Klein, L.F.2016TrajetoriaEducJesuiticaBrasil
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Introdução
O presente trabalho 1 procura destacar as etapas principais da
trajetória percorrida pelos jesuítas no Brasil no campo da educação,
desde a sua chegada ao país até os dias de hoje. Para isso, tratou-se de
recorrer a algumas fontes bibliográficas produzidas por jesuítas
historiadores e por outros estudiosos e pesquisadores, dentre as quais
se destaca a História da Companhia de Jesus no Brasil, em 10 volumes,
do jesuíta português Pe. Serafim Leite, publicada entre 1938 e 1950.
Três etapas serão consideradas nesta apresentação: 1ª.) Da
chegada dos jesuítas até a sua expulsão; 2ª.) A retomada educacional a
partir da restauração e 3ª.) A missão educativa nos dias de hoje.
1 Esta apresentação foi feita no Ciclo de Debates 2016 promovido dia 21/05/2016 pelo
Pateo do Collegio, em São Paulo, sob o título A Pedagogia Jesuítica.
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Eram os PP. Antonio Pires, João de Azpilcueta, Leonardo Nunes e Manuel da
Nóbrega, e dois noviços: Diogo Jácome e Vicente Rodrigues.
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O Padroado era um contrato estabelecido no século XV entre a Santa Sé e a Coroa
Portuguesa, que durou até o Concílio Vaticano II. O Papa, através de diversas
bulas, conferia ao rei o papel de protetor da Igreja nos domínios portugueses, com
alguns direitos, como o de construir igrejas, criar dioceses, nomear padres e
bispos.
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A principal coisa que me moveu a mandar povoar as ditas terras do Brasil foi para
que a gente dela se convertesse à nossa Santa Fé Católica vos encomendo muito
que pratiqueis com os ditos capitães e oficiais a melhor maneira que para isso se
pode ter e de minha parte lhes direis que lhes agradecerei muito terem especial
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cuidado de os provocar a serem cristãos e para eles mais folgarem de o ser tratem
bem todos os que forem de paz e os favoreçam sempre e não consintam que lhes
seja feito opressão nem agravo algum e fazendo-se-lhe lho faça corrigir e emendar
de maneira que fiquem satisfeitos e as pessoas que lhos fizerem sejam castigadas
como for justiça (A Primeira Constituição do Brasil – O Regimento de Dom João III
entregue a Tomé de Sousa, n.24. In: Guia Geográfico História do Brasil. Disponível
em: <http://www.historia-brasil.com/colonia/constituicao-1548.htm> Acesso em 15
abr. 2016.
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Vicente Rijo: o primeiro mestre do Brasil. In: MATTOS, Luiz Alves de, Primórdios da
Educação no Brasil, Rio de Janeiro: Aurora, 1958. p. 159-181.
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LEITE, Serafim, Breve História da Companhia de Jesus no Brasil. 1549-1760. Braga:
Apostolado da Imprensa, s/d. p. 3.
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Assim relata o Pe. Azpilcueta Navarro: Quando cheguei disseram-me que tinham
acabado de matar uma menina e mostraram-me a casa: entrei e descobri que
estavam cozinhando o corpo dela, vendo-se a cabeça pendurada de uma trave. Eu
comecei a repreendê-los e a execrar aquela ação tão abominável e contra a
natureza. Um deles respondeu que seu eu continuasse a falar naquele tom
acabariam fazendo o mesmo com todos nós. Eventualmente ficamos amigos e
deram-nos comida. Depois disso, fui a outras casas e vi pés humanos, mãos e
cabeças sendo defumados. Repreendemos também todos esses e pedimos que
abominassem ações tão horrendas. Disseram-nos, mais tarde, que todos eles
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enterraram aquelas partes de carne humana e creio que, até certo ponto, se
corrigiram daqueles maus costumes (ECHANIZ, Ignacio, Paixão e Glória. História da
Companhia de Jesus em corpo e alma. Tomo I Primavera (1529-1581). S. Paulo:
Loyola, 2006. p. 193).
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O Pe. Serafim Leite registra um testemunho: Quando algum destes nossos meninos
sai fora, juntam-se mais de 200 meninos dos gentios e o abraçam e riem com ele,
fazendo muita festa, e veem ali a casa dos meninos a aprender a doutrina, e depois
vão-se a suas casas a comunicá-la e a ensiná-la a seus pais e irmãos; e os gentios
já fizeram uma ermida lá dentro da terra, onde têm uma cruz, e os meninos índios
ajuntam-se ali e fazem oração e ensinam aos outros a doutrina que os nossos
meninos lhes ensinam; e como são novos, logo aprendem, de maneira que já os
nosso meninos entendem coisas da sua língua (LEITE, Serafim, Op. cit. p. 16).
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NÓBREGA, Manuel de. Apud MATTOS, Luiz Alves de, Op. cit. p. 47.
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Diz o Pe. Serafim Leite que na dispersão em que viviam, embora um ou outro índio
individualmente se convertesse, continuando ele a viver no seu ambiente gentio,
não dava garantias de perseverança, e fora da assistência dos padres não se
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MATTOS relata que a Confraria dos Meninos de Jesus de São Vicente tornou-se uma
das mais prósperas instituições da capitania; possuía como fundo patrimonial um
amplo sítio na própria vila de São Vicente... e uma grande sesmaria em Peruíbe...
Possuía também escravos, dez vacas e outras coisas (MATTOS, Op. cit. p. 65).
14
MOURA, Laércio Dias de. A educação católica no Brasil. Passado, presente e futuro.
Brasília: ANAMEC, S. Paulo: Loyola, 2000. p. 28.
15
KLEIN, Luiz Fernando, Atualidade da Pedagogia Jesuítica. In: Centro Virtual de
Pedagogía Ignaciana. Disponível em:
<http://pedagogiaignaciana.com/GetFile.ashx?IdDocumento=1580> p. 26. Acesso em
01 maio 2016.
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16
KLEIN, Luiz Fernando, Atualidade da Pedagogia Jesuítica, Op. cit. Disponível em:
<http://pedagogiaignaciana.com/GetFile.ashx?IdDocumento=1580> p. 28. Acesso em
01 maio 2016.
17
LEITE, Serafim. Op. cit.
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18
Nóbrega escrevia em abril de 1549: Temos determinado ir viver com as aldeias
como estivermos assentados e seguros e aprender com eles a língua, e os ir
doutrinando pouco a pouco (Apud: FERNANDES, Francisco Assis Martins,
Comunicação na pedagogia dos jesuítas na era colonial. S. Paulo: Loyola, 1980. p.
71).
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SANTOS, César Augusto dos, O Colégio de Piratininga. A influência da espiritualidade
inaciana na fundação da cidade de São Paulo. S. Paulo: Loyola, 2007. p. 66.
20
LEITE, Serafim. Op. cit. p. 54.
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21
Para atrair a atenção e generosidade pública sobre a incipiente obra educativa, Nóbrega
recorreu ao processo da venda simulada do Pe. Paiva, homem de virtude, a quem ele
podia provar com confiança. Todos compreenderam o que se intentava, sem escândalo
dos que presenciaram a edificante cena, um dos quais, o mais categorizado de todos,
Tomé de Sousa, exaltará depois em Lisboa o modo que Nóbrega tinha com os próximos
(LEITE, Serafim, Op. cit. p. 5).
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Assim relatava Anchieta: Desde o mês de janeiro até agora, mais de vinte de nós
estamos morando numa casa pobre e pequena que nos serve como escola, enfermaria,
dormitório, sala de jantar, cozinha e despensa. O espaço que temos é tão pequeno que,
algumas vezes, somos obrigados a sair para o ar livre a fim de dar aula de gramática
para os estudantes jesuítas. Esta casa foi construída pelos próprios índios, mas agora
nós mesmos, com alguma ajuda deles, vamos construir uma estrutura maior (ECHANIZ,
Ignacio. Op. cit. p. 196).
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O decreto de supressão da Companhia de Jesus, assinado pelo Papa Clemente XIV a
21 de julho de 1773, atingiu no mundo 22.589 jesuítas, distribuídos em 49
Províncias, que sustentavam 669 colégios, 61 noviciados, 24 Casas Professas, 340
residências, 171 seminários, 1.542 igrejas e 271 missões (GREVE, Aristides.
Subsídios para a história da restauração da Companhia de Jesus no Brasil. S. Paulo,
s.n., 1942).
24
AZEVEDO, Fernando de. A Cultura Brasileira. S. Paulo: Melhoramentos, Tomo
Segundo: A Cultura, 1958.
11
25
MARCíLIO, Maria Luiza, História da escola em São Paulo e no Brasil. S. Paulo:
Imprensa Oficial, 2014. p. 83.
26
MOURA, Laércio Dias de, A Educação Católica no Brasil. S. Paulo: Loyola, 2000. p.
71.
27
Os primeiros jesuítas a reentrar no Brasil foram os PP. João Coris, José Sató e
Manuel Berdugo, e os Irmãos Gabriel Fiol e José Saracco (MONDONI, Danilo. Os
expulsos voltaram. S. Paulo: Loyola, 2015. p. 35).
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28
Os três documentos encontram-se reunidos numa única edição, em KLEIN, Luiz
Fernando (org.), Educação Jesuíta e Pedagogia Inaciana. S. Paulo: Loyola, 2015.
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29
ASSOCIAÇÃO DAS UNIVERSIDADES confiadas à Companhia de Jesus na América Latina
(AUSJAL), Desafios da América Latina e proposta educativa AUSJAL. Recife:
Universidade Católica de Pernambuco, 1995.
15
30
VISITA do Padre Geral ao Brasil. Alocuções e homilias. S. Paulo, Ed. Loyola (Col.
Ignatiana, 38), 1993.
31
KLEIN, Luiz Fernando, Atualidade da Pedagogia Jesuítica. Op. cit. Disponível em:
<http://pedagogiaignaciana.com/GetFile.ashx?IdDocumento=1580> p. 40. Acesso em
01 maio 2016.
17
32
KLEIN, Luiz Fernando, Educação Personalizada. Desafios e perspectivas. S. Paulo:
Loyola, 1998: p. 107.
33
BAKER, James, Ministerios de seglares e religiosos: hacia un plan de colaboración.
In: Educación Jesuita. Su inspiración: la espiritualidad ignaciana. Roma, Centrum
Ignatianum Spiritualitatis (CIS), 1980. p. 109-128.
34
ARRUPE, Pedro, Nossos colégios hoje e amanhã. In: KLEIN, Luiz Fernando,
Educação Jesuíta e Pedagogia Inaciana, Op. cit. p. 13-33.
18
35
In: KLEIN, Luiz Fernando (org.), Educação Jesuíta e Pedagogia Inaciana. Op. cit. p.
37-112.
36
Id. Ibid. p. 163-247.
37
A CPAL publicou, em 2002, pela Edições Loyola o CD Educar para Transformar.
Paradigma Pedagógico Inaciano, cuja direção geral foi de Andrea Cecília Ramal e
Martha Sutter.
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38
PROVÍNCIA DO BRASIL CENTRO-LESTE, Carta de Princípios dos Colégios Jesuítas, S.
Paulo: Loyola, 4. ed., 1994.
39
ASSOCIAÇÃO DOS COLÉGIOS JESUÍTAS (ACOJE), Projeto Educativo da Província do
Brasil Centro-Leste da Companhia de Jesus. S. Paulo: Loyola, 1998.
40
RAMAL, Andrea Cecília Ramal. Hacia un proyecto educativo común. Síntesis de los
proyectos educativos de la Compañía de Jesús en América Latina. Rio de Janeiro:
CPAL, 2004.
41
CPAL (Conferência de Provinciais Jesuítas da América Latina), Projeto Educativo
Comum da Companhia de Jesus na América Latina, Rio de Janeiro, 2005.
20
42
ESTATUTO da Província dos Jesuítas do Brasil, Rio de Janeiro, [s.n.], [2014].
43
Magis é um conceito fundamental na espiritualidade inaciana e na pedagogia dos
jesuítas. Trata-se de, como contrapartida ao amor de Deus, buscar realizar
qualquer atividade da vida com generosidade e qualidade.
44
EL SISTEMA de mejora de la calidad en Fe y Alegría. [S.l.], 2009.
21
45
1º. CONGRESSO INACIANO DE EDUCAÇÃO, S. Paulo: Loyola, 1991 (Col. Documenta
SJ - 9).
46
A PEDAGOGIA INACIANA RUMO AO SÉCULO XXI. 2º Congresso Inaciano de Educação,
São Paulo: Loyola, 1998, (Col. Documenta, 14).
47
OSOWSKI, Cecília Irene (org.), Educação e mudança social por uma pedagogia da
esperança. III Congresso Inaciano de Educação. S. Paulo: Loyola, 2002.
48
SERAFIN, Vitorino (org.). Pedagogia Inaciana e os novos sujeitos históricos. IV
Congresso Inaciano de Educação (26 a 29 de julho de 2005). Florianópolis: Ed.
Catarinense, 2006.
49
RAMIRO, João (org.), Educação Inaciana, Ética e Diálogo com as culturas. 5º.
Congresso Inaciano de Educação. S. Paulo: Loyola, 2011.
22
50
Sheila frequentou o Pré-Escolar do Colégio São Luís no 2º. semestre de 1992, tendo
falecido no primeiro dia do ano escolar subsequente, dia 8 de fevereiro de 1993.
51
MAIA, Pedro Américo. Escola e Aids. Rejeição ou educação. S. Paulo: Loyola, 1992.
52
MORALES, Jaime. Para toda a vida, 2013: In Youtube. Disponível em
<https://www.youtube.com/watch?v=OrJdRfXuhzE> Acesso em 01 maio 2016.
23
53
CENTRO VIRTUAL DE PEDAGOGÍA IGNACIANA <www.pedagogiaignaciana.com>.
54
OSOWSKI, Cecília Irene; BECKER, Lia Bergamo (Orgs.), Visão Inaciana da
Educação: desafios hoje. S. Leopoldo: UNISINOS, 1997.
55
OSOWSKI, Cecília Irene (Org.), Provocações da Sala de Aula. S. Paulo: Loyola,
1999.
24