Gampopa-Ornamento Da Preciosa Liberação
Gampopa-Ornamento Da Preciosa Liberação
Gampopa-Ornamento Da Preciosa Liberação
O Ornamento da
Preciosa Liberação
A Joia Que Realiza Desejos
dos Nobres Ensinamentos
Gampopa
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O Ornamento da Preciosa Liberação Gampopa
Conteúdo
Conteúdo ............................................................................................................................................ 2
Dedicação ......................................................................................................................................... 11
Prefácio ............................................................................................................................................. 11
Agradecimentos .............................................................................................................................. 12
Introdução do Tradutor ................................................................................................................. 14
SINOPSE .......................................................................................................................................... 16
PARTE 1: A CAUSA PRIMÁRIA .............................................................................................. 16
Capítulo 1: A Natureza Búdica ................................................................................................. 16
PARTE 2: A BASE DE TRABALHO ......................................................................................... 16
Capítulo 2: A Vida Humana Preciosa ...................................................................................... 16
PARTE 3: A CAUSA CONTRIBUINTE ................................................................................... 17
Capítulo 3: O Mestre Espiritual................................................................................................. 17
PARTE 4: O MÉTODO ............................................................................................................... 18
Capítulo 4: Impermanência ....................................................................................................... 18
Capítulo 5: O Sofrimento do Samsara ...................................................................................... 19
Capítulo 6: O Carma e seu Resultado ...................................................................................... 20
Capítulo 7: Bondade Amorosa e Compaixão .......................................................................... 21
Capítulo 8: Refúgio e Preceitos ................................................................................................. 22
Capítulo 9: O Cultivo da Bodicita ............................................................................................. 24
Capítulo 10: O Treinamento na Bodicita de Aspiração ......................................................... 24
Capítulo 11: O Treinamento na Bodicita de Ação .................................................................. 25
Capítulo 12: A Perfeição da Generosidade .............................................................................. 26
Capítulo 13: A Perfeição da Ética Moral .................................................................................. 26
Capítulo 14: A Perfeição da Paciência ...................................................................................... 27
Capítulo 15: A Perfeição da Perseverança ............................................................................... 27
Capítulo 16: A Perfeição da Concentração Meditativa .......................................................... 28
Capítulo 17: A Perfeição da Sabedoria Discriminativa ......................................................... 28
Capítulo 18: Os Aspectos dos Cinco Caminhos...................................................................... 29
Capítulo 19: Os Dez Bhumis dos Bodisatvas .......................................................................... 29
PARTE 5: O RESULTADO ......................................................................................................... 30
Capítulo 20: A Iluminação Perfeita........................................................................................... 30
PARTE 6: AS ATIVIDADES ...................................................................................................... 31
Capítulo 21: As Atividades do Buda ........................................................................................ 31
Homenagem .................................................................................................................................... 33
Introdução ........................................................................................................................................ 34
PARTE 1 ........................................................................................................................................... 35
A Causa Primária ............................................................................................................................ 35
CAPÍTULO 1 ................................................................................................................................... 35
A Natureza de Buda ....................................................................................................................... 35
I. Família Desconectada .............................................................................................................. 36
II. Família Indefinida .................................................................................................................. 37
III. Família dos Ouvintes ............................................................................................................ 37
IV. Família dos Realizadores Solitários.................................................................................... 37
V. Família Mahayana .................................................................................................................. 38
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O Ornamento da Preciosa Liberação Gampopa
A. Classificação. ....................................................................................................................... 38
B. Definição. ............................................................................................................................. 38
C. Sinônimos. ........................................................................................................................... 38
D. Superioridade. .................................................................................................................... 39
E. Características Causais. ...................................................................................................... 39
F. Marcas................................................................................................................................... 39
PARTE 2 ........................................................................................................................................... 41
A Base de Trabalho ........................................................................................................................ 41
CAPÍTULO 2 ................................................................................................................................... 41
A Vida Humana Preciosa .............................................................................................................. 41
I. Liberdades. ............................................................................................................................... 41
II. Vantagens. ............................................................................................................................... 42
A. Difícil de Obter. .................................................................................................................. 43
B. Grande Benefício. ................................................................................................................ 44
III. Fé Confiante. .......................................................................................................................... 46
IV. Fé Esperançosa. ..................................................................................................................... 46
V. Fé Clara. ................................................................................................................................... 46
PARTE 3 ........................................................................................................................................... 48
A Causa Contribuinte .................................................................................................................... 48
CAPÍTULO 3 ................................................................................................................................... 48
O Mestre Espiritual ........................................................................................................................ 48
I. Razão. ........................................................................................................................................ 48
A. Escrituras. ............................................................................................................................ 48
B. Lógica. .................................................................................................................................. 49
C. Comparações. ...................................................................................................................... 49
II. Classificação. ........................................................................................................................... 50
III. Características de Cada Classificação. ............................................................................... 50
A. Mestres Espirituais Nirmanakaya e Sambogakaya....................................................... 50
B. Mestres Espirituais Bodisatvas. ........................................................................................ 50
C. Mestres Espirituais Comuns. ............................................................................................ 51
IV. Método.................................................................................................................................... 52
A. Respeito e Serviço. ............................................................................................................. 52
B. Devoção e Reverência. ....................................................................................................... 52
C. Prática e Persistência. ......................................................................................................... 52
V. Benefícios. ................................................................................................................................ 53
PARTE 4 ........................................................................................................................................... 54
O Método ......................................................................................................................................... 54
Introdução à PARTE 4 ................................................................................................................... 54
CAPÍTULO 4 ................................................................................................................................... 56
Impermanência ............................................................................................................................... 56
I. Classificação.............................................................................................................................. 56
II. Método de Meditação. ........................................................................................................... 56
A. Impermanência do Mundo Externo. ............................................................................... 56
B. Impermanência dos Seres Sencientes Internos. .............................................................. 57
III. Efeitos Benéficos da Meditação. .......................................................................................... 62
CAPÍTULO 5 ................................................................................................................................... 64
O Sofrimento do Samsara ............................................................................................................. 64
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Dedicação
Este livro é dedicado a Sua Suprema Santidade, Tenzin Gyatso, o XIV Dalai Lama, o exemplo
incomparável neste planeta da paz interna e externa naturais, e aos meus lamas-raiz por sua
bondade ilimitada.
O DALAI LAMA
Prefácio
Fico satisfeito em saber que o Centro Tibetano de Meditação Drikung Kagyu está
publicando uma versão em inglês de O Ornamento da Preciosa Liberação de Gampopa. Gampopa
também é conhecido pelo nome Dakpo Lhaje – “O Médico de Lhaje”. De todos os discípulos de
Milarepa, os dois mais destacados eram chamados de “o sol e a lua”, e Gampopa era o discípulo
“sol”. Ele foi um grande e bondoso professor, e um praticante de vasto conhecimento e disciplina.
Este texto é uma obra excelente que reflete a combinação de dois sistemas de ensinamento – a
tradição Kadampa e a tradição Mahamudra. Gampopa recebeu a transmissão completa da tradição
Lamrim de Jowo Je e da tradição Mahamudra de Naropa. Este texto é, portanto, um texto Lamrim,
e reflete a visão filosófica Madhyamika. Mas também reflete implicitamente os ensinamentos de
Anuttarayogatantra e Mahamudra. O Mahamudra não é explicado explicitamente, entretanto, uma
vez que este é um texto dos sutras e o Mahamudra trata dos ensinamentos secretos do tantra.
Visto que muitos ocidentais estão agora desenvolvendo um interesse sincero pelos
ensinamentos do Buda, a versão em inglês deste ensinamento maravilhoso chega na hora certa e
estou seguro de que ela será de grande ajuda para os leitores da língua inglesa. Eu gostaria de
lembrar o leitor de que não basta simplesmente conhecer o significado do Darma – devemos
sempre nos esforçar para aplicá-lo em nossas vidas cotidianas e para seguir de forma sincera o
método de prática que Milarepa e Gampopa nos ensinaram.
10 de Junho de 1996
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Agradecimentos
Somos sinceramente gratos por todas as causas e condições que tornaram possível a
publicação desta tradução. Um empreendimento desta profundidade só poderia ter sido realizado
com o apoio bondoso e generoso de outras pessoas. Em especial, eu gostaria de reconhecer os
esforços de:
- Todos os membros dos Centros Drikung Kagyu nos Estados Unidos, por lerem repetidamente o
manuscrito, sugerindo melhorias e nos encorajando a completar o projeto. Gostaríamos de
agradecer especialmente a Robin Adams por seu apoio financeiro compassivo, e a Steve Willing
por sua edição e revisão meticulosas.
- Ao Lama Gyursam Acharya, lama residente do Centro Tibetano de Meditação, que foi útil de
tantas formas.
- Ao grupo da Snow Lion Publications, por garantirem a publicação bem-sucedida deste e de
outros livros.
Possam a virtude acumulada por este trabalho e por todos os méritos de todas as vidas ser
uma causa para a iluminação de todos os seres sencientes!
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O Ornamento da
Preciosa Liberação
A Joia Que Realiza Desejos
dos Nobres Ensinamentos
por
Gampopa
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O Ornamento da Preciosa Liberação Gampopa
Introdução do Tradutor
O Senhor do Darma Gampopa (1074 – 1153 D.C.), autor de O Ornamento da Preciosa Liberação,
possuía realização completa dos ensinamentos e práticas do budismo, a filosofia ensinada pelo
Buda Sakiamuni em, aproximadamente, 560 A.C. Gampopa estudou o sistema de treinamento dos
sutras na linhagem Kadampa e recebeu o treinamento tântrico do grande santo Milarepa. Desta
forma, por ter corporificado a forma completa do budismo, o Senhor Gampopa estabeleceu com
sucesso o budismo completo no Tibete. Sua linhagem de discípulos se espalhou por toda
Jambudvipa e se tornou a joia da coroa de todo o budismo.
Ele dissipou completamente a escuridão da confusão e resolveu todos os mal-entendidos
entre os sistemas dos sutras e dos tantras. É por isso que ele ficou conhecido entre os discípulos de
Milarepa como o “discípulo sol”. Na verdade, era como se o próprio Buda tivesse se manifestado
novamente em forma humana. Portanto, os ensinamentos de Gampopa são reconhecidos como
completamente puros e preciosos.
Entre os muitos textos importantes que ele escreveu O Ornamento da Preciosa Liberação é,
provavelmente, o mais significativo. Gampopa disse: “Para qualquer um que deseje me encontrar, o
estudo de O Ornamento da Preciosa Liberação e da Guirlanda Preciosa do Caminho Excelente é o mesmo que
estar comigo”. Assim, o Ornamento da Preciosa Liberação atua como regente de Gampopa nos tempos
atuais. Neste livro você encontrará a forma completa do budismo – desde o ponto inicial, a base
pela qual começamos o caminho, até a realização da iluminação e a manifestação de atividades para
o benefício de infinitos seres sencientes.
A primeira tradução para o inglês desta obra foi realizada pelo professor Herbert Guenther
em 1959. Sua dedicação e iniciativa tornaram este texto conhecido entre os ocidentais, e muitas
pessoas receberam grandes benefícios desse generoso esforço. Eu me alegro por isso e respeito
muito esse trabalho maravilhoso. Devido à sua tradução, eu fui encorajado por muitos estudantes a
ensinar O Ornamento da Preciosa Liberação. Durante as aulas eu traduzi diretamente do tibetano para
meu inglês simples, e busquei apoio para passagens difíceis no livro do professor Guenther. Desta
forma levamos cerca de dois anos e meio para passar por todo o texto. Muitos estudantes
expressaram como receberam benefícios dessa apresentação direta. Assim, pensando que outros
também poderiam se beneficiar, decidimos publicar esta tradução.
Para que vocês, leitores, não tenham que consultar muitas fontes diferentes, traduções da
história da vida do Senhor do Darma Gampopa e outras histórias citadas no texto foram incluídas
aqui. Elas foram tiradas do Bendurya Tratsom, compilado pelo Venerável Khenpo Lodro Donyo, um
dos meus melhores amigos dos tempos de escola. O livro dele é muito útil ao estudar O Ornamento
da Preciosa Liberação porque complementa todas as histórias.
Nos séculos sétimo, oitavo, décimo, décimo primeiro e décimo segundo no Tibete, muitos
tradutores iluminados transportaram o budismo do sânscrito para o tibetano. Os textos budistas de
que dispomos em tibetano podem ser traduzidos quase que exatamente de novo para o sânscrito,
sem perder nada do seu significado original. Isto foi possível porque a língua tibetana é muito rica e
se aproxima bastante do sânscrito. Além disso, eles traduziram e retraduziram os textos muitas
vezes.
Havia três estilos básicos de tradução naquele tempo: literal, focado no significado, e tanto
literal quanto focado no significado combinados. Muitos grandes tradutores fizeram o esforço de
traduzir o texto literal e o significado juntos. Fizemos todo o esforço possível aqui para traduzir
desta forma, mas devido às limitações da língua inglesa e ao significado profundo do Darma, esta
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SINOPSE
Este livro inicia abordando a natureza búdica, que é a causa primária ou “semente” para
atingir a iluminação. Se esta causa não estivesse presente não importaria quanto esforço fosse
realizado, pois não haveria progresso. Por exemplo, em uma fazenda, se não houver a semente não
importa o quanto se cultive ou fertilize, pois nada irá crescer. Mas, se houver a semente, a causa
primária, então a semente brotará quando encontrar as causas contribuintes adequadas e, em
algum momento, dará seus frutos. Por outro lado, mesmo que haja a semente, se ela não encontrar
todas as causas e condições necessárias não brotará ou crescerá. Do mesmo modo, mesmo que
todos os seres sencientes estejam permeados pela natureza búdica, a semente da iluminação, o
sucesso depende de cada indivíduo. Se não forem aplicadas as causas necessárias será necessário
mais tempo para manifestar o resultado desejado.
Ilustrando de outra forma, a semente de mostarda está permeada pelo óleo. Não há
diferença entre o óleo na semente e o óleo na jarra. Um não é melhor que o outro. Mas, até que ele
seja efetivamente produzido a partir da semente de mostarda, não poderá ser chamado de “óleo”.
Para que o óleo seja produzido todas as causas e condições necessárias são requeridas: primeiro é
preciso saber que há óleo na semente de mostarda; então, deve-se saber como extrair o óleo; e,
finalmente, como aplicar o esforço adequadamente. Assim, será possível obter o óleo. Igualmente,
apesar de todos os seres sencientes estarem permeados pela natureza búdica, eles não podem ser
chamados de “Buda” até realizarem o estado búdico. Portanto, para alcançar a iluminação,
primeiro precisamos saber que possuímos a natureza búdica, o potencial completo que não é
diferente da natureza do Buda.
Essa é uma forma de fortalecer a autoestima e de cortar as atitudes de desesperança e
desencorajamento. Com base nesta confiança, devemos aplicar estes estágios progressivos como um
instrumento para manifestar completamente a natureza da iluminação perfeita. Devido ao interesse
e coragem individuais, alguns alcançam a iluminação antes que os outros. Portanto, o Senhor do
Darma Gampopa descreveu cinco diferentes famílias. O Senhor Jigten Sumgön2 disse: “A natureza
búdica é inerentemente pura e possui todas as qualidades excelentes do Buda”. Essa fala vajra é
explicada em maiores detalhes em seu texto Gong Chik.
Qual é o significado do fato de que todos os seres sencientes estão permeados pela natureza
búdica? Significa que não importa o quão impiedoso alguém possa ser, ainda assim existe alguma
bondade amorosa e compaixão, pelo menos com a própria família. Quando o sol está no céu, não
importa o quão densa seja a camada de nuvens, alguma pálida luz ainda brilhará através delas. Da
mesma forma, nossa natureza búdica não pode ser completamente obscurecida e, assim, todos
temos o potencial de progredir e manifestar completamente a iluminação. Para compreender a
natureza búdica em detalhes estudem o Tantra Insuperável do Buda Maitreya. Também existem
muitos sutras e comentários sobre este tópico.
Como mencionado anteriormente, mesmo que a natureza búdica permeie todos os seres
sencientes algumas causas são necessárias para manifestar completamente esse potencial. A vida
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humana é uma das causas mais importantes. Ela é a base de trabalho para alcançar a iluminação. A
vida humana chamada de “preciosa” é uma vida com liberdades e vantagens.
Ter liberdades significa que há interesse no caminho e que também se dispõe de tempo
suficiente para estudar e praticar os ensinamentos – verdadeira independência. Mesmo havendo
muitos seres humanos no mundo, nem todos têm interesse no Darma, e mesmo aqueles que têm
interesse podem não ter tempo para participar. Para eles não é possível dedicar tempo suficiente de
suas vidas para avançar. Portanto, nem todos os seres humanos têm uma vida preciosa, apenas uns
poucos.
Ter vantagens significa dispor de uma compilação de todas as diferentes causas e condições.
Se apenas uma das dez vantagens estiver faltando, então perdemos a oportunidade de praticar o
precioso Darma, mesmo sendo seres humanos. Portanto, quando possuímos as liberdades e
vantagens temos a oportunidade de superar todo o sofrimento, de desenraizar todas as causas do
sofrimento e de alcançar as qualidades completas da iluminação.
Dessa forma, ao possuirmos essas qualidades devemos tomar vantagem delas
completamente, sem procrastinação ou preguiça. O tempo passa rapidamente a cada instante, não
há tempo adicional para prolongarmos nossas vidas. O conhecimento é infinito e não temos tempo
para estudar todas as coisas. Assim, deveríamos aproveitar o curto período de tempo que temos da
melhor forma possível, recebendo a essência dos ensinamentos e aplicando-os na prática o mais
rápido possível.
Liberdades e vantagens não surgem sem causas, mas são o resultado de grandes ações
virtuosas e da acumulação de méritos e sabedoria através de muitas vidas. Se você não acumular
novamente estas virtudes, méritos e sabedoria, e apenas “gastá-los” com os prazeres e felicidade
desta vida, você pode não reconquistar este corpo humano precioso que possui agora. Se isto
acontecer, você perderá toda a chance de beneficiar a si mesmo e aos outros. Como é melhor trocar
a felicidade temporária do samsara pela felicidade definitiva da iluminação! É por isso que é tão
importante estar vividamente consciente da oportunidade que temos com esta vida humana. É
como uma joia preciosa que seguramos em nossas mãos – se a jogarmos na lama ou a trocarmos por
uma pedra comum isso seria muito triste.
Para utilizarmos esta vida humana da melhor forma precisamos ter fé, ou confiança.
Primeiramente, a confiança está baseada no papel da causa e efeito. Todos os sofrimentos do
samsara são causados pelas ações não virtuosas; todos os benefícios e felicidade, temporários ou
definitivos, são causados pelas ações virtuosas. Devemos ter confiança na lei inexorável de causa e
efeito e, assim, nos aplicamos nesta prática. Então, para nos liberarmos completamente do ciclo do
samsara precisamos desenvolver a aspiração de alcançar a iluminação, o estado completamente
desperto. Vejam esse estado como o benefício e felicidade absolutos, e vejam que não há outra
forma de gerar felicidade duradoura.
Para fortalecer esta confiança olhamos para as qualidades excelentes do Buda, do Darma e
da Sanga. O Buda é a corporificação da sabedoria e compaixão. O Darma é o veículo que nos dá a
oportunidade de nos livrarmos de toda a confusão e de desenvolvermos as qualidades do Buda. É a
alquimia absoluta que transforma todas as negatividades. A Sanga apresenta exemplos de
praticantes bem-sucedidos, guerreiros no campo de batalha do samsara que vencem todos os
oponentes – o samsara e as emoções aflitivas – que protegem todos os seres sencientes e os levam
em direção à iluminação. Assim, quando possuímos fé apoiada pelas liberdades e vantagens de
uma vida humana preciosa, não levará muito tempo para cruzarmos o oceano do samsara e para
trazermos benefícios a tantos seres sencientes.
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Mesmo possuindo vidas humanas preciosas não estamos livres do samsara e estamos
tomados pela confusão. Assim, precisamos de orientação para nos mostrar o caminho para a
iluminação. Este é um fator crucial. Até mesmo para receber uma educação geral, samsárica, temos
que confiar em bons professores que estudaram por um longo tempo e que possuem experiência e
um bom caráter. Sem estas qualificações necessárias, não receberemos as instruções adequadas.
Agora estamos tratando de como nos liberar do samsara, um tema muito mais difícil. Se o
professor não conhecer a natureza do samsara e da iluminação e, especialmente, se não tiver
experiência com as práticas necessárias, então é como um cego guiando outro cego. Ao invés de
dissipar a confusão, mais confusão surgirá. Portanto, certas qualificações são necessárias para os
mestres espirituais. Estas qualificações especiais foram explicadas pelo Buda em muitos textos dos
sutras e dos tantras.
Deveríamos, inicialmente, examinar cuidadosamente um mestre espiritual e, então, segui-lo
para receber ensinamentos. Não confiem apenas em uma boa primeira impressão. Dentre as muitas
qualificações, uma das mais importantes é a bodicita. Se um mestre espiritual recebeu os votos de
bodicita, praticou-os por algum tempo e cuida deles como se fossem a sua própria vida, então ele
pode ser confiável mesmo não sendo um erudito ou muito articulado. Se o mestre espiritual estiver
tomado pelas emoções aflitivas, entretanto, a relação só trará confusões e pode até mesmo destruir
a sua pequena acumulação de virtudes. Portanto, examinem cuidadosamente as qualificações do
mestre espiritual de acordo com o testemunho das palavras do Buda e de sua própria experiência.
Quando vocês encontrarem um mestre espiritual adequado ao nível em que se encontram,
então sigam-no adequadamente sem permitir que a arrogância e o ego interfiram. Apoiem suas
atividades com trabalho sincero e provendo suas necessidades, mas especialmente através da
aplicação dos ensinamentos na prática – experimentar e compreender os ensinamentos. Se vocês
estiverem tomados pela arrogância e propósitos egoístas, então não receberão as bênçãos, não
importando a grandeza do mestre espiritual ou o poder e a profundidade dos ensinamentos.
O mau uso das instruções que recebemos pode, na verdade, causar mais sofrimento em vez
de levar à liberação do sofrimento. Portanto, o Senhor do Darma Gampopa disse: “Se você não
praticar o Darma de acordo com o Darma, ele poderá levá-lo aos reinos inferiores.” Assim, receba
os ensinamentos com motivação pura, vendo-os como o método para purificar toda a confusão e
emoções aflitivas, como um remédio para curar a doença crônica do samsara e para alcançar a
iluminação completa. Usar o Darma para aumentar os prazeres samsáricos é chamado de
“enfraquecer o Darma” e “fazer mau uso do Darma”. Para receber todas as vantagens dos preciosos
ensinamentos do Darma devemos cultivar uma motivação pura e aplicar, sinceramente, os
ensinamentos na prática, sem nos preocuparmos com as realizações samsáricas.
PARTE 4: O MÉTODO
O mestre espiritual pode nos transmitir muitos ensinamentos e instruções que combatam os
quatro obstáculos que nos impedem de alcançar a iluminação. Os mais essenciais são as instruções
sobre a natureza impermanente de todos os fenômenos e a natureza de sofrimento dos seis reinos
do samsara; esses ensinamentos apontam o método especial para nos liberarmos do apego. As
instruções sobre o carma e o resultado mostram o método especial para renunciarmos às causas do
sofrimento. O antídoto para o próprio egoísmo é a alegria e felicidade das práticas da bondade
amorosa e da compaixão. Para abrir as portas para a iluminação e entrar na cidadela da liberação a
cerimônia de refúgio é necessária. O método para alcançar a iluminação é o cultivo e a prática da
bodicita. Através destes métodos avançaremos, progressivamente, pelos dez bhumis e, como
resultado final, chegaremos à iluminação com os três kayas. A partir deste estado manifestaremos,
sem esforços, atividades para o benefício dos seres sencientes até o final do samsara.
Capítulo 4: Impermanência
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Existem três emoções aflitivas, também chamadas de os três venenos: apego, raiva e
ignorância. A ignorância é a causa-raiz da existência do samsara. A ignorância obscurece a
consciência clara da mente de ver o papel de causa e efeito e a natureza última de todos os
fenômenos. Isto significa que não conseguimos ver e entender a lei da interdependência de todos os
fenômenos, as causas grosseiras e sutis e seus efeitos. Como resultado, todos os fenômenos e, de
modo especial, a própria pessoa são percebidos como permanentes, únicos e reais. Devido a isto
surge o apego a si mesmo e às coisas de que gostamos. Qualquer coisa que vá contra isto recebe
nossa aversão e nos tornamos muito defensivos. Esforçamo-nos constantemente nesse reino sem
fim.
Nesta dimensão, não importa o quanto tentemos, não há como alcançar ou experimentar a
felicidade absoluta. Essas emoções perturbadoras foram internalizadas por tanto tempo, as
sementes das propensões inveteradas cresceram tanto, que sentimos que elas são naturais. Elas
surgem sem esforço quando encontramos as condições adequadas. Nós fazemos tudo aquilo em
que pensamos. Nutrimos e alimentamos esta exibição incessantemente.
Dependendo da qualidade da mente criamos diferentes reinos e manifestamos todas as
diferentes emoções aflitivas. Mas, na realidade, estas manifestações são apenas impermanentes –
como uma bolha ou um sonho. Para nos liberarmos e purificarmos os três venenos devemos
conhecer a natureza impermanente de todos os fenômenos como antídoto para o apego, e
reconhecer o estado de sofrimento de todos os seres sencientes como antídoto para a aversão. O
carma e seu resultado proporcionam um antídoto que nos libera da ignorância.
O apego é uma emoção aflitiva da qual é muito difícil se libertar. Ele está tão enraizado nas
nossas mentes. E a partir dele o desejo e a fixação surgem. A contemplação da impermanência é um
dos métodos mais efetivos para nos liberarmos do apego transitório. Quando contemplamos a
natureza momentânea de todos os fenômenos, então a forma ou objeto específicos aos quais
estamos apegados mudam. A forma como nos relacionávamos com o objeto não existe mais, assim
não há sentido ou benefício em permanecermos apegados. Como o orvalho sobre uma folha de
grama, ele se evapora como uma ilusão. Em vez de ficarem aborrecidos ou preocupados com isso,
apenas vejam isso como a verdadeira natureza daquele fenômeno. Aceitem a mudança e permitam
que ela aconteça. Liberem-se do apego.
Antes de realizarem o Mahamudra de suas próprias mentes, a prática da impermanência
deve ser usada como uma forma muito efetiva de se liberarem do apego e da raiva. O progresso,
então, torna-se fácil porque todos os fenômenos são impermanentes – apenas contemplem e
sustentem a consciência disto, relembrando constantemente. Vivam momento a momento. Quando
possuímos a consciência plena da impermanência a realização do Mahamudra não é tão difícil,
porque compreender a natureza mais sutil da impermanência é o mesmo que realizar o
Mahamudra.
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Esses sofrimentos não são independentes ou desprovidos de causas. Conhecer suas causas e
efeitos nos liberará da ignorância. Um primeiro momento de pensamento positivo traz felicidade
em um segundo momento. Um primeiro momento de pensamento negativo trará sofrimento num
segundo momento. Todos os fenômenos existem num fluxo momentâneo de causa e efeito.
Portanto, as dez não virtudes são a causa geral do sofrimento no samsara, em particular o
sofrimento dos três reinos inferiores. A alegria e a felicidade dos reinos superiores do samsara e a
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própria iluminação se baseiam nas dez virtudes. Esta lei de causa e efeito é o que constitui todos os
fenômenos.
Quando não conhecemos esta lei somos chamados de “ignorantes”. Mesmo que fizéssemos
um grande esforço - até mesmo sacrificar nossas vidas – não há como nos liberarmos do sofrimento.
Quando conhecemos esta lei, diz-se que estamos “livres da ignorância”. Então, todos os nossos
esforços a cada momento se tornam causas para a liberação do sofrimento. Quando somos
ignorantes, não importa que estejamos pouco apegados ao nosso ego, não saberemos como
beneficiar sinceramente os outros e a nós mesmos. Mas, quando possuímos esta sabedoria temos a
capacidade de ser sinceros com nós mesmos.
Todas as coisas são interdependentes. Uma circunstância em particular não surge sem uma
causa, de causas errôneas, ou de uma causa incompleta. Assim, para que algo se manifeste é
necessário que haja as causas e condições completas. Tomem um carro, por exemplo – para fazê-lo
funcionar precisamos de todas as causas e condições necessárias. Se uma delas estiver faltando o
carro não funcionará. Da mesma forma, nossa paz interior e equilíbrio também dependem de
muitas diferentes causas. Não importa o quanto tentemos ou tenhamos expectativas em relação ao
resultado, a não ser que as causas e condições adequadas tenham sido desenvolvidas, o esforço será
em vão.
É muito importante conhecer a lei das causas e condições que resultam no samsara e no
nirvana. Sem tal sabedoria não poderemos criar um ambiente positivo. Como se diz: “Apesar de
desejarmos a felicidade, devido à ignorância nós a destruímos como se fosse um inimigo. Queremos
nos livrar do sofrimento, mas corremos atrás dele.” Os detalhes e as manifestações sutis do carma
são mais difíceis de investigar e compreender que a vacuidade. Assim, é muito importante estudar
essa seção sobre o carma cuidadosamente, não apenas como uma tradição budista, mas como a
fronteira entre a causa do sofrimento e a causa da felicidade para todos os seres sencientes.
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O Ornamento da Preciosa Liberação Gampopa
alguém que seja muito próximo e querido nesta vida - talvez um amigo, um irmão ou um filho.
Com este método, desenvolvam bondade amorosa e compaixão que alcancem todos os seres
sencientes.
É óbvio que a arrogância egoísta, ciúme e raiva não nos trarão harmonia ou paz. Pelo
contrário, elas são a verdadeira causa-raiz da violência e da desarmonia para o indivíduo, assim
como para a sociedade. O autocentramento é a fonte de todas as condições indesejáveis e conflitos
que encontramos no samsara. Cuidar dos outros e respeitá-los é a fonte de todo benefício, felicidade
e paz. Portanto, budistas ou não, não há escolha além de entender e praticar a bondade amorosa e a
compaixão.
Há ainda outra razão para praticá-las. Do momento em que nascemos até nossa morte
nossas vidas são completamente dependentes de outras pessoas, seja no nível mundano ou no
desenvolvimento espiritual. Sem a bondade e a generosidade dos outros não conseguiríamos
sobreviver. Assim, investiguem esta razão cuidadosamente e vejam que não há outra escolha além
de desenvolver a bondade amorosa e a compaixão se quisermos alcançar a paz e a felicidade
genuínas.
Além disso, o cultivo destas qualidades preciosas depende dos outros. Sem os outros seres
sencientes não haveria como desenvolver amor e compaixão em nossas mentes. Tanto a realização
relativa quanto a absoluta da paz e felicidade que tudo permeiam dependem deste pensamento
altruísta.
Assim, cuidaremos desta qualidade que é como uma joia que concede desejos, e usaremos
todas as diferentes técnicas para realizá-la e fortalecer seu progresso em nossos corações, porque
esse é o solo no qual plantaremos e cultivaremos a árvore da bodicita.
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O Ornamento da Preciosa Liberação Gampopa
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O Ornamento da Preciosa Liberação Gampopa
Tendo por base a bondade amorosa, a compaixão e o refúgio, cultivamos bodicita, a mente
da iluminação. Essa mente não apenas está focada na felicidade dos seres sencientes, mas também
busca a ação para liberá-los da confusão e do sofrimento, e para alcançar a paz e a felicidade, tanto
temporárias quanto absolutas. Bodicita é a mente universal, estendendo-se como o espaço;
ilimitada, ela é chamada de bodicita , a mente preciosa.
Esta é a espinha dorsal do budismo. Sem bodicita a iluminação não é possível, não
importando o esforço que seja aplicado neste ou naquele método ou caminho espiritual. Eles seriam
como uma semente apodrecida da qual não podemos esperar nenhum fruto. Bodicita é uma luz tão
forte que pode dissipar a escuridão da ignorância e da confusão como nenhuma outra luz
conseguiria. Bodicita é um machado tão grande que pode cortar a raiz do samsara, o que nenhum
machado comum poderia fazer. Bodicita é uma vassoura tão grande que pode varrer a poeira da
causa e sofrimento do samsara, o que nenhuma vassoura comum poderia fazer. Bodicita é um fogo
tão intenso que pode queimar por inteiro a floresta da confusão, o que nenhum fogo comum
poderia fazer. Bodicita é um remédio tão potente que pode curar a doença crônica das emoções
aflitivas, o que nenhum remédio comum poderia fazer. Bodicita é uma espada tão grande que pode
cortar a teia da dualidade, o que nenhuma espada comum poderia fazer.
Para aqueles que estão interessados em se liberar do sofrimento e trazer benefícios aos
outros seres sencientes a bodicita é o ponto a ser sustentado, cuidado e realizado. A iluminação é a
formação mental perfeita da bodicita. Portanto, o Senhor do Darma Gampopa explicou muito
cuidadosamente em grandes detalhes sobre como a bodicita deve ser realizada e como exercitá-la.
Estudem-na cuidadosamente e tragam essa mente preciosa aos seus corações.
Quando alguém possui bodicita terá uma coragem indômita – nenhum medo ou dúvida
sobre permanecer no samsara para beneficiar os seres sencientes até o fim. Quando alguém possui
bodicita não surgirá o pensamento de cuidar apenas de si mesmo, nem haverá interesse na própria
paz. Essa pessoa se tornará completamente dedicada ao serviço dos outros seres sencientes sem
discriminações, assim como a terra serve como a base imparcial para que os seres sencientes e não
sencientes se movam e cresçam, sustentando suas vidas. Da mesma forma, água, fogo e ar
proporcionam um benefício universal. Do mesmo modo a motivação da bodicita é imparcial. Se
esses efeitos benéficos tão grandes são conhecidos, como perder a oportunidade de aplicá-los no
crescimento e de, assim, beneficiar os outros?
Aquele que possui essa mente é chamado de bodisatva. As pessoas têm os bodisatvas em
alta estima e esperam que eles resolvam seus problemas, que tragam paz e felicidade e curem todos
os seus conflitos. É pelo fato de a bodicita ser preciosa que os bodisatvas são considerados tão
preciosos. Um bodisatva que possua essa bodicita não será levado quando todos os diferentes tipos
de sofrimento, obstáculos e condições indesejáveis surgirem. Pelo contrário, ele terá métodos muito
poderosos e os utilizará continuamente para treinar sua mente e para purificar e fortalecer sua
prática. Assim, não importa o que se manifeste na vida de um bodisatva, tudo se torna uma forma
específica para praticar – relembrando-o da impermanência, do sofrimento do samsara, e do
progresso da bodicita. Desta forma, eles não têm que fazer um esforço especial para gerar paz e
felicidade.
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alcançar a iluminação. Portanto, essa mente deve ser cultivada. Existem três maneiras de cultivar a
bodicita de aspiração: como um rei, como o capitão de um navio e como um pastor.
A realeza é cultivada reunindo, inicialmente, todas as qualidades do líder de um país. Após
se tornar rei, o país será governado e os seres serão beneficiados. Igualmente, a bodicita de
aspiração “como um rei” é cultivada primeiramente fazendo esforços para purificar os
obscurecimentos e reunir as qualidades da iluminação. Então, segue-se a ajuda a todos os seres
sencientes.
O capitão de um navio embarcará todos os passageiros no navio, guiando-o nos oceanos e
chegará à outra margem com esses passageiros. Da mesma forma, o bodisatva cultiva bodicita de
aspiração dizendo: “Possamos eu e todos os seres sencientes atingir a iluminação juntos.”
Um pastor leva todas as ovelhas e animais para pastarem em um local com boa grama e
água, e protegerá o rebanho dos predadores. Ao anoitecer ele os trará de volta para a fazenda e os
guardará em segurança nos seus currais. Apenas depois ele irá para casa e descansará. Da mesma
forma, o bodisatva cultivará bodicita dizendo: “Não me afastarei ou passarei para o nirvana até que
todos os seres sencientes estejam livres do samsara e atinjam a iluminação.” Os meios para
preservar, fortalecer e avançar esta mente na prática são bem explicados no texto.
Uma vez que o bodisatva tenha cultivado a bodicita de aspiração, ele deve se esforçar para
aperfeiçoar essa mente, de forma a realizar o precioso pensamento altruísta e aplicá-lo para o bem
de todos os seres sencientes. Todo o estudo e as práticas, mesmo sentar por um momento, fazer
uma prostração ou recitar um mantra se tornam métodos para desenvolver essa mente.
Todas as emoções aflitivas estão incluídas nas três categorias de venenos: desejo, aversão e
ignorância. As três são o núcleo a partir do qual todos os tipos de emoções aflitivas se manifestam e
criam incontáveis carmas negativos, através dos quais nos deparamos com o sofrimento e
obstáculos sem fim. Para purificá-los e, finalmente, desenraizá-los, o Buda ensinou os respectivos
antídotos para cada um. Portanto, todos os ensinamentos do Darma podem ser categorizados em
três grupos: Vinaya, Sutra e Abhidarma.
O tema principal do Vinaya tem por foco a ética moral, a disciplina e os preceitos. Os Sutras
abordam com maior ênfase a permanência serena e outros métodos de concentração mental. O
Abhidarma enfatiza mais a originação interdependente e a sabedoria discriminativa ou insight.
Apesar dessa classificação, esses ensinamentos do Darma estão fortemente interconectados.
Além de ética moral, o Vinaya inclui instruções sobre meditação e a sabedoria discriminativa do
insight. Adicionalmente a técnicas de meditação, os Sutras também ensinam ética moral e a
sabedoria discriminativa do insight. Além de ensinamentos sobre a sabedoria discriminativa do
insight, o Abhidarma também ensina ética moral, disciplina e concentração meditativa. Ao estudar
esses três cestos e, efetivamente, seguir o treinamento em ética moral, concentração meditativa e
sabedoria discriminativa, a sua interdependência se tornará bastante clara. Sem o apoio dos outros
dois, apenas um dos treinamentos não é suficiente para alcançar a iluminação. Quando possuirmos
uma conduta pura, isso nos ajudará a nos liberarmos das ações não virtuosas, manterá nossas
mentes claras e nos fortalecerá para domarmos nossas mentes com sucesso. Quando a mente é
sustentada através do apoio da ética moral é muito mais fácil alcançar a estabilidade mental e a
permanência serena. Não é possível estabilizar as qualidades positivas da concentração meditativa
sem ética moral. Quando a mente se encontra concentrada nas dez virtudes ela se torna calma,
pacífica e clara. Com esta base é muito mais fácil acender a luz do insight especial. A chama da
sabedoria discriminativa será mantida quando estiver protegida do vento dos pensamentos
dispersivos, o que se torna uma forma bastante poderosa de dissipar a escuridão da confusão e das
emoções aflitivas, e de atingir a liberação do samsara.
Essas são as ações que devemos desenvolver em nossas mentes e aplicar ao longo do
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aperfeiçoamento dos cinco caminhos. O Senhor do Darma Gampopa divide esses três treinamentos
em seis paramitas, que são explicadas em detalhes nos próximos seis capítulos.
A prática da generosidade é um método especial para cortar o apego a qualquer coisa que
seja para o benefício próprio. Essa prática é especialmente projetada para mostrar como abrir o
coração e a mente, e como aprender a repartir todas as coisas necessárias, tais como habilidades e
sabedoria, com os outros, especialmente com aqueles que estão desprotegidos e não as possuem.
Outras pessoas fizeram grandes esforços para criar todas as coisas que desfrutamos, tanto
materiais quanto espirituais. Por exemplo, se vocês lerem a história da vida de Milarepa, poderão
ver como ele sacrificou sua vida e enfrentou muitas dificuldades para atingir a iluminação em uma
única vida e tornar todos esses grandes ensinamentos disponíveis para as gerações futuras.
Devemos realizar essa natureza e cuidar bem das coisas utilizando-as da melhor maneira e
compartilhando-as com todos os outros seres sencientes. Temos essa importante responsabilidade.
A mente da generosidade também é um método especial para cortar a estreiteza, o ciúme e o
orgulho, para alcançar harmonia, e para nos liberar da avareza e das fixações. Quando estamos
abertos e possuímos a mente da bodicita não é necessário ter nada para dar aos outros porque já
estamos oferecendo nós mesmos a todos os seres. Quando a mente está livre da avareza ela já está
praticando generosidade. Outras práticas de generosidade são detalhadas no texto. Devemos
entendê-las corretamente e aplicá-las na prática.
A ética moral é um dos treinamentos mais importantes para todos os praticantes. Ela é a
técnica para desenvolver disciplina física, verbal e mental para evitar as propensões inveteradas do
samsara e para canalizar a atenção para a iluminação. Isso gera uma oportunidade maior para
realizar o Mahamudra. Como o Mahamudra é o resultado da completa perfeição da purificação, o
quanto mais pura for a disciplina maior será a clareza mental. Essa clareza e talidade da mente são
o significado do Mahamudra.
Além disso, quando clareza e harmonia se encontram na mente, surge a moralidade pura.
Como uma criança em crescimento a mente deve, inicialmente, ser protegida das circunstâncias
ameaçadoras e perigosas. Depois, ao receber educação e desenvolver todas as credenciais
acadêmicas necessárias, poderemos ser úteis e prestar serviços para a sociedade. Da mesma forma,
enquanto estiverem em um estado mental frágil e não treinado, sejam cautelosos para proteger a
mente dos pensamentos e ações não virtuosas. Protejam a mente com as cercas dos diferentes votos.
Então, após receberem muitos ensinamentos dos veículos dos Ouvintes e dos bodisatvas, treinem a
mente adequadamente, fortalecendo-a em sabedoria e compaixão. Finalmente, com esse apoio,
manifestem o verdadeiro benefício para os seres sencientes para liberá-los do sofrimento e
estabelecê-los no estado da iluminação.
Para os praticantes de todos os níveis a atenção mental e a consciência da ética moral são
cruciais. Quando mantemos a ética moral da disciplina adequadamente nos tornamos um exemplo
que inspira outras pessoas a seguirem o caminho para a iluminação. Na verdade, definir se alguém
é um bom praticante ou não, depende de como ele sustenta os diferentes tipos de votos. Os votos
do Vinaya, dos bodisatvas e do mantra secreto todos têm os mesmos pontos essenciais: evitar as
causas do samsara, atingir a iluminação através do treinamento da própria mente e beneficiar os
seres sencientes.
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O Ornamento da Preciosa Liberação Gampopa
A paciência é uma prática especial que é um antídoto para todas as emoções aflitivas, mas,
especialmente, para a aversão, a raiva e o ódio. A paciência tipifica alguém que está livre de medos,
baseado em sabedoria e compaixão. Ter paciência não significa desperdiçar tempo e energia, mas é
um método especial para combater e superar os obstáculos à paz e à harmonia, nos estados relativo
e absoluto.
Por outro lado, as emoções aflitivas, especialmente a raiva e o ódio, destroem toda a paz,
clareza e harmonia do universo interior, o mundo da mente. A destruição e a violência no mundo
externo se manifestam a partir desse estado.
Não importa o quanto o mundo físico se desenvolva através de tecnologias e interesses
materiais, a vida pode se tornar miserável sem paz e clareza no mundo interno. Apesar de
despendermos muito de nosso tempo e energia desenvolvendo faculdades e organização externas,
suportando pressão e prazos da alta velocidade de nosso estilo de vida moderno, também é
racional e prático desenvolver a riqueza interior da sabedoria e da compaixão. A riqueza da paz, da
compaixão e da harmonia não podem ser dadas a vocês pelos outros, vocês mesmos devem se
esforçar para manter esse treinamento em suas mentes.
Ninguém deseja ser feio e destrutivo, mas assim que a raiva e o ódio surgem nas mentes,
toda a feiura se manifesta e as pessoas se tornam destrutivas. Todos ao redor ficam com medo, e
assim elas ficam isoladas. Por outro lado, quando a mente é mantida em um estado de bondade
amorosa e compaixão há espaço para a paz e a clareza, e assim todas as outras pessoas irão
respeitá-las e confiarão nelas. Isso faz delas bons seres humanos, e faz com que valha a pena
possuir uma vida humana preciosa.
Assim, seja na vida espiritual ou convencional, esforcem-se a cada dia para gerar alegria e
felicidade. Para o progresso espiritual em direção à iluminação, a prática da paciência é um dos
treinamentos mais importantes, porque ela elimina a delusão e o ódio.
A perseverança é como uma “mão” especial, com a qual coletamos as riquezas das virtudes,
da sabedoria e da compaixão. É um antídoto especial para a preguiça. A preguiça não trará
benefício algum, seja no samsara ou no nirvana; ela apenas desperdiça nosso tempo e energia com
delusões e sonhos. Esse apego à alegria dos prazeres desta vida é como um sonho. Não apenas isto,
ele frequentemente gera dor e cria obstáculos. A preguiça surge da fraqueza, sabotando a força
mental, de forma que não é mais possível superar os obstáculos à felicidade desta vida, e muito
menos à iluminação.
O apego preguiçoso à vida samsárica nos deixa tão ocupados com as atividades das oito
preocupações mundanas, mas isso é como correr atrás de belos e coloridos arco-íris. Desta forma, a
vida humana preciosa com todas as excelentes oportunidades é desperdiçada. Se utilizada
adequadamente ela poderia ter sido usada para realizar o objetivo último – a iluminação. Esta vida
é apenas como um sonho ou uma apresentação mágica. No final, não podemos carregar nada
conosco, portanto é importante aumentar o poder de nossa inteligência e sabedoria, e usar esta vida
humana preciosa da melhor forma possível.
Se não recebermos os preciosos ensinamentos do Darma, nossas vidas não serão muito
diferentes da vida dos animais. Alguns animais trabalham duramente para juntar coisas e criar um
lugar confortável para viverem, mas eles não possuem a mente especial de sabedoria que conhece o
samsara e o nirvana, e assim seu sofrimento é sem fim. Nós que possuímos vidas humanas
preciosas devemos despertar do sono da delusão, vestir a armadura do compromisso para purificar
todos os nossos conflitos mentais e realizar a sabedoria primordial. Com esse compromisso,
devemos aplicar alegremente nossas mentes na prática do Darma do Nobre Caminho Óctuplo a
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cada momento, até nos liberarmos do samsara. Perseverança não é apenas completar nominalmente
um retiro de três anos, ou seis anos, ou nove anos, mas é o fortalecimento de todas as qualidades
positivas da sabedoria e compaixão através da presença mental consistente da purificação de todos
os pensamentos e ações não virtuosos.
A sabedoria discriminativa é uma qualidade especial da mente que penetra a natureza não
fabricada de todos os fenômenos. Sem a prática da sabedoria discriminativa não é possível se
liberar do samsara ou alcançar a iluminação, não importa o esforço que seja realizado na prática das
outras cinco paramitas. As outras cinco podem trazer grande benefício e conforto na vida, mas não
é possível alcançar o insight especial sem sabedoria discriminativa. É essa sabedoria que corta todas
as delusões.
Porém, sem o apoio das outras paramitas, apenas sabedoria não é suficiente para alcançar a
iluminação. As cinco primeiras perfeições são chamadas, coletivamente, de “método”, e a sabedoria
discriminativa é chamada de “sabedoria”. Suas práticas são igualmente necessárias para reunir as
duas grandes acumulações. Como um avião, as duas asas do método e da sabedoria podem cruzar
o oceano do samsara e pousar na outra margem, a iluminação.
Como o Sutra do Coração afirma: “Forma é vazio, vazio também é forma. Forma nada mais é
do que vazio, vazio nada mais é do que forma.” Uma grande força mental é necessária para
penetrar este significado. Não negaremos a realidade a partir da investigação, mas conquistaremos
uma sabedoria especial de como todas as coisas são compostas por causas e efeitos
interdependentes. Sua natureza essencial é a vacuidade que tudo permeia, não fabricada. Ao
mesmo tempo, os fenômenos se manifestam incessantemente a partir desta vacuidade. A existência
aparente dos fenômenos e a vacuidade que tudo permeia não são duas entidades diferentes, mas
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sim inseparáveis.
Quando realizamos isto através da experiência da prática meditativa, ocorre uma grande
abertura. A mente se torna livre de fronteiras, de forma que as qualidades excelentes da sabedoria e
da compaixão poderão se manifestar. Tudo se torna óbvio e nada mais está oculto. Não há
necessidade de especular ou investigar. Os detalhes das investigações a serem realizadas na prática
de meditação são descritos claramente neste capítulo.
Essa sabedoria discriminativa transcende todas as diferenças de cultura, crença e religião.
Ela nos permite experimentar a natureza universal, não fabricada. Assim, se vocês desejam se
liberar de todas as fronteiras e confusões, este caminho deve ser seguido, sem escolhas.
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PARTE 5: O RESULTADO
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PARTE 6: AS ATIVIDADES
Ao longo dos cinco caminhos e dez bhumis os bodisatvas aplicam grande esforço para a
purificação e a realização de todas as qualidades excelentes. Ao terminarem, é como um ceramista
girando sua roda para o benefício de todos os seres sencientes. Se o ceramista construiu
adequadamente sua roda, ela gira sem esforços e fabrica centenas de potes. Da mesma forma, um
buda que aperfeiçoou todas essas qualidades manifesta, sem esforços, infinitas atividades.
Porém, até mesmo as atividades de um buda dependem de causas e condições. Para que os
seres sencientes possam encontrar as atividades de um buda eles precisam ter carma positivo e boa
fortuna suficientes para receber as bênçãos, mesmo que as atividades dos budas se manifestem
incessantemente. Se a condição da água não estiver presente, então a lua das atividades não poderá
ser refletida. Portanto, esforcem-se sempre para encontrar estas preciosas atividades. O Senhor do
Darma Gampopa tirou todas as metáforas desse capítulo do Tantra Insuperável, um comentário de
Maitreya sobre o discurso final dos ensinamentos do Buda.
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Homenagem
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Introdução
De modo geral, todos os fenômenos estão incluídos nas duas categorias de samsara e
nirvana. O que é chamado de samsara é vazio por natureza, uma projeção confusa. A característica
que o define é que ele se manifesta como sofrimento. O que é chamado de nirvana também é vazio
por natureza, mas todas as projeções confusas foram extintas e dissipadas. A característica que o
define é a liberação de todo o sofrimento.
Quem está confuso no samsara? Todos os seres sencientes dos três reinos estão confusos.
Qual é a base do surgimento da confusão? A confusão surge com base na vacuidade.
O que faz com que a confusão surja? A causa da confusão é a grande ignorância.
Como esta confusão opera? Ela opera através das atividades e experiências dos seis reinos
de migrantes.
O que exemplifica esta confusão? Esta confusão é como o sono e o sonho.
Quando esta confusão se originou? Esta confusão se originou no samsara sem princípio.
Qual é o erro desta confusão? Todas as experiências resultam em sofrimento.
Quando esta confusão poderá ser transformada em sabedoria primordial? Quando
atingirmos a iluminação insuperável.
Se você pensa que esta confusão talvez se dissipe por si mesma, então entenda que o
samsara é conhecido por ser infinito. Entenda que o samsara é confusão. Entenda quanto
sofrimento se dá nele. Entenda o tempo de sua duração. Entenda que não há liberação espontânea.
Portanto, de hoje em diante, você deveria se esforçar o máximo possível para alcançar a
iluminação insuperável. Quais itens são necessários para realizar este tipo de esforço? O sumário:
Estes seis tópicos formam o corpo deste texto. Agora, os ramos serão explicados em
detalhes.
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PARTE 1
A Causa Primária
CAPÍTULO 1
A Natureza de Buda
Por exemplo, assim como a manteiga está presente no leite, da mesma forma a
Essência Daquele Que Assim se Foi permeia todos os seres sencientes.
Através de qual raciocínio pode ser demonstrado que os seres sencientes possuem a
Natureza de Buda?2 Por todos os seres sencientes estarem permeados pela vacuidade do
darmakaya, porque não há diferenciações na natureza da talidade, e por todos os seres
pertencerem a uma “família”. Devido a estas três razões todos os seres sencientes possuem a
natureza búdica. O Tantra Insuperável afirma:
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Explicando a primeira razão: “Todos os seres sencientes estão permeados pela vacuidade
do darmakaya”. Isto significa que a iluminação final é o darmakaya, o darmakaya é a vacuidade
que tudo permeia e a vacuidade permeia todos os seres sencientes. Portanto, todos os seres
sencientes possuem a natureza búdica.
Dizer que “não há diferenciações na natureza da talidade” significa que a talidade do Buda
é idêntica à talidade dos seres sencientes. Nenhuma é melhor ou pior, maior ou menor, superior ou
inferior. Assim, por este motivo todos os seres sencientes possuem a natureza búdica.
“Todos os seres pertencem a uma família” significa que todos os seres sencientes podem ser
categorizados nas cinco famílias do Buda. Quais são elas? O sumário:
Em geral, diz-se que aqueles que apresentam tais atributos constituem a família
desconectada. Eles vagarão pelo samsara por um longo tempo, mas isto não significa que nunca
alcançarão a iluminação. Se fizessem o esforço, em algum momento até mesmo eles atingiriam a
iluminação. O Buda afirmou no Sutra do Lótus Branco da Grande Compaixão:
Ananda! Se um ser senciente que, de outra forma, não teria chance alguma de
alcançar a iluminação, visualizasse um buda no espaço e oferecesse uma flor àquela
imagem, o resultado deste ato levaria este ser ao nirvana. No devido tempo, até
mesmo ele atingiria a iluminação. Assim, o nirvana é possível para ele.
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III. Família dos Ouvintes. A família dos Ouvintes é composta por aqueles que temem o
samsara e anseiam por alcançar o nirvana, mas que possuem pequena compaixão. Assim foi dito:
IV. Família dos Realizadores Solitários. A família dos Realizadores Solitários inclui
aqueles que possuem os três atributos anteriores e, adicionalmente, são arrogantes, mantêm a
identidade de seus mestres secreta e preferem permanecer em lugares isolados. Assim foi dito:
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Ó monges! Vocês ainda não terminaram seu trabalho; vocês não finalizaram tudo
aquilo que se espera de vocês. A sua experiência de nirvana não é o nirvana final.
Assim, todos vocês, monges, devem seguir o caminho para a iluminação. Vocês
devem atingir a realização do Buda.
Motivados pelo Buda desta forma, estes Ouvintes e Realizadores Solitários cultivam
bodicita. Eles praticam o caminho do bodisatva por muitos incontáveis kalpas e, no final, atingem
a iluminação. O Sutra da Jornada a Lanka relata desta mesma forma. E também, o Sutra do Lótus
Branco do Darma Sublime afirma:
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F. Marcas. As marcas desta família são os sinais que indicam a família dos bodisatvas. O
Sutra dos Dez Nobres Bhumis coloca:
Neste caso, quais são os tipos de marcas? Seus corpos e fala são naturalmente gentis sem a
necessidade de um antídoto. Suas mentes são menos enganadoras e apresentam bondade amorosa
e clareza para com os seres sencientes. Assim, o Sutra dos Dez Nobres Bhumis afirma:
Assim, entre estas cinco famílias aqueles que se encontram na família Mahayana estão
muito próximos da iluminação. As famílias dos Ouvintes e Realizadores Solitários os conduzirão à
iluminação, mas a causa se encontra mais distante e levará um longo tempo. Na família indefinida,
alguns estão próximos e outros levarão muito tempo. A família desconectada é conhecida pelo
Buda por vagar no samsara por um longo tempo, mas isto não significa que eles não atingirão a
iluminação. Eles podem atingir a iluminação, mas levará muito tempo. Portanto, visto que todos os
seres sencientes pertencem a uma destas famílias, todos têm a natureza de Buda.
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Desta forma, pelas três razões acima foi demonstrado que todos os seres sencientes
possuem a natureza búdica. Além disso, considerem os seguintes exemplos: a prata que se
encontra na pepita, o óleo na semente de mostarda e a manteiga que se encontra no leite. Da pepita
de prata podemos extrair prata; da semente de mostarda podemos produzir óleo; e do leite,
podemos produzir manteiga. Do mesmo modo, seres sencientes podem se tornar budas.
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PARTE 2
A Base de Trabalho
CAPÍTULO 2
Todos os seres sencientes possuem a natureza búdica. Sendo este o caso, será que todos os
seres dos cinco reinos1, tais como os seres dos infernos, fantasmas famintos e assim por diante, têm
a capacidade de trabalhar na busca pela iluminação? Não. Apenas uma “vida humana preciosa”
que apresente as duas qualidades de liberdades e vantagens e uma mente que sustente os três
tipos de fé é uma boa base para trabalhar até a iluminação. O sumário:
Liberdades e vantagens,
Confiante, esperançosa e clara,
Duas do corpo e três da mente –
Estas cinco compreendem a base de trabalho excelente.
De que forma estas condições são desfavoráveis? Nos reinos dos infernos os seres têm a
natureza de sofrimento constante; fantasmas famintos são torturados por sofrimentos mentais; os
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animais estão pesadamente subjugados pela ignorância. Estes três não possuem modéstia e
nenhuma preocupação com o que os outros pensam. Seus fluxos mentais são vasos inapropriados;
portanto, eles não têm a oportunidade de praticar o Darma.
Os deuses de longa vida se encontram em estados não conceituais nos quais todas as
atividades mentais cessaram. Portanto, eles não têm a oportunidade de praticar o Darma. Por
apresentarem vidas mais longas que os seres humanos, todos os reinos dos deuses se constituem
em condições desfavoráveis. Todos os deuses estão em condições desfavoráveis por estarem
apegados à felicidade temporária e por não terem tempo para o esforço no Darma.
Portanto, a pequena quantidade de sofrimento que é experimentada pelos humanos possui
grandes qualidades, pois a partir dela desenvolvemos uma sensação de tristeza com o samsara.
Isto pacifica nossa arrogância. Isto faz com que surja em nós compaixão pelos outros seres. Isto faz
com que aprendamos a gostar das ações positivas e a nos afastar das ações negativas. Engajando-se
na Conduta dos Bodisatvas diz:
Esta é a explicação de como os quatro reinos não humanos não possuem liberdades.
Mesmo sendo seres humanos, os bárbaros têm dificuldades em encontrar os seres
espirituais. Aqueles que sustentam visões errôneas não conseguem compreender que as ações
virtuosas são a causa de renascimentos superiores ou da liberação. Ao nascer em uma época em
que não houve um Buda não existem professores que possam explicar o que deve ser feito e o que
deve ser abandonado. Pessoas mudas ou sem inteligência não conseguem compreender os
ensinamentos sobre virtude e não virtude. Quando se está livre de todas estas oito condições, isto
se chama a “liberdade excelente”.
II. Vantagens. As dez vantagens são divididas em dois grupos - as cinco qualidades que
devem ser alcançadas individualmente e as cinco que provêm de condições externas. As cinco a
serem conquistadas individualmente são:
(1) Nascer como humano, (2) nascer em um país central, (3) possuir todas as
faculdades,
(4) Não cair em ações negativas, (5) possuir devoção pelos ensinamentos.
O que significa “nascer como humano”? Para alguém ser considerado humano deve
possuir os órgãos masculinos ou femininos. “Um país central” refere-se a um lugar onde há a
oportunidade de seguir os seres santos. “Possuir todas as faculdades” significa estar livre da
mudez ou falta de inteligência e ter a chance de praticar o Darma virtuoso. “Possuir devoção pelos
ensinamentos” significa ter fé de que o Vinaya ensinado pelo Buda é a base para toda a prática do
Darma. “Não cair em ações negativas” significa não cometer nenhum dos crimes hediondos nesta
vida.
As cinco qualidades que provêm de condições externas são: (6) um Buda surgiu neste
mundo, (7) um Buda ensinou o precioso Darma, (8) o Darma que foi ensinado continua existindo,
(9) existem seguidores deste Darma, e (10) existe o apoio amoroso e bondoso de outras pessoas.
Assim, ao possuir todas as dez qualidades, cinco individuais e cinco externas, este estado é
chamado de “vantagens excelentes”.
Quando estes dois itens, liberdades e vantagens, estão presentes, então esta é uma “vida
humana preciosa”. E por que ela é chamada de preciosa? Ela é igual a uma joia preciosa que
concede desejos.
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O Ornamento da Preciosa Liberação Gampopa
Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas diz: “Liberdades e vantagens são muito difíceis de
encontrar”.
Quais tipos de exemplos existem para mostrar como é difícil encontrar uma vida humana
preciosa? Quais tipos de seres têm dificuldades para obter uma vida humana? Por que ela é difícil
de ser obtida?
Um exemplo é mencionado em Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas:
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O Ornamento da Preciosa Liberação Gampopa
Quais seres têm dificuldades em encontrar uma vida humana preciosa? Os seres que nascem
nos três reinos inferiores têm dificuldades em renascer como humanos.
Por que uma vida humana preciosa é difícil de ser obtida? Este corpo de liberdades e
vantagens é conquistado através da acumulação de ações virtuosas e aqueles que renascem nos três
reinos inferiores não sabem como acumular virtudes. Pelo contrário, eles cometem ações não
virtuosas constantemente. Portanto, apenas aqueles que renascem nos reinos inferiores com uma
quantidade de carma negativo muito pequena e aqueles cujo carma poderá amadurecer em outra
vida têm a chance de renascer com uma vida humana.
B. Grande Benefício. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas afirma: “Visto que ela realiza o que
é significativo para o homem...”
Em sânscrito, “homem” é purusha, que é traduzido como “capacidade” ou “habilidade”.
Portanto, uma vida humana com as qualidades de liberdades e vantagens proporciona a
capacidade ou habilidade de alcançar ou estados superiores temporários ou a realização final;
portanto, ela é chamada de purusha. Além disso, existem três tipos diferentes de habilidade: a
inferior, a mediana e a superior. Como se diz na Lâmpada para o Caminho da Iluminação.
Uma pessoa inferior tem a habilidade de alcançar o reino dos humanos ou dos deuses sem
cair nos reinos inferiores. Assim se diz:
Uma pessoa mediana tem a habilidade de alcançar um estado de paz e felicidade libertando-
se do samsara. Assim se diz:
Uma pessoa superior tem a habilidade de alcançar a iluminação pelo benefício de todos os
seres sencientes. Assim se diz:
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O Ornamento da Preciosa Liberação Gampopa
Esta vida humana de liberdades e vantagens tem a capacidade de evitar todas as não
virtudes e de realizar todas as virtudes; ela tem a habilidade de cruzar o oceano do samsara; ela tem
a habilidade de prosseguir no caminho para a iluminação; e tem a capacidade de atingir a
iluminação perfeita. Portanto, ela é superior à vida dos deuses, nagas e assim por diante. Ela é
muito superior à joia que realiza desejos. Assim, visto que esta vida humana que apresenta
liberdades e vantagens é difícil de ser obtida e apresenta grandes efeitos benéficos, ela é
denominada “preciosa”.
------------------------------------
Apesar de ser difícil de obter e de apresentar grandes efeitos benéficos, ela é muito fácil de
perder. Não há ninguém que possa prolongar a vida, existem muitas causas para a morte, e cada
momento passa instantaneamente. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas afirma:
Portanto, contemple como é difícil obter esta vida humana preciosa, como é fácil perdê-la e
como são grandes os seus efeitos benéficos. Pense neste corpo como um barco e faça o esforço
necessário para cruzar o oceano do samsara. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas afirma:
Encare este corpo como um cavalo e use-o para fugir do precipício do sofrimento samsárico.
Assim se diz:
Ou pense neste corpo como um servo e faça-o trabalhar pela virtude. Assim se diz:
Seguir o caminho virtuoso requer fé. Sem fé, não será desenvolvida a virtude. Assim, o Sutra
dos Dez Darmas afirma:
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O Ornamento da Preciosa Liberação Gampopa
Neste caso, o que significa “fé”? Existem três tipos de fé: confiante, esperançosa e clara.
V. Fé Clara. A fé clara surge no fluxo mental com base nas Três Joias. Desenvolva devoção
e interesse pelo Buda como o professor que mostra o caminho, o Darma que se transforma no
caminho e a Sanga que nos guia ao longo da realização do caminho. O Abhidarma afirma:
Não abandonar o Darma “por desejo” significa não abandonar o Darma devido ao apego.
Por exemplo, se alguém dissesse: “Se você desistir do Darma eu lhe darei uma grande recompensa
em riquezas, um homem ou mulher, a realeza e assim por diante”, ainda assim você não
abandonaria o Darma.
Em segundo lugar, não abrir mão do Darma “por aversão” significa não abandonar o Darma
devido ao ódio. Por exemplo, suponha que alguém o prejudicou no passado. Mesmo se estiver
sendo prejudicado no presente, você não desistiria do Darma.
Por terceiro, não abandonar o Darma “por medo”. Por exemplo, alguém pode vir até você e
dizer: “se você não desistir do Darma eu ordenarei a 300 soldados para cortarem cinco onças da
carne de seu corpo a cada dia.” Mesmo assim, você não desistiria do Darma.
Quarto, não abandonar o Darma “por ignorância” significa não desistir do Darma por
tolices. Por exemplo, alguém pode dizer a você que não existem tais coisas como a verdade da ação
ou a verdade do resultado, e que as Três Joias não são válidas e perguntar: “Por que você pratica o
Darma? Desista!” Ainda assim, você não desistiria.
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Aquele que tem estas quatro confianças possui fé verdadeira e é o veículo supremo para
alcançar o bem definitivo. Assim, aquele que possui tal fé obtém efeitos benéficos inconcebíveis: o
cultivo da atitude de um ser supremo, o afastamento de todas as condições desfavoráveis, a posse
de uma sabedoria aguda e clara, e uma ética moral que não declina. Esta pessoa destruirá todas as
emoções aflitivas, irá além de estar sujeita aos obstáculos dos maras e encontrará o caminho da
liberação. Esta pessoa acumulará grandes virtudes, verá muitos budas e receberá bênçãos
magníficas dos budas, e assim por diante. O Darani Denominado Joia Tripla afirma:
Assim, quando os bodisatvas possuem fé, todos os sublimes budas os verão como
vasos adequados, aparecerão diante deles e lhes mostrarão o caminho perfeito dos
bodisatvas.
Assim, o corpo humano precioso que possui liberdades, vantagens e as três fés é
denominado a base de trabalho para a prática da iluminação insuperável.
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PARTE 3
A Causa Contribuinte
CAPÍTULO 3
O Mestre Espiritual
Mesmo possuindo a base de trabalho excelente, uma vida humana preciosa, se não formos
encorajados por mestres espirituais1, então será difícil seguirmos o caminho para a iluminação
devido ao poder das tendências inveteradas não virtuosas de vidas passadas e à força destas
tendências habituais. Portanto, é necessário seguir mestres espirituais. O sumário:
Razão e classificação,
As características de cada classificação,
O método e os benefícios de seguir mestres espirituais –
Estes cinco itens compreendem a relação com o mestre espiritual.
I. Razão. Existem três razões que explicam por que devemos seguir um mestre espiritual:
A. Escrituras
B. Lógica
C. Comparações
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B. Lógica. Aquele que aspira a alcançar o estado onisciente deveria seguir um mestre
espiritual por não saber como acumular méritos, ou como purificar obscurecimentos. A ilustração
positiva são os budas dos três tempos. Do outro lado estão os realizadores solitários.
Explicando: de forma a alcançar a iluminação perfeita e completa todas as acumulações,
incluindo mérito e sabedoria primordial, devem ser reunidas. Os meios para fazer isto dependem
do mestre espiritual. Todos os obscurecimentos, incluindo as emoções aflitivas e os
obscurecimentos sutis à iluminação, devem ser purificados. Os métodos para abandonar esses
obscurecimentos dependem do mestre espiritual.
Mas, se não se afastar do mestre espiritual, que é como uma escolta, você se aproximará da
cidadela da onisciência sem perder sua acumulação de virtudes, e sem permitir que sua vida de
condições favoráveis seja levada. Portanto, como se conta na história da vida de Srisambhava:
Cada mestre espiritual é como uma escolta que o levará ao estado da onisciência.
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A terceira comparação: ao cruzar um grande rio a bordo de um barco sem o barqueiro você
não chegará à outra margem, pois o barco ou afundará sob a água, ou será levado pela correnteza.
Com um barqueiro você chegará à outra margem através dos esforços dele. Da mesma forma, ao
cruzar o oceano do samsara sem um mestre espiritual para atuar como barqueiro, então mesmo que
encontre o barco do Darma sagrado você será carregado pela correnteza do samsara, ou se afogará
no samsara. Como se diz:
O barco não o levará à outra margem do rio sem um barqueiro. Mesmo se possuir
as qualidades completas você não se livrará do samsara sem um lama.
Portanto, se seguir um mestre espiritual que seja como um barqueiro você alcançará a
margem seca do nirvana e o outro lado do oceano samsárico. O Sutra Plantando o Nobre Caule
afirma:
Portanto, vocês devem seguir mestres espirituais que sejam como guias, escoltas ou
barqueiros.
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O Ornamento da Preciosa Liberação Gampopa
“Poder sobre a vida” significa que ele pode viver por tanto tempo quanto desejar.
“Poder sobre a mente” significa que ele pode sustentar a concentração meditativa por tanto
tempo quanto desejar.
“Poder sobre a provisão de necessidades” significa que ele é capaz de derramar uma chuva
de ilimitadas coisas necessárias para os seres sencientes.
“Poder sobre a causa” significa que ele pode mudar os efeitos do carma de uma vida
específica para outra esfera, mundo, reino ou nascimento.
“Poder sobre o nascimento” significa que ele pode sustentar a concentração meditativa e, se
nascer no mundo do desejo, não será afetado pelas suas falhas.
“Poder sobre as intenções” significa que ele consegue transformar qualquer coisa em terra,
água, fogo, e assim por diante.
“Poder sobre as preces de aspiração” significa que se ele tiver a intenção de beneficiar
perfeitamente a si mesmo e aos outros, isto se realizará.
“Poder sobre milagres” significa que ele pode demonstrar inúmeras manifestações para que
os seres sencientes se interessem pelo caminho espiritual.
“Poder sobre a sabedoria discriminativa” significa que ele alcançou a perfeição da
compreensão dos fenômenos, de seu significado, da definição das palavras e confiança.
“Poder sobre o Darma” significa que, em um instante, os bodisatvas podem satisfazer
completamente todos os seres sencientes de acordo com suas disposições e em suas diferentes
línguas, através de palavras e agrupamentos de letras, com base em muitos diferentes tipos de
sutras, e assim por diante.
C. Mestres Espirituais Comuns. Existem três tipos de mestres espirituais comuns: aqueles
que possuem oito qualidades, aqueles que possuem quatro qualidades e aqueles que possuem duas
qualidades. Em relação ao primeiro tipo, Os Bhumis dos Bodisatvas afirmam:
“É um grande estudioso” refere-se a ele ser capaz de oferecer vastos ensinamentos devido a
sua grande sabedoria. O mestre espiritual pode dissipar as dúvidas porque ele possui uma
profunda sabedoria discriminativa. Suas palavras são aceitáveis porque sua ação é pura virtude. Ele
é capaz de explicar as características primárias das emoções aflitivas e de sua purificação.
O terceiro tipo é delineado em Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas:
Em outras palavras, um mestre espiritual deve ter estudado o veículo Mahayana e manter o
voto de bodisatva.
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IV. Método. Quando um mestre espiritual é encontrado, existem três formas de segui-lo.
Estas são:
A. Respeito e Serviço. O primeiro item tem duas subdivisões. Segui-lo “através de respeito”
significa fazer prostrações, ficar em pé rapidamente, curvar-se, circum-ambular, expressar-se com
um sentimento de proximidade no momento adequado, fitá-lo alternadamente sem parar, e assim
por diante. O exemplo é de como Sudhana4, o filho de um mercador, seguiu seus mestres
espirituais. O Sutra Plantando o Nobre Caule afirma:
Seguir o mestre espiritual “através de serviço” significa oferecer a ele comida dármica,
roupas, acomodações, remédios e todos os outros tipos de coisas necessárias, mesmo sob o risco de
seu próprio corpo e vida. O exemplo é de como Sadaprarudita5 seguiu seus mestres espirituais. Na
história da vida de Srisambhava se afirma:
Além disso, devem-se evitar as visões errôneas sobre os meios hábeis dos mestres
espirituais. Pelo contrário, devemos ter grande respeito por eles. Por exemplo, vejam a história da
vida do Rei Anala7.
A iluminação será alcançada quando o mestre espiritual estiver satisfeito. Como se conta na
história da vida de Srisambhava:
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Nobre Família! Um bodisatva bem protegido por mestres espirituais não cairá nos
reinos inferiores. Um bodisatva que é escoltado por mestres espirituais não cairá
nas mãos de pessoas más. Um bodisatva que é orientado por um mestre espiritual
não se desviará do caminho Mahayana. Um bodisatva que é guiado por um mestre
espiritual ultrapassará o nível de uma pessoa comum.
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PARTE 4
O Método
Introdução à PARTE 4
Uma vez que possuímos a causa primária, a natureza búdica, estamos seguindo em um
fluxo contínuo no samsara sem princípio. Em algum momento devemos ter conquistado uma vida
humana preciosa e também encontrado um mestre espiritual. Assim, quais falhas nos impediram
de alcançar a iluminação no passado? Nós fomos dominados por quatro obstáculos.
Então, quais são estes quatro obstáculos à realização da iluminação? Estar apegado às
atividades desta vida, estar apegado aos prazeres do samsara, estar apegado à paz e não
compreender o método de prática que leva à iluminação.
Como estes obstáculos podem ser dissipados? Eles serão dissipados pelas instruções do
mestre espiritual.
Quantas e quais são as instruções do mestre espiritual? O sumário:
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pelo mestre espiritual. Confie no mestre espiritual. O Sutra Plantando o Nobre Caule afirma:
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CAPÍTULO 4
Impermanência
De que forma eles são impermanentes? O fim da acumulação é a dispersão. O fim de toda
construção é a queda. O fim de um encontro é a separação. O fim da vida é a morte. Os Versos
Proferidos Intencionalmente afirmam:
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dissolvido na água. Quando o mundo é destruído pelo ar, não restam nem mesmo pequenas
partículas, como um monte de pó varrido por um forte vento. Isto é explicado no Tesouro do
Abhidarma:
Este mundo será destruído pelo fogo sete vezes, e então uma vez pela água. Quando
for destruído pela água sete vezes, então será destruído pelo fogo sete vezes. No
final ele será destruído pelo ar.
O quarto estágio de concentração meditativa não será destruído pelo fogo, água ou ar. Ele
será extinto por si mesmo quando os seres sencientes que nele habitam morrerem. O Tesouro do
Abhidarma afirma:
Além do mais, há indicações de que este mundo será destruído pelo fogo. O Sutra
Requisitado pelo Chefe-de-família Palgyin afirma:
Após um kalpa, este mundo que possui a natureza do espaço, tornar-se-á espaço.
Até mesmo o Monte Meru será queimado e se desintegrará.
1. Impermanência dos Outros. Dos dois tipos de impermanência associados aos seres
sencientes, o primeiro é a impermanência dos outros. Todos os seres sencientes dos três mundos
são impermanentes. O Sutra da Nobre e Profunda Representação afirma:
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(4) Meditem sobre a separação contemplando: “Neste momento, aquilo que eu possuo –
meus parentes e minhas posses, este corpo e assim por diante, que eu prezo tanto – nenhum deles
poderá me acompanhar para sempre. Em um momento próximo eu terei que me separar deles.”
Contemplem isto. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas afirma:
(a) Minha morte é certa porque ninguém do passado está vivo. O Acharya Ashvaghosha
disse:
Seja na terra ou nos céus, você já viu alguém que nasceu e não morreu, ou já ouviu
falar de alguém? E ainda assim você duvida!
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Portanto, mesmo os grandes seres com clarividência infinita e poderes milagrosos não
puderam escapar para um lugar onde não existe a morte. O que dizer de pessoas como nós?! Como
se diz:
Grandes sábios com os cinco tipos de clarividência3 podiam voar alto nos céus, e
mesmo assim não conseguiram encontrar um lugar onde ninguém morra.
Não apenas isto, mas os seres nobres – os Realizadores Solitários, os grandes Arhats dos
Ouvintes – finalmente tiveram que abandonar seus corpos. O que dizer de pessoas como nós?! Os
Versos Proferidos Intencionalmente afirmam:
Não apenas isto, até mesmo o perfeito e completo Buda, o corpo nirmanakaya com as
marcas maiores e menores e de uma natureza como a de um vajra indestrutível, também deixou o
corpo. O que dizer de pessoas como nós?! O Acharya Ashvaghosha afirmou:
A forma de todos os budas, adornada pelas marcas maiores e menores – mesmo este
corpo vajra é impermanente. O que dizer do corpo dos outros seres que não
possuem essência como uma árvore aquática!4
(b) Minha morte é certa, pois este corpo é composto e todos os fenômenos compostos são
impermanentes. Tudo aquilo que é composto é de uma natureza perecível. Os Versos Proferidos
Intencionalmente afirmam:
Ai de mim! Como tudo que é composto é impermanente, então tudo está sujeito a
nascimento e morte.
Visto que este corpo não é não composto, ele deve ser composto; portanto, ele é
impermanente e a morte é certa.
(c) Minha morte é certa, pois a vida se exaure a cada momento. A cada momento a vida se
aproxima da morte. Podemos não perceber isto ou estar conscientes, mas podemos examinar esta
situação através de exemplos. Assim como uma flecha atirada por um arqueiro habilidoso, como a
água caindo de uma montanha íngreme, ou como uma pessoa sendo levada para a execução, a vida
passa rapidamente.
No primeiro exemplo, quando um arqueiro atira sua flecha em um alvo, ela não para no
espaço por um momento até que alcance o alvo. Da mesma forma, nossa vida não para nunca, ela
se aproxima da morte rapidamente. Como se diz:
Assim como uma flecha atirada por um arqueiro habilidoso: tão logo a corda é solta,
ela não para, mas rapidamente atinge seu alvo. Assim também é a vida de todos os
humanos.
No segundo exemplo, assim como a água cai de uma montanha íngreme sem parar por um
instante, da mesma forma é muito óbvio que a vida de uma pessoa não para. A Coleção do Pináculo
Precioso afirma:
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Amigos! Esta vida passa rapidamente como a água caindo da rocha de uma
montanha íngreme. Uma pessoa infantil não está consciente disto e se torna
arrogantemente embriagada pela tolice de suas posses.
Assim como a corrente de um grande rio, que se move sem voltar atrás.
No terceiro exemplo, um prisioneiro sendo levado para a execução, cada passo que o
prisioneiro dá o aproxima da morte. Da mesma forma, nossas vidas também se aproximam da
morte a cada minuto. Assim, o Sutra da Nobre Árvore afirma:
Como um prisioneiro sendo levado para a execução, cada passo que ele dá o leva
para mais perto da morte.
Para uma pessoa que, definitivamente, será executada, cada passo que ela dá a leva
para mais perto da execução. Assim também é a vida de todos os humanos.
(a) Em outros reinos ou continentes a duração da vida é definida. Mas neste mundo nossas
vidas não têm uma duração definida. Conforme é mencionado no Tesouro do Abhidharma:
(b) Dizer que o corpo não possui essência significa que não há uma única substância sólida
nele, apenas os trinta e seis componentes impuros6. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas coloca:
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(c) “Muitas causas da morte” significa que não existe nada que não contribua para a nossa
própria morte e a dos outros. A Carta a um Amigo afirma:
(3) Também há três razões pelas quais não haverá ajuda no momento da morte:
(a) Não poderemos ser ajudados pelas nossas posses. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas
afirma:
Além de não nos trazer benefícios, as posses nos prejudicam nesta vida e no além. O
prejuízo para esta vida vem das discussões e lutas pelas posses, e por experimentar o sofrimento de
se tornar um escravo das riquezas, protegendo-as dos ladrões. Mais adiante, seremos lançados aos
reinos inferiores a partir da maturação do resultado destas ações.
(b) Não poderemos ser ajudados por nossos parentes ou amigos. Assim se diz:
Quando o momento da morte chegar, seus filhos não servirão como refúgio, nem
seu pai, sua mãe ou amigos. Não há ninguém em quem você possa tomar refúgio.
Além de não nos trazerem benefícios, os parentes nos incomodarão nesta vida e depois. O
prejuízo para esta vida é o grande sofrimento devido ao medo de que eles possam morrer, ficar
doentes, ou serem derrotados por outros. Mais tarde seremos lançados aos reinos inferiores devido
à maturação do resultado.
(c) Não poderemos ser ajudados por nossos próprios corpos. Não obteremos ajuda das
qualidades deste corpo e nem do próprio corpo. Independente de quão poderoso e forte este corpo
seja, ele não pode retornar da morte. Não importa o quão flexível e veloz ele seja, não poderá
escapar da morte. Não importa o quão eruditos e eloquentes nós sejamos, não poderemos escapar
da morte debatendo. Por exemplo, quando o sol está se pondo por trás das montanhas, ninguém
poderá atrasá-lo ou impedi-lo.
O próprio corpo não poderá ajudar. Conforme se diz:
Este corpo, que é bem sustentado pela comida e roupas que são acumuladas através
de grandes dificuldades, não nos acompanhará, mas será devorado pelos pássaros
ou cães, ou cremado em labaredas de fogo, ou apodrecerá sob a água, ou será
enterrado sob o solo.
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Além de não nos beneficiar no momento da morte, ele trará dificuldades nesta vida e
depois. O prejuízo para esta vida é de que este corpo não consegue tolerar a doença, o calor, o frio,
a fome, a sede, o medo de que alguém bata nele, o medo de que alguém o mate, o medo de que
alguém o torture, ou o medo de que alguém possa arrancar sua pele. Mais tarde, devido às falhas
deste corpo, seremos lançados nos reinos inferiores a partir da maturação do resultado.
Visto que não é certo o qual chegará antes, o amanhã ou o próximo mundo, então
sem me esforçar pelo amanhã, eu deveria me preparar para o próximo mundo.
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CAPÍTULO 5
O Sofrimento do Samsara
Você pode pensar que estará tudo bem se a impermanência causar a sua morte porque você
renascerá novamente e, uma vez tendo renascido, terá a oportunidade de desfrutar todos os
prazeres gloriosos dos deuses e humanos e isto será o suficiente para você. Tal pensamento denota
alguém que está apegado aos prazeres do samsara. Como antídoto para esta atitude deve-se
meditar sobre as falhas do samsara. O sumário:
Se estes três sofrimentos fossem explicados através de exemplos, o sofrimento que tudo
permeia seria como uma fruta verde, o sofrimento da mudança seria como comer arroz
envenenado, e o sofrimento do sofrimento seria como o mofo na fruta.1 Se estes três sofrimentos
fossem explicados através de suas definições, o sofrimento que tudo permeia seria como um
sentimento neutro, o sofrimento da mudança seria como um sentimento de prazer, e o sofrimento
do sofrimento seria como um sentimento de sofrimento. Se as características primárias destes três
sofrimentos fossem explicadas, veríamos que somos permeados pelo sofrimento no momento em
que os skandas aflitos surgem.2
I. O Sofrimento Que Tudo Permeia. As pessoas comuns não sentirão o sofrimento que
tudo permeia, assim como alguém que, por exemplo, é assolado por uma séria moléstia e, assim,
uma pequena dor nos ouvidos não será perceptível. Mas os seres santos – os seres nobres que estão
além do samsara, tais como aqueles que entraram na corrente, e assim por diante3 – verão o
sofrimento que tudo permeia como sofrimento; assim como quando alguém está se recuperando de
uma grave moléstia e a pequena dor de uma infecção no ouvido passa a ser experimentada como
sofrimento.
Há outro exemplo. Quando um cabelo se encontra na palma de sua mão não há sofrimento
ou desconforto. Mas, quando este mesmo cabelo está no seu olho, há sofrimento e desconforto. Da
mesma forma, este sofrimento não será percebido como sofrimento pelos seres comuns, mas será
visto como sofrimento pelos seres nobres. O Comentário ao Tesouro do Abhidarma afirma:
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O reino dos deuses é uma causa de sofrimento. Todos os reinos humanos também
são causas de sofrimento.
Portanto, mesmo se alguém conquistasse uma monarquia universal sobre os seres humanos,
isto conduziria, finalmente, ao sofrimento. A Carta a um Amigo afirma:
Não apenas isto, mas mesmo alguém que alcançasse o corpo e a satisfação de Indra, o rei
dos deuses, finalmente cairia e morreria. Mais uma vez, a Carta a um Amigo afirma:
E não apenas isto, mas alguém que atingisse o estado de Brahma e assim por diante, rei dos
deuses que transcenderam o mundo do desejo, e que experimentam o prazer da concentração
meditativa, finalmente cairia. A Carta a um Amigo afirma:
A. Infernos,
B. Fantasmas famintos,
C. Animais.
A. Reino dos Infernos. Em primeiro lugar temos a classificação do reino dos infernos.
Existem oito infernos quentes e oito infernos gelados, totalizando dezesseis, os quais em conjunto
com os infernos ocasionais e os infernos circundantes perfazem dezoito.
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1. Infernos Quentes. Onde estão localizados os infernos quentes? Abaixo desta Jambudvipa.
Muitos seres se debatem lá. Abaixo de todos se encontra Avici, o inferno do Sofrimento Constante.
Acima deste está o Pratapana, ou inferno do Calor Intenso; e depois o Tapana, ou inferno Quente; o
Maharaurava, ou inferno das Grandes Lamentações; o Raurava, ou inferno das Lamentações; o
Samghata, ou inferno do Esmagamento; o Kalasutra, ou inferno da Linha Negra; e o Samjiva, ou
inferno do Renascer. Assim, o Tesouro do Abhidarma afirma:
Quais tipos de sofrimento eles produzem? Isto é explicado de acordo com seus nomes. No
primeiro, o inferno do Renascer, os seres se cortam e matam uns aos outros, após o que surge uma
fresca brisa. Quando esta brisa toca seus corpos eles renascem novamente. Isto acontece
repetidamente até que a duração de suas vidas se exaura.
No inferno da Linha Negra, os corpos dos seres que lá renascem são cortados por espadas
ou machados flamejantes nos pontos em que houver uma linha negra marcada em seus corpos.
Conforme se diz:
No inferno do Esmagamento, os corpos dos seres que lá renascem são esmagados entre duas
montanhas ou entre placas de ferro. Primeiramente, duas montanhas enormes se aproximam como
cabeças de carneiros e esmagam esses seres. Após isso, as montanhas se separam e uma brisa fresca
reanima os corpos como antes. Então, eles são novamente esmagados. A Carta de Treinamento
afirma:
Outros são prensados entre placas de ferro e um fluxo de sangue surge como quatro rios.
Conforme foi dito:
No inferno das Lamentações, os seres sencientes que ali estão queimando soltam gritos
aterrorizados de medo.
No inferno das Grandes Lamentações, os gritos são ainda mais aterrorizados devido ao
sofrimento mais intenso.
No inferno Quente os seres são torturados pelo fogo e assim por diante. Bronze derretido é
derramado em seus corpos e queima os órgãos internos do corpo. Então eles são empalados pelo
ânus até o topo da cabeça por uma arma pontiaguda.
No inferno do Calor Intenso os seres são torturados ainda mais. Bronze derretido queima
todo o interior de seus corpos, deixando apenas a pele, e chamas aparecem através das nove
aberturas.4 Novamente, eles são empalados pelo ânus e pelas solas dos dois pés até o topo da
cabeça e os dois ombros por uma arma pontiaguda de três pontas. Assim se diz:
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O Ornamento da Preciosa Liberação Gampopa
No inferno do Sofrimento Constante há uma casa metálica em chamas, com 20.000 yojanas
de altura e comprimento, na qual há uma caldeira de bronze com muitos yojanas de tamanho.
Nessa caldeira os seres são cozidos em bronze e cobre ferventes derretidos. O fogo os circunda
pelas quatro direções. Assim se diz:
Por não haver intervalos no seu sofrimento, este inferno é chamado de Sofrimento
Constante.
Qual é a duração da vida destes seres? O Tesouro do Abhidarma afirma:
A duração da vida dos Quatro Reis Guardiões é igual a um dia e uma noite no reino do
inferno do Renascer. Assim, trinta dias equivalem a um mês, doze meses perfazem um ano. Em
seus termos, a duração da vida no inferno do Renascer é de 500 anos. Em termos humanos, ela é
igual a 1.620.000.000.000 de anos.
Da mesma forma, a duração da vida no inferno da Linha Negra é de 1.000 anos, que é
similar à duração da vida no reino dos deuses do Céu dos Trinta e Três. Em termos humanos, isto
equivale a 12.960.000.000.000 de anos.
A duração da vida no inferno do Esmagamento é de 2.000 anos, que é similar à duração da
vida dos deuses Livres do Combate. Em termos humanos, equivale a 103.680.000.000.000 de anos.
A duração da vida no inferno das Lamentações é de 4.000 anos, que é similar à duração da
vida no reino dos deuses da Alegria. Em termos humanos, equivale a 829.440.000.000.000 de anos.
A duração da vida no inferno das Grandes Lamentações é de 8.000 anos, que é similar à
duração da vida no reino dos deuses da Emanação Prazerosa. Em termos humanos, equivale a
6.635.520.000.000.000 de anos.
A duração da vida no inferno Quente é de 16.000 anos, que é similar à duração da vida no
reino dos deuses Controlando a Emanação de Outros. Em termos humanos, equivale a
53.084.160.000.000.000 de anos.
A duração da vida daqueles que estão no inferno do Calor Intenso é de um oitavo de kalpa.
No inferno do Sofrimento Constante a duração é de um quarto de kalpa (antahkalpa). Como se diz:
2. Infernos Circundantes. Estes se localizam nas quatro direções ao redor dos oito infernos.
No primeiro inferno adicional existem brasas nas quais os seres se afundam até os joelhos.
Tentando escapar dos reinos dos infernos quentes eles pisam ali e toda sua pele, carne e sangue se
queimam. Quando levantam suas pernas para dar um próximo passo eles se recuperam
novamente.
Próximo a este, o segundo inferno adicional é um pântano nojento de corpos pútridos, no
qual os seres são perfurados até os ossos por insetos de corpos brancos, cabeças pretas e bicos
afiados.
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O Ornamento da Preciosa Liberação Gampopa
Ao lado deste, o terceiro inferno adicional consiste em uma estrada cheia de lâminas onde
todas as árvores e florestas têm folhas cortantes. Cães malhados furiosos e agressivos vivem neste
lugar. Há uma floresta com folhas de agulhas de ferro, e há corvos com bicos de ferro. Aqueles que
ali vagueiam sofrem grandes ferimentos.
Próximo a este, o quarto inferno adicional é um rio fervente de brasas de onde não há saída.
Os mensageiros de Yama se posicionam próximos a ele e impedem os seres de sair, e assim eles são
cozidos neste rio.
Assim, o Tesouro do Abhidarma afirma:
Os guardiões do reino dos infernos – os Yamas em forma humana e os corvos com bicos de
ferro, e assim por diante – são eles seres sencientes ou não? A escola Vaibhasika afirma que eles são
seres sencientes, e a escola Sautrantika diz que eles não são seres sencientes. A escola Yogacara e a
linhagem de Marpa e Milarepa afirmam que eles se manifestam nas mentes dos seres sencientes
pelo poder de suas ações negativas. Em relação a isto, Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas afirma:
3. Os Oito Infernos Gelados. Existem oito tipos de infernos gelados: o Arbuda, ou inferno
das Bolhas; o Nirarbuda, ou inferno das Bolhas que Explodem; o Atata, ou inferno do Tremer e
Bater os Dentes; o Hahava, ou inferno “A-chu”; o Huhuva, ou inferno da Grande Lamentação; o
inferno Utpala, no qual a pele dos seres quebra como pétalas da flor utpala; o inferno Padma, no
qual a pele dos seres quebra como pétalas de lótus; e o inferno Mahapadma, no qual a pele dos
seres quebra como as pétalas de um grande lótus. O Tesouro do Abhidarma afirma:
Onde se localizam estes infernos? Abaixo desta Jambudvipa, próximos aos oito infernos
quentes. Que tipo de sofrimento eles experimentam? Seus sofrimentos correspondem aos seus
nomes. Nos dois primeiros, os seres sofrem um frio tão intolerável que bolhas cobrem seus corpos
inteiros. No segundo faz tanto frio que as bolhas explodem. Estes nomes se referem à mudança das
condições físicas. Os próximos três são nomeados de acordo com o som feito por aqueles que
experimentam o frio intolerável. No sexto a pele se torna azul e quebra em cinco ou seis pedaços
como pétalas da flor utpala. No sétimo, o azul se torna vermelho e o corpo quebra em dez ou mais
pedaços como pétalas de lótus. No oitavo, a cor se torna vermelho escuro e o corpo quebra em cem
ou mais pedaços como as pétalas de um grande lótus. Os três últimos se referem à mudança das
condições físicas.
Qual é a duração de suas vidas? O Exaltado explicou isto através do seguinte exemplo:
Monges! Por exemplo, suponham que houvesse nesta Magadha um celeiro com
capacidade para oitenta bushels, e que este celeiro estivesse cheio de sementes de
mostarda, e alguém removesse uma semente a cada cem anos. Monges, desta forma,
esvaziar completamente o celeiro de mostardas em Magadha, de oitenta bushels de
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O Ornamento da Preciosa Liberação Gampopa
capacidade, é muito mais rápido do que chegar ao fim da vida dos seres sencientes
que renascem no inferno das Bolhas. Monges, a vida no inferno das Bolhas que
Explodem dura vinte vezes mais do que a vida no inferno das Bolhas, e assim por
diante. Monges, a vida no inferno do Quebrar Como um Grande Lótus é vinte
vezes mais longa do que no inferno do Quebrar Como um Lótus.
4. Infernos Ocasionais. Podem existir muitos seres reunidos, ou dois, ou apenas um,
conforme são criados pelo poder do carma individual. Existem muitos tipos deste inferno e suas
localizações são indefinidas. Eles podem estar em rios, montanhas, desertos, ou outros lugares sob a
terra ou nos reinos humanos, como foi visto, por exemplo, pelo venerável Arya Maudgalyayana.5
Da mesma forma, isto foi visto por Sangharakshita6 em uma terra seca, de muito sofrimento. A
duração de suas vidas também é indefinida.
Estas são as explicações sobre o sofrimento dos seres sencientes nos reinos dos infernos.
B. Reino dos Fantasmas Famintos. As classificações são: Yama, o rei dos fantasmas famintos
e os fantasmas famintos dispersos. Onde eles se localizam? Yama, o rei dos fantasmas famintos,
vive a 500 yojanas abaixo desta Jambudvipa. Os fantasmas famintos dispersos apresentam
localizações indefinidas, tais como lugares secos e assim por diante.
Existem três tipos de fantasmas famintos dispersos: aqueles que têm obscurecimentos
externos à comida e à bebida, aqueles com obscurecimentos internos e aqueles que têm
obscurecimentos gerais à comida e à bebida.
Que tipos de sofrimentos eles experimentam? Os fantasmas famintos que possuem poderes
milagrosos experimentam algo como os prazeres dos deuses. Aqueles que têm obscurecimentos
externos à comida e à bebida veem os alimentos como pus e sangue. Eles veem outros seres
protegendo os alimentos e os impedindo de comer e beber. Aqueles que têm obscurecimentos
internos não têm a habilidade para comer ou beber mesmo que outros não os impeçam. Como se
diz:
Aqueles que têm obscurecimentos gerais à comida e à bebida se dividem em dois grupos –
os guirlandas de fogo e os comedores de imundícies. Aqueles do primeiro grupo, ao comer ou
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O Ornamento da Preciosa Liberação Gampopa
beber, sentem seus estômagos queimarem. Os que estão no segundo grupo comem excrementos,
bebem urina, ou comem sua própria carne, como foi visto por Nawa Chewari7 em um deserto seco.
Qual é a duração da vida de um fantasma faminto? Um mês no reino dos humanos equivale
a um dia dos fantasmas famintos. Trinta dias como estes perfazem um mês, e doze meses são um
ano. Em seus termos, eles vivem 500 anos. Assim, o Tesouro do Abhidarma afirma:
C. Reino dos Animais. Sua classificação é quádrupla: aqueles que têm muitas pernas,
quatro pernas, duas pernas, e aqueles que não têm pernas.
Onde eles se localizam? Nos oceanos, planícies ou florestas. Para a maioria deles, os oceanos
são seu lar.
Que tipo de sofrimento eles experimentam? O sofrimento de serem usados, de serem
massacrados e o sofrimento de serem comidos uns pelos outros. O primeiro tipo se refere aos
animais domésticos sob o poder dos humanos. Como se conta:
O terceiro tipo de sofrimento se aplica à maioria, que reside nos grandes oceanos. Como se
diz:
Qual é a duração da vida dos animais? Ela é indefinida. A mais longa dura um quarto de
kalpa. Conforme se relata:
Estas são as explicações sobre os sofrimentos dos reinos inferiores. Os sofrimentos dos
reinos superiores são categorizados em três tipos:
D. Reino Humano. Existem oito diferentes sofrimentos no reino humano. O Sutra da Entrada
no Útero afirma:
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O Ornamento da Preciosa Liberação Gampopa
Ao perceber desta forma de acordo com seu carma, o ser vê o futuro pai e a mãe copulando
à distância, e vai até lá.
Aqueles que acumularam grande mérito e renascerão em um lugar superior verão um
palácio ou uma casa com vários andares e irão até lá. Aqueles que acumularam uma quantidade
intermediária de méritos e renascerão numa condição mediana veem uma cabana de grama e assim
por diante, e vão até lá. Aqueles que não acumularam méritos e irão para um lugar inferior verão
um buraco na parede e irão até lá.
Ao chegar, se o ser renascerá como homem ele desenvolverá apego pela mãe e aversão pelo
pai. Se ele for renascer como mulher, então ele se sentirá apegado ao pai e sentirá aversão pela mãe.
Com este apego e aversão a consciência se mistura às secreções do pai e da mãe, e se diz que uma
criança foi concebida. Daí em diante a criança permanece no útero por trinta e oito semanas. Alguns
permanecem oito, nove ou dez meses. Para outros é indefinido, e alguns permanecem até mesmo
sessenta anos.9
Na primeira semana após a concepção da criança, o embrião, a combinação dos órgãos do
corpo com a consciência, experimenta o sofrimento inconcebível de ser cozido e frito em uma
caldeira quente. Neste momento ele é chamado de “forma oval”, porque se parece com coalhada.
Durante a segunda semana, o vento que tudo toca surge no útero da mãe. Quando ele toca o
embrião, os quatro elementos se manifestam. Neste momento ele é chamado de “forma oblonga”,
porque se parece com iogurte duro ou manteiga.
Na terceira semana, o vento ativador surge no útero da mãe. Ao tocar o embrião os quatro
elementos se manifestam mais fortemente. Neste momento ele é chamado de “aglomerado”,
porque sua forma é como uma colher de ferro ou um ovo de formiga.
Da mesma forma, na sétima semana o vento que aperta surge no útero. Ao tocar o embrião,
dois braços e duas pernas surgem. Neste momento há um grande sofrimento, como se uma pessoa
poderosa estivesse puxando os membros e outra os estivesse açoitando com um bastão.
Da mesma forma, na décima primeira semana o vento do surgimento das aberturas ocorre
no útero da mãe. Quando este vento toca o bebê as nove aberturas surgem. Neste momento há um
grande sofrimento como se um dedo estivesse mexendo em uma ferida nova e aberta.
Há ainda outros sofrimentos. Quando a mãe come alimentos desequilibrados, tal como algo
gelado, o bebê experimentará o sofrimento de ser jogado na água gelada. Da mesma forma, quando
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O Ornamento da Preciosa Liberação Gampopa
a mãe ingere comida quente ou ácida, e assim por diante, o bebê experimentará sofrimentos. Se a
mãe comer muita comida o bebê sentirá a dor de ser espremido entre rochas. Quando a mãe come
pouca comida o bebê experimentará o sofrimento de ser balançado no céu. Quando a mãe caminha
duramente, ou pula, ou apanha, então o bebê experimenta o sofrimento de rolar de uma montanha.
Quando a mãe tem atividades sexuais frequentes o bebê experimenta o sofrimento de ser açoitado
por espinhos.
Na trigésima sétima semana ele se tornará consciente da imundície e do fedor do útero, da
escuridão e da prisão. Ele se sentirá completamente infeliz e desejará escapar.
Na trigésima oitava semana o vento que colhe as flores surgirá no útero da mãe. Ao tocar o
bebê este mudará de posição, de forma a ficar de frente para a abertura do útero. Neste momento
há um grande sofrimento como se ele tivesse sido pego por uma máquina de ferro.
Assim, durante o longo período no útero o bebê sente calor, como se estivesse sendo cozido
em um recipiente muito quente, e é tocado pelos trinta e oito diferentes ventos. Desde o momento
em que era uma forma oval até completar a formação do corpo, ele se desenvolveu a partir da
essência do sangue da mãe, e assim por diante. Assim, o Sutra da Entrada no Útero diz:
Após isso, o vento do olhar para baixo surgirá. Ao tocar a criança ela começará a nascer.
Suas mãos se esticarão. Neste momento há um grande sofrimento como se estivesse sendo
arrastada para uma rede de fios de ferro.
Alguns morrem no útero; às vezes a mãe e o bebê morrem juntos. Quando um bebê nasce e
cai no chão ele experimenta um enorme sofrimento – como ser jogado em um monte de espinhos.
Quando ele é lavado há um enorme sofrimento – como se sua pele fosse arrancada e, então, ele
fosse esfregado contra uma parede.
Considerem esta quantidade de tempo, o tipo de sofrimento e dor, e o tipo de constrição,
escuridão e imundície. Por mais gananciosa que uma pessoa seja, se você pedisse a ela para ficar
coberta em um poço sujo por três dias em troca de três onças de ouro, ela não concordaria. Ainda
assim, o sofrimento do útero é pior do que isto! A Carta de Treinamento diz:
Assim, ao entender isto, como alguém pode pensar em entrar no útero mais uma vez?
Brevemente, existem dez sofrimentos inconcebíveis relacionados ao envelhecimento: o corpo
muda, o cabelo muda, a pele muda, a compleição muda, as habilidades mudam, a dignidade muda,
a acumulação de méritos muda, a resistência à doença muda, a mente muda e a passagem do tempo
nos leva para perto da morte.
Primeiro, “o corpo muda” significa que uma vez seu corpo foi estável, ereto e firme, e agora
ele se torna curvado e depende de uma bengala.
“O cabelo muda” significa que uma vez seu cabelo foi negro e brilhante, e agora ele se torna
cinzento, ou careca, e assim por diante.
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O Ornamento da Preciosa Liberação Gampopa
“A pele muda” significa que uma vez sua pele foi macia e lisa como a seda de Varanasi ou a
fina seda chinesa, e agora ela se torna espessa, dura e enrugada como um bracelete amassado.
“A compleição muda” significa que uma vez ela foi brilhante como uma flor de lótus recém
aberta, e agora ela se torna azulada e pálida como uma flor murcha.
“As habilidades mudam” significa que uma vez você era capaz e estava pronto para fazer
qualquer coisa. Quando isto muda a força se perde e você não suporta qualquer esforço. Ao perder
a força da mente você perde interesse em quaisquer atividades. Ao perder o poder dos sentidos
você não consegue mais projetar os objetos adequadamente10, e comete erros.
“A dignidade muda” significa que certa vez as outras pessoas o louvaram e o respeitaram.
Quando isto muda as pessoas o desprezam, mesmo se elas forem inferiores a você; sem razão
aparente elas não gostam de você, você é ameaçado pelas crianças e embaraça seus filhos e netos.
“A acumulação de méritos muda” significa que toda a riqueza que você acumulou diminui.
Você não consegue manter o calor do corpo e não sente mais o gosto da comida. Especialmente, se
você quiser comer aquilo que não tem, será difícil de encontrar alguém para lhe oferecer.
“A resistência à doença muda” significa que você é abatido pela “doença” da velhice, que é
a pior doença, porque ela atrai todas as outras doenças, e você sofre.
“A mente muda” significa que você esquece imediatamente o que diz, ou faz, e fica confuso.
“A passagem do tempo o leva para perto da morte” significa que a respiração se torna mais
curta e difícil, e você se aproxima da morte, assim como todas as formas compostas se deterioram.
Assim, o Sutra da Nobre e Profunda Representação afirma:
Ser torturado pelo sofrimento de uma centena de doenças e pelo medo de contraí-las
É como ser um fantasma faminto durante a vida humana.
Também há sofrimentos ilimitados na morte. O Sutra das Instruções para o Rei afirma:
Grande rei, da mesma forma, quando for apanhado pelo bastão pontiagudo do
senhor da morte, então você será afastado de toda arrogância – sem refúgio, sem
protetor, sem apoio e torturado pela doença. Sua boca secará; seu rosto mudará;
você moverá seus membros; você não poderá trabalhar; catarro, muco, urina e
vômito grudarão em seu corpo; sua respiração será curta; você será evitado pelos
médicos e dormirá em sua última cama; a continuidade desta vida samsárica será
interrompida; haverá grande temor dos mensageiros de Yama, o senhor da morte;
sua respiração cessará e sua boca e nariz ficarão abertos. Você deixará este mundo
para trás e prosseguirá para o próximo, transmigrando completamente de um lugar
para outro. Você entrará em uma grande escuridão e cairá em um precipício, será
carregado pelo grande oceano, caçado pelos ventos cármicos, e irá em uma direção
desconhecida. Você não poderá dividir sua fortuna. Ao gritar: “Ai de mim, mãe! Ai
de mim, pai! Ai de mim, filho!” não haverá refúgio, nem protetor, nem apoio,
apenas o grande rei, o Darma.
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“O sofrimento de se separar dos seres amados” significa que quando aqueles aos quais você
está apegado, seus pais, filhos, parentes, e assim por diante, morrem, há um sofrimento ilimitado
de lamentações, luto, choro, gritos, e outras expressões de tristeza.
“O sofrimento de ter de encontrar aqueles de quem não gostamos” se refere ao sofrimento
ilimitado de encontrar nossos inimigos odiados, o que resulta em brigas, discussões, lutas, e assim
por diante.
Os últimos dois tipos de sofrimento são facilmente compreensíveis.
E. Reino dos Semideuses. O sofrimento dos semideuses é similar ao sofrimento dos deuses,
com os sofrimentos adicionais da arrogância, ciúmes e lutas. Como se diz:
Cinco sinais da morte aparecem quando os deuses se aproximam dela: suas roupas
ficam manchadas com sujeira, suas guirlandas de flores murcham, suor aparece em
suas axilas, um cheiro nojento emana de seus corpos e eles se desgostam com seus
próprios assentos.
Os seres nos reinos da forma e da não forma não têm estes tipos de sofrimento, mas eles
sofrem a transferência da morte e não têm uma localização livre, e assim experimentarão o
sofrimento dos reinos inferiores. Quando os seres que desfrutam do prazer de estados superiores
exaurem seu carma, eles cairão em reinos inferiores.
Portanto, este estado samsárico possui uma natureza de grande sofrimento, como uma casa
em chamas. O Sutra da Entrada no Útero afirma:
Assim, quando alguém está consciente das falhas do samsara se afastará dos prazeres do
samsara. O Sutra do Encontro do Pai e do Filho afirma:
O samsara é assim:
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CAPÍTULO 6
Você pode se perguntar quais são as causas dos sofrimentos que acabaram de ser
explicados. Deve-se entender que elas provêm do carma das ações aflitas1. Assim, o Sutra dos Cem
Karmas afirma:
Este mundo é produzido pelo carma; este mundo se manifesta através do carma.
Todos os seres sencientes são produzidos pelo carma; eles surgem a partir da causa,
o carma; eles são completamente classificados pelo carma2.
O que são estes dois? O carma da mente é o carma da consciência. Aquilo que é criado pela
mente é o pensamento da mente; isto deve ser compreendido como o carma do corpo e da fala. O
Tesouro do Abhidarma afirma:
Para explicar estes tipos de carma e os resultados criados pela sua força, o sumário:
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O Ornamento da Preciosa Liberação Gampopa
A. Primeiro, O Carma Não Meritório e Seu Resultado. De modo geral, existem numerosas
ações não meritórias, mas elas são brevemente resumidas em dez – três de corpo, por exemplo tirar
a vida e assim por diante; quatro de fala, contar mentiras e assim por diante; e três de mente,
cobiça e assim por diante. Existem três subcategorias para cada uma das dez: classificação,
resultado e ação distintiva.
1. Matar.
a) Classificação do Ato de Matar. Existem três tipos: matar através das portas do desejo, da
raiva e da ignorância. O primeiro tipo significa matar para conseguir carne, peles e assim por
diante, por esporte, para a própria riqueza e para sustentar os seres amados e a si mesmo. O
segundo tipo significa matar pelo surgimento da raiva, por ressentimento, ou por competição. O
terceiro tipo se refere a fazer sacrifícios, e assim por diante.
b) Três Resultados do Ato de Matar. Existem três resultados: o resultado da maturação do
ato, o resultado similar à causa e o resultado geral da força. O “resultado da maturação do ato”
significa que o agente renascerá no reino dos infernos. Experimentar um “resultado similar à
causa” significa que mesmo que o agente renasça no reino humano sua vida será curta ou ele
experimentará muitas doenças. O “resultado geral da força” significa que o agente renascerá em
um lugar inauspicioso onde há pouca dignidade.
c) Ação Distintiva do Ato de Matar. Tirar a vida do próprio pai, caso ele também seja um
Arhat, é um carma muito pesado e negativo.
2. Roubar.
a) Classificação do Ato de Roubar. Existem três tipos de roubo: tomar coisas através da
força, tomar coisas secretamente, e tomar coisas através da trapaça. O primeiro significa roubar
pela força sem qualquer razão. O segundo significa roubar coisas entrando em uma casa sem os
outros perceberem, e assim por diante. O terceiro se refere à trapaça usando medidas, escalas, e
assim por diante.
b) Três Resultados do Ato de Roubar. O “resultado da maturação do ato” significa que o
agente renascerá como um fantasma faminto; o “resultado similar à causa” significa que mesmo
que o agente renasça no reino humano, ele terá riquezas insuficientes. O “resultado geral da força”
significa que o agente renascerá em um lugar onde há mais geadas e granizo do que o normal.
c) Ação Distintiva do Ato de Roubar. Roubar os pertences de um mestre espiritual ou das
Três Joias é um carma muito pesado e negativo.
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4. Mentir.
a) Classificação da Mentira. Existem três tipos de mentira: mentiras espirituais, grandes
mentiras e pequenas mentiras. O primeiro tipo significa mentir sobre a posse de uma qualidade
suprema do Darma6. O segundo tipo significa contar uma mentira que faz diferença entre um dano
ou benefício para si mesmo ou outra pessoa. O terceiro tipo se refere a uma mentira sem benefícios
ou danos.
b) Três Resultados da Mentira. O “resultado da maturação do ato” significa que o agente
renascerá no reino dos animais. O “resultado similar à causa” significa que mesmo que o agente
renasça no reino humano, ele será difamado. O “resultado geral da força” significa que o agente
renascerá com mau hálito.
c) Ação Distintiva da Mentira. Difamar Aquele Que Assim se Foi e mentir para o próprio
mestre espiritual são carmas muito pesados e negativos.
5. Fala Separativa.
a) Classificação da Fala Separativa. Existem três tipos de fala separativa: separar de forma
forçada, separar indiretamente e separar secretamente. O primeiro tipo significa separar amigos
diante deles. O segundo tipo significa separar amigos através de linguagem indireta. O terceiro
tipo significa separar secretamente.
b) Três Resultados da Fala Separativa. O “resultado da maturação do ato” significa que o
agente renascerá no reino dos infernos. O “resultado similar à causa” significa que mesmo que o
agente renasça no reino humano, ele será separado de seus seres amados. O “resultado geral da
força” significa que o agente renascerá em um lugar injusto.
c) Ação Distintiva da Fala Separativa. No que se refere à fala separativa, usar palavras
desagradáveis com a nobre Sanga é um carma muito negativo.
6. Fala Agressiva.
a) Classificação da Fala Agressiva. Existem três tipos de fala agressiva: direta, sinuosa e
indireta. O primeiro tipo é forçado, atacar diretamente as diversas falhas de alguém. O segundo
tipo é usar sarcasmo ou palavras engraçadas para magoar. O terceiro tipo é atacar as falhas de
alguém dizendo coisas negativas para seus amigos e parentes.
c) Três Resultados da Fala Agressiva. O “resultado da maturação do ato” significa que o
agente renascerá no reino dos infernos. O “resultado similar à causa” significa que mesmo que o
agente renasça no reino humano ele receberá muitas notícias desagradáveis. O “resultado geral da
força” significa que o agente renascerá em um lugar quente e seco onde há mais malfeitores do que
o normal.
c) Ação Distintiva da Fala Agressiva. Utilizar a fala agressiva para prejudicar os próprios
pais ou Seres Nobres é um carma muito pesado e negativo.
7. Fala Inútil.
a) Classificação da Fala Inútil. Existem três tipos de fala inútil: falsa, mundana e verdadeira.
O primeiro tipo significa recitar mantras e ler os textos dos hereges, e assim por diante. O segundo
tipo é a conversa sem objetivos. O terceiro tipo é dar ensinamentos do Darma para aqueles que não
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8. Cobiça.
a) Classificação da Cobiça. Existem três tipos de cobiça: com relação a si mesmo, com
relação aos outros e com relação a nenhum7. O primeiro tipo significa estar apegado à própria raça,
clã, corpo, qualidades e fortuna, e pensar: “Não há ninguém como eu”. O segundo tipo significa
estar apegado à prosperidade dos outros e pensar: “Eu gostaria de ter isso”. O terceiro tipo é estar
apegado a uma mina subterrânea, ou algo do gênero, que não pertence a ninguém, e pensar: “Eu
gostaria de ter aquilo”.
b) Três Resultados da Cobiça. O “resultado da maturação do ato” significa que o agente
renascerá como um fantasma faminto. O “resultado similar à causa” significa que mesmo que o
agente renasça no reino humano ele terá uma cobiça ainda mais forte. O “resultado geral da força”
significa que ele renascerá em um lugar com más colheitas.
c) Ação Distintiva da Cobiça. O desejo de roubar a riqueza de um renunciante é um carma
muito pesado e negativo.
9. Pensamentos Negativos.
a) Classificação do Pensamento Negativo. Existem três tipos de pensamentos negativos:
aquele que surge do ódio, do ciúme e do ressentimento. O primeiro tipo significa o desejo de matar
outras pessoas pelo ódio, como em uma batalha. O segundo tipo significa o desejo de matar um
competidor por medo de que ele possa superá-lo. O terceiro tipo significa o desejo de matar por
guardar mágoas passadas na mente.
b) Três Resultados do Pensamento Negativo. O “resultado da maturação do ato” significa
que o agente renascerá no reino dos infernos. O “resultado similar à causa” significa que mesmo
que o agente renasça no reino humano ele experimentará um ódio ainda mais forte. O “resultado
geral da força” significa que o agente renascerá em um lugar onde os alimentos são amargos e
grosseiros.
c) Ação Distintiva do Pensamento Negativo. Em relação ao pensamento negativo, cometer
um dos crimes hediondos8 é um carma muito negativo.
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Primeiramente, se alguém age com ódio, renascerá no reino dos infernos. Se agir com
desejo, renascerá como um fantasma faminto. Se agir com ignorância, renascerá no reino dos
animais. A Guirlanda de Joias Preciosas afirma:
Em relação à frequência, quando são criadas inúmeras ações não virtuosas ocorrerá o
renascimento no reino dos infernos; ao cometer muitas ações não virtuosas o renascimento se dará
no reino dos fantasmas famintos; ao cometer algumas ações não virtuosas o renascimento será no
reino dos animais.
Em relação ao objeto, ocorrerá o renascimento no reino dos infernos se houver ação não
virtuosa tendo por objeto seres de nível superior; se o objeto forem seres medianos o agente
renascerá como um fantasma faminto; se forem seres comuns ele renascerá como um animal.
Esta é a explicação da causa e do resultado das não virtudes. A Guirlanda de Joias Preciosas
afirma:
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III. Atribuição. Esta terceira categoria, a atribuição do carma, significa que experimentará
os resultados do carma que você criar. Os resultados amadurecerão nos skandas do agente, e não
de outros. A Coleção do Abhidarma afirma:
Se não fosse este o caso, o carma que foi criado poderia ser perdido, ou haveria o perigo de
enfrentar um resultado não criado pela própria pessoa. Portanto, em um sutra se diz:
O carma criado por Devadatta não amadurecerá na terra, na água, e assim por
diante. Mas este carma amadurecerá nos skandas e ayatanas daquele indivíduo em
particular. A quem mais poderia este carma resultar?
Por um ou dois momentos de fala negativa haverá experiência de sofrimento por 500 vidas,
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VI. Inevitabilidade. A sexta categoria, a inevitabilidade do carma, significa que, a não ser
que um antídoto para o carma seja aplicado, o resultado chegará sem perda ou desperdício mesmo
que kalpas incontáveis tenham transcorrido. O carma pode permanecer dormente por um longo
tempo, mas, de alguma forma, quando forem encontradas as condições apropriadas, o resultado se
apresentará. Assim, desenvolve-se o temor diante dos sofrimentos do samsara e se ganha
confiança no carma e seu resultado. Como se diz:
Conforme afirmado pode-se cultivar a mente de uma pessoa medíocre. Como exemplo,
veja as sete filhas do Rei Krika.15 O Sutra dos Cem Carmas afirma:
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AO PRAZER DA PAZ
CAPÍTULO 7
Mas, ao desenvolver bondade amorosa e compaixão, então há uma conexão com os seres
sencientes e não se ousa atingir a liberação apenas para si mesmo. Portanto, deveríamos praticar
bondade amorosa e compaixão. Manjushrikirti disse:
E:
O benefício dos outros é preservado pelo amor e pela compaixão, e não pelo ódio.
A. Classificação. Existem três categorias: bondade amorosa tendo os seres sencientes por
objeto, bondade amorosa tendo os fenômenos por objeto e bondade amorosa livre de objetos. O
Sutra Requisitado por Aksayamati afirma:
A bondade amorosa que tem seres sencientes como objeto é praticada pelos
bodisatvas que acabaram de despertar a bodicita. A bondade amorosa tendo
fenômenos por objeto é praticada pelos bodisatvas que estão engajados na conduta
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O Ornamento da Preciosa Liberação Gampopa
C. Característica Identificadora. Uma mente que deseja que todos os seres sencientes
encontrem a felicidade.
Por que é assim? A mãe nos deu o corpo, a mãe passou por dificuldades, a mãe nos
deu a vida e a mãe nos mostrou todo o mundo.
A “bondade de nos dar um corpo” significa que, inicialmente, nosso corpo não estava
completamente desenvolvido, nem nossa agradável compleição. Nós começamos no útero da mãe
como um simples ponto oval e uma forma oblonga, e a partir daí nos desenvolvemos através da
essência vital do sangue e da carne da mãe. Crescemos a partir da essência vital de seu alimento,
enquanto ela passava por embaraços, dor e sofrimento. Depois de nascermos, de um pequeno
verme até estarmos completamente crescidos, ela desenvolveu nossos corpos.
A “bondade de suportar dificuldades por nós” significa que, inicialmente, não estávamos
vestindo roupas com ornamentos, não possuíamos riquezas e não trouxemos quaisquer provisões.
Chegamos apenas com uma boca e um estômago – de mãos vazias, sem quaisquer coisas materiais.
Quando chegamos a este lugar, onde não conhecíamos ninguém, ela nos deu comida
quando estávamos famintos, ela nos deu bebida quando estávamos com sede, ela nos deu roupas
quando estávamos com frio, ela nos deu riquezas quando não tínhamos nada. Além disso, ela não
nos deu apenas coisas de que não precisava. Pelo contrário, ela nos deu aquilo que não ousaria usar
para si mesma, coisas que não ousaria comer, beber ou vestir, coisas que não ousaria empregar para
a felicidade desta vida, coisas que não ousaria usar como riquezas para a próxima vida. Em resumo,
sem buscar felicidade para esta ou para a próxima vida, ela cuidou de sua criança.
Ela não obteve estas coisas facilmente ou prazerosamente. Ela as reuniu gerando vários
carmas negativos, através de sofrimentos e dificuldades, e as deu todas para sua criança. Por
exemplo, a criação de carmas negativos: ela alimentou seu filho a partir de várias ações não
virtuosas como pescar, matar animais, e assim por diante. Por exemplo, sofrimentos: para oferecer
para seu filho ela acumulou posses trabalhando em negócios como fazendas, e assim por diante,
calçando a geada como sapatos, vestindo as estrelas como chapéu, cavalgando sobre o cavalo de
suas pernas, a barra de sua saia como chicote, oferecendo suas pernas para os cães e seu rosto para
o povo.
Além disso, ela amou aquele desconhecido mais do que seu próprio pai, sua mãe e seus
professores que foram tão gentis com ela. Ela olhou para a criança com olhos amorosos e a manteve
aquecida em panos macios. Ela balançou a criança com seus dez dedos e a levantou alto no céu. Ela
falou com a criança com uma voz amorosa e agradável, dizendo: “Pequeno felizardo, você que
delicia a mamãe! Lu, lu, queridinho”, e assim por diante.
A “bondade de nos dar a vida” significa que, no início, não éramos capazes de comer com
nossas próprias bocas e mãos, nem éramos capazes de suportar todas as diferentes dificuldades.
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O Ornamento da Preciosa Liberação Gampopa
Nós éramos como frágeis insetos sem força, éramos apenas tolos e não conseguíamos pensar em
nada. Mais uma vez, sem nos rejeitar, a mãe nos serviu, nos colocou no colo, nos protegeu do fogo e
da água, nos manteve longe de precipícios, dissipou todas as coisas perigosas e realizou rituais.
Temendo pela nossa vida ou por nossa saúde ela buscou adivinhações e consultou astrólogos.
Através de muitas cerimônias rituais e muitas outras diferentes coisas ela protegeu a vida de sua
criança.
A “bondade de nos mostrar o mundo” significa que, no início, não chegamos aqui sabendo
muitas coisas, vendo amplamente e apresentando talentos. Só conseguíamos chorar e mover nossas
mãos e pés. Além disso, não sabíamos nada. A mãe nos ensinou a comer quando não sabíamos
como. Ela nos ensinou a nos vestir quando não sabíamos como. Ela nos ensinou a caminhar quando
não sabíamos como. Ela nos ensinou a falar quando não sabíamos dizer “Mamãe” ou “Oi”, e assim
por diante. Ela nos ensinou diversas habilidades, artes criativas, e assim por diante. Ela tentou nos
fazer iguais a todos quando éramos diferentes; e tentou fazer o injusto justo para nós.
Nós não tivemos uma mãe apenas nesta vida, mas desde o início deste samsara sem início
ela nos serviu como mãe incontáveis vezes. O “Sutra do Samsara Sem Início” afirma:
A cada vez que tivemos uma mãe, ela realizou o mesmo tipo de bondade como sempre.
Portanto, a bondade de uma mãe é ilimitada, e assim, tão sinceramente quanto possível, meditem
para desenvolver amor em seus corações, e desejem o benefício e a felicidade dela.
E não apenas isto, mas todos os seres sencientes já foram nossas mães, e todas as mães
realizaram o mesmo tipo de ações bondosas. Qual é o limite dos seres sencientes? Assim como o
espaço é ilimitado, assim os seres sencientes o permeiam. O Sutra da Prece de Aspiração Pela Conduta
Adequada diz:
Quando, pelo poder da bondade amorosa, lágrimas vêm aos olhos e os pelos do corpo se
arrepiam, isto se chama bondade amorosa genuína. Ao direcionar este tipo de mente para todos os
seres sencientes igualmente, isto se chama bondade amorosa incomensurável.
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O Ornamento da Preciosa Liberação Gampopa
E. Medida da Prática. Quando alguém não deseja mais a felicidade para si mesmo, mas
apenas para outros seres, esta é a perfeição da prática da bondade amorosa.
Mesmo a prática de bondade amorosa por um instante traz méritos ilimitados. A Guirlanda
de Joias Preciosas coloca:
Serão alcançados oito benefícios através desta prática de bondade amorosa até alcançarmos
a iluminação. A Guirlanda de Joias Preciosas afirma:
A. Classificação. Existem três tipos de compaixão: compaixão tendo seres sencientes como
objeto, compaixão tendo fenômenos como objeto e compaixão livre de objetos. Entre estes, o
primeiro significa desenvolver compaixão ao ver o sofrimento dos seres sencientes nos reinos
inferiores, e assim por diante. O segundo tipo: quando se está bem treinado na prática das Quatro
Nobres Verdades4 e se entende causa e resultado, tendo dissipado a permanência e solidez, a
compaixão surge por aqueles seres sencientes que estão confusos e que sustentam a permanência e
a solidez, não compreendendo causa e resultado. O terceiro tipo: ao se posicionar em equilíbrio
meditativo e ao realizar todos os fenômenos como tendo por natureza a vacuidade, a compaixão
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O Ornamento da Preciosa Liberação Gampopa
surge, especialmente por aqueles seres que percebem tudo como sendo real. Como se diz:
C. Característica Identificadora. Uma mente que deseja que todos os seres sencientes se
afastem do sofrimento e de suas causas.
D. Método de Prática. Iniciamos esta prática a partir dos sentimentos que temos por nossa
mãe desta vida. Suponha que sua mãe estivesse em um lugar onde alguém batesse nela, cortando-a
em pedaços, cozinhando-a ou queimando-a no fogo, ou suponha que ela estivesse congelando de
frio e seu corpo estivesse cheio de bolhas. Você teria extrema compaixão por ela. Da mesma forma,
os seres sencientes do reino dos infernos, que foram com certeza nossas mães, estão sendo
torturados por estes tipos de sofrimento. Como poderia não surgir compaixão? Assim, deveríamos
meditar com um desejo compassivo de liberar tais seres do sofrimento e de suas causas.
E também, se sua mãe estivesse em um lugar onde ela sofresse por sede e fome, fosse
torturada pela doença, febre, medo e uma sensação de abandono, então você teria uma compaixão
extrema. Da mesma forma, os seres sencientes do reino dos fantasmas famintos, que foram com
certeza nossas mães, estão sendo torturados por estes tipos de sofrimento. Como poderia não surgir
compaixão? Assim, meditem com um desejo compassivo de liberar tais seres do sofrimento.
Da mesma forma, se sua mãe estivesse em um lugar onde ela sofresse por velhice e
fraqueza, e se estivesse escravizada sem escolha, apanhasse, fosse morta, esquartejada, e assim por
diante, então você teria extrema compaixão. Da mesma forma, os seres sencientes no reino dos
animais, que foram com certeza nossas mães, estão sofrendo desta forma. Como poderia não surgir
compaixão? Assim, meditem com um desejo compassivo de liberar tais seres de todos os seus
sofrimentos.
E se sua mãe estivesse perto de um precipício onde ela poderia cair por mil yojanas, e
estivesse sem saber de tal perigo, e se ninguém o mostrasse a ela, então, quando caísse no abismo,
experimentaria grande sofrimento e seria incapaz de subir novamente, e você teria uma compaixão
extrema. Da mesma forma, os deuses, humanos e semideuses estão perto do perigoso precipício
dos reinos inferiores. Eles não percebem que deveriam evitar as ações negativas; eles não
encontraram mestres espirituais; quando caírem, será difícil sair dos três reinos inferiores. Como
poderia não surgir compaixão? Assim, meditem com um desejo compassivo de liberar tais seres de
seus sofrimentos.
Se alguém tivesse uma única qualidade, seria como se o Darma de todos os budas
estivesse na palma de sua mão. Que qualidade é esta? Grande compaixão.
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Abençoado, onde quer que a roda preciosa do grande monarca se encontre, lá estão
suas tropas. Abençoado, da mesma forma, onde quer que a grande compaixão de um
bodisatva se encontre, lá estarão todos os Darmas dos budas.
Assim, quando através da bondade amorosa se deseja que todos os seres alcancem a
felicidade e através da compaixão se deseja que todos os seres se liberem do sofrimento, então não
há mais interesse em alcançar a paz e a felicidade apenas para si. Desta forma, haverá deleite em
atingir a iluminação pelo benefício de todos os seres. Este se torna o remédio para o apego ao
prazer da paz.
Portanto, ao desenvolvermos bondade amorosa e compaixão na mente, cuidaremos mais
dos outros do que de nós mesmos. A Lâmpada para o Caminho da Iluminação afirma:
Assim, deve-se cultivar a mente dos Seres Supremos. Por exemplo, vejam a história do
brâmane Mahadatta6.
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DO MÉTODO DE PRÁTICA
Agora será explicado o Darma do cultivo da mente que busca a iluminação suprema, como
antídoto para o desconhecimento do método de prática para atingir a iluminação.
O sumário:
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CAPÍTULO 8
Refúgio e Preceitos
Estes itens formam a base para o cultivo da bodicita de ação. Uma pessoa que possua estas
qualidades até a tomada de refúgio é a base para o cultivo da bodicita de aspiração.
Isto é assim porque, conforme mencionado nos Bhumis dos Bodisatvas, a bodicita de aspiração
é necessária para cultivar a bodicita de ação. A Lâmpada para o Caminho da Iluminação afirma que
devemos tomar refúgio para cultivar a bodicita de aspiração. A Lâmpada para o Caminho da
Iluminação também diz que para cultivar a bodicita de ação é necessário um dos votos pratimoksha.
O Tesouro do Abhidarma afirma que tomar refúgio é necessário para receber os votos pratimoksha.
Os Bhumis dos Bodisatvas mencionam que sem pertencer à família Mahayana não poderemos receber
o voto de bodisatva mesmo se cultivarmos a mente através de uma cerimônia. Portanto, todos os
elementos devem ser conectados e reunidos.
B. Tomar Refúgio nas Três Joias. Para explicar o segundo tópico, o objeto de nossa
tomada de refúgio, vocês podem se peguntar se devem tomar refúgio nos poderosos deuses
Brahma, Vishnu, Mahadeva, e outros; ou nos poderosos deuses e nagas locais que moram nas
montanhas, rochas, lagos ou árvores, e assim por diante. Eles não são objetos de refúgio porque não
podem oferecer refúgio. Nos sutras se diz:
Deveríamos tomar refúgio em nossos pais, parentes, amigos e outros – aqueles que são
bondosos conosco e que nos beneficiam? Eles também não poderão nos oferecer refúgio. O Sutra da
Representação da Manifestação de Manjushri afirma:
E por que eles não podem oferecer refúgio? Para oferecer refúgio eles deveriam estar livres
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O Ornamento da Preciosa Liberação Gampopa
de todo medo e do sofrimento. Estes seres não estão livres do medo e se encontram em um estado
de sofrimento. Portanto, os budas são os únicos que estão completamente livres do sofrimento, o
Darma é o único caminho para a prática da iluminação e a Sanga é o único guia para a prática do
Darma. Portanto, tomamos refúgio neles três. Assim, em um sutra se afirma:
Mesmo eles possuindo o poder de oferecer refúgio, se eu os procurar buscando refúgio eles
poderão me proteger? Não há razão para duvidar disto. O Grande Sutra do Parinirvana afirma:
O sumário:
2. Base de Trabalho. Também existem duas bases de trabalho. A base de trabalho comum é
alguém que teme o sofrimento do samsara e que vê as Três Joias como deidades. A base de trabalho
especial é a pessoa que está na família Mahayana e que possui o corpo puro dos deuses ou
humanos.
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O Ornamento da Preciosa Liberação Gampopa
Neste caso, como pode o Buda ser o refúgio absoluto? O mesmo texto afirma:
Por ser o refúgio absoluto, o Sábio está livre de nascimento e cessação, é completamente
purificado, está livre do desejo e possui a natureza do darmakaya. A assembleia dos três veículos5
atinge a perfeição quando alcança a pureza absoluta do darmakaya. Portanto, o Sábio é o refúgio
absoluto.
Neste caso, o Darma e a Sanga são refúgios absolutos ou não? O Tantra Insuperável afirma:
Por que eles não são refúgios absolutos? O primeiro tipo de Darma é, simplesmente, a
reunião de um monte de nomes e escrituras. Uma vez que tiver cruzado, terá de abandoná-los
como um barco. Portanto, ele não é um refúgio absoluto. Dos dois aspectos do Darma da realização,
a Verdade do Caminho é composta, e assim, é impermanente. Portanto, ela é enganosa, e não é um
refúgio absoluto. De acordo com os Ouvintes, a Verdade da Cessação extingue sua continuidade
como se apagássemos uma lâmpada, e assim ela é inexistente e, portanto, não é um refúgio
absoluto. A própria Sanga tem medo do samsara e busca refúgio no Buda; por ter medo ela não é o
refúgio absoluto. Assim, o Tantra Insuperável afirma:
Neste caso, isto não contradiz a explicação que afirma que há três tipos de refúgio? Os três
refúgios surgem como um método para guiar os seres sencientes. O Sutra da Grande Liberação
afirma:
Os três métodos foram apresentados de acordo com as três qualidades, três veículos, três
agentes e as três aspirações.
Além disso, de forma a demonstrar as qualidades do professor, o Buda é o refúgio para
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O Ornamento da Preciosa Liberação Gampopa
aqueles que seguem o veículo dos bodisatvas e aqueles que estão interessados em realizar as
atividades supremas de um Buda. Eles tomam refúgio no Buda, o ser supremo dentre os “bípedes”.
De forma a demonstrar as qualidades dos ensinamentos, o Darma é o refúgio para aqueles
que seguem o veículo dos Realizadores Solitários e que estão interessados no trabalho pelo Darma.
Eles tomam refúgio no Darma, a liberação suprema de todos os apegos.
De forma a demonstrar as qualidades dos praticantes, a Sanga é o refúgio para as pessoas
que seguem o veículo dos Ouvintes e que estão interessadas no trabalho pela Sanga. Elas tomam
refúgio na Sanga, a mais excelente de todas as comunidades.
Assim, os três refúgios são apresentados pelos três significados e de acordo com as seis
pessoas. O Exaltado, Abençoado, disse isto em um estado convencional de forma a que todos os
seres sencientes pudessem gradualmente ingressar nos diferentes estágios dos veículos.
4. Duração. A duração também tem duas subdivisões. Na forma comum, toma-se refúgio de
agora até a morte. No tipo especial, toma-se refúgio de agora até que a iluminação seja alcançada.
(1) Preparação. Inicialmente é oferecida uma mandala de flores a um mestre qualificado que
seja digno de ser seguido, e então pede-se a ele para realizar a cerimônia. O mestre espiritual
aceitará se o discípulo pertencer à família Mahayana e for um vaso adequado. No primeiro dia ele
prepara os objetos de refúgio, realiza as oferendas e explica os efeitos benéficos de tomar refúgio e
as falhas de não tomar refúgio.
(2) Cerimônia. No segundo dia, ele realiza a cerimônia propriamente dita. Inicialmente o
discípulo cultiva a mente de que todos os objetos de refúgio diante dele são o verdadeiro refúgio,
faz prostrações e oferendas. Então, ele repete após seu mestre da seguinte forma: “Por favor,
ouçam-me, todos os budas e bodisatvas. Por favor, ouçam-me, mestres. Meu nome é _____. Deste
momento até que eu alcance a iluminação, eu tomo refúgio em todos os budas, os seres supremos
dentre os “bípedes”. Eu tomo refúgio no Darma da paz e nirvana, a suprema liberação de todos os
apegos. Eu tomo refúgio na Sanga, a assembleia suprema dos bodisatvas que alcançaram o estado
de não retorno.” Assim, repita três vezes.
Após isso, os objetos de refúgio da realização completa são convidados e o discípulo os
visualiza como efetivamente presentes, faz prostrações e oferendas. Com uma mente de entrega
completa ele repete a cerimônia de refúgio três vezes, como antes.
Após isso, ele se prostra e faz oferendas ao objeto de refúgio da talidade, livre das três
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esferas7. Todos os fenômenos são primordialmente livres de identidades, existindo sem qualquer
identificação própria. O Buda, o Darma e a Sanga também deveriam ser vistos desta forma. Este é o
refúgio inexaurível, eterno, imutável e absoluto. O Sutra Requisitado pelo Rei Naga Anavatapta afirma:
O que é tomar refúgio com uma mente livre das atividades mundanas? Aqueles que
realizam que todos os fenômenos são não existentes e não possuem forma, percepção
e características, veem o Buda perfeitamente. Isto é tomar refúgio no Buda. Aqueles
que realizam que todos os fenômenos são da natureza do darmadatu tomam refúgio
no Darma. Aqueles que realizam que todos os fenômenos compostos e não
compostos são não duais tomam refúgio na Sanga.
(3) Conclusão. O terceiro dia é a cerimônia de conclusão, quando são feitas oferendas às Três
Joias com gratidão.
Assim, o refúgio comum protege de todos os perigos, dos três reinos inferiores, da falta de
meios hábeis e da crença em uma identidade fixa. O refúgio especial protege dos veículos
inferiores, e assim por diante.
Tendo tomado refúgio no Darma, não deveríamos prejudicar os seres sencientes. Como se
diz em um sutra:
Tendo tomado refúgio na Sanga, não deveríamos confiar em hereges. Como se diz em um
sutra:
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c) Os três treinamentos comuns são respeitar a Joia do Buda sob qualquer forma, até mesmo
um pedaço de tsatsa; respeitar a fundação da Joia do Darma, os livros e textos do precioso Darma,
até mesmo uma sílaba; e respeitar a preciosa Joia da sanga, as vestes do Buda, até mesmo um
remendo de tecido amarelo.
C. Votos Pratimoksha. O terceiro tópico são os preceitos pratimoksha, que são divididos
em quatro grupos ou oito bases de trabalho. Entre estas oito, com exceção da upavasatha8, todas as
outras sete podem ser tomadas como bases de trabalho. Os sete tipos de pratimoksha são:
bhikshu,
bhikshuni,
shiksamana,
shramanera,
shramanerika,
upasaka e
upasika.
Por que é necessário o voto pratimoksha para cultivar a bodicita de ação? Deve-se entender
que eles são um fundamento através de três razões:
1. Analogia,
2. Autoridade escritural e
3. Lógica.
1. Analogia. Não é adequado convidar um grande monarca para residir em um lugar onde
há fezes, sujeira e imundícies. Este lugar deveria estar bem limpo e decorado com muitos
ornamentos. Assim, da mesma forma, não podemos convidar o rei da bodicita para residir onde o
corpo, a fala e a mente não estão afastados das não virtudes e estão maculados pela sujeira do
carma negativo. Pelo contrário, a bodicita deveria ser convidada para residir onde o corpo, a fala e a
mente estão livres da sujeira da decadência e estão completamente adornados pela ética moral da
renúncia.
Assim, o preceito upavasatha, que dura apenas vinte e quatro horas, não é “vasto”. Os
outros sete preceitos não são como este, e assim, são votos vastos. Portanto, estes sete preceitos são
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explicados como a fundação para o cultivo da mente. A Lâmpada para o Caminho da Iluminação diz:
Esta disciplina é necessária para cultivar a bodicita, mas é opcional para sua manutenção.
Por exemplo, mesmo sendo necessária a disciplina da concentração meditativa de forma a
estabelecer a fundação da realização dos votos não aflitos, ela é opcional como fundação para sua
manutenção.
Não é necessária uma cerimônia específica para receber os votos pratimoksha de bodisatva.
Isto é assim porque anteriormente você recebeu o voto de treinamento dos Ouvintes. Se mais tarde
cultivar a atitude especial, ela se transforma no voto do bodisatva. Mesmo que você se liberte da
mente inferior (a atitude do Ouvinte), não abandonará a mente de renúncia (o treinamento).
Assim, uma pessoa que pertence à família Mahayana, que tomou refúgio nas Três Joias e
que segue qualquer um dos sete votos pratimoksha é considerada uma fundação adequada para o
cultivo da mente da iluminação.
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CAPÍTULO 9
O Cultivo da Bodicita
A. Comparações,
B. Delimitação e
C. Características primárias.
Estas vinte e duas comparações vão desde a aspiração sincera até a realização do
darmakaya. Além disso, elas serão relacionadas aos cinco caminhos:
(1) O desejo sincero de alcançar a iluminação é como a terra porque ela é a base para todas
as qualidades virtuosas. (2) Uma intenção geral de alcançar a iluminação é como o ouro porque ela
nunca muda até que se alcance a iluminação. (3) Possuir um pensamento altruísta é como a lua
crescente que fortalece todas as virtudes. Estas três compreendem o nível comum, o caminho da
acumulação dos pequenos, medianos e grandes.
(4) Apresentar uma dedicação sincera é como o fogo porque ela queima todo o combustível
dos obscurecimentos às três formas de onisciência. Este compreende o caminho da aplicação.
(5) Possuir a perfeição da generosidade é como um tesouro que satisfaz todos os seres
sencientes. (6) Possuir ética moral é como uma mina de joias porque ela é a fonte de todas as
qualidades preciosas. (7) Possuir paciência é como o oceano, que não é perturbado mesmo quando
condições indesejáveis se abatem sobre ele. (8) Possuir perseverança é como um vajra, que é tão
sólido que não pode ser destruído por quaisquer meios. (9) Possuir concentração meditativa (Scr.
samadhi) é como o Monte Meru, a maior das montanhas; ele não se dispersa por pensamentos
projetados. (10) Possuir sabedoria discriminativa é como um remédio que cura todas as doenças das
emoções aflitivas e dos obscurecimentos sutis à iluminação. (11) Possuir meios hábeis é como um
mestre espiritual que nunca abandona o benefício dos seres sencientes em todos os tempos. (12)
Realizar preces de aspiração é como uma joia que realiza desejos que preenche todas as aspirações.
(13) Possuir força é como o sol, que amadurece completamente todos os aspirantes. (14) Possuir
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sabedoria primordial é como o som melodioso do Darma, oferecendo ensinamentos para inspirar os
aspirantes. Assim, estas dez, respectivamente, compreendem os dez bhumis, iniciando com Grande
Alegria, e são objetos dos caminhos do insight e da meditação.
(15) Possuir clarividência especial acompanhada de grande sabedoria é como um grande rei
que pode beneficiar os outros seres sencientes sem restrições. (16) Possuir méritos e a sabedoria
perfeita é como um depósito de tesouros, um armazém de muitas acumulações virtuosas. (17)
Possuir os ramos da iluminação é como uma estrada que os Seres Nobres trilharam e que será
seguida por outros. (18) Possuir compaixão e insight especial é como um meio de transporte, no
qual podemos prosseguir tranquilamente sem nos desviar para o samsara ou nirvana. (19) Possuir o
poder da lembrança total e da confiança é como a água de uma fonte; sem se exaurir ela guarda o
Darma que foi ouvido e que não foi ouvido. Estes cinco compreendem o caminho especial de um
bodisatva1.
(20) Possuir o “bosque do Darma” é como ouvir sons elegantes que declamam uma bela
canção aos aspirantes que desejam alcançar a liberação. (21) Possuir o “caminho de uma só direção”
é como a corrente de um rio, beneficiando os outros sem se desviar do caminho. (22) Possuir o
darmakaya é como uma nuvem, manifestando-se no céu de Tushita e assim por diante, no qual
todos os seres sencientes se apoiam2. Estes três compreendem o nível búdico.
Assim, estas vinte e duas comparações englobam tudo, desde o nível comum até o estado
búdico.
estágio surge a bodicita absoluta? No primeiro bhumi, denominado Grande Alegria, e adiante. Isto
é afirmado no comentário ao Ornamento dos Sutras Mahayana:
Existem duas classificações para a bodicita relativa: bodicita de aspiração e bodicita de ação.
Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas coloca:
Em resumo, a bodicita
Deveria ser compreendida de duas formas:
A mente que aspira ao despertar
E a mente que se coloca a buscá-lo.
Existem muitas visões sobre a diferença entre estes dois, aspiração e entrar em ação.
Na linhagem de Shantideva, que era um discípulo da linhagem de Nagarjuna, que se
originou com Arya Manjushri, a aspiração é como um desejo de ir, uma contemplação sobre o
desejo de alcançar a iluminação completa; a ação é como o ato de, efetivamente, ir, agir para realizar
o objetivo. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas diz:
Na linhagem de Dharmakirti, que vem do Acharya Asanga e que foi fundada pelo Arya
Maitreya, a aspiração é o compromisso de atingir a fruição: “Eu irei alcançar a iluminação perfeita
para o benefício de todos os seres sencientes”. Entrar em ação é um compromisso com a causa: “Irei
treinar-me nas seis paramitas, que são a causa da iluminação”. O mesmo significado se encontra na
Coleção do Abhidarma:
O objetivo dos “seres sencientes” não significa um ser senciente ou dois ou alguns, mas sim
todos os seres sencientes que se espalham por onde quer que haja espaço. Onde quer que os seres
sencientes estejam permeados pelo carma e pelas emoções aflitivas eles estarão tomados pelo
sofrimento. Portanto, cultivarei a mente para dissipar todos esses sofrimentos. O Sutra da Prece de
Aspiração pela Conduta Adequada afirma:
V. Causa. As causas para o cultivo da bodicita são explicadas no Sutra dos Dez Darmas:
O cultivo da bodicita que é “conduzido por outros” se refere à mente que é cultivada a
partir da revelação de outros, e que é obtida através de uma cerimônia adequada. Isto se chama
bodicita relativa. “Pelo poder dos amigos” significa cultivar a mente através dos conselhos de um
amigo espiritual. “Pelo poder da causa” significa que ela se desenvolve a partir do poder da família
Mahayana. “Pelo poder da raiz de virtude” significa desenvolvê-la fortalecendo sua família. “Pelo
poder do ouvir” significa que quando se ouvem diversos ensinamentos também se desenvolve
bodicita. “Pelo poder das tendências virtuosas” significa que nesta vida podemos desenvolver
bodicita ouvindo, sustentando, praticando persistentemente, e assim por diante. A bodicita é
instável quando se desenvolve pelo poder dos amigos; todos os outros casos – surgindo da causa e
assim por diante – são estáveis5.
A causa do nascimento da bodicita absoluta. Como se diz:
VI. De Quem a Recebemos. De qual objeto obtemos bodicita? Existem dois sistemas, um
com um mestre espiritual, e outro sem.
Se não houver perigo para a própria vida ou preceitos deveríamos encontrar um mestre
espiritual, mesmo que ele esteja distante, para receber os votos do bodisatva. As qualificações do
mestre são: habilidade em conduzir a cerimônia dos votos, ele mesmo deve ter recebido os votos e
os mantido sem declinar, ter a habilidade de realizar gestos físicos e de falar, treinar discípulos com
compaixão e não estar interessado em riquezas.
A Lâmpada para o Caminho da Iluminação diz:
Mas, mesmo se este tipo de mestre espiritual estivesse próximo a nós, se ir até ele
representasse perigo para nossa vida ou para nossa ética moral, então, esta situação é denominada
“o Lama não existe”. Portanto, pode-se receber o voto da bodicita de aspiração ou ação recitando a
liturgia para cada um três vezes do fundo do coração, diante de uma imagem d´Aquele-Que-
Assim-se-Foi. Os Bhumis dos Bodisatvas afirmam:
Se não puder encontrar nem um mestre espiritual nem uma imagem, então devem-se
visualizar claramente os budas e bodisatvas no espaço e recitar a cerimônia da bodicita de
aspiração ou ação três vezes, e recebê-las desta forma. Assim, a Coleção de Instruções Transcendentais
coloca:
VII. Método (Cerimônia). Existem diversos sistemas de instrução das linhagens dos
grandes eruditos. Apesar de haver muitos, aqui serão apresentados dois sistemas. Estes são:
B) a de Dharmakirti da escola do Acharya Asanga, que foi fundada pelo Arya Maitreya.
A. Shantideva. Na tradição de Shantideva, que vem de Nagarjuna e que foi fundada pelo
Arya Manjushri, existem três tópicos:
1. A preparação,
2. A cerimônia,
3. A conclusão.
O primeiro tópico tem seis subdivisões: fazer oferendas, purificar as não virtudes, regozijar-
se com as virtudes, requisitar que a Roda do Darma seja girada, suplicar para que não passem para
o parinirvana, e dedicar a raiz de virtude.
1. Preparação.
a) Fazer Oferendas. Em primeiro lugar, fazer oferendas envolve dois elementos: o objeto ao
qual estamos fazendo as oferendas e as próprias oferendas.
(1) Objeto. Existem duas formas de fazer oferendas: com a clara presença das Três Joias, ou
não. Estejam elas presentes ou não, a oferenda trará mérito igual. Portanto, devemos fazer
oferendas quer as Três Joias estejam presentes ou não. O Ornamento dos Sutras Mahayana afirma:
Assim, quando a mente é dominada pelas emoções aflitivas do desejo, aversão, e assim por
diante, e os cinco crimes hediondos6, ou as cinco ações próximas7, ou as dez ações não virtuosas
forem cometidos, votos e samaya forem quebrados, e assim por diante; quer eles tenham sido
cometidos pela própria pessoa, ou pedindo a outros para fazê-lo, ou por regozijar-se com as ações
dos outros, isto é chamado de “não virtude”. Não apenas isto, mesmo que você ouça o Darma
precioso, contemple e medite sobre ele, ainda assim é não virtude se a mente estiver tomada pelas
emoções aflitivas do desejo e da aversão. O resultado destes é o sofrimento. A Guirlanda de Joias
Preciosas afirma:
Portanto, deve-se declarar e purificar todas as não virtudes. É certo que elas podem ser
purificadas pela confissão? Sim, é exatamente assim. O Grande Sutra do Parinirvana diz:
E:
Como devemos purificá-las? Através das portas dos quatro tipos de poderes. O Sutra
Apresentando os Quatro Darmas afirma:
As ações negativas e sua acumulação serão vencidas por eles. Quais são os quatro?
Eles são:
(1) o poder do remorso,
(2) o poder do antídoto,
(3) o poder da resolução e
(4) o poder da confiança.
(a) Primeiro, a falta de sentido. Algumas vezes eu cometi ações negativas para subjugar
inimigos, às vezes para sustentar parentes, às vezes para proteger este corpo e às vezes para
acumular riquezas. Quando eu morrer e partir para a próxima vida estes inimigos, parentes,
lugares, corpo e riquezas não me seguirão. Mas o carma negativo e os obscurecimentos das ações
negativas me seguirão onde quer que eu nasça, não me deixando escapar. O Sutra Requisitado pelo
Chefe-de-família Palgyin afirma:
E também:
Assim, eu gerei ações negativas pelos inimigos, parentes, corpo e riquezas, mas estes não me
seguirão por muito tempo. Contemplando que estas ações negativas geram muitos problemas e são
de pequeno benefício, desenvolva grande remorso.
(b) Segundo, o medo do resultado. Se você acha que mesmo que as ações negativas sejam de
pouco benefício elas não o prejudicarão, então medite neste segundo significado. Você deveria
investigar os temíveis resultados das ações negativas e gerar arrependimento. Além do mais,
deveríamos temer as ações negativas
i) perto do momento da morte,
ii) ao morrer e
iii) após a morte.
Talvez você pense que não terá medo do Senhor da Morte, neste caso, Engajando-se na
Conduta dos Bodisatvas diz:
iii) Terceiro, os terríveis frutos das ações negativas após a morte. Como resultado das ações
negativas você cairá nos grandes infernos e experimentará o sofrimento infindável de ser
queimado, cozido, e assim por diante. Portanto, deve-se desenvolver um grande temor. Nagarjuna
afirmou na Carta a um Amigo:
(c) Terceiro, a necessidade de purificar as não virtudes rapidamente. Você pode pensar que é
o suficiente purificar as não virtudes na última fase de sua vida, mas isto não é o suficiente. Você
deve purificá-las rapidamente. Isto porque há o perigo de você morrer antes de as negatividades
serem purificadas. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas afirma:
Se eu achar que não morrerei antes de purificar minhas ações negativas, então eu deveria
entender que o Senhor da Morte não está preocupado se purifiquei minhas ações negativas ou não.
Ele aproveitará qualquer oportunidade para levar minha vida. Engajando-se na Conduta dos
Bodisatvas diz:
Portanto, visto que não posso confiar na força de minha vida, eu deveria confessar
rapidamente porque há o perigo de eu morrer antes de purificar minhas ações negativas. Assim,
visto que este é o caso, eu deveria sentir remorso. Desta forma, por estas três razões, eu gero
remorso pelas ações negativas e as declaro e purifico diante de objetos especiais e de outros.
Assim, purificar as ações negativas pelo poder do remorso total é como aproximar-se de um
poderoso credor quando você não pagou seus débitos. Em tempos antigos, Angulimala8, o
malfeitor que matou 999 pessoas, alcançou o estado de Arhat ao purificar suas ações negativas pelo
poder do remorso total. A Carta a um Amigo de Nagarjuna diz:
(2) O Poder do Antídoto. O antídoto completo para as ações negativas é a prática da virtude.
Ela causa a exaustão das aflições. A Coleção do Abhidarma afirma:
Pode-se pensar que é necessário realizar tantos atos de virtude quanto foram os não
virtuosos. Isto não é necessário. O Grande Sutra do Parinirvana afirma:
E:
Por exemplo, assim como um pequeno vajra parte uma montanha, um pequeno
Fogo queima toda a grama, e uma pequena quantidade de veneno mata os seres
Sencientes, da mesma forma uma pequena virtude purifica muitos feitos negativos.
Portanto, é importante esforçar-se no caminho da virtude.
Para ilustrar a purificação completa das ações negativas pelo antídoto, considerem o
exemplo de uma pessoa que cai em um pântano nojento e, após sair dele, toma um banho e se
perfuma com fragrâncias. Em tempos antigos Udayana9, o malfeitor que matou sua mãe, praticou o
poder do antídoto completo, purificou sua ação negativa, renasceu em um reino dos deuses e
alcançou o fruto de entrar-na-corrente. Assim se diz:
(3) Poder da Resolução. Por medo das causas que amadurecerão no futuro paramos de
cometer ações negativas. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas afirma:
Todos os atos negativos são purificados pelo poder da resolução, como se o curso de um rio
perigoso fosse invertido. Em tempos antigos Nanda10, o malfeitor que era muito apegado a uma
mulher, atingiu o fruto do estado de Arhat purificando suas negatividades pelo poder da resolução.
Assim se diz:
(4) Poder da Confiança. O poder da confiança é tomar refúgio nas Três Joias e cultivar a
mente da iluminação suprema. Purificar as ações negativas tomando refúgio nas Três Joias é
mencionado na Expressão da Realização de Sukan:
Assim, o poder da confiança purifica todas as ações negativas como a proteção de uma
pessoa poderosa11, ou como o veneno que é expelido pelos mantras12. Em tempos antigos
Ajatashatru13, o malfeitor que matou seu pai, purificou suas ações negativas e se tornou um
Se as ações negativas podem ser purificadas mesmo por um dos poderes individualmente,
então por que elas não seriam purificadas pelos quatro poderes juntos? Sinais da purificação das
ações negativas surgirão nos sonhos. O Dharani da Invocação diz:
Todas estas acumulações – meditem regozijando-se com todas elas. Da mesma forma,
regozijem-se com todas as virtudes do presente e do futuro. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas
coloca:
d) Requisitando que a Roda do Darma seja girada. Existem muitos budas em todas as dez
direções14 que não estão dando ensinamentos para gerar respeito pela Joia do Darma e para
proporcionar a acumulação de mérito nas pessoas que suplicam por eles. Focando estes budas
deveríamos suplicar e pedir por ensinamentos. Assim se diz:
e) Suplicando para que não atinjam o parinirvana. Existem muitos budas nas dez direções
que estão se preparando para atingir o parinirvana de forma a fazer com que a mente dos seres
renuncie à visão de permanência, e para desenvolver perseverança naqueles que são preguiçosos.
Focando esses budas suplicamos para que eles não atinjam o parinirvana. Engajando-se na Conduta
dos Bodisatvas afirma:
f) Dedicação da raiz de virtude. Dediquem todas as raízes de virtude que foram criadas no
passado para dissipar o sofrimento dos seres sencientes e levá-los a se estabelecerem na felicidade.
Como se diz:
Do início ao fim
Do samsara sem princípio nem fim,
De forma a realizar atividades ilimitadas pelo benefício
Dos seres sencientes,
Diante do Senhor do Mundo,
Eu cultivo a bodicita. E assim por diante.
3. Conclusão. Faça oferendas em apreciação às Três Joias e medite sobre a vasta alegria e
felicidade da grande realização que foi alcançada. Como se diz:
a) preparação,
b) cerimônia e
c) conclusão.
(1) Súplica. O discípulo que deseja cultivar a bodicita se dirige a um mestre espiritual
qualificado e faz prostrações. O mestre espiritual dá instruções e, através destas instruções, leva o
discípulo a renunciar ao samsara, a desenvolver grande compaixão por todos os seres sencientes, a
gerar o desejo de alcançar a iluminação, a desenvolver confiança nas Três Joias e a desenvolver
devoção pelo mestre. Depois disto, o discípulo repete da seguinte forma após o mestre: “Por favor,
ouça-me, mestre. Assim como todos Aqueles-Que-Assim-se-Foram, Destruidores do Inimigo,
Completamente Perfeitos Budas e bodisatvas que residem em níveis superiores cultivaram a mente
da iluminação perfeita e insuperável, da mesma forma, eu _____, peço ao mestre que me permita
cultivar a atitude iluminada da iluminação insuperável e perfeita”. Repita isto três vezes.
(2) Reunir as acumulações. Inicialmente, prostre-se ao mestre e às Três Joias, então faça
oferendas do que quer que você possa reunir, ou visualize mentalmente todas as oferendas que
existem. Os votos de shramanera são recebidos do updadya (Tib. Khenpo) e do acharya, os votos de
bhikshu são obtidos da sanga, mas os dois tipos de bodicita são obtidos através da acumulação de
méritos. Portanto, se você tiver riquezas, não adianta oferecer apenas um pouco, deve-se fazer uma
grande oferenda. No passado, bodisatvas ricos fizeram grandes oferendas. Eles ofereceram dez
milhões de templos, e então cultivaram a bodicita. O Sutra da Era Afortunada conta:
Se você possuir poucas riquezas é o suficiente fazer uma pequena oferenda. Em tempos
antigos, bodisatvas que tinham poucas posses fizeram pequenas oferendas. Ao oferecer uma
lâmpada feita de uma lâmina de grama, eles cultivaram a bodicita. Como se conta:
Novamente, se não tiver nenhuma posse, não é necessário sentir-se triste devido à falta de
meios. Será suficiente fazer três prostrações. Em tempos antigos, bodisatvas fizeram três
prostrações e desenvolveram a bodicita. Como se conta:
b) Cerimônia. O mestre dá instruções ao discípulo da seguinte forma: “Onde quer que haja
espaço existem seres sencientes. Onde quer que haja seres sencientes eles estarão permeados pelas
emoções aflitivas. Onde há emoções aflitivas há o carma negativo. Onde há ações negativas, o
sofrimento permeia. Estes seres sencientes que estão sofrendo foram todos nossos pais, e esses pais
foram muito gentis conosco. Assim, os seus bondosos pais estão afundando no oceano do samsara,
torturados por inúmeros sofrimentos; não há ninguém para protegê-los. Há tanto sofrimento que
eles estão exaustos e tomados pelas delusões. Assim, meditem sobre como seria maravilhoso se eles
encontrassem a paz, a face da felicidade. Que maravilhoso se eles estivessem livres desse
sofrimento! Contemplem esta meditação de bondade amorosa e compaixão por um instante.
“Além disso, contemplem ‘Neste momento eu não tenho a capacidade de beneficiar todos
esses seres. Portanto, de forma a beneficiar todos os seres eu deveria alcançar o estado daquele que
é chamado de Buda completo, aquele que exauriu completamente todas as falhas e aperfeiçoou
todas as qualidades e possui todas as habilidades para beneficiar os seres sencientes.’ Traga isto à
sua mente.”
Depois disto, repita após o mestre espiritual: “Por favor, ouçam-me, todos os budas e
bodisatvas das dez direções. Por favor, ouçam-me, mestres. Meu nome é _____. Pelas raízes de
virtude que acumulei em todas as minhas vidas através das práticas de generosidade, ética moral e
prática de meditação, mesmo que eu as tenha realizado, pedido a outros para o fazerem, ou me
regozijado com as ações dos outros, por todas estas virtudes, assim como os budas, todos Aqueles-
(c) Conclusão. Tendo alcançado benefício tão grande, deveria surgir grande alegria e
deveríamos meditar sobre a grande felicidade. E também deveríamos receber explicações sobre
todos os treinamentos. Assim, aquele que cultiva esta mente é um bodisatva, que significa ter o
desejo de alcançar a iluminação de forma a beneficiar todos os seres sencientes, ter o desejo de
liberar todos os seres sencientes após atingir a iluminação, focar a mente na iluminação e nos seres
sencientes e, para este propósito, possuir uma grande mente de guerreiro e coragem indômita.
Isto completa a cerimônia para o cultivo da bodicita de aspiração.
(a) Preparação. A preparação tem dez subdivisões: súplica, perguntar sobre os obstáculos
comuns, explicar os diferentes tipos de falhas, explicar os problemas das falhas, explicar os efeitos
benéficos de receber os votos, reunir as acumulações, perguntar sobre os obstáculos incomuns,
encorajamento, desenvolver o pensamento especial altruísta e explicar brevemente o treinamento.
(b) Cerimônia. O discípulo deveria cultivar o desejo de aceitar o voto. O mestre chama o
nobre discípulo pelo nome e pergunta: “A base do treinamento de todos os bodisatvas do passado e
sua ética moral, a base do treinamento de todos os bodisatvas do futuro e sua ética moral, a base do
treinamento de todos os bodisatvas residindo nas dez direções no presente e sua ética moral, os
bodisatvas do passado que foram treinados com base nestes treinamentos e ética moral, os
bodisatvas do futuro que serão treinados, os bodisatvas das dez direções que estão sendo treinados
no presente com base nestes treinamentos e ética moral - todos os tipos de ética moral são a ética
moral da restrição, a ética moral de acumular virtudes e a ética moral de beneficiar os seres
sencientes – você quer aceitá-los de mim, o bodisatva com o nome ____ ?” Isto é perguntado três
vezes. O discípulo deveria responder: “Sim, eu quero”, três vezes.
(c) Conclusão. A conclusão tem seis subdivisões: fazer o anúncio, explicar os efeitos
benéficos de entrar no estado da sabedoria onisciente, advertir para que o voto não seja proclamado
aleatoriamente, fazer com que o discípulo compreenda descrevendo brevemente o treinamento,
fazer oferendas como apreciação e dedicar a raiz de virtude.
Isto conclui o recebimento do voto da bodicita de ação. Esta é a tradição de Dharmakirti.
VIII. Efeitos Benéficos. O cultivo da bodicita tem dois tipos de efeitos benéficos:
A) Mensuráveis e
B) Incomensuráveis.
a) Se alguém não cultivou a suprema bodicita esta pessoa não é contada como parte da
família Mahayana, mesmo que possua um comportamento excelente. Se a pessoa não ingressou no
Mahayana não conseguirá atingir a iluminação. Mas aquele que cultivou a bodicita suprema
ingressou no Mahayana. Os Bhumis dos Bodisatvas afirmam:
d) O continuum mental dos seres sencientes é como o solo, quando encharcado pela
umidade da bondade amorosa e da compaixão, se a semente da mente iluminada estiver plantada,
os trinta e sete ramos da iluminação crescerão, o fruto da iluminação amadurecerá e toda a paz e
felicidade para os seres sencientes surgirá. Portanto, quando a bodicita é cultivada, a iluminação se
enraizará. Os Bhumis dos Bodisatvas dizem:
Os méritos da bodicita –
Se eles tivessem uma forma visível
Que preenchesse todo o espaço,
Eles seriam ainda maiores.
f) Como todos os budas ficarão satisfeitos é contado no Sutra Requisitado pelo Chefe-de-família
Palgyin:
g) Tornar-se útil para todos os seres é mencionado no Sutra Plantando o Nobre Caule:
a) O cultivo da bodicita de ação é diferente da anterior visto que a força contínua do mérito
surge constantemente, quer se esteja dormindo, inconsciente, sem percepções, etc. Engajando-se na
Conduta dos Bodisatvas afirma:
Segundo, com esta falha não será possível beneficiar os outros. Assim se diz:
Terceiro, levará um longo tempo para atingirmos os bhumis dos bodisatvas. Como se diz:
X. As Causas da Perda. Existem duas formas de perder a mente que cultivou a bodicita: a
causa de perder a aspiração e a causa de perder a ação.
A primeira consiste em abandonar os seres sencientes, seguir as quatro ações não
virtuosas17, e gerar a mente contrária, que é desarmônica com a virtude. A causa da perda do voto
de ação é explicada nos Bhumis dos Bodisatvas:
Existem quatro tipos de ofensas que fazem com que a bodicita seja perdida,
Se forem cometidas a partir das pesadas aflições emocionais.
Ofensas negativas pequenas e medíocres são simplesmente terríveis.
Shantideva disse:
XI. Método para Retomá-la. Ao perder a bodicita de aspiração, ela pode ser restaurada
gerando a mente novamente. Se houve a quebra do voto da bodicita de ação devido à perda da
mente de aspiração, ele é restaurado automaticamente quando se restaura a bodicita de aspiração.
Se o voto foi quebrado por outras causas, ele deve ser refeito. Se foi através das quatro ofensas, a
confissão é o suficiente se foram cometidas ações medíocres ou pequenas. Os Vinte Preceitos
afirmam:
CAPÍTULO 10
O primeiro é o método para não perder a bodicita. O segundo é o método que não permite o
enfraquecimento da bodicita. O terceiro é o método para aumentar a força da bodicita. O quarto é o
método para aprofundar a bodicita. O quinto é o método para não esquecer a bodicita.
1. Não abandonar os seres sencientes em seu coração. Por primeiro, o treinamento em não
abandonar os seres sencientes em seu coração é o método para não perder a bodicita. O Sutra
Requisitado pelo Rei Naga Anavatapta afirma:
Suponham que alguém aja desfavoravelmente com vocês e vocês adotem uma atitude de
distanciamento dessa pessoa, e não tenham interesse por ela. Mesmo tendo uma chance de ajudar
essa pessoa no futuro vocês se recusariam a fazê-lo. Mesmo se chegasse o momento de proteger
essa pessoa de perigos vocês não o fariam. Isso se chama “abandonar os seres sencientes”.
Além disso, o que significa “abandonar os seres sencientes”? Isso se refere a todos os seres
sencientes ou apenas a um? Até mesmo os Ouvintes e os Realizadores Solitários não abandonariam
todos os seres sencientes, e tampouco os falcões e os lobos. Portanto, se abandonarem um só ser
senciente e não aplicarem o antídoto no espaço de tempo de uma sessão1, então a bodicita é
perdida. É completamente sem sentido abandonar seres sencientes em seu coração enquanto se é
chamado de bodisatva, mantendo outro treinamento. Por exemplo, isso é como matar seu único
filho e, então, acumular riquezas às custas dele.
É claro que não abandonaremos essa atitude com os seres que nos beneficiam, mas há o
perigo de abandoná-la com aqueles que nos prejudicam. Com esses, especialmente, deveríamos
cultivar compaixão e nos esforçar para levar a eles benefícios e felicidade. Essa é a tradição dos
Seres Nobres. Assim se diz:
Assim foi dito. Nesse sutra os efeitos benéficos da bodicita são ilustrados através de 230
comparações. Todos esses efeitos benéficos são abreviados em quatro categorias. Assim: ”Ó filho de
nobre família! A bodicita é como a semente de todas as qualidades dos budas”, e “Ela dissipa toda a
pobreza como Vaisravana”, e assim por diante, referem-se aos efeitos benéficos para si mesmo.
“Ela protege completamente todos os migrantes como um abrigo”, e “Ela suporta todos os
seres sencientes como o solo”, e assim por diante, referem-se aos efeitos benéficos para os outros.
“Como ela é vitoriosa sobre todos os inimigos das emoções aflitivas, ela é como uma lança”,
e “Ela corta completamente a árvore do sofrimento como um machado”, e assim por diante,
referem-se ao seu efeito benéfico de afastar todas as condições desfavoráveis.
“Ela realiza todas as aspirações como um nobre vaso”, e “Ela realiza todos os desejos como
uma joia preciosa que concede desejos”, e assim por diante, referem-se ao seu efeito benéfico de
estabelecer todas as condições favoráveis.
Desta forma, ao recordarmos essas virtudes, cuidaremos amorosamente dessa preciosa
bodicita. Assim, quando praticarmos, sustentaremos essa mente sem deixá-la enfraquecer. Portanto,
devemos relembrar persistentemente todos esses efeitos benéficos; deveríamos recordá-los pelo
menos uma vez a cada sessão.
A “acumulação de mérito” refere-se às dez ações virtuosas, aos quatro métodos de reunião,
e assim por diante, conforme relacionados aos meios hábeis. A “acumulação de sabedoria
primordial” se refere à realização destas práticas de forma completamente livre das três esferas e
assim por diante, conforme se relacionam com a sabedoria perfeita. Desta forma, a reunião das
duas acumulações estabelece o poder da bodicita na própria mente. Portanto, reúnam
persistentemente as duas acumulações; mesmo recitar um único mantra pode reunir as duas
acumulações e, assim, isso deve ser feito pelo menos uma vez a cada sessão. O Discurso a uma
Assembleia afirma:
Neste item são apresentados três tópicos: praticar a mente da causa da iluminação, praticar a
mente da iluminação propriamente dita e praticar a mente da ação iluminada. Praticar esses três
itens aprofunda a bodicita.
Em relação ao primeiro, desenvolvam bondade amorosa e compaixão por todos os seres
pelo menos uma vez a cada sessão.
A prática da iluminação propriamente dita é o desejo de obter a iluminação pelo benefício
de todos os seres sencientes. Contemplem isso três vezes durante o dia e três vezes durante a noite.
Usem a cerimônia detalhada para o cultivo da bodicita ou, pelo menos, repitam o seguinte a cada
sessão:
5. Rejeição das quatro ações não virtuosas e aceitação das quatro ações virtuosas. Quinto, o
treinamento na rejeição das quatro ações não virtuosas e na aceitação das quatro ações virtuosas é o
método para não esquecer a bodicita. A Lâmpada para o Caminho da Iluminação afirma:
As quatro ações não virtuosas são assim descritas: Kashyapa, um bodisatva que
possui quatro qualidades esquecerá a bodicita. Quais são essas quatro? Essas são ....
e assim por diante. De forma abreviada elas são: enganar o lama e aqueles dignos de
veneração; causar remorso nos outros quando o remorso não é apropriado; por
aversão dizer palavras inapropriadas sobre um bodisatva que cultivou a bodicita; e
comportar-se enganosamente com os seres sencientes.
Explicação da primeira ação não virtuosa. Quando alguém engana o mestre espiritual, o abade,
um mestre, ou alguém digno de oferendas contando uma mentira com uma mente insincera, a
bodicita estará perdida se o antídoto não for aplicado dentro de uma sessão, quer eles estejam
conscientes da mentira ou não, quer eles estejam satisfeitos ou não, quer ela seja grande ou não, ou
quer eles sejam enganados ou não. A primeira ação virtuosa é o antídoto. Desista conscientemente
de contar mentiras, mesmo sob o risco da própria vida.
Explicação da segunda ação não virtuosa. Quando alguém realiza ações virtuosas e você tenta
fazê-lo sentir remorso por isso, a bodicita estará perdida se o antídoto não for aplicado dentro de
uma sessão, quer esta pessoa realmente sinta remorso ou não. A segunda ação virtuosa é o
antídoto. Estabeleça todos os seres na virtude, em especial nas virtudes do Mahayana. (Nota:
Chengawa e Chayulwa especificam ações virtuosas Mahayana. Gyayondak coloca ações tanto
Mahayana quanto Hinayana. Tomem, por exemplo, a prática da generosidade. A ação de oferecer é
virtuosa, mas se você sentir fome amanhã e tiver que mendigar, isso poderá gerar remorso)2.
Explicação da terceira ação não virtuosa. Quando, por raiva, você utilizar palavras impróprias
com alguém que cultivou a bodicita, ela estará perdida se o antídoto não for aplicado em uma
sessão, quer você tenha expressado falhas comuns ou falhas no Darma, seja de forma direta ou
indireta, de forma específica ou não, gentilmente ou asperamente, quer outros tenham ouvido ou
não, quer eles estejam satisfeitos ou não. A terceira ação virtuosa é o antídoto. Enxerguem os
bodisatvas que cultivaram a bodicita como budas e esforcem-se para proclamar suas virtudes em
todas as dez direções.
Explicação da quarta ação não virtuosa. Quando, de forma enganadora, você cometer fraude
com algum ser senciente, a bodicita estará perdida se o antídoto não for aplicado em uma sessão,
quer a pessoa esteja consciente ou não, ou quer isso tenha gerado prejuízos ou não. A quarta ação
virtuosa é o antídoto. Mantenha a atitude altruísta para com todos os seres sencientes e procure
beneficiar os outros sem considerar seu próprio benefício.
CAPÍTULO 11
Portanto, o sumário:
As seis serão explicadas em uma forma concisa e, então, cada ramo será explicado em
maiores detalhes.
A explicação do significado conciso. O sumário:
1. Número definido. As seis paramitas são explicadas de acordo com um estado superior
temporário e o bem definitivo, sendo três para o estado superior temporário e três para o bem
definitivo. As três para o estado superior temporário são a generosidade, que gera prosperidade; a
ética moral, que é para o corpo; e a paciência, que é para as pessoas ao redor. As três para o bem
definitivo são a perseverança, que é para aumentar a virtude; a concentração meditativa, que é para
a permanência serena; e a sabedoria discriminativa, que é para o insight especial. Assim, o
Ornamento dos Sutras Mahayana diz:
2. Ordem definida. Elas são explicadas na ordem em que são desenvolvidas na mente. A
partir da prática da generosidade será aceita a ética moral pura sem focar preocupações materiais.
Quando se possui ética moral surgirá a paciência. Quando se tem paciência será feito esforço com
perseverança. Quando se faz esforço com perseverança a concentração meditativa surgirá. Quando
se está absorto em concentração meditativa a natureza de todos os fenômenos será realizada
perfeitamente.
Ou a ordem é explicada da prática inferior até a superior. As inferiores são explicadas
primeiro e as superiores são explicados posteriormente. Ou, de outra forma, a ordem vai do nível
mais grosseiro para o mais sutil. Aquelas que são mais grosseiras ou fáceis de aplicar são explicadas
antes e aquelas que são mais sutis e mais difíceis de seguir são explicadas depois. O Ornamento dos
Sutras Mahayana diz:
3. Características. A perfeição de cada uma das seis paramitas dos bodisatvas, generosidade
e assim por diante, é categorizada em quatro características: elas enfraquecem os seus opostos; elas
produzem a sabedoria primordial do pensamento não conceitual; elas satisfazem tudo o que é
desejado; elas amadurecem os seres sencientes das três formas1. O Ornamento dos Sutras Mahayana
afirma:
6. Agrupamento. Elas também são agrupadas nas duas acumulações. Generosidade e ética
moral são a acumulação de méritos e a sabedoria discriminativa é a acumulação da perfeita
sabedoria. Paciência, perseverança e concentração meditativa estão incluídas em ambas as
acumulações. Assim, o Ornamento dos Sutras Mahayana afirma:
CAPÍTULO 12
A Perfeição da Generosidade
Sem a prática da generosidade não temos como beneficiar os outros e, assim, não
poderemos atingir a iluminação. Assim se diz:
Por outro lado, aqueles que praticam a generosidade encontrarão a felicidade de ter riquezas
em todas as suas diferentes vidas. O Sutra Condensado da Perfeição da Sabedoria afirma:
Mais uma vez, é mais fácil para aqueles que praticaram generosidade atingir a iluminação
insuperável. O Cesto dos Bodisatvas afirma:
Uma coisa que é dada é sua; as coisas guardadas em casa não são. Uma
coisa que é dada tem essência; as coisas guardadas em casa não têm
essência. Uma coisa que foi dada não precisa ser protegida; as coisas
guardadas em casa precisam ser protegidas. Uma coisa que é dada está
livre de medos; as coisas guardadas em casa trazem medo. Uma coisa que
é dada está mais próxima da iluminação; as coisas guardadas em casa
levam na direção dos maras. A prática da generosidade levará a grande
riqueza; as coisas guardadas em casa não geram grande riqueza. Uma
coisa dada trará riquezas inexauríveis; as coisas guardadas em casa são
exauríveis. E assim por diante.
A) Oferecer posses,
B) Oferecer proteção e
C) Oferecer o Darma.
A prática de oferecer posses estabilizará o corpo dos seres, oferecer proteção estabilizará
suas vidas e oferecer o Darma estabilizará suas mentes. Além disso, as duas primeiras práticas de
generosidade estabelecem a felicidade dos seres nesta vida. Oferecer o Darma estabelece sua
felicidade também nas próximas vidas.
a) Motivação impura,
b) Materiais impuros,
c) Receptores impuros e
d) Método impuro.
A motivação inferior é a generosidade motivada por medo da pobreza nas próximas vidas,
ou pelo desejo de possuir o corpo e a riqueza dos deuses ou humanos. Ambos devem ser evitados
pelos bodisatvas. Assim se diz:
E:
Vocês não deveriam oferecer armadilhas ou meios para caçar animais selvagens àqueles que
pedem – em resumo, qualquer coisa que possa prejudicar ou gerar sofrimento. Vocês não deveriam
oferecer seus pais ou empregá-los como trabalhadores. Seus filhos, esposa e outros não deveriam
ser dados sem o consentimento deles. Vocês não deveriam oferecer pequenas quantidades se
possuírem grandes riquezas. Vocês não deveriam acumular riquezas para oferecer.
c) Receptor impuro. Para evitar receptores impuros não ofereçam seus corpos ou pedaços
deles para os demônios marakuladevata, porque eles os pedem com motivações negativas. Vocês
não deveriam oferecer seus corpos aos seres que estão sob a influência dos maras, insanos, ou que
têm mentes perturbadas, porque eles não precisam deles e não têm liberdade de pensamento. Os
bodisatvas também não deveriam oferecer comida ou bebida àqueles que são glutões.
d) Método impuro. Para evitar os métodos impuros vocês não deveriam oferecer de forma
infeliz, com raiva ou com uma mente perturbada. Vocês não deveriam oferecer com desdém ou
desrespeito por uma pessoa inferior. Vocês não deveriam oferecer ao ameaçar ou repreender
mendigos.
a) Materiais puros,
b) Receptores puros e
c) Método puro.
a) Materiais puros. Este primeiro tópico tem duas subdivisões: posses internas e posses
externas.
Posses internas. Estes materiais são aqueles relacionados ao seu corpo. O Sutra Requisitado por
Narayana afirma:
Você deveria dar sua mão àqueles que desejam mãos, deveria dar sua perna àqueles
que desejam pernas, deveria dar seu olho àqueles que desejam olhos, deveria dar sua
carne àqueles que desejam carne, deveria dar seu sangue àqueles que desejam
sangue, e assim por diante.
Os bodisatvas que ainda não realizaram a igualdade de si mesmos e dos outros deveriam
oferecer apenas seus corpos inteiros, não pedaços. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas afirma:
Posses externas. Posses externas são comida, bebida, roupas, meios de transporte, filhos,
esposa e assim por diante, de acordo com a prática do Darma. O Sutra Requisitado por Narayana
afirma:
Essas são as posses externas: riquezas, grãos, prata, ouro, joias, ornamentos,
Cavalos, elefantes, filho, filha e assim por diante.
Aos bodisatvas chefes de família é permitido oferecer todas as posses internas e externas. O
Ornamento dos Sutras Mahayana diz:
Um bodisatva monge ou uma monja podem oferecer tudo, exceto os três mantos do Darma,
que não devem ser dados. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas afirma:
c) Método puro. Os métodos da generosidade são oferecer com motivação excelente e com
ação excelente. O primeiro é a prática de oferecer para a iluminação e para o benefício dos seres
sencientes, motivado por compaixão. Em relação à generosidade com ação excelente os Bhumis dos
Bodisatvas colocam:
“Com devoção” significa que um bodisatva deveria estar feliz nos três tempos. Ele está feliz
antes de oferecer, tem uma mente clara enquanto oferece e não se arrepende após oferecer algo.
“Com respeito” significa oferecer de forma respeitosa. “Por sua própria mão” significa que eles não
pedem a outros para fazer em seu lugar. “Em tempo” significa que quando eles têm posses, esse é o
momento para oferecer. “Sem prejudicar os outros” significa não gerar sofrimento às pessoas ao
redor. Mesmo que as posses sejam suas, se as pessoas ao redor chegarem com lágrimas nos olhos
quando você for oferecer alguma coisa, então não o faça. Não ofereça riquezas que foram roubadas
ou trapaceadas – aquilo que pertence a outros.
A Coleção do Abhidarma diz:
B. Oferecer Proteção. Oferecer proteção significa gerar destemor diante do medo de ladrões,
animais selvagens, rios e assim por diante. Os Bhumis dos Bodisatvas afirmam:
1) O receptor,
2) A motivação,
3) O Darma propriamente dito e
4) O método de apresentação dos ensinamentos do Darma.
1. Receptor. Ofereça o Darma para aqueles que desejam o Darma, aqueles que têm respeito
pelo Darma e para professores do Darma.
3. Darma propriamente dito. Apresente o Darma, os sutras e assim por diante sem erros ou
perversões. Os Bhumis dos Bodisatvas afirmam:
Ao oferecer o Darma o significado deve ser apresentado sem erros, deve ser
apresentado de forma lógica e deve ser permitido ao discípulo praticar perfeitamente
a base do treinamento.
E também:
Assim, com todos os discípulos reunidos o professor se senta sobre o trono. Para afastar
obstáculos ele deveria recitar o mantra que supera o poder dos maras. O Sutra Requisitado por
Sagharamati afirma:
V. Ampliação. Mesmo que essas três generosidades sejam pequenas existem métodos para
ampliá-las. O Cesto dos Bodisatvas afirma:
como uma ilusão, o presente é como uma ilusão e o receptor também é como uma ilusão.
Segundo, para que alguém receba muitos méritos da generosidade, deve-se compreender
que ela é ampliada pelo poder da sabedoria discriminativa. Em qualquer tipo de prática de
generosidade, se você a realizar, inicialmente, com a intenção de oferecer coisas para estabelecer
todos os seres no estado da iluminação; durante, manter-se sem apego ao que é oferecido; no final,
livre de expectativas sobre o resultado, você receberá grandes méritos por essa generosidade. O
Sutra Condensado da Perfeição da Sabedoria afirma:
A dedicação não apenas amplia o ato de generosidade, mas também o torna inexaurível. O
Sutra Requisitado por Aksayamati diz:
Sariputra, por exemplo, uma gota de água que cai no oceano não se extinguirá
Até o final do kalpa. Da mesma forma, quando se dedica a raiz de virtude para
A iluminação, ela não se extinguirá de agora até que se alcance o coração da
Iluminação.
Quando as práticas de generosidade estão baseadas na vacuidade elas não se tornarão uma
causa do samsara. Quando estão baseadas na compaixão elas não serão causas para o veículo
inferior. Elas serão causas apenas para a realização do nirvana livre de fixações e, portanto, elas
serão “puras”.
“Com base na vacuidade” significa, de acordo com o Sutra Requisitado por Ratnacuda, que a
prática de generosidade deveria estar selada pelos quatro selos da vacuidade. Assim se diz:
Deve-se praticar a generosidade com os quatro selos. O que são esses quatro? Ela
deve estar selada pela vacuidade que tudo permeia do corpo interior, selada pela
vacuidade da riqueza exterior, selada pela vacuidade da mente subjetiva e selada
pela vacuidade do Darma da iluminação. Deve-se praticar com esses quatro selos.
A generosidade “com base na compaixão” significa oferecer porque você não pode tolerar o
sofrimento dos seres sencientes individualmente ou em geral.
CAPÍTULO 13
Sem a prática da ética moral você não encontrará os ensinamentos do Darma. O Sutra A
Posse da Ética Moral afirma:
Por exemplo, uma pessoa sem visão não poderá ver formas.
Da mesma forma uma pessoa sem ética moral não verá os ensinamentos do Darma.
E também, sem ética moral não será possível liberar-se dos três mundos do samsara. Esse
mesmo sutra menciona:
Por exemplo, uma pessoa sem pés não poderá caminhar por uma estrada.
Da mesma forma uma pessoa sem ética moral não poderá alcançar a liberação.
Reiterando, sem ética moral você estará se desviando do caminho espiritual e, assim, não
poderá atingir a iluminação insuperável.
Por outro lado, ao possuir ética moral você poderá obter um corpo perfeito. O Sutra
Condensado da Perfeição da Sabedoria afirma:
Através da ética moral serão evitados o renascimento no reino dos animais e outros,
As oito condições desfavoráveis e sempre haverá liberdade.
Ao possuir ética moral você poderá estabelecer a fundação para toda bondade e felicidade.
A Carta a um Amigo diz:
Possuir ética moral é como ser um solo fértil. Sobre esta base todos os frutos das qualidades
positivas crescerão. Engajando-se no Caminho do Meio afirma:
Ao possuir ética moral será realizado tudo aquilo pelo qual fizemos preces de aspiração. O
Sutra do Encontro do Pai e do Filho afirma:
Ao possuir ética moral será fácil atingir a iluminação. O mesmo sutra diz:
E assim por diante – existem muitas qualidades grandiosas. O Sutra A Posse da Ética Moral
coloca:
Aquele que possui ética moral encontrará o Buda quando ele surgir.
Aquele que possui ética moral tem o ornamento supremo dentre todos.
Aquele que possui ética moral é a fonte de toda alegria.
Aquele que sustenta a ética moral será louvado por todo o mundo. E assim por
diante.
II. Definição. A definição da ética moral é apresentada por quatro qualidades. Os Bhumis
dos Bodisatvas afirmam:
De forma abreviada, essas quatro qualidades são resumidas nas duas categorias de receber e
proteger. Na citação acima receber é a primeira qualidade, proteger são as últimas três.
A primeira significa restringir sua mente em uma posição adequada. A segunda significa
amadurecer as qualidades do Darma em sua mente. A terceira significa amadurecer completamente
os seres sencientes.
1) Comum e
2) Incomum.
1) Restrição moral comum. Primeiro, a forma comum refere-se aos sete tipos de votos
pratimoksha. Os Bhumis dos Bodisatvas afirmam:
Todos eles nos restringem de prejudicar outros seres. Os votos pratimoksha trazem
restrições para o próprio benefício, mas os bodisatvas se restringem para o benefício dos outros
seres. O Sutra Requisitado por Narayana afirma:
Não se deve manter a ética moral para possuir um reino, nem pelos reinos
superiores, nem pelos estados de Indra ou Brahma, nem por riquezas, nem pelo
estado de Ishwara, nem pelo corpo. Da mesma forma não se deve manter a ética
moral pelo medo do renascimento no reino dos infernos. Da mesma forma por medo
de renascer como um animal. Nem se deve manter ética moral por medo de renascer
no mundo de Yama1. Pelo contrário, deve-se manter ética moral para estabelecer os
seres no estado de Buda. Deve-se manter a ética moral para beneficiar e trazer
felicidade a todos os seres sencientes.
2) Ética moral incomum. Shantideva, seguindo o Sutra da Essência do Espaço, afirmou que
existem cinco falhas-raiz para um rei, cinco para os ministros e oito para os súditos. Existem dezoito
itens, mas quatorze falhas propriamente2. Esse sutra menciona:
Na tradição de Dharmakirti, que segue os Bhumis dos Bodisatvas, existem quatro falhas-raiz e
quarenta e seis falhas secundárias. Os Vinte Preceitos, que são uma abreviação dos Bhumis dos
Bodisatvas, colocam:
As quarenta e seis falhas secundárias também são mencionadas nos Vinte Preceitos:
Além disso, para gerar confiança e fé nos outros e para evitar falhas, devemos evitar as
ações impuras das três portas e sustentá-las de forma pura.
Ações Impuras do Corpo. Evite as ações desnecessárias, como corridas, saltos e outros. Você
deveria manter suas ações de forma suave e gentil, com um rosto sorridente. Engajando-se na
Conduta dos Bodisatvas afirma:
E ao sentar:
E ao comer:
E ao mover-me:
E ao dormir:
Ações Impuras da Fala. Evite a fala inútil e palavras agressivas. As falhas da fala inútil são
mencionadas no Sutra da Nuvem de Nobres Joias:
Ações Impuras da Mente. Evite o desejo por ganhos e honras e o apego ao sono, à indolência e
assim por diante. As falhas do desejo por ganhos e honras são mencionadas no Sutra Requisitado
com Extrema Sinceridade:
Mesmo que você conquiste riquezas não ficará satisfeito. O Sutra do Encontro do Pai e do Filho
afirma:
E:
Portanto, essas falhas devem ser evitadas. Em relação às ações puras da mente deve-se
manter a fé e assim por diante conforme explicado anteriormente (no capítulo 2).
VI. Perfeição. A perfeição da ética moral é suportada pela vacuidade que tudo permeia e
pela compaixão, conforme explicado anteriormente (no capítulo 12).
VII. Resultado. Devem-se compreender os resultados da prática da ética moral nos estados
convencional e absoluto. No estado absoluto será alcançada a iluminação insuperável. Os Bhumis
dos Bodisatvas afirmam:
Sariputra, não há prazer perfeito e glorioso nos reinos dos deuses e dos humanos
Que um bodisatva com pura ética moral não desfrute.
Um bodisatva continuará seguindo seu caminho sem se deixar prender pelas alegrias e
felicidades do samsara. O Sutra Requisitado por Narayana afirma:
Um bodisatva que possui tal ética moral não cairá de uma monarquia universal por
possuir introspecção e desejo pela iluminação. Ele não cairá do estado de Indra por
possuir grande introspecção e o desejo pela iluminação. E assim por diante.
Um bodisatva que possui esse tipo de ética moral será louvado e honrado por seres
humanos e não humanos. O mesmo sutra diz:
CAPÍTULO 14
A Perfeição da Paciência
O sumário:
Reiterando, se você não possuir paciência e a raiva entrar em sua mente, isso é como uma
flecha envenenada perfurando seu coração. Você não experimentará alegria, felicidade ou paz
devido à dor mental. Você não conseguirá nem mesmo dormir bem. Engajando-se na Conduta dos
Bodisatvas afirma:
E:
Enfatizando mais uma vez, se você não possuir paciência o ódio e a raiva penetrarão em sua
mente e sua face ficará desfigurada, fazendo com que seus amigos, parentes e servos fiquem
cansados e tristes. Mesmo se você lhes oferecesse alimento e riquezas eles não se aproximariam.
Assim se diz:
Se você não possuir paciência os maras o alcançarão e criarão obstáculos. O Cesto dos
Bodisatvas afirma:
Se você não possuir paciência, uma das seis paramitas do caminho para a iluminação estará
incompleta e, assim, não atingirá a iluminação insuperável. O Sutra Condensado da Perfeição da
Sabedoria afirma:
Aquele que possui ódio e não possui paciência, como poderá atingir a iluminação?
Por outro lado, aquele que possui paciência tem uma das virtudes supremas entre todas as
raízes de virtude. Como se diz:
O primeiro tipo é a prática da paciência ao investigar a natureza daquele que nos prejudica.
O segundo tipo é a prática da paciência ao investigar a natureza do sofrimento. O terceiro tipo é a
prática da paciência ao investigar a natureza inequívoca de todos os fenômenos. Colocando de
outra forma, os primeiros dois tipos são praticados no estado convencional e o terceiro tipo é
praticado no estado último de compreensão.
1. Investigando que aqueles que o prejudicam não possuem liberdade. Por exemplo, tome
alguém como Devadatta que não tinha a liberdade de evitar o mal devido ao poder do ódio.
Quando o ódio está presente não somos capazes de gostar do objeto de nosso ódio. Portanto, visto
que essa pessoa está fora de controle não há razão para revidar. Como se diz:
2. Investigando que esse mal é uma falha de seu próprio carma. Em minhas vidas
anteriores eu prejudiquei outros seres da mesma forma que estou sendo prejudicado agora.
Portanto, visto que essa é uma falha que vem de meu próprio carma negativo não há razões para
retaliar. Como se diz:
3. Investigando que esse mal é uma falha de seu corpo. Se eu não possuísse este corpo a
outra pessoa não teria um alvo para atirar suas armas. Portanto, visto que é por possuir um corpo
como este que estou sendo prejudicado, não há razões para retaliar. Como se diz:
4. Investigando que esse mal é uma falha de sua mente. Não vejo este corpo excelente
como algo que possa tolerar facilmente o mal infligido pelos outros; pelo contrário, eu o vejo como
um corpo frágil e inferior. Portanto, ele é suscetível ao sofrimento. Visto que esse mal é causado
Primeiro, a percepção de sentir-se próximo àquele que o prejudica. Esse ser senciente
maléfico, em outras vidas foi um de seus pais, um parente ou professor e você recebeu benefícios
incontáveis dele. Portanto, neste momento, devido a este tipo de dano, não é razoável retaliar.
Portanto, pratique paciência trazendo-o para o seu coração.
Segundo, a percepção de que tudo se dá através de condições interdependentes. Essa pessoa
que o prejudica é dependente de condições, apenas um fenômeno projetado. Pratique a paciência
contemplando que não há um “eu”, ser senciente, vida ou pessoa que agride, bate, abusa ou critica.
Terceiro, a consciência da impermanência. Por natureza, os seres sencientes são
impermanentes e estão sujeitos à morte. Portanto, pratique paciência contemplando que não é
necessário matar porque os seres sencientes naturalmente morrerão.
Quarto, a percepção do sofrimento. Todos os seres sencientes são torturados pelos três tipos
de sofrimento. Eu deveria dissipar esse sofrimento e não levar os seres a ele. Portanto, devo praticar
paciência com suas ações ao perceber o seu sofrimento.
Quinto, a percepção de abraçar completamente os seres sencientes. Quando cultivei a
bodicita, eu o fiz pelo benefício de todos os seres sencientes; portanto, ao praticar paciência
abraçando-os completamente não é apropriado retaliar por pequenos danos.
De modo geral, os sofrimentos são estes: ao se tornar um monge ou uma monja você deve
passar pelo sofrimento de se esforçar para conseguir os mantos do Darma, provisões e assim por
diante; fazer oferendas, seguir e honrar as Três Joias e os mestres espirituais; ouvir os
ensinamentos; oferecer ensinamentos do Darma; recitar orações; meditar; esforçar-se em sua prática
de meditação avançando à noite e cedo de manhã sem dormir. Sem ficar triste, cansado, exausto,
com calor, com frio, com fome, com sede, perturbado e assim por diante, aceite voluntariamente o
sofrimento do esforço para beneficiar os seres sencientes através das onze formas mencionadas
anteriormente (no capítulo 13).
Além disso, aceitar o sofrimento voluntariamente é como, por exemplo, passar por uma
cirurgia, um tratamento, para curar-se do sofrimento de uma doença virulenta. Engajando-se na
Conduta dos Bodisatvas afirma:
A aspiração pelos oito temas, tais como as qualidades positivas das Três Joias e
assim por diante.
VI. Perfeição. A perfeição da paciência é suportada pela vacuidade que tudo permeia e
pela compaixão, conforme explicado anteriormente (no capítulo 12).
No estado convencional serão conquistadas uma compleição agradável, fama, uma vida
longa e será alcançado o estado de um monarca universal em todas as diferentes vidas, mesmo não
desejando estes resultados.
Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas afirma:
CAPÍTULO 15
A Perfeição da Perseverança
O sumário:
A pessoa preguiçosa não possui generosidade e assim por diante até sabedoria.
A pessoa preguiçosa não poderá beneficiar os outros.
A pessoa preguiçosa está distante da iluminação.
Por outro lado, quando se possui perseverança todas as qualidades virtuosas crescerão sem
obscurecimentos. O Sutra Condensado da Perfeição da Sabedoria diz:
A perseverança é o antídoto para a preguiça que obstaculiza a iluminação. Existem três tipos
de preguiça:
A) Preguiça da apatia,
B) Preguiça da desconsideração e
C) Preguiça grosseira.
A) Apatia. Primeiro, a “preguiça da apatia” significa estar apegado às alegrias do torpor tais
como ficar deitado, dormir, descansar e assim por diante. Esses estados devem ser evitados. Por
que deveríamos evitá-los? Porque não há tempo para eles nesta vida. O Buda disse em um sutra:
Se você acha que é aceitável acumular virtudes no momento da morte, compreenda que,
então, não há tempo para acumular virtudes. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas afirma:
Se você acha que não morrerá até completar a acumulação de virtudes, compreenda que isto
não é certo. Como se diz:
Então, como deveríamos evitar a apatia? Deveríamos evitá-la como se uma cobra estivesse
sobre nosso colo ou como se nossos cabelos estivessem em chamas. Engajando-se na Conduta dos
Bodisatvas afirma:
C) Preguiça grosseira. Terceiro, “preguiça grosseira” significa estar apegado a não virtudes
como destruir inimigos, acumular riquezas e assim por diante. Essas ações são causas imediatas do
sofrimento e, portanto, devem ser evitadas.
A) Perseverança da armadura,
B) Perseverança da aplicação e
C) Perseverança insaciável.
Não vista a armadura contando “por tantos kalpas eu vestirei a armadura e por
tantos kalpas eu não vestirei”. Deve-se vestir uma armadura infinita.
Ficarei feliz mesmo se tiver que permanecer nos infernos por milhares de kalpas
Para liberar um único ser senciente do sofrimento. O que dizer de um pequeno
Período de tempo e de uma pequena quantidade de sofrimento?
Isso é chamado de perseverança da armadura de um bodisatva.
2. Segundo, esforço diligente para realizar virtudes. Você deveria se esforçar para
aperfeiçoar as seis paramitas sem considerações nem mesmo pelo próprio corpo ou vida. Como se
deve fazer tal esforço? Deve-se fazê-lo com as cinco perseveranças: persistentemente, com devoção,
inabalavelmente, sem voltar atrás e sem arrogância.
O primeiro é fazer um esforço constante. O Sutra da Nuvem de Nobres Joias diz:
Um bodisatva é aquele que persevera em todos os diferentes tipos de ações sem que
o corpo e a mente se cansem. Essa é a chamada perseverança persistente de um
bodisatva.
O terceiro é o esforço inabalável. Sua mente não deveria se deixar abalar pela negatividade
dos pensamentos conceituais, das emoções aflitivas e das dificuldades do sofrimento.
O quarto é esforçar-se sem voltar atrás. Você não deveria voltar atrás ao ver a negatividade
dos outros, seu comportamento selvagem, perturbações, visões degeneradas etc. Isso é mencionado
no Sutra de Aryavajradwaza.
O quinto é a perseverança sem arrogância. Ao desenvolver a perseverança não se torne
arrogante.
3. Terceiro, esforço diligente para beneficiar os seres sencientes. Isto significa apoiar
aqueles que não estão sendo apoiados e assim por diante, através dos onze tópicos mencionados
anteriormente (no capítulo 13).
Essas são as explicações sobre a perseverança aplicada.
C. Terceiro, Perseverança Insaciável. Você deve perseverar sem nunca se dar por satisfeito
até alcançar a iluminação. Como se diz:
VI. Perfeição. A perfeição da perseverança é suportada pela vacuidade que tudo permeia e
pela compaixão, conforme explicado anteriormente (no capítulo 12).
CAPÍTULO 16
Além disso, sem concentração meditativa não será possível desenvolver clarividência, e sem
clarividência não será possível beneficiar os outros. A Lâmpada para o Caminho da Iluminação afirma:
Por outro lado, quando se possui concentração meditativa será abandonado o apego a
objetos inferiores, será desenvolvida a clarividência e as diversas portas da concentração meditativa
se abrirão à mente. O Sutra Condensado da Perfeição da Sabedoria afirma:
perfeito e surgirá compaixão por todos os seres sencientes. O Sutra da Realização do Darmadatu
afirma:
Através da absorção mental a realidade será vista de forma perfeita, tal como ela é.
Enxergando a totalidade da realidade de forma perfeita, como ela é, um bodisatva
Desenvolverá grande compaixão por todos os seres sencientes.
Além disso, quando se possui concentração meditativa será possível estabelecer todos os
aspirantes no estado da iluminação. O Ornamento dos Sutras Mahayana afirma:
1. A característica primária da agitação é a dispersão por estar em meio aos filhos, cônjuge,
séquito e posses.
2. A causa da agitação é o apego aos seres sencientes tais como filhos, cônjuge, séquito e
assim por diante; apego às posses tais como alimentos, coisas materiais e assim por diante; apego à
fama, elogios e assim por diante. Essas coisas não contribuirão para evitar a agitação. Assim se diz:
Maitreya, existem vinte diferentes tipos de defeitos. Quais são esses vinte?
O corpo está descontrolado, a fala está descontrolada e a mente está descontrolada.
As emoções aflitivas grosseiras crescem desenfreadamente. Até mesmo a fala
mundana é afetada. Os maras têm a chance de triunfar. Falta atenção mental. A
permanência serena e o insight especial não podem ser alcançados. E assim por
diante1.
Em particular, a iluminação não será atingida se houver a falha do apego aos seres
sencientes. O Sutra da Lâmpada da Lua afirma:
Também há os dois defeitos do apego a posses e fama. Posses e fama não podem ser
mantidas para sempre e criarão dificuldades. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas afirma:
monastério para buscar a iluminação e para beneficiar os seres sencientes possui muitas qualidades
positivas:
Agora, investigue as ações de corpo, fala e mente: se eu matar, roubar e assim por diante
enquanto meu corpo estiver no monastério, então eu não serei diferente dos animais selvagens,
caçadores, ladrões e assaltantes. Eu deveria evitar essas ações contemplando que elas não realizarão
meus desejos.
Investigue a fala: se eu me envolver com fala inútil ou separativa, ou usar palavras
agressivas e assim por diante enquanto estiver no monastério, então não serei diferente dos pavões
e papagaios, melros, cotovias e assim por diante. Eu deveria evitar esse tipo de fala, pois isso não
realizará meus desejos.
Então, investigue a mente: se eu manifestar apego, ódio, ciúme e assim por diante enquanto
estiver no monastério, então não serei diferente dos animais selvagens, chimpanzés, macacos, ursos
e assim por diante. Eu deveria evitá-los porque eles não realizarão meus desejos.
Isso termina a explicação sobre como isolar a mente dos pensamentos discursivos.
1. Apego. Se o apego for mais forte, então contemple a feiura da seguinte forma. Primeiro,
observe seu corpo como um composto de carne, sangue, pele, ossos, medula, linfa, bile, fleuma,
muco, excremento e assim por diante. Contemple as trinta e seis substâncias impuras4. Após isso,
vá para um cemitério e observe um corpo que esteja morto por um dia, dois dias, três dias, quatro
dias e cinco dias. Ele se transforma em uma cor mais escura, torna-se inchado e pútrido e é, então,
destruído por vermes. Ao ver isto, apenas contemple que seu corpo é da mesma natureza, esse
estranho, e não está além desse estado. Observe um corpo sendo levado para o cemitério e os ossos
sendo separados e espalhados, alguns ainda com carne e alguns com ligamentos. Em um corpo que
esteja morto há muitos anos os ossos se tornam brancos como conchas marinhas. Após mais alguns
anos eles assumem uma coloração cinza empoeirada. Assim, contemple que seu corpo também é da
mesma natureza, esse estranho, e não está além desse estado.
2. Ódio. Se o ódio for mais forte, então contemple a bondade amorosa como antídoto. A
bondade amorosa foi explicada anteriormente como sendo de três tipos. Aqui, concentre-se na
bondade amorosa com os seres sencientes. Primeiro, cultive a mente que estabelece a felicidade e
benefícios para os seres que estão próximos a você. Então pratique a bondade amorosa igualmente
com os parentes, e depois com os parentes e com as pessoas comuns, e então ainda mais com as
pessoas comuns. Então pratique para aqueles que estão ao seu redor, e depois para aqueles em sua
cidade ou vila. Depois disso, pratique pelos seres sencientes do leste e assim por diante – das dez
direções.
Além disso,
Monges, por essa causa aquilo é produzido. Como isso é produzido aquilo nasce.
Desta forma, pela condição da ignorância as formações mentais surgem. Devido à
condição do nascimento ocorrem velhice, morte, dor, lamentação, sofrimento,
infelicidade e aflições. Portanto, desta forma o vasto agregado do sofrimento surge.
Isso é explicado de acordo com o reino do desejo e com o nascimento do útero de uma
mulher.
(a) No princípio surge a ignorância, que é a confusão que compreende erroneamente todo o
conhecimento;
(b) Sob a influência da ignorância são criadas as formações mentais do carma das virtudes e
não virtudes aflitas. Isso se chama “formação mental condicionada pela ignorância”;
(c) A semente desse carma é plantada na mente, o que é chamado de “consciência
condicionada pelas formações mentais”;
(d) Pelo poder desse carma, a mente fica completamente confusa, entra no útero de uma
mulher e um embrião é gerado e assim por diante. Isso se chama “nome e forma condicionados
pela consciência”;
(e) Desenvolvendo nome e forma todos os sentidos do olho, ouvido e assim por diante, são
completados. Isso se chama “os seis campos crescentes condicionados por nome e forma”;
(f) A interação do órgão visual e assim por diante, o respectivo objeto e a consciência são
chamados de “contato condicionado pelos seis campos crescentes”;
(g) Através do contato são experimentados os sentimentos de alegria, sofrimento ou
indiferença. Isso se chama de “sensações condicionadas pelo contato”;
(h) Quando surgem as sensações seguem-se alegria, apego e apego intenso. Isso se chama
“desejo condicionado pelas sensações”;
(i) Devido a esse apego o desejo se intensifica e surge a vontade de não estar separado do
objeto de desejo. Isso se chama “fixação condicionada pelo desejo”;
(j) Através dessas fixações, o carma e a existência de corpo, fala e mente são novamente
criados. Isso se chama “existência condicionada pelas fixações”;
(k) Esse carma cria os cinco agregados (Sct. skandas). Isso se chama “nascimento
condicionado pela existência”;
(l) Após o nascimento, os agregados existentes crescem, amadurecem e cessam.
“Amadurecem” significa envelhecem; “cessam” significa morrem. Isso se chama “velhice e morte
condicionadas pelo nascimento”.
Devido à ignorância, grande apego e fixações, a morte causa a dor interna conhecida como
desgosto. Esse desgosto gera expressões em palavras, que são as lamentações. Quando as cinco
consciências experimentam infelicidade, isto é chamado de sofrimento. Quando ele surge na mente
é chamado de “infelicidade mental”. Além disso, dessa forma todo o subconsciente aflito é
chamado de “mente perturbada”.
Esses doze devem ser compreendidos através de três grupos. Ignorância, fixação e apego
compreendem o grupo das emoções aflitivas. Formação mental e existência são o grupo do carma.
Consciência e assim por diante, todos os sete restantes, são agrupados como sofrimento. O Tratado
sobre a Essência da Interdependência diz:
Os exemplos para eles são: a ignorância é como alguém que planta uma semente, o carma é
como o campo, a consciência é como a semente, o desejo é como a umidade, nome e forma são
como brotos, os outros são como ramos, folhas e assim por diante. Se não houvesse ignorância as
formações mentais não surgiriam. Igualmente, sem nascimento, velhice e morte não ocorreriam.
Mas, como há a ignorância as formações mentais são completamente criadas. E da mesma forma,
quando há o nascimento velhice e morte ocorrerão.
A ignorância não pensa “Eu criarei as formações mentais”, as formações mentais não
pensam “Nós fomos criadas pela ignorância”. Da mesma forma, o nascimento não pensa “Eu criarei
velhice e morte”, velhice e morte não pensam “Fomos criadas pelo nascimento”. Mas, quando há
ignorância as formações mentais surgem e se manifestam. Da mesma forma, quando há o
nascimento, velhice e morte surgem e se manifestam. Assim, essa é a interdependência interna com
causas.
(2) Interdependência interna apoiada por condições. Terra, água, fogo, ar, espaço e
consciência são os seis elementos. O elemento terra gera a solidez do corpo. O elemento água gera a
coesão do corpo. O elemento fogo digere o que comemos, bebemos e assim por diante. O elemento
ar faz com que ocorram a inalação e a exalação. O elemento espaço gera os espaços internos do
corpo. O elemento consciência cria as cinco consciências e a consciência mental aflita. Sem essas
condições um corpo não nascerá. Através da combinação desses seis elementos o corpo funciona
completamente. Esses seis elementos não pensam “eu estabeleço a solidez” e assim por diante. O
corpo também não pensa “eu fui criado por essas seis condições”. Mas, a partir dessas condições, o
corpo é originado.
Além do mais, quantas vidas são necessárias para completar esses doze elementos
interdependentes? O Sutra dos Dez Nobres Bhumis afirma:
Quando a ignorância cessa, então as formações mentais cessam e assim por diante.
4. Ciúme. A prática de equalizar a si mesmo com os outros é o antídoto para aqueles que
têm o ciúme como emoção mais forte. Assim como você deseja a felicidade, os outros seres
sencientes também desejam a felicidade. Assim como você não gosta do sofrimento, os outros seres
sencientes também não gostam do sofrimento. Portanto, pratique a meditação de cuidar de você
mesmo e dos outros seres igualmente. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas afirma:
5. Orgulho. Se tiver um problema maior com o orgulho você deve praticar esforçando-se
para conseguir trocar a si mesmo pelos outros. Os seres sencientes infantis sempre cuidam de si
mesmos e trabalham por seu próprio benefício, e assim sofrem. Os budas cuidaram dos outros e
trabalharam pelo seu benefício, e assim atingiram a iluminação. Como se diz:
Portanto, compreenda que o cuidar apenas de si mesmo é uma falha e abandone o apego a si
próprio. Compreenda que cuidar dos outros é uma qualidade positiva e olhe para os outros como
para si mesmo. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas afirma:
Na tradição do sistema do mantra secreto deve-se treinar sem evitar, praticar ou transformar
as emoções aflitivas. Também há o sistema da linhagem de Marpa que deve ser compreendido
através de instruções orais. Pode-se compreender tudo isso a partir da sabedoria primordial
coemergente e dos seis Darmas do glorioso Naropa.
No estado convencional, serão conquistados os corpos dos deuses livres do reino do desejo.
O Acharya Nagarjuna afirma:
CAPÍTULO 17
Por outro lado, quando se possui sabedoria discriminativa, então será possível atingir o
estado de onisciência porque, assim como um grupo de pessoas cegas que são conduzidas a uma
cidade pela ajuda de um guia, o corpo completo da acumulação de virtudes – generosidade e assim
por diante – foi levado ao caminho da iluminação. Como se afirma em Engajando-se no Caminho do
Meio:
Se este é o caso, então apenas sabedoria discriminativa deveria ser suficiente. Por que são
necessários todos esses métodos de generosidade e assim por diante? Nenhum deles é suficiente
isoladamente. A Lâmpada para o Caminho da Iluminação afirma:
Assim se diz,
“Método sem sabedoria discriminativa e
Sabedoria discriminativa sem método são prisões.”
Portanto, não abandone qualquer um deles.
cairá na paz unilateral do nirvana afirmada pelos Ouvintes e ficará preso nesse estado, incapaz de
alcançar o nirvana livre de fixações. Além disso, ele ficará preso nesse estado permanentemente,
segundo afirmações do sistema de três veículos. Mesmo de acordo com as afirmações do sistema de
veículo único, ele ficará preso por 84.000 kalpas. Se ele se apoiar apenas no método, sem sabedoria
discriminativa, não atravessará para além do estado de uma pessoa infantil e comum. Portanto,
continuará preso no samsara. O Sutra Requisitado por Aksayamati afirma:
Uma vez que a prática da sabedoria discriminativa sem método irá prendê-lo no
nirvana, e a prática do método sem sabedoria discriminativa irá prendê-lo no
samsara, então é necessário unificar as duas práticas.
Por exemplo, assim como precisamos de olhos para discernir a estrada e de pés para cruzar
as distâncias que nos separam da cidadela que desejamos alcançar, da mesma forma, para atingir a
cidadela do nirvana livre de fixações, precisamos unificar o olho da sabedoria discriminativa com
os pés do método. O Sutra do Monte Gaya afirma:
Além do mais, a sabedoria discriminativa não surge por si só. Por exemplo, se alguém
acendesse um fogo com uma pequena quantidade de madeira uma fogueira grande e duradoura
não surgiria. Mas, se você fizer um fogo com uma grande quantidade de madeira seca, ele se
tornará uma grande e duradoura fogueira e não será possível extingui-lo mesmo se você quiser. Da
mesma forma, não surgirá grande sabedoria discriminativa se houver apenas uma pequena
acumulação de mérito. Mas, por outro lado, grande sabedoria discriminativa surgirá onde houver
uma grande acumulação de méritos da generosidade, ética moral e assim por diante, e ela queimará
todos os obscurecimentos. Portanto, para obter sabedoria discriminativa é preciso apoiar-se na
generosidade e assim por diante. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas afirma:
Todos esse ramos1 foram ensinados pelo Buda com o objetivo da sabedoria.
III. Classificação. O comentário ao Ornamento dos Sutras Mahayana lista três tipos:
V. Aquilo Que Deve Ser Compreendido. Entre os três tipos de sabedoria discriminativa
a sabedoria supramundana superior deve ser estudada. Ela será explicada em seis tópicos:
A fixação a essa pessoa como sendo permanente e única leva ao apego e ao agarrar-se a ela
como “eu” ou “identidade”. Isso é que deve ser compreendido como a identidade da pessoa ou
mente. As emoções aflitivas são produzidas por essa identidade. O carma4 é produzido pelas
emoções aflitivas. O sofrimento é produzido por este carma. Portanto, a raiz de todo o sofrimento e
falhas é a identidade ou mente. O Comentário sobre a Cognição Válida diz:
Agora, o que é a identidade dos fenômenos? Deve-se entender que os fenômenos são os
objetos de fixação externa e a mente de fixação interna5. Por que eles são chamados de
“fenômenos”? Por portarem suas próprias características. Pedaços de um Sutra afirma:
A identidade dos fenômenos consiste nestes dois itens: fixação e apego – tomando-os como
existentes e apegando-se a eles.
“Compreender completamente como as coisas são” significa enxergar a verdade. “Os dois
não surgem” significa o não surgimento do apego a “eu” e “meu”.
Além do mais, se a identidade ou mente existe, então investigue se ela surge de si mesma,
Visto que a identidade pessoal não surge de si mesma, dos outros, de ambos ou dos
três tempos, então a fixação a essa identidade se extingue.
Existem dois tópicos que refutam a identidade dos fenômenos. Será demonstrado que o
objeto de fixação externa não existe e que a mente de fixação interna também não existe.
A explicação do primeiro. Alguns afirmam que os objetos externos são substancialmente
existentes. Os Vaibhasika dizem que as menores partículas, por sua própria natureza, existem
fisicamente como materiais que são redondos, unitários e sem divisões. Estas partículas estão
circundadas por outras pequenas partículas, mas com um espaço entre elas. Porém, elas parecem
estar juntas, como a grama em um campo viçoso ou a cauda de um iaque7. Elas não se afastam, mas
são mantidas juntas pelo carma dos seres sencientes. Assim foi afirmado. O sistema Sautrantika
afirma que apesar de existirem partículas, elas circundam umas às outras sem espaços entre elas,
mas sem se tocarem.
Apesar de fazerem tais afirmações, nenhum está correto, pois as partículas existem ou como
unidades ou como muitas. Se uma partícula é unitária, então ela deve ser divisível em partes ou
não. Se ela pode ser dividida em partes, então haverá uma parte leste, oeste, sul, norte, superior e
inferior. Visto que ela agora se transformou em seis partes, a afirmação de que a partícula é unitária
foi refutada.
Se uma partícula não puder ser dividida em partes, então todas as coisas possuiriam a
natureza de uma única partícula, o que obviamente não é o caso. Sobre esse assunto, os Vinte Versos
colocam:
Agora, sobre a existência de muitas partículas. Se uma partícula existisse, então seria
adequado dizer que muitas, sendo a acumulação de unidades, também poderiam existir. Mas,
como não se pode demonstrar a existência de uma única partícula, muitas também não podem
existir. Portanto, visto que a menor partícula não existe, os objetos externos, sendo da natureza
desta partícula, também são não existentes.
Então, o que são estas coisas existentes que aparecem à nossa percepção? O surgimento de
objetos externos se deve à delusão da mente. Visto que a mente surge desta forma, existem as
aparências8. Como podemos compreender que este é o caso? Podemos entender através das
escrituras, da lógica e de comparações.
Primeiro, através das escrituras. O Sutra da Guirlanda de Budas afirma:
Ó filhos do Vitorioso!
Os três reinos são apenas a mente.
Segundo, raciocínio. O raciocínio nos convence de que o surgimento dos objetos externos é
apenas a complicação de uma mente confusa, pois aquilo que surge e permanece não possui
existência real. É como chifres em um homem ou uma árvore visualizada na meditação. Da mesma
forma, porque aquilo que é não aparece9, devido às alterações10 e devido às diferentes projeções nas
aparências11, portanto, esses surgimentos são apenas confusão.
Terceiro, comparações. Como comparações, as manifestações são como sonhos, ilusões de
uma apresentação mágica e assim por diante.
Assim foi demonstrado que os objetos de fixação externa não possuem existência.
Explicação do segundo ponto, de que a mente de fixação interna é não existente. Alguns
afirmam (Realizadores Solitários e a Escola Yogacara) que a mente de fixação interna realmente
existe de forma autoconsciente e autoiluminadora. Apesar deles assim afirmarem, existem três
razões para sua não existência:
1) A mente não existe quando analisada momento a momento.
2) A mente não existe, visto que não foi encontrada por ninguém.
3) Visto que não há objetos, a mente não existe.
Entretanto, se um momento não puder ser dividido nos três tempos, então esse momento se
torna não existente. Portanto, visto que um momento não existe, a mente também é não existente.
Se for afirmado que existem muitos momentos: se um único momento existisse, então
estaria correto dizer que muitos momentos existem pela acumulação de unidades. Mas, visto que
um único momento não existe, muitos momentos também são não existentes. E, visto que muitos
momentos são não existentes, a mente também é não existente.
2) Explicando o segundo ponto, de que a mente não foi encontrada por ninguém. Procurem
por esta, assim chamada, mente e vejam se ela se encontra fora do corpo, dentro ou na interface,
acima ou abaixo. Investiguem bem que tipo de forma ou cor ela possui. Desta forma, procurem até
alcançarem certeza. Busquem de acordo com as instruções de seus professores sobre como variar a
observação e assim por diante.
Se você não a encontrou ou a enxergou através de todos os meios de pesquisa, então não há
nenhum sinal de algo a ser visto, nem uma cor. Não é que você não tenha encontrado algo que
existe. Aquele que procura, o objeto procurado e a busca estão além dos objetos do intelecto. Eles
estão além de expressão, pensamento e conhecimento. Portanto, ela não é encontrada, mesmo
procurando em todos os lugares. O Sutra Requisitado por Kashyapa afirma:
Portanto, visto que a mente não foi encontrada por ninguém não há benefício em dizer que
ela é autoconsciente e autoiluminadora. Engajando-se na Conduta dos Bodisatvas afirma:
E Tilopa diz:
Perceba passo a passo se esta mente é azul, amarela, vermelha, branca, marrom ou
da cor do cristal. Ela é pura ou impura? Ela pode ser chamada de permanente ou
impermanente? Ela possui uma forma ou não? Visto que a mente não possui
forma, não pode ser mostrada, não aparece, é não obstruída, é imperceptível, não se
encontra dentro, fora ou na interface, ela é completamente pura, totalmente não
existente. Ela não pode ser liberada por ser o elemento que tudo permeia.
E:
B) Segundo, a refutação da fixação à inexistência das coisas. Visto que as duas identidades
não existem sob qualquer forma de coisas existentes, poder-se-ia dizer que elas, portanto, são
inexistentes. Entretanto, elas também não são inexistentes. Como é possível? Porque as duas
identidades ou mentes só poderiam ser ditas inexistentes se elas tivessem anteriormente existido e
depois cessado. Porém, visto que os fenômenos chamados de “duas identidades” ou “mentes”
desde o início nunca possuíram existência inerente, eles estão além dos extremos de existência e
inexistência. Saraha disse:
Kashyapa, é melhor permanecer com uma visão da existência inerente das pessoas
tão grande quanto uma montanha do que assumir a visão da vacuidade.
Diz-se que não é possível curar aqueles que sustentam a visão da vacuidade.
Por que eles são incuráveis? Por exemplo, se dermos um purgativo a um homem doente,
quando a doença e o remédio tiverem sido ambos eliminados, o paciente estará curado. Entretanto,
se a doença foi tratada, mas o remédio não foi digerido, o paciente não será curado e morrerá. Da
mesma forma, a visão sobre a existência pode ser dissipada pela meditação sobre a vacuidade. Mas,
ao adotar a visão da vacuidade e se apegar a ela, a pessoa chegará a nada e terá que deparar com os
reinos inferiores. A Guirlanda de Joias Preciosas afirma:
Fixar-se ao mundo,
Que é como uma miragem,
E:
Se alguém se perguntar o que é o caminho do meio, que evita os dois extremos, o Sutra do
Monte de Joias afirma:
Shantideva diz:
Portanto, não manter concepções sobre os dois extremos é o que se chama de caminho do
meio. Entretanto, o caminho do meio não pode ser examinado. Na verdade, ele está livre de ser
tomado como um objeto, ele está além da conceituação. Atisha afirma:
Se o nirvana fosse algo existente, então teria que ser composto. Se fosse composto, então, no
final, ele deveria desaparecer. O Tratado sobre o Caminho do Meio afirma:
Se o nirvana fosse algo existente, então teria que ser composto. E assim por diante.
O que é ele, então? É a completa exaustão de todos os pensamentos que se fixam à existência
e à inexistência. O nirvana está além da conceituação e é inexprimível. A Guirlanda de Joias Preciosas
afirma:
Visto que ele não possui surgimento, cessação, abandono, realização e assim por diante, o
nirvana não é criado por ninguém, não é planejado e não é uma transformação. O Sutra do Precioso
Céu afirma:
Isto conclui a explicação sobre o que deveria ser compreendido sobre a sabedoria
discriminativa.
VI. O Que Deve Ser Praticado no que se refere à mente ou sabedoria discriminativa. Se
todos os fenômenos são vazios você poderia se perguntar se é necessário praticar aquilo que
compreendeu. Por exemplo, mesmo que a pepita de prata possua a natureza da prata, até que ela
seja derretida a prata não aparecerá. Se desejarmos prata derretida, precisamos derreter a pepita.
Da mesma forma, todos os fenômenos são, desde o início, da natureza da vacuidade, livres de todas
as elaborações. Mas, visto que há o surgimento das múltiplas coisas para os seres sencientes e a
experiência dos diversos sofrimentos, esta sabedoria deve ser compreendida e praticada.
Portanto, deve-se compreender conforme explicado anteriormente. Em relação à prática
existem quatro estágios: (1) as preliminares, (2) o equilíbrio meditativo, (3) o estágio pós meditativo
e (4) os sinais da prática.
Mahamudra. Deve-se posicionar a mente livre de esforços, sem qualquer conceituação sobre
existência, inexistência, aceitação ou rejeição. Deixe a mente livre de esforços. Em relação a isto,
Tilopa disse:
Assim como a mente de um elefante fica tranquila após ter sido domada,
Ao cessarem todas as idas e vindas, permanece-se naturalmente em relaxamento.
Compreendendo isto, de que Darma eu necessito?
Shavari afirma:
E Atisha afirmou:
E:
E do mesmo sutra:
Se nos perguntarmos o que “meditar sobre o céu” quer dizer, o mesmo texto explica:
Se nos perguntarmos como a vacuidade pode ser enxergada, assim se diz no Sutra da
Realização do Darmadatu:
E:
E:
Alguns seres sencientes dizem que enxergam o céu, porém, como o céu pode ser
“visto”? Examinem o significado disto. Da mesma forma, o Tatágata mostrou que
esta é a forma de enxergar todos os fenômenos.
(3) No estado pós-meditativo tudo deveria ser visto como uma ilusão mágica e a
acumulação de méritos, generosidade e assim por diante deveria ser reunida da melhor forma
possível. O Sutra Condensado da Perfeição da Sabedoria afirma:
Aquele que entende que os cinco agregados são como uma ilusão mágica –
Não diferenciando a separação entre os agregados e a ilusão mágica –
E cuja conduta é pacífica,
Esse é alguém cuja ação é a suprema perfeição da sabedoria discriminativa.
Assim, quando alguém se habitua desta forma, o equilíbrio meditativo e o estado pós-
meditativo se tornam indiferenciados e estarão livres de arrogância. Assim se diz:
Existe um mérito maior em meditar sobre o significado do Darma por um único dia
Do que em ouvir e refletir sobre os ensinamentos por muitos kalpas.
Isto é assim porque nos afastamos do caminho de nascimento e morte desta forma.
A meditação sobre a vacuidade por uma única sessão de um iogue tem um mérito
maior do que reunir as acumulações de mérito, atavés da provisão16 de todos os
seres sencientes dos três reinos por todas as suas vidas.
E, no mesmo texto:
Existe um mérito maior em meditar por um único dia do que em kalpas copiando,
lendo, ouvindo ou recitando o Darma.
Quando se detém o significado da vacuidade não há coisa alguma que não esteja incluída no
caminho. Tomar refúgio está incluído, pois no Sutra Requisitado pelo Rei Naga Anavatapta é dito:
Aquele que medita sobre a não composta esfera do Darma que tudo permeia e se
apoia no veículo não composto dos Ouvintes e não está preocupado com a dualidade
de compostos e não compostos toma refúgio na Sanga com uma mente livre de
confusões.
Kashyapa, todos os fenômenos são como o espaço, sem características, são completa
e pura clara luz desde o princípio. É assim que se denomina o cultivo da bodicita.
Também se diz que a visualização das deidades e os mantras são completos quando a
realização da vacuidade existe. O Tantra Hevajra diz:
O Uttaratantra da União dos Gloriosos e Grandiosos Budas com as Perfeitas Dakinis afirma:
Realizar rituais de oferenda de fogo também está incluído. O Tantra Rei do Néctar Secreto
afirma:
Por que este é o ritual de oferenda de fogo? Ele é o ritual de oferenda de fogo porque
queima o pensamento conceitual e concede a realização suprema. Queimar madeira
e assim por diante não é o verdadeiro ritual de oferenda de fogo.
Até mesmo o caminho – as seis perfeições – está completo aqui. O Sutra da Absorção
Meditativa Diamantina afirma:
Os sábios que meditam sobre a vacuidade dos fenômenos não permanecem, nem
dependem do mundo. Não se fixando a toda a existência, a ética moral
perfeitamente virtuosa estará bem guardada.
Todos os fenômenos possuem um único sabor, visto que a vacuidade não possui
características. A mente nem se fixa nem está apegada a qualquer coisa. Esta
paciência será grandemente benéfica. Os sábios, tendo começado a agir com
perseverança, lançam todos os apegos à distância. Suas mentes nem se fixam nem
estão apegadas a qualquer coisa. Isto é chamado de o campo perfeitamente
meritório. Para o benefício e felicidade de todos os seres sencientes, a estabilização
meditativa é praticada e o pesado fardo é abaixado. Remover completamente todas
as aflições é a característica daqueles perfeitamente sábios.
Assim como água derramada sobre água, manteiga misturada com manteiga,
enxergar perfeitamente esta sabedoria primordial autoconsciente por si só já
constitui fazer prostrações.
Aquele que confia na vacuidade dos fenômenos e aspira aos campos búdicos faz
oferendas ao Professor. Essa é a oferenda insuperável.
A oferenda do significado absoluto satisfaz o Buda. Ele não se alegra com oferendas
de incenso e assim por diante. Diminuir a rigidez da própria mente é a grande
oferenda que agrada ao Buda.
E também, quando se possui esta visão, esta é a própria purificação das ações negativas. O
Sutra do Carma Completamente Puro afirma:
Aquele que deseja se confessar deveria se sentar ereto e olhar para o significado
último. Olhar adequadamente para a perfeição é o arrependimento supremo e o
despertar.
A sustentação da ética moral e do samaya também estão incluídos neste significado. O Sutra
Requisitado pelo Filho dos Deuses Susthitamati diz:
Aquele que não manifesta a arrogância de possuir votos ou não, detém a ética moral
do nirvana. Esta é a ética moral completamente pura.
Mesmo que alguém permaneça em casa e não corte sua barba ou cabelo18, não
vestindo os mantos do Darma e não tendo recebido os preceitos de ética moral, tal
ser – detentor da verdade sublime dos fenômenos – deveria ser reconhecido como o
monge supremo.
Ouvir, refletir e meditar também estão incluídos neste significado. O Tantra da Completa Não
Fixação afirma:
Isto é ler, isto é compreender, isto é meditar, isto também é aprender a memorizar
comentários. Não existe nenhuma visão que possa indicar este estado.
Tormas e rituais do Darma diários também estão incluídos neste significado. O Tantra Rei do
Néctar Secreto coloca:
Neste caso, se todos estes métodos estão incluídos na meditação sobre a essência da talidade
da mente, por que aparecem ensinamentos sobre tantos métodos graduais? É para o propósito de
guiar todos aqueles seres sencientes de pequena fortuna, que são ignorantes sobre a natureza
última. O Ornamento da Sabedoria Crescente afirma:
Aquilo que foi explicado como a relação entre as causas e condições e, também,
sobre entrar nos diferentes estágios – tudo isto foi ensinado como um método para
aqueles que são ignorantes. Quando se possui este Darma espontaneamente
estabelecido, por que seriam necessários métodos graduais?
Enquanto alguém não tiver entrado no oceano da esfera do Darma que tudo
permeia, ainda existem caminhos e níveis distintos. Tendo alcançado este oceano da
esfera do Darma que tudo permeia, não há o menor nível ou caminho para cruzar.
Atisha coloca:
CAPÍTULO 18
A. Cinco Poderes. Além do mais, durante os estágios do “calor” e “calor máximo”, cinco
poderes2 são praticados:
O poder da fé,
O poder da perseverança,
O poder da atenção mental,
O poder da absorção e
O poder da sabedoria discriminativa.
A força da fé,
A força da perseverança,
A força da atenção mental,
A força da absorção e
A força da sabedoria discriminativa.
III. Caminho do Insight. O caminho do insight inicia após o mais elevado darma
mundano, consistindo na permanência serena como base para o insight especial focado nas Quatro
Nobres Verdades. Quatro insights correspondem a cada uma das Quatro Nobres Verdades,
totalizando dezesseis – oito aceitações pacientes e oito consciências; a aceitação paciente do darma
que leva à consciência do sofrimento, a consciência do sofrimento propriamente dita, a paciência
contínua que leva à sabedoria discriminativa que caracteriza a realização da Verdade do
Sofrimento, a sabedoria discriminativa contínua subsequente à realização da Verdade do
Sofrimento e assim por diante4.
Por que ele é chamado de caminho do insight? Porque aqui as Quatro Nobres Verdades, que
não eram enxergadas anteriormente, são realizadas. Neste estágio se dão sete dos ramos da
iluminação:
Visão perfeita,
Concepção perfeita,
Fala perfeita,
Ação perfeita,
Modo de vida perfeito,
Esforço perfeito,
Atenção mental perfeita e
Absorção perfeita5.
possuem um só sabor6. “Que tudo permeia” significa que ela observa a talidade de todo o
conhecimento.
A “consciência da exaustão das causas” que surge após essa absorção é a sabedoria
primordial que observa as Quatro Nobres Verdades pelo poder da exaustão de todas as causas. A
“consciência do não nascimento7” é a sabedoria primordial que observa as Quatro Nobres Verdades
pelo poder do abandono do resultado, o sofrimento. Em outras palavras, essa sabedoria primordial
observa claramente a exaustão das causas e a não produção dos resultados e é chamada de
“consciência da exaustão e da não produção.”
Por que ele é chamado de caminho da perfeição? Porque o treinamento é aperfeiçoado e a
cidadela do nirvana é alcançada – é por isto que é chamado de caminho da perfeição. Neste estágio
existem dez realizações do não-mais-treinar8: começando com a visão perfeita do não-mais-treinar
até a absorção perfeita do não-mais-treinar e, então, a liberação completa do não-mais-treinar e a
sabedoria primordial perfeita do não-mais-treinar – estas dez realizações do não-mais-treinar estão
incluídas nos cinco skandas não aflitos:
CAPÍTULO 19
“Grande Alegria” é o primeiro bhumi dos bodisatvas e “os outros” referem-se aos dois
inferiores e aos dez bhumis superiores.
O bhumi dos iniciantes é o caminho da acumulação porque ele amadurece a mente que
antes era imatura. O bhumi da atividade dedicada é o caminho da aplicação porque aqui há uma
forte dedicação ao significado da vacuidade. Durante este período, os fatores que se opõem às
paramitas, como a mesquinharia e assim por diante, as emoções aflitivas que são abandonadas no
caminho do insight e os obscurecimentos imputados ao conhecimento são suprimidos e não tornam
a surgir.
Os dez bhumis dos bodisatvas vão do bhumi da Grande Alegria até o décimo, Nuvem do
Darma. O Sutra dos Dez Nobres Bhumis afirma:
Ó Filhos do Vitorioso! Esses são os dez bhumis dos bodisatvas: Grande Alegria ... e
assim por diante.
II) Significado dos Bhumis. Eles são chamados de “bhumis” porque cada um é uma
fundação para suas respectivas qualidades, ou porque cada um se torna uma base para ir adiante,
um após o outro. Comparações para o significado dos bhumis:
Como a sabedoria primordial está contida neles e suas qualidades são desfrutadas aqui, diz-
se que os bhumis são como um curral para o gado;
Como a sabedoria primordial avança através deles, diz-se que os bhumis são como uma
pista de corrida;
Como a sabedoria primordial é a base para o nascimento de todas as qualidades positivas,
diz-se que os bhumis são como um campo.
III. Razão para a Classificação em Dez Níveis. Eles são classificados em dez devido aos
diferentes treinamentos realizados em cada um.
1) O nome característico,
2) o significado característico,
3) o treinamento característico,
4) a prática característica,
5) a purificação característica,
6) a realização característica,
7) o abandono característico,
8) o nascimento característico e
9) a habilidade característica.
A) Primeiro Bhumi.
Aproximando-se da iluminação
E vendo o benefício para os seres sencientes
Grande alegria é obtida,
Portanto, ele é chamado de “Grande Alegria”.
Aqueles que se encontram no bhumi da Grande Alegria possuem uma grande visão.
Através do poder da forte determinação eles podem ver muitos budas. Muitas
centenas de budas! Muitos milhares de budas! Igualmente, eles podem ver muitas
centenas de milhares de budas. Ao vê-los, com grande pensamento altruísta, eles
fazem oferendas e os veneram. Da mesma forma, eles respeitam e oferecem serviço a
todas as sangas. Esta raiz de virtude é dedicada para a iluminação. Eles recebem
ensinamentos destes budas, contemplam os ensinamentos, guardam os
ensinamentos, praticam persistentemente os ensinamentos e, então, amadurecem os
seres sencientes através dos quatro métodos2.
Assim, por muitos kalpas eles veneram e seguem o Buda, o Darma e a Sanga; eles
amadurecem os seres sencientes e dedicam a virtude à iluminação insuperável. Através destas três
causas a raiz de virtude destes bodisatvas se torna muito pura. Assim se diz:
Por exemplo, quando um artesão aquece o ouro este se torna mais puro, claro e
maleável. Da mesma forma, a raiz de virtude de um bodisatva do primeiro bhumi se
torna crescentemente pura, clara e maleável.
6) Realização característica. De modo geral, os bodisatvas nos dez bhumis têm a mesma
realização enquanto se encontram no estado de absorção meditativa. Explicando individualmente,
as diferenças ocorrem durante o estado pós-meditativo. No primeiro bhumi é realizado o
significado de entrar no darmadatu que tudo permeia. Assim, é alcançada a igualdade de si mesmo
com os outros. Por isso, em Discriminando o Caminho do Meio dos Extremos é mencionado “o
significado de permear em todas as direções.”
Tão logo o bhumi da Grande Alegria é atingido, o bodisatva está livre do medo de
não conseguir se sustentar, o medo de não ser elogiado, o medo da morte, o medo do
renascimento em um reino inferior e o medo do palco em grandes aglomerações.
O nascimento característico é ensinado aqui de forma muito geral. Para o benefício dos
outros seres os bodisatvas podem se manifestar em diferentes formas, de acordo com as
necessidades dos praticantes, como se conta na História das Vidas do Buda.
Um bodisatva que reside no bhumi da Grande Alegria faz grandes esforços por suas
aspirações. Se ele for um renunciante4, em um momento poderá entrar em cem
diferentes tipos de absorção e verá cem budas, estando perfeitamente consciente de
suas bênçãos. Ele poderá mover cem sistemas de mundos, poderá se dirigir a cem
B) Segundo Bhumi.
4) Prática característica. Um bodisatva que reside neste bhumi pratica, de modo geral, todas
as dez paramitas, mas com ênfase especial na perfeição da ética moral.
Por exemplo, o ouro que é banhado em ácido se torna ainda mais purificado. Da
mesma forma, a raiz de virtude de um bodisatva do segundo bhumi se torna ainda
mais pura, clara e maleável.
9) Habilidade característica. Em um instante ele atingirá mil absorções e assim por diante7.
C) Terceiro Bhumi.
4) Prática característica. Um bodisatva que reside neste bhumi pratica, de modo geral, todas
as dez paramitas, mas com ênfase especial na perfeição da paciência.
Por exemplo, um artesão pule o ouro em suas mãos e, sem perder qualquer parte do
peso do ouro, purifica todas as suas manchas. Da mesma forma, a raiz de virtude de
um bodisatva que reside neste bhumi não declina, mas se torna cada vez mais pura,
clara e maleável.
7) [Abandono característico.9]
9) Habilidade característica. Em um instante ele atingirá cem mil absorções e assim por
diante.
D) Quarto Bhumi.
2) Significado característico. Este bhumi é chamado de “luminoso” porque os dois véus são
queimados pela luz brilhante da sabedoria primordial de todos os ramos da iluminação. Assim se
diz:
Como uma luz radiante que queima completamente tudo que se opõe à iluminação,
Esta é a qualidade deste bhumi.
Portanto, ele é chamado de “Luminoso”
E os dois obscurecimentos são queimados.
3) Treinamento característico. Este bhumi é aperfeiçoado através dos dez treinamentos, tais
como morar em um local solitário e assim por diante10. Assim se diz:
4) Prática característica. Um bodisatva que reside neste bhumi pratica, de modo geral, todas
as dez paramitas, mas com ênfase especial na perfeição da perseverança.
E) Quinto Bhumi.
3) Treinamento característico. Este bhumi é aperfeiçoado evitando as dez falhas, tais como
estar apegado ao lar devido às posses e assim por diante. Assim se diz:
4) Prática característica. Um bodisatva que reside neste bhumi pratica, de modo geral, todas
as dez paramitas, mas com ênfase especial na perfeição da concentração meditativa.
Por exemplo, quando um hábil ourives adorna o ouro com pedras preciosas, ele não
poderá ser igualado por qualquer outro ouro. Da mesma forma, a raiz de virtude de
um bodisatva que atinge este quinto bhumi não poderá ser igualada pela raiz de
virtude dos bodisatvas que estão nos bhumis inferiores.
Através de sua maturidade espiritual ele se torna rei dos deuses de Tushita e
dissipa as visões aflitas de todos os não budistas.
F) Sexto Bhumi.
4) Prática característica. Um bodisatva que reside neste bhumi pratica, de modo geral, todas
Por exemplo, quando um hábil ourives adorna o ouro com lápis lazúli, ele não
poderá ser igualado por qualquer outro ouro. Da mesma forma, a raiz de virtude de
um bodisatva que atinge este sexto bhumi não poderá ser igualada pela raiz de
virtude dos bodisatvas que estão nos bhumis inferiores.
G) Sétimo Bhumi.
2) Significado característico. Este bhumi é chamado de “muito distante” porque ele está
relacionado ao caminho de uma via e é a perfeição da ação. Assim se diz:
Por estar relacionado ao caminho de uma via ele é chamado de “Muito Distante”.
3) Treinamento característico. Este bhumi é aperfeiçoado renunciando aos vinte tópicos, tais
como o apego à existência própria e assim por diante, e praticando os vinte tópicos contrários, tais
como as três portas para a liberação e assim por diante16. Assim se diz:
E:
4) Prática característica. Um bodisatva que reside neste bhumi pratica, de modo geral, todas
as dez paramitas, mas com ênfase especial na perfeição dos meios hábeis.
Por exemplo, quando um hábil ourives adorna o ouro puro com todos os tipos de
joias, ele se torna muito belo e não pode ser igualado por qualquer outro ornamento
de Jambudvipa. Da mesma forma, a raiz de virtude de um bodisatva que atinge este
sétimo bhumi é mais pura, e não poderá ser igualada pela raiz de virtude dos
Ouvintes, Realizadores Solitários e bodisatvas que estão nos bhumis inferiores.
6) Realização característica. Os sinais do Darma dos sutras e assim por diante aparecem sem
diferenciações; através deles, os bodisatvas deste bhumi compreendem o significado da não
diferenciação. Assim é mencionado, “o significado da não diferenciação”.
H) Oitavo Bhumi.
2) Significado característico. Este bhumi é chamado de “inabalável” porque ele não pode
ser movido pela percepção do esforço com sinais e pela percepção do esforço sem sinais18. Assim se
diz:
É chamado de “Inabalável” porque não pode ser movido pelas duas percepções.
3) Treinamento característico. Este bhumi é aperfeiçoado através dos oito treinamentos, tais
como compreender todas as ações dos seres sencientes diretamente e assim por diante19. Assim se
diz:
4) Prática característica. Um bodisatva que reside neste bhumi pratica, de modo geral, todas
as dez paramitas, mas com ênfase especial na perfeição da aspiração.
Através de sua maturidade espiritual ele se torna Brahma, rei dos mil universos, e
possui habilidade incomparável em estabelecer os ensinamentos dos Arhats e
Realizadores Solitários.
I) Nono Bhumi.
4) Prática característica. Um bodisatva que reside neste bhumi pratica, de modo geral, todas
as dez paramitas, mas com ênfase especial na perfeição da força.
Através de sua maturidade espiritual ele se torna Brahma, rei dos dois mil
universos, e possui habilidade incomparável em responder todas as questões dos
seres sencientes, Arhats e assim por diante.
J) Décimo Bhumi.
Este bhumi é chamado de “Nuvem do Darma” porque, como uma nuvem, ele
permeia o darma do espaço através de dois fatores.
Porque os budas concedem seu poder irradiando sua luz para os bodisatvas.
4) Prática característica. Um bodisatva que reside neste bhumi pratica, de modo geral, todas
as dez paramitas, mas com ênfase especial na prática da sabedoria primordial.
Por exemplo, quando os grandes artistas do reino dos deuses criam um ornamento
adornado por pedras preciosas que adorna a cabeça ou o pescoço de Mahesvara, o rei
especial dos deuses, não há comparação com outros ornamentos dos deuses ou
humanos. Da mesma forma, a sabedoria primordial transcendente de um bodisatva
do décimo bhumi não pode ser superada pelas qualidades de todos os seres
sencientes, Ouvintes, Realizadores Solitários ou bodisatvas até o nono bhumi.
A cada momento ele pode manifestar dos poros de sua pele incontáveis budas
acompanhados de incontáveis bodisatvas, assim como deuses, seres humanos e
semideuses.
K) Estado Búdico.
Todos eles são realizados em três kalpas ilimitados. Durante o primeiro kalpa
ilimitado é alcançado o bhumi da Grande Alegria, passando completamente pelas
ações de aspiração. Este estado é alcançado através de esforço persistente; de outra
forma, sem persistência este bhumi não será alcançado. Durante o segundo kalpa
ilimitado alcança-se o oitavo bhumi passando pelos outros até o sétimo, Muito
Avançado. Isto é certo, pois o bodisatva puramente motivado fará o esforço,
definitivamente. Durante o terceiro kalpa ilimitado alcança-se o décimo bhumi,
Nuvem do Darma, passando através do oitavo e nono bhumis. Aqueles com
preseverança extraordinária podem comprimir este prazo para um antahkalpa, e
alguns até mesmo para um mahakalpa. Deve-se compreender que não é possível
comprimi-lo para um kalpa ilimitado.
PARTE 5
O RESULTADO
O Resultado é o Corpo da Perfeita Iluminação.
CAPÍTULO 20
Perfeita Iluminação
Assim, o estado búdico perfeito dos três kayas é alcançado, passando completamente por
todos os caminhos e bhumis. A Lâmpada para o Caminho da Iluminação afirma:
A) Purificação perfeita e
B) Sabedoria primordial perfeita.
Tanto os sutras quanto os shastras afirmam que um buda possui sabedoria primordial. O
Sutra Condensado da Perfeição da Sabedoria afirma:
Existem muitos outros sutras que explicam a sabedoria primordial. De acordo com os
shastras, o Ornamento dos Sutras Mahayana afirma:
E:
Outros shastras também explicam sobre a sabedoria primordial de um buda. Aqueles que
afirmam que um buda possui sabedoria primordial se baseiam nesses textos.
1) A primeira, “Ver a realidade tal como ela é”, significa compreender o significado último.
Conforme mencionado anteriormente, ao aperfeiçoar a talidade completa durante a absorção vajra,
é alcançada a liberação completa dos objetos através da qual todos os pensamentos grosseiros são
pacificados. Desta forma, o sabor único da ausência de elaborações, o darmadatu e a sabedoria
primordial são alcançados. Por exemplo, é como misturar duas águas ou duas manteigas em uma
só. É como dizer: “eu vi o espaço”, quando não há formas a serem vistas. A grande sabedoria
primordial livre de aparências é a base para todas as qualidades preciosas. Assim se diz:
Por exemplo, assim como uma água é misturada com outra ou como duas
manteigas são fundidas em uma, a sabedoria primordial inseparável é unificada
E:
De que forma isto é visto e conhecido? Não é como enxergar os fenômenos como se fossem
reais; eles são vistos e compreendidos como ilusão. O Sutra da Realização do Darmadatu diz:
O mágico manifesta a mágica, e porque ele entende isto como mágica, não fica
confuso sobre isto. Você enxerga todos os seres desta forma. Prostro-me e louvo o
Onisciente!
Alguns dizem que o Buda perfeito e completo possui a compreensão do significado último,
que é a sabedoria de ver a realidade tal como ela é, mas que não possui a sabedoria do estado
convencional, que é a sabedoria primordial da onisciência. Não é que o Buda não esteja consciente
de algo que pode ser conhecido mas, na verdade, não existe o nível convencional e, portanto, a
sabedoria primordial de conhecê-lo não existe.
Além disso, eles argumentam que o convencional surge de forma subjetiva para os seres
comuns, infantis, que surgem pela ignorância das emoções aflitivas, e para os três Seres Nobres,
que surgem pela ignorância livre de aflições. Por exemplo, estas percepções são como as de pessoas
com catarata, que veem cabelos caindo e imagens embaralhadas. O Buda purificou completamente
a ignorância durante sua absorção vajra e compreendeu o significado da talidade, um estado no
qual não há fenômenos a serem vistos. Portanto, o Buda não possui este estado convencional
confuso; como, por exemplo, alguém que se curou da catarata não enxerga mais cabelos caindo ou
imagens embaralhadas.
Assim, o estado convencional surge pelo poder da ignorância e existe apenas em relação ao
mundano. No estado da iluminação o convencional não existe, e assim não há como existir uma
sabedoria primordial que o apreenda.
Se o Buda tivesse cognição das aparências, então ele estaria vendo os objetos da delusão e
ficaria, ele mesmo, confuso. Isto contradiz a permanência do Sábio no estado de absorção e assim
por diante. O Sutra da Nobre e Profunda Representação afirma:
Aqueles que acreditam no argumento anterior, de que o Buda possui sabedoria sobre o
estado convencional, dizem que a mente não se tornará dispersa apenas por se encontrar em um
estado pós-meditativo; e assim, não há contradição com a citação de ele sempre se encontrar em
absorção e assim por diante. Não é correto presumir que ele ficará confuso apenas por apreender o
objeto da confusão. Mesmo compreendendo todos os objetos de confusão conhecidos pelos outros –
esta mente, que conhece toda a confusão e mostra que ela é a causa do estado temporário e mostra a
liberação da iluminação para todos os seres sencientes – como ela poderia ficar confusa? Portanto,
assim se diz:
Outros dizem que não há uma falha lógica em trazer um objeto convencional à mente sem
fixar-se a ele como real. Mesmo o Buda projetando o objeto, ele não se confunde com ele.
Portanto, aqueles que sustentam o argumento anterior de que o Buda possui sabedoria do
estado convencional acreditam que ele possui sabedoria primordial pós-meditativa, que é chamada
de “todo-conhecedora”. Assim se diz:
A outra opinião, de que o Buda não possui sabedoria primordial pós-meditativa, é expressa
no Sutra da Vasta e Nobre Porta da Realização:
O Tatágata não atinge nada após alcançar a iluminação direta e completa. Isto é
assim porque não há objetos a serem apreendidos.
Alguns hereges dizem que a liberação é um lugar aonde devemos chegar. Ao atingir
o estado completamente pacífico nada resta, como um fogo que foi apagado.
Posição Kadampa.
Posição de Milarepa.
A posição de Jetsun Mila em relação à sabedoria primordial: ele disse que esta sabedoria não
fabricada está além das palavras e dos pensamentos conceituais, tais como existência e não
existência, eternalismo ou niilismo, e assim por diante. Ela não será contradita independente do
nome que se use para expressá-la. A sabedoria primordial também é assim. Aqueles que são vistos
como eruditos – mesmo se eles perguntassem ao próprio Buda – não acredito que ele diria que é de
uma forma ou de outra. O darmakaya está além dos conceitos, é não nascido, livre de elaborações.
“Não me pergunte, apenas olhe para sua própria mente”. Isto indica que não há uma opinião em
especial no sistema de Milarepa.
II. Significado do Nome. Por que alguém é chamado de “Buda”? Aquele que despertou
completamente (Tib. sang) da ignorância, como se saísse de um sono, e fez com que florescesse
completamente (Tib. gye) a sabedoria discriminativa dos dois conhecimentos, é chamado de Buda
(Tib. sangye). Assim é dito:
Algumas escrituras mencionam duas formas, ou mesmo quatro ou cinco. Apesar de elas
afirmarem assim, todas as formas estão incluídas nestas três. O Ornamento dos Sutras Mahayana
menciona:
Deve-se compreender que todas as formas de um buda estão incluídas nestas três.
Assim, os dois corpos da forma surgem através da combinação destas três forças.
1) Igualdade,
2) profundidade,
3) permanência,
4) unicidade,
5) perfeição,
6) pureza,
7) radiância e
8) relação com o desfrutar.
1) Séquito,
2) campo,
3) forma,
4) marcas,
5) Darma,
6) atividades,
7) espontaneidade e
8) naturalmente não existente.
1) Séquito: o séquito que acompanha este corpo são os bodisatvas que residem em todos os
bhumis.
2) Campo de desfrute: o campo no qual o desfrute é experienciado é o campo búdico
completamente puro.
3) Forma de desfrute: é o corpo de desfrute do Buda Vairocana e assim por diante.
4) Marcas: as marcas possuídas são as trinta e duas maiores3 e as oitenta menores4.
5) Desfrute total do Darma: o desfrutar completo do Darma é o ensinamento Mahayana
completo.
6) Atividades: as atividades são profetizar a iluminação dos bodisatvas e assim por diante.
7) Espontaneidade: todas as suas atividades são livres de esforço; como a joia suprema elas
se manifestam espontaneamente.
8) Naturalmente não existente: mesmo se manifestando de diversas formas, na verdade ele é
da cor do cristal, livre da natureza de toda diversidade.
Sambogakaya do sábio.
1) Base,
2) causa,
3) campo,
4) tempo,
5) natureza,
6) engajamento,
7) amadurecimento e
8) liberação.
Esse corpo de emanação dos budas é um grande método para a liberação completa,
manifestando-se consistentemente através de artistas, nascimento, grande
iluminação e parinirvana.
Esta forma faz com que os seres entrem no caminho do nirvana e amadureçam
completamente.
A) Igualdade,
B) permanência e
C) surgimento.
Eles são permanentes por sua natureza, pela continuidade incessante e pela
continuidade de suas ações.
PARTE 6
AS ATIVIDADES
As Atividades São o Benefício dos Seres Sencientes
sem Pensamentos Conceituais.
CAPÍTULO 21
As Atividades do Buda
Beneficiar os seres sencientes sem pensamentos conceituais através do corpo, fala ou mente
é explicado através de exemplos do Tantra Insuperável:
diante. Ao vê-lo, eles desenvolvem devoção e motivação e, para alcançar a iluminação, engajam-se
nas suas causas - o cultivo da bodicita e assim por diante - e, finalmente, a atingem. O surgimento
deste corpo não apresenta pensamentos conceituais ou movimento. Assim se diz:
II. Atividades da Fala. "Como o tambor dos deuses". Esta é uma comparação para mostrar
como a fala beneficia os seres sencientes sem pensamentos conceituais. Por exemplo, acima do
palácio dos deuses vitoriosos existe o tambor dos deuses, que é chamado "Sustentando o Poder do
Darma". Ele se manifesta pelo poder das ações virtuosas passadas dos deuses. Sem pensamentos
conceituais, este tambor relembra os deuses descuidados, soando o Darma de que: todos os
fenômenos compostos são impermanentes, todos os fenômenos são destituídos de identidades,
todos os estados aflitos possuem a natureza do sofrimento e a cessação completa é a paz. Assim se
diz:
Da mesma forma, mesmo não havendo esforço ou pensamento conceitual, a fala do Buda
manifesta os ensinamentos de acordo com as disposições dos seres afortunados. Assim se diz:
Desta forma, o darmakaya que tudo permeia é livre de esforços e assim por diante.
Porém, a fala do Buda permeia todos os seres sem exceção,
Ensinando a nobre doutrina para aqueles de boa fortuna.
III. Atividades da Mente. "Como uma nuvem". Esta é uma comparação para mostrar
como a mente de sabedoria beneficia os seres sencientes sem pensamentos conceituais. Por
exemplo, no verão, as nuvens se reúnem no céu sem esforço, fazendo com que as plantações e
outros cresçam perfeitamente com a chuva que cai sobre o solo, sem pensamentos conceituais.
Assim se diz:
"Como Brahma". Por exemplo, mesmo sem se mover de seu palácio, Brahma, rei dos deuses,
pode ser visto em todos os reinos dos deuses. Da mesma forma, o Buda, mesmo não se movendo do
darmakaya, beneficia todos os praticantes manifestando os doze feitos e assim por diante. Assim se
diz:
"Como o sol". Por exemplo, a luz radiante do sol faz com que floresçam os lótus e outros –
uma diversidade infinita de flores - em um instante, sem pensamentos conceituais. Da mesma
forma, a luz radiante do Darma faz com que floresçam os lótus virtuosos das mentes de infinitas
famílias e as disposições dos praticantes, sem pensamentos conceituais e sem esforços. Assim se
diz:
Devido a isto,
A reflexão infinita do sol do Sugata
Manifesta-se em todos os recipientes
Dos praticantes puros, simultaneamente.
"Como uma joia que realiza desejos". Por exemplo, mesmo a joia que realiza desejos não
apresentando pensamentos conceituais, ela manifestará o que quer que seja necessário se rezarmos
para ela. Da mesma forma, apoiar-se no Buda realiza todos os propósitos associados aos diversos
desejos dos Ouvintes e assim por diante. Assim se diz:
Uma joia que realiza desejos, apesar de estar livre de pensamentos, satisfaz
simultaneamente todos os desejos daqueles que estão em seu raio de atividade. Da
mesma forma, apesar de aqueles com diversas aspirações receberem muitos
ensinamentos ao confiarem no Buda, que realiza seus desejos, mesmo assim o Buda
não precisa concebê-los.
Da mesma forma, o alaúde, o espaço e a terra são comparações sobre como beneficiar os
seres sencientes sem pensamentos conceituais.
O Ornamento da Preciosa Liberação, a Joia que Realiza Desejos dos Nobres Ensinamentos,
uma explicação sobre os estágios do caminho do veículo Mahayana, foi composto pelo
médico Sonam Rinchen a pedido do Bhante Dharmakyab. Dharmakyab atuou como
escriba.
A joia que realiza desejos do precioso Darma se manifesta para o benefício dos seres
sencientes sem pensamentos conceituais. Pelo mérito de sua transcrição, possam todos os
seres sencientes atingir a suprema iluminação!
Apêndices
APÊNDICE A:
Apesar de a história da vida do Senhor do Darma Gampopa já ter sido traduzida em diversos livros, um breve
relato sobre a vida do autor foi incluído aqui, para plantar a semente da devoção naqueles que desejam se
liberar do samsara.
SEÇÃO 1:
De modo geral, a história de sua vida e liberação é profunda como o oceano e vasta como o
espaço. Apenas um buda poderia relatá-la completamente.
Neste tempo dos preciosos ensinamentos do quarto Buda, Sakiamuni, incontáveis grandes
eruditos e professores realizados surgiram neste mundo como as contas de um mala de pérolas.
Entre eles, o Senhor do Darma Gampopa, que está iluminado desde um tempo imemorável, é
como o Monte Meru, cuja fundação é a essência das quatro joias preciosas. Apesar disso, ele se
manifestou do darmakaya imutável para beneficiar e liberar aqueles seres sencientes que estão
obscurecidos pela ignorância; que vagam neste reino inóspito, experimentando o sofrimento dos
quatro rios do nascimento, velhice, doença e morte; escravizados e torturados pela besta selvagem
das emoções aflitivas do desejo, ódio etc. Como disse o Senhor Phagmo Drupa:
Como é mencionado, o Senhor do Darma Gampopa nasceu pela primeira vez incontáveis
kalpas atrás, durante a época do Buda Padmey Dawa, como o bodisatva Mentok Dazey. A história
detalhada sobre ele é contada no Sutra Rei da Absorção Meditativa, que faz parte do Kangyur. Para
aqueles que estiverem interessados, o capítulo 36 deste sutra é intitulado Mentok Dazey. Segue-se
um breve relato extraído desta fonte.
Certa vez, durante o período de declínio dos ensinamentos do Buda Padmey Dawa, 7.000
bodisatvas foram expulsos de um reino. Eles foram para a floresta da Bondade Absoluta, e lá
permaneceram com o bodisatva Mentok Dazey. Incontáveis seres sencientes foram estabelecidos
no estado de não retorno. O rei daquele país era Pawey Jin, que possuía 84.000 rainhas, 1.000 filhos
príncipes e 500 filhas princesas, todos vivendo em meio a grande riqueza e prazeres. Mentok
Dazey se encontrava absorto em um estado meditativo. Com seu olho clarividente ele percebeu
que havia muitos bodisatvas renascidos naquele reino. Ele sabia que se eles ouvissem os preciosos
ensinamentos poderiam alcançar o estado de não retorno, mas se não ouvissem, poderiam cair em
reinos inferiores. Assim, ele se levantou de sua concentração meditativa e disse a todos os
bodisatvas: “Eu irei às vilas, cidades e reinos oferecer ensinamentos para beneficiar os seres”.
Eles responderam: “Existem muitas pessoas más e descontroladas que podem prejudicá-
lo”, e suplicaram para que ele não fosse.
Mentok Dazey disse: “Se você apenas se proteger dos obstáculos, como poderá preservar os
ensinamentos do Buda e beneficiar todos os seres sencientes?” Com isto, ele prosseguiu para o
palácio e ofereceu ensinamentos para as rainhas, príncipes, princesas e muitas outras pessoas por
sete dias sem parar para comer ou beber. Pelo seu esforço, a semente para a realização da
iluminação foi plantada em incontáveis seres. Todos nas proximidades se tornaram
completamente devotos a ele.
O rei Paway Jin percebeu esta situação e ficou com ciúme, pensando: “Talvez este monge
tome meu reino!” Assim, o rei ordenou ao açougueiro Gache, que não possuía senso de virtude ou
não virtude, para assassiná-lo, dizendo: “Eu te darei uma grande recompensa.” Gache tomou sua
espada, caminhou em meio à assembleia e cortou os membros do corpo do bodisatva Mentok
Dazey.
Luz irradiou-se de seu corpo e, em vez de sangue, jorrou um fluxo de leite. Após sua morte,
seu corpo assumiu uma cor dourada e estava marcado com todos os sinais auspiciosos. Então o rei
pensou: “Ai de mim! Este monge estava no estado de não retorno da iluminação! Eu cometi tal
crime hediondo! É certo que cairei nos infernos como resultado.”
Ao mesmo tempo, os deuses nos céus confirmaram isto, falando desta forma: “Sim, você o
fez e isto acontecerá.” O rei estava aterrorizado e caiu no chão em grande lamentação. Os deuses
estavam tristes e diziam:
Novamente ele disse: “Ananda, esse monge médico fará com que meus ensinamentos
floresçam amplamente. Não se entristeça e não lamente.”
O grande tradutor Marpa disse a Milarepa:
Assim foi profetizada a vinda do Senhor do Darma Gampopa, todos seus discípulos e sua
linhagem.
Vajrayogini também disse a Milarepa que ele reuniria muitos discípulos como o sol, a lua e
as estrelas. Entre eles, Gampopa seria como o sol. Portanto, ele é objeto de oferendas e de refúgio
para todos os seres sencientes, incluindo os deuses.
Gampopa nasceu em Nyal, no sul do Tibete. Sei pai era Nyiwa Gyalpo e sua mãe Nyalsa.
Era o ano do Porco de Terra (1074 D.C.) e o oitavo dia do mês do Vesak. Seu nascimento foi
acompanhado de muitos sinais maravilhosos. Ele teve dois irmãos e era o segundo mais velho. Ele
estudou muitos temas com seu pai, que era um grande estudioso e praticante. Ele se casou aos
vinte e dois anos e teve um filho e uma filha.
Ele estudou as diferentes técnicas de cura com o grande professor indiano Kyeme, o médico
tibetano Bizi e outros – trinta professores no total. Ele se tornou um curador e médico tão famoso,
beneficiando tantos seres sencientes, que era como se o Buda da Medicina tivesse reaparecido.
Tanto seu filho quanto sua filha foram levados, de alguma forma, pela lei da
impermanência. Logo depois, sua esposa foi torturada por uma terrível doença e não pôde se
recuperar de forma alguma. Perto do final, com apego a ele, ela disse: “Não há felicidade na vida
de chefe-de-família. Após minha morte, ó Médico, pratique o Darma com todo seu coração.”
Ele respondeu: “Quer você sobreviva ou morra eu prometo praticar o Darma.”
Lágrimas caíam de seus olhos enquanto ela morria. Este acontecimento levou-o a
desenvolver uma forte renúncia. Ele se tornou monge com o Khenpo Loden Sherab de Mangyul,
assistido por Sherab Nyingbo de Shang Shung e Changchub Sempa de Yide. Aos vinte e seis anos
ele recebeu os votos de ordenação completos e assumiu o nome Sonam Rinchen (Mérito Precioso)1.
Gampopa estudou em detalhes o Vinaya com seu primeiro e segundo professores. Ele
praticou e se tornou o melhor dos monges na observação dos preceitos, como Upali. Com o
Khenpo Loden Sherab de Mangyul ele aprendeu as práticas de Chakrasamvara de acordo com a
tradição de Sangkar. Do grande mestre Changchub Sempa de Yide ele recebeu os votos do
bodisatva e outras instruções. Ele alcançou a realização de ver todas as aparências fenomênicas
como um arco-íris e experimentou o grande pensamento não conceitual, onde não há diferenciação
entre o dia e a noite. Ele podia permanecer em absorção meditativa por sete dias seguidos. Quando
encontrou o Geshe Drewa, Geshe-la perguntou: “Você tem uma boa absorção meditativa?”
Gampopa respondeu: “Minha absorção meditativa não é diferente de uma caminhada em um
campo tranquilo e agradável. Eu não tenho dificuldades em sustentar os estados de bem-
aventurança, clareza ou pensamento não conceitual simplesmente posicionando meu corpo.”
Além disso, ele estudou a disciplina monástica, bem como o caminho da perfeição e outros.
Ele recebeu muitas outras iniciações, ensinamentos tântricos e outras instruções do Geshe Jya-
dulzin. Então ele foi ao Geshe Nyukrum e estudou o Lam-rim referente às três pessoas. Gampopa
estudou em grandes detalhes e se tornou como um farol da escola Kadampa. Da mesma forma, ele
recebeu ensinamentos dos Geshes Chakriwa, Gyayondak e outros, e se engajou na prática da
mente unifocada.
Nessa época aparecia para ele em sonhos e durante sua experiência comum um iogue alto
de cor azulada, vestindo uma roupa de algodão amarrada em seu ombro e carregando um cajado.
Essa figura colocava sua mão sobre a cabeça de Gampopa, então assoprava sobre ela e desaparecia.
A meditação de Gampopa se desenvolveu ainda mais. Ele mencionou isto a outro monge que
disse: “Você é um monge de moralidade muito pura. O surgimento de tal iogue é um obstáculo
criado por Pekar (um protetor do Darma). Você faria melhor em meditar sobre Miyowa.”
Gampopa praticou como instruído, mas o iogue visitante apareceu ainda mais frequentemente.
Enquanto isso, Milarepa, o Senhor dos Iogues, que alcançou o estado de Vajradhara em
uma única vida, estava em Pho Tho (Caverna da Rocha Vermelha), oferecendo ensinamentos aos
seus discípulos – iogues e ioguines, incluindo Rechungpa e outros. Os discípulos mais velhos
disseram a ele: “Agora você está envelhecendo. Caso parta para outro campo búdico e precise de
um regente, por favor, aponte aquele em quem você confia e dê a ele os ensinamentos completos.
Senão não haverá ninguém que possa guiar os discípulos.”
Milarepa disse: “Eu sou um iogue. Não haverá um regente para mim. Mas haverá um
discípulo que é capaz de realizar todas as minhas atividades. Hoje à noite verei onde ele está.
Voltem amanhã de manhã cedo.”
Na manhã seguinte, todos os seus discípulos se reuniram ansiosamente e Milarepa disse:
“Logo chegará aquele que é chamado de ‘Médico’, e que é um monge na tradição do Vinaya. Ele
receberá meus ensinamentos completos como se fosse transferido o conteúdo de um vaso para
outro. Este é capaz de realizar atividades em todas as dez direções. Na noite passada, em meu
sonho, ele veio com um vaso de cristal vazio e eu derramei toda a ambrosia de meu vaso prateado
no dele.”
Ele continuou: “Nasce um filho e o pai já está velho. Haverá um grande ser para disseminar
o Darma como o sol nascente e ele beneficiará incontáveis seres sencientes.” Então cantou esta
canção:
qualquer outra pessoa. É melhor aspirar ser como Milarepa, o Senhor dos Iogues. Ele não precisa
de roupas e quando não há comida as dakinis lhe trazem ambrosia. Ele pode montar o leão das
neves e não teme o nascimento ou a morte.”
Ao ouvir isso, Gampopa desenvolveu espontaneamente tal devoção por Milarepa que
lágrimas vieram aos seus olhos. Por um longo tempo ele não conseguiu nem mesmo andar.
Finalmente, ele voltou ao seu quarto e começou a recitar a prece de sete ramos, que era sua prática
principal nessa época. Mas ele era interrompido frequentemente e pensou: “O que está
acontecendo?” Assim, ele meditou em permanência serena e teve uma experiência de clareza e
vacuidade maiores do que nunca.
Mais tarde ele convidou os três mendigos ao seu quarto e lhes ofereceu um belo prato de
vegetais. Ele perguntou sobre o paradeiro do grande iogue sobre o qual eles tinham estado
conversando e fez muitas outras perguntas. Um dos mendigos disse: “Ele está em Gungthang em
Mangyul. Apesar de eu não o ter visto por mim mesmo, muitas pessoas vão para lá para vê-lo,
mas muitos não o encontram. Alguns veem uma estupa de cristal, alguns o veem como o Buda
Sakiamuni. Ele se manifesta de muitas diferentes formas. Na maior parte do tempo ele permanece
nas montanhas de Drin e Nyeman.”
Gampopa disse: “Eu gostaria de ir até lá. Vocês podem me acompanhar?”
Eles disseram: “Você parece jovem, nós não seríamos capazes de acompanhá-lo. Se for para
a região oeste do Tibete, você o encontrará. Ele é celebrado e muito conhecido por lá.” No dia
seguinte os mendigos desapareceram, eles deviam ser uma manifestação do próprio Milarepa,
inspirando-o a encontrar o lama4. Já tomado por sua devoção anterior, agora Gampopa gerou uma
devoção incomparável e decidiu que tinha que ir. Ele pediu permissão aos lamas Kadampa. Ele
juntou quatro onças de ouro e algum chá vendendo suas propriedades. Assim, ele iniciou a
jornada com um amigo.
Quando chegaram a Gurmo, seu amigo não pôde prosseguir. Então ele encontrou seu
caminho pedindo orientações a diversas pessoas. Em certo momento ele encontrou um mercador
de nome Dasang de Nyeman que disse: “Milarepa, o Senhor dos Iogues, cuja renomada realização
espalha-se por todo o Tibete, encontra-se em Chuwar nesta época.” Gampopa se sentiu como se
tivesse encontrado o próprio Milarepa. Tomado por alegria ele abraçou, com lágrimas, o mercador,
e recebeu orientações detalhadas.
Quando Gampopa chegou a Dingri, ele ficou doente devido a uma desordem na sua
energia do ar e quase morreu. Ele permaneceu lá por muitos dias sem nem mesmo tomar água.
Durante esse período ele olhava para a direção onde Milarepa estava e lhe suplicava.
Nessa época, Milarepa estava ensinando seus discípulos em Tashi Gang. Às vezes, ele
parava para meditar e começava a sorrir. Os alunos perguntavam a Milarepa: “Você vê alguma
realização especial na mente de um discípulo afortunado? Ou você vê alguma falha na mente de
um discípulo infeliz?”
Milarepa disse: “Não vejo nenhum dos dois.”
Eles perguntaram novamente, dizendo: “Então qual é a razão para o seu comportamento?”
Milarepa respondeu: “Meu filho, o professor do Tibete central chegou a Dingri. Ele sente
dor em todo seu corpo. Ele está suplicando ao lama com lágrimas nos olhos. Pelo poder de sua
devoção surgiu compaixão em mim e eu o abençoei em minha meditação. Eu fiquei feliz, e por isso
sorri.” Lágrimas também escorriam dos olhos de Milarepa.
Finalmente, Gampopa encontrou Milarepa em Tashi Gang, e fez oferendas de chá, ouro e
outras coisas, prostrando-se muitas vezes. Juntando suas mãos no coração ele disse: “Atravessei
uma longa distância, enfrentei muitas dificuldades, sempre ansiando pelos preciosos
ensinamentos. Por favor, aceite-me como discípulo.”
Milarepa disse: “Eu tenho alguns discípulos que vieram até mesmo da Índia, que é muito
mais distante do que o lugar de onde você veio.” Ele ofereceu a Gampopa o resto do néctar de sua
kapala e lhe disse para bebê-lo. De início, Gampopa hesitou em aceitar, por ser um monge e estar
diante de tantas pessoas ali. Milarepa disse: “Não seja indulgente, com um monte de pensamentos,
apenas beba.” Gampopa, com medo de cometer algum erro, bebeu tudo. Este foi um sinal
auspicioso de que ele era um vaso apropriado e que receberia todos os ensinamentos.
Milarepa perguntou: “Qual é o seu nome?”
Ele respondeu: “Sonam Rinchen.”
Milarepa disse: “Mérito (Tib. sonam) se refere à reunião da grande acumulação. Precioso
(Tib. rinchen) significa que você é precioso para todos os seres sencientes.” Ele repetiu isto três
vezes. Gampopa, então, pediu-lhe para contar sobre sua vida e liberação. Milarepa disse: “É
maravilhoso que você tenha vindo até aqui por devoção a mim, mas eu não quero seu ouro ou chá.
Use-os como provisões para a sua própria meditação. Esta é a canção de minha vida e liberação:”
“As iniciações e ensinamentos que você recebeu anteriormente não são insuficientes, mas
para que seja auspicioso e pela glória da interdependência, eu lhe darei as iniciações.” Usando a
mandala de Sindhura6, Milarepa procedeu com todas as iniciações e transmitiu todas as bênçãos
da Linhagem Oral. Gradualmente, passo a passo, ele passou alegremente todos os ensinamentos e
instruções profundos. Gampopa praticou a meditação por um ano e realizou todas as qualidades
das energias dos canais e dos ventos, alcançando a certeza sobre as instruções do lama.
Muitos pensamentos sobre os ensinamentos de seus lamas anteriores surgiram, e ele os
discutiu em detalhes com Milarepa. Milarepa esclareceu todas as suas dúvidas e hesitações. “Veja,
professor médico, não corra atrás da visão, mas siga a prática de meditação. Existem muitas
formas de se perder na prática da vacuidade, também é possível se enganar sobre as próprias
experiências.” Milarepa disse isto e continuou com os detalhes. Então ele cantou esta canção.
Então Gampopa pensou: “Isto tudo é verdade”, e fez um esforço ainda maior em sua
prática de meditação.
Certa vez, ele sonhou com vinte e quatro diferentes presságios que ele relatou a Milarepa7,
o qual explicou todos os detalhes em uma canção e disse: “Meu filho, médico-Tonpa, os sinais que
você recebeu são previsões sobre sua futura linhagem. Guarde em sua mente os detalhes do seu
significado como eu expliquei sem esquecimento, e seja uma testemunha se eles estão corretos ou
não: você alcançará a realização direta da natureza livre de confusões de sua mente. Nesse
momento, sua mente desenvolverá uma grande devoção, maior ainda do que agora, e você me
enxergará como o Buda Vajradhara. Você estará livre de nascimento e morte ainda nesta vida.”
“De modo geral, se você deseja ser um meditante perfeito, não se apegue a sinais como
sonhos e outras experiências, senão Mara poderá segui-lo.”
“Não dê ouvidos ao que os outros dizem, exceto pelas instruções do lama e suas próprias
decisões definitivas. Agir de outra forma apenas fará com que sua mente encontre obstáculos.
Ofereça suas três portas ao lama.”
“Siga as instruções do lama sem deixar sua mente vaguear nesta ou na próxima vida. Se
agir de forma contrária, há o perigo de experimentar a primeira falha-raiz do mantra secreto, que
destrói a raiz da felicidade nesta e nas vidas futuras.”
“Não julgue as falhas dos amigos no Darma. Não seja artificial e não tenha pensamentos
negativos; isto pode gerar uma falha-raiz por não compreender as mentes dos outros.” E assim por
diante, Milarepa deu muitas instruções essenciais detalhadas.
Então ele disse: “Você não precisa permanecer aqui. Vá para um lugar ao leste, uma
montanha chamada Gampo. Ela parece com um rei sentado em seu trono, e o pico da montanha é
como o meu chapéu. Seu campo é como uma mandala dourada. A frente da montanha é como um
monte de joias preciosas. A parte de trás é como seda branca costurada. As sete montanhas à frente
são como ministros fazendo prostrações. Vá para lá e você reunirá muitos alunos.” E assim
Milarepa cantou esta canção:
O seu nome agora é Bhikshu Vajradhrik Jambudipakirti9. Dito isto, Milarepa lhe concedeu
todas as iniciações completas, as bênçãos dos ensinamentos e das instruções essenciais, até mesmo
a torma das dakinis e dos protetores do Darma. “Filho, você beneficiará muitos seres sencientes.
Quando você chegou, ocorreram muitos sinais maravilhosos. Enquanto você esteve aqui, nós
competimos e você sempre esteve à frente. Eu sonhei que você beneficiará ainda mais seres do que
eu.” E assim o lama se despediu dele.
Eles caminharam por uma certa distância. Quando se aproximaram de uma ponte Milarepa
disse: “Por certas razões não cruzarei esta ponte. Coloque no chão sua carga e teremos uma última
conversa.” Milarepa lhe deu uma arura10 dourada abençoada e fósforos metálicos como presente
de despedida. “Quando passei por momentos difíceis buscando a realização, eu me beneficiei
muito desta instrução. Talvez você possa encontrar dificuldades, ocasionalmente, com as
oscilações de sua prática de meditação. Assim, estas instruções podem ser úteis.” Então ele deu a
Gampopa as instruções sobre a natureza não dual da mente e sobre a energia do ar do
Mahamudra.
“De modo geral, você será um meditante perfeito. Evite a arrogância da linhagem de sua
família. Corte as amarras aos parentes e amigos e se afaste das atividades mundanas. Seja um filho
das montanhas. Unifique todos os Darmas e pratique. Suplique a este velho pai. Além disso, não se
deixe acompanhar por pessoas que corporificam fortemente os três venenos, pois elas podem
influenciá-lo. Seja cauteloso e atento como um animal selvagem ferido ou um pássaro. Seja pacífico
e controlado. Você deve ter grande paciência e ser harmonioso com todos. Mantenha-se limpo e
arrumado. Tenha poucos pensamentos. Passe o tempo de seu retiro em silêncio com a porta selada.
Enquanto estiver nas montanhas não deixe sua mente se dispersar com comida, bebida e rituais.”
“Não abandone seu mestre vajra, mesmo que compreenda que sua mente é como o Buda.
Reúna pequenas acumulações, mesmo que tenha aperfeiçoado as práticas de acumulação e
purificação. Seja cuidadoso até mesmo com as pequenas não virtudes, mesmo que você
compreenda que a natureza do carma e do resultado é como o espaço. Pratique a Guru Ioga em
quatro sessões, mesmo que você compreenda a inseparabilidade entre o equilíbrio meditativo e o
estado pós-meditativo. Não calunie o Darma ou qualquer outra pessoa, mesmo que você
compreenda a natureza da equanimidade entre você e os outros. Filho, tente retornar antes do
décimo quarto dia do mês do cavalo do ano da lebre.” Então ele cantou esta canção:
O Tonpa do Tibete central, Gampopa, prostrou-se aos pés de Milarepa com lágrimas nos
olhos. Milarepa disse: “Eu lhe darei as quatro iniciações de uma só vez, e dê-se por satisfeito.”
Assim, a iniciação da deidade foi concedida ao seu corpo, e seu corpo foi abençoado pela mandala
da deidade. A iniciação do mantra abençoou sua fala, e ele recebeu a bênção da fala como mantra.
A iniciação do Darma abençoou sua mente e introduziu a mente não nascida como o darmakaya.
Milarepa colocou seus pés na coroa da cabeça de Gampopa e o iniciou nas qualidades infinitas do
Vajracharya. E assim foi transmitida a iniciação do samadhi. “Agora, eu tenho mais uma instrução
essencial profunda, mas não ouso dá-la. Assim, por favor, vá!”
Milarepa ficou para trás enquanto Gampopa cruzava a ponte e já se ia a alguma distância.
Então, quando ele mal conseguia ouvi-lo, Milarepa o chamou de volta. Milarepa disse: “A
instrução que eu não ouso dar – se não a der a você, então a quem seria?” Gampopa ficou muito
feliz e perguntou: “Devo fazer uma oferenda de mandala?”
Milarepa disse: “Não, não é necessário fazer uma oferenda de mandala, mas não
desperdice esta instrução.” Milarepa levantou a parte de trás de sua roupa e mostrou suas
nádegas, cheias de calos. “Entre todas as instruções essenciais, não há nenhuma mais profunda
que a prática de meditação. Eu meditei persistentemente até que minhas nádegas ficaram assim e
alcancei grandes qualidades. Você também deve praticar meditação com perseverança.” Isto
impressionou Gampopa profundamente. Então, como o lama havia previsto, ele foi para o Tibete
central.
Milarepa reuniu seus discípulos e disse: “Este médico-Tonpa beneficiará muitos seres
sencientes. Na noite passada, em meu sonho, um abutre voou de mim até o Tibete central e pousou
no topo de uma grande montanha. Gansos dourados lá se reuniram vindo de todas as direções.
Após um instante, os gansos partiram e cada ganso reuniu 500 mais. Finalmente, todo o país
estava preenchido por gansos. Eu vivo como um iogue, mas minha linhagem terá muitos
seguidores monges. Este médico beneficiará incontáveis seres sencientes. Eu contribuí
grandemente para os ensinamentos do Buda.” E assim, ele ficou satisfeito.
Gampopa foi para o Tibete central onde encontrou novamente seus lamas Kadampa. Eles se
engajaram em muitas discussões e Gampopa acabou focado em práticas rituais. Mas ele não estava
obtendo progresso em sua meditação, não experimentou o calor e os sinais da absorção meditativa
como antes. Então, Gampopa se desesperou e suplicou a Jetsun Mila unifocadamente. Como um
relâmpago, ele experimentou o surgimento de Milarepa diante dele. Naquele momento, ele
realizou a natureza completa do modo de permanência do Mahamudra. Ele cantou esta canção:
Gampopa atou um mala de sementes bodhi de 121 contas ao tronco de uma árvore e disse:
“Se todos os budas dos três tempos profetizaram a minha existência, este mala brotará desta
árvore viva.” Dito isto, ramos e folhas verdes nasceram. Nesse momento ele disse: “A natureza não
nascida da mente não existe sob qualquer forma. Ela pode claramente se manifestar de todas as
formas, qualquer coisa é possível. Que maravilhoso é isto!” E ele cantou assim:
Gampopa foi a Wolkha, Nyang Gom, Sangrirepa e assim por diante, e estabeleceu muitos
discípulos no amadurecimento e na liberação quando, então, cantou esta canção:
Após isto, Gampopa permaneceu em meditação por um longo tempo e deu ensinamentos a
muitos discípulos. Como Milarepa tinha previsto, a deidade local Wote Gong Gyal o relembrou de
ir para Daklha Gampo, onde ele pretendia permanecer em retiro em uma caverna com as portas
seladas por doze anos. Mas uma dakini falou com ele da seguinte forma:
Quando Gampopa falou desta forma, Lok Kya Tonpa compreendeu totalmente o
significado e praticou sinceramente com grande devoção. Mais tarde, ele se tornou um iogue
bastante conhecido.
Com o tempo, Gampopa reuniu incontáveis discípulos do Tibete central, do sudoeste e do
leste. Eles eram vasos adequados, incluindo 500 bodisatvas que atingiram níveis elevados como o
mestre Khyung Tsang Chen, os três sidas de Kham e assim por diante. A maior parte deles
alcançou a confiança nas práticas dos canais e energias, possuía o olho sobrenatural da
clarividência e seguia os doze treinamentos da vida ascética12. Eles passavam seu tempo em um
lugar sagrado por trás de portas seladas. Desta forma, todo o país foi preenchido por grandes
mestres.
que tinham se reunido, vindo de todos os lugares do Tibete. Ele não foi a lugar algum.” Então, seu
assistente Salgyang disse: “Durante os três meses do inverno o precioso lama permaneceu em
retiro em seu quarto. Ele não deu ensinamentos, permanecendo em jejum e em silêncio.” Assim,
ele tinha se manifestado em quatro lugares ao mesmo tempo.
Certa vez, o discípulo Legze perguntou: “No passado, os Ouvintes e outros foram capazes
de realizar a absorção meditativa chamada de exaustão e supressão. Por que não mais agora?”
Gampopa respondeu: “Porque você ainda não treinou sua mente o bastante.” Na manhã seguinte,
Legze foi oferecer iogurte ao lama, mas o que ele viu na cama de Gampopa foi uma grande
fogueira que tocava o teto. Ele ficou tão apavorado que saiu correndo e contou para Salgyang. Os
dois voltaram rapidamente para o quarto. Não havia fogo algum, apenas o Senhor do Darma
sentado em seu trono. Desta forma, ele demonstrou a realização da absorção meditativa chamada
de exaustão e supressão dos cinco elementos.
Em outras ocasiões, muitos discípulos testemunharam que, ao sol do dia e à luz da noite,
Gampopa não produzia sombra.
Uma vez o meditante Loten veio para fazer uma oferenda de papel. O assistente de
Gampopa permitiu que ele fizesse a oferenda pessoalmente. Ele voltou e perguntou: “Quem fez
aquela estátua de Chenrezig de Mil Braços? É tão bela e maravilhosa! E onde se encontra o lama?”
Quando o assistente o levou novamente para o quarto não havia estátua, apenas o lama.
Outra vez o mestre Gomtsul disse: “Que surpreendente! O bodisatva que atinge os níveis
superiores pode revelar todos os 3000 universos na menor semente de mostarda. A semente de
mostarda não é menor que os 3000 universos e os 3000 universos não são maiores do que ela.”
Gampopa disse: “Este é o modo natural da talidade do Darma. Qualquer coisa é possível
no estado convencional. Um corpo inteiro pode ser refletido em dois pequenos olhos. Um espelho
de quatro polegadas pode refletir os corpos completos de elefantes e cavalos. Uma pequena poça
pode refletir a lua e o céu.” Ele disse: “Olhe para mim!” Gampopa tinha se transformado no corpo
do Buda maior do que a montanha Gampo, enquanto permanecia em seu quarto, que era capaz de
acomodar cinco pessoas.
Gampopa disse: “Quando estava em Sang Lung13, eu compreendi a forma como os três
kayas se manifestam. Com isso, eu fiquei muito feliz. Antes, quando eu recitava mantras, os
demônios e espíritos podiam me prejudicar. Agora, mesmo que não recite um único mantra, estes
demônios e espíritos não podem chegar até mim. Antes, quando encontrava geshes e eruditos eu
tinha insegurança. Agora, não importa a grandeza do erudito que eu encontre não há insegurança
porque a porta do Darma está aberta.”
Uma vez o discípulo Gargom pediu a Gampopa a transmissão da prática de
Chakrasamvara das treze deidades. Durante a cerimônia, uma corrente de mantras radiantes saiu
de sua boca e se dissolveu em Gargom. Ele desenvolveu grande devoção e enquanto se prostrava
viu Gampopa na forma de Chakrasamvara com quatro faces e doze braços.
Outra vez, a mãe do discípulo Kyogom faleceu. Kyogom fez uma imagem dos budas das
cinco famílias, trouxe-a ao lama e pediu por uma bênção de consagração. Ele disse: “Por favor,
faça-o rapidamente porque o corpo deve ser cremado logo.” Gampopa respondeu: “Sim, está certo.
Queime um incenso e faça uma oferenda de mandala.” Então ele se manifestou na forma do Buda.
De seu ushnisha irradiou luz colorida de arco-íris que se dissolveu nas imagens. O som
surpreendente e maravilhoso de música podia ser ouvido dos céus e caiu uma chuva de flores. Ele
olhou para o céu e disse: “É assim que se faz uma consagração rapidamente.”
Certa vez um pastor entrou na prática de meditação ao apenas ouvir o nome de Gampopa.
Havia um homem chamado Gyalgom Dorje que, apesar de nunca ter visto Gampopa,
experimentou a realização de sua meditação através de oferendas de mandala feitas com devoção.
Outra vez, Nyang Tang e Shergom estavam indo pedir instruções de meditação a
Gampopa. Mas nesse dia eles não conseguiram chegar a Gampo e pararam em uma estação nas
colinas, cheios de devoção. No meio da noite Nyang realizou o Mahamudra, assim como Shergom
na aurora.
Uma mulher leprosa de Wolkha não podia se aproximar devido às feridas em suas pernas e
mãos. Ela olhou para o pico da montanha onde o lama vivia, rezou e suplicou a ele com devoção.
Mais tarde, ela se recuperou de sua doença e foi encontrar o lama. Ela recebeu muitas instruções e
se tornou altamente realizada.
Uma vez, ele estava em pé, vestido com seus três mantos do Darma, enquanto fazia o
mudra do néctar dos polegares unidos. No primeiro dia ele manifestou sete corpos, no segundo ele
apareceu sob quatorze formas, e no terceiro suas formas preenchiam completamente a caverna.
Então, todas as formas se dissolveram em seu corpo novamente.
O Senhor Gampopa demonstrou inconcebíveis manifestações. Aqui, apenas um pequeno
número delas foi contado.
O Senhor Gampopa guiava seus discípulos através do Lam rim, e para os praticantes mais
avançados ele dava instruções sobre o Mahamudra e as Seis Iogas de Naropa. Desta forma, ele
ofereceu incontáveis ensinamentos, vastos e profundos, a muitos grandes discípulos. Essas
coleções podem ser estudadas por qualquer um que tenha interesse. Esse Senhor do Darma, que
era a corporificação da compaixão, possuía habilidade excelente em guiar os discípulos para a
iluminação livre de toda confusão e das causas do sofrimento. Em certas ocasiões, ele ensinava
desta forma:
Instruções sobre essas técnicas de meditação também eram ensinadas tanto através de
meios hábeis quanto através da sabedoria discriminativa:
Mesmo que você realize sua mente como o Buda, não abandone o mestre vajra.
Mesmo que realize todas as aparências como mente, não interrompa a acumulação
de virtudes. Mesmo que não tenha medo de renascer no reino dos infernos,
abstenha-se das não virtudes. Mesmo quando a iluminação for alcançada, não
difame ou abuse do Darma. Mesmo que desenvolva grandes qualidades de absorção
meditativa, não seja orgulhoso. Mesmo que realize a natureza não dual de samsara
e nirvana, permaneça em um local solitário. Mesmo que realize a natureza
inseparável de você mesmo e dos outros, não abandone a prática da grande
compaixão.
Em resumo, o Senhor do Darma possuía grande habilidade ao ensinar. Para aqueles que
eram eruditos ele dava instruções com base na autoridade escritural. Para aqueles que não tinham
estudado ele explicava as instruções diretamente através de exemplos. Qualquer tipo de método
de ensino convencional, fosse uma sessão longa ou curta, acabava levando à iluminação pela
combinação de método e sabedoria. A todos os praticantes sinceros e dedicados, ele dava o
seguinte tipo de instrução para guiar seu comportamento:
Samsara inexaurível,
Trabalho sem fim para acumular riquezas,
E infindável fala inútil –
Estes três são contrários ao Darma.
Eu deixei os três para trás.
É bom que vocês os deixem também.
Desta forma, ele oferecia conselhos e instruções tanto em verso quanto prosa, de forma
geral e específica. Ele disse:
Desta forma, ele girou a ilimitada Roda do Darma para incontáveis discípulos. Apesar de já
ter transcendido os conceitos de nascimento e morte, ele decidiu demonstrar a impermanência de
todos os fenômenos, especialmente os temas de nascimento e morte, de forma a alertar aqueles que
são preguiçosos. Próximo à morte, Gampopa passou seu trono ao Senhor do Darma Gomtsul, e
disse àqueles que estavam reunidos: “Pode ser que eu não fique neste mundo por muito tempo
mais. Se alguém tiver dúvidas ou questões, venham e perguntem. Aqueles que praticam
sinceramente não precisam de muitas palavras, apenas guardem estas instruções em seus corações.
Aqui está a essência de todas as instruções:”
Fascinante!
Aqueles que desejam sustentar a sabedoria primordial,
Posicionem a consciência de forma natural, como uma bola de algodão.
Mente sem base, liberem todas as ações,
Posicionem a mente de forma livre, sem controle,
Observem diretamente.
Quando lassidão e excitação surgirem, olhem para a própria mente.
Evitem todas as atividades que prejudicam a mente.
Estejam conscientes de Mara quando surgirem expectativas.
APÊNDICE B:
A História de Sudhana
No capítulo 3, seguir um mestre espiritual “por respeito” é descrito como fazer prostrações, levantar-se
rapidamente, curvar-se, circum-ambular, expressar-se com um sentimento de proximidade no momento
certo, olhar incansavelmente para seu rosto e assim por diante. O Senhor Gampopa dá esse exemplo de como
Sudhana, o filho de um mercador, seguiu seus mestres espirituais.
Com as bênçãos do Buda, Manjushri fez uma viagem para o sul. Sariputra percebeu e
pensou: “Eu devo seguir Manjushri.” Com isto em mente, pediu a permissão ao Buda e foi-lhe
concedida. Assim, Sariputra seguiu Manjushri, acompanhado de sessenta outros monges. Ele
explicou as ilimitadas qualidades positivas de Manjushri para os monges. Todos desenvolveram
grande devoção por Manjushri, receberam diversos ensinamentos e atingiram a iluminação.
Manjushri e seu séquito seguiram para o sul, de lugar em lugar e, em certo momento,
chegaram a uma região ao leste chamada de “Fonte da Felicidade”, e alojaram-se em um lugar
chamado “Floresta da Bandeira da Vitória da Criatividade Diversa.” Ali, ele deu ensinamentos
para seus alunos. O povo de Fonte da Felicidade ouviu sobre isto, e 500 upasakas e 500 upasikas,
incluindo o upasaka Grande Sabedoria (Tib. Genyen Sherab Chenmo), 500 garotos, incluindo
Sudhana (o filho de um mercador) e muitos outros se aproximaram de Manjushri e fizeram
prostrações aos seus pés. Entre estes, esta história se refere a Sudhana, o filho de um mercador.
No momento em que foi concebido, sete tipos de árvores de joias cresceram ao redor da
casa. O solo se abriu e revelou os sete tesouros do ouro, prata, turquesa, lápis lazúli e assim por
diante.
Quando a criança nasceu, dez meses depois, a terra se abriu e os tesouros surgiram acima
do solo. Além disso, 500 potes cheios de manteiga, óleo, mel, ouro, prata, diamantes e outros se
manifestaram espontaneamente dentro da casa. Quando os pais, videntes, brâmanes e outros
mestres espirituais viram tanta prosperidade surgindo no momento em que nascia, chamaram-no
de Sudhana (Tib. Norzang), que significa Grande Fortuna.
Em suas vidas anteriores este Sudhana, o filho de um mercador, serviu o Buda,
desenvolveu a raiz de virtude, teve motivação pura e vasta, sua mente seguiu os mestres
espirituais, teve grande perseverança ao seguir o caminho do bodisatva e assim por diante.
Manjushri percebeu que ele possuía tais qualidades e lhe deu muitos ensinamentos. Manjushri fez
com que ele relembrasse suas muitas raízes de virtudes do passado e cultivasse a aspiração de
atingir a iluminação insuperável, perfeita e completa.
Manjushri também deu ensinamentos a muitos outros seres sencientes de acordo com suas
disposições e aspirações. Após receber estes ensinamentos e bênçãos, eles partiram para suas casas.
Sudhana ouviu de Manjushri sobre todas as qualidades positivas de um buda. Isto reforçou sua
aspiração e perseverança para buscar a iluminação insuperável, e assim ele seguiu Manjushri.
Sudhana rezou a Manjushri desta forma:
E assim por diante, ele disse muitas coisas. Mais uma vez, Manjushri disse:
Desta forma, encontrou 110 mestres bodisatvas, até encontrar o bodisatva Maitreya. Durante esse
tempo, passou por muitas dificuldades – frio, calor, atravessando florestas e escalando montanhas.
Ao encontrar esses bodisatvas, ele os serviu, respeitou e honrou. Fez oferendas e prostrações e os
circum-ambulou sem se sentir exausto em corpo, fala ou mente.
Eles o instruíram desta forma: “Não se dê por satisfeito ao encontrar mestres espirituais,
pois os bodisatvas devem acumular uma raiz de virtudes ilimitada. Você não deveria sentir
cansaço ao procurar pelos mestres espirituais. Não deve se dar por contente quando encontrar
mestres espirituais. Não deve se dar por satisfeito ao pedir por ensinamentos aos mestres
espirituais. Não deve vacilar na sua vontade de ver os mestres espirituais. Não deve parar de
servir e honrar os mestres espirituais. Não deveria ter visões errôneas sobre as instruções dos
mestres espirituais. Não deve hesitar em atingir as qualidades dos mestres espirituais. Não deve se
aborrecer ou se irritar com os meios hábeis dos mestres espirituais. E tudo isto porque os grandes
bodisatvas mahasatvas e todos os treinamentos dos grandes bodisatvas dependem do mestre
espiritual. Todos os benefícios são recebidos do mestre espiritual. Aquele que é guardado por um
mestre espiritual não cairá nos reinos inferiores. Aquele que é guardado por um mestre espiritual
não se afastará do caminho Mahayana.”
“Ó Filho de Nobre Família! Os mestres espirituais são como mães que dão nascimento à
família dos budas. Os mestres espirituais são como pais que oferecem grandes benefícios. Os
mestres espirituais são como tutores que nos protegem das ações não virtuosas. Os mestres
espirituais são como o capitão de um navio que nos leva à terra das joias preciosas da sabedoria
primordial e da onisciência.”
“Portanto, você deveria seguir mestres espirituais incessantemente. Cultive uma mente
capaz de carregar uma carga tão pesada quanto a terra, sem exaustão. Cultive uma mente que seja
indivisível como um vajra. Cultive uma mente que seja como um súdito leal de um rei do Darma.”
“Ó Filho de Nobre Família! Você deveria se ver como um paciente, o mestre espiritual
como um médico, todas as instruções como o remédio e a prática sincera como a cura.
Compreenda todos os ensinamentos que o mestre espiritual ensinou sem perder nenhuma palavra.
De outra forma você não conquistará as qualidades completas que permitirão o benefício dos seres
sencientes.”
Ao final desses ensinamentos, ele encontrou o bodisatva Maitreya em um vasto palácio
decorado com joias, onde incontáveis discípulos humanos, deuses e nagas tinham se reunido.
Quando Maitreya viu Sudhana chegando ao longe, louvou-o de muitas formas – seu modo de
vida, sua estabilidade mental, seu treinamento no caminho do bodisatva e suas realizações.
Contou a toda a assembleia que Sudhana tinha encontrado 110 mestres espirituais. Maitreya o
saudou e lhe deu ensinamentos detalhados.
Contou sua história para aqueles que estavam reunidos da seguinte forma: “Sudhana
possui tal perseverança, tal interesse, tal compromisso com sua aspiração e tal pensamento
altruísta estável. Ele possui a perseverança do não retorno, e não se contenta com sua prática dos
ensinamentos do Darma. Buscou os ensinamentos mesmo sob o risco da própria vida. Traz os
mestres espirituais na coroa de sua cabeça e possui um desejo profundo de ver os mestres
espirituais. Nunca ficou cansado ao buscar e seguir os mestres espirituais. Procurou-os, fez
perguntas, honrou-os e respeitou-os. No início, Manjushri o enviou para o sul até que encontrasse
110 mestres espirituais, e agora ele chegou até aqui. Durante esse tempo, centenas e milhares de
seres sencientes foram estabelecidos no caminho dos bodisatvas.”
Maitreya continuou desta forma: “Ó Filho de Nobre Família! A bodicita é a semente de
todas as qualidades do Buda. É como um campo onde crescem todas as qualidades virtuosas para
o benefício de todos os seres sencientes. É como um terreno estável para todos os seres. É como a
água pura que limpa todos os obscurecimentos das emoções aflitivas. Como o vento, não reside
em lugar algum. É como um grande fogo que queima até mesmo as raízes das visões errôneas. É
como o sol que permite ver os seres sencientes em todos os lugares. É como a lua que cresce para
preencher o círculo das qualidades. É como a luz que permite ver o Darma. É como os olhos que
permitem ver o que é certo e o que é errado. É como o caminho que leva à cidadela da onisciência,
e assim por diante.” Ele explicou todos os benefícios da bodicita em detalhes, através de
comparações e exemplos.
Finalmente, o bodisatva Maitreya disse a Sudhana: “Volte e procure Manjushri. Faça
perguntas adicionais sobre o treinamento e o modo de vida dos bodisatvas.”
Com um sentimento de alegria e com lágrimas em seus olhos, ele se prostrou aos pés de
Maitreya, circum-ambulou-o muitas vezes e retornou, passando por todos os mestres espirituais
enquanto mantinha a mente unifocada em Manjushri. Quando chegou diante de Manjushri,
Manjushri colocou sua mão sobre a cabeça de Sudhana. Ele o abençoou e louvou como Sudhana
havia passado por dificuldades. Sudhana atingiu a realização do grande dharani dos bodisatvas,
confiança, absorção meditativa, força, poder, e alcançou uma realização da sabedoria primordial
igual à do bodisatva Samantabhadra.
A História de Sadaprarudita
No capítulo 3, seguir um mestre espiritual através da prestação de serviços é descrito como oferecer-lhe
comida condizente com o Darma, roupas, cama, trono, remédios, e todos os outros tipos de coisas necessárias,
mesmo sob o risco do próprio corpo e da própria vida. O exemplo para isso é de como Sadaprarudita seguiu
seus mestres espirituais.
Então, Sadaprarudita lhes perguntou quem era seu mestre espiritual. Eles responderam: “O
bodisatva mahasatva Dharmodgata foi seu mestre espiritual por muitas vidas. Você recebeu dele
receber os ensinamentos.”
O jovem brâmane, que era uma manifestação de Indra, desapareceu nesse momento e
surgiu novamente na forma de Indra, que disse: “Você agiu corretamente. Você tem um grande
comprometimento e coragem indômita na busca do Darma. Além disso, todos os budas do
passado realizaram este tipo de ação, sacrificando-se sem se preocupar com corpo ou vida,
esforçando-se para receber os ensinamentos com muitas dificuldades. Este é o caminho que os
levou a alcançar a iluminação.”
Indra continuou: “Na verdade não preciso de carne humana, sangue, ossos etc. Apenas vim
para testá-lo. Agora, irei conceder-lhe uma realização suprema. O que você deseja?” O bodisatva
Sadaprarudita pediu a realização da iluminação insuperável, mas Indra disse: “Não posso oferecer
isto. Não tenho esta capacidade.”
O bodisatva Sadaprarudita disse, então: “Se todos os tatágatas previram que alcançarei o
estado de não retorno da iluminação, e se está ciente de meu pensamento altruísta inabalável, pelo
poder desta verdade possa meu corpo ser saudável como era antes.” No momento em que disse
isto, seu corpo foi curado, completamente livre de toda doença e sofrimento. Não tendo mais nada
a dizer, Indra foi embora.
A filha do mercador levou o bodisatva Sadaprarudita à sua casa e o apresentou aos seus
pais. Ela lhes pediu muitas riquezas, como ouro, prata, roupas, dosséis, bandeiras, parasóis e
diferentes tipos de joias preciosas para oferecer ao bodisatva Sadaprarudita. Ela disse: “Todas estas
riquezas são para você fazer uma oferenda ao bodisatva Dharmodgata, para receber os
ensinamentos da prajnaparamita. Irei com você e receberei ensinamentos deste mestre espiritual
também.”
Então, pediu permissão aos pais para ir com o bodisatva Sadaprarudita e eles perguntaram
quem era ele. Ela contou que o bodisatva Sadaprarudita venderia seu corpo, sangue, carne, ossos
etc, para honrar, prestar respeito e fazer oferendas ao grande bodisatva Dharmodgata, de forma a
receber os ensinamentos. Quando disse isto, eles ficaram tão espantados que disseram: “Pegue o
que quiser de nossas riquezas para fazer oferendas ao grande bodisatva Dharmodgata. Também
iremos segui-los para receber ensinamentos deste grande mestre espiritual.” Diversos tipos de
riquezas foram retirados de seu tesouro. Sadaprarudita, a filha e os dois pais seguiram em uma
carruagem. Foram acompanhados por 500 carruagens com servas. Todas estavam muito bem
vestidas, e assim, prosseguiam em sua jornada para o leste.
Finalmente, chegaram à cidade do Incenso Fragrante, que era circundada por sete níveis de
cercas de joias preciosas, que eram circundadas por uma vasta quantidade de águas com as oito
qualidades1. O cheiro do incenso dominava o ambiente. Tudo isto possuía a natureza da joia
preciosa. Dentro da cidade, o grande bodisatva Dharmodgata estava sentado sobre um trono de
joias preciosas, circundado por incontáveis discípulos que estavam recebendo ensinamentos.
No momento em que Sadaprarudita o viu, experimentou uma alegria inconcebível e
desenvolveu grande devoção. Todas as 500 pessoas desmontaram de seus cavalos e caminharam
em direção ao grande bodisatva Dharmodgata levando as oferendas em suas mãos. Naquele
momento, o grande bodisatva Dharmodgata estava construindo um altar para o texto da
prajnaparamita com os sete diferentes tipos de joias preciosas, ornamentado com madeira de
sândalo vermelho e uma guirlanda de pérolas. Assim, a oferenda excelente foi realizada diante do
altar. Os textos da prajnaparamita eram escritos com ouro. Indra, acompanhado de muitos deuses
e deusas, fazia oferendas dos diferentes tipos de flores do reino dos deuses e outras coisas. Isto foi
presenciado pelo bodisatva Sadaprarudita e pelo séquito de 500 garotas, que também fizeram uma
imensa oferenda.
Então, o bodisatva Sadaprarudita e seu séquito com as ilimitadas oferendas se
aproximaram do grande bodisatva Dharmodgata, prostraram-se aos seus pés e uniram suas mãos.
Sadaprarudita falou assim: “Quando eu estava em um local solitário para receber a
prajnaparamita, a perfeição da sabedoria, ouvi uma voz vinda do espaço que disse, ‘Vá para o
leste’.” Assim, contou toda sua história. Ele contou sobre como a imagem do Buda tinha aparecido
diante dele, como tinha alcançado as ilimitadas portas de absorção meditativa e meditado sobre
elas, e como os incontáveis tatágatas tinham surgido diante dele e depois desaparecido. Assim,
tinha pensado em perguntar a Dharmodgata de onde os tatágatas tinham vindo e para onde
haviam ido.
O grande bodisatva Dharmodgata explicou a Sadaprarudita da seguinte forma:
Esses tatágatas não vieram de lugar algum e não foram a lugar algum; eles não se
moveram da talidade. Seja qual for a natureza da talidade, isto é o tatágata. Ó Filho
de Nobre Família! Na natureza não nascida, não há nada vindo e nada indo. A
natureza do não nascido é o tatágata. Ó Filho de Nobre Família! Na perfeição não
há nada vindo e nada indo. Essa natureza perfeita é o tatágata. Ó Filho de Nobre
Família! Na vacuidade que tudo permeia não há nada vindo e nada indo. Aquilo
que é a vacuidade, isto é o tatágata; e assim por diante. Ó Filho de Nobre Família!
Você deveria entender que essa é a natureza das vindas e idas do tatágata. Ó Filho
de Nobre Família! A talidade de todos os fenômenos deveria ser compreendida e
realizada desta forma. Ó Filho de Nobre Família! Deste momento em diante, os
tatágatas, a natureza não nascida de todos os darmas, incessante, deve ser
entendida desta forma. Com esta natureza não nascida de todos os darmas,
incessante, você alcançará a iluminação insuperável, perfeita e completa; e
alcançará a perfeição dos meios hábeis e a perfeição da prajnaparamita.
Desta forma, ele deu ensinamentos detalhados. Enquanto isso, a terra tremeu seis vezes,
flores dos deuses caíram dos céus e incontáveis seres sencientes cultivaram a bodicita. Naquele
momento, Indra e outros louvaram Sadaprarudita, dizendo que ele tinha agido corretamente e
assim por diante.
O bodisatva Sadaprarudita lançou todas as flores ao grande bodisatva Dharmodgata, e
juntando suas mãos disse: “De agora em diante, para seu serviço e sua honra, ofereço meu corpo.”
As 500 garotas de seu séquito também disseram: “Nós fazemos uma oferenda a você,
Sadaprarudita, de nossos corpos e riquezas.” Então, o bodisatva Sadaprarudita adornou as 500
garotas com ornamentos e as ofereceu junto com as 500 carruagens para a honra e serviço do
grande bodisatva Dharmodgata. Então, do espaço, Indra e todos os deuses louvaram grandemente
o bodisatva Sadaprarudita. Naquele momento, o grande bodisatva Dharmodgata aceitou as
oferendas das 500 garotas e carruagens para completar a acumulação da raiz de virtude de
Sadaprarudita. Mais tarde ele as devolveu. O grande bodisatva Dharmodgata retornou ao seu
lugar e entrou no estado de absorção meditativa por sete anos.
Sadaprarudita pensou: “Vim para cá para receber ensinamentos. Portanto, não é correto
que eu me sente ou durma. Assim, até que o grande bodisatva Dharmodgata venha e dê
ensinamentos ficarei em pé ou caminharei.” Tendo feito esta aspiração, ficou em pé ou caminhou
por sete anos, o tempo todo mantendo sua mente fixa no Darma.
Então, um dia, os deuses declararam do espaço: “Em sete dias o grande bodisatva
Dharmodgata sairá de seu estado de absorção e oferecerá ensinamentos do Darma no centro da
cidade.” Ao ouvir isso, o bodisatva Sadaprarudita ficou tão feliz! Ele experimentou uma alegria
inexprimível. Construiu um grande trono de joias preciosas no centro da cidade. Então, procurou
por água para abaixar a poeira, mas devido à obstrução dos Maras, toda a água tinha
desaparecido. Sadaprarudita pensou: “Não é correto que a poeira chegue ao corpo do grande
bodisatva Dharmodgata. Como não consigo encontrar água em lugar algum, usarei o sangue de
meu corpo.” Assim, pegou uma faca afiada e cortou diferentes partes de seu corpo, deixando o
sangue abaixar a poeira. Quando fez isto, as 500 garotas também fizeram.
Os deuses estavam tão surpresos ao verem tal pensamento altruísta. Era maravilhoso ver o
compromisso inabalável do bodisatva Sadaprarudita em alcançar a iluminação insuperável,
perfeita e completa. Então, Indra abençoou todo o sangue e o transformou na madeira de sândalo
dos deuses, num raio de 500 yojanas ao redor, e toda a poeira foi abaixada. Indra também ofereceu
inúmeras flores variadas dos deuses que choveram sobre o solo como oferendas para o grande
bodisatva Dharmodgata.
Depois de sete dias, o grande bodisatva Dharmodgata saiu de seu estado de absorção,
chegou circundado por seu incontável séquito, sentou no trono, e deu este ensinamento:
E assim por diante. Ele ofereceu ensinamentos detalhados sobre a perfeição da sabedoria.
Naquele momento, o bodisatva Sadaprarudita recebeu a autorização para os estados de absorção
das diversas portas de concentração meditativa sobre a natureza dos ensinamentos da
prajnaparamita.
Esta é a breve história de como Sadaprarudita seguiu seu grande mestre espiritual,
Dharmodgata.
O capítulo 3 explica que deveríamos evitar as visões errôneas sobre os meios hábeis dos mestres espirituais.
Ao invés disso, deveríamos tê-los em alta conta e respeitá-los, como se vê no exemplo do Rei Anala1.
pediu pelo treinamento dos bodisatvas. O Rei Anala se levantou de seu trono de leão, pegou a mão
direita de Sudhana e disse: “Vamos para outro lugar”, e tirou Sudhana dali.
Esse outro palácio era vasto, circundado por sete níveis de cercas feitas das diversas joias
preciosas. Havia centenas e milhares de palácios construídos com pedras preciosas e adornados
com parasóis, bandeiras, dosséis e muitas outras joias preciosas. Em cada um desses palácios havia
um trono de leão feito de joias preciosas que realizam desejos. Luz irradiava em todas as direções.
Lá, o rei estava acompanhado por 10 milhões de rainhas, belas e dignas, hábeis nas artes da dança
e outras.
O Rei Anala se sentou no trono e, olhando para Sudhana, disse: “Ó Filho de Nobre Família!
Você já viu tais condições esplêndidas, corpos perfeitos, ambiente perfeito, séquito e palácios
associados com aqueles que criaram carma negativo? Pode estar seguro de que eu manifesto todas
as ações excelentes de um bodisatva.”
“Para domar aqueles que matam ou roubam, assim como aqueles que têm conduta sexual
imprópria ou que contam mentiras, criam separações, ou usam palavras agressivas – todos aqueles
que seguem as ações não virtuosas – de modo a guiá-los ao caminho perfeito, eu manifesto estes
guardiões irados e estas pessoas que são mortas através de minha grande compaixão. Aqueles que
são mortos são apenas manifestações minhas. Eu crio estas diferentes pessoas que geram vários
carmas negativos e, então, aplico a punição de cortar seus membros, cabeças e corações, ou de
esquartejar seus corpos em pequenos pedaços. Faço com que experimentem todos estes tipos de
sofrimento. Ao fazer isto, as pessoas de meu reino não se engajam em qualquer uma destas ações
não virtuosas.”
“É através deste método que encorajo as pessoas a não se envolverem com as dez não
virtudes, apresentando o caminho para as dez virtudes. Faço este esforço para acabar com o
sofrimento das pessoas de meu país e para estabelecê-las no caminho para o estado onisciente. Não
criei nem mesmo um único sofrimento para o menor inseto do reino animal, então como poderia
criar tais sofrimentos para as pessoas de meu reino? Não faço isto nem em meus sonhos, como
poderia fazer isto propositalmente? Eu alcancei o estado de paciência do Darma da exaustão e o
estado não nascido. Entendo todas as coisas do samsara como caminho e vejo os fenômenos do
caminho como ilusão.”
Assim, ele prosseguiu falando. Quando o Rei Anala disse essas coisas, Sudhana alcançou
confiança naquele grande bodisatva do qual recebeu muitos ensinamentos elevados sobre as
qualidades e ações de um bodisatva.
A História de Maudgalyayana
No capítulo 5, os infernos ocasionais são descritos como lugares onde os seres podem estar reunidos em
grandes grupos, pequenos grupos ou individualmente, dependendo do carma de cada um. Existem muitos
tipos desses infernos e suas localizações são indefinidas. Eles podem ser encontrados em rios, montanhas,
desertos, sob a terra ou no reino humano, como se pode ver no exemplo do Venerável Maudgalyayana.
inferior. Em vez de passar por todo este sofrimento é melhor que eu morra.” Com este
pensamento, aproximou-se de um rio, tirou todas as suas roupas e as pendurou no galho de uma
árvore. Abaixou seus velhos joelhos ao solo e, com lágrimas nos olhos, disse:
“Não estou abandonando as Três Joias, o Buda, o Darma e a Sanga. Estou apenas
abandonando este corpo. Por quaisquer virtudes que tenha acumulado pela
generosidade, ética moral e assim por diante, possa eu renascer em um corpo
perfeito em minha próxima vida, com uma família próspera e riquezas. Possa eu
não encontrar obstáculos ao me engajar em ações virtuosas. Possa eu ter a chance
de encontrar as Três Joias – o Buda, o Darma e a Sanga – e atingir o nirvana.
“Na primeira vez, quando vimos a bela mulher morta, era a esposa de uma família de
Rajagriha. Certa vez, ela e seu marido viajaram pelos oceanos com 500 mercadores para buscar
joias. O navio foi destruído e todos a bordo morreram; o corpo foi carregado pelas ondas até à
praia. Essa mulher era muito apegada à sua beleza, por isso, no momento em que morreu,
renasceu como essa cobra, ainda apegada ao corpo anterior. Depois que a cobra morrer, ela
renascerá no reino dos infernos e sofrerá de forma inconcebível.”
“No segundo caso, da mulher que pulava em um caldeirão, cozinhava a si mesma e então
comia a carne, era a serva de uma upasika de Shravasti. Certa vez, essa upasika convidou um
monge puro para um retiro de três meses em um local solitário. Todo dia ela preparava uma
refeição deliciosa e pedia à serva para ir oferecê-la. Mas, no caminho para o local solitário, a serva
comia a refeição e oferecia ao monge os restos. À medida que o tempo passava, o rosto da serva
ficou radiante, sua saúde melhorou, e ela ganhou peso. A upasika ficou um pouco desconfiada e
perguntou: “Você está comendo a refeição do monge?” A garota disse: “Eu não comi nem um
pequeno bocado. Seria melhor comer minha própria carne que comer a comida do monge!” Assim,
devido a essa explosão, logo após sua morte ela renasceu neste inferno ocasional e passa por um
sofrimento inconcebível.”
“A terceira história, da grande árvore coberta por insetos que a comiam e do lamento
desagradável que vem do seu interior: Havia um homem chamado Lita que prestava serviços a
uma comunidade monástica. Ele sempre usava as coisas dos monges para si mesmo. Não apenas
isto, dava a comida e a bebida dos monges para as pessoas comuns. Devido a esse carma, renasceu
neste reino dos infernos, experimentando um sofrimento do qual é muito difícil se livrar. Os
insetos são as pessoas comuns que se aproveitaram da comida dos monges.”
“O quarto caso foi o do homem cercado por muitos seres com cabeças de animais, que
atiravam flechas flamejantes nele, transformando-o em uma grande fogueira. Anteriormente, este
homem tinha sido um caçador que matou muitos animais selvagens. Assim, logo após sua morte,
renasceu neste reino dos infernos, e experimenta repetidamente tal sofrimento inconcebível, do
qual é muito difícil se livrar.”
“O quinto exemplo foi o do homem que rolava montanha abaixo sobre as pontas de
espadas, facas etc. Este foi o renascimento de um ministro poderoso e influente de um rei. Suas
diversas atividades tinham sido como espadas e facas para muitas pessoas. Por isto, agora ele sofre
de tal forma inconcebível. Após esta vida, renascerá em outro reino dos infernos onde sofrerá por
um longo tempo.”
Desta forma, Maudgalyayana explicou cada um dos sofrimentos em detalhes e revelou as
ações negativas das vidas anteriores que os tinham causado. No final, Maudgalyayana disse: “Esta
enorme montanha de ossos é o que sobrou de uma de suas vidas passadas.” Ao ouvir isto, o
monge Palkye ficou terrivelmente apavorado, e pediu a Maudgalyayana para lhe contar as causas
e condições de sua vida anterior. Maudgalyayana respondeu assim:
“Muito tempo atrás, havia um rei Aryasya Darma, que praticava generosidade e ética
moral e gostava de ouvir os ensinamentos. Era gentil e compassivo, nunca prejudicando a vida de
outras pessoas. Reinava em seu país de acordo com o precioso Darma.”
“Certa vez, o rei estava jogando, apostando com outras pessoas. Enquanto isso, seus
ministros lhe trouxeram um prisioneiro culpado, e perguntaram-lhe o que fazer com ele. O rei
estava tão envolvido com as apostas que disse para cuidarem do caso de acordo com a lei. Assim,
os ministros o executaram.”
“Depois do jogo o rei perguntou: ‘Onde está aquele homem culpado?’ e ficou sabendo que
tinha sido executado de acordo com a lei. Ao ouvir isto, uma grande compaixão surgiu na sua
mente e ele desmaiou. Uma corrente de lágrimas fluiu de seus olhos, e ele disse, ‘Cometi uma não
virtude terrível! Renascerei no reino dos infernos imediatamente após a minha morte!’ Com isto,
renunciou ao reino e viveu em retiro pelo resto da vida.”
“Após sua morte, renasceu no oceano como um monstruoso crocodilo de 700 yojanas de
altura. Em seu corpo havia incontáveis insetos que o comiam. Esse crocodilo dormia por 100 anos.
Ao acordar, abria a boca por estar faminto e sedento. Certa vez, 500 mercadores estavam viajando
pelo oceano para obter joias e seu navio passou pela boca aberta do monstro. Os mercadores
aterrorizados começaram a dizer, ‘Tomamos refúgio no Buda.’ Assim que ouviu o nome do Buda,
o crocodilo fechou sua boca e morreu ali, de fome e de sede. Ele renasceu como um inseto em
Rajagriha. O sol brilhou e chuvas caíram sobre aquele corpo do crocodilo até que toda sua carne
desaparecesse e se tornasse esta montanha de ossos, que foi trazida à praia pelas ondas.”
Maudgalyayana disse: “Você, monge Palkye, era aquele rei Aryasya Darma. Por ter matado
um homem, renasceu como o crocodilo neste oceano.” Assim, Maudgalyayana contou toda a
história em detalhes.
O monge Palkye, naquele momento, ficou tão apavorado com a natureza do samsara que
renunciou a ele, completamente. Assim, meditou com a mente unifocada. Através do poder desta
prática de meditação exauriu todas as emoções aflitivas e alcançou o estado de Arhat. Após tornar-
se um Arhat, ele e Maudgalyayana voaram nos céus e retornaram ao Jardim da Luz.
Então, muitas pessoas, incluindo monges, maravilharam-se com o velho chefe-de-família
que não era capaz de fazer nada. Devido aos meios hábeis, compaixão e sabedoria do Buda ele
tinha se tornado monge e agora tinha atingido o estado de Arhat! A história deste milagre se
espalhou por muito longe.
Esta é a história da vida do monge Palkye.
A História de Sangharakshita
O capítulo 5 menciona um segundo exemplo de inferno ocasional, como foi presenciado por Sangharakshita
em uma terra deserta e de sofrimento.
os outros ao meio-dia durante o período do almoço. Devido a este carma renascemos aqui neste
inferno ocasional. Após esta vida, renasceremos nos infernos maiores. Por favor, conte aos monges
do mundo as dificuldades que estamos experimentando.” Ele concordou em fazer isto.
Então, o Venerável Sangharakshita foi a outro lugar. Lá, novamente, encontrou um belo
templo onde muitos monges recitavam. Eles também lhe ofereceram comida e bebida. Depois de
desfrutar a comida e a bebida, sentou-se do lado de fora. Novamente, quando chegou o meio-dia,
um gongo soou e todos os monges se reuniram em uma fila, segurando suas tigelas. Naquele
momento, o templo desapareceu. Toda a comida e a bebida se transformaram em metal derretido.
Até o final do período do almoço eles derramaram o metal derretido nos corpos uns dos outros, e
ficaram terrivelmente queimados. Todos experimentaram um sofrimento inconcebível. Tão logo o
período do almoço passou, o templo reapareceu e todos os monges estavam tão pacíficos e calmos
como antes.
O Venerável Sangharakshita perguntou: “Qual tipo de carma os trouxe aqui, a este tipo de
sofrimento?”
“Éramos monges do Buda Kashyapa. Naquela época, os patrocinadores fiéis nos davam
comida e bebida, mas nós as desperdiçávamos. Devido a este carma renascemos neste inferno
ocasional. Após esta vida renasceremos nos grandes infernos. Por favor, passe esta informação aos
monges que estão no mundo.”
Mais uma vez, o Venerável Sangharakshita fez uma longa jornada. Chegou a um lugar
onde havia um belo templo com muitos monges pacíficos que lhe ofereceram uma deliciosa
refeição e bebida. Ele se deliciou e sentou-se em um canto. Quando chegou o meio-dia, o templo
foi completamente queimado. Todos os monges foram queimados naquele fogo e experimentaram
um sofrimento inconcebível. Assim que o período do almoço passou, o templo e os monges
reapareceram. Mais uma vez o Venerável Sangharakshita lhes perguntou qual carma os fazia
experimentar tal sofrimento.
Eles disseram: “Nós éramos monges do Buda Kashyapa. Éramos monges que não
mantinham a ética moral adequadamente, assim os monges que eram eticamente corretos nos
expulsaram do monastério. Naquele momento ficamos com tanta raiva que colocamos fogo no
monastério, queimando todos eles. Devido a este carma renascemos neste inferno ocasional. Após
esta vida, renasceremos nos grandes infernos.”
Então, o Venerável Sangharakshita viajou por um longo tempo. Ao longo da estrada
encontrou seres sencientes que tinham a forma de paredes, colunas, árvores, flores, frutos, cordas,
vassouras, tigelas, pilões, escovas de limpeza, seres com as costas presas apenas por ligamentos, e
assim por diante. Prosseguiu ao longo do vale e chegou a um lugar onde havia 500 rishis em
absorção meditativa. O Venerável Sangharakshita permaneceu lá e descansou. Durante sua
permanência ofereceu diversos ensinamentos a esses rishis, que os fizeram desenvolver uma forte
confiança no Buda. Eles quiseram ver o Buda e se tornar monges, e assim perguntaram se
poderiam acompanhar Sangharakshita. Ele concordou e continuou, acompanhado pelos 500 rishis.
Pouco antes de chegar a Shravasti, o Venerável Sangharakshita reencontrou os 500
mercadores na estrada, que também queriam se tornar monges budistas. Quando chegaram a
Shravasti, todos foram ver o Buda e lhe pediram para lhes conceder os votos de um monge. O
Buda aceitou, dando-lhes os votos e ensinamentos. No final todos alcançaram o estado de Arhats.
O Venerável Sangharakshita contou ao Buda todas as diferentes coisas que tinha
encontrado. Em especial, falou sobre os seres sencientes que tinha encontrado na estrada, alguns
como paredes, colunas, árvores e assim por diante. Ele perguntou: “Que tipo de carma negativo
esses seres sencientes acumularam para renascer desta forma? Por favor, diga-me.”
O Buda respondeu desta forma: “Esses seres também foram monges do Buda Kashyapa.
Naquele tempo, sujaram as paredes do templo cuspindo saliva e jogando sujeira nas paredes.
Assim, renasceram como paredes. Também jogaram saliva e muco nas colunas, e assim
renasceram como colunas. Alguns dos monges utilizaram as árvores, folhas e frutos da
comunidade monástica para seu próprio benefício, e assim renasceram como aqueles seres.
O capítulo 5 descreve os dois grupos de fantasmas famintos que possuem obscurecimentos gerais à comida e à
bebida: os guirlandas de fogo e os comedores de imundícies. Os primeiros, ao comerem ou beberem têm seus
estômagos queimados. O segundo grupo come excrementos, bebe urina, ou come sua própria carne, como foi
testemunhado por Nawa Chewari em um deserto seco.
Certa vez, em Shravasti, havia uma família cujo chefe era chamado de Centro do Poder.
Como nenhuma criança havia nascido nessa família, eles fizeram oferendas às deidades locais por
muito tempo. Finalmente, durante o tempo da estrela Droshin, um belo menino nasceu. Na sua
orelha havia um precioso ornamento de joia, que valia um milhão de onças de ouro. Foi assim que
ele recebeu o nome de Nawa Chewari.
Quando cresceu, certa vez estava trabalhando no teto da casa e pôde ver seu pai
trabalhando duramente nos campos em um verão muito quente. Assim, quando seu pai voltou
para casa, Nawa Chewari lhe perguntou: “Por que você faz tantos esforços? Por que trabalha tão
duro?”
O pai respondeu que as riquezas que possuíam não surgiam de uma forma natural, sem
esforços. Não, elas eram acumuladas com sacrifício e suportando muitas dificuldades como o calor
e o frio. Dizendo isto, o pai mostrou ao filho os depósitos de suas riquezas. O filho pensou que o
pai estava insinuando que ele deveria sair para conquistar riquezas. Acreditando nisto, disse: “Eu
gostaria de sair para fazer negócios.” É claro que o pai protestou e pediu para ele não ir, mas Nawa
Chewari não quis ouvir nada do que ele dizia.
Nawa Chewari partiu com dois servos, Dienbu e Kyongwa, e dois asnos machos. Junto com
muitos outros mercadores eles se dirigiram ao oceano. Cruzaram o oceano com sucesso e
trouxeram muitas joias. Quando retornaram à praia, conversaram até a meia-noite sobre todas as
valiosas joias que tinham reunido. À meia-noite, todos caíram em um sono muito profundo.
Quando os mercadores estavam se preparando para partir, o servo Kyongwa pensou assim:
“Meu mestre Nawa Chewari tem Dienbu, o outro servo, portanto vou partir sozinho.” Mas Dienbu
também pensou: “Meu mestre tem o servo Kyongwa, portanto devo seguir sozinho.” Pensando
desta forma, os dois partiram.
Quando Nawa Chewari acordou ao nascer do sol, apenas os dois asnos estavam ali. Todos
os outros tinham partido. Ele pulou em pé imediatamente e seguiu seus dois amigos com os asnos,
seguindo suas pegadas na estrada. Mas, após algum tempo, uma grande tempestade veio e
desmanchou suas pegadas. Os dois asnos estavam completamente perdidos e não sabiam em qual
direção ir. Como Nawa Chewari estava chorando tanto, eles tentaram fazer o seu melhor.
Logo chegaram a um local muito escuro, onde havia cinco casas metálicas. Na primeira
casa metálica ele viu muitos yamas. Nawa Chewari estava com muita sede e também com fome,
por isso perguntou: “Vocês podem me dar um pouco de comida e bebida?”
Eles responderam: “Há muito tempo nós nem mesmo ouvimos as palavras ‘comida’ e
‘bebida’. Em nossas vidas anteriores morávamos na cidade de Dojok, na Índia. Pelo poder da
avareza e por não praticar generosidade renascemos aqui como fantasmas famintos e sofremos
inconcebivelmente. Você parece um ser afortunado que retornará para o reino humano. Nossos
nomes são... (eles repetiram seus nomes). Diga aos nossos parentes em Dojok que escondemos
ouro em pó no chão sob a casa. Diga-lhes para retirarem o ouro e para que o ofereçam ao Arya
Katayana. Através desta oferenda em nossos nomes e de sua dedicação, seremos liberados do
sofrimento do reino dos fantasmas famintos.”
Então ele se dirigiu à segunda casa metálica. Como antes, havia muitos fantasmas famintos
sofrendo pela falta de comida e bebida.
Quando chegou à terceira casa metálica já era quase a hora do pôr do sol. Ali encontrou um
palácio de joias preciosas no qual quatro deusas muito belas desfrutavam a vida com um homem.
Mas, de manhã, assim que o dia despontou, as quatro deusas se transformaram em cães agressivos
com presas metálicas que comiam a carne daquele homem. E assim se repetia indefinidamente – à
noite eles desfrutavam a vida no palácio e, durante o dia, sofriam desta forma. Nawa Chewari
perguntou qual era a razão para isso: “Qual é o carma que os faz experimentarem isto?”
Ele respondeu: “Em minha vida anterior eu era um açougueiro na cidade de Dojok. O Arya
Katayana me alertou para abandonar esta atividade. Eu disse: ‘Não posso abandonar esta
atividade durante o dia, mas o farei à noite.’ Assim, renasci aqui. Quando você retornar à cidade,
por favor diga aos meus parentes que, sob o solo, próximo à minha espada, há um pote de ouro em
pó. Eles devem cavar até encontrá-lo e oferecê-lo ao Arya Katayana. Peça-lhe para dedicar isto à
minha liberação deste sofrimento.”
Nawa Chewari prosseguiu para a quarta casa metálica. Aqui havia um homem que era
honrado, respeitado e servido por uma deusa durante o dia. Porém, à noite ela se transformava
num cão que o devorava. Ao perguntar sobre a razão para isso o homem disse: “À noite eu me
envolvia em má-conduta sexual com outras pessoas, por isso renasci assim. Durante o dia
mantinha a ética moral. Devido a estas ações estou experimentando este tipo de resultados
alternantes.”
Finalmente, chegou à quinta casa metálica. Lá, em um palácio esplendoroso, estava uma
bela dama possuidora de riquezas perfeitas e magníficas. Quando Nawa Chewari lhe pediu bebida
e comida, ela o levou para dentro e ofereceu o suficiente para comer e beber. Ela se sentou em um
trono de joias preciosas, mas havia quatro homens atados, cada um, a um dos quatro lados do
trono. Ela o advertiu: “Preciso sair por uns instantes. Se eles lhe pedirem qualquer coisa, não dê.
Não lhes dê nada.” Obviamente, assim que ela saiu, os quatro homens estenderam suas mãos e
imploraram por comida, bebida, qualquer coisa para comer. Nawa Chewari sentiu uma grande
compaixão e ofereceu-lhes um pequeno bocado de comida.
Tão logo ingeriram a comida, ela se transformou: em metal fervente, em poeira, em uma
pedra, em brasas quentes. Quando a comida chegava aos seus estômagos, eles experimentavam
um sofrimento inconcebível. Assim que ela retornou, viu seu sofrimento e disse: “Não pense que
não tenho compaixão o bastante para alimentar estes seres. É devido a este sofrimento que não lhes
ofereço comida ou bebida.”
Nawa Chewari perguntou à mulher que tipo de ações negativas os tinha conduzido a este
tipo de sofrimento. Ela explicou: “Em nossas vidas anteriores, éramos uma família de cinco
pessoas, eu, meu marido e nossos três filhos. Certo dia o pai e os filhos estavam fora enquanto eu
preparava uma deliciosa refeição e esperava por eles. Antes de voltarem, um venerável Arya
passou por ali pedindo por comida. Como já tinha preparado a comida, ofereci a ele. Logo que ele
partiu, comecei a preparar outra comida para meu marido e filhos. Eles chegaram enquanto a
comida ainda não estava pronta. Estavam famintos e exigiram sua comida. Expliquei a razão do
atraso e eles ficaram muito aborrecidos e irritados com o monge. Um deles disse, ‘Em vez de
comer nossa deliciosa refeição, esse monge deveria ter comido ferro derretido.’ Outro disse, ‘Ele
deveria ter comido poeira.’ Outro disse, ‘Ele deveria ter comido uma pedra.’ E o último disse, ‘Ele
deveria ter comido brasas em chamas.’”
“Quando disseram estas coisas, em minha mente eu soube que por dizerem tais palavras
agressivas sobre uma oferenda a um nobre monge, em vez de se regozijarem com a ação virtuosa,
eles experimentariam um sofrimento inconcebível. Então pensei, ‘Quando estiverem
experimentando este sofrimento, que eu possa ver com meus próprios olhos.’ Assim, pelo poder
desta aspiração, eu os encontro neste estado. Se não tivesse feito aquela aspiração, teria renascido
no Reino dos Trinta e Três Deuses. Foi assim que renascemos aqui como fantasmas famintos.”
Assim, Nawa Chewari passou doze anos no reino dos fantasmas famintos. Uma noite, a
dama perguntou se gostaria de retornar à sua terra natal e ele respondeu que sim.
“Neste caso, esta noite você deve dormir com a cabeça apontando para a direção de sua
terra natal. Pense fixamente na sua terra natal.” Ele seguiu suas instruções e, no dia seguinte,
acordou lá.
Ao passar pelas cidades levou todas as mensagens aos parentes dos fantasmas famintos. É
claro que não acreditaram nele, de início. Mas, quando cavaram o solo e encontraram o ouro,
acreditaram em tudo que dizia. Ele retornou aos seus pais, e todos ficaram extremamente felizes ao
se reverem. Mas, pouco tempo depois, seus pais faleceram. Então, Nawa Chewari se dirigiu ao
Arya Katayana e pediu para se tornar um monge. Foi aceito e, em determinado momento, realizou
a verdade de forma direta.
O capítulo 5 menciona que uma criança normalmente permanece no útero por trinta e oito semanas.
Algumas permanecem oito, nove ou dez meses. A permanência de outras é indefinida e algumas permanecem
até mesmo sessenta anos. O Velho ao Nascer permaneceu no útero de sua mãe por sessenta anos.
muito tempo para que sua mente amadurecesse. Mas ele estudou e se tornou um
especialista nos cinco skandas, nos dezoito datus e nos doze elos interdependentes.
Devido a estas causas e aos meus ensinamentos ele se tornou um monge e alcançou
o estado de Arhat.
O capítulo 6 cita as sete filhas do rei Krika como exemplos de pessoas medíocres, que estão interessadas
apenas em sua própria paz.
Na época do Buda Kashyapa havia o rei Krika que era naturalmente bondoso. Ele possuía
todas as qualidades excelentes e confiança inabalável no Buda. Esse rei tinha sete filhas com tantas
qualidades que pareciam deusas. Devido à sua grande acumulação de virtudes em vidas
anteriores, elas tinham realizado que todas as riquezas temporárias e a felicidade do samsara não
têm essência, são apenas momentâneas e não estão além da natureza do samsara. Elas possuíam
grande devoção e respeito por seus pais.
Certo dia elas se aproximaram do rei, seu pai, e fizeram prostrações aos seus pés. “Por
favor”, disseram: “conceda-nos a permissão para ir a um lugar solitário e realizar práticas
ascéticas, de forma que possamos renunciar à natureza do samsara, que é um sofrimento sem fim.”
Devido à grande afeição pelas filhas, o rei-pai não conseguia compreender que elas quisessem ir a
um lugar isolado e amedrontador e, então, recusou sua permissão.
As filhas disseram: “Você, pai, sempre possui compaixão para o bem-estar e benefício de
todos os seres sencientes. Por que não tem conosco também? Mesmo se ficarmos com você por
enquanto, é certo que um dia teremos que nos separar, sem escolha. Portanto, para que possamos
realizar o estado da paz absoluta, por favor, deixe-nos ir.” Devido ao grande amor e afeição pelas
filhas, o pai ficou deprimido. Olhando para elas, disse: “Por que querem ir a um cemitério, um
lugar terrível, e abandonar todos os confortos luxuosos do reino? Por que querem enfrentar
dificuldades, abandonando seus amados e compassivos pais?”
Todas as filhas disseram: “Estes pais amorosos e compassivos existem apenas no estado
relativo. Não estão além do sofrimento do samsara. Por que deveríamos nos apegar à família, aos
parentes e aos amigos? Todas as riquezas e confortos do samsara são como ilusões ou sonhos. Não
os admiramos ou estamos apegadas a eles. Por favor, tente não quebrar nosso comprometimento
em atingir a paz absoluta.”
O pai disse: “Ainda não é a hora de ir para tais lugares. Primeiro desfrutem todos os
confortos e riquezas do reino, mais tarde vocês poderão praticar de forma dura.” Com isto, ele as
abençoou. As jovens filhas ficaram completamente infelizes. Apesar de ele lhes ter dito para
desfrutar as riquezas, luxos e confortos do reino, elas viam tudo como veneno. Assim, novamente
imploraram: “Se você possui grande amor e compaixão, por favor, dê-nos a permissão para
alcançar a paz livre de medos, a paz absoluta. Por favor, permita-nos alcançar esse estado.”
Apesar de não ficar feliz com a posição de suas filhas, ele também achava que não era
correto impedir sua confiança e devoção pelos ensinamentos do Buda. Finalmente, o pai deu a
permissão e as filhas ficaram muito felizes. Elas tiraram todos os seus ornamentos e guirlandas,
fragrâncias e ornamentos de joia, todas as suas roupas luxuosas e vestiram apenas trapos. De
forma pacífica, prosseguiram em sua jornada para um cemitério.
Após uma longa viagem chegaram a um cemitério terrível, arrepiante. Havia corpos mortos
em todas as direções, alguns secos, alguns frescos. Abutres e corvos estavam comendo os corpos,
bicando os olhos, bocas e estômagos. Toda a imundície estava saindo de dentro dos corpos, que
estavam cheios de vermes. Outros seres estavam comendo os intestinos, puxando-os para lá e para
cá. Havia sangue em toda parte e o cheiro da imundície tomava conta. Havia centenas e milhares
de corpos mortos. Diversos animais, como as corujas, faziam sons arrepiantes; cobras, sapos e
lobos andavam ao redor. Era um lugar repleto de medo e perigos onde, normalmente, ninguém
conseguiria ficar. Mas, quando as filhas chegaram, ficaram muito satisfeitas com o local.
Indra ficou muito satisfeito em vê-las meditando, então apareceu diante delas dizendo:
“Que maravilhoso que vocês, irmãs, tenham renunciado ao reino como se fosse um monte de
grama e que estejam praticando meditação de forma ascética como os grandes mestres de outrora.
Que maravilhoso! Por favor, digam-me se vocês precisam de quaisquer confortos ou luxos do
reino dos deuses.”
Todas as filhas disseram: “Nós não admiramos as riquezas do samsara. Essas coisas estão
todas sujeitas à mudança e à dissolução. Elas possuem a natureza do samsara. Nós as
abandonamos para atingir a paz absoluta, livre dos sofrimentos do nascimento, velhice, morte e de
outros. Seguimos o caminho dos grandes praticantes do passado, perseverando de forma dura. Se
você, Indra, pode nos conceder realizações, então nos dê a realização suprema que não pode ser
destruída.”
Indra estava muito impressionado. Os pelos de seu corpo ficaram em pé enquanto pensava:
“Que maravilhoso e surpreendente! Elas não têm apego a tamanhas riquezas e conforto.” Ele
prosseguiu da seguinte forma: “Não possuo a habilidade de lhes conceder a realização suprema.
Mas, se apenas disserem que coisas desejam, elas serão concedidas sem esforço.”
As garotas não ficaram muito felizes com isto. “Você, que possui mil olhos, sua mente está
presa ao desejo. Você e o que pode oferecer são duas coisas diferentes. Como pode dizer que
concede realizações? Como poderia um homem levado pela forte corrente de um rio salvar aqueles
que também são levados? Suas palavras são simplesmente ignorantes.” Disseram isso e muito
mais. Com um sentimento de surpresa e espanto, Indra retornou ao Reino dos Deuses dos Trinta e
Três.
Como antes, as filhas continuaram meditando duramente, com a paz e a calma que surgem
ao renunciar ao apego a todas as coisas do samsara. Devido ao seu esforço, confiança e desapego,
finalmente se libertaram do oceano do sofrimento do samsara.
A História de Mahadatta
O capítulo 7 se refere duas vezes ao brâmane Mahadata como um exemplo do desenvolvimento da bondade
amorosa.
Incontáveis eras atrás havia um monarca que governava 84.000 reinos. Na grande cidade de
Bruta vivia o brâmane Nyagrodha. Sua riqueza era tão grande quanto a de Vaisravana, e sua
erudição era tão perfeita que até mesmo o rei o tomou como professor. Todas as pessoas do reino
respeitavam Nyagrodha tanto quanto respeitavam o rei, e eles seguiam o seu comando.
Esse brâmane estava muito triste por não ter filhos, e por isso rezou e fez oferendas a
Brahma, Indra e outros deuses por doze anos. Finalmente, sua mulher deu à luz um belo filho e o
brâmane ficou exultante. Ele patrocinou uma grande celebração para comemorar o nascimento do
filho, e lhe deu o nome de Mahadatta. À medida que o filho crescia, tornava-se insuperável nas
diferentes habilidades, artes e conhecimento.
Certo dia, com a permissão de seus pais, Mahadatta saiu para conhecer a cidade em um
elefante ornamentado por joias preciosas, acompanhado por centenas e milhares de pessoas.
Quando chegou aos subúrbios da cidade encontrou pessoas que eram muito pobres e que não
tinham roupas ou comida. Encontrou mendigos e camponeses, e perguntou ao seu séquito por que
aquelas pessoas sofriam tanto.
“Quais são os tipos de sofrimento que existem?”, perguntou. Disseram-lhe que alguns
sofrem por terem de se separar de seus pais, amigos e parentes; alguns sofrem por ficarem doentes
por muito tempo; alguns sofrem por terem roubado a comida, roupas e outras coisas dos outros.
Mahadatta ficou desconsolado e lágrimas caíram de seus olhos como um rio. Ele viajou ainda mais
adiante. Lá, em um país diferente, encontrou açougueiros que estavam matando centenas de
animais todos os dias e os esquartejavam. Em outro lugar, viu um caçador que matava animais
selvagens e pássaros. Ao ver essas coisas, ficou arrepiado e desenvolveu enorme compaixão.
Perguntou às pessoas por que estavam fazendo aquilo, e elas responderam: “Fazemos estas
coisas porque nossos pais já as faziam, e é assim que vivemos nossas vidas.” Mahadatta achou
muito difícil entender isso, assim voltou para casa e disse para seu pai: “Fui conhecer nosso país
viajando para diferentes lugares, diferentes vilas e cidades. Percebi que as pessoas estão sofrendo
devido a diferentes tipos de pobreza e estão criando não virtudes que trarão ainda mais sofrimento
para elas no futuro. Posso praticar generosidade utilizando seu grande depósito de tesouros?”
Como seu filho lhe era tão caro, o pai não pôde negar.
Mahadatta anunciou nas dez direções que praticaria generosidade sem avareza. Convidou
todos aqueles que não possuíam roupas para vestir ou comida a se aproximarem. As pessoas
viajaram milhares de milhas e se reuniram como uma nuvem ao redor da cidade. Por um longo
tempo ele lhes ofereceu comida, roupas, ouro, prata, cavalos, elefantes e outras coisas – todas as
necessidades foram satisfeitas completamente.
Após algum tempo, um terço do total do tesouro tinha sido doado. O tesoureiro relatou
isso a Nyagrodha, mas, devido ao seu respeito e amor pelo filho, ele disse: “Deixe Mahadatta
continuar a praticar generosidade.” Mais adiante restava pouca coisa de sua fortuna. Quando o
tesoureiro não podia mais tolerar a situação ele voltou a Nyagrodha e contou o que estava
acontecendo. O pai disse: “Como já dei a permissão ao meu filho para fazer isso, não posso voltar
atrás em minha decisão. Mas você deve tentar fazer algo de forma mais habilidosa.” Assim,
naquele dia o tesoureiro trancou todas as portas e fingiu que precisava ir a outro lugar. Quando
Mahadatta não pôde mais conseguir qualquer coisa para oferecer para os pobres, ele disse: “Isto
deve ser coisa de meu pai! Mas sei também que não é correto exaurir seus tesouros. Portanto, devo
fazer esforços por mim mesmo para adquirir riquezas e satisfazer os desejos dos pobres.”
Foi a diversos lugares e buscou conselhos sobre como adquirir uma fortuna inexaurível.
Alguns disseram para fazer negócios, alguns disseram que poderia ser fazendeiro, outros disseram
para ir ao mar em busca de uma joia que realiza desejos. Mahadatta decidiu que iria ao mar, e que
obter uma joia que realiza desejos era a forma mais efetiva para acumular riquezas suficientes para
oferecer a todas as pessoas pobres. Pediu permissão aos seus pais, mas eles foram completamente
contra sua ideia. E se seu corpo ou vida corressem perigo? Mahadatta disse: “Se não me derem
permissão eu permanecerei aqui com a minha boca tocando o chão e não comerei.” Apesar dos
pais tentarem de tudo para dissuadi-lo, não tiveram sucesso e ele permaneceu assim por seis dias.
No final, os pais não ousaram presenciar a morte do filho desta forma. Então, no sétimo dia,
deram-lhe a permissão.
Mahadatta ficou muito feliz. Depois de se alimentar, saiu e anunciou que estaria se
lançando ao mar, convidando quem quisesse acompanhá-lo. Reuniu cerca de 500 pessoas; eles
fizeram as preparações e partiram para sua jornada pelos mares. Depois de muitos dias chegaram
a um eremitério vazio. Infelizmente encontraram um grande macaco que roubou todos os seus
pertences. Mesmo assim, prosseguiram.
Em dado momento, chegaram à cidade onde o brâmane Kapili vivia. O brâmane Kapili
possuía uma fortuna inigualável. Descansaram lá por muitos dias e conversaram sobre muitas
coisas com o brâmane. Ele ofereceu a Mahadatta sua bela filha como esposa, e também o
presenteou com as provisões necessárias e riquezas, incluindo 3000 onças de ouro. Mahadatta
aceitou, mas disse que devido às dificuldades, obstáculos e perigos da viagem, deixaria a esposa
para trás. Assim, carregaram as provisões e, novamente, seguiram para o mar.
Na costa, carregaram o navio e puseram-se ao mar. Após sete dias chegaram a uma ilha
preciosa, onde recolheram muitas joias maravilhosas. Carregaram o navio com materiais preciosos
e se prepararam para retornar à sua terra. Nesse momento, Mahadatta disse: “Meus amigos, vocês
devem retornar para casa com estas joias. Eu devo prosseguir até o palácio naga para conseguir a
joia que realiza desejos. Se obtiver essa joia, serei capaz de oferecer aos pobres de meu país
infinitamente e pelo poder desse mérito alcançarei a iluminação. Portanto, vocês devem voltar.
Farei orações para que vocês não encontrem obstáculos ou perigos até chegarem à nossa terra.”
Ao ouvirem estas palavras, os mercadores ficaram muito tristes, lágrimas vieram aos seus
olhos. Eles tentaram de todas as formas convencê-lo a postergar sua jornada, mas Mahadatta nem
mesmo ouvia. Vagueou pelos mares por um mês e, então, nadou por uma semana. Chegou a uma
montanha e demorou sete dias para subi-la e mais sete dias para descer. Depois, continuou
nadando no mar. Finalmente, encontrou um lótus surgindo do oceano, adornado com ouro,
circundado por cobras venenosas. Ele achou que isso indicava a presença de um grande ser.
Mahadatta contemplou que essas cobras venenosas haviam nascido assim devido ao carma
do ódio e do ciúme em suas vidas anteriores. Com esse pensamento em mente, cultivou grande
compaixão por elas, sentou-se na postura de equilíbrio, meditando na bondade amorosa com
concentração unifocada, de forma que todos os seus pensamentos negativos e venenos fossem
pacificados. Então, subiu no lótus e caminhou através das cobras por sete dias. Toda vez que
encontrava um grupo de rakshas ele também meditava na bondade amorosa. Pelo poder deste
estado mental, aqueles seres também foram pacificados. Na verdade, eles acharam que não era
correto que Mahadatta fosse prejudicado, e assim, transportaram-no pelos céus por 400 yojanas.
Depois, ele prosseguiu adiante.
Pouco tempo depois, ele viu um palácio naga feito de prata. À medida que se aproximava,
Mahadatta viu que havia sete níveis de cobras venenosas circundando o palácio. Novamente,
meditou na bondade amorosa vendo que as cobras eram como se fossem seus próprios filhos. Por
este poder os seus pensamentos de ódio foram completamente pacificados. Assim, passou pelas
cobras e entrou no palácio.
Lá dentro encontrava-se o rei dos nagas, sentado em um trono construído com os sete tipos
de joias preciosas. No momento em que o rei naga viu Mahadatta ficou muito assustado! Quem
poderia entrar no palácio sem ser atacado pelas cobras? Pensando que esta deveria ser uma pessoa
muito poderosa, o rei naga ficou em pé e saudou-o, oferecendo o trono para ele se sentar e comidas
deliciosas. O rei perguntou a Mahadatta como e por que tinha vindo até ali.
Mahadatta respondeu: “No mundo existem muitas pessoas sendo torturadas. Elas sofrem
pela falta de comida, roupas, riquezas e, por isso, renascem nos três reinos inferiores. Ao ver a
condição dessas pessoas, surgiu uma compaixão intolerável em minha mente. Pensei: ‘Para
beneficiar esses seres preciso conseguir uma joia que realize desejos, mesmo sob o risco de minha
própria vida.’ Ao beneficiar esses seres sencientes acumularei um mérito ilimitado, e através dele
alcançarei a iluminação. Portanto, por favor, conceda-me a sua joia que realiza desejos.”
O rei naga disse: “É muito difícil obter esta joia. Entretanto, irei entregá-la a você, grande
ser, se ficar aqui por um mês, aceitando minhas oferendas e dando ensinamentos.” Assim, o
bodisatva Mahadatta ficou lá por um mês, aceitando as refeições mais deliciosas e serviços, e
ensinando os quatro tipos de atenção mental.
Ao final do mês, o rei naga tirou a joia que realiza desejos de sua coroa e a entregou na mão
de Mahadatta, dizendo: “Quando você alcançar a iluminação perfeita e completa que eu possa me
tornar um de seus maiores e mais próximos discípulos.” Quando Mahadatta perguntou sobre o
poder da joia, ele disse: “Esta joia tem o poder de realizar quaisquer desejos num raio de 2000
yojanas.” Mahadatta pensou que, mesmo a joia possuindo tal poder, ela não poderia realizar todas
as suas aspirações. Assim, prosseguiu pelo oceano.
Finalmente, chegou a um palácio feito de joias de lápis lazúli. Como no outro, ele estava
circundado por sete níveis de cobras venenosas. Novamente meditou na bondade amorosa com a
mente unifocada e, através deste poder, ficou livre de todo o medo e continuou para entrar no
palácio. Lá, o rei naga também se levantou de seu trono e o saudou, dizendo para sentar-se no
trono e perguntando sobre como tinha chegado até lá, qual era o seu propósito, e assim por diante.
Mahadatta respondeu da mesma forma que antes. O rei naga lhe pediu para ficar por dois meses,
aceitando as oferendas e dando ensinamentos, e depois ele lhe entregaria a sua joia que realiza
desejos.
Mahadatta concordou, e por dois meses aceitou as oferendas e serviços, e deu
ensinamentos sobre os quatro fundamentos dos poderes milagrosos. Ao final, o rei naga ofereceu a
joia que realiza desejos retirada de sua coroa, e disse: “Grande Ser, definitivamente você alcançará
a iluminação um dia. Quando isso acontecer, possa eu me tornar um de seus discípulos próximos.”
Assim, ele fez esta prece de aspiração. Quando Mahadatta perguntou sobre o poder da joia, ele
disse: “Esta joia tem o poder de realizar todos os desejos num raio de 4000 yojanas.” Mais uma vez,
Mahadatta pensou que mesmo esse grande poder não poderia realizar completamente todos os
seus desejos, e assim continuou procurando a grande joia que realiza desejos.
Continuou viajando por muito tempo, e chegou a um palácio radiante de ouro. Aqui,
novamente, superou cobras perigosas com o poder de sua meditação na bondade amorosa. Passou
por elas e entrou naquele palácio de joias inestimáveis. O rei naga pensou: “Quem será esse grande
ser que não é atingido por nenhum desses perigos?” Atemorizado e espantado ele levantou de seu
trono e se prostrou a Mahadatta, dizendo: “Grande Ser, que pôde chegar até aqui sem ser
impedido por qualquer perigo ou obstáculos, qual é o motivo de sua vinda?” Mahadatta
respondeu todas as suas razões, como antes. O rei naga lhe pediu para ficar por quatro meses,
aceitando as oferendas e dando ensinamentos, e depois ele lhe entregaria a joia que realiza desejos.
Mahadatta permaneceu lá por quatro meses, aceitando todas as oferendas e serviços e
oferecendo diversos níveis de ensinamentos. Ao final, o rei naga lhe ofereceu a joia que realiza
desejos e fez a mesma prece de aspiração que os outros. Quando Mahadatta perguntou sobre a
força da joia, ele respondeu: “Esta joia tem o poder de realizar desejos num raio de 8000 yojanas.”
Agora Mahadatta estava muito satisfeito. “Esta Jambudvipa tem apenas 7000 yojanas de
dimensão. Assim, este poder é mais do que preciso para satisfazer os desejos de todos os seres.
Agora posso retornar à minha pátria e realizar todos os meus desejos.” Os nagas e todo o seu
séquito fizeram prostrações e deixaram Mahadatta partir para sua terra.
Após ter percorrido certa distância, Mahadatta pensou: “Se estas são realmente joias que
realizam desejos, que eu possa ter a capacidade de voar pelos céus.” Tão logo fez esta prece, pôde
voar sobre o oceano sem dificuldades. No limite do oceano, parou e descansou por um tempo,
caindo em um sono profundo. Enquanto estava dormindo, os nagas inferiores ficaram pensando
sobre as suas joias preciosas, que estavam sendo levadas por um ser humano. “Isto nos deixará
pobres. Devemos tomar nossas joias de volta!” Pensando assim, eles roubaram todas as joias.
Assim que acordou e percebeu o que tinha acontecido, Mahadatta soube que os nagas
tinham levado suas joias. Como não poderia retornar para casa com as mãos vazias, decidiu drenar
todo o oceano e fazer com que a terra dos nagas ficasse sem água. Com este comprometimento,
tomou o casco de uma grande tartaruga e começou a usá-lo como balde, tirando a água do oceano
e jogando-a para o outro lado. O deus dos mares pensou: “Este oceano tem 333 yojanas e apenas
uma pessoa não será capaz de tirar toda esta água. Mesmo se todos os seres humanos de
Jambudvipa viessem, não seriam capazes de acabar com a água.”
Mahadatta continuou inabalável. Ele pensou: “Com perseverança não há nada que não
possa ser realizado. O motivo de obter as joias era beneficiar e oferecer conforto para incontáveis
seres sencientes. Pelo poder deste mérito alcançarei a iluminação, assim, não devo nunca deixar
meu comprometimento fraquejar. Eu conseguirei secar este oceano.” Assim, continuou tirando a
água do mar.
Vishnu e inúmeros outros deuses vieram ajudá-lo. Os deuses lançavam suas roupas no
oceano, ensopando-as, e lançavam a água para o outro lado do oceano. Fizeram isto três vezes,
secando a água por quarenta yojanas cada vez. Quando 120 yojanas estavam secas, os nagas
ficaram com medo que todo o oceano fosse drenado e todos eles morressem. Assim, devolveram as
joias para Mahadatta, e disseram ao bodisatva: “Por favor, aceite nossas desculpas e as joias.”
O deus dos oceanos ficou completamente espantado, e disse: “Um dia este bodisatva
definitivamente alcançará a iluminação completa. Quando isso acontecer, que eu possa me tornar
um de seus discípulos próximos.” Assim, fez esta prece de aspiração. Então, o bodisatva
Mahadatta pegou todas as joias e voou para o palácio do brâmane Kapili. O brâmane ficou
surpreso e maravilhado e recebeu Mahadatta calorosamente. O brâmane lhe ofereceu sua filha em
casamento, e também 500 servas, 500 elefantes e diferentes tipos de ornamentos de joia. Eles
viajaram por muitos dias e, finalmente, chegaram à terra de Mahadatta.
Achando que seu filho estava morto, seus dois pais tinham sofrido e lamentado muito.
Tinham chorado tanto que estavam, os dois, cegos. Mas, Mahadatta conseguiu voltar para casa e
segurar as mãos de seus pais! Contou-lhes sobre suas aventuras e sobre as joias que realizam
desejos e seus pais ficaram muito satisfeitos. Com o poder das joias, a visão deles se restabeleceu.
Ele segurou a joia que realiza desejos em suas mãos e fez a seguinte prece de aspiração: “Que os
depósitos de tesouros possam ficar completamente cheios de joias”, e assim aconteceu. Com isso,
eles ficaram muito felizes e levaram uma vida luxuosa.
O rei, então, declarou a todas as pessoas do reino que o Grande Ser Mahadatta tinha
retornado de sua viagem ao oceano com todas as joias que realizam desejos. Ele anunciou que, em
sete dias, comida, roupas, ouro, prata e outras coisas – o que quer que fosse desejado – choveria
pelo poder das joias.
O Grande Ser Mahadatta, bem vestido, colocou todas as joias em bandeiras e fez a seguinte
prece: “Pelo poder destas joias, possam todos os seres de Jambudvipa ter seus desejos realizados.
O que quer que lhes falte – alimento, bebida, riquezas – que tudo isto possa chover pelo poder das
joias.” Tão logo disse isto, o vento soprou das quatro direções e limpou toda a poeira. Logo depois,
uma bruma chuvosa caiu e deixou a terra úmida e suave. Então uma chuva de comidas deliciosas e
bebidas com milhares de diferentes sabores caiu. Choveram os diferentes tipos de grãos, roupas,
joias, ouro e prata. Assim, toda a terra foi coberta por riquezas.
Naquele momento, Mahadatta declarou a todo o povo: “As pessoas de Jambudvipa sentem
falta de alimentos, roupas, e por isso se matam e roubam umas das outras, criando constantemente
carma negativo. Devido a estas causas renascerão nos três reinos inferiores e experimentarão um
sofrimento inconcebível e inexaurível. Ao ver isto, surgiu em minha mente uma compaixão
incondicional e insuportável. Isto fez com que, mesmo sob o risco de minha vida e de meu corpo,
eu reunisse estas joias para o benefício de todos vocês. Agora que têm tudo que precisam,
aproveitem! Esforcem-se para não se engajar em quaisquer ações negativas! Devotem suas vidas às
dez ações virtuosas!” Desta forma, ele abriu as portas para os ensinamentos ilimitados.
Então, o Buda disse: “O brâmane Mahadatta, hoje, sou eu. O pai, o brâmane Nyagrodha, é
o meu pai Vishodana, e sua esposa era minha mãe, Mayadevi. O rei naga do palácio de prata é
Sariputra. O rei naga do palácio de lápis lazúli é Maudgalyayana. O rei naga do palácio de ouro é
Ananda. O rei do oceano é Mangakpa.”
Assim termina esta história.
O capítulo 7 menciona que o poder da prática da bondade amorosa também é bom para proteger os outros,
como se conta na história do rei Bala Maitreya.
Certa vez, quando o Buda se encontrava em Shravasti, Ananda se questionou que tipo de
raiz de virtude teria feito com que Kaundinya e os outros – os cinco primeiros discípulos do Buda
– tivessem recebido os ensinamentos do Buda quando ele girou pela primeira vez a Roda do
Darma, ficassem satisfeitos com aqueles ensinamentos e através deles alcançassem o estado de
Arhats. Com isto em mente, Ananda pediu ao Buda para explicar como isto tinha ocorrido. O Buda
disse: “Não apenas nesta vida eu ajudei estes cinco discípulos, mas também dissipei sua fome e
sede em uma vida anterior, oferecendo-lhes meu próprio sangue e carne. Assim, isto aconteceu
através do poder da aspiração que tive então: ‘Quando alcançar a iluminação, possa eu estabelecê-
los no estado da paz absoluta.’” Ananda lhe pediu para relatar esses acontecimentos em maiores
detalhes, e assim o Buda contou a seguinte história:
Incontáveis kalpas atrás, nesta Jambudvipa, havia um rei Bala Maitreya que governava
84.000 diferentes reinos. Sua natureza era amorosa e compassiva, ele praticava persistentemente os
quatro pensamentos insuperáveis. Ele estabeleceu seus súditos na ética moral das dez virtudes tão
bem que nem mesmo as palavras “inimigo” ou “ladrão” eram ditas naquele país. O povo sempre
desfrutava a paz, a felicidade e todos os tipos de riquezas gloriosas e colheitas abundantes. Como
todos os corpos, mentes e a fala dessas pessoas estavam estabelecidos firmemente na virtude,
nenhuma doença ou mal-estar se manifestavam.
Nessa época havia cinco yakshas que saboreavam e sobreviviam da carne e do sangue de
outras pessoas. O prazer de suas vidas era disseminar diferentes pragas e doenças. Mas aqui,
nenhum de seus desejos era realizado e por isso estavam famintos e sedentos, e sofriam por não
poderem causar o mal aos outros. Eles se aproximaram do rei Bala Maitreya e explicaram: “Nós
nos sustentamos comendo a carne e bebendo o sangue de seres humanos. Mas, devido ao poder de
suas regras de virtude, que todas as pessoas seguem, não temos chance de atacar ninguém, nem
suas vidas, nem seus corpos. Assim, agora estamos sofrendo de fome e sede e estamos próximos
ao fim de nossas vidas. Você não tem compaixão por nós?”
Uma compaixão ilimitada por esses seres surgiu na mente do rei. Dizendo: “Vocês podem
beber o sangue de meu corpo”, ele cortou suas mãos, pernas e pescoço, e deixou os yakshas
beberem o sangue de seus cinco pontos. Eles beberam o sangue até ficarem completamente
satisfeitos. Depois, o rei disse: “Yakshas, de agora em diante, devem sempre se engajar em ações
virtuosas”, e fez esta prece de aspiração: “Desta vez eu lhes dei o sangue de meu corpo para
dissipar o sofrimento de sua fome e sede. Pelo poder deste mérito possa eu estabelecê-los na ética
moral, concentração meditativa e sabedoria discriminativa quando alcançar a iluminação. Desta
forma, possa seu sofrimento acabar, e que eles possam alcançar o estado insuperável do nirvana.”
O Buda disse a Ananda: “Eu mesmo era esse rei Bala Maitreya. Os cinco yakshas são agora
meus cinco primeiros discípulos, Kaundinya e os outros. Pelo poder daquela prece de aspiração
eles receberam meu primeiro ensinamento e tiveram a oportunidade de enxergar a verdade última
recebendo apenas estes ensinamentos. Foi assim que a conexão se estabeleceu.”
A História de Angulimala
O capítulo 9 explica a purificação das ações negativas através do poder do remorso. Em tempos antigos,
Angulimala, o mal-feitor que matou 999 pessoas, alcançou o estado de Arhat ao purificar todas as suas ações
negativas pelo poder do remorso. A “Carta a um Amigo” de Nagarjuna diz:
Quando o Buda residia em Shravasti, esta cidade era governada pelo rei Segyal. Ele tinha
um ministro especial, que era especialista em todas as diferentes artes e conhecimento, e que era
muito rico e poderoso. Sua esposa era um tanto agressiva, nem amigável nem gentil. Mas, tão logo
eles conceberam uma criança, ela se tornou gentil, compassiva e amorosa. O grande intérprete de
sinais disse que essa mudança tinha sido causada pelo poder da criança que estava em seu ventre.
Assim, quando a criança nasceu, recebeu o nome de “Ahimsa” (não violência). À medida que
crescia, Ahimsa se mostrava naturalmente muito inteligente, com muitos talentos físicos, e era
especialista em todas as diversas habilidades. Sua força era igual à de mil pessoas. Era tão rápido
que era capaz de pegar um pássaro saltando no ar.
Naquela época havia um professor brâmane que tinha grandes conhecimentos de diversos
temas e que possuía cerca de 500 discípulos. O ministro levou seu filho àquele professor para que
lhe fossem ensinados todos esses temas. A inteligência de Ahimsa era tão poderosa que ele era
capaz de estudar e entender em um dia o que levaria anos para outros aprenderem. Não levou
muito tempo para que adquirisse grande conhecimento. Seu professor estava muito satisfeito e
sempre o tinha com ele. A esposa do professor, infelizmente, sentia-se muito atraída pela beleza e
pelo talento físico de Ahimsa, mas não encontrava uma oportunidade para conversar com ele ou
estabelecer uma relação.
Certa vez, um patrocinador pediu ao professor brâmane para que viesse até sua casa e
permanecesse lá por três meses com todos os seus discípulos. O professor disse à esposa: “Temos
muitas coisas para fazer aqui em casa. Muito trabalho deve ser realizado. Quem deveria
permanecer e te ajudar enquanto eu estiver fora?” A esposa disse que deveria ser alguém com
grande conhecimento e habilidades em diversas áreas e ela sugeriu que Ahimsa seria a melhor
escolha. Assim, o professor brâmane disse a Ahimsa: “Fique em minha casa e ajude minha esposa.
Faça o que ela pedir para você fazer.” Assim, o brâmane e seus discípulos partiram.
A esposa pensou: “Agora poderei realizar meus desejos.” Logo depois, ela falou com
Ahimsa e sugeriu que ele deveria ter um caso com ela. Mas Ahimsa possuía grande reverência por
seu professor. Ele pensou: “Esta é a mulher de meu professor. E não apenas isto, isto seria contra a
tradição brâmane. Seria melhor morrer do que manter uma relação com ela”. Assim, não aceitou
sua proposta.
Ela ficou muito embaraçada e completamente contrariada com isto. Quando o professor
brâmane e seus discípulos retornaram ela rasgou suas roupas, arranhou o próprio rosto com as
unhas e se jogou no chão chorando. Quando o professor entrou em casa e a encontrou em tal
estado, perguntou o que tinha acontecido. Ela disse: “Depois que você saiu, Ahimsa foi possuído
por um terrível desejo. Quis ficar aqui e ter relações comigo. É claro que não aceitei sua proposta.
Então, com sua força ele fez isso comigo.”
O professor brâmane ficou muito zangado e pensou: “Este Ahimsa é filho de um
importante ministro. É muito educado e poderoso. Não só isto, pois eu não poderia desafiá-lo,
uma vez que ele tem a força de mil homens. Mas vou tentar um método especial para me livrar
dele.” Assim, foi até Ahimsa e conversou com ele de forma muito polida e agradável. Ele disse:
“Você é um de meus discípulos mais próximos. Meu coração está com você e você é tão bondoso
comigo. Tenho um ensinamento especial que não ofereci a ninguém mais e quero mostrá-lo a você.
Se puder praticá-lo adequadamente, então, sem dúvidas, renascerá como um deus do reino de
Brahma.”
Ahimsa ficou muito satisfeito ao ouvir essas palavras. Ajoelhou-se no chão, juntou suas
mãos no coração, e pediu: “Mestre, por favor, dê-me esse ensinamento especial.”
O professor respondeu: “Se, em uma semana, você conseguir cortar as cabeças de 1000
pessoas e pegar um dedo de cada uma delas, usando-os como as contas de um mala ao redor de
seu pescoço, então, ainda nesta vida você verá a face de Brahma diretamente. Em seguida
renascerá no reino de Brahma.”
Ao ouvir esta instrução Ahimsa teve dúvidas. Ele respondeu ao mestre da seguinte forma:
“Não é correto renascer no reino de Brahma tirando a vida das pessoas.”
O mestre respondeu: “Você é meu discípulo. Se não ouvir e seguir minhas instruções, se
não tem confiança em meus ensinamentos, então não é um discípulo adequado. Saia daqui!”
Naquele momento o mestre fincou uma espada no chão e a mente de Ahimsa foi completamente
tomada por grande raiva. O mestre colocou a espada, que tinha sido encantada por um mantra de
magia negra, em sua mão. Ahimsa saiu e brandia a espada de forma tão raivosa que matou quem
quer que encontrasse pelo caminho. De cada um ele cortava um dedo para usar como uma conta
do mala que usava ao redor de seu pescoço. E assim, desde então, ficou conhecido como
“Angulimala” (Guirlanda de Dedos).
Correu para cá e para lá e, em uma semana, já tinha matado 999 pessoas. Mas, como todos
fugiram para se proteger, ele não conseguia encontrar uma última pessoa para chegar ao total de
1000.
Durante esses sete dias ele não tinha comido ou bebido. Sua mãe estava tomada por
compaixão por seu filho, que não tinha comido nada, e assim decidiu levar-lhe comida e bebida.
Ele a viu chegando à distância e pensou: “Não há mais ninguém por aqui, acho que devo matar
minha mãe.” E correu em sua direção.
Ela disse: “Filho, você deveria servir e honrar sua mãe. Não é correto matar a própria mãe.
É um crime hediondo que fará com que você renasça nos infernos. Não é verdade?”
“Mas eu recebi instruções de meu mestre para matar 1000 pessoas em uma semana. Isto
será a causa para eu renascer no reino de Brahma. Agora só me falta um dedo, e assim devo te
matar.”
A mãe respondeu: “Em vez de me matar, apenas corte um dedo, é possível?”
Durante esta negociação, o Buda, onisciente, corporificação da compaixão, totalmente
presente, viu que era a hora de ajudar aquela pessoa a se liberar. Imediatamente o Buda emanou
um monge que caminhava próximo a Angulimala.
Assim que Angulimala viu o monge, pensou: “Em vez de matar minha mãe vou matar este
monge.” Então correu na direção do monge, que estava caminhando tranquilamente. Mesmo
correndo muito rápido, Angulimala não conseguia alcançá-lo. Na verdade o monge estava cada
vez mais distante. Percebendo isso, Angulimala disse: “Monge, por favor, espere por mim.”
À distância, o monge disse: “Eu estive esperando por você, mas você continuou correndo.”
Angulimala respondeu: “O que quer dizer com isso, que esperou e eu continuei correndo?”
O monge respondeu: “Todos os meus órgãos sensoriais estão completamente permeados
pela concentração meditativa. Eu sempre repouso em estados pacíficos. Devido às instruções
maléficas de seu mestre sua mente está completamente confusa e enganada e, assim, não é estável.
Dia e noite você está correndo para matar e criar não virtudes inconcebíveis.” No momento em que
Angulimala ouviu estas palavras, entendeu seu significado. Jogou a espada ao chão e fez
prostrações à distância, dizendo: “Tomo refúgio em você.”
A História de Udayana
O capítulo 9 explica a purificação das ações negativas através do poder do antídoto. A prática da virtude,
sendo o antídoto completo para as ações negativas, leva à exaustão das aflições. Em tempos antigos, Udayana,
o mal-feitor que matou sua mãe, praticou o poder do antídoto completo, purificou esta ação, renasceu no reino
dos deuses e alcançou o fruto de entrar na corrente. Assim se diz:
Certa vez, em Shravasti, havia um chefe-de-família casado, cuja mulher deu à luz um filho.
O marido viajou para acumular riquezas em outro lugar, mas a mãe criou o filho muito bem
sozinha. Um dia o filho e um amigo encontraram uma jovem mulher que estava no teto de sua
casa e ela jogou ramalhetes de flores para chamar sua atenção. Seu amigo percebeu que eles
estavam se comunicando de forma inadequada através de uma linguagem por sinais. Então,
rapidamente, foi até a casa do amigo e contou para a mãe do rapaz o que estava acontecendo.
Sua mãe e o amigo conversaram sobre a situação. Ele disse: “Se ele for até aquela casa para
encontrar a jovem experimentará um grande sofrimento. Portanto, devemos protegê-lo. Irei
protegê-lo durante o dia. Você, mãe, deve protegê-lo durante a noite.” A mãe construiu um quarto
especial para o filho, com um banheiro confortável. Trancou a porta do quarto dele e dormiu ao
lado da porta.
À noite, o filho acordou e disse: “Mãe, posso sair para ir ao banheiro?” Ela respondeu:
“Não, você não precisa sair, pois tem um banheiro em seu quarto.” Assim, ele ficou quieto por
alguns instantes. Um tempo depois ele implorou: “Mãe, por favor, abra a porta que eu quero sair.”
A mãe respondeu: “Não é apropriado sair à noite. Você tem uma cama confortável. Durma.” Logo
depois, ele reclamou: “Mãe, posso sair? Por favor, abra a porta!” A mãe respondeu: “Eu sei o que
você está planejando. Dormirei aqui na frente da porta, pois não quero que você saia.”
De repente ele ficou muito furioso, tomou uma faca e cortou o pescoço da mãe. Quando
chegou à casa da jovem mulher estava tremendo de medo, pensando na ação negativa que tinha
cometido. Enganando-se sobre a causa de sua agitação, a jovem o confortou, dizendo: “Não tenha
medo de nada. Só estamos nós neste quarto.” O rapaz explicou: “Por você acabei de matar minha
mãe.”
A garota pensou: “Ele deve ser uma pessoa muito má. Se ele se zangar no futuro poderá
fazer o mesmo comigo.” Assim, ela disse: “Espere aqui um momento. Tenho que ir até a parte de
cima da casa. Já volto.” Ela foi até a parte superior da casa e gritou: “Ladrão! Pega ladrão! Pega
ladrão!” Naquele momento, o rapaz correu de volta para sua casa. Deixou a faca ainda com sangue
na soleira da porta, e correu ao redor dizendo que o ladrão tinha matado sua mãe.
Este filho enfrentou, então, muito arrependimento e remorso. Buscou um método para
purificar sua ação negativa. Viajou de lugar em lugar, país em país, floresta em floresta,
perguntando a diferentes professores e ascetas se havia um método, mas nenhum deles conhecia.
Finalmente, chegou a Jetavana, onde um monge estava cantando este verso:
Ao ouvir estas palavras desenvolveu a fé de que este monge saberia, com certeza, como
purificar seu carma negativo. Dirigiu-se ao monge e pediu: “Nobre Ser, posso me tornar um
monge?” O monge realizou a cerimônia de ordenação e ele se tornou um bhikshu.
Tendo se tornado um monge, perseverou e se especializou nos três pitakas e na recitação de
orações. Vendo que fazia tamanho esforço, os outros monges vieram até ele e perguntaram por
que perseverava daquela forma. Ele disse: “Não sou como vocês. Eu matei minha mãe, por isso
sou uma pessoa má. Para purificar esta ação persevero desta forma.” Sua história chegou até o
Buda. Quando o Buda recebeu esta notícia, disse a todos os monges que aqueles que tivessem
matado a própria mãe não tinham como atingir o fruto no Vinaya1. Assim, o Buda lhe pediu
gentilmente que abandonasse a comunidade.
Ele foi até um país vizinho onde um chefe-de-família se tornou seu patrocinador. Ele
desenvolveu tal fé em Udayana que construiu um templo para ele. Lá, monges de diferentes
lugares se reuniram para ouvir seus ensinamentos. Muitos se tornaram Arhats.
Após algum tempo, Udayana ficou doente. Percebendo que morreria, pediu que fossem
construídas cabanas para monges como seu memorial. Pouco tempo depois que elas foram
finalizadas, ele morreu e renasceu no reino dos infernos. No inferno, disse: “Estas cabanas são tão
quentes.” Os guardiões do inferno disseram: “Ó infeliz! Isto não é a cabana de um monge, isto é
um inferno.” Dizendo isto, bateram em sua cabeça com um martelo. Ele morreu naquele momento,
e pela virtude criada construindo cabanas para monges e dando ensinamentos, purificou uma
grande parte de seu carma negativo, renascendo no reino dos deuses dos Quatro Reis Guardiões.
Pouco tempo depois, este filho dos deuses desceu à terra para servir o Buda e receber
ensinamentos. Aproximou-se do Buda e fez todos os tipos de oferendas de flores dos deuses,
honrou o Buda e se prostrou aos seus pés. O Buda lhe deu vários níveis de ensinamentos. Ele fez
um grande esforço no estudo e na prática, alcançou o fruto de entrar na corrente e retornou ao
reino dos deuses.
Esta é a história de Udayana, o filho que matou sua mãe.
A História de Nanda
O capítulo 9 explica a purificação das ações negativas através do poder da resolução. Temendo o
amadurecimento futuro da negatividade, as ações negativas são abandonadas. Em tempos passados, Nanda, o
mal-feitor que era muito apegado a uma mulher, alcançou o fruto do estado de Arhat ao purificar suas ações
negativas pelo poder da resolução. Assim se diz:
Enquanto o Buda se encontrava em Kapilavastu, seu sobrinho Nanda estava tão apegado à
beleza e aos talentos de sua esposa Pundarika que eles não podiam se separar nem por um
instante. Assim, suas vidas eram vividas plenas de prazer. O Buda, com sua grande lucidez,
compaixão e precognição, percebeu que já era tempo de ajudar Nanda.
Então, o Buda saiu com Ananda para mendigar o almoço. Ao chegar à porta, o Buda
emanou uma luz brilhante para dentro da casa e todos se perguntaram o que significava aquele
sinal especial. Mandaram um servo verificar. Era o Buda, o servo retornou informando. Nanda
imediatamente se preparou para saudar o Buda. Nesse momento, sua esposa Pundarika ficou com
medo que ele pudesse se tornar um monge. Ela não queria que isto acontecesse, e assim se agarrou
às suas roupas e implorou para ele não ir. Nanda disse: “Apenas vou ver o Buda e fazer
prostrações. Estarei de volta rapidamente.” Ela colocou uma gota de água sobre a sua cabeça e lhe
pediu para voltar antes que a gota secasse. Ele prometeu.
Assim, Nanda foi encontrar o Buda e fez prostrações. Pegou a tigela de mendicância do
Buda, levou-a para dentro da casa e encheu-a com as comidas mais deliciosas. Mas, quando voltou
até a porta para fazer a oferenda ao Buda, ele estava indo embora tranquilamente. Devido ao
poder, dignidade e esplendor do Buda ele não podia chamá-lo e dizer para vir pegar sua tigela.
Ananda se recusou a pegá-la, e ele não podia simplesmente colocar a tigela no chão. Assim, teve
que seguir o Buda, levando a tigela nas mãos.
Quando chegaram ao templo, o Buda aceitou a tigela e pediu para Nanda se sentar com ele.
O Buda desfrutou a refeição e ofereceu os restos a Nanda, dizendo: “Por favor, coma.” Nanda
comeu todo o resto. Então, o Buda disse: “Você tem interesse em se tornar um monge?” Devido ao
poder e à dignidade do Buda ele não conseguiu recusar. Apenas disse: “Sim”. O Buda disse a
Ananda: “Por favor, leve Nanda para que cortem seu bigode e seus cabelos.”
Assim, Ananda o levou ao barbeiro. Mas, quando o barbeiro começou a cortar seus cabelos,
Nanda disse para ele: “Barbeiro, em pouco tempo me tornarei um grande monarca. Se você cortar
meu cabelo, mandarei cortar as suas mãos.” O barbeiro ficou tão apavorado que fugiu.
Ananda imediatamente avisou o Buda sobre o que acontecera. O Buda caminhou
tranquilamente até Nanda e perguntou: “Você tem interesse em se tornar um monge?”
Nanda disse: “Sim, eu quero me tornar um monge.” O Buda o levou a um lugar adequado
e pediu a Ananda para trazer água. Ele mesmo lavou a cabeça de Nanda e cortou seus cabelos e
bigode.
Por algum tempo Nanda continuou servindo o Buda. Apesar de ter se tornado fisicamente
um monge, ele pensava dia e noite apenas no seu desejo de voltar para casa. Certa noite estava se
preparando para ir embora, mas o Buda manifestou um grande precipício, e ele não pôde ir.
Nanda pensou: “Irei amanhã.” Ele sofria tanto ao pensar em sua esposa. Sabendo de seu estado
mental, o Buda pediu a Ananda para dizer a Nanda que deveria ficar e limpar o templo enquanto
ele e seus monges estivessem em Kapilavastu para o almoço. Assim, Nanda ficou para trás para
limpar o templo.
Quando o Buda e todos os seus monges partiram, Nanda ficou muito animado com o
pensamento de que logo após terminar de limpar o templo poderia ir embora. Mas, por mais que
limpasse o templo, toda a poeira retornava pelo poder da manifestação do Buda. Ele ficou muito
cansado. Mesmo não tendo conseguido limpar tudo, fechou a porta e partiu. Quando fechou a
porta do templo ela abriu sozinha. Fechou-a novamente e ela abriu. Ele pensou: “Não consigo
fechar a porta. Se o templo for destruído ou cair poderei construí-lo novamente quando me tornar
um rei.” Com este pensamento, começou a correr.
Ele imaginou que andando pela estrada principal poderia encontrar o Buda e seus monges,
e isso não seria bom. Assim, embrenhou-se por uma pequena trilha. Para o Buda, é claro, todas as
coisas são muito óbvias, e assim ele veio por aquela trilha. Quando Nanda viu que o Buda estava
vindo, ele escondeu sob o galho de uma grande árvore, mas, quando o Buda se aproximou, a
árvore suspendeu o galho, e lá estava ele. Nanda ficou muito envergonhado e com medo. O Buda
disse: “Você gostaria de retornar ao templo?”, ele respondeu que sim.
O Buda sabia que ele estava sofrendo muito pensando em sua mulher. Assim, certo dia o
Buda lhe perguntou: “Você já viu ou já esteve naquela montanha do outro lado – chamada de
Montanha do Odor de Incenso?” Quando Nanda respondeu que nunca a tinha visto ou estado lá, o
Buda sugeriu que fossem dar uma volta até lá. Nanda concordou. O Buda disse: “Agarre-se ao
meu manto!”, através de seu poder milagroso, voaram pelo céu e foram até aquela montanha cheia
de árvores. O Buda se sentou e disse a Nanda para apenas observar uma macaca que tinha perdido
um olho. O Buda lhe perguntou: “Nanda, quem é mais bonita, sua esposa Pundarika ou esta
macaca?” Ele respondeu: “Pundarika, minha mulher, é 100 vezes mais bonita que a macaca. A
macaca não pode ser comparada com ela.” Então eles voltaram.
No dia seguinte, o Buda perguntou a Nanda se estava interessado em conhecer o reino dos
deuses. Nanda disse: “Sim, estou.”
“Agarre-se ao meu manto.” Ele segurou o manto e, naquele momento, o Buda o levou ao
Reino dos Deuses dos Trinta e Três através de seu poder milagroso. O Buda se sentou e disse a
Nanda para ir ver o que ele pudesse. Ele foi até a cidade dos palácios dos deuses. Havia muitos,
muitos palácios, cada um repleto de deuses e deusas que desfrutavam enorme luxo e prazeres. Ele
continuou indo de um palácio a outro.
Em um dos palácios havia um trono vazio – nenhum deus, apenas deusas. Nanda ficou
curioso e perguntou às deusas: “Os outros palácios que vi tinham tanto deuses quanto deusas, mas
aqui há apenas deusas, nenhum deus. Por quê?” Elas responderam: “Neste momento, na terra, o
sobrinho do Buda, Nanda, tornou-se um monge. Devido a isto, após sua morte ele renascerá aqui.
Assim, este lugar está sendo preparado para ele.” Ele ficou tão animado e se sentiu tão feliz que
voltou rapidamente para o Buda e explicou tudo o que tinha visto.
Naquele momento, o Buda lhe perguntou: “Quem é mais bonita, sua esposa Pundarika ou
estas deusas?” Nanda respondeu: “Minha esposa Pundarika é como a macaca cega. Não há como
comparar. As deusas são centenas e milhares de vezes mais belas.” O Buda disse: “Agora volte
para praticar a vida celibatária de um monge e desfrutará todos os prazeres do reino dos deuses.”
Assim, eles retornaram ao templo de Anatapindadasyarama. Para alcançar os prazeres do reino
dos deuses Nanda se esforçou por manter sua vida monástica.
Entendendo o seu estado mental, o Buda instruiu Ananda que nenhum dos monges deveria
conversar ou ficar junto a Nanda porque ele estava mantendo seus votos monásticos apenas para
alcançar o reino dos deuses. Devido a esta orientação, todos os monges o abandonaram; não
falavam mais com ele nem ficavam ao seu lado. Nanda ficou um pouco deprimido e foi até
Ananda, pensando que como Ananda era seu sobrinho, talvez conversasse com ele. Mas Ananda
também o abandonou. Nanda perguntou: “Por que você está fazendo isto? Os outros monges
podem me abandonar, mas você é meu sobrinho. Como pode fazer isto?” Ananda reconheceu que
o que ele estava dizendo era verdade, mas que seus caminhos eram diferentes. “Você está se
esforçando para manter seus votos monásticos de celibato apenas para obter os prazeres do reino
dos deuses. Nós estamos nos esforçando para alcançar o nirvana. Portanto, não é adequado
compartilharmos a sua companhia.” Ao ouvir isto, Nanda ficou muito chateado e ainda mais
deprimido.
Sabendo de sua motivação, o Buda foi até ele e disse: “Nanda, você já viu o reino dos
infernos?” Quando Nanda respondeu que não, o Buda disse: “Você gostaria de ir até lá? Sim”,
disse Nanda. O Buda lhe disse para se agarrar ao seu manto monástico e, em um instante, o Buda o
levou ao reino dos infernos. O Buda se sentou e disse: “Vá olhar os diferentes lugares.”
Enquanto estava caminhando Nanda viu muitos caldeirões de cobre gigantes, assentados
sobre uma base em chamas e cheios de metal derretido. Havia pessoas sendo cozidas dentro destes
caldeirões pelos guardiões do inferno e elas sofriam inconcebivelmente. Ele foi de lugar em lugar,
e em certo ponto, viu um caldeirão grande como os outros, mas não havia ninguém dentro. Assim,
Nanda perguntou aos guardiões: “Todos os outros caldeirões com metal líquido fervente tinham
alguém sendo cozido, mas aqui não há ninguém, apenas o líquido fervente. Por quê?”
Os guardiões responderam: “Na Terra se encontra agora o sobrinho do Buda, Nanda. Ele
está praticando o Darma tendo se tornado um monge, e está mantendo seus votos monásticos para
renascer no reino dos deuses. Depois disto, ele será colocado neste caldeirão e cozido.” Apavorado
que pudessem reconhecê-lo e jogá-lo no caldeirão, Nanda correu de volta para o Buda e contou
tudo que tinha visto e ouvido.
O Buda disse: “Se você se tornar um monge com a aspiração de desfrutar os benefícios dos
reinos dos humanos e dos deuses, este tipo de desvantagem também ocorre. Assim, deve manter
seus votos para atingir o nirvana.” Com isto, o Buda e Nanda retornaram ao bosque Jetavana.
O Buda disse aos monges e a Nanda que todos deveriam se esforçar para purificar as três
falhas do desejo, raiva e ignorância. Daquele momento em diante, Nanda se esforçou de coração,
sem qualquer apego aos prazeres e confortos dos estados elevados temporários dos deuses e
humanos. O Buda lhe deu ensinamentos de acordo com sua disposição mental e ele meditou
profundamente nas práticas. Como resultado, alcançou o estado de Arhat, pouco tempo depois.
Esta é a história de Nanda, que pelo poder de sua resolução alcançou o estado de Arhat.
A História de Ajatashatru
O capítulo 9 explica a purificação das ações negativas através do poder da confiança, que é a tomada de
refúgio nas Três Joias e o cultivo da mente que busca a iluminação suprema. Em tempos antigos,
Ajatashatru, o mal-feitor que matou o pai, purificou suas ações negativas e se tornou um bodisatva ao
praticar o poder da confiança. Assim se diz:
Em Rajagriha vivia o rei Bimbisara que era um grande patrocinador do Buda e de seus
discípulos. Esse rei teve um filho, que foi chamado de Tongden, que significa “Digno de Ser Visto”
ou “Encontro Virtuoso”. Mas também era chamado de Ajatashatru, que significa “Inimigo Antes
de Nascer”.
Naquela época, o primo do Buda, Devadatta, estava constantemente competindo com o
Buda e tinha intenções maldosas contra ele. Devadatta praticava meditação e se esforçava para
alcançar as cinco clarividências para poder prejudicar o Buda. Logo após ter alcançado tais
qualidades ele se apresentou ao príncipe Ajatashatru e expôs seus poderes milagrosos. Ajatashatru
ficou muito impressionado e desenvolveu grande devoção por ele. Ele agradou Devadatta com
todos os tipos de oferendas e prazeres.
O príncipe disse a Devadatta: “Ó Nobre Ser, eu gostaria de ter uma flor de mantra.”1
Usando seus poderes milagrosos, Devadatta foi até o Céu dos Trinta e Três e pediu aos deuses
para lhe darem uma flor. Mas, como não possuía bastante virtude, nenhum dos deuses concordou.
Achando que não seria um erro muito grave, foi até um campo do reino dos deuses e colheu uma
flor selvagem, que aparentemente não pertencia a ninguém. No momento em que pegou aquela
flor ele perdeu todos os seus poderes. Era uma pessoa comum de Rajagriha, como antes. Ele ficou
muito envergonhado por ter perdido todo seu prestígio. Naquele momento não pôde encarar o
príncipe Ajatashatru.
Devadatta pensou em reconquistar sua posição indo até o Buda e solicitando os seus
monges. “Se ele me der seus seguidores eu lhes darei ensinamentos.”Assim, foi até o Buda e pediu:
“Você me daria todos os seus monges e séquito? Eu quero dar ensinamentos a estes monges e
domar suas mentes.”
O Buda respondeu: “Tolo! Mesmo Sariputra que é tão brilhante e que possui tamanho
insight especial e sabedoria que muitas pessoas desenvolveram devoção e respeito por ele – eu não
dei meus seguidores nem mesmo a ele. Como poderia dá-los a você?”
Então Devadatta ficou muito irritado. Ele disse a Gautama Buda: “Agora você pode estar
muito bem e ser bem cuidado, mas isso acabará muito em breve.” Naquele momento, a terra
tremeu seis vezes e uma tempestade de areia caiu sobre Devadatta, deixando todo o seu corpo
coberto de areia. Isto o deixou ainda mais raivoso que antes. Determinado a se livrar de seu
inimigo, foi imediatamente encontrar o príncipe Ajatashatru.
Ajatashatru percebeu que ele estava muito triste e que seu rosto estava empoeirado e
infeliz. “Ó Nobre Ser, por que o seu rosto está tão contrariado e sem luz? O que aconteceu?”
Devadatta disse: “Você não percebeu que sempre estou com este humor?”Ajatashatru
pediu-lhe para contar as causas e condições para tamanha lamentação. Devadatta falou desta
forma: “Sou um de seus amigos mais próximos. Em todo o país as pessoas estão falando coisas
desagradáveis sobre você, por isso minha mente está aborrecida assim.”
“Que tipo de coisas desagradáveis as pessoas estão falando sobre mim?” Ajatashatru
perguntou.
Devadatta respondeu: “As pessoas estão lhe chamando de Inimigo Antes de Nascer. São
estas as palavras que estão usando.”
Ajatashatru perguntou: “Quem me deu este nome, Inimigo Antes de Nascer?”
Devadatta respondeu: “Antes de você nascer, enquanto ainda estava no ventre de sua mãe,
um profeta predisse que você mataria seu pai. Portanto, todos dizem que você já era inimigo de
seu pai antes de nascer. É claro que na corte todos o chamam de Virtuoso, apenas para alegrá-lo.
Mas lá fora as pessoas estão falando desta forma. Como o profeta tinha dito isto, sua mãe o jogou
do telhado no momento em que nasceu para matá-lo. Você não morreu, mas perdeu um dedo.
Assim, toda vez que ouço as pessoas lhe chamando de Inimigo Antes de Nascer fico aborrecido,
mas não ousei lhe falar antes desta forma. Agora me parece que chegou o tempo de matar seu pai.
Se puder matar seu pai, o rei, eu poderei tentar matar Gautama, o Buda.”
Ao ouvir isto, Ajatashatru convocou dois ministros próximos e lhes pediu para explicarem
o significado de Ajatashatru. Eles confirmaram a explicação dada por Devadatta. Após uma
discussão, o príncipe e os ministros colocaram seu pai, o rei Bimbisara, na prisão e puseram-no sob
vigilância.
A mãe-rainha quis ver o rei e correu até lá, mas os guardas a impediram. Os guardas
informaram Ajatashatru que a rainha queria ver o rei, e perguntaram se ele permitiria. Isto o
deixou ainda mais raivoso que antes. Tomando uma espada em suas mãos ele se aproximou da
mãe, e estava pronto para cortar sua cabeça quando o Grande Médico chegou e disse: “Não
importa a gravidade do crime cometido, grandes reis não costumam punir uma mulher. Como
você poderia matar sua mãe?” Assim, o príncipe soltou sua mãe. Então proibiu que todo remédio,
comida, roupas e bebida chegassem até seu pai preso. Após sete dias, o rei Bimbisara morreu.
Depois que o pai morreu, Ajatashatru sentiu grande remorso ao pensar no mal que tinha
gerado. O Grande Médico veio até ele e disse: “Grande rei, por favor, compreenda isto. Com essa
ação não virtuosa você cometeu dois dos crimes hediondos – matar o próprio pai e matar alguém
que entrou na corrente.”2 Além desta ação não virtuosa, ele e Devadatta haviam ferido o Buda ao
empurrarem uma pedra sobre seu pé. O carma de todas essas ações não virtuosas amadureceu no
corpo de Ajatashatru e ele ficou doente, com bolhas cobrindo todo o corpo. As bolhas produziam
pus, cujo cheiro era sentido em todo o reino.
Vozes do céu diziam que ele morreria em breve e iria para o reino dos infernos. Ele
consultou muitos médicos e outros professores, mas não encontrou alívio. O chefe dos médicos
disse: “Devido ao pesado tipo de negatividade que você criou, ninguém além do Buda poderá
ajudá-lo.”
Ajatashatru gritou: “Se eu for até o Buda ele me aceitará? Ele me ajudaria?”
O médico disse: “É claro. Para o Buda não há diferença entre seu filho e seu pior inimigo.
Sua grande compaixão e sabedoria, suas qualidades ilimitadas alcançam todos os seres sencientes
– até mesmo você.”
Assim, o médico e Ajatashatru foram em um elefante ver o Buda. O Buda estava sentado
em um alto trono circundado por centenas e milhares de monges, grandes seres, deuses e seres
humanos e estava dando ensinamentos. Quando o Buda viu Ajatashatru aproximando-se à
distância, disse: “Ó grande rei! Bem-vindo!”
Ajatashatru pensou: “Deve existir algum outro monarca aqui, não pode ser comigo que ele
está falando.”
À medida que se aproximava, o Buda disse novamente: “Ó grande rei! Bem-vindo!” Ainda
assim Ajatashatru achava que ele estava se referindo a outra pessoa. Então, pela terceira vez, o
Buda disse: “Ó grande rei Ajatashatru! Bem-vindo!” Nesse momento ele desmaiou. Água foi
aspergida em seu rosto e, quando recobrou os sentidos, foi tomado por uma alegria inexprimível.
Respeito, confiança e devoção surgiram em sua mente e fez muitas prostrações. O Buda disse:
“Agora você deve purificar seu carma negativo.”
APÊNDICE C
Estrutura do Texto
B) Devoção e Reverência
C) Prática e Persistência
V. Benefícios
PARTE 4 – O MÉTODO
O método são as instruções do mestre espiritual
Capítulo 4 – Impermanência
I. Classificação
II. Método de Meditação
A) Impermanência do Mundo Externo
1) Considere a Impermanência Grosseira do Mundo Externo
2) Impermanência Sutil do Mundo Externo
B) Impermanência dos Seres Sencientes Internos
1) Impermanência dos Outros
2) Impermanência de Si Mesmo
a) Investigando a própria impermanência
(1) Eu definitivamente morrerei
(a) porque ninguém do passado está vivo
(b) porque o corpo é composto
(c) porque a vida se exaure a cada momento
(2) O momento da morte é incerto
(a) porque a duração da vida é incerta
(b) porque o corpo não possui essência
(c) porque existem muitas causas para a morte
(3) Nada poderá me ajudar no momento da morte
(a) não poderei ser ajudado por minhas posses
(b) não poderei ser ajudado por meus amigos ou
parentes
(c) não poderei ser ajudado por meu corpo
b) Aplicando a impermanência dos outros a si mesmo
III. Efeitos Benéficos
III. Atribuição
IV. Resultado Definido
V. Ampliação a Partir de Pequenas Ações
VI. Inevitabilidade
1. Analogia
2. Autoridade Escritural
3. Raciocínio
a) Ingressar no Mahayana
b) Ela torna-se a base para todo o treinamento do bodisatva
c) Todas as ações negativas serão desenraizadas
d) A iluminação insuperável estará enraizada
e) Serão obtidos méritos ilimitados
f) Todos os budas ficarão satisfeitos
g) Torna-se útil para todos os seres sencientes
h) Será alcançada rapidamente a iluminação perfeita
2. Efeitos Benéficos do Cultivo da Bodicita de Ação
a) O benefício próprio aumenta continuamente
b) O benefício para os outros se manifesta de diversas formas
B) Efeitos Incomensuráveis
IX. As Desvantagens de Perdê-la
X. A Causa da Perda
XI. O Método de Reparo
1. Receptores
2. Motivação
3. Darma
4. Método para apresentar os ensinamentos do Darma
V. Ampliação
VI. Perfeição
VII. Resultados
A) Perseverança da armadura
B) Perseverança da aplicação
1. Esforço diligente para evitar as emoções aflitivas
2. Esforço diligente para realizar a virtude
3. Esforço diligente para beneficiar os seres sencientes
C) Perseverança insaciável
V. Ampliação
VI. Perfeição
VII. Resultados
2. Significado Característico
3. Treinamento Característico
4. Prática Característica
5. Purificação Característica
6. Realização Característica
7. Abandono Característico
8. Nascimento Característico
9. Habilidades Características
D. Quarto Bhumi: Luminoso
1. Nome Característico
2. Significado Característico
3. Treinamento Característico
4. Prática Característica
5. Purificação Característica
6. Realização Característica
7. Abandono Característico
8. Nascimento Característico
9. Habilidades Características
E. Quinto Bhumi: Muito Difícil de Treinar
1. Nome Característico
2. Significado Característico
3. Treinamento Característico
4. Prática Característica
5. Purificação Característica
6. Realização Característica
7. Abandono Característico
8. Nascimento Característico
9. Habilidades Características
F. Sexto Bhumi: Obviamente Transcendente
1. Nome Característico
2. Significado Característico
3. Treinamento Característico
4. Prática Característica
5. Purificação Característica
6. Realização Característica
7. Abandono Característico
8. Nascimento Característico
9. Habilidades Características
G. Sétimo Bhumi: Muito Distante
1. Nome Característico
2. Significado Característico
3. Treinamento Característico
4. Prática Característica
5. Purificação Característica
6. Realização Característica
7. Abandono Característico
8. Nascimento Característico
9. Habilidades Características
H. Oitavo Bhumi: Inabalável
1. Nome Característico
2. Significado Característico
3. Treinamento Característico
4. Prática Característica
5. Purificação Característica
6. Realização Característica
7. Abandono Característico
8. Nascimento Característico
9. Habilidades Características
I. Nono Bhumi: Grande Sabedoria Discriminativa
1. Nome Característico
2. Significado Característico
3. Treinamento Característico
4. Prática Característica
5. Purificação Característica
6. Realização Característica
7. Abandono Característico
8. Nascimento Característico
9. Habilidades Características
J. Décimo Bhumi: Nuvem do Darma
1. Nome Característico
2. Significado Característico
3. Treinamento Característico
4. Prática Característica
5. Purificação Característica
6. Realização Característica
7. Abandono Característico
8. Nascimento Característico
9. Habilidades Características
K. Iluminação
PARTE 5 – O RESULTADO
O resultado é o corpo da perfeita iluminação
7. Radiância
8. Relação com o desfrutar
B) Sambogakaya
1. Séquito
2. Campo
3. Forma
4. Marcas
5. Darma
6. Atividades
7. Espontaneidade
8. Naturalmente não existente
C) Nirmanakaya
1. Base
2. Causa
3. Campo
4. Tempo
5. Natureza
6. Engajamento
7. Amadurecimento
8. Liberador
III. Marcas Especiais
A) Marca Especial da Igualdade
B) Marca Especial da Permanência
C) Marca Especial do Surgimento
PARTE 6 – AS ATIVIDADES
As atividades são o benefício dos seres sencientes sem manter pensamentos conceituais
APÊNDICE D
Aproximadamente na mesma época foi aberta uma nova universidade em Varanasi, na Índia, o
Instituto Central de Estudos Superiores Tibetanos. Determinado a ser um de seus primeiros
alunos, Khenpo Rinpoche viajou para Varanasi em outubro de 1967 para solicitar sua admissão.
Com isso iniciou um ciclo de estudos de nove anos incluindo Madhyamika, o Abhidarma, o
Vinaya, o Abhisamayalankara e o Uttaratantra, bem como história, lógica e gramática tibetana. No
início de 1968 teve a boa fortuna de receber os votos monásticos completos do grande Kalu
Rinpoche e, logo após sua graduação pelo Instituto, recebeu ensinamentos do 16o Gyalwa
Karmapa e as Canções dos Oito Tesouros do Mahamudra, dos mahasidas indianos.
Mesmo tendo completado este árduo e longo programa de estudos, Khenpo Rinpoche desejava
apenas aprofundar seu conhecimento e prática do Darma. Com a mesma intensidade devotada aos
seus estudos anteriores, Rinpoche buscou e recebeu ensinamentos e instruções de grandes mestres
budistas. Um deles foi o Venerável Khunu Lama Rinpoche, com quem estudou duas obras de
Gampopa – O Ornamento da Preciosa Liberação e A Guirlanda Preciosa do Caminho Excelente. Os
estudos de Rinpoche com o Venerável Khunu Lama também incluíram o Mahamudra e muitas das
canções de Milarepa.
Entre todos os seus estudos, o Khenpo vê O Ornamento da Preciosa Liberação como um dos textos
mais inspiradores. O Senhor Gampopa delineia os ensinamentos de uma forma clara e sistemática
que é compreensível para os iniciantes. Ao mesmo tempo, esta obra possui tal profundidade que
eruditos e praticantes podem estudá-la repetidamente e, ainda assim, não apreender
completamente o seu significado. Khenpo Rinpoche afirmou, em diversas ocasiões: “Aqueles que
conhecem bem o Ornamento da Preciosa Liberação podem dizer que realmente compreendem o
budismo.”
Em 1982, a força do carma e os pedidos de muitos praticantes trouxeram Khenpo Rinpoche aos
Estados Unidos, onde estabeleceu o Centro Tibetano de Meditação. Desejando que os
ensinamentos do Darma chegassem a tantas pessoas quanto possível, Khenpo Rinpoche se
adaptou rapidamente às formas ocidentais de comunicação. Esteve muitas vezes na televisão, foi
convidado em muitos programas de rádio, deu palestras extensivamente em colégios e
universidades, e se comunicou com o público através de inúmeros artigos para os jornais.
Em 1985, Khenpo Rinpoche viajou para o local principal da linhagem Drikung Kagyu, Drikung
Thil, no Tibete. Lá, recebeu bênçãos pessoais, assim como instruções e transmissões do
Mahamudra e das Seis Yogas de Naropa, do iluminado mestre Venerável Pachung Rinpoche.
De 1983 a 1990 Khenpo Rinpoche traduziu para o inglês práticas centrais da linhagem Drikung
Kagyu, assim como orações e histórias. Os textos originais foram todos escritos por ele mesmo:
Achi Chokyi Drolma, Amitaba, Bodicita, Chakrasamvara, Chod, o Ngondro completo, o
Mahamudra Quíntuplo, a Guru Yoga em quatro sessões, Tara Verde, Lama Chopa e tsog,
Mahakala, oferenda de mandala, Manjushri, Buda da Medicina, Guru Yoga de Milarepa, Nyung
Ne, Guru Padmasambava pacífico, Phowa, Refúgio, Chenrezig, Vajrapani, Vajrasatva, Vajrayogini
e Tara Branca. Os ensinamentos sobre o corpo ilusório, Súplica a Tara, Tesouro do Benefício e
Felicidade, Digno de Contemplação, muitas outras orações, e três de seus quatro livros foram
traduzidos e publicados nessa época. Esse trabalho inestimável compôs a base essencial através da
qual o Darma pôde ser ensinado e praticado.
Recentemente, Khenpo Rinpoche tem passado boa parte de seu tempo viajando para dar
ensinamentos e conduzir retiros. Ele estabeleceu centros nos Estados Unidos e no Chile, e visita
frequentemente a Europa, especialmente a Alemanha e a Áustria, assim como o Sudeste Asiático.
Em 1996 ensinou o Gong Chik aos monges e monjas do Instituto Drikung Kagyu em Dehra Dun,
Índia. Com o apoio financeiro do Projeto de Textos do Centro Tibetano de Meditação, Rinpoche
conseguiu que 1200 cópias do texto fossem impressas e distribuídas aos monges, monjas e
monastérios na Índia, Nepal e Tibete.
Lembrando-se das dificuldades dos seus primeiros anos, Khenpo Rinpoche inspira e apoia
monges, monjas e leigos na sua prática do Darma e está sempre pronto para assisti-los no que quer
que precisem. A todos oferece o que pode, livremente. Com seu coração e mente sintonizados
firmemente no Darma, ele mostra compassiva e pacientemente o caminho.
Rinpoche se esforça constantemente para tornar os textos importantes disponíveis para o público,
e oferece aos seus alunos um treinamento completo e sistemático do Darma. Um tradutor
habilidoso e dedicado, publicou cinco livros antes deste: Bandeiras de Oração, A Guirlanda de Práticas
do Mahamudra, Em Busca da Ambrosia Imaculada, Os Grandes Mestres Kagyu, e O Tesouro Precioso de
Recomendações. Em todos os casos, Rinpoche tomou um enorme cuidado para tornar as traduções
tão precisas quanto possível. Por ter sido tão tocado pelas palavras que vêm diretamente dos
grandes mestres, acredita que é crucial que essas mesmas palavras sejam apresentadas sem
alterações. Por exemplo, para traduzir este texto, ele e o editor repassaram o texto completo
palavra por palavra quatro vezes, levando, algumas vezes, uma hora ou mais em uma única frase
ou sentença. É sua esperança sincera que, através deste enorme esforço, muitas outras pessoas
sejam tão inspiradas quanto ele foi por estes preciosos ensinamentos do Darma.
Carta a um Amigo
Suhrllekha
She-pay tring-yik
Carta de Treinamento
Sisyalekha
Lob-tring
A Coleção do Abhidarma
Abhidharmasamuccaya
Cho nun-pa kun-lay tii-pa
O Dharani da Invocação
Cundadharani
Kul ye kyi zang
Abhisamayalankara
Nun-tok gyan
Praticando a Talidade
Chod-pai de kho-na nyid
Sutra de Aryavajradwaza
Aryavajradwazasutra
Phag-pa dor-je gyalt-shen gi do
Sutra do Diamante
Vajracchedika
Dor-je chod-pa
Sutra do Ingresso na Fé
Sraddhabaladhanavataramudrasutra
Da-pa la juk-pai do
Saddharmapundarikasutra
Dam-pai cho pad-ma kar-po do
Tantra Hevajra
Hevajratantra
Kye dor-je gyud
Tantra Insuperável
Uttaratantra
Gyud lama
Tesouro do Abhidarma
Abhidharmakosa
Cho nun-pa dzo
Vinte Preceitos
Samvaravimsakavrtti
Dom-pa nyi-su-pa
Vinte Versos
Vimsakakarika
Nyi shu-pai rab-tu che-pa
Glossário
Acharya (Tib. slob-dpon/lob-pon): Literalmente, “mestre”, geralmente utilizado com o significado
de um título acadêmico.
Ananda: Primo e atendente pessoal do Buda Sakiamuni. É reconhecido por ter memorizado todos
os ensinamentos do Buda com exatidão e por tê-los recitado no primeiro concílio.
Arya Maitreya (Tib. Phags.pa byams.pa/Phag-pa jam-pa): Um dos oito grandes discípulos
bodisatvas do Buda Sakiamuni. Ele será o próximo Buda (o quinto) deste kalpa afortunado no qual
1000 budas surgirão, e atualmente se manifesta no céu de Tushita.
Asanga (Tib. Thogs.med/Thog.med) (4º século D.C.): Mestre indiano, renomado por ter recebido
os cinco textos celebrados do Arya Maitreya (Abhisamayalankara, Uttaratantra,
Mahayanasutralankara, Madhyantavibhaga e Dharmadharmatavibhaga), por ser professor e irmão
de Vasubandhu, e por ter fundado a escola Yogacara.
Ashvagosha (Tib. Slob.don ta.yang/Lob-pon ta-yang) (3º século D.C.): Grande mestre indiano,
renomado pela sua erudição e poesia. Seus escritos incluem As Atividades do Buda (Buddhacarita).
Também conhecido pelo nome de Aryasura.
Atisha (Tib. Jowo Je – 982-1055 D.C.): Mestre indiano convidado pelo rei do Tibete para ajudar no
restabelecimento do budismo. Foi o fundador da linhagem Kadampa, na qual o Senhor Gampopa
treinou por muitos anos antes de encontrar Milarepa. Atisha foi o autor de A Lâmpada para o
Caminho da Iluminação, no qual O Ornamento da Preciosa Liberação foi baseado.
Bhumi (Tib. Sa): Literalmente, “terra” ou “fundação”. Refere-se aos níveis progressivos do
treinamento de um bodisatva, cada um dos quais proporciona, sucessivamente, a fundação para o
próximo.
Brahma (Tib. tsangs.pa/tsangpa): De acordo com a crença budista, Brahma é o principal entre os
deuses do primeiro nível do reino da forma.
Brâmane (Tib. dram.se): Na sociedade indiana tradicional este termo se refere à casta dos
religiosos, cujos membros realizavam as cerimônias religiosas.
Campo búdico (Sct. suddhaksetra – Tib. dag.pai. zhing.kams/dak-pay zhing kham): Planos de
existência criados pelos budas onde as condições para alcançar a iluminação são perfeitas para
seus habitantes. Muitos praticantes aspiram a renascer nesses estados porque o retorno aos estados
inferiores é impossível. Também são chamados de terras puras.
Chandragomin (7º século D.C.): Grande praticante leigo indiano que ensinou na Universidade de
Nalanda. Entre suas obras ainda existentes se encontra o comentário sobre a obra de Asanga, Os
Bhumis dos Bodisatvas.
Círculo cósmico de ar: Na cosmologia budista esta é a base elementar sobre a qual os universos
estão localizados.
Darma (Tib. chos/chö): Este termo tem significados variados dependendo do contexto. Quando
em maiúscula, neste texto, refere-se aos ensinamentos do Senhor Buda, categorizados em dois
grupos: o Darma que é estudado e o Darma que é realizado. Quando em minúscula é uma
referência geral a todos os fenômenos, ou seja, às coisas que possuem características que as
identificam.
Darmakaya (Tib. chos.ku/chö-ku): Um dos três corpos do Buda. Denota a natureza última da
forma de sabedoria do Buda, que é não conceitual e indefinível.
Darmakirti (Tib. cho-drak) (7º século D.C.): Mestre indiano da Universidade de Nalanda que é
associado à escola Yogacara. É mais conhecido por ter sido um lógico.
Devadatta (Tib. lha-jin): Primo do Buda Sakiamuni. Inicialmente monge do Senhor Buda, criou um
cisma na sanga ao atrair 500 monges para um estilo de vida mais ascético. Planejou com
Ajatashatru, cuja história é contada no Apêndice B, ferir fisicamente o Buda, mas não teve sucesso.
Giro da roda: Referência metafórica à ação do Buda de ensinar o Darma, também chamado de
“colocar a roda do Darma em movimento”.
Indra (Tib. gya-jyin): De acordo com a crença budista, Indra é o principal deus no Reino dos Trinta
e Três.
Kalpa (Tib. bskal-pa/kal-pa): De modo geral, um éon ou outra duração ilimitada de tempo. Na
cosmologia budista tem o significado específico de representar um ciclo completo de um universo
(um mahakalpa, ou grande kalpa), consistindo em quatro estágios: vacuidade, formação,
manutenção e destruição. Cada um dos quatro estágios consiste em vinte kalpas intermediários
(ou antahkalpas), cada um dos quais se eleva e declina.
Karma ( Tib. las/lay): Literalmente, ação. Ações físicas, mentais ou verbais que deixam tendências
habituais na mente. Ao encontrar as condições favoráveis, esses hábitos amadurecem e se
manifestam em eventos futuros.
Kaya (Tib. lus/ku): Literalmente, “corpo”. As várias formas através das quais um buda se
manifesta, geralmente classificadas como três - Nirmanakaya, Samboghakaya e Darmakaya – mas,
às vezes, uma quarta classificação é citada, o Svabhavikakaya, ou corpo da natureza, para
expressar a natureza inseparável dos três. O termo Rupakaya (corpo da forma) é utilizado para se
referir ao Nirmanakaya e Sambhogakaya em conjunto.
Kinnara (Tib. myi-yam-chi): Um ser similar aos humanos, mas não completamente humano.
Mahasatva (Tib. sem-pa chen-po): Literalmente, Grande Ser. Um bodisatva que alcançou a
realização da grande compaixão e sabedoria.
Manjushrikirti (Tib. Jam-pal trak-pa) (9º século D.C.): Mestre budista indiano conhecido por ser
um especialista nos grandes comentários. Seis de suas obras são preservadas no Tangyur, a coleção
canônica tibetana dos comentários.
Mantra (Tib. sngags/nga): Literalmente, proteção da mente. Fala sagrada que, no contexto das
práticas Vajrayana, serve para purificar a fala comum e para identificá-la com a fala de uma
deidade meditativa de sabedoria para alcançar a iluminação.
Marcas psíquicas: Tendências habituais sutis que permanecem gravadas no fluxo mental mesmo
quando os sinais óbvios das aflições foram purificados.
Marpa Lotsawa (1012 – 1097 D.C.): Praticante leigo tibetano conhecido especialmente por trazer
muitos ensinamentos da Índia para o Tibete e por tê-los traduzido. Entre eles estão os textos
Mahamudra e as Seis Yogas de Naropa. Como discípulo de Naropa e professor principal de
Milarepa, ele foi uma das figuras principais da linhagem Kagyu.
Mérito (Sct. punya – Tib. bsod.nams/so-nam): Qualquer pensamento virtuoso ou atividade que
tem por resultado a criação de tendências habituais positivas no fluxo mental.
Migrantes: Uma referência alternativa para os seres sencientes, focando o seu atributo de migrar
infinitamente ou vagar dentro dos seis reinos do samsara.
Mila ou Milarepa (1052 – 1135 D.C.): Um dos grandes mestres da linhagem Kagyu, é
frequentemente citado como exemplo de alguém que atingiu a iluminação em uma única vida.
Suas canções vajra possuem grandes qualidades de cura. Foi o principal professor do Senhor do
Darma Gampopa.
Monte Meru (Tib. ri-gyal ou lhum-po): Na cosmologia budista é a montanha que constitui o centro
do universo, circundado por oceanos e quatro continentes principais.
Naga (Tib. klu/lu): Seres parecidos com cobras que podem ser benéficos ou maldosos,
frequentemente associados com a guarda dos tesouros da terra. São considerados, geralmente,
membros do reino dos animais.
Nagarjuna (Tib. kLu.sgrub/lu-drub) (2º século D.C.): Mestre indiano de importância tão grande na
propagação do Mahayana que é frequentemente chamado de segundo Buda. Fundou a escola
filosófica Madhyamaka que sistematizou os ensinamentos da Prajnaparamita (perfeição da
sabedoria), e compôs muitos textos que permanecem como referência até hoje.
Parinirvana (Tib. yongs.su nya.ngan las.das/yong-du nya-ngen lay-de): O ato final de um buda
completamente iluminado entre os humanos, ou, em geral, a morte de qualquer ser iluminado.
Ouvinte (Sct. sravaka – Tib. nyan.thos/nyan-thö): Um discípulo Hinayana que ouve as palavras
do Buda e aspira a se tornar um Arhat para seu próprio benefício.
Quatro Nobres Verdades (Sct. carvari aryasayani – Tib. phags.pa´i bden.pa bzhi/pak-pay den-pa
zhi): A verdade do sofrimento, a verdade das causas do sofrimento, a verdade da cessação do
sofrimento e o nobre caminho para a cessação do sofrimento.
Raiz de virtude (Tib. ge-way tsa-wa): Raiz de virtude que se torna a causa para a liberação do
samsara.
Reino do desejo (Sct. kamadhatu – Tib. dod-khams/dö-kham): O mais inferior e maior dos três
reinos do samsara, extendendo-se dos reinos dos infernos às seis classes de deuses do reino do
desejo. É assim denominado porque os seres que o habitam são caracterizados por tirarem prazer
de experiências sensoriais, tais como ver objetos, ouvir sons, etc.
Reino dos deuses dos Trinta e Três: Um dos seis reinos dos deuses do desejo, este é o segundo.
Reino da forma (Sct. rupadhatu – Tib. gzugs.khams/zuk-kham): O reino intermediário dos três
reinos do samsara, experimentado exclusivamente no reino dos deuses. É assim denominado
porque os seres que o habitam possuem corpos, mas seu prazer advém dos quatro estados
meditativos estáveis, sem necessidade de projeções externas.
Rishi (Tib. trang.song): Um vidente ou aquele que busca a verdade e que realizou a verdade
absoluta.
Roda preciosa do grande monarca (Tib. khor-lo rin-po-che): Um dos sete itens de um monarca
universal.
Sabedoria discriminativa (Sct. prajna – Tib. shes.rab/she-rab): Sabedoria que discrimina toda e
qualquer causa e efeito distinta e claramente.
Sabedoria primordial (Sct. jnana – Tib. ye.shes/ye-she): Lucidez completa sobre a natureza não
fabricada dos fenômenos.
Samsara (Tib. khor.ba/khor-wa): O ciclo sem início ou fim de renascimentos através dos seis
Seres sencientes (Sct. bhuta – Tib. sems.can/sem-chen): Todas as criaturas conscientes que
renascem nos seis reinos.
Sessão: Um dia sendo dividido em seis partes, ou sessões, cada sessão é um período de quatro
horas.
Sugatagarba: Sugata é um epíteto para o Buda, garba significa essência. Ver Natureza búdica.
Sutra (Tib. mdo/do): Os discursos escritos do Buda Sakiamuni, que constituem todos os
ensinamentos.
Talidade (Sct. tathata – Tib. de-zhin-nyi): A forma como as coisas são, a natureza real de todos os
fenômenos, a essência pura da realidade.
Tatagatagarba (Tib. de-shek nying-po): Tatagata é um epíteto para o Buda, garba significa
essência. Ver Natureza búdica.
Torma (Tib. balingta): Símbolos rituais, frequentemente construídos com farinha e manteiga,
usados como oferendas ou para representar deidades.
praticante homem ou mulher, ou chefe-de-família, que tomou um ou mais dos cinco preceitos de
não matar, não roubar, não se engajar em conduta sexual imprópria, não mentir e não ingerir
substâncias tóxicas.
Upavasata (Tib. nyen-ney): Dia de lua cheia, ou outra ocasião especial, na qual praticantes leigos
tomam oito preceitos por vinte e quatro horas de não matar, não roubar, não se engajar em
conduta sexual imprópria, não mentir, não ingerir substâncias tóxicas, não comer após o meio-dia,
não cantar, dançar ou se adornar, não usar camas ou assentos luxuosos.
Vaibhasika (Tib. bye.brag smra.ba/Che-drak ma-wa): Uma categoria das escolas dos Ouvintes
que sustenta que os três tempos realmente existem, assim como os fenômenos não compostos.
Vajra (Tib. rdo.rje/dor-je): Quando usado em conjunto com um sino (Sct. gantha – Tib. dril-bu)
que simboliza a sabedoria, um vajra é um objeto ritual simbolizando a compaixão ou os meios
hábeis. Quando usado sozinho, o termo implica o atributo de indestrutibilidade ou uma qualidade
diamantina.
Vasubandhu (Tib. dbyig.gnyen/yik-nyen) (4º século D.C.): Mestre indiano associado à escola
Yogacara no final de sua vida. É mais conhecido por ter escrito o Abhidharmakosa, que permanece
como um tratado definitivo sobre o Abhidarma mesmo nos dias atuais. Também foi aluno e irmão
de Asanga.
Veículo inferior (Sct. Hinayana – Tib. theg.pa dman.pa/theg-pa man-pa): Um dos dois ramos
maiores da filosofia e prática budistas. É a escola budista que enfatiza a liberação individual e a
prática das Quatro Nobres Verdades. Neste texto os representantes principais desta categoria são
os Vaibhasika e os Sautrantika.
Vidhyadara (Tib. rig-zin): De modo geral, um detentor do conhecimento. Aqui, significa um ser
senciente específico que possui alguns poderes milagrosos.
Vishnu (Tib. khyab-juk): Um dos deuses hindus. Historicamente, ele teve dez encarnações.
Yama (Tib. gshin.rje/shin-je): Usado num sentido geral, significa as forças da morte. Pode
significar a personificação da morte como Yama, o Senhor da Morte, ou seu séquito (yamas).
Também é o nome de um reino dos deuses e do chefe dos fantasmas famintos.
Notas
Introdução do Autor
1. Os textos Lam rim explicam os estágios progressivos (caminhos e níveis) do treinamento dos
bodisatvas que buscam a iluminação.
2. O Senhor Jigten Sumgön, fundador da linhagem Drikung Kagyu no século XII, ensinou o Darma
extensamente por quarenta anos. A coleção de seus ensinamentos, o Gong Chik, esclarece os
ensinamentos do Senhor do Darma Gampopa. Ele explica o papel da causa e efeito, a base ou
modo de permanência de todos os fenômenos, e a natureza e manifestação das não virtudes e
virtudes a partir das quais o samsara e o nirvana são constituídos.
Introdução
1. Ao sonhar ficamos confusos e acreditamos que os sonhos são reais; ao acordarmos o erro é
claramente visto. Da mesma forma, nossa confusão sobre a natureza da realidade pode ser
claramente vista quando despertamos da ignorância.
2. Sct. sugatagarbha.
Capítulo 4 – Impermanência
1. Isto pode ser compreendido considerando a terra (o mundo externo) como um recipiente
suportando os seres sencientes internos (mundo interno).
2. Existem três tópicos principais, cada um com três razões que os suportam.
Apêndice B: Sadaprarudita
1. As oito qualidades da boa água são: deliciosa, fresca, macia, leve, pura, clara, não prejudicial à
garganta, não prejudicial ao estômago.
Apêndice B: Udayana
1. Aqueles que cometeram um ou todos os cinco crimes hediondos não têm a chance de alcançar o
estado de Arhat em uma única vida.
Apêndice B: Ajatashatru
1. Uma flor de mantra é um botão especial que só pode ser obtido nos reinos dos deuses.
2. Seu pai tinha atingido o estado daqueles que entraram na corrente.
Bibliografia
1997.
Gampopa. The Precious Garland of the Sublime Path. Boudhanath, Hong Kong e Arhus: Rangjung
Yeshe Publications, 1995.
Gyaltsen, Khenpo Konchog. The Great Kagyu Masters. Ithaca: Snow Lion Publications, 1990.
− . In Search of the Stainless Ambrosia. Ithaca: Snow Lion Publications, 1988.
− . Prayer Flags: The Life and Spiritual Teachings of Jigten Sumgon´s. Ithaca: Snow Lion
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− . The Jewel Treasury of Advice. Frederick: Vajra Publications, 1997.
− . Transforming Suffering. Frederick: Vajra Publications, 1998.
Gyaltsen, Khenpo Konchog e Katherine Rogers. The Garland of Mahamudra Practices. Ithaca: Snow
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Nalanda Translation Committee. The Life of Marpa the Translator. Boston e Londres: Shambhala,
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Stewart, Jampa Mackenzie. The Life of Gampopa. Ithaca: Snow Lion Publications, 1995.
Rikey, Thupten e Andrew Ruskin. A Manual of Key Buddhist Terms. Dharamsala: Library of Tibetan
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