Ebd RM 10
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Por isso, Paulo faz questão de combater essa noção legalista da
justiça divina ao trabalhar a divisão na igreja romana: não havia por
que trazer para dentro das comunidades cristãs as mesmas práticas
ritualísticas que o próprio Cristo havia condenado em seu
ministério terreno. Permitir que os judeus impusessem aos gentios
questões que nem eles conseguiam seguir seria voltar ao erro dos
fariseus.
A JUSTIÇA DA FÉ
Combatendo esta visão antiquada da justiça divina, Paulo mostra
que a justiça divina, agora, se restringia à fé: "Pois Cristo é o fim da
lei para a justificação de todo aquele que crê" (v. 4). Em Cristo,
tínhamos a liberdade de qualquer restrição ritualística imposta pela
lei judaica. Apenas seu aspecto moral permanecia, pois este era um
reflexo do padrão moral apresentado por Cristo em seu ministério.
A busca por esta justiça era bem mais simples e alcançável ao
homem, pois bastaria confessar que Jesus é Senhor e crer que Deus
o ressuscitou dentre os mortos (v. 8,9). Não havia a necessidade de
uma doutrinação prévia, passar por algum tipo de escola rabínica ou
seguir algum código de regras prévias, pois a fé em Cristo era
suficiente para a sua salvação.
Aqui é importante salientar a importância do conceito da
ressurreição de Cristo, vital para a compreensão de seu ministério e
sacrifício. Como o próprio Paulo afirmaria, sem a crença na
ressurreição, nossa fé seria inútil (1 Co 15.13,14). Tal afirmação
visava combater uma heresia que surgiu na igreja nascente que
dizia que Jesus, por não ter pecado, não poderia ter tido um corpo
físico, já que nossos corpos são decaídos em concupiscência. O
problema com essa visão é que os Evangelhos mostram que Jesus
teve fome, sede, se cansou, foi ferido, verteu sangue e foi tocado por
Tomé mesmo após sua ressurreição. Sua ressurreição, portanto, é
central à fé cristã, não podendo ser vista de forma figurada.
A presença física de Jesus durante seu ministério terreno indica
também que ele passou pelo que nós passamos, tendo vencido a luta
contra o pecado sem jamais falhar e tendo enfrentado as mesmas
dores que encaramos diariamente. Um Deus que passa pelo que nós
passamos para nos salvar merece toda a nossa adoração.
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A IMPORTÂNCIA DA EVANGELIZAÇÃO
A seguir, Paulo reafirma sua visão do alcance universal da salvação
em Cristo Jesus, mencionando que não há diferença entre judeu e
grego, pois o mesmo Senhor é o Senhor de todos e abençoa os que o
invocam, pois todos os que invocarem o nome do Senhor serão
salvos (v.12,13). Para os judeus da época, uma afirmação tão
taxativa devia ser chocante, ainda mais vindo de um fariseu ex-
membro do Sinédrio e aluno de um dos grandes mestres rabínicos
da história, Gamaliel. Contudo, Paulo apenas refletia o que Jesus já
havia demonstrado em vida: que ele viera para todos, sendo o
acesso à salvação meramente pela fé.
Para que todos pudessem alcançar a salvação, porém, Paulo afirmou
que algo era necessário: para que cressem, precisavam ouvir a
Palavra, e para ouvir, precisavam que alguém lhes pregasse o
evangelho, sendo necessário que pessoas fossem enviadas para
propagar a mensagem de boas-novas aos que não o tinham
conhecido (v. 14,15). É impressionante perceber como Deus, mesmo
sendo soberano e Todo-Poderoso, usa a nós, seres humanos falhos,
para fazer a sua obra.
Outro detalhe do texto é o lembrete de Paulo sobre a importância e
o valor que Deus dá àqueles que decidem dedicar suas vidas à
propagação do evangelho (v. 15). A obra missionária é, de fato, um
modo de vida desafiador. Enfrentar, muitas vezes, o poder religioso
reinante no local, com escassez de recursos e longe de familiares e
de suas bases eclesiásticas, pode ser sufocante e estressante. Muitos
missionários chegam a desenvolver doenças físicas e emocionais
por causa do desgastante trabalho. Contudo, no retorno a suas
bases, percebemos em seus rostos e em suas pregações o brilho no
olhar de quem se sente realizado com as pessoas que, por meio de
seus esforços, foram levadas a Cristo.
A CENTRALIDADE DA PALAVRA
Paulo encerra esta parte do texto mencionando novamente sua
frustração com o povo de Israel por ter ouvido a mensagem e não
ter aceitado Cristo. Ele nota que isso não foi exclusivo a Jesus, pois o
próprio Isaías também havia sido ignorado quando alertou o povo
de seus pecados (v. 16). Não devemos, portanto, ficar frustrados
com o fato de pessoas ignorarem o evangelho e preferirem seguir
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nas trevas, pois outros tantos servos de Deus passaram pela mesma
situação.
Em último caso, devemos continuar pregando Cristo, concentrando-
se em sua Palavra (v. 17). A fé vem pelo ouvir a sua mensagem e a
sua história. Infelizmente, temos visto hoje alguns "cristos" sendo
pregados que destoam do revelado na Bíblia, visando apenas à
formação de auditórios lotados de fiéis interessados meramente nas
bênçãos que podem oferecer. Não devemos nos abater com este
triste cenário. Somente pelo estudo da Palavra de Deus, buscando
conhecer Cristo e sua obra e ensinamentos, poderemos ter uma fé
madura, sólida, sem nos deixarmos cair na tentação da negociata
gospel que vemos por aí. Por isso, precisamos manter o rumo e
continuar pregando o Cristo da Bíblia, pois só assim poderemos,
como igreja, ser um fator de transformação neste mundo.
CONCLUSÃO
A vida cristã não pode ser pensada com base em questões legalistas,
mas, sim, na graça divina. Não podemos julgar se alguém é mais ou
menos crente porque vai aos cultos ou frequenta um PG (pequenos
grupos) ou a EBD (Escola Bíblica Dominical). Devemos
compreender que tais coisas acontecem sempre naturalmente aos
que amam a Deus e querem buscar conhecê-lo. Nossa missão é
incentivar sua frequência de forma positiva, mostrando seu valor
para nossa vida. É este sentimento que devemos incentivar em
nossas comunidades.
Na ânsia de tentar gerar uma base sólida para que novos
convertidos possam saber o que significa ser membro de uma igreja,
várias comunidades exageraram e criaram barreiras para seus
ingressos. Se antes bastava a profissão de fé, hoje, a pessoa deve
participar de cursos e palestras, preencher apostilas, se vestir de
determinada forma, ter o linguajar correto.
A obra missionária é algo vital e necessita de pessoas para ser
realizada. Mas não pense que você precisa ser uma pessoa
excepcional para ir a campo. Jesus escolheu homens comuns, falhos,
para levar as boas-novas aos cativos do pecado. Se você sente este
desejo no coração, diga "Eis-me aqui" e ele o ajudará e capacitará,
dando forças e ferramentas para que você faça a obra de maneira
excelente.
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