APOSTILA 03 - A Experiência Filosófica e o Conhecimento
APOSTILA 03 - A Experiência Filosófica e o Conhecimento
APOSTILA 03 - A Experiência Filosófica e o Conhecimento
A EXPERIÊNCIA FILOSÓFICA
A pergunta que abre este tópico pode parecer estranha para alguns. Afinal, se nos propusemos a realizar esse
percurso de reflexão filosófica, certamente teríamos a definição de filosofia na “ponta da língua”.
A propósito, vale mencionar que mesmo o alemão Edmund Husserl (1859-1938), um dos mais importantes
filósofos do mundo contemporâneo, declarou que sabe o que é filosofia, ao mesmo tempo que não sabe, uma
vez que esclarecer o que é a filosofia já é uma questão filosófica. Nesse sentido, advertiu que apenas
pensadores pouco exigentes se contentam com definições categóricas, pois o filósofo, de outro modo, é
alguém que constantemente coloca em questão o seu próprio saber.
Basta examinarmos a história da filosofia para constatar que as definições de filosofia variaram de acordo
com as concepções assumidas pelos filósofos e estes, por sua vez, se expressaram como pessoas do seu
tempo. Por exemplo, na Antiguidade, a filosofia era considerada um saber universal, fundamento de todas as
ciências, enquanto na Idade Média cristã tornou-se apenas uma “serva da teologia”, cujos argumentos eram
úteis para sustentar as verdades da fé, e não para questioná-las. Na Idade Moderna, alterou-se o papel que a
filosofia assumira até aquele momento, em virtude do novo método das ciências da natureza, que até hoje
desperta fecundas reflexões filosóficas.
Pode-se perceber, então, que a filosofia não constitui uma doutrina, um saber acabado ou um conjunto de
conhecimentos estabelecidos de uma vez por todas. Ao contrário, a filosofia apresenta-se em constante
disponibilidade para a indagação sempre que o filósofo encontre problemas nas teorias vigentes. Essa é a
atitude problematizadora que a caracteriza. O questionamento das verdades dadas, típico da filosofia, faz
com que ela se mostre como busca da verdade, e não como sua posse. A filosofia é procura, e não encontro;
é aventura em busca de sentido e conhecimento, e não solo firme onde se estabelece a verdade de uma vez
por todas.
Para melhor entender a natureza da experiência filosófica, vamos primeiro tratar de outros tipos de saber
com que nos defrontamos no cotidiano, recorrendo ao filósofo espanhol Fernando Savater, que distingue três
tipos de saber: a informação, o conhecimento e a sabedoria. Aproveitamos para, na sequência, comentá-los
livremente.
Informação
Qualquer informação relata um fato divulgado de boca em boca, que, se for do interesse de muitos, pode
tornar-se notícia veiculada pela mídia escrita e/ou digital, atingindo um maior contingente de pessoas. As
notícias são de diversas naturezas, desde acontecimentos do cotidiano das cidades, da vida política até os do
mundo das artes e dos esportes. Ficamos sabendo sobre o falecimento de um grande escritor, os shows em
cartaz e que políticos serão candidatos nas próximas eleições.
Conhecimento
Para ampliar a compreensão da notícia selecionada sobre gravidez na adolescência, supomos os diferentes
pontos de vista que profissionais de algumas ciências emitiriam ao analisá-la. Observe os exemplos:
Sociólogos: podem investigar as condições precárias em determinado país para o atendimento adequado à
mãe e à criança, assim como as decorrências desse fato na família conservadora que, muitas vezes, rejeita e
expulsa a adolescente. Podem igualmente levantar dados de como a proibição do aborto é contornada com a
prática realizada em situações inadequadas, o que aumenta os índices de mortalidade das jovens. Quando a
maternidade é assumida, esses profissionais descrevem os desvios involuntários de projetos pessoais, como
a interrupção dos estudos e da vida típica de qualquer jovem.
Qualquer pessoa, mesmo não sendo especialista em alguma ciência, analisa a notícia da gravidez precoce
com base em seus valores e crenças, porque a experiência de vida nos orienta para a sabedoria do bem viver.
Ao se referir à sabedoria, Aristóteles (c. 384-322 a.C.) recorre a dois conceitos: o de sabedoria teórica
(sophia) e o de sabedoria prática ou prudência (phrónesis). São conceitos inseparáveis porque se completam:
de nada adianta saber o que queremos da vida se não formos prudentes na ação. Podemos, portanto, com
nossa razão e nossa sensibilidade, avaliar o que significa um índice tão elevado de jovens mães e quais
seriam as consequências previsíveis dessa realidade.
Sob esse aspecto, a sabedoria identifica-se com o que chamamos de filosofia de vida, o filosofar espontâneo
de todos nós
3. APRENDER A FILOSOFAR
Em citação muito conhecida, o filósofo alemão Imannuel Kant (1724-1804) assim se refere ao filosofar:
“Não é possível aprender qualquer filosofia; [...] só é possível aprender a filosofar, ou seja, exercitar o
talento da razão, fazendo-a seguir os seus princípios universais em certas tentativas filosóficas já existentes,
mas sempre reservando à razão o direito de investigar aqueles princípios até mesmo em suas fontes,
confirmando-os ou rejeitando-os.”
KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. São Paulo: Abril Cultural, 1980. p. 407. (Coleção Os Pensadores)
Em que a citação de Kant pode facilitar o nosso contato com a filosofia? Em primeiro lugar, porque cabe a
nós mesmos aprender a filosofar, exercer a capacidade de refletir, desde que nesse exercício não se
desprezem conquistas anteriores do pensamento filosófico, seja para confirmá-las, seja para rejeitá-las.
Quem da filosofia se ocupa, não a recebe passivamente como um produto, como algo acabado, mas a acolhe
como processo, pois a filosofia está aberta à reflexão crítica e autônoma.
Ciência e filosofia
Sabemos que cientistas não precisam conhecer a história da ciência para realizar suas pesquisas; então, qual
seria a explicação para a relação intríseca entre a filosofia e sua história? Um dos motivos decorre da
diferença entre as metodologias que servem de base a estas duas áreas do saber, a ciência e a filosofia.
Quando Galileu estabeleceu o método experimental das ciências da natureza, no século XVII, os cientistas
posteriores procuraram adotar métodos comuns, aceitos pela comunidade científica durante determinado
período. Por isso existem métodos para a física, a biologia ou a química. E, quando alguém propõe a
alteração desses métodos, é necessária a aprovação dos demais cientistas. Foi o que aconteceu, por exemplo,
quando o modelo da física de Newton foi confrontado com a teoria da relatividade universal proposta por
Einstein no século XX.
O mesmo não ocorre com a filosofia, porque cada filósofo usa seu método e percorre até caminhos opostos,
o que se verifica na diversidade de pensadores, como Platão, Descartes, Hegel, Heidegger , Foucault e tantos
outros. Observando essa variedade, podemos concluir não haver uma filosofia, mas filosofias, bem como
afirmar com segurança que filósofo algum se torna “fora de moda”. Com métodos tão diferentes entre si, só
podemos aprender a filosofar lendo textos de filósofos, tanto os clássicos quanto os contemporâneos, a fim
de saber como se posicionaram diante dos problemas de seu tempo e a que tipos de argumentos recorreram
para fundamentar suas teses.
Outra diferença entre ciência e filosofia é que a primeira se empenha em dar uma explicação racional e
objetiva da realidade, geralmente com base em observações, experimentos e generalizações teóricas,
enquanto a filosofia depende da concepção que cada filósofo tem dos problemas que se propõe a analisar.
De modo geral, as ciências explicam objetivamente a relação de causa e efeito dos fenômenos, ao passo que
a filosofia indaga o que as coisas significam para nós, atribuindo a elas um sentido subjetivo, mesmo que
estruturado logicamente.
Dessa atitude resulta o que chamamos experiência filosófica. Os filósofos delimitam os problemas que os
intrigam, recusando-se a aceitar as certezas e as soluções que lhes são apresentadas sem investigação,
mesmo quando parecem óbvias. Em virtude dessa familiaridade que todos temos com o ato de filosofar,
parece claro ser proveitoso sabermos um pouco sobre como os filósofos se posicionaram a respeito de
determinados temas. Isso não significa que devamos concordar sempre com eles, embora ofereçam a
oportunidade de enriquecer nossa reflexão pessoal. Vejamos, então, como a discussão filosófica está sempre
aberta à controvérsia.
4. A REFLEXÃO FILOSÓFICA
A reflexão não é privilégio do filósofo. Ela é a capacidade intelectual pela qual o pensamento volta para si
mesmo para se questionar. Trata-se de pensar o já pensado, para revê-lo de maneira crítica. Esse movimento
de tomada de consciência faz parte do amadurecimento de todo ser humano.
O que, então, distingue a reflexão filosófica das demais? O filósofo brasileiro Dermeval Saviani conceitua a
reflexão filosófica como radical, rigorosa e de conjunto.
Radical: A filosofia é radical no sentido de ir às raízes das questões, ao seu fundamento. Por exemplo, a
filosofia das ciências examina os pressupostos do saber científico: é ela que reflete sobre o que a
comunidade científica define como ciência; como a ciência se distingue da filosofia e de outros tipos de
saber; quais são as características dos diversos métodos científicos; qual é a dimensão de verdade das teorias
científicas, e assim por diante. Em outras áreas do saber e do agir, a postura do filósofo continuará
questionando: se condenamos o comportamento de alguém que rouba ou mente, o filósofo pergunta o que é
certo ou errado; se perguntamos o que é o belo na arte, o filósofo discorre sobre a estética.
Rigorosa: O pensamento filosófico é rigoroso por usar conceitos bem explicitados, evitando expressões
cotidianas ambíguas, de modo a permitir a interlocução com outros filósofos. Para tanto, criam-se
expressões ou alteram-se o sentido de palavras usuais. Por exemplo, no grego arcaico, o termo ideia (eidos,
“forma”) significava a intuição sensível de uma coisa (aquilo que se vê ou é visto). Platão apropria-se do
termo cotidiano e cria o conceito de ideia para se referir à concepção racional do conhecimento, à forma
imaterial de uma coisa. Por exemplo, as pessoas e as coisas belas são percebidas pelos meus sentidos, mas a
beleza é uma ideia pela qual compreendo a essência do belo. Ou seja, a ideia de beleza é aquilo que faz com
que uma coisa seja bela. Do mesmo modo, o conceito de ideia seria reinventado ao longo da história da
filosofia, assumindo conotações diferentes em Descartes, Kant, Hegel e em outros pensadores. É pelo rigor
dos conceitos que são inovados os caminhos da reflexão. Isso não significa que um filósofo supere outro,
porque qualquer um deles pode – e deve – ser revisitado sempre.
A opinião corriqueira de que a filosofia não serve para nada, no sentido de não ter utilidade prática, decorre
do fato de vivermos num mundo pragmático, isto é, que valoriza as aplicações imediatas do conhecimento.
De acordo com o senso comum, pesquisas científicas, a curto ou médio prazo, produzem efeitos valiosos
para a cura de doenças como o câncer ou para a prevenção do Alzheimer; o aprendizado de matemática no
ensino médio prepara o aluno para o vestibular, além de a continuidade de seus estudos servir de
instrumento para estatísticas e negócios; a formação técnica do advogado, do engenheiro e do fisioterapeuta
os prepara para o exercício dessas profissões. Diante disso, não é raro que alguém indague: “Para que
estudar filosofia se não vou precisar dela na minha vida profissional?”.
Seguindo essa linha de pensamento, a filosofia seria realmente “inútil”, já que não serve para nenhuma
alteração imediata de ordem prática no curso de nossas vidas. No entanto, podemos afirmar que a filosofia é
necessária. Por meio daquele “olhar diferente”, ela busca outra dimensão da realidade, além das
necessidades imediatas nas quais nos encontramos mergulhados. O indivíduo abre-se para a mudança
quando se torna, por exemplo, capaz de analisar criticamente como as pesquisas científicas estão
subordinadas a interesses políticos ou como o orgulho de sermos “senhores da natureza” tem produzido
frutos indesejáveis relacionados ao desequilíbrio ecológico. Serve também para questionar nossa vida
pessoal e rever o prevalecimento de valores que, ao privilegiar o sucesso a qualquer custo, muitas vezes nos
afastam de interesses vitais, como a amizade.
Ao filósofo incomoda o imobilismo das coisas prontas ou das “verdades” dadas e não questionadas, o que o
leva a discutir os aspectos políticos, éticos e estéticos implicados na revisão crítica dos nossos pensamentos
e ações. Em razão disso, a filosofia pode ser considerada por alguns como “perigosa”. Por exemplo, quando
desestabiliza o status quo ao se confrontar com o poder.
6. O CONHECIMENTO COMO PROBLEMA
Um problema que precisará ser enfrentado para esclarecer os conceitos que usamos no cotidiano, quando
nos referimos aos nossos conhecimentos, dúvidas e certezas. Para tanto, recorreremos à teoria do
conhecimento, área da filosofia que investiga o fenômeno do conhecer.
Veremos, então, quais são os modos de conhecer, o que é verdade e como podemos – ou não – alcançá-la.
Nesse percurso, visitaremos alguns filósofos que focaram esse problema em suas discussões, já que foram
criadas diversas teorias do conhecimento ao longo da história, embora apenas na Idade Moderna tenham se
constituído teorias mais sistemáticas, que examinam mais detidamente a possibilidade, a origem, a essência,
os tipos de conhecimento e os critérios da verdade.
Não faremos esse percurso, porém, como puro entretenimento intelectual. Enfrentaremos o problema do
conhecimento por ser ele a chave de compreensão do ser humano no mundo, aquilo que o faz diferente de
todos os seres vivos, instrumento esse que nos permite maior clareza para entender o que nos rodeia e as
pessoas com quem nos relacionamos. Serve também para organizarmos adequadamente nossas ações, até
porque as convicções fundamentam decisões que trazem consequências para nós e para os outros, além de,
bem sabemos, estarmos às vezes sujeitos a cair no erro do conhecimento ilusório.
7. O ATO DE CONHECER
Costuma-se definir conhecimento como o modo pelo qual o sujeito se apropria do objeto por meio dos
sentidos e da inteligência. Nessa definição, ficam explícitos dois aspectos do conhecimento: que ele resulta
da relação recíproca entre sujeito e objeto; e, também, que o conhecimento é alcançado por meio dos
sentidos (pela experiência) e por meio da inteligência (pela razão). A relação é recíproca porque o sujeito só
existe para um objeto enquanto este é objeto para um sujeito. Como o sujeito é a parte consciente, cabe a ele
apreender o objeto.
O produto do conhecimento é o conjunto de saberes acumulados e recebidos pela cultura, bem como aqueles
acrescentados à tradição: crenças, valores, ciências, religiões, técnicas, artes, filosofia etc. Pode-se ter por
objeto de conhecimento também a própria mente, quando percebemos nossos afetos, desejos e ideias.
O ato do conhecimento diz respeito à relação que se estabelece entre o sujeito que conhece e o objeto a ser
conhecido.
8. MODOS DE CONHECER
De que maneiras apreendemos o real? É costume entender o conhecimento como um ato da razão, pelo qual
encadeamos ideias e juízos para chegar a uma conclusão. Essas etapas compõem o nosso raciocínio. Se
formos ao capítulo 9, “Introdução à lógica”, veremos que o raciocínio pode ser dedutivo ou indutivo: o
primeiro privilegia o trabalho da razão, ao passo que o segundo nasce da experiência sensível. Ambos os
procedimentos constituem um tipo de conhecimento discursivo. No entanto, conhecemos o real também pela
intuição, como será examinado na sequência.
Conhecimento intuitivo
A intuição é um conhecimento imediato – alcançado sem intermediários –, um tipo de pensamento direto,
uma visão súbita. Por isso a intuição é inexprimível: como poderíamos explicar em palavras a sensação do
vermelho? Ou a intensidade do amor e do ódio? A intuição é também um tipo de conhecimento que não se
demonstra, embora seja responsável por grandes saltos no saber humano, materializados em invenções e
descobertas.
A intuição empírica é o conhecimento imediato com base em experiências que independem de qualquer
conceito. Ela pode ser:
sensível, quando a percebemos pelos órgãos dos sentidos: o calor do verão, as cores da primavera, o som do
violino, o odor do café, o sabor doce do açúcar;
psicológica, por meio da experiência interna imediata de nossas percepções, emoções, sentimentos e desejos.
A intuição inventiva refere-se às descobertas súbitas, como uma hipótese fecunda (na ciência) ou uma
inspiração inovadora (para o matemático, o filósofo ou o artista). Na vida diária também enfrentamos
situações que exigem verdadeiras invenções súbitas, como o diagnóstico de um médico ou a solução prática
de um problema do dia a dia. O matemático e filósofo francês Henri Poincaré (1854-1912) ressalta que a
lógica nos ajuda a demonstrar pelo raciocínio, mas a invenção resulta da intuição.
A intuição intelectual procura captar diretamente a essência do objeto. René Descartes (1596-1650), quando
chegou à consciência do cogito – o eu pensante –, considerou tratar-se de uma primeira verdade que não
podia ser provada, mas da qual não se poderia duvidar: Cogito, ergo sum, que em latim significa “Penso,
logo existo”. Foi com base nessa intuição primeira (a existência do eu como ser pensante) que o filósofo
construiu sua teoria.
Além desses três tipos de intuição, há os pensadores que defendem a intuição religiosa, como os seguidores
de Agostinho (354-430), bispo da Igreja católica que estimulou a convicção de que Deus só pode ser
percebido pela experiência espiritual de vivências místicas e, portanto, subjetivas.
Para o filósofo francês Blaise Pascal (1623-1662), “o coração tem razões que a razão desconhece”, o que
significa admitir um tipo de conhecimento emocional. Mesmo o escocês David Hume (1711-1776), que era
cético do ponto de vista do conhecimento racional, defendeu a crença (belief) como uma apreensão intuitiva
e emocional que nos orienta na realidade do mundo exterior quando o entendimento teórico se torna
insuficiente.
Conhecimento discursivo
Para compreender o mundo, a razão se atém a conceitos ou ideias gerais, indo além das informações
concretas sensíveis e imediatas recebidas por percepção e intuição. Esses conceitos e ideias, devidamente
articulados pelo encadeamento de raciocínios, levam a demonstrações e conclusões. Portanto, o
conhecimento discursivo, ao contrário da intuição, precisa da linguagem.
Por ser mediado pelo conceito, o conhecimento discursivo é abstrato. Abstrair significa “isolar”, “separar
de”. Fazemos abstração ao isolarmos um elemento que não está separado na realidade.
Vejamos alguns exemplos:
Quando observamos um copo, temos a imagem dele, uma representação mental de natureza sensível,
concreta e particular: por exemplo, um copo de cristal verde lapidado. Já a ideia de copo é abstrata, porque
não se refere àquele copo em particular, mas a qualquer copo, independentemente da cor, da forma ou do
material de que é feito. A noção abstrata de copo diz respeito a qualquer recipiente geralmente cilíndrico,
sem asa e tampa e que facilita a ingestão de líquidos.
O número “2”, na matemática, diz respeito apenas à quantidade, não importa se nos referimos a duas pessoas
ou a duas frutas. A matemática abstrai ao reduzir à pura quantidade coisas que têm características
particulares, como peso, dureza e cor.
As leis científicas são abstrações: quando dizemos que o calor dilata os corpos, abstraímos as características
que distinguem cada corpo para considerar apenas os aspectos comuns àqueles corpos. Em outras palavras,
nos referimos ao “corpo em geral” enquanto submetido à ação do calor. Quanto mais abstrato o conceito,
mais distante ele fica da realidade concreta. Esse artifício da razão é importante porque torna possível a
elaboração de leis gerais explicativas.
Por que as abstrações são importantes? Porque, ao afastar-se do vivido, a razão enriquece o conhecimento
pelas noções abstratas que permitem a interpretação e a crítica da realidade. Esse distanciamento, porém,
como enfatizam alguns filósofos, ao mesmo tempo que oferece ganhos, pode representar um
empobrecimento da experiência intuitiva subjetiva que temos do mundo e de nós mesmos. Por isso, o
conhecimento se faz pela relação contínua entre intuição e razão, vivência e teoria, concreto e abstrato.
9. O QUE É A VERDADE?
Agora nos perguntamos: em que circunstâncias podemos considerar um conhecimento como verdadeiro? O
que é a verdade? O que alguém quer dizer quando declara que uma afirmação é verdadeira?
Verdade e veracidade: suponhamos que alguém me diga que há um lado da Lua que nunca pode ser visto da
Terra. Se eu lhe perguntar “Isso é verdade?”, a indagação poderá ter dois sentidos. O primeiro é o de
verificar se meu interlocutor está me dizendo uma verdade ou se está mentindo. Nesse caso, indago pela
veracidade da frase, que nos coloca diante de uma constatação moral: o indivíduo veraz é o que não mente.
O segundo sentido é propriamente epistemológico: quero saber se a afirmação de meu interlocutor é
verdadeira ou falsa. Para tanto, indago se a afirmação (ou negação) corresponde à realidade, se já foi
comprovada, se a fonte da informação é digna de crédito ou não. É esse tipo de verdade que discutiremos
neste capítulo.
Verdade e realidade: embora diferentes, esses dois conceitos são frequentemente confundidos na conversa
cotidiana. O real é o que diz respeito às coisas existentes: um colar, um quadro, uma flor. Delas não dizemos
se são verdadeiras ou falsas, elas simplesmente são, existem. Algo é verdadeiro quando expressa um fato do
mundo. Assim, quando afirmamos “Este colar é de ouro”, a proposição é verdadeira se, de fato, o material
que compõe o objeto for ouro, e é falsa caso se trate de prata, por exemplo.
Portanto, o falso e o verdadeiro não estão na coisa em si, mas no juízo que estabelecemos a partir dela. Por
exemplo, ao beber o líquido escuro que parecia café, emito os juízos: “Este líquido não é café” e “Este
líquido é cevada”. A verdade (ou falsidade) então se dá quando afirmamos ou negamos algo sobre uma
coisa, e esses juízos correspondem (ou não) à realidade.
10. A POSSIBILIDADE DO CONHECIMENTO
Dogmatismo: A palavra dogmatismo deriva de dogma, termo que inicialmente adquiriu um sentido
religioso ao designar algum ponto de doutrina religiosa estabelecido como indiscutível. Há, contudo, vários
significados não religiosos para o conceito de dogmatismo. Vejamos dois deles: o sentido do senso comum e
o sentido filosófico do termo.
Dogmatismo no senso comum: De acordo com o senso comum, o dogmatismo designa certezas não
questionadas em nosso cotidiano. De posse do que supõe verdadeiro, a pessoa fixa-se na certeza e abdica-se
da dúvida. O mundo muda, os acontecimentos se sucedem e o dogmático permanece petrificado diante dos
conhecimentos que recebeu como algo acabado. Resistindo ao diálogo, teme o novo e não raro tenta impor
aos outros o seu ponto de vista, às vezes recorrendo à intransigência e à prepotência.
Dogmatismo filosófico: A filosofia sempre respondeu criticamente às opiniões não refletidas. Como então
falar em dogmatismo filosófico? O dogmatismo filosófico, porém, não tem o sentido pejorativo atribuído ao
dogmatismo acrítico do senso comum. A filosofia dogmática serve para identificar os filósofos que estão
convencidos de que a razão pode alcançar a certeza absoluta.
O filósofo escocês David Hume, ao colocar em questão nossa capacidade de atingir certezas absolutas,
exerceu influência decisiva sobre o pensamento de Immanuel Kant (1724-1804), o qual, na obra Crítica da
razão pura, faz da razão juíza e ré em um tribunal que definirá os limites e as possibilidades do
conhecimento. Por isso, a filosofia kantiana é também denominada criticismo. Kant chega à conclusão de
que podemos conhecer apenas os fenômenos, e não as coisas tal como são em si mesmas.
Embora fosse religioso, Kant concluiu sermos incapazes de conhecer racionalmente as verdades metafísicas,
como a existência de Deus, o que é a alma e a liberdade, definições situadas para além da experiência
sensível. Vale observar que não se trata propriamente de ceticismo, ainda que o criticismo kantiano tenha
aberto caminho para posturas céticas posteriores.
À luz dessas conclusões, Kant chama de dogmáticos os filósofos anteriores a ele por não terem proposto,
como discussão primeira, a crítica da faculdade de conhecer. Em outras palavras, aqueles filósofos não
teriam acordado do “sono dogmático”, no sentido de ainda confiarem de maneira inquestionável no poder
que a razão teria de conhecer. Entre esses filósofos estaria Descartes, o qual, como vimos, tinha em vista
alcançar a verdade indubitável.
Ceticismo
O cético, de tanto observar e ponderar, acaba concluindo ser impossível atingir o conhecimento certo e
seguro. Essa conclusão diz respeito a casos mais radicais de ceticismo, que defendem a impossibilidade de
se alcançar a certeza. Nas tendências moderadas, que são as mais comuns, o cético suspende
provisoriamente qualquer juízo ou admite apenas uma forma restrita de conhecimento, reconhecendo os
limites para a apreensão da verdade. Vejamos alguns representantes do ceticismo.
Górgias
Na Antiguidade grega, o filósofo sofista Górgias de Leontini (c. 483-375 a.C.), um mestre da retórica,
desenvolveu três teses:
o ser não existe;
Nessas três teses, Górgias separa o ser, o pensar e o dizer. Desse modo, critica os pensadores que identificam
o pensamento do real com a realidade das coisas. O seu ceticismo é uma maneira de dizer que o ser não se
deixa desvelar pelo pensamento.
Denominamos Górgias de sofista em virtude das críticas que Sócrates e Platão dirigiram a esses pensadores
de seu tempo. Para ambos, os sofistas usavam a retórica como instrumento não só de persuasão, mas de
manipulação da verdade, defendendo até mesmo o que era falso. Apesar dessa visão, muitos historiadores da
filosofia consideram o sofista Górgias, no entanto, um crítico da noção de verdade como desvelamento do
real. Se para Górgias o ser não se deixa desvelar pelo pensamento, resta-lhe o caminho pelo qual a razão
busca iluminar os fatos, sem chegar, contudo, a uma conclusão definitiva.
Pirro
O grande representante do ceticismo foi outro grego, Pirro de Élida (c. 360-270 a.C.). Ao acompanhar o
imperador macedônio Alexandre Magno em suas expedições de conquista, Pirro teve oportunidade de
conhecer povos com valores e crenças diferentes. Como geralmente fazem os céticos, confrontou a
diversidade de convicções e as filosofias contraditórias, abstendo-se, no entanto, de aderir a qualquer
certeza.
Para Pirro, a atitude coerente do sábio é a suspensão do juízo e, como consequência prática, a aceitação com
serenidade do fato de não poder discernir o verdadeiro do falso. Além do aspecto epistemológico, para o
filósofo, essa postura tem um caráter ético, porque aqueles que se prendem a verdades indiscutíveis estão
fadados à infelicidade, já que tudo é incerto e fugaz.
Outros céticos
No Renascimento, o filósofo francês Michel de Montaigne (1533-1592) assumiu posições céticas ao se opor
ao pensamento medieval. Fez críticas às crenças arraigadas que se apresentavam como certezas e refletiu
sobre as influências sociais e pessoais que relativizam a verdade.
Montaigne analisa, na obra Ensaios e em outros escritos, a influência de fatores pessoais, sociais e culturais
na formação das opiniões, sempre tão instáveis e diversificadas. A perspectiva do filósofo denota uma
característica da modernidade em vias de se estabelecer: a valorização da subjetividade, do “eu” que reage à
imposição cega da tradição. Ao examinar as mais diversas possibilidades, a consciência prefere a dúvida à
certeza.
É notável a posição de Montaigne, que, em pleno período pós-descoberta do denominado Novo Mundo,
discorda das convicções daqueles que, numa visão etnocêntrica, chamavam os nativos americanos de
bárbaros e selvagens por praticarem o canibalismo. Assim ele pondera:
“Não vejo nada de bárbaro ou selvagem no que dizem daqueles povos; e, na verdade, cada qual considera
bárbaro o que não se pratica em sua terra. E é natural, porque só podemos julgar da verdade e da razão de ser
das coisas pelo exemplo e pela ideia dos usos e costumes do país em que vivemos. Neste a religião é sempre
a melhor, a administração excelente, e tudo o mais perfeito. A essa gente chamamos selvagens como
denominamos selvagens os frutos que a natureza produz sem intervenção do homem.”
MONTAIGNE, Michel de. Ensaios. São Paulo: Abril Cultural, 1972. p. 105. (Coleção Os Pensadores)
No século XVIII, o filósofo David Hume adotou um ceticismo atenuado ao referir-se às crenças que nos
orientam no cotidiano. Elas são de natureza teórica ou prática e podem ser corretas ou incorretas. Assim,
quando uma bola de bilhar bate em outra e a movimenta, tendemos a aceitar o princípio da causalidade: uma
bola é a causa do movimento da outra (que é seu efeito). Trata-se, porém, de uma crença, resultante da
conjunção habitual entre um objeto e outro.
Dentre os brasileiros, o filósofo Oswaldo Porchat Pereira (1933) representa o neopirronismo. Para ele, nossa
visão do mundo não passa de uma racionalização precária, provisória, relativa. Assim diz Porchat:
“Visão do mundo que se reconhece sujeita a uma evolução permanente, que exigirá por isso mesmo uma
revisão constante. [...] Ao antigo conflito das verdades se substitui agora o diálogo desses pontos de vista e
dessas perspectivas. Mantém-se a aposta no caráter intersubjetivo da racionalidade. Mercê de sua postura
cética, a filosofia se pode pensar sob o prisma da comunicação, da conversa e... da relatividade. E, assim
pensada, ela pode contribuir – e muito – para favorecer o entendimento entre os homens: tendo destruído as
suas verdades, ela poderá eventualmente ensiná-los a conviver com as suas diferenças.”
PEREIRA, Oswaldo Porchat. Vida comum e ceticismo. São Paulo: Brasiliense, 1993. p. 252.
Os céticos se recusam a aceitar a verdade absoluta. Os relativistas também a rejeitam, mas não chegam a
negar a possibilidade do conhecimento certo, apenas reconhecem haver uma multiplicidade de posições que
precisariam ser respeitadas.
Resta saber quais são os critérios para acolher algumas interpretações da verdade – mas não todas, pois, se
tivéssemos que aceitar a totalidade de interpretações, correríamos o risco de destruir de vez a capacidade de
conhecer, caindo no subjetivismo. A propósito, o dramaturgo italiano Luigi Pirandello (1867-1936) escreveu
uma peça de teatro intitulada Assim é (se lhe parece), em que ironiza um acontecimento de sua própria vida.
Após conviver um longo tempo com sua esposa então acometida de transtorno mental, ao interná-la em uma
clínica, sua decisão tornou-se objeto não só das mais diversas interpretações e julgamentos a respeito dos
“verdadeiros” motivos da internação como também de diferentes avaliações morais. Um drama que o talento
do artista transforma em comédia, ao conduzir o espectador à conclusão de que nunca existe uma versão
única da realidade.
Nesse relato pitoresco, vemos ser possível haver dois tipos de relativismo, o cognitivo e o ético. No
relativismo cognitivo, recusamos uma só verdade absoluta e admitimos possíveis interpretações da verdade.
Já no relativismo ético, admite-se uma variedade de valores éticos.
Contudo, o extremo subjetivismo paralisa qualquer tentativa de crítica, pois leva a concluir a existência de
tantas verdades quantos forem os indivíduos, o que implica a recusa de qualquer tentativa de conhecimento.
Nesse caso, melhor seria admitir que não estamos diante de verdades, mas daquilo que “parece” ser verdade
para cada um. Em outras palavras, o extremo subjetivismo deriva em niilismo, postura filosófica que, entre
outras características, descrê da possibilidade da verdade.
As tentativas de sair da armadilha do relativismo estão em teorias contemporâneas que, por exemplo,
buscam o consenso entre as pessoas, como veremos no próximo tópico. De acordo com seus seguidores,
pode não existir verdades ou valores absolutos, mas as discussões podem buscar verdades e valores
universalizáveis por certo período, tanto para explicar a realidade como para orientar a ação.
Que critério nos permite reconhecer a verdade e distingui-la do erro? Ou, ainda, que condições a verdade
exige para ser aceita como tal? Quando podemos afirmar que algo é verdadeiro?
Diante desses questionamentos, o racionalismo, confiante de que existe um mundo objetivo a ser
desvendado pela razão, começou a sofrer abalos. Vimos que Hume e Kant colocaram em questão o critério
da verdade dos antigos. Foi na segunda metade do século XIX e no começo do XX, no entanto, que diversos
filósofos intensificaram as críticas ao conceito de verdade como representação e correspondência.
O filósofo francês Paul Ricoeur (1913-2005) criou a expressão “mestres da suspeita” para designar os
pensadores contemporâneos Karl Marx, Friedrich Nietzsche2 e Sigmund Freud3 como os que primeiramente
suspeitaram das ilusões da consciência. Por consequência, para descobrir a verdade, seria preciso proceder à
interpretação do que se considera conhecer, a fim de decifrar o sentido oculto por trás do sentido aparente.
Assim, Marx procedeu a uma crítica da razão ao denunciar a ideologia como conhecimento ilusório que
mascara os conflitos sociais e mantém a dominação de uma classe sobre outra. Nietzsche propôs a
genealogia como método de investigação da origem dos valores para descobrir por que os instintos vitais
foram degenerados. Freud, fundador da psicanálise, levantou a hipótese do inconsciente, para questionar a
centralidade da consciência no sujeito e defender que os significados ocultos de nossa conduta podem ser
interpretados.
Teoria da correspondência
Desde Platão e Aristóteles, passando por Tomás de Aquino (1225-1274), na Idade Média, predominou a
teoria da correspondência, segundo a qual é verdadeira a proposição que corresponde a um fato da realidade.
Ou seja, se houver adequação entre o que pensamos ou dizemos e a realidade da coisa, estaremos diante de
um juízo verdadeiro. Trata-se de uma teoria realista, no sentido de podermos descrever o real tal como é.
Contudo, o que nos garante essa conclusão? Qual é o critério que permite afirmar a adequação do intelecto
ao real? Como saber se um juízo é verdadeiro ou falso?
A resposta mais frequente é a do critério da evidência, que se apresenta de modo claro quando identificamos
cores. Ao dizermos que “Este é o amarelo” e “Este é o marrom”, a constatação da evidência depende apenas
de nossa percepção diante da presença de um objeto, até porque ela pode ser universalizada pela comparação
com a percepção de outras pessoas. A avaliação se complica quando fazemos o juízo: “O amarelo é diferente
do marrom”, que se trata de uma autocerteza da consciência (e não apenas da percepção), capaz de
estabelecer relações de diferença entre as duas afirmações. Examinando situações mais complexas, se
estendemos esse critério para o conhecimento científico, por exemplo, expõe-se a fragilidade do critério da
evidência.
Embora tenha adeptos ainda hoje, a teoria da correspondência tem recebido muitas críticas pela dificuldade
de explicar o que significa um juízo corresponder a um fato. Por isso, o questionamento: a verdade é a
representação do mundo como ele realmente é ou como nos aparece? Se temos acesso aos fatos apenas pelas
nossas crenças, e essas crenças não são verificadas por outros meios a não ser por elas mesmas, como
garantir que nosso pensamento corresponda aos fatos?
Apesar de legítima, não pretendemos aqui prolongar essa discussão, por remeter a teorias controversas,
desde os céticos da Antiguidade até os dias atuais, para aqueles que concordam sobre a inexistência de
critérios para identificar o juízo verdadeiro.
O filósofo francês René Descartes1 baseou-se no critério da evidência, porém, ao criticar a filosofia
tradicional, inaugurou a metafísica da modernidade, centrada na noção de subjetividade. Tendo procedido
por meio da dúvida metódica, o filósofo começou duvidando de tudo, até alcançar a verdade primeira, não
mais a de um fato exterior, mas da realidade do seu próprio pensamento: “Penso, logo existo”. Com base
nessa constatação, construiu sua teoria filosófica.
O termo consenso significa o entendimento entre membros de uma comunidade em determinado período
histórico. A verdade por consenso, portanto, representa o acordo entre essas pessoas, não no sentido
explícito de uma reunião para sacramentar a decisão, mas como resultado do diálogo provocado por
questões que igualmente intrigam os participantes de um grupo, ao compartilharem indagações semelhantes.
Embora com diferenças entre suas interpretações, Charles Sanders Peirce (1839-1914) e Jürgen Habermas4
(1929) mostraram manter afinidades com a teoria da verdade como consenso. No caso de Habermas, o
filósofo desenvolveu sua ética do discurso para valorizar a fala entre interlocutores dispostos a ouvir e
discutir entre si; não por acaso, também é conhecido pela teoria do agir comunicativo.
Ao longo da história, o ser humano buscou compreender o que é a verdade de diversas maneiras. O critério
da evidência prevaleceu na Antiguidade e na Idade Média; sofreu alterações na Idade Moderna, com
Descartes, que, embora não renunciasse à possibilidade do conhecimento, a princípio colocou em dúvida
tudo o que era dado como evidente. Posteriormente, as posições conflitantes entre dogmáticos e céticos nos
ensinaram a desconfiar das certezas, postura que se tornou mais aguda na contemporaneidade.
Aceitar o movimento contínuo entre certeza e incerteza significa recusar o ceticismo radical e o dogmatismo
filosófico, para suportar melhor o espanto, a admiração, a controvérsia. Isso não significa renunciar à
procura da verdade no conhecimento, porque conhecer é dar sentido ao mundo, interpretar a realidade e
descobrir a melhor maneira de agir.
A verdade continua sendo um propósito humano necessário e vital, que exige liberdade de pensamento e
diálogo, para que os indivíduos compartilhem interpretações possíveis do real.