Apostila-Alfabetizacao-Para-Autistas-1 - Passei Direto
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Alfabetização
para Autistas
Módulo 1
Aula 1 – Etapa 1
Levar uma criança que tem o transtorno do espectro autista até o momento da alfabe-
tização é a preocupação de muitos pais e professores e é sempre um caminho que
precisa ser percorrido com paciência, sem pressa e envolve muitas etapas. Por isso,
esse curso busca trazer algumas informações, sugestões e estratégias de avaliação de
alternativas de atividades para alfabetizar as nossas crianças.
Então, a primeira etapa diz respeito a conhecer quem é seu personagem, quem é esse
aluno e quais são as suas características, a fim de entender se já é possível iniciar o
processo ou não. Em alguns casos, já se pode poder entrar com o trabalho vendo os
fonemas de imediato, mas em outros tem que se percorrer um longo caminho, cons-
truindo uma história até chegar na fase onde vai ser possível decodificar a leitura.
Nessa primeira aula, vamos tratar da identificação das alterações das habilidades que
envolvem o processo de aprendizagem e uma avaliação comportamental dos nossos
alunos, o que significa que existem habilidades prévias. No caso do TEA, com certeza é
porque é um processo que exige um amadurecimento da neurobiologia do cérebro.
Dessa forma, não podemos esperar que uma criança de 1 ano aprenda a ler, assim
como ela ainda não pode se alimentar com determinados alimentos. Logo, nós preci-
samos de habilidades prévias e se nós não as tivermos, o que vai acontecer é um insu-
cesso, fazendo com que e nós acreditemos que a criança com TEA não é capaz de
aprender a ler e, na verdade, não é isso. O que ocorre é que nós deixamos de cumprir
alguns elementos básicos, algumas histórias prévias que antecediam esse processo de
alfabetização.
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Às vezes nós nos surpreendemos quando a criança pronuncia a primeira palavra, pois
para nós a sensação é de que aquilo está começando naquele momento, mas na
verdade o ser humano começa a trabalhar as habilidades para falar e andar desde o
seu nascimento.
A causa do autismo ainda é desconhecida, o que nós temos são muitas hipóteses,
sendo que uma das possíveis causas diz respeito ao prejuízo qualitativo na área da
linguagem.
Por isso, dentro de uma visão desenvolvimentista, que considera a linguagem como
ponto central no estudo do autismo, é necessário voltar aos precursores de linguagem
- que nada mais é do que tudo aquilo que acontece desde o nascimento de um bebê
até o momento em que ele vai falar, expressar oralmente aquilo que ele deseja, ou
seja, onde surge a linguagem expressiva e compreensiva. Vejamos a seguir sobre esses
precursores.
Todo esse caminho que a criança percorre envolve o uso do olhar, sendo que a troca do
olhar com o cuidador é responsável pelo afeto e, consequentemente, pelo desenvolvi-
mento da inteligência. Isso, inclusive, é explicado pelas teorias desenvolvimentistas e
cognitivistas: a afetividade está presente na troca do olhar. Dessa forma, o olhar está
diretamente ligado a alfabetização, pois é através dele que a criança pode acompanhar
todas as atividades que lhe estão sendo fornecidas e é fundamental que esse olhar
seja um olhar de qualidade.
Nesse contexto, muitas pessoas ficam com dúvidas, uma vez que é muito falado que o
autista não olha nos olhos. No entanto, às vezes conhecemos portadores da síndrome
de asperger que olham nos olhos, sim. Nesses casos, o que é avaliado é a qualidade do
olhar, como que esse olhar se comunica, se tem uma duração socialmente aceita, se é
muito fixo, vazio, entre outros aspectos.
Também há a questão da vocalização, que é os gritos que o bebê costuma dar no berço
ou no colo, que são sinais de saúde, de que a linguagem está tomando o percurso
adequado. está interpretando. Quando a criança vocaliza, isso facilita o processo de
alfabetização, pois é mais fácil fazer com que a ela repita os fonemas. Do contrário, isso
não representa um impedimento,, pois existe uma diversidade muito grande dentro
do autismo, tendo crianças não-verbais e com plenas capacidades de aprender a ler e
escrever.
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Mas, e como saber? Simples, porque elas interpretam, escrevem o que estão pensan-
do, você faz perguntas sobre o texto e ela mostra na gravura o que ela vê. Portanto, a
autista não-verbal também pode aprender a ler e escrever.
Um outro movimento precursor que a criança faz, lá pelos seus cinco ou seis meses de
vida, é o movimento antecipatório. Um exemplo disso é quando o bebê começa a jogar
os braços para manifestar a vontade de ir para o colo de alguém em que ele tem confi-
ança, antecipando um desejo dele. Essa questão interfere no processo de alfabetiza-
ção porque para a criança aprender qualquer coisa, ela precisa saber demonstrar o seu
desejo, saber se antecipar.
Outro fator que merece atenção, é a imitação arbitrária, que é quando a criança apren-
de a fazer uma imitação espontânea, sendo ela muito necessária para cópia, escrita,
para pronunciar os fonemas e repetir.
Também temos a fala referencial, que em geral antecede a fala fluente. Ou seja, é o
momento em que a criança começa a falar pedaços de palavras e apelidos. Assim, a
criança está iniciando uma verbalização e isso normalmente ocorre aos um ano e oito
meses de idade.
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Isso significa que antes de mais nada, para alfabetizar, é preciso desenvolver esses
precursores de linguagem, fazendo com que aquilo que não aconteceu naturalmente,
aconteça de uma forma artificial por meio de um acompanhamento terapêutico.
Desse modo, é fundamental fazer uma avaliação detalhada e fidedigna para que a
intervenção e as atividades sejam mais acertivas e apropriadas para as necessidades
da criança. Lembre-se que o trabalho no TEA envolve sempre o resgate do desenvolvi-
mento, da afetividade e da interação social para que as demais áreas possam ser
desenvolvidas.
Nesta etapa falaremos sobre como avaliar os precursores de linguagem, visto que
muitas vezes o professor pode ter dificuldades de pensar em quais atividades podem
ser realizadas para desenvolver essa habilidade ou mesmo identifica-la na criança.
Na aula anterior, tratamos sobre uma série de precursores e fizemos o caminho que o
bebê percorre até chegar à fala, ressaltando que nem todos eles que tocarão no pro-
cesso de alfabetização. As características que interferem diretamente no processo de
leitura e escrita, bem como a compreensão e a interpretação, são:
Para que essa avaliação seja mais precisa, é interessante que o interlocutor mova-se
verificando se a criança acompanha estes movimentos. Ainda, uma outra forma
importante de fazer essa observação é utilizar um objeto de interesse da criança
colocando-o no plano vertical e/ou no horizontal, verificando se existe a coordenação
visomotora, bastante necessária para a prática de escrever. É também muito impor-
tante avaliar se a criança possui a percepção dos detalhes, ao contar uma história ou
apresentar uma gravura, se acompanha e explora o objeto com o olhar.
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É importante lembrar que essa etapa é parte de uma sequência e somente poderá ser
desenvolvida depois for feita a avaliação do uso do olhar e os movimentos antecipató-
rios.
Crianças sem autismo olham para o local mostrado, enquanto que as crianças autistas
tendem a olhar para a ponta do seu dedo. Então, caso você não seja um avaliador
preparado, talvez não perceba a sutileza dessas diferenças. Por isso, é muito bom que
você faça essa avaliação em conjunto com outra pessoa, que possa fazer anotações
enquanto você observa ou vice-versa.
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Depois é necessário que a criança faça uma troca de olhares, compartilhando a aten-
ção. Esse gesto se relaciona com a formação do diálogo: no processo de leitura, quan-
do você apresenta uma letra ou um fonema e questiona qual a figura que se relaciona
com o som que você está produzindo, a criança deve fazer o uso do olhar no papel e
voltar o olhar para você. Uma forma de fazer isso é trabalhar com a criança sobre uma
mesa, trocando objetos de posição, observando se ela consegue alternar o olhar, ou
colocando algum objeto perto do seu rosto para que ela direcione o olhar para você, ou
chamando outra pessoa para o trabalho fazendo um jogo com bola, obrigando a
criança a olhar para você.
Todas as atividades sugeridas são utilizadas não somente para avaliar, como também
para intervir quando a criança não tem habilidade.
IMITAÇÃO ARBITRÁRIA - O que esperamos é que a criança faça uma imitação espontâ-
nea já por volta dos treze meses, quando a ensinamos a bater palminhas, por exemplo.
Em geral, uma criança autista com 6-7 anos não imita ou então tem uma imitação
atrasada, ou seja, aquela em que a criança ouviu uma frase há um tempo e acaba
repetindo fora de contexto.
A criança precisa repetir o fonema que você está emitindo, imite a escrita, pois a cópia é
uma forma de imitação. Um ótimo exercício para isso é utilizar o espelho. Se a criança é
muito refratária à questão da imitação, pode-se induzí-la imitando seus gestos: se a
criança bate na mesa, você bate também, colocando-se à frente dela como se fosse um
espelho ou uma sombra.
As imitações motoras são também bastante atrativas: brincar de bola, pular em uma
cama elástica, jogar bolinhas para o alto... Ensinar a criança a imitar coisas simples e
através da brincadeira, auxiliarão muito na imitação da escrita, que nada mais é do que
uma cópia.
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feitas pelo menos três tentativas a cada dez minutos, alternando as atividades para
evitar o cansaço e a perda de interesse da criança frente aos estímulos.
É muito importante que encaremos esse processo de forma científica, fazendo anota-
ções, produzindo relatórios sobre os resultados, observando quais são as falhas, o que
precisa ser melhorado.
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HABILIDADES VISOESPACIAIS
- O aluno olha para o local adequado enquanto realiza a tarefa? -> Muito importan-
te, independente da idade do aluno.
- O olhar é sustentado? -> É normal que, durante uma aula, o aluno olhe para outros
lados, mas deve voltar o olhar para a atividade.
- Consegue mudar o olhar de plano sem perder a atenção? -> Observar se a criança
leva o olhar e retorna à atividade ou ela perde o foco e busca outras coisas.
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- Nomeia objetos? -> Se for verbal. Se não for, que a criança pelo menos saiba
demonstrar apontando aquilo que ela precisa ou quer.
- Ouve histórias ou relatos por pelo menos 5 minutos? -> Sabemos que existem
muitos problemas de comportamento envolvidos no TEA e vários deles estão em torno
da dificuldade de atenção e da ansiedade. Crianças muito ansiosas, por exemplo,
demonstram esteriotipias, não têm foco. Então é necessário que a criança que está se
propondo a aprender a ler e escrever seja capaz de ouvir por pelo menos 5 minutos.
Em primeiro lugar, pelo fato da qualidade da atenção, pois caso a criança não tenha
essa capacidade, não haverá percepção que se sustente ou memória que se concreti-
ze. Em segundo lugar, se a criança não suporta ouvir um relato de cinco minutos, pode
significar que ela não suporta interação com o outro.
Uma sugestão de atividade que tem dado muito certo na prática é procurar aumentar
o tempo de concentração da criança utilizando música. Por exemplo, proponha fazer
uma atividade enquanto a música está tocando. No decorrer do tempo, a duração da
atividade pode aumentar, com a execução da mesma tarefa enquanto a música toca
duas vezes.
- Compreende ordens? -> Toda vez que se deseja fazer com que a criança se torne
mais compreensiva do que está no seu entorno e esteja mais inserida no contexto, a
aprendizagem da linguagem oral se dá sempre pelos verbos, pois substantivos são
altamente arbitrários, enquanto os verbos são ações que podem ser demonstradas.
Então, a criança com autismo consegue aprender melhor a função e aplicação da
linguagem quando começamos pelos verbos (risque, coma, pule, pinte).
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