Aula 22
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módulo
gramática professor
Abaurre • Pontara • Avelar
QUESTÕES SINTÁTICAS
PARTICULARES (I)
Fábio Ventura
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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CAPÍTULOs
Funções do que
2 Funções do se
1 • 2 • 3 • 4 • 5 • 6 • 7 • 8 • 9 • 10 • 11 • 12 • 13 • 14 • 15 • 16 • 17 • 18 • 19 • 20 • 21 • 22 • 23 • 24 1
QUE e SE
Neste módulo, você vai conhecer os itens
vocabulares que se realizam sob as formas de
que e se. É importante reservar um espaço ao
estudo desses itens porque, como realizações
de diferentes morfemas gramaticais, que e
se estão na base de várias relações sintático-
-semânticas estabelecidas entre partes do
enunciado. Aprender a identificar os
diferentes casos de que e se certamente
ajudará você a caracterizar adequadamente
essas relações e a reconhecer, por exemplo, as
estruturas em que um e outro correspondem
a pronomes ou a conjunções.
1 Introdução
Leia a tira a seguir para responder às questões de 1 a 4.
1 Se o título da tira (“Teorias econômicas”) não fosse apresentado, que itens voca-
bulares nos ajudariam a concluir que a situação retratada consiste em uma aula
sobre algum tema em economia?
Os itens vocabulares são o adjetivo barato, o verbo exceder e os substantivos oferta
“teorias econômicas”.
é preciso pagar.
3 Que interpretação pode ser conferida, na tira, à resposta que foi dada?
Considerando-se o conteúdo da pergunta, a afirmação de “que a oferta
sempre excede a procura” pode ser interpretada como “as pessoas falam
a ouvir”.
4
4 Os dois enunciados da tira são introduzidos por vocábulos idênticos quanto à
forma: “que significa...”, “que a oferta...”. Esses vocábulos, contudo, desempe-
nham funções gramaticais distintas.
a) Considerando-se as funções sintáticas que você aprendeu ao estudar os ter-
mos essenciais, integrantes e acessórios da oração, qual é o papel exercido
pelo que no primeiro enunciado? A que termo da oração ele se subordina?
No primeiro enunciado, que é um termo integrante que exerce a função de
núcleo do predicado.
oferta sempre excede a procura”. Essa conexão cria uma relação subordinativa,
por meio da qual a oração introduzida por que passa a funcionar como
verbo significar.
função de objeto direto, podem ser regidas pelo verbo significar (um termo nominal
função conectiva a base para a caracterização desse elemento como uma conjunção.
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É comum que vocábulos com significados diferentes e/ou pertencentes
a classes distintas apresentem formas idênticas. É o caso, por exemplo, de
manga, forma que pode corresponder à realização de diferentes substantivos
(fruto da mangueira; parte de vestimentas que serve para recobrir o braço)
ou de um verbo (flexão do verbo mangar na 3 a pessoa do singular no presen-
te do indicativo).
No caso da tira que você acabou de analisar, o que do primeiro enunciado
pertence a uma classe diferente daquela em que se insere o que do segundo
enunciado.
No primeiro enunciado, que é um pronome interrogativo e faz parte da
mesma classe de qual e quem. Como os outros pronomes interrogativos, sua
função é reportar a algo de que se busca identificar um referente, seja um
ser, um fato ou uma ideia. No caso da tira, esse referente é o significado da
expressão “falar é barato”, acerca do qual o professor indaga seus alunos.
Embora se realize no início da oração, esse pronome funciona como comple-
mento do verbo significar.
Professor: Pelo menos
no português brasilei- “Que significa a expressão ‘falar é barato’?”
lembre-se!
Professor: Se achar Os morfemas gramaticais são definidos em oposição aos morfemas lexicais. Enquanto
necessário, explique
aos alunos que, quan-
estes reportam a algum conceito ou referente no universo extralinguístico, aqueles trazem
do corresponde a um uma informação de base gramatical (estabelecem relações entre palavras ou marcam ca-
substantivo ou a uma tegorias como gênero, número, pessoa, tempo, modo etc.). Em um verbo como cantáva-
interjeição, que deve mos, por exemplo, o radical cant- é um morfema lexical, enquanto as desinências -a, -vá e
ser analisado como um -mos são morfemas gramaticais.
morfema lexical, uma
vez que reporta a um Os pronomes e as conjunções que se realizam nas formas de que e se, estudados neste e no
significado no universo próximo capítulo, são morfemas gramaticais.
extralinguístico.
6
2 Que em função conectiva
No papel de conector, que pode corresponder a uma conjunção coordenativa ou
subordinativa. Como conjunção coordenativa, serve à ligação de termos entre os
quais não se estabelece nenhuma função sintática. Como conjunção subordinativa, ao
contrário, as relações intermediadas por que resultam em dependência sintática, com
um dos termos conectados exercendo uma função sintática em relação ao outro.
lembre-se!
Oração subordinada substantiva é aquela que exerce qualquer uma das funções sintáti-
cas ditas substantivas: sujeito, objeto direto, objeto indireto, complemento nominal, pre-
dicativo e aposto. Essas funções são chamadas substantivas porque, no período simples, o
núcleo do termo que as exerce é geralmente um substantivo ou um item substantivado.
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2009 King Features Syndicate/Ipress
Figura 2. RECHIN, Bill; WILDER, Don. A Legião. Jornal da Tarde, São Paulo, 12 mar. 2003.
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Introdução de orações adverbiais
Entre as orações subordinadas adverbiais, que é frequentemente observado na
introdução de orações com valor comparativo e consecutivo. Em tais casos, a con-
junção é chamada de subordinativa comparativa e subordinativa consecutiva,
respectivamente.
lembre-se!
Observe a tira.
Figura 3. RECHIN, Bill; WILDER, Don. A Legião. Jornal da Tarde, São Paulo, 26 jan. 2005.
Nessa tira, uma das ocorrências de que introduz uma oração subordinada adver- Professor: No estudo
das orações adverbiais,
bial comparativa: “... do que construir uma ponte?”. O efeito de humor relaciona- considera-se geralmente
-se diretamente com o conteúdo dessa oração, uma vez que a existência de uma que as orações compara-
tivas não se apresentam
alternativa à ponte, cuja construção é vista como necessária, se mostra evidente. na forma reduzida. Em
“... do que construir uma
oração subordinada adverbial comparativa ponte”, contudo, vemos
que o verbo logo após a
conjunção é empregado
“um jeito melhor de atravessar do que construir uma ponte?” no infinitivo, o que, à pri-
meira vista, nos levaria a
questionar a ideia de as
conjunção subordinativa adverbiais comparativas
comparativa: introduz uma oração nunca serem reduzidas.
subordinada adverbial comparativa Lembre-se de que, nesse
caso, a oração com o ver-
bo no infinitivo é apenas
parte da oração compara-
No mesmo quadrinho, há uma ocorrência de que como introdutor de uma ora- tiva, cujo predicado (é um
ção subordinada substantiva, caso em que deve ser analisado como uma conjunção jeito melhor de atravessar)
subordinativa integrante. é depreendido do con-
teúdo da oração subor-
dinante. Seguindo essa
oração subordinada substantiva objetiva direta análise, a oração reduzida
de infinitivo corresponde
ao sujeito desse predica-
“Mais alguém aí acha que conhece um jeito melhor” do, o que significa que a
forma do verbo que se
segue à conjunção não
conjunção subordinativa integrante: pode, nesse tipo de ad-
introduz uma oração substantiva verbial comparativa, ser
que exerce a função de complemento a base para sua classifi-
(objeto direto) do verbo achar cação como reduzida ou
desenvolvida.
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■■ Que como conjunção subordinativa consecutiva.
oração subordinada
adverbial consecutiva
■■ Outros casos.
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3.1 Pronome interrogativo
Como pronome interrogativo, que pode apresentar uma função substantiva ou ad-
jetiva. Em função substantiva, ocorre como núcleo de um termo nominal; em função
adjetiva, exerce a função de adjunto adnominal, modificando um substantivo.
Professor: Explique a
Por que / Por quê seus alunos que, quan-
do introduz uma ora-
Porque ção adverbial final, para
Porquê que corresponde a uma
locução conjuntiva su-
Muitas pessoas têm dificuldades para entender a diferença entre por que e porque. bordinativa final, e não
a uma expressão forma-
Por que é uma locução formada pela preposição por seguida do pronome interrogativo da a partir do pronome
que. Sua constituição, portanto, é a mesma que a das expressões formadas por outras interrogativo que. Seu
preposições junto com o mesmo pronome (para que, em que, de que, com que etc.). Essas estatuto sintático, nesse
expressões são empregadas em enunciados interrogativos. caso, é o mesmo que o
da conjunção porque.
Por que
Para que
Em que você fez o bolo?
De que
Com que
Observe que a expressão interrogativa pode aparecer no final do enunciado, caso em que
o pronome deve ser grafado com acento circunflexo.
por quê?
para quê?
Você fez o bolo em quê?
de quê?
com quê?
Porque é uma conjunção de valor explicativo ou causal. Deve, por isso, ocorrer no início
de orações que apresentam uma explicação ou indicam a causa de algo.
Fiz o bolo porque organizei uma festinha para as crianças.
O avião caiu porque os motores falharam.
Aquele político renunciou porque estava sendo acusado de algo muito grave.
A forma porquê (com acento circunflexo) corresponde a um substantivo, com significado
equivalente a “razão, motivo, explicação”.
O porquê de eu ter feito aquele bolo é um segredo.
Aquele porquê apresentado pelos técnicos a respeito das causas do acidente não convenceu
a imprensa.
Ainda não forneceram um porquê que permitisse explicar a real natureza do problema.
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3.2 Pronome relativo
Como pronome relativo, que introduz uma oração subordinada adjetiva. Observe.
Professor: Nos módulos No primeiro e no segundo quadrinho, que corresponde a um pronome relativo,
intitulados Estudo do introduzindo uma oração subordinada adjetiva e tendo como antecedente, em
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feminino e/ou no plural, se as especificidades de gênero e número do seu referente fos-
sem as mesmas do demonstrativo aquele(s) ou aquela(s), como em Fiz o(s) que o senhor
sugeriu ou Fiz a(s) que o senhor sugeriu, respectivamente.
Em contraste, o determinante é invariável quando ocorre com o pronome que interroga-
tivo, realizando-se sempre como o. Observe a tira a seguir.
enunciado malformado: ... A(s) que devo fazer?/... O(s) que devo fazer? O determinante tam-
bém não poderia ser substituído por um pronome demonstrativo, como em Aquilo que
devo fazer? Isso ocorre porque, quando junto de que interrogativo, o determinante forma
com esse pronome uma locução interrogativa. Como em muitas outras locuções da lín-
gua, as partes que a integram são (ou se tornam) morfologicamente invariáveis.
Figura 8. DAVIS, Jim. Garfield. Folha de S.Paulo, São Paulo, 31 jan. 2005.
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4 Que como partícula expletiva ou de realce
Há casos em que, do ponto de vista sintático, a exclusão de que não traz pre-
juízos à estrutura do enunciado. Em tais casos, que costuma ser classificado como
uma partícula expletiva ou de realce. Veja alguns exemplos.
Para qual cidade que você vai viajar no final deste ano?
Para qual cidade você vai viajar no final deste ano?
Em que mês que começam as férias?
Em que mês começam as férias?
Há anos que eu não visito a cidade onde nasci!
Há anos eu não visito a cidade onde nasci!
Eu quase que desisti de viajar no último feriado.
Eu quase desisti de viajar no último feriado.
Que medo terrível que eu senti naquele momento!
Que medo terrível eu senti naquele momento!
Karmo
Figura 9. KARMO. Dois reis. Folha de S.Paulo, São Paulo, 15 maio 2005.
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O Pedro é que vai ser contratado (e não a Ana).
O Pedro vai ser contratado (e não a Ana).
A Maria foi que fez a fofoca (e não a Ana).
A Maria fez a fofoca (e não a Ana).
No carnaval é que acontece o desfile das escolas de samba (e não na quaresma).
No carnaval acontece o desfile das escolas de samba (e não na quaresma).
O computador da Maria era que costumava dar defeito (e não o meu).
O computador da Maria costumava dar defeito (e não o meu).
A locução ser que pode dar lugar ao emprego apenas de que, sem que o efeito de
contraste ou realce seja afetado, como na tira a seguir.
Caco Galhardo
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Figura 10. GALHARDO, Caco. Chico Bacon. Folha de S.Paulo, São Paulo, 17 mar. 2006.
No terceiro quadrinho da tira, a fala de uma das personagens destaca que o res-
ponsável pela contenda não é ela, mas Chico Bacon. O termo realçado (o pronome Professor: Se, em vez
do expletivo que, se
você, em referência a Chico Bacon) ocorre anteposto ao expletivo que. Note que, empregasse o prono-
em lugar apenas de que, poderia ser empregada a locução ser que. me quem, a estrutura
resultante seria anali-
“Você que começou” (e não eu). sada de outra forma:
Você foi quem começou.
Você é que começou (e não eu). Estaríamos, nesse caso,
diante de um período
Você foi que começou (e não eu). composto de duas ora-
ções: uma com o verbo
A locução ser que também ocorre em enunciados interrogativos, como exempli- ser (a principal) e outra
com começar (subordi-
ficado a seguir. Nesse caso, a função da locução não é a de reforçar um contraste nada). A oração subor-
envolvendo o termo que lhe antecede. Dentre outros efeitos possíveis, podemos in- dinada seria classifica-
da como adjetiva, e o
dicar a atribuição de um caráter mais incisivo à indagação, com o intuito de chamar pronome que a intro-
a atenção para a necessidade de a pergunta ter uma resposta urgente, imediata. duz como um relativo
indefinido (sem antece-
Quem é que comeu aquele bolo? dente). Observe que a
oração relativa poderia
Quem comeu aquele bolo? ser anteposta ao verbo
ser: Quem começou foi
O que foi que os alunos falaram para o professor? você. Essa possibilidade
de anteposição nunca é
O que os alunos falaram para o professor? observada no caso em
que que corresponde
Quando será que vai acontecer a próxima reunião? a um expletivo, daí o
estranhamento que se-
Quando vai acontecer a próxima reunião? ria provocado por uma
construção do tipo Que
Para qual praia era que você costumava ir durante as férias? começou foi você (e não
eu) em lugar de Você foi
Para qual praia você costumava ir durante as férias? que começou (e não eu).
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Ser... que
Em muitos casos, o termo que se pretende realçar ocorre entre os dois itens da locução,
e não antes do verbo ser. Observe a tira.
Professor: Lembre-se No segundo quadrinho, o termo pronominal a gente, sujeito de puxar, aparece entre é
de que, nesse caso, o e que, resultando em uma estrutura que sinaliza a apresentação de um contraste envol-
que não introduz uma
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■■ Preposição
Que é frequentemente empregado em lugar da preposição de junto ao verbo ter,
na locução modal que serve à expressão de obrigatoriedade ou necessidade, em
casos como os que se seguem.
Tenho que (= de) viajar na próxima semana.
Ele tem que (= de) respeitar a lei do país.
Tem que (= de) parar de chover na hora do espetáculo.
A ocorrência de que é também registrada em casos nos quais esse item passa a
ter um significado similar ao das preposições acidentais salvo, exceto e senão, como
no seguinte caso:
O candidato apresentou-se ao concurso sem recomendações outras que sua própria
experiência.
O nome da letra
■■ Substantivo do alfabeto tam-
bém é designa-
Como substantivo, que é grafado com acento circunflexo (quê) e é usado como do como quê: As
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Poema acumulativo
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Qual o nome do homem Este homem é homem
que é dono do homem? que a cobiça consumiu.
Qual o nome do homem Este homem é homem
que rói o osso do homem? que a inveja seduziu.
Qual o nome do homem Este homem é homem
que arranha o corpo do homem? que a preguiça produziu.
Qual o nome do homem Este homem é homem
que morde a carne do homem? que a soberba recobriu.
Qual o nome do homem Este homem é homem
que ordenha o sangue do homem? que a gula deglutiu.
Este homem é homem [...]
SANT’ANNA, Affonso Romano de.
que a avareza construiu.
Poesia reunida: 1965-1999.
Porto Alegre: L&PM, 2004. p. 74-75. v. 1.
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1 A palavra que, nas cinco primeiras estrofes, tem a mesma classificação morfoló-
gica e desempenha a mesma função sintática.
a) Qual a classificação morfológica do que nessas estrofes? Que termo é retoma-
do por essa partícula em todas as suas ocorrências?
O que, nas cinco primeiras estrofes, classifica-se como pronome relativo e
b) Qual a função sintática exercida por esse termo nas estrofes referidas?
Nas cinco primeiras estrofes, o pronome relativo que exerce função sintática de
BROWNE, Dik. O melhor de Hagar o Horrível. Porto Alegre: L&PM, 1997. p. 55.
interrogativo.
pois introduz uma oração subordinada substantiva objetiva direta (que eu não
sou feminina).
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Leia a tira a seguir para responder às questões 4 e 5.
Laerte
LAERTE. Deus segundo Laerte. São Paulo: Olho dÁgua, 2002. p. 49.
4 Na tira apresentada, Deus diz a três anjos da guarda que precisa de voluntários
para o plantão de carnaval. O que, no contexto da tira, permite afirmar que essa
não é uma tarefa desejada pelos anjos?
O fato de os dois primeiros imediatamente apresentarem motivos para não
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
desculpa para não ser incumbido da tarefa. Como não consegue pensar com
“voluntário”.
5 A tentativa do terceiro anjo de apresentar uma “desculpa” para não ser voluntá-
rio é revelada pela repetição do termo que.
a) Como se classifica morfologicamente o termo na frase iniciada pelo anjo no
segundo quadrinho?
O termo se classifica como preposição, pois equivale a de (eu tenho de...).
segundo quadrinho, afirmando que tem “que aprender a pensar mais rápido!”.
Como ele não foi rápido o bastante para pensar em uma desculpa para não ser
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Retomada dos conceitos Professor: Consulte o Banco de Questões e incentive
os alunos a usar o Simulador de Testes.
2 (UFRN) Justifique por que razão, nos períodos abaixo transcritos, as orações
adjetivas em destaque estão construídas de forma diferente: no primeiro caso,
sem preposição antes do pronome relativo; no segundo caso, com preposição
antes do referido pronome.
2o Caso
Na opinião dos que são contra o desarmamento, as armas, a que tanto
se visa, poderiam servir como instrumento de defesa dos cidadãos.
caso, funciona como sujeito da oração adjetiva, não sendo, portanto, regido por
no segundo caso, funciona como objeto indireto e é regido pelo verbo visar, o que
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4 (Ufla-MG)
b) que (há)
O que é pronome substantivo interrogativo.
6 (UFPB) No verso: “Ao coração que sofre, separado...”, o vocábulo que refere-se ao O vocábulo que, na
termo antecedente. Observa-se esta mesma relação em: alternativa assinala-
da, é um pronome
a) “Não me basta saber que sou amado.” relativo e retoma o
termo antecedente
b) “... no exílio em que a chorar me vejo.” (no exílio).
c) “Não há que a terra pelo céu trocar.”
d) “Não digo que já lhe coubesse a primazia da beleza.”
e) “Meu pai, logo que teve aragem dos onze contos, sobressaltou-se deveras.”
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Capítulo 2 Funções do se
1 Introdução
Reprodução
1 A que tipo de público se destina o produto anunciado? Por que se espera que o
conteúdo do produto chame a atenção desse público?
O produto anunciado (uma revista que se intitula Empreendedores) é destinado
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c) O enunciado em destaque na peça publicitária confirma a expectativa gerada
por essa ideia? Explique.
Não. A pergunta que se segue ao dito – “R$ 5,90 tá bom pra você?” – revela
necessariamente bons.
(R$ 5,90) nos remete imediatamente ao foco da revista, que gira em torno dos
Se conselho fosse bom, não era dado por ninguém, mas vendido.
Se conselho fosse bom, a gente não dava, mas vendia.
da ação indicada por esses verbos, diferentemente do que ocorre nos casos em
que o se é excluído.
4 Que vocábulo poderia substituir o se que introduz o enunciado, sem que a es-
trutura e o conteúdo semântico do dito sejam afetados?
O vocábulo seria caso: Caso conselho fosse bom, não se dava, vendia-se.
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a) A que classe pertence esse elemento?
No contexto em questão, a palavra caso é uma conjunção condicional.
b) O se que introduz o dito tem a mesma natureza das outras duas ocorrências
de se? Explique.
Não. As duas outras ocorrências de se não podem ser substituídas pela
por um verbo.
Se em locuções
2 Se em função conectiva
conjuntivas
Em função conectiva, se pode corresponder a uma conjunção subordinativa
Se aparece em al-
gumas locuções
integrante ou a uma conjunção subordinativa de valor condicional.
conjuntivas su-
bordinativas do
português: como 2.1 Conjunção subordinativa integrante
se, salvo se, ainda
se, nem se, mesmo
O se pode introduzir orações subordinadas que exercem qualquer uma das
se, dentre outras. funções sintáticas substantivas, caso em que se classifica como conjunção subordi-
nativa integrante. Observe o uso de se na tira a seguir.
2009 King Features Syndicate/Ipress
Figura 2. RECHIN, Bill; WILDER, Don. A Legião. Jornal da Tarde, São Paulo, 4 maio 2005.
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acerca do que se mostra importante em uma mulher é tão superficial quanto à da
personagem por ela criticada no primeiro quadrinho.
Professor: Se achar
se seus sapatos e suas roupas combinam, ou” oportuno, explique
a seus alunos que, se
fossem diretamente
“Vocês deviam olhar ligadas ao verbo olhar,
as coisas importantes as orações da tira intro-
numa mulher. Tipo... duzidas por se seriam
classificadas como su-
bordinadas substanti-
se ela usou brilho labial demais” vas objetivas diretas: ...
olhar se seus sapatos e
suas roupas combinam
conjunção subordinativa integrante: na tira, ou se ela usou brilho la-
bial demais.
introduz orações subordinadas substantivas
apositivas, que trazem informações
relacionadas ao complemento do verbo olhar
(“as coisas importantes numa mulher”)
Oração subordinada
Exemplos
substantiva
Se o governo irá ou não subsidiar os agricultores é algo que
Subjetiva
ainda não foi decidido.
Não sabemos se o governo dará algum subsídio para os agricul-
Objetiva direta
tores prejudicados pelas enchentes.
Não decidimos nada sobre se vamos ou não viajar durante as
Objetiva indireta
férias.
Ainda estamos em dúvida sobre se vamos ou não viajar durante
Completiva nominal
as férias.
O xis da questão é se o governo realmente terá condições de
Predicativa
manter o controle da inflação.
Isto é algo que todos querem saber: se o governo terá ou não
Apositiva
condições de controlar a inflação.
Professor: Lembre-se
Que e se na introdução de orações subordinadas substantivas de que, nos casos em
que a oração subor-
Como conjunções integrantes, que e se têm efeitos diferenciados sobre o sentido da ora- dinada substantiva
ção. Nas estruturas que admitem as duas conjunções, o emprego de que confere certeza introduzida por que
ao conteúdo da oração subordinada substantiva, enquanto o emprego de se serve à ex- apresenta um verbo
pressão da dúvida. Compare. no subjuntivo, o seu
conteúdo geralmente
Eu não vi que o livro estava sobre a mesa. não serve à expressão
Eu não vi se o livro estava (ou não) sobre a mesa. de certeza: Eu prefiro
que as crianças viajem
Os meninos precisam dizer que vêm para a festa. no verão. Eu detesto que
Os meninos precisam dizer se vêm (ou não) para a festa. usem as minhas roupas
sem a minha permissão.
Já foi decidido que a reunião será no salão principal. Os alunos querem que os
Ainda não foi decidido se a reunião será (ou não) no salão principal. professores façam uma
revisão antes da prova.
Temos certeza disto: que o nosso time vai conseguir voltar para a primeira divisão.
Temos dúvida sobre isto: se o nosso time vai (ou não) conseguir voltar para a primeira divisão.
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2.2 Conjunção subordinativa condicional
Quando empregada para introduzir uma oração subordinada que corresponde
a um adjunto adverbial de condição, a conjunção se é denominada subordinativa
condicional. Observe a tira a seguir.
oração subordinada
adverbial condicional
conjunção subordinativa
condicional: introduz uma
oração que funciona como
adjunto adverbial de condição
do predicado com a locução
“posso marcar”
Se caso
É frequente, em algumas variedades do português do Brasil, o uso da conjunção caso
juntamente com a conjunção se, formando a locução se caso. Como ambas apresentam
valor condicional, o emprego de uma e outra na introdução de uma mesma oração é
claramente desnecessário e deve ser evitado em contextos de uso formal da língua. Veja
os exemplos.
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3 Se como pronome
3.1 Pronome reflexivo e recíproco
Como pronome reflexivo, se funciona como complemento (objeto direto ou
indireto) de um verbo transitivo. O referente de se, nesse caso, é o mesmo que o
do termo que funciona como sujeito da oração. Observe a tira.
Figura 4. DAVIS, Jim. Garfield. Folha de S.Paulo, São Paulo, 9 maio 2005.
Os dois se odeiam.
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lembre-se!
Além de se, outros pronomes átonos podem ocorrer como reflexivos e recíprocos (no
caso de nos). Veja alguns exemplos:
Nós nos machucamos com frequência.
Eu me cortei.
Tu não te amas.
Decidi dar um presente para mim mesmo.
No português brasileiro coloquial, contudo, tem sido cada vez mais frequente o uso de
se em lugar de outras formas pronominais átonas com interpretação reflexiva ou recí-
proca, como nos exemplos a seguir. Esses casos ainda não são aceitos pelo padrão nor-
mativo e devem, por isso, ser evitados na linguagem formal.
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Se como pronome apassivador Professor: No módu-
l o Termos essenciais
da oração ( C a p í t u l o
Na situação em que se corresponde a um pronome apassivador, o verbo da 1 – item 5.3), fazemos
oração deve ser transitivo direto e concordar em número com o termo que, na voz comentários sobre o
ativa, funcionaria como objeto direto. Considera-se, nesse caso, que o verbo se verdadeiro estatuto da
voz passiva sintética no
encontra na voz passiva sintética. Veja alguns exemplos: português brasileiro e
no português europeu.
Concluiu-se a reunião sem que as partes tenham chegado a um acordo.
Após o expediente, fez-se uma pequena homenagem ao aniversariante.
Recusaram-se as inscrições dos candidatos cuja documentação estava incompleta.
Venderam-se todos os carros da concessionária.
No litoral sul do Rio de Janeiro, alugam-se muitas casas de veraneio.
Toda semana, extraviam-se mais de dez livros da biblioteca.
De acordo com a gramática normativa, esses enunciados devem receber uma
interpretação passiva, a mesma que conferimos às construções em que o verbo se
encontra na voz passiva analítica, como nos casos a seguir.
A reunião foi concluída sem que as partes tenham chegado a um acordo.
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Figura 5. HART, Johnny. AC. Jornal da Tarde, São Paulo, 1o set. 2004.
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Veja a seguir outros casos de se como índice de indeterminação. Observe que o
verbo é necessariamente realizado na terceira pessoa do singular, não concordando
com nenhum termo da oração.
Não se pode decidir pela condenação dos acusados na ausência de provas.
Durante a assembleia, optou-se pela votação dos temas mais polêmicos.
Na minha família, não se pode dormir sem a bênção dos mais velhos.
Não se entra em casa de estranhos sem prévia autorização.
Quando se é feliz, tudo dá certo.
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3.4 Sujeito de oração reduzida
O se pode funcionar como sujeito de uma oração reduzida que serve à comple-
mentação de um verbo transitivo direto, como no exemplo a seguir.
oração subordinada substantiva objetiva direta
reduzida de infinitivo: complemento do verbo deixar
No português brasileiro, principalmente na língua escrita, tem sido cada vez mais fre-
quente o emprego de se em orações reduzidas de infinitivo com sujeito indeterminado
ou que servem à expressão da voz passiva, fato que segue na contramão da tendência à
supressão de se em outras estruturas da língua. Você certamente já deve ter visto cons-
truções como as seguintes:
Para se dirigir um automóvel, é preciso se conseguir uma carteira de habilitação.
Para se viver muitos anos, ter qualidade de vida é algo essencial.
A necessidade de se manter boas relações com o mundo árabe tem sido uma preocupação
da comunidade europeia.
O emprego de se em tais contextos, seja para expressar voz passiva, seja para indicar
indeterminação do sujeito, é desaconselhado pelas gramáticas normativas. Observe
que a ausência de se nessas orações infinitivas não traz qualquer prejuízo à estrutura
do enunciado:
Para dirigir um automóvel, é preciso conseguir uma carteira de habilitação.
Para viver muitos anos, ter qualidade de vida é algo essencial.
A necessidade de manter boas relações com o mundo árabe tem sido uma preocupação da
comunidade europeia.
Vende frango-se
Alguém encontrou esta pérola escrita em frente a um mercadinho de um
morro do Rio: “Vende frango-se”. É poesia? Piada? Apenas mais um erro de
português? É a vida e ela é inventiva. Eu, que estou sempre correndo atrás
de algum assunto para comentar, pensei: isso dá samba, dá letra, dá crônica.
Vende frango-se, compra casa-se, conserta sapato-se.
Prefiro isso aos “q tc cmg?” espalhados pelo mundo virtual, prefiro a ingenui-
dade de um comerciante se comunicando do jeito que sabe, é o “beija eu” dele.
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Vende carne-se, vende carro-se, vende geleia-se. Não incentivo a ignorância,
apenas concedo um olhar mais adocicado ao que é estranho a tanta gente, o nos-
so idioma. Tão poucos estudam, tão poucos leem, queremos o quê? Ao menos
trabalham, negociam, vendem frangos, ao menos alguns compram e comem e os
dias seguem, não importa a localização do sujeito indeterminado. Vive-se.
Talvez eu tenha ficado agradecida por esse senhor ou senhora que se anun-
ciou de forma errônea, porém inocente, já que é do meu feitio também trocar
algumas coisas de lugar, e nem por isso mereço chicotadas, ao contrário: o
comerciante do morro me incentivou a me perdoar. Esquecer o nome de um
conhecido, não reconhecer uma voz ao telefone, chamar Gustavos de Olavos,
confundir os verbos e embaralhar-se toda para falar: sou a rainha das gafes, dos
tropeços involuntários. Tento transformar em folclore, já que falta de educação
não é. Conserta destrambelhada-se. Eu me ofereço como cliente. Quem não?
Sabemos todos como é constrangedor não acertar, mas lá do alto do seu boteco,
ele nos absolve. Ele, o autor de um absurdo, mas um absurdo muito delicado.
Vende frango-se, e eu acho graça, e achar graça é uma coisa boa, sinal de
que ainda não estamos tão secos, rudes, patrulheiros, ainda temos grandeza
para promover o erro alheio a uma inesperada recriação da gramática, fica eleito
ao verbo vender.
algo tão estranho a muita gente: o nosso idioma. Segundo Martha Medeiros,
achar graça do erro cometido pelo comerciante é um sinal de que “ainda não
estamos tão secos, rudes, patrulheiros, ainda temos grandeza para promover o
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c) Segundo a autora, qual seria a explicação para que “erros gramaticais” sejam
cometidos pelos falantes de nosso idioma?
Segundo a autora, os “erros” gramaticais cometidos por muitos falantes se
poucos estudam, tão poucos leem”). Por isso, ela avalia o equívoco cometido
afirmando que algo que seria visto como erro do ponto de vista normativo
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
2 Releia.
do sujeito. Por isso a autora se refere a esse tipo de sujeito em seu texto, embora
a construção que deu origem à crônica (Vende frango-se) não seja um exemplo
partícula se: o pronome (se) está associado a verbo intransitivo (vive), atuando,
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Joaquín Salvador Lavado (quino) Toda Leia atentamente a tira abaixo para responder à questão 3.
Mafalda – Martins Fontes, 1991
pronominal lembrar.
b) Que função sintática é exercida pelo se em cada uma de suas ocorrências, con-
siderando a sua classificação morfológica em cada caso?
Na primeira ocorrência, como o se é um conectivo que introduz uma oração
O se sem prazer
Um prêmio para quem descobrir a função do se no título publicado num
suplemento literário: “Como se evitar a decomposição de um país”. Dessa
espécie de se inútil, que se gruda como craca no infinitivo preposicionado,
há exemplos diários nos jornais e revistas, às vezes em bons textos. Parece
que os autores querem personalizar uma ação que não precisa ser persona-
lizada e então lá vem ele: “... é muito importante se ter consciência disso”,
“... era preciso estender esse processo para se transmitir...”, “... a necessidade
de se chamar a atenção...”, “... coisas interessantes para se ler...”, “... para se
assistir com prazer...”, “... não havia razão para se acreditar...”, “... o perigo a
se evitar...”, “... amontoados para se fazer uma fogueira...”.
[...] É só cortar o se inútil [...] para ter frases limpas e claras (não “para
se ter”). Basta lembrar que o infinitivo preposicionado já tem valor passivo,
por isso rejeita o se: “osso duro de roer” é igual a “osso duro de ser roído”.
MACHADO, Josué. Manual da falta de estilo. São Paulo: Best Seller, 1994. p. 30.
34
4 Josué Machado faz uma crítica ao uso do se em determinados contextos, afir-
mando que o vocábulo, nesses casos, é inútil.
a) Que caso, segundo o autor, exemplifica bem essa “espécie de se inútil”?
Segundo Machado, um caso recorrente de se “inútil” é aquele “que se gruda
b) Explique por que esse se seria inútil, considerando o que você aprendeu sobre
as funções desse termo neste capítulo.
O se é inútil, neste caso e nos exemplos citados pelo autor, porque não tem
função: não é um objeto direto, não é partícula apassivadora, não pode ser
c) Qual a hipótese levantada por Josué Machado para explicar esse uso inade-
quado do se “em jornais e revistas, às vezes em bons textos”?
Machado acredita que esse se ocorre porque “os autores querem personalizar
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Modo de Preparo
Numa panela funda, colocar a água, o adoçante, o suco de laranja, o
cravo, a canela e o anis-estrelado. Deixar ferver por 15 minutos. Juntar
os pedaços de abóbora na calda e cozinhar por 20 minutos. Desligar o
fogo e deixar na panela por 12 horas.
Depois, colocar em uma compoteira. Levar à geladeira por aproxima-
damente 1 hora, antes de servir.
(Lucília Diniz, Doces Light. Adaptado.)
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O texto está redigido no infinitivo, visando a não identificar, individualmente, as
pessoas que devem praticar essas ações.
a) Redija esse texto utilizando o imperativo, para o mesmo efeito.
Usando o pronome você, mais comum em português, temos a seguinte versão:
O trecho apresenta o 3 (PUC-SP) A partir dos seguintes trechos “...e nunca mais se soube o que era blas-
pronome se exercen-
do a função de partí- fêmia... / dentro dos sons movem-se cores...” assinale a alternativa correta.
cula apassivadora na
voz passiva sintética
a) o pronome átono se exerce a função de partícula apassivadora na voz passiva
ou pronominal. analítica.
b) o pronome átono se exerce a função de partícula apassivadora na voz passiva
pronominal.
c) o pronome átono se exerce a função de partícula apassivadora na voz ativa.
d) o pronome átono se é parte integrante do verbo.
e) o pronome átono se exerce a função de pronome reflexivo.
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4 (FGV-SP) O pronome se tem o mesmo significado e a mesma função nas frases
abaixo? Explique.
exerce a função sintática de objeto direto do verbo ferir. Na última frase (“Romualdo
e não exerce nenhuma função sintática. O sentido do pronome, portanto, varia nas
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5 (Faap-SP)
um infinitivo.
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Para saber mais
Usos das funções do que
É possível verificar, em qualquer texto, oral ou escrito, várias ocorrências da pala-
vra que com diferentes classificações morfológicas e desempenhando funções sintá-
ticas diversas. No texto abaixo, destacamos todas as ocorrências do que para indicar
algumas das classes de palavras que esse termo pode representar. Observe.
O resultado
No princípio Deus criou os céus e a terra. À parte sólida, chamou terra, e
ao conjunto das águas, chamou mar.
E Deus viu que isso era bom. [...]
E disse: “Faça-se a luz.” E a luz foi feita.
E Deus viu que a luz era boa e separou a luz das trevas. [...]
Criou, então, todos os seres vivos que se movem nas águas e na terra, e
as aves.
E Deus viu que isso era bom.
A seguir, Ele criou o homem à sua própria imagem e disse: “Não é conve-
niente que o homem esteja só; vou dar-lhe uma companheira semelhante a ele”.
Então, criou a mulher. “Crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a terra.”
E se pudesse avaliar o resultado agora, bilhões e bilhões de anos depois
[...], dificilmente Deus veria que isso era bom.
Mesmo com toda a Sua boa vontade. [...]
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Professor: O objetivo
Como é que Deus ia adivinhar que os homens seriam tão trapalhões em desta atividade é ga-
rantir que os alunos
questões como justiça social, saúde e educação para todos, e a população ia consigam identificar
acabar nessa miséria? E a falta de consciência ecológica, e os problemas de a classificação morfo-
saneamento básico, e as praias lotadas, e os engarrafamentos, e a violência, lógica e a função sin-
tática exercida pela
e as filas, e as favelas? palavra que em todas
Não. Deus não era adivinho. as suas ocorrências
no texto escolhido
Quando deduziu que não era conveniente deixar o homem sozinho e por eles. Acreditamos
criou a tal companheira para o coitado, Ele não podia prever que mulher que, assim, os alunos
consigam compreen-
gosta de discutir a relação, adora fazer compras no shopping e chora por der que esse termo
tudo. Por isso, talvez, Ele não predisse: tentarás fugir desse inferno que não só pode repre-
virou a tua vida, pedirás o divórcio, mas o advogado dela exigirá até o teu sentar diferentes
classes de palavra,
último centavo. mas também que a
Por outro lado, Deus ordenou à mulher: “Procurarás compaixão a quem função sintática por
ele exercida está di-
serás sujeita, o teu marido”, sem prevenir que ela estaria sujeita a um sujeito retamente associada
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
tão complicado e [...] sem determinar se ela precisava se sujeitar inclusive ao à sua classificação
sapato dele no meio da sala. morfológica em um
dado contexto de
FALCÃO, Adriana. O doido da garrafa. São Paulo: Planeta, 2003. p. 57-60. ocorrência. Portanto,
no momento de
avaliar o resultado
conjunção integrante pronome relativo partícula expletiva da atividade, é im-
portante observar se
os alunos foram ca-
Observe que, no texto transcrito, nas suas várias ocorrências, a palavra que pazes de identificar
representa diferentes classes gramaticais e nem sempre desempenha a mesma corretamente não só
função sintática. a classe morfológica
a que pertence o que,
Veja que, em todas as ocorrências em que a palavra se classifica como conjun- mas também a fun-
ção integrante, ela tem a função de conectivo e introduz orações subordinadas ção exercida por ele
no contexto em que
substantivas. Em “[Não é conveniente] que o homem esteja só...”, o que introduz ocorre.
uma oração subordinada substantiva subjetiva; nas demais ocorrências, as orações
introduzidas pelo que são substantivas objetivas diretas.
Nas ocorrências observadas em “[os seres vivos] que se movem nas águas e na
terra” e “[desse inferno] que virou a tua vida”, o que é um pronome relativo, que
funciona, sintaticamente, no primeiro enunciado, como sujeito e, no segundo,
como predicativo do sujeito de orações subordinadas adjetivas restritivas.
Por último, no enunciado “Como é que Deus...”, o que é classificado como
partícula expletiva, e, como tal, não exerce função sintática específica. Por isso,
pode ser retirado do enunciado sem que se prejudique o seu sentido (“Como Deus
ia adivinhar...”).
As diversas classes representadas pela palavra que e as diferentes funções que
ela pode desempenhar em suas ocorrências são explicadas pelo fato de que, em-
bora o termo em questão seja o mesmo, o seu funcionamento, na língua, varia de
acordo com o contexto em que ele ocorre.
Da teoria à prática
Você deverá escolher um pequeno texto e destacar, como fizemos com o texto
de Adriana Falcão, todas as ocorrências da palavra que, identificando, em cada uma
delas, a classe morfológica a que esse termo pertence e a função por ele exercida
no contexto em que ocorre.
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Navegando no módulo
COORDENATIVA
CONJUNÇÃO
INTEGRANTE
SUBORDINATIVA
Advérbio
ADVERBIAL
preposição RELATIVO
INDEFINIDO
INTERJEIÇÃO
PARTÍCULA EXPLETIVA
OU DE REALCE
REFLEXIVO
SE
RECÍPROCO
ÍNDICE DE
PRONOME
INDETERMINAÇÃO
APASSIVADOR
INTEGRANTE DO VERBO
PARTÍCULA EXPLETIVA
OU DE REALCE
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