórias. Segundo
Zuca (): “A ocupação do Sítio Cercado é muito recente. Começou no início dos anos setenta
e nos últimos anos acelerou (...). Em 1987 havia vinte e quatro mil habitantes, hoje se coloca
aproximadamente duzentos mil habitantes”.
Em diálogo com as possibilidades de realização apontadas pelo Programa Pontos
de Memória, a educadora Simone relata, de maneira lúcida, as necessidades atuais do
bairro. Isso oportuniza mais clareza a respeito das ações que poderiam ser desenvolvidas
pelos articuladores para tornar o projeto viável na comunidade, ampliando o alcance das
melhorias e transformações necessárias, especialmente para crianças e jovens que habitam
a região. A cultura, a memória e a arte são elementos decolonizadores, e:
A luta hoje no bairro já não é mais por paredes, por água, por esgoto.
Essa estrutura mínima para se levar uma vida digna já existe. Hoje o que
está faltando é a cultura. As pessoas do bairro têm muito pouco acesso à
cultura. Isso porque a prefeitura do bairro não valoriza o Sítio Cercado
como merecedor desse tipo de atenção. (...) Pensam que o Sítio
Cercado é uma favela. (...) Temos bolsão de pobreza, mas a maioria da
população tem casa própria e carros. O que acontece, por não ter
nenhuma atenção, a maioria dos jovens fica desocupada, e então
buscam outras ‘experiências’. Então precisamos mesmo de trabalhar
com cultura (Professora Simone, interlocutora com a população do Sítio
Cercado)104.
Brasilândia está situada na cidade de São Paulo, maior metrópole do país, com
10.400.000 habitantes e 455 anos. Seus habitantes estão inseridos no distrito Freguesia do
Ó-Brasilândia – a primeira possui 451 anos, e a segunda, 62 anos e 276 mil moradores.
Esses dados são retirados do depoimento de Fábio, que explica que Brasilândia tem
movimentos sociais extremamente fortes e atendem mais de 20 mil pessoas. Para esse
militante, o Ponto de Memória será mais uma das várias iniciativas realizadas em território e,
somado às ações já desenvolvidas, deve se destacar junto aos grupos que se dedicam às
atividades eclesiais de base, aos conselhos comunitários que atuam na infraestrutura
urbana e às realizações dedicadas aos equipamentos culturais e educacionais.
Um aspecto importante ressaltado pelos integrantes da Brasilândia, desde muito
cedo, se refere ao grupo responsável por desenvolver as ações do Ponto. Eles não
representavam a Brasilândia porque sabiam que, em número de moradores, isso seria
quase impossível de ser alcançado. Nas palavras de Fábio, durante a I Teia da Memória:
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Cumpre salientar que, de todos os Pontos de Memória que tiveram início em 2009,
apenas este não seguiu as atividades. Infelizmente, vários fatores possibilitaram essa
desistência, desde a incompatibilidade entre as lideranças locais, a insegurança com
relação ao diálogo estabelecido junto ao Poder Público, até a falta de condições para
lidarem com recursos, o que motivou a desarticulação em território.
No entanto, de acordo com Lavínia Cavalcanti (2012, produto 7), é possível
perceber a força das lideranças locais no incentivo inicial. As iniciativas realizadas no
começo são frágeis do ponto de vista do enraizamento local, havendo a necessidade de
mais tempo até serem compreendidas por mais pessoas e para distribuir as tarefas e
responsabilidades – no caso de Brasilândia, alguns pontos podem ter contribuído para a
desaceleração das ações, antes mesmo de elas estarem construídas.
A perda do Élcio foi sentida pelos integrantes dos Pontos de Memória e pela equipe
de gestão do Programa que atuava à época. Figura doce e militante, sabia bem reconhecer
uma boa luta, se dedicava com afinco ao desenvolvimento da proposta em Brasilândia e
representava os desejos da comunidade de forma participativa. Esse trabalho também é
voltado a ele, que acreditava ser possível mudar uma sociedade injusta por meio das ações
museais baseadas na construção de novos processos de cidadania e democracia.
Imagem 14 – Élcio Aparecido de Souza Brasilândia (in memoriam) e Viviane Rodrigues (Ponto
de Memória Jacintinho, Museu de Periferia).
Fonte: Viviane Rodrigues ().
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Ao surgirem em 1981, por meio das ocupações que deram origem ao Conjunto
Taquaril, as lutas por moradia e infraestrutura passaram a fazer parte das pessoas que
habitavam a região. Com características semelhantes às demais localidades dos Pontos de
Memória, as lutas por garantias de direitos foram constantes. Lideranças comunitárias
relatam os momentos de tensão sofridos e pressões por parte da política e do poder público,
para que desistissem de ocupar o lugar. Não houve resultados efetivos, pois os moradores
enfrentaram problemas e dificuldades para manter o sonho de ter uma casa e viver com
dignidade (Silva, 2012).
Com crescimento desordenado e sem projetos de urbanização, os lotes invadiram
áreas de risco, e as casas foram construídas sem atenção às necessidades estratégicas
para facilitar a sobrevivência coletiva. Mesmo diante dessas dificuldades, o bairro cresceu
consideravelmente e, abandonado pelo poder público, até hoje precisa lutar para garantir
direitos.
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Essa citação demonstra a ampla capilaridade dos integrantes dos Pontos como
articuladores e difusores da Museologia Social nos encontros promovidos pela Museologia.
Tais experiências, como os Pontos de Memória, estão ancoradas nos pressupostos da
Museologia Social e garantem, aos movimentos sociais integrantes, conforto teórico e
prático para a construção de caminhos, com maior alcance das ações e possibilidades de
avanços relacionados à sobrevivência da experiência. A articulação em rede das iniciativas
também corrobora com essa estratégia de sobrevivência.
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(...) traçar um perfil dos Pontos de Memória, o qual nos parece ancorado
em um recorte social que legitima que todo Ponto de Memória deva
comungar com os princípios da Museologia Social no processo de
institucionalização de uma política pública participativa voltada para a
memória (Silva, 2018, p. ).
108Informações encaminhadas por Wéllington Pedro da Silva via e-mail, com os dados sobre as pesquisas
desenvolvidas atualmente, inclusive um doutorado em andamento, cujo título provisório é: “Memória e poder nas
configurações territoriais de comunidades periféricas: o despertar da consciência do direito à memória como
vontade política de espaços constituídos com Pontos de Memória”.
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109 Depoimento transcrito por Rosa (2012) e citado por Gervásio (2012).
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Leni Gaudêncio da Silva é dona de casa, tem 77 anos de idade e mora em São
Pedro há 33 anos. Seu relato demonstra os desafios enfrentados pelos moradores que
acompanharam o processo de ocupação do bairro Grande São Pedro, localizado em Vitória,
no Espírito Santo. Para João Bispo, historiador, professor e militante, em relato para
Fernandes (2010): “A ocupação do São Pedro se iniciou com a chegada da siderúrgica CST.
Muitos imigrantes vieram, (...) mas nem todos conseguiram emprego. O resultado disso é
que restou para eles ocupar o mangue”.
A trajetória de Grande São Pedro é marcada pelas lutas por moradia contra a
produção e a promoção da miséria em que viviam muitas pessoas que chegaram para
ocupar o território. Invisibilizados por uma sociedade segregadora, o lixão presente nas
redondezas do bairro também foi motivo para a produção dos estereótipos de bairro pobre,
e o processo de favelização cresceu indiscriminadamente. Nas palavras de João Bispo, um
dos principais articuladores do Ponto de Memória Grande São Pedro:
Essas palavras demonstram o tom das ações do Ponto de Memória, com ênfase na
geração de oportunidades que contribuam para os jovens se relacionarem com o território
de forma diferente e, ao mesmo tempo, para que tal território fosse visto de formas
diferenciadas, modificando a imagem de bairro pobre e favelado para um que produz arte,
conhece sua história e memória, valoriza sua identidade e, por isso, merece respeito e
garantia de direitos e dignidade de seus moradores.
Assim, o Ponto de Memória investiu, além das exposições e do IP propostos pelo
PA do Ibram, em ações nas escolas como o projeto “Memória na Escola”, desenvolvido em
parceria com a Escola Elza Lemos Andreatta, com a finalidade, segundo o consultor
Gustavo Gervásio (2012), de:
Imagem 17 – Maria Iolanda Silva Lima, mais conhecida como Dona Iolanda, conselheira do
Ponto de Memória Grande Bom Jardim.
Fonte: Ponto de Memória Grande Bom Jardim ().
111Referente aos Pontos de Memória e à II Teia da Memória do Espírito Santo, foi elaborado pela museóloga
Paula Nunes Costa, integrante da equipe da Secult-ES e cedido via e-mail para as análises propostas por esta
pesquisa. Aproveito para agradecer pela prontidão e generosidade no envio das informações.
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112 “(...) nasceu na chapada do Apodi, região do vale do Jaguaribe, Ceará, na localidade de Santa Maria,
município de Limoeiro do Norte, Ceará. Deu trabalho para vir ao mundo, nos trabalhos de parto. Foram três dias
de sofrimento de sua mãe. Foi muito bem recebida pela família. Seus pais, à época, moravam com os seus avôs
paternos. E por esta razão passou a ter mais afinidade com estes. Foi uma criança calma, mas nos momentos
de traquinagem era sempre protegida pela avó paterna. Ainda hoje ela é sua referência in memoriam. Já a avó
materna incentivava o castigo e o tolhimento paterno. Lembra que brincava muito. Uma lembrança marcante é
um pé de flamboyant no quintal. Passava o dia nesta árvore e só levava para lá as pessoas que gostava. E
mesmo que essas não estivessem de corpo presente, estavam em intenção. Ela os imaginava. Brincava e
interagia com as crianças amigas, mesmo em intenção, até cansar e depois dormia lá mesmo. Cansou de ser
acordada pelos gritos da mãe com medo de que caísse da árvore, que era muito alta. Na época, na Granja
Lisboa, um seminarista de nome Sales, hoje já ordenado padre, passou a frequentar a casa de sua família. E por
influência deste seminarista missionário, dona Iolanda engajou no movimento da igreja. Aí ela conta a raiz de seu
envolvimento no movimento social”. Depoimento cedido por Adriano Almeida (2018).
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Tal entendimento nos auxilia a pensar nos desafios do campo da Museologia Social
ao optar por desenvolver aspectos que se pautam na humanização, investindo nos
processos museais por meio da memória nas comunidades consideradas violentas e que
são submetidas à favelização no país. Com o intuito de assegurar amplitude e
reconhecimento das práticas desenvolvidas pelas comunidades, a criação de instâncias
deliberativas com a participação de representantes contribuiu para aumentar as condições
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Eu fui o que puxou este tumulto todo (...) porque um grupo já estava
abraçando o projeto, a ONG Cem por Cento, por ter ligações com um
vereador de presença grande na comunidade. (...) Saí com a proposta
de chegar [em Fortaleza, na Teia da Memória] e passar isso a limpo.
Sentei com as pessoas que coordenavam o projeto [Pontos de Memória]
e eles disseram que não havia ofício nenhum, assinado por entidade
nenhuma que vai assumir o projeto. (...) Voltei com as informações e
coloquei tudo isso no grupo, eles não sabiam, aí rachou, rachou mesmo
(p. ).
As definições acerca das etapas do Programa foram sendo tomadas à medida que
as práticas se estabeleciam. Dúvidas e lacunas referentes ao desenvolvimento das
iniciativas eram frequentes e se tornavam replicáveis aos demais Pontos, na medida em que
funcionavam para determinadas experiências. Essa estratégia de manter o diálogo a partir
das práticas bem-sucedidas configura claramente a ideia de um projeto-piloto, ainda sem
definições claras, mas bastante atento às premissas do Prodoc, instrumento que auxiliaria
na construção de uma metodologia para os Pontos de Memória.
De fato, a intenção de propor espaço de participação e integração política para o
fortalecimento da comunidade como uma instância que toma parte e promove as ações a
partir dos próprios desejos e necessidades foi também atravessada pela necessidade, tão
legítima quanto, de evitar que a rotatividade de responsáveis pelos Pontos pudesse
comprometer o andamento dos trabalhos. Nas iniciativas, o envolvimento dos líderes
comunitários e representantes oscilava, na medida em que os papéis não ficavam
estreitamente estabelecidos – as responsabilidades, nesse caso, são bastante definidas.
113Inês Gouveia e Sara Schuabb foram responsáveis por obter os depoimentos em entrevista concedida para o
Programa Pontos de Memória, realizada em Brasília, no dia 13 julho 2010.
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Em seu relatório, Gouveia (2010) destaca aspectos relevantes das localidades que
ainda se organizam para se tornarem Pontos de Memória. Ao destacar os fluxos adotados
pelos lugares, criam-se similitudes entre as localidades e os organizam para abarcar uma
narrativa que valoriza a constituição das instâncias, ao destacar a descontinuidade e os
desentendimentos entre os grupos locais. Vale ressaltar os processos conflituosos, em que
a comunidade expressa incertezas, dificuldades e falta de conhecimentos sobre a proposta
que poderia ser desenvolvida. Nota-se que as localidades ainda não sabem como realizar
tais atividades, responsabilizando a equipe do Ibram sobre a continuidade das ações. Mas,
o que chama atenção é o desejo de fazer parte.
A instância local que faria a gestão do processo tinha que estar conectada com a
realidade do lugar, o que criaria condições para assegurar o desenvolvimento da iniciativa.
Sobre a dinâmica entre a proposta e a atuação do conselho gestor:
114Entrevista concedida por Guerreiro, atual membro da instância deliberativa e representante do Museu Mangue
do Coque, citada por Gouveia (2010, produto 4).
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O relato de Ana Cláudia aborda um aspecto importante acerca das relações entre
as instituições parceiras, em se tratando dos principais museus do estado do Pará, em
diálogo com a localidade de Terra Firme para a realização da proposta. O trecho acima nos
permite perceber o envolvimento do museu com a iniciativa de memória, com vistas a
entender os limites da autonomia do museu frente à comunidade, especialmente a partir das
escolhas adotadas e das estratégias que poderiam ter sido adotadas por moradores e
integrantes dos movimentos locais.
O trabalho do Museu Goeldi se confunde desde o início com a trajetória do Ponto
de Memória de Terra Firme. A entrevista abaixo nos ajuda a compreender o papel do Museu
ao ser inserido no conselho gestor que, por sua vez, reconhece o poder do Museu,
institucional e sua participação:
117.Entrevista concedida a Inês Gouveia e Sara Schuabb, para o Programa Pontos de Memória, realizada em
Brasília, no dia 15 julho 2010.
118 Entrevista concedida a Inês Gouveia e Sara Schuabb, para o Programa Pontos de Memória, realizada em
instituições. Para citar alguns exemplos dos anos iniciais de cada Ponto, observamos que o
Museu de Favela também desenvolveu, ao longo de sua constituição, parcerias com outros
museus, dentre eles o Museu da República, no compartilhamento da exposição itinerante
Mulheres Guerreiras119. Já o Ponto de Memória do Jacintinho, para a exposição “Memórias
que o vento não levou...”, contou com o apoio voluntário do museólogo responsável pela
instituição, Théo Brandão e de Júlio César Chaves, que participou das reuniões atinentes às
definições técnicas e conceituais da exposição (Rodrigues, 2013).
Outro aspecto considerável segundo a formação as instâncias deliberativas, que
dizem respeito às parcerias voltas à viabilização dos Pontos, é a atuação das universidades.
De modo mais direto, envolvem a prática extensionista como ponto de encontro entre os
saberes e fazeres do campo da Museologia nos cursos de Museologia, História,
Especialização em Patrimônio, Arte e outras áreas afins.
119A exposição itinerante Mulheres Guerreiras é uma extensão do prêmio Mulheres Guerreiras, lançado por
ocasião da V Primavera de Museus, do Ibram em 2011, tendo como tema “Mulheres, Museus e Memórias”. A
exposição circulou por instituições museais do Rio de Janeiro, entre elas o Museu Palácio Rio Negro/Ibram, em
Petrópolis – RJ, o Museu da República, no Rio de Janeiro – RJ e o Museu do Ingá em Niterói – RJ.
120 Entrevista concedida a Inês Gouveia e Sara Schuabb para o Programa Pontos de Memória, realizada em
O papel das instituições junto ao Ponto de Memória Terra Firme, indicado por Eliete,
aponta para uma profunda articulação política local, com destaque para o discernimento no
avanço atinente a um conselho gestor forte institucionalmente, com a presença de atores
provenientes de instituições parceiras. Ao reforçar os parceiros externos, é importante
observar as dinâmicas locais que enfatizem o enraizamento local, com a tomada de
decisões e protagonismos de integrantes da comunidade, responsáveis pela construção e
permanência na condução do processo.
Identificamos que a força e o reconhecimento de mulheres com trajetória de luta
pelo território de Terra Firme, além da presença delas na condução das práticas (falamos
aqui da Chicona e da Chiquinha121), garantem para os moradores segurança e legitimidade
para confiar no processo. No entanto, tal presença não minimiza a relação conflituosa que,
por vezes, é identificada em razão das discordâncias no próprio grupo, configurando
conflitos naturais do local, mas mantém, em certa medida, a aproximação necessária entre
interesses identificados pelos moradores, aqueles que vivenciam as dinâmicas e os
contextos do território.
Segundo a consultora, o trabalho de Terra Firme é dedicado ao reconhecimento dos
moradores, e a participação pode ser observada na dinâmica do grupo e nas relações
estabelecidas:
121 Ver mais sobre a atuação dessas mulheres no item 2.10 desta tese.
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Sendo o Museu Goeldi uma referência para esse grupo como uma
instituição que atua para e com a comunidade, tendo em vista que
provoca o interesse desses de possuírem seu próprio museu. É nesse
sentido que foi feita a escolha pela sede do Goeldi no bairro como ponto
de partida (Alcântara & Godoy, 2017, p. 83).
Ou seja, essas experiências têm, muitas vezes, mais a ensinar do que a aprender,
perspectiva que precisa ser levada em consideração, especialmente se observarmos as
questões postas pela monocultura e pelo rigor do saber, como vimos em Santos (2004).
Em se tratando da troca simbólica de saberes, o MUF conta com uma seção na
página da web que lista trabalhos acadêmicos cujo tema é o museu. Nesse site há
monografias, artigos, dissertações e teses que acumulam conhecimentos a partir da prática
museal em comunidade favelada.
Nesse aspecto, cumpre observar a experiência de Aline Portilho (2015). Ao se
aproximar do museu, foi surpreendida com uma proposta bastante peculiar para o universo
de relações entre os pesquisadores e os “objetos” de estudo e observação científicas:
Dois trabalhos realizados pelo MUF em parceria que uniu a produção acadêmica a
prática do museu em uma articulação que beneficiou ambas as instituições podem ser
citados como exemplos desta discussão. Uma delas é a intensa relação do Museu com os
cursos de Turismo da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio)122 e as
ações empreendidas junto às graduações da Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Janeiro (PUC-RJ), sobretudo ao Bacharelado em Psicologia e ao projeto “Escutadoras de
Memórias”123, ambos com objetivos diferentes, mas que fortalecem as experiências a partir
das interações e aprendizagens junto à comunidade e à produção de novos sentidos sobre
o território e as pessoas que por lá circulam, sejam moradores ou não.
Cintia de Sousa Carvalho, intitulada “A escuta de memórias nos labirintos da favela: reflexões metodológicas
sobre uma pesquisa-intervenção”. Como consequência da experiência, foi lançado pela editora da PUC-Rio, em
formato de e-book, a obra “Museu de Favela: Histórias de Vida e Memória Social”, numa parceira entre a referida
autora, Rita de Cássia Santos Pinto e Solange Jobim e Souza. Nesse livro são detalhados o percurso do projeto
“Mulheres Guerreiras” e a proposta das “Escutadoras de Memória”. Ele pode ser acessado em:
www.editora.vrc.puc-rio.br/media/ebook_historias_de_vida_e_memoria_social/indez.html
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O Programa Pontos de Memória não se esforçou nessa direção, por mais que uma
de suas idealizadoras, Eneida Braga Rocha, tenha se dedicado ao assunto por considerar
que os pontos deveriam ter, conforme, a formação e o crescimento, indicadores e
planejamentos que levassem essa dimensão para o cerne de suas preocupações. A esse
respeito, em entrevista a Gouveia (2010), Ena Colnago, integrante da equipe de gestão do
Programa, aborda as metas que a equipe queria ter alcançado:
124 Entrevista concedida a Inês Gouveia, em razão do Programa Pontos de Memória, realizada em Brasília, no
dia 14 setembro 2010.
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125 O Edital 015/2012 fez parte do Programa de Editais da Superintendência de Museus da Secretaria de Estado
de Cultura do Rio de Janeiro (SEC-RJ). Para mais informações, acessar:
http://www.cultura.rj.gov.br/editais/doceditais/CP0152012_RESULTADOSSELECAO.pdf
126 Termo utilizado pelo sociólogo português Boaventura de Souza Santos no discurso realizado durante a
127 Link para o edital dos Pontos de Memória Espírito Santo (2016) elaborado pela Secretaria de Cultura do
Estado (SEC-ES): www.file:///C:/Users/UNIR/Douwnloads/edital.pdf
128 Graduada em Museologia pela Unirio e especialista em Gestão Cultural: Cultura, Desenvolvimento e Mercado
pelo Centro Universitário Senac-SP. Possui formação complementar nas áreas de Museologia Comunitária,
Arqueologia, montagem de exposições, elaboração de projetos e Plano Museológico. É museóloga da SEC-RJ
desde 2011, prestando assessoria técnica a museus públicos e privados e a assuntos relacionados ao patrimônio
cultural. Nesse período desenvolveu ações que envolvem a participação da comunidade do entorno e a criação
de conselhos consultivos. Atua na gestão do Edital de Concessão de Prêmios para criação e manutenção de
Pontos de Memória, acompanhando os projetos contemplados e colaborando com a Rede de Pontos de
Memória do Espírito Santo, recentemente transformada em Rede de Memória e Museologia Social Capixaba.
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129 Para mais informações a respeito do edital Prêmio Rede de Museologia Social do Rio de Janeiro, acessar:
www.museus.gov.br/fomento/editais-2016
130 Para mais informações a respeito da Remus, acessar: www.rededemuseologiasocialdorj.blogspot.com.br
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131 Para mais informações relacionadas a essa reunião, ver: Documento com o Relatório das estratégias adotas
para a consolidação da metodologia do Inventário Participativo a ser desenvolvido nas localidades dos Pontos de
Memória, em atendimento à solicitação designada por Produto 6, expresso no TOR 134, sob coordenação do
Ibram e em parceria com o MJ, no âmbito do Pronasci, e a OEI.
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132 Inventário Nacional de Referências Culturais: Manual de Aplicação. (2000). Brasília: MinC; Iphan.
133 Realiza atividades sistemáticas desde 2007, com vistas a registrar experiências e histórias que marcaram a
vida social e laboral de Setúbal, por meio de atividades que aproximam museu e comunidade. Seus eixos de
atuação se relacionam ao registro a partir de ações participativas das histórias de vida referentes a temas e
acervos do museu, como indústria conserveira, pesca e celebrações religiosas, além da obtenção de
depoimentos junto à comunidade. “A inscrição do museu na vida da comunidade, preenchendo-se ele próprio
com vidas que lá se vão cabendo dentro, nas rotinas dos grupos, no reconhecimento do seu uso enquanto
recurso, enquanto contribuidor para o aumento do índice de felicidade da comunidade, é a grande mais – valia
deste, e de tantos outros projectos participativos que povoam os museus contemporâneos”. (Cardoso, 2016, p.
101).
134 Segundo Filipe (2007), é um sistema museológico territorialmente descentralizado em núcleos e extensões,
com a finalidade de preservar, interpretar e divulgar os patrimônios como recursos para o desenvolvimento
segundo ações multidisciplinares, como prestações de serviço ao público, promovendo a participação da
comunidade interessada em divulgar o patrimônio cultural e natural. Seu sistema de documentação considera o
inventário móvel e documental, o inventário imóvel e o inventário de recolhimento oral. A experiência do
Ecomuseu com a aplicação de instrumentos de planejamento e gestão do território, assim como suas estratégias
para inventariar os patrimônios, são fontes de inspiração e estudos importantes para o trabalho com IPs.
135 Atua na identificação patrimonial a partir do protagonismo dos comunitários para fins de inventário, com vistas
a sugerir propostas de gestão de coleções para a Ilha de Cotijuba, localizada no estado do Pará. Com a intenção
de criar estratégias que possibilitem o acesso à informação para a melhoria de vida de seus habitantes locais a
partir da valorização, uso e apropriação responsável dos recursos patrimoniais proporcionando o
desenvolvimento das comunidades. O Ecomuseu desenvolve pesquisas descritivas, bibliográficas e documentais
do acervo do Programa Ecomuseu da Amazônia, reunindo os dados referentes à região estudada,
complementada pela realização de visitas técnicas, palestras e oficinas. O recolhimento das informações se deu
com a aplicação dos DRPs e dos biomapas (Resende, 2017).
136 Em seu plano museológico, destaca a construção de um banco de dados sobre o recurso pesqueiro da região
a partir de um inventário da biodiversidade e dos recursos naturais explorados pela comunidade local, em etapas
nas quais os alunos de instituições de ensino e a comunidade local observam e estudam os ecossistemas em
questão e sua biodiversidade, além de poderem conhecer a história da comunidade local (Plano Museológico,
2011-2014, p. 35).
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Desde o início, o Programa Pontos de Memória optou por não tornar o processo
demasiadamente “engessado”; logo, primou por garantir que as etapas do desenvolvimento
metodológico fossem realizadas pelos grupos com bastante liberdade e autonomia. Em
algum momento era necessário, até mesmo como medida pedagógica, encaminhar
diretrizes e modelos para serem analisados pelos Pontos, com posterior aplicação, a
exemplo do PA, única ferramenta obrigatória a ser seguida por eles. No que se refere ao
desenvolvimento dos IPs não houve, em princípio, nenhuma orientação em formato de
modelo a ser seguido pelos Pontos, o que caracteriza uma riqueza de possibilidades
metodológicas, além da falta de conhecimentos, fator que dificulta a sistematização das
informações, como aponta Cavalcanti (2012).
Não por acaso, as duas experiências museológicas consolidadas como museus no
âmbito do Programa Pontos de Memória (MUF e Museu Comunitário Lomba do Pinheiro)
desenvolvem o inventário dos acervos num primeiro momento. Com trajetórias distintas,
mas com um nível de maturidade institucional avançado, tais instituições apresentam
iniciativas interessantes e contribuem para que o Programa estabeleça alguns resultados e
experiências acumuladas. Importante perceber que ambos já sabiam o que executar
conforme os recursos advindos do Programa Pontos de Memória – as práticas demonstram
experiências acumuladas que contribuíram com as escolhas das ações e dos caminhos a
serem percorridos.
Antes de apresentar as ideias provenientes dos processos criados pelos museus,
ressaltamos a percepção de que não importava ao Programa Pontos de Memória, nos
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137 Esta exposição itinerante realizada pelo MUF objetiva valorizar a saga individual de moradores da favela,
cujos depoimentos sobre o passado contribuem para a compreensão do presente. Com histórias de luta e
resistência cultural, é o título do prefácio elaborado pelo professor Mário de Souza Chagas para o livro “Circuitos
das Casas-Telas: caminhos de vida no Museu de Favela e MUF – um museu se faz com o despertar de almas e
sonhos”.
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Nesse entremeio, ações foram escolhidas pelo MUF para serem empreendidas,
com vistas a sistematizar o acervo por meio do inventário: temas levantados no Inventário
de Memórias da Cultura Local; como será o Livro-Guia do Circuito das Casas-Telas do
Museu de Favela; estimativa de preços para publicação do livro; nova programação de
oficinas do Ponto de Memória Museu de Favela; conversas giratórias com as Mulheres
Guerreiras; Bazar Permanente de Memórias; planejamento da exposição do PD: lançamento
de um livro (Pinto, 2011, Produto 2). Tal escolha permite aferir que as ações desenvolvidas
pelo museu foram uma estratégia para a obtenção dos depoimentos de memória,
respeitando as dinâmicas estabelecidas pelo cotidiano do morro. A decisão pelo livro como
PD norteou as fases de constituição das narrativas, o bazar de memórias e as ações de
conversas giratórias, além das oficinas que possuem uma junção muito perspicaz entre o
que é possível fazer diante dos desafios enfrentados por museus e seus integrantes e a
limitação de condições para o desenvolvimento das ações.
A exposição das Mulheres Guerreiras se tornara uma realidade possível, pois já
existiam e faziam parte do processo. Por sua vez, o bazar de memória objetivava ampliar a
dinâmica de ver o Museu como polo que pudesse irradiar a capacidade de gerar renda de
seus moradores, gerando benefícios para eles. Os inventários dos acervos do MUF têm
muito a dizer sobre a forma de compreender o território e de avançar em acúmulos que
permitam uma dinâmica rica de vida:
produzir um ciclo que movimenta uma engenharia que, ao mesmo tempo em que alimenta o
desejo de conhecer as memórias, criando outras maneiras de se relacionar com ela e
despertando para outra forma de se ver, contribui para estratégias que permitam aos
moradores fazerem o que estão acostumados no morro: sobreviverem do próprio trabalho.
Em modos de inventário há atividades voltadas para entrevistas orais no território
museal, pesquisas documentais e de campo, oficinas Culturais, ciclo de conversas giratórias
do MUF e feiras de trocas (produtos x memórias). Já em formas de revelação de inventário,
observa com bastante perspicácia a intenção do Programa Pontos de Memória – talvez, por
ser uma experiência com um nível de conhecimento maior sobre si mesma, com trajetória
mais definida, reconhece que os conteúdos devem ser devolvidos à comunidade como
ação, para que sejam reconhecidos e postos em movimento, gerando mais conteúdo. Ao
promover essas ações, o museu se relaciona com o público e proporciona um aprendizado
que pode contribuir com a ressignificação de sentidos ao olhar para o território a partir de
outras práticas e experiências. Assim, o MUF decide devolver as informações com obras de
arte e performances culturais no Circuito das Casas-Telas138 (roteiro-piloto de visitação),
além de atividades nas bases operacionais do MUF, em especial as oficinas culturais e
exposições itinerantes. Mais uma vez, o Museu se apresenta de forma a contemplar as
ações, potencializando ainda mais a sua capacidade e o seu alcance.
Tais atividades refletem a rotina dinâmica adquirida pelo MUF desde o primeiro ano
de atuação, em 2009, com o desafio de cumprir etapas em editais de premiação e enfrentar
as dificuldades para a proposta acontecer de fato. O MUF seguiu confiante em prosseguir
com as relações e dinâmicas no território, em benefício da memória dos moradores e num
momento que contribuía de forma significativa para a consolidação da Museologia Social no
Brasil.
Os Canais de Inclusão Produtiva de Acervos permitem ao MUF ampliar sua
capacidade para dentro e fora do território, com estratégias de geração de renda para se
manter, contribuindo também para os moradores se relacionarem e observarem os
potenciais de crescimento oferecidos pelo Museu. Uma ampla rede de negócios pode surgir
com a visão estratégica de que os acervos merecem ser ressignificados, gerando
oportunidades em diferentes sentidos para o território. As ações empreendidas nesse
sentido são: plano de negócios da REDemuF (exportar para lojas de museus no mundo),
lojinhas do MUF nas bases locais, e participação em feiras, eventos e visitações dentro e
fora do território (Pinto, 2011, p. 3).
138 Sobre esse aspecto, ver o item “Museu de Favela” neste trabalho.
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Ao constituir o IP, o MUF contribui com o Programa a partir da criação de uma lista
de “(...) temas levantados no Inventário de memórias da cultura local, como primeira
indicação de um thesaurus específico para os Pontos de Memória, que pode ser ampliado e
aperfeiçoado na medida em que se desenvolvam os demais projetos” (Pinto, 2011, p. 4
como citado em Cavalcanti, 2012).
Os temas elencados pelo MUF auxiliam no entendimento das dinâmicas de
localidades indicadas para o Programa e, como afirma a consultora local, podem sugerir
proximidades entre todos os Pontos, especialmente nos aspectos mais gerais,
reconhecendo que a maioria deles possui contextos semelhantes de formação. Vale dizer
que, com as devidas adaptações, esse pode ser um conjunto adequado de indicadores de
acervos para as experiências dos Pontos de Memória. Os temas elencados pelo MUF foram:
capoeira, samba de roda, candomblé, Nordeste e migrantes, cultura nordestina, cultura
negra, arte-artesanato, raizeiras e plantas de comer, espirituais e medicinais, festas
religiosas (folia de reis, novenas, São Jorge, São João, procissão de ramos), líderes
políticos e religiosos (Leonel Brizola, Tião, Frei Nereu), plano inclinado, sinistros, literatura
de cordel, hip-hop, saberes de quituteiras, brincadeiras das crianças da favela e romance na
favela (Pinto, 2011, p. 4 como citado em Cavalcanti, 2012).
A experiência do Museu Comunitário Lomba do Pinheiro está atrelada à sua
trajetória e reflete um território, assim como os demais, ameaçado por inúmeras ausências
governamentais e em situação de violência e descaso. Criada em 2006, como citado
anteriormente, essa instituição agrega o Programa Pontos de Memória e, a partir dele,
potencializa as experiências e práticas de memória social. O IP do Ponto de Memória
Lomba do Pinheiro propõe, em termos metodológicos, três etapas, com início no
reconhecimento dos acervos do museu. A metodologia prevê a análise do acervo já
consolidado e inventariado do Museu para então selecionar os materiais que seriam
utilizados na “pesquisa” (Morates, 2011). Tal instituição possui um acervo importante que
contribuiu para que, no trabalho proposto pela equipe do Ponto, houvesse uma ação mais
integrada e apropriada conforme as fontes arquivadas.
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139O projeto “Mapa da Cultura da Região da Lomba do Pinheiro” resulta de um curso de Jornalismo promovido
no Instituto Popular de Arte e Educação (IPDAE).
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parece não ter enfrentado tal situação; pelo menos é o que indica a narrativa feita a partir
das visitas técnicas de acompanhamento dos Pontos de Memória, visto que, por meio de
ações agregadoras, conseguiram manter uma boa participação da comunidade. O IP de
Terra Firme propôs diferentes iniciativas, como rodas de memória e encontros temáticos,
além de ações de difusão do projeto, a exemplo do Cortejo Cultural: “É notável a capacidade
de mobilização do grupo, criando eventos que causam impacto na comunidade” (Cavalcanti,
2012, p. ).
O Ponto de Memória do Taquaril também optou por atividades diversificadas para
atrair a comunidade. Foram realizados, por exemplo, o evento “Varal de Memórias”, as
entrevistas, as pesquisas em arquivos e um festival de música para selecionar e premiar a
melhor canção sobre o bairro, em que “Meu Brasil Taquaril” ficou em primeiro lugar
(Cavalcanti, 2012).
As fichas são elementos comuns na constituição dos inventários e possibilitam o
agrupamento de informações importantes para a consolidação dos acervos e a respectiva
organização. Vários são os instrumentos oriundos de metodologias diferenciadas que
propõem o uso delas: o documento “Educação Patrimonial: Inventários Participativos”140,
produzido pelo Iphan por intermédio da Coordenadora-Geral de Difusão e Projetos, no
âmbito da Coordenadora de Educação Patrimonial, possui várias informações acessíveis,
com base no Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC), contribuindo para o
desenvolvimento de práticas variadas que lidam com o patrimônio cultural e suas variáveis.
Esse documento aponta cinco fichas que compõem um inventário, a saber: ficha do
projeto, ficha do território, fichas das categorias (lugares, objetos, celebrações, forma de
expressão e saberes), ficha das fontes pesquisadas, ficha do relatório de imagem e ficha do
roteiro de entrevista. Tais instrumentos auxiliam na compreensão do método e garantem
liberdade e autonomia para a construção do processo participativo. Além da descrição
pormenorizada com a indicação de reflexões e exercícios, esse documento apresenta os
modelos de fichas como auxílio para cada atividade.
Importante salientar a dimensão dada pelo Iphan para o caráter participativo desse
inventário. Sua proposição se assemelha, em grande medida, com as expectativas e os
desejos da equipe que concebe e executa o Programa Pontos de Memória no âmbito do
Ibram:
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federal. Esse sentimento, confirmado nos produtos analisados142, reflete uma das principais
conquistas desse processo: a relação política, pedagógica e poética compartilhada em
iniciativas de caráter dialógico. Mesmo diante da incerteza, o Programa, por intermédio dos
gestores, optou por estimular os protagonistas das ações museais locais, para que
acreditassem na capacidade de seguir costurando as criações e realizações com o tema da
memória como articulador central.
142 A esse respeito, ver Produtos 4 e 7 de Cavalcanti (2012) e Produto 4 de Schuabb (2010), referente ao
segundo contrato, constantes nas referências desta tese.
143 Depoimento obtido durante a I Teia da Memória em Salvador, citado por Fernandes (2010). Nesse documento
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Por exemplo, Terra Firme escolheu os PDs cartilha e exposição, com vistas a
ampliar a divulgação da prática na comunidade, chamar a atenção dos moradores que não
sabem da existência do museu (e tampouco para que serve) – esse é um desafio enfrentado
pelos Pontos de Memória. O desconhecimento acerca dos museus e dos sentidos variados
da memória para cada um é enfrentado por todas as experiências museais analisadas no
âmbito do Programa e, por isso, as alternativas mais procuradas pelos Pontos foi o exercício
da visibilidade, com apresentação dos objetivos de cada iniciativa por meio de instrumentos
como publicações, blogs e exposições. “O Ponto de Memória da Terra Firme teve a
necessidade de elaborar a exposição ‘Terra Firme: de tudo um pouco’ com o intuito de
registro, preservação e divulgação da história e memória do Bairro da Terra Firme” (Moura,
2012, p. 11).
Para Marília Xavier Cury (2006), as exposições não têm importância por si só, e sim
na interação do público com espaço museal. Tal afirmação é preciosa para os grupos que
experimentam a importância da exposição, exatamente por ela ser um elo entre o público
(moradores, em especial) e os temas que dizem respeito invariavelmente aos aspectos
vivenciados pelos sujeitos no território. No caso de Terra Firme, a exposição visou refletir
sobre as singularidades do bairro, divulgar o Ponto de Memória, oportunizar o envolvimento
dos moradores em debates e maior conhecimento acerca dos temas relacionados à
memória coletiva e individual, com vistas a fortalecer o Ponto como instrumento de
afirmação da identidade do lugar. Assim, o conselho gestor esperava contribuir com a
desvinculação da imagem negativa de bairro violento e marginalizado junto ao restante da
cidade de Belém (Moraes, 2012, p. 11).
Para realizar a exposição, o Ponto contou com a ajuda de profissionais do Museu
Goeldi144, o que demonstra compromisso dessa instituição com as práticas museais
comunitárias e responsabilidade social, ao enfrentar conjuntamente os desafios para o
fortalecimento de memória dos bairros que circundam o Museu. Essa prática reforça a ideia
de que há inúmeras possibilidades de parceria entre os museus tradicionais, comunitários
ou de qualquer outra tipologia, corroborando com a ideia de que a tipologia do museu não é
limitadora, e sim suas práticas.
O vínculo do Museu Goeldi com o Ponto de Memória Terra Firme se deve
especialmente à parceria anterior do Museu com a comunidade – o Programa contribuiu
para que a lógica das parcerias modificasse as relações estabelecidas. Chamamos atenção
144Uma das principais articuladoras da parceria entre o Museu Paraense Emílio Goeldi e a comunidade de Terra
Firme é “(...) Helena do Socorro Alves Quadros, coordenadora do Núcleo de Visitas Orientadas ao Parque do
Museu Goeldi. Desde 1985, a pedagoga, desenvolve o projeto “Museu Goeldi leva Educação e Ciência a
Comunidade” no Bairro da Terra Firme. A partir desse projeto diversas ações são desenvolvidas pelo e para
bairro em parceria com o Museu Goeldi” (Moraes, 2012, p. 174).
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para o fato de que essas relações ainda precisam ser estudadas, indicando limites e
possibilidades, mas, no momento, elas não afetam a dimensão poética das realizações, e
sim potencializam as dinâmicas, o que enriquece ambas as instituições, agora
compreendendo o Ponto de Memória como instância independente do Museu Goeldi.
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vivenciado pelos Pontos por cerca de dois anos ter um momento de reflexão e
sistematização, abrindo espaço para novas construções. Importante destacar que a ação
também pode identificar os limites das comunidades, em se tratando da falta de elementos
decisivos como interesse na participação, mobilização, recursos financeiros e apoios
institucionais para a continuidade dos processos.
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Pipa, cafifa ou raia, brinquedo muito popular no Brasil, foi o grande objeto gerador
da exposição da Estrutural. Ele define, em linhas bem concretas, a transformação
empreendida no grupo e que deu origem ao Ponto de Memória, em que teceu uma a uma a
rabiola da raia. O espírito de coletividade presente na comunidade e a imagem transmitem
os elementos que nortearam o fazer da exposição: com a integração entre museólogos e
moradores, integrantes do Ponto de Memória, o evento cumpriu as etapas previstas nas
montagens de exposições, mas num contexto completamente diferente. Todos estavam
integrados numa exposição que pretendia relatar três eixos bastante emblemáticos para a
comunidade, como relata Noleto (2013) no fragmento anterior.
Ressaltar a luta, a resistência e a conquista dos moradores da Estrutural não era
tarefa fácil, diante de tantas histórias e memórias. Foram necessárias ajuda mútua e
responsabilidade compartilhada, entre os membros do Ibram e o Ponto de Memória, para a
resolução das questões acerca das escolhas museográficas – é possível dizer que nenhum
outro Ponto experimentou tamanho envolvimento. Por conta da proximidade da sede do
Ibram ao local, em virtude da exposição, a equipe do Departamento de Processos Museais
esteve envolvida com a montagem do evento. Com as oficinas práticas, a equipe contribuiu
para que a montagem fosse um momento de aprendizado e reflexão acerca da constituição
do evento na comunidade, inaugurando uma nova prática em que museólogos, arquitetos,
historiadores e outros profissionais do Ibram puderam deixar tarefas administrativas de
gestão de acervos e políticas públicas realizadas em gabinete, na segurança de prédios e
ar-condicionados, para colocar literalmente a mão na massa, legitimando um processo
ancorado nos pressupostos da Museologia Social. Nesse ponto, compreendemos o quão
militante e comprometido pode ser o trabalho à frente de uma política pública.
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opinam com relação à imagem que querem ver retratada nas fachadas, num exercício pleno
de autodecolonização de visões de mundo amplamente colonizadas e, por conseguinte,
subalternizadas.
No tocante à colonialidade do ser e sobre como ela estar expressa nas dinâmicas
vivenciadas pelos grupos em constante diálogo e transformação, destacamos uma
passagem de Rodrigues (2015). A sensibilidade da autora ao se colocar no território durante
a realização da pesquisa aberta às influências territoriais vividas pelos moradores demonstra
a sutileza dos momentos compartilhados, reforçando a dimensão poética das práticas a
partir de aprendizados que contribuem com os processos decolonizadores do pensamento
museal.
Há outra situação que merece ser narrada, que não é ligada às pinturas,
mas sim à minha presença no território museal. Em meio às
restaurações, estávamos eu e uma fotógrafa voluntária. Esta era
estrangeira, mas estava vivendo na comunidade. Crianças estavam
conversando sobre Acme e uma delas disse que estudava com o filho
dele e em que parte do morro ele morava. As crianças então
perguntaram para a fotógrafa onde ela morava, ela olhou meio
desconfiada, mas disse que morava na “Igrejinha” (subunidade do
Cantagalo). Se voltaram então para mim e perguntaram onde eu morava.
Eu disse que não morava na comunidade e então a pergunta foi certeira:
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“Ah, não tia? Então de que morro você é?”. Ressalto este momento
como uma situação de não pertencimento e de estranhamento. Muitas
vezes ouvi histórias de pessoas no “asfalto” terem vergonha de dizer que
moram no “morro”. Naquele momento, diante daquelas crianças, a
situação foi inversa. Eu não vivia no morro, não fazia parte de sua
realidade. O interessante também era notar que para elas se eu não
morava em PPG, eu deveria ser de outra comunidade. Respondi sua
pergunta, mas elas pareceram não conhecer meu bairro, o Flamengo.
Apenas uma menina disse “Não é Botafogo não, né tia?” A realidade é
que eu estava ali enquanto pesquisadora de um universo ao qual não
pertenço. Estava o tempo todo “afetando” e meu “olhar externo” sendo
“afetado” pelo campo de pesquisa. Neste caso específico, fui “afetada”
pela “geografia imaginária de criança”, onde só existiam as favelas
(Rodrigues, 2015, p. 176).
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Dentre as experiências que deram vida aos Pontos de Memória, duas delas (MUF e
Museu Comunitário Lomba do Pinheiro) se destacam por já possuírem trajetória no campo
museal antes de integrarem o Programa. Elas avançaram com mais segurança em
diferentes aspectos e contribuíram para a consolidação das demais iniciativas, seja com os
relatos de ações e soluções de conflitos enfrentados nos encontros e nas teias do Programa
ou mesmo com apoio contínuo via troca de mensagens e articulação que ocorriam durante o
desenvolvimento das atividades.
Em conformidade com o PA do Museu Comunitário Lomba do Pinheiro,
propuseram-se diferentes PDs, como a realização de uma exposição, a reforma da
exposição de longa duração e a confecção de um multimídia. Tal reforma visou avançar as
propostas anteriormente formuladas nessa instituição que recebia o Ponto de Memória. A
UFRGS é parceira da iniciativa do Museu, com a presença de estagiários e a colaboração
de professores por meio de projetos de pesquisa e extensão universitária.
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4.1.3.2 Jacintinho
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Parte do acervo exposto durante a exposição tem origem nos “(...) fragmentos dos
relatos recolhidos na pesquisa de história oral do Inventário Participativo foram transcritos
sobre tecidos, e pendurados no varal da exposição montada na feira de Jacintinho”
(Cavalcanti, 2012, p. 27), como podemos observar na imagem acima.
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A exposição foi outro PD planejado pelo Museu Mangue do Coque, cujo objetivo foi
apresentar o debate acumulado por ocasião do processo de IP na comunidade e promover o
diálogo cultural, estimulando a discussão sobre temas variados de interesse local a partir
dos interesses do museu. Segundo Santos, I. M. G. (2014): “Trata-se de uma exposição
descontraída e dinâmica, aberta para o público em geral, em que convidados e parceiros da
comunidade e a própria comunidade conversam sobre suas temáticas” (p. 15).
4.1.3.3 Beiru
Já a Marcha para Beiru possui caráter mais político e reivindicatório pelo fim da
discriminação racial e em busca de melhores condições para a população negra. A marcha
acontece em homenagem ao Dia da Consciência Negra e conta com a participação e
parceria de instituições como UFBA, Advogados Afro-Descendentes (Annad), Universidade
do Estado da Bahia (Uneb) e esferas governamentais em âmbito municipal, estadual e
federal (Silva, 2012, p. 15).
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O vídeo produzido pelo Ponto de Memória tem como título “Ponto de Memória da
Grande São Pedro – Inventário Participativo”, resultado das ações do IP realizado na
comunidade. Segundo o consultor local:
4.1.3.5 Taquaril
146Para acessar essa letra e mais informações sobre o concurso que escolheu a música vencedora, consultar
Avelar (2015, p. 85), conforme as referências desta tese.
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Diante das experiências que representam parte (e não o todo) das iniciativas, não
seria possível listar todas as ações propostas, pois cada uma desenvolve grande quantidade
de práticas diversificadas. Importa neste trabalho chamar atenção para a criatividade, o
compromisso com o território e as memórias, com base nas questões sociais levantadas. A
dimensão poética se articula de forma sensível com as demais dimensões, muitas vezes
sem permitir separá-las – de modo contundente, podemos vê-las imbricadas e
complementares.
Vale considerar que as dimensões nos permitem propor um debate acerca das
colonialidades do poder, saber e ser, problematizando discursos e práticas mais tradicionais
que levem em conta perspectivas habituais que consideram o tema da interculturalidade147,
a partir de elementos que reforçam as ideias do Estado unicamente como algo opressor e
colonialista. Além disso, tais práticas são travestidas de investimento em interculturalidades
efetivas que indica uma oportunidade de transformação, contribuindo assim com a
construção e o fortalecimento da ideia de diferença colonial que “(...) consiste en classificar
grupos de gentes o poblaciones e identificarlos en sus faltas o excessos, lo cual marca la
diferencia y la inferioridad con respecto a quien clasifica” (Mignolo, 2003, p. 39).
147 Sobre o conceito de interculturalidade proposto por Catherine Walsh: “Este aspecto, el de la potencialidad
transformadora de los ‘conocimientos otros’ en la construcción de proyectos otros de sociedad, es central en la
conceptualización de la interculturalidad entendida como proyecto político y epistémico. En estos términos la
interculturalidad, más que una noción para nombrar las relaciones ‘entre culturas’, o entre las culturas
subalternas y la cultura hegemónica, pone en el centro de la discusión la existencia de múltiples epistemesy las
geopolíticas del conocimiento que las invisibilizan y localizan en lugares desiguales en las escalas de valoración,
al igual que a los sujetos que las producen. Al mismo tiempo, llama la atención sobre la dimensión y
potencialidad política de dicha pluralidad y los diálogos a su interior” (Restrepo & Rojas, 2010, p. 174).
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PONTOS DE (IN)CONCLUSÃO
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Ponto 1
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Ponto 2
Ponto 3
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dos grupos pelas oficinas. Vale dizer que as ações de formação promovidas pelo Ibram se
tornaram significativas pelo caráter multiplicador e dinamizador dos processos nos Pontos
de Memória.
Os produtos desenvolvidos pelo Ibram, destinados a elaborar cursos em
formadores de ensino a distância, contribuem com o entendimento de que a equipe se
atenta a essa demanda, considerando-a necessária para o andamento e o fortalecimento
das experiências. No entanto, é importante esclarecer que a ênfase dada à formação não
pretende promovê-la como condição a priori para os processos empreendidos na
Museologia Social, ou seja, não compreendemos a formação como (pré-)requisito, e sim
demonstramos a necessidade de se atentar a esse aspecto que possibilita a integração,
problematização e ampliação do alcance das ações, transformando o território e as relações
ora estabelecidas.
As reuniões de trabalho entre a comunidade e a equipe do Ibram, as trocas e
reflexões conjuntas, os intercâmbios, a participação em teias e encontros e o ativismo de
base comunitária são ações em favor de objetivos comuns. São compreendidas como
iniciativas de formação que fortalecem as práticas em Museologia Social.
Ponto 4
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Ponto 5
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Ponto 6
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Ponto 7
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utilizar os acúmulos conceituais e as diretrizes das cartas do Minom vistos nesta tese como
documentos decoloniais para o fortalecimento dos processos museais desenvolvidos no
Brasil, além de criar condições para as redes serem cada vez mais autônomas e
colaborativas, com o intuito de garantir que os movimentos sociais alcancem êxito para além
das projeto de Estado.
O caminho está na insurgência do fazer museal. Isso ocorre não só nas práticas
produzidas por comunidades, povos e grupos tradicionais subalternizados, mas também na
ação realizada pelo poder público por meio das políticas e, especialmente, pelas práticas
acadêmicas, com as universidades a partir do repensar das formas de produção e
reconhecimento dos saberes museais e museológicos.
É importante destacar o caráter colaborativo e participativo desta tese. Pautados
pela construção de uma narrativa conjunta, tivemos a oportunidade de olhar para o campo
da Museologia Social conforme as narrativas de profissionais que, por anos, tiveram suas
vidas cruzadas pela experiência de pensar e contribuir para a execução dos Pontos de
Memória. Os consultores que atuaram desde Brasília a partir da gestão do programa até os
consultores locais, contratados para medir a relação com o território e as ações
desenvolvidas, construíram, dia a dia, mês a mês, oportunidades para ampliar os
conhecimentos acerca da Museologia Social, dando contornos para o campo (e o que
consideramos ainda mais importante) e as ações que transformam as pessoas e os
contextos de luta, resistência e conquistas em territórios marginalizados, subalternizados
que sofrem com o preconceito e a invisibilidade por meio da violência e do racismo.
Essa atuação, aliada à alta capacidade de execução e reflexão militante dos
moradores, integrantes e parceiros dos Pontos que fortalecem essa prática, pode corroborar
com a ideia de uma construção participativa. Percorremos o trajeto da escrita colaborativa
que visou exercitar também a perspectiva decolonizadora da feitura de um trabalho
acadêmico, em que a presença das opiniões expressas nos “produtos” não ficou silenciada
e restrita aos cuidados da gestão institucional. Buscamos garantir espaço para a construção
colaborativa for somada às ideias individuais que, reunidas, permitissem respostas para um
conjunto de questões. Desejamos que novas abordagens, perspectivas e considerações
sejam tecidas a partir dos Pontos de Memória. Antes ideias, hoje são realidades e estimulam
o pensamento decolonizador da Museologia.
Os Pontos de Memória traduzem vozes, desejos e oportunidades; suas práticas se
desdobram em inúmeras narrativas, e esta é, sem dúvida, a principal contribuição. A
dinâmica da Museologia Social, como diz Mario Chagas (), consiste na compreensão de que
“(...) a Museologia que não serve para a vida, não serve para nada”. Poderíamos
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interromper a tese com esta constatação, mas cremos ser importante também destacar, a
título de (in)conclusão, uma frase adaptada de Mario Moutinho (), que diz: “Os museus que
só sabem de si, nem de si sabem” ().
Destarte, nos aspectos relevantes para entender a Museologia Social, é
fundamental perceber seu caráter solidário e integrado à vida sob um viés transgressor. A
produção de invisibilidade social, retirada de direitos e dignidade dos povos, grupos e
comunidades deve ser enfrentada. Não é possível mais cruzar, e sim erguer os braços e
enfrentar os perigos de uma sociedade pautada pela produção indiscriminada de
colonialidade. Para isso, nossa ferramenta de luta é a Museologia Social, ancorada em uma
perspectiva decolonial e cada vez mais insurgente.
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preenchido em conformidade com a solicitação do Ibram e aprovado pela instância
deliberativa do referido Ponto, contendo informações a respeito da instância
deliberativa, das perspectivas museológicas do ponto e a previsão do desenvolvimento
de suas ações no que se refere ao Inventário Participativo e ao Produto de Difusão
(Novembro de 2011). Expresso no TOR, sob coordenação do Instituto Brasileiro de
Museus – Ibram em parceria com o Ministério da Justiça, no âmbito do Programa
Nacional de Segurança com Cidadania – Pronasci e a Organização dos Estados Ibero-
americanos – OEI.
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Castro, C. (2011). Produto 6. Documento final com uma proposta de conteúdo programático
para o manual de implantação do projeto Pontos de Memória (Novembro de 2011).
Expresso no TOR, sob coordenação do Instituto Brasileiro de Museus – Ibram em
parceria com o Ministério da Justiça, no âmbito do Programa Nacional de Segurança
com Cidadania – Pronasci e a Organização dos Estados Ibero-americanos – OEI.
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que contenha resultados das aplicações piloto das oficinas (Novembro de 2013)
Expresso no TOR, sob coordenação do Instituto Brasileiro de Museus – Ibram em
parceria com o Ministério da Justiça, no âmbito do Programa Nacional de Segurança
com Cidadania – Pronasci e a Organização dos Estados Ibero-americanos – OEI.
Lyra, B. L. (2009). Plano de trabalho contendo cronograma das ações que envolvem a
implementação dos Pontos de Memória. No âmbito do projeto do Ponto de Memória em
atendimento à solicitação designada por Produto 1, expresso no TOR, sob coordenação
do Instituto Brasileiro de Museus – Ibram em parceria com o Ministério da Justiça, no
âmbito do Programa Nacional de Segurança com Cidadania – Pronasci e a
Organização dos Estados Ibero-americanos – OEI.
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os Pontos de Memória e a insurgência do fazer museal
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Museologia Decolonial:
os Pontos de Memória e a insurgência do fazer museal
Schuabb, S. C. (2010). Produto 3. Documento com clipping – matérias publicadas nos meios
de comunicação pertinentes ao processo de constituição dos Pontos de Memória e
avaliação da estratégia de comunicação comunitária (Abril de 2010) Expresso no TOR,
sob coordenação do Instituto Brasileiro de Museus – Ibram em parceria com o Ministério
da Justiça, no âmbito do Programa Nacional de Segurança com Cidadania – Pronasci e
a Organização dos Estados Ibero-americanos – OEI.
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os Pontos de Memória e a insurgência do fazer museal
Spin, N. (2013). Produto 2. Documento técnico contendo estudo das melhores práticas na
condução de projetos de CTI (Cooperação Técnica Internacional) assemelhados e
proposta de sistemática para a execução técnica e operacional do Projeto Pontos de
Memória (Julho de 2013) Expresso no TOR, sob coordenação do Instituto Brasileiro de
Museus – Ibram em parceria com o Ministério da Justiça, no âmbito do Programa
Nacional de Segurança com Cidadania – Pronasci e a Organização dos Estados Ibero-
americanos – OEI.
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Toledo, W. S. (2009). Produto 4. Documento preliminar com resultados parciais das visitas
técnicas de sondagem nas 12 localidades indicadas e avaliação preliminar da situação
para a implantação dos Pontos de Memória (Fevereiro de 2010) Expresso no TOR, sob
coordenação do Instituto Brasileiro de Museus – Ibram em parceria com o Ministério da
Justiça, no âmbito do Programa Nacional de Segurança com Cidadania – Pronasci e a
Organização dos Estados Ibero-americanos – OEI.
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