Metodologia Da Ciência Do Direito - Karl Larenz
Metodologia Da Ciência Do Direito - Karl Larenz
Metodologia Da Ciência Do Direito - Karl Larenz
Savigny usa o termo filosófico nas suas lições, como sinônimo de sistemático;
mas o elemento sistemático também desempenha um papel considerável na teoria do
método do Sistema. Savigny aponta um sentido que equipara nos seus primeiros escritos
os termos sistemáticos e filosóficos, que vem a transparecer nas palavras seguintes:
Todo o sistema conduz à filosofia. A exposição de um simples sistema histórico conduz
a uma unidade, a um ideal, em que aquela se baseia.
Distingue o autor a teoria filosófica do Direito em si mesmo, ou o Direito
natural, do elemento filosófico ou sistemático da ciência do Direito. A última pode ser
estudada tanto com o Direito ou sem ele.
A filosofia não é necessária, mesmo como simples conhecimento prévio. Ela
não deve subentender-se a aceitação de quaisquer princípios jusnaturalistas, mas apenas
a orientação, característica da própria ciência do Direito, no sentido de uma unidade
pressuposta, já que é a ciência do Direito e à filosofia.
O equipara ainda no seu curso o Direito positivo ao Direito legislado. A
legislação acontece no tempo e conduz a concepção de uma história do Direito que
estreitamente se conjuga com a história do Estado e a história dos povos, visto que a
legislação é uma atividade do Estado.
Nota-se para a distinção de uma elaboração interpretativa de uma elaboração
histórica e de uma elaboração filosófica do Direito.
Como objeto da interpretação, aponta a reconstrução do pensamento que é
expresso na lei. O intérprete precisa se colocar na posição do legislador e deixar que se
formem, por esse artifício, os respectivos ditames.
A interpretação necessita de três elementos: lógico, gramatical e um elemento
histórico.
Cada um desses elementos serve de base a uma especial elaboração da ciência
do Direito. A elaboração histórica deve tomar o sistema no seu todo e pensá-lo como
algo progressivo, isto é, como história do sistema da Jurisprudência no seu conjunto.
A elaboração sistemática compete olhar o múltiplo na sua articulação,
interessando-lhe quer o desenvolvimento de conceitos, quer a exposição das regras
jurídicas, quer, por fim, o preenchimento das lacunas da lei na expressão que não se
encontra ainda por intermédio da analogia.
Quando o legislador indicou a razão da lei, não o fez para a constituir numa
regra comum, mas para que a regra constituída se esclarecesse por esse elo, ai não deve
ser utilizada como uma regra autêntica.
O juiz deve atender não ao que o legislador busca atingir, mas só ao que na
realidade preceituou; ou da lei, segundo o seu sentido lógico, gramatical e a extrair da
conexão sistemática, verdadeiramente, já que se encontrou uma expressão como
conteúdo da sua determinação.
O juiz não tem que aperfeiçoar a lei, de modo criador, mas tem apenas que
executá-la.
O autor aponta que para a interpretação das regras contidas na lei, significa que
essas regras não podem compreender-se só por si, mas apenas pela intuição do instituto
jurídico, pela qual, de resto, também se norteou o legislador ao formulá-las.
Assim, entre essa intuição e a forma abstrata de cada regra que diz respeito
sempre a um único aspecto, artificialmente isolado, do conjunto da relação, existe um
desajustamento, cuja superação constantemente se impõe à ciência do Direito.
Ele ainda aponta um conceito abstrato de relação jurídica como um poder de
vontade, procedendo depois, e de acordo com os possíveis objetos do poder de vontade,
a uma divisão lógico-formal das relações jusprivatísticas que o leva à aceitação de três
categorias fundamentais de direitos.
O que estrutura o sistema é o nexo lógico dos conceitos.
O elemento sistemático refere-se ao nexo interno que liga em uma grande
unidade todos os institutos e regras jurídicas, dependendo o êxito da interpretação de
que, primeiro, tomemos vivamente presente aos nossos olhos a atividade espiritual de
que proveio a expressão de pensamento que está perante nós e, segundo, de que
tenhamos suficientemente presente à intuição do todo histórico-dogmático, única fonte
de que o particular pode colher alguma luz, para que se venham imediatamente a
apreender as relações desse conjunto no texto que nos é oferecido.
Desde o começo é característica do autor a exigência até uma combinação dos
métodos histórica e sistemática, referindo-se aquele à formação de cada lei dentro de
certa situação histórica e propondo-se este compreender a totalidade das normas e dos
institutos jurídicos subjacentes como um todo englobaste. Ao passo, porém, que o
escrito de juventude entende o sistema jurídico exclusivamente como um sistema de
regras jurídicas - que se encontram entre si numa tal ligação lógica que as regras
especiais se vêem como brotando de certas regras gerais, às quais podem ser
reconduzidas.
As regras jurídicas particulares vêm extrair-se através de uma abstração; por
isso, têm aqueles de estar, na intuição, constantemente presentes ao intérprete, para que
este possa compreender com justeza o sentido da norma particular.
Assim, falta de clareza que não deve ter pesado pouco no fato de as sugestões
metodológicas da obra de maturidade não terem merecido a atenção que se poderia
esperar da grande influência de que gozou o autor.
Discorre o autor que as pessoas não têm consciência da sua origem num
determinado contexto filosófico-jurídico e, portanto, do significado específico de muitas
afirmações. Para a compreensão da atual situação da metodologia é, por isso,
indispensável expor, ao menos nas suas linhas de força, o movimento jus filosófico, na
medida em que é relevante para a metodologia.
Na Theorie der Rechtswissenschaft (Teoria da Ciência do Direito) busca
STAMMLER, tomar a Jurisprudência compreensível como ciência e afastar dela em
absoluto a objeção da sua falta de valor científico.
Os conceitos fundamentais do Direito, sendo, por isso, o esclarecimento desses
conceitos fundamentais de um modo seguro e exaustivo uma tarefa decisiva para quem
se preocupa com o Direito e com a ciência do Direito.
A relação entre forma e matéria de um pensamento é a mesma que entre
logicamente condicionante e condicionado.
As ideias jurídicas surgem na consciência como algo já ordenado, formado, de
determinada maneira. Assim deve haver formas puras do pensamento jurídico, que, no
que têm de característico, de nenhum modo dependem das particularidades de uma
matéria mutável e alterável, que não são outra coisa senão formas que determinam a
ordenação unitária
Quanto ao conceito de ciência, segundo STAMMLER, é o da ordenação
basicamente unitária do nosso mundo de ideias. A ciência da natureza ordena
unitariamente todos os fenômenos percebidos no espaço e no tempo sob a categoria da
causalidade.
A relação de meio e fim é tão necessária ao homem que não tem apenas a
capacidade de perceber, mas também a de querer, como é a relação de causa e efeito.
Daí que, a par da ciência da natureza e independentemente dela, haja que promover e
construir uma ciência dos fins humanos. Trata-se de orientar unitariamente os fins,
tomados no seu conteúdo, de acordo com um plano constante e entendido com clareza
no que tem de característico. Ao lado da lógica em geral e da lógica que preside ao
conhecimento científico-natural, há que promover uma lógica da ciência de fins. Dela
decorre a autonomia metódica da ciência do Direito.
Ihering designava o fim como o criador do Direito.
Todos os conceitos condicionados pressupõem, para o autor, uma determinada
matéria que tem de oferecer-se no Direito positivo, ainda antes que a ciência jurídica
possa, pela via da abstração, construindo um conceito. A escolha das notas essenciais à
construção de um conceito ocorre tendo sempre em atenção o conceito de Direito e os
conceitos fundamentais deduzidos daquele conceito, a que hão-se subsumir-se os
conceitos condicionados.
A teoria de Stammler sobre o conceito de Direito e a formação dos conceitos
jurídicos é insuficiente, pois o Autor só conhece o conceito de gênero geral abstrato, não
o conceito individual histórico, nem o conceito geral concreto, nem o que se denomina
como conceito determinado pela função.
Há que se apontar ainda acerca do Neokantismo alemão e teoria dos valores.
Com exceção da lógica e da matemática, o conceito positivista de ciência só
admite como científicas as disciplinas que se servem dos métodos das ciências da
natureza, ou seja, de uma pesquisa causal que assente na observação, na experimentação
e na recolha de fatos.
A essência da construção científico-natural dos conceitos, melhor, do
conhecimento conceptual do mundo dos corpos, é vista simplificação da realidade
existente, através da construção de conceitos gerais que apreendam unitariamente o
maior número possível de fenômenos mediante poucas notas comuns a todos eles. Esses
conceitos devem construir-se de maneira a que permitam reconhecer as leis de validade
geral que a natureza. Quanto mais as ciências da natureza avançam por esse caminho,
isto é, quanto mais gerais e englobastes se tornam os seus conceitos, tanto mais têm de
distanciar-se do particular e individual que se oferece na intuição.
Para compreender a proposição jurídica singular não somente a partir dela
mesma, mas também do nexo significativo da ordem jurídica no seu todo, requere-se, de
par com a interpretação, a construção jurídica. Por construção entende-se como a
reconstituição de um todo com base nas suas partes, que antes foram artificialmente
divididas, reconstituição que tem por fim tornar-nos conscientes da necessária conexão
entre essas partes, das suas interdependências recíprocas ou comuns.
O juízo jurídico é emitido sobre um fato da vida concreto, embora típico
(juridicamente relevante), de acordo co normas gerais (social-estaduais), para a maior
realização possível da lei fundamental do bem-comum, em direção à justiça.
O conceito central de Binder no período do seu labor que aqui nos interessa, é,
portanto, a ideia de Direito. O Autor concebeu esta ideia, por um lado, na acepção
kantiana, como um postulado ético, uma tarefa sempre nova a realizar; mas, por outro
lado, viu nela também o princípio fundamental constitutivo o sentido a priori do Direito
positivo ou histórico.
Assim entendida, a ideia de Direito não se limita a ser um princípio formal do
pensamento, porque tem necessariamente um conteúdo; ela é, nas suas emanações ou
momentos, valendo-se da linguagem kantiana, a multiplicidade de sentido ético-jurídico
e filosófico-social que o Direito positivo realiza mais ou menos perfeitamente.
A ideia de Direito aproxima-se pois do conceito geral concreto da filosofia
hegeliana, no último estádio da sua evolução, a substituir o que pode ser mal entendido,
pela maioria dos leitores o termo ideia pelo termo conceito.
O Direito subsiste no tempo, como algo que se dá historicamente e que no
decurso da história se transforma; mas nem por isso pode ser considerado como uma
realidade física ou psíquica.
Enquanto a interpretação filológica se contenta com explorar o pensamento que
o autor quis exprimir, percebe-se que o fim com que empreende a interpretação é a
aplicação prática da lei. Por sua vez, porém, esta aplicação prática da lei visa em última
instância a realização da ideia de Direito, que assim se converte.
Se o Direito, como um todo, é um processo histórico e se a unidade da ordem
jurídica não é a unidade lógico-formal do sistema dos conceitos abstratos, mas sim uma
unidade teleológica, que consiste na harmonia dos fins em perpétua renovação, aferida
pelos valores e princípios fundamentais, harmonia essa que não nos é dada, apenas nos
incumbe como tarefa, resulta que o Direito positivo, o Direito formado, de cada época
não pode ser nunca acabado e sem lacunas.
O neokantismo considera a realidade como produto de um processo de
transformação, cujas condições fundamentais estão inscritas na estrutura do nosso
pensamento.
Esta doutrina afigurou-se acertada, porque o fato juridicamente relevante, se
posto em conflito com o acontecimento total, não é na realidade senão o resultado de
uma transformação intelectual, a saber: a sua apreciação à luz de critérios jurídicos.
A norma jurídica insere-se no tempo histórico. O tempo não está imóvel, e a
norma jurídica acompanha-o por assim dizer no seu movimento.
Daqui resulta o seguinte para a interpretação jurídica: a norma jurídica começa
por ser criada numa época histórica determinada, e na perspectiva de determinado
legislador.
A sua visão dos problemas e a concomitante tomada de posição são os
elementos constituintes daquilo que chamamos a 'vontade do legislador.
O movimento jus filosófico trouxe à metodologia jurídica, abstração feita de
todos os antagonismos de escolas, um contributo importante.
Fez descobrir que o conceito positivista da ciência, que tão grande influência
exerceu em certo período sobre a compreensão que a ciência jurídica tem de si própria,
não pode considerar-se satisfatório pelo menos para todo um grupo de ciências, o das
ciências históricas e das ciências do espírito.
A causa profunda dessa insuficiência, que ainda passou despercebida ao
neokantismo, é que o conceito positivista de realidade é demasiado acanhado.
Parte Sistemática