Patricia Rossi Carraro
Patricia Rossi Carraro
Patricia Rossi Carraro
Ribeirão Preto - SP
2002
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Ribeirão Preto - SP
2002
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FICHA CATALOGRÁFICA
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Dr. Antônio dos Santos Andrade, meu orientador, que, com sua
experiência, seu jeito acolhedor, amigo e, por vezes, firme, me ensinou a fazer uma
pesquisa, acreditou em mim e me ajudou a crescer como pessoa.
À Profa. Dra. Durlei de Carvalho Cavicchia e à Profa. Dra. Ana Raquel Lucato
Cianflone, presentes durante o exame de qualificação, agradeço pela leitura crítica e
pelas sugestões feitas, pois permitiram o enriquecimento deste trabalho.
Aos colegas do Grupo de Pesquisa: Daniela G., Daniela R., Karina, Márcio,
Valéria e Zilda, em especial às amigas Beatriz, Christina e Maria de Fátima.
Agradeço pelo convívio destes anos e pela troca de experiências.
Ao Marco Antônio Carraro, meu marido e companheiro, que, com todo o seu
amor, tornou muito mais suave os momentos árduos pelos quais passei na realização
deste trabalho. Agradeço por apoiar todos os meus sonhos, por suportar e minimizar
minha ansiedade, minha preocupação, meu cansaço e por compartilhar comigo as
alegrias e as etapas concluídas deste trabalho.
A todos os meus familiares, em especial aos meus pais, Hélio e Maria Rita; aos
meus sogros, Mário e Cleide, aos meus cunhados, Ana Amélia, Lúcia Helena e
Marcelo. Agradeço pela compreensão, pelo apoio e pelo carinho nas horas em que
mais precisei. As minhas pequenas sobrinhas, Amanda e Taís, que mesmo não
sabendo o que a tia Pat tanto estudava, contribuíram e muito com seus sorrisos,
beijinhos e brincadeiras.
Enfim, agradeço a todos que torceram por mim direta ou indiretamente nesta
conquista.
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SUMÁRIO
RESUMO
ABSTRACT
APRESENTAÇÃO ............................................................................................... 1
INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 3
1. Os Ciclos Escolares e a Progressão Continuada ................................................. 4
2. Os Parâmetros Curriculares Nacionais .............................................................. 21
3. O Construtivismo ................................................................................................ 29
4. As Pesquisas sobre o Professor ........................................................................... 44
4.1. O Paradigma Presságio - Produto ................................................................... 44
4.2. O Paradigma Processo - Produto ..................................................................... 45
4.3. O Paradigma Pensamento do Professor .......................................................... 46
4.3.1. Estudos realizados na abordagem interpretativa sobre os professores:
suas crenças e representações ............................................................................... 49
OBJETIVOS ......................................................................................................... 54
METODOLOGIA ................................................................................................. 55
1.Participantes ........................................................................................................ 56
2. Local ................................................................................................................... 57
3. Procedimentos de Coleta de Dados ..................................................................... 57
4. Procedimentos de Análise de Dados ................................................................... 59
RESULTADOS
1. A Escola “A”...................................................................................................... 62
1.1. A Caracterização da Escola “A” ..................................................................... 62
1.2. Os Resultados das Entrevistas com os professores ........................................ 64
1.2.1. A Caracterização dos Professores ................................................................ 64
8
CONSIDERAÇÕES FINAIS
1. DISCUSSÃO .................................................................................................... 283
2. CONCLUSÕES ............................................................................................... 296
3. IMPLICAÇÕES EDUCACIONAIS ................................................................ 298
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 - Distribuição dos alunos da escola “A” por séries e períodos .......... 063
TABELA 2 - Funcionários da escola “A”............................................................... 063
TABELA 3 - Distribuição dos alunos da escola “B” por séries e períodos .......... 153
TABELA 4 - Funcionários da escola “B” .............................................................. 153
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LISTA DE QUADROS
RESUMO
ABSTRACT
The objective of the present study was to investigate, based on the “Teacher’s
Thought” research line, the beliefs and representations of basic education teachers
concerning constructivism, the national curricular parameters and the pedagogic innovations
derived from the new LDB. In-depth, semi-structured interviews were held with forty basic
education teachers at two schools of the Public Education Network in a city in the interior of
the state of São Paulo, in two sessions. The objective of the first was to determine the context
of the training, history and professional practice of the teachers and also to establish a more
favorable tie that would facilitate the participation of the interviewees. The second interview
investigated the beliefs and representations concerning the constructivism, the national
curricular parameters and the innovations of current teaching. The results of the interviews,
which were taped and transcribed literally, were submitted to content analysis and revealed
that most of the teachers are not unfavorable to changes in daily school activity since they
believe that such changes are necessary and important. What they do not agree about is the
way these transformations are implanted and conducted. Most of the teachers were found to
have an imprecise and, at times, even equivocal notion of constructivism. According to many
of them, this is a teaching method whose essential characteristic is that the child constructs
his/her own knowledge. With respect to the national curricular parameters, most teachers
showed a superficial vision and feel obliged to insert them into their planning and practice
although they are not aware of the fact that the theoretical foundation of the national
curricular parameters is the constructivist perspective. The few who talked about this topic
were also unclear about this relation. As to the pedagogic innovations, most of the teachers
declared that these innovations are not duly orienting the teaching task and that they feel
unprepared for, and disrespected by, the educational policies. They were not favorable to
continued progression, which they consider to bring a lot of discomfort and insecurity in the
execution of school activities. Most of them feel unprepared to work with constructivism,
with the national curricular parameters or with continued progression because of lack of
study, of guidelines and of support from the school. It could be seen that the teachers feel
that the reforms are being imposed and must be assimilated very rapidly. They believe that,
if the changes in teaching were properly treated they would bring good results. The data
obtained confirm literature reports. Among the educational implications stated, we
emphasize a greater investment and engagement in the initial and continued training of
teachers. The knowledge, experience and educational context of the teachers should be taken
into account if successful changes in teaching are desired. The process of educational reform
must offer space for reflexion to the teachers, who should be involved, at least at a minimal
level, in the process of elaboration of the proposals of changes in education and should then
receive the proper support after their implantation, so as to be able to contribute to their
success.
APRESENTAÇÃO
INTRODUÇÃO
Como bem sabemos, assim como nas diversas instituições sociais ocorrem
transformações, às vezes, profundas e necessárias, a escola não está livre de assumir
os desafios, as barreiras e as conquistas dessas modificações. Ela ainda é palco de
inúmeras inovações que exigem do professor novas ações frente ao contexto social,
político, econômico e cultural em que se apresenta.
Encontramos estudiosos e pesquisadores que analisam as novas reformas no
ensino e consideram que estas desempenham a função de manutenção da hegemonia
burguesa. Mas será que todas as mudanças que ocorrem na educação teriam esse
interesse? Será que todas as mudanças educacionais são ruins e assumem um caráter
desfavorável? Será que na educação quando a situações não funcionam bem, não é
preciso fazer alterações? Ou ainda, será que os professores necessariamente
precisariam aderir a todas as propostas educacionais implementadas pelos órgãos
governamentais? Estas e outras perguntas despertam incertezas e desconfortos, pois,
além das opiniões serem divergentes, muitas vezes não temos respostas que nos
orientem o rumo a seguir.
Para Giovanni (2000), os momentos de mudanças ou de reformas curriculares
requerem práticas individuais e coletivas de identificar problemas, construir
soluções, definir projetos de ação, avaliá-los, perceber erros e acertos e podem
também serem formativos para todos os participantes. Se existe o processo de
indagação e reflexão, esses momentos, não precisam criar cansaço, desânimo e
ansiedade. É necessário colocar em prática estes princípios, pois são aspectos
indiscutíveis da profissão docente.
As mudanças educacionais, principalmente as reformas curriculares, significam
muito mais que as alterações específicas a que se dispõem. Com elas estão presentes,
uma visão de mundo, uma concepção de homem e de seu papel na sociedade, uma
proposta de ação para a escola e para o trabalho do professor. Os professores
precisam indagar
“A que vêm tais mudanças? Que benefícios podem trazer? Para quem? Que avanços ou
retrocessos estão presentes? Que concepções de homem, mundo, cultura, educação estão
subjacentes? O que cabe às escolas e aos professores face às mudanças propostas? O que
altera no dia a dia das escolas e das salas de aulas?” (Giovanni, 2000, p. 56)
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Barretto & Mitrulis (2001) fazem uma revisão da trajetória dos ciclos escolares
e da progressão continuada no Brasil, no decorrer de algumas décadas até os dias
atuais. Nessas autoras, nos baseamos para as idéias que apresentamos a seguir.
A escola básica brasileira, ao longo do século XX, passou por várias mudanças
e procurou, ainda que apenas no início deste milênio, proporcionar a toda população
o direito à escola. A qualidade do ensino e o sucesso escolar deixaram a desejar, e o
caráter excludente e seletivo do sistema educacional brasileiro permaneceu ao longo
desta época.
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“A motivação política levava ênfase na função social da escola, mais do que uma
formulação original do conceito de ciclo. Ela ajudava também a descartar, no âmbito dessas
administrações, a idéia de que a introdução dos ciclos era uma medida passível de
experimentação, tão cara ao pensamento pedagógico de períodos anteriores, o qual concebia
as mudanças como inovações de caráter eminentemente técnico, que apenas deveriam ser
generalizadas uma vez comprovado o seu sucesso em situação de controle.” (Barretto &
Mitrulis, 2001, p.112)
“Sobre serem consideradas “politicamente corretas”, pelo fato de levar em conta alguns
determinantes culturais para a aprendizagem da língua escrita, e de se mostrarem
interessadas no sucesso escolar das camadas populares, as orientações genericamente
chamadas construtivistas deslocaram contudo o eixo sócio - político que motivaram a criação
do ciclo básico nos estados, transportando-o para o terreno preponderantemente cognitivo e
da interação entre os indivíduos. Assim, de certo modo, terminaram por deixarem em segundo
plano a influência dos fatores que afetavam a vida do coletivo e que não se resolviam no
âmbito das relações interpessoais, para adotar na prática, uma percepção um tanto
reducionista das possibilidades da escola.” (Barretto & Mitrulis, 2001, p.113)
função do seu desenvolvimento real, mas dos progressos que manifestara na direção
dos objetivos propostos, indicadores do seu nível de desenvolvimento potencial.
Essa medida não permaneceu como uma forma de organização da escola e
mesmo não tendo encontrado força entre os professores, foi modelo para outras
propostas no ensino.
Na década de 90, em face às grandes reviravoltas sociais, políticas e
tecnológicas, a escola não estava longe de sofrer o impacto dessas mudanças. Como
na sociedade contemporânea prevalecia a idéia do conhecimento em rede, a escola
passou a facilitar o manejo de informações pelos alunos e foi considerada um espaço
privilegiado de construção de identidade, de cultivo da cidadania e de valores de
convivência, tendo em vista a qualidade de vida. A escola não era mais considerada o
único espaço de aprendizagem para o aluno.
Essa nova maneira de pensar as atividades escolares foi mais claramente
explicitada nas experiências educacionais formuladas pelo partido dos trabalhadores
em alguns municípios, como em São Paulo e Belo Horizonte, que fizeram tentativas
de mudanças de cunho mais radical no ensino de primeiro grau, com repercussões no
âmbito nacional.
Em 1992, o regimento comum das escolas municipais paulistanas reorganizou
todo o ensino fundamental criando três ciclos: o inicial compreendia os três
primeiros anos letivos; o intermediário, os três subseqüentes e o ciclo final iria
compreender as antigas 7ª e 8ª séries. Como os ciclos buscavam encarar a questão do
fracasso escolar a partir de uma perspectiva pedagógica dita construtivista, mudanças
ocorreram no currículo, na avaliação e no trabalho pedagógico dos professores com
os alunos. Uma questão que precisou ser revista com maior firmeza nesta reforma foi
a reprovação por falta às aulas, pois os alunos que eram acostumados a estudar para
"passar de ano" se ausentavam da escola por não ter mais a retenção ao final do ano
letivo.
“Na gestão que se seguiu àquela que implantou o regime de ciclos, os alunos passaram a
ser reprovados por não terem cumprido a exigência de freqüência feita pela LDB e um sem
número de vezes esse recurso foi também utilizado para camuflar a retenção por rendimento
insatisfatório, inclusive com a anuência dos pais. Para corrigir esta distorção foram feitas
maiores exigências quanto à compensação de ausências.” (Barretto & Mitrulis, 2001, p.117)
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10.172 de janeiro de 2001 que, além de outras coisas, “propõe a elevação geral do
nível de escolaridade da população e a redução das desigualdades sociais e
regionais no que se refere ao acesso e a permanência, com sucesso, nas escolas.”
(Barretto & Mitrulis, 2001, p. 120)
Por mais que se evidencie pelos indicadores educacionais, que o atendimento
às crianças de 07 a 14 anos no ensino fundamental esteja quase universalizado e que
os problemas como evasão, desempenho e repetência estejam sendo superados, ainda
existe um elevado índice de atraso escolar no ensino fundamental que acaba por
interferir negativamente no ensino médio.
Por mais que represente uma proporção ainda bem modesta, a partir de várias
evidências de âmbito educacional, as autoras supõem que a quantidade de alunos que
estudam nos ciclos não é pouca em relação aos dados observados.
Com relação às regiões do Brasil, destacaremos a Sudeste que é a que se
mostra mais propensa a implantar os ciclos e, também, é a que possui a maior
população escolar.
“De suas redes escolares, 54,4% os adotaram e, dentre elas, quase 90% das escolas
estaduais, responsáveis por metade das matrículas do ensino fundamental, situam-se neste
caso. Engrossam esses números, os alunos de 48,6% das escolas municipais, algumas das
quais pertencentes a redes populosas como as de São Paulo e Rio de Janeiro, ainda que esta
última apresente uma organização mista. Tal fato significa ser nessa região que se encontra a
maior concentração de alunos passando atualmente pela experiência de ciclos no país.”
(Barretto & Mitrulis, 2001, p.122)
“Do ponto de vista curricular, as redes que adotam ciclos reportam-se a referências
oficiais, sejam elas provenientes do estado, nacionais ou locais (...). Ao lado da avaliação
continuada do processo de aprendizagem, com o desempenho dos alunos das redes escolares
passando a ser monitorado por sistemas padronizados de aferição do rendimento da
população escolar em larga escala, tais como o SAEB - Sistema Nacional de Avaliação da
Educação Básica - e seus congêneres em alguns estados como Minas Gerais e São Paulo,
criados na década de 90, o regime de ciclos começa a ter também um outro referencial de
avaliação, agora externo, desconhecido das experiências brasileiras anteriores.” (Barretto &
Mitrulis, 2001, p.123)
“Uma de suas premissas é a de que toda criança é capaz de aprender se lhe forem
oferecidas condições para tanto, o que consagra o preceito da escola inclusiva. No plano
político a adoção do ciclo se justifica por ser propícia ao cumprimento da obrigação legal de
formação geral básica para todos, respondendo mais adequadamente ao princípio de
igualdade de direitos expresso na Constituição de 1988 e na LDB. O CEE propõe também a
colaboração dos Conselhos Tutelares no sentido de velar pela freqüência dos alunos à
escola.” (Barretto & Mitrulis, 2001, p.124)
“Como em outras propostas, entende que os avanços sociais, afetivos e cognitivos não
seguem um percurso linear, não representam a soma de sucessivas aquisições, nem resultam
de conquistas pontuais e específicas, mas são parte de um único processo de desenvolvimento
global que decorre da inter-relação de múltiplas aprendizagens. Outro aspecto destacado é a
ênfase no princípio da heterogeneidade, contrapondo-se ao secular modelo de organização do
ensino centrado em tarefas uniformes, dirigidas a uma clientela pretensamente homogênea em
seus interesses, necessidades e possibilidades.” (Barretto & Mitrulis, 2001, p.124)
“...como de iniciativa exclusiva dos gestores do sistema, como mais fortemente se observa
no caso dos estados de São Paulo e do Ceará. Sentem-se assim alijados de decisões que
pretendem alterar profundamente a cara da escola, o que os leva a ter dificuldade de se
apropriar efetivamente da reforma subjacente à criação dos ciclos e de se considerar parte
integrante interessada. É freqüente que atribuam à administração maior empenho em cortar
gastos públicos mediante a introdução da progressão continuada do que em utilizar bem os
recursos econômicos. Daí, segundo esse ponto de vista, decorreriam políticas fundadas em
uma racionalidade economicista, que provocam simplesmente melhoria de indicadores
estatísticos, sem implicar, de fato, a modificação de condições de ensino capazes de garantir a
aprendizagem bem-sucedida. Os argumentos se repetem portanto, como em décadas
passadas.” (Barretto & Mitrulis, 2001, p. 127)
“a convicção de que políticas de correção do fluxo escolar como essa, que recebe o aval e
incentivo dos organismos multilaterais, ao dar ênfase à autonomia da escola, tendem a
considerar a instituição e, por conseguinte, os seus professores, como os principais
responsáveis pelo sucesso ou fracasso dos alunos dentro dos cânones preconizados. Isentam
assim as demais instâncias do sistema de se comprometerem com mudanças mais profundas na
estrutura e no funcionamento do ensino e deixam de promover a reorganização curricular
capaz de possibilitar a alteração do caráter seletivo da educação, limitando-se, no mais das
vezes, as mudanças formais que não logram transformar as rotinas da escola.” (Barretto &
Mitrulis, 2001, p.127)
agentes educacionais têm sido maior, como por exemplo em Belo Horizonte. Já na
rede estadual paulista
Por outro lado, na "Escola Plural", por mais que existam críticas em relação à
implementação da educação continuada inserida pela Secretaria de Educação,
encontramos satisfação dos professores quanto à gestão escolar.
Mas os professores reclamam da falta de capacitação e não se sentem seguros
quanto ao modo de atuar, quando se inserem propostas inovadoras no ensino, como
por exemplo, o que ocorreu com a implementação do regime de ciclos. A insistência
num preparo prévio para enfrentar novos desafios é sempre solicitado. Todavia esta
solicitação parece não ter mais espaço na concepção de reforma educacional que vem
inspirando as grandes transformações em curso nas políticas públicas da área. “A
idéia é que os desafios atuais de uma educação inclusiva, requerem práticas
docentes formuladas e exercidas mais como hipóteses de trabalho do que
procedimentos fundados em modelos previamente testados.” (Barretto & Mitrulis,
2001, p.129)
Parece que muitos dos principais envolvidos com a implantação do regime de
ciclos não têm explorado devidamente seu papel indutor de novas estratégias de
formação continuada exigidas para o momento.
Quanto à avaliação contínua e diagnóstica, a grande maioria dos docentes, no
decorrer da implantação dos ciclos, reconhece a sua importância. Contudo o fato de
não poderem mais reprovar os alunos já não é uma questão aceitável. Os dados de
pesquisa demonstraram que este aspecto continua complicado. Os professores
revelaram que perderam poder e controle da situação de ensino e o manejo da classe
se tornou bastante trabalhoso na nova forma de organização.
Para os professores da "Escola Plural", as informações contidas na avaliação
diagnóstica não são levadas em consideração quando demonstram que o aluno não
28
Já com relação aos alunos, os dados das pesquisas nos revelaram que, com o
fato de não existir mais a retenção ao final do ano, eles estão desmotivados para
estudar, e a escola e os familiares não conseguem lidar com esta situação. Outra
questão problemática é que a falta de notas e a eliminação da possibilidade de
retenção têm levado muitos adolescentes a se ausentarem das aulas com freqüência e
os Conselhos Tutelares e os familiares nem sempre conseguem resolver essas
29
“Se a nova maneira de ser da escola, embutida nos ciclos, deve ser produzida de modo
compartilhado, é preciso que a autonomia ao ser conquistada se permita o espaço do ensaio e
o tempo de reflexão sobre os erros e acertos, a troca mais constante de experiências e a
construção e a desconstrução das novas amarras institucionais. Certamente uma dessas
amarras é a referência às séries; outra, a questão da certificação.” (Barretto & Mitrulis, 2001,
p.133)
tenham delineado com relativa clareza como será a sua nova maneira de ser.”
(Barretto & Mitrulis, 2001, p. 136)
Outra questão importante quando se trata do sucesso na implementação e no
estabelecimento de programas nas áreas sociais é a satisfação dos membros
envolvidos. A adesão parcial destes ao regime dos ciclos e os questionamentos que
fazem às políticas que desejam colocá-los em prática
“são compreensíveis e até esperados, visto que se trata menos de uma mudança nos
detalhes formais da estrutura da escola do que na sua cultura. O grande desafio é exatamente
o de fazer emergir o novo em meio a um aparato escolar que tem grande poder de regulação e
que funciona a partir de princípios contraditórios. Tudo indica pois que os ciclos demandarão
muito tempo ainda para serem consolidados, já que o tempo de mudar no papel é muito
diferente do tempo de transformar corações e mentes, e daquele requerido para moldar a nova
face da escola.” (Barretto & Mitrulis, 2001, p.136)
automática, que pode ser considerada como uma medida de política educacional
válida, passa a ser transformada, por educadores bem intencionados, na grande
responsável por essa situação complicada em que se encontra o ensino.
"Quando se diz que a progressão continuada ou a organização em ciclos são boas opções,
“mas isto só não basta” porque se precisa de uma série de outras medidas “para evitar que o
aluno passe de ano sem saber”, o que se está fazendo, na verdade, é apresentar um dos mais
importantes argumentos em favor da promoção automática porque mostra a força que essa
medida tem de levar as pessoas a se preocuparem com a qualidade do ensino. Se não, não se
precisaria ouvir falar em promoção automática (ou nas medidas que a exigem, como a
progressão continuada, ou a organização em ciclos) para se lembrar que o ensino está
necessitando urgentemente de importantes medidas que o transformem para servir seus
objetivos, não para se contentar com a aferição no final do ano.” (Paro, 2001, p.53)
32
reformas do ensino que foram implantadas na rede pública de ensino, a partir da nova
LDB. O trabalho foi desenvolvido com nove professoras de Ciências de 5ª a 8ª série
do ensino fundamental de duas escolas estaduais de Ribeirão Preto. O instrumento
utilizado para a coleta de dados foi a entrevista informal, cujo roteiro compreendia
questões referentes ao fracasso/sucesso escolar; à progressão continuada e à
avaliação do rendimento. As entrevistas foram analisadas qualitativamente. Os
resultados revelam que os docentes não se consideram preparados para as mudanças
que aconteceram com a implantação das novas propostas, principalmente a
progressão continuada. Avaliam ainda a implantação das mudanças geralmente de
uma forma negativa, especialmente com relação à autoridade do professor e à
disciplina dos alunos. A partir dos relatos dos docentes a autora concluiu que eles se
encontram perdidos e não estão preparados para lidar com as novas propostas, em
especial a progressão continuada, devido à falta de embasamento teórico e de apoio
técnico. Eles também recusam a expressão "progressão continuada" e se referem à
medida como “promoção ou aprovação automática”, ou “promoção continuada”. Não
são contra o sistema de avaliação, mas à falta de reprovação. As falas dos docentes
apontaram que sentem saudades da escola de antigamente, a escola autoritária, como
se esperassem por um retorno ao antigo sistema. Quanto ao fracasso escolar, os
professores não mudaram sua forma de pensar: o fracasso é do aluno. Os professores
reclamaram que tanto eles quanto os diretores não possuem a tão comentada
autonomia que consta nas normas dos documentos oficiais e na LDB para
implementar as reformas educacionais. Os promotores da infância e da juventude
também, segundo eles, interferem nas decisões dentro da escola. É por isso que se
encontram professores angustiados após a implantação de mais uma reforma. A
imposição das propostas acaba por retirar a autoridade e, às vezes, o respeito aos
professores e estes se vêem privados, em parte, da sua função como agentes
profissionais e como agentes nas decisões que interessam à escola.
Conselho Nacional firmasse “diretrizes gerais” para o ensino primário e estas, com o
avanço dos anos, juntamente com Programas Mínimos, se sintetizaram na concepção
de “Núcleo Comum” dos currículos nacionais. Através da Constituição Federal de
1988, a idéia de “diretrizes gerais” adequáveis aos currículos nacionais foi
constituída, cabendo à União a tarefa de determinar, limitar e estabelecer estes
conteúdos mínimos que indicam, de um lado, o processo ensino/aprendizagem que se
realiza na relação pedagógica e, de outro, o que compete aos entes federados.
A partir das determinações da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (Lei Federal n. 9.394), aprovada em 20 de dezembro de 1996, que
consolida e amplia o dever do poder público para com a educação em geral e em
particular, para o ensino fundamental, ocorre a organização curricular. Reafirma-se,
desse modo, o princípio da base nacional comum (Parâmetros Curriculares
Nacionais), a ser complementada por uma parte diversificada em cada sistema de
ensino e escola, na prática, repetindo o art. 210 da Constituição Federal.
(Brasil/Secretaria de Educação Fundamental,1997).
“Um desses argumentos parte do estudo comparativo das propostas curriculares estatuais
e municipais elaboradas a partir da década de 80 e vigentes ainda. Essas propostas, nos
termos dos PCN, compõem um quadro nacional confuso, fragmentado, com diferentes níveis
de elaboração e de justificação que dificultaria uma política global de melhoria do ensino
fundamental. Para justificar a necessidade de superação dessa situação, foi feita uma
descrição das principais tendências pedagógicas que convivem no Brasil desde a década de
30. Além disso, os PCN ainda fazem referência à presença nos últimos anos da Psicologia
Genética.” (Azanha, 2001, p. 24)
Para esse autor, é claro que a proposta dos PCN defende que não valeria a pena
uma ação corretiva e reorientadora das várias tendências estaduais e municipais que
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“Os autores do texto introdutório dos PCN assumiram um claro compromisso com a
concepção construtivista de aprendizagem e ensino, mas o caráter sintético da exposição
dificulta, algumas vezes, a percepção de importantes implicações desse comprometimento. A
preocupação de elaborar um texto destinado a amplas discussões pelo magistério acabou
conduzindo a afirmações simplificadas cujo significado é de difícil apreensão principalmente
para o não especialista (...).” (Azanha, 2001, p. 27)
Para concluir, esse autor ressalta que, a partir do momento que o MEC
organizou a elaboração de diretrizes curriculares nacionais “declaradamente
comprometidas com uma particular concepção pedagógica, desrespeitando assim o
princípio do pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas, fixado no Art. 206 da
atual Constituição”, houve uma diminuição de autonomia de estados e municípios.
Alerta ainda que, sem atentar para a exigência constitucional de pluralismo, é
provável que “a proposta dos PCN possa, na prática, nos seus vários
desdobramentos até a sala de aula, chegar aos professores como imposição e não
como algo a ser discutido e eventualmente modificado ou substituído.” (Azanha,
2001, p. 30)
Outro autor que faz uma crítica muito relevante sobre esse assunto é Duarte
(2001) que aponta o construtivismo como a fundamentação teórica dos PCN. Para
ele, os termos empregados são característicos do discurso construtivista no Brasil,
buscando ainda demonstrar que tal concepção aparenta proximidade com as
concepções pedagógicas críticas. Afirma ainda que o texto dos PCN faz descaso de
várias tendências pedagógicas vigentes desde a década de 30, reduzindo-as somente
ao que cada uma tem a oferecer para a proposta atual.
40
“O principio metodológico básico de César Coll que, dito de forma clara, nada mais é do
que a liberdade que esse autor concede a si mesmo, de extrair das várias teorias o que lhe
pareça mais útil, jogando fora o resto da teoria e interpretando como bem lhe aprouver a
parte que foi recortada. Para fazer este escandaloso pragmatismo passar por uma concepção
crítica e de vanguarda, os redatores dos PCN não economizaram no procedimento de
acrescentar jargões pseudopolitilizantes ao discurso de César Coll, normalmente bastante
asséptico. E encontraram no Construtivismo a grande superação do confronto entre
abordagens psicologizantes e politizadoras (...). Assim, de acordo com o estilo de César Coll,
os PCN adotam como referencial teórico um construtivismo eclético, que incorpora expressões
e conceitos de diversas correntes psicológicas e educacionais, como Piaget, Vigotski, Ausubel,
e outras, fazendo-se passar por uma grande síntese e, dessa forma seduzir educadores
defensores das mais diversas idéias, na direção da realização do sonho de Fernando Becker
[...] para quem o construtivismo poderá ser a forma teórica ampla que reúna as várias
tendências do pensamento educacional.” (Duarte, 2001, p. 58)
A partir de uma citação dos PCN, o autor analisa a maneira pela qual o
construtivismo é definido no documento introdutório.
Outro ponto destacado por Duarte (2001) é que César Coll defende um “marco
psicológico para o currículo escolar”, um conjunto eclético (apesar de dizer que
busca evitar o ecletismo) e pragmático de princípios psicopedagógicos.
“Consideramos precário o critério adotado por César Coll e, em sua esteira, pelos
redatores dos PCN, para caracterização do que seja o construtivismo. Este seria constituído,
segundo tal critério, por um grupo de teorias psicológicas muito distintas e até conflitantes em
pontos fundamentais, mas que possuiriam alguma coisa em comum, a defesa da importância
da atividade construtiva do aluno nas aprendizagens escolares.” (Duarte, 2001, p. 61, grifo do
autor)
Esta idéia já foi defendida pelo movimento escolanovista, então, “não constitui
uma inovação introduzida no ideário pedagógico pelo construtivismo.” (Duarte,
2001, p.61)
Para a ANPEd (1996), apesar das críticas e sugestões feitas no seu parecer
sobre os PCN, acredita-se que
3. O Construtivismo
necessariamente de acerto ou erro, como considera, muitas vezes, uma visão formal
ou do adulto. No construtivismo o erro é possível, ou até necessário, isto é, faz parte
do processo, por isso que a teoria construtivista de Piaget defende que as estruturas,
os esquemas, os conceitos, as idéias, são criados, construídos por um processo de
auto-regulação. Isto é, há aspectos no processo por meio dos quais se corrigem ou se
mantêm as coisas com vistas ao resultado que se quer alcançar. É o que Piaget chama
de feedback positivo e negativo. Neste processo de auto-regulação, erro e acerto não
são predeterminados ou dados externamente, eles são parte intrínseca do processo.
Por isso, a palavra "erro" não faz parte do vocabulário de Piaget, porque, para ele,
não interessa o erro, o que interessa é a ação física ou mental. Erro e acerto são
detalhes de nossa ação. O que é certo aqui já é errado lá. Tem-se apenas aspectos que
devem ser corrigidos, melhorados e outros que devem ser mantidos.
Para Barros (1996), diante do "erro" observado nas realizações da criança, o
interesse construtivista não é apontá-lo ou mesmo marcá-lo com lápis vermelho, mas
estudá-lo, descobrir suas razões. O construtivismo nos mostra que a investigação do
processo de aprendizagem é mais produtiva do que a mera observação do seu
resultado. Para o construtivismo, o conhecimento é inventado, criado e construído
pela criança. Por isso o julgamento do professor, de que a realização do aluno está
certa ou errada, interessa do ponto de vista tradicional e não tem sentido do ponto de
vista construtivista. Para este, a correção é com freqüência inoperante e, em alguns
casos, até prejudicial, pois pode inibir futuras tentativas da criança.
Segundo Macedo (1994), na perspectiva construtivista, um conhecimento a
respeito de algo só pode ocorrer enquanto uma teoria da ação que produz esse
conhecimento. Seja pelos aspectos já analisados, seja pelo que tantos outros autores
têm mostrado, supõe-se que tornar-se mais construtivista é uma necessidade atribuída
à escola. Para isto existem mudanças a serem feitas nos diversos aspectos de sua
estrutura e funcionamento, assim como na postura do professor, nos materiais de
ensino, na disciplina na sala de aula e na avaliação escolar.
Para Chiarottino (1980), nas escolas, as atividades criadoras deveriam ocupar
um lugar de destaque e, segundo aquilo que se pode inferir da teoria de Piaget, é na
Matemática e nas Ciências que a atividade de pesquisa da criança seria o melhor
método para a aquisição do conhecimento e para a construção de sua própria
46
nos esclarece a perspectiva educacional construtivista e também não nos oferece uma
proposta articulada a partir de um conjunto de dados empíricos sistematicamente
organizados, como nos textos pedagógicos de Piaget e de seus seguidores.
“Na verdade, elas são um conjunto de expressões, figuras retóricas e frases de efeito cuja
reprodução gera um aparente consenso, tão amplo quanto vago, em relação ao seus
significados ou às suas conseqüências para a prática educativa. Expressões consagradas
oriundas dos discursos construtivistas, como "desenvolver o espírito crítico" ou ainda algumas
de suas frases impactantes como "a criança constrói seu próprio conhecimento", abstraídas de
seus contextos teóricos originais, tornaram-se o que Scheffler classifica como slogans
educacionais e passaram a empregar aleatória e generalizadamente os discursos
pedagógicos.” (Carvalho, 2001, p. 96)
“A difusão dessa imagem e dos termos a ela correlatos tem sido um recurso retórico muito
freqüente nos discursos pedagógicos atuais. Exemplo da intensidade de sua presença nesses
discursos são os Parâmetros Curriculares Nacionais. Nas 22 páginas dedicadas ao
esclarecimento de seus “Princípios e Fundamentos, o substantivo “construção” ou o verbo
“construir” ocorrem 31 vezes. Nelas, se mesclam seus possíveis sentidos descritivos de
natureza psicológica com certas noções programáticas ligadas à veiculação de práticas e
princípios pedagógicos. Se nos concentrarmos nas 11 páginas em que, após comentar
criticamente tendências e características da educação brasileira, os Parâmetros passam a
apresentar, de modo positivo, visão teórica que alegadamente os fundamenta, encontraremos
pelo menos 25 referências a noção de que a criança “constrói” seu conhecimento e suas
representações. Nelas, também encontramos síntese simplificadas de hipóteses psicológicas
aliadas a pretensas “conseqüências” pedagógicas dessa visão de conhecimento (...)”
(Carvalho, 2001, p. 104)
51
“Concebidos e aplicados como elementos de uma teoria que visa a reformar práticas
escolares que lhe são desconhecidas, os slogans e as recomendações didáticas do
construtivismo podem resultar - e talvez já tenham resultado - em uma desorganização das
práticas docentes, com prescrições incapazes de oferecer oportunidades reais de
transformação da ação educativa, dentre outros fatores porque as desconhecem em sua
concretude e em suas especificidades institucionais e históricas.” (Carvalho, 2001, p. 119)
Carvalho (2001) conclui que uma teoria ou um programa educacional não são
problemas a serem equacionados a partir de referências exclusiva ou
predominantemente psicológicos. Exigem referências a uma série de outras questões,
inclusive de natureza valorativa e institucional.
teorias científicas de certo prestígio como a teoria de Piaget, bem como vinculado ao
fato de ser um modelo teórico tido como crítico e prescritivo que traria respostas
concretas para o dia-a-dia escolar; e) o ideário construtivista seduziria por aproximar-
se a elementos fortemente ideológicos e sedutores difundidos no cotidiano alienado
da nossa sociedade capitalista contemporânea.
Para esse autor ainda, a adesão por sedução a qualquer idéia, teoria ou ideário
caracteriza-se por uma adesão alienada, na medida em que os processos de sedução
não se constituem numa forma reflexiva, consciente e crítica de estarmos nos
relacionando com a nossa existência, com o mundo à nossa volta. A sedução é um
processo de dominação e expressa o poder que exerce um sujeito, uma idéia ou um
objeto sobre outro objeto, a partir de mecanismos sociais e psicológicos de
manipulação. A presença de sedução na difusão e na incorporação do ideário
construtivista contradiz o objetivo central por ele proclamado: a busca da autonomia
intelectual e moral dos sujeitos.
Para Hernández (1998), o construtivismo, apesar de não ser utilizado da
maneira mais adequada, se popularizou nas instituições de ensino. Construtivismo
não é uma metodologia, muito menos uma técnica educacional, ou uma teoria
determinada. Na verdade, construtivismo é uma concepção epistemológica que
presumi uma certa visão de ensino e de aprendizagem. Falar em epistemologia é
entrar no campo filosófico e averiguar a influência deste no campo educacional. Vale
destacar que todo sistema de ensino e suas reformas baseiam-se em uma concepção
filosófica para dar coerência ao seu projeto curricular. No caso do construtivismo, é
utilizado para unir várias idéias baseadas na mediação cultural e na participação ativa
do ser humano na construção do conhecimento. Com a reforma educacional
espanhola, o construtivismo tornou-se foco das atenções e muitos escritos surgiram
sobre o que ele representaria na escola. Esta concepção rompe com o mecanismo do
paradigma anterior que era o comportamentalismo e encaminha para uma visão
compreensiva do processo educacional.
“Na escola o construtivismo deveria representar muito mais que uma simples mudança
metodológica, isto é, uma perspectiva epistemológica que discutisse seriamente determinadas
questões básicas, como a noção de ensino ativo, o papel da memória e a importância dos
conteúdos. Deveria esclarecer as condições requeridas para a aquisição significativa do
conhecimento, tanto pela recepção quanto pela descoberta. E deveria ser uma perspectiva em
conformidade com a tradição racionalista, que transformasse a reflexão docente em uma
53
Contudo ele está sendo percebido como uma imposição gratuita ou,
simplesmente, uma imposição metodológica e estas coisas são muito prejudiciais.
Em relação a estas duas questões, primeiramente, mesmo levando em conta as
resistências à mudança, o construtivismo deveria ser posto para o professor como
reflexão para as suas atividades. Agora, quanto à segunda questão, seria preciso
elucidar o sentido e o significado dessa proposta, ao invés de contribuir para a
consolidação dessa tendência. Os problemas dessa concepção estão na sua
implementação prática, pois verificaram-se certas discordâncias entre a suposta
potencialidade teórica e os resultados da sua aplicação.
Um dos problemas que a atual reforma espanhola enfrenta é que, ao se basear
numa epistemologia aberta, vai de encontro à resistência de uma formação
universitária criada sob a influência do paradigma que se procura superar.
Para que o ensino e a aprendizagem estejam fundamentados na visão
construtivista, o professor deveria ter condições de lidar com essa questão. A saída
para enfrentar essa situação seria recorrer à formação docente continuada.
O papel dos professores na mudança educativa é muito importante, em vista
disso, sua função precisa ser repensada na formação contínua e também na formação
inicial. Porém não é uma situação fácil modificar o resultado de uma formação
universitária de tendência empirista em uma forma de desempenhar as atividades
pedagógicas a partir da perspectiva construtivista. Sem dúvida este trabalho é de
longo segmento e com certeza vai além das possibilidades de uma reforma educativa.
“A importância do debate sobre o construtivismo na escola está mais nas
possibilidades de reflexão que permite do que nas modificações acríticas derivadas
de um trabalho de persuasão.” (Hernández, 1998, p. 201). As universidades e outras
instituições também têm um papel fundamental nessa questão.
"A instituição universitária deve propiciar, junto com a escola, uma discussão
interdisciplinar sobre a natureza da aquisição do conhecimento, incentivando ao mesmo
tempo linhas de pesquisa transdisciplinares, isto é, fundamentadas em um enfoque
globalizador, sobre os diversos aspectos envolvidos na construção do conhecimento na
escola." (Henández, 1998, p.201)
54
interação dialética, que se dá desde o nascimento, entre o ser humano e o meio social
e cultural em que se insere.
Para Coll & Solé (1996), a educação, vista por Vygotsky, é uma das fontes
mais importantes do desenvolvimento ontogenético nos membros da espécie
humana. O desenvolvimento que os seres humanos experimentam, desde o
nascimento até a morte, é antes um produto e não tanto um requisito da
aprendizagem e da educação. É, sobretudo, um produto das interações que se
estabelecem entre o sujeito que aprende e os agentes mediadores da cultura, entre os
quais os educadores (pais, professores, etc.) ocupam um lugar essencial. Estas idéias
são traduzidas nos postulados nucleares da explicação vygotskyana: a lei da dupla
formação dos processos psicológicos superiores e a educação como força criadora e
impulsionadora do desenvolvimento.
Segundo Vygotsky (1994), na lei da dupla formação dos processos
psicológicos superiores, toda função mental superior aparece duas vezes no
desenvolvimento cultural da criança: primeiro, em nível social e, mais tarde, em
nível individual; primeiro entre pessoas (interpsicológica) e depois, no interior da
própria criança (intrapsicológica). Para Alvarez & Del Río (1996), este processo de
formação das funções psicológicas superiores é fruto do desenvolvimento cultural e
não do biológico e dar-se-á, segundo Vygotsky, através da atividade prática e
instrumental e em interação ou em cooperação social. A transmissão destas funções,
dos adultos que já as possuem para os novos indivíduos em desenvolvimento, é
produzida mediante a atividade ou inter - atividade entre a criança e os outros adultos
ou companheiros de diversas idades e na Zona de Desenvolvimento Próximo.
Para explicar o valor da experiência social no desenvolvimento cognitivo, é
criado por Vygotsky (1994) o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal que
seria a distância entre o nível de desenvolvimento real (da criança), determinado pela
resolução de problemas independentemente, e o nível de desenvolvimento potencial,
determinado pela resolução de problemas sob orientação de adultos ou em
colaboração com companheiros mais capacitados. À medida que a aprendizagem é
vista como um processo profundamente social, o teórico enfatiza o diálogo e as
diversas funções da linguagem na instrução e no desenvolvimento cognitivo
mediado. A linguagem, como instrumento de mediação semiótica desempenha um
56
modo, quais condutas de ensino (variáveis de processo) são eficazes para produzirem
melhorias na aprendizagem dos alunos (variáveis de produto). A freqüência de
comportamentos observáveis é obtida através de sistemas de registros de classe que
predeterminam as categorias da atuação do professor e do aluno. O tipo de
observação privilegiado é o da observação sistemática. O sistema de observação mais
utilizado foi o de Flanders-FIAC (Flanders Interaction Analysis Categories) cuja
publicação original se deu em 1970, na obra Analysing Teacher Behavior que,
devido à sua relativa simplicidade, se tornou a ferramenta de muitos investigadores.
Como afirmam Coll & Solé (1996), o estudo do que ocorre nas aulas e, mais
concretamente, nas relações entre professor/aluno propõe, por sua vez, a necessidade
de dispor de instrumentos de observação potentes e objetivos. Trata-se dos sistemas
de observação sistemática que aparecem como instrumentos susceptíveis de
descrever o que ocorre na sala de aula, da forma mais objetiva possível. Com a ajuda
destes, são codificados os comportamentos verbais e não - verbais do professor e dos
alunos, em uma série de categorias preestabelecidas, procedendo-se posteriormente à
análise dos dados de observação assim organizados.
Embora o paradigma Processo-Produto tenha contribuído de forma
considerável para a investigação científica, devemos acrescentar que a investigação
educativa que se modela pelo paradigma mais tradicional do tipo presságio/produto e
processo/produto, quando exclusiva, apresenta alguns perigos como alerta Goméz
(apud Pacheco, 1995), que afirma que os estudos desenvolvidos dentro destes
paradigmas não podem chegar a conclusões empíricas válidas que sustentem uma
explicação teórica do ensino, pois sua conceitualização expressa ou latente dos
processos de ensino é pobre, simplista e reducionista. Não contemplam variáveis
mediacionais, contextuais e não sugerem a necessidade de conceitualizar o ensino
como um produto situacional, flexível e em mudança.
"Um, o de não deixarem claro a que espécie de fenômeno estão se referindo. Às vezes a
representação parece estar sendo usada como sinônimo de percepção, outras como de
representações sociais, ou ainda no sentido de conhecimento. Em muitos casos, a falta de
definição dos autores têm levado o leitor a decidir-se por um desses sentidos, orientando-se
pela tradição dominante na área de conhecimento na qual o estudo está inserido. Outro
problema refere-se à não problematização da própria representação: seu tipo, sua qualidade,
seu poder, etc.” (Penin, 1993, p.14)
coletados sob investigação etnográfica foram obtidos numa escola da Rede Estadual
de Ensino, na cidade de São Paulo e a opção foi centralizar a pesquisa em uma
professora (identificada na escola como uma boa professora), investigar ao máximo
as circunstâncias e a história de sua atividade profissional, principalmente sua prática
docente. As informações referentes à professora da classe foram obtidas através de
duas entrevistas semi-estruturadas e em conversas informais ao longo do ano com a
professora. Através das análises do discurso da professora polivalente, foram se
desvendando aspectos das suas representações. Entre eles, destaca-se que ela possui a
crença de que os pais, de nível sócio-econômico mais baixo sejam menos
ameaçadores numa relação interativa. Por outro lado, o discurso da professora
também sugere contradições e uma delas se revela nas suas representações sobre o
que seria a sua premência com respeito à ajuda pedagógica e/ou cultural dos pais
“vis-à-vis” a impossibilidade real de muitos em fornecê-la. Para ela, um
relacionamento afetivo e de diálogo entre pais e filhos pode suprir a carência de
cultura geral dos pais dos alunos, mas apesar disso, a professora não sabe explicar
como os pais poderiam ajudar seus filhos, tendo em vista suas características
culturais. Evidencia-se, assim, uma situação na qual uma contradição identificada,
mas não trabalhada, transforma-se em aporia e em uma fonte de insatisfação. Daí a
importância de um trabalho pedagógico de reflexão na escola, cuidadosamente
planejado, desvelando as representações. Um outro ponto de grande importância no
trabalho seriam as representações da professora sobre a aprendizagem dos alunos,
sendo possível inferir que ela acreditava que a dificuldade da aprendizagem das
crianças residia nelas próprias, mas não conseguia explicar o porquê. Mesmo quando
questionada sobre outros fatores que pudessem também estar incidindo na
dificuldade de aprendizagem das crianças, a professora se refere a aspectos relativos
aos pais e à escola. Quando questionada se a professora não seria um fator que
pudesse interferir na aprendizagem do aluno, ela mencionou o método e o trabalho
de casa e fez poucas referências às características das suas ações.
Podemos acrescentar também estudos que tratam das representações mútuas do
professor e dos alunos. Em uma revisão da literatura nesta área, Coll & Miras (1996)
verificaram que a representação que o professor possui de seus alunos, o que pensa e
espera deles, as intenções e capacidades que lhes atribui, não somente é um filtro que
65
OBJETIVOS
Geral
Específicos
METODOLOGIA
1. Participantes
2. Local
RESULTADOS
1. A Escola “A”
Através dos dados acima observamos que, dos vinte professores entrevistados,
nove são formados em Letras, sendo que destes, um tem curso normal e três têm
outro curso universitário. Quatro professores são formados em Matemática, sendo
que, um fez outro curso universitário. Três são formados em Educação Artística, dois
em História/Geografia, sendo que estes também têm outro curso universitário. Dois
professores são formados em Educação Física, sendo que um destes tem curso
normal.
Dos vinte professores, dezessete são formados em universidades particulares e
três em universidades públicas. Onze professores trabalhavam enquanto estudavam.
Com relação ao tempo na carreira, um professor leciona há menos de dez anos;
seis professores lecionam de dez a quatorze anos; sete de quinze a dezenove anos;
quatro de vinte a vinte e quatro anos e dois lecionam de vinte e cinco a vinte e nove
anos. Dos vinte professores, nove possuem especialização.
As razões e motivações que levaram os entrevistados a escolherem o curso
universitário e a se tornarem professores são diversas. Observa-se que seis tinham
certeza da escolha que fizeram; oito não deixaram claro o motivo da escolha
profissional. Um professor parece não se sentir na profissão certa; três escolheram
ser professor por influência familiar. Dois professores escolheram a profissão por
falta de opção. A seguir serão apresentadas as falas mais significativas:
“Fiz Matemática porque sempre gostei muito da área de exatas, só para você ver, dou aula
particular principalmente para esta área desde os meus 14 anos, é gostar né!.”(Prof. 01)
“(...) eu sempre gostei muito, muito de Língua Portuguesa, sempre o meu interesse foi
voltado para a Língua Portuguesa e eu optei em fazer Letras por causa de Português e não
Inglês (...) eu gosto da língua, eu gosto do texto, eu gosto das entrelinhas, tanto no discurso
oral como no escrito, as entrelinhas são apaixonantes, quis dar aula (...).” (Prof. 14)
“(...) eu comecei a fazer Publicidade e Propaganda na U., mas aí eu não gostei do curso
propedêutico (...) parei a Faculdade, ai eu fui fazer Matemática, foi fazer Matemática minto,
eu fiquei seis meses parada (...). (...) acho que eu fiz Matemática porque eu gostava mais de
Matemática, da área de Exatas (...).” (Prof. 09)
79
“Eu vou ser muito franca e eu acho que eu estou na profissão errada, sou formada em
Artes, o meu sonho era ser artista eu sempre pretendi na minha vida trabalhar com Artes
mesmo (...).” (Prof. 04)
“Eu tenho um histórico de ensino em minha casa, a minha mãe é professora de piano, dava
aula e aposentou como professora e eu fiz faculdade meio que direcionada por ela, mas a
minha posição de dar aulas não era bem nessa não! era trabalhar com aulas em grupo, eu
gosto de trabalhar mais individual (...).” (Prof. 15)
“(...) aos 18 anos eu não sabia o que ia fazer aí eu falei: "vou ser Assistente Social",
depois desisti (...). Eu fui fazer Faculdade, eu queria História, mas História era de manhã e de
manhã era o período que os meus filhos precisavam mais de mim, então à tarde era Português.
Por isso que eu falo que eu sou professora de Português frustrada. Queria História, mas não
me frustei não (...).” (Prof. 08)
“(...) eu até tentei o comércio, na loja e nas horas vagas dava aulas (...) e lá eu percebi que
eu não tenho aquele tino comercial e eu não sei vender nem uma rifa, sabe que isto me ajudou
a perceber que eu queria mesmo era dar aula, me dedicar ao meu aluno.” (Prof. 11)
Um professor comentou que apesar de ter dado algumas aulas quando recém-
formado, não tinha a intenção de lecionar, mas depois de trabalhar muitos anos num
Banco retornou ao magistério por ser um emprego que oferecia segurança.
81
“Eu fiz faculdade e me direcionei para dar aulas, eu prestei dois concursos e eu passei,
mas a minha intenção não era ficar no magistério (...). (...) eu comecei a trabalhar em Banco,
eu trabalhei seis anos em Banco (...) prestei outro concurso, agora do Estado, passei (...)
ingressei quando o meu filho tinha um mês, então eu pensei eu vou dar aulas porque é um
emprego com garantia.” (Prof. 15)
“Eu ainda estava no Banco e quando eu terminei a faculdade, eu tinha um salário bom no
Banco, no meio do ano seguinte eu consegui uma vaga, com zero pontos, no Estado lá na
periferia e eu fiquei muito animada (...) eu já estava cansada do Banco, então eu pensei se eu
não sair agora eu nunca mais vou sair (...). (...) toda aquela vivência no Banco eu acho que me
ajudou a ser muito mais responsável ou mais segura porque eu acho que o professor tem que
ter segurança (...).” (Prof. 17)
“aí quando eu saí dali eu saí para a escola mesmo, aliás não me deixavam sair, então eu
ficava três dias ali e dois na escola e na faculdade. (...) mas eu queria estudar, eu queria
muito, o meu objetivo era estudar, eu queria saber mais, mais, mais e estando ali não
conseguia mesmo chegar aonde eu queria aperfeiçoar. Então eu saí mesmo do escritório.”
(Prof. 20)
“Eu tenho experiências boas, trabalhos feitos com alunos que deram certo, tem uma escola
que eu dei aula em B. P. eu adorei muito esta escola, eu acho que fiz trabalhos muito bons lá,
eu acho que lá eu consegui me realizar e eu fiquei quatro anos lá, é uma escola pequena dá
para trabalhar bem com alunos e lá a gente fez um trabalho de integração com todos os
professores (...).” (Prof. 02)
“Como eu sou ACT todos anos mudando de escola, então praticamente eu devo ter
lecionado aqui quase 85% de todas as escolas de R., de 1º e 2º Grau e eu ainda não sou
concursado, mas tenho muito tempo de serviço que me ajudaram a ser o professor que sou (...)
então eu tenho uma certa experiência de sala de aula.” (Prof. 07)
“a delegada ligou para mim convidando para trabalhar no supletivo(...)eu sabia que eu
não ia poder continuar aqui e eu acabei aceitando, mas eu falei para ela que eu nem sabia que
tinha supletivo no Estado, eu não sabia nada a respeito.(...). Quatro anos, eu estava até o ano
passado. E foi uma experiência muito boa. Foi uma experiência muito válida.” (Prof.12)
83
“(...) eu vim para R. P. e toda a minha experiência de U. não contava no Estado aqui
porque é um Estado diferente, a única porta que foi aberta para mim foi na APAE com
deficientes mentais e foi um lugar que eu aprendi muito, fiquei dois anos lá, mas era assim um
lado de relações humanas e eu acho que me acrescentou muito esse lado humano de relações
mesmo como professora (...) eu acho que conteúdo maior assim, é questão de relacionamento,
de relações humanas porque algumas práticas que eu tive com aluno lá que hoje elas são
muito úteis no meu cotidiano, são práticas que você vai adquirindo e que vai assim para te
fortalecendo porque até você assim se fortalecer emocionalmente porque são crianças difíceis
que vêm de famílias muito complicadas é um produto social muito diferenciado e que ele não
existe para o estado, para a união (...)” (Prof. 06)
Um outro professor não teve uma experiência tão gratificante, numa escola
que lecionou. Doze professores não comentaram o que suas experiências em outras
escolas significaram.
“É mas sempre eu fico bastante numa escola, a única que eu fiquei pouquíssimo, quatro
meses foi em S. fui eu que não me senti bem (...) não gostei da turma e eu acho que eles
também não gostaram de mim (...). (...) eu tirei o lugar de uma pessoa muito querida lá que
era ACT; não foi culpa minha, se não fosse eu ia ser outra. Então eu senti aquele lugar pesado
e não tive dúvida, aí eu pedi a minha primeira remoção e fui para D.” (Prof. 08)
1
O professor ACT não é efetivo na rede pública estadual de ensino, ele é admitido em caráter
temporário. Para lecionar nas escolas é necessário que ele se inscreva na Diretoria de Ensino no início
do ano letivo.
As atribuições de aulas podem acontecer na Diretoria de Ensino ou na Unidade Escolar, esta
resolução efetiva-se normalmente ao final do ano anterior às inscrições.
Os primeiros a escolherem as aulas são os professores efetivos dentro da sua Unidade Escolar,
depois os estáveis e, por último, os ACT´s. A escolha pela escola na qual irá lecionar, está relacionada
ao número de pontos que este possui e ao vínculo que ele mantém com a Unidade Escolar.
É importante destacar que quando surge uma licença de no máximo 15 dias, a Direção da Escola
tem autonomia para atribuir estas aulas dentro da própria Unidade Escolar para os professores da casa
(efetivos ou ACT´s). Em caso de licenças ou afastamentos acima deste tempo, a Direção tem por
obrigação encaminhar as aulas para a Diretoria de Ensino. Semanalmente estas aulas são afixadas na
Diretoria de Ensino para conhecimento de todos, e um dia da semana, numa escola já pré-
determinada, é feita a atribuição das mesmas para os professores inscritos. Assume as aulas o
professor com maior número de pontos. (Coordenador da Escola “A” - Informação Verbal).
84
“Eu acho que para mim está sendo mais difícil porque eu trabalho o dia todo em duas
escolas. (...) a minha correria particular, talvez se eu tivesse pego só uma escola ou só em um
período, talvez eu tivesse conseguido estar mais calma, mais relaxada para lidar com as
dificuldades (...) os problemas na escola são tantos (...) não consigo me entender com os
alunos, eles não querem nada (...). (...) eu vou ter que dar uma relaxada, parar de me cobrar e
deixar as coisas acontecerem porque cansa (...) eu vou ter que aos poucos me adequar.”
(Prof. 17)
85
“estou numa atualidade minha que eu venero (...) mas eu quis mudar, estou assim no meu
emprego atual vivendo uma coisa assim muito importante, que eu considero assim de muita
vida para mim. Duas escolas, com tudo diferente mesmo. Então isso é... isso é um desafio
muito grande. Você tá sempre buscando, criando. (...) eu tô tentando mudar toda essa linha,
que não deixa de ser tradicional, pela qual eu passei, pela qual eu me formei (...). Eu vou
reciclando, me envolvendo com isso e aquilo e vamos ver se melhora (...). (...) eu tô
aprendendo.” (Prof. 18)
e) A Profissão Docente
“(...) hoje é uma profissão que envolve desafio, ou você pega ou você larga (...). (...) então
eu tenho que estar sempre estudando, sempre procurando conhecer, lendo sempre, tudo que
sai a nível de educação (...). (...) eu fui me moldando ao longo desses anos, eu acho que eu fui
me lapidando, por isso que eu digo que eu tive atividades que me fizeram chegar até aqui (...)
só que antes eu não tinha jogo de cintura, eu era severa, mas um severa sem ser moldada (...).
(...) ao longo desse tempo eu fui plantando uma série de coisas, muito trabalho, estudos,
perseverança, dedicação, responsabilidade para começar a colher agora (...).” (Prof. 01)
“(...) então você fala “o que é que eu estou fazendo aqui com estes meninos?”; mas você
não tem respostas (...). Então o nosso papel hoje dentro da escola ficou muito para trás (...). A
minha realização tem que ser como professor, embora seja difícil eu me realizo sim, apesar
86
das tristezas (...). (...) então cada vez mais o posto de trabalho aqui dentro choca (...). (...) eu
procuro muito revista. A gente não busca muito os livros (...) a gente busca coisas mais
atualizadas para você que tá trabalhando, né, por exemplo A "Nova Escola" eu acho uma
revista é excelente (...). Em cima daquilo lá e você ir e enriquecendo e pesquisando, tal, você
pode implementar e tá aplicando também (...).” (Prof. 11)
“Então eu acho que é um dom divino a gente ensinar os outros (...) eu acho muito bom
você ensinar, você ver que a pessoa se interessa e faz, eu acho que é uma realização. (...)
porque eu gosto muito de trabalhar com cozinha (...) montar umas aulas de culinária, uma
coisa assim, sabe para ver se eu me motivo mais (...) eu já pensei até em parar de dar aula,
mas aí eu falo: "não, eu não vou parar gente eu gosto disso, eu gosto de ensinar" mas tem
hora que bate, mas é minha profissão também eu não posso (...).” (Prof. 09)
“Eu acho que quando a gente faz Faculdade e a gente tem uma formação que não é a
formação que nos ajuda muito no nosso dia-a-dia e que a Faculdade poderia estar muito mais
voltada para isso. O aluno, o formando, sai e aí é que ele começa a aprender, é outra
realidade, as dificuldades são outras (...) a gente começa aprender mesmo com o dia-a-dia
(...).” (Prof. 03)
“(...) não é da função do professor pegar uma vassoura e varrer a classe, como sentar com
o aluno em uma classe e analisar os problemas dele (...). Então hoje você lida com classe de
40 alunos, superlotada, onde o principal não é o ensino, tanto é que o professor hoje perdeu
muito do conhecimento específico dele, ele se preocupa muito mais em saber como lidar com o
aluno drogado (...) e o fator motivação é sério, o professor hoje, 99% do professorado da
Escola Pública não tem motivação de entrar dentro de uma sala de aula (...). Eu não tenho
objetivos definidos, não sei mais o que é importante, principalmente eu estou dizendo na
minha disciplina (...). (...) dar aula com giz e lousa isso é antigo, o professor se culpa de não
estar moderno. (...) o professor ainda tem alguns, acho que a grande maioria, que tem até uma
esperança, uma expectativa positiva pro futuro né, eu não, eu não. (...) eu sou mais realista, eu
vejo daqui para pior (...).” (Prof. 14)
87
Um docente questionou sua postura de ser “linha dura com os alunos”. Apesar
das dificuldades e questionamentos como professor gosta muito do que faz, se sente
realizado e possui muita vontade de se especializar.
“(...) eu mesmo me questiono de vez em quando em sala de aula se não haveria uma outra
abordagem que eu poderia estar usando para os alunos me ouvirem melhor ou me aceitarem
melhor, eu sempre vou por este sistema linha dura. (...) eu estou me sentindo profissionalmente
mais realizada que o ano passado (...). Eu não consigo ser outra coisa a não ser professora
(...). (...) o meu objetivo mesmo (...) além de ter esta realização é fazer o Mestrado (...).”
(Prof. 16)
Um outro professor comentou que apesar de falar que nunca iria lecionar, a
única alternativa que teve depois de enfrentar alguns problemas no emprego, foi dar
aulas. Para a sua surpresa, acabou gostando e com todas as dificuldades que enfrenta
na educação escolar, continua buscar soluções para trabalhar nesta área.
“(...) gastei todo o dinheiro que eu recebi da rescisão. Quebrei a cara. Já estava no último
ano de Letras, aí a única alternativa que eu tive foi dar aula. Eu não conseguia emprego, a
situação difícil, na época, aula tinha de monte, eu sempre falei que eu nunca ia dar aula (...).
Eu fui e acabei tomando gosto pela coisa e apesar de todos os problemas que eu tenho e não
são poucos, tem horas que dá vontade de largar...mas eu tenho que estar lá e fazer o que
dá......” (Prof. 19)
Um professor relatou que apesar dos obstáculos que teve para se formar,
conseguiu vencer. Adora ser Professor. Gosta muito de estudar, da sua profissão e de
ajudar seus alunos. Três professores não se referiram a este assunto.
“(...) às vezes eu penso puxa! eu sofri tanto para conseguir, queria tanto um espaço para
mim estudar (...). (...) o meu objetivo mesmo era só a escola, queria só a escola e estudar
porque o fundamental para mim era o conhecimento. (...) para mim o serviço está em primeiro
lugar porque é muita responsabilidade para o educador porque passar só por passar pela
escola não dá (...). Sabe eu gosto muito do que eu faço, eu faço com muito amor para cada um
independente se gostam ou não de mim, gostar das pessoas como elas são, aceitar, tentar
ajudar no que for possível cada um. Se ele crescer um pouquinho comigo já está bom. Sabe eu
também me ponho um pouco no lugar do outro, tentar entender um pouco esses alunos. ”
(Prof. 20)
Um outro docente acredita que é com a experiência que se aprende a “ser professor”,
porém gostaria que a faculdade lhe tivesse oferecido melhores condições para
encarar os obstáculos que acontecem nesta função. A partir dos relatos dos
professores entrevistados, podemos supor que, apesar dos problemas conjunturais e
institucionais, o docente ainda se identifica e se sente bem exercendo o seu papel
social, ou, então, tentaram passar uma visão até certo ponto “idealizada” da profissão
que exercem ao pesquisador, o que é compreensível, numa primeira entrevista. Por
mais que um professor tenha apontado falhas na sua formação, parece questionar e
desejar o apoio e a orientação da escola para solucionar os problemas que aparecem
na sua prática.
Encontramos um professor que não queria lecionar, mas devido aos problemas
que teve no emprego, foi dar aulas. Para a sua surpresa gostou e apesar de todas as
dificuldades que enfrenta na educação escolar, continua a buscar soluções para
trabalhar nesta área.
Poucos são os professores que se declararam insatisfeitos, decepcionados e
descontentes com a profissão e que gostariam de desenvolver outras atividades
paralelas ou que questionam sua própria atuação e a dos colegas, como docentes.
Supomos que por mais que estejam em conflito devido aos problemas que possuem
no cotidiano escolar, parecem não ter a intenção de desistir do espaço que
conquistaram na escola e muito menos no investimento feito na própria profissão.
Podemos, também, considerar como um desabafo, um pedido de socorro, ou ainda,
um desejo de ser mais valorizados.
a) A Escola Pública
91
“ Desafio, porque o trabalho na Escola Pública hoje é um trabalho muito difícil em função
da clientela que a gente tem, do tipo de aluno que a gente trabalha, dos problemas que eles
trazem de casa, das drogas, da violência; então é um trabalho desafiador (...) Jogo de cintura,
você tem que ter sempre 24 horas por dia (...) hoje a escola está uma loucura, muitos
problemas, estamos assumindo muitas responsabilidades, sofrendo com as drogas, violência,
indisciplina, falta de vontade dos alunos em aprender, professor desestimulado.” (Prof.01)
“Então tem uma rotatividade grande de alunos e de professores também. (...) nós temos
assim uma série desses problemas na Escola Pública hoje, com essa mudança de alunos de
uma escola para outra, dos professores, essa questão de pouco material didático.” (Prof. 06)
“Na Escola Pública eu tenho a insatisfação do salário, na minha atuação e no retorno que
eu obtenho (...) então a escola não é democrática, ela é discriminatória (...). (...) por mais que
o profissional queira passar esse conhecimento acadêmico dentro de uma Escola Pública ele
não consegue (...). A Escola Pública não forma aluno para a vida, nem em termos de
conhecimento acadêmico, nem em termos de socialização, nem como lidar com os pares
dentro de um ambiente escolar. Eu costumo dizer sempre que a forma de deseducar uma
criança é trazer para a Escola Pública. Tudo o que você ensina na tua casa você perde aqui
dentro. Eu tenho uma visão muito negativa da Escola Pública, não sei se negativa ou realista
(...). (...) você educa o seu filho, põe na Escola Pública você está pondo um tomate bom no
meio de tomate podre (...).” (Prof. 14)
“Sabe a Escola Pública mudou muito (...). Eu acho que falta tudo na Escola Pública, tudo,
falta café. Apesar que para os alunos não falta material (...).” (Prof. 15)
“Em alguns momentos é um momento de angústia porque na Escola Pública a gente passa
por... esse contexto que a gente está vivendo que o aluno vai passando continuamente, isto
angustia demais, demais e é uma coisa que foge do seu controle. (...) dentro da Escola Pública
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você tem uma abertura muito grande não só de planejamento, tem todo esse lado aí
direcionamento, mas também a cabeça é mais aberta porque através de cursos...o professor
estadual não sei porque tem todo esse sofrimento (...).” (Prof. 11)
“(...) portanto não é que a escola do Estado está cheia de oba - oba como na escola que eu
trabalhei o ano passado...lá era assim cada um fazia o que queria e tudo bem.” (Prof. 17)
Outro professor comentou que apesar de ter estudado na Escola Pública e ter
consideração por ela, a sua percepção hoje, não é das melhores sobre esta instituição.
“Eu estava assim, com aquela noção de Escola Pública: "Ai, meu Deus! Que horror, que
terror!". Tudo ruim, né (...). (...) eu me formei no Estado como pessoa, né. Fiz até o terceiro
colegial numa Escola Pública. Eu tenho um carinho muito grande pela Escola Pública.” Tá
muito difícil trabalhar nela atualmente.” (Prof. 18)
“Eu fico bastante preocupada com esta situação porque a Escola Pública não prepara o
aluno para o vestibular e eu acho que não está preparando nem para a vida (...). (...) só que na
Escola Pública caminha por outro lado, eu não estou conseguindo entender aonde nós vamos
chegar e o que nós temos que fazer (...). (...) eu sinto é que as pessoas julgam os alunos da
Escola Pública como um aluno que não vai servir para nada. Porque nós ouvimos comentários
mais ou menos assim: “esses aí vão terminar a oitava série e não vão virar nada.” (Prof. 19)
“Eu estou muito feliz de estar aqui nesta escola (...) às vezes a gente até reclama, mas
quando eu lembro das escolas que eu trabalhei com alunos bem mais difíceis (...) o meu
emprego atual eu espero que seja para sempre aqui só se tiver uma coisa melhor, eu falo:
"daqui eu não saio, daqui ninguém me tira mais"(...). (...) eu acho que ainda é uma escola boa
93
(...) o C. é uma escola boa e espero que seja mesmo (...). Eu estou aqui há dois anos eu vou
ficar (...).” (Prof. 10)
“Se eu soubesse eu teria vindo antes para cá porque eu sou sofri muito em outras escolas
querendo melhorá-las, as pessoas, os alunos (...). Aqui principalmente a manhã é maravilhoso
(...). (...) para ser sincera eu não passei por uma escola que tivesse tanta organização (...). (...)
a escola é muito bem estruturada (...).” (Prof.20)
Destes professores citados acima, seis acreditam que a falta de participação dos
familiares na vida do aluno atrapalha o desenvolvimento adequado do trabalho.
(...) eu tenho dito sempre que os pais estão ausentes, não só da escola, eles estão ausentes,
é em casa também e conturba tudo, então os filhos já estão em casa muito sozinhos (...) sem a
atenção dos pais, sem o próprio comprometimento dos pais e na escola você vê o reflexo disso
(...). (...) essa a ausência dos pais aí está terrível e a gente fala disso na escola (...).” (Prof. 12)
“Então você precisa lá na outra escola na Prefeitura por ex. eu preciso de medicinibol, eu
acho (...) quase tudo que eu preciso, eu acho. Aqui na escola, a escola não tem dado muita
atenção para isso (...). Se eu vou trabalhar com handebol e eu chego com cinco bolas velhas e
murchas, então eles já ficam desmotivados: "o que é isso professor isso são bolas que se
apresente para gente?” (Prof. 03)
“(...) nessa atualmente parece que já tem um projeto; não sinto aqui liberdade para o meu
trabalho né. (...) já que é super discreta esta entrevista, eu vejo quatro paredes, para mim está
um pouco limitado. (...) eu acho que estou me sentindo meio acuada aqui, mas é bom, não, não
é isso, é que aqui a realidade do aluno é outra também. A escola pede que nós os professores
estimulem os alunos ao saber, com estratégias e recursos que não nos dão (...).” (Prof. 04)
Outro professor questiona qual seria o papel e a função da escola hoje na vida
do professor e do aluno.
“(...) deve haver uma democratização, como havia, mais os limites.... (...) Se ponha nessa
escola, você viu as grades? A gente brinca: "O Carandiru”; então, como que você quer fazer
uma democracia num regime, numa escola que é toda gradeada, toda com muro, toda com
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grade. Tá lá na entrada, não pode entrar no intervalo que tem que vir o porteiro abrir (...) este
é o conflito do que é democracia numa escola (...).” (Prof.08)
Para um outro professor o conceito que tem da escola onde trabalha não é
muito favorável. Supomos que para este, a situação em que esta se encontra é
lastimável.
“A escola não está conseguindo colocar o que é necessário. (...) não é um lugar atrativo
não! é cartaz em parede, não é poluição visual que faz um lugar ser atrativo né, como a sala
ambiente (...). (...) aqui tem uma cozinheira que também é paga com o dinheiro da APM. A
Escola não acompanha esse lado da criança, nivela por baixo, às vezes trata o aluno como um
excepcional da APAE. Porque o aluno ele vem com uma carga genética, mas prioritariamente
o lado social dele, ah! ele é do Q., uhh, ele vem do M., uhh, (...) ah! coitado. A Escola hoje é
de subestimar o aluno. Se lida com o aluno, como se ele fosse burro (...).” (Prof. 14)
“Eu estou achando assim o C. (...). existe assim uma cobrança do professor...tudo é a gente
que tem que resolver... eu não sei se é diferente das outras escolas que eu trabalhei, eu sinto
que...eu não sei... eu sinto que as coisas andam certinhas dentro da lei, tudo muito
arrumadinho, mas...” (Prof. 19)
Por outro lado, um outro professor acredita que a escola onde trabalha é
diferente das outras. Por mais que comentem que esta é uma das melhores da Rede
Estadual, tem um contexto educacional difícil de trabalhar e é o professor que tem
que solucionar todos os problemas que acontecem na escola. Dois professores não se
referiram a este assunto.
“ Aqui eu percebo que é diferente, mas mesmo assim é muito diferente, é uma realidade
difícil de lidar. (...) é uma escola diferenciada do Estado em tudo, qualquer problema que
você tenha é problema seu e se você não resolveu foi você quem não foi capaz de resolver (...)
por ex.: dias atrás eu senti um cheiro de maconha aqui, na hora do recreio saindo do banheiro
dos meninos, é uma coisa que todo mundo vê e ninguém fez nada (...). (...) pelo que todos
falam das escolas do Estado esta é uma das melhores escolas do Estado (...).” (Prof. 17)
“Eu acho que eu escolhi aqui, pois já era uma escola que tinha um bom conceito (...). (...)
Tinham professores que falavam que era bom trabalhar no C., tem uma estrutura bem formada
e realmente foi isso que me encaminhou para cá.” (Prof. 03)
“ (...) era a única escola que era mais próxima da minha casa quando eu fui escolher.”
(Prof.06)
Para um outro professor, além dos motivos citados acima, a sua escolha pela
escola está ligada a uma experiência boa que teve de trabalho quando substituiu nela.
“ (...) além de ter ouvido falar bem também eu já fui eventual aqui há muito tempo, naquela
época eu gostei de dar aula aqui de manhã, aí eu decidi pegar aula aqui e as pessoas sempre
falam que aqui é uma escola boa e que está no coração do J. P. É considerada uma das
melhores de R., por isso que eu vim para cá e além disso, é perto de minha casa.” (Prof. 02)
“(...) porque eu já conhecia o trabalho da C., admirava muito o trabalho dela, era uma
opção minha mesmo que se eu saísse de S. era só para optar pelo C. (...).” (Prof. 13)
Para um outro professor a sua opção não era pela escola onde a pesquisa foi
realizada, mas por ter ocorrido problemas na atribuição de aulas, foi a única que
restou para lecionar.
“Não foi bem uma escolha (...) como primeira opção como eu moro em B. coloquei F., a
secretária pôs R. (...) estou lá em F. enquanto, as minhas aulas foram atribuídas aqui, aí eu
perdi todas as aulas, aí teve uma outra atribuição fui a primeira a pegar (...) eu estou com oito
aulas hoje aqui, pois só sobrou aqui (...). ” (Prof.04)
Para outros três professores, apesar da escolha pela escola ter sido feita
também na atribuição, parece que esta transcorreu tranqüilamente.
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“A escolha é lá, num momento em São Paulo que de acordo com a sua classificação... você
vê as escolas que tem disponibilidade de te dar carga horária... e eu fiz a opção pelo C., que
tinha.” (Prof. 18)
“(...) eu escolhi esta escola porque eu morei muitos anos aqui do lado (...) as minhas irmãs
estudaram aqui e eu já conhecia a diretora (...) eu já conhecia o ambiente, já era familiar para
mim e eu escolhi a escola por causa disso, por causa do ambiente (...).” (Prof.16)
Para um outro professor não foi uma questão de opção continuar a lecionar na
escola, mas por já estar nesta, as aulas que ficaram disponíveis foram-lhe oferecidas.
Três professores não comentaram sobre este assunto.
“ Então o meu emprego atual não é muito opção minha (riu) não é muito, foi o que tinha
para mim no momento como eu estava dentro da escola então as aulas foram oferecidas para
as pessoas que estavam dentro da escola e aí eu acabei ficando por aqui (...).” (Prof. 19)
“(...) eu tinha que ter uma maneira com a minha vivência toda (...) de fazer eles prestarem
atenção, de fazerem eles se interessarem por alguma coisa, mas eu não achei ainda o caminho
(...). (...) eu gosto de estar fazendo o que eu estou fazendo. (...) às vezes eu quero até abrir a
cabeça do aluno para ver se ele entra alguma coisa lá dentro, eu acho que eu não estou
explicando bem. (...) eu sempre converso com eles chega um momento que eu converso se
assim não está bom, então como é que a gente vai fazer, vamos tentar uma outra maneira de
fazer, sabe, então nós estamos sempre tentando fazer acordos com eles (...).” (Prof. 08)
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“(...) eu sempre estou em busca se tratando do aluno e da disciplina sempre em busca (...).
(...) apesar desta angústia, tem hora que eu falo (...) vou desistir, vou trocar esta sala, mas eu
nunca troco (...) eu faço algumas coisas até para trabalhar o relacionamento (...) para depois
eu voltar para a matemática. Eu tenho um prazer enorme de estar com eles sempre eu trabalho
assim, fazendo projetos, mesmo a parte concreta da matemática, fazendo que eles aprendam,
mas com vontade de aprender a matemática buscando uma satisfação porque todos têm a
condição de entender. (...) eu prego muito com meus alunos que na vida ela é um esforço, a
gente tem as oportunidades, a gente tem que aproveitar (...).” (Prof. 11)
“(...) Agora à tarde já é um pouco mais difícil, as classes estão muito cheias (...) eu sou
assim um pouco até mãezona, eu tento trabalhar ganhar eles primeiro (...) eu acho que eles
precisam gostar um pouco do professor para gostar da matéria também e nada melhor com
aluno do que fazer acordos no sentido: "eu estou aqui para ensinar, amo vocês, então porque
não...". Então passar isso para eles, essa coisa mesmo de amor à profissão, ao trabalho para
eles próprios. (...) eu amo vocês também porque vocês são parte do meu trabalho (...) eu fui
conseguindo gradativamente (...).” (Prof. 20)
“Eu gosto muito do que eu faço, eu nunca tentei fazer outra coisa, assim trabalhar em
Direção (...) eu sempre gostei de estar na quadra mesmo e me sinto muito feliz em fazer isso
(...). Eu não me engajei muito na escola por trabalhar fora em muitos lugares (...) porque eu
sempre trabalhei em duas, três escolas e aqui como no Estado a gente recebia menos.... (...) a
gente está tentando mudar, ainda nós temos muito de querer formar o melhor, eu tô tentando
agora dar oportunidade a todos (...) tentando trabalhar mais dentro dessa linha, de ajudar
mais os alunos, mas a gente tem uma formação muito de... (...). Fazer alguma coisa que a
gente não está acostumado; não é difícil, mas cada vez que a gente faz alguma coisa, a gente
vê que deu resultado que você faz e vê que está tendo mudanças para a gente é gratificante, a
gente vai tentando melhorar.” (Prof. 03)
“ (...) os alunos quando vem uma professora nova, diferente, eles querem te desafiar (...) e
eu estava meia presa para trabalhar (...) eu vou usar uma tática diferente, eu sou de falar
baixo continuei na minha postura porque quando eu fico nervosa eu me exaltava demais (...).
(...) hoje todo mundo está trabalhando, os que não trabalhavam estão trabalhando agora
porque eu estou trabalhando com letras góticas, eu não vou falar que não, eu estou gostando
sim (...).” (Prof.04)
“ (...) vários papéis na escola (...) aqui eu sou professora, eu sou amiga (...). (...) no
intervalo, eu não fico na sala dos professores (...) eu estou na cozinha ajudando as meninas
(...). Eu passo no pátio, eu vejo uma sujeira, eu vou lá e pego e jogo (...) eu não saio da sala
sem varrê-la (...). A minha sala tem em cada carteira um lixinho (...) se eu vejo alguma coisa
que eles escreveram na parede, eles vão limpar (...) não custa nada ajudar o inspetor, não
deixo o menino entrar se não é para entrar (...). Então eu me preocupo com a escola, eu quero
que a escola seja a melhor (...). Os aniversariantes sou eu quem cuida disso, então tem um
monte de coisas que eu gosto de fazer dentro da escola para um melhor andamento da
escola.” (Prof.05)
“ Eu participo do P. A., então a escola tem projetos (...) não são atividades que eu posso
fazer na minha casa, são atividades fora de casa, você tem que ter jogo de cintura, você tem
que ter um espírito de doação muito grande senão você não consegue. (...) eu não vejo o meu
emprego atual de professora só em sala de aula. Eu estou tendo uma carga horária fora que
eu tenho que me virar (...) não é remunerado, tudo trabalho voluntariado (...).” (Prof. 06)
“Tem também o P. A. que eu estou também engajada onde eu aproveito a minha formação
de música (...) eles sempre estão me pedindo uma ajuda, na Rádio quando eles têm que
apresentar algum texto eu ajudo corrigindo (...) mas eu só ajudo na retaguarda.” (Prof. 16)
Um outro professor comentou que não participa dos projetos que a escola
proporciona, pois mal consegue organizar as atividades necessárias para o seu
trabalho em sala de aula.
“eu tô falando de ficar até mais tempo dentro da escola, me dedicar mais, não que eles te
exijam isso...mas na medida do possível você vê que eles querem que você fique mais, que você
esteje mais disponível, não dá! Sabe! o que adianta eu colocar o meu nome num projeto tal,
tal, mas e aí? se os livros que o rapaz da editora me trouxe eu nem tive tempo de olhar, sabe!
Ver se eu vou usar tinta, tela, sabe é corrido...não dá.” (Prof.15)
“(...) se o aluno é problemático ou não é, o professor tem que achar uma válvula de
escape, tem que achar um meio de dar o seu planejamento (...). Tem que ter jogo de cintura
(...) achar certas estratégias para atrair a atenção do aluno, a gente tem que se virar, apesar
de que não é tão fácil, não é fácil hoje em dia. Agora o professor está tendo hoje um trabalho
dobrado, tem que conhecer às vezes o problema do aluno, as dificuldades do dia-a-dia do
aluno, a disciplina reinante na sala de aula.” (Prof. 07)
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“Sabe aqui a gente trabalha com deficientes visuais, eu não sei trabalhar (...) eu vou com a
cara e com a coragem eu fico sempre assim me achando incompetente, nossa! (...) eu nunca sei
se realmente entendeu ou não. Aula de geometria, eu fico totalmente perdida (...). (...) você vê
ali que é um trabalho difícil (...) a integração com os alunos realmente é bom (...) toda a sala
praticamente tem um deficiente visual. Então prepara um curso, pega a moça que é a
professora deles (...) pega um HTP(...) eles jogam esse aluno lá e você se vira (...).” (Prof. 10)
“(...) ter a C. como diretora porque ela é uma pessoa muito ativa então isso não me faz
acomodar (...). Mas esta liberdade daqui também existe depois que a C. sente segurança no
corpo docente dela, eu sinto isso, porque muita gente já saiu daqui porque se sente sufocado
também porque não gosta deste tipo de trabalho em equipe que ela propõe, eu me sinto muito
bem.” (Prof. 13)
“(...) uma direção muito bem fincada, que eu considero muito boa. Pelo menos ela tenta
muita coisa e é por aí. Ela tenta a organização, o envolvimento(...).” (Prof. 18)
Cinco professores não têm a mesma opinião dos professores citados acima.
“(...) a Direção faz exatamente o que a supervisão manda (...). (...) a Diretora fica
implorando, pedindo esmolas de aluno para pagar as contas da escola (...). (...) nas reuniões
eles falam assim, gente, nós tamos lendo os planejamentos, falta muita gente para entregar,
ninguém leu e nem vai ler.” (Prof. 14)
“(...) Direção, o contato é normal, muito normal não tem nada que desabone ninguém (...).
(...) a Direção trata a gente com cortesia.” (Prof. 07)
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“Eu acho que respaldo aqui da Direção eu sinto que tem (...). (...) elas falam que tem que
voltar (...) o que ficou lá para trás (...) então a gente vai ficar a vida inteira só voltando (...).
(...) porque que não pega o HTP (...) pega tudo de Matemática (...) vamos jogar entre nós
professores (...) eu acho que é falha sim da direção (...) eu não sei se eles têm que cumprir um
programa de HTP. (...) eles falam: "não, você tem que dar uma aula diferente" você vai
enrolar, né Patrícia porque o conteúdo mesmo não vai ser dado, eu não sei, se eles souberem
me ensine.” (Prof. 10)
f) Os Colegas de Trabalho
“(...) está cheio de professor que senta na sala dos professores, reclama, reclama, reclama
e não sai do lugar, não faz nada com os alunos, não muda o jeito de ensinar (...) eles caíram
na minha alma outro dia porque eu estou trabalhando na sala de informática (...). (...) falta
muito eu acho troca entre as pessoas. Os professores têm medo de que copiem a idéia deles.
Então uma coisa que está funcionando para mim, eu tenho mais é que contar para todo mundo
e muita gente não faz isso (...).” (Prof. 01)
“Eu acho assim que hoje nós, professores não estamos nada educadores (...). (...) o
professor está desestruturado (...) talvez assim, ou ele não tem interesse, ou não tenha tempo
(...). (...) então é muita reclamação dos colegas de tudo, de salário, dos alunos, de falta de
incentivo (...). Esse pessimismo porque eu acho que a grande maioria dos professores está
assim neste estado (...). Então fica nesse círculo vicioso, reclama, fica pessimista, tem essa
postura também inadequada do professor, então vira essa salada. (...) falta essa boa vontade,
falta essa disposição, falta acreditar, falta se engajar, está faltando muita coisa, aí vai
passando isso para as outras pessoas.” (Prof. 12)
“O professor faz exatamente o que a Direção manda (...). Aqui todo mundo diz que todos
são colegas, que todos são iguais, mas é uma mentira, a coisa vem de cima para baixo
pressionando o professor (...) então essa falsa esperança que pra mim significa ingenuidade,
falta de espírito crítico, isso daí também acaba, é o professorado podre que acaba com a
educação, é o lado podre da educação, os conformados (...).” (Prof. 14)
“(...) a dedicação minha aumentou quando eu percebi que eu tinha todo um trabalho da
escola, um trabalho que eu percebia, um conjunto, nós professores trabalhamos aqui na escola
em conjunto e isso me fortalece. Então, eles debatem muito nas nossas reunião coisa aqui,
como trabalhar com o aluno no dia-a-dia. É muito interessante porque cada um fala da sua
experiência e você vai pegando para você também a experiência do outro.” (Prof. 05)
“Aqui particularmente sobre o Corpo Docente (...). (...) tenho amizade com todos, todos
tratam a gente muito bem. É lógico que tem aqueles que a gente brinca mais (...).” (Prof. 07)
“(...) inclusive nós temos professores sem ações, de acabar largando as classes porque não
consegue, porque é de nojenta (...).” (Prof.08)
“(...) o corpo docente é bem eclético (...) e também porque são muitas cabeças, as pessoas
vêem com idéias diferentes (...) porque nós não temos um corpo docente só de efetivos porque
se fosse assim por mais problemas que houvessem, nós poderíamos entrar em um consenso
(...). Inclusive nós temos percebido ultimamente que o HTP tem sido muito tumultuado, o
pessoal está falando muito paralelo, tem professor irritado com a situação (...).” (Prof. 16)
Para um outro professor é difícil manifestar o que pensa sobre os colegas, pois
além de ser novo na escola, os encontra muito pouco e o tempo é curto.
“É difícil falar dos professores porque além de ter pouco tempo, nós nos encontramos
muito pouco (...) sou novata aqui. Tem um professor que eu ainda encontro de vez em quando
e eu o considero um professor muito bom. (...) o professor não te dá aquele sorriso, aqueles
que você acaba conhecendo um pouco mais tudo bem, mas têm alguns que se você encontrar
na rua eu não sei se te cumprimenta ou não e fica ali com você o dia inteiro.” (Prof. 17)
“ (...) quanto aos professores ainda não deu muito para perceber, pois eu estou aqui há
pouco tempo e cada um vai para sua sala de aula, fica pouco tempo na sala dos professores
(...) mas tudo o que eu precisei me estenderam a mão (...). Eu estou sentindo realmente que eu
fui acolhida pelos professores, mas assim não deu para sentir um todo ainda, mas o pessoal da
minha área que eu precisei, eles me acolheram (...) mas eu creio que dificuldade, dificuldade
não vai ter com eles no sentido de diálogo, eu creio que não.” (Prof. 20)
“É, mas o pessoal da manhã é bem diferenciado, é melhor em tudo né. À tarde, é um
pessoal problemático que tava na manhã e à noite é o pessoal do noturno que sempre foi uma
clientela própria de noturno, que trabalha o dia inteiro, né, que tem essas características, mas
é uma seleção.” (Prof. 18)
Dois outros comentaram que as famílias não têm estrutura para educar seus
filhos.
“(...) de repente juntar todos num mesmo período é muito complicado e eles já trazem
especificidade de casa, problemas familiares seríssimos (...) mas são crianças assim pai em
casa, ele fica só na rua, toda essa questão comportamental mesmo que não é trabalhado com
os pais, traz tudo para dentro da sala.” (Prof. 11)
“(...) os alunos são assim dinâmicos no período da manhã, eles querem muito aprender
(...). Então hoje não, hoje parece que eles estudam mais para aprender mesmo, mas num
sentido mais relaxante, não é aquela coisa angustiante. Para o aluno hoje é isto, ele está
aprendendo porque é importante para ele, não é porque ele é obrigado (...).” (Prof. 20)
“O aluno precisa urgentemente do limite de que já não mais existe. (...) já essa lei que
favorece o adolescente e ele traz problemas de casa para escola (...).” (Prof. 04)
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“O aluno de hoje, se ele não estudar ele vai encontrar dificuldades, muitos dos que entram
na Faculdade não conseguem acompanhar o ritmo. Agora, esse todos, será que todos na sala
de aula, todos alunos, será que estão captando bem as lições, será que estão adquirindo
conhecimentos, será que eles estarão preparados para o dia de amanhã?” (Prof. 07)
“Agora a maioria deveria vir para escola porque quer um diploma. Então eu acho que a
educação, a escola deixou de ser interessante para eles, eles têm muitas outras coisas que é
muito mais interessante do que escola, você pode perguntar em uma sala de aula que 90% vem
para escola porque se julga obrigado a vir, não vem por gosto, não gosta, não é isso que eles
queriam estar fazendo (...).” (Prof. 19)
“Não é todo aluno que sabe desenhar, não é todo aluno que sabe fazer um trabalho bem-
feito, só que você tem que estimular a criatividade. Sei lá, para mim ele tem que gostar, tem que
gostar de onde ele está, gostar do que ele está fazendo. Eu falo muito para eles que a escola é a
primeira extensão de casa porque o primeiro lugar que ele sai de casa é para vir para escola, é
aqui que tudo começa pra eles. O aluno tem que estar bem aqui (...).” (Prof. 15)
“Hoje se você encontra com aluno fora da escola ele passa assim, do seu lado e não te
cumprimenta, ele só te conhece aqui dentro da escola eu acho um horror isso, eu acho
horrível, então tem umas coisas.... .” (Prof. 09)
Três outros professores possuem uma visão bastante otimista dos alunos.
Acreditam que eles têm vontade de aprender, visão crítica sobre as coisas, sabem
lidar muito bem com os computadores e que vão conseguir se desenvolver muito
bem na vida. Três professores não se referiram a este assunto.
“(...) eu não vejo esta dependência dos alunos, eu sinto que eles querem, eles querem
aprender então te questionam muito (...) (...) eu acho que ele sempre pode dar mais do que ele
está dando e realmente ele pode dar, ele sabe disso.” (Prof. 13)
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“(...) o aluno é muito mais, tem uma capacidade de abstrair muito maior (...) e o
computador foi o que veio afirmar que o aluno tem uma capacidade de abstração muito
grande. Então ele pega um texto, ele mesmo, um aluno já falou para mim, professora porque é
que tem tanto menino maluquinho aqui no livro, é tão chato isso.(...) então o aluno é critico
naquilo, ele não é bobinho mais, ele não é tonto(...). Tem aluno que saiu da rede publica e foi
para a particular e lá ele é um estouro, porque lá você tira dele tudo(...).” (Prof. 14)
Nesta parte, iremos conhecer um pouco mais o trabalho que os professores vêm
desenvolvendo, o que eles pensam dos problemas que enfrentam no cotidiano
escolar, seu planejamento, avaliação e os sentimentos que a profissão docente
desperta.
a) O Método de Ensino
“(...) eu gosto de trabalhar muito com projetos pequenos (...). Na matemática tem algumas
coisas que realmente você pode estar fazendo, uma feira (...) mas dependendo do conteúdo que
você quer trabalhar não tem como você buscar a parte concreta (...). Temos também a parte
do computador (...) a gente tem também essa ferramenta (...). Se você entra só, se você vai só
na teoria (...) você fica aquele mero professor com a lousa, giz, apagador e acabou (...).”
(Prof. 11)
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Um outro professor comentou que se sente cobrado para dar aulas diferentes,
mas muitas vezes, não sabe como dar. Ressaltou ainda, a falta de preparo e de
orientação para trabalhar com a informática na escola.
“(...) eu levo meus alunos para a sala de informática, só que a informática para mim é
novo (...) eu não sei trabalhar, ninguém nos ensina. (...) mas as maneiras de serem dadas cai
também naquela situação que você tem que trabalhar diferente (...) só se você arrancar a
roupa ali e plantar bananeira. Mesmo assim, eles não prestam à atenção (...). Então na
Matemática pedem pra gente dar aula diferente que a gente às vezes não sabe dar, a gente
procura fazer sim (...) mas têm coisa que não dá, eu não sei fazer mágica.” (Prof. 10)
Um outro professor apresentou a sua visão de como uma aula é e como ela
deveria ser.
“ (...) a aula é mais ou menos, é uma inspiração (...) a aula não é tão objetiva assim (...) a
aula é subjetiva porque pela cara dos alunos que você vai piorando ou melhorando (...)
diminuindo seu tempo de explicação para aquilo não ficar tão terrível para o ouvido do aluno
(...) aquilo às vezes sai de acordo ou muito além ou muito aquém do que você planejava. Então
você planejar uma aula também tem muito haver com o momento.” (Prof. 14)
“(...) eu sou talvez um pouco mais tradicional (...). Tento trabalhar qualquer assunto
relacionando com o mundo do aluno ou com histórias (...) não existe um texto sem ser antes
relacionado. (...) eu gosto de trabalhar com os livros clássicos (...) então eles assistiram o
náufrago e assistiram o Robson Crusoé, leram e depois fizeram a relação... isso tudo na sexta
série. ” (Prof. 08)
Outros cinco professores relataram a forma pela qual gostam de ensinar os seus
alunos.
“ (...) depois procuro atrair todos para a parte inicial da aula que é o alongamento e o
aquecimento (...) eu procuro fazer que todos participem com algum tipo de brincadeira para
socializar a maioria porque trabalho muito com quinta e sexta série, aí depois eu entro na
parte prática da aula mesmo, a parte de iniciação esportiva (...) depois tem jogo que é uma
parte mais recreativa (...) apesar que encontramos situações nada fáceis na quadra, sempre
busco fazer o melhor.” (Prof.03)
“Eu aqui não estou dando música (...) agora eu trabalho mais esta parte motora mesmo, o
trabalho de desenho, pintura e também eu estou trabalhando com letras góticas um tipo de
letra que é a mais desenhada (...) acho que eles gostam (...) e a gente vai levando como pode.”
(Prof.04)
111
b) O Planejamento
“ (...) você tem que ter os seus objetivos claros porque se você vai para uma aula hoje sem
saber o que você vai fazer é porque você pode ter certeza de que você não vai conseguir nada.
(...) Às vezes você programa alguma coisa (...) só que quando você chega é um balde de água
fria (...) aquilo que você programou não deu certo, mas você sabe que você quer chegar em
tal, em tal lugar (...).” (Prof. 06)
“Primeiramente quando eu faço um plano, eu faço pensando no que aquela faixa etária vai
precisar receber, só que no dia-a-dia, às vezes este plano vai sendo mudado porque às vezes
aquela classe precisa de outras coisas que não estava nem no plano, são mudadas algumas
coisas (...).” (Prof. 13)
“Eu me lembro de uma vez (...) Delegacia de Ensino pressionando muito pra que você
faça um planejamento, eu peguei e falei assim: “ vou fazer um teste”. Então eu peguei o
planejamento, falei vou fazer o planejamento da 6a. série e copiei aquilo, inclusive assim, vide
página tal (...). (...) peguei os conteúdos que eu ia trabalhar e guardei comigo na caderneta e
mandei esse planejamento para a Delegacia de Ensino, até hoje não me falaram que estava
errado (...). Eu fiz um planejamento errado e ninguém viu (...).” (Prof. 14)
“O planejamento fica parado (...). (...) eu falei para a profa S. o meu planejamento é
totalmente diferente do dela, o dela vai para o lado de jogos, o meu vai para o lado de não
incentivar a violência; a aceitação de si e do outro; as diferenças (...).” (Prof. 17)
“(...) então assim neste sentido, com dinâmicas e também um livro para acompanhar mais
ou menos o planejamento (...).” (Prof.20)
112
“(...) a gente sempre entra com a intenção de dar uma boa aula, quando a gente passa uma
coisa e a gente vê que está tendo retorno a gente se sente mais realizado (...).” (Prof.03)
“Eu gosto do que eu faço, mas é muito desgastante, muito desgastante (...). As alegrias são
essas de saber aquilo que você fez ele aprendeu, aquilo que você deu, aquilo que você passou,
você tentou e ele aprendeu e ele está bem na sua sala (...). Agora as minhas tristezas é que têm
alunos que dá até dó mesmo, você sabe que é fraquinho (...).” (Prof. 15)
Um outro professor, além de comentar que é no trabalho com o aluno que estão
as suas satisfações e frustrações, fica muito chateado quando responsabilizam o
professor por todos os problemas que acontecem na escola.
“Todo mundo está colocando que a postura do professor está errada e a metodologia está
errada, será que é só professor que o mundo vê como errado? São estas coisas que eu me
questiono e que estão me machucando muito. (...) as alegrias são poucas, nas turmas de
quinta e sexta séries, mas é muito difícil. (...) me entristece muito, mas muito mesmo porque eu
não consigo ter afeto por todos os alunos (...). (...) eles te fazem tantas coisas que você não
consegue ter carinho nenhum por eles e é muito triste isso (...).” (Prof. 19)
“(...) quem tem que cobrar a pessoa é ela própria (...) sabe não precisa de alguém ficar
policiando (...). Então essa liberdade daqui eu gosto.” (Prof. 13)
Para um outro professor a sua maior decepção hoje, não é tanto com o aluno e
sim, com os colegas de trabalho. Supomos que este professor está bastante
desmotivado. Quatro professores não comentaram sobre o assunto.
“(...) mudou tudo, questão de aluno, de professores (...). Então eu fiquei meio
decepcionada (...). (...) eu sempre vim com vontade (...). (...) eu venho para cá, fico: "ah! Eu
acho que hoje eu não queria ir, ah! que bom se hoje eu não tivesse aula" eu não gosto de
sentir isso (...). (...) frustração minha este ano é por causa dos colegas mesmo (...).” (Prof. 12)
113
Com relação às dificuldades dos professores na sua prática de sala de aula, dos
vinte professores entrevistados, quatorze comentaram que a indisciplina, a falta de
interesse do aluno parece ser um dos problemas que enfrentam no seu cotidiano e
que não conseguem resolver. Além disso, alguns ressaltaram que precisam enfrentar
a falta de apoio da família, as classes superlotadas e o fato do aluno estar no Ciclo-II
do ensino fundamental e mal saber ler e escrever.
“Eu acho que o problema principal que a gente está tendo é de disciplina. Fica difícil você
fazer qualquer trabalho se você não consegue nem reunir os alunos para começar (...). No meu
caso, na quadra eles dispersam, cada um quer ir para o lado fazer um tipo de atividade
diferente, quer bater papo, sentar lá no banco, alguns mostram muita indisposição para fazer
a atividade (...) à tarde (...) eles ignoram o professor (...). (...) a gente percebe que eles têm
potencial para ser desenvolvido mais a gente encontra aquela apatia, aquela falta de vontade,
de participação (...).” (Prof. 03)
“(...) só que eu estou com alguns... é a maioria nessa sala principalmente que são
desinteressados, não tem vontade. Ele sabe que ele vai para frente do mesmo jeito. Então, não
existe um esforço pessoal, nem dele e nem da família. (...) porque são alunos que já vão para a
oitava série, vão terminar o ciclo o ano que vem (...) mal estão alfabetizados (...).” (Prof. 11)
“Numa classe de 45 alunos, eu não consigo fazer o working, porque não deixa de ser uma
aula de inglês, do estilo do curso de inglês. Tanto que na escola, no C., num curso noturno, é
onde a gente vem e já fica assim... "Poxa que dureza lá, eu vou ter que subir lá naquela classe,
que vai ser complicado". Porque é complicado. O pessoal da noite já chega aqui muito
cansado, não tá querendo se envolver aí com outras coisas que não seja com eles mesmos
porque eles não tiveram tempo para eles.” (Prof. 18)
“A única coisa assim, é pena que eles não dão tanto valor a esse saber que a gente quer
passar. Às vezes eu penso: “eles têm tudo, né! Tudo assim no dia de hoje, tudo para ser, olha!
não precisam trabalhar, não começaram tão novos a trabalhar, só vem para escola para
estudar (...). Eu vejo assim, as salas são super boas mesmo, não tem assim aquele problema
114
tanto de disciplina como nas outras escolas que eu passei (...). Então, à tarde, eu estou
sentindo um pouquinho mais de dificuldade, estou tentando, eu estou conversando.” (Prof. 20)
Quatro professores ressaltaram que, apesar das várias tentativas que fazem para
resolver os problemas de sala de aula, não sabem lidar com essa situação. Supomos
que destes, três questionam a falta de apoio, orientação da equipe
técnico/pedagógica, através da solicitação de outros profissionais.
“(...) eu acho que no momento é aquele que eu mais preciso de ajuda (...). A prática da sala
de aula está desgastada, os problemas que a gente enfrenta são muitos (...) está faltando
alguma coisa aí que nós não sabemos exatamente aonde está e que talvez pessoas de fora né,
com prática psicológica (...) enfim com algumas coisas assim possam nos orientar neste
sentido. (...) o maior problema que a gente tem é indisciplina, é indisciplina, é falta de
interesse, essas coisas são muito gritantes na sala de aula hoje em todas as escolas né, (...).
eles não pagam, então eles não valorizam, eles destroem tudo né Então assim buscar uma
solução, se é que a gente tem como fazer isso para este problema dos alunos (...).” (Prof. 01)
e) A Avaliação
Quanto a “avaliar o aluno”, dos treze professores que falaram sobre este
assunto, supomos que quatro não aceitaram as mudanças que ocorreram nesta área.
“se eles vão mal na prova, eu fico me perguntando se a culpa não é minha, mas acho que não
é não (...). (...) naquela época era mais fácil trabalhar, eu gostava mais, a gente conseguia mais,
naquela época tinha reprovação hoje não, a gente tinha mais respaldo, a direção te dava mais
valor, mesmo os alunos, os pais de alunos. (...) eu sou assim um pouco tradicional e eu dou prova,
prova mensal, prova trimestral e tem professor que não dá prova (...).” (Prof. 02)
“Depois você vai dar nota e não pode dar notas baixas, não pode porque, porque o Estado
não quer, porque o aluno não pode ficar.... Então você está sendo o que aqui dentro? um joguete
né. Aí não, pelo amor de Deus, isso é muito pouco.” (Prof.04)
“É, eu não aprovo o aluno, o aluno fica com vermelha, mas ele passa... é um absurdo! Quer
dizer, para que então o professor vai avaliar o aluno? (...) intuito da avaliação não é somente
avaliar o aluno. É avaliar também o professor (...). Eu nunca ouvi falar alguém que tenha
reprovado se não for por falta (...). Isso é um absurdo, isso não pode continuar acontecendo! Nós
estamos perdendo o controle, também por causa disso. Porque o aluno sabe, ele já sabe disso, que
fazendo ou não fazendo ele vai passar de ano.” (Prof. 05)
“ (...) avaliar! é porque nós temos que avaliar, mas nós não estamos aqui para avaliar
ninguém, a avaliação vai ser na vida, depois a vida seleciona.” (Prof. 15)
“Então eu resolvi mudar o esquema, eu comecei a fazer um outro trabalho agora de linha
dura, de nota e eles terão que trabalhar porque eles serão avaliados em tudo, desde o
momento que eles entram (...). (...) eu estou trabalhando assim, linha-dura mesmo na base do
sorteio, não fez é "E" se faz certo é "A". Eu falo para eles que é sempre bom contar com a
sorte quando fizerem coisas erradas porque se eu ver eu vou anotar. Então eu adquiri o
processo de sorteio, mesmo no período da manhã porque as salas são muito lotadas e eles
colam mesmo, então eu faço este tipo de avaliação toda aula (...).” (Prof.16)
Para outro professor a prova individual não é somente utilizada para avaliar o
aluno e sim para verificar sua própria postura na transmissão dos conteúdos da
disciplina.
“eu falo para eles que é importante pelo menos uma prova individual porque eu quero
saber no que eu fiquei devendo para eles, não é nem pela nota (...). Então eles não gostam de
fazer esta prova neste dia, mas eles fazem, aí eu descubro aonde está faltando, aonde eu deixei
naquela sala de passar melhor o meu recado, este é o único jeito de saber (...).” (Prof.20)
de sala de aula, e sim, ser mais utilizado como um ponto de apoio ou como uma
referência. Existem pouquíssimos professores que não se preocupam com o
planejamento da sua área e somente um professor fica indignado com a forma como
a Delegacia de Ensino trata o assunto.
Quanto a “avaliar o aluno”, menos da metade dos professores parece não
aceitar as mudanças que ocorreram nesta área e a maioria destes, além de não saber
qual postura tomar neste ponto, questiona o seu papel na educação. Para um outro
professor, a avaliação diária é utilizada como um instrumento para fazer os alunos
participarem das suas aulas.
Supomos que os professores gostariam que os alunos que tivessem notas
baixas, que não fazem nada na sala de aula, ficassem retidos. Não aceitam essa nova
forma de avaliar os alunos e acreditam que a reprovação era bem melhor, como se
este fosse um poderoso artifício que vem para organizar o ensino, resolver os
problemas do cotidiano escolar e lhes devolver o respeito e o valor que acreditam ter
perdido com as mudanças educacionais. Parece-nos, também, que os professores
estejam mal preparados e mal informados para enfrentar os novos desafios do ensino.
Menos da metade dos professores buscam se adaptar às mudanças que
ocorreram na forma de avaliar o aluno. Destes, supomos que a maioria sabe de todas
as dificuldades e barreiras que encontra neste assunto e acredita ser a avaliação algo
importante na formação do aluno. Para um outro professor a avaliação do aluno vai
ocorrer mesmo quando tiver saído da escola. Para outro, a prova individual não é
somente utilizada para avaliar o aluno e sim para verificar sua própria postura na
transmissão dos conteúdos da disciplina.
Supomos que alguns professores procuram mudar sua forma de “olhar a
avaliação”, mas ainda enfrentam várias incertezas e encontram bastante obstáculos.
Parece-nos que alguns percebem que o foco das atenções agora não é só o aluno, mas
também o professor.
Quanto aos sentimentos dos professores entrevistados em relação às suas
atividades educacionais, mais da metade relatou que, na sua prática de sala de aula,
as suas maiores satisfações e frustrações estão relacionadas ao trabalho com o aluno.
Um outro professor fica muito chateado quando responsabilizam o docente por
todos os problemas que acontecem na escola. Para um outro professor a sua maior
118
“Eu considero ótimo, os Parâmetros, os PCN porque eu acho que ele é um guia para o
professor, até o livro de Português e Inglês é uma fonte enriquecedora para o nosso trabalho,
achei ótimo os PCN porque sugere dá muita sugestão de como a gente deve trabalhar na sala
de aula (...).” (Prof. 02)
Outros dois professores, apesar de terem uma opinião favorável aos PCN,
consideram difícil colocá-los em prática, devido aos problemas que possuem no
ambiente escolar.
“Os Parâmetros Curriculares entendo como um conjunto de idéias, idéias boas que estão
ligadas as competências e habilidades. Têm um fundamento teórico, é um material muito bom,
só que os Parâmetros Curriculares eles deparam com os problemas conjunturais (...) uma sala
sempre lotada (...) vários níveis de aluno em termos de conteúdo (...) com essa promoção
automática os alunos, eles estão por idades (...). Então esses Parâmetros Curriculares
Nacionais, ele fica no plano da idealização.” (Prof. 06)
Dois outros professores, apesar de terem uma visão bastante superficial do que
vêm a ser os PCN, não têm uma apreciação favorável a este documento, como a dos
colegas citados anteriormente.
“Eu acho assim porque os Parâmetros eles são muito assim, eles são muito repetitivos, eles
tão sempre martelando na mesma tecla, eu não gosto muito de seguir (...). (...) eu achei assim
que eles são muito vagos (...).” (Prof. 09)
“(...) eu não me lembro não. Mas eu acho que é o que acontece dentro de cada área, não
me lembro, eu estou sendo sincera. É isso, nada mais.” (Prof.04)
Para um outro professor, apesar dos PCN não trazerem novidades para seu
trabalho e de terem docentes que não gostam deste, aprecia esta proposta de ensino.
“(...) os PCN, eu acho que é bem dentro da sua área, seu conteúdo (...) uma coisa que já
tinha, só que organizada (...) a gente já fazia as coisas que ele propõe. Eu acho assim
fantástico, tem gente que não gosta, tal, alguns colegas né, falam assim... mas realmente é
muito bom os PCN (...).” (Prof. 11)
“Recebemos isso daqui oh!... Os Parâmetros Curriculares Nacionais que dizem que foram
feitos também... pá, pá, pá, baseado nas teorias novas e inovadoras. Os Parâmetros
Curriculares Nacionais são uma novidade para mim, pois estive afastada há três anos. (...)
então eu acho que não foi assim a grande novidade. Talvez os termos, a terminologia, os
verbos (...) mas no fim, eu achei que era tudo a mesma coisa... do que eu trabalho.” (Prof.08)
“(...) são poucos os professores que conhecem os PCN. A teoria é muito bonita, mas eu
repito ela está sendo mal usada (...) e eu acho que eles são a fundamentação teórica das
nossas mudanças atuais (...) para processar as mudanças de ensino que a gente quer fazer no
sentido de trabalhar a formação de aluno, trabalhar a parte que interessa à realidade daquele
aluno (...) mas até para poder fazer isso, eu tenho que estudar os Parâmetros.” (Prof. 01)
“(...) seriam Parâmetros, seria uma coisa para você se basear né? Você ter um, um
parâmetro para vocês se basear então aí vem esses, ética, trabalhar a ética (...) mas dentro da
sua disciplina (...). (...) que é, vai estar preparando este aluno né, não vai estar só em cima de
conteúdo né, então esses PCN realmente.... ele trabalha o aluno para a vida.” (Prof. 10)
“ (...) é muito dentro da realidade do aluno que se trabalha segundo os PCN, então é uma
coisa interessante. Eu acho que o próprio nome já diz, os PCN, sabe você vai colocar
realmente um parâmetro na tua, no teu plano que são esses parâmetros porque nacionais né?
porque nós vivemos dentro de uma realidade, mesmo que este Brasil seja muito grande, ele,
ele, existe uma realidade e dentro de cada região você vai poder trabalhar com a sua
realidade, mas você precisa de ter um fio condutor para ligar tudo isso e os parâmetros são,
acabam sendo este fio condutor.” (Prof.13)
Um outro professor a partir dos seus estudos construiu uma visão abrangente e
crítica do que vem a ser os PCN.
“Os PCN foram criados a partir da proposta educacional do Estado de São Paulo (...). O
PCN tem por base falar, não dizer nada porque a linguagem é hermética, quase política, e não
direciona o professor a transformar aquilo ali em prática. É inacreditável como o texto do
PCN foi feito para ninguém fazer nada com ele (...). Eu analisei os PCN de língua portuguesa,
língua, linguagem e cultura. Eu vou te dizer uma coisa... que eu não extrai quase nada dali, é
uma coisa tão misturada, é uma coisa tão deformada, é o discurso demagógico (...). Porque os
PCN é um documento que o professor também não concorda com a idéia, ele não acredita
naquilo. (...) sabe o que eu acho, que os PCN colocou no papel aquilo que os professores já
faziam e criou confusão (...). (...) ele te deixa em conflito, confusão.” (Prof. 14)
121
“(...) eu acho que ele está muito bem escrito, tudo aquilo faz jus à realidade escolar,
pedagógica, só que nós não cumprimos (...). Seria o teto que deveria estar dentro da minha
atividade profissional, o objetivo que eu tenho com isso de onde eu vou partir e aonde eu vou
chegar (...) só que não se faz (...).” (Prof. 16)
Dois professores não possuem muito conhecimento do que vem a ser os PCN.
Um destes, até acredita ser este um documento importante, mas ele e os colegas de
trabalho não têm idéia da inovação que possa existir, pois precisaria ser mais
explorado e trabalhado. Já o outro professor comentou que os PCN são cobrados,
mas que não é dado também.
“A escola não conhece os PCN. Eu falo escola porque eu estou colocando aqui as pessoas
com quem eu convivo, são os meus colegas, os alunos (...) O que eu posso te dizer é isso como
professora e sinto que se esses parâmetros são alguma coisa assim muito importante, vitais
para qualquer coisa, nós temos uma noção do que eles querem que nós façamos. É uma
renovação mesmo, é o aspecto real, a comunidade dentro da escola, a ética, a pluricultura que
existe na sociedade, cidadania, tudo isso junto (...) Eu não sei falar muita coisa sobre isso,
mas o que são?. Então é isso que eu acho tudo isso é muito falho e deixou também muitas
lacunas. Os parâmetros, então fica neste meio aí, por isso é que eu acho que dá esta sensação
pessoal de... poxa, aonde é que nós vamos com isso? É o que estava faltando, o começo de
tudo, eu acho que tinha que começar bem mais devagar, o pessoal precisa de mais subsídios
para chegar nesta coisa pronta que é o parâmetro, ele já chega muito pronto, com muita coisa
que o pessoal não tem nem noção da inovação, do que está por trás de tudo aquilo.” (Prof.18)
“Eu sei que é cobrado, mas eu sei também que não é dado, é só cobrado e o professor tem
que se virar. Sinceramente, eu não sei definir muito bem o que são esses Parâmetros não. Eu
não sei mesmo. Acho que dever ser bom, deve ajudar o professor.” (Prof. 19)
Apesar de um professor não ter muita noção do que vem a ser os PCN e que até
precisaria estudá-los, ressaltou que a parte dos Temas Transversais foi a que mais lhe
chamou atenção e agradou. Na sua opinião também, a utilização desta proposta de
ensino não é obrigatória, mas acredita que compensaria inseri-la na sua prática. Um
professor não se referiu a este assunto.
“(...) o que eu mais gostei dentro dos Parâmetros foram os Temas Transversais, foi o que
mais me chamou a atenção (...). Eu lembro que não é obrigado a utilizar, segue quem quer,
mas pelo que foi mostrado afinal de contas, eu acho que é bom e que deve ser colocado para
frente porque senão fica para trás de repente vai ficando velho tem mais que utilizar(...). (...)
sabe esses PCN de tudo que eu vi, assisti aos vídeos, eu sei que eu tenho que aprender mais,
122
aqui tem os PCN, preciso levar, ver de fim de semana, numa horinha vaga. Precisava ver com
a coordenadora. É uma coisa que eu ainda preciso ver bastante.” (Prof. 20)
“(...) eu acho que ficou assim cada um recebeu ... eu recebi um PCN levei o da minha área,
dei umas lidas rápidas né, depois também peguei também da introdução, do conjunto, alguns
tópicos também não dá para gente ler pausadamente, com discussões (...).” (Prof. 03)
“Nós recebemos livros enormes, grossos e enormes, mas é tudo lido rapidamente assim,
não tem jeito de você absorver, deveria ser mais discutido nos HTP. Eu vi uns três anos atrás,
mostraram os livros lá na outra escola, mandaram a gente ler, fizeram assim uma leitura
muito rápida (...).” (Prof. 04)
“(...) falam tanto em cidadania nos Parâmetros, mas só que não conseguem colocar esses
Parâmetros em funcionamento por causa do que? Por causa de stress, problemas de
conjuntura. Como isso chegou nas mãos dos professores da Rede Pública de 1º e 2º grau? de
qualquer jeito, sem discussões, sem saber se a gente concordava com as idéias, se a gente
queria isso, foram pondo (...) eles que fizeram isso, não tem a mínima idéia de como é um
aluno que está saindo da quarta série primária.” (Prof. 06)
Dos vinte professores entrevistados, oito relataram que utilizam os PCN para
fazer o planejamento no início do ano. Supomos que as falas dos professores indicam
123
“A gente usa para fazer o planejamento (...). (...) depois ninguém abrange os PCN... fica de
lado um pouco, eu acho, deveria ter mais destaque assim, por ser importante.” (Prof. 02)
“Com os Parâmetros não, você tem que estar seguindo, é tipo quando você põe um tapa-
olho sabe, você vai ter que seguir sempre aquilo (...). Eu não gosto muito de seguir essas
coisas assim. Então eu não sei até que ponto ele me ajuda. Ele me ajuda assim, quando eu
tenho que fazer um planejamento (...) você tem que seguir e você é obrigado, a Diretora de
Ensino, a Diretora, todo mundo te pede (...).” (Prof. 09)
“Agora o que ministrar ao aluno dentro dos Parâmetros Curriculares Nacionais? (...) a
gente vai dar... em relação ao aluno, a gente tem que fazer que o aluno tenha uma visão geral
do momento de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais. (...) utiliza no
planejamento e a prática, muitas vezes não é igual a que a gente se planejou (...).” (Prof. 07)
“(...) a inter-relação entre as disciplinas, os PCN deixa isso muito em aberto, para a gente
trabalhar uma matéria com várias disciplinas, é a interdisciplinaridade (...) eu vou fazer um
projeto no bosque (...). (...) se eu quiser trabalhar com a professora de Física e Biologia com
parceria comigo, eu posso (...) e esse tipo de inter relação entre o os professores é muito
interessante, mas ele está sendo pouco explorado, talvez pela falta de tempo (...). (...) os PCN
favorece é que ele não dá o mastigado, a coisa, ele sugere atividades, sugere trabalhos, mas
ele instiga a investigar (...).” (Prof. 01)
“(...) eu trabalho sempre com projetos paralelos com a Matemática que entra na parte dos
Parâmetros (...). (...) poucos são os que realmente estudam que realmente trabalham em cima
dele. Eu acho que os PCN deveriam ser mais trabalhados e não é (...).” (Prof. 11)
Um professor discordou das idéias dos colegas quanto aos trabalhos que a
escola desenvolve baseado nos PCN, pois não é uma novidade na prática pedagógica.
Relatou que tem que utilizá-los no planejamento, pois é o assunto do momento.
124
“(...) projetos... nós aqui da escola já tentamos fazer isso há muito tempo e essa
interdisciplinaridade também... é um problema sério, já se discutiu tanto, já se tentou tanto,
mas ela é muito bonita no papel, na prática (...) a gente precisa parar para pensar para que
isso assim, possa acontecer e quando ela acontece não é da maneira mais natural, não é da
maneira mais espontânea (...) isso que a gente pretende que o aluno perceba que tal assunto
está relacionado com Português e que a Matemática pode utilizar a Geografia não é fácil (...).
(...) peguei agora, já passei da época de entregar o planejamento e você precisa..... nossa! Isso
daqui agora tem que permear seu planejamento, é o assunto do momento (...).” (Prof. 12)
Para um outro professor a escola não está preparada para trabalhar com os
PCN.
“ (...) para aplicar esses Parâmetros, nós tínhamos que ter uma sala de aula diferente e
por que não mudou na sala de aula? Nós não temos materiais porque o MEC coloca que tem
vários livros didáticos, sim, mas só o livro didático não basta. (...) os Parâmetros Curriculares
e eu penso na não aplicação, porque a gente aplica algumas coisas, aplica assim, tenho uns
trechos bons, trechos teóricos excelentes, só que assim, a aplicação dele é assim muito, olha,
para ser assim muito otimista deve ser assim 30% (...). (...) mas como é que nós vamos
trabalhar isso com os alunos?. (...) mas a escola não está preparada para trabalhar, é isso.
"Ah, não, temos os Temas Transversais que é assim uma coisa maravilhosa" sim, e daí?
Trabalhar Ética na aula de Português, com os textos diversificados? e daí?” (Prof. 06)
“Então os PCN de Língua Portuguesa vem dizendo exatamente isso, que o professor deve
valorizar a linguagem do aluno, como aluno e partir do conhecimento do aluno que é outra
frase ridícula é impossível partir do conhecimento do aluno em uma classe heterogênea com
40, 45 alunos, ninguém parte. Outra coisa também que eu não sou muito favorável, você partir
do meio do aluno (...). A História não deve ser contada pro aluno a partir de fatos
cronológicos (...). É uma coisa que tem nos PCN de História, eu concordo, o fato tem que ser
puxado para a atualidade (...). (...) ele traz mais ou menos uma forma de trabalho que o
professor pode se utilizar, mas não sabe como, porque é muito difícil você transformar aquilo
numa estratégia de aula, é isso que eu quero dizer, você não consegue transformar os PCN em
estratégia de aula. Há vários trechos ali que você tem que fazer não sei o que pra conseguir
captar a mensagem que ele tá querendo (...).” (Prof. 14)
Três professores relataram que utilizam muito pouco os PCN na prática de sala
de aula, pois além de não conseguirem trabalhar da forma que está colocado nos
livros, a escola estadual não oferece condições para realizar as atividades. O trabalho
da interdisciplinaridade, é pouco aplicada. Dois destes professores comentaram
também que o planejamento está baseado nos PCN, pois os próprios livros didáticos
que adotam têm relação com eles.
125
“Na minha área, eu acho que não altera muita coisa, porque não tem como a gente fazer
diferente o que existe é aquela multidisciplinaridade que não é aplicada, na realidade nós não
trabalhamos, trabalhamos muito pouco (...). (...) “querem trabalhar teatro", alguns fazem, mas
os outros vão ficar trabalhando o que? (...). Os Parâmetros eu não sigo totalmente (...). (...) na
realidade na sala de aula não dá para você fazer o que está ali, não dá. Eu bato na tecla que
com classes deste tamanho você não consegue.” (Prof. 15)
“(...) não dá para cumprir porque na prática o social não acompanha a proposta dos
parâmetros, então o professor não consegue atender aquela proposta em algumas coisas. Você
consegue até um trabalhinho ou outro, é interdisciplinar, alguns projetos, mas ele como um
todo no enfoque não dá para fazer porque não temos estrutura, o Estado não oferece
estrutura, infelizmente. Eu lembro quando voltei, até a minha maneira de fazer planejamento
de aula não tinha nada a ver com os parâmetros (...) o pessoal me chamou e disseram que não
era desta forma que o meu projeto não se encaixava, mas tudo isto aconteceu porque não
houve orientação nenhuma. (...) o planejamento está baseado nos parâmetros porque os
próprios livros que nós adotamos, a didática deles já está em cima dos parâmetros (...).”
(Prof.16)
Um outro professor não insere os PCN na sua prática de sala de aula, por não
concordar com esta proposta. Utiliza algumas coisas, pois os livros adotados estão
baseados nos PCN. Considera também complicado trabalhar a interdisciplinaridade e
não sabe, até que ponto o professor consegue introduzir este trabalho, sem a devida
orientação.
“Eu nunca me prendo muito aos parâmetros, têm muitas coisas que eu não concordo, eu
nunca me interessei muito (...). (...) a interdisciplinaridade, eu considero muito complicado
trabalhar, apesar que nós procuramos trabalhar algumas coisas (...) os livros já trazem os
textos, principalmente os livros que são mandados pelo MEC. Então nós trabalhamos esta
situação, agora no noturno, eu trabalho com projetos. Eu acho assim, todo professor tem o seu
conteúdo para cumprir, então eu não sei até que ponto a gente consegue introduzir esses
parâmetros, esta interdisciplinaridade. Eu acho que tudo no papel é muito bonito, só que nós
não sabemos exatamente o que fazer com esses PCN e como utilizá-los. Então... têm coisas que
são utopias, não tem como, não tem condições, não dá para você aplicar. Eu não consigo
entender para que, para que você vai preparar o aluno?” (Prof.19)
Um outro professor relatou que o seu planejamento não está baseado nos PCN,
pois na escola onde faz as reuniões no início do ano, não é obrigatória a utilização.
Apesar disso, por vontade própria e por ter gostado incluiu os temas transversais no
seu plano de trabalho. Comentou também que não tem acesso aos livros dos PCN
para pesquisar, pois não recebeu nenhum exemplar e na outra escola que trabalhava
não lhe forneceram os livros.
“Umas pessoas já me disseram que o planejamento aqui é baseado nos PCN, mas o meu
não porque como eu faço as reuniões de início do ano em outra escola lá o plano de ensino é
diferente. A única coisa que eu acrescentei no meu planejamento foram os temas transversais.
126
Então no meu caso se eu tivesse os livros dos PCN para pesquisar (...). (...) até pedi
emprestado uma vez para ver se eu tirava xerox dele, mas infelizmente também não sei o que
aconteceu, nunca saiu, nunca me davam, não sei... aí por fim das contas eu desisti de pedir.”
(Prof. 20)
Sobre o estudo sobre os PCN nas escolas, podemos observar que, dos vinte
professores entrevistados, cinco possuem opiniões bastante parecidas. Consideram
que os PCN foram pouco estudados pelos professores. Suas falas indicam que a
equipe técnico/pedagógica não proporciona mais este espaço de leituras e discussões.
“eu vi, mais os Parâmetros do Ensino Fundamental sempre foi feito um estudo muito
corrido e eu acho que deveria ser um trabalho feito com mais tempo, para explorar o máximo
que a gente poderia explorar (...) no HTPC, numa reunião pedagógica que tem muita coisa
para ser discutido e às vezes não dá tempo para fazer o estudo mais aprofundado (...) este
trabalho já foi feito algum tempo e nas últimas reuniões pedagógicas não se comentou mais.”
(Prof. 03)
“80% dos professores da Rede Pública não leram os parâmetros. Falam que leram mais
não leram (...); 20% que leu, leu no HTP aquela página, mas pensando em outras coisas. Já
foi, porque é desde 1996 (...) o professor tem aversão aos PCN, aversão, eu acho que ele ligou
os PCN a fase de não entendimento dele de nada, desestruturação completa do magistério que
tá ligada aos PCN e agora a LDB que vem com essa aprovação automática né, então o
professor ligou muito a esses dois fatos, ele tem aversão.” (Prof. 14)
“É, na verdade eu não tenho lá muito contato (...). É falado bastante (...) a Direção faz
questão de estar enfocando a proposta dos parâmetros, né. (...) a Direção trabalha bem
quanto a isso, sim. Eu acho que o trabalho em conjunto que escola faz é um trabalho muito
bom com relação aos Parâmetros. Eu acredito que nós estamos no caminho certo, porém,
ainda engatinhando (...). (...) precisamos estudar um pouco mais isso.” (Prof. 05)
Um professor não foi favorável aos estudos que foram feitos sobre os PCN nas
escolas. Acredita que isto não passou de uma imposição governamental.
“(...) e tem mais, a forma como os Parâmetros Curriculares foram estudados nas escolas é
uma forma falsa, determinista. Então, foi uma coisa para encher o saco de todo mundo porque
foi uma coisa que esse discurso da educação, ele está falido. O professor tem que buscar uma
127
forma, com jeito dele olhar para ele mesmo porque essas normas que vêem de cima para baixo
não funcionam.” (Prof. 06)
Um outro professor não teve nenhum contato com os PCN na escola onde a
pesquisa foi realizada.
“Aqui se eu te falar a verdade ninguém nunca nem falou sobre PCN (...). (...) aqui os PCN
não estão sendo estudados aqui não (...).” (Prof. 10)
Para um professor o estudo que teve sobre os PCN em outras escolas foi
bastante superficial. Atualmente na escola onde a pesquisa foi realizada, ninguém
estuda essa proposta de ensino.
“Meu contato, o estudo que eu tive dos parâmetros sempre foi muito vago. Eu já passei por
outras escolas e ninguém tá nem aí. Aqui também não tem estudos, ninguém fala disso, na
minha área pelo menos não tem nada de parâmetro. Você até está mexendo comigo que eu vou
pegar este PCN de novo.” (Prof. 15)
“Os parâmetros eu vi mais por conta do concurso que eu estudei (...). (...) mas não nos foi
passado nada, nenhum tipo de orientação. Aqui não tive nenhuma informação do PCN e
também nenhum tipo de trabalho em conjunto, apenas no início do ano quando nós fazemos o
planejamento anual normalmente é dado algum toque com relação aos PCN (...) Apesar de ter
estudado para o concurso, eu não tenho uma visão clara do assunto. Então eu acho que falta
uma orientação para os professores porque nós estamos diretamente ligados com isso (...).”
(Prof.16)
128
“ Eu tive um contato lá no S. (...). Estudei pro concurso. Aí eu li tudo da minha área (...).
(...) a gente estudava, cada um ficava com uma parte e tinha troca de experiências. Agora aqui
no Estado eu estudei para o concurso.. Aqui nesta escola, eu não tive nada em relação aos
parâmetros, eu não sei se eles já fizeram ou não alguma coisa, aqui ninguém me passou nada.
(...) nem comentar a respeito e muito menos eu não tive nenhuma orientação por parte da
coordenação, direção e nem entre os professores e nem na nossa área mesmo, eu não vejo.
Mas também faz pouco tempo que eu estou aqui, eu participei de poucos HTP (...).” (Prof. 17)
“(...) nunca ninguém me deu um curso para entendê-los, eu nunca tive nenhuma
oportunidade de participar de uma palestra que fosse esclarecedora. Eu li os livros, mas não
consegui absorver muitas coisas. Então nós temos pouco acesso a estes materiais. Eu, se não
me engano, eu peguei estes materiais na época do concurso e estudei para o concurso, mas eu
não me lembro de alguém ter me ensinado alguma coisa dos parâmetros não, mas na escola
que eu estava, eu não me lembro de ter ouvido falar nada disso não.” (Prof. 19)
“Para te dizer mais, não tem nenhum tipo de estudo que nem o ano passado não teve
nenhuma vez, nenhuma, nenhuma (...).” (Prof. 20)
e) Os PCN e o Construtivismo
“Os Parâmetros é em cima disso, do Construtivismo também porque ele fala... vamos dizer
assim, não tem que pôr a forma, não dar pronta pro aluno. Ele também descobre o porquê
daquilo, né.” (Prof. 11)
“(...) é muito dentro da realidade do aluno que se trabalha segundo os PCN. Então é uma
coisa interessante. Eu vejo os Parâmetros Curriculares Nacionais tendo como base o
Construtivismo (...).” (Prof. 13)
conflito no professor, pois colocaram no papel aquilo que ele já fazia. Uma minoria
apesar de não se declarar abertamente desfavorável aos PCN, acredita que por mais
que tenham divulgado que este documento é baseado nas teorias novas, eles não são
nenhuma novidade no ensino. Somente um professor não se lembrou do que vem a
ser os PCN e um não se referiu a este assunto.
Supomos que a maioria dos professores não é contra ou desfavorável aos PCN,
mas questionam a forma como eles foram inseridos e conduzidos nas escolas. Eles
têm uma noção do que vem a ser esta proposta de ensino, porém a conceituam de
maneira superficial.
Metade dos professores entrevistados teve um contato bastante superficial com
a proposta dos PCN quando foi implantada na escola. Segundo eles, a escola
apresentou o documento em reunião, fez uma leitura rápida, mandou ler em casa e
fazer o planejamento baseado neles. Na opinião de um professor que aprofundou
mais a questão, os PCN foram mostrados aos professores de qualquer jeito; não
houve discussões, o docente também não foi consultado se gostaria de introduzi-lo na
sua prática, ou ainda, se concordava com as idéias deste documento, simplesmente,
implantaram nas escolas.
Supomos que nem a equipe técnico/pedagógica estava muito preparada para
trabalhar e apresentar os PCN para os professores. Parece-nos que cumpriram uma
obrigação e deixaram posteriormente para o professor a continuidade do trabalho.
Supomos um descaso dos órgãos governamentais e da equipe da escola com as
mudanças que eles mesmos querem implantar no ensino, bem como um desrespeito
para com os professores e alunos.
Quanto ao estudo realizado na escola sobre os PCN, menos da metade dos
professores considera que os PCN são pouco estudados pelos professores e que a
equipe técnico/pedagógica não proporciona um espaço para que isso ocorra. Uma
minoria acredita que tem estudos e que a escola desenvolve bem este trabalho. Para
outro professor o estudo já aconteceu, agora o docente vai ter que basear seu trabalho
nos PCN. Uma minoria de professores nunca participou de nenhum estudo sobre os
PCN. Uma minoria dos professores só estudou os PCN para o concurso, e
atualmente, na escola onde a pesquisa foi realizada não ouviu nada a este respeito, a
não ser na época do planejamento. Um professor não é favorável aos estudos que
131
foram feitos nas escolas, estes foram superficiais e vagos. Um professor acredita que
o estudo sobre os PCN, além de perturbar e amolar o professor, não passou de uma
imposição governamental.
Supomos, novamente, um descaso ou falta de preparo da equipe
técnico/pedagógica em auxiliar os professores nos estudos e nos trabalhos com os
PCN, mas por outro lado, talvez por descrença, descrédito no ensino, ou na forma
como as mudanças são transmitidas e trabalhadas, os professores também não se
interessaram muito em estudar e em entender os PCN.
Quanto às contribuições dos PCN para o ensino e aprendizagem, a grande
maioria dos professores relatou que os PCN são utilizados para fazer seus
planejamentos no início do ano. Alguns destes professores ressaltaram que, além de
existir uma obrigatoriedade para utilizá-los no planejamento, é apenas neste
momento, que recebe da equipe técnico/pedagógica um enfoque maior. Um professor
ressaltou que uma coisa é inserir os PCN no planejamento, outra coisa é colocá-los
em prática. Parece que para utilizá-los precisaria de apoio e de condições. Um
docente comentou que não é fácil transformar esta proposta de ensino numa
estratégia de aula.
Somente um outro professor relatou que o seu planejamento não está baseado
nos PCN, pois na escola onde faz as reuniões no início do ano não é obrigatória a
utilização. Apesar disso, por vontade própria e por ter gostado incluiu os temas
transversais no seu plano de trabalho. Comentou também que não tem acesso aos
livros dos PCN para pesquisar, pois não recebeu nenhum exemplar e na outra escola
em que trabalhava não lhe forneceram os livros.
Uma minoria de professores ressaltou outras contribuições deles para o ensino
e aprendizagem, como por exemplo os projetos e a interdisciplinaridade. Mais uma
vez eles se referiram à importância dos PCN serem mais trabalhados e explorados
pela escola. Somente um professor comentou que os trabalhos que a escola faz,
baseados nos PCN, não são nenhuma novidade na prática pedagógica, pois já
desenvolviam estas atividades há muito tempo. Relatou que tem que ser utilizado no
planejamento, pois é o assunto do momento.
Uma minoria de professores relatou que utiliza muito pouco os PCN na prática
de sala de aula, pois além de não conseguir trabalhar da forma que está colocado nos
132
livros, a escola estadual não oferece condições para realizar as atividades. O trabalho
da interdisciplinaridade é pouco aplicada. Alguns destes professores comentaram que
os livros didáticos que adotam têm relação com os PCN.
Um outro professor não insere os PCN na sua prática de sala de aula por não
concordar com esta proposta. Utiliza algumas coisas, pois os livros adotados estão
baseados nos PCN. Considera também complicado trabalhar a interdisciplinaridade e
não sabe até que ponto o professor consegue introduzir este trabalho sem a devida
orientação. Para um outro professor a escola não está preparada para trabalhar com
os PCN.
Supomos que os PCN não estão orientando o trabalho dos docentes.
Aparentemente não tem a ver com a natureza deste documento e sim com a maneira
como é passado para o professor. Se os PCN têm como proposta dar subsídios,
parâmetros, então este documento se propõe a orientar a atividade docente, mas não é
isso que ocorre. Parece que a escola, além de não oferecer condições adequadas para
o desenvolvimento do mesmo, dá destaque aos PCN no planejamento porque o
professor precisa inseri-lo neste. Percebemos que os professores se sentem
pressionados em utilizar os PCN. Somente um professor lembrou que não existe
obrigatoriedade de usá-lo.
Quanto aos PCN e o Construtivismo, uma minoria de professores relatou que
os PCN têm como base o Construtivismo. Na opinião de um professor, este
documento se apropriou do Construtivismo e por mais que venha a ser mais uma
inovação no ensino, foram organizados de qualquer jeito, como se o professor não
percebesse. Um outro professor também comentou que os Parâmetros Curriculares
Nacionais estão baseados no Construtivismo e por mais que seja a inovação mais
recente no ensino, os docentes não foram preparados para se beneficiar destas
mudanças.
Supomos que os professores que se referiram a este assunto podem ter
estudado, feito leituras sobre o documento e conhecer pelo menos um pouco do
Construtivismo que foi divulgado e implantado nas escolas. Mas parece que não
possuem muito domínio do assunto.
Parece que a grande maioria dos professores por não ter se aprofundado nos
estudos sobre os PCN, não tem conhecimento que a fundamentação teórica deste
133
1.2.3. O Construtivismo
Nesta parte, através das falas dos professores iremos conhecer o que pensam a
respeito do Construtivismo. Além disso, saberemos como entraram em contato com a
teoria, os estudos, os cursos e o que têm a dizer sobre o Construtivismo e a prática
em sala de aula.
a) O Construtivismo
Dos vinte professores entrevistados, sete parecem ter uma visão superficial e
imprecisa sobre o Construtivismo. Para estes professores, o construtivismo significa
o aluno construir seu próprio conhecimento. Além disso, um destes professores
acrescentou que o professor também assume um novo papel perante o aluno. Um tem
dúvidas se o Construtivismo é bom. Outro professor acredita que precisaria ter
cautela com esta teoria. Podemos perceber isto através das seguintes falas:
“(...) no Construtivismo o aluno constrói seu conhecimento, o professor é o seu aliado que
dá condições que favorece o seu crescimento, dá condições para que ele trabalhe e resolva
problemas. No trabalho junto com os alunos, ele não é o detentor de conhecimento, mas ele
até aprende junto com os alunos, ele respeita opiniões, as diferenças individuais, opiniões
diferentes também. Então ele aprende a trabalhar com os alunos, favorece o crescimento dos
alunos.” (Prof. 03)
“Então eu não sei até que ponto que é bom né, me parece que o Construtivismo é a
criança, nada como você construir ali, você vê acontecer o aprendizado (...). (...) seria isso a
criança aprender a partir da construção né? ela construir o aprendizado.” (Prof. 10)
acredita que seja isto que estes autores queriam dizer. Este professor foi conhecer
melhor o Construtivismo quando fez Psicopedagogia e não nas escolas.
“(...) Construtivismo falava para a criança construir o seu conhecimento né, eu não acho
que é deixar a criança construir (...) o que Piaget passou né, Vygotsky também trabalha o
Construtivismo, a teoria deles, ela foi talvez, não sei se mal traduzida posso até te dizer porque
eu não sei se era bem isso que eles queriam dizer quando diziam que a criança tinha que
construir o seu conhecimento entendeu? (...). (...) mas a criança vai construir o seu
conhecimento de matemática baseado em que? Não foi dado um exemplo, não foi dado nada
para ela, então Construtivismo não é isso; não é soltar e deixar a criança fazer do jeito que
ela quer...(...) É por isso que eu te falo que eu não gosto muito do Construtivismo, não gosto
como ele foi aplicado, se ele foi aplicado. (...) eu acho que a teoria de Vygotsky e Piaget foi
mal interpretada, então eu não gosto, não do construtivismo (...) eu fui ver melhor o que era
Construtivismo quando eu fiz Psicopedagogia quando eu fui estudar Piaget, Vygotsky (...) eu
fui aprender Construtivismo lá.” (Prof. 01)
“ um aluno está escrevendo uma redação, a idéia do Construtivismo é que ele coloque toda
a sua idéia no papel, não importando se ele escreveu errado ou não, não importando se tem
concordância verbal ou se a gramática está certa e eu acho que não é por aí (...).
Construtivismo no meu ver é um desconstrus... Construtivismo eu acho que não é uma boa
para o ensino (...). O Construtivismo não é uma coisa tão atual, já vem com erros há muito
tempo. (...) e o que sei é muito pouco, eu acho que é uma coisa que não funciona, o que eu sei é
o que eu ouvi.” (Prof. 04)
“Eu não conheço o suficiente para dizer o quanto eu sou contra. (...) eu deveria me
enfronhar na Teoria para depois argumentar com aqueles que são a favor (...). Sei que manda
fazer: "não pode fazer isso, não pode fazer aquilo, não pode fazer aquilo"... o aluno tem que tá
preparado para enfrentar a vida, que tem que partir dos conhecimentos básicos, você tem que
dar todo o material ele mesmo vai construindo se saber e eu não aceitei isto, entendeu? O
ideal seria eu conhecer melhor o construtivismo aqui para ver o que ele tem de positivo.”
(Prof.08)
“(...) eu não sei explicar assim porque na verdade eu não estudei (...). (...) eu vejo dessa
forma que é uma forma mais livre de se aprender, não sei se está errado que se aprende em
cima dos seus próprios erros, tudo o que a pessoa, a criança faz é certo porque é assim que ela
vai aprendendo, mas eu não sei, eu não saberia te falar mais que isso, nossa!” (Prof. 17)
“(...) este construtivismo, eu não sei nada disso e agora onde eu estou?” (Prof.18)
“(...) mas era bonito falar que era Construtivista, estava na moda (...) acho que nem todos
têm claro o que que é isso não, o que é esse Construtivismo, acho que nem eu mesma que
passei por esta fase, desse oba-oba, por esta empolgação toda, nem nós mesmas fomos bem
preparadas para isso, tanto é que eu acho que se perdeu (...) o que ficou do Construtivismo e
que nós tínhamos que aproveitar tudo o que o aluno trouxesse para a sala de aula, trazer à
realidade do aluno para a sala de aula, trabalhar com essa realidade do aluno, valorizar tudo
o que ele fizesse a partir dali, daquele conhecimento que ele trouxesse trabalhar com o
aluno.” (Prof.12)
“(...) o aluno tem que ter mais liberdade nesta proposta, eu acho que o aluno tem mais
liberdade, o aluno não pode ter muita liberdade, o aluno tem que sentar e ficar quietinho
senão não vai fazer, não vai fazer.” (Prof.15)
Dos vinte professores entrevistados um, acredita que tanto na escola particular
como na estadual não ocorreu um trabalho baseado na proposta construtivista.
“Então eu cheguei a ver escolas que eu dei aula particular para um monte de crianças (...).
Falava que era Construtivista, a escola claro! (...) mas eu não vi isso (...) quando ele começou
a chegar na Escola Pública, eu acho que ele já chegou totalmente truncado, eu não acho que
houve um trabalho construtivista nas Escolas Públicas (...).” (Prof. 01)
“A minha filha não queria sair da escola, toda hora ela tinha alguma coisa para fazer, eles
fazem muitas outras coisas. Lá nesta escola que me disseram que é Construtivista eu via que
eles começam uma coisa e eles iam caminhando, sabe, eles iam caminhando, sabe, sempre
seguindo uma mesma meta. (...) pelo menos eles dizem né, que estão trabalhando o
Construtivismo (...). (...) eu conheço pela escola da minha filha. Mas aqui não tem desse
método de Construtivismo, eu acho que nem em Escola Estadual nenhuma eles implantaram
(...) mas eu acharia bom se aqui tivesse, se eles adotassem o Construtivismo (...).” (Prof. 09)
Para um outro professor parece que na escola estadual não tem nenhum
docente que trabalha com o Construtivismo e acredita que na escola particular por
137
mais que dizem que os professores trabalham com esta proposta, é o tradicional
mesmo que utilizam.
“Então eu acho que a escola falar que trabalha com o Construtivismo, eu acho meio difícil
a escola aqui estar trabalhando. Eu percebo até em algumas porque eu tenho sobrinhos,
primos aí em Escola Particular, dizem que é Construtivista, mas acaba caindo no
tradicional...Então eu vejo na Escola do meu filho elas procuram, falam que procuram
misturar, mas eu não vejo nada de Construtivismo, é o tradicional puro, puro. (...) então eu
acho que não sei se aqui tem alguém que trabalha Construtivismo não (...).” (Prof. 10)
“Se você fizer uma pesquisa aqui é um ou outro professor que não gosta da prática
construtivista, mas a maioria aqui se dá bem e consegue que é mais ou menos essa linha que
se trabalha. Poderia estar mais, não tá assim muito dentro do construtivismo. Se eu falar que a
gente aqui é uma escola que a gente tá aplicando o construtivismo como ele tem que ser
mesmo, não, não mas, já tivemos várias experiências e realmente dá muito certo.” (Prof. 11)
“O I. é Construtivismo... só que eles estavam ali no início (...) do ensino fundamental (...).
Eu achei melhor não abraçar este trabalho (...) porque eu sentia alguns pontos no I. quando a
escola começa mesmo, as dificuldades do método, por ser um método novo, a dificuldade que
a C. tinha para implantar aquele método. Eu tive duas experiências com o construtivismo, uma
no colégio I. e outra aqui no C. quando era Escola Padrão. A Escola Padrão ela trabalhou
com o construtivismo de primeira a quarta séria do ensino fundamental e a experiência que eu
tive foram com os alunos que chegaram até mim na quinta série, na sexta, sétima e oitava e o
que eu encontrei foram alunos muito incapacitados, mal alfabetizados, com pouco conteúdo
gramatical (...). Foi esta a realidade que eu encontrei em sala de aula, uma realidade difícil
para recuperar esses alunos e muito trabalho (...).” (Prof. 13)
“Então o Construtivismo é uma forma furada para a Escola Pública (...). Se eu hoje falasse
você vai lá no I. dar aula, você vai dar aula na proposta construtivista, eu vou ter que morrer
de ler e estudar. (...) também não é a minha realidade (...). (...) Construtivismo é uma
proposta que não dá certo dentro da escola publica.” (Prof. 14)
138
Um outro professor comentou que seus filhos estudam numa escola particular
que se denomina construtivista, mas acredita que o trabalho que esta realiza não é
muito diferente do que se faz na escola estadual. Parece duvidar também quando
falam que determinada escola é construtivista.
“(...) Hoje é construtivismo, construtivismo, mas eu não vejo tanto porque meus filhos
estão no colégio M. são construtivistas e não é tão diferente do que a gente faz (...). Então a
cada lugar isso daqui (apontou o cartão que estava escrito o construtivismo) eu não sei se eles
dão um nome e é realmente aquilo, não sei. Eu não sei se pode dizer que a escola é
construtivista (...).” (Prof. 15)
“Eu já tentei trabalhar o construtivismo em escola particular, com doze alunos em sala de
aula e eu também tive dificuldade e é por isso que eu acho que na escola pública é inviável. Na
escola particular eu já tive orientação para trabalhar o construtivismo, a linha deles era
construtivista, só que na prática nós não conseguimos trabalhar isso, a coordenação ditava
uma regra, os professores percebiam que o programa das salas era um outro e ficava uma
coisa um pouco embolada, não fluía não. Apesar que nós tínhamos um respaldo, nós podíamos
marcar horários paralelos para o aluno e seu professor percebesse que ele estava precisando
de uma orientação diferente, o aluno ia em outro período então dava para você trabalhar em
termos, mas na Escola Pública, nós não temos condições de fazer isso não.” (Prof. 16)
“Sabe eu ouvi falar do construtivismo dentro da escola, com certeza foi lá no S. sabe
dentro de escola se fala tanto, só que você não se aprofunda, não oferece nada para o
professor (...).” (Prof. 17)
Um professor relatou que atualmente trabalha numa escola particular que se diz
construtivista, mas que na verdade no Ciclo-II do ensino fundamental, fica mais na
tentativa de ser construtivista.
“O I. é um momento atual que eu já estava antes, né. É uma escola construtivista, foi
aonde... até quando eu li sua proposta, eu falei: "construtivismo!" é uma escola que tenta ser,
139
né. ela tem uma proposta até quarta série bem centrada nessa parte, mas, de quinta a oitava
série ela fica tentando ser... ainda não existe nada em que se apoie muito e em nenhuma
matéria eu acho. Tem sempre uma, pode dar uma visão global da coisa... . Então, não digo
que estou numa escola assim... construtivista não.” (Prof.18)
“A minha filha estudou em uma escola que trabalhavam com o construtivismo, mas é uma
escola particular e lá eu acho que funcionava, mas tinha também muitas falhas...eles faziam
toda parte prática, mas eu acho que eles não tinham muita teoria. Então eu tive bastante
contato com este lado, mas eu acho assim, eu até tirei ela desta escola porque eu acho que eles
também estavam se perdendo um pouco e eles não estavam muito preparados para isso, eles
acabaram dando liberdade demais e acabaram se perdendo dentro da instituição e a criança
começou a ficar muito largada. Agora nas questões da escola pública, no Estado, eu nunca
entrei em contato, apesar que antes ouvia-se falar alguma coisa, mais hoje quase nada (...).”
(Prof. 19)
“O Construtivismo você ia fazer um curso ali, um curso aqui, outro curso lá, ninguém
sentava para estudar a fundo para ver o que é e para aplicar de maneira certa, entendeu?”
(Prof. 01)
“A respeito do Construtivismo eu tive um curso três dias, eu achei ótimo o curso, mas a
gente sabe que na hora de pôr em prática principalmente em Educação Física e aí os próprios
professores que estão dando o curso não trabalham com o Construtivismo (...). Então mesmo
com os professores que vão trabalhar e que defendem o Construtivismo, chega na hora eles
falam, eles fazem como se fosse o professor de antigamente, nem eles estão assim tão
140
preparados para trabalharem com a gente, eles também não estão trabalhando com
Construtivismo (...). É foi, foi um curso de três dias na antiga Delegacia e foi o Estado quem
ofereceu. Eu achei ótimo porque tem sempre novidade, a gente sempre aprende, mas depois
disso já faz uns ... sete anos e mais, não tive mais nada que desse mais base para eu poder
trabalhar mais (...).” (Prof. 03)
“(...) mas nunca em nenhum momento alguém chegou e deu algum material, estudos, deu
nada, nunca deram nada.” (Prof. 19)
“(...) nós tínhamos os horários de... que hoje a gente chama de HTP, nós tínhamos também
esse horário que a gente reunia por área e nós também trabalhávamos a teoria, então
estudávamos a teoria, tudo e depois em outro horário, em outra reunião, a gente reunia por
área e montava os projetos, sabe, que teria que estar trabalhando. Então era embasado, tanto
na teoria quanto na prática, né. Então era feito esse estudo. Hoje não existe esse estudo e nem
parte para a parte prática porque não adianta a gente só ficar estudando teoria porque
quando a gente entra para dentro da sala de aula a realidade é outra.” (Prof. 11)
“Eu li a Emília Ferreiro.(...) quando nós vimos os textos, os textos sempre eram para
alunos, para a fase de alfabetização... então não tinha a ver comigo (...). (...) não vinha nem
livro, vinham textos que sempre eram para a fase de alfabetização (...).” (Prof. 13)
Um outro professor nunca fez curso sobre o Construtivismo, mas pela televisão
pediram para assistir a Emília Ferreiro e não apreciou muito o trabalho.
“Não teve curso, ninguém especializado para apresentar o construtivismo, a tal da... até
esqueci... a Emília Ferreiro, vi muito na televisão. Diziam: “assiste na televisão que tal dia vai
141
passar”. Quem é que vai assistir, eu vi uma ou outra, sabe aquela algazarra, quem conhece
isso, aquelas crianças nem estavam sentadas... isso não é estilo de aula para você dar o ano
inteiro, quem é que consegue trabalhar daquela forma? Então foi por este caminho que eu
fiquei conhecendo, já faz tempo.... eu lembro que eu fiz bastante curso de ciclo básico, mas
esse construtivismo não!” (Prof. 15)
“(...) alguns, alguns autores que a gente estuda que eu acho que são construtivistas, como
Wallon, principalmente. Eu acho que o meu primeiro contato com o construtivismo, eu acho
que eu estudei nem foi na faculdade e sim no magistério, eu estudei Piaget.” (Prof. 17)
“(...) mas no Estado eu não tive nada, um curso, um nada... então eu vi isso só na
faculdade se você me perguntar o nome de um pensador... bem capaz que eu não lembro, gente
que horror!” (Prof. 20)
“Eu tenho dificuldades para trabalhar com o Construtivismo é... eu acho que pelo fato de
não ter sido, eu não fui, eu não estudei com este método, então desconheço como trabalhar
mesmo (...). (...) você procura dar, uma maneira diferente de dar, mas esta maneira diferente
para mim não é o Construtivismo, você entendeu? (...) eu não sei, eu preciso que alguém me
ensine. (...) na minha maneira de pensar eu não trabalho com o Construtivismo porque
algumas coisas que eu faço, é que eu faço da minha cabeça (...) eu acho que ele é trabalhoso,
o Construtivismo, ele é trabalhoso... é bem mais fácil né você dar alguma coisa pronta né,
então eu acho que por isso mesmo que os professores acabam deixando de lado. Mas eu acho
que o fator mais importante mesmo, é a gente não ser preparada para isso.” (Prof.10)
“Foi esse Construtivismo, assim: "vamos construir"; estamos tentando construir, eles
colocam 40 alunos na sala, mas como? Construir o que? Só se for um cidadão que não tem
uma alfabetização (...). (...) mas essa construção ela é uma construção frágil porque nós
estamos construindo um pouco, ou quase nada, ou nós estamos construindo um cidadão que é
a do visual. Eu acho que a grande indagação é a seguinte: "construir o que com esse
Construtivismo e para quê?" o questionamento tem que ser feito: "nós estamos construindo o
quê com nossos alunos? para que?" (...). Foi um método bonito? Sim, mas construiu? O que é
que nós tamos construindo? Estamos? um menino com uma revista (...) e ele fez a leitura
daquela revista sobre armas e fez inclusive um comentário. (...) eu vou ficar enfrentando esse
menino para que? Eu até dei visto na tarefa, mas e daí?. (...) para você trabalhar o
Construtivismo eu teria que democratizar esse texto, essa revista dele, mostrar para a sala que
revista que era, mas eu não ousei fazer isso. Eu não tenho esse preparo, eu não tenho (...).”
(Prof. 06)
Para um outro professor é muito difícil trabalhar com uma proposta de ensino.
“(...) é muito difícil você trabalhar somente numa proposta. Você trabalha com um
pouquinho de Construtivismo, um pouquinho disso, uma outra proposta, além do
Construtivismo, a tradicional (...). Então acaba tendo uma mistura de propostas. Eu acho que
isso acontece, ou o que que acontece é isso: é, se alguma escola pega uma proposta e procura
trabalhar somente naquela proposta. Eu acredito que possa ter alguma falha (...).” (Prof. 05)
“(...) apenas eu sei que nós trabalhamos aqui com o Construtivismo, construir, o aluno tem
que construir a partir dos conhecimentos básicos todo o conhecimento posterior, mas isto tudo
é para mim.... a partir do professor.” (Prof. 08)
“(...) mas eu gostei muito desse estilo. Gostaria muito de tá trabalhando assim com o
construtivismo.” (Prof. 09)
143
“Agora do construtivismo, eu acho que é meio perigoso porque para se trabalhar com o
construtivismo teríamos que estar bem embasados (...) e nós não estamos. (...) eu acho que
para trabalhar com o construtivismo o professor tem que ter bastante conhecimento para
poder trabalhar realmente a prática, o que não acontece.” (Prof.19)
Dois outros professores relataram que a partir das experiências, estudos que
tiveram com o Construtivismo, numa época, na escola estadual, consideraram que
ainda trabalham um pouco com o Construtivismo na sua prática de sala de aula.
“(...) mas essa prática que eu desenvolvo na minha sala de aula tem muito a ver com o
Construtivismo. (...) são praticamente debate, teatro, jornal falado (...). Então tudo isso são
resquícios do Construtivismo, são coisas que ficaram e eu acho ótimo. Essa coisa deles
apresentarem, prepararem o trabalho, eles avaliarem este trabalho (...) os comentários que
eles fazem após essas apresentações são muito bons (...). Então assim tem uma série de
atividades que eu faço que é dessa linha Construtivista que eu acho super válido.” (Prof. 12)
“(...) me chegaram crianças tão perdidas (...) eu falei: "eu ainda prefiro trabalhar dentro
do tradicional" que eu sei e que me sinto segura e sei que vou deixá-los seguros também do
que tê-los deste jeito não sabendo trabalhar direito com o construtivismo, não tendo muita,
muita segurança (...) então foi onde eu optei por, por não abraçar o construtivismo (...) com
certeza se eu acreditasse eu seria uma ótima profissional (...).” (Prof. 13)
“(...) Você pode criar estratégias de aula que se aproxime da proposta construtivista (...).
Só que aí eu venho com outra coisa pra você, o professor sempre trabalhou mais ou menos
essa forma construtivista. Só que passou para o papel virou rolo. O professor sempre xerocou
um livro, sempre deu uma história em quadrinhos, sempre trouxe cartazes (...). Você colocou
esse maldito nome, não gosto desse nome, construtivismo (...).” (Prof. 14)
144
Para um outro professor trabalhar com o Construtivismo é não dar nada pronto;
é não corrigir, é trabalhar o concreto. Mas esta situação não é tão simples assim.
Considera também que o Construtivismo é mais para a alfabetização.
“(...) tipo o construtivismo que eu usaria na minha aula seria...(...) não dou nada pronto
(...). Eu acho o construtivismo é mais para a alfabetização, agora pesquisa... a gente faz isso
com outro nome só que agora mudou o nome para construtivismo (...) o construtivismo que
nós estamos falando, o aluno vai manusear a multiplicação, a divisão, mas se você não souber
a tabuada como o aluno vai saber? Toda hora que ele for fazer uma conta, ele vai ficar
tateando aquilo? O aluno tem que ver o concreto, mas no fundo falam que não é para corrigir,
não é para decorar, mas tem que decorar (...).” (Prof.15)
“(...) eu acho que é uma idéia fantástica, mas eu acho que não seje um processo que dê
para você fazer como professor sozinho em uma sala de aula, eu acho que pelo menos
precisaria ter uns 2 ou 3 profissionais trabalhando junto porque como o aluno acaba sendo
atendido individualmente, então eles têm necessidades diferentes (...) eu não consigo ver o
construtivismo em uma escola que não esteja preparada para usá-lo e isto em qualquer escola,
não me refiro apenas a rede pública, uma escola qualquer eu não consigo enxergar. Eu acho
que o construtivismo tem que ser um trabalho coletivo, eu não consigo ver o professor e a
classe, eu acho que tem que ser um trabalho ainda que profissional tem que ter um trabalho
com assistência em sala porque é um trabalho muito individualizado eu não sei, eu acho que
seria uma coisa válida, mas eu não consigo ver isso implantado nem em sonho.” (Prof. 16)
“Eu acho que a gente trabalha de alguma forma o construtivismo (...). Mas eu acho que
construtivismo, aquele construtivismo mesmo pelo que eu ouço falar, sem estudar, sem nada, o
que eu percebo, não é que ele não seja bem aceito, mas não tem um bom resultado, muita
liberdade, tudo que fazia era certo.” (Prof.17)
“(...) eu acho que o Construtivismo era muito bonito, a teoria muito bonita, mas ela foi
aplicada tudo errada. “Ah! não funciona construtivismo" não funciona, mas como não
funciona? Você tinha teoria certa, você sabia exatamente como é que tinha que ser feito, como
que ele tinha que ser aplicado, as pessoas foram preparadas para trabalhar desse jeito, para
trabalhar com o Construtivismo, será que foram? eu acho que não. (...) eu acho que ele foi mal
interpretado e não aplicado como deveria (...). (...) pegaram uma teoria jogaram dentro da
Escola Pública ou jogaram dentro da escola Particular. (...) eu não gosto da maneira que ele
foi aplicado, sem embasamento teórico, sem estudar a teoria a fundo (...). (...) então o
Construtivismo foi modismo, "todo mundo tem que ser construtivista", mas nem a metade sabia
o que era Construtivismo.” (Prof.01)
“(...) eu acho que nós não estávamos preparados ou não fomos preparados para trabalhar,
não sou contra o Construtivismo, acho que é falta de preparo nosso mesmo, falta de
conhecimento e tanto é que ouve essa empolgação toda, mas por essa falta de preparo, por
esta falta de conhecimento, eu acho que ficou só nessa fase da empolgação (...). Tudo foi se
justificando pelo Construtivismo... as pessoas mal sabendo o que era isso e o despreparo que
eu te falei mesmo da gente, meu (...)mesmo pessoas dessa época eu acho que não foram
preparadas como deveriam porque senão não teria se perdido tanto (...). Como eu te falei eu
não tenho nada contra ai o método, pelo contrário, eu acho que nós não fomos mesmo
preparados (...).” (Prof.12)
“ (...) ele não sabe, ele não foi formado para trabalhar no Construtivismo (...) as escolas
não prepararam os professores... simplesmente jogaram uma teoria que foi confundida com
método.” (Prof. 14)
um bom resultado, pois além de oferecer muita liberdade para o aluno, tudo que
fazia era correto.
Supomos que os professores não compreendem o Construtivismo que chegou
às escolas. O que foi implantado e passado para eles sobre este assunto mais
confundiu do que esclareceu ou auxiliou seu trabalho.
Quanto à implantação do Construtivismo nas Escolas, uma minoria de
professores comentou sobre o assunto. Ressaltaram questões como a falta de
preparo do professor, falta de orientações e que a teoria, além de ter sido mal
interpretada, mal aplicada, se transformou num modismo e foi confundida com um
método de ensino. Parece-nos ser realmente muito difícil inserir alguma mudança
no ensino nestas condições.
Dos relatos dos vinte professores entrevistados, supomos que, cinco não
compreendem e muito menos aceitam as mudanças que acontecem no Ensino, mas
anseiam por modificações melhores. Queixam-se da falta de reprovação; do aluno
não comparecer a recuperação e passar e o professor se sente desvalorizado perante
os alunos; como avaliar adequadamente com classes superlotadas, além disso, o
Governo quer fazer contenção de gastos e mantém o aluno por menos tempo na
escola sem se preocupar com uma formação adequada e de qualidade. Dois destes
professores salientaram que a educação vai virar um caos e que o ensino caminha
para o pior, sem perspectivas de melhora. Necessitam de mais informações sobre as
mudanças que ocorrem no ensino e de apoio para superarem os problemas da
realidade escolar.
151
“(...) Às vezes ele é convocado para recuperação e ele não vem, não comparece a
recuperação, ele não é reprovado, não sei, não consigo aceitar isso. Se o aluno está defasado
mesmo no conteúdo ele precisa ser reprovado, eu acho que deveria ser mais coerente (...). (...)
acho que daqui para frente vai ficar pior (...). (...) eu sou a favor do ensino de antigamente, do
antigo do jeito que era, cobrava tudo e se o aluno não conseguisse, se ele não se recuperasse
naquele prazo de janeiro ele teria que fazer de novo (...). Hoje não, o aluno ficou de
recuperação (...) ele não comparece e é aprovado e a gente fica sem moral também, eles falam
na nossa cara, o aluno fala assim: “ mas fulano não compareceu eu vim na recuperação não
fiz nada e passei, fulano não compareceu e também passou”(...).” (Prof.02)
“(...) você viu que um dia você já teve as suas compensações, sabe e agora são muito
poucas as compensações que você tem para começar do salário até... (...) o Governo se propôs
a pagar oito anos de escola para o aluno, só! Não é? (...). Eles não querem o aluno repetente.
Então ele quer mesmo que o aluno saiba o básico, com o resto não interessa. Aí, ele o resto,
ele vai jogar o aluno pro mundo, sabe. Então eu acho que tinha que existir assim, um meio
termo entre isso, sabe entre o passar de ano e o não passar porque senão, nós estamos
caminhando para o caos da educação. A educação vai virar um caos.” (Prof.09)
“(...) tornar o aluno crítico. O aluno nunca será crítico porque o professor não é crítico.
Então o que não volta mais, segundo dizem a reprovação acabou, essa divisão por ciclos vai
ser mantida, então tudo isso que a gente tá vendo no ensino é daqui para o pior, não tem
perspectiva de melhora porque a avaliação da maneira como eles querem, para começar ela
não poderia nunca ser feita em salas superlotadas (...). (...) o Governo pode criar a
nomenclatura que for, pode criar o projeto que for... se não há adesão do professorado, não
vira. Então tudo o que vem da Secretaria da Educação vem errado, vem torto, o professor faz
tudo danado (...) as mais novas inovações no momento, é sala ambiente (...) aprovação
automática, ensino por ciclos (...). (...) a inovação ela pede somente uma coisa, ela pede uma
estratégia diferenciada (...). (...) se o professor não acredita e não domina, não resolve pra
nada, pra nada.” (Prof.14)
“Precisamos de uma reformulação total. (...) aumento de salário, todos nós estamos
precisando urgente, com sete anos que nós não temos aumento de salário, com isto nós
estamos perdendo o estímulo como eu também e é muito desagradável a gente se sentir
desvalorizada até nessa parte financeira (...).” (Prof. 04)
“(...) A escola precisa ter mais autonomia com relação à impunidade. Essa impunidade
precisam acabar para ter autoridade (...). Uma outra coisa boa que eu acho interessante na
escola é... os livros oferecidos pelo Governo e eu acho isso muito bom é a ajuda nos
problemas de casa, né, na parte financeira de não tá comprando o livro todo o ano (...).”
(Prof. 05)
152
“(...) o desejo de mudança que eu coloco é mudar a situação porque não dá mais para você
trabalhar dessa forma porque eu não sei até quando que eu vou ter forças físicas que eu vou
ter esse pulso firme (...). (...) só que ela faz aquilo que ela acredita, né e que ela acha que dá
resultado no momento (...). (...) Nós temos que resgatar um pouco do tradicional (...)
inovações, nós temos que resgatar a alfabetização. Esse aluno, ele tem que ser alfabetizado.
Ele tem que aprender a ler (...) eles não escrevem ...um aluno de 6ª série (...). (...) porque nós
não temos que buscar nada. Nós temos que resgatar, nós temos que buscar, de novo não tem
nada. (...) O que tem de novo é a violência, valores deturpados (...).” (Prof. 06)
Por outro lado, um professor relatou que a educação precisava ser modificada,
pois não dava mais para ficar no tradicional. Mas por outro lado, entra em
contradição, quando solicita que o aluno seja avaliado e reprovado caso não domine
a matéria.
“Eu acho assim que a educação, a forma de ensinar, tudo bem tinha que mudar, não
poderia mais ficar naquela forma tradicional, tem que inovar (...) propor novas experiências,
novas atividades não pode ficar no tradicional que era antes, aquela decoreba, estudar
questionários que iam cair na prova. (...) só que tem que ter uma avaliação, eu acredito que
tenha que ter uma avaliação, tem que medir, tem que medir o conhecimento deste aluno. Se ele
não sabe tem que reprovar mesmo.” (Prof. 17)
“(...) o Estado sempre tem gente trabalhando para isso... para que haja uma melhora no
ensino, tudo isso para que os alunos tenham uma boa base, mas eu acho que o Governo aplica
muito pouco dinheiro na Educação e falta reciclagem, uma reciclagem bem prática para os
professores também, eu acho que falta um pouco isso. (...) falta também curso de reciclagem.
Então eu acho isso para funcionar melhor e a gente vai percebendo que falta uma série de
coisas para desenvolver um bom trabalho, para a gente aplicar, muitos alunos na classe, falta
de material, a falta de reciclagem, então isso aí são as dificuldades que a gente encontra para
fazer mudança na Educação.” (Prof.03)
“(...) são as melhores mudanças que eu conheço que eu já estudei são as de hoje, apesar
dos professores falarem mal da progressão continuada (...) eu acho que se a gente conhecer a
fundo como é a estrutura desse Ensino Atual ele tem condição de se tornar o melhor até agora.
(...) senão vai ficar uma coisa solta e jogada como foi durante muito tempo (...). Eu acho que
está melhor, do que eu já trabalhei e do que eu estudo, já vi como aconteceu. (...) eu vou usar o
exemplo da Progressão Continuada se ela for mal interpretada, as Inovações do Ensino que
estão no Parâmetros que está na nova LDB, se ela for mal interpretada ela não vai virar. Eu
acho que você tem que ter conhecimento da teoria desse novo ensino (...) você tem que
conhecer tudo isso para saber o que você está fazendo (...). (...) as Inovações do Ensino que
está acontecendo agora, toda essa parte teórica não pode virar um construtivismo e sendo
feita, feita, feita sem parar para estudar, entendeu? tem que estudar o que tem que ser feito e
aplicar na sua realidade. Agora não pode ser moda esse novo ensino, esse Ensino Atual não
pode virar moda, igual foi o Construtivismo (...).” (Prof.01)
Um outro professor pede ajuda para dar suas aulas. Acredita que o ensino
precisa ser reestruturado e preparar melhor o jovem. É favorável as inovações no
ensino, mas não sabe se irão trazer bons resultados.
“ (...) acima da Direção (...) que viesse um apoio maior para que a gente pudesse conduzir
melhor a matéria (...). Eu tenho uma opinião geral o ensino no país tem que ser reestruturado,
ele tem que ser mais eficiente, preparar melhor o jovem. A minha opinião é que deveria haver
uma reestruturação melhor no ensino, no país. As inovações do Ensino Atual são bem
recebidas, porém quais serão suas conseqüências para o jovem de amanhã no Ensino
Superior, na Escola Profissionalizante, no Mercado de Trabalho. (...) Agora essas Inovações
do Ensino Atual mesmo colocadas em prática darão bons frutos amanhã? Vamos esperar para
ver né?... ver o que acontece.” (Prof.07)
Para outro professor, as mudanças não podem vir para negar toda a experiência
construída no cotidiano da escola. As teorias, as práticas escolares já existentes na
educação não serviram mais pra nada quando o Construtivismo foi inserido nas
escolas, como se elas não tivessem sido boas. Na sua opinião ainda, não adianta
quererem que o professor ponha em prática as mudanças no ensino, se realmente não
pensarem no contexto escolar com um todo. É necessário que o professor reflita
sobre as mudanças que são inseridas na escola.
“(...) mas não sou moderninha e eu não sou dessas que aceitam qualquer teoria e já aplico
definitivamente, não!. (...) inclusive dentro da Faculdade este Estruturalismo,
Construtivi...ismo, tototo... todos os ismos raramente existem, há coisas positivas, mas não
para anular aquilo que já toda a vida, toda a experiência foi feita, aprovada e foi positiva (...)
mas eu não abraço nada que me dão sem sentar e sem pensar (...) "ah! acabou Construtivismo,
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vamos jogar tudo fora e vamos começar com outra coisa"(...). O Construtivismo eles fizeram
isso (...) esquecemos tudo o que aprendemos nas teorias passadas, vamos só fazer o
Construtivismo. (...) eu só sei, eu só sinto que só se fala em Construtivismo, Construtivismo
que eu escuto. (...) não adianta vir com Construtivismo, com Parâmetros Curriculares, com
Inovações, tudo isso, se não tem um lugar que você possa aplicar, sem ver a escola no
conjunto, os professores (...) se você não conseguir aplicar, não adianta fazer e é o que nós
estamos sentindo. ” (Prof. 08)
“(...) uma dessas resoluções que aí saem como se aquilo fosse a última novidade... “não,
agora as coisas vão ser diferentes”. Sabe... puxa vida, já se trabalhava com isso há muito
tempo, já se falava disso há tanto tempo, o que é que tem de novo? (...) mas você fala, nossa
isso já era feito não tem novidade nisso. Então eu fico meio espantada. Como eu disse
quando eu li aqui Inovações do Ensino Atual veio na minha cabeça os Parâmetros
Curriculares Nacionais porque é o assunto do momento porque é isto que se discute porque
é isso que tem que permear o seu plano de trabalho, mas eu não acho que isso seja novidade
(...). Então eu coloquei que se há Inovações no Ensino Atual eu ainda desconheço (...) se tem
alguma inovação eu estou por fora, não sei o que é, pode até ter, eu não estou sabendo, eu
coloquei o que que há de novo? Progressão continuada que também não acho grande
novidade nisso porque aqui na escola nós tínhamos na época que eu trabalhava foi uma
invenção nossa um tal de conceito único. (...) esse esquema atual para mim ele é
ultrapassadíssimo (...) eu não acho que tenham inovações, se tiver eu preciso ser
informada.” (Prof. 12)
Um professor relatou que por mais que as pessoas pedem mudanças no ensino,
as situações não melhoram.
“(...) todo mundo não tem muita criatividade. Todo mundo quer que mude o ensino, mas
mudar por onde, massificou com o computador, ficou pior, na minha opinião ficou pior (...).”
(Prof.15)
deste processo querem estas mudanças. Os professores não são preparados para as
transformações no ensino.
“(...) então precisamos realmente de certos parâmetros porque você colocar estas
inovações e até que ponto elas são tão novas assim também é uma coisa para se pensar, será
que as pessoas estão querendo isso? estão preparadas para isso? Será que eu estou querendo
tanto quanto, eu estou aqui me questionando, este novo será que não vai chocar? As inovações
estão pegando as pessoas de calças curtas, o pessoal está pelado, por falta de formação do
professor, a formação da pessoa, do ser humano.” (Prof.18)
“Eu não sei quais são as inovações do ensino atual. Quais foram as que tiveram? Eu acho
que viraram tudo de ponta-cabeça. Têm pessoas que chegam para nós e falam assim: “você
não pode comparar o ensino da sua época com o ensino de hoje porque é diferente, os alunos
são diferentes”. Mas eu não sei... eu não consigo entender o que aconteceu na escola, eu estou
perdidinha, eu não sei se eu estou, eu acho que eu devo estar errada. Se o sistema é esse eu
não consigo entender muito bem o que está acontecendo, eu acho que o erro está em mim (...).
Agora inovações eu não sei te falar, devem ter havido muitas, mas eu não sei se elas
trouxeram benefícios, na minha opinião não trouxeram nenhum.” (Prof. 19)
“As inovações para mim foram ótimas, tudo tem seus pontos positivos e negativos. Eu
achei muito boa essa liberdade, um pouco mais de liberdade para ensinar o aluno. Então hoje
já está mais aberto, assim no sentido ele pode....você pode fazer vários tipos de prova, é mapa,
é o caderno, são atividades que eles trazem de casa, é tanta coisa que eles se envolvem que
não é mais só aquela prova horrorosa que você tremia junto com os alunos, eu chegava a ficar
suada junto com os alunos, de nervoso, de ficar vendo eles fazendo aquela prova, eu quem
ficava nervosa de ver o sofrimento deles. As crianças para comprarem o livro era um
sacrifício, tinha criança que conseguia comprar o livro no meio do ano, hoje eles dão o livro
para a criança (...). (...) a merenda que era péssima, hoje está melhor.....” (Prof. 20)
b) A Progressão Continuada
“(...) quando não tinha essa Progressão Continuada era melhor o aluno tinha mais
interesse, gostava de aprender (...). Eu acho que com esta Progressão Continuada, faz uns três
anos a coisa degringolou tudo a partir daí a coisa piorou (...). A Progressão Continuada (...)
antes dela era melhor, percebo que esta progressão continuada ela trouxe muitas mudanças
no sistema educacional, mas ela trouxe uma grande desestruturação em relação à
aprendizagem dos alunos. Eu achei porque o aluno ele vê que não tem assim aquela
reprovação, não tem muita cobrança (...). (...) então eu acho que progressão continuada aí
não foi uma coisa boa, eu não eu achei, trouxe um grande prejuízo para os alunos (...). (...) a
progressão trouxe mudanças para pior (...) nada reprova mais (...) eu sou totalmente contra
mesmo (...).” (Prof.02)
“(...) e a escola com essa promoção automática, esse aluno vai chegar até o colegial. Eles
estão pegando esse certificado do Ensino Médio sem saber, sem saber.... e o que é que tem de
inovação?.” (Prof.06)
“Então a aprovação automática foi um desânimo para o professor, foi um desânimo para o
aluno. O aluno passa o ano inteiro sem vir à escola, chega em janeiro ele freqüenta, ele é
aprovado.” (Prof.14)
“Eu acho um horror essa progressão (...) até que me provem ao contrário, eu acho que não
está funcionando. A gente que está em contato direto com o aluno percebe que não está
funcionando em nada está ajudando o aluno. O problema não vai ficar na escola, o problema
vai ser lá fora quando eles forem enfrentarem o mercado de trabalho (...). Então eu não
concordo, não concordo, eu acho que o nível de disciplina piorou muito porque eles sabem
que eles passam, tem aluno que mal vem o ano todo e chega em janeiro e vem um dia e passa,
passa, quer dizer que moral que nós professores temos? que moral hoje a escola tem? Eu não
sei o que deveria acontecer para mudar isso.... a coisa tá assim a gente pergunta aquele aluno
baba? Não! então ele passa. Eu até hoje não me convenço com essa questão da progressão
(...).” (Prof. 17)
“(...) a progressão continuada... eu acho que foi um dos fatores que contribuíram para
fazer com que a educação chegasse aonde está porque eu acho que a questão de não se ter
notas o professor não tem o que cobrar do aluno, o que você vai cobrar do aluno? Não que eu
acho que a nota seja uma ameaça para o aluno, mas é um objetivo que ele tinha para atingir,
ele fazia as coisas dele, estudava porque... a grande maioria gostava de ter uma nota boa,
agora você não tem nota. O aluno pode ter faltas, ele sabe até quantas ele pode ter por ano e
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se ele não estourar em faltas ele passa, mesmo ficando o ano todo sem fazer nada e o que é
pior é que eles falam tudo isso para nós, eles falam assim: “eu fico sem fazer nada e depois
venho aqui em janeiro e passo como todo mundo, então eu tenho que aproveitar”. Eles falam
desta forma. Então eles aproveitam o ano inteiro fazendo bagunça e aí em janeiro eles vêm, às
vezes nem vêm e passam.” (Prof.19)
“Então quando fala em Progressão Continuada todo mundo fica assustado e acha que é ir
passando, passando e passando e não é exatamente isso. Então por isso que eu falo conhecer
melhor para ser aplicado de maneira certa. (...) O correto da Progressão Continuada que está
nos Parâmetros é existir realmente a Progressão Continuada, o aluno não ser retido, mas ele
não ser retido porque ele chegou a competência que ele precisava para passar, só que para
chegar nessa competência ele teve um respaldo de uma recuperação paralela, de um reforço
(...) para que no final do ano ele seja promovido sim, mas promovido com conteúdo, com
conhecimento de causa e não simplesmente promovido por promovido porque ele não pode
ficar retido e essa recuperação paralela não está acontecendo.” (Prof. 01)
“(...) essa Progressão Continuada que eu não sei direito o que é isso, eu vou pegar agora
porque quando eu estava aqui não havia ainda e lá aonde eu trabalhava muito menos (...)
enfim eu posso discordar ou concordar, mais eu ainda não vivenciei isto na prática (...). (...)
eu não senti isso na pele ainda, como eu falei eu não vivenciei isso na prática vou sentir esse
ano, mas eu vejo que os professores estão descontentes, enfim um recurso aí que não agradou,
agradou os alunos, mas os professores não (...).” (Prof.12)
“(...) a progressão continuada é de certa forma ela já existia né, mas acontece que nem
todos os profissionais assumiam a questão de, de passar o aluno (...).” (Prof.13)
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“(...) esse negócio de passar, esse negócio de progressão sempre existiu... só que era
levado muito mais a sério (...). Então eles têm que ver a hora que eles fazem as coisas essa
promoção automática que foi um lixo, para mim foi a pior coisa porque você tem aluno ali...
hoje está muito difícil falar isso porque nesta escola aqui não tem tanta diferença, mas têm
alunos que está na sexta ou sétima série e não sabe escrever nada, em determinadas escolas, o
aluno tem dificuldades para tudo (...) A promoção automática é empurrar o aluno, é passar de
ano. Gente como é que pode um aluno que não tem base nenhuma passar.” (Prof.15)
“(...) agora essa progressão que tanto comentam.... mas até a oitava série tem aluno que
vai muito mal o ano inteiro e chega no final do ano ele passa... eu acho o seguinte o limite dele
foi aquele que não adianta porque o limite dele foi aquele e ele vai sempre ser assim
limitado.... (...) então se ele estava na sala junto com o outro, ele não aprendeu porque ele não
quis ou porque ele é uma pessoa limitada...então neste sentido quanto as avaliações, essa
progressão continuada que estão caindo tanto em cima e se esse aluno for sempre limitado? e
se não conseguir chegar? de repente ele pode até ultrapassar as estruturas mentais dele para
frente e ainda fazer um cursinho aí e chegar primeiro que o outro, mas talvez ele vai se
conscientizar lá na frente, não naquele momento, às vezes não é o momento....” (Prof. 20)
“(...) a gente já tentou algumas mudanças como a sala ambiente, então muda a disposição
de carteiras, tenta tornar a sala, uma sala mais com a cara daquela matéria, mas eu acho que
não é suficiente (...). Informatização, os computadores são coisas novas para a Escola porque
a escola não tem, mas isso não é inovação (...) computador hoje (...) é um material necessário,
é um recurso necessário na sala de aula e tem tido problemas porque professor muitas vezes
não sabe utilizar, não está preparado (...) mas eu não tenho essa prática ainda de preparar, de
trazer uma aula, trazer os alunos lá para o computador (...).” (Prof. 12)
“(...) alunos em sala de informática, aqui raras são, sabe quando você leva aluno para sala
de informática? Numa sexta feira, quinta foi feriado, sexta tem aula vem cinco, aí você vai (...).
A sala ambiente é uma poluição visual, aquele tanto de varal que fazem (...). Teve uma
professora que na sala ambiente ela chegou a colar o Sítio do Pica - Pau Amarelo inteiro no
teto da sala. (...) a prática depende de várias coisas (...). Também depende do ambiente físico.
Eu quero usar a sala de vídeo. Só que no dia, se eu não marcar com uma semana de
antecedência eu não consigo. Então eu tenho que planejar aquilo, porque? Porque tem uns
159
quatro ou cinco que querem usar também e só tem uma sala de vídeo para dois mil alunos né.
Como no caso do computador que eu te disse são cinco computadores para dois mil alunos. ”
(Prof. 14)
Um professor não é a favor das salas ambientes. No seu ponto de vista, não vê
finalidade alguma destas salas, pois além dos alunos jogarem os trabalhos expostos
uns nos outros, tumultuam na hora que vão trocar de salas.
“(...) sala ambiente, o que é que você vai fazer com uma sala de português, ciências, você
vai encher de coisas? Os trabalhos que nós fazemos e que ficam expostos nas salas para que
serve? Para aluno depois jogar um no outro depois. Tipo feira de ciências, isso tinha na minha
época, hoje mudou para outros nomes, é um projeto, entendeu?(...) eu também não sou muito a
favor dessa sala ambiente, essa circulação de aluno para mudar de sala, uma bagunça.”
(Prof. 15)
“Então as inovações eu tenho curtido bastante também quanto aos computadores eu acho
assim os alunos estão bem melhores do que eu nos computadores, mas eu falo para eles depois
de terminarem a pesquisa eu quero uma conclusão deles do que encontraram, do que leu (...).
Então o computador foi muito bom. Uma coisa assim que eu gostei pra caramba são assim os
filmes, para estar discutindo, despertando, que pena que toda sala não tem vídeo, quer dizer
você depende, tem que marcar bem antes.... tem dessas coisas.. essas coisas a gente não tinha
de espécie alguma, a escola era muito pobre (...) eu acho que ainda não está do jeito que a
gente quer, mas era muito paupérrima, era só o giz mesmo.” (Prof. 20)
d) A Escola Padrão
“(...) eu tenho acompanhado toda essa mudança desde uns tempos atrás que nós passamos
por algumas reformas no Ensino com a Escola Padrão, depois com as Leis de Diretrizes, os
Parâmetros Curriculares (...) isso aqui dentro de uma mesma escola e nós tivemos muitos
colegas que quando acabou a Escola Padrão teve aquela mudança no Ensino (...) houve um
rompimento, muitos colegas tiveram que mudar tal e o quadro docente assim quebrou era um
trabalho muito importante que estava sendo feito tinham conseguido várias coisas (...). (...) e
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agora não tem mais a Escola Padrão e não tem mais aquele horário. Hoje tem o HTP,
mas é mais para estudo, mais assim para texto, não para você estar preparando o material
para aula. E... essas aulas aí, tudo você tem que preparar antes (...).” (Prof.11)
“(...) essa Escola foi a primeira a entrar nessa Escola Padrão e aí nós tínhamos uma carga
horária muito legal, apenas 24 horas aula (...) eu trabalhava apenas um período aqui (...) e eu
fiquei só aqui nessa escola (...) havia uma equipe de professores nessa escola e que ficaram
aqui por alguns anos (...) então foi um período muito bom para escola (...) era sempre aquela
equipe. Então a gente já falava a mesma língua, os projetos que aqui na escola a gente já...
tinha entrosamento maior, facilitava muito, uma época muito feliz (...) Escola Padrão (...) uma
equipe de professores excelentes. Então foi um período assim maravilhoso.” (Prof. 12)
“Essas inovações demonstram sempre a busca do Governo para uma melhoria, mas na
base da economia, a melhor experiência que eu vi foi sem dúvida a Escola Padrão que por
sinal ocorreu na época do Fleury (...) mas ele para a educação foi melhor que o Covas, onde
todos depositavam a maior confiança. A Escola Padrão foi a que mais mostrou, a gente via, o
investimento ali dentro (...) o professor trabalhava muito menos em horas aulas, trabalhava
muito mais em sala de aula, o professor tinha muito mais tempo, muito diferente do que ocorre
agora.” (Prof. 14)
Um outro professor, apesar de não ter trabalhado numa Escola Padrão e não ter
tido muitas informações sobre esta fase acredita ter sido um período de grandes
vantagens para os professores. Dezesseis professores não se referiram a este assunto.
“Ah! Teve a Escola Padrão não deu certo, apesar de eu ter trabalhado na escola pública
nesta época eu não cheguei a pegar uma escola que fosse padrão, eu queria ter trabalhado...
mas a Escola Padrão não deu certo, eles tinham muito mais regalias que as outras escolas,
apesar que eu não sei muito bem o que aconteceu porque eu saí, parei de trabalhar e neste
meio tempo as escolas padrões terminaram.” (Prof. 19)
classes superlotadas; a contenção de gastos do governo, por isso o aluno fica menos
tempo na escola; a reformulação total no ensino, a melhor preparação do jovem; o
aumento salarial; o pedido de ajuda para dar as aulas; as dúvidas sobre as inovações
no ensino; as experiências construídas são negadas com a vinda das mudanças; a
negação de todas as teorias e as práticas escolares já existentes na educação com a
inserção do Construtivismo nas escolas; o contexto escolar não é levado em conta
com a inserção das mudanças; o professor não reflete as inovações; parece que
ninguém sabe quais foram os benefícios que as mudanças trouxeram para a escola e,
por mais que as pessoas peçam mudanças no ensino, as situações não melhoram. Na
opinião de um destes professores o ensino caminha para o pior, sem perspectivas de
melhoras. Para outro, a educação vai virar um caos e outro tem dúvidas se as
inovações no ensino trarão bons resultados.
Alguns professores se declararam insatisfeitos, perdidos e resistentes às
mudanças no ensino. Outros têm dúvidas se estas trouxeram alguma novidade ou
benefícios para o âmbito escolar. Destes, um quer retornar ao ensino tradicional e
alfabetizar os alunos que estão no Ciclo-II do ensino fundamental. Não sabe até
quando vai agüentar se a situação do ensino não melhorar. Na opinião de um
professor, embora não dê mais para ficar no tradicional, o aluno deverá ser avaliado e
reprovado, caso não domine a matéria.
Dois outros professores acreditam que as mudanças que ocorreram no ensino
não trouxeram novidades alguma, pois a escola já fazia esses trabalhos há bastante
tempo. Um destes questiona se as pessoas que fazem parte deste processo querem
mesmo as inovações no ensino. Os professores não são preparados para as
transformações no ensino.
Menos da metade dos professores se declarou favorável às mudanças no
ensino, mas a maioria solicita algumas medidas para viabilizar a prática de sala de
aula, tais como: mais investimentos financeiros na educação; o docente precisa ser
preparado, estudar, conhecer as mudanças, interpretá-las adequadamente, ter
orientações adequadas e respaldo no trabalho. Como pontos positivos, alguns destes
professores ressaltaram que as mudanças atuais que ocorreram no ensino são as
melhores que tiveram até o presente momento; algumas delas podem ajudar os
alunos em algumas situações, como por exemplo a reclassificação; as mudanças
162
foram ótimas, existe uma liberdade maior de ensinar, pode-se avaliar de várias
formas, a merenda melhorou e as crianças não precisam mais comprar os livros
didáticos.
Parece-nos que os professores não são especificamente contra as mudanças e,
sim, à maneira como estas chegam às escolas, como são passadas para eles, sem
respaldo, sem orientações, sem possibilitar um espaço para estudos dirigidos e
reflexões. Estas inovações mais desorganizam e angustiam os professores do que
orientam e facilitam o trabalho deles. Parece-nos que os professores, por se sentirem
inseguros, impotentes, sem saber a quem recorrer, se sujeitam às regras, fazem o que
lhes é determinado, sem buscar compreendê-las direito.
Quanto à Progressão Continuada, notamos que a grande maioria é contra esta
medida, além dela não ter agradado, parece-nos ter chocado os professores da rede
pública estadual. Para eles, a progressão continuada é definida como falta de
cobrança, falta de reprovação, o aluno passa sem saber ler e escrever, além disso é
confundida com promoção automática ou aprovação automática. Quanto às
conseqüências, trouxe prejuízos à aprendizagem dos alunos, a disciplina piorou, o
aluno não tem mais interesse em aprender, o professor se sente desrespeitado,
desmoralizado e desvalorizado perante os alunos; a relação professor-aluno não é
mais a mesma; e por último, trouxe mudanças no ensino e a aprendizagem está ruim.
Uma minoria de professores é favorável à Progressão Continuada, por
entenderem que não funciona porque não é seguida e compreendida devidamente
pelos docentes. Na opinião de um destes professores, proposições como a
recuperação paralela e o reforço que deveriam acompanhar a Progressão Continuada
não ocorrem adequadamente. O docente precisa entender que, com esta mudança, o
aluno deve ser promovido com conteúdo, por isso que é necessário conhecer e
estudar melhor para utilizá-la.
Uma minoria de professores considera que a Progressão Continuada sempre
existiu. Um ressaltou que nem todos os profissionais assumiam esta questão ao
passar o aluno. O outro professor, além de comentar que era levado mais a sério e
exigia-se mais do aluno, hoje, a promoção automática não é boa, é empurrar o aluno
para o próximo ano sem condições.
163
Parece-nos ainda que alguns professores que não participaram deste projeto
vêem como um período só de privilégios e não como um momento que possibilitou
melhores condições de trabalho para o professorado.
165
2. A Escola “B”
Tabela 3 - Organização dos alunos da escola “B” por períodos, séries e salas
Manhã Tarde Noite
Série Alunos Salas Série Alunos Salas Série Alunos Salas
1ª 30 06 4ª 35 03 6ª 45 01
2ª 32 05 5ª 35 04 7ª 42 02
3ª 31 04 6ª 35 04 8ª 38 03
4ª 30 04 7ª 46 03 1º 43 04
- - - 8ª 38 01 Telecurso 53 02
Total = 584 19 Total = 561 15 Total: 421 12
Através dos dados acima, observamos que, dos vinte professores entrevistados,
três são formados em Letras. Dois professores são formados em Matemática e dois
em História e Geografia. Dois são formados em Educação Artística, sendo que um
deste, também possui Magistério. Quatro possuem somente o Magistério; três têm o
Magistério e a Pedagogia; um outro professor é formado em Pedagogia, Ciências
Contábeis e Magistério. Outro possui Magistério, Técnico em Economia Doméstica,
Técnico em Enfermagem, o curso de Matemática incompleto e Pedagogia. Um outro
professor, além de ser formado em Técnico de Contabilidade, tem o Magistério, o
curso de Jornalismo incompleto e Pedagogia. Um professor tem o Magistério e cursa
a Faculdade de Letras. Todos os professores com curso superior fizeram em
universidades particulares. Os professores que possuem o Magistério, dez fizeram
em escolas estaduais e dois em escolas particulares. Treze trabalharam enquanto
estudavam.
Com relação ao tempo na carreira, dois não têm um ano; quatro professores
possuem de oito a doze anos; cinco possuem de treze a dezessete anos; sete possuem
de dezoito a vinte e dois anos; um possui vinte e quatro anos e outro tem vinte e oito
anos de atuação. Dos vinte professores, treze possuem especialização.
As razões e as motivações que levaram os entrevistados a optarem pelo curso
universitário e a se tornarem professores apesar da diversidade, supomos que, oito
tinham certeza da escolha que fizeram. A escolha de quatro professores está ligada à
169
influência dos amigos e familiares. Sete professores não tinham clareza da escolha
profissional. Um professor não se referiu ao assunto.
“Eu quis fazer matemática, eu escolhi matemática por dois motivos. Um porque adoro
matemática, sempre gostei e outro porque tem mais aulas para escolher (...).” (Prof. 05)
“(...) fiz Magistério... o que era que eu sempre quis ser quando pequena. Eu brincava desde
pequena de escolinha e tal. Eu queria ser professora... então eu já vinha com esta coisa desde
criança e aí eu comecei a fazer, inclusive meu avô achava que eu não conseguiria, ele não
imaginava que eu ia fazer porque a mulher pensa logo em casar.” (Prof. 11)
“(...) para mim ser professora de Matemática tem a ver com meus amigos. É que quando
eu estudava eu tinha um grupo de amigos desde o ginásio que todos foram fazer Matemática e
eu estava no meio e fui fazer Matemática também (...) caímos na mesma classe, fizemos na M.
(...) gostei, até poderia ter feito outro curso (...).” (Prof. 01)
“(...) eu fiz a faculdade, eu escolhi Letras não era bem na época que eu gostava, sabe, mas
eu acho que era o que estava mais acessível que não era tão cara (...) então não era tão
dispendioso... então eu acabei fazendo Letras (...).” (Prof. 08)
“fiz curso Técnico de Contabilidade porque eu tinha vontade de fazer, mas eu nem fui
buscar o diploma porque não tinha nada a ver comigo. Na verdade eu queria fazer Direito ou
Enfermagem, eu tinha paixão para fazer Direito na época, mas na minha cidade não tinha
faculdade. É tem aquela coisa você já está namorando (...) e minha mãe também ficava muito
preocupada quando falava em estudar fora e eu acabei indo fazer o Magistério porque era o
que eu tinha mais fácil para fazer (...).” (Prof.17)
“Então eu fui ser secretária, trabalhei dois anos, me formei e logo eu comecei a lecionar.
Foi bom, a experiência como secretária... eu me dava bem com todo mundo, eu achei que este
emprego ia me ajudar na escola, mas é um serviço bem diferente de secretária para depois ir
para a sala de aula (...).” (Prof.11)
171
“(...) eu fui trabalhar no comércio que era o ramo do meu marido, um restaurante (...)
para ajudar o meu marido (...) mas é uma coisa que eu não gosto, é desgastante, faço a minha
obrigação. Agora eu tenho três filhos... então eu tenho que tocar, eles me ajudam, mas por
mim se fosse para mim escolher eu escolheria dar aulas de manhã e tarde e fecharia o
comércio, mas eu faço porque eu preciso mesmo, eu tenho que ajudá-los a estudar e não tem
como eu ficar só na escola (...).” (Prof. 12)
Um professor, depois de dez anos de Magistério, larga tudo para montar seu
próprio negócio, mas como este sonho não deu certo, retornou à escola em busca de
segurança e de estabilidade.
“(...) eu trabalhei mais ou menos dez anos no Magistério e aí nós viemos a parar, dois
anos eu fiquei parada com a loja, aí nós voltamos, correndo. Voltamos para nossa sala com
estabilidade, aí eu prestei concurso porque o comércio também é uma ilusão você pensa que
vai ganhar dinheiro (...) nós vimos que não era tudo aquilo.” (Prof. 13)
“(...) eu fui trabalhar de faxineira (...). Eu trabalhava com ela na escola quando terminei o
Magistério ela achou que eu podia ser assistente dela na sala de aula (...). Esta era uma escola
particular e ficou aberta 25 anos... era de pré alfabetização. Eu fiquei como professora dois
anos (...) teve um problema do plano cruzado (...). Ela ficaria livre dessas dívidas e nós as
donas da escola e nós aceitamos e ficamos como professoras, mas também com a função
administrativa. Essa experiência foi muito boa, mas é muita preocupação porque você, além
de trabalhar com os alunos, ter seus objetivos como professora, você tinha que ter seus
compromissos e objetivos como dona de escola mesmo (...).” (Prof. 16)
Um professor logo que ingressou no Estado foi para uma cidade muito pequena
lecionar e não foi uma experiência tão gratificante, pois enfrentou muitas
dificuldades.
173
“(...) lá foi triste, Nossa Senhora aquilo lá é o fim de mundo (...) Lá era um fim de mundo.
Você sai de um lugar porque eu já trabalhei como ACT em R., aí você vai para um lugar
totalmente estranho, não é que as pessoas sejam ruim (...) você ganhando pouco (...) é difícil
você viver fora (...).” (Prof. 01)
Um outro professor não viveu uma experiência muito fácil quando foi dar aulas
numa escola estadual da periferia, pois estava acostumado a lecionar em escolas
particulares onde os problemas eram bem diferentes.
“Eu vivi uma outra realidade porque eu fiz Magistério lá no A. Então era uma escola
particular, uma escola de freiras, os estágios que eu fazia eram com aquelas crianças
bonitinhas, arrumadinhas (...). (...) em escola de periferia realidade diferente do que eu era
acostumada, bem diferente, bem diferente! Aqui tinha muito aluno que não sabia ler nem
escrever, carência afetiva, a gente faz muitas vezes mais mãe do que fazer o lado do professor
de estar educando ali no be a ba.” (Prof. 03)
“No quarto ano de faculdade nós tínhamos que iniciar estágio. O meu estágio foi dentro da
própria faculdade. Nós pegamos alunos de escolas carentes de R. e nós dávamos aulas de
laboratório de redação dentro da própria Faculdade (...). eu comecei a pegar gosto por estar
dentro de uma sala de aula, por estar trabalhando com o aluno mesmo (...). Eu terminei a
Faculdade e resolvi mudar totalmente a minha vida... larguei o meu emprego (...) comecei a
dar aula como eventual e não me arrependo (...).” (Prof. 04)
A fala de um professor nos mostra que é com a prática e com a vivência que o
professor vai constituindo o seu saber docente.
“(...) no início da minha carreira eu não tinha a mínima noção de sala de aula (...) cheguei
lá, aula de inglês, quinta série, eu pensei o que é que eu vou fazer... aí comecei a falar com os
alunos (...) a coisa foi pegando fogo na sala de aula e eles ficaram tão entusiasmados em
saberem que o corpo deles tinham palavras em Inglês (...) e para mim aquilo era muito
importante (...). Eu percebi que havia uma forma em mim que eu conseguia manipular as
crianças, eu consegui fazer com que eles trabalhassem, se interessassem (...).Quando eu
comecei a dar português, foi a mesma coisa.” (Prof. 08)
“Eu achei excelente, eu senti de sair de lá porque trocou a dirigente (...). Então por isso
que o que eu sei hoje, o que eu aprendi, foi dentro da Delegacia de Ensino porque lá dentro é
uma escola. Lá eu fiquei só um ano, eu era Orientadora Pedagógica de Matemática,
174
orientadora de professores de Matemática. Eu ficava lá, orientava, dava cursos, fazia cursos
em São Paulo, depois aquilo que eu aprendia, eu aplicava com os professores.” (Prof. 05)
“(...) eu mesma fui coordenadora cheguei a ser, mas eu o que me deram para ser
coordenadora eu não queria ser aquilo, eu queria fazer outras funções, eu por mim eu queria
pegar o aluno na sala de aula trazer comigo para trabalhar essa criança, mas não podia, não
era função de coordenador.” (Prof. 20)
“Eu tive também escolinha particular, eu tive durante três anos escola de maternal e
prezinho e trabalhava também no Estado e assim não foi difícil não (...). Eu fiquei três anos
com escolinha e depois parei porque era muito desgastante porque eu ia para o Estado, eu
teria que pôr professora lá e aí você não sabe o jeito... eu gosto de estar olhando as coisas
porque se tiver alguma reclamação de alguma coisa eu estou sabendo. Então eu não quis mais
a escolinha, entrou ladrão e o meu marido falou: “pára, isso está te estressando muito.”
(Prof.11)
“eu trabalhava na classe de aceleração, é aquelas classes que você está com crianças de
13 a 18 anos que ainda não foram alfabetizadas e você tem um ano para trabalhar com eles, aí
você trabalha um ano, classe um, aceleração um, o ano seguinte aceleração dois para poder
mandá-los para a quinta série e eu trabalhei dois anos, três anos seguidos, lá em M. A e foram
os melhores anos da minha vida porque eu aprendi muito porque você vê crianças de 18 anos
que precisavam de alguma coisa e era de você que eles dependiam.” (Prof. 14)
“Eu sinto saudades de uma escola que eu fiquei seis anos, mas acabou... ficou só de quinta
a oitava série. Lá no A.M. eu posso te falar que lá era uma escola, tudo funcionava. Aí eu fui
para o O.J. no S. (...) era uma classe muito difícil, tinham muitos problemas de disciplina e de
aprendizagem (...) mas graças a Deus foi bom. Na primeira escola do Estado como eu te falei,
eu tive uma experiência boa. Eu sofri! não vou te falar que eu não sofri porque eles são
175
exigentes demais (...). Então eu acho que eu adquiri bastante experiência nesta escola e eu
comecei eu mesma me auto afirmar como pessoa, ter mais equilíbrio e a me dominar. Então eu
achei que foi muito bom esta escola para mim, de ser professora e de estar lá.” (Prof. 16)
“ No G., eu fui coordenadora durante cinco anos e eu larguei para ficar na Direção (...) aí
depois eu precisei mudar de escola porque não tinha mais aulas lá. (...) foi uma experiência
muito importante, aquela escola era minha vida, eu tinha verdadeira paixão, mas eu tive uma
decepção tão grande que depois eu nunca mais quis voltar (...) eu passei em outras escolas (...)
mas eu não gostei, mas trabalhei porque precisava trabalhar (...). Aqui no O. V. uns três ou
quatro anos atrás, eu dei aulas para o ginásio, mas eu detestei, gosto de trabalhar no primário
mesmo (...).” (Prof. 17)
“Eu abri um berçário, foi super legal e eu gostei demais, foi muito gratificante, eu acho
que foi uma das coisas mais bonitas que eu fiz até hoje. Eu me dediquei muito e até hoje
quando eu encontro as mães que eu tive contato me cobram que eu não podia ter fechado. (...)
eu fiquei só no Estado, eu comecei em S., adorei a escola, achei... foi uma época maravilhosa
(...) eu realmente não tive grandes problemas. A minha classe, uma classe que me dá
saudades, eu sempre fui assim apegada aos meus alunos, eu nunca deixo o ambiente é que
sempre acontece alguma coisa que eu estou saindo dele por algum motivo, mas nunca parte de
mim.” (Prof.19)
“(...) mais aí pegava muita aula picada, uma substituição aqui, outra ali no Estado. Então
aí não conta muito tempo. Daí que eu prestei concurso da C. F. eu até que classifiquei bem,
mas na datilografia, eu não tinha prática.... Aí eu fiz na C.E., mas também não passei na
datilografia e eu fiquei frustrada, aí eu falei “não vou fazer mais nada que tenha datilografia,
deixa eu quieta no Magistério (...).” (Prof.20)
176
Através dos dados abaixo, podemos perceber que nenhum professor atualmente
trabalha em escolas particulares. Doze professores lecionam somente na escola onde
a pesquisa foi realizada. Três atualmente trabalham em escolas municipais e cinco
trabalham em mais de uma escola estadual. Sete professores são efetivos na Rede
Pública Estadual de Ensino e treze são ACT.
e) A Profissão Docente
“Se você não tiver amor você não consegue trabalhar bem com eles. Hoje em dia dar aula
é muito difícil. É difícil porque eu não sei alfabetizar (...).(...) porque nós temos que empurrar
(...). (...) eu não vejo a hora de me aposentar, eu já estou cansada de aluno, de tudo, eu quero
ficar em paz não ter mais responsabilidade (...). (...) eu estou acomodada não quero saber de
mais nada, não quero mais nada, nada e está bom mesmo do jeito que eu estou.” (Prof. 01)
Já outro professor que está para se aposentar não perdeu a força de vontade de
aprender, de acreditar e de ajudar no que for preciso a todos da escola. Apesar de
toda essa garra e firmeza o que o entristece é que o “Professor” não é mais respeitado
e valorizado como antes.
“(...) mesmo estando aposentando eu estou fazendo cursos porque eu acho que você deve
sempre estar se reciclando, se você não se reciclar você não consegue (...) sempre estou
disposta a ajudar meus colegas que precisam de apoio, de material (...). (...) nós não temos
mais o valor real de professor, nós somos tudo, menos professor. Hoje, na realidade, nós
somos babás, nós somos mãe, nós somos pai, nós somos os avós... menos professores porque
ninguém nos vê com esta visão (...) hoje quem dita as ordens são os pais, a comunidade e o
aluno e o professor é o último a dar a palavra.” (Prof. 18)
“ (...) o pessoal fala pelo salário base que as pessoas ganham que nós não estamos
ganhando muito mal, mas não é assim, a gente tem que se valorizar também porque a gente
sabe o trabalho que desenvolve, o valor que tem. (...) a gente não ganha ticket também (...) a
comida que a gente paga e todo dia tem que comprar, ou trazer de casa. Então ticket seria
importante para todos porque a gente come todo dia. (...) porque o professor mesmo, ele não
tem curso de computação a altura para ensinar essa molecada. Eu por exemplo, eu não sei
aonde liga um computador. (...) porque professor falar não adianta, mas a gente continua
trabalhando (...) eu gosto de lecionar, dos alunos. (...) o professor está esgotado, cansado
(...).” (Prof. 02)
“(...) eu vou adquirindo mais experiência, relembrando coisas que eu tinha esquecido e
conhecendo todos os alunos (...). Eu achei aqui, a gente ensina, passa alguma coisa para eles,
mas eu aprendi muito mais do que eu passo para eles porque a gente não tem uma matéria
específica. Um professor tem que ser político, tem que ser artista, enfim tem que ser de tudo ali
na frente (...) penei bastante porque eu sou Pedagoga...professora de primário, mas aí fui
ficando mais tranquila, mais segura (...).” (Prof. 03)
“Agora o professor principalmente de uma Escola Pública que é professor efetivo, pega
esses professores ainda mais quando já estão mais perto da aposentadoria, não vai se
importar com o aluno (...). (...) mas será que também o professor não está trabalhando um
pouco errado? (...) eu acho que muitas vezes eles acabam se acomodando (...) e essa
comodidade vai gerar o que? Alunos cada vez mais decaindo e pra ajudar hoje o jovem não tá
fácil (...). Eu gosto também, além de ser professora, ser muito amiga dos alunos, eu acho que
isso a gente ganha muito (...) eu acho muito importante você ganhar a confiança do aluno e o
aluno ganhar a sua confiança (...) eu não tenho medo dessa interação com aluno (...). (...) os
professores cada vez mais, estão se tornando perdidos, eles estão se tornando alheios (...) eles
estão cada vez mais desinteressados para educar (...) e os alunos percebem isto.” (Prof.04)
“(...) eu tive a sorte de conseguir dar aulas este ano, não é fácil, é muito difícil no
comecinho, mas graças a Deus eu encontrei as portas abertas aqui para fazer o que eu gosto,
para fazer o que eu realmente estudei e por mais que falem que esteja ruim a Educação que
esteja difícil, o pessoal daqui me ajudou bastante (...). (...) já que eu comecei a dar aulas este
ano, eu nunca tinha dado aula, eu fiz estágio, mas é diferente você estar fazendo estágio e você
estar ganhando pelo que você esta fazendo... é diferente. (...) eu demorei um pouco para
impor, um pouco mais de respeito com eles, eu sou substituta. (...) por ser formada há pouco
tempo iniciei o meu trabalho em sete meses, eu tenho colhido eu muitas experiências de
laboratório com eles (...).” (Prof.06)
“Eu me identifico muito com eles no trabalho, eu aprendo muito. Mas dentro da sala de
aula, eu procuro dar o máximo de mim (...). (...) é uma responsabilidade muito grande lidar
com o jovem, eles estão na fase de formação, é uma responsabilidade muito grande conversar
com eles. Eu procuro ser assim, mais amiga deles do que aquela professora que fica lá na
frente. Que nem no meu caso, eu trabalho os três períodos, é cansativo, eu tenho que preparar
uma forma de dar aula que eu consiga porque eu já não sou nova (...) então eu tenho que
179
achar um meio de lidar com a sala de aula... têm barreiras, têm alegrias, qualquer outra
profissão também é assim, não é só do professor.” (Prof.07)
“(...) eu fiz uma burrada menina! chega lá na hora deste "bolão" deixa a gente tão aflita,
você acredita que tem gente que olha para a cara da gente e ainda fala assim: "o que ela está
fazendo aqui ainda, heim?" Como quem diz “porque não aposentou ainda?”, você acredita
que tem isso? Olha, eu acho tão humilhante isso daí, sabe (...) então eu fico tão aflita na hora
de escolher, tão preocupada que eu faço até burrada, como eu fiz este ano. Aqui tinha um
bloco fechado de aulas para mim que eu não precisaria nem ir para outra escola, mas eu
fiquei tão preocupada (...) aqui eram aulas livres e lá também livres e eu quebrei (...).”
(Prof.10)
“(...) porque o professor se desdobra, está aqui para isso, é uma profissão que eu gosto de
fazer porque senão eu estaria no comércio (...) porque eu gosto de ensinar, sabe é um preparo
para o mundo lá fora, eu acho que nós devemos ter uma missão e a do professor é esta aí,
ensinar o aluno, preparar o aluno para que ele enfrente lá fora as suas dificuldades, mostrar
as dificuldades para eles, orientá-los (...) mas qualquer lugar que você me mandar ir dar aula
eu vou, numa boa eu enfrento qualquer sala de aula, qualquer aluno, não tenho dificuldades
com nenhum deles, eu mesmo resolvo os problemas em sala de aula com carinho, mas
enérgica, sempre sem nenhum tipo de agressão, não gosto.” (Prof.12)
“só Magistério era pouco e com a Faculdade você aprende muita coisa que você não tem
idéia (...). Agora estão sanando aquelas dúvidas, agora eu sei explicar o porquê, se o aluno
perguntar (...). Então estava mesmo precisando o pessoal do Magistério voltar a estudar e
todas que estão estudando sempre uma olha para a cara da outra e diz: “puxa vida o Governo
tinha razão, nós estávamos precisando mesmo estudar”. Só falta agora ter o dinheiro e pagar
até o fim.” (Prof.13)
180
Por outro lado, um outro professor não concordou com esta medida do
Governo, pois o trabalho do docente, a experiência em sala de aula dele são mais
importante que uma faculdade. Na sua opinião, além da faculdade não lhe servir para
nada, não tem condições nem custear os estudos das filhas o que dirá o seu.
“Eu não pude fazer Faculdade e hoje o Governo quer que a gente aprenda, veja, hoje eu
tenho amigas minhas com quase 50 anos fazendo Pedagogia, agora eu te pergunto de que vai
adiantar elas fazerem Pedagogia se ela está dentro de uma sala de aula há quase vinte anos? e
tem uma excelente Faculdade que é a própria prática (...). (...) cada sala que se pega depende
muito do seu trabalho, então é onde eu acho que a Pedagogia não vai me servir de nada, mas
o Governo só deu uma oportunidade agora para os efetivos, nós temos que ter um dinheiro
para estudar e eu não tenho, eu não tenho nem para as minhas filhas. Então não posso ter
para mim (...).” (Prof.14)
“(...) eu não tive outras experiências a não ser lecionar. Todas experiências que eu tive
foram muito importantes para mim, para o que sou hoje como professora... me ajudaram a
crescer, me deixaram mais segura no que faço.” (Prof. 15)
Um professor que trabalha com alfabetização acredita que ensinar, vai além do
ler e escrever. Na sua opinião, o professor precisa fazer um trabalho diferente, pois a
cada dia que passa, os alunos estão chegando sem base nenhuma na escola.
“(...) eu sei que os alunos precisam escrever e ler, isso é fundamental na vida dele, mas
não é só isso. Eu tô achando que cada ano que passa eles vão precisar... eu acho que a gente
vai ter que começar um trabalho diferente na primeira série, de socialização (...) um trabalho
de respeito, de convivência, depois chegar no ler e escrever. Nosso papel na primeira série
está pesado, nós temos tudo isso na 1ª série para passar e ainda temos que enfrentar que
precisamos entregá-los lendo e escrevendo (...). (...) eu acho que a gente tá precisando mudar,
rever tudo isso.” (Prof.16)
“(...) eu acho que também facilitou isso na minha vida porque na minha época eu estava
começando, eu estava de peito aberto (...) eu estou sempre aberta para mudança (...). Eu tive
muito apoio e é por isso que eu tinha certeza que eu tinha que ficar no Magistério. (...) eu sei
bem o que eu quero porque eu sempre gostei de estar na sala de aula. (...) a gente tem que
aceitar desafios, estar aberta para mudar, eu falo muito isso, aceitar as mudanças, eu acho
181
que tudo que vem para acrescentar vem bem, eu gosto. (... ) sabe você está trabalhando e tem
alguém acreditando em você e você está dando de tudo de você e isso é muito bom para gente,
faz bem para gente (...).” (Prof.17)
“(...) eu já leciono há muito tempo, mas vamos ser claras, o professor está acostumado
todo o ano a dar o que ele já faz. (...) a verdadeira história é essa, o professor não foi
acostumado a estudar e desde que começaram as reformas tinha que ser mudado, o professor
tinha que ter consciência que ele tem que estar sempre se atualizando, lendo e para isso foi
criado o HTP. (...) o professor tem aquela preguiça, ele não quer sair do comodismo porque
ele copia o planejamento do ano anterior (...). Sabe eu não sou aquela perfeição, mas eu
busco, eu estudo (...) eu gosto de participar, eu gosto de estar por dentro do que nós vamos
fazer.” (Prof. 19)
Um professor comentou que a escola ofereceu muitas coisas boas em sua vida.
Este ressaltou também, que gosta muito do que faz e se tivesse que começar faria
Magistério de novo. O tempo não vai apagar sua vontade de estudar, de melhorar e
de realizar mudanças.
“ (...) realmente eu gosto do que eu faço (...) estou satisfeita no que eu estou fazendo. Toda
a minha experiência anterior de estar lidando com criança sempre foi um processo
progressivo, cada vez mais eu aprendo com eles, vendo eles e tirando deles aquilo que eu
posso estar fazendo...é uma troca. Sabe eu vejo que na minha vida foi um monte de
aprendizado, eu acho que a escola eu não só dei de mim, ela me deu muito. (...) eu acho
sinceramente se hoje eu tivesse 17, 18 anos eu faria Magistério, eu faria tudo de novo. (...)
então eu sempre quero inovar, não quero trabalhar de jeito nenhum com coisa velha, sempre
quero ser a mais moderna possível, eu estou sempre olhando o que vem aí de fora de mais
interessante que possa estar fazendo a criança aprender (...).” (Prof.20)
terem tido boas informações desta, ou ter recebido apoio e orientações de pessoas
que trabalham nesta instituição.
Os motivos dos professores quanto à escolha profissional são vários.
Encontramos professores que tinham certeza da escolha profissional, pois além de
gostarem de ensinar, tinham facilidade; uns queriam ser professores desde pequenos
e outros ainda, por apreciarem determinada área. A escolha de uma minoria de
professores está relacionada à influência dos amigos e familiares. Alguns professores
não tendo muita clareza do que desejavam na hora da escolha profissional, acabaram
por fazer um curso, mas na verdade queriam, sonhavam e tinham paixão por outro, e
uns cursaram determinado curso por ser mais acessível financeiramente.
Estas colocações são até esperadas, pois nem sempre se tem claro o motivo de
determinada escolha profissional. Sabemos que o momento da escolha de uma
profissão é muito difícil e conflituoso para o jovem, que precisa muitas vezes
enfrentar as expectativas, a falta de diálogo e os direcionamentos dos pais ou amigos,
a falta de condições financeiras e as dúvidas em relação à carreira a seguir. Além
disso, existe ainda a questão da falta de informações sobre as profissões e até de
encarar as escolhas inadequadas. Nenhum dos professores entrevistados com mais
experiência profissional na área escolar questionou negativamente sobre o caminho
escolhido. Talvez estejam satisfeitos nas suas escolhas ou não tenham condições de
largar todos os investimentos que fizeram na profissão e trabalhar em outra coisa.
Quanto às experiências profissionais anteriores, encontramos um professor que
quando estava para se formar pediu demissão do emprego para se dedicar somente à
Faculdade. Outro queria aproveitar a experiência que teve num cargo administrativo
quando foi lecionar, mas percebeu que eram situações bem diferentes. Um professor
por querer trabalhar como docente conseguiu conciliar suas atividades na parte
administrativa de um hospital e lecionar. A experiência profissional (não
educacional) de um professor mudou significativamente sua vida. De auxiliar de
limpeza numa escola, tornou-se professor e, mais tarde, um dos proprietários desta
instituição. Um professor depois de dez anos de magistério largou tudo para montar
seu próprio negócio, mas como este sonho não deu certo retornou à escola em busca
de segurança e de estabilidade. Encontramos somente um professor que, além de
184
lecionar, trabalha até hoje no seu próprio estabelecimento comercial, mas se não
precisasse ajudar os filhos, deixaria tudo para se dedicar só a docência.
Parece-nos que a maioria dos professores tinha a intenção ou descobriu que
queria se tornar docente. A experiência profissional (não educacional) pode significar
vontade de trabalhar, ou necessidades financeiras, ou ainda, foi só um momento em
suas vidas para alcançarem seus objetivos. Encontramos um professor que por
dúvidas se a profissão docente era uma escolha adequada, ou descrença no salário do
professorado, largou tudo para trabalhar num negócio próprio, mas percebeu que ser
professor lhe traria mais estabilidade e segurança financeira. Somente um professor
atua também, no momento, no próprio estabelecimento comercial, mas gostaria de só
lecionar. Talvez esta informação nos aponte que somente a profissão docente não
ofereça condições suficientes de manter uma família, ou ainda, o tanto que o
professor da rede estadual é desvalorizado como um profissional da educação.
Com relação às experiências em outras escolas, supomos que estas foram muito
importantes para o crescimento e fortalecimento profissional dos professores; mesmo
tendo alguns enfrentado dificuldades e desafetos ao longo da trajetória profissional.
Encontramos um professor cuja experiência de estágio na época de faculdade foi
importante na decisão de ser docente. Um outro descobriu que é a prática e a
vivência que constituem o professor. As experiências de um professor em classe de
aceleração foram os melhores anos de sua vida profissional, pois aprendeu muitas
coisas. Alguns professores tiveram experiências muito significativas nas escolas
estaduais que passaram. Por outro lado, encontramos um professor que ao ingressar
no Estado foi para uma outra cidade e não teve uma experiência tão gratificante, pois
enfrentou muitas dificuldades pessoais e profissionais. Um outro professor não viveu
uma experiência muito fácil quando foi dar aulas numa escola estadual da periferia,
pois estava acostumado a lecionar em escolas particulares onde os problemas eram
bem diferentes. Encontramos um professor que teve uma grande decepção numa
escola estadual de que gostava muito e depois foi difícil se sentir à vontade em
outras. Este mesmo professor também lecionou no Ciclo-II, substituiu na Direção,
mas percebeu que gosta mesmo é de dar aulas no Ciclo-I do ensino fundamental.
Outro questão interessante foi encontrar professores que se dispuseram e
tiveram vontade de trilhar outros caminhos dentro da área educação, como por ex.
185
que desenvolve suas atividades de maneira coerente e satisfatória, ou ainda por ter
uma boa equipe de docentes. O fato de terem poucos professores efetivos na escola, e
principalmente no Ciclo-II, talvez esteja relacionado ao fato desta estar localizada
num bairro de periferia.
Acreditamos também que, uma escola possuir grande parte de professores ACT
no seu quadro de funcionários, possa trazer um grande prejuízo no desenvolvimento
do trabalho pedagógico desta, já que este professor pelo seu regime de trabalho,
poderá estar no próximo ano, em outra escola. Pode ocorrer na escola, todo ano, uma
grande rotatividade de professores.
Quanto à profissão docente, encontramos pouquíssimos professores recém-
formados. Um está bastante decepcionado com a falta de envolvimento, com o
comodismo de alguns professores que já possuem uma larga experiência na área e
com o péssimo comportamento dos seus alunos. Apesar disso, gosta de ser professor
e de se relacionar bem com os alunos. O outro professor acredita que apesar dos
obstáculos de se iniciar na profissão, das dificuldades de se fazer respeitar na sala de
aula por ser eventual, com um pouco de apoio e orientação as situações ficam bem
mais fáceis. Parece-nos que os professores novatos, apesar de terem pouco tempo de
formação e atuação na área da educação, já se conscientizaram de algumas
dificuldades e alegrias da profissão.
Encontramos alguns professores que, apesar dos vários obstáculos que
encontram na educação, gostam do que fazem e procuram se dedicar ao ensino. Para
um outro professor, lecionar é uma profissão que envolve muita responsabilidade,
mas que tem suas vantagens. Gostar muito do que faz e de estar com os jovens. Um
outro professor relatou que todas as experiências profissionais que teve na educação
foram importantes na sua vida, pois tornou-se mais seguro e possibilitou-lhe
crescimento profissional. Um outro professor comentou que com apoio e força de
vontade o docente consegue desenvolver bem a sua função. A sua vontade de
aprender e estar aberto às mudanças sempre estiveram presentes desde que iniciou o
magistério. Um professor comentou que a escola ofereceu muitas coisas boas em sua
vida. Este ressaltou, também, que gosta muito do que faz e se tivesse que começar
faria magistério de novo. O tempo não vai apagar sua vontade de estudar, de
melhorar e de realizar mudanças. Um outro professor relatou que, apesar de já ter
187
bastante tempo de magistério, gosta muito do que faz, procura estudar e se envolver
com as atividades da escola. Ressaltou, ainda, que existem muitos professores
acomodados e desinteressados na educação.
Outros professores relataram algumas dificuldades em ser docente. Um
trabalha com alfabetização e acredita que ensinar vai além do ler e escrever.
Preocupa-se com seus alunos e pensa ser importante desenvolver um trabalho
diferente, pois a cada dia que passa eles chegam sem base e sem preparo familiar na
escola. Encontramos um outro professor formado em Pedagogia/Magistério que atua
como eventual na rede estadual no Ciclo-II do ensino fundamental. Apesar das
dificuldades que enfrenta, este trabalho é válido. Um outro professor relatou, que a
atribuição de aulas é muito desgastante e humilhante para o docente. Fica nervoso e
se atrapalha ao montar seu horário de trabalho.
A partir dos relatos dos professores entrevistados, podemos supor que, apesar
dos problemas conjunturais e institucionais, o professor ainda se identifica e se sente
bem ao exercer o seu papel social, ou então, alguns tentaram passar uma visão até
certo ponto “idealizada” da profissão que exercem ao pesquisador, o que é
compreensível numa primeira entrevista.
Quanto aos professores que estão com bastante experiência na área e alguns
prestes a se aposentar, podemos perceber que um professor, apesar de saber da
importância, das dificuldades e das responsabilidades da sua profissão, está cansado
e aguarda ansiosamente a sua aposentadoria. Por outro lado, um outro professor que
está para se aposentar não perdeu a força de vontade de aprender, de acreditar e de
ajudar no que for preciso a todos da escola. Apesar de toda essa garra e firmeza o que
o entristece é que o “Professor” não é mais respeitado e valorizado como antes.
As experiências agradáveis ou desagradáveis com o ensino e a própria maneira
de ser e de se relacionar com o mundo podem influenciar o modo destes professores
encararem a proximidade da aposentadoria. A sensação que passa é que o primeiro
professor não quer se envolver com mais nada da educação, enquanto o outro, apesar
das chateações da profissão quer dar continuidade, pois ser professor tem muita
importância em sua vida. Talvez esses dois professores estejam com dificuldades de
deixar de exercer seus papéis sociais.
188
a) A Escola Pública
“(...) aqui é Escola Pública que ao meu ver está um caos, eles estão assim mascarando a
escola (...) era gostoso trabalhar nela.” (Prof.02)
“Fazer um projeto... vamos trabalhar sobre trânsito... porque a escola recebe um monte de
projetos (...) eu acho que esses projetos nem deveriam estar aqui, cada um, na sua obrigação!
A escola está perdendo a função dela.” (Prof.16)
“A Escola Pública já foi ótima, excelente. Eu acho que o problema que a Escola Pública
hoje está sofrendo em 50% dos casos, eu julgo que seja descaso dos professores (...).”
(Prof.18)
189
Um outro professor tem uma visão bastante otimista da Escola Pública. Apesar
de todos os problemas e dificuldades que presencia nesta instituição acredita que ela
tem tudo para dar certo.
“(...) apesar de ser uma Escola Pública, eu acho que tem muita coisa para ser melhorada,
mas eu acho que depende muito de cada um. Eu acho que ainda há muita gente fazendo coisa
boa, sabe eu acredito na educação pública. Eu acho como qualquer escola nós temos os
nossos problemas. Eu acho que Escola Pública, hoje ela é muito questionada (...). Eu acho que
às vezes não tem jeito, condições financeiras para se manter. A Escola Pública é mais difícil
de mandar para a Universidade. (...) uma classe social e econômica mais carente por isso que
eu falo que está mais difícil de ir pra faculdade (...).” (Prof. 19)
“(...) eu adorei aqui, não saio de jeito nenhum, tem remoção eu não vou. (...) eu me sinto
bem aqui, é um lugar que eu gosto de estar (...) apesar de estar grande a rotatividade que tem
aqui de professores. (...) aqui é muito longe de casa (...). Sabe uma coisa que eu sinto na
escola é a falta de material (...).” (Prof. 02)
“(...) a própria família desestruturada também vai acarretar neste jovem. (...) os pais são
analfabetos, pai que fez até a 3ª série, mãe que nunca estudou, sempre viveram numa condição
miserável de vida (...).” (Prof. 04)
“Essa escola, eu sinto que ela é muito organizada por ser escola de periferia (...). É bem
organizada a escola (...). Eu sinto prazer em trabalhar aqui. Eu gosto muito da escola, eu
gosto muito mesmo. (...) porque a escola é boa, organizada, ela é pequena (...). Às vezes ela é
assim, bem melhor de se trabalhar do que uma que fica no centro da cidade. (...) muita
dificuldade financeira ela tem. Então a gente procura trabalhar dentro daquilo que a escola
tem.” (Prof. 07)
“Estou bem aqui, mas pretendo logicamente sair, mas por enquanto estou bem aqui. É
difícil para mim, pois eu não tenho formação em área específica para o ginásio.” (Prof. 03)
190
“(...) aqui eu não tive problemas, muito pelo contrário me receberam de braços abertos.. É
muito difícil você começar e graças a Deus aqui eu encontrei as portas abertas (...).” (Prof.
06)
“(...) eu estou contente aqui e a escola é muito boa. Me fez lembrar a escola num todo, a
quadra, o pátio, as salas de aula, é uma escola boa, a sala é bem arejada, clara, limpa (...).
(...) e tem uma quadra boa, um espaço bom para você brincar (...). Aqui eu gostei também,
muito da organização da escola. Eu acho esta escola, uma escola bem organizada tanto na
parte administrativa como na parte dos alunos. Tudo é na hora certa, tudo é programado
antes (...).” (Prof.13)
“(...) eu estou satisfeitíssima aqui. Eu não saio daqui de jeito nenhum, a não ser que me
mandem embora e quando eu gosto de um lugar eu não mudo e quando falam que vai ter
remoção, me perguntam se eu quero sair da escola, eu digo que não, mesmo a escola sendo
longe da minha casa eu fico aqui (...). Eu vejo que a nossa escola hoje está até bem, eu não
consigo falar mal da minha escola (...).” (Prof. 19)
“(...) o trabalho aqui não vinga. (...) o que falta é estruturar. (...) aqui não tem abertura
para dar sugestões para se ter mudanças (...). A escola tem que ter as regras delas (...). esses
pais que também vem ajudar, eu não concordo com isso (...). (...) é uma escola, ela não teria
que ter uma diretriz? (...) Mais ela não tem (...). Então aqui é muito chato, aqui é muito chato,
você fica ali na sala, você fica sentada, esses alunos ficam sentados da sete até ao meio-dia
(...). (...) não sei o que a gente pode fazer para que a escola fique mais atraente para que eles
gostem de vir aqui (...). Não tem uma aula de educação física, não tem mais aula de educação
artística a não ser que o professor da sala dê (...). Os passeios daqui acontecem muito raro
porque nunca tem dinheiro. A escola toda se envolvia com gincana, concursos, as festas (...).”
(Prof.16)
191
“ (...) eu acho que a escola é mal dividida (...). (...) a limpeza da escola aqui deixa a
desejar, eu sei que tem falta de funcionários (...). (...) eu acho que nós temos uma Biblioteca
muito boa para um mau uso (...) a hora que você mais precisa, ela não pode ser usada (...).
(...) o problema da quadra de esportes que o PI precisa dar Educação Física e os professores
não têm espaço, nós não temos área coberta porque para dar Educação Física (...) no sol não
dá. Então sabe, nós estamos tendo uma série de coisas que não são pertinentes à Direção e de
ninguém... é problema do Governo, de má organização dele e que atinge a todos os
professores e os alunos.” (Prof. 18)
Um outro professor comentou que apesar de ser uma escola muito boa onde os
professores sempre trabalharam bem, esta só foi reconhecida quando o pessoal da
Delegacia de Ensino viu o que estava sendo feito e elogiou.
“(...) quando nós recebemos a visita de uma pessoa da Delegacia de Ensino (...). (...) então
ela entrou na minha sala e eu expliquei como que eu trabalhava... a escola teve um ibope, não
só o meu trabalho, um ibope a escola O.V. teve, subiu de moral, mas nós sempre trabalhamos
bem, mas precisou alguém visitar para ser reconhecida (...).” (Prof. 20)
Um professor relatou que sua escolha, na época, desta escola esteve ligada ao
fato de ser mais próxima da cidade onde residia.
“(...) e na remoção eu vim para cá sem conhecer a escola. Eu entrei em remoção quando a
gente entra em remoção você vai pondo as escolas que ficam mais próximas de R., eu coloquei
todas de R. e as próximas de R. Preto e vim para cá. Na outra remoção eu consegui vir para
cá, sem conhecer.” (Prof.01)
Dois outros professores relataram que a opção por esta escola foi por ter tido
boas informações desta.
“ (...) tem uma escala para escolher as aulas e quando chegou a minha vez tinha aqui, no
S. que é no Q. II e eu ouvia falar horrores de lá, até hoje. Várias escolas e não sei porque eu
falei: “eu vou para lá”. Eu tinha informações boas daqui, então eu resolvi, apesar de ser
longe tal, locomoção, mas eu preferi esta daqui. Eu ouvi que era uma escola boa porque a
Direção era muito boa; pessoas boas que tinham amizade (...). (...) eu tinha uma amiga que
lecionava aqui que falava bem que tinha Direção boa.” (Prof. 02)
192
“(...) eu retornei para cá para substituir, mas no ginásio, não no primário que é o que eu
formei. Mas até ver se eu consigo algo mais fixo, eu fico. Eu não estou na minha área, então
fica um pouco difícil. (...). Foi o que eu consegui, mas eu até já lecionei aqui há uns tempos
atrás quando minha prima era Diretora e me ajudou. Eu gostei do colégio.” (Prof. 03)
Dois professores fizeram opção pela escola onde a pesquisa foi realizada, por
terem recebido ajuda de funcionários que trabalham na escola. Outro professor, por
ter um parente que leciona na escola e que também o ajudou.
“Esta foi minha primeira escola. Esta escolha foi o seguinte... eu tenho uma conhecida na
secretaria, eu comecei substituindo mesmo, quando falta professor, eles me chamavam para
que eu venha a dar aulas de História e outras matérias também, que às vezes acontece de não
ter professor da área para substituir (...). Na verdade eu comentei com ela que estava muito
difícil o mercado, mesmo como eventual, não é fácil você abrir uma sede, não é fácil não. Eu
comentei com ela que eu tive problemas em outras escolas (...).” (Prof.06)
“(...) a minha irmã é professora aqui da casa, é efetiva aqui da casa, então foi meio assim
por conhecer o trabalho aqui da coordenação, direção que eu resolvi optar e como a minha
irmã já está aqui, foi mais fácil eu conseguir abrir sede nesta escola (...).” (Prof.04)
“(...) aqui desde quando eu tive a oportunidade de vir trabalhar nesta escola, eu ansiava
por isso...porque eu já tinha trabalhado com o Diretor desta escola na outra escola (...). (...)
este ano tive essa oportunidade de vir para cá eu não protelei, não pestanejei nem um
segundo... haviam escolas aqui, então eu quis vir para cá porque eu sabia que eu ia me dar
bem... como eu sempre me dei bem com a Direção (...).” (Prof.08)
“(...) aqui tem Tele-Sala, eu até poderia deixar para outra escolha e não ter pego a tele
sala, mas eu queria saber como era essa " tele sala " e depois eu peguei outras aulas.” (Prof.
09)
“(...) eu voltei este ano porque na escolha lá na Delegacia só tinham aulas aqui (...) aí eu
olhei e eu vi que esta escola eu já conhecia, como a outra que eu estou eu também já conheço.
Então eu preferi do que pegar uma tão longe, então a gente olha tudo isso não é? Se está mais
próximo, apesar de que é longe (...).” (Prof.10)
“eu escolho aqui porque eu gosto daqui. Eu morava aqui perto e fazem quatro anos que eu
mudei daqui do bairro, mas é pertinho daqui e você se acostuma também (...).” (Prof.11)
Um outro professor optou por esta escola por ser mais perto do ponto de ônibus
que vai para a cidade onde mora.
“Então eu peguei esta escola porque eu estou mais perto do ponto de ônibus. Moro em J.”
(Prof.13)
Um professor optou por lecionar nesta escola porque uma pessoa na atribuição
de aulas vendo sua aflição e insegurança o orientou escolher a escola mais perto de
sua casa. Na sua concepção, foi Deus quem colocou esta pessoa em seu caminho.
“(...) eu entreguei na mão de Deus e aí uma pessoa santa... eu comecei a querer chorar,
pela insegurança e a pessoa me disse onde você mora? e eu falei e aí ela me disse: “você pega
esta escola no Q. I que dará certo para você ir mais fácil”. Eu peguei. Todo mundo fala que o
Q. é isso, é aquilo... cada escola tem uma história.... então é por isso que eu acho que é tudo
pela mão de Deus (...).” (Prof.14)
“Eu queria conhecer a realidade dos alunos desta escola... como funcionava esta escola.
Então como eu moro aqui perto (...). Então eu tinha vontade de conhecer, eu ouvia os
comentários, mas o que acontecia aqui dentro eu não sabia e tive vontade de conhecer. (...) eu
quis conhecer um outro lugar por isso que eu quis vim para cá, conhecer o trabalho desses
professores daqui do O. V.” (Prof.16)
194
Um professor optou por lecionar na época nesta escola, por ser Escola Padrão.
Nesta nova forma de ser da escola não precisaria passar pela atribuição de aulas, era
só entregar o currículo.
“Liguei para cá também porque era Escola Padrão... acho que foi por isso que eu acabei
ligando para cá (...) nesta época, na Escola Padrão precisava só entregar o currículo e ficar
aguardando chamar para a entrevista.” (Prof.17)
Um outro professor optou por lecionar na escola por morar perto desta.
“A minha vinda para cá foi mais direcionada a facilidade porque eu moro no bairro, quer
dizer, na época eu não tinha casa no bairro, meu marido queria mudar para este bairro. Se eu
ficasse aonde eu queria escolher eu não poderia mudar para o bairro. Então a escolha de vir
para esta escola foi para morar aqui no bairro (...).” (Prof.18)
Um outro professor resolveu assumir sua sede na rede estadual, depois de ter
passado por alguns problemas numa escola municipal em outra cidade. Gostou e
ficou.
“(...) esta seria a minha sede, eu era emprestada à Prefeitura lá em S., então eu vim aqui
conhecer e resolvi ficar. Lá teve a reestruturação...perdi minhas aulas. Depois o prefeito me
chamou de volta, mas não quis mais. O N.(diretor) me passou segurança quando eu conversei
com ele e eu vi a escola e gostei (...).” (Prof.19)
“Uma vez eu vim substituir aqui e gostei, gostei das colegas, gostei da clientela... eu moro
um pouco para lá, mas eu não achei que era tão ruim porque tenho o ônibus se precisar, mas
também têm muitas colegas que moram perto de onde eu moro.” (Prof.20)
“(...) a gente não trabalha muito com indisciplina (...) então isso daí a gente trabalha
assim conquistando amizade, conquistando a simpatia, sabe, deles primeiro (...). (...) na escola
isso que a gente sente, essa carência e precisa primeiro ser trabalhado esse lado deles (...).
(...) senão todo resto do trabalho que a gente faz passa pôr despercebido, eu sinto isso muito
aqui. Então eu procuro trabalhar com eles, este lado do ser humano, de pessoa, o respeito
pelo colega, pelo próximo, procurar entender como ele pensa, trabalho que é bem devagar,
mas a gente vê que funciona. (...) eles vêm de casa com uma certa barreira (...). (...) às vezes
você vai lutando, lutando até conseguir trazer aquele aluno para você, conversando, às vezes
você não consegue (...). (...) você tem que falar que ele precisa ter conhecimento(...). (...) é um
trabalho lento, precisa muito da ajuda da família. Não é um trabalho grande, é uma
responsabilidade grande... é isso que eu sinto. Não é um mar de rosas, de jeito nenhum, é uma
luta, uma luta grande, mas a gente vê resultado, não resultado grandioso, mas em dose de
acordo com a clientela (...) o resultado você consegue tirar, nunca passa em branco. Eu
sempre consigo passar alguma coisa para eles e isso me dá forças para continuar porque
senão não dá conta.” (Prof.07)
Para os outros três professores que são iniciantes no Ciclo-II e substituem cada
dia numa disciplina, apesar de falarem que gostam do seu trabalho, supomos que não
vem a ser uma tarefa muito fácil.
“esse trabalho do reforço que eu faço aqui, apesar de não ter feito Magistério.. eu trabalho
com alfabetização (...). (...) porque cada hora você estar dentro de uma sala, cada hora dando
aula de alguma coisa (...). (...) o coordenador, às vezes ainda brinca que nós somos eventuais
efetivas aqui da escola porque nós estamos aqui nesta escola todo dia, então não dá tempo de
estar indo em outros lugares mesmo. (...) na minha situação de eventual porque aquele
negócio de muitas vezes você entra para dar uma aula de Física, Química, eu vou ser sincera,
eu desconheço totalmente e a gente vai trabalhar um tema transversal (...).” (Prof. 04)
“(...) paro minha aula para conversar com eles, dou muita lição de vida para eles, ensino
muita coisa para todas as séries não só aqui. (...) eu não me importo daquele dia eu perder
aquela aula para ficar ensinando, mostrando e passando coisas boas e eu paro, faço e são
com todos e não tem nenhum que é diferente do outro. Então o que eu posso fazer dentro de
uma sala com eles, ajudar, ensinar, vem aqui, vamos ler, tem criança que é tímida, não quer e
aí você acaba insistido até que você consegue, ou você vai até a carteira e aí você consegue
alguma coisa. (...) você põe para ajudar o outro para ver se dá uma ajuda para aquele (...).
Então eu deixo, sabe e aí eles contam da tia, da avó, do tio e aí no fim eu falo: “levante a mão
quem quer falar” e aí no fim vira aquele tumulto um quer falar, o outro também quer e no fim
196
acaba todo mundo falando ao mesmo tempo e depois que todo mundo falou vamos continuar.”
(Prof.11)
“(...) para trabalhar em uma sala de aula eu preciso primeiro conhecer os meus alunos.
(...). (...) só que isso demora seis meses (...) depois que você vai entrar com o trabalho, com
carinho porque no começo você entra em atrito com eles porque eles não te respeitam e até
você ir moldando, ir conhecendo já é meio do ano e aí que você começa a trabalhar e aí às
vezes vem outra professora (...). Eu quero conhecer o pai, conhecer a mãe (...) você passa o
ano inteirinho e às vezes você não conhece (...) eu procuro passar para os meus alunos, dando
exemplos para eles do que eu fui, de onde eu vim, o que eu sou agora. Eu não fiquei em casa
de braços cruzados porque a minha mãe não tinha dinheiro para me dar (...) eu batalhei como
muita gente batalha e eu falo para eles que eles também têm que fazer isto daí, não é porque o
pai e a mãe estão separados que eles têm que cruzar os braços e ficar revoltados, não tem
motivo para isso. Eu procuro mostrar muito para os meus alunos o mundo lá fora (...).”
(Prof.12)
Para um outro professor parece ser muito importante ser também amigo do
aluno, dar atenção, valorizar, conversar e respeitar a criança. Acredita no potencial
deles.
“ (...) eu procuro ter bastante amizade com eles, eu converso bastante, eu pergunto sobre a
vida deles (...). Também conto muito para eles sobre minha vida, coisas que assisti na T.V. (...)
para eu ser respeitada, eu acho que primeiro eu preciso respeitar principalmente a criança.
Então eu procuro ter muita paciência mesmo, eu procuro engolir muita coisa, deixar passar
muita coisa (...). Às vezes a criança é muito levada, não faz todos os deveres, mas de repente
quando crescer será um grande homem, terá uma boa profissão, se ele não gosta de estudar
(...) trabalhar no comércio (...) nós temos que acreditar que vai dar certo. Então aquele aluno
que ele tem interesse, tudo aquilo que ele faz a gente procura valorizar cada vez mais, também
valorizar aquilo que ele já trouxe aí de fora para dentro da escola (...).” (Prof.13)
“(...) então exigir deles eu exijo, então acabou atividade, está conversando um com outro
eu pergunto: “você sabe a tabuada? Toda? de cor?”. Eles respondem: “não”. “Então
aproveite o tempo e estude, reza, estuda verbo, faz qualquer coisa, mas faça alguma coisa
para você, aproveite o tempo para você.” (Prof.15)
197
Um outro professor também se preocupa muito com seus alunos, mas na sua
opinião, tem uma forma diferente de ensinar que vai além do ler e escrever.
“A minha ansiedade de fazê-los aprender a ler e escrever está comigo e eu tenho que
ensinar, eu não consigo fazer diferente (...) sem esse amor, às crianças nossas não aprendem a
ler e a escrever e a leitura e a escrita vem depois de tudo isso. Ela vem com desejo da criança
querer isso, o amor, mas a gente, nós professores sabemos de tudo isso, mas não queremos
ensinar a ler e escrever a vida, você entendeu? Entendeu? Então é isso que me preocupa (...)
eles percebem que a minha maneira de trabalhar é um pouco diferente com as minhas
crianças, elas são mais felizes porque eu procuro assim dar mais motivação para elas
buscarem aquilo que elas querem fazer que elas gostam de fazer, mas direcionado ao objetivo
que eu quero alcançar.” (Prof. 16)
“Eu acho o seguinte, primeiro ouvir e respeitar o limite de cada um, sabe, se você passou
alguma coisa e está trabalhando e não sabe; vamos ver o porquê, não é só chegar e falar:
“você não sabe, você não fez, seu burro” e este tipo de coisa assim. Bom eu acho que
disciplina e carinho entram juntas porque eu gosto, eu percebo muito... eu percebo que
quando eles têm algum problema eles me contam. (...) talvez a insistência, a rotina do dia-a-
dia faz com que eles peguem se não aprendeu hoje não aprendeu ainda, mas amanhã vai ser
um outro dia. Então eu acho que a insistência é a palavra-chave (...).” (Prof.17)
Para um outro professor, apesar dos alunos chegarem numa quarta série sem
saber ler e escrever, não gosta de deixá-los com a impressão que deveriam estar
cursando uma primeira série. Procura estar muito disposto a ajudar os alunos que não
estão alfabetizados. Acredita também que, trabalhar na educação não tem
necessidade de inventar e procurar muitas coisas. É preciso ser prática e facilitar o
trabalho pedagógico.
198
“(...) eu nunca gosto de deixar os alunos de quarta série com a impressão que eles são
alunos da primeira série. Eu procuro trabalhar de uma maneira coletiva (...). Eu na quarta
série uso muito o aluno para estar fazendo alguma coisa. Eu acho que trabalhar educação, dá
para trabalhar com pouca coisa, eu procuro não ficar dificultando as coisas, se eu mando o
aluno para a Biblioteca e aqui não tem ninguém para orientá-lo, então eu não estou ajudando
em nada. Então eu procuro levar para classe os livros que eu quero e deixo um horário para
eles verem os livrinhos. Então eu quero trabalhar pertinho destes alunos que têm dificuldade
para ver se ele entende, mas eu quero inicialmente dar como se fosse uma aula particular (...).
Então eu não quero mais uma vez deixá-los para trás porque eu não acho isso justo, eu não
acho isso certo (...). Então eu gostaria assim de vir em outro horário (...) não me custa, o que
eu quero apenas é ajudar o meu aluno a não ficar tão perdido (...).” (Prof.19)
“(...) porque foi me imposto uma classe de aceleração há uns anos atrás, chegou na hora
da escolha o N. (diretor) falou que tinha escolhido duas professoras que tinham condições de
segurar as rédeas dessas classes de aceleração. (...) elas são de crianças defasadas em tudo,
então eu fiquei com um medo terrível. Esse foi o ano que eu aprendi a me policiar (...) porque
a minha clientela era perigosa. Eu tinha um aluno ele já era mocinho e ele estava fazendo a
lição e ele falou assim para mim: "ah! vai dar lá na esquina" (...) eu não vou mexer com um
garoto desse que já morava sem mãe (...) de jeito nenhum. (...) eu superei e depois disso eu
aprendi quem sabe foi uma lição que eu tinha que tratar aquelas crianças de uma outra forma,
nem grito e nem muita paparicação.” (Prof. 20)
e) A Equipe Técnico/Pedagógica
“(...) tem a Direção, com quem você pode contar (...). (...) quando a gente tem problemas a
gente chama o Coordenador (...) o Diretor é um Diretor bem experiente (...) ele se relaciona
muito bem com o aluno (...). (...) a forma dele trabalhar com a gente também, gosta das coisas
muito certas e quando alguém tem dificuldade em uma coisa ele conversa, ele explica, ele
orienta. Tem um coordenador que é uma pessoa que está sempre do lado do professor, mas
sempre ouvindo o aluno (...) procura colocar os dois em harmonia (...).” (Prof. 07)
“ (...) tem muito apoio da direção (...). É super necessário o trabalho da coordenação
porque a coordenação é um elo entre os professores (...). A vice-diretora, está sempre junto e o
diretor também, nunca que nós quiséssemos fazer alguma coisa foi cortado. (...) eles conhecem
o problema de cada aluno e estão sempre ajudando os professores.” (Prof.15)
199
“A G. (coordenadora da tarde) quer que passe todo mundo, eu não acho que está certo
(...). Com a Direção, eu me dou bem, com os funcionários. Com a Direção, eu me dou bem,
com a G. não, não assim, é questão de organização, ela é muito desorganizada, você pede hoje
alguma coisa para ela, daqui a 2, 3 meses você tem que cutucar para ver, ela fala: "ah!
esqueci" (...). Ela é assim na frente de um, ela responde uma coisa, aí virou as costas responde
outra. Então sinceramente não dá... com os outros vices, coordenador não tem problema. Com
o C. (coordenador do noturno) eu nunca tive problema, tem! profissional nós temos de vez em
quando existem divergências, não é as mil maravilhas não (...).” (Prof. 01)
Dois outros professores comentaram que não têm problemas com a Direção ou
com a Coordenação da escola, mas não gostam do trabalho desenvolvido no Horário
de Trabalho Pedagógico Coletivo (HTPC).
“(...) não tenho reclamação nenhuma de direção, de funcionário, de nada, eu acho que
todo mundo trabalha se esforçando ao máximo (...). (...) e no fim é o horário de tempo perdido,
HTPC horário de tempo perdido em conjunto porque a gente não aproveita nada, não vejo
esse HTP muito bom não, é tudo bobeira, meu ponto de vista. (...) eu acho que é hierarquia, a
gente respeita o que está acima da gente, então é por aí.” (Prof.02)
“(...) o HTP deixa a desejar (...) eu sei que para a coordenação é difícil para ela também, é
muita coisa, é muito acúmulo de cargo para ela. Não que seja falha dela, eu acho que seja
falha lá de cima. Precisa tirar um pouco das obrigações da coordenadora e deixar mais para
o professor. Ela fica com um monte de coisas da secretaria também, da direção porque você
sabe que lá é um jogando para cima do outro e automaticamente jogam para cima do
professor. Então aí não é culpa de coordenador de jeito nenhum, a nossa é uma excelente
coordenadora (...).” (Prof.12)
“Eu vou ser você sincera com você, os HTPC para nós é muito chato, nunca foi proveitoso,
em todas as escolas que eu passei (...). São cobranças e mais cobranças da Delegacia (...). (...)
eu e a coordenadora a gente discute muito, eu acho que ela não gosta do meu jeito porque eu
sou muito defensora dos alunos e eu luto muito por eles e o “ir empurrando eles” eu não
aceito esse tipo de coisa. (...) eu não aceito quando a coordenadora fala que tem que
passar...” (Prof.14)
200
“(...) ele é muito meu amigo, ele me ajudou muito. Nós íamos para São Paulo fazer curso.
Eu coloquei a direção que é a base de tudo, nós temos o seu N., o diretor e a vice também D.
também que são pessoas excelentes, mas eu gosto mais de trabalhar com seu N. porque a D. é
muito linha dura, muito radical. (...) muitas vezes eu não concordo com a minha coordenadora
(...) às vezes ela dá algumas orientações que eu não concordo e na hora eu falo tudo bem, só
que aí eu vou para a minha sala e faço do meu jeito porque eu sei o que é bom para a minha
sala. A nossa coordenação fica a desejar, é gente boa, boníssima, mas a parte pedagógica
também a escola por ser grande ela acaba tendo muito desvio da função dela, acaba sendo por
exemplo inspetor de alunos, um pouco de tudo, atender mãe, eu acho que foge um pouco,
talvez falta bagagem também, não sei.... isso é confidencial, não é? Para mim é falta de
bagagem (...).” (Prof.17)
“O que não acontece é o conjunto, é o trabalho em conjunto, é difícil. Eu acho que não
acontece na prática por causa da administração... não por causa dos professores. Agora o que
eu não aceito, se nós estamos numa reunião discutindo algum tipo de trabalho a coordenadora
fica levantando para resolver outro tipo de problema e nunca vai chegar a lugar algum porque
até ela voltar, resolver aquele problema e voltar, já perdeu tudo aquilo (...). Eu acho que a
direção deixa a coordenação também muito a vontade. Ela tem boa vontade, tem, mas precisa
se organizar e eu já cheguei a falar e eles falam que tem que fazer desvio de função.”
(Prof.16)
“Com relação a direção, eu conheço este Diretor há muito tempo, de outras escolas que eu
lecionei, conheço a família dele, então o meu relacionamento com ele é bom, não tenho
problemas.” (Prof.18)
f) Os Colegas de Trabalho
Dos vinte professores entrevistados, dois que atuam na escola há mais tempo,
comentaram o que pensam dos colegas de trabalho e falaram do seu contato com
estes. Um comentou que os docentes não conseguem manter a disciplina, falam
muito mal dos alunos e apesar de conversar com todos, sente que eles têm medo dele.
O outro professor percebe que existem muitos docentes desinteressados, talvez
porque estão para se aposentar. Supomos, também, que há muitas dificuldades entre
os professores.
“Os professores falam que está difícil manter a disciplina, eu consigo. (...) a maioria dos
professores só sabe falar mal de aluno. Ele não se vê e ele não faz uma auto-avaliação. Teve
um professor que falou: "qual o coletivo de burro?"; eu falei: "não sei"; "os alunos do O. V.";
(...) dei umas respostas lá e ele não gostou. Então eles me olham meio de lado porque tudo que
eu tiver que falar eu falo, quando eu vejo que está muito errado. Então eles ficam com medo de
mim, mas eu me relaciono com todos (...).” (Prof.01)
“ (...) acho alguns professores sem interesse, eu não sei se é fim de carreira, tem professor
aqui que é muito mal-humorado (...). Têm professores invejosos, têm professores que pega o
caderno de outras matérias que não é dele para saber o que o professor está dando (...). (...)
há barreiras entre os professores. (...) então você pega alguns professores antigos que para
eles não interessa mais nada, não quer saber de mais nada (...). (...) a maioria chega quase na
hora de dar sinal, pega suas coisas vai para sala de aula, terminou período tchau e acabou.”
(Prof.05)
“(...) a gente procura enturmar todo mundo porque é chato porque quando chega na
escola e não conhece ninguém fica meio de lado. (...) porque tem professora aqui que chega já
gritando com os alunos e não adianta (...). (...) todo mundo pensa a mesma coisa só que
ninguém fala, é tudo encoberto, depois assim entre nós a gente comenta: "nossa! mas foi chato
esse HTP, mas foi chato isso daí que ela leu"; mas ninguém fala: "eu não gostei disso, pára,
vamos partir para outra.” (Prof.02)
“(...) o grupo de professores que tem aqui na escola eu sinto que é uma equipe (...) sempre
tem o apoio de um, com outro.(...) se um colega, ele está com dificuldades em um determinado
assunto que ele tem que abordar que a escola pede para que se fale todos primeiro se reúnem
e conversam em conjunto. (...) é muito bom trabalhar assim (...) facilita muito mais o trabalho
da gente (...).” (Prof.07)
202
Dois outros professores que começaram a lecionar este ano na escola, relataram
que o corpo docente foi receptivo e agradável com eles. Ressaltaram também que,
percebem que existem alguns docentes acomodados na profissão.
“(...) com o corpo docente foi o melhor, eu acho o pessoal bem entrosado quando a gente
precisa de ajuda um auxilia o outro, as pessoas são simpáticas (...) são bem receptivas (...).
(...) os professores daqui que eu percebo andam voltando na mesmice porque cada um pensa
de um jeito, trabalhar sozinho não adianta, tem que ser mesmo um grupo unido. (...) há
professores também acomodados. (...) existem professores também que se efetivam tem a
noção do que tem que ensinar (...) da responsabilidade, mas têm os que se acomodam
também.” (Prof.03)
“(...) foi muito bom também, eu fui muito bem recebida. (...) você já tem uma receptividade
melhor, as pessoas se cumprimentam e sei lá, o ambiente é diferente, mais agradável mesmo
(...) aqui eu fui bem recebida mesmo por todos, mesmo pelos antigos quanto pelos novos que
estavam aqui. Os novos ainda foi assim, a gente teve mais afinidade, já que todos eram novos.
Então a gente conversou bastante, trocou bastante experiência, graças a Deus, agora a gente
tem uma boa amizade com todo mundo.” (Prof.06)
“(...) mesmo que tenham diferenças que isso tem, eu não deveria falar mas tem - é entre o
professor PEB I e o II. O PEB I trabalha certinho, trabalha junto, solidários, tem até aquelas
intrigas, mas existe um trabalho conjunto e o PEB II também trabalha junto, mas essa coisa de
solidariedade para o PEB II é meio complicada porque nós somos separados pelas matérias, é
muito complicado. Mas há uma amizade entre os PEB II, eu vejo isso daqui. Eu vejo coisas
aqui que você já não vê mais em outra escola (...). (...) e aqui, mesmo que a sala de aula esteja
terrível quando eu chego na sala dos professores os colegas compensam. É aquela coisa de
você chegar e falar: " bom fim de semana " e você está desejando bom fim de semana mesmo.
A palavra está valendo para isso.” (Prof.09)
Para um outro professor, existem dois grupos na escola. Os professores que são
amigos e trabalham juntos e os que não passam nada, não ajudam e nem querem
trocar.
203
“nesta escola temos dois grupinhos (...) os amigos e amigas que trabalham juntos e eu não
tenho reclamação de ninguém. (...) como até hoje tem também professores que não passam
nada (...).” (Prof.11)
“(...) tem algumas atividades que é pedido para você fazer pela coordenação e uma ou
duas acabam fazendo, não é aquela equipe que todo mundo vai à luta, vai lá e faz (...). Então
eu acho que a única dificuldade que eu vejo é isso, alguém falar que usou um texto bom e
passar a experiência para outro professor. Eu faço isso, mas dificilmente alguém chega e faz
isso para mim e eu não sei por que. Eu gosto muito de trabalhar desse jeito, com trocas, mas
eu não tenho mal relacionamento é mais uma questão de trabalho, o pessoal não troca. (...)
esse trabalho em conjunto que nem, teve o planejamento do quarto bimestre, nós somos em
cinco professoras, mas foi eu e uma outra só que fizemos o planejamento.” (Prof.12)
“Você vê, este ano logo no começo do ano, nós separamos alguns alunos que estavam em
uma sala e passaram para outra só pensando no aluno para remanejar ele, se ele já estava
bem alfabetizado e ele ficou em uma sala se ele ainda precisava de ser alfabetizado. Então eu
acho que isso daí é uma equipe não é? Ninguém ficou pensando “eu não vou trocar o meu
aluno”. Nós pensamos foi no aluno, sem pensar se ele tem problemas de disciplina, se ele é
revoltado, rebelde, só pensando na aprendizagem dele. Então eu já achei um ponto muito bom
aqui para gente combinar pelo menos nesta parte.” (Prof.13)
Um professor acredita que na escola em que a pesquisa foi realizada tem muito
professor que desempenha mal sua função.
“(...) os professores que eu citei para você, eu não conheço, mas eu sei das histórias. Eu
não gosto de falar mal de ninguém, mas cada ramo de trabalho tem alguém que não faz o
trabalho bem feito, então aqui tem, não estou falando só desta escola (...).” (Prof.14)
“(...) como tem os HTPC, tem muito contato, não é uma coisa assim... entra as sete horas e
sai ao meio-dia e só vamos nos ver no dia seguinte, não. É um horário que dá para sentar e
conversar, trocar idéias. Então isso une muito assim e padroniza um pouco as classes, o que
um professor está fazendo e deu certo, outro professor procura fazer, estamos sempre
conversando para melhorar o trabalho em sala de aula (...).” (Prof.15)
Já para outro professor, apesar dos colegas de trabalho serem amigos, terem
boa vontade, o trabalho em equipe não acontece. O HTPC deveria ser utilizado para
trocas de experiências, mas isto não ocorre.
“Eu vejo elas têm muita vontade, as professoras, são amigas, te ouvem, conversam outros
tipos de assunto também, mas também o trabalho em conjunto não acontece. Então o HTPC
deve ser para a gente trocar experiência (...) mas é cada uma na sua sala, não são todos, não
é escola inteira e não acontece (...).” (Prof.16)
“O trabalho entre os professores vai tudo bem, eu troco idéias, inclusive eles falam que o
meu armário é um armário de sucata porque tudo que eles precisam eles me procuram. Eu
tenho muito jogos, muitos quebra-cabeças, muita coisa assim e eu passo tudo para eles, nós
conversamos, trocamos. (...) quanto as outras colegas todas eu me dou muito bem.” (Prof.18)
“(...) até trocamos algumas idéias no HTPC, mas não é nada rígido (...). (...) o ambiente
com as minhas amigas é muito bom (...). (...) as amigas vai mudando, mais sempre tem uma
turminha.” (Prof.20)
“Eu também não tenho problema com os outros professores e à tarde eu trabalho junto
com a C. que é professora também de uma quarta série, as outras ficam no período da manhã.
Eu sempre trabalhei no período da tarde. (...) então nós trocamos muito também, nós
trabalhamos muito em conjunto. A parte da manhã, da quarta série, o que dá eu faço, mas
como a gente não tem muito contato, fica um pouco distanciado (...) no HTPC às vezes as
pessoas não entendem muito bem o seu ponto de vista, o que você está querendo fazer (...). (...)
às vezes as outras professoras devem ficar pensando que eu quero aparecer, ou que eu quero
fazer as coisas do meu jeito (...) eu comento com as pessoas que eu tenho mais contato. Eu não
vou ficar me expondo para pessoas que eu não tenho contato ou que eu vejo 1 hora ou 2 na
semana, mas se alguém pede alguma coisa eu ajudo, eu nunca nego e não escondo nada (...).”
(Prof.19)
205
“(...) porque eles são muito carentes né, então eu notei que na hora que eu começo elogiar
eles vão amansando comigo e falam que eu sou a melhor professora da escola. Os livros eles
estragam tudo e eu noto assim eles são muito agressivos uns com os outros, bate, dá chute,
belisca, jogam as coisas no chão. Então eles trazem isso de casa e muitas vezes eles descontam
na gente. (...) tem aluno na oitava série que não sabe escrever ainda, na quinta série tem em
média oito por classe que não sabe, é analfabeto, ele só copia, ele só bagunça, ele só conversa
e ele sabe que vai passar de ano (...).” (Prof.02)
“(...) por mais que os alunos não estejam muito interessados, mas eu acho que ainda vale a
pena o trabalho (...). (...) mas a maioria geralmente tem problemas, é porque não tem
estrutura familiar, condições econômicas (...).” (Prof.06)
“Então eu acho que o aluno de hoje está fora da realidade. Agora eu não jogo a culpa toda
para o aluno (...). Então que interesse eu tenho de aprender se o professor não me dá uma
oportunidade diferente de trabalhar? (...). Você pega esses alunos que estão aí que não estão
preocupados com nada da vida (...) um aluno que está numa quinta, sexta série e é analfabeto
é um pouco do desinteresse do aluno, mas será que o desinteresse é totalmente dele?”
(Prof.04)
“(...) eles precisam muito da gente, eles não estão direcionados, eles estão jogados, eu vejo
isso aqui... às vezes eu noto quando eu converso com eles individualmente parece que eles até
pedem um socorro (...). (...) eles sentem falta de uma direção e como eles têm muita energia,
eles vão pôr outros caminhos (...). (...) eles não têm preparo na vida, a família não prepara, às
vezes, não tem nem condições de fazer isso (...) têm determinados assuntos que eles não
sabem, sabe é falta de informação. O aluno percebe que o professor está desestimulado, ele
desestimula também e aí vai, aí vira uma bola de neve.” (Prof.07)
206
“(...) eu saí de uma sala agora de primeiro colegial que o aluno falou para mim: “o que a
senhora escrevinhou aí?”. São trabalhadores e nunca vão chegar a gerentes porque tem que
saber conversar, tem que ter postura. O que vai ser dessa moçadinha! Com a crise que está
(...).” (Prof.09)
“Você vê hoje os alunos não se importam nem para Matemática, nem para Português que é
o essencial para eles. Então você acha que eles vão se interessar por Artes? Ele se interessa
por Educação Física, mas ainda têm alguns que nem por isso se interessam. Agora Artes, são
poucos os que se interessam (...).” (Prof.10)
Dois professores relataram que hoje está muito difícil trabalhar, pois as
crianças possuem uma vida sofrida, são muito carentes e sem a mínima estrutura
familiar.
“(...) hoje está bem difícil porque as crianças não têm aquele respaldo, não tem estrutura
em casa para vir para a sala de aula e você sente que as crianças estão muito jogadas, muito
na rua, não tem diálogo em casa, a mãe não liga, mães separadas, pai está preso, nem sabe
quem é pai, então eu sinto muito isto daí.. (...) no fim você acaba não cobrando muito porque
também não tem como você cobrar deles (...).” (Prof.11)
Para um outro professor, por mais que os alunos tenham vários problemas, eles
não apresentam dificuldades em aprender.
“Os alunos daqui eu achei muito carentes, são alunos cheios de problemas mesmo,
problemas graves, como drogas, famílias de traficantes envolvidas aí fora com o crime. Então
são alunos difíceis para gente lidar. (...) mas eles têm facilidade na aprendizagem (...).”
(Prof.13)
Por outro lado, outro professor relatou que em função de todos os problemas
que os alunos enfrentam na vida até que eles se desempenham bem na escola.
“eu tinha uma visão muito feia dos alunos que estudam aqui. (...) essa escola ela tem um
problema a maioria dos alunos vem de uma classe com problemas econômicos muito grande.
(...) eu tenho visto a vida dele aqui fora e eu acho que até que ele tá caminhando bem na
escola (...).” (Prof.16)
“(...) na sala eu tenho (...) 32 alunos (...) 10 são excelentes em tudo,16 são médios e apenas
cinco ou seis que você têm que ficar ali pegando no pé, mas são alunos que uma hora
amadurece, não vai ficar o resto da vida assim... quem sabe chegará na quarta série, o ano
que vem mais maduro porque as informações estão se acumulando e uma hora a criança vai
acordar.” (Prof.15)
“(...) eu vejo assim, crianças que no início do ano estavam totalmente cruas, sem nada e
que hoje eu vejo o progresso (...). (...) eu tenho crianças que eu sei que não vão sair da quinta
série, alguns vão estar trabalhando, eu tenho crianças que mexem com drogas. Então eles não
têm muita perspectiva e o que falta também neles esta vontade (...). Eu tenho crianças que vêm
comer na escola... então a história de vida deles é muito difícil, a mãe é prostituta, o pai vende
drogas, cada filho é de um homem... então realmente a vida deles não é fácil.” (Prof.17)
Um professor relatou que antigamente era bem diferente. Os alunos hoje estão
muito indisciplinados e sem nenhuma estrutura familiar. Somente um professor não
se referiu ao assunto.
“(...) não existe mais aquela classe em que as crianças (...) ficam ali quietinha, duro! mas
não existe. Por mais que você domine que você tenha a disciplina (...) aquele primeiro que
acaba ele fica um pouquinho inquieto e logo depois ele conversa (...) mas têm crianças
coitadinho que não tem base familiar. (...) a clientela já mudou muito, nós tivemos uma
clientela muito boa, sabe crianças boas mesmo (...).” (Prof.20)
Encontramos somente um outro professor que parece ter uma visão bastante otimista
da Escola Pública. Apesar de todos os problemas e dificuldades que presencia nesta
instituição, acredita que ela tem tudo para dar certo e que não é responsável por tudo
de ruim que ocorre.
Quanto à escola onde os professores trabalham atualmente, mais da metade dos
professores entrevistados tem um bom conceito da escola e gosta de trabalhar nela.
Consideram-na limpa, organizada e com estrutura física adequada. Contudo parecem
existir algumas dificuldades que atrapalham o desenvolvimento do trabalho, como
por exemplo, problemas familiares e sócio - econômicos; rotatividade de professores;
falta de materiais; e não ser próxima das residências dos professores.
Menos da metade dos professores só apontou as vantagens da escola onde
trabalha. Apreciam muito o local, que é limpo, arejado, amplo e, além disso, é uma
escola bem organizada na parte administrativa e na parte de alunos. Sentem-se
satisfeitos de lecionar nela.
Ao contrário do que foi mencionado anteriormente, pouquíssimos professores
apontaram os aspectos negativos da escola onde trabalham. Supomos que não estão
muito satisfeitos e contentes. Um ressaltou que gostaria que ela fosse mais
estruturada para os trabalhos acontecerem. Acredita também, que a escola precisaria
ter normas e diretrizes mais firmes e que precisa ser mais atraente, pois está virando
um local muito chato para as crianças freqüentarem. O outro professor relatou que o
espaço físico está mal dividido, a limpeza deixa a desejar, a Biblioteca é mal
utilizada e a quadra de esportes não é coberta. Não responsabiliza a Direção da
Escola e sim o Governo.
Um outro professor comentou que apesar de ser uma escola muito boa, um
local onde os professores trabalhavam bem, esta só foi reconhecida e elogiada
quando os funcionários da Delegacia de Ensino viram as atividades que os
professores realizavam.
Quase todos os professores que se referiram a este assunto têm um ótimo
conceito da Escola Pública onde trabalham. Talvez isto se deva ao fato desta ir ao
encontro das expectativas dos professores, ou ainda, a idealizam. Supomos também
que talvez estes professores estejam acostumados com o esquema de trabalho desta
escola, ou mesmo, ser muito agradável fazer parte dela, apesar dos problemas. Pode
209
ter ocorrido também que professores ficaram com medo de criticar a escola para o
entrevistador, atitude esta compreensível, já que se tratava de um primeiro contato.
Quanto às informações negativas em relação à escola, podem estar relacionadas ao
fato destes professores estarem descrentes do ensino público, ou se sentirem
desvalorizados e desamparados dentro desta instituição.
Quanto aos motivos que levaram os professores a optarem pela escola em que
lecionam atualmente são os mais diversos. Destaca-se dentre eles: ser mais próxima
da sua casa e da cidade onde reside; boas informações; ter lecionado e conhecer o seu
trabalho; por ter recebido ajuda de funcionários e parentes que trabalham na escola;
por conhecer o trabalho da Direção; por esta desenvolver um trabalho que outras não
possuem; por gostar dela; por ser mais perto do ponto de ônibus que vai para a
cidade onde mora; vontade de conhecer a realidade desta escola que fica perto de sua
residência; por ser Escola Padrão e não precisar participar da atribuição de aulas; por
ter assumido sua sede na rede estadual, e por último, por ter substituído e gostar dela.
A escolha dos professores pela escola estadual onde a pesquisa foi realizada
parece ter a ver com os interesses pessoais, profissionais e o apoio que possam ter
recebido das pessoas que trabalham nesta instituição, ou ainda, por ser esta escola
considerada de referência na rede estadual.
Quanto ao trabalho que desenvolve nesta escola, supomos que, a grande
maioria dos professores entrevistados, apesar dos problemas que enfrenta na escola,
aprecia o seu trabalho em sala de aula, gosta dos seus alunos e tenta desenvolvê-lo da
melhor maneira possível. Alguns acreditam que o ensino hoje não se restringe
somente aos conteúdos das disciplinas. Para eles, é um trabalho que necessita de
dedicação, amor e envolvimento. Acreditam também que é importante ter um bom
relacionamento com os alunos e se preocupam com sua formação.
Parece-nos que os professores apreciam o seu trabalho e têm uma grande
identificação com ele, apesar de todas as dificuldades que se deparam e precisam
enfrentar na instituição.
Para os dois professores recém-formados e que substituem cada dia, uma
disciplina no Ciclo-II, apesar de falarem que gostam do seu trabalho, parece-nos não
ser uma tarefa muito fácil. Encontramos um professor iniciante no Ciclo-II do ensino
fundamental que enfrenta bastante dificuldades e apuros quando substitui, pois este é
210
outro professor recém-chegado à escola comentou que houve mais afinidades entre
os professores novatos, talvez pelo fato de estarem iniciando na escola.
Com relação aos aspectos positivos, um professor ressaltou que os professores
PEB I são mais solidários uns com os outros e trabalham juntos. Já para o PEB II,
esta questão é mais difícil, pois cada um tem uma matéria. Contudo na sua opinião,
nesta escola, existe coleguismo, boa receptividade, respeito e uma amizade maior
entre os professores do Ciclo-II. Um outro professor acredita que os docentes
trabalham em equipe na escola. Os professores que começaram a lecionar este ano na
escola, relataram que o corpo docente foi receptivo e agradável com eles.
Parece-nos que os docentes do Ciclo-II não se valorizam, não respeitam o
trabalho dos colegas e parecem não ser próximos. Talvez estas questões possam
interferir na superação dos problemas escolares. Supomos também que, o fato de ter
no Ciclo-II, mais professor ACT do que efetivo na escola e que permanecem pouco
tempo na escola, possa atrapalhar o trabalho em conjunto, bem como o
relacionamento entre os colegas e a equipe técnico/pedagógica.
Pouquíssimos professores acreditam que os docentes desta escola são
acolhedores e que possuem um bom relacionamento. Talvez o fato de terem uma
visão otimista dos colegas e das atividades que realizam em grupo possam estar
relacionado ao desejo de encontrar um ambiente de trabalho o mais facilitador
possível. Ou ainda, o professor tentou passar para o entrevistador uma visão até certo
ponto “idealizada” do relacionamento entre os docentes, o que é compreensível numa
primeira entrevista.
Quanto aos professores do Ciclo-I, a metade apontou tanto os aspectos
negativos quanto os positivos do trabalho e da relação entre eles.
Para um outro professor existem dois grupos na escola. Os professores que são
amigos e trabalham juntos e os que não passam nada, não ajudam e nem querem
trocar. Um outro professor relatou ter um bom relacionamento com todos os
docentes, mas fica chateado quando, dificilmente, é correspondido nas trocas de
materiais e experiências com os colegas de trabalho. Ressaltou também que, existem
muitos professores acomodados e que, além de não se preocuparem com o trabalho
que deveria ser feito em conjunto, espera o outro fazer. Para um outro professor, é só
no HTPC que eles têm um pouco mais de contato. Na sua opinião, é um horário em
213
Supomos que o fato do professor não conseguir resolver alguns problemas que
seriam da sua responsabilidade, não percebe seus próprios erros, acaba por transferi-
los para os alunos ou ainda, para a família deles.
Quanto aos alunos do Ciclo-I, a grande maioria dos professores tem uma visão
muito boa dos seus alunos. Alegam que as barreiras que enfrentam no trabalho com
eles, se deve somente à carência sócio-econômica e à falta de estrutura familiar.
Parece que se não fosse por estas questões o ambiente escolar seria ótimo. Além dos
alunos não apresentarem dificuldades em aprender, os docentes acreditam que eles
têm um bom relacionamento e uma boa socialização na escola. Somente um
professor acredita que o aluno de antigamente era bem diferente. Os alunos hoje
estão muito indisciplinados e sem nenhuma estrutura familiar.
Parece-nos que os docentes têm um conceito bastante favorável sobre os
discentes, se preocupam com o seu bem - estar na escola e gostariam de que eles não
tivessem que passar por tantas privações na vida. Passa a impressão também que
estes professores têm muita dó dos seus alunos e talvez isto possa interferir
negativamente no trabalho de sala de aula.
a) O Método de Ensino
“Eu procuro trabalhar mais com o concreto com eles, com jogos.... quando eu carimbo
animalzinho para eles, eu falo aonde eles vivem, o que comem, se é um mamífero... então eu
vou englobando tudo ali (...) e sempre deixando eles falarem (...). (...) tem a hora das histórias
das fantasias, das fábulas também (...) tem erros na metodologia? Tem, mas eu procuro assim,
hoje eu errei, amanhã eu tento consertar aquilo o que eu quero alcançar com essa atividade.
215
Eu alcancei? Não! Então não valeu a pena, troca (...). O que eu conheço é o tradicional você
entendeu? O que eu conheço é o que eu acho que dá certo porque você tem firmeza naquilo,
você aplica o que você tem firmeza (...).” (Prof.16)
“Então eu gosto muito do tradicional, só que têm coisas novas que eu também gosto. Então
eu trabalho, eu misturo muito, eu não fico só no tradicional, como também não fico só no
ensino de agora (...) eu pego um pouquinho de cada coisa.” (Prof.14)
“Teve um ano que eu peguei primeira série e não podia usar cartilha e nós pedimos um
livro paradidático não veio, então usamos o recurso que nós tínhamos. Procuramos livros de
historinhas que chamava a "boca do sapo" e o que eu fiz... tinham vários personagens (...) e eu
ampliei os desenhos e coloquei na parede um quadrinho com os animais e com os seus nomes
embaixo e esta seria uma das minhas palavras chaves (...) comecei a trabalhar o sapo e do
lado eu punha as famílias silábicas e como o sapo já vinha o “po”, eu peguei o pato que
também fazia parte da história e fui encaixando (...) você entendeu? quem que me ensinou
isto? a vida (...).” (Prof.20)
“Eu tenho que atender matéria específica do que eu tenho que substituir na hora da aula.
Tenho Pedagogia e Magistério... eu tenho que me adaptar às situações, tenho que ter jogo de
cintura, tem coisa que eu não domino bem (...) “quem não entendeu?" você espera aquele que
sabe fazer bem, às vezes quando você tem dúvida e fulano é bom aluno, você espera ele
resolver e você olha no livro e está certinho com o resultado só que você não sabe desenvolver
aquilo e aí eu falo: "muito bem está certinho" só que eu não falo... olha eu não sei.... aí vai
auxiliando os outros, então quer dizer a gente tem que passar por cada uma (...).” (Prof.03)
“Aqui (...) eu não consegui fazer essa interação de trabalhar com dinâmicas, materiais
concretos, oralmente e depois trabalhar a escrita porque eu aqui não tenho uma sala minha,
às vezes quando eu entro para dar uma aula de português, vou trabalhar redação com eles que
eu tento fazer isso, eles ficam totalmente desatentos, eles falam: “a professora não ensina
216
desse jeito para gente” (...). Então aqui eu tive esse problema, eu não consegui trabalhar o
laboratório da forma, da forma que eu trabalhava antes. (...) mas no reforço eu percebo que
essa é minha forma de querer trabalhar com jogos, eu estou vendo o resultado disso (...).”
(Prof.04)
“(...) no meu caso, História seria o que? Trazer eles para o problema atual que a gente
vive, não só a História do passado, é analisar o passado e o presente com eles também (...) é
isso que eu sempre tento mostrar para eles (...) assim o trabalho caminha bem, eles se
envolvem. (...) não fico só em cima de matérias decorativas como era antigamente.” (Prof.06)
“(...) você procura também passar dentro da minha área que é Artes (...) conhecimentos
(...) da vida atual (...) aonde aplicar aquilo no dia de hoje. (...) ele passa a ter um pouco mais
de interesse (...) não é aqui uma escola que você chega e vai passando muita coisa para eles,
não! É tudo devagarzinho(...). Eu procuro trabalhar a parte mais trabalhos práticos, mais em
trabalhos que ele tem que desenvolver, eu procuro colocar mais o aluno para fazer uma
pesquisa, uma sondagem, depois eu vou encaixando as teorias, sem ele perceber (...). Procurar
também tornar a sala de aula prazerosa, não ser assim uma aula cansativa. Então eu procuro
trabalhar em grupos (...) agora nós temos a sala de informática (...). (...) fazendo um desenho,
tá vendo um texto, sempre eu ponho uma música ambiente e eles gostam, eles cobram (...) tem
um resultado bom, mas tenho trabalho, tenho muito trabalho.” (Prof.07)
“olha, a minha prática eu acho assim, essa aula de Educação Artística é uma aula que tem
que ser uma aula descontraída, uma aula assim tranqüila, para relaxar (...). (...) agora a nossa
área não tem livro para acompanhar, então a gente tem que pesquisar e no dia-a-dia você tem
que ir atrás de atividade (...). Eu acho difícil. Trabalho com recorte e colagem, trabalho com
dobraduras, com música, agora tem teatro (...). Então é difícil por isso da gente trabalhar
porque é mais fácil você pegar um livro de Português, de Matemática e seguir (...) a gente tem
que passar na lousa para eles fazerem no caderno deles (...). Olha, a minha aula teria que ser
uma aula tranquila, relaxante (...) mas não, é uma aula agitada (...).” (Prof.10)
217
(...) procuro muito texto que fala da vida (...) se eu estou dando alguma coisa na sala, por
exemplo de vida, eu paro neste tema e já vou completando, vou colocando experiência,
comentando, falando. (...). (...) eu vou trabalhar na praça, se estamos estudando animais, eu
peço para trazer para mim o que eles têm em casa para mostrar, para ver, se é planta, nós
vamos até na praça para nós vermos se eles conhecem algumas plantas que eu não conheço.
(...) então eu não posso cobrar do aluno a Matemática se ele não gosta de Matemática, eu
tenho que ensiná-lo a gostar de Matemática (...).(...) se o aluno não gosta de Matemática eu
procuro ensinar os métodos para que ele entenda o que é, as coisas que eles têm dificuldades.
Eu procuro melhorar para dar para eles. Então não adianta você querer ir muito longe, é isso
que eu te falo, não adianta querer mostrar que existe o Amazonas que existe Manaus... fica
difícil mostrar no mapa para eles.” (Prof.12)
“Eu sempre procuro dar aulas expositivas, mas com aluno participando. A minha sala é
barulhenta porque eles participam o tempo todo e na hora das tarefas eu passo a lição na
lousa, eu explico, eu dou um tempinho para eles e aí eu começo a fazer junto com eles,
principalmente a parte de Matemática (...). (...) Esse estudo dirigido é assim, trabalhar junto
com eles, o tempo todo e o individual é aquele aluno que tem mais dificuldades, eu chamo na
minha mesa para fazer uma leitura ou eu vou na carteira dele (...). Com esta mudança de
horário eu procuro trabalhar bastante com eles dentro da sala de aula, eles fazem
praticamente tarefa de casa na sala de aula porque eu quero que a criança chegue na casa e
só não perca o hábito de abrir a mochila, de olhar o que ele fez na sala de aula, de ler, de
estudar a tabuada (...).” (Prof.13)
“(...) a gente sempre está mudando, você procura textos mais atuais, assuntos mais atuais,
deixa sair mais deles, mesmo qualquer texto que você dá, você sempre pergunta a opinião
sobre o assunto.” (Prof.15)
218
“Trazendo para hoje esta experiência, como eu te falei que eu trabalho muito com poesia,
rima porque textos longos é uma chatice, eles perdem o interesse, eu geralmente trabalho com
ilustração, eu leio com eles, eu peço para eles lerem em grupo e eles têm uma certa
dificuldade com a leitura e sendo a poesia é um texto fácil, mas eu acho que hoje eu não faço
nem um terço do que eu dava (...).” (Prof.17)
“Eu sempre gostei muito de conversar com os alunos (...) eu acho que o raciocínio é o
principal. Então eu sempre levo o aluno a raciocinar eu nunca dou nada pronto se ele não
souber eu vou tentando, eu tento através de uma charada, ou de uma brincadeira ou de uma
leitura levar o aluno a refletir aquilo que ele precisa, mas nunca dou nada pronto (...). (...)
depois eu vou dando o conteúdo (...) eles precisam saber, mas eu deixo eles falarem bastante,
eu sempre usei isso.” (Prof.18)
b) O Planejamento
“(...) não usa nem olhar neste tal de planejamento que é outra burocracia inútil também
que tem que ter, para que? não sei que... porque tem que ter (...).” (Prof.02)
“(...) eu vou ser bem clara para você, esses planejamentos estão sempre prontos, você não
planeja praticamente, igual quando eu cheguei aqui o planejamento estava pronto era só
copiar, você trabalha ali (...). (...) eu vou ser mais sincera ainda para você, eu não olhava o
planejamento, eu não precisava, eu trabalho de acordo com o que a classe está precisando e
219
de acordo com o livro que me deram, aí eu vi que o livro não estava bom, então eu apliquei o
que eu achava que devia.” (Prof.14)
Um professor gosta de ir para a escola com sua aula preparada, mesmo que
tenha que fazer modificações no decorrer do dia. Na sua opinião, é importante ter
uma direção para trabalhar.
“Todos os dias eu preparo aula e não vou dizer que todos os dias eu sigo aquilo que eu
preparei, às vezes eu chego aqui e tenho que mudar todinha (...) porque às vezes eu chegava
sem preparar e eu vi que a classe ficava eufórica porque eu estava.... às vezes eu chegava
correndo porque eu tava fazendo faculdade, eu estava estudando, eu chegava sem ter
preparado nada, aí parece que tá tudo feio na sua aula porque você já não veio direcionada
para trabalhar. Então eu já venho com alguma coisa direcionada mesmo que eu mude aquilo
(...).” (Prof.16)
“(...) tenho que retomar porque pelo meu planejamento que faço semestral eu tenho que
retomar para que eles possam ter uma seqüência.” (Prof.20)
“(...) até hoje ninguém falou para mim: “olha, esse seu planejamento está errado”. Eu
comentei estes dias com uma colega que eu gostaria que pegasse o planejamento e falasse (...)
por isso que eu falo que tudo é falho, você faz, você olha, você revê aquilo lá, torna fazer,
entrega e eu não vejo retorno, se está errado ou se está certo (...).” (Prof.10)
“(...) este ano nós fizemos o planejamento por bimestre, não foi como era feito antes que
se fazia para os quatro bimestres, para o ano todo e este ano nós estamos fazendo por
bimestre, cada sala tem que fazer o seu e cada sala tem um tipo de planejamento (...).”
(Prof.11)
“(...) só que aí a minha sala é totalmente diferente, era um planejamento diferente e eu não
seguia um planejamento de quarta série porque eles não tinham condições de trabalhar
seguindo o planejamento.” (Prof.17)
“Eu não gosto muito de planejamento, eu acho que você não pode planejar nada se você
não conhece, mas como nós temos que planejar, nós planejamos. Então como eu já tenho
vários anos, eu planejo aquilo, mas é lógico que eu já sei que eu não vou usar, mas eu procuro
sempre estar em cima, ali, mas não com aquele tema que está pedindo, eu levo sempre para
que eles saibam tudo o que tem dentro do planejamento, mas de uma forma diferente. Não me
preocupo se eu preciso ou não acabar o planejamento... eu me preocupo de saber que o aluno
saiba aquilo que eu estou ensinando (...).” (Prof.18)
c) A Avaliação
Com relação à avaliação, apesar dos professores saberem que não é mais a nota
que reprova, oito professores encontraram várias maneiras de avaliar seus alunos.
Destaca-se dentre elas, participação, interesse em sala, tarefas escolares e
comportamento. Alguns destes professores também utilizam provas, mas não para
castigar e sim para orientar seu trabalho. Por mais que os professores estejam mais
flexíveis e diversifiquem as formas de avaliar, alguns lamentam não utilizar mais a
nota como um recurso para reprovar os alunos.
221
“(...) não é porque ele errou e não está lá 100% que ele vai deixar de ter... que ele não
sabe nada, é erro de cálculo, é erro de alguma coisa, mas eu dou nota de qualquer jeito
porque o que vale é o que ele faz o tempo inteiro, as aulas todas, a sua participação nas aulas,
eu sempre estou olhando caderno por caderno... vou avaliando eles deste jeito, têm também
provas, provas objetivas. Aí é uma questão mais para saber se eu posso passar para a frente
ou não, mas a nota em si... porque agora não precisa mais disso (...).” (Prof.01)
“(...) dificuldades em casa e progresso na disciplina também para mim tudo conta. Então
esse modo de avaliação que eu te falei não é só provas não, avalio eles de todas as formas (...)
porque tem dia que a criança nem almoçou para vir pra a escola, aí você vai dar conta,
trabalhinho, uma prova para eles e aí não faz mesmo, aí não faz porque está com problema em
casa, aí você vai tentar procurar, puxar, saber o porquê. (...) a gente não tem retaguarda
mesmo para cobrar não tem porque a nota porque sabe que passa (...).” (Prof.06)
“Agora a minha avaliação é totalmente diferente do que tem por aí, eu faço um gráfico e
tudo o que ele fez é avaliado, a prova em si não existe, toda sexta-feira eu faço uma avaliação
da semana em folhinha é para eu ver o que eles estão deixando de aprender. A avaliação ela
tem sido feita para eu diagnosticar o que eu vou trabalhar, se eu vou continuar com aquele
assunto, ou se eu vou parar. (...) as nossas notas aqui elas são muito fáceis de você fazer, pois
através deste gráfico que eu te falei, eu já tenho uma visão geral deste aluno.” (Prof.20)
“(...) eu não avalio aluno com prova, eu sou contra a prova, detesto questionário, detesto
prova, eu conheço meu aluno no dia-a-dia. Se você entrar na minha sala de aula, eu falo para
você dedo a dedo quem sabe e quem não sabe minha matéria. Então eu não dou nota para
ele... se por exemplo hoje eu marco a prova para amanhã e justo aquele dia ele não está legal,
como é que eu vou dar zero para ele, eu não posso fazer isso porque ele é um bom aluno,
aquele dia ele não estava bem (...).” (Prof.05)
Um outro dá provas para mostrar aos pais, mas avalia seu aluno pelo o que ele
faz e é durante o ano em classe.
“Quanto a minha avaliação é o dia-a-dia, é o que o aluno faz em sala de aula, é o que ele
faz para casa que eu peço. Eu dou provas, eu tenho um caderninho bonitinho de provas, eles
fazem, mas isto daí é para mostrar para o pai, para a mãe porque eles querem ver o que o
filho faz na sala de aula e em prova a minha nota não é dada pela prova dele, a minha nota é
pelo que o aluno é durante o ano todo, durante o bimestre todinho na sala de aula (...).”
(Prof.12)
“(...) toda semana eu dou avaliação, eu dou avaliação semanal, no caderno, cada semana
é uma matéria porque se deixar acumular duas ou três semanas eles já não fazem mais nada.
Então eles têm avaliação toda semana, eles já acostumaram toda sexta-feira tem avaliação
escrita. Eles têm um caderno só de avaliação.” (Prof.15)
222
Um outro professor comentou que quando fala aos alunos que determinada
atividade vale nota, cumpre e marca na caderneta.
“(...) eu falo que aquilo vale nota, que eu dou nota e realmente eu dou, eu coloco na
caderneta.” (Prof.08)
Um professor acredita que não se deve mais avaliar o aluno. O docente precisa
no momento atual, avaliar seu próprio trabalho.
“Quanto à avaliação, o professor acha que não pode avaliar mais, fica bravo. Agora você
deve se avaliar. Na avaliação, são dois cidadãos fazendo troca, trocando conhecimentos, um é
uma pessoa mais vivida e outro está em formação. O aluno não tem que ser avaliado porque
ele está sendo orientado e não punido. Quem tem que avaliar o professor é ele mesmo, se eu
consegui chegar até o aluno eu tenho que me auto-avaliar, eu tive métodos diferenciados,
práticas diferenciadas, uma vivência de 48 anos .” (Prof.09)
“(...) eu vou fazer uma provinha para ver se a criança realmente aprendeu, aí eu vou sentir
quantos não atingiram (...). Então a avaliação seria diagnóstica, para mim, aonde eu preciso
melhorar. (...) a nota mesmo se você for ver você dá assim no dia-a-dia, eu pelo menos sou
assim, ainda mais eu que trabalho com classe de 2ª série... eu tô corrigindo caderno todo dia,
eu estou vendo o avanço do meu aluno (...).” (Prof.19)
“Eu vou lutando, lutando, procuro dar satisfação naquilo que eu quero passar para eles,
pôr isso que eu te falo: "a gente luta muito para conseguir, mas sempre tem um resultado"... às
vezes tem um resultado que eu não esperava, às vezes é até mais do que eu esperava
dependendo do interesse deles, sabe, eu fico realizada... às vezes eu fico triste, decepcionada,
que eu não consegui, mas está ainda mais pelo lado positivo. Às vezes tem aluno que eu fico
encantada (...).” (Prof.07)
223
Para outro professor, o fato de não ter uma relação próxima, de amizade, com
os alunos, como antigamente, o machuca muito.
“(...) a primeira palavra chave que veio na minha cabeça foi decepção porque eu já
cheguei a encontrar com aluno meu que está fazendo hoje faculdade que fui em festa de 15
anos, você entendeu? mas foi outra época... nós estamos vivendo numa fase de loucura, hoje
não tem mais essa proximidade com o aluno... que pena, sinto muito (...).” (Prof.05)
Para um outro professor o seu maior sofrimento foi quando perdeu suas aulas e
a sua maior alegria foi o acolhimento dos alunos neste momento tão difícil.
“(...) quando perdi metade das aulas nossa! Eu entrei assim numa depressão muito grande
(...) de repente vem alguém e full!. Aí eu fiquei em depressão, chorei muito (...). (...) magoou a
mim principalmente é porque nunca tinha acontecido isso comigo neste tempo todo de
trabalho, nunca fiquei sem aula. (...) o que eu achei bonito, saindo um pouquinho do assunto,
mas está no mesmo... quando eu perdi essas classes, você pode vir aqui à tarde e ver meus
alunos virem me abraçar: "ah! Professora a senhora deixou a gente, aquela fulana..." me
beija, me abraça, põe a cabeça no meu ombro, isto de todas as séries, até aqueles mais
encapetados (...).” (Prof.08)
“Agora têm alguns que realmente você não consegue nada, isso às vezes te deixa meio
frustrada (...). Eu falo para os alunos, você sabe, eu falo para eles: “olha, eu entro aqui na
sala com uma vontade de fazer tanta coisa, mas eu vejo vocês com este comportamento, com
esta falta de respeito, xingar professor e tudo mais”...isso me acaba, me acaba, eu perco todo
aquele ânimo.” (Prof.11)
“(...) eu fico chateada de ver essas coisas e não conseguir ajudá-los (...), você chama a
mãe, fala para ela: “mãe, eu vi o seu filho meia-noite na praça, não está certo, ele está na 2ª
série”. Mais ela fala que não consegue segurá-lo e hoje ele está ai.. Eu fico chateada, mas eu
não vejo uma solução. Eu tive aluno que foi meu e para falar uma palavra ele contava as
vogais no dedo e ele não conseguia nem fazer isso e ele tinha 14 anos. A hora que ele foi para
a aceleração, mas isso eu suei muito na segunda série para fazer isso com o garoto, ele
aprendeu, eu perdia tempo com ele, sabe eu esqueci o resto e ficava com ele para ele
aprender. Isso para mim é muito gratificante (...).” (Prof.12)
224
Um professor comentou que se desgasta muito para fazer o aluno ter interesse
pelo aprender.
“(...) então está sendo um desgaste muito grande pra gente fazer com que o aluno tenha
interesse o tempo todo dentro da sala de aula (...).” (Prof.13)
“Então são duas tristezas que eu tenho como professor que é "a criança ser empurrada"
(...). Às vezes nós ficamos muito felizes porque você sente que conseguiu um bom trabalho e ao
mesmo tempo você está triste porque você vai abandonar uma criança que está precisando
muito de você. O meu coração se entristece neste ponto ai, mas o negócio é entregar na hora
certa e pedir para Deus para tomar conta do ano que vem porque se não o professor não vive
também.” (Prof.14)
“Então tem dia que eu vou para casa angustiada e eu peço para o senhor que amanhã eu
dê aquilo que eles precisam. Tem dia que é frustrante, você vai embora magoada, estressada e
não tem vontade de conversar, ah! Vou desistir disso, mais aí tem uma coisa mais forte que
fala: " vai, vai fazer a sua parte"... vai ter frutos, eu tenho certeza que vai, não são todos,
mas....e a escola que propõe trabalhos e eu achei que eu era incapaz de conseguir aquilo, mas
não aconteceu nada, aqui não acontece (...). Eu vejo certas atitudes das mães que eu vejo na
rua meu Deus do céu... Eu me alegro na sala de aula porque eu gosto de estar ali com eles, eu
procuro fazer um ambiente legal, eu gosto de vir trabalhar (...).” (Prof.16)
“(...) esta angústia... eu percebo que eu não tenho mais aquela paixão que eu tinha há
cinco anos atrás mais ou menos porque eu vejo muito desinteresse da criança, dos pais, as
dificuldades econômicas dessa nossa clientela, sabe é difícil, você fica descrente, você fica
desanimada, sei lá você fala poxa vida eu não era assim, eu me cobro, eu fazia tanta coisa e
hoje eu faço muito menos do que o fazia. É gratificante você pegar um caderno de uma
criança e olhar; você vê que aquilo que você trabalhou ela conseguiu alcançar e eu vejo as
minhas crianças hoje e elas ficam naquela mesmice, então isso é meio angustiante.” (Prof.17)
225
Um outro professor comentou que apesar das decepções que têm com a escola,
se sente muito realizado quando consegue realizar um bom trabalho com os alunos.
“(...) hoje estou muito magoada porque eu achei que eu fui passada para trás. Eu peguei
uma série que eu achei por estar aposentando eu acho que eu merecia essa consideração me
deram a pior classe que tem. (...) 4ª série e eu vou ter que alfabetizar (...). (...) me sinto, sabe
realizada, apesar de tudo eu ainda me sinto bem realizada. A coisa mais gostosa que tem é
saber que você está passando alguma coisa extra para os alunos e que eles estão
aprendendo... eu gosto (...).” (Prof.18)
“Gosto dessa experiência, eu acho gratificante e eu nem sei se eu saberia ficar fora de um
lugar como este. (...) é lógico quando você vê que seu aluno não sabe ler nada e tem
dificuldade até no seu próprio nome você começa a questionar por onde você vai começar,
você começa a ficar até um pouco assustada, frustrada, você fica... que nem o meu primeiro
dia de aula que eu falei: " meu deus o que é que eu vou fazer este ano com estas crianças deste
jeito?." (Prof.19)
“Então você fica angustiada você quer fazer alguma coisa, tem hora que você quer voltar
eles para a primeira série, para acompanhar um pouquinho para ver se ali ele vai. (...) você
gostaria que todos caminhassem. Outra coisa que me incomoda você acha que trabalhou
divinamente uma matemática de repente vem aquele monte de erro de novo, um bloqueio... e
eu falo aonde foi que eu errei, mas parece que eu expliquei tão bem e tem outras horas que
você sente que conseguiu.... então essas coisas são gratificantes, mas na hora que você malha
que não vê resultado é ruim.” (Prof.20)
“Que apesar dos pesares eu consigo a disciplina na minha sala de aula de todos os alunos.
Tem classe que é um pouquinho mais difícil, mas eu consigo. Com o aluno mais indisciplinado
eu vou, eu converso com ele pessoalmente, baixinho, quando a classe é muito grande eu chamo
226
na porta, no corredor, eu converso com ele, perguntou o que está acontecendo. Nunca na
frente de todos, sempre particular, converso, às vezes.... quinta série que é criança, converso
baixinho no ouvido com eles e eles me escutam, então eu consigo. (...) quando acontece
alguma coisa e eles começam a tumultuar tudo, aí eu dou um berro e eles ficam tudo
quietinho. Mas o meu berro, eu berro, eu grito e eles ficam quietos (...).” (Prof.01)
“(...) é grande o desinteresse deles, com certeza é muito grande, o que você tem mais hoje
em dia dentro de uma sala de aula, são alunos totalmente desinteressados que não querem
nada com os estudos (...). Você está dentro de uma sala de aula... é guerra de papel, é guerra
de giz, é aluno que te responde porque você manda ele sentar (...).” (Prof.04)
Para um outro professor a maior dificuldade que possui na sala de aula é que os
alunos não estão alfabetizados.
“(...) principalmente o jovem do colegial que vem de família desestruturada (...). (...) uma
dificuldade muito grande que eles estão tendo é a alfabetização. Eles não estão vindo
alfabetizados do primário, poucos conseguem escrever bem (...). (...) eles estão vindo para a
quinta série sem ser alfabetizados (...). Ele não quer mais abrir o caderno, ele não quer mais
copiar as lições, um ou outro só que fazia isso.” (Prof.08)
“(...) eles não têm material quando você dá o material ele estraga, ele perde. Faltam
recursos para trabalhar; de repente você vai olhar o caderno e ele só copiou da lousa, ele não
respondeu nada. Você chama pai, chama a mãe deles e não aparecem estão no trabalho.
Então você tem que ficar mais no individual com cada um e isso atrapalha bastante porque
aquele que termina começa conversar, já não obedece enquanto você se dedica a uns 15
alunos da sala, se vinte vai bem, 15 está mal. Então você tem que batalhar em cima porque se
não ficar em cima do aluno aí fica pior para a sala toda porque aí vai gerar mesmo
indisciplina. Está difícil.” (Prof.13)
“(...) eu sinto neles, eles são muito agitados. (...) tem aluno que vem não está nem aí, não
traz material, você quer dar um recorte não tem tesoura, você quer dar uma colagem você não
tem a cola (...) nem caderno eles compram. Então é difícil esta minha aula. porque eles não se
comportam, não sentam, não ficam quietos. (...) eu já pus até a música, mas eles começam a
discutir, um quer isso, o outro quer aquilo (...) tem uma série de problemas, você sabe, então
o professor começa a ficar assim, cansado, desiludido; eu sinto isso, eu não consigo fazer o
que eu quero. (...) você fica assim perdida, eu sinto isso.” (Prof.10)
227
“ (...) tenho problemas com aprendizagem, com aquelas crianças que têm dificuldade (...).
(...) a questão da difícil aprendizagem deles, este ano eu estou com uma quarta série que eu
praticamente estava alfabetizando eles no começo do ano (...). (...) é a maioria de trinta
crianças, vinte não tem material e chega e fala professora não tenho e você vai falar "eu não
sou sua mãe" quer dizer a mãe também não tem (...) tem criança que vem na escola somente
para comer (...). Eu cheguei a conclusão que só a mim que eles respeitam (...) eles são
danados demais, eles não têm interesse. Eu vejo assim lá tem meia dúzia que vai para o
ginásio e o resto vai acabar pagando, vai ficar para a rua (...).” (Prof.17)
Um professor comentou que o aluno vai para a segunda série até sem
coordenação e mesmo assim o professor é obrigado a aprová-lo no final do ano.
“eu tenho aluno na segunda série que não escreve que não conhece o "a, e, i., o, u" (...)
quando ele estiver na terceira série, já que você é obrigado a passar automaticamente este
aluno para a terceira séria, eu acho que eu estou pisando na cabecinha dele, não dando
direito dele expor para fora, colocar o conhecimento dele. (...) têm alunos que nem a
coordenação motora tem (...). Eu tenho aluno que não sabe numerais, do um ao dez (...).”
(Prof.12)
Na opinião de dois professores o aluno fica muito tempo dentro da sala de aula.
Um acredita que salas ambientes ajudariam. Outro professor comentou que o vídeo e
a quadra deixariam os alunos menos cansados. Supomos que estes professores não
realizam as atividades que gostariam, pois na escola falta estrutura e condições.
“(...) eles são mais inquietos porque aqui não tem sala ambiente e então não muda, ele se
fica da 7 horas até o meio-dia em um único ambiente, então eles são inquietos (...). Eles não
têm muito raciocínio.” (Prof.15)
“(...) Então eu acho que é maçante sim... para criança sim... posso mudar isso Patrícia?
Posso! Brincando aqui fora, mas não é só eu, têm as outras classes que precisam sair, é uma
quadra só. O vídeo não é sempre que eu posso usar porque nós somos em muitas salas. Então
tem que ter uma escala, tá certo, é viável?” (Prof. 16)
“(...) se bem que este ano eu peguei uma quarta série com muitos alunos que não estão
nem alfabetizados direito. Então eu vou ter que fazer um trabalho de alfabetização porque são
muitos, não são poucos não (...). (...) porque eu venho trabalhando com quarta série e elas
nunca chegaram com tantos problemas, problemas sempre tem, mas é com 1, 2, 3 alunos, mas
ter metade da sala com problemas é complicado porque você tem uma classe que pode
caminhar que é uma quarta e a outra metade não está nem alfabetizada, quer dizer não é
nenhuma quarta série(...).” (Prof.19)
228
Um professor este ano está com um aluno que o preocupa muito. Na sua
opinião, precisa da ajuda de um profissional, pois não sabe o que fazer com este
aluno. Dois professores não comentaram sobre o assunto.
“Agora têm crianças... realmente a gente não é um profissional para avaliar, mas tem
criança que não vai, não vai porque você vê uma criança que não conseguiu assimilar nem o
a,e,i,o,u. Você já sabe que ela tem algum problema, alguma coisa ela tem, esses realmente
você sabe que vai dar trabalho o tempo todo. Na minha sala de 7 que eu estou com problema,
um é que eu já estou vendo que não vai ser fácil, então daí que eu falo: "o que eu faço com
uma criança dessas?". Então é difícil você vê de 33, ele é o único que está totalmente distuado,
eu estou caminhando com os outros, mas ele ainda está para trás.” (Prof.20)
lecionar Educação Artística. Além de não ter um livro didático para acompanhar, os
alunos parecem confundir uma aula relaxante e descontraída, com bagunça e folia.
Dois outros professores gostam de trabalhar com práticas pedagógicas ligadas à
realidade dos alunos. Um destes gosta de motivar e ensinar também os alunos a
gostarem das matérias que não apreciam.
Um outro professor procura estimular o aluno à participação, quando explica a
matéria. Além disso, gosta de estudar e fazer as tarefas junto com os alunos, para
incentivá-los e ajudá-los a gostar de aprender. Um outro professor também valoriza
muito a opinião de seus alunos. Um outro professor gosta de trabalhar muito com
poesias e rimas, mas, infelizmente, hoje, na sua opinião, não consegue fazer nem um
terço do que fazia antigamente. Para um outro professor, trabalhar o raciocínio do
seu aluno é a sua principal tarefa. O conteúdo das disciplinas deve vir depois.
A maioria dos professores desenvolve suas atividades pedagógicas sem muitas
dificuldades e a maior parte das vezes com bons resultados. Procuram despertar e
motivar o interesse do aluno para a aprendizagem, diversificando sua forma de
ensinar e valorizando as experiências dos alunos. Uns acreditam que não é porque
são tradicionais, não podem inserir atividades dinâmicas e atuais.
Quanto ao planejamento, a maioria dos professores, que se referiu a este
assunto, faz o seu plano de aula, mas parece-nos, que além de não gostar muito desta
obrigação, não o segue rigorosamente. Os professores desenvolvem seu trabalho de
acordo com as necessidades do seu cotidiano escolar e o planejamento parece ser
mais utilizado como uma referência. Alguns professores comentaram que somente
fazem o planejamento. Para um outro professor é importante ter uma direção para
trabalhar, mesmo que tenha que modificar suas atividades. Um professor comentou
que gostaria que alguém lesse seu planejamento e desse um retorno do trabalho que
desenvolve.
Os professores que fazem o planejamento não o consideram importante e não
concordam em realizá-lo. Parece-nos que o planejamento não determina as atividades
de sala de aula que os professores desenvolvem e acaba sendo útil mais como um
ponto de apoio, uma orientação. Existem pouquíssimos professores que não
deixaram claro se apreciam ou não fazer este trabalho, mas cumprem. Somente um
230
aprenda. Um professor comentou que se desgasta muito para fazer o aluno ter
interesse pelo aprender. Um outro professor comentou que possui duas tristezas: a
primeira é ver a criança ir para o ano seguinte “empurrada” e a outra é saber que
ainda ela vai precisar dele. A alegria para este professor está relacionada em
conseguir fazer um bom trabalho. Para um outro professor, o seu maior sofrimento
foi a perda de suas aulas e a sua maior alegria foi o acolhimento dos alunos neste
momento tão difícil. Para outro professor, o desinteresse e os problemas familiares
das crianças geram muita angústia. A gratificação é o aluno conseguir aprender o que
ele ensinou. Um outro professor comentou, que apesar das decepções com a escola,
se sente muito realizado quando consegue realizar um bom trabalho com os alunos.
Um outro professor comentou que estar na escola é muito gratificante, mas confessa
ter ficado bastante assustado e frustado quando viu que a maioria dos seus alunos de
quarta série não estava sabendo ler e escrever.
Os professores têm muitos contentamentos na sua prática de sala de aula,
principalmente, com seus alunos. Pode ser que eles se frustrem e desanimem, quando
as coisas não saem do jeito que gostariam, ou por não conseguirem transpor os
obstáculos que surgem no cotidiano escolar. Destacamos, ainda, que os professores
possam estar com dificuldades de aceitar a forma como o ensino se encontra hoje.
Talvez estas situações atrapalhem o desenvolvimento adequado das suas atividades.
Podemos supor também que, a partir dos relatos, os professores se queixem da
falta de apoio da equipe técnico/pedagógica para superar os problemas escolares, ou
procuram desabafar, ou ainda, pedir ajuda para o entrevistador, já que este além de
ser pesquisador é psicólogo.
Quanto aos problemas que os professores do Ciclo-II enfrentam em sala de
aula, podemos citar: classes indisciplinadas, a falta de interesse e os alunos do Ciclo-
II que não estão alfabetizados. Parece-nos que poucos professores, por mais que
estejam preocupados, não conseguem contornar as dificuldades, principalmente de
indisciplina.
Os problemas que os professores do Ciclo-I se deparam seriam: os alunos não
trazem material; muitos não têm nem o que comer; o aluno vai para a segunda série
até sem coordenação e mesmo assim o professor é obrigado à aprová-lo no final do
232
ano; o aluno fica muito tempo dentro da sala de aula e a maioria dos alunos da quarta
série precisa ser alfabetizado.
Embora os professores se queixem dos vários problemas que enfrentam no
cotidiano escolar, parecem estar acomodados. A grande maioria das vezes,
responsabilizam o aluno e também, a falta de condições da escola e até da família
pela situação em que se encontra o ensino. Parece-nos que mais uma vez procuram
no entrevistador ajuda para resolver os problemas complicados dos seus alunos.
Dos vinte professores que se referiram ao assunto, supomos que oito têm uma
visão bastante superficial do que vem a ser os PCN. Destes, três relataram que esta
proposta de ensino precisa ser utilizada pelos docentes.
“(...) eu comecei a ler e não via muito sentido naquilo, eu achava chato ter que ler aquilo.
Então eu li por cima e não ficou muita coisa não, então eu não me lembro direito o que é (...).
(...) e ficam muito na teoria também porque eles falam que tem que ter interdisciplinaridade...
então um mesmo assunto ser trabalhado em todas as matérias, isso eu me lembro que os
Parâmetros fala (...) mas não mexo com isso não.” (Prof.02)
“Eu li os parâmetros não totalmente, mas eu li, acho uma boa, isso daí é bom (...). (...) eu
acho eles excelentes, só que depende da clientela que você tem. Eu cheguei a ler da minha
área e ele é uma obrigação que você tem que seguir por ele, você não pode sair fora. Eu acho
que.... não vou pôr nem como a Bíblia, mas como se fosse o livro didático do professor. Eu
achei quando eu li, eu não li ele inteiro, eu li uma parte. Ele é chato de ler, é cansativo, mas eu
achei que ele é um livro didático, é um ponto de referência para o professor (...).” (Prof.05)
“Eu sei que é uma mudança que tem que ser implantada e você pode até estar fazendo esta
mudança sem saber que está nos PCN. O que eu acho conforme vai passando, você vai
aprendendo mais... então você pode até estar aplicando aquilo ali sem saber (...). Os
parâmetros... é como a gente deve trabalhar, o que tem que ser feito, montado em todas as
áreas, então isso são parâmetros que eu tenho que seguir (...). (...) nós temos que seguir os
233
PCN, nós temos que trabalhar seguindo eles e é o que nós fazemos, mas falar que eu conheço
a fundo parte por parte, eu não o conheço.” (Prof.12)
“Os PCN é o trabalho que você deve desenvolver dentro da sala de aula e para você
também desenvolver um planejamento das suas aulas durante aquele ano, certo, é ótimo, só
que é tudo bonitinho, mas aplicar dentro da sala de aula, é difícil(...). (...) este ano eu não mexi
nos PCN, eu cheguei aqui, fomos copiar as coisas do ano passado e copiei, eu só vi um dia que
foi feito planejamento, foi feito por bimestre, não foi anual e o que eu achava que dá para
encaixar eu encaixava, o que eu achava que não dava eu jogava fora. Ali fala de todas as
áreas, é bem diversificado.” (Prof.14)
“Eu não me lembro, eu não me lembro mesmo disso daí, do que se trata... pode até ter sido
lido isso (...) pode até ter sido dado alguma coisa, mas agora eu não me lembro (...) depois eu
vou ver o que é, do que se trata isso daqui, eu vou ver aonde eles estão, olha que vergonha!
(...) eu vou perguntar para o C. depois, onde estão estes livrinhos, que eu realmente não sei.”
(Prof.01)
“Os Parâmetros Curriculares Nacionais são uma ótima inovação no ensino. Se ele for bem
aplicado pelos professores, se estes tiverem ciência de sua devida importância na educação....
Pois a proposta destes Parâmetros é bem clara: todos os professores devem trabalhar em
conjunto, seu corpo docente não for unido de traçar os mesmos objetivos no campo
educacional na prática ele não vai funcionar, vai ficar apenas no papel, ou seja na teoria (...).
Para mim, esses parâmetros, eles vieram para na verdade ligar as disciplinas (...) não isolar o
Português, a Matemática, a Ciência... mas trabalhar todos em um conjunto (...). ” (Prof.03)
Um professor parece não ser favorável aos PCN. Na sua opinião este surge
para ocultar a situação complicada e difícil em que o ensino se encontra.
234
“Os Parâmetros Curriculares Nacionais eles citam como professor deve proceder de
acordo com o seu conteúdo, sua disciplina, mas eu acho que eles não globalizaram muito, eu
acho que eles são assim, têm muitas diretrizes, muitos itens, muitas leis para um objetivo só,
sabe, muita criação, muito idealismo, muita criatividade para uma coisa óbvia. Então isso que
eu tentei colocar aqui. Eu acho que eles criaram muita coisa, muito artifício e artimanhas,
para mostrar para sociedade que a educação está boa, está de nível (...) mas que não é bem
assim.” (Prof.08)
Um professor relatou que não vê nenhuma novidade nos PCN. Na sua opinião
o professor já trabalhava dessa forma.
“É a mesma coisa que antigamente, só que agora eles usam outros nomes, outros meios,
mas é a mesma coisa que a gente via, dava, são os mesmos temas, só trocam os nomes, muita
coisa e assim se aprofunda também mais sobre o assunto, ele trabalha muito o hoje, não muito
escrito, não muito falado, é mais no prático (...).” (Prof.11)
“Eu coloquei aqui que não conheço porque sinceramente eu nunca tive acesso aos
Parâmetros Curriculares Nacionais. Eu comecei a atuar agora na área e como eventual a
gente não tem HTPC (...) nos quatro anos da faculdade nós também não vimos os Parâmetros
(...) eu consegui esses livros (...) porque eu preciso fazer um trabalho da pós-graduação e tive
que ir atrás para procurar, mas ainda não deu tempo de eu olhar para o lado deles, eu
acredito que eles devam ser propostas, projetos de ensino da educação, mas voltados para as
determinadas áreas, mas eu desconheço como eles trabalham em cada ramo, então cada
área.” (Prof.04)
Para um outro professor é difícil ler um assunto que desconhece. Ouviu falar
superficialmente na escola, mas que ninguém explica direito o que vem a ser.
“(...) eu não conheço os PCN. (...) é o que todas as escolas públicas quisessem alcançar,
acho que seria isso. Um parâmetro para você não se perder. O que estaria acontecendo ali e
você adequa aquilo na sua realidade, eu acredito que seje isso, não posso te falar porque não
tive leitura disso. Eu também acho que isso seria uma inovação, mas por parte do Governo,
agora eu não sei se na Escola Pública é inovação! Eu não conheço ninguém que saiba me
explicar alguma coisa dos PCN. (...) é muito difícil você ler uma coisa que você desconhece,
não posso te falar muito dos PCN não! Só ouço, oh! É de acordo com os PCN, é de acordo
com isso e têm muitas coisas que abafam, têm muitas coisas que você não sabe, mas está
acontecendo (...).” (Prof.16)
235
“(...) as mudanças sempre têm questões políticas por detrás (...). Todas essas mudanças
inclusive os Parâmetros para nós, não acrescentou nada, provavelmente deve até ter coisas
interessantes (...). Neste curso de Educação Artística ela comentou que nos parâmetros têm
muita coisa interessante... eu acho que eu até preciso ver porque eu sou péssima em educação
artística (...).” (Prof.17)
Um outro professor apreciou a proposta dos PCN, mas teve muitas dificuldades
de entendimento. Os termos técnicos empregados, não fazem parte do cotidiano do
professor. Precisaria de orientação para estudar e utilizar os PCN.
“(...) quem fez os parâmetros ele levou em consideração que o professor sabe tudo, mas
nós precisamos às vezes do auxílio de outra pessoa porque tem determinado assunto lá que
nós não sabemos o que que é porque ele foi tratado lá de uma tal forma com muito termos
técnicos que nós não usamos no nosso dia-a-dia, nós não usamos isso no nosso conteúdo. (...)
eu gostei muito está muito bom. Para mim os parâmetros seriam como eu deveria trabalhar
uma seqüência lógica dos conteúdos que precisam ser trabalhados aquele ano com aluno. O
PCN veio te mostrar realmente como você deve fazer o seu planejamento, os objetivos que
você tem que ter para depois você fazer a sua estratégia, o seu conteúdo e o modo que você
pode avaliar tudo isso que você fez.” (Prof. 18)
“Quando recebi os PCN eram férias, eu dei uma foliada, comecei a ver e achei
interessante, eu li a introdução e peguei primeiro Português e Matemática porque eu achei
que eram os principais e depois eu fui lendo um a um, eu li quase todos e achei interessante a
proposta colocada e quando voltei para as escolas no começo do ano seguinte todo mundo já
estava falando sobre os Parâmetros eu já sabia bastante sobre eles.” (Prof.19)
Com relação à implantação dos Parâmetros Curriculares nas Escolas, dos vinte
professores entrevistados, quinze se referiram a este assunto. Quatro professores
conheceram os PCN na escola onde a pesquisa foi realizada. Na época da
implantação os livros foram entregues, foi pedido que lessem, mas ninguém falou o
que era, e qual seria a utilidade no mesmo. Supomos que este contato foi superficial.
236
“(...) então eles chegaram em forma de livros... eu me lembro que vieram duas coleções só
que foi apresentado no HTP, aí eles mandaram que a gente lesse que fosse revisando que um
passasse para o outro.” (Prof.02)
“Os parâmetros foram apresentados pelos coordenadores, eles foram nos mostrando, eu
não me lembro direito, mas não foi passado muita coisa para gente não, só entregaram os
livros, aquela caixinha com os quatro livros e ficou por isso mesmo. Ninguém falou o que
vinha a ser, para que que era (...).” (Prof.12)
Dois outros professores tiveram contato em outras escolas. Supomos que para
estes, o contato foi um pouco melhor.
Para um outro professor a chegada dos PCN à escola onde lecionava não foi
uma experiência muito boa. Os professores foram obrigados a estudar e aplicar a
nova proposta de ensino.
“Eu estava no M. L., eu lembro que quando eles chegaram com aqueles livrinhos, foi um
choque para todos nós, sabe e nós falávamos: "olha que o Governo inventou"... então foi um
choque para todo mundo e a Direção falou: "eu sei gente que é chato, é criação, é o novo
sistema, nós somos obrigados a ler, a entender, a acompanhar e a aplicar", mas foi difícil.
Muita gente pegava, guardava dentro da bolsa, levava para casa e devagarzinho, trazia de
volta (soltou uma gargalhada) e a gente ia vendo, mas mesmo assim há falhas até hoje. No
seguimento disso tudo, inclusive aqui.” (Prof.08)
Para dois outros professores na época da implantação foi passado somente que
precisariam ler e que os seus planejamentos a partir daquele momento fossem feitos
baseados nos PCN.
237
“Eles dão para gente o livro, a gente vê, a gente estuda aquilo lá que eu vi... eu não lembro
a escola que foi a primeira vez que eu ouvi, mas foi uns três ou quatro anos, eu acho que há
uns três anos por aí que eu vi. (...) só deram os livros e a gente tinha que desenvolver o
planejamento daquilo ali (...) eu nem sei em que escola eu estava.” (Prof.10)
“Então assim que os parâmetros era discutido com a coordenadora dentro na Delegacia...
então ela nos orientava e ela sabia muito na área dela que era Geografia e História (...).”
(Prof.05)
Um professor relatou que veio uma coleção para cada professor, numa caixinha
“muito bonita”, mas não ocorreram estudos, não aconteceu mais nada.
“O PCN veio uma coleção para cada professor só que não teve estudo, eu tenho os livros
dos Parâmetros Curriculares Nacionais, veio até em uma caixinha, bonitinha para você
guardar (...). (...) quantos anos que foram implantados os Parâmetros? Uns três anos? Uns
quatro anos, mas não teve um estudo.” (Prof.15)
“(...) chegaram os livros, deu a maior ênfase para gente ler, mas não houve a leitura não,
nós não estudamos os PCN, só foi mostrado o material, uma proposta de trabalho, mas que
não aconteceu, não aconteceu não (...). Eu acho que a própria escola não teve tempo de ler
para repassar, foi enviado.... como que uma pessoa vai passar se ela mesma não sabe? Ela
desconhece aquilo também como eu desconheço. (...) eu acredito que nem seja má vontade do
coordenador porque é difícil para ele estudar uma coisa que ele também não teve nada... sabe
passou por ele, veio de alguém que nós nem sabemos quem escreveu e chegou aqui nas nossas
mãos, não foi elaborado por nós mesmo, então é difícil você estudar isso.” (Prof.16)
“(...) ele esquece que o professor precisaria assim para essa implantação desses
parâmetros que ele teria que ter sido bem estudado para o professor ter realmente
conhecimento do que está ali e para ele poder aplicar. (...) nós fizemos o seguinte desde
quando nós recebemos os PCN, nós dividimos de primeira a quarta série (...) cada grupo ficou
responsável por uma área. Um grupo ficou com Educação Artista, outro com Matemática (...)
para cada um ler todo o livro.” (Prof.18)
“(...) e esse planejamento tem que estar dentro desses parâmetros, você não pode fugir.”
(Prof.02)
“A coordenadora até fala que o nosso planejamento tem que ser feito conforme os PCN,
mas também a orientação dela ficou só a nível de apresentação e teve algumas OT (orientação
técnica) feita pela Delegacia de Ensino, mas vai um professor de cada escola que volta para
escola e passa para o grupo de professores, mas passa sem falar: “vamos sentar e vamos
fazer”. O único que está indo que eu vejo, são os Temas Transversais que o pessoal está
trabalhando mesmo.” (Prof.15)
“O que é de acordo com os PCN? o que é isso? Mas, se não for? e se o meu planejamento
não for? Ele não foi desenvolvido, eles falaram que o planejamento tinha que ser de acordo
com os PCN. Então o planejamento... eu não sei se está de acordo com os PCN.” (Prof.16)
“(...) a interdisciplinaridade que é uma ligação de uma área com a outra porque todas as
áreas são ligadas. Então uma área trabalha com a outra e todas em conjunto reforçam
determinados assuntos (...) dentro desses blocos tem os temas, a forma... as sugestões de como
trabalhar e ali você vai desenvolvendo junto. Então tem uma imensidão de coisas para serem
feitas (...) que eu acho é muito rica. (...) A gente trabalha na outra escola muito com projetos,
os professores lá montam juntos. (...). (...) mas aqui não está dentro de projetos (...) aqui não
está todo mundo sabendo de tudo mesmo do que tem que ser feito com os PCN, não!”... não
está deixando de cumprir, mas está caminhando. (...) dentro de uma sala de aula você sabe
como trabalhar os PCN, agora a interdisciplinaridade, acho que está precisando de um
esforço maior de todos, um entendimento melhor mesmo, o pessoal entender e trabalhar em
cima daquilo para valer.” (Prof.07)
“(...) eu entendo aqui, estes PCN que a gente tem que trabalhar, como é que fala,
interdisciplinaridade, não é? Quer dizer, todos em conjunto (...) mas ao mesmo tempo é
difícil, eu vejo muita dificuldade, muita dificuldade mesmo de nós, nós mesmos nos reunirmos
para formar, para montar um trabalho, um projeto juntas, eu acho difícil. então isto seria o
ideal, trabalhar dentro dos PCN, mas é difícil quando você vê cada um faz o seu e entrega.”
(Prof.10)
Com relação aos três professores substitutos, dos dois que comentaram sobre o
assunto, um está a par de um projeto que a escola desenvolve, apesar de não trabalhar
neste. Já o outro professor não tem noção nenhuma do que sejam os Parâmetros e o
trabalho que pode ser feito com o mesmo.
“(...) eu lembrei de um mesmo, o projeto do Dourado que eles estão fazendo, talvez algum
professora ainda vai comentar. Então todos os professores trabalhando sobre a poluição do
Rio Pardo... então todas as áreas estão trabalhando. Isto para mim eu acho que está dentro
dos parâmetros curriculares, quer dizer pegou uma proposta do Rio Pardo está trabalhando
em Ciências, em Matemática, Português... com todas as classes de quinta a oitava série, senão
me engano até de primeira a quarta série eles estão fazendo, trabalhando neste projeto
também. Português trabalha com poesia, enfim cada um... a Ciência fala poluição, História a
história do Rio Pardo né (...).” (Prof.03)
“(...) como eu peguei aula há pouco tempo de substituição que antigamente era eventual,
eventual não faz HTPC e agora como eu estou substituindo uma professora de licença, eu fiz
240
muito pouco, comecei a fazer agora o HTPC por isso que eu acho que não deu tempo de
chegar a passarem para mim o que são estes parâmetros, acho que é isso.” (Prof.06)
“(...) Agora a única coisa que eu acho difícil dele é a escolha de livros porque eles
mandam uma listagem de livros praticamente....pro meio.... como fala assim...pro meio que
você vive (...) então ele tem livros muito bons, mas tem que escolher sempre aqueles mais
fracos (...). Os livros que você aqui é obrigada a escolher para aluno é para tapados que não é
para pensar, para fazer mecanicamente. Esses livros estão baseados nos PCN. (...) sigo não
totalmente esses parâmetros, eu não sigo totalmente ao pé da letra, eu sigo dependendo do
período que eu dou aula (...).” (Prof.05)
“Nós olhamos os PCN porque os livros todos vêm montados em cima dos PCN e geralmente
tem algum colega que já leu, que já fez, então a gente faz (...).” (Prof.12)
Outro professor comentou que nem todos os livros didáticos estão baseados
nos PCN. Na sua opinião, dificulta o trabalho pedagógico com o mesmo.
“(...) só uma coisa é que nós temos que usar livros didáticos e nem todos estão em cima
dos PCN, mesmo que ele fale que está acompanhando, ele foge o conteúdo que você teria que
trabalhar série por série e a continuidade e término de uma série não começa no reinício de
outro livro, quer dizer de outra série. Eu trabalho assim muito em cima dos PCN, introduzo
muita coisa na minha prática, mas ainda não tenho uma bagagem, eu tenho firmeza do que
tem dentro dele, às vezes eu sou obrigada a ir lá olhar porque me foge algumas coisas.”
(Prof.18)
“ você faz o seu planejamento em cima dos PCN, é ótimo só que de repente você chega
dentro da sala de aula não é aquilo ali que você vai poder trabalhar, não adianta você querer
aplicar uma coisa que a criança não sabe. (...) os Parâmetros são muito bons só que para você
aplicar (...) mas você tendo todos em níveis diferentes você não consegue trabalhar (...). Aqui
241
dentro não, aqui não trabalhamos os PCN, nós fazemos no começo do ano o nosso
planejamento (...).” (Prof.14)
Por outro lado, um outro professor também já mencionado, tem uma opinião
contrária do colega citado anteriormente, na sua visão os PCN são bem trabalhados
na escola, apesar de alguns professores introduzirem lentamente nas suas atividades.
“(...) mas os livros que vieram para nós, para usar com os alunos na hora da escolha nós
vemos que é em cima dos Parâmetros (...) mas você vê que é em cima dos Parâmetros e aí
depende de cada professor com a sua sala (...). Nós usamos os PCN na hora de fazer o
planejamento (...). (...) aqui os Parâmetros são bem trabalhados. Têm alguns professores que
eu acho que está meio devagar assim com os Parâmetros ainda, mas a gente está melhor, está
se saindo melhor (...).” (Prof.11)
“(...) daqui a dez anos o pessoal vai estar caminhando, como aconteceu com o
Construtivismo, vai estar por dentro, vai estar trabalhando realmente os Parâmetros (...).
Agora os Temas Transversais nós temos usado bastante. O único que está indo que eu vejo,
são os Temas Transversais que o pessoal está trabalhando mesmo. Fala sobre meio ambiente,
sobre sexualidade, são os temas que teriam que ser incluídos e o pessoal tem trabalhado.”
(Prof.15)
Este professor comentou ainda que, não foi dado muito tempo para o docente se
preparar para os PCN. Parece que uma mudança não pode ser implantada
rapidamente nas escolas porque são trabalhosas e requerem dedicação por parte dos
professores, até para assimilarem estas. Na sua opinião, os PCN são usados mesmo,
para fazer o planejamento. Três professores não falaram sobre o assunto.
“Você pode vê até a própria interdisciplinaridade que eles falam você vai reciclando
matérias e eu já ouvi professor falando que não fez caderno separado de Ciências, Matemática
Português, Geografia separado, ela dá um texto na área de português falando dos astros, de
poluição, por ex. realmente está dando certo (...). (...) ao mesmo tempo deu uma visão para
gente naquela parte de Temas Transversais, deu uma visão muito ampla de coisas que você
trabalha sem saber que você está trabalhando, esta parte do respeito mútuo tanto pela escola,
pelo colega, pela sexualidade. Então são temas que você não sabia e que você pode misturar
em tudo... (...). Então nos primeiros momentos, a barreira é difícil, mas depois acostuma e
gosta.... e a outra coisa que é difícil é que quando eles vêm eles não dão muito tempo para
gente... um negócio desse tem que ser dado no final de ano para começar no planejamento do
próximo ano e você precisa ter tempo porque não é um volume... é um específico para cada
área e você tem que pegar o que encaixa na série que você está porque tem que ter uma
seqüência. Agora a gente usa mais os PCN para fazer o planejamento (...).” (Prof.20)
“Imagina! Não! Imagina! isso é sigilo, né? (...) meus conhecimentos dos parâmetros
mesmo é quando eu trabalhei na Delegacia de Ensino, lá dentro que eu fui obrigada a ler,
pegar tudo.... mas na escola você não vê um coordenador discutindo sobre os Parâmetros
Curriculares Nacionais, é isso. (...) eu sinto, sinto por a escola não te orientar mais, eu não
culpo só os coordenadores (...).” (Prof.05)
“eu coloquei aqui que não conheço porque sinceramente eu nunca tive acesso aos
Parâmetros Curriculares Nacionais... eu comecei a atuar agora na área e como eventual a
gente não tem HTPC, eu acho que aqui não se estuda isso de Parâmetros (...).” (Prof.04)
243
“Aqui eles falam: “oh! gente é dos PCN, é dos PCN”. Nós não temos, assim, uma aula de
chegar, o coordenador “vamos estudar os PCN detalhadamente hoje, nós vamos ver a parte X,
a parte Y...!” não, não tem (...) este ano ainda não aconteceu nada. Nas outras escolas o
trabalho não está sendo levado muito a sério e os estudos não têm não.” (Prof.07)
“(...) mas mesmo assim há falhas até hoje. No seguimento disso tudo, nas outras escolas,
inclusive aqui, nos estudos, na aplicação.....” (Prof.08)
Um outro professor que também leciona há pouco tempo na escola, relatou que
os PCN foram muito estudados no ano de 1999 a 2001. As leituras que eram feitas,
hoje não se faz em nenhuma escola.
“A leitura de PCN já deve ter sido feita porque a maioria desses professores que eu estou
tendo contato já estão aqui há dois anos ou PEB I, PEB II aqui são mais recentes (...). Só que
os PCN foram trabalhados muito, muito no período de 99/2000, início de 2001. (...) agora
aquela leitura que se fazia já não se faz em Escola alguma... não é só nessa.” (Prof.09)
Um professor nunca fez curso sobre os PCN, mas comentou que todo ano os
professores fazem uma leitura destes.
“(...) mas eu não fiz curso não, não estou sabendo de nada não (...). (...) todo ano a gente lê
a gente dá uma lida. (...) mas é no início do ano.” (Prof.10)
Quanto aos professores do Ciclo-I, as suas opiniões não são muito diferentes
dos professores do Ciclo-II quanto aos estudos sobre PCN. Seis professores
relataram que não existe estudos sobre os PCN e que isto aconteceu superficialmente
quando eles foram implantados nas escolas. Destes, dois não ficaram nem
interessados em ler e outros dois gostariam que tivesse um estudo dirigido na escola
por alguém que conhecesse o assunto.
“(...) PCN, eu andei lendo algumas coisas, não tudo, eu acho que nós tínhamos que ler, a
escola, o Estado tinha que dar um espaço para o professor para poder trabalhar em cima
244
disso e nós não temos. Entregaram simplesmente um livro na mão do professor e disseram que
precisamos ler e existe coisas que você não entende. O que está acontecendo e é uma
inovação? é uma coisa boa? Pode ser que seja, desde que seja estudada e isto não está
acontecendo nós temos os nossos horários de HTP, poderíamos discutir um dia na semana, ou
no mês, bom, vamos pegar uma tal parte dos PCN, se não tiver o horário, mas não arrumam
tempo para isso e infelizmente nós não temos.” (Prof.12)
“ (...) mas eu não fiquei interessada não, eu realmente não li nada (...). Então na época eu
não li, eu até acho que eu preciso ler, mas eu tô com preguiça (riu), mas eu duvido que aqui....
até deve ter alguém que deve ter lido, mas eu creio que deve ter poucas pessoas que leram
porque falam muito em mudança, mudança e que agora é isso, agora são os Parâmetros. Eu
acho assim se tivesse tido um grupo de estudos, cada vez via uma disciplina, aí tudo bem, você
acaba participando porque você tem que discutir alguma coisa alí e esse trabalho não foi feito
eu falo que a nossa coordenação é bom entre aspas mesmo, provavelmente é falha mesmo.”
(Prof.17)
“Quanto aos Parâmetros, nós lemos, mas foi muito pouco porque cada vez que nós vamos
ler, acaba mudando depois, acaba muita conversa (...). Às vezes você vai discutir os
Parâmetros, mas acaba tendo que ser mudado porque vem sempre alguma coisa nova da
Delegacia de Ensino (...). Então, não está dando muito para estudar pois cada hora é uma
coisa que a Delegacia manda te cobrando (...).” (Prof.11)
Um outro professor comentou que leu alguns livros dos PCN e na sua opinião
acredita também que, nenhum PEB I conseguiu fazer a leitura de todos. Agora já o
PEB II, acha impossível ele não saber, não ter lido sobre os PCN, pois como leciona
somente uma disciplina, só possui um livro para ler. Na sua opinião, o docente não
gosta de ler os livros dos PCN, mas só o faz para fazer o planejamento.
“Eu estudei os parâmetros, eu não vou falar que eu li tudo. Eu não acho que tem algum
professor que conseguiu ler todos, a não ser o PII que eu acho até impossível ele falar que não
sabe falar dos parâmetros porque eles só têm um da matéria dele. A nossa coordenadora pede
para gente ler, eu vou falar a verdade, eu não vou falar mentira porque eu não gosto de falar
mentira. A gente lê sim, mas existe professor que não gosta de ler, alguns falam: " lê você,
depois você me conta". Eu acho que os PCN deveriam ser reestudado. Então na realidade ler
os PCN só se lê quando você precisa quando vai usar mesmo quando vai fazer o planejamento
você corre lá e olha.” (Prof.18)
sua opinião, a escola poderia ter explorado mais os PCN, mas as inovações são mais
trabalhadas no início das suas implantações. Um professor não se referiu a este
assunto.
“(...) muitos falaram agora que a gente vai te que estudar porque muitos professores estão
acostumados a pegar o livro didático e ver o que a editora programou e dar aquilo ali e não é
bem por aí (...). (...) ele deveria preparar os estudos, ajudar o professor criar o hábito de
estudo, mas aqui não tem estes estudos sobre os PCN. Sabe as coisas acontecem mais no
começo e depois acaba.” (Prof. 20)
“Para mim, eu acho que estes PCN são baseados no Construtivismo, é uma proposta que
foge do tradicional, sugerem para a gente aproveitar a vivência dos alunos, nos falam para a
gente dar aulas mais dinâmicas, mais práticas, não ficar só assim em cima dos livros, trabalhar
com jogos, pesquisas, projetos.... e também não sei se é inovação, parece que a gente, ou algumas
professoras já vem trabalhando desse jeito teria que sentar e estudar, mas na verdade pelo que eu
li eu acho que é.” (Prof.15)
Para outro professor, apesar dos PCN, ser o Construtivismo e que ocorreu
somente uma modificação no nome, esta proposta também contém outras concepções
teóricas e pedagógicas. Na sua opinião ainda, por mais que os professores falem que
não sabem trabalhar com os PCN, eles já os utilizavam na sua prática.
“Eu te digo mais, eu sempre falei isso, eu acho que os PCN veio só mudar o nome do
construtivismo porque os PCN mostra nele todo assim, como você deveria agir, mas aí e ele
camufla a palavra Construtivismo e todo mundo fala que não sabe fazer e todo mundo sabe. O
PCN dá uma liberdade de você trabalhar do mesmo modo que você poderia trabalhar com o
Construtivismo só que você não está sabendo isso e você está trabalhando, está introduzindo
246
coisas novas, você está pesquisando, você está partindo do que o aluno sabe e fazendo a mesma
coisa. Então eu acho assim as pessoas que fizeram os PCN se basearam no Construtivismo. Só
que ali não tem só o Construtivismo, ali tem uma ligação com outras metodologias e têm outros
teóricos lá que foram dando as suas contribuições. Então não está lá um Construtivismo puro, têm
outras ramificações, mas o Construtivismo está sim nos PCN, está bem ligado sim (...).” (Prof.18)
políticas e que não acrescentam nada para o docente. Um acredita que os PCN
surgem para ocultar a situação complicada e difícil em que o ensino se encontra.
Poucos professores são favoráveis a esta proposta de ensino e parecem ter um
pouco mais de conhecimento sobre este assunto. Os aspectos abordados por eles
foram: “uma ótima inovação, mas se o professor não trabalhar em conjunto a
interdisciplinaridade, os PCN ficarão no plano teórico”. “Os docentes não
entenderam que os PCN vieram para interdisciplinar e dar objetivo às matérias e,
também, parecem não se importar muito com este. Além disso, se os docentes não
forem preparados, os PCN não irão sair do papel”.
Parece-nos que tanto os professores que são favoráveis aos PCN quanto os que
não são, têm sérias ressalvas em relação a esta reforma de ensino. Talvez por falta de
apoio teórico da equipe técnico/pedagógica.
Para os dois professores iniciantes na profissão e eventuais na escola, este
assunto parece ser totalmente novo. O fato do professor eventual não participar dos
HTPC dificulta ainda mais ter acesso às mudanças que ocorrem no ensino. Para um
outro professor, é difícil ler um assunto que desconhece, já ouviu falar
superficialmente na escola, mas ninguém explica direito o que vem a ser. Somente
um professor comentou que não se lembra o que vem a ser os PCN.
Parece que a escola não envolve todos os professores com as novas reformas
do ensino e isto pode vir a contribuir para um andamento inadequado do trabalho
pedagógico.
Quanto à Implantação da Proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais, as
informações sobre esse assunto são várias. Quatro professores conheceram os PCN
na escola onde a pesquisa foi realizada. Para eles, na época em que os livros foram
entregues, foi pedido que lessem, mas ninguém falou o que era, e qual seria a
utilidade do mesmo. Parece-nos que este contato foi superficial, porém os
professores foram obrigados a estudar e aplicar a nova proposta de ensino. Um outro
professor relatou que veio uma coleção para cada professor, numa caixinha “muito
bonita”, mas não ocorreram estudos, não aconteceu mais nada. Foi mais uma
mudança na educação que o professor não foi preparado. Para um outro professor, na
época da implantação dos PCN, a escola mostrou o material, pediu para que os
professores lessem, mas não estava preparada para informar ao seu corpo docente o
248
que eram os PNC, pois ela mesma desconhecia. Além disso, o docente também
acredita que é difícil estudar e pôr em prática uma mudança no ensino, sem o
professor ter participado da sua elaboração. Um outro professor comentou, que na
época da implantação dos PCN, o professor precisava ter estudado os PCN para pôr
em prática. Uma tentativa aconteceu, mas esta foi bem superficial e insuficiente.
Dois professores tiveram um contato melhor com os PCN em outras escolas.
Um outro professor que conheceu os PCN numa escola estadual em outra cidade
comentou que só deram os livros e que não precisaram devolver. Para um outro
professor, a chegada dos PCN na escola onde trabalhava não foi uma experiência
muito boa. Para dois outros professores, na época da implantação, foi passado
somente que precisariam ler e que os seus planejamentos a partir daquele momento
fossem feitos baseados nos PCN. Supomos que em algumas escolas a implantação
dos PCN foi levada mais a sério, tanto pela equipe técnico/pedagógica quanto pelos
professores.
Talvez a assessoria técnico/pedagógica não estava muito preparada para
implantar os PCN nas escolas. Parece-nos que foram, somente, um agente
transmissor de uma tarefa específica, deixando a cargo do professor a continuidade
deste trabalho. Supomos um descaso e um desrespeito dos órgãos governamentais e
da equipe técnica da escola para com as mudanças que eles mesmos querem
implantar no ensino, bem como para com os professores e alunos.
Somente um professor ressaltou a dificuldade de se estudar e por em prática
uma mudança no ensino, sem o docente ter participado da sua elaboração. Talvez
esta questão indique ressentimento por parte dos professores em relação aos órgãos
governamentais, por serem excluídos da elaboração das novas propostas
educacionais.
Dois professores tiveram contato com os PCN quando trabalhavam em outros
cargos na educação. Um professor teve contato quando foi Orientador Pedagógico na
Delegacia de Ensino. O trabalho de discussão e orientação com a coordenadora foi
produtivo. É possível que o fato deste professor ter um cargo na Delegacia de Ensino
tornou-se indispensável ou até foi imposto a sua leitura. Já o outro professor, quando
foi Coordenador Pedagógico numa escola estadual, enfrentou muitas barreiras para
fazer os estudos do documento com os professores. Parece-nos que por mais que se
249
leituras que foram feitas, hoje, não se faz em nenhuma escola, inclusive na escola
onde a pesquisa foi realizada. Um professor nunca fez curso sobre os PCN, mas todo
início do ano os professores fazem uma leitura.
Supomos que existe uma falta de preparo ou disponibilidade da equipe
técnico/pedagógica em proporcionar e auxiliar os professores nos estudos com os
PCN, ou, ainda, os professores por descrença no ensino ou na forma como as
mudanças são transmitidas e trabalhadas, também não se interessaram muito em
estudar e em entender os PCN.
Parece-nos que os estudos sobre os PCN nas escolas esteja relacionado a um
determinado período. Situação esta que também parece ser complicada, pois um
documento que se propõe a orientar o trabalho do docente deveria ser estudado com
maior freqüência e não só no início do ano letivo, como foi comentado por um
professor.
Quanto aos professores do Ciclo-I, as suas opiniões não são muito diferentes
dos professores do Ciclo-II quanto aos estudos sobre os PCN, mas estes nos
apresentam informações mais abrangentes: seis professores relataram que não
existem estudos sobre os PCN e que isto aconteceu superficialmente quando eles
foram implantados nas escolas. Parece que destes, dois não ficaram nem interessados
em ler e outros dois gostariam que tivesse um estudo dirigido na escola por alguém
que conhecesse o assunto. Um outro professor comentou que leu alguns livros dos
PCN e na sua opinião acredita também que nenhum PEB I conseguiu fazer a leitura
de todos. Parece que o docente não gosta de ler os livros dos PCN, mas só o faz para
fazer o planejamento. Um outro professor comentou que o docente não está
acostumado a estudar e que gosta de seguir somente o livro didático. Na sua opinião,
responsabiliza o coordenador que poderia ajudar, organizar e motivar os professores
a estudarem. Supomos que a escola poderia ter explorado mais os PCN, mas as
inovações são mais trabalhadas no início das suas implantações.
Parece-nos que as leituras sobre os PCN, nas escolas, foram realizadas mais na
época da sua implantação e também no momento do planejamento e depois deixadas
de lado. Supomos que a equipe técnico/pedagógica também dá mais ênfase nestes
períodos e posteriormente não oferece orientações ou acompanhamentos. Pode ser
que os professores também estejam magoados com a forma que as inovações são
252
passadas nas escolas, talvez por isso o descaso, a falta de envolvimento e utilização
somente quando são obrigados.
Por outro lado, somente um professor comentou que existe o estudo na escola,
mas muitas vezes é interrompido, pois a Delegacia de Ensino envia outras atividades
para fazer. Supomos que talvez este fato seja uma realidade que ocorre na escola, ou
ainda, o professor tenha ficado com receio do entrevistador, situação essa bastante
compreensível, por se tratar de assuntos internos da escola.
Quanto aos Parâmetros Curriculares Nacionais e o Construtivismo, somente
três professores comentaram existir uma relação entre o Construtivismo e os PCN.
Destes, dois relataram que além dos PCN serem baseados no Construtivismo, parece
ser uma proposta que foge do tradicional e que seria uma nova forma de ensinar, tal
como eles acreditam ser o Construtivismo.
Parece que estes professores possuem algum conhecimento sobre este assunto.
Talvez, por terem tido alguma experiência com o Construtivismo e por terem
estudado os PCN, perceberam a ligação entre os dois.
Para outro professor, apesar dos PCN, ser o Construtivismo e que ocorreu
somente uma modificação no nome, esta proposta também contém outras concepções
teóricas e pedagógicas. Na sua opinião, por mais que os professores falem que não
sabem trabalhar com os PCN, eles já os utilizavam na sua prática.
Supomos que este professor esteja equivocado em relação a algumas idéias do
Construtivismo e dos PCN. Talvez por falta de maiores informações em relação a
este documento.
Com relação à grande maioria dos professores que não se referiu a este assunto,
podemos supor que, por não ter se aprofundado nos estudos sobre os PCN, não tem
conhecimento que a fundamentação teórica deste documento é o Construtivismo. Ou
ainda, podemos supor que, os docentes não têm conhecimento sobre o
Construtivismo.
2.2.3. O Construtivismo
Nesta parte, através das falas dos professores iremos conhecer as opiniões dos
professores sobre o Construtivismo. Além disso, saberemos como entraram em
253
contato com a teoria e o que tem a dizer sobre o construtivismo e a prática em sala de
aula.
a) O Construtivismo
“(...) construtivismo parte da teoria aluno (...). ah!, por exemplo assim..... eu li sim a
respeito do construtivismo, também da época da D. (coordenadora), mas falar só do
construtivismo, de Piaget que são vários que seguem uma linha... sei lá....(...) é estranho.”
(Prof.01)
“coloquei aqui que ele é uma nova forma para a educação (...) pelo que eu sei o
construtivismo seria construir o conhecimento através daquilo que a criança tem de concreto
na vida dela (...) a partir da realidade dela. (...) interessante.” (Prof.04)
“Eu coloquei aqui, bons, no sentido seguinte, a palavra em si, trabalhar com a realidade
do educando. Então eu acho que o construtivismo é isso, trabalhar com o educando dentro da
realidade dele. Então eu acho isso... Construtivismo... constrói o aluno do seu ambiente dentro
do seu ambiente para o mundo exterior, eu acho isso muito válido, muito.” (Prof.08)
“No Construtivismo a figura do mestre, do professor ela muda, você passa a trabalhar em
cima de projetos interdisciplinares, pelo menos teria que ser assim... aonde a figura do
professor passa a ser um orientador. Ele cria as situações mediante aquilo que ele expõe que
254
ele orienta e as crianças vão trabalhando sobre a orientação dele. Então é uma situação
diferente a forma de você conduzir a sala (...).” (Prof.09)
“(...) eu acho que tudo isso que eles colocam de teoria para gente é utopia, até esse
Construtivismo. O Construtivismo é maçante, é chato, é uma leitura chata, é ficar lendo Emilia
Ferreiro, todos esses caras que ficam falando de escola que tem que seguir esse monte de
coisa, é tudo chato demais (...). (...) eu não sei, deve ser sei lá que o aluno constrói alguma
coisa, Construtivismo tem a ver com construção. Então ele vai caminhando conforme ele vai
tendo a necessidade de alguma coisa, não sei, deve ser por aí, não tenho noção não.”
(Prof.02)
“Eu não sei o que é Construtivismo, o que eu só sei é o que eu aplico, eu faço meu trabalho
com os alunos, talvez eu tô até fora desse Construtivismo. Eu acho que eu nem sei o que é
Construtivismo de um modo geral o que eu aprendi é de contar, de conversar e eu vou
escutando, eu vou montando meu quebra-cabeça e eu vou construindo a minha parte. Aquilo
que eu acho, bom eu vou trabalhando e eu tive muito a parte filosófica de Max, eu ouço a M.
falar muito de Max Weber... então daí eu tiro minhas idéias, as minhas coisas.” (Prof.05)
“Sobre o Construtivismo eu não posso te falar, pois eu desconheço (...). Eu fui em reuniões
na Delegacia, ouvi falar, mas eu não me lembro mais para te falar o que é o Construtivismo,
faz tempo.” (Prof.11)
“O Construtivismo para mim é você partir do que o aluno tem, do que ele traz para você, a
bagagem, as coisas que ele tem. Então você trabalha o conhecimento do aluno a partir deste
momento você começa a fazer o seu trabalho não é eu implantar alguma coisa no aluno, é o
aluno trazer para mim as experiências dele, o conhecimento dele. Eu acho que aí você vai
montar uma aula e trabalhar em cima daquilo lá, eu não sei se estou certa, mas para mim o
Construtivismo é assim. Você pega algum texto, algum conhecimento que o aluno traz para
255
você e você trabalha desse jeito sem seguir uma cartilha. (...). (...) mas eu não conheço muito
isso não.” (Prof.12)
“Para mim, construtivismo é isto, é pegar o que a criança tem, trazer para dentro da
escola e deste conhecimento elaborar em cima alguma coisa (...). (...) é tirar do aluno tudo que
ele tem e elaborar em cima e assim a criança está colaborando, participando e nós estamos
também tendo oportunidade de junto com elas construir que é o que o professor deve estar
fazendo, construir o ensino junto com a criança.” (Prof.19)
“(...) nós não sabíamos bem o que era isso, então ela sempre falava que o Construtivismo
não tinha receita, não tinha coisa pronta. Olha e você vai dar isso, isso, isso... não tinha, então
era gente que ia ter que construir junto com a criança. Mais era muito difícil, a gente falava:
“nossa, o que é isso”. (...) o Construtivismo não é deixar a criança fazer tudo o que ela quer,
se ela fez errado colocar certo não é isso? Construtivismo é você fazer com que a criança
construa, se ela não está conseguindo fazer é você chegar e ajudar ela fazer o certo. Então
você vai construindo junto com ela porque a criança já traz do lado de fora muita coisa, ela
não entra na escola sem saber fazer nada, pelo menos falar ela já sabe, ela não sabe ler e
escrever. Então ela vai construindo e aquilo que está errado o professor vai arrumar, o aluno
vai apagar, vai colocar o certo (...).” (Prof.13)
Para um outro professor é uma nova maneira de ensinar, uma nova mudança na
sala de aula e mais fácil de ensinar. Na sua opinião, tiveram professores que
aceitaram bem esta inovação, mas outros não.
“Seria você, no caso, deixar a criança... colocar mais para fora, participar mais, não você
apenas ficar impondo - hoje nós queremos isso, aquilo e tal - seria a criança participar mais,
dar mais opinião.” (Prof.15)
256
“(...) preparação para a vida porque eu acho que o construtivismo essa coisa de ouvir, de
saber, de deixar o aluno falar, de contar porque a pessoa adora contar as coisas
principalmente quando ele tem abertura (...). Então eu acho que você tem que estar muito
assim...você tem que saber, não adianta ...algumas pessoas falam: “ah! Vou trabalhar com o
Construtivismo” não é assim simplesmente "vou aplicar o construtivismo" isso não é uma
receita nem nada (...). Você tem que se preparar.” (Prof.17)
“(...) porque o Construtivismo em si seria trabalhar o que a criança traz, aquela bagagem
dele (...). (...) mas o que eu penso sobre o Construtivismo na escola é que se o professor fosse
bem estruturado eles conseguiriam trabalhar (...). Agora como toda mudança, essa mudança
foi muito rápida e na hora que todo mundo estava assim já propenso a fazer acabou, tiraram
já puseram outras coisas, então nós não temos um respaldo quando você tem realmente um...
já tá com aquilo bem definido, delimitado, sabendo que você pode fazer tudo, você poder
passar novamente. Então morre as coisas boas, como tudo que o Estado, o Estado não, a
Educação tem mandado quando você começa a colher os frutos bons eles acabam. Nós
tivemos isso não só com o Construtivismo.” (Prof.18)
“Eu acho que uma maneira mais assim... mais assim concreta da criança entender o
mecanismo, a formação de palavras, é mais concreto, não é aquela coisa decorada sem
entendimento, ele entende melhor, ele entende a formação de uma palavra, ele concretiza o
raciocínio dele, não fica tão vago, eu senti assim. É uma forma dele trabalhar porque ele
manuseia as coisas e na hora que ele vai formar a palavra não é só aquele vago, você não
sabe se realmente ele está enxergando, quem sabe ele juntando as pecinhas de um alfabeto ele
entende que ele precisa de um número de letras, quais são as letras mais sonoras, menos
sonoras e que precisa das sonoras para ajudar as outras. Eu acho que no concreto fica mais
fácil ele aprender.” (Prof.20)
“Uns falam que em alguma escola está sendo feito que em algum lugar está sendo aplicado
o método construtivista, você vai lá e não é, nada daquilo é, não é verdade? Você vai lá e é
tudo a mesma coisa que a gente faz aqui(...).” (Prof.01)
“O construtivismo ele não foi assim fixado hoje poucas escolas trabalham com o
construtivismo. No Estado eu acho que praticamente nenhuma escola ou senão nenhuma
trabalha com esse método (...).” (Prof.04)
“Eu ouvi falar na escolinha infantil da minha filha e foi através de uma Psicóloga que me
falou o que era o Construtivismo (...) eles são totalmente contra o Construtivismo e eu falei
porque? eles me disseram que isso não tinha sido muito bem estudado, ainda não está
258
comprovado que isto estava sendo bom. Ela disse que não tinha sido comprovado que era o
melhor caminho atual para a escola e falou que não ia usar um método que não foi
comprovado ainda, que não estava segura para usar este método, ela usa o método
montessoriano.” (Prof.06)
“Eu lembro quando chegou essa palavra Construtivismo numa escola que eu estava, uma
professora: "nossa!" Só faltou ser linchada porque ela estava trabalhando com Construtivismo
na quarta série que ela estava. Mas como ela tinha muita segurança daquilo que ela fazia e
ela falava que trouxe o Sistema Construtivista da Escola Particular que ela trabalhava de
manhã e à tarde ela ia no Estado, mas ela foi muito criticada (...). (...) lembrei muito dela na
hora que eu vi este tema “O Construtivismo.” (Prof.08)
“(...) tem escola que você não tem como trabalhar com o Construtivismo.” (Prof.09)
“(...) eu vejo escola construtivista a que eu tive experiência assim que a minha irmã
trabalha as crianças, elas são criativas, muito criativas, mas ela são crianças que têm todo o
material, toda uma família voltada para ela, ela tem contato com os livros, tem contato com
computador, tem tudo (...). A minha irmã que mora em S. P. e é professora lá trabalha numa
escola que tem gente que é tradicional, tem gente que é construtivista e a minha irmã optou
por ficar só com o tradicional. Então ela disse para mim que ela prefere o tradicional porque
gera menos indisciplina, a criança é mais acomodada. Já a escola modelo que seria essa do
construtivismo ela fala que os alunos são assim, não que eles não tenham disciplina, mas fica
muito aleatório, eles ficam mais livres e aí ela acha que não chega a um lugar porque quem tá
trabalhando não sabe aonde vai chegar, vão colocando ali, os alunos são livres e eles podem
opinar, eles podem reclamar. Então ela achou que eles estavam criando muitos direitos para
esses alunos, estavam criando direitos, direitos, direitos, direitos e os deveres aonde estavam
ficando? Então ela fez a opção por isso pela escola tradicional que ela acha que se adapta
melhor porque ela domina aquilo corresponde aos valores dela, ela viveu aquilo na época
dela, mas ela sabe que tem que ter algumas mudanças, mas para o construtivismo ela não quis
porque ela não conhece, como é que ela vai mudar (...).” (Prof.16)
259
Um outro professor relatou que a escola onde seu filho estudou era
construtivista. Por não ter muito contato com a professora e por estar no papel de
mãe e não de profissional, não entendia o que era o Construtivismo, mas percebia
que era um método diferente. Onze professores não se referiram a este assunto.
“A escola do meu filho era construtivista, mas eu era apenas a mãe e não profissional e
não tinha contato com a professora para entender o que ela estava passando que método era...
mas eu via que era diferente (...).” (Prof.19)
“(...) na Escola Padrão né, foi discutido a D. era a coordenadora na época, ela trouxe
muito material, lemos tudo, é aquela história na teoria uma coisa, na prática é outra. Ela
trouxe recortes de jornal, de revistas, livros sobre Piaget, sobre que mais? Sobre todos estes
autores, mas fica só nisso (...).” (Prof.01)
“O meu contato com o Construtivismo foi através do material que o Estado forneceu, ele
deu bastante, muito material e ali eram feitos os estudos nas salas de HTPC é foi na época da
Escola Padrão (...) estudamos bem.” (Prof.07)
Já o outro professor comentou que comprou muitos livros sobre o assunto e seu
contato com o Construtivismo foi nos HTP da Delegacia de Ensino e foram
proveitosos.
260
“(...) o ensino que eu tive sobre o Construtivismo foi lá na Delegacia de Ensino na cidade
de S. J. da B. nos HTP de lá. Foram bons.” (Prof.14)
“(...) eu acho que deveria ter também mais cursos, mais reuniões porque falou-se muito,
mas ficou tudo muito só na teoria, no papel também. Ficou tudo perdido... eu acho que o
Construtivismo ficou muito no papel. Eu dava aula numa escola particular” (Prof.03)
“(...) eu acho que se ele tivesse dado certo, tivesse sido passado de forma correta para os
professores que tivesse tido palestras, cursos, aulas mesmo, uma preparação vamos por aí...
um ano antes de ser trabalhado eu acredito que seria um método que valeria a pena que
dariam bons resultados, isso sim por pesquisas que a gente vê, mas devido a forma rápida que
ele entrou não houve aquele tempo de adaptação, foram passados vários livros, tudo mais,
mas aquele negócio só você por ler, você não consegue assimilar aquilo que realmente ele
quer passar, mas eu acredito assim que ele não foi trabalhado, mas é uma forma de
aprendizado que assim como n outros ele pode dar certo.” (Prof.04)
Um professor comentou que não fez curso, não estudou e nem recebeu alguma
orientação sobre o Construtivismo da coordenação, mas seu conhecimento sobre este
assunto, foi através de uma professora que trabalhava na escola. A partir disso,
procurou sua maneira de ensinar com o método tradicional e com o construtivismo.
“(...) porque eu nunca fiz curso nenhum, não tive ninguém que me ensinasse nem nada, foi
esta professora que aos poucos foi me dando dicas, foi me falando, vamos trabalhar, como se
fazia e eu fui eu mesmo criando o meu método ... eu lia umas coisas sobre o construtivismo é
lógico, mas ter um curso sobre o construtivismo (...) assim eu vou adaptando os meus meios de
dar aula misturando os dois métodos. A coordenação ou mudanças do Estado para mim nunca
foi informado nada (...).” (Prof.12)
“(...) é tudo de um dia para o outro, não tem curso, não tem nada, então você ouve: “olha
o Construtivismo é assim.” (Prof.15)
“(...) não houve um estudo sobre isso. Eu fiz cursos faz tempo na Delegacia de Ensino que
falavam do Construtivismo, mas eles falavam da teoria, mas a prática eles querem que parta
de você, então você vai com a sua prática lá. Você enriquece o trabalho deles com a sua
prática. O professor sempre está sozinho, eles lá falam mil coisas para gente: "então agora é o
construtivismo" - aí a gente fala: "então eu preciso ler alguma coisas sobre isso". Aí você
procura dali, procura de lá, o que é isso? Como que é? Será que eu posso fazer? Mais olha!
Eu te falo por mim eu fico perdidinha! (...) esses cursos que eu tive na Delegacia há muito
tempo que eu ouvi algumas coisas do Construtivismo são para alguns professores... é sorteio,
de um dia, aí você volta para escola, você vai passar o que para seu colega? Não tem como
você passar... você também desconhece! um dia também não tira sua dúvida. Eu acho tudo
lançado, tudo, tudo, mas nada tem estudo e o professor tá precisando de estudo, precisando de
estudo (...).” (Prof.16)
“comecei a fazer uns grupos de estudo aqui e a minha diretora me convidou e esses cursos
eram pagos (...). (...) eu fiz um curso com a Telma Weiss em São Paulo, foi um curso de um
ano e meio onde eu ia para lá todo sábado (...) e eu também fui assistir uma conferência da
Emilia Ferreiro e também fui a Brasília em um Congresso de Educação. (...) eu estava numa
fase que se eu ouvia que lá na esquina estavam falando do Construtivismo, eu ia lá para
aprender porque eu queria aprender e eu acho que já que eu estava envolvida com aquilo eu
tinha que dar tudo de mim. Foi uma época que eu fiz realmente tudo. Se falavam para mim que
tinha um Congresso e eles me ajudavam eu ia.” (Prof.17)
“(...) fiz cursos, conheço assim um pouco, eu não conheço tudo (...). (...) uma diretora do
B.B. que foi fazer cursos extensos em São Paulo, na Escola Da Vila, aí ela fez grupos de
estudos, aí eu participei desses grupos de estudos (...). Aí ela foi introduzindo e a gente foi
tirando todas as dúvidas de como trabalhar, ela foi trazendo material para gente trabalhar e
aí eu fui passando para os colegas (...). Eu acho assim para o Construtivismo surtir efeito
mesmo, teria que ter uma pessoa que tivesse disponibilidade de quando você precisasse de
uma pesquisa ela indicasse o caminho para os professores. Então é isso que ficou faltando o
elo de te dar segurança naquilo que você estava fazendo (...).” (Prof.18)
“(...) se ele ouvir falar de construtivismo e se ele quiser ser construtivista ele terá que ler,
estudar porque senão não tem jeito, ou eu fico lá no tradicional, mas eu não vou por os pés
pelas mãos, então eu vou ler, vou ver quem trabalha, eu vou ver o que os outros estão falando
disso, o que é, como que não é (...). A gente sempre ouve, a Delegacia sempre aparece com
cursinhos, mas a meu ver muito precário, sem condições de dar ao professor a retaguarda que
ele precisa, mas tem, apesar de ser muito pouco e você não pode trabalhar só com isso.”
(Prof.19)
“A gente até fazia curso na Delegacia de Ensino (...). A gente tinha cursos voltados para o
Construtivismo, tinha telecursos pela televisão onde as pessoas contavam suas experiências e
tinham outros cursos teóricos e modelo de prática onde o professor por ex. inventava de
trabalhar de uma forma, aí ele mostrava como trabalhar.... Eu acho que a gente foi bem
preparada para trabalhar com o construtivismo (...). Agora tinha professor que não aceitava o
construtivismo, você tinha que ler muito e se preparar. Nos nossos HTP daquela época era
leitura, leitura, leitura, você tinha que conhecer, era cobrado e quando você ia nas oficinas
elas cobravam que você mandasse depois o material e vinha até a fiscalização, assim não era
muito rígido, mas elas punham medo elas amedrontavam sim porque tinha que fazer, tinha que
fazer porque tinha que fazer.” (Prof.20)
263
“você vai ver é dado, é jogada a matéria para o aluno, pois olha isso daí não é
construtivismo (...). (...) depois chega na classe cada um faz o que quer, do jeito que quer,
como o ensino vem... como sempre foi. (...) a pessoa pode estar aplicando o construtivismo que
você parte da teoria das crianças, o desenvolvimento delas, você acompanha tudo direitinho.
Mas falar que é construtivismo e só construtivismo não é.” (Prof.01)
Para um outro professor, o Construtivismo vem a ser mais uma das imposições
governamentais e o professor mais uma vez não é consultado, é mal orientado e o
trabalho não acontece.
“Isso também é mais uma das coisas impostas pelo Governo, eles não falam o que vocês
acham disso para aplicar e explicar o que é direitinho para gente e a gente ter a liberdade de
falar sim ou não. Nesta escola não funciona pode ser que na outra funcione (...).” (Prof.02)
Para dois professores, os docentes das escolas não sabem trabalhar com o
Construtivismo. Na opinião de um destes professores, o Construtivismo é trabalhado
no Ciclo-I.
“ Não vejo nenhum professor construtivista por aqui. Aqui não sei se é porque eu não pego
muito de primeira a quarta série porque eu acho que é no início que os professores trabalham
mais com o Construtivismo (...).” (Prof.03)
“As desvantagens que eu vejo é pelo professor muitas vezes não saber trabalhar com o
construtivismo e deixa o aluno meio que aleatório (...). Eu acho que aqui os professores do
ginásio não trabalham o Construtivismo.” (Prof.04)
“(...) o Construtivismo eu nem sei se uso, se ele existe dentro de mim, se existe está
embutido nas minhas teorias, nas minhas coisas que eu faço.” (Prof.05)
“(...) agora depois de um mês que eu acho que eu vou conseguir trabalhar com isso com
eles que eu te falei sobre o construtivismo depois de um mês. Pedindo pesquisas, agora que
está dando para respirar porque antes você fica meio perdida que eles não te conhecem,
aquela matéria que você tem que cumprir... então você vai seguir o que? o tradicional eu segui
o tradicional, mas agora dá para começar a pensar em pesquisas, no construtivismo.“
(Prof.06)
“(...) no começo dá-se a impressão de até meio vago, sabe, mas depois não (...). Ele vai
construindo do jeito dele, ele chega no resultado final que é aquilo que a gente está querendo,
partindo assim do ponto do aluno saber trabalhar, ele procura... então é muito legal, muito
interessante. Naquela época nós começamos a aplicar, valorizar mais o que vem do aluno
(...).” (Prof.07)
“(...) pergunto como é a vida dele, aí eu procuro um texto condizente com a realidade dele,
aí nós vamos trabalhar o texto. Eu trabalhei esta semana com um texto que tem mais a ver com
a realidade deles, deu até para entrar em outra matéria, na de Ciências, para falar de terra,
plantas, então ficou gostoso. O que eu percebo é isso, temos que trabalhar no Construtivismo
com a realidade deles, com mundo deles (...).” (Prof.08)
“É como se fosse um novelo e você vai auxiliando a puxar a linha, nunca desatar o nó. O
nó, ele vai ter que desatar por si só e vai ter que organizar, sistematizar esta pesquisa, este
projeto dele. Ao mesmo tempo que você joga o conhecimento histórico, você está comparando
no dia-a-dia para que tudo aquilo está servindo e dentro do projeto ele vai encontrar entraves
para que ele saiba ou não desenrolar este novelo. O rolo é uma forma de ensinar, onde a
criança fica mais livre para agir, mas o papel do orientador é vital porque é por intermédio da
orientação do professor que ele vai saber resolver os problemas do projeto e mais tarde do
dia-a-dia. História ele não é só mais um observador da realidade... ele não tem mais só que
passar os olhos e conhecer o fato. Ele tem que ver em que medida ele pode estar modificando e
transformando os fatos. Ele é um agente modificador da realidade. Em alguns casos você
trabalha em algumas escolas com a revolução de vida porque ele vem de uma classe social
com tanta dificuldade que para ele conseguir ser um cidadão ele vai ter que promover uma
revolução pela falta total dos seus direitos. Ele não tem nada... mas você tem... é aqui, é na
escola, é o orientador que faz esse papel que dá condição para que ele possa revolucionar o
meio que ele vive, não só o meu. (...) ele tem que se enxergar participante de um grupo. Hoje, o
Construtivismo, na minha matéria ele pede isso. Então nós passamos muito mais como um
orientador do que aquele que sabe tudo.” (Prof.09)
265
Quanto aos professores do Ciclo-I, um comentou que teve uma época que
trabalhou atividades construtivistas, mas não sabia o motivo de fazer isto. Supomos
imposição por parte da escola.
“(...) teve uma época em que eu estava realizando atividades construtivistas e eu nem
estava sabendo o porquê que eu estava realizando aquilo e nós fazíamos isso no HTPC que a
gente discutia como seria realizada as atividades, nós nos reuníamos de manhã porque eu
tinha aula na turma da tarde aprendia como montar e nós aplicávamos.” (Prof.11)
Para outro professor por mais que já tenha trabalhado com o Construtivismo,
acredita ser muito difícil inseri-lo na sua prática. Não sabe se é por causa do aluno ou
se é o professor que não está preparado. Atualmente prefere utilizar tanto o método
tradicional quanto o Construtivismo, pois assim consegue desenvolver mais
tranqüilamente suas atividades.
“Eu acho que os nossos alunos atuais é muito difícil trabalhar em cima do Construtivismo.
Nós não temos bagagem ou material para que seja aplicado na nossa classe com a qual eu
trabalho (...) teve classe que eu fiz, trabalhei, mas teve classe que eu comecei, chegou no meio
eu tive que passar para o tradicional. Então eu misturava o construtivismo com o tradicional,
eu gosto muito do construtivismo... eu não sei se é por causa do aluno ou se é o professor que
se perde. Então às vezes eu misturo o construtivismo com o método tradicional. Eu prefiro
misturar, não trabalhar só o construtivismo ou trabalhar só o tradicional de jeito nenhum, eu
prefiro misturar os dois para que o meu trabalho dê certo e eu tenho conseguido muita coisa
trabalhando deste jeito (...) porque você não chega aplicando porque é difícil trabalhar com
ele, ele difícil, difícil (...).” (Prof.12)
Um professor relatou que para sua surpresa quando começou a trabalhar com o
Construtivismo, viu que já o utilizava. Atualmente trabalha com o Construtivismo na
sala de aula.
“Aí nós começamos a trabalhar, uma conversa com a outra e aí nós percebemos que nós já
aplicávamos isso que a gente já fazia com que a criança construía as palavrinhas junto que a
gente não ficava assim taxando o que estava certa, o que estava errado (...) Aí nós vimos que
não era um bicho-de-sete-cabeças porque nós já usamos este método há muito tempo (...). (...)
e usa até hoje na 3ª série o construtivismo.” (Prof.13)
“(...) isso daqui o Construtivismo é bom e não é! às vezes dá para você trabalhar e às vezes
você tem que sair um pouco fora e aplicar o tradicional mesmo. É por isso que eu falei para
você eu uso os dois, tem coisa que dá para você usar com o Construtivismo, muita coisa boa.
Sabe, antes a gente não tinha jogos, bingo, jogos de palavras, jogos de letras... e isso tudo veio
com o Construtivismo. Então é coisa que dá para você trabalhar, só que de repente outro
aluno que já está bom demais você já não precisa trabalhar isto daí, você está entendendo?
Veja bem, o Construtivismo, eu acho que é bom para primeira e segunda série porquê? Porque
lá eles estão quase iguais, todos no mesmo nível... então você pode trabalhar. Já na terceira e
na quarta série você tem que pegar mesmo em cima dos livros, você tem que trabalhar em
cima dos livros, trabalhar como está no seu planejamento (...). (...) se for na terceira e na
quarta série você não consegue muita coisa porque você tem que aplicar os dois métodos.
Para alguns alunos você pode aplicar isso daí - o Construtivismo - e para outros você tem que
aplicar o método tradicional (...).” (Prof.14)
“(...) o construtivismo é você deixar a criança participar mais, ela colocar mais as idéias
dela e o professor valorizar mais as coisas atuais, ali, da sala de aula, construir junto com as
crianças, por exemplo construir um texto junto, mas claro que você não vai pegar uma caneta
vermelha e riscar e dizer: “está errado”. Não, olha, não é assim, vamos escrever assim, é
desta maneira, o som é parecido mais a letra não é aquela, é essa, então você tem que
direcionar a criança (...). De 91 para cá só se fala em Construtivismo, só. Só que hoje todo
mundo mistura não tem um método 100% (...). Então nós misturamos, não dá para ser só
construtivista não. Aqui o pessoal trabalha bem para o lado do Construtivismo (...). Eu não
deixo, por exemplo na aula de Educação Artística cada um para fazer o que quer, não! isto
não é Construtivismo, deixar fazer o que quer. Para mim tudo tem que ter a história, agora
você está fazer... quem quiser fazer com palito, quem quiser fazer com giz de cera podem ficar
à vontade quanto ao material, mas o tema é este.” (Prof.15)
Um outro professor comentou que por mais que fale que trabalha com o
Construtivismo, o desconhece. Relatou que este foi “lançado” na educação. Por mais
que os professores falem que trabalhem com o Construtivismo na escola onde a
pesquisa foi realizada, na opinião ainda deste professor, os colegas de trabalho
trabalham mesmo com o tradicional.
“Mas você não sabe nada do construtivismo? "Sei e eu procuro trazer os dois juntos, o
tradicional que eu domino, o construtivismo que tá lançando porque eu não conheço... é muito
bonito falar que eu trabalho com o construtivismo, mas pera aí! como você pode falar que
trabalha com construtivismo numa primeira série e numa segunda série e terceira série. (...)
então eu tenho que mudar, eu tenho que mudar se não aonde é que eu vou parar (...) eles
lançaram (...). Fiz modificações na minha aula, mas isto não é Construtivismo, eu tive que
mudar...Todo mundo fala no construtivismo, mas se você entrar na sala de aula de todo
mundo, é o tradicional. Que nem aqui eu não ouço nada de construtivismo, as professoras
267
mudaram muito a metodologia delas de trabalho na sala de aula, mudou mesmo e para
melhor, mas aqui não se fala no construtivismo não! porque eu acho também que elas
desconhecem, desconhecem mesmo (...).” (Prof.16)
“(...) Agora com esta minha sala eu mesclo um pouco, eu nunca fico assim só em cima de "
ba, be, bi, bo, bu " - eu trabalho muito com poesia e aí eu leio com eles e eles vão descobrindo
ali palavras que eles não conhecem, mas eu já trabalhei bastante (...) foi uma coisa que eu
adorei (...) eu lembro que quando eu trabalhava a família no começo vinha desesperada
porque a criança escrevia com letra de forma e a família quer a escrita, bastante escrita, mas
depois aos poucos foi e eu também tinha o respaldo da minha diretora. (...) o construtivismo
que eu trabalhava eles tinham um pouco de medo e eu entrei de cabeça e eu acabei ficando
conhecida e aí eu vim para cá e aqui eu percebi que eles tinham um pouco de resistência para
trabalhar com o construtivismo e que eu lembro eles não trabalhavam como a gente
trabalhava lá - eles misturavam um pouco do tradicional e um pouco do construtivismo (...) só
que cansa realmente, é muito trabalhoso, é trabalhoso, mas você tem resultados. Quando eu
trabalhava com o construtivismo na outra escola a gente tinha roda de histórias (...) tinha o
alfabeto de madeira, aquela coisa de pegar, tocar e falar e contornar as letras (...). Outra
coisa que no começo as professoras quando começavam a ver as letras de forma elas ficavam
desesperadas porque elas queriam cadernos escritos (...) eu também tinha medo (...) mas ele
escrevia com a letra de forma, depois ele passava para a cursiva. Muitas professoras da 2ª
série nas reuniões falavam da suas preocupações de como esses alunos iam passar para elas
(...). A minha sala hoje não é fácil para trabalhar com o construtivismo... então eu nem me
arrisco muito, mas essa maneira de trabalhar texto, essa formação de rima, de trabalhar muito
o oral eu trago dessa época que eu te falei que eu estudava que eu trabalhava com
construtivismo.” (Prof.17)
“Eu como professora eu sempre gostei de trabalhar o construtivismo (...). (...) é muito
difícil dependendo de onde você está trabalhando (...) mas eu não trabalho só o
construtivismo, eu acho que não existe uma pessoa que possa trabalhar só o construtivismo,
sabe toda essa experiência que eu tenho até hoje eu acho que é falho você falar que vai
trabalhar só o construtivismo, você trabalha o método global, você trabalha o método antigo,
você trabalha com o construtivismo, você trabalha de diversas formas, não tem como você
falar que está trabalhando só construtivismo, no meu modo de pensar eu não acho que dê.”
(Prof.18)
268
“O pessoal começou a usar de uma maneira sem retaguarda... eu acho que aí é que a
escola se perdeu, sabe, tá certo que tinha que ser mudado alguma coisa. Esta maneira de
construir seria o ideal, mas eu acho que a grande maioria dos professores não estavam
preparados, eu acho ainda que não estão preparados, eu acredito que ainda hoje tem muita
gente querendo fazer alguma coisa, mas totalmente insegura e fica perdida... é melhor o
tradicional ou uma outra forma de ensinar, mas que seja feita com segurança e se for sendo
colocado alguma coisa deve ser em doses "homeopáticas" e fazendo de uma maneira mais
segura, procurar quem está trabalhando para ver o jeito que é para estar aplicando com
segurança. Eu tento ser construtivista, eu tento estar levando o meu aluno a construir aquilo
que ele está fazendo dentro daquilo que ele faz realmente, é um trabalho muito estranho ainda,
eu tento levar para ele aquilo que ele vive que ele vivencia, o dia-a-dia dele, então dentro
daquilo que ele tem eu acho que eu posso estar construindo o conhecimento dele. (...) eu acho
que eu posso não estar sendo exatamente como foi proposto pela Emilia Ferreiro como todo
mundo fala, que todos têm uma referência como uma Escola Construtivista, mas eu acho que
ela abriu o olho do professor porque não adianta muito você falar de alguma coisa totalmente
fora da realidade do aluno, você tem que trabalhar a realidade dela (...).” (Prof.19)
“Então o que é que acontecia no construtivismo? o interessante que você está trabalhando
uma coisa... de repente te pinta uma idéia, então você parte para executar aquela outra coisa
diferente que você estava pensando.... precisa ver como aparece e eu não sei da onde.
Trabalhando um tema vem mais uma idéia dali, daqui e você vai criando, criando e eu fiquei
assim eu não consigo ficar presa no planejamento (...). Então o que é que eu vejo hoje que
você usa palavras chaves tanto quanto tinha nas cartilhas anteriores, só que agora o que é que
você procura? palavras do conhecimento da criança, fácil. Não o construtivismo purão, mas
tudo que é de útil eu continuo trabalhando, a parte do concreto a gente ainda usa muito e a
mudança do vocabulário a gente procura um vocabulário o mais acessível para a criança
(...).” (Prof.20)
“Pra mim o Construtivismo começou na Escola Particular e depois veio para cá. Eu só sei
te dizer que eu ouvi isto aqui.” (Prof.01)
“(...) devagarzinho, foi chegando essas informações que a Escola tinha que trabalhar com
o Construtivismo e aos poucos fomos assimilando essa palavra, embora com relutância,
poucos professores foram aderindo. Essa palavra foi muito contestada - primeiro aquela
professora foi muito criticada, depois chegou no Estado, se não tiver errada foi na época da
Escola Padrão onde a Direção passou para nós o que era o Construtivismo (...). (...) aí, a
escola começa a trabalhar com essa palavra, tomara que estejam trabalhando até hoje porque
eu não estou mais lá.” (Prof.08)
“(...) porque foi de repente ... quando começou todo mundo dizia assim: “é construtivismo?
então agora nós não precisamos mais corrigir cadernos, é só deixar a criança à vontade”.
Mas na verdade não é assim, você tem que direcionar, não é? Então, muitos professores
largaram as crianças mesmo, deixou aqueles erros na primeira série que as crianças
carregam um ano inteiro e depois para você tirar na segunda série é muito mais difícil e não
é...(...) porque teve época, logo no começo do construtivismo, a criança chegava na terceira e
na quarta série e você não entendia o que ele escrevia, tudo trocado, tudo sem pontuação, tudo
sem vírgula, tudo sem acento e isso só ocorreu porque foi deixando. O que importa é a idéia-
então deixa a criança escrever - escrevia errado e ninguém corrigia, ficava e para corrigir
depois foi muito difícil, mas agora não, depois que passou esta fase que...(...). Foi logo quando
comecei a lecionar, no O. J., em 91, mas eu já tinha ouvido no final do curso de Pedagogia, já
se falava em Emília Ferreiro, no Construtivismo e aí de repente, eu começo o ano e é
construtivismo, assim de um ano para outro, sem preparo, sem cursos sem nada. Então eles
falavam: “de hoje em diante não é mais o método tradicional, é o Construtivismo.” (Prof.15)
“(...) na escola G. B. foi de 87 até 89 que o construtivismo ficou lá, mais ou menos uns três
anos. (...) eu posso dizer que eu tive muito respaldo da Diretora, ela me apoiou demais e ainda
eu tinha ajuda de duas estagiárias de Psicologia da USP (...).” (Prof.17)
trabalhavam com construtivismo não! porque a maioria dos professores se sentiam inseguros
para trabalhar com o Construtivismo e já na Escola Padrão nós tínhamos muito material para
ser trabalhado o Construtivismo, mas nós não tínhamos aquele embasamento. Então quem
tinha ia passando para os colegas, mas aí ouve a resistência dos professores que usavam que
iam tentando e outros que não queriam de jeito nenhum. Então na época da Escola Padrão
ficou assim, usava o construtivismo quem queria, quem não queria usava o outro, mas nós
tínhamos um material muito rico que nós poderíamos utilizar com os outros métodos. Eles até
impunham para gente trabalhar com o construtivismo, mas quem não tinha conhecimento, não
sabia como fazer, ele não trabalhava porque ele ficava perdido e mesmo com tudo aquilo que
a gente estava lendo que a gente estava expondo que nós estávamos fazendo quando ele
chegava na sala de aula o professor se perdia.” (Prof.18)
“ (...) quando veio a tal da onda do construtivismo a escola foi te forçando barras, foi te
proibindo cartilhas, você teve que entrar, entrar no jogo. Na época do construtivismo a gente
teve que abandonar o livro de apoio e isto veio do Governo esta orientação, na época eles
aboliram a cartilha e uma escola como a nossa que não tem recurso para comprar você não
podia dispor disso porque o Estado não te dá o material. Neste ano a gente teve que pedir
material, os paradidáticos, aqueles livrinhos de historinhas que você ia buscar aquecimento
para trabalhar na sua aula.. Então quando veio o construtivismo não foi fácil porque muitas
vezes não batia totalmente com o seu jeito, a cobrança. Então tinha que aproveitar tudo da
criança, você tinha que entender, a criança fazia uns rabiscos e você tinha que decifrar aquilo
ali e dali sugar a criança e puxando ela ia soltando as coisas, por exemplo se numa palavra
pato ela gravasse o p e o t, ela já começava adquirir alguma noção. Então tudo que ela... se
ela escrevesse pato, era considerado uma frase que ela já criou alguma coisa. Então foi assim
meio chocante (...). Então eles quiseram mostrar que você tem que mudar, tem que explorar a
criatividade da criança (...). Então a gente falava assim: elas (O.P. da Delegacia de Ensino)
que estavam no comando, elas não trabalhavam desse jeito, mas depois as professoras acham
bonito, elas falavam que era difícil, só que era difícil, era uma mudança muito grande. (...)
tinha que ser um choque, eu acho que o que foi... foi imposto aquela cobrança de você mudar
totalmente, na hora você se perdia, o medo era de você se perder. Todo mundo falava assim...
eu vou começar desse jeito e depois?.” (Prof.19)
“Com relação ao Construtivismo, eu acho que no começo ele foi muito jogado, os
professores não entenderam muito não este Construtivismo. Ele foi jogado, as pessoas
272
ouviram falar, não o leram tanto e achavam que já tinham o diploma na mão e já sabiam o
que iam ensinar e não se preocupavam de ver como é que se trabalha o ensino através do
construtivismo. Então eu acho que ficou meio perdido. O construtivismo foi colocado e
deixaram o professor se virar, eu senti isso e vivi isso claramente (...).” (Prof.20)
aceitaram bem esta inovação, mas outros não”; “é deixar a criança participar mais,
dar espaço para ela colocar sua opinião sobre as coisas”. “O papel do professor não é
impor”; “o construtivismo é democracia, liberdade de escolha e a pessoa vai
construir e fazer aquilo que ela quer”; “esta mudança foi mais uma proposta lançada
na educação que os professores desconhecem”; “é ensinar o aluno através do
concreto”; “trabalhar com o construtivismo não é tão simples assim, pois este não é
uma receita”; “se o professor fosse preparado, daria para trabalhar com o
Construtivismo e todas as mudanças na educação que começam a dar certo, eles já
substituem por outra” e “esta situação não ocorreu só com o Construtivismo”. Um já
ouviu falar, mas desconhece o que vem a ser Construtivismo.
Supomos que os professores do Ciclo-I desta escola têm uma visão restrita,
vaga ou não tem muito conhecimento sobre o Construtivismo. Mas as idéias que
comentaram foram as que chegaram até eles. Alguns dos professores que tiveram
contato com o discurso construtivista acharam difícil, não aceitaram e determinados
pontos são inviáveis. Parece-nos que eles não foram preparados adequadamente para
trabalhar com o Construtivismo.
Quanto ao Construtivismo e às diferentes Redes de Ensino, um professor
comentou que muitas escolas falam que aplicam o Construtivismo, mas, se for
verificar mesmo, não é verdade. Na opinião de um outro professor, as escolas
particulares que começaram a trabalhar com o Construtivismo se perderam e não deu
certo. Então resolveram unir o método tradicional e a proposta construtivista. Um
professor acredita que, nas escolas em que implantaram o Construtivismo, o trabalho
não deu certo. Hoje, são poucas as que ainda trabalham e nas escolas estaduais,
acredita que nenhuma escola utiliza esse método. Um outro professor ficou sabendo
do Construtivismo por uma psicóloga na escola particular onde a filha estudou. Não
obteve boas informações.
Um outro professor, quando viu o tema Construtivismo, lembrou de uma
professora de primário que não foi bem recebida por ter levado para uma escola
estadual sua experiência de trabalho com o Construtivismo em uma escola particular.
Para um outro professor, existem escolas que não possuem condições de trabalhar o
Construtivismo. Um outro professor comentou que conheceu o Construtivismo
através da sua irmã que trabalha numa escola particular. Na sua opinião, por mais
274
que a escola ofereça condições para que o trabalho ocorra e que os pais colaborem,
existem professores que preferem trabalhar com o método tradicional. Este é mais
fácil de trabalhar, acreditam ser o melhor para a criança e além disso, é o que
conhecem e o que dominam. Um outro professor relatou que a escola onde seu filho
estudou era construtivista. Por não ter muito contato com a professora e por estar no
papel de mãe e não de profissional, não entendia o que era o Construtivismo, mas
percebia que era um “método diferente”.
A maioria dos professores que se referiu a este assunto, pouco comentou do
Construtivismo na rede estadual de ensino, talvez por desconhecer o assunto, ou
ainda, por acreditar que o Construtivismo na escola particular teve mais prestígio.
Contudo, pelos comentários dos professores parece que a concepção construtivista
nas escolas particulares não deu muito certo. É possível que os professores da rede
estadual criaram obstáculos com a chegada do construtivismo às escolas, ou ainda, a
maneira como foi inserido não agradou muito aos professores. Alguns professores
acreditam que o Construtivismo é um método de ensino.
Quanto aos estudos e os cursos sobre o construtivismo, quase a metade dos
professores entrevistados comentou que tomou conhecimento do Construtivismo na
época da Escola Padrão, através de alguns estudos e de materiais. Para alguns, esta
experiência foi boa e para outros este contato foi superficial.
Já um outro professor comentou que comprou muitos livros sobre o assunto e
seu contato com o Construtivismo foi nos HTPC da Delegacia de Ensino. Um outro
professor comentou que fez alguns cursos sobre o Construtivismo na Delegacia de
Ensino, mas ficou perdido e decepcionado, pois além de falarem só da teoria, teria
que desenvolver sozinho sua prática com o Construtivismo. Acrescenta, também,
que, nesses cursos, que são de um dia, só pode ir o professor que é sorteado e além
disso, esse ainda precisa passar para os colegas o que aprendeu. Um professor
comentou que todos os cursos e estudos que fez sobre o Construtivismo foram por
interesse próprio e por mais que recebeu apoio financeiro dos dirigentes das escolas
estaduais, eram cursos particulares e não oferecidos pela Delegacia de Ensino. Um
outro professor comentou que fez cursos sobre o Construtivismo na Delegacia de
Ensino e acredita que os professores foram bem preparados. O fato de existir uma
cobrança por parte da Delegacia de Ensino para estes realizarem as atividades com os
275
alunos e depois informarem o que fizeram, não agradou muito este professor.
Relatou, também, que havia docentes que não aceitavam o Construtivismo porque
precisava ler e se preparar bastante. Na opinião de outro professor, o docente que
quiser trabalhar com o Construtivismo vai precisar estudar muito, pois não dá para
esperar os cursos que o Estado oferece, os quais são muito precários e insuficientes.
Um professor relatou que o seu contato com o Construtivismo foi através de
uma Diretora que fazia cursos na Escola da Vila-S.P. e, posteriormente, montava
grupos de estudo e orientava os docentes a trabalhar na proposta construtivista. Na
opinião deste professor, por mais que seja uma experiência interessante, será
necessário ter um profissional à disposição para orientar o professor sempre que
precisar. Um professor comentou que não fez curso, não estudou e nem recebeu
alguma orientação sobre o Construtivismo da coordenação, mas seu conhecimento
sobre este assunto foi através de uma professora que trabalhava na escola. A partir
disso, foi procurar sua maneira de ensinar com o método tradicional e com o
construtivismo.
Um professor acredita que apesar de comentarem muito do Construtivismo, na
época em que chegou às escolas, ficou mais na teoria e no papel. É possível que, para
o professor colocar em prática esta teoria, precisasse de mais cursos e orientações.
Um outro professor comentou que o Construtivismo entrou nas escolas de uma
forma muito rápida e que o professor também não foi preparado. Se o docente tivesse
recebido orientações, cursos e se o Construtivismo tivesse sido passado de forma
correta, não teria ficado perdido e teria trazido bons resultados na sua prática
pedagógica.
Para um outro professor, as mudanças que ocorrem na educação, o professor
não é preparado com cursos. Para outro, os cursos, estudos que os professores
fizeram do Construtivismo em sua maioria foi superficial e insuficiente para
capacitar o professor. Foram oferecidos pela rede estadual somente num determinado
período. Alguns professores acreditam que o Construtivismo ficou mais na teoria e
no papel e que não foi passado de forma correta aos docentes. Supomos que os
professores se sentem desrespeitados e ressentidos pela forma como os órgãos
governamentais implantam as mudanças no ensino.
276
teoria e sim as frases chaves deste. Supomos que para alguns destes professores uma
aula diferente, dinâmica e mais livre seja construtivista.
Outros professores apontaram alguns aspectos desfavoráveis ao Construtivismo
e o ensino e aprendizagem: um professor trabalhou atividades construtivistas numa
época, mas não sabia o motivo de fazer isto; outro trabalhou com o Construtivismo,
mas acredita ser muito difícil inseri-lo na prática e não sabe se é por causa do aluno
ou se é o professor que não está preparado; um outro professor comentou que por
mais que fale que trabalha com o Construtivismo, o desconhece. Relatou que este foi
“lançado” na educação. Supomos que este professor sentiu-se obrigado a fazer
mudanças na sua sala de aula, sem ter tido conhecimento deste assunto. Por mais que
os professores falem que trabalhem com o Construtivismo na escola onde a pesquisa
foi realizada, na opinião ainda deste professor, os colegas de trabalho trabalham
mesmo com o tradicional. Um outro professor comentou que quando o
Construtivismo chegou às escolas este se “perdeu” porque o professor trabalha sem
ser preparado e sem orientações. Acrescenta que o pior é que ainda os docentes não
estão prontos para trabalhar com o Construtivismo. Este professor tenta ser
construtivista, tenta trabalhar, valorizar a realidade do aluno dentro do que pretende
ensinar, mas acredita ser um trabalho muito estranho.
Os professores não sabem trabalhar com o Construtivismo e devem ter passado
muitas dificuldades na época em que este estava no auge nas escolas. A escola parece
não estar preparada para orientar o professor para trabalhar com o Construtivismo.
Seria necessário uma transformação significativa na escola pra inseri-lo.
Alguns professores comentaram os aspectos favoráveis e desfavoráveis de se
trabalhar com o Construtivismo: um trabalhou intensamente com o Construtivismo
na época da sua implantação e foi uma experiência gratificante que marcou muito sua
vida. Além de ter enfrentado muitas dificuldades com pais e professores, foi um
trabalho cansativo, mas trouxe bons resultados. Acrescentou também que,
atualmente, devido aos problemas disciplinares e de aprendizagem de seus alunos,
trabalha pouco com o Construtivismo. Um outro professor relatou que gostou muito
de trabalhar com o Construtivismo, apesar de não ser fácil não. Atualmente não
trabalha só com o Construtivismo. Acredita também que nenhum professor trabalhe
só com o Construtivismo. Um outro professor comentou que na 3ª e na 4ª série dá
278
“(...) mas na prática este sistema não funciona porque tanto o professor quanto o aluno,
não estão preparados para essa mudança. O professor não tem respaldo profissional para isso
e ele acata essas normas novas, sem saber, atuar de forma correta, mais proveitosa para
ambas as partes. (...) eles fizeram muitas mudanças que até são assim boas, só que eles
esqueceram que eles mudaram lá em cima, mas eles esqueceram de dar o treinamento no caso
dos que lidam mais direto (...) são os professores que lidam com esses alunos... então os
professores foram praticamente jogados nessas novas normas (...) tem que ter uma
preparação, tem que ter um treinamento para as coisas darem certo (...).” (Prof.06)
“Então essas novas propostas elas têm um lado positivo, mas elas têm muito o lado
negativo.. é que ela não foi bem implantada... ela foi copiada e jogada e o pessoal não está
muito bem preparado para isso. Está sendo, está melhor do jeito que está agora, só que falta
muita organização, muita mesmo. Até se não tiver cuidado, acaba se perdendo, sabe, se não
tiver cuidado, mas dá para trabalhar. (...) a gente ainda está meio perdido. (...) eu ainda falo
que é muito válida essa mudança que está vindo desde o construtivismo. (...) precisa levar
mais a sério, organizar melhor para funcionar mais. Nós estamos no meio de uma guerra, sei
lá, nós estamos caminhando e nós vamos chegar num resultado (...).” (Prof.07)
“(...) então é difícil, hoje em dia tem esse processo de... veio de aceleração, veio não sei o
que e agora passa sem repetir (...). (...) vem sendo feito mudanças, mas não mudou nada. Uns
falam que são construtivistas, uns falam que são não sei o que, mas para mim dá tudo na
mesma.” (Prof.01)
280
“(...) porque eles não entram primeiro numa sala de aula e coloca isso daí para ver se dá
certo para depois passar para todos os professores. Mas não, eles vão impondo de cima para
baixo, a gente vai engolindo (...). (...) eu acho que o professor deveria ser consultado em tudo
antes. Imposição é terrível não funciona, ditadura (...).” (Prof.02)
“(...) com relação à mudança do horário, eu acho que o horário de cinco horas ficou muito
pesado, eles ficam na sala muito cansados, no final do período já não rende mais e nós só
podemos sair com os alunos, uma vez na semana. Esta mudança de horário foi o Governo que
estendeu um pouquinho mais para tirar a criança da rua. Uma outra inovação também boa
que nós tivemos, foi o HTPC. Foi um espaço, uma oportunidade que o professor teve para ele
poder se reunir com o pessoal e poder discutir o que ele está fazendo em sala de aula, o que
nós vamos fazer, as atividades, os trabalhos, as comemorações. Agora o Ciclo Básico, eu
também cheguei a pegar, eu gostei bastante porque muitas vezes o aluno chega na primeira
série que era primeira e segunda série, ele chega na primeira série ele não está pronto ainda,
ele tem sete anos, mas ainda não está maduro para aprender e têm crianças que chegam com
seis anos e já está pronta para aprender. Então é uma oportunidade, aquela criança que não
conseguiu ser alfabetizada na primeira série, ela indo, passando automaticamente para
segunda, talvez com um estalinho de repente ela começa a aprender tudo (...).” (Prof.13)
“(...) hoje você não consegue trocar idéias. Hoje mesmo tendo o HTPC ele é muito pouco.
Você tem tanta coisa para discutir e tanta coisa para você ler que vem lá de cima que chega
uma agora que você não sabe mais o que você vai fazer para colocar adiante o que você
pensa, o que você quer fazer. Eu acho que nós estamos precisando para uma melhora do
ensino, nós estamos precisando de um tempo, um outro espaço para todos os professores
ficarem juntos e discutir a parte pedagógica. Eu acho essencial a troca de experiências, de
receitas, de como fez, entre os professores, eu acho muito importante.” (Prof.18)
Um outro professor comentou que o reforço com duração de uma hora não
parece ser nada favorável para uma criança com grandes defasagens escolares.
281
“(...) as inovações vieram várias... atualmente temos a não repetência, reforço (...) o
reforço (...) é do meio-dia a uma hora. A criança já estudou até o meio-dia, ela está cansada,
com fome e não rende e se for para voltar à tarde a criança acaba não voltando. Então é uma
coisa assim... é um ou outro aluno que consegue recuperar (...). (...) é mais por aparência
porque recuperar não recupera mesmo. (...) nós tivemos a Classe de Aceleração (...). Esses
que passaram da primeira para segunda série ficaram na segunda série 4 ou 5 anos... então
classe de aceleração foi para equilibrar a idade desses alunos... então eles foram para quarta,
quinta e sexta série só escrevendo o nome (...) veio para equilibrar a idade destes alunos. A
Classe de Aceleração funcionou assim... pegaram todos os alunos que estavam com 09 até os
14 anos na segunda série e colocou todos em uma única classe (...) depois eles foram para a
série correspondente a sua idade (....) mas tiveram alunos que acabaram ficando dois anos na
aceleração para ir para uma quinta ou sexta série (...) não é por causa da Progressão
Continuada que estes alunos foram sendo aprovados, empurrados para frente foi a aceleração
que os colocaram onde estão (...). Então as Classes de Aceleração foi isso, só acelerou idade,
mas a aprendizagem não.” (Prof.15)
“Os Amigos da Escola... primeiro teve a propaganda depois esse amigo chegou, você
entendeu? então a propaganda teve bonita, mas são tá acontecendo isso? Sabe o Governo
fala da Escola Pública que o professor que atua nela desconhece, ele desconhece aquilo. Eu
falo: "gente será que não me passaram aquilo?"... ele tá falando agora do esporte na escola,
mas cadê o esporte? É o professor da sala que vai dar o esporte? Então é uma escola muito
linda da televisão, mas aonde ela está? Onde ela está? eu desconheço, eu sou professora da
Escola Pública e eu desconheço, será que sou eu que sou alheia? Eu pergunto para Direção,
a Direção também não sabe (...). Será que é em São Paulo? Será que são só em algumas?
Porque aqui não está acontecendo tudo isso? Uma realidade que não acontece e na televisão
é tudo bonito. (...) computação (...) não está acontecendo e tem todo um trabalho bem-feito
na TV e aqui aonde acontece o trabalho com os alunos mesmo não tem nada.” (Prof.16)
“Então o que o Governo joga? ele joga para gente aquele SARESP para ver se a criança
tem condições, se ela está indo bem. Então eu acho assim você tem que estar muito aberta
para estas coisas, tem que estar de peito aberto para as mudanças, mas as pessoas não estão.
Para mim as mudanças é tudo para beneficiar o Governo, não para beneficiar o aluno ou o
professor. Para o Governo é vantagem ver o aluno burro, ele quer ter uma população mal
282
formada. Você vê ele tirou o professor de Educação Artística e Física ficou desempregado e
nós temos que dar e ganhamos o mesmo tanto porque o professor ganhava para fazer isso.
Então eu falo é mudança para nós? É mudança para o bolso deles, então é difícil, a política
não é fácil (...).” (Prof.17)
“Quando o Ciclo Básico começou a colher seus bons frutos ele foi interrompido, aí veio a
Escola Padrão.” (Prof.18)
Um outro professor percebe que existe um trabalho sério dos profissionais que
propõe as mudanças, as quais algumas até são adequadas. Supomos que este
professor parece ser contra a forma como as propostas educacionais são implantadas,
sem o professor ser preparado e sem respeitar o contexto escolar. Na sua opinião,
também, não precisar mais fazer o aluno decorar as lições foi um grande avanço. É
inviável esta questão que colocaram para o professor do aluno construir seu próprio
conhecimento.
“(...) eu sempre acho que aqueles que escrevem sobre a educação são pessoas que se
envolveram que pesquisaram, viram e testaram. Então ela não foi fazer aquilo lá
aleatoriamente, fazendo por fazer, eles estão sempre embasados em alguma coisa e de uma
maneira ou de outra deve dar certo, pode não ser assim... aquilo que levará o aluno a
construir o conhecimento dele total, em absoluto isso não existe (...). (...) quando vieram estas
inovações tirou muitas coisas que eu achei até legal, eu pensei assim, na minha época era
muito mais chato, hoje eu questiono muito eu estudei em uma época que todo mundo tinha que
aprender decorar... que idiotice decorar sem saber para que. (...) dentro da Escola do Estado
tem muitos problemas, todas as propostas educacionais elas são colocadas sem que haja
preparo dos professores, isso não tem dúvida, todas, tudo que é colocado primeiro é jogado,
eles querem colher e acabam colhendo - bagunça... porque o professor fica perdido, está certo
que as coisas estão acontecendo, evoluindo, mas nesta evolução tem que haver preparação, a
escola não é uma máquina, ela tem os seus problemas, suas dificuldades, ela tem um monte de
gente e estas pessoas têm um modo de pensar e não pode ser colocado assim, mas eles
colocam, tem um cursinho aqui, outro ali, é muito pouco porque a mudança é muito séria e
todo mundo fica inseguro na hora da mudança (...).” (Prof.19)
“Nós chegamos a fazer uma experiência aí, tiramos todas as crianças de uma segunda
série que não estavam alfabetizadas, montamos uma classe à parte e fomos carregando, mas
chegaram até a quarta série... o que aconteceu? O Governo lançou este Saresp que é uma
283
avaliação para todos. Essa classe não teve avanço. Só que aí o Governo tinha que chegar e
perguntar porquê? A gente explicar que foram crianças que foram passadas para a frente e
agora foi a primeira barreira. Então daí ele pune o professor, taxa a escola. Aí o Diretor
também fica com medo porque ele também não sabe até que ponto uma criança progride mais
numa sala assim. Eu acho que o caminho é esse agora, o Governo te impõe e aquilo que você
acha que é útil você explora mais, aquilo que você acha que não é tanto, você passa por
cima.” (Prof.20)
b) A Progressão Continuada
“Progressão Continuada que eu acho que foi um erro porque o aluno está passando sem
saber nada (...).” (Prof.02)
“Essa Progressão Continuada acabou com o ensino, eu sinto que acabou porque eles não
estudam, sabem que passam (...). Eu vejo esses alunos, nós temos que voltar ao tempo de nota
e de prova (...). Eles falam que isso é atraso, tudo tem que mudar, tem que evoluir, mas pelo
menos o que fizeram aqui não está dando certo (...).” (Prof.10)
“(...) Progressão Continuada... é terrível e eu converso com os colegas e todo mundo acha
que é o pior de tudo (...). Mas eu falo que é uma mentira o aluno está na quarta série, tá! mas
eu falo que ele não sabe nada às vezes você é obrigada, não sou eu, mas eu recebo ordens que
eu sou obrigada a passar ele. Aí digamos que você fale que vai segurar, vem uma recuperação
de verão que ele é obrigado a passar, aí o professor vai lá e passa ele.” (Prof.17)
“(...) a forma que ele foi passado essa mudança na educação de que o aluno da escola do
Estado ele não reprova mais, isso foi passado de uma forma errada (...). (...) se você ler
realmente a proposta, a proposta não é bem essa, não é o aluno não reprovar, mas o aluno ele
ter por ex. da primeira a oitava série para adquirir o conhecimento desse ensino fundamental.
Só que isso não foi a forma que chegou. Eu acho que se tornou muito liberal por isso, a visão
que veio que chegou para o aluno é que ele apenas não vai mais reprovar que para ele tanto
faz, tanto fez estudar ou não (...). (...) só que a proposta da educação não era bem essa...mas
seria você formar cidadãos de acordo com o seu nível de aprendizado, aquele aluno mais
fraco ele teria oito anos até conseguir chegar, o outro conseguiria chegar mais rápido a
proposta seria essa, só que não é essa a proposta que está sendo cumprida. Se essa inovação
da educação tivesse acontecido de forma certa, de acordo com a forma que ela está no papel,
ela seria uma benfeitoria muito grande para o ensino, mas ela é meio ilusória (...).” (Prof.04)
284
“(...) se a progressão continuada o aluno não vai repetir de ano, então o professor não foi
preparado para se reciclar nesta parte (...) agora teve professor... teve não, a maioria dos
professores entrava na sala de aula e falava: "com essa lei nova ninguém vai reprovar, todo
mundo vai passar". Não é por aí (...) chega no final do ano o aluno, se ele tiver 75% de
presença você não tem como reter, hoje em dia eu aprendi isso (...). (...) progressão
continuada é ótima.” (Prof.05)
Um outro professor comentou que, além da sua insatisfação com esta medida,
possui preocupação quanto à formação do aluno. Parece-nos ser favorável a
reprovação escolar.
“Essa não repetência é muito séria. O que vai acontecer daqui uns anos, nós vamos ter um
pessoal na Saúde que vão assim trocar diagnósticos, fazer cirurgias sem necessidade, quer
dizer está gritante (...). (...) porque quando aquele aluno leva aquele choque da repetência, eu
acho que ele acorda para o ano seguinte. Então ele vai prestar atenção no professor, ele vai
querer aprender melhor, de novo, para não acontecer aquilo porque os outros foram para
frente e ele não vai. Acho que isso do passado era importante porque o aluno repetia e o outro
ano se corrigia e agora não, ele não repete, ele vai para a série seguinte, ele não se corrige.
(...) bem ou mal ele vai para o ano seguinte de acordo com a Progressão (...) eu tenho visto
colegiais aí que não sabem escrever por isso que eu digo que não são tão boas.” (Prof.08)
“(...) atualmente falam pra gente avaliar o aluno dia-a-dia, o que a gente acaba realmente
avaliando... aqueles que não fazem nada, não querem nada. Então você tem também que dar
uma nota, alguma coisa, dar uma atividade, mas no final eles acabam não fazendo nada e só
dele comparecer à escola já é motivo dele seguir para outra série, apesar que ele não fez
nada. Então, é isso que eu acho errado porque têm alguns alunos que trabalham que fazem
que se dedicam e depois no final dá na mesma para aqueles que não fizeram nada (...). Então
eu acho que deveria voltar o tempo que era se sabe, sabe e se não sabe, deve voltar, continuar,
ver aonde parou para começar novamente para poder enfrentar a dificuldade.” (Prof.11)
percebe que os pais e os alunos já sabem que mesmo não aprendendo nada, serão
aprovados no final do ano.
“(...) eu tenho dúvida se eu gosto muito dela. (....) aqueles alunos que têm dificuldades eu
acho muito errado... eu acho que não deveria ser usado para aqueles que têm muitas
dificuldades porque é como falei você vai jogando de uma série para outra e aí? (...). Eu acho
que é bom, é bom para aqueles alunos que sabem, que conseguem acompanhar, mesmo que ele
tem dificuldade em alguma matéria, mas ele sabe outras. Você chega em uma sala de aula no
começo do ano e a mãe, o pai e o aluno estão sabendo que no final do ano ele passará mesmo
se ele não aprendeu nada, é onde eu fico chateada com relação a isso.” (Prof.12)
“(...) o aluno passa pela Progressão Continuada, mas o aluno está muito desinteressado
porque ele sabe que ele vai passar, ele não depende de nada, só dele comparecer à escola, ter
presença ele passa. Então eu estou sentido que a criança perdeu aquele interesse pela escola.
(...) porque o aluno não conseguiu entender que esta Progressão Continuada ele vai ser
avaliado aí fora, quando ele for procurar emprego (...) o futuro para ela ainda está muito
longe e ela vai levando na brincadeira, falta colaboração dos pais (...). Nós estamos muito
frustradas mesmo, todas as professoras porque você não tem mais como cobrar o aluno. Esta
Progressão Continuada vai ter que mudar, vai ter que mudar alguma coisa porque nós
professores estamos com medo assim de chegar em tempo da gente não conseguir mais
domínio da sala.” (Prof.13)
“Agora, a minha tristeza que eu vejo na educação é a forma com que estão sendo
empurradas essas crianças porque veja bem, antes não era o professor... quando não tinha
esta Progressão Continuada a gente não tinha o direito de reter estas crianças para que eles
tivessem o mundo organizado, para que eles tivessem uma nova oportunidade para continuar.
Então a minha preocupação está nisto aí, empurrar essas crianças... que futuro essas crianças
vão ter? (...) senão tivesse esta Progressão.... aí seria tudo muito bom (...).” (Prof.14)
“(...) eu sou a favor da Progressão, mas com toda a possibilidade da criança se recuperar.
Vamos supor: aula de recuperação, no reforço... é restrito ao Português, porque só
286
Português? Tem que ter Português, Matemática e não deveria ser da meio-dia a uma hora. A
criança acabou de sair da sala, ficou cinco horas sentadas, tá sem almoço (...) eu entendo que
talvez em outro horário a criança não possa vir, tem também a questão da falta de sala, mas
tudo é difícil! como é que faz pra recuperar esse aluno então?” (Prof.15)
“Eu acredito na Progressão Continuada desde que tivessem estrutura para tudo isso que
tivesse continuidade mesmo! Então o que eu entendo de Progressão Continuada, a
Progressão Continuada é a criança continuar de onde ela parou, então uma criança que está
numa primeira série o professor vai ver aquilo que ela conseguiu alcançar e no outro ano ela
vai começar de onde ela parou. Está tendo falha por parte dos professores e da própria escola
em explicar o que é para os pais. Progressão continuada é porque a criança tem um ciclo
todo, ela tem um ciclo de primeira a quarta série e que é o primeiro ciclo, depois ela tem de
quinta a oitava série que seria o segundo ciclo, na quarta ao final do ciclo se a criança está
apta a frequentar de quinta a oitava série, se não está, ela ficaria retida e de quinta a oitava
série a mesma coisa (...) ela está tendo falhas porque ela não está sendo continuada. (...) a
mentalidade do professor ainda não mudou neste aspecto, pensam que eles estão na segunda
série. Então o que se quer da criança na segunda série?. (...) nós temos objetivos a serem
alcançados de primeira, de segunda e aí vai... então não é Ciclo I, é de primeira, segunda,
terceira e quarta série. O que fazer com aquele aluno mais lento que demora mais? Nós não
sabemos. Então esse daí fica de lado mesmo, às vezes chega até a 8ª série sem saber. O que é
que aconteceu? Aumentou o índice de aprovação? Então ele aumentou de primeira a quarta
série, a maioria dos alunos agora chega até a quarta série, foi bom neste aspecto? Foi, mas
para uma estatística não para uma aprendizagem. (...) então tem um índice de aprovação
grande, mas que tipo de aprovação é essa, é automática? É automática que não deveria ser, é
uma progressão continuada e mesmo nós professores nós estamos falhando, nós falamos assim
progressão automática (...).” (Prof.16)
“(...) de todas as inovações a que mais nós estamos perdendo é esta da Continuada Na
Progressão Continuada eu acho que ela não foi usada do jeito que teria que ser porque em
primeira coisa nós deveríamos partir de onde o aluno terminou para começar as nossas
classes. Elas são organizadas de forma que não acontece isso. Você recebe aluno que não
sabe nada, você recebe aluno que sabe um pouco e aluno que sabe muito... então por aí não
tem mais progressão continuada. Agora do jeito que as classes estão sendo formadas a
287
progressão, ela perdeu realmente o que ela deveria ser porque hoje o professor não consegue
delimitar aonde o aluno parou e nem aonde ele deve começar.” (Prof.18)
“(...) a minha maior preocupação com esta progressão continuada que eu até acho
interessante, é o aluno ir passando de série para série sem saber nada, vai ficar uma criança
perdida na quinta série (...). (...) as pessoas ficam falando a progressão é ruim, a progressão é
boa, ela é boa porque ela não reprova, ela é ruim porque eu trabalho com aluno que sabe
nada .... é para pirar. É boa porque promove o aluno que não sabe nada e assim eu fico livre
dele, ela é ruim porque eu passo a ter aluno que não sabe nada e quem vai ter que trabalhar
com ele sou eu no outro ano. A progressão (...) ela foi colocada de uma maneira também assim
jogada, não entenderam muito, eu acho que ainda não entenderam muito embora eles têm a
teoria maravilhosa (...). Eu acho assim se tivesse mais preparo, se tivesse mais elaboração
daria certo porque a proposta é boa, mas no meu caso que está acontecendo é que os alunos
estão numa quarta série e não estão alfabetizados. O que eu puder fazer... eu vou fazer este é o
meu trabalho, mas não venha me cobrar quatro anos em um (...).” (Prof.19)
“(...) essa progressão automática que tem agora é tudo mais uma reforma burocrática, é
imposição de Governo, para nós não tanto. Não porque a forma de ensinar não alterou, o que
alterou foi a forma de avaliar (...). (...) num primeiro momento eu me rebelei contra o Governo
(...) quando a criança tem dificuldade, você não identifica o problema, mas você vê que ele se
esforçou e conseguiu alguma coisinha. Então nesta parte o Governo não está errado porque
você vai segurar esta criança eternamente numa série e ele nunca vai chegar lá. Então tem
que trabalhar diferenciado (...). No começo eu fiquei brava mesmo... ele tá judiando das
crianças, mas hoje eu vejo que realmente ele não está, pois para as crianças que têm uma
defasagem, uma dificuldade mínima não tem importância ir para outra série. Agora para uma
criança que está lá no ginásio e está analfabeta aí a coisa é mais complicada.” (Prof.20)
“Sala ambiente mil vezes excelente porque você tem todo material na sala, o aluno que te
procura, não é você que procura o aluno, então você tem como trabalhar, você tem como
expor o trabalho do aluno dentro da tua sala parece que você está na sua casa. Então eu achei
ótimo sala ambiente só que acabou muito rápido.” (Prof. 05)
Três outros professores acreditam que o docente não é preparado para lidar
com os novos recursos pedagógicos que implantam na escola. Questionam a
utilidade destes na sala de aula.
“(...) toda a tecnologia deixa as pessoas tão eufóricas e todas as técnicas, todas as coisas
deixa as pessoas perdidas, as pessoas falam deslumbradas que a escola recebeu um vídeo, a
escola recebeu uma televisão. Vem um computador, para que ele serve? Você sabe? É a hora?
Qual o benefício que ele trará? Então simplesmente jogar e dizer que está aí, se vira, se você
não descobrir como usar e para que ele pode me ser útil porque senão estas coisas não servem
para nada... então todas as inovações que tem por aí, tudo serve, tudo serve, nada é
descartável, a escola não precisa de tanto eu acho (...) mas a maioria não sabe o que fazer
porquê? Porque é tudo jogado.” (Prof.19)
“Chegou na escola computador o que fazer com isso? tá aí? Tá! A comunidade sabe?
Sabe, mostra na televisão, mas o que fazer com isso? Mas o professor não tá pronto para
receber isso, ele não está pronto. (...) deveria investir na reciclagem do professor para depois
ter colocado os computadores na sala. Outra, os nossos alunos da rede pública também não
estão preparados para mexer nos computadores (...) uma que eles não têm acesso na casa
deles a esse tipo de coisa, vai se perder muito, às vezes o aluno vai abrir o computador para
um joguinho, ele não vai além disso porque o professor também não vai dar isso para ele
porque ele também não tem, nós não estamos preparados para levar os alunos para esta sala.
(...) não sabemos nem ligar o computador. Não dá para levar os alunos ainda...” (Prof.16)
“(...) o Governo quer inovar, inovar, inovar o Magistério... onde? Como? Computação,
sala de computação, está aí, muito bonita (...) agora eles estão dando reciclagem para nós de
computação. Só que você tem que trabalhar 08 horas numa sala de aula, que horas você vai
para o computador? que horas você vai tirar para trabalhar com esse aluno de forma
diferenciada? Se a classe tem 35 ou 40 alunos, seria o ideal sim se o Governo pagasse,
dispusesse de pessoas habilitadas para isso. Assim como tem aula de Português, Matemática,
História, Geografia... se tivesse aula de Informática, depois da aula X é a Informática (...). Eu
não sei, mas é uma responsabilidade do Governo, não deveria jogar tudo nas costas dos
professores. O Governo chegou a tal ponto conosco que tudo somos nós (...). Deu o
computador (...) não sei mais o que... a pessoa que está fazendo propaganda na televisão é um
ator, é uma atriz famosa, quanto que eles estão cobrando para fazer aquilo? Esse dinheiro não
poderia ser direto para escola? Computador é bom? Lógico que é (...).” (Prof.08)
d) A Escola Padrão
“(...) quando teve a Escola Padrão foi excelente (...) eu ficava menos tempo com aluno em
sala de aula, mas eu tinha mais tempo para me preparar, hoje não, hoje o professor tem que
trabalhar nos três períodos para ter um salário entre aspas para ele poder sobreviver. (...)
eram 24 horas que você podia pegar e o restante você cumpria o horário na escola e aqui na
escola, por exemplo você encontrava com os professores de Matemática e então a gente se
reunia, discutia (...). (...) gente tinha mais tempo para preparar o material (...) eu aprendi
mais, era menos cansativo porque você estava menos na sala de aula (...) você aprendia mais,
essa era a fase boa da Escola Padrão. (...) tinham mais cursos (...).” (Prof.05)
“A época da Escola Padrão foi o sonho de toda escola que permanecesse, todos os
professores, Direção gostava, era o sonho, mas não durou muito tempo, foi muito pouco (...) a
gente trabalha em paz (...).” (Prof.07)
Para um outro professor, a Escola Padrão foi interrompida de uma forma muito
brusca. Os professores foram desrespeitados. Foi uma época de bons trabalhos na
escola.
“Agora se pegarmos a época que havia Escola Padrão, era melhor porque havia um outro
sistema, já havia esta progressão, mas o professor não precisava se preocupar em pegar 33
aulas para sobreviver. Ele pegava vinte aulas (...) e as outras oito aulas passava assim na
escola preparando aulas, conversando com outros professores e ele era ressarcido ali pelo
montante de aulas (...). (...) tiraram a Escola Padrão como se proíbe num bar: "não vende
290
mais balas aqui" da noite para o dia. Então, eles não pensam no andamento do outro
Governo, o que ele fez, o que ele implantou? Então eles não respeitam.” (Prof.08)
Para um outro professor, a Escola Padrão foi uma época muito boa, pois tinha
tempo de preparar suas aulas, para estudar, grande quantidade de material a
disposição e além disso, o aluno tinha aulas com o professor especialista de
Educação Artística e de Educação Física.
“(...) os professores tinham tempo de estudar nesta época da Escola Padrão, era uma
época muito boa, tinha todo material (...) tinha aula de Educação Física, aula de Educação
Artística e então nestes horários o professor saía da sala de aula (...) ia preparar, corrigir,
fazer material para as crianças (...) era bem melhor. (...) tinha pouca Escola Padrão, era esta,
S. D. e o C. de O. L., então vinha muito material para estas escolas, deu certo, mas de repente
veio outro Governo, tirou e colocou outras idéias.” (Prof.15)
“(...) naquela época Escola Padrão eram eles que chamavam, só precisava entregar o
currículo e fazer uma entrevista não dependia de pontuação nenhuma. (...) Escola Padrão era
um projeto que era muito bom, o material que a gente tinha era rico. O que aconteceu o outro
Governo tirou (...). Sabe se estava dando certo teria que ser um compromisso para o outro
Governo, se está dando certo tinha que continuar, mas não. Eu mesma infelizmente peguei um
ano só de Escola Padrão... eu estava numa tradicional.” (Prof.17)
“(...) na época da Escola Padrão nós tivemos um professor que ficava responsável pela
Biblioteca, foi a melhor coisa da Escola Padrão e que nos ajudava muito. Tanto aos
professores quanto aos alunos. Essa foi a pior perda da Escola Padrão. Essa proposta da
Escola Padrão ficou uns quatro anos e foi um desrespeito porque o Governo cortou a nossa
jornada, então o professor tem que trabalhar muito... e na época nós ganhávamos por 40
horas e acabávamos ficando numa escola só. A Escola Padrão tinha uma coisa de bom ela
remunerava o prof. que trabalhava (...) as que foram implantadas em R. fizeram sucesso, foi
uma perda muito grande e nós não tivemos uma pessoa que nos esclarecesse o que nós
estávamos perdendo porque se tivéssemos iríamos lutar, foi uma perda irreparável. (...) então
você tinha muito material para trabalhar, o aluno tinha mais condições de você poder
trabalhar com aluno porque você tinha um concreto para você mostrar para ele (...).”
(Prof.18)
291
Um professor acredita que a Escola Padrão não foi uma reforma no ensino. Dez
professores não se referiram a este assunto.
“(...) a Escola Padrão... eu acho que foi mais uma reforma burocrática, não uma reforma
no ensino.” (Prof.20)
televisão, pois é muito bonito o que eles mostram, até gostaria de trabalhar nela, mas
não corresponde à realidade da Escola Pública que trabalha.
Um professor comentou que o fato de aumentar a carga horária é mais para
tirar o aluno das ruas, mas na sua opinião é muito desgastante para ele. Ressaltou que
o HTPC foi uma mudança muito importante para os professores, pois possibilitou
estudos e troca de experiências entre eles. Apreciou a época do Ciclo Básico porque
trouxe benefícios para os alunos. Na opinião de outro professor, o HTPC é
insuficiente para os professores discutirem a parte pedagógica, estudar e trocar
experiências de sala de aula. Um outro professor comentou que o reforço com
duração de uma hora não parece ser nada favorável para uma criança com grandes
defasagens escolares. Ressaltou, também, que foi a Classe de Aceleração e não a
Progressão Continuada responsável pelos alunos não saberem ler e escrever hoje.
Esta medida adequou os alunos na série correspondente à sua idade, mas não
resolveu a questão dos problemas de aprendizagem.
Os professores parecem perdidos, angustiados e confusos com a forma como as
inovações são implantadas. Na verdade a grande maioria é favorável às mudanças,
porém não concorda com a maneira pela qual estas são inseridas e, posteriormente,
conduzidas nas escolas. Parece-nos que os professores ficam muito revoltados e
magoados por não serem consultados antes de implementarem as mudanças no
ensino, ou, quando não são incluídos no processo de elaboração destas. O fato do
contexto escolar não ser levado em conta, quando as mudanças chegam às escolas, é
um outro ponto que os incomoda muito.
Quanto à Progressão Continuada, mais da metade dos professores é contra esta
medida. Encontramos alguns professores que acreditam que esta medida imposta
pela Secretaria da Educação acabou com o ensino, pois os alunos passam sem saber,
não estudam mais e não tem mais nota e prova como antigamente; um se preocupa
com a formação do aluno e é favorável à reprovação escolar; um outro professor
disse que, por mais que orientem para avaliar o aluno diariamente, os docentes
avaliam os alunos que não fazem nada e não querem mais aprender. Também é
favorável à reprovação escolar. Um outro professor acredita que se a Progressão
Continuada não for revista, os professores não terão mais condições de trabalhar na
sala de aula. Preocupa-se com o futuro dessas crianças. Para um outro professor, o
293
que mais o entristece na educação é a maneira como essas crianças são aprovadas
para o ano seguinte. Questiona o que será dessas crianças amanhã. Para um outro
professor parece que a Progressão Continuada trouxe uma desorganização no ensino,
na forma do professor trabalhar. Além de não aceitá-la, o docente não conseguiu
utilizá-la como deveria ser. Outro professor acredita que o docente precisaria de
preparo para a Progressão Continuada, pois por não compreendê-la, transmitiu essa
reforma para os alunos de forma distorcida. Na sua opinião, o aluno que tiver
presença não pode ser retido.
A forma como a Progressão Continuada chegou para os professores e a falta de
orientações contínuas parecem ter abalado o trabalho pedagógico. Os professores
parecem perdidos, insatisfeitos e revoltados com esta situação, pois se sentem
desvalorizados. Eles não foram preparados para lidar com essa mudança no ensino e
parecem não compreender a medida. Não aceitam o fato de não poderem mais
reprovar os alunos.
Talvez os professores estejam resistentes e receosos a assumir novas posturas
na sala de aula, pois, ao longo dos tempos, na escola, tiveram poder e controle sobre
seus alunos. Não é fácil ter que mudar de atitude de uma hora para outra e sem apoio.
Alguns professores são favoráveis à Progressão Continuada. Dois destes não
aprovam a forma como foi colocada para os alunos. Um outro professor comentou
que aprecia a Progressão Continuada, mas também tem muitas dúvidas em relação a
esta medida. Acredita que motiva aqueles alunos que possuem algumas dificuldades
em determinadas matérias, mas para aqueles que têm muitas defasagens não é bom.
Se decepciona, quando percebe que os pais e os alunos já sabem que mesmo não
aprendendo nada, serão aprovados no final do ano. Um outro professor é a favor da
Progressão Continuada, mas se as crianças fossem realmente atendidas no reforço,
nas suas dificuldades e em todas as disciplinas. Parece-nos que este professor sabe
que não é isso que acontece. Questiona também o horário do reforço. Um outro
professor comentou, que apesar de ser a favor da Progressão Continuada, percebe
várias falhas nesta medida. Na sua opinião, o aluno deveria aprender no ano seguinte
a partir do ponto que ele parou, pois este deveria ter um ciclo todo para isso
acontecer. Os professores não perceberam que o ensino agora não é mais por séries e
sim por ciclos. Acrescenta, também, que a escola e os professores não souberam
294
explicar esta mudança para os pais, pois não entenderam direito. Este professor nos
revela ainda, que as pesquisas informaram que aumentou o índice de aprovação, mas
isso não é indicativo da aprendizagem dos alunos. Infelizmente não existe Progressão
Continuada e sim Aprovação Automática. Um outro professor acredita que a
Progressão Continuada é interessante, mas foi “jogada nas escolas” e os alunos
passam sem saber nada. Se esta medida fosse bem empregada traria bons resultados.
Na opinião de um outro professor, a Progressão Continuada foi uma reforma
burocrática e uma imposição governamental. O que modificou foi a forma de avaliar
e não a forma de ensinar. Não aprovou esta medida quando foi implantada, mas hoje
não pensa mais assim, pois para as crianças com defasagens mínimas foi muito
favorável, agora, para aqueles que estão no ginásio a situação é bastante complicada.
Os professores se declaram favoráveis à Progressão Continuada e alguns
parecem compreender os diversos aspectos desta proposta, mas não aceitam a forma
como foi implementada nas escolas. Acreditam que se esta medida fosse seguida
adequadamente, traria resultados positivos para a educação.
Quanto às Inovações nos Recursos Didáticos, menos da metade dos professores
entrevistados se referiu a este assunto. Dois professores apreciaram muito a idéia das
salas ambientes, mas esta inovação durou muito pouco tempo; quatro outros
professores acreditam que o docente não é preparado para lidar com os novos
recursos pedagógicos que implantam na escola. Questionam a utilidade deles na sala
de aula; um outro professor acredita que as inovações nos recursos didáticos são
importantes, mas, na sua opinião, além do docente estar com muitas
responsabilidades na sala de aula, não é preparado adequadamente para elas.
Segundo este professor, precisaria haver uma pessoa especializada para cuidar da
parte de computação e, também, ao invés do Governo investir recursos financeiros
em propagandas na televisão, deveria transferi-los para a escola.
Os professores que se referiram a este assunto são favoráveis às mudanças em
relação aos recursos didáticos no ensino, mas, além de questionarem a rapidez com
que vão embora da escola, não apreciam a forma como chegam e como são
utilizadas. Parece-nos que mais uma vez o professor não é preparado devidamente
para as alterações que são obrigados a fazer na sala de aula.
295
CONSIDERAÇÕES FINAIS
1. DISCUSSÃO
mesmo autor nos lembra que alguns professores das diferentes áreas do
conhecimento e especialistas receberam somente a primeira versão para exame e
parecer.
O parecer da Faculdade de Educação da UFRGS (1996) salienta que uma das
vozes inexplicada e notavelmente ausente no processo de elaboração dos PCN é a
voz dos professores de primeiro grau. A participação é importante não só por uma
questão de democracia, mas também por já estar comprovado que as reformas
educacionais que são feitas sem o envolvimento dos professores no processo de
decisão, estão muito provavelmente sujeitas ao fracasso.
Os professores também possuem dificuldades de colocar o documento em
prática, devido aos problemas que possuem no ambiente escolar. Sobre este assunto
Ávila e Moll (1996) nos alertam que as condições de trabalho, as exigências quanto à
formação dos professores deveriam ser refletidas mesmo antes dos PCN, se de fato a
intenção for a qualidade na educação básica.
Pudemos perceber, também, que os professores parecem não ter muito
conhecimento do documento dos PCN e nem que a sua fundamentação teórica está
relacionada com a concepção construtivista. Os professores têm um conhecimento
bastante superficial e impreciso sobre o construtivismo. Todavia os PCN solicitam
aos professores que trabalhem sob a ótica do construtivismo para que esta proposta
de fato se efetive.
Encontramos alguns professores que leram o documento dos PCN e tiveram
muita dificuldade de entendimento. Parece-nos que os termos técnicos empregados,
não fazem parte do cotidiano deles. O parecer da ANPEd (1996) nos esclarece que o
documento não estabelece com clareza seu alcance, seus interlocutores e seus
desdobramentos. É muito genérico no que diz respeito à definição de objetivos e de
conteúdos. Quanto à linguagem adotada é de difícil compreensão, mas por outro
lado, existem partes muito claras, como se estivessem conversando diretamente com
o professor.
Em vista do que encontramos nas escolas, parece-nos que os docentes têm
motivos para estar descontentes e descrentes com a forma como as mudanças estão
sendo implantadas na escola. Estes, muitas vezes, acabam por introduzi-las nas suas
práticas, mesmo sem compreendê-las e correm o risco de confundirem e
298
atrapalharem suas atividades. Será que estes professores estão tendo respaldo, os
esclarecimentos adequados e o devido envolvimento por parte da instituição escolar
para implementar estas mudanças? Será que eles estão tendo condições adequadas de
trabalho, tempo, vontade de estudar, de trabalhar e de assimilar estas normas que
estão determinadas pelas políticas educacionais? Os relatos dos professores nos
revelam que não.
Ou, ainda, será que os professores se opõem aos PCN de uma forma crítica e
consciente ou meramente por uma questão de puro comodismo e desânimo?
Encontramos estas duas situações nos depoimentos que coletamos.
Pouquíssimos professores tiveram contato com os PCN quando trabalhavam
em outros cargos na educação. Um professor teve contato quando foi Orientador
Pedagógico na Delegacia de Ensino. O trabalho de discussão e orientação com a
coordenadora foi produtivo. É possível que o fato deste professor ter um cargo na
Delegacia de Ensino tornou-se indispensável ou até foi imposto a sua leitura. Já o
outro professor, quando foi Coordenador Pedagógico numa escola estadual,
enfrentou muitas barreiras para fazer os estudos do documento com os professores.
Parece-nos que por mais que se tenha um empenho e dedicação da equipe
técnico/pedagógica, os professores não levam muito a sério as reformas
educacionais. Este fato pode ser justificado, talvez por descrença nas inovações da
educação, ou na forma como são implantadas, ou ainda, por comodismo e falta de
engajamento com as atividades da escola.
Com relação ao Construtivismo, encontramos professores que acreditam ser
construtivistas e que já o utilizaram muito em sua prática. Existem os que gostariam
de ser construtivistas, mas não se julgam preparados. Percebemos, também, que
existem professores que têm uma noção do que seja o construtivismo, mas não se
consideram construtivistas. Alguns professores até relataram que o Construtivismo já
foi importante numa época, mas que atualmente é obsoleto. Há ainda, aqueles que
ignoram o construtivismo e que não acreditam ser importante para a sua prática.
Alguns professores ainda desconhecem este assunto.
Os professores fizeram várias considerações sobre este assunto. Para muitos
deles, o construtivismo é um método de ensino e outros acreditam que este não
passou de um modismo nas escolas. Nesse sentido, Hernández (1998) nos esclarece
299
“Na verdade, elas são um conjunto de expressões, figuras retóricas e frases de efeito cuja
reprodução gera um aparente consenso, tão amplo quanto vago, em relação aos seus
significados ou às suas conseqüências para a prática educativa. Expressões consagradas
oriundas dos discursos construtivistas, como "desenvolver o espírito crítico" ou ainda,
algumas de suas frases impactantes como "a criança constrói seu próprio conhecimento",
abstraídas de seus contextos teóricos originais, tornaram-se o que Scheffler classifica como
slogans educacionais e passaram a empregnar aleatória e generalizadamente os discursos
pedagógicos.” (Carvalho, 2001, p.96)
“Concebidos e aplicados como elemento de uma teoria que visa a reformar práticas
escolares que lhe são desconhecidas, os slogans e as recomendações didáticas do
construtivismo podem resultar - e talvez já tenham resultado - em uma desorganização das
práticas docentes, com prescrições incapazes de oferecer oportunidades reais de
transformação da ação educativa, dentre outros fatores porque as desconhecem em sua
concretude e em suas especificidades institucionais e históricas.” (Carvalho, 2001, p.119)
Os relatos dos professores parecem revelar que o que chegou às escolas foram
realmente os slogans que eles também não os compreendem, ainda que os repitam.
Parece que o Construtivismo nas escolas não passou de um modismo e de uma
imposição.
Os professores nos revelaram que apesar das resistências às mudanças e da
falta de esclarecimentos maiores, eles têm críticas, receios e dúvidas quanto às
idéias que foram divulgadas na educação sobre o Construtivismo. Como se o que
foi implantado, o que foi passado para eles, parece que mais confundiu, desorientou
do que esclareceu ou orientou o trabalho do professor.
Um professor declarou que a teoria de Piaget e Vygotsky foi mal interpretada
e aplicada. Parece não depositar muita confiança na divulgação “a criança que
constrói seu próprio conhecimento”, pois não acredita que é isto que estes autores
queriam dizer. Um outro professor considera que este não vem a ser um método de
ensino como muitos dizem e que a escola não foi preparada para trabalhá-lo. Na sua
opinião, ainda, o Construtivismo já existe há muito tempo, são idéias antigas, mas,
que além de ter sido apropriado, acabou por confundir as pessoas. Carvalho (2001)
aponta que, no discurso pedagógico construtivista, existem certos problemas
oriundos da apropriação, da transferência direta e da aplicação acrítica de conceitos,
definições, perspectivas de resultados da psicologia do desenvolvimento e da
epistemologia genética de Jean Piaget para a área educacional. A perspectiva e
proposta construtivista, tal como se apresenta para as instituições escolares, têm
inserido nos discursos pedagógicos um caráter psicologizante que ignora e despreza
o universo cultural das tarefas, desafios, especificidades e complexidades do
contexto escolar. O construtivismo educacional resultou em uma pedagogia com
302
espontaneísta, que propõe que a criança deve ser deixada livre em sua interação com
os estímulos do mundo físico para que possa amadurecer, desabrochar, em seu
desenvolvimento natural. O professor ocupa um papel importante à medida que
proporciona um conflito cognitivo para que novos conhecimentos sejam produzidos.
Para alguns professores entrevistados, ser construtivista é não ser tradicional.
Miranda (2000) em seu estudo de caso comparativo realizado em seis escolas de
Goiânia, encontrou professoras que, de um modo geral, expressavam sua
compreensão de prática construtivista em oposição ao ensino tradicional.
Encontramos uma quantidade significativa de professores que se declararam
tradicionais, em relação ao método de ensino, apesar de todas as inovações, de
propostas progressistas que o Estado tenta implantar nas escolas.
Quanto às inovações no ensino atual, os relatos da maioria dos professores
parece nos revelar que estes não são contra as mudanças que ocorrem no ensino, pois
na opinião deles, elas são necessárias e importantes. O que eles não concordam, o
que os revolta, é a maneira como são implantadas. Estas são impostas, faltam
maiores esclarecimentos aos professores, aos alunos e familiares; ausência de
estudos; de orientações para o trabalho docente e as inovações são sempre “jogadas”
nas escolas. Além disso, o professor não é consultado, não é incluído na elaboração
destas, o contexto escolar não é levado em consideração e elas são retiradas
abruptamente. O professor se sente perdido, insatisfeito, excluído e magoado frente à
desqualificação e depreciação do seu trabalho e da sua pessoa, quando alterações
significativas são realizadas nas escolas.
Nesse sentido, Ravagnani (2001), em seu trabalho de Mestrado, nos revela que
os professores não se consideram preparados, não recebem orientações para as novas
propostas que foram implantadas na escola, principalmente a progressão continuada.
Avaliam, ainda, a implantação das mudanças geralmente de uma forma negativa,
especialmente com relação à autoridade do professor e à disciplina dos alunos. Além
disso, nos esclarece que o professor se sente impotente quando as mudanças chegam
às instituições escolares, pois a forma que elas são passadas é que parece
desestruturá-los. Acabam fazendo o que é determinado, mesmo não aceitando as
normas, somente para cumprir, sem tentar entendê-las, nem conhecer sua
importância.
304
Outra questão abordada por alguns professores é que gostariam de que o ensino
voltasse a ser como antigamente, talvez por não aceitarem as mudanças que hoje
norteiam o ensino, ou por serem estas sempre impostas, ou ainda, a falta de
conhecimento adequado das novas mudanças educacionais. Um professor salienta
que todas as experiências construídas são negadas com a vinda das mudanças e que
todas as teorias, as práticas escolares já existentes na educação não serviram mais pra
nada, quando o Construtivismo foi inserido nas escolas, como se elas não tivessem
sido importantes.
Ravagnani (2001) percebeu um certo saudosismo nos relatos dos professores
pelo retorno à escola autoritária, à escola de antigamente, como que desejando pela
volta do antigo sistema.
Silva (2000) complementa nos relatando que o discurso das professoras
entrevistadas em seu trabalho é todo permeado por um antes e um depois, referindo-
se sempre a antes da medida da progressão continuada, e agora, com a medida, ou,
antes, o tradicional e, agora, o construtivismo. A imposição que está em cheque. O
problema não é reprovar o aluno, mas a obrigação de não fazer isso por causa de um
decreto-lei.
Uma mudança que parece ter sido bem recebida e ter agradado aos professores
foi a Escola Padrão. Apesar que nem todos tiveram a oportunidade de vivenciá-la,
pois este projeto não foi inserido em todas as escolas da rede estadual de ensino,
supomos que foi um período muito importante para os professores, pois as condições
para o desenvolvimento das atividades foram muito apropriadas. Eles tinham
tranqüilidade para lecionar, estudar e preparar suas aulas. Porém a forma como este
projeto foi retirado da escola abalou os professores, talvez por ter sido um período de
muitas conquistas, de autonomia no trabalho, de reflexões e, por se sentiram mais
valorizados, enquanto profissionais da educação e até como seres humanos.
Quanto à Progressão Continuada, a maioria dos professores entrevistados não é
favorável a esta medida implantada pelos órgãos governamentais. Muitos parecem
estar revoltados, cheios de dúvidas, receios e chocados com esta medida,
principalmente, a forma como foi inserida nas escolas. As críticas e as queixas são
várias.
305
deveria ser promovido com conteúdo, por isso que é necessário conhecer e estudar
melhor para utilizá-la.
Barretto & Mitrulis (2001) apontam que os ciclos representam uma tentativa de
superar a excessiva fragmentação do currículo, que decorre do regime seriado
durante o processo de escolarização. Muitas vezes, eles vêm acompanhado de outras
proposições referentes a aspectos de organização dos sistemas escolares que se
apresenta, tais como: concepção de educação escolar obrigatória; desenho curricular;
concepção de conhecimento e teoria de aprendizagem que fundamentam o ciclo;
processo de avaliação; reforço e recuperação; composição de turmas, ou seja, novas
maneiras de ordenação dos tempos e espaços na escola que abrangem diferentes
membros atingidos pelos ciclos escolares. As condições propostas para a
implementação dos ciclos não estão sendo asseguradas na maioria das vezes, apesar
da Secretaria da Educação afirmar que sim.
Silva (2000) confirma, a partir de seu trabalho, que as proposições ou medidas
que deveriam estar aliadas à progressão continuada, para garantir o seu sucesso, não
estão ocorrendo, mas o que foi implantado é apenas a não - reprovação.
Paro (2001) nos revela que não basta dizer que a progressão continuada ou a
organização em ciclos são boas opções, porque se necessita de uma série de outras
medidas para evitar que o aluno passe de ano sem saber. O que se faz, na verdade, é
apresentar um dos mais importantes argumentos em favor da promoção automática,
porque mostra a força que essa medida tem de levar as pessoas a se preocuparem
com a qualidade do ensino
Um professor comentou que, apesar de ser a favor da Progressão Continuada,
percebe várias falhas nesta medida. Na sua opinião, o aluno deveria aprender no ano
seguinte, a partir do ponto em que ele parou, pois deveria ter um ciclo todo para isto
acontecer. Os professores não perceberam que o ensino agora não é mais por séries e
sim por ciclos. Acrescenta, também, que a escola e os professores não souberam
explicar esta mudança para os pais, pois não entenderam direito. Este professor
parece nos revelar ainda que as pesquisas informaram que aumentou o índice de
aprovação, mas isso não é indicativo da aprendizagem dos alunos. Para ele,
infelizmente, não existe progressão continuada e sim aprovação automática. Parece
que, se esta medida fosse bem empregada, traria bons resultados.
309
Barretto & Mitrulis (2001) salientam que por mais que o discurso oficial
declare que, para se fazer as mudanças necessárias no ensino com a proposta dos
ciclos, é necessário o apoio da comunidade educacional e informar à população em
geral, parece que isto não está ocorrendo. Os professores reclamam da falta de
capacitação e não se sentem seguros quanto ao modo de atuar, quando se inserem
propostas inovadoras no ensino, como por exemplo, o que ocorreu com a
implementação do regime de ciclos. A insistência num preparo prévio para enfrentar
novos desafios é sempre solicitada. Todavia esta solicitação parece não ter mais
espaço na concepção de reforma educacional que vem inspirando as grandes
transformações em curso nas políticas públicas da área.
Estas autoras relataram ainda que, por mais que se evidencie pelos indicadores
educacionais, o atendimento das crianças de 07 a 14 anos no ensino fundamental está
quase universalizado e os problemas como evasão, desempenho e repetência estão
sendo superados, mas, ainda, existe um elevado índice de atraso escolar no ensino
fundamental que acaba por interferir negativamente no ensino médio.
Para Ravagnani (2001), é preciso uma mudança muito grande por parte dos
professores, da escola, dos alunos, do sistema escolar e da população em geral para a
proposta de progressão continuada ser implementada nas escolas. Por mais que os
legisladores tenham boa intenção, não se muda uma instituição autoritária e
repressora como tem sido a escola e os professores, de uma hora para outra. O que se
tem visto são docentes insatisfeitos e perdidos com várias mudanças e sem respaldo.
Estes se queixam da ausência de esclarecimentos sobre a progressão continuada por
parte da Secretaria da Educação e da falta de conscientização da população,
familiares e alunos, no que diz respeito à progressão continuada.
2. CONCLUSÕES
3. IMPLICAÇÕES EDUCACIONAIS
REFERÊNCIAS
ÁVILA, I. S.; MOLL, J. Desvelando as novas roupagens das velhas práticas políticas
em educação no Brasil: uma análise dos Parâmetros Curriculares Nacionais.
Educação e Realidade, Porto Alegre, v. 21, n. 1, jan/jun, p. 242 - 252, 1996.
APÊNDICE
319
Entrevistador: Você escolheu o tema "o emprego atual" eu queria que você me falasse o
que a palavra desafio te fez lembrar quando você a escreveu?
Professor: desafio porque o trabalho na Escola Pública hoje é um trabalho muito difícil em
função da clientela que a gente tem, do tipo de aluno que a gente trabalha, dos problemas que
eles trazem de casa, das drogas, da violência. Então é um trabalho desafiador, hoje é uma
profissão que envolve um desafio, ou você pega ou você larga, não dá para ficar no meio do
caminho.
Eu posso ir pra oura palavra? É uma realização pessoal porque é um trabalho muito
bonito, é um trabalho muito gostoso, apesar de todos os desafios, de todas as dificuldades é
onde eu me realizo profissionalmente, todas as escolas onde eu passei, todos os empregos
que eu já tive, hoje é onde eu me sinto mais realizada, apesar da quantidade de problemas
que a gente tem. Eu me sinto, é um momento de vida meu na qual minha realização pessoal,
tanto que por isso que eu escolhi o emprego atual como primeira opção porque realmente é
um momento de vida que eu me encontro mais realizada né, me encontrando
profissionalmente, eu já passei por outros empregos e outras escolas e esse, essa realmente é
onde... e aí vai de encontro a minha realização, por isso foi que eu quis vim para cá.
Entrevistador: O que a levou vir para cá.
Professor: quando eu ingressei no Estado o ano passado, eu passei num concurso há dois
anos mais ou menos, um ano e meio, dois anos. De 7000 e poucos classificados eu peguei
em 2200, mais ou menos 2241, alguma coisa assim, eu tinha que ir para São Paulo, a nível
Estadual isso, eu tinha que ir para São Paulo escolher e antes de ir para São Paulo eu
aproveitei as amizades que a minha irmã tinha que a minha irmã é professora aposentada,
conversei com vários Diretores pedindo uma sugestão.
Então eu fiz uma lista de escolas que eu deveria escolher que seriam as escolas
melhores da cidade e como eu me encontrava em uma posição relativamente privilegiada em
termos de concurso eu me daria o luxo de escolher escolas boas e das 3 ou 4 pessoas que eu
questionei todas elas encabeçaram o C. como a melhor escola e nenhuma dessas pessoas era
do C., detalhe, entendeu? todos Diretores de outras escolas né, o pessoal da Divisão da
Diretora de Ensino encabeçaram como a melhor escola de R. o C. e quando eu cheguei em
São Paulo para escolher, das 05 vagas ainda tinham quatro vagas para professor de
Matemática, então aí eu escolhi a quarta vaga e sobraram 3 ainda, depois que eu saí de lá,
então foi por aí que eu escolhi realmente, antes de eu vir a minha irmã tinha dito para mim
que em função de conhecer a Diretora da escola e todo o trabalho da escola que ela já
conhecia, ela achava que com toda a minha criatividade o lugar que eu ia me sentir melhor
era aqui que eu tinha liberdade de criatividade, de trabalho, de opção, uma série de coisas né
e ela não errou, realmente é um projeto de vida assim, eu me empenho com a escola o
máximo que eu posso, eu me dedico de corpo e alma na escola, entendeu? tudo que eles
320
precisam, o que eu posso fazer eu tô, eu presencio para não... porque eu gosto da escola,
porque eu tenho retorno da direção, da coordenação, da equipe de trabalho, tudo eu tenho
retorno.
O projeto de vida acho que é em função disso né, o projeto de vida e criatividade
tem muito a ver com aquilo que eu gosto de fazer. Eu não gosto de ser tolhida nas coisas que
eu vou fazer e aqui eu consigo criar, inventar, montar projetos, todos ligados a minha área,
ao trabalho de professor... em momento algum eu sou tolhida, entendeu? pelo contrário eu
posso ser até orientada no sentido de melhorar, aperfeiçoar as idéias que eu tenha, mas nunca
tolhida né.
A dona C.(diretora) e a S.(coordenadora), a S.(vice-diretora) elas sempre nos dão
respaldo para a gente tentar as idéias novas para modificar o trabalho, para tentar resolver os
problemas que se apresentam de violência, de indisciplina, uma série de coisas, por exemplo,
eu dou Matemática e de vez em quando eu vou para a sala de informática, mas na sala de
informática eu pedi para M.(responsável pela sala de informática) implantar nos
computadores jogos de matemática. Então os jogos de matemática envolvem toda a matéria
de quinta série até o primeiro colegial mais ou menos, então os alunos, todos eles estão
explorando todos os programas porque o aluno em geral têm muita dificuldade em
matemática e um jeito que eu percebi deles aprenderem gostoso é usando a sala de
informática. Então eu tenho usado mais a sala de informática até do que a sala de aula e a
lousa.
Então apesar até deu estar fugindo um pouco do meu programa né, do planejamento
que a gente faz, eu senti que tudo que eu estou fazendo na sala de informática, os alunos
estão aprendendo, tudo, então pode ser a matéria de quinta série, eles estão aprendendo e isso
para mim já é um retorno muito positivo. Então, assim, mesmo que eu deixe só para o
segundo semestre para eu trabalhar a matéria que eu tinha planejado para trabalhar, eu estou
sentindo retorno dos meus alunos com relação a isso, eles estão me dando retorno em relação
a isso entendeu? eu acho muito positivo neste sentido e é neste sentido que eu falo que a
gente tem liberdade de trabalhar que a dona C. não cobra isso da gente, "faça o programa
desse ano", ela nos cobra o envolvimento né, ela quer o envolvimento do professor. Então se
eu conseguir o envolvimento dos meus alunos desse jeito ela quer mais que eu vá em frente e
prossiga o trabalho.
Envolvimento eu acho que está ligado ao fato da afetividade que eu acabo me
envolvendo muito no trabalho, eu acabo me envolvendo muito no trabalho porque não tem
como não se envolver aqui na escola, ou você participa ou você sai, não tem jeito de ter meio
termo entendeu? ou você tem envolvimento com a escola, ou você está totalmente alienada
ao trabalho dela né, não tem como você... inclusive eu tinha um outro emprego à noite e por
conta desse outro emprego eu faltava do HTP duas vezes por semana, quer dizer, eu faltava
direto do HTP. Eu comecei a me sentir diferente na escola e até assim não só por conta disso,
por problemas familiares, uma série de coisas eu acabei desistindo do emprego para retomar
o HTP porque eu estava me sentindo alienada da escola porque tudo que acontecia era
tratado no HTP e eu não participava dele né, então isso foi ficando complicado quase um ano
nessa situação, assim foi muito difícil.
Agora potencial... eu acabo descobrindo potenciais que eu não sabia, eu acabo sendo
de uma certa maneira é... cutucada né, vamos dizer assim, a descobrir outros potenciais meu,
outras capacidades que eu não saberia que eu poderia fazer.
Ajuda é uma maneira que eu vejo de ajudar os meus alunos né, talvez eu não saiba
sair lá fora e dar esmola, ou dar comida, ou fazer sopa para dar para as pessoas, entendeu?
mais dando a minha aula eu estou tentando ajudar os meus alunos que também têm muitos
problemas em casa, problemas de família, de relacionamento. Então é uma maneira que eu
encontro de eu ajudar as pessoas, né! não tem gente que faz sopa que distribui pão que
distribui não sei o que... então falam: "ah! mas é fácil ajudar assim, você está ganhando para
isso né". Para fazer o que eu faço eu não ganho Patrícia, eu ganho para dar aula de
matemática né e não para ajudar um ser humano que é o caso dos meus alunos que eu
321
trabalho com meus alunos não como aluno de matemática e sim como um ser humano, então
para isso eu não tenho salário né, então ajuda quem quer, professor que se identifica com a
causa... por isso que eu falo que tem que ter envolvimento, professor que se identifica com
isso que trabalha com esta parte de ajuda, ele não ganha pra isso, ele ganha para dar a aula
dele. Na realidade eu teria que falar: "não, eu ganho pra trabalhar matemática, eu tenho que
ir lá dar a minha matéria de matemática, acabou” entendeu?
A troca e o crescimento tem a ver com os colegas, com a equipe profissional
envolvida né, na qual a gente troca muito, a gente aprende muito né, as pessoas passam:
"olha aquela classe com você não está funcionando, mas comigo eles funcionam e eu
trabalho assim, assim, assim porque você não tenta fazer alguma coisa parecida" e com essa
troca a gente acaba tendo crescimento, o amadurecimento que eu acho que você
amadurece profissionalmente.
O aprendizado porque eu aprendi muito neste um ano aqui e coisa que com 05, 06
anos de Magistério eu nunca imaginei que eu ainda fosse aprender, eu ainda tivesse condição
de aprender alguma coisa. Eu não sabia que depois de tantos anos eu fosse voltar a aprender
no Magistério e aqui eu tenho aprendido muita coisa. Em um ano e meio eu aprendi coisa
que eu não aprendi nem na faculdade, nem nesses anos todos de trabalho.
Entrevistador: você poderia me dar algum exemplo, M.?
Professor: ah! toda essa parte de ajuda, Patrícia, não a parte de matemática.
Matemática ela é uma só, ela está lá, você tem livro, tem exercício, a matemática
muda muito pouco. A única coisa que a matemática muda, é um jeito novo e mais
fácil de ensinar, mas a matemática é aquela. Você acaba aprendendo na troca com as
pessoas. Então aprendendo a motivar melhor uma sala de aula, a manter a atenção
desses alunos presa, a estimular o aluno, fazer o aluno melhorar a auto - estima dele.
Então essas coisas a gente acaba aprendendo na troca, por isso que eu digo que tem o
escola, aprender, educação, tudo que tem, eu estou procurando assinar, sempre
recebo, leio, até revista a nível empresarial porque acho tem uma parte da escola que
ela acaba tendo de funcionar como uma empresa, a melhor maneira de você ver
quando você começa a trabalhar como empresa, né, aquela revista você S. A. eu
assino, estou sempre tomando conhecimento dela.
Colaboração é que se você não tiver essa parte de, puxa eu aprendi uma coisa
nova hoje! Eu vou passar para os meus colegas, pode ser que ninguém queira, mas eu
fiz a minha parte, entendeu? Sempre tem um ou dois que se interessam por aquilo
que você descobriu, né? porque o conhecimento a partir do momento que você
adquire aquele conhecimento que você busca, é muito egoísta da sua parte você
buscar e não trocar, entendeu? não compartilhar, não colaborar. Então eu acho que se
eu tenho alguma coisa que eu descobri, alguma novidade, eu tenho que chegar no
HTP, ou na sala dos professores e passar, sempre tem alguém que se interessa,
alguém sempre vem: "como que é isso, tal" acaba sendo alguma coisa multiplicadora,
um pega, outro pega, outro pega e quem sabe às vezes comigo não funciona.
Assim o que eu pus em último lugar porque eu acho que são momentos que
acabam passando são alguns momentos de frustração que se for ver o
envolvimento que tem em tudo isso e eu tenho realmente alguns momentos de
frustração que é algum momento que você vê que depois de tudo isso que você fez,
sempre tem algum aluno que acaba saindo sem saber exatamente nada e é como se
você tivesse falado grego na sala de aula, então isso deixa a gente meio braba, eu
tenho que admitir que eu acabo gerando alguns momentos de frustração na hora de
passar, faz parte da dinâmica toda, você também não consegue, como dona C. diz
você não consegue agradar todo mundo, não adianta sempre alguém vai sair
insatisfeito, mas são poucos os momentos não chega a me desestimular do trabalho,
não são momentos tão grandes assim que me façam desistir do trabalho, entendeu?
(Ob.: Silêncio).
Professor: É isso que eu tenho pra te dizer.
Entrevistador: mais alguma coisa?
Professor: não, agora que eu me lembre não.
Entrevistador: te veio alguma outra palavra?
Professor: Não, eu acho que com essas daí eu coloquei tudo que eu penso, eu não sei
se era exatamente isso que você esperava, que você queria, mas eu gosto muito da
escola, gosto muito do trabalho que eu faço aqui, então isso fala mais ou menos tudo
o que eu penso.
Aí eu saí do B. e fui dar aula, comecei a dar aula no Estado, peguei aulas em
várias escolas particulares, trabalhei em várias escolas, no colégio A., no L., no O. e
sempre dando aula particular; então pra mim foi fácil voltar a dar aula porque eu
nunca tinha parado com Matemática. Na realidade mesmo dentro do banco, eu dava
aula particular para os meus alunos, foi uma experiência nova voltar para dentro da
sala de aula, né, tanto assim que eu fui me moldando ao longo desses anos eu acho
que eu fui me lapidando, por isso que eu digo que eu tive atividades que me
fizeram chegar até aqui que na realidade eu fui me lapidando ao longo desses anos.
Eu era uma professora dura, até hoje eu sou uma professora mais severa, eles falam
isso, mas eles me respeitam muito apesar de tudo, só que antes eu não tinha jogo de
cintura, eu era severa, mas um severa sem ser moldada, sem estar talhada, eu não
tinha a parte de troca naquela época, né.
Então foi um processo de paciência na realidade, ao longo desses anos, ter
paciência para encontrar o meu lugar de verdade, o meu espaço. Eu lembro que o
meu marido sempre falava para mim, apesar de não depender de mim
financeiramente, ele falava que só ia ficar feliz quando ele percebesse que eu amarrei
o meu burro na sombra, entendeu? ou seja, se eu encontrei o meu lugar definitivo
porque eu não tinha parada, uma hora eu estava numa escola particular, outra hora eu
estava em outra, sempre muita insegurança e eu não gosto de viver insegura. Então
foi um processo de paciência mesmo, ele falava: "Bem, calma que você vai
encontrar o seu espaço, você vai encontrar o seu lugar, você vai encontrar o seu porto
seguro, ele falava calma que você chega lá. Enquanto isso eu passei por várias
experiências.
Plantação é que ao longo desse tempo e eu fui plantando uma série de coisas,
muito trabalho, estudos, perseverança, dedicação, responsabilidade para começar a
colher agora né, agora?, não sei se é agora, talvez seja muito cedo para dizer isso
ainda, mas foi um processo de plantações esses anos todos.
Aquisição de conhecimentos por outras pessoas, eu não posso dizer que teve
troca, tá, eu realmente eu acho que eu suguei as pessoas eu estava sempre
observando para pegar o que os outros tinham para me ensinar, então eu estava
sempre em processo de observação né, aquele ali faz assim, aquele faz assado e
como eu não tinha formulado e nem tive chance de colocar a minha criatividade em
jogo, eu não podia trocar, eu não tinha o que trocar, eu só tinha mesmo que adquirir,
observar ali, sabe o computador quando tem várias memórias, ele vai guardando,
você vai usar quando for necessário, então eu tinha várias memórias, eu ia guardando
tudo na memória, sabe esse nessa caixinha, esse naquela e só observava, então não
tinha o processo de troca. Informações guardadas era o processo das memórias que
eu ia guardando.
Busca de perfeição, por isso que eu acho que não tinha jogo de cintura, eu
buscava uma perfeição que não é possível, não na nossa profissão de professor; eu
posso buscar melhorar, perfeição não tem jeito porque eu lido com ser humano, com
um ser humano é muito diferente. Enquanto uma coisa com você funciona
maravilhosamente bem, com um outro já não vai funcionar coisa nenhuma,
entendeu? Com ele eu terei de buscar um outro jeito de trabalhar para conseguir o
resultado que eu consegui com você, entendeu? perfeição não existe, fórmula não
existe.
As coisas que eu aprendi são partilhadas agora, na realidade aquilo que eu fui
adquirindo, aquelas memórias todas que eu fui colocando no computadorzinho da
324
Entrevistador: A Prática em Sala, este é seu Terceiro e último Tema. Então vamos
lá. O que a palavra aprendizado te fez lembrar quando você a escreveu?
Professor: eu escolhi, deixei por último porque eu acho que no momento é aquele
que eu mais preciso de ajuda, eu e acho que todos os professores. A prática da sala
de aula está desgastada, os problemas que a gente enfrenta são muitos, os alunos vêm
com problemas outros, então eu acho que a prática em sala de aula é um
aprendizado constante, até porque você trabalha com ser humano, então em função
do ser humano ser diferente diariamente, eu estou aprendendo alguma coisa nova,
um jeito novo de falar ou de ensinar, eu acho que é o momento no qual eu preciso de
ajuda na sala de aula né, eu acho que é uma necessidade geral dos professores, o
momento da sala de aula está todo mundo precisando de ajuda, então por mais
criatividade que a gente tenha, está faltando alguma coisa aí que nós não sabemos
exatamente aonde está e que talvez pessoas de fora né, com prática psicológica, com
algumas dinâmicas, enfim com algumas coisas assim possam nos orientar neste
sentido.
325
Entrevistador: sobre esta ajuda, eu gostaria que você falasse um pouco mais.
frustrada com essa sensação de frustração sabe, não vou, eu vou ver esta mudança
antes. Ah! eu acho que o professor vai ser valorizado, eu acho que a gente vai
conseguir achar, sabe as coisas estão mudando muito, até espiritualmente, então eu
acho que vai ter um momento aí que as coisas vão começar já..., sabe quando você
cai no fundo do poço e você bate a mão e você tem que começar a voltar né, eu acho
que apesar disso, nós estamos começando a voltar, sabe a gente já bateu a mão no
fundo do poço, eu acho que pior do que isso não dá para ficar entendeu? a gente já
bateu a mão no fundo do poço, está começando a subir para resgatar valores né,
resgatar emoções, sentimentos. Então eu acho que a gente está no começo... então eu
acredito que a gente vai começar a voltar e recuperar a auto - estima dos nossos
alunos do ser humano que a gente trabalha né.
Jogo de cintura, você tem que ter sempre 24 horas por dia, 24 horas por dia
com tudo, hoje a escola está uma loucura, muitos problemas, estamos assumindo
muitas responsabilidades, sofrendo com as drogas, violência, indisciplina, falta de
vontade dos alunos em aprender, professor desestimulado e todos tem que ter esse...
o servente que trabalha com a gente, entendeu também o aluno, Diretor, todo mundo.
Planejamento, se você não se planejar e não se organizar não sai nada né, o
planejamento é extremamente necessário, não digo um planejamento assim hoje eu
vou... (a fita terminou)
...(continuação) então às vezes você se frustra porque não dá certo, mas você não
pode ter um planejamento que você queira seguir a risca, mas um planejamento
você tem que ter, entendeu? o Estado você não pode ter aquele planejamento... olha
esta semana vou acabar a matéria tal, vou começar a matéria tal... não dá! mas um
planejamento de mais ou menos o que é que você quer ao longo do ano você tem
que ter, você não pode trabalhar ao léu, então este ano eu determinei que eu quero
conquistar os meus alunos, eu quero que meus alunos tenham prazer pela
matemática, então eu quero resgatar isso, mesmo que eu não cumpra toda a
programação exigida da oitava série, eu vou trabalhar com os meus alunos, com
resgate da matemática. Então é por isso que eu estou usando sala de informática,
fazer um projeto que eu gosto, uma série de coisas porque eu quero resgatar o gosto
pela matemática "ah! mas eu vou resgatar com cinco classes só, tudo bem! são cinco
classes cada uma tem 35, 30 são 150 alunos, é 10% da minha escola, a minha escola
tem 1500 ou 1600, são 10% da minha escola, já é alguma coisa, é melhor do que
nada, se eu resgatar com estes 10% que seja com 5%, eu já recuperei alguém né.
Cativar e amar, se você não tiver amor pelo que você faz Patrícia, professor
que está na escola por falta de opção, ele está fadado a morrer na praia. Não é uma
profissão mais que possa... você vem fazer aqui porque não tem uma outra opção
entendeu? porque eu não sei ser vendedor porque eu não sei ser dentista, médico, não
dá mais, foi o tempo em que professor era um cargo em que você fazia porque não
tinha o que fazer né, eu lembro que há muitos anos atrás, ah! eu não sei o que eu vou
fazer, eu vou fazer Magistério, Magistério, assim num descaso, talvez por isso que a
gente tenha chegado ao que chegou.
Fiz Matemática porque sempre gostei muito da área de exatas, só para você
ver, dou aula particular principalmente para esta área desde os meus quatorze anos, é
gostar né!.
328
Então hoje não é mais uma profissão de se fazer por falta de opção, você tem
que fazer por amor, mesmo sabendo que o salário não é exatamente aquilo que você
quer que você não vai ser um doutor na vida que não vai ganhar aquilo que você
imaginava, mas é uma profissão de dedicação, senão não adianta e neste processo eu
tenho que cativar os meus alunos, eu estou em processo de aprendizado. Na hora
que eu conseguir cativar os meus alunos, os seres humanos que trabalham comigo,
eu acho que vou conseguir ensinar matemática, é um processo de cativar senão você
não chega a lugar nenhum....
Bateram na porta, levantei, não havia ninguém.... .
A Professora fez com a mão que havia encerrado.
Entrevistador: Esta é nossa segunda sessão, você escolheu como primeiro tema a
ser trabalhado as inovações do ensino atual. Sua primeira frase foi “de tudo que
aconteceu até hoje são as melhores”. O que esta frase te fez lembrar quando você a
escreveu?”
Professor: de tudo que aconteceu até hoje em termos de mudança de ensino, eu
acho que nós estamos na melhor época, são as melhores mudanças das que eu
conheço que eu já estudei, são as de hoje, apesar de ter uma progressão continuada,
de ter uma série de coisas, eu acho que se a gente conhecer a fundo como é a
estrutura desse ensino atual, ele tem condição de se tornar o melhor até agora, o mais
moderno e aquele que vai abranger todos os alunos de uma maneira geral. Então
quando fala em progressão continuada todo mundo fica assustado e acha que é ir
passando, passando e passando e não é exatamente isso. Então por isso que eu falo
conhecer melhor para ser aplicado de maneira certa.
Hoje nós trabalhamos com o aluno na rotina do aluno, nós trabalhamos o
dia-a-dia do aluno, então tudo que tem de matéria, tem que ser obrigatoriamente
vinculado a realidade do aluno. Então eu posso trabalhar tudo, toda a matéria que eu
tenho, desde que eu aplique ao dia-a-dia dele, para que ele compreenda, senão vai
ficar uma coisa solta e jogada como foi durante muito tempo, entendeu? então foi
329
durante muito tempo jogado para o aluno, por exemplo, Matemática você tem que
aprender isso, isso, isso, mas você fala: "mas para quê?", "ah! mas porque tem que
aprender" e não é por aí, você tem uma justificativa para aprender uma série de
coisas e se de repente aquela matéria de matemática ela não tem vinculação com o
dia-a-dia do aluno naquele momento é melhor você deixar passar, aproveitar o
momento que o aluno oferece para você poder fazer e deixar pra fazer aquele lá mais
para frente, entendeu?
Então é preferível você trabalhar com o dia-a-dia do aluno, assim mesmo que
às vezes, às vezes, claro você não consiga uma certa freqüência nessas coisas, mas
pelo menos tudo o que você ensinar o aluno vai aprender, entendeu? Você não vai
deixar nada para trás. Então têm classes, têm escolas, por exemplo que têm condição
de trabalhar um determinado conteúdo, mas têm outras escolas que não têm.
Então eu acho que tem que ser aplicado à realidade do aluno, aquilo que o
aluno é, aquilo que o aluno tem. Eu acho que aqui em Ribeirão várias escolas dentro
de uma mesma Diretoria de Ensino devem trabalhar o conteúdo de matemática cada
um de um jeito porque depende da linguagem que o aluno trás porque depende da
realidade que ele vive, daquilo que ele sabe, do potencial dele, tudo você tem que
respeitar no aluno hoje, sabe fica muito mais fácil trabalhar assim, muito mais
tranquilo de trabalhar, com certeza.
Eu acho que está melhor, do que eu já trabalhei e do que eu estudo, já vi
como aconteceu. Quando você vê...eu tenho uma matéria de estrutura na faculdade
que faz um apanhado geral de toda a educação desde a primeira LDB, então de tudo
que já foi feito, eu acompanho, a gente faz esse paralelo de como era e de como foi
progredindo e eu hoje acho que essa é a melhor maneira. Silêncio.
Entrevistador: sobre a frase que você colocou "conhecer melhor para ser aplicado
de maneira certa", fale um pouco sobre isso.
Professor: eu vou até atrelar essa a uma outra expressão que eu falei aqui embaixo
tem que ter fundamentação teórica - eu acho que você tem que ter conhecimento
da teoria, desse novo ensino, você tem que conhecer os Parâmetros Curriculares
Nacionais, você tem que conhecer a nova LDB, você tem que conhecer o ECA, você
tem que conhecer tudo isso para saber que você está fazendo, entendeu? se você não
conhecer você vai achar que: "ah! que droga, essa tal de progressão continuada",
você acha que é passar sem saber nada e não é bem assim; as coisas têm um ponto de
partida, existe todo um embasamento teórico que o professor tem para chegar nisso
daqui, se não tiver essa fundamentação teórica, você não vai conseguir trabalhar da
maneira adequada, você vai achar que está patinando e não vai chegar em lugar
nenhum.
Entrevistador: você falou da Progressão Continuada que não é bem assim que o
aluno vai passando sem saber nada. Fale um pouco mais sobre isso.
Professor: você tem que ter, o aluno tem que ter, deveria existir no Estado um
processo de recuperação paralela é que isso não é oferecido, o professor, mas tinha
que ter. O correto da progressão continuada que está nos Parâmetros é existir
330
realmente a progressão continuada, o aluno não ser retido, mas ele não ser retido
porque ele chegou a competência que ele precisava para passar, só que para chegar
nessa competência, ele teve um respaldo de uma recuperação paralela, de um reforço,
de um apoio, de outro tipo de maneira de ensinar, de um trabalho fora sala de aula,
extra sala de aula que é a tal da recuperação paralela, para que no final do ano ele
seja promovido sim, mas promovido com conteúdo, com conhecimento de causa e
não simplesmente promovido por promovido por que ele não pode ficar retido e essa
recuperação paralela não está acontecendo.
Então o que está acontecendo, o que?, os professores estão se
revoltando...Desliguei o gravador (a porta abriu, pois tinha alunos no recreio que
estavam brincando encostado na porta, levantei e fechei a porta )..... porque é a
progressão continuada pela progressão continuada "oh! Tem que passar por que tem
que passar" porque não pode ficar retido aluno, mas o não poder ficar retido aluno
está vinculado, está estreitamente ligado ao fato da criança ter tido no Ensino
Fundamental todo um respaldo, todo um embasamento para chegar num mesmo
ponto que os colegas e portanto não ser retido, então você tem que respeitar as
diferenças das crianças, uma tem um tempo de amadurecimento diferente do outro e
isso não está sendo respeitado porque nós não temos condições de trabalho para fazer
isso.
Tem um reforço, mas ele não é dado por nós é por um outro professor. A
gente não sabe se esse professor está dando aquilo que a gente pediu e infelizmente a
gente tem um trabalho no Estado, Patrícia, professor que dá reforço, professor
eventual, professor ACT, não dá aula, como que um professor eventual de História
pode entrar para me substituir para dar aula de matemática e acontece. Claro que
sempre acontece, fiquei de licença e eu só confiava numa professora que na escola
para ficar no meu lugar e ela é professora de História, o que ela vai saber de
matemática para dar aula para mim.
Então tem professor eventual de matemática indo para a escola dar aula de
Educação Física, sabe ele fica no lugar do professor de Educação Física e os alunos
não respeitam este professor. Então ele tem que ficar lá sabe, sei lá, inventando o que
ele vai fazer, ou então ele aproveita a aula de Educação Física para dar aula de
História, entendeu? o que seria a matéria dele e seria o mais legal, mas ele não faz
porque ele não quer interferir no professor de História que está dando outra coisa.
Então essa maneira de ensinar agora, está muito mais criativa, está dando condições
de criar muito mais, só que os professores não estão tendo criatividade para isso.
Sabe aqui quando eu falo nos dá mais liberdade de ação e nós temos mais
liberdade de ação, só que o professores que não estão aproveitando isso. Então o
professor eventual que venha para escola, tudo bem! ele vai ter que substituir
qualquer professor, então porque ele não monta um projetinho de trabalho que ele vai
trabalhar com textos de História, entendeu? tem um texto de História para trabalhar.
Gente esse negócio de Educação Física, não tem que dar Educação Física e também
ele não tem que se preocupar com o conteúdo que o professor de História está dando
lá, eu tenho que desenvolver a crítica dos alunos, o senso crítico deles, a capacidade
do raciocínio lógico, de observação. Então trabalha um texto, de forma interpretativa,
331
o teatro, não sei tem tantas coisas que a gente pode fazer para aquele aluno aproveitar
aquele texto de História, sabe não vira, acaba ficando uma babá, porque ele fica ali
com os alunos, para os alunos não irem, por exemplo para o pátio, para não
atrapalhar a Direção, sabe e nós não temos uma estrutura que tem aquela visão de
vigiar isso, ou de informar esses professores, ou de fortalecer esses professores para
isso.
Se ela for mal interpretada ela não vira, é o que eu te falei, por exemplo, eu
vou usar o exemplo da progressão continuada. Se ela for mal interpretada, as
inovações do ensino que estão nos Parâmetros que está na nova LDB, se ela for mal
interpretada ela não vai virar, ela vai ficar... nós vamos passar por passar, não vai
haver uma criatividade, um trabalho em cima dos alunos.
Então hoje a gente tem que ter uma preocupação muito grande com a
formação do aluno, aí quando a gente fala de formação aí o professor pergunta: "aí
eu tenho que esquecer a teoria?" - "gente não é isso!" - "não é isso!!!!", então eu vou
esquecer a teoria do meu aluno em matemática porque eu tenho que me preocupar
com a formação dele, são coisas que podem caminhar paralelas. Então assim até por
falta de preparo o professor não está sabendo trabalhar isso, não está e são poucos os
professores, viu Patrícia que conhecem os Parâmetros Curriculares Nacionais, são
poucos, a teoria é muito bonita, mas eu repito ela está sendo mal usada; os
Parâmetros estão sendo mal usados.
Para o professor que não conhece e não quer nada é um "prato cheio", o
professor que não conhece os Parâmetros Curriculares Nacionais que não conhece a
LDB, ou que conhece de orelhada...Eu tinha um professor uma vez que me deu aula,
ele falou assim: "você leu de orelhada" quando você lê a orelha do livro, sabe o
resuminho e não leu o livro, não trabalhou, não preparou; você conhece de orelhada.
Quem conhece de orelhada é um prato cheio; eu tô cansada de ver gente que não faz
nada, não faz Patrícia, se isso aqui é isso entre nós, não faz, está cheio de professor
que senta na sala dos professores, reclama, reclama, reclama e não sai do lugar, não
faz nada com os alunos, não muda o jeito de ensinar, não muda a maneira de
explicar, não procura um sistema novo. Eles caíram na minha alma outro dia porque
eu estou trabalhando na sala de informática "você é uma burra, você está trabalhando
que nem uma burra de carga, para que isso? Você ganha para isso?". Eu também não
quero ser uma heroína, mas eu estou usando a sala de informática como instrumento
pro meu trabalho e eu acho que está valendo a pena né, mas tem gente que não pensa
assim, tem gente que acha que é ridículo, "para quê? você está perdendo tempo", tem
gente que... acha que é perda de tempo.
Professor: Da fundamentação teórica eu já te falei. Não pode virar um
"construtivismo", não pode virar um construtivismo porque eu acho que o
construtivismo era muito bonito, a teoria muito bonita, mas ela foi aplicada tudo
errada. Construtivismo falava que tinha que deixar o aluno construir o seu
conhecimento, mas esse construir o conhecimento eu acho que era muito neste
sentido que agora é falado, construir o seu conhecimento baseado naquilo que ele
tem para te dar e não construir por construir entendeu?
332
Então eu cheguei a ver escolas que eu dei aula particular para um monte
de crianças, não vem ao caso dizer o nome da escola agora aqui que a criança
chegava em casa e falava: "professora, a professora de matemática deu o xerox desse
livro, mas ela não ensinou essa matéria, ela mandou eu fazer isso aqui como eu
soubesse". Falava que era construtivista a escola claro, mas a criança vai construir o
seu conhecimento de matemática baseado em que? Não foi dado um exemplo, não
foi dado nada para ela, então construtivismo não é isso, não é soltar e deixar a
criança fazer do jeito que ela quer.
As inovações do ensino que está acontecendo agora, toda essa parte teórica não
pode virar um construtivismo e sendo feita, feita, feita sem parar para estudar,
entendeu? tem que estudar o que tem que ser feito e aplicar na sua realidade. O
Construtivismo você ia fazer um curso ali, um curso aqui, outro curso lá, ninguém
sentava para estudar a fundo para ver o que que é e para aplicar de maneira certa.
Então você vê um curso aqui de Parâmetros, você vê uma palestra ali... mas
ninguém pega para estudar, ninguém pega para ler e quando pega para ler no HTP
todo mundo acha um saco, ninguém quer saber de ouvir e acha um saco mesmo!
Todo mundo se irrita, entendeu? tem que ter tudo isso, você tem que você tem que
ler, gente! é a minha profissão; ou eu melhoro, ou eu melhoro; ou então eu vou ficar
embaçada, por isso que o professor nunca está ganhando bem.
Sabe eu falo que eu sou meia radical, professor vai ganhar bem como, Patrícia?
Senão se prepara para isso, como que o professor vai ganhar bem; então fala que o
sindicato é ruim, a classe é ruim, a classe de professores está mal organizada, como
que pode ter um sindicato bem organizado, se a classe não é unida, se o professor um
quer comer o outro, você está fazendo uma coisa diferente vem dez para meter o pau,
sabe é difícil trabalhar assim.
Agora não pode ser moda esse novo ensino, esse Ensino Atual não pode
virar moda, igual foi o Construtivismo, agora está em moda usar o construtivismo,
aí tudo mundo usava o construtivismo, sabe, então virou moda, mas ninguém sabia
exatamente o que era o Construtivismo, repito volto naquela história, você tem que
ter embasamento teórico, fundamentação teórica para saber o que tem que fazer
senão vai virar moda de novo, vai virar modismo aí daqui dois, três anos: "ah! não
está funcionando desse jeito", aí vamos procurar outro; aí vem uma outra moda de
algum outro lugar, começa a ficar tudo do mesmo jeito e os nossos alunos vão sendo
cobaias das nossas tentativas.
Entrevistador: você colocou que as Inovações do Ensino atual não pode virar um
Construtivismo. Eu gostaria que você explicasse um pouco mais sobre isso.
Professor: não pode virar o Construtivismo, não o "Construtivismo" em si, mas não
pode virar o que se tornou o Construtivismo, faz um curso aqui, um curso ali e
vamos fazendo, foi fondo entendeu, foi fondo e de repente deu no que? " ah! não
funciona construtivismo", não funciona, mas como não funciona? Você tinha teoria
certa, você sabia exatamente como é que tinha que ser feito, como que ele tinha que
ser aplicado, as pessoas foram preparadas para trabalhar desse jeito, para trabalhar
com o Construtivismo, será que foram? eu acho que não.
333
um barraco, ele pode melhorar aquele barraco que ele tem, ele pode procurar um
espaço maior, é construir uma casa e depois até ir conhecer o Playcenter, só que se
eu chegar nele e perguntar como é que é o Playcenter funciona? ele não vai conseguir
melhorar o barraco dele nunca, sabe, ele não vai sair de onde ele está, eu tenho que
fazer uma ponte, eu tenho que dar uma ligação entre as coisas para que as coisas
caminhem, fluam senão não vai fluir.
É limitado? Eu acho que o Construtivismo é limitado, eu particularmente acho,
por isso que eu te falo eu acho que é... eu tenho pouco conhecimento dele, talvez
limi... talvez limitado seja até o meu conhecimento sobre o Construtivismo, apesar
que eu estudei, estudei fiz Psicopedagogia baseada no Construtivismo sabe, mas eu
acho que ele é limitado. Eu não sei se porque eu trabalho agora com as mudanças
atuais, então as mudanças atuais para minha são muito mais importantes tá então o
Construtivismo ele até foi limitado talvez eu escrevi que ele era limitado né, eu acho
que ele esteve limitado pela falta de conhecimento.
A falta de conhecimento em cima da teoria do Construtivismo limitou o
trabalho, não sei se eu me fiz clara, então por exemplo em matemática a falta de
conhecimento limitava o trabalho agora ... (não entendi o que a Profa. falou) eu
trabalhei em uma escola que usou bastante o Construtivismo, usou, até tinha assim a
gente começava a trabalhar primeiro com exemplos, com, com exemplos da rotina da
criança, com brinquedos para depois partir para a teoria né com eles, mas tinha uma
limitação dos pais também. Sabe quando você começa um trabalho desses em uma
escola particular o pai cobra muito: "mas você está dando brinquedo para o meu filho
ou você está dando matemática?"
Entendeu? então esses dias por exemplo eu tive, teve o dia dos pais na escola,
eu estava de licença, mas eu vim para mostrar para os pais da minha turma que eu
estou trabalhando na sala de informática porque eles acabam sendo os
multiplicadores disso, eles falam para os outros pais, para eles saberem que eu não
estou brincando na sala de informática, deve até ter um ou dois alunos que estão, mas
nós, a maioria não está, o trabalho está sendo feito, os alunos estão trabalhando e eles
estão realizando, eles estão aprendendo em cima da sala de informática né Então se é
numa escola particular é capaz da cobrança ser um pouco maior, é mais que é isso
você está fazendo sem, sem né, você está fazendo uma coisa jogada? Não, não é
jogada né.
Muita coisa do Construtivismo a gente acaba fazendo jogada porque eu pegava
o brinquedo, será que aquele brinquedo é o que a criança gosta? Entendeu? então eu
pegava um brinquedo para jogar, será que é esse o brinquedo que a criança gosta, de
que que adianta ele ser construtivista se aquela criança não gosta daquele brinquedo,
de que que adianta dar amarelinha para criança aprender a contar 0, 1, 2, 3, 4... se
aquela criança não gosta de jogar amarelinha, aquela criança gosta de jogar pedras no
rio entendeu? então o Construtivismo tinha toda uma linha, mas não pegava essa
essência da criança.
Então o professor tem que ser polivalente para perceber essa essência
dessa criança. Num grupo de 20 possa ter uma criança que vai aprender a contar
335
jogando amarelinha, mas eu posso ter uma outra que vai aprender a contar jogando
bolinha no rio, jogando pão para o peixe que está no rio, contando as pessoas que
estão passando no pátio, entendeu?
Então essas coisas eu tenho que aprender a entender é nesse sentido que eu
acho que ele é limitado, ele punha uma coisa que tinha que ser feita ele não dava essa
abrangência para gente de que a gente podia pegar a essência de cada criança. A
teoria foi usada sem ser modificado a realidade do aluno, então a gente usava
aquela teoria sem saber se a criança, se a criança gostava daquilo, então quando eu
pegava um joguinho, eu dava um joguinho para eles como Construtivismo falava
para depois ensinar a teoria, será que ela gostava daquele joguinho? Se ela não
gostasse, ela não ia aprender aquela teoria jamais, entendeu? não iria aprender.
É por isso que eu te falo que eu não gosto muito do Construtivismo. Não gosto
como ele foi aplicado, se ele for aplicado com as modificações atuais que a gente
está vendo eu acho que ele é extremamente positivo tá, mas não deste jeito que eu
estou falando que ele foi, pegaram uma teoria jogaram dentro da Escola Pública ou
jogaram dentro da escola Particular. Qual que é a realidade daquelas crianças minhas
que estão na Escola Pública? ou qual a realidade das crianças que estão na Escola
Particular?
Então o trabalho que eu faço aqui eu posso ser a mesma professora aqui e lá,
mas uma coisa que eu uso aqui pode ser que não funcione lá né e faltou muito eu
acho troca entre as pessoas, falta ainda, falta eu acho. Os professores têm medo de
que copiem a idéia deles entendeu? Então uma coisa que está funcionando para mim,
eu tenho mais é que contar para todo mundo e muita gente não faz isso. “Eu não, vão
copiar a minha idéia, eu vou fazer sozinha, eu quero ter a glória sozinha” sabe é bem
assim que a coisa funciona.
Entrevistador: Você falou do Piaget e do Vygotsky, eu queria que você falasse um
pouco sobre este assunto.
Professor: Patrícia, eu estudei tanto, mas agora assim não me vem nada na cabeça, a
gente estudou tanto na Faculdade, já vi, já fiz trabalho em cima deles, mas eu sou
uma pessoa, eu sou assim, eu faço e deleto a hora que eu pegar de novo para ver, eu
vou me lembrar um monte de coisas entendeu? mas agora para te falar, o que eu acho
que o Piaget com aquelas caixinhas que ele fala que a criança tem que construir.
Piaget foi mal usado também por isso que eu falo que eu acho que o Construtivismo
foi mal interpretado por isso que ele foi usado de maneira errada.
Entrevistador: o que são essas caixinhas?
Professor: quando Piaget falava que o aluno tinha que a criança tinha várias
caixinhas de memória, como se fossem algumas memórias né e que em cada uma
delas ele guardava para depois ele estabelecer a relação disso. Eu acho que isso tem
tudo a ver com que a gente faz hoje, a gente tem que aproveitar o que os alunos têm
nas caixinhas primeiro, eu tenho que descobrir o que o... eu tenho que resgatar essas
caixinhas do aluno para ser um orientador para que ele estabeleça a relação entre
essas caixinhas. Tem criança que consegue fazer isso sozinha, tem criança que não
consegue porque precisa de uma orientação para isso.
Então eu acho que aquela criança que consegue estabelecer a relação sozinha é
os tidos bons alunos né porque com algumas coisas que você fala, ele mesmo
estabelece as relações, o aluno que tem mais dificuldade de aprendizagem eu acredito
que é aquele que demora mais tempo para estabelecer essas relações entendeu? ele
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precisa de uma ajuda um pouco maior então tem tudo a ver com aquilo que a gente
faz hoje, só que tem que aproveitar o que o aluno tem para poder fazer. Na realidade
o Construtivismo foi posto para nós, imposto para nós, mas não foi mostrado este
lado, aproveita o que a criança tem.
Eu acho que Vygotsky e Piaget falavam isso, aproveite o que a criança tem
para depois construir em cima disso e o Construtivismo foi sendo feito assim, olha
você que ensinar frações? né então pega a figurinha, divide a figurinha, vai fazendo
coloridinha, sabe quando você tem frações você pega a circunferência divide em
duas partes que vai mostrando para ela... gente, me falaram que isso era
Construtivismo e não é. Construtivismo é ver o que a criança sabe de fração. Será
que ela enxerga que o bolo que ela come em casa ela está usando fração? Sabe tem
tudo isso para explicar.
Por isso que eu acho que a teoria de Vygotsky e Piaget foi mal interpretada,
então eu não gosto, não do construtivismo, eu não gosto da maneira que ele foi
aplicado sem embasamento teórico, sem estudar a teoria a fundo por isso que eu
repito se as modificações atuais não forem estruturadas, não forem fundamentadas
ela vai virar um Construtivismo, aplicada de qualquer jeito, daqui dois ou três anos
vai se dizer que não funciona e vamos passar para uma moda nova, então o
Construtivismo foi modismo, "todo mundo tem que ser construtivista", mas nem a
metade sabia o que era Construtivismo.
A escola que eu trabalhava no A., era Construtivista e eu fui aprender o que era
Construtivismo quando eu fiz Psicopedagogia quando eu fui estudar Piaget,
Vygotsky, um monte de coisas, eu fui aprender Construtivismo lá e eu tentava
modificar, você tem uma rédea para seguir, uma conduta, mas você não pode
modificar a seu bel prazer.
interessa à realidade daquele aluno, sabe tudo isso porque a gente vai estar
trabalhando aquele aluno de maneira holística, mas até para poder fazer isso eu tenho
que estudar os parâmetros.
Entrevistador: você comentou que aqui na escola não dá tempo de estudar os
Parâmetros, eu gostaria que você falasse um pouco deste assunto .....
Professor: eu não estava aqui na escola quando ele foi implantado, os PCN quando
eles saíram eu estava na escola particular e tinha poucas aulas na escola pública, eu
efetivei o ano passado aqui quando já estava em andamento, então assim por
interesse meu, fui e peguei os parâmetros e de vez em quando lê no HTP, mas
ninguém gosta, acha ruim, sabe, então o estudo está muito precário em cima disso.
Da época que eu estou aqui se leu duas ou três vezes... a gente lê, lê, lê e acaba
ficando um estudo maçante.
Entrevistador: e o que vocês estudaram?
Professor: nós lemos os Parâmetros do Ensino Fundamental, a Introdução, como
trabalha com aluno, lendo e comentando, então fica um estudo maçante. Aquilo que
eu te falei, vou lendo uns pedacinhos, eu pego uma coisa ou outra que me interessa
porque também falta tempo e organização para sentar e fazer isso. Eu até peguei até
os Temas Transversais para dar uma olhada, peguei matemática e peguei o geral, o
básico.
Eu acho que eles são interessantes, mas repito para que a gente aproveitar
melhor precisa ler com calma. Para eles se tornarem interessantes, você tem que
saber o que estava fazendo e eu acabo tendo chance de ver os PCN, muito pela
faculdade que às vezes um professor ou outro comenta, traz um xerox para a gente
ler, faz um trabalho sempre em cima daquilo, sempre assim.
Entrevistador: você está fazendo faculdade e lá vocês estudam os PCN......
Professor: estou, estou fazendo Pedagogia e lá sempre uma professora seja de
Didática ou outra traz alguma coisa para gente. A parte da Teoria da Pedagogia eu
estou mais ou menos fresquinha Patrícia, por causa da faculdade que eu estou
fazendo, a gente discute muito, conversa muito, troca muita idéia, está sempre
falando sobre isso.
Entrevistador: do que você viu, fale um pouco sobre o que você acha interessante
neles...
Professor: tudo o que ele fala sobre esse trabalho com os alunos, entendeu, essa
relação que você pode fazer de uma matéria com a outra, que eu até falei aqui que
permitem a inter relação entre as disciplinas; os PCN deixa isso muito em aberto
para a gente trabalhar uma matéria com várias disciplinas, é a transdisciplinariedade
que a gente fala.
Então eu quero trabalhar.... eu vou fazer um projeto no bosque eu vou
para o bosque agora, mais uma loucura da minha parte, eu vou para o bosque com os
meus alunos, trabalhar estatísticas, porcentagens, gráfico, tabela, um monte de
coisas, se eu quiser trabalhar com a professora de Física e Biologia com parceria
comigo eu posso porque elas vão aproveitar o meu projeto do bosque para pegar o
que interessa no bosque de Biologia e em Física, em Ciências, entendeu? e esse tipo
de inter- relação entre os professores é muito interessante, mas ele está sendo pouco
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explorado, talvez pela falta de tempo, talvez pelos problemas de violência que a
gente tenha tendo na escola, de indisciplina, talvez por tudo isso, a gente tenha
trabalhado isso pouco, muito pouco.
Ele instiga a investigação, então uma das coisas que o PCN favorece é que ele
não dá o mastigado, a coisa, ele sugere atividades, sugere trabalhos, mas ele instiga a
investigar: "como que eu posso desenvolver o projeto do bosque melhor?" entendeu?
Então ele até me sugere o trabalho assim, mas como que eu posso fazer esse trabalho
melhor? eu tenho que investigar, tenho que procurar, pesquisar no final do ano, no
começo do ano, a recuperação que teve de fim de ano foram com projetos.
Outra coisa que o PCN insere projetos, trabalhar com projetos. Então
tinham vários projetos, o projeto de fotografia, um monte, parece que o da escola foi,
eu não trabalhei no projeto de recuperação parece que foi de fotografar o bairro,
então em cima da fotografia do bairro que eles foram fazer uma pesquisa do bairro
aqui da comunidade, eles tinham, gente olha o tanto de elementos que vocês têm para
trabalhar com isso, com elementos do bairro, você pode trabalhar com quantidades,
distância, medição, noção de figuras geométricas, gente têm mil coisas só em
matemática, você imagina, em Português, Inglês, História, Geografia, você vê uma
casa mais antiga e trabalha a "história do bairro", você não vai estar trabalhando
História? na hora que eu vi “história do bairro” – “ah! esse bairro aqui foi fundado
em 1922, nossa! em 1922 foi Semana de Arte Moderna, nossa! Então aconteceu no
mesmo tempo em que esse bairro foi criado”. Sabe o PCN favorece esse tipo de
trabalho, ele facilita isso.....( desliguei o gravador, bateram na porta)
(Religuei o gravador)... Então quando você vai trabalhar por exemplo esse lance do
investigação? porque eu tenho que estar muito preparada, sabe para poder relacionar
fotografia, então o que o aluno descobriu a respeito disso eu tenho que estar muito
embasada, sabe para poder tirar da História, se eu sou professora de História o que
não vai fazer relação, gente foi a época que a minha vó viveu, então quando a minha
vó viveu estava acontecendo isso, isso, isso na História. Não é muito mais do fácil
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falar para ela que em 1922 teve a Semana da Arte Moderna, tá! é um conceito jogado
sem a liga para estabelecer a ligação entre as caixinhas que o Piaget fala; ele tem que
ter liga para estabelecer a relação entre estas caixinhas, se ele não tiver a liga, ele não
vai relacionar uma coisa com outra por isso que o professor tem que investigar e tem
Silêncio.
Entrevistador: mais alguma coisa?
Professor: Não.