XXXXXXXXXXXXXXXX, Já Qualificada Nos Autos em Epígrafe, Por Intermédio de
XXXXXXXXXXXXXXXX, Já Qualificada Nos Autos em Epígrafe, Por Intermédio de
XXXXXXXXXXXXXXXX, Já Qualificada Nos Autos em Epígrafe, Por Intermédio de
DA COMARCA DE XXXXXXXXXX/UF
Autos: XXXXXXXXXXXXX
Recorrente: XXXXXXXXXXXXX
Recorrida: XXXXXXXXXXXXX
Informa desde já a Recorrente que o preparo não foi recolhido, pois o indeferimento
dos benefícios da assistência judiciária gratuita pela r. sentença recorrida é também
objeto deste recurso.
Pede deferimento.
XXXXXXXXXXXX/UF
OAB/MG 131.717
Autos: XXXXXXXXXXXXXXXX
Recorrente: XXXXXXXXXXXXXXXX
Recorrida: XXXXXXXXXXXXXXXX
Eméritos Julgadores,
A r. sentença proferida nestes autos às fls. XX/XX deve ser reformada pelas razões
de fato e de direito que este recurso passa a expor:
I.b – Da tempestividade
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Defesa apresentada às fls. XX/XX e audiência de conciliação realizada em
XX/XX/XXXX, sem acordo entre as partes, no entanto.
Não é necessário muito para ver que a defesa ignora completamente a letra e o
espírito da Lei 1060/50. E vai além: ignora cabalmente o princípio do acesso à
Justiça, constitucionalmente consagrado.
Eméritos Julgadores: como pode subsistir uma decisão que, com a devida vênia, é
baseada numa mera e simples presunção? Como pode prevalecer um provimento
judicial que, lastreado em suposição, sequer instrui o processo acerca deste ponto
específico e, assim, presume sobre as condições financeiras da parte, para
prejudicá-la?
Para tanto e, considerando que ali passaria aproximadamente uma semana, resolveu
colocar na bagagem seus bens mais valiosos, que lhe levantariam a autoestima e que
causassem boa impressão e até mesmo respeito por parte de seus familiares, que
veriam que a Recorrente, embora humilde e de cidade longínqua do interior de
Minas Gerais, valoriza as confraternizações familiares e sua família, fazendo questão
de se apresentar com o que de melhor possuia para tal.
No entanto, jamais se pode dizer que os bens levados na viagem indicam que a
Recorrente possui condição financeira sólida e tranquila, apta a arcar com os custos
processuais.
Tais bens foram adquiridos ao longo da vida, em locais distintos. Ou seja, diluindo-se
o seu valor total durante um período de tempo espaçado, jamais a r. decisão poderia
presumir que a Recorrente tem condições financeiras diversas das por ela alegadas.
Caso distinto seria se os bens extraviados tivessem sido adquiridos numa compra
única, em data próxima aos dias atuais, ou mesmo tivessem sido adquiridos durante
a viagem. Aí, talvez, a citada presunção judicial fizesse sentido. Não é o caso dos
autos.
Por fim, uma lamentável contradição irônica que se constata: adiante se verá que,
noutro ponto, a r. decisão recorrida condenou a Recorrida ao pagamento da quantia
de R$XXXXX à Recorrente a título de indenização por danos materiais.
Se a Recorrente pleiteia uma indenização neste importe e este fato, por si só, indica
que ela tenha boas condições financeiras, então, que no mérito, a decisão, partindo
da mesma presunção, reconheça todo o dano material por ela sofrido para que,
então, consolidada sua situação econômica a partir do ressarcimento financeiro,
tenha ela condições reais de arcar com as custas e despesas processuais.
Consoante a jurisprudência:
Eventualmente, caso assim não entenda esta Egrégia Turma, acaso mantida a r.
sentença neste ponto, requer seja a Recorrente intimada para que, em tempo hábil,
recolha o preparo (Ag. XXXXXXX. Rel. Des. XXXXXXXX. XXª Câmara Cível).
Por sua vez, a hipossuficiência da Recorrente sequer foi analisada pela r. sentença
que, no único parágrafo dedicado a tratar dos danos materiais, limitou-se a dizer que
a Recorrente “não juntou aos autos documento que comprove a propriedade dos bens,
tampouco restou comprovado que os objetos citados estariam em sua mala quando do
extravio”.
Desse modo, o conceito de hipossuficiência vai além do sentido literal das expressões
pobre ou sem recursos (…). O conceito de hipossuficiência consumerista é mais amplo,
devendo ser apreciado pelo aplicador do direito caso a caso (…).
No que toca aos danos materiais, retome-se o que afirmou a r. decisão (fls. XX):
Não obstante ter iniciado bem a análise deste ponto, a r. sentença incorreu em falsa
pista ao deixar de ponderar todos os aspectos necessários à completa elucidação da
questão.
Não seria razoável que, numa viagem de aproximadamente uma semana, para um
outro estado, a Recorrente amealhasse aqueles bens tabelados na inicial, para levá-
los consigo, com o fim de comparecer às ocasiões para as quais fora convidada?
Não bastasse a presunção já por ela carreada, a peça de contestação vai além e,
lamentavelmente, afirma: “O Boletim de Ocorrência de fls. XX a XX, não tem o condão
de comprovar que os bens descritos realmente estavam no interior da mala. Ressalta,
ainda, que o Boletim de Ocorrência não tem qualquer valor comprobatório dos fatos
alegados pela Autora, uma vez que trata-se de documento produzido unilateralmente
por este (sic), que narra os fatos como mais lhe convier, para o escrivão da Delegacia de
Polícia, de forma que tal documento não tem fé pública e por tal motivo a Empresa Ré o
impugna veementemente”.
Totalmente descabida a afirmação de que o citado Boletim não possui valor algum.
Ora, a lavratura do ato policial é um direito posto à disposição de todo cidadão em
ocasião de lesão ou ameaça de lesão a direitos e interesses. Numa comparação, quer
a Recorrida fazer crer que seus “expedientes e procedimentos internos” seriam,
então, mais “judicialmente valiosos” do que o documento relatado pela autoridade
policial?
Como pode, então, a Recorrente se conformar com a r. decisão prolatada nos autos,
sendo que, ao que tudo indica, o provimento acolheu (ainda que sutil e
indiretamente) os argumentos empresariais?
Em defesa (fls. XX), a Recorrida afirmou que “entrou em contato com a autora e
informou o valor do teto do decreto 2521/98, sendo de R$XXXXXXXX” e,
posteriormente, que “melhorou a proposta até o importe de R$XXXXXXXXX”.
Mais à frente (fls. XX), para justificar o valor oferecido, a Recorrida conclamou o art.
74, §2º do citado decreto (trazido em excerto anexo), que afirma: “O valor da
indenização será calculado tendo como referência o coeficiente tarifário do vigente (sic)
para o serviço convencional com sanitário, em piso pavimentado, de acordo com o
seguinte critério: a) até três mil vezes o coeficiente tarifário, no caso de danos; e b) até
dez mil vezes o coeficiente tarifário, no caso de extravio”.
Mas, reparem, que o citado parágrafo segundo do art. 74, que define o referido
teto, foi revogado pelo artigo 2º, inciso XII, Decreto 8.083 de 2013 (trazido em
anexo neste excerto particular)!
Logo, a r. sentença não poderia ter utilizado o frágil critério posto pela Recorrida
para estipular o montante indenizatório.
Além disso, vejam mais um equívoco perpetrado pela r. decisão atacada, data venia:
a Recorrida confessou que a ofereceu à Recorrente a quantia de R$XXXXXX para
resolver administrativamente o extravio da mala.
Ora, então, visto isso, como poderia a r. decisão determinar uma indenização por
danos materiais num valor inferior àquele oferecido pelo próprio agente causador
do dano?
Fechar os olhos para estes fatos é forjar uma realidade processual inaceitável e
desvirtuada do mínimo de verossimilhança.
Mas vejam, Excelências, que quando passam ao largo desta faculdade, tais
empresas são beneficiadas, pois, em casos como dos autos, o consumidor,
vulnerável e hipossuficiente, vê jogado e invertido contra si o ônus probatório
destinado às empresas, qual seja, aquele que decorre da faculdade dada às
empresas de solicitar a declaração de bens e valores das bagagens transportadas.
Logo, o consumidor sequer é questionado sobre tal declaração e, em caso de
extravio, ainda é obrigado a suportar o prejuízo por ele próprio não causado.
Noutro ponto a própria r. decisão (fls. XX), ao pontificar sobre o dano moral,
afirmou que os bens extraviados “certamente foram escolhidos e comprados em
locais e momentos diferentes”. Fica cada vez mais claro a abusividade de se exigir da
Recorrente a apresentação de documentos ou notas fiscais sobre a propriedade
dos bens, para que assim, fosse “provado” o prejuízo material a ela imposto.
Ao tratar dos danos morais (fls. XX/XX) a r. decisão colacionou a ementa do acórdão
proferido em apelação nos autos de nº XXXXXXXX/XXX(X), do e. TJMG, relatado
pelo e. Desembargador XXXXXXXX.
Pois bem, conforme se lê, o acórdão em muito se alinha com a tese defendida pela
própria Recorrente desde o início deste feito. Por isso, resolveu a Recorrente
estudar a fundo os argumentos jurídicos trazidos pelo e. Desembargador Relator em
seu voto.
E para sua curiosa surpresa, a Recorrente percebeu que, os fatos ocorridos naqueles
autos e os fundamentos trazidos pelo i. acórdão, quanto aos danos materiais, são
deveras semelhantes (senão, idênticos) ao caso deste feito.
(…)
Alega a segunda apelante que há total carência de provas quanto aos danos materiais
acolhidos pelo Julgador a quo; que a recorrida não apresentou uma única prova do
prejuízo material, limitando-se à sua declaração unilateral, relacionando superficialmente
os bens que espera sejam aceitos como incontroversos; que não há prova quanto ao
valor apontado pela recorrida dos bens mencionados na referida relação; que não foi
decretada a inversão do ônus probatório, sendo ônus exclusivo da recorrida firmar o
convencimento do Julgador com documentos e provas.
(…)
Em primeiro lugar, deve-se ressaltar que a relação travada entre as partes se trata de
típica relação de consumo, enquadrando-se a empresa aérea no conceito de fornecedor e
A. C. M. no de consumidora.
(…)
Destarte, para ser possível a inversão do ônus da prova, exige-se a presença de pelo
menos um dos requisitos elencados. No caso, tenho que está evidente a verossimilhança
das alegações da primeira apelante. Em momento algum a segunda recorrente
contestou o extravio da bagagem, sendo tal fato, portanto, incontroverso. O MM. Juiz
de primeiro grau, em sua sentença, inverteu o ônus probatório (f. 125-126). Verifica-se
que a primeira apelante requereu a inversão do ônus da prova na petição inicial (f. 10).
Em sua contestação, a segunda recorrente não impugnou tal pedido. A primeira
apelante juntou aos autos um rol de objetos que estariam em sua bagagem extraviada e
não encontrada. A segunda apelante não produziu nenhuma prova contrária,
restringindo-se a alegar que a primeira recorrente não teria produzido prova
constitutiva de seu direito. Ora, é absolutamente provável que uma pessoa que viaja
para o exterior, na estação do inverno, leve em sua bagagem uma quantidade razoável
de roupas, como a constante no rol apresentado pela primeira apelante às f. 14.
Também é provável que uma pessoa em viagem a passeio leve máquina fotográfica,
com os devidos acessórios (carregador e cartão de memória), conforme orçamento de f.
15. E, finalmente, é também absolutamente provável que uma mulher carregue em sua
bagagem os produtos de higiene enumerados às f. 16. Assim, não há porque não
considerar o rol de objetos perdidos apresentados pela primeira recorrente como
verossímeis. Assim, presente o requisito legalmente exigido, viável e devida se mostra a
inversão do ônus da prova, restando afastado o argumento de inobservância pela
autora dos ditames do artigo 333, I, do CPC.
(…)
Entende a segunda apelante ser indevida a reparação por danos materiais. Alega que o
MM. Juiz singular ultrapassou os limites da legalidade, com o afastamento da aplicação
do Pacto de Varsóvia. Além disso, diz que não há provas de que os bens narrados na
exordial estavam efetivamente dentro da bagagem extraviada. Entendo correta a
decisão do MM. Juiz sentenciante. Como salientado acima, ocorreu a inversão do ônus
da prova. Assim, cabia à segunda recorrente provar que os bens listados na petição
inicial não se encontravam na bagagem extraviada, ou seja, que o dano material sofrido
não era aquele alegado. No entanto, não se desincumbiu a segunda apelante do
referido ônus, não restando outra alternativa senão considerar como válida a listagem
de f. 14-16. Conforme dito supra, demonstra a experiência ordinária a probabilidade de
que uma pessoa que viaja para o exterior a passeio, em época de inverno europeu,
coloque em sua bagagem a quantidade de roupas listada, leve máquina fotográfica e
acessórios e produtos de higiene pessoal.
(…)
Na peça de ingresso, a autora, ora primeira apelante, apresentou planilha no valor total
de R$ 5.434,76 (cinco mil, quatrocentos e trinta e quatro reais e setenta e seis centavos).
O MM. Juiz de primeiro grau deferiu a indenização por danos materiais conforme
pleiteado, devendo, pois, ser mantida.” (grifos acrescidos)
Vejam, então, Ínclitos Julgadores, que o acórdão trazido pela i. sentença recorrida
como baliza para os danos morais é, na verdade, fundamento para sua própria
reforma, no tocante aos danos de ordem material.
Como dito alhures, deveria ter sido invertido o ônus da prova, para que então,
facilitado o direito da Recorrente em razão da presença dos requisitos legais, fosse a
Recorrida impelida a desconstituir a pretensão ressarcitória, de forma robusta, com
provas e argumentos razoáveis, não a partir de meras e frágeis presunções e
suposições, como fez.
Isso posto, mediante todos os sólidos argumentos apresentados, deve ser reformada
a r. sentença para que, a partir da inversão do ônus da prova e dos elementos já
presentes nos autos, seja a Recorrida condenada ao pagamento da quantia de
R$XXXXXXXX a título de indenização por danos materiais à Recorrente.
“No que se refere à fixação do valor dos danos morais, considerando os princípios da
proporcionalidade e da razoabilidade, observando-se ainda que o autor não concorreu
em momento algum para o dano, bem como o fato de que sua bagagem não foi
ressarcida posteriormente, entendo como razoável o arbitramento da quantia de R$
XXXXXX como indenização pelos danos morais experimentados pela requerente.”
IV – DOS PEDIDOS
Por todo exposto, a Recorrente requer seja o presente recurso conhecido e provido,
com a consequente reforma da r. sentença atacada, determinando-se:
2018
OAB/MG 131.717