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22

módulo
gramática professor
Abaurre • Pontara • Avelar

QUESTÕES SINTÁTICAS
PARTICULARES (I)

Fábio Ventura
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

1
CAPÍTULOs

Funções do que
2 Funções do se

1 • 2 • 3 • 4 • 5 • 6 • 7 • 8 • 9 • 10 • 11 • 12 • 13 • 14 • 15 • 16 • 17 • 18 • 19 • 20 • 21 • 22 • 23 • 24 1
QUE e SE
Neste módulo, você vai conhecer os itens
vocabulares que se realizam sob as formas de
que e se. É importante reservar um espaço ao
estudo desses itens porque, como realizações
de diferentes morfemas gramaticais, que e
se estão na base de várias relações sintático-
-semânticas estabelecidas entre partes do
enunciado. Aprender a identificar os
diferentes casos de que e se certamente
ajudará você a caracterizar adequadamente
essas relações e a reconhecer, por exemplo, as
estruturas em que um e outro correspondem
a pronomes ou a conjunções.

Professor: Consulte o Plano de Aulas. As orientações pedagógicas


Objetivos e sugestões didáticas vão facilitar o seu trabalho
com os alunos.
Ao final deste módulo, você deverá ser capaz de:
■ identificar a natureza dos diferentes elementos
que se realizam sob as formas de que e se;
■ reconhecer os tipos de conjunção que podem
ocorrer como que e como se;
■ reconhecer os tipos de pronome que podem
ocorrer como que e como se.
Capítulo 1 Funções do que

1 Introdução
Leia a tira a seguir para responder às questões de 1 a 4.

2009 United Media/Ipress

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.


Figura 1. THAVES, Bob. Frank & Ernest. Jornal da Tarde, São Paulo, 29 jan. 2005.

1 Se o título da tira (“Teorias econômicas”) não fosse apresentado, que itens voca-
bulares nos ajudariam a concluir que a situação retratada consiste em uma aula
sobre algum tema em economia?
Os itens vocabulares são o adjetivo barato, o verbo exceder e os substantivos oferta

e procura, que, quando associados, naturalmente nos remetem ao campo de

“teorias econômicas”.

2 Qual seria a resposta esperada para a pergunta sobre o significado da expressão


“falar é barato”?
A expressão “falar é barato” significa que falar é algo simples, natural, pelo qual não

é preciso pagar.

3 Que interpretação pode ser conferida, na tira, à resposta que foi dada?
Considerando-se o conteúdo da pergunta, a afirmação de “que a oferta

sempre excede a procura” pode ser interpretada como “as pessoas falam

mais do que o necessário”, ou “há mais pessoas dispostas a falar do que

a ouvir”.

4
4 Os dois enunciados da tira são introduzidos por vocábulos idênticos quanto à
forma: “que significa...”, “que a oferta...”. Esses vocábulos, contudo, desempe-
nham funções gramaticais distintas.
a) Considerando-se as funções sintáticas que você aprendeu ao estudar os ter-
mos essenciais, integrantes e acessórios da oração, qual é o papel exercido
pelo que no primeiro enunciado? A que termo da oração ele se subordina?
No primeiro enunciado, que é um termo integrante que exerce a função de

objeto direto. O termo da oração a que ele se subordina é o verbo significa,

núcleo do predicado.

b) O que do segundo enunciado desempenha uma função conectiva. Que ele-


mentos são conectados por meio desse vocábulo? Do ponto de vista sintático,
essa conexão é coordenativa ou subordinativa? Explique.
No segundo enunciado, que conecta a oração por ele introduzida ao verbo

significa, que aparece realizado no primeiro enunciado: “... (significa) que a


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oferta sempre excede a procura”. Essa conexão cria uma relação subordinativa,

por meio da qual a oração introduzida por que passa a funcionar como

complemento (objeto direto) de significar.

c) No que diz respeito à função sintática, o que há em comum entre o que do


primeiro enunciado e a oração introduzida pelo que do segundo enunciado?
O que do primeiro enunciado e a oração por meio da qual se expressa o

segundo enunciado desempenham a função sintática de objeto direto do

verbo significar.

d) O que do primeiro enunciado e o que do segundo enunciado pertencem à


mesma classe de palavras? Justifique.
Não. O que do primeiro enunciado corresponde a um pronome, enquanto o

que do segundo é uma conjunção.

e) Que raciocínio você desenvolveu para responder à questão anterior?


Qualquer que seja a resposta apresentada, espera-se que o aluno contemple o fato

de o primeiro que mostrar um estatuto nominal, característico dos pronomes.

É possível chegar a essa conclusão pelo reconhecimento das categorias que, na

função de objeto direto, podem ser regidas pelo verbo significar (um termo nominal

ou uma oração). Quanto ao segundo que, espera-se que o aluno reconheça na

função conectiva a base para a caracterização desse elemento como uma conjunção.

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É comum que vocábulos com significados diferentes e/ou pertencentes
a classes distintas apresentem formas idênticas. É o caso, por exemplo, de
manga, forma que pode corresponder à realização de diferentes substantivos
(fruto da mangueira; parte de vestimentas que serve para recobrir o braço)
ou de um verbo (flexão do verbo mangar na 3 a pessoa do singular no presen-
te do indicativo).
No caso da tira que você acabou de analisar, o que do primeiro enunciado
pertence a uma classe diferente daquela em que se insere o que do segundo
enunciado.
No primeiro enunciado, que é um pronome interrogativo e faz parte da
mesma classe de qual e quem. Como os outros pronomes interrogativos, sua
função é reportar a algo de que se busca identificar um referente, seja um
ser, um fato ou uma ideia. No caso da tira, esse referente é o significado da
expressão “falar é barato”, acerca do qual o professor indaga seus alunos.
Embora se realize no início da oração, esse pronome funciona como comple-
mento do verbo significar.
Professor: Pelo menos
no português brasilei- “Que significa a expressão ‘falar é barato’?”

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ro, o pronome interro-
gativo que, quando em
função substantiva, é pronome interrogativo: termo que
sempre realizado em na tira, exerce a função corresponde ao sujeito
início de enunciado se de objeto direto do verbo significar
o seu regente for um
verbo transitivo direto.
Dizemos Você gosta de No segundo enunciado, que é um item que introduz uma oração subordinada
quê?, mas não Você ado-
ra quê? A locução pro- substantiva objetiva direta, conectando-a ao seu regente, o verbo significar. Nessa
nominal interrogativa função, que deve ser classificado como uma conjunção integrante.
o que, em variação com
que, pode ser realizada
em outra posição que (significa) “que a oferta sempre excede a procura”
não a inicial: Você adora
o quê? / O que você ado-
ra? Se achar oportuno,
chame a atenção dos conjunção integrante: oração subordinada
seus alunos para esse introduz o termo oracional substantiva objetiva
contraste. que funciona como direta: complementa
complemento (objeto o verbo significar
direto) do verbo significar

Neste capítulo, você irá estudar os morfemas gramaticais que, no português, se


realizam como que. Apesar de apresentar a mesma forma, esses morfemas corres-
pondem a vocábulos que pertencem a classes diferentes e, dentro de um sintagma
ou de uma oração, desempenham funções sintáticas distintas.
No capítulo seguinte, você irá estudar os morfemas realizados como se, que
também pertencem a classes diferentes.

lembre-se!
Professor: Se achar Os morfemas gramaticais são definidos em oposição aos morfemas lexicais. Enquanto
necessário, explique
aos alunos que, quan-
estes reportam a algum conceito ou referente no universo extralinguístico, aqueles trazem
do corresponde a um uma informação de base gramatical (estabelecem relações entre palavras ou marcam ca-
substantivo ou a uma tegorias como gênero, número, pessoa, tempo, modo etc.). Em um verbo como cantáva-
interjeição, que deve mos, por exemplo, o radical cant- é um morfema lexical, enquanto as desinências -a, -vá e
ser analisado como um -mos são morfemas gramaticais.
morfema lexical, uma
vez que reporta a um Os pronomes e as conjunções que se realizam nas formas de que e se, estudados neste e no
significado no universo próximo capítulo, são morfemas gramaticais.
extralinguístico.

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2 Que em função conectiva
No papel de conector, que pode corresponder a uma conjunção coordenativa ou
subordinativa. Como conjunção coordenativa, serve à ligação de termos entre os
quais não se estabelece nenhuma função sintática. Como conjunção subordinativa, ao
contrário, as relações intermediadas por que resultam em dependência sintática, com
um dos termos conectados exercendo uma função sintática em relação ao outro.

Que aparece em várias locuções conjuntivas do português, tanto coordenativas quanto


subordinativas: visto que, posto que, ainda que, uma vez que, desde que, por mais que, para
que, a fim de que, antes que, depois que etc.

2.1 Conjunção coordenativa


Como conjunção coordenativa, que geralmente é usado para introduzir uma
oração coordenada explicativa, caso em que pode ser empregado em lugar das
conjunções porque e pois, como nos seguintes exemplos:
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Não pude ir ao cinema, que (= porque/pois) eu estava bastante ocupado.


Os meninos devem ter dormido, que (= porque/pois) há um silêncio enorme na casa.
Seja honesto com você mesmo, que (= porque/pois) isso será importante para a sua
realização pessoal.
As crianças provavelmente contraíram alguma virose, que (= porque/pois) elas es-
tavam com febre alta e tossindo bastante.

Que também pode equivaler às conjunções e e ou, aparecendo em relações de


coordenação aditivas e alternativas, respectivamente.

Os viandantes caminhavam que (= e) caminhavam, até que, cansados, chegaram a


uma estalagem.
Um que (= ou) outro inseto, atraído pelo brilho da luz, entrava pela janela aberta.

2.2 Conjunção subordinativa


Como conjunção subordinativa, que introduz orações subordinadas substanti-
vas e adverbiais.

Introdução de orações substantivas


Quando introduz uma oração subordinada substantiva, conectando-a a outro
termo, que é tradicionalmente chamado de conjunção integrante. Esse é o caso
das duas ocorrências de que na tira a seguir.

lembre-se!

Oração subordinada substantiva é aquela que exerce qualquer uma das funções sintáti-
cas ditas substantivas: sujeito, objeto direto, objeto indireto, complemento nominal, pre-
dicativo e aposto. Essas funções são chamadas substantivas porque, no período simples, o
núcleo do termo que as exerce é geralmente um substantivo ou um item substantivado.

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Figura 2. RECHIN, Bill; WILDER, Don. A Legião. Jornal da Tarde, São Paulo, 12 mar. 2003.

No primeiro quadrinho, as ocorrências de que servem para introduzir uma ora-


ção subordinada substantiva subjetiva (que exerce a função de sujeito) e uma oração
Professor: Observe subordinada substantiva objetiva direta (que exerce a função de objeto direto).
que, na primeira parte
do período no primeiro oração subordinada substantiva subjetiva
quadrinho, o predicado
da oração principal é
nominal, pois tem como “Claro que eu nunca mandaria”
núcleo um adjetivo (cla-

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ro). Chame a atenção
dos seus alunos para o
conjunção integrante: introduz uma
apagamento do verbo
de ligação nessa oração oração substantiva que exerce a
(“claro que eu nunca...” função de sujeito do predicado claro
em lugar de é claro que
eu nunca...). No por-
tuguês brasileiro, são oração subordinada substantiva objetiva direta
bastante comuns os
casos em que o verbo
de ligação é apagado “eu nunca mandaria que desligassem os seus aparelhos de suporte de vida”
quando o sujeito (ora-
cional ou não oracional)
é posposto ao predica-
conjunção subordinativa integrante: introduz
do. Veja outros exem-
plos: (É) evidente que eu uma oração substantiva que exerce a função de
vou viajar na próxima complemento (objeto direto) do verbo mandar
semana; (Estava) uma
delícia aquele bolo; (É)
impossível sair cedo do Veja outros exemplos de que como conjunção integrante, na introdução dos
trabalho; (Foi) excelente
a nota que você tirou; (É) diferentes tipos de oração subordinada substantiva.
uma chatice aquele fil-
me. O predicado dessas
construções poderia, Oração subordinada
Exemplos
em certos contextos, substantiva
ser usado com valor in-
terjetivo, caso em que Surpreendeu a todos que aquele time de jogadores desconheci-
Subjetiva
ocorreria sem qualquer dos tenha chegado à final do campeonato.
termo que lhe fosse
subordinado: Claro!;
Evidente!; Uma delícia!; Objetiva direta Queremos que todos os alunos tenham sucesso na avaliação.
Impossível!; Excelente!;
Uma chatice!
Objetiva indireta Não se esqueça de que a avaliação final é na próxima semana.

A notícia de que o problema será logo resolvido trouxe esperan-


Completiva nominal
ça aos moradores do bairro.
A verdade é que a maioria dos políticos se esquece de suas
Predicativa
principais promessas.
Toda a sociedade deseja isto: que os políticos honrem os votos
Apositiva
conquistados nas urnas.

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Introdução de orações adverbiais
Entre as orações subordinadas adverbiais, que é frequentemente observado na
introdução de orações com valor comparativo e consecutivo. Em tais casos, a con-
junção é chamada de subordinativa comparativa e subordinativa consecutiva,
respectivamente.

lembre-se!

Oração subordinada adverbial é aquela que exerce a função de adjunto adverbial.

■■ Que como conjunção subordinativa comparativa.

Observe a tira.

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Figura 3. RECHIN, Bill; WILDER, Don. A Legião. Jornal da Tarde, São Paulo, 26 jan. 2005.

Nessa tira, uma das ocorrências de que introduz uma oração subordinada adver- Professor: No estudo
das orações adverbiais,
bial comparativa: “... do que construir uma ponte?”. O efeito de humor relaciona- considera-se geralmente
-se diretamente com o conteúdo dessa oração, uma vez que a existência de uma que as orações compara-
tivas não se apresentam
alternativa à ponte, cuja construção é vista como necessária, se mostra evidente. na forma reduzida. Em
“... do que construir uma
oração subordinada adverbial comparativa ponte”, contudo, vemos
que o verbo logo após a
conjunção é empregado
“um jeito melhor de atravessar do que construir uma ponte?” no infinitivo, o que, à pri-
meira vista, nos levaria a
questionar a ideia de as
conjunção subordinativa adverbiais comparativas
comparativa: introduz uma oração nunca serem reduzidas.
subordinada adverbial comparativa Lembre-se de que, nesse
caso, a oração com o ver-
bo no infinitivo é apenas
parte da oração compara-
No mesmo quadrinho, há uma ocorrência de que como introdutor de uma ora- tiva, cujo predicado (é um
ção subordinada substantiva, caso em que deve ser analisado como uma conjunção jeito melhor de atravessar)
subordinativa integrante. é depreendido do con-
teúdo da oração subor-
dinante. Seguindo essa
oração subordinada substantiva objetiva direta análise, a oração reduzida
de infinitivo corresponde
ao sujeito desse predica-
“Mais alguém aí acha que conhece um jeito melhor” do, o que significa que a
forma do verbo que se
segue à conjunção não
conjunção subordinativa integrante: pode, nesse tipo de ad-
introduz uma oração substantiva verbial comparativa, ser
que exerce a função de complemento a base para sua classifi-
(objeto direto) do verbo achar cação como reduzida ou
desenvolvida.

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■■ Que como conjunção subordinativa consecutiva.

Na tira a seguir, que introduz uma oração subordinada adverbial consecutiva:


“... que temos de economizar ao máximo...”. O efeito de humor está na confir-
mação, no segundo quadrinho, da informação veiculada por meio dessa oração:
em vez do conhecido “Os três mosqueteiros”, a necessidade de economia levou à
compra de “Os dois mosqueteiros”, supostamente mais barato.

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Figura 4. RECHIN, Bill; WILDER, Don. A Legião. Jornal da Tarde, São Paulo, 12 maio 2005.

oração subordinada

adverbial consecutiva

“Nosso orçamento é tão reduzido que temos de economizar ao máximo”

conjunção subordinativa consecutiva:


introduz uma oração subordinada
adverbial que expressa uma consequência
do fato indicado na oração principal

■■ Outros casos.

Registra-se, mais raramente, o emprego de que em outros tipos de oração subor-


dinada adverbial. Veja alguns casos:

• Conjunção Que (= embora, mesmo que) seja essa a explicação, não


subordinativa estou convencido de que ela contenha toda a verdade.
concessiva
• Conjunção Vamos prestar atenção à palestra, que (= para que) não
subordinativa sejamos acusados de falta de interesse pelo assunto.
final

3 Que como pronome


Quando em função pronominal, que pode equivaler a um pronome interrogati-
vo ou a um pronome relativo, bem como modificar substantivos ou termos subs-
tantivados que introduzem enunciados exclamativos. Nesse último caso, costuma
ser classificado como pronome indefinido.

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3.1 Pronome interrogativo
Como pronome interrogativo, que pode apresentar uma função substantiva ou ad-
jetiva. Em função substantiva, ocorre como núcleo de um termo nominal; em função
adjetiva, exerce a função de adjunto adnominal, modificando um substantivo.

Pronome Quando em final


Exemplos:
interrogativo que de enunciado,
■■ Em função Que você pretende comprar com esse dinheiro? que deve receber
acento circun -
■■ substantiva De que as crianças mais precisam no momento? flexo: Estão pen-
Os alunos gostaram de quê? sando em quê?
Descansaram para
Aquele rapaz está estudando para quê? quê? Conversaram
■■ Em função Que livro você pretende comprar com esse dinheiro? por quê?

■■ adjetiva De que remédio as crianças mais precisam no momento?


Os alunos gostaram de que filme?
Aquele rapaz está estudando para que concurso?
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Professor: Explique a
Por que / Por quê seus alunos que, quan-
do introduz uma ora-
Porque ção adverbial final, para
Porquê que corresponde a uma
locução conjuntiva su-
Muitas pessoas têm dificuldades para entender a diferença entre por que e porque. bordinativa final, e não
a uma expressão forma-
Por que é uma locução formada pela preposição por seguida do pronome interrogativo da a partir do pronome
que. Sua constituição, portanto, é a mesma que a das expressões formadas por outras interrogativo que. Seu
preposições junto com o mesmo pronome (para que, em que, de que, com que etc.). Essas estatuto sintático, nesse
expressões são empregadas em enunciados interrogativos. caso, é o mesmo que o
da conjunção porque.
Por que
Para que
Em que você fez o bolo?
De que
Com que
Observe que a expressão interrogativa pode aparecer no final do enunciado, caso em que
o pronome deve ser grafado com acento circunflexo.
por quê?
para quê?
Você fez o bolo em quê?
de quê?
com quê?
Porque é uma conjunção de valor explicativo ou causal. Deve, por isso, ocorrer no início
de orações que apresentam uma explicação ou indicam a causa de algo.
Fiz o bolo porque organizei uma festinha para as crianças.
O avião caiu porque os motores falharam.
Aquele político renunciou porque estava sendo acusado de algo muito grave.
A forma porquê (com acento circunflexo) corresponde a um substantivo, com significado
equivalente a “razão, motivo, explicação”.
O porquê de eu ter feito aquele bolo é um segredo.
Aquele porquê apresentado pelos técnicos a respeito das causas do acidente não convenceu
a imprensa.
Ainda não forneceram um porquê que permitisse explicar a real natureza do problema.

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3.2 Pronome relativo
Como pronome relativo, que introduz uma oração subordinada adjetiva. Observe.

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Figura 5. HART, Johnny. AC. Jornal da Tarde, São Paulo, 20 mar. 2004.

Professor: Nos módulos No primeiro e no segundo quadrinho, que corresponde a um pronome relativo,
intitulados Estudo do introduzindo uma oração subordinada adjetiva e tendo como antecedente, em

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pronome (II), Relações
de sentido no interior do
ambos os casos, o sintagma nominal o cara. Observe que, dentro das orações que
período (II) e Articulação introduz, que exerce a função sintática de sujeito, já que o seu referente (o cara)
dos termos na oração (II), também exerceria a mesma função em relação ao predicado dessas orações.
apresentamos casos nos
quais que é usado em
lugar de outros prono- que inventou a roda ganhou o prêmio de “inventor do ano”.
mes relativos, fato que
geralmente tem efeitos O cara
sobre a manifestação
de marcas associadas que inventou o quebra-molas.
à regência verbal (por
exemplo, A moça que eu
pronome relativo: retoma um termo que lhe serve de
conversei (com ela) em
lugar de A moça com antecedente, exercendo a função sintática que esse
quem eu conversei). Se termo desempenharia dentro da oração subordinada
achar oportuno, reto-
me esses casos com os
seus alunos, chamando
a atenção para o fato de O que: relativo ou interrogativo?
que, na escrita padrão, O pronome que costuma ser antecedido do determinante o, seja no caso em que equivale
o uso generalizado de
que na introdução de
a um relativo, seja quando corresponde a um interrogativo.
orações adjetivas ainda Quando ocorre com o pronome relativo, o determinante é variável (em gênero e núme-
é desaconselhado. ro), podendo se realizar como o(s), a(s). Funciona, nesse caso, como um item demonstra-
tivo que equivale às formas pronominais aquele, aquela, aquilo. Veja a tira.
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Professor: Como exem-


plo de locução em que
uma das partes se torna
invariável, apresente a
seus alunos as locuções
conjuntivas do tipo vis- Figura 6. RECHIN, Bill; WILDER, Don. A Legião. Jornal da Tarde, São Paulo, 12 jan. 2005.
to que, posto que e dado
que, em que as formas
de origem participial No primeiro quadrinho, o pronome que, acompanhado do determinante o, é relativo.
(visto, posto e dado) Observe que, no seu contexto de ocorrência, o determinante pode ser substituído pe-
perdem a possibilidade lo demonstrativo aquilo (Fiz aquilo que o Sr. sugeriu); poderia, ainda, ser flexionado no
de sofrer flexão.

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feminino e/ou no plural, se as especificidades de gênero e número do seu referente fos-
sem as mesmas do demonstrativo aquele(s) ou aquela(s), como em Fiz o(s) que o senhor
sugeriu ou Fiz a(s) que o senhor sugeriu, respectivamente.
Em contraste, o determinante é invariável quando ocorre com o pronome que interroga-
tivo, realizando-se sempre como o. Observe a tira a seguir.

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Figura 7. RECHIN, Bill; WILDER, Don. A Legião. Jornal da Tarde, São Paulo, 12 jan. 2005.

No primeiro quadrinho, que corresponde a um pronome interrogativo: “... O que devo


fazer?”. A ocorrência do determinante no feminino ou no plural tornaria, nesse caso, o
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enunciado malformado: ... A(s) que devo fazer?/... O(s) que devo fazer? O determinante tam-
bém não poderia ser substituído por um pronome demonstrativo, como em Aquilo que
devo fazer? Isso ocorre porque, quando junto de que interrogativo, o determinante forma
com esse pronome uma locução interrogativa. Como em muitas outras locuções da lín-
gua, as partes que a integram são (ou se tornam) morfologicamente invariáveis.

3.3 Que na introdução de frases exclamativas e Isoladamente, que


pode correspon-
locuções interjetivas der a uma verda-
deira interjeição,
Quando antecede um substantivo em torno do qual se constrói uma frase ex- constituindo-se
clamativa, que costuma ser classificado como um pronome indefinido. Veja alguns em uma frase do-
exemplos: tada de sentido
próprio e servin-
Que filme incrível! do à expressão de
Que comida malfeita! espanto, perplexi-
dade, admiração
Que dia excelente para fazermos um piquenique! ou surpresa, den-
Que festa chata essa para a qual você me trouxe! tre outras possi-
bilidades. Veja o
Muitas vezes, a combinação desse que com um substantivo resulta em uma exemplo:
locução interjetiva, como em Que pena!, Que droga!, Que show!, Que saco!, Que Quê! Não acredito
inferno!, Que legal!, Que maneiro! etc. Na tira a seguir, a expressão Que tédio é um que ela possa ter
exemplo desse tipo de locução. feito tal coisa!
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Universal Press Syndicate

Figura 8. DAVIS, Jim. Garfield. Folha de S.Paulo, São Paulo, 31 jan. 2005.

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4 Que como partícula expletiva ou de realce
Há casos em que, do ponto de vista sintático, a exclusão de que não traz pre-
juízos à estrutura do enunciado. Em tais casos, que costuma ser classificado como
uma partícula expletiva ou de realce. Veja alguns exemplos.
Para qual cidade que você vai viajar no final deste ano?
Para qual cidade você vai viajar no final deste ano?
Em que mês que começam as férias?
Em que mês começam as férias?
Há anos que eu não visito a cidade onde nasci!
Há anos eu não visito a cidade onde nasci!
Eu quase que desisti de viajar no último feriado.
Eu quase desisti de viajar no último feriado.
Que medo terrível que eu senti naquele momento!
Que medo terrível eu senti naquele momento!

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.


Os pais querem assistir ao filme, enquanto que as crianças preferem ver o desenho.
Os pais querem assistir ao filme, enquanto as crianças preferem ver o desenho.
Embora dispensável à estrutura sintática do enunciado, o que expletivo é larga-
mente observado na fala. A tira a seguir explora o emprego desse que no primeiro
quadrinho, permitindo criar um efeito que reforça o tom de coloquialidade da fala
da personagem: “Quiquieu tô fazendo aqui?!”.

Karmo

Figura 9. KARMO. Dois reis. Folha de S.Paulo, São Paulo, 15 maio 2005.

A expressão realizada sob a forma quiquieu corresponde a que que eu ou o que


que eu. Na escrita formal, o mesmo enunciado seria provavelmente realizado como
Que eu estou fazendo aqui? ou O que eu estou fazendo aqui? Da perspectiva normati-
va, portanto, o segundo que da expressão é dispensável e, nessa condição, deve ser
caracterizado como expletivo.

A locução ser que


Em certos contextos, a versão expletiva de que vem acompanhada do verbo
ser flexionado na terceira pessoa do singular, como nos exemplos a seguir. Ob-
serve que a ausência da locução ser que não traz prejuízos à estrutura sintática do
enunciado. Sua função, nos exemplos apresentados, é apenas a de realçar algum
contraste entre o termo que lhe antecede e algum outro presente no enunciado ou
depreendido do contexto.

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O Pedro é que vai ser contratado (e não a Ana).
O Pedro vai ser contratado (e não a Ana).
A Maria foi que fez a fofoca (e não a Ana).
A Maria fez a fofoca (e não a Ana).
No carnaval é que acontece o desfile das escolas de samba (e não na quaresma).
No carnaval acontece o desfile das escolas de samba (e não na quaresma).
O computador da Maria era que costumava dar defeito (e não o meu).
O computador da Maria costumava dar defeito (e não o meu).
A locução ser que pode dar lugar ao emprego apenas de que, sem que o efeito de
contraste ou realce seja afetado, como na tira a seguir.

Caco Galhardo
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Figura 10. GALHARDO, Caco. Chico Bacon. Folha de S.Paulo, São Paulo, 17 mar. 2006.

No terceiro quadrinho da tira, a fala de uma das personagens destaca que o res-
ponsável pela contenda não é ela, mas Chico Bacon. O termo realçado (o pronome Professor: Se, em vez
do expletivo que, se
você, em referência a Chico Bacon) ocorre anteposto ao expletivo que. Note que, empregasse o prono-
em lugar apenas de que, poderia ser empregada a locução ser que. me quem, a estrutura
resultante seria anali-
“Você que começou” (e não eu). sada de outra forma:
Você foi quem começou.
Você é que começou (e não eu). Estaríamos, nesse caso,
diante de um período
Você foi que começou (e não eu). composto de duas ora-
ções: uma com o verbo
A locução ser que também ocorre em enunciados interrogativos, como exempli- ser (a principal) e outra
com começar (subordi-
ficado a seguir. Nesse caso, a função da locução não é a de reforçar um contraste nada). A oração subor-
envolvendo o termo que lhe antecede. Dentre outros efeitos possíveis, podemos in- dinada seria classifica-
da como adjetiva, e o
dicar a atribuição de um caráter mais incisivo à indagação, com o intuito de chamar pronome que a intro-
a atenção para a necessidade de a pergunta ter uma resposta urgente, imediata. duz como um relativo
indefinido (sem antece-
Quem é que comeu aquele bolo? dente). Observe que a
oração relativa poderia
Quem comeu aquele bolo? ser anteposta ao verbo
ser: Quem começou foi
O que foi que os alunos falaram para o professor? você. Essa possibilidade
de anteposição nunca é
O que os alunos falaram para o professor? observada no caso em
que que corresponde
Quando será que vai acontecer a próxima reunião? a um expletivo, daí o
estranhamento que se-
Quando vai acontecer a próxima reunião? ria provocado por uma
construção do tipo Que
Para qual praia era que você costumava ir durante as férias? começou foi você (e não
eu) em lugar de Você foi
Para qual praia você costumava ir durante as férias? que começou (e não eu).

15
Ser... que
Em muitos casos, o termo que se pretende realçar ocorre entre os dois itens da locução,
e não antes do verbo ser. Observe a tira.

1999 Paws, inc. all rights reserved/dist. by


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Figura 11. DAVIS, Jim. Garfield. Folha de S.Paulo, São Paulo, 14 abr. 2005.

Professor: Lembre-se No segundo quadrinho, o termo pronominal a gente, sujeito de puxar, aparece entre é
de que, nesse caso, o e que, resultando em uma estrutura que sinaliza a apresentação de um contraste envol-
que não introduz uma

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.


oração adjetiva, sendo vendo esse termo.
apenas parte da locu- “Não é a gente que puxa um ronco.”
ção formada com o ver-
bo ser. A intenção de Garfield é afirmar que, ao contrário do que pensamos, as pessoas não são
Observe que, no exem- agentes do “ato” de puxar um ronco. O terceiro quadrinho informa “quem” é o verda-
plo da tira de Garfield,
há um advérbio de ne- deiro agente desse ato: o próprio ronco. Note que a sequência ser que volta a aparecer
gação que modifica o nesse quadrinho, servindo para realçar o elemento (o ronco) que contrasta com a gente.
verbo da locução: “Não A diferença em relação à estrutura empregada no quadrinho anterior é que, nesse caso,
é a gente que...”. Se a o termo realçado se apresenta antes da locução. A colocação do termo entre ser e que,
locução for excluída, contudo, também levaria ao efeito de realce.
esse advérbio deve ser
deslocado do início do “O ronco é que puxa a gente.” É o ronco que puxa a gente.
enunciado para a po-
sição imediatamente Cabe ressaltar que, nos casos em que o termo realçado se interpõe entre os dois itens da
anterior ao predicado locução, o verbo ser passa a concordar com esse termo. A concordância, entretanto, nun-
da oração: A gente não ca é observada quando o termo realçado se antepõe à locução. Veja alguns exemplos.
puxa um ronco.
Eles é que querem viajar (e não nós).
São eles que querem viajar (e não nós).
Nós é que precisamos cuidar da Amazônia (e não os estrangeiros).
Somos nós que precisamos cuidar da Amazônia (e não os estrangeiros).
É que pode cor-
responder a uma Professor: Se, nessas estruturas, o pronome quem fosse empregado em lugar de que, a estrutura introduzida
pelo pronome corresponderia a uma oração relativa (ver o comentário para a figura 11). A concordância do
locução conjunti- verbo da oração relativa com o antecedente do pronome seria, nesse caso, opcional: Somos nós quem precisa/
va, introduzindo precisamos cuidar da Amazônia. Contudo, se a oração introduzida pelo
orações coorde-
nadas explica -
5 Outros casos pronome for anteposta à oração principal, o seu verbo é necessariamente
realizado no singular: Quem precisa cuidar da Amazônia somos nós.
tivas. Equivale,
A forma que pode, ainda, corresponder à realização de um advérbio, de uma
nesse caso, a é
porque: A cidade preposição ou de um substantivo.
ficou inteiramente
inundada; é que, ■■ Advérbio
nos últimos dias, a
chuva foi bastan- Como advérbio, que intensifica um adjetivo ou outro advérbio, exercendo, nes-
te intensa. / Estou se caso, a função de adjunto adverbial. Veja alguns exemplos.
bastante cansa-
do; é que tenho
Que inteligente aquele aluno!
trabalhado muito Que interessante foi a aula ministrada por aquele professor!
ultimamente.
Que rápido os médicos agiram para tentar salvar o paciente!

16
■■ Preposição
Que é frequentemente empregado em lugar da preposição de junto ao verbo ter,
na locução modal que serve à expressão de obrigatoriedade ou necessidade, em
casos como os que se seguem.
Tenho que (= de) viajar na próxima semana.
Ele tem que (= de) respeitar a lei do país.
Tem que (= de) parar de chover na hora do espetáculo.
A ocorrência de que é também registrada em casos nos quais esse item passa a
ter um significado similar ao das preposições acidentais salvo, exceto e senão, como
no seguinte caso:
O candidato apresentou-se ao concurso sem recomendações outras que sua própria
experiência.
O nome da letra
■■ Substantivo do alfabeto tam-
bém é designa-
Como substantivo, que é grafado com acento circunflexo (quê) e é usado como do como quê: As
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

sinônimo de “alguma coisa”. crianças, quando


começam a es-
Há um quê de estranho naquele rapaz. crever, fazem di-
Esse quê de ousadia por trás da sua atitude não me agrada. ferentes desenhos
da letra quê.
Aquela história tem um quê ainda não explicado.

Exercícios dos conceitos


Leia o trecho abaixo para responder às questões 1 e 2.

Poema acumulativo
2
Qual o nome do homem Este homem é homem
que é dono do homem? que a cobiça consumiu.
Qual o nome do homem Este homem é homem
que rói o osso do homem? que a inveja seduziu.
Qual o nome do homem Este homem é homem
que arranha o corpo do homem? que a preguiça produziu.
Qual o nome do homem Este homem é homem
que morde a carne do homem? que a soberba recobriu.
Qual o nome do homem Este homem é homem
que ordenha o sangue do homem? que a gula deglutiu.
Este homem é homem [...]
SANT’ANNA, Affonso Romano de.
que a avareza construiu.
Poesia reunida: 1965-1999.
Porto Alegre: L&PM, 2004. p. 74-75. v. 1.

17
1 A palavra que, nas cinco primeiras estrofes, tem a mesma classificação morfoló-
gica e desempenha a mesma função sintática.
a) Qual a classificação morfológica do que nessas estrofes? Que termo é retoma-
do por essa partícula em todas as suas ocorrências?
O que, nas cinco primeiras estrofes, classifica-se como pronome relativo e

retoma, em cada uma delas, o referente homem.

b) Qual a função sintática exercida por esse termo nas estrofes referidas?
Nas cinco primeiras estrofes, o pronome relativo que exerce função sintática de

sujeito de cada uma das orações que introduz.

2 A partir da 6a estrofe, embora a classificação morfológica do que permaneça a mes-


ma, o termo exerce outra função sintática. Qual é ela? Justifique sua resposta.

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.


A partir da 6a estrofe, o pronome relativo que exerce função sintática de objeto

direto dos verbos construir, consumir, seduzir, produzir, recobrir, deglutir.

Leia a tira a seguir para responder à questão 3.


2004 King Features Syndicate

BROWNE, Dik. O melhor de Hagar o Horrível. Porto Alegre: L&PM, 1997. p. 55.

3 Na tira apresentada, há duas ocorrências do termo que.


a) Qual a classificação morfológica do termo na sua primeira ocorrência?
Na primeira ocorrência, o que se classifica morfologicamente como pronome

interrogativo.

b) E na segunda? Justifique sua resposta.


Na segunda ocorrência, o que é classificado como conjunção integrante,

pois introduz uma oração subordinada substantiva objetiva direta (que eu não

sou feminina).

18
Leia a tira a seguir para responder às questões 4 e 5.

Laerte
LAERTE. Deus segundo Laerte. São Paulo: Olho dÁgua, 2002. p. 49.

4 Na tira apresentada, Deus diz a três anjos da guarda que precisa de voluntários
para o plantão de carnaval. O que, no contexto da tira, permite afirmar que essa
não é uma tarefa desejada pelos anjos?
O fato de os dois primeiros imediatamente apresentarem motivos para não
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

poderem ser voluntários e de o terceiro tentar, sem sucesso, arrumar uma

desculpa para não ser incumbido da tarefa. Como não consegue pensar com

rapidez em um motivo plausível para se “safar” do plantão, acaba sendo

“voluntário”.

5 A tentativa do terceiro anjo de apresentar uma “desculpa” para não ser voluntá-
rio é revelada pela repetição do termo que.
a) Como se classifica morfologicamente o termo na frase iniciada pelo anjo no
segundo quadrinho?
O termo se classifica como preposição, pois equivale a de (eu tenho de...).

b) Explique de que maneira a repetição do termo que contribui para a constru-


ção do efeito de humor da tira.
A repetição do termo que revela a dificuldade do terceiro anjo da guarda em

encontrar uma justificativa para não ser voluntário no plantão de carnaval.

Essa dificuldade é explicitada no último quadrinho, quando ele, contrariado,

encaminha-se para o cumprimento de sua tarefa e completa a frase iniciada no

segundo quadrinho, afirmando que tem “que aprender a pensar mais rápido!”.

Como ele não foi rápido o bastante para pensar em uma desculpa para não ser

voluntário, acabou sendo incumbido por Deus do plantão de carnaval.

19
Retomada dos conceitos Professor: Consulte o Banco de Questões e incentive
os alunos a usar o Simulador de Testes.

1 (UFRJ, adaptada) Explique a diferença sintática entre os termos destacados em:

“não serás mais o que és”


“abismo que cavaste a teus pés”

O primeiro que funciona como predicativo; o segundo, como objeto direto.

2 (UFRN) Justifique por que razão, nos períodos abaixo transcritos, as orações
adjetivas em destaque estão construídas de forma diferente: no primeiro caso,
sem preposição antes do pronome relativo; no segundo caso, com preposição
antes do referido pronome.

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.


1o Caso
Segundo os defensores do desarmamento, as armas, que representam
uma ameaça à vida dos cidadãos, devem ser confiscadas.

2o Caso
Na opinião dos que são contra o desarmamento, as armas, a que tanto
se visa, poderiam servir como instrumento de defesa dos cidadãos.

Gabarito oficial: Espera-se que o candidato, elaborando sua resposta em língua

padrão e de forma coesa e coerente, reconheça que o pronome relativo, no primeiro

caso, funciona como sujeito da oração adjetiva, não sendo, portanto, regido por

nenhum elemento linguístico da referida oração, enquanto este mesmo pronome,

no segundo caso, funciona como objeto indireto e é regido pelo verbo visar, o que

justifica o uso da preposição a.

3 (PUC-SP) Observe o emprego da partícula que em:

I. “... esperou que a água marejasse...”


II. “... olhando as estrelas, que vinham nascendo.”

a) Indique, respectivamente, o valor morfológico da referida partícula em I e em II.


Em I, o que é conjunção integrante; em II, pronome relativo.

b) Que tipo de oração introduz em I?


Introduz oração subordinada substantiva objetiva direta.

20
4 (Ufla-MG)

Mas que coisa é homem,


Que há sob o nome:
Uma geografia?
Carlos Drummond de Andrade

Classifique gramaticalmente a palavra que.


a) que (coisa)
O que é pronome adjetivo interrogativo.

b) que (há)
O que é pronome substantivo interrogativo.

5 (FEI-SP) O primeiro que é con-


junção subordinativa
integrante e introduz
O olhador sente o prazer de novas associações de coisas, animais e
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uma oração subor-


pessoas; e esse prazer é poético. Quem disse que a poesia anda desvalori- dinada substantiva
objetiva direta; o
zada? A bossa dos anúncios prova o contrário. E ao vender-nos qualquer segundo é pronome
mercadoria, eles nos dão de presente “algo mais”, que é produto da ima- relativo; o terceiro,
ginação e tem serventia, as coisas concretas, que também de pão abstrato conjunção coorde-
nativa explicativa (=
se nutre o homem. porque).
(Carlos Drummond de Andrade)

A palavra que, no parágrafo acima, classifica-se, respectivamente, como:


a) conjunção, pronome relativo, conjunção
b) conjunção, conjunção, conjunção
c) pronome relativo, pronome relativo, pronome relativo
d) pronome relativo, conjunção, pronome relativo
e) pronome indefinido, pronome indefinido, conjunção

6 (UFPB) No verso: “Ao coração que sofre, separado...”, o vocábulo que refere-se ao O vocábulo que, na
termo antecedente. Observa-se esta mesma relação em: alternativa assinala-
da, é um pronome
a) “Não me basta saber que sou amado.” relativo e retoma o
termo antecedente
b) “... no exílio em que a chorar me vejo.” (no exílio).
c) “Não há que a terra pelo céu trocar.”
d) “Não digo que já lhe coubesse a primazia da beleza.”
e) “Meu pai, logo que teve aragem dos onze contos, sobressaltou-se deveras.”

21
Capítulo 2 Funções do se

1 Introdução

Reprodução

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.


Pessoas que
transformaram
ideias em negócios
milionários contam
suas histórias para
você se inspirar e
aprender com quem
chegou lá. Especial
Empreendedores.
Nas bancas.

Figura 1. Galileu, São Paulo, p. 63-64, jul. 2003.

1 A que tipo de público se destina o produto anunciado? Por que se espera que o
conteúdo do produto chame a atenção desse público?
O produto anunciado (uma revista que se intitula Empreendedores) é destinado

a um público que tem interesse em obter informações sobre o universo de

empreendimentos comerciais. Por trazer histórias contadas por pessoas que

alcançaram sucesso no ramo dos negócios, tornando-se milionárias, espera-se que

a edição anunciada atraia esse público.

2 A peça publicitária recorre a um conhecido dito popular: “... se conselho fosse


bom não se dava, vendia-se...”.
a) Em que situação as pessoas costumam empregar esse dito?
Esse dito é normalmente empregado nas situações em que se procura

aconselhar alguém a respeito de algo.

b) Que ideia em torno da prática de aconselhamento esse dito pressupõe?


A ideia pressuposta no dito é a de que um conselho pode ter mais efeitos

negativos do que positivos, não sendo, portanto, algo necessariamente bom.

22
c) O enunciado em destaque na peça publicitária confirma a expectativa gerada
por essa ideia? Explique.
Não. A pergunta que se segue ao dito – “R$ 5,90 tá bom pra você?” – revela

a intenção de “vender” conselhos, o que nos leva à ideia de que, segundo a

peça publicitária, os conselhos apresentados pela revista anunciada são

necessariamente bons.

d) Como o conteúdo desse enunciado pode ser relacionado ao tipo de produto


do anúncio?
A apresentação de um preço para um determinado produto é prática comum

no mundo dos negócios, necessária à existência de qualquer empreendimento

comercial. Por isso, a indicação de um valor para o oferecimento de conselhos

(R$ 5,90) nos remete imediatamente ao foco da revista, que gira em torno dos

elementos necessários à formação de um empreendimento de sucesso.


Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

3 O mesmo dito popular poderia ser apresentado de outras formas. Observe as


seguintes possibilidades:

Se conselho fosse bom, não era dado por ninguém, mas vendido.
Se conselho fosse bom, a gente não dava, mas vendia.

a) Descreva, no plano sintático, as alterações necessárias para dar origem a essas


duas possibilidades a partir da forma como o dito é apresentado no anúncio.
Para dar origem a essas duas possibilidades, o se que aparece junto dos verbos

dar e vender foi eliminado. Na primeira possibilidade, a estrutura alternativa

traz os dois verbos na voz passiva analítica (“era dado”, “vendido”) e um

termo que funciona como agente da passiva (“por ninguém”); na segunda

possibilidade, o se dá lugar a uma forma pronominal que, no contexto, tem

referência genérica (“a gente não dava, mas vendia”).

b) No que diz respeito à explicitação do agente da ação expressa pelos verbos


dar e vender, o que essas alterações nos revelam sobre os efeitos sintáticos do
emprego de se em “se dava” e “vendia-se”?
O uso de se junto de dar e vender está associado à não explicitação do agente

da ação indicada por esses verbos, diferentemente do que ocorre nos casos em

que o se é excluído.

4 Que vocábulo poderia substituir o se que introduz o enunciado, sem que a es-
trutura e o conteúdo semântico do dito sejam afetados?
O vocábulo seria caso: Caso conselho fosse bom, não se dava, vendia-se.

23
a) A que classe pertence esse elemento?
No contexto em questão, a palavra caso é uma conjunção condicional.

b) O se que introduz o dito tem a mesma natureza das outras duas ocorrências
de se? Explique.
Não. As duas outras ocorrências de se não podem ser substituídas pela

conjunção condicional caso. Da mesma forma, o se que introduz o enunciado

não está relacionado à possibilidade de ocultar o agente de uma ação expressa

por um verbo.

Assim como a forma que, a forma se pode corresponder à realização de palavras


pertencentes a classes distintas e/ou que desempenham funções sintáticas diferen-
ciadas. O enunciado em destaque na peça publicitária que você acabou de analisar
mostra dois tipos de se: aquele correspondente a uma conjunção (“... se conselho
fosse bom...”) e aquele tradicionalmente caracterizado como um pronome apassi-
vador (“... não se dava, vendia-se...”).

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.


Neste capítulo, serão apresentados os morfemas gramaticais que se realizam
como se. A identificação desses morfemas, pertencentes à classe das conjunções e
dos pronomes, ajudará você a reconhecer importantes relações sintático-semânti-
cas que entram em jogo na formação de diferentes construções do português.

Se em locuções
2 Se em função conectiva
conjuntivas
Em função conectiva, se pode corresponder a uma conjunção subordinativa
Se aparece em al-
gumas locuções
integrante ou a uma conjunção subordinativa de valor condicional.
conjuntivas su-
bordinativas do
português: como 2.1 Conjunção subordinativa integrante
se, salvo se, ainda
se, nem se, mesmo
O se pode introduzir orações subordinadas que exercem qualquer uma das
se, dentre outras. funções sintáticas substantivas, caso em que se classifica como conjunção subordi-
nativa integrante. Observe o uso de se na tira a seguir.
2009 King Features Syndicate/Ipress

Figura 2. RECHIN, Bill; WILDER, Don. A Legião. Jornal da Tarde, São Paulo, 4 maio 2005.

No terceiro quadrinho da tira, as duas ocorrências de se introduzem orações


que funcionam como um aposto do termo “as coisas importantes numa mulher”,
realizado no quadrinho anterior. O efeito de humor está diretamente relacionado
com o conteúdo dessas orações: a opinião da personagem revela que a sua visão

24
acerca do que se mostra importante em uma mulher é tão superficial quanto à da
personagem por ela criticada no primeiro quadrinho.
Professor: Se achar
se seus sapatos e suas roupas combinam, ou” oportuno, explique
a seus alunos que, se
fossem diretamente
“Vocês deviam olhar ligadas ao verbo olhar,
as coisas importantes as orações da tira intro-
numa mulher. Tipo... duzidas por se seriam
classificadas como su-
bordinadas substanti-
se ela usou brilho labial demais” vas objetivas diretas: ...
olhar se seus sapatos e
suas roupas combinam
conjunção subordinativa integrante: na tira, ou se ela usou brilho la-
bial demais.
introduz orações subordinadas substantivas
apositivas, que trazem informações
relacionadas ao complemento do verbo olhar
(“as coisas importantes numa mulher”)

Veja a seguir outros exemplos em que a conjunção se introduz os diferentes


tipos de oração subordinada substantiva.
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Oração subordinada
Exemplos
substantiva
Se o governo irá ou não subsidiar os agricultores é algo que
Subjetiva
ainda não foi decidido.
Não sabemos se o governo dará algum subsídio para os agricul-
Objetiva direta
tores prejudicados pelas enchentes.
Não decidimos nada sobre se vamos ou não viajar durante as
Objetiva indireta
férias.
Ainda estamos em dúvida sobre se vamos ou não viajar durante
Completiva nominal
as férias.
O xis da questão é se o governo realmente terá condições de
Predicativa
manter o controle da inflação.
Isto é algo que todos querem saber: se o governo terá ou não
Apositiva
condições de controlar a inflação.

Professor: Lembre-se
Que e se na introdução de orações subordinadas substantivas de que, nos casos em
que a oração subor-
Como conjunções integrantes, que e se têm efeitos diferenciados sobre o sentido da ora- dinada substantiva
ção. Nas estruturas que admitem as duas conjunções, o emprego de que confere certeza introduzida por que
ao conteúdo da oração subordinada substantiva, enquanto o emprego de se serve à ex- apresenta um verbo
pressão da dúvida. Compare. no subjuntivo, o seu
conteúdo geralmente
Eu não vi que o livro estava sobre a mesa. não serve à expressão
Eu não vi se o livro estava (ou não) sobre a mesa. de certeza: Eu prefiro
que as crianças viajem
Os meninos precisam dizer que vêm para a festa. no verão. Eu detesto que
Os meninos precisam dizer se vêm (ou não) para a festa. usem as minhas roupas
sem a minha permissão.
Já foi decidido que a reunião será no salão principal. Os alunos querem que os
Ainda não foi decidido se a reunião será (ou não) no salão principal. professores façam uma
revisão antes da prova.
Temos certeza disto: que o nosso time vai conseguir voltar para a primeira divisão.
Temos dúvida sobre isto: se o nosso time vai (ou não) conseguir voltar para a primeira divisão.

25
2.2 Conjunção subordinativa condicional
Quando empregada para introduzir uma oração subordinada que corresponde
a um adjunto adverbial de condição, a conjunção se é denominada subordinativa
condicional. Observe a tira a seguir.

2009 King Features Syndicate/Ipress


Figura 3. RECHIN, Bill; WILDER, Don. A Legião. Jornal da Tarde, São Paulo, 26 ago. 2004.

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.


No terceiro quadrinho da tira, se é empregado como uma conjunção subordi-
nativa condicional na introdução de uma oração que funciona como um adjunto
adverbial: “Se não acharem bom...”. O conteúdo dessa oração, que condiciona a
confirmação do horário de uma reunião à decisão de subalternos, acaba por in-
validar as palavras do líder no segundo quadrinho, que se descreve como alguém
“firme, cujas decisões são gravadas na rocha!”.

oração subordinada
adverbial condicional

“Se não acharem bom, posso marcar para mais tarde.”

conjunção subordinativa
condicional: introduz uma
oração que funciona como
adjunto adverbial de condição
do predicado com a locução
“posso marcar”

Se caso
É frequente, em algumas variedades do português do Brasil, o uso da conjunção caso
juntamente com a conjunção se, formando a locução se caso. Como ambas apresentam
valor condicional, o emprego de uma e outra na introdução de uma mesma oração é
claramente desnecessário e deve ser evitado em contextos de uso formal da língua. Veja
os exemplos.

Se caso o voo atrasasse, não chegaríamos a tempo.


Comprarei aquele carro, se caso eu conseguir juntar algum dinheiro.

26
3 Se como pronome
3.1 Pronome reflexivo e recíproco
Como pronome reflexivo, se funciona como complemento (objeto direto ou
indireto) de um verbo transitivo. O referente de se, nesse caso, é o mesmo que o
do termo que funciona como sujeito da oração. Observe a tira.

1999 Paws, inc. all rights reserved/dist. by


Atlantic Syndication/Universal Press Syndicate
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Figura 4. DAVIS, Jim. Garfield. Folha de S.Paulo, São Paulo, 9 maio 2005.

No terceiro quadrinho, a fala de Garfield mostra uma ocorrência de se como


pronome reflexivo. A função desse pronome é a de objeto direto, e o seu referente
é o mesmo que o do pronome (ele) que ocorre na função de sujeito.

“Ele se cortou numa folha de papel”

pronome reflexivo: exerce a função de objeto direto do verbo cortar, sendo


seu referente o mesmo que o do sujeito da oração; no plano semântico, a
consequência é que o agente e o paciente da ação de cortar são os mesmos

Como pronome recíproco, se ocorre como complemento de verbos que indicam


reciprocidade, como nos seguintes casos:
Eles se abraçaram fraternalmente.
O Pedro e a Maria se gostam e, por isso, estão juntos até hoje.
Por não se aturarem, a Ana e o João estão preparando o divórcio.
Vocês não podem viver juntos porque ainda não se conhecem muito bem.
No plano sintático, o se recíproco mostra um funcionamento similar ao do se
reflexivo. A principal diferença entre um e outro está no plano semântico. Em uma
oração como Os dois se odeiam, o se pode ser reflexivo ou recíproco, a depender
de a ideia de reciprocidade estar ou não envolvida na predicação verbal.
pronome reflexivo: cada um dos referentes do sujeito odeia a si mesmo
A frase equivale a “Cada um dos dois se odeia” ou “Cada um dos dois odeia a si mesmo”.

Os dois se odeiam.

pronome recíproco: cada referente associado ao sujeito odeia o outro referente


A frase equivale a “Os dois odeiam-se um ao outro” ou “Cada um odeia o outro”.

27
lembre-se!

Além de se, outros pronomes átonos podem ocorrer como reflexivos e recíprocos (no
caso de nos). Veja alguns exemplos:
Nós nos machucamos com frequência.
Eu me cortei.
Tu não te amas.
Decidi dar um presente para mim mesmo.
No português brasileiro coloquial, contudo, tem sido cada vez mais frequente o uso de
se em lugar de outras formas pronominais átonas com interpretação reflexiva ou recí-
proca, como nos exemplos a seguir. Esses casos ainda não são aceitos pelo padrão nor-
mativo e devem, por isso, ser evitados na linguagem formal.

Adequado à gramática Não adequado à gramática


normativa normativa
Nós ainda não nos abraçamos. Nós ainda não se abraçamos.
Eu ainda não terminei de me arrumar. Eu ainda não terminei de se arrumar.
Eu e ela nos respeitamos profundamente. Eu e ela se respeitamos profundamente.

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.


3.2 Pronome integrante do verbo
Como integrante do verbo, se ocorre nas formas de terceira pessoa dos verbos
pronominais, assim chamados porque só podem aparecer acompanhados de um
pronome oblíquo átono, sem função sintática específica. São exemplos de verbos
pronominais: queixar-se, apavorar-se, arrepender-se, suicidar-se, arvorar-se, entre
outros. Veja algumas construções com esse tipo de verbo:
Os passageiros queixaram-se dos serviços de bordo.
Alguns políticos nunca se arrependem dos erros que cometem.
Não se apavore antes de uma prova.

Partícula expletiva ou de realce


Quando integrado a certos verbos intransitivos, se costuma ser classificado como uma
partícula expletiva ou de realce. Em tais casos, a ausência do pronome não traz prejuízos
à estrutura do enunciado.
Os convidados foram-se embora sem cumprimentar o aniversariante.
Os convidados foram embora sem cumprimentar o aniversariante.

3.3 Pronome apassivador e índice de indeterminação


do sujeito
Há casos em que o emprego de se leva à não realização do termo que nor-
malmente corresponderia ao sujeito da oração. A tradição normativa prevê duas
situações em que isso pode ocorrer: uma em que se é classificado como pronome
apassivador (ou seja, cuja realização resulta na voz passiva, com o termo regido
pelo verbo assumindo a função de sujeito), e outra em que se é classificado como
um índice de indeterminação do sujeito.

28
Se como pronome apassivador Professor: No módu-
l o Termos essenciais
da oração ( C a p í t u l o
Na situação em que se corresponde a um pronome apassivador, o verbo da 1 – item 5.3), fazemos
oração deve ser transitivo direto e concordar em número com o termo que, na voz comentários sobre o
ativa, funcionaria como objeto direto. Considera-se, nesse caso, que o verbo se verdadeiro estatuto da
voz passiva sintética no
encontra na voz passiva sintética. Veja alguns exemplos: português brasileiro e
no português europeu.
Concluiu-se a reunião sem que as partes tenham chegado a um acordo.
Após o expediente, fez-se uma pequena homenagem ao aniversariante.
Recusaram-se as inscrições dos candidatos cuja documentação estava incompleta.
Venderam-se todos os carros da concessionária.
No litoral sul do Rio de Janeiro, alugam-se muitas casas de veraneio.
Toda semana, extraviam-se mais de dez livros da biblioteca.
De acordo com a gramática normativa, esses enunciados devem receber uma
interpretação passiva, a mesma que conferimos às construções em que o verbo se
encontra na voz passiva analítica, como nos casos a seguir.
A reunião foi concluída sem que as partes tenham chegado a um acordo.
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Após o expediente, uma pequena homenagem ao aniversariante foi feita.


As inscrições dos candidatos cuja documentação estava incompleta foram recusadas.
Todos os carros da concessionária foram vendidos.
No litoral sul do Rio de Janeiro, muitas casas de veraneio são alugadas.
Toda semana, mais de dez livros da biblioteca são extraviados.

Se como índice de indeterminação do sujeito


Na situação em que se é tratado como um índice de indeterminação do sujeito,
o verbo é transitivo indireto, intransitivo ou de ligação. No segundo quadrinho da
tira, se ocorre junto de um verbo transitivo indireto (pisar), indicando que o sujei-
to da oração é sintaticamente indeterminado.

2009 United Media/Ipress

Figura 5. HART, Johnny. AC. Jornal da Tarde, São Paulo, 1o set. 2004.

“O que acontece quando se pisa numa aranha venenosa?”

índice de indeterminação do sujeito: associa-se


a um verbo transitivo indireto (pisar), levando à
não explicitação do sujeito da oração

29
Veja a seguir outros casos de se como índice de indeterminação. Observe que o
verbo é necessariamente realizado na terceira pessoa do singular, não concordando
com nenhum termo da oração.
Não se pode decidir pela condenação dos acusados na ausência de provas.
Durante a assembleia, optou-se pela votação dos temas mais polêmicos.
Na minha família, não se pode dormir sem a bênção dos mais velhos.
Não se entra em casa de estranhos sem prévia autorização.
Quando se é feliz, tudo dá certo.

Outras estratégias de indeterminação do sujeito


No português brasileiro, o emprego de se para expressar a voz passiva ou para indicar a
indeterminação do sujeito tem se tornado cada vez menos frequente. Principalmente no
registro coloquial, os falantes costumam recorrer a estratégias de indeterminação em que
o se não está presente na oração.
Para a expressão da voz passiva, a forma analítica é a estratégia mais empregada. Assim,
em lugar de concluiu-se a reunião ou venderam-se muitos carros, os falantes preferem a
reunião foi concluída ou muitos carros foram vendidos.

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.


Para a indeterminação do sujeito, um dos recursos mais frequentes é a explicitação de
um termo com referência vaga ou indefinida que funciona como sujeito da oração. Esse
termo pode ser um pronome indefinido (como ninguém), um sintagma nominal (como
a(s) pessoa(s)) e formas pronominais pessoais que admitem referência genérica (você, nós,
a gente). Costuma-se, nesse caso, dizer que a indeterminação do sujeito é semântica ou
discursiva, e não sintática, já que se opta pela explicitação, na oração, de um termo que
funciona sintaticamente como sujeito.
Cabe destacar que o recurso à indeterminação semântica do sujeito é também observado
em construções com verbos transitivos diretos, nas quais o se supostamente equivaleria
a um pronome apassivador, e não a um índice de indeterminação.
Veja alguns exemplos.

Estruturas esperadas pelo Estruturas comuns no


padrão normativo português brasileiro
Hoje em dia, as pessoas não namoram
Hoje em dia, não se namora como como antigamente.
antigamente. Hoje em dia, ninguém namora como
antigamente.
Acham-se todos os tipos de bugigangas Você / A gente acha todos os tipos de
no camelódromo. bugigangas no camelódromo.
Na década de setenta, você / a gente
Na década de setenta, vivia-se com vivia com mais segurança.
mais segurança. Na década de setenta, as pessoas viviam
com mais segurança.
Não se condena um acusado sem Ninguém condena um acusado sem
provas contundentes. provas contundentes.
Quando nós estamos com saúde,
Quando se está com saúde, trabalha-se trabalhamos melhor.
melhor. Quando a pessoa / você / a gente está
com saúde, trabalha melhor.

30
3.4 Sujeito de oração reduzida
O se pode funcionar como sujeito de uma oração reduzida que serve à comple-
mentação de um verbo transitivo direto, como no exemplo a seguir.
oração subordinada substantiva objetiva direta
reduzida de infinitivo: complemento do verbo deixar

“Os turistas deixaram-se levar pelos encantos da cidade.”

sujeito da oração subordinada com o verbo levar

Veja outros exemplos.


Os professores permitiram-se aproveitar aquele momento de descontração.
Os alunos já se veem estudando em uma grande universidade.
As crianças viram-se tomadas de uma grande alegria quando reencontraram os pais.
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

No português brasileiro, principalmente na língua escrita, tem sido cada vez mais fre-
quente o emprego de se em orações reduzidas de infinitivo com sujeito indeterminado
ou que servem à expressão da voz passiva, fato que segue na contramão da tendência à
supressão de se em outras estruturas da língua. Você certamente já deve ter visto cons-
truções como as seguintes:
Para se dirigir um automóvel, é preciso se conseguir uma carteira de habilitação.
Para se viver muitos anos, ter qualidade de vida é algo essencial.
A necessidade de se manter boas relações com o mundo árabe tem sido uma preocupação
da comunidade europeia.
O emprego de se em tais contextos, seja para expressar voz passiva, seja para indicar
indeterminação do sujeito, é desaconselhado pelas gramáticas normativas. Observe
que a ausência de se nessas orações infinitivas não traz qualquer prejuízo à estrutura
do enunciado:
Para dirigir um automóvel, é preciso conseguir uma carteira de habilitação.
Para viver muitos anos, ter qualidade de vida é algo essencial.
A necessidade de manter boas relações com o mundo árabe tem sido uma preocupação da
comunidade europeia.

Exercícios dos conceitos


Leia o texto abaixo para responder às questões 1 e 2.

Vende frango-se
Alguém encontrou esta pérola escrita em frente a um mercadinho de um
morro do Rio: “Vende frango-se”. É poesia? Piada? Apenas mais um erro de
português? É a vida e ela é inventiva. Eu, que estou sempre correndo atrás
de algum assunto para comentar, pensei: isso dá samba, dá letra, dá crônica.
Vende frango-se, compra casa-se, conserta sapato-se.
Prefiro isso aos “q tc cmg?” espalhados pelo mundo virtual, prefiro a ingenui-
dade de um comerciante se comunicando do jeito que sabe, é o “beija eu” dele.

31
Vende carne-se, vende carro-se, vende geleia-se. Não incentivo a ignorância,
apenas concedo um olhar mais adocicado ao que é estranho a tanta gente, o nos-
so idioma. Tão poucos estudam, tão poucos leem, queremos o quê? Ao menos
trabalham, negociam, vendem frangos, ao menos alguns compram e comem e os
dias seguem, não importa a localização do sujeito indeterminado. Vive-se.
Talvez eu tenha ficado agradecida por esse senhor ou senhora que se anun-
ciou de forma errônea, porém inocente, já que é do meu feitio também trocar
algumas coisas de lugar, e nem por isso mereço chicotadas, ao contrário: o
comerciante do morro me incentivou a me perdoar. Esquecer o nome de um
conhecido, não reconhecer uma voz ao telefone, chamar Gustavos de Olavos,
confundir os verbos e embaralhar-se toda para falar: sou a rainha das gafes, dos
tropeços involuntários. Tento transformar em folclore, já que falta de educação
não é. Conserta destrambelhada-se. Eu me ofereço como cliente. Quem não?
Sabemos todos como é constrangedor não acertar, mas lá do alto do seu boteco,
ele nos absolve. Ele, o autor de um absurdo, mas um absurdo muito delicado.
Vende frango-se, e eu acho graça, e achar graça é uma coisa boa, sinal de
que ainda não estamos tão secos, rudes, patrulheiros, ainda temos grandeza
para promover o erro alheio a uma inesperada recriação da gramática, fica eleito

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o dono da placa o Guimarães Rosa do morro, vale o que está escrito, uma vez
que entender todos entenderam. Fica aqui minha homenagem à imperfeição.
MEDEIROS, Martha. Doidas e santas. Porto Alegre: L&PM, 2008. p. 17-18.

1 No texto transcrito, a autora trata de “uma pérola” escrita em uma placa de um


estabelecimento comercial em um morro do Rio: “Vende frango-se”.
a) Qual o equívoco, do ponto de vista gramatical, cometido pelo autor da placa
a que se refere a autora?
A placa apresenta uma construção de voz passiva sintética, em que a partícula

se deve ser associada a um verbo transitivo de forma a garantir o sentido

passivo pretendido para a voz verbal (“Vende-se frango” corresponde à voz

passiva analítica “Frango é vendido”). No caso da placa, seu autor confundiu-se e

associou a partícula apassivadora se ao substantivo frango em lugar de associá-la

ao verbo vender.

b) De que forma a autora do texto avalia o equívoco cometido pelo comercian-


te? Justifique.
A autora adota uma postura menos normativa ao avaliar o equívoco cometido

pelo comerciante na placa, afirmando que sua atitude não é um incentivo à

ignorância, mas um “olhar mais adocicado” aos deslizes cometidos no uso de

algo tão estranho a muita gente: o nosso idioma. Segundo Martha Medeiros,

achar graça do erro cometido pelo comerciante é um sinal de que “ainda não

estamos tão secos, rudes, patrulheiros, ainda temos grandeza para promover o

erro alheio a uma inesperada recriação da gramática”.

32
c) Segundo a autora, qual seria a explicação para que “erros gramaticais” sejam
cometidos pelos falantes de nosso idioma?
Segundo a autora, os “erros” gramaticais cometidos por muitos falantes se

devem ao fato de poucos terem acesso à educação formal e à leitura (“tão

poucos estudam, tão poucos leem”). Por isso, ela avalia o equívoco cometido

pelo comerciante na placa de uma forma menos dura.

d) A quem ela compara o comerciante e por quê?


Martha Madeiros compara o comerciante ao escritor Guimarães Rosa,

conhecido por recriar a linguagem de forma extremamente poética. Sendo

assim, a autora estabelece uma relação de semelhança entre a estrutura utilizada

na placa do estabelecimento comercial e os neologismos do autor mineiro,

afirmando que algo que seria visto como erro do ponto de vista normativo
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

deveria ser considerado “uma inesperada recriação da gramática”.

2 Releia.

Ao menos trabalham, negociam, vendem frangos, ao menos alguns


compram e comem e os dias seguem, não importa a localização do sujei-
to indeterminado. Vive-se.

No trecho destacado, a autora faz, equivocadamente, referência à possibilidade


de indeterminação do sujeito.
a) Considerando as funções que a partícula se pode exercer, explique por que a
autora se refere ao “sujeito indeterminado”.
O pronome se, associado a um verbo intransitivo, a verbos transitivos indiretos

ou a verbos de ligação, serve para deixar indeterminado um sujeito de terceira

pessoa. Nesses casos, o pronome é classificado como índice de indeterminação

do sujeito. Por isso a autora se refere a esse tipo de sujeito em seu texto, embora

a construção que deu origem à crônica (Vende frango-se) não seja um exemplo

de indeterminação do sujeito. O verbo, neste caso, é transitivo direto e a

construção está na voz passiva sintética, com um sujeito paciente.

b) De que forma o uso da expressão “Vive-se” ilustra a referência da autora a esse


tipo de sujeito?
A expressão destacada é um caso de indeterminação do sujeito com o uso da

partícula se: o pronome (se) está associado a verbo intransitivo (vive), atuando,

nesse caso, como índice de indeterminação de um sujeito na terceira pessoa do

singular: alguém, que não se pode ou não se deseja determinar, vive.

33
Joaquín Salvador Lavado (quino) Toda Leia atentamente a tira abaixo para responder à questão 3.
Mafalda – Martins Fontes, 1991

QUINO. Mafalda 4. São Paulo: Martins Fontes, 2002. p. 10.

3 Na tira apresentada, há três ocorrências do vocábulo se.


a) Qual a classificação morfológica desse vocábulo em todas as ocorrências?
Na primeira ocorrência, o vocábulo se classifica-se como conjunção

subordinativa condicional; na segunda, o se é um pronome pessoal oblíquo

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átono de terceira pessoa, com valor recíproco; na última, o se integra o verbo

pronominal lembrar.

b) Que função sintática é exercida pelo se em cada uma de suas ocorrências, con-
siderando a sua classificação morfológica em cada caso?
Na primeira ocorrência, como o se é um conectivo que introduz uma oração

subordinada adverbial condicional, não exerce função sintática específica.

Na segunda, o pronome exerce a função de objeto direto do verbo encontrar.

Na última, por se tratar de partícula integrante do verbo, o pronome também

não desempenha função sintática específica.

O texto a seguir serve de base para as questões 4 e 5.

O se sem prazer
Um prêmio para quem descobrir a função do se no título publicado num
suplemento literário: “Como se evitar a decomposição de um país”. Dessa
espécie de se inútil, que se gruda como craca no infinitivo preposicionado,
há exemplos diários nos jornais e revistas, às vezes em bons textos. Parece
que os autores querem personalizar uma ação que não precisa ser persona-
lizada e então lá vem ele: “... é muito importante se ter consciência disso”,
“... era preciso estender esse processo para se transmitir...”, “... a necessidade
de se chamar a atenção...”, “... coisas interessantes para se ler...”, “... para se
assistir com prazer...”, “... não havia razão para se acreditar...”, “... o perigo a
se evitar...”, “... amontoados para se fazer uma fogueira...”.
[...] É só cortar o se inútil [...] para ter frases limpas e claras (não “para
se ter”). Basta lembrar que o infinitivo preposicionado já tem valor passivo,
por isso rejeita o se: “osso duro de roer” é igual a “osso duro de ser roído”.
MACHADO, Josué. Manual da falta de estilo. São Paulo: Best Seller, 1994. p. 30.

34
4 Josué Machado faz uma crítica ao uso do se em determinados contextos, afir-
mando que o vocábulo, nesses casos, é inútil.
a) Que caso, segundo o autor, exemplifica bem essa “espécie de se inútil”?
Segundo Machado, um caso recorrente de se “inútil” é aquele “que se gruda

como craca no infinitivo preposicionado”.

b) Explique por que esse se seria inútil, considerando o que você aprendeu sobre
as funções desse termo neste capítulo.
O se é inútil, neste caso e nos exemplos citados pelo autor, porque não tem

função: não é um objeto direto, não é partícula apassivadora, não pode ser

classificado como conjunção, não é parte integrante do verbo (pronominal).

c) Qual a hipótese levantada por Josué Machado para explicar esse uso inade-
quado do se “em jornais e revistas, às vezes em bons textos”?
Machado acredita que esse se ocorre porque “os autores querem personalizar
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

uma ação que não precisa ser personalizada”.

5 No segundo parágrafo do texto, Josué Machado apresenta a justificativa para


não utilizarmos o se com o infinitivo preposicionado.
a) Qual é ela?
O infinitivo preposicionado já tem valor passivo, tornando desnecessário,

portanto, o uso do se com função apassivadora.

b) Como o autor comprova a sua justificativa?


Dando como exemplo a conversão da expressão “osso duro de roer” em “osso

duro de ser roído” para mostrar o valor passivo do infinitivo preposicionado.

Professor: Consulte o Banco de Questões e incentive


os alunos a usar o Simulador de Testes. Retomada dos conceitos
1 (UFSCar-SP) Observe o texto seguinte, um fragmento de Festival de abóboras
geladas.

Modo de Preparo
Numa panela funda, colocar a água, o adoçante, o suco de laranja, o
cravo, a canela e o anis-estrelado. Deixar ferver por 15 minutos. Juntar
os pedaços de abóbora na calda e cozinhar por 20 minutos. Desligar o
fogo e deixar na panela por 12 horas.
Depois, colocar em uma compoteira. Levar à geladeira por aproxima-
damente 1 hora, antes de servir.
(Lucília Diniz, Doces Light. Adaptado.)

35
O texto está redigido no infinitivo, visando a não identificar, individualmente, as
pessoas que devem praticar essas ações.
a) Redija esse texto utilizando o imperativo, para o mesmo efeito.
Usando o pronome você, mais comum em português, temos a seguinte versão:

Numa panela funda, coloque a água, o adoçante, o suco de laranja, o cravo,

a canela e o anis-estrelado. Deixe ferver por 15 minutos. Junte os pedaços de

abóbora na calda e cozinhe por 20 minutos. Desligue o fogo e deixe na panela

por 12 horas. Depois, coloque em uma compoteira. Leve à geladeira por

aproximadamente 1 hora, antes de servir.

b) Redija novamente o texto, utilizando, agora, o pronome se, para o mesmo


efeito.
Numa panela funda, colocam-se a água, o adoçante, o suco de laranja, o cravo, a

canela e o anis-estrelado. Deixa-se ferver por 15 minutos. Juntam-se os pedaços

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.


de abóbora na calda e cozinha-se por 20 minutos. Desliga-se o fogo e deixa-se

na panela por 12 horas.

Depois, coloca-se em uma compoteira. Leva-se à geladeira por aproximadamente

1 hora, antes de servir.

No trecho do poema 2 (Uerj, adaptada)


de Cassiano Ricardo e
na alternativa correta,
a partícula se classifi- ... e como a terra fosse de árvores vermelhas
ca-se como pronome e se houvesse mostrado assaz gentil,
reflexivo.
deram-lhe o nome de Brasil.
RICARDO, Cassiano. Seleta em prosa e verso.
Rio de Janeiro: José Olympio, 1975.

O valor morfossintático da palavra se no trecho transcrito está repetido em:


a) “Rosas te brotarão da boca, se cantardes!” (Olavo Bilac)
b) “Vou expor-te um plano; quero saber se o aprovas.” (Artur Azevedo)
c) “Todas as palavras são inúteis, desde que se olha para o céu.” (Cecília Meireles)
d) “Cada um deles se incumbia de fazer porção de requerimentos.” (Mário Palmério)

O trecho apresenta o 3 (PUC-SP) A partir dos seguintes trechos “...e nunca mais se soube o que era blas-
pronome se exercen-
do a função de partí- fêmia... / dentro dos sons movem-se cores...” assinale a alternativa correta.
cula apassivadora na
voz passiva sintética
a) o pronome átono se exerce a função de partícula apassivadora na voz passiva
ou pronominal. analítica.
b) o pronome átono se exerce a função de partícula apassivadora na voz passiva
pronominal.
c) o pronome átono se exerce a função de partícula apassivadora na voz ativa.
d) o pronome átono se é parte integrante do verbo.
e) o pronome átono se exerce a função de pronome reflexivo.

36
4 (FGV-SP) O pronome se tem o mesmo significado e a mesma função nas frases
abaixo? Explique.

– Os recém-casados se amavam intensamente: os olhares que troca-


ram após a cerimônia anunciaram vivamente a dedicação de cada um ao
seu consorte.
– A matrona feriu-se ao tropeçar no tapete estendido na varanda.
– Romualdo arrependeu-se de ter tocado no tema, especialmente
diante de Marisa.

No primeiro caso (“Os recém-casados se amavam intensamente”), o se é um

pronome reflexivo recíproco, exercendo a função sintática de objeto direto do verbo

amar. No segundo caso (“A matrona feriu-se ao tropeçar...”), o se é pronome reflexivo e

exerce a função sintática de objeto direto do verbo ferir. Na última frase (“Romualdo

arrependeu-se de ter tocado no tema...”), o pronome se é parte integrante do verbo

e não exerce nenhuma função sintática. O sentido do pronome, portanto, varia nas
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três ocorrências, e sua função sintática é a mesma nas duas primeiras.

5 (Faap-SP)

De qualquer modo, a ciência saiu perdendo. Depois de duas décadas


em que os Estados Unidos mostraram o rumo da exploração dos plane-
tas, estrelas e galáxias distantes, esse país parecia (no fim da década de
70 e começo de 80) disposto a ceder aquela liderança para os soviéticos e
para duas novas potências espaciais – o Japão e a agência europeia de dez
países. Então o presidente Reagan descobriu o espaço: melhoraram-se as
verbas para a Nasa, obteve-se novo impulso para a ciência do espaço,
ordenou-se o desenvolvimento da estação espacial. A estação deixou-se
transformar num verdadeiro laboratório científico em órbita.

No parágrafo acima, há quatro ocorrências da palavra se. Pertencem elas à mes-


ma classificação? Justifique.
Nas quatro ocorrências, o se é pronome. Nas três primeiras vezes em que aparece,

desempenha a função de partícula apassivadora. Na última, atua como sujeito de

um infinitivo.

6 (UEPG-PR) O se indica reciprocidade apenas em: Apenas nesse caso há


reciprocidade verbal,
a) ... pela janela um pouco de árvore e de luta vem depositar-se na cama. pois tanto o pala-
dar quanto o olfato
b) ... pois nessa fase de desintegração da consciência, paladar e olfato já se ema- “emaranham-se” em
ranharam numa percepção confusa. uma percepção con-
fusa.
c) ... o corpo a corpo com as amendoeiras se ativa.
d) ... temos de fechar a janela, para que o tropel do combate não se instale em
nosso peito.
e) ... os edifícios em formação tornam-se laboratórios de ecos e fábricas de gri-
tos, com esquadrias em alvoroço.

37
Para saber mais
Usos das funções do que
É possível verificar, em qualquer texto, oral ou escrito, várias ocorrências da pala-
vra que com diferentes classificações morfológicas e desempenhando funções sintá-
ticas diversas. No texto abaixo, destacamos todas as ocorrências do que para indicar
algumas das classes de palavras que esse termo pode representar. Observe.

The Bridgeman Art Library/Keystone

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A criação, xilogravura publicada na Bíblia de Lutero, 1530.

O resultado
No princípio Deus criou os céus e a terra. À parte sólida, chamou terra, e
ao conjunto das águas, chamou mar.
E Deus viu que isso era bom. [...]
E disse: “Faça-se a luz.” E a luz foi feita.
E Deus viu que a luz era boa e separou a luz das trevas. [...]
Criou, então, todos os seres vivos que se movem nas águas e na terra, e
as aves.
E Deus viu que isso era bom.
A seguir, Ele criou o homem à sua própria imagem e disse: “Não é conve-
niente que o homem esteja só; vou dar-lhe uma companheira semelhante a ele”.
Então, criou a mulher. “Crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a terra.”
E se pudesse avaliar o resultado agora, bilhões e bilhões de anos depois
[...], dificilmente Deus veria que isso era bom.
Mesmo com toda a Sua boa vontade. [...]

38
Professor: O objetivo
Como é que Deus ia adivinhar que os homens seriam tão trapalhões em desta atividade é ga-
rantir que os alunos
questões como justiça social, saúde e educação para todos, e a população ia consigam identificar
acabar nessa miséria? E a falta de consciência ecológica, e os problemas de a classificação morfo-
saneamento básico, e as praias lotadas, e os engarrafamentos, e a violência, lógica e a função sin-
tática exercida pela
e as filas, e as favelas? palavra que em todas
Não. Deus não era adivinho. as suas ocorrências
no texto escolhido
Quando deduziu que não era conveniente deixar o homem sozinho e por eles. Acreditamos
criou a tal companheira para o coitado, Ele não podia prever que mulher que, assim, os alunos
consigam compreen-
gosta de discutir a relação, adora fazer compras no shopping e chora por der que esse termo
tudo. Por isso, talvez, Ele não predisse: tentarás fugir desse inferno que não só pode repre-
virou a tua vida, pedirás o divórcio, mas o advogado dela exigirá até o teu sentar diferentes
classes de palavra,
último centavo. mas também que a
Por outro lado, Deus ordenou à mulher: “Procurarás compaixão a quem função sintática por
ele exercida está di-
serás sujeita, o teu marido”, sem prevenir que ela estaria sujeita a um sujeito retamente associada
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

tão complicado e [...] sem determinar se ela precisava se sujeitar inclusive ao à sua classificação
sapato dele no meio da sala. morfológica em um
dado contexto de
FALCÃO, Adriana. O doido da garrafa. São Paulo: Planeta, 2003. p. 57-60. ocorrência. Portanto,
no momento de
avaliar o resultado
conjunção integrante pronome relativo partícula expletiva da atividade, é im-
portante observar se
os alunos foram ca-
Observe que, no texto transcrito, nas suas várias ocorrências, a palavra que pazes de identificar
representa diferentes classes gramaticais e nem sempre desempenha a mesma corretamente não só
função sintática. a classe morfológica
a que pertence o que,
Veja que, em todas as ocorrências em que a palavra se classifica como conjun- mas também a fun-
ção integrante, ela tem a função de conectivo e introduz orações subordinadas ção exercida por ele
no contexto em que
substantivas. Em “[Não é conveniente] que o homem esteja só...”, o que introduz ocorre.
uma oração subordinada substantiva subjetiva; nas demais ocorrências, as orações
introduzidas pelo que são substantivas objetivas diretas.
Nas ocorrências observadas em “[os seres vivos] que se movem nas águas e na
terra” e “[desse inferno] que virou a tua vida”, o que é um pronome relativo, que
funciona, sintaticamente, no primeiro enunciado, como sujeito e, no segundo,
como predicativo do sujeito de orações subordinadas adjetivas restritivas.
Por último, no enunciado “Como é que Deus...”, o que é classificado como
partícula expletiva, e, como tal, não exerce função sintática específica. Por isso,
pode ser retirado do enunciado sem que se prejudique o seu sentido (“Como Deus
ia adivinhar...”).
As diversas classes representadas pela palavra que e as diferentes funções que
ela pode desempenhar em suas ocorrências são explicadas pelo fato de que, em-
bora o termo em questão seja o mesmo, o seu funcionamento, na língua, varia de
acordo com o contexto em que ele ocorre.

Da teoria à prática
Você deverá escolher um pequeno texto e destacar, como fizemos com o texto
de Adriana Falcão, todas as ocorrências da palavra que, identificando, em cada uma
delas, a classe morfológica a que esse termo pertence e a função por ele exercida
no contexto em que ocorre.

39
Navegando no módulo

COORDENATIVA
CONJUNÇÃO
INTEGRANTE
SUBORDINATIVA
Advérbio
ADVERBIAL

preposição RELATIVO

QUE PRONOME INTERROGATIVO

INDEFINIDO

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.


SUBSTANTIVO

INTERJEIÇÃO

PARTÍCULA EXPLETIVA
OU DE REALCE

Marcela Pontara • Juanito Avelar


GRAMÁTICA
SUBORDINATIVA INTEGRANTE
CONJUNÇÃO

Maria Luiza M. Abaurre •


SUBORDINATIVA
ADVERBIAL CONDICIONAL

REFLEXIVO
SE
RECÍPROCO

ÍNDICE DE
PRONOME
INDETERMINAÇÃO

APASSIVADOR

INTEGRANTE DO VERBO

PARTÍCULA EXPLETIVA
OU DE REALCE

40

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