Livro de Filosofia
Livro de Filosofia
Livro de Filosofia
AUTORAS
Liziany Müller Medeiros
Janisse Viero
Caroline Silveira Spanavello
Cíntia Moralles Camillo
EDUCAÇÃO DO CAMPO
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
Liziany Müller Medeiros
Janisse Viero
Caroline Silveira Spanavello Cíntia
Moralles Camillo
1ª Edição
UAB/NTE/UFSM
Santa Maria | RS
2018
©Núcleo de Tecnologia Educacional – NTE.
Este caderno foi elaborado pelo Núcleo de Tecnologia Educacional da Universidade Federal
de Santa Maria para os cursos da UAB.
MINISTRO DA EDUCAÇÃO
Mendonça Filho
PRESIDENTE DA CAPES
Abilio A. Baeta Neves
Luciano Schuch
PRÓ-REITOR DE PLANEJAMENTO
Frank Leonardo Casado PRÓ-
REITOR DE GRADUAÇÃO
Martha Bohrer Adaime COORDENADOR DE PLANEJAMENTO ACADÊMICO E DE
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
COORDENADOR UAB
Reisoli Bender Filho
PEDAGÓGICO
DE DESIGN
CDU 37.01
APRESENTAÇÃO
Olá! Sejam bem-vindos à disciplina de Filosofia da Educação!
Na figura abaixo, vemos um indivíduo analisando o pensamento e a discussão dos
filósofos, logo, entender os processos dos pensamentos
filosóficos na educação é o principal objetivo desta disciplina.
Introdução ·12
1.1 Origem do pensamento racional - Preocupação
com o conhecimento ·14 1.2 Racionalismo e
empirismo ·29
1.3 Idealismo e Fenomenologia ·33
1.4 Existencialismo ·36
1.5 Positivismo e Marxismo ·38
Introdução ·44
2.1 A Escola de Frankfurt ·45
2.2 A Filosofia da Complexidade ·53
Introdução ·61
3.1 Relações entre abordagens e tendências pedagógicas da
educação: possíveis aproximações e contribuições ·63
3.2 Abordagem Tradicional ·65
3.3 Abordagem Comportamentalista ·67
3.4 Abordagem Humanista ·70
3.5 Abordagem Cognitivista ·72
3.6 Abordagem Sociocultural ·75
3.7 Síntese das abordagens Tradicional, Comportamentalista, Humanista,
Cognitivista e Sociocultural ·78
▷ UNIDADE 4 – GLOBALIZAÇÃO E EDUCAÇÃO ·81
Introdução ·83
4.1 Conceituando Ciência ·85
4.2 A Formação do Educador no Contexto da
Contemporaneidade ·98
▷ REFERÊNCIAS ·108
▷ APRESENTAÇÃO DOS PROFESSORES ·113
O PENSAMENTO FILOSÓFICO
1
EDUCAÇÃO
EA
10 ·
INTRODUÇÃO
H oje, quando falamos em Educação, nem sempre relacionamos diretamente com a
Filosofia – relacionamos com psicologia, pedagogia, uma série de outras áreas,
esquecendo que a Filosofia, originalmente como busca da sabedoria, está
diretamente ligada ao homem. O homem como ser social e cultural está incluído nesta
sabedoria que o filósofo busca compreender, e um dos elementos fundamentais para
entender sobre o homem é saber como educá-lo.
Antecedendo na história humana, podemos perceber que quase todos os filósofos
tradicionais (Platão, Aristóteles) se preocupavam com a educação do ser humano, uma
preocupação de como trazer à tona o que o homem tem de melhor, ou de como tornar este
ser um sujeito melhor. A própria palavra Educação, na origem do termo, tem este
significado “Educare”, trazer à tona – e como fazer isso? Esse assunto foi tratado por
muito tempo no campo da Filosofia, antes de ficar restrito a uma área pedagógica.
Portanto, se observarmos a história da civilização humana ou da Filosofia, vamos
perceber que “Educação e Filosofia” se relacionam de forma natural quase que
intrinsecamente. Cabe ressaltar que a primeira grande formulação filosófica, no Ocidente,
iniciou com os mais evidentes propósitos educativos.
Enquanto a educação trabalha com o desenvolvimento dos jovens e das novas gerações
de uma sociedade, a filosofia é a reflexão sobre o que e como devem ser ou se desenvolver
estes jovens e esta sociedade. Para Teixeira (1959):
Segundo Teixeira (1959), todas as teorias são fundadas na teoria do conhecimento, sendo
esta a teoria-chave não só para iluminar e esclarecer as demais como, sobretudo, para
comandar as consequências da filosofia, como um todo, sobre o processo educativo.
Portanto, nesta unidade, pretendemos demonstrar como se dá a articulação entre a
Filosofia e a Educação desde a origem do pensamento racional e a preocupação com o
conhecimento na Grécia antiga até os dias atuais, e a influência e contribuições das
principais correntes filosóficas para a elaboração das principais teorias do conhecimento e
suas implicações nos processos educacionais.
12 ·
1.1
ORIGEM DO PENSAMENTO
RACIONAL - PREOCUPAÇÃO COM O
CONHECIMENTO
Tem início na Grécia com os filósofos pré-socráticos, cujas principais indagações eram
sobre o surgimento do mundo (cosmologia) e o "que é o ser?" (ontologia).
Fonte: http://www.webvestibular.com.br/revisoes/filosofia/
cosmologia.htm
Fonte: https://www.significados.com.br/ontologia/
14 ·
3SAIBA mAIS: Escola Pitagórica:
A Escola Pitagórica, fundada por Pitágoras, foi uma influente
corrente da filosofia grega, pertencendo a ela alguns dos mais
antigos filósofos pré-socráticos. Temistocléia foi a mestre de
Pitágoras; ela era alta profetisa, filósofa e matemática. Outros
pensadores importantes dessa escola: Filolau, Arquitas, Alcmeão; a
matemática e física Teano, que foi, possivelmente, casada com
Pitágoras, a filósofa Melissa. Esses pensadores manifestam ao
mesmo tempo tendências místico-religiosas e tendências científico-
racionais. A influência estende-se até nossos dias. A escola teve
como ponto de partida a cidade de Crotona, sul da Itália, e difundiu-
se vastamente. Trata-se da escola filosófica grega mais influenciada
exteriormente pelas religiões orientais, e que por isso mais se
aproximou das filosofias dogmáticas regidas pela ideia de
autoridade. O pitagorismo influenciou o futuro platonismo, o
cristianismo e ainda foi invocado por sociedades secretas que
atravessaram o tempo até alcançarem os dias de hoje. O símbolo da
Escola Pitagórica era o pentagrama, uma estrela de cinco pontas.
Pitágoras ficou conhecido também como o "filósofo
feminista", visto que na escola havia muitas mulheres
discípulas e mestres, tais como Teano. Os pitagóricos
foram muito importantes no desenvolvimento da
matemática grega. A sua vez, a matemática influenciou sua
posição filosófica concebendo que os números são os
princípios de todas as coisas.
Aristóteles afirma na Metafísica:
“[…] os denominados pitagóricos captaram por vez
primeiro as matemáticas e, além de desenvolvê-las,
educados por elas, acreditaram que os princípios delas
eram os princípios de todas as coisas. Como os números
eram, por natureza, os princípios delas [...] e apareciam os
números como primeiros em toda a natureza, pensaram que
os elementos dos números eram os elementos de todas as
coisas”.
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Escola_pitag%C3%B3rica
O quadro 2 tem como objetivo apresentar os Filósofos pré-socráticos que fizeram parte da
Escola Eleática e da Escola Itálica ou Pitagórica.
Quadro 2 - Filósofos pré-socráticos da Escola Eleática e da Escola Itálica na Grécia Antiga.
O quadro 3 tem como objetivo apresentar os Filósofos pré-socráticos que fizeram parte
da Escola Pluralidade.
Quadro 3 - Filósofos Pré-socráticos da Escola Pluralidade na Grécia Antiga.
16 ·
Fonte: Adaptado de Filosofia e vertigem. Disponível em: https://filosofiaevertigem.wordpress.com/ tag/escola-da-
pluralidade/
Segundo Borges (2015), para os filósofos pré-socráticos, a realidade que engloba toda a
natureza é racional e, como nós também somos racionais, temos condições de conhecer a
totalidade das coisas. Dito de forma mais simplifiada, segundo Borges (2015), se a
realidade é racional e nós somos seres racionais, então somos capazes de conhecer a
realidade como ela é. Cabe salientar que os filósofos pré-socráticos se preocuparam em
compreender e explicar os fenômenos da natureza sem se utilizar da mitologia para
justificar tais fenômenos.
Sabe-se que por um determinado tempo na história o “mito” foi a explicação para os
fenômenos que podiam ser observados na natureza e na vida humana. Com o passar do
tempo, recorrer a uma explicação mitológica não foi mais suficiente, porque muitas
questões como aquelas feitas no início precisavam de respostas mais científicas.
Segundo Cruz (2010, p. 2), “a filosofia retomando as questões postas pelo mito é uma
explicação racional da origem e da ordem do mundo”. Nesse sentido, para o autor:
18 ·
superação da forma de explicar a natureza de forma mítica era vista em certas épocas como
uma “evolução e seguir a razão era o caminho certo”.
Nesse sentido, as abordagens e metodologias utilizadas para explicar as diferenças
entre mitologia e filosofia são inúmeras e saber diferenciá-las é importante, mas para isso
temos que ter clareza do significado de cada uma delas. O quadro 4 tem como objetivo
apresentar as diferenças de abordagem e metodologia entre a mitologia e a filosofia na
forma de explicar a origem do mundo (PorTAL EdUCAção, 2013).
20 ·
mudanças que captamos pelos sentidos não são tão relevantes quanto as coisas que
permanecem eternas e essas só poderíamos alcançar com o pensamento (BorgES, 2015).
Segundo Borges (2015, s/p.), Heráclito de Éfeso considerado o “Pai da Dialética, o
mundo está em constante transformação num estágio que chamou de “devir”. Em suas
palavras: “Nada é permanente, exceto a mudança”.
Por outro lado, para Borges (2015, s/p.), “Parmênides refuta as ideias de Heráclito
acrescentando que nada muda, tudo é uno. Ou seja, a mudança (o devir, o vir a ser) é uma
ilusão dos sentidos que está pautada no doxa (opinião)”. Nesse sentido, segundo Borges
(2015), “Parmênides utilizou da contradição lógica para chegar à conclusão, enquanto
Heráclito baseou seu discurso na dialética, à doutrina dos contrários”.
Conforme Borges (2015), Parmênides, para quem conhecer é atingir, pelo pensamento,
o que é sempre idêntico e imutável, faz uso de um exemplo bem esclarecedor para
justificar sua tese. Para Parmênides, segundo Borges:
Já Heráclito, segundo Borges (2015), considera a verdade como uma mudança contínua e é
a essa mudança que devemos estar atentos se quisermos conhecer a realidade. Para
Heráclito, a realidade é a harmonia dos contrários que nunca param de se transformar uns
nos outros. Exemplo: o que é frio torna-se quente, o que é novo torna-se velho.
Para Heráclito, a realidade que queremos conhecer é um fluxo perpétuo, estamos sendo
enganados pelos sentidos quando acreditamos que alguma coisa permanece estável. Tudo
está em permanente transformação. Um homem não se banha duas vezes no mesmo rio.
Para Borges (2015), em relação a Demócrito se pode dizer que concordava com seus
antecessores num ponto: as transformações que se podiam observar na natureza não
significavam que algo realmente se transformava. Ele presumiu, então, que todas as coisas
eram constituídas por uma infinidade de partículas minúsculas, invisíveis, cada uma delas
sendo eterna e imutável. A estas unidades mínimas Demócrito deu o nome de átomos.
Dessa maneira, Demócrito concordava com Heráclito e Parmênides em que há uma
diferença entre o que conhecemos através de nossa percepção
22 ·
Fonte: Adaptado de domínios da história. Disponível em: http://dominiosdahistoria.blogspot.com.
br/2015/06/aula-de-filosofia-do-1-ensino-medio.html
Segundo Chauí (2000), os sofistas, diante das divergências das filosofias anteriores, ou dos
conflitos entre as várias indefinições em relação ao estudo do ser, concluíram que não
podem conhecer o Ser, só podem ter opiniões subjetivas sobre a realidade.
Para Chauí (2000), existia tanta divergência de pensamento entre os filósofos que, para
os sofistas, a conclusão mais sensata que se poderia chegar era a de que é impossível
conhecer a verdade das coisas. Desta forma, afirmavam que tudo o que dissemos ou
acreditamos não passam de meras opiniões (Doxa).
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Doxa
Por isso, para se relacionarem com o mundo e com os outros humanos, os homens devem
valer-se de um outro instrumento – a linguagem – para persuadir os outros de suas próprias
ideias e opiniões. A verdade é uma questão de opinião e de persuasão, e a linguagem é
mais importante do que a percepção e o pensamento (CHAUÍ, 2000). No Quadro 7, são
apresentados os principais filósofos sofistas.
Quadro 7- Principais filósofos sofistas
24 ·
primeiro devemos afastar as ilusões dos sentidos e as das palavras ou das opiniões e
alcançar a verdade apenas pelo pensamento. Os sentidos nos dão as aparências das coisas,
e as palavras representam meras opiniões sobre elas. Conhecer é passar da aparência à
essência, da opinião ao conceito, do ponto de vista individual à ideia universal de cada um
dos seres e de cada um dos valores da vida moral e política.
Segundo Chauí (2000), Sócrates fez a Filosofia preocupar-se com nossa possi-
bilidade de conhecer e indagar quais as causas das ilusões, dos erros e da mentira.
Para Sócrates, a vErdAdE pode sim ser conhecida por nós, com o uso do nosso
pensamento, que tem o poder de nos afastar do erro e da mentira. Somos capazes de
aprender a essência das coisas, a ideia universal de cada um dos seres, valores da moral e
da política. Nas palavras de Sócrates, a verdade pode ser conhecida, mas primeiro devemos
afastar as ilusões dos sentidos e as das palavras ou das opiniões e alcançar a verdade
apenas pelo pensamento. Segundo Sócrates, portanto, podemos saber o que é a essência da
verdade, da beleza, da honestidade, da justiça, de todos os valores humanos (CHAUÍ,
2000). O quadro 8 apresenta os principais filósofos Socráticos.
Quadro 8 - Principais filósofos Socráticos
26 ·
da experiência, contribui para desvendarmos a realidade. Não são meras ilusões como
afirmava Platão. Aristóteles acreditava que o conhecimento é dividido em sete graus:
sensação, percepção, imaginação, memória, linguagem, raciocínio e intuição, sendo que o
conhecimento é atingido quando houver uma divisão entre o sensível e o intelectual. A
distinção dos campos do conhecimento verdadeiro, sistematizado por Aristóteles, possui
três ramos: teorético, prático e técnico.
Com o desenrolar dos acontecimentos, novas ideias foram surgindo, sendo que Santo
Agostinho trouxe a ideia de que cada ser humano é uma pessoa e cada uma tem sua
consciência, que é dotada de vontade, imaginação, memória e inteligência. Os filósofos
medievais e cristãos afirmavam que podemos conhecer a verdade, desde que a razão não
contradiga a fé.
Os filósofos modernos separam a fé da razão e a teoria do conhecimento volta-se para a
relação entre o pensamento e as coisas, a consciência e a realidade, o entendimento e a
realidade; em suma, o sujeito e o objeto do conhecimento. Para Chauí (2000):
Para Santos (2014), a procura da maneira de evitar o erro faz surgir a principal
característica do pensamento moderno: a questão do método. As soluções apresentadas a
essas questões vão originar duas correntes, o racionalismo e o empirismo, como veremos a
seguir. Para Santos (2014), os racionalistas dão maior importância ao sujeito, enquanto os
empiristas dão maior importância ao objeto.
O Racionalismo é uma corrente filosófica surgida no século XVII que defende que a
origem do conhecimento é a razão, sustentando que o raciocínio é a principal ferramenta
para gerar saber, deixando a percepção e a experiência em segundo plano. Os racionalistas
acreditam que só a razão pode levar a um conhecimento rigoroso, desvalorizam os sentidos
e a experiência devido à sua falta de rigor. Possuem uma visão otimista da razão porque
acreditam que ela possibilita o conhecimento humano. Para Santos (2014):
28 ·
Fonte: http://www.fisica-interessante.com/filosofia-daciencia-
positivismo.htmlda Filosofia Moderna".
Segundo Santos (2014), o Racionalismo prega que o conhecimento deve ser baseado na
certeza, por dedução, que começa numa busca do começo racional do conhecimento,
conforme pode ser observado na Figura 3.
Figura 3- Representação do método dedutivo
Para Santos (2014), o método dedutivo vai do geral para o particular. Apoia-se no
conhecimento das coisas que se reconhecem corretas - evidências intuitivas. Pela análise
(decomposição), divide-se uma questão em suas partes componentes até conseguir
evidências ou verdades já demonstradas por dedução – então, a partir delas, chega-se a
novas conclusões.
O Empirismo é a teoria do conhecimento que se opõe ao racionalismo (embora tanto
no empirismo quanto no racionalismo há posições moderadas que tentam conciliar ambas
as extremidades). Na modernidade, o empirismo é representado por autores como Locke,
Berkeley e David Hume.
30 ·
1.3
IDEALISMO E FENOMENOLOGIA
O Idealismo se configura como uma das mais importantes correntes filosóficas do
pensamento ocidental. Segundo alguns historiadores, esta corrente filosófica tem suas
raízes na Grécia Antiga, sobretudo na filosofia de Platão (428/427 a.C. – 348/347 a.C.),
atribuindo ao sujeito o objeto do conhecimento, sendo o mundo uma representação do que
o sujeito enxerga ou observa. Para os adeptos desta corrente, o mundo não é como se
apresenta, sendo uma extensão imperfeita do mundo das ideias.
O Idealismo foi diretamente influenciado pelo pensamento moderno, tendo como ponto
de vista central a subjetividade, diferenciando-se de outras correntes filosóficas
materialistas. Foi através da revolução filosófica iniciada por René Descartes (1596 –
1650) que a mudança de perspectiva se deu. Tem seu surgimento marcado pelo impacto
das ideias de Immanuel Kant (1724 – 1804) e se consolida como corrente filosófica com
Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770 – 1831). O quadro 9 tem como objetivo apresentar
alguns elementos importantes que fazem parte do Idealismo como Corrente Filosófica.
Quadro 9- Princípios do Idealismo e seus precursores
Se examinarmos o próprio conceito de fenômeno, que em grego significa "o que aparece",
podemos compreender melhor que a fenomenologia aborda os objetos do conhecimento
tais como aparecem, isto é, como se apresentam à consciência. Isso significa que deve ser
desconsiderada toda indagação a respeito de uma realidade em si, separada da relação com
o sujeito que a conhece. Não há um puro ser "escondido" atrás das aparências ou do
fenômeno: a consciência desvela progressivamente o objeto por meio de seguidos perfis,
32 ·
de perspectivas as mais variadas. A consciência é doadora de sentido, fonte de significado
para o mundo. Conhecer é um processo que não acaba nunca, é uma exploração exaustiva
do mundo. No entanto, é bom lembrar que a consciência que o homem tem do mundo é
mais ampla que o mero conhecimento intelectual, pois a consciência é fonte de
intencionalidades não só cognitivas, mas afetivas e práticas. O olhar do homem sobre o
mundo é o ato pelo qual o homem o experiencia, percebendo, imaginando, julgando,
amando, temendo, etc.
A fenomenologia, como Nietzsche, critica a filosofia tradicional por desenvolver uma
metafísica cuja noção de ser é vazia e abstrata, voltada para a explicação. Ao contrário, a
fenomenologia tem como preocupação central a descrição da realidade, colocando como
ponto de partida de sua reflexão o próprio homem, num esforço de encontrar o que
realmente é dado na experiência, e descrevendo "o que se passa" efetivamente do ponto de
vista daquele que vive uma determinada situação concreta. Nesse sentido, a fenomenologia
é uma filosofia da vivência.
Para Barreto (2015), a fenomenologia utiliza-se do Empirismo e de seu método de
investigação, que defende que todo o conhecimento é o resultado das nossas experiências,
sendo oposto ao racionalismo que defende que as nossas teorias devem ser baseadas nas
nossas observações do mundo, em vez da intuição ou fé.
1.4
EXISTENCIALISMO
O existencialismo, cujo principal filósofo é o dinamarquês Kierkegaard, surgiu em meados
do século XIX, mas seu maior reconhecimento foi no pós-guerra, entre os anos 50 e 60, a
partir de Heidegger e Jean-Paul Sartre. Esta teoria teve forte influência da fenomenologia
por levantar novamente o interesse pelos fenômenos da consciência. Para Barreto (2015),
os dois mais importantes filósofos da corrente existencialista, Heidegger e Sartre, foram
profundamente influenciados pela filosofia de Edmund Husserl e desenvolveram um
método fenomenológico, como base de suas respectivas posições filosóficas. Sartre
contribuiu com mais pensamentos sobre a liberdade e chefiou dentro do movimento uma
corrente ateísta. Para Sartre, segundo Barreto (2015):
Para Barreto (2015), o existencialismo, partindo de uma filosofia do tempo, leva o homem
a existir inteiramente "aqui" e "agora", para aceitar sua intensa "realidade humana" do
momento presente. O passado representa arquivos de experiências a serem usadas no
serviço do presente, e o futuro não é outra coisa que visões e ilusões para dar ao nosso
presente direção e propósito.
Nesse sentido, segundo Barreto (2015), esta corrente filosófica parte do princípio de
que não podemos nos submeter a condicionamentos de nosso passado, permitindo que
sentimentos, memórias ou hábitos se imponham sobre nosso presente e determinem seu
conteúdo e qualidade. Os homens não devem permitir que as ansiedades sobre os eventos
futuros ocupem nosso presente.
1.5
POSITIVISMO E MARXISMO
A Corrente Positivista é uma corrente filosófica descendente do Iluminismo que surgiu no
século XIX na França, como reação contra o idealismo. Seus principais representantes são
34 ·
os pensadores Auguste Comte e John Stuart Mill. A figura 6 apresenta a imagem de
Auguste Comte:
3SAIBA mAIS:
Isidore Marie Auguste François Xavier Comte (17981857),
pensador francês, foi o expoente principal do Positivismo. Filho de
pais católicos e monarquistas fervorosos, era, naturalmente,
anticlericalista e antimonarquista. Foi o criador da Sociologia. Tinha
por Lema: "Nada de filosofia, nada de pura especulação e sim,
sistematização e metodologia das ciências". Ideias políticas. O
Positivismo de Comte rejeitou a Democracia, a Monarquia e a
Igreja, enfatizando a hierarquia e a obediência. Pregava um governo
ideal formado por uma elite intelectual. Propôs uma sociologia
'científica'. Tinha a moralidade e o progresso moral como objetivos
centrais do conhecimento e esforço humano. O Positivismo
pretendia substituir a especulação racional das filosofias pelos dados
positivos da pesquisa científica. Com isso, abriu campanha contra a
Filosofia Pura. Propunha uma coletânea de ciências cobrindo todo o
saber humano.
Direitos humanos: Comte rejeita a doutrina dos direitos
do homem e da liberdade como metafísica. Argumentava
que, assim como “não há liberdade de consciência em
astronomia”, uma política verdadeiramente científica pode
impor suas conclusões. Pregava que aqueles que não
compreenderem a Filosofia Positiva terão que se lhe
submeter cegamente (o equivalente da fé na religião
positivista).
Os positivistas não consideram os conhecimentos
ligados às crenças, superstição ou qualquer outro que não
possa ser comprovado cientificamente. Para eles, o
progresso da humanidade depende exclusivamente dos
avanços científicos.
Fonte: http://coral.ufsm.br/righi/EPE/positivismo.php
Figura 6 - Isidore Marie Auguste François Xavier Comte (1798-1857)
Para Santos (2014), a corrente positivista defende a ideia de que o conhecimento científico
é a única forma de conhecimento verdadeiro. Para os positivistas, uma teoria é correta se
ela foi comprovada através de métodos científicos válidos. Segundo Santos (2014):
36 ·
Fonte: NTE/UFSM.
A Teoria Marxista, conforme explica Santos (2014), tem como objetivo compreender a
vida social conforme a dinâmica da luta de classes e prevê a transformação das sociedades
de acordo com as leis do desenvolvimento histórico de seu sistema produtivo.
Para Santos (2014), apesar de ser considerado um sistema positivista, a Teoria Marxista
rejeita o Positivismo e o considera um “Idealismo subjetivo” porque limita-se apenas a
fatos e não investiga as causas subjacentes às coisas (em geral, a luta de classes). Para
Santos (2014):
Para Aranha e Martins (1993, p. 240) “a teoria marxista compõe-se de uma teoria
científica, o materialismo histórico, e de uma filosofia, o materialismo dialético”.
Ainda conforme as autoras:
Para os materialistas, a história da filosofia tem longa tradição
idealista, pressuposta até nas teorias em que o idealismo não
transparece num primeiro momento, culminando com o pensamento
de Hegel, no século XIX. Para esse filósofo, é a própria razão que faz
38 ·
2 E
CONTEMPORÂNEA E FILOSOFIA
MODERNA EDUCAÇÃO
40 ·
INTRODUÇÃO
N esta Unidade de Ensino, estaremos abordando a Filosofia Moderna e
Contemporânea e sua relação com a Educação. Devemos lembrar que o ensino
da Filosofia objetiva a reflexão crítica sobre a realidade que nos cerca,
desenvolvendo consciências críticas e reflexivas para uma atuação autônoma nestes
contextos. No caso da Filosofia da Educação, as reflexões giram em torno de processos e
sistemas educativos como um todo, buscando a compreensão de métodos didáticos e os
diversos temas que envolvem o ato de educar.
A Filosofia Moderna traz em seus traços as marcas do século XVII, sobretudo porque
este período sucedeu o século XV e XVI, em que o Renascimento trouxe ao mundo
significativas transformações políticas, econômicas, artísticas e científicas. Entretanto,
pode-se dizer que moderna é toda Filosofia desenvolvida a partir daí, até meados do século
XIX. Também a Reforma iniciada por Lutero e encerrada por Coménio é o ponto de
partida para a formação do homem moderno. Esta Reforma
Protestante, ocorrida no século XVII, tinha como um de seus principais objetivos opor-se
tanto aos dogmas e à visão unilateral da Religião Oficial, como também ao modo de
organização da vida humana, ainda muito atrelado ao Feudalismo. Vê-se com isso que a
Reforma trouxe consigo já os ideais do Homem Moderno, um homem livre e capaz de
lutar por seus interesses pessoais, fossem eles econômicos ou religiosos.
É no contexto da Modernidade que surge a Escola de Frankfurt (século XX), a qual era
formada por pensadores do Instituto para Pesquisa Social da Universidade de Frankfurt.
Esta escola constituiu-se a partir das ideias marxistas e freudianas, formando a chamada
teoria crítica social interdisciplinar. Seu trabalho esteve pautado em temas da vida social
em áreas como a antropologia, psicologia, história, economia e política e teve como
principais representantes Theodor Adorno, Max Horkheimer, Walter Benjamin e Jurgen
Habermas.
A Filosofia Contemporânea começa a desenvolver-se a partir do final do século XVIII,
especialmente após a Revolução Francesa, em 1789, e tem continuidade nos séculos XIX e
XX. Com relação à atualidade (século XXI), temos uma discussão em torno da Filosofia
pós-moderna, também conhecida por “Filosofia da Complexidade”, a qual vem se
estruturando a partir da filosofia contemporânea e fundamenta-se a partir de uma mudança
de paradigmas, sobretudo no que se refere às pesquisas na área da educação.
2.1
A ESCOLA DE FRANKFURT
O surgimento da Escola de Frankfurt representou, no século XX, um marco importante na
constituição de uma Teoria Crítica da Sociedade. Dedicou-se inicialmente ao estudo dos
problemas tradicionais do movimento operário, unindo trabalho empírico e análise teórica.
“O projeto teórico inicial de cunho fortemente marxista deu lugar a um projeto filosófico e
político único, ao propor uma teoria crítica que fosse capaz de apreender a sociedade do
início do século XX” (rÜdIgEr, 2001 apud mogENdorFF, 2012, p. 153).
Fundada em 1924, em Frankfurt, na Alemanha, sob o nome de Instituto de
42 ·
Fonte: Adaptado de Mises Brasil. Disponível em: https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2401
Um dos principais objetivos da teoria crítica proposta pela Escola de Frankfurt era
justamente a libertação dos sujeitos das circunstâncias que os escravizavam. Segundo os
frankfurtianos, sua teoria era a teoria da verdade, pois acreditavam possuir as diretrizes do
“pensamento correto”.
Registros históricos nos mostram que uma das principais e mais controversas
discussões em torno da Escola de Frankfurt refere-se à religião e à espiritualidade, pois,
para eles, o cristianismo representava o ressurgimento institucional da filosofia pagã, e
Deus seria uma mera ficção. A religião, segundo eles, levava as pessoas a projetarem seu
sofrimento em uma entidade divina; servia como distração da miséria causada pelo
capitalismo. Como os frankfurtianos acreditavam na libertação e no desenvolvimento de
uma consciência crítica, opuseram-se totalmente a esta visão teocentrista imposta pelo
cristianismo.
Segundo Grass (2016), a Escola de Frankfurt acreditava que, ao extirpar a humanidade
da espiritualidade, e ao destruir os bens materiais — criados pelo capitalismo — que
rodeiam os seres humanos, o homem viverá livremente, sem o sentimento de
responsabilidade e sem o fardo de sua própria consciência. Os frankfurtianos prometiam
liberdade sem o livre arbítrio; preconizavam a emancipação por meio da assimilação
intelectual.
Estas ideologias serviram de argumentos para a "descriminalização do crime", que é
uma das teses da Escola de Frankfurt. Segundo Habermas, dado que o homem é um
produto da sociedade, é inevitável que ele ceda aos seus impulsos primitivos e às suas
tendências criminosas, uma vez que ele foi criado sob o jugo da violência estrutural de um
sistema capitalista criminoso. Defende ainda que todos os defeitos da humanidade
começam com a família, sendo esta a primeira e primordial entidade moral que
encontramos, a qual cria seus filhos de uma maneira autoritária gerando adultos submissos,
obedientes e dependentes. Neste sentido, os filósofos de Frankfurt buscavam também a
substituição dessa instituição, vista por eles como antiquada (a família), reprogramando a
sociedade por meio de ideias revolucionárias dentro do campo social.
De acordo com Chauí (2000), os filósofos da Teoria Crítica (teoria base da Escola de
Frankfurt) consideram que existem, na verdade, duas modalidades da razão: a razão
instrumental ou razão técnico-científica, que está a serviço da exploração e da dominação,
O que foi?
A finalidade desta escola
era fazer uma investigação
social sobre a industrialização
moderna. Este movimento
se iniciou na Alemanha e foi
denominado institudo de
pesquisa social.
44 ·
Fonte: Adaptado de Portal Consciência Política. Disponível em:
http://www.portalconscienciapolitica.com.br/filosofia-politica/filosofia-contempor%C3%A2nea/escola-de-
frankfurt/
Vê-se com isso que a Escola de Frankfurt teve significativa importância para constituição
de toda a Teoria que visou estabelecer a relação entre Cultura e Trabalho (a partir da
perspectiva Marxista), de modo a realizar uma crítica à massificação da cultura e ao
Positivismo e defender um homem crítico ainda que inserido em uma sociedade de
consumo (Figura 12).
Figura 12 - Imagem representativa da Sociedade do Consumo
Revisitando a história, é possível encontrar fontes que indicam que Frankfurt começa a ter
entrada no Brasil, ainda que de modo informal, em meados dos anos 60, trazendo consigo
discussões em torno de dois campos do conhecimento: o dos estudos literários e o da
comunicação, sobretudo a partir da obra de Walter Benjamin (cf. KoNdEr, 1967). Segundo
o autor, na sequência, são as obras de Marcuse e Adorno que passam a influenciar o
pensamento brasileiro, estando este último, ainda hoje, associado ao conceito de indústria
cultural. Sobre esta, é válido dizer que se refere ao processo exacerbado de industrialização
da cultura, em que os sujeitos muitas vezes compram o produto cultural de outros lugares e
inclusive de outros países, sem perceber a lógica mercadológica que há e desvalorizando,
muitas vezes, a cultura local.
46 ·
Rüdiger (1999, p. 7) afirma que: “a crítica à indústria da cultura parece ter sido jogada
às traças pela maior parte dos praticantes dos estudos culturais e pesquisadores da
comunicação”. Isso porque há uma posição de estagnação frente à defesa de uma cultura
erudita que muitas vezes rejeita a cultura das massas populares. É também nesta
perspectiva que a Teoria Crítica vem contribuir no sentido de problematizar estas questões
e, assim, suscitar nos sujeitos novos modos de pensar e fazer cultura.
Segundo Aranha e Martins (1992):
É neste contexto que a escola passa a ter o papel de refletir os anseios e interesses da
sociedade, devendo estar diretamente ligada a esta. O próprio Libâneo (1992, p. 23) coloca
a escola na condição de "uma atividade mediadora no seio da prática social global", ou
seja, é através da escola que acontecem as mediações para a constituição das relações
sociais e educativas. Neste sentido, a escola assume o contraponto de boa parte das
questões relativas à indústria cultural, buscando não ser uma mera reprodutora das culturas
externas, mas uma mediadora da problematização e da construção de ideias críticas sobre
as realidades e os contextos dos educandos e consequentemente das comunidades em que
vivem.
Ainda falando sobre a Teoria Crítico Social dos Conteúdos proposta por Libâneo
(1992), é válido afirmar que, para ele, a escola assume um papel fundamental na formação
de sujeitos críticos, reflexivos e construtores das suas realidades e das suas culturas.
Segundo o autor, o papel da escola deve estar focado na apropriação de conteúdos básicos
que tenham ressonância na vida dos sujeitos.
Ainda nesta perspectiva, quando se fala em conteúdos se pensa também nos métodos
de aprendizagem. Sobre isso, Libâneo (1992) também traz alguns apontamentos relevantes
que merecem ser observados. Conforme o autor, para o desenvolvimento de uma
pedagogia crítica há a exigência de métodos que estabeleçam relações de aproximação
entre a experiência do aluno, confrontada com o saber e relacionada com a prática vivida.
Em outras palavras, uma aula começa pela constatação da prática real, havendo, em
seguida, a consciência dessa prática no sentido de referi-la aos termos do conteúdo
proposto, na forma de um confronto entre a experiência e a explicação do professor
(LIBÂNEo, 1992). Nesta perspectiva, Libâneo (1992) traz uma importante contribuição
sobre o papel do professor a partir deste contexto. Segundo ele, é imprescindível que, além
de o professor ter a competência técnica (conhecer os conteúdos e as melhores formas de
fazer a transposição diante do aluno), é igualmente importante que ele saiba vincular sua
prática com o contexto social em que se insere, ou seja, é fundamental que, para além do
ensinado e aprendido haja também, e talvez com até mais importância, o compreendido.
É preciso, portanto, que pensemos no contexto de nossas escolas e nos processos de
ensino e aprendizagem que estamos construindo. Pensar a partir de uma proposta baseada
nos primeiros teóricos de Frankfurt, os quais buscaram a construção de um pensamento
crítico e reflexivo frente ao amplo processo de industrialização naquele período. Pensar a
partir do que nos propõe Adorno em relação à Indústria Cultural e à excessiva
massificação imposta pelo capitalismo exacerbado. Pensar a partir de Libâneo e suas
proposições para uma Pedagogia Crítico-Social dos conteúdos, em que o saber ensinado
esteja cada vez mais próximo dos contextos e realidades dos educandos.
48 ·
É preciso que saibamos perceber estas relações e interligá-las aos nossos contextos
formativos e profissionais. Trazendo a discussão para a Educação do Campo, temos a clara
dimensão do que estas Teorias estão propondo e do que elas pressupõem a partir de um
contexto de reflexão e crítica. É preciso, portanto, que nos aproximemos com maior
aprofundamento destas realidades, de modo que sejamos sujeitos capazes de democratizar
o saber. Conhecer os primeiros passos da Escola de Frankfurt e, posteriormente, sua
entrada no Brasil, assim como seus desdobramentos nos estudos de Libâneo, nos fazem
refletir sobre quais caminhos ainda precisam ser traçados para que a Teoria Crítica possa
cumprir o seu papel na sociedade – a constituição de sujeitos mais conscientes e
participativos, que não se deixam manipular pelos contextos externos.
Há que se fazer ainda uma longa e significativa caminhada neste sentido, a qual só será
efetivamente possível se houver uma consciência clara entre os docentes (em formação e
em serviço) de que não é possível a constituição destes saberes sem o estudo, a pesquisa e
o desprendimento de paradigmas antigos para a compreensão e apropriação de novos.
A complexidade, assim, nos coloca numa dimensão muito maior e mais significativa do
que seja o mundo e a convivência em sociedade. Nos dá o entendimento das estreitas
relações que se estabelecem entre o vivido individual e o vivido de forma coletiva. Nos
proporciona a possibilidade da análise e do questionamento a partir do todo, em detrimento
das partes, e nunca avalia uma determinada situação a partir de um contexto isolado, mas
do entrelaçamento de vários contextos. Fazendo uma ponte entre o estudo recente da
Escola de Frankfurt e da Teoria Crítica, também chamada por Libâneo de Teoria Crítico
Social dos Conteúdos, percebemos que a Filosofia da Complexidade surge nesse contexto
que pressupõe que o trabalho da escola e da educação não deve ser visto de forma isolada,
fragmentada, mas inter-relacionada ao contexto no qual se insere, buscando as proposições
que deem conta da compreensão do todo e das partes.
A Filosofia da Complexidade nos faz pensar em um mundo interligado, em uma
espécie de teia circular de saberes e conhecimentos que se intercruzam para dar significado
a cada uma das partes (Figura 13):
Figura 13 - Diagrama Circular para representação da Complexidade
50 ·
Fonte: Adaptado de Maciel (2000)
De acordo com a autora, a realidade é feita de laços e interações, sendo que para
compreendê-la é preciso um pensamento em constante movimento entre as partes e o todo,
percebendo o complexus - o tecido que junta o todo (mACIEL, 2000). Morin (2005) a
define assim:
Isso significa que, para esta filosofia, não ter a dimensão do todo e da circularidade pela
qual o conhecimento se constitui representa uma cegueira social e consequentemente
cognitiva. Há que se ter, na perspectiva de Morin, um entendimento do emaranhado que
envolve todas as ações, todos os pensamentos e toda forma de construção do
Ao se fazer uma leitura mais atenta do mapa, percebe-se que a autora traz a Complexidade
dentro de uma proposta para repensar os modos sob os quais estamos construindo a
Educação destes tempos. Nesse sentido, a Complexidade pertence à era da Produção do
Conhecimento dentro da Sociedade do Conhecimento. Segundo ela, a Complexidade busca
superar uma visão mecanicista, racional, unilateral e fragmentada, propondo uma visão de
mundo e de conhecimento conectada, em forma de teia e de sistemas integrados. A
complexidade busca, assim, aproximar razão e emoção. Segundo Morin (2005), não há
pensamento racional sem emoção – a própria “paixão” pelo fazer já é emoção e não pode
estar distanciado do conhecimento.
Seguindo ainda a análise do Mapa Conceitual acima exposto, temos também que a
Complexidade prioriza o trabalho coletivo e a colaboração. A escola e a educação como
um todo, nesse contexto passam a ser vistas como um centro de produção do conhecimento
promovendo aprendizagens investigativas e colaborativas e potencializando a formação de
sujeitos que tenham pensamento transformador, crítico e reflexivo.
De acordo com Morin (2003), toda e qualquer atividade dos seres vivos (incluindo-se
aqui, é claro, a educação) é guiada pela tetralogia que envolve as relações de Ordem,
Desordem, Interação e Reorganização. Segundo o autor, esse Tetragrama constitui a base
do pensamento complexo, conforme representado na Figura 15:
52 ·
Figura 15 - Tetragrama do Pensamento Complexo
Para Morin (2003, p. 204), “esse tetragrama permite-nos conceber que a ordem do
universo se autoproduz ao mesmo tempo que esse universo se autoproduz, por meio das
interações físicas que produzem organização, mas também desordem”.
A partir desta compreensão, é perceptível a importância de considerarmos a ordem e a
desordem que envolve tudo, se quisermos conceber o nosso mundo, pois “um mundo
absolutamente determinado, tanto quanto um completamente aleatório, é pobre e mutilado;
o primeiro, incapaz de evoluir, e o segundo, de nascer” (MORIN, 2003, p. 202). Em outras
palavras, é impossível a existência de um mundo que não seja de algum modo complexo,
em constante processo de reconstrução e reorganização que se traduz continuamente nas
interações entre os sujeitos.
Edgar Morin trabalha também a Filosofia da Complexidade ou Paradigma da
Complexidade a partir da ideia de Operadores da Complexidade. Segundo ele, são três
esses operadores: o dialógico, o recursivo e hologramático. De acordo com Maciel (2000),
o dialógico envolve juntar as coisas que aparentemente estão separadas; o recursivo refere-
se ao fato de que a causa produz o efeito que produz a causa; e o hologramático significa
que é impossível desassociar a parte do todo, ou seja, a parte está no todo da mesma forma
que o todo está na parte.
Buscando essa compreensão para os encaminhamentos da Educação, é possível fazer
algumas analogias. Com relação ao dialógico, podemos considerar tanto o conhecimento
que o aluno traz, quanto o conhecimento a ser construído a partir das interações na escola,
assim como sobre os alunos em si – nada pode ser separado. Há uma intrínseca relação
entre todas estas esferas, a qual só pode ser compreendida a partir de uma concepção
dialógica da complexidade. Sobre o recursivo, poderíamos utilizar o mesmo exemplo, ou
também a compreensão de que nenhum conhecimento existe a partir do nada. O
conhecimento inicialmente constituído (causa) produz certo efeito a partir do momento que
é difundido e que produz novas causas, diferentes das iniciais, num processo de
retroalimentação. Por fim, a questão hologramática nada mais é do que a indivisibilidade
do todo e das partes. Nesta perspectiva, há que se considerar também o sujeito aprendente,
assim como os saberes a serem construídos, sendo que ambos passam a fazer parte de um
mesmo contexto a partir desta discussão.
Para compreender a complexidade real dos fenômenos educativos como fenômenos
sociais, é imprescindível chegar aos significados, ter acesso ao mundo conceitual dos
indivíduos e às redes de significados compartilhados pelos grupos, comunidades e culturas.
A complexidade da investigação educativa reside precisamente nesta necessidade de ter
acesso aos significados, já que estes só podem ser captados de modo situacional, no
contexto dos indivíduos que os produzem e trocam (PÉrEZ gÓmEZ, 2010).
54 ·
pedagógicas atuais, que certamente necessitam de um novo olhar para novos sujeitos em
constante processo de transformação.
58 ·
A partir destas colocações iniciais, buscaremos estudar, nesta unidade, a importância de
compreendermos as diferentes tendências pedagógicas utilizadas no processo de ensino
aprendizagem que influenciam as situações concretas em sala de aula e a relação professor-
aluno, e de forma sintetizada estabelecer relações, comparações e confrontações entre elas.
3SAIBA mAIS:
Para saber mais em relação às Concepções Pedagógicas, indicamos a
leitura do artigo “As concepções pedagógicas na história da
educação brasileira”, de Dermeval Saviani.
http://www.histedbr.fe.unicamp.br/navegando/artigos_frames/artigo_036.html
Entre os motivos que levam os profissionais da educação a agir desta forma, podemos
citar Libâneo (1985, apud rUFINo; AZEvEdo, 2012), que há vários anos tem alertado que
os cursos de graduação em licenciatura não incluem em sua grade curricular o estudo de
correntes pedagógicas ou, quando o fazem, focam nas teorias de ensino e aprendizagem, as
quais dificilmente correspondem às situações concretas de sala de aula, o que não auxilia
60 ·
os professores a formarem um quadro teórico que referencie e oriente sua prática
(LIBÂNEo, 1985)
A partir do que foi exposto anteriormente, Rufino e Azevedo (2012) ressaltam que:
3.2
ABORDAGEM TRADICIONAL
A primeira abordagem que iremos estudar é denominada por Mizukami (1986), de
“Tradicional”. Esta abordagem caracteriza-se pela ênfase no objeto, no conhecimento,
pela transmissão do conhecimento acumulado pela humanidade através de uma prática
educativa centrada no papel do professor em situações de sala de aula, agindo
independentemente dos interesses dos alunos em relação aos conteúdos das disciplinas. Os
conteúdos são adquiridos a partir da prática de transmissão e imitação, não proporcionando
ao estudante uma reflexão crítica devido ao acúmulo de conteúdo a ser estudado e
assimilado pelo estudante. Caracteriza-se pela prática da “decoreba” onde o professor dita
o conhecimento e o aluno recebe, sendo este um mero receptor, que não pensa, não critica,
não tem opinião, não detém uma bagagem de conhecimentos própria. Portanto, nesta
abordagem, o aluno não precisa se manifestar ou dar sua opinião, pois não tem nada a
acrescentar, está em sala apenas para aprender, o seu papel é o de depositário de
informações. Essa abordagem é definida por Paulo Freire como “A educação Bancária”,
Quadro 2 - A abordagem tradicional na visão de Bordenave (1984), Libâneo (1982), Saviani (1984)
62 ·
Fonte: Adaptado de Santos (2005).
3.3
ABORDAGEM COMPORTAMENTALISTA
A abordagem comportamentalista também é denominada, por alguns autores, como
abordagem behaviorista. Para Silva e Sales (2017, p. 24), a abordagem behaviorista é
Para Silva e Sales (2017), a teoria do condicionamento foi uma das teorias que formaram a
base para o behaviorismo. Foi elaborada a partir dos estudos do psicólogo russo Pavlov,
que constatou através de experimentos com animais, mais precisamente com cachorros,
que os mesmos reagiam biologicamente à determinada situação, através de estímulos
impostos. Nesta unidade, não iremos nos deter em estudar ou descrever a teoria
behaviorista, pois este assunto está sendo trabalhado na apostila da disciplina Psicologia
64 ·
da aprendizagem/ Educação do Campo, na unidade 2.1. Princípios básicos do
behaviorismo e implicações educacionais.
Segundo Mizukami (1986), um dos principais representantes da abordagem
comportamentalista ou behaviorista é Skinner (1972). Ele não se preocupa em justificar por
que o aluno aprende, mas sim em fornecer uma tecnologia que seja capaz de explicar como
fazer o estudante estudar e que seja eficiente na produção de mudanças comportamentais.
O quadro 3 apresenta a Abordagem Comportamentalista na visão dos diferentes
autores.
66 ·
3.4
ABORDAGEM HUMANISTA
A terceira abordagem que iremos estudar é denominada por Mizukami (1986) como
humanista, uma vez que nela o ensino está centrado na pessoa humana, implicando orientá-
la para sua própria experiência para que, dessa forma, possa estruturar-se e agir. Portanto,
nesta abordagem, a pessoa faz parte do processo de ensino-aprendizagem, possuindo
importância centralizada (rUFINo; AZEvEdo, 2012).
Para Santos (2005), apesar desta abordagem ter seu enfoque no sujeito, com “ensino
centrado no aluno”, ela tem alguns elementos característicos da abordagem interacionista
de sujeito objeto. Para Santos (2005):
Quadro 4 - Abordagem Humanista na visão de Bordenave (1984), Libâneo (1982), Saviani (1984)
ABORDAGEM HUMANISTA
3.5
ABORDAGEM COGNITIVISTA
A abordagem cognitivista é conhecida por sua parte científica no sentido de que a mesma
analisa a aprendizagem cientificamente. Essa abordagem é predominantemente
68 ·
interacionista, na qual o homem interage no mundo e vice-versa, tendo em Jean Piaget e
Jerone Bruner seus principais representantes. Para Santos (2005):
A Figura 17 apresenta Jean Piaget, biólogo, psicólogo e epistemólogo suíço, considerado um dos
mais importantes pensadores do século XX.
Em uma abordagem que tem como enfoque o cognitivo é possível observar o caráter
interacionista entre sujeito e objeto, e o aprendizado é decorrente da assimilação do
conhecimento pelo sujeito e também da modificação de estruturas mentais já existentes.
Pela assimilação, o indivíduo explora o ambiente, toma parte dele, transformando-o e
incorporando-o a si (SANToS, 2005). Sendo assim, para Santos (2005):
70 ·
Quadro 5 - A abordagem Cognitivista na visão de Bordenave (1984), Libâneo (1982) e Saviani (1984).
Dentro desta visão, esta abordagem procura trabalhar o papel do professor e do educando
como agentes formadores fazendo uso de sua criticidade, eliminando a situação opressor-
oprimido. Professor e estudante são vistos como sujeitos da aprendizagem, na qual o
conhecimento é construído em conjunto, levando em consideração o conhecimento e a
experiência de vida de cada sujeito.
No Brasil, um dos autores de maior referência neste tipo de abordagem, que enfatiza
aspectos sociopolítico-culturais, é Paulo Freire, com sua preocupação com a cultura
popular.
O processo de ensino e aprendizagem é mútuo, eis que o homem se vê como sujeito
atuante no mundo e capaz de transformá-lo para melhor. Esta concepção é a que mais se
aproxima dos referenciais teóricos da Educação do Campo. Segundo Santos (2005):
72 ·
sociedade e sua cultura. Portanto, deve levar o indivíduo a uma
consciência crítica de sua realidade, transformando-a e a melhorando-
a. Dessa forma, o aspecto formal da educação faz parte de um
processo sociocultural, que não pode ser visto isoladamente, nem
tampouco priorizado (SANToS, 2005, p. 23).
74 ·
3.7
SÍNTESE DAS ABORDAGENS
TRADICIONAL,
COMPORTAMENTALISTA,
HUMANISTA, COGNITIVISTA E
SOCIOCULTURAL
A seguir, vamos apresentar um quadro resumo elaborado pelos autores a partir de uma
compilação de elementos encontrados nos trabalhos de Santos (2015) e Mizukami (1986),
que possibilitarão a visualização dos principais elementos que constituem as abordagens
pedagógicas que estudamos até aqui.
É importante salientar que as abordagens/tendências pedagógicas apresentadas nesta
unidade apareceram no cenário educacional em determinados períodos históricos e ainda se
fazem presentes no cenário educacional hoje. Apesar de serem debatidas em separado,
muitas de nossas práticas na escola são ancoradas em uma ou em várias destas abordagens.
O Quadro 7 apresenta um resumo dos principais elementos que constituem as abordagens
pedagógicas.
Quadro 7 B- Síntese dos elementos relevantes encontrado nas abordagens Tradicional, Comportamentalista, Humanista,
Cognitivista, Sociocultural.
ABORDAGENSABORDAGEM HUMANISTA
ABORDAGEM COGNITIVISTA
ABORDAGEM SÓCIO - CULTURAL
76 ·
aprendizagem, Aluno criativo, político, analisar,
relacionar, econômico, individual
justapor, (pela
compor,
que 'aprendeu a aprender'. encaixar, levantar
história). Deve ser capaz dehipóteses,
operar
Aluno participativo. argumentar etc.
conscientemente mudanças na
realidade.
O PROFESSOR É o facilitador da aprendizagem. É osituações
Criar educadordesafiadoras
que direciona
e e conduz o
processo de ensino
desequilibradoras e aprendizagem.
através da orientação.A
relação professor
Estabelecer condiçõese de
aluno deve ser
reciprocidade
horizontal, ao
e cooperação ambos
mesmose posicionam
tempo moral como
e
sujeitos do ato de conhecimento.
racional.
Desenvolver a inteligência,
Os objetivos educacionais são defini-
Os objetivos educacionais
considerando o sujetodos inserido
a partir
numa
das necessidades concretas
obedecem ao desenvolvimento
situação social. A inteligência
do contexto
se constrói
histórico-social, no qual se
psicológico do aluno. Osatravés das ações do encontram
indivíduo. Baseado
os sujeitos. Busca uma
conteúdos programáticos nosão
ensaio e no erro, na
consciência crítica. O diálogo e os
ENSINO Eselecionados a partir dos
APRENDIZAGE investigação, na solução
grupos
de problemas,
de discussão são fundamentais
interesses dos alunos.
facilitando o “aprender
M ''Não-diretividade''. A avaliação para
a pensar”.
o aprendizado. Os”temas
ênfase nos trabalhos geradores”para
em equipe e jogos. o ensiono devem ser
valoriza aspectos afetivos
extraídos da pratica de vida dos
(atitudes) com ênfase na
educandos.
autoavaliação.
2INTErATIvIdAdE:
Vídeo “Milton Santos – Por uma outra globalização, disponível em <
https://youtu.be/KZIJQvy-aFw>
80 ·
ganhando uma dimensão e relevância cada vez mais complexa, torna-se necessário refletir
sobre as crises dos paradigmas que de alguma forma acabam apontando para um
paradigma emergente. Isto é, a transição ampla e complexa que está no mundo, fazendo
despontar uma nova época: o período que se tem denominado de pós-moderno ou pós-
modernidade.
No decorrer do estudo, além das reflexões em torno da ciência (conceitos e fases) e dos
paradigmas (conceitos, crise, modelos), também é abordada a formação do educador no
contexto da contemporaneidade, propondo a reflexão da importância do educador de se
adaptar e ter uma formação continuada perante às mudanças de paradigmas ao longo dos
séculos.
FoNTE: NTE/UFSm.
82 ·
Figura 20 – Mito, Filosofia e Ciência
Fonte: Autores.
4TErmo do gLoSSárIo:
A palavra ciência é de origem latina (scientia), que também
significa conhecimento.
2INTErATIvIdAdE:
Filosofia - Thomas Kuhn (XX) - <https://www.youtube.
com/watch?v=2SoodFbCb20>
4TErmo do gLoSSárIo:
Referente a hegemonia política de um estado sobre outro estado ou
povo; supremacia; preponderância.
3SAIBA mAIS:
http://brasilescola.uol.com.br/filosofia/a-filosofia-
-ciencia-thomas-kuhn.htm
84 ·
das diferenças entre eles, que implicam ver o Mundo de formas
diferentes não compatíveis. Por exemplo: o paradigma geocêntrico,
que colocava a Terra no centro do Universo e o paradigma
heliocêntrico, que afirma ser o Sol o centro do Universo (KUHN,
1991, p. 13).
4TErmo do gLoSSárIo:
Diz-se sobre algo que não se pode medir como outra grandeza
qualquer; sem limite, sem tamanho, sem medida; algo que não pode
ser comparado; similar a imenso; incontável.
3SAIBA mAIS:
Conceito de paradigma para Platão era o modelo do mundo das
ideias; para Aristóteles, era o exemplo em lógica. Já para Copérnico,
era aceito o paradigma ptolomaico;
até a teoria da relatividade, a ciência normal se sustentava
pelo paradigma newtoniano
2INTErATIvIdAdE:
O conceito de paradigma - <https://www.youtube.
com/watch?v=j-A0v7NT2mw>
Na Figura 21, é explicitado o conceito de paradigma para uma melhor visualização. Figura
21 – Conceito de Paradigma
para digma
ao lado mostrar
mostrar ao lado
Fonte: Autores.
Para Carvalho (2015), paradigma é um conceito que esta referendado a modelo e que, a
partir de um momento da história da humanidade, pressupõe o conceito de aceitação,
levando a mudanças.
É por meio dos paradigmas que os cientistas buscam respostas para os problemas
surgidos pelas ciências. A prática científica ao fomentar leis, teorias, explicações e
aplicações criam modelos que sustentam as tradições científicas.
A física de Aristóteles é um bom exemplo de paradigma, sua teoria foi aceita por mais
de mil anos, a astronomia Copernicana, a dinâmica Newtoniana, a química de Boyle, a
teoria da relatividade de Einstein também são paradigmas. Segundo Kuhn, os “paradigmas
são as realizações científicas universalmente reconhecidas que, durante algum tempo,
fornecem problemas e soluções modelares para uma comunidade de praticantes de uma
ciência” (KUHN, 1991, p. 13).
3SAIBA mAIS:
Aristóteles (384 a.C.–322 a.C.) foi um importante filósofo grego.
Um dos pensadores com maior influência na cultura ocidental,
discípulo do filósofo Platão, elaborou um sistema filosófico no qual
abordou e pensou sobre praticamente todos os assuntos existentes,
como a geometria, física, metafísica, botânica, zoologia, astronomia,
medicina, psicologia, ética, drama, poesia, retórica, matemática e
principalmente lógica.
SAIBA mAIS:
https://www.ebiografia.com/thomas_kuhn/
4INTErATIvIdAdE:
Astronomia Copernicana - Astronomia ao meio-dia: A
Revolução Copernicana - <http://www.iag.usp.br/
evento/astronomia-ao-meio-dia-revolu
%C3%A7%C3%A3o-copernicana>
86 ·
Dinâmica Newtoniana <https://www.youtube.com/ watch?
v=a82coFMDrnA>
Não tem como falar de conceito de paradigma sem falar em Thomas Kuhn, cientista e
estudioso – o termo paradigma surgiu de suas experiências. Souza (2012, s/p.) afirma que
Kuhn percebeu que a “prática cientifica é uma tentativa de forçar a natureza a encaixar-se
dentro dos limites preestabelecidos e relativamente inflexíveis fornecido pelo paradigma”.
Assim, na ausência de um paradigma, todos os fatos significativos são pertinentes ao
desenvolvimento de uma ciência.
FoNTE: NTE/UFSm.
Outra característica importante para o autor é que um paradigma não necessita de regras,
eis que não é necessário nenhum conjunto de regras ou técnicas para que exista um
paradigma.
4INTErATIvIdAdE:
Paradigma, ciência e quebra-cabeça em Kuhn -
< https://www.youtube.com/watch?v=M0hY4SaA0PQ>
Assim, em razão da crise do velho paradigma surge um novo paradigma “implica pôr em
causa não só o instrumental metodológico e conceitual, mas a própria inteligibilidade do
real que o anterior paradigma proporcionava” (SANToS, 1989, p. 18).
A partir das considerações feitas, pode-se estabelecer que o conceito de paradigma
consiste num modelo de racionalidade, num padrão teórico, hegemônico em determinados
momentos da história e aceito pela comunidade que o utiliza como fundamento do saber na
busca de compreensões e soluções. Veja a Figura 23:
4INTErATIvIdAdE:
Produção acadêmica com foco na temática - Progresso científico e
incomensurabilidade em Thomas Kuhn -
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-
31662007000200003>
88 ·
Figura 23 - Crise dos Paradigmas
Fonte: Autores.
FoNTE: NTE/UFSm.
Para Moraes (2003), Francis Bacon baseava suas experiências em fatos concretos,
chegando às leis e às causas:
4TErmo do gLoSSárIo:
Cartesiano é um adjetivo referente a Descartes, cujo nome latino era
Cartesius, que deu nome ao pensamento cartesiano.
FoNTE: NTE/UFSm.
Descartes defendia que o conhecimento era adquirido pela intuição e dedução, por meio do
qual se tentava estabelecer o conhecimento baseado em alicerces sólidos. Ele tinha a
dúvida como ponto fundamental do seu método analítico, indicava a decomposição do
pensamento em partes elementares e dos problemas em uma ordem lógica. Por acreditar
que tudo deveria ser controlado e observado, concluiu que a essência da natureza humana
se encontra no pensamento; e ele estava separado do corpo.
90 ·
No entanto, o teórico inglês Isaac Newton (1642-1727), estudioso da física,
matemática, filosofia, astronomia, entre outras ciências, completou o pensamento de
Descartes oferecendo uma realidade para a visão de mundo-máquina perfeito. Isso foi
possível após ele desenvolver uma aperfeiçoada formulação matemática da concepção
mecanicista da natureza, por meio de uma sinopse das invenções de Bacon, Copérnico,
Descartes, Galileu e Kepler.
3SAIBA mAIS:
Copérnico – Nicolau Copérnico, foi um matemático, filósofo e
astrônomo polonês, chamado de Pai da Astrônomia Moderna. Foi
através de seus estudos e cálculos, percebeu e defendeu a tese de que
a Terra, assim como os demais planetas, gira em torno do Sol, em
uma teoria chamada de Heliocentrismo.
2INTErATIvIdAdE:
Galileu Galilei - Gênios da Ciência -
<https://www.youtube.com/watch?v=mLQ6ptlofGs>
Figura 26 - Isaac Newton
2INTErATIvIdAdE:
Produção acadêmica com foco na temática – Reflexões sobre o
paradigma holístico e holismo e saúde - <
http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v30n2/v30n2a08>
2INTErATIvIdAdE:
Novos Paradigmas da Educação Mario Sergio Cortella
2003 - < https://www.youtube.com/watch?v=k0wlwV8XphY>
92 ·
O pensamento humano, as ciências e suas práticas sociais evoluíram
até Descartes e Newton. Há mais de quatro séculos a humanidade
circula viciosamente em torno da linearidade do pensamento
cartesiano-newtoniano, que já deu sua grande contribuição e que
precisa ser suplantado (CoSTA NETo, 2003, p. 25).
2INTErATIvIdAdE:
Produções acadêmicas sobre a temática - A Crise dos Paradigmas e a
Educação < http://rbep.inep.gov.br/
index.php/rbep/article/view/1249/1223>
2INTErATIvIdAdE:
O que é Teoria da Complexidade - A Nova Ciência -
< https://www.youtube.com/watch?v=g32M7Q-cNo4>
4.2
A FORMAÇÃO DO EDUCADOR
NO CONTEXTO DA
CONTEMPORANEIDADE
Neste capítulo, estudaremos a formação do educador no contexto da contemporaneidade e
logo a seguir os desafios desse educador na contemporaneidade.
Logo, rejeitando a educação técnica e apolítica do educador, pautada na racionalidade
da técnica cartesiana-newtoniana, surge o educador construtivista. Defendendo que o
educando participe na apreensão de um dado conhecimento, através da interação de seu
processo interno de equilibração com suas experiências com o meio físico, relacionando
este conhecimento, mesmo quando apreendido integralmente em sua forma primeira, com
algo já construído anteriormente (gUImArãES, 1995).
2INTErATIvIdAdE:
Produções acadêmicas sobre a temática – Teoria
Construtivista - <
http://penta3.ufrgs.br/midiasedu/modulo11/etapa2/construti
vismo.pdf>
2INTErATIvIdAdE:
94 ·
Piaget x Vygotsky - Teorias | Psicologia, Desenvolvimento e
Aprendizagem - < https://www.youtube.com/watch?
v=y4EkNx6Vfuk>lo11/etapa2/construtivismo.pdf>
4TErmo do gLoSSárIo:
Cognoscente é um adjetivo que qualifica a pessoa que busca ou toma
o conhecimento sobre algo, também utilizado para se referir ao
indivíduo que tem a capacidade de conhecer e assimilar o saber.
A educação libertadora é, fundamentalmente, uma situação na qual
tantos educadores como os educandos devem ser os que aprendem,
devem ser os sujeitos cognitivos, apesar de serem diferentes (FrEIrE,
1986, p. 46).
2INTErATIvIdAdE:
Produções acadêmicas sobre a temática - Em torno do pensamento
pós-formal -
< http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S0870-82312002000200001>
3SAIBA mAIS:
A evidência de uma realidade holográfica está se tornando
abundante demais para ser desconsiderada. O que lhe dá mais
credibilidade é que aqueles que experimentaram estados mais
elevados de consciência e escalas superiores da realidade através da
meditação, projeção astral, ou enteógenos vêm proclamando
reflexões muito holográficas e aforismos.
Para Kincheloe (1997), a reflexão – vista como elemento fundante na criação de uma
consciência política, pautada em julgamentos éticos e ações emancipadoras – é capital à
construção de um contexto sensível e ávido por mudança. Nesse sentido, ele caracteriza o
pensamento do educador crítico e reflexivo pós-formal como:
2INTErATIvIdAdE:
Ensinar Exige Tomada Consciente de Decisões -
Pedagogia da Autonomia, de Paulo Freire -
< https://www.youtube.com/watch?v=YTyTOc2CRzo>
Freire (2008, s/p.) defende como essencial na prática pedagógica que a formação do
educador deve ser constante quando coloca que “Quem ensina aprende ao ensinar e quem
aprende ensina ao aprender”. Não obstante, Pimenta e Ghedin (2002, p. 8) acrescentam:
96 ·
A sociedade do conhecimento é concebida em sua relação com a formação humana, daí a
necessidade da educação formal pautar suas ações em sintonia com as demandas da
sociedade. Nesse contexto, ressalta-se que a busca por consonância não deve submeter-se à
lógica capitalista do mercado globalizado, que vem aligeirando os processos educativos
para atender ao ritmo em que se processam as mudanças na contemporaneidade.
GLOBALIZAÇÃO
EDUCADOR CONTEMPORÂNEA
PARADIGMAS
CARTESIANO EDUCAÇÃO
FILOSOFIA
Fonte: Autores.
REFLEXÃO
Sendo assim, reafirma-se a relevância dos cursos de formação inicial, tendo um papel
fundamental no processo de (re)constituição da identidade profissional dos futuros
educadores. É nesse período de formação que muitos educandos (re) constroem modelos,
imagens, maneiras de ser, pensar e agir na profissão. Logo, para Imbernón (2002, p. 60)
SABER DA EXPERIÊNCIA
FoNTE: Autores.
Quando se pensa em contemporaneidade, não há como negar que nas últimas décadas
sucederam novas formas de organização da produção, do trabalho, de vida econômica e,
consequentemente, no contexto escolar. Ao educador instituem-se novos desafios, novas
propostas vêm sendo planejadas na busca de seu aprimoramento, bem como as
transformações no mundo contemporâneo aspiram profissionais com sólida formação
reflexiva, investigadora, criativa e que tenha um foco voltado para o raciocínio lógico do
educando; não mais fragmentada, superando a alienação, para que assim possa focalizar
uma educação de qualidade.
98 ·
2INTErATIvIdAdE:
A Escola e os Desafios Contemporâneos, de Viviane
Mosé - Os novos caminhos da educação –
<https://www.youtube.com/watch?v=0lsJSsKbH7g>
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No transcorrer desta disciplina, pudemos fazer brevemente um apanhado geral sobre a
relação da filosofia e da educação na Unidade 1, bem como sobre a importância da
reflexão nestas duas áreas para a implementação de uma ação pedagógica, a partir de uma
concepção de educação que contribua com uma ação humanista. Também foram abordadas
a influência e as contribuições das principais correntes filosóficas para a elaboração de
teorias do conhecimento e suas implicações nos processos educacionais.
Na Unidade 2, abordamos a filosofia moderna e contemporânea e sua relação com a
Educação, lembrando que o ensino da filosofia objetiva a reflexão crítica sobre a realidade
que nos cerca, desenvolvendo consciências críticas e reflexivas para uma atuação
autônoma nestes contextos.
Podemos observar que na Unidade 3 a trajetória da educação ao longo da sua história
foi agregando várias abordagens que sofreram influência de diferentes teóricos e foram se
configurando conforme o contexto social e político de cada momento histórico. Vimos que
foram gestadas no seio dos movimentos sociais e descobrimos que elas influenciaram e
ainda influenciam as práticas pedagógicas. Conhecemos também a influência e o papel de
cada uma, o que significa o conhecimento, que metodologia era aplicada na tendência, que
conteúdos eram transmitidos ou construídos, como era avaliada a aprendizagem dos
educandos e com quais objetivos em cada uma das principais abordagens. Neste sentido, a
partir desta leitura, podemos ficar mais seguros para definir nossas práticas pedagógicas,
porque saberemos onde ancorá-las teoricamente.
Na Unidade 4, podemos perceber o desafio que se coloca a uma educação que sonha
com a construção de um sujeito e uma sociedade crítica e democrática e o aproveitamento
de lacunas geradas pelas contradições atuais. Para isso, a escola precisa acreditar na
potencialidade da ação coletiva, em formação continuada de seus educadores, para que os
mesmos possam quebrar paradigmas e principalmente preparar os seus educandos para o
futuro. Assim, construir-se-á uma escola democrática, na qual a comunidade escolar pode
apontar suas necessidades, partilhar seus saberes e participar da construção de alternativas
que viabilizem as mudanças necessárias.
ATIVIDADES DE REFLEXÃO OU
4. Relacione as duas epígrafes que iniciam este capítulo, explicando a crítica feita por
Parmênides a Heráclito.
UNIDADE 2
1. Quais são os objetivos da Filosofia e da Filosofia da Educação no contexto de nosso
Curso de Licenciatura em Educação do Campo?
8. Cite os três momentos em que a Teoria Crítica se divide e explique cada um deles.
100 ·
9. Considerando os pressupostos da Teoria Crítica, explique por que ela é vista como uma
Teoria Interdisciplinar.
UNIDADE 3
Atividade 1- Assista ao filme “Ao Mestre, com Carinho”. Identifique quais as tendências
pedagógicas que aparecem no desenrolar do enredo e encenado por Sidney Poitier. Faça o
registro crítico de suas observações. Socialize no Chat ou fórum.
Um jovem professor enfrenta alunos indisciplinados e desordeiros, neste filme clássico que
refletiu alguns dos problemas e medos dos adolescentes dos anos 60. Sidney Poitier tem
uma de suas melhores atuações como Mark Thackeray, um engenheiro desempregado que
resolve dar aulas em Londres, no bairro operário de East End. A classe, liderada por
Denham (Christian Roberts), Pamela (Judy Geeson) e Barbara (Lulu, que também canta a
canção título), estão determinados a destruir Thackeray como fizeram com seu
predecessor, ao quebrar-lhe o espírito. Mas Thackeray, acostumado a hostilidades, enfrenta
o desafio tratando os alunos como jovens adultos que em breve estarão se sustentando por
conta própria. Quando recebe um convite para voltar a engenharia, Thackeray deve decidir
se pretende continuar.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=TE9iwnDTBRw
UNIDADE 4
1 -Mas afinal o que é ciência? Escreva um breve texto com suas palavras de no máximo 5
linhas.
Como podemos interpretar a seguinte citação de Thomas Kuhn: “Talvez a ciência não se
desenvolva pela acumulação de descobertas individuais” (KUHN, 2011, p. 20).
( ) Para realizar a história da ciência, é preciso analisar o passado com o olhar fixo no
presente, ou seja, buscar os precursores das teorias científicas em voga.
( ) Para realizar a história da ciência, não é preciso analisar o passado com o olhar fixo no
presente, ou seja, buscar os precursores das teorias científicas em voga.
( ) Para realizar a história da ciência, é preciso entender que as teorias antigas não são
menos científicas que as teorias que surgiram depois.
( ) Para realizar a história da ciência, é preciso entender que as teorias antigas são menos
científicas que as teorias que surgiram depois.
3. Qual foi a principal obra de Thomas Kuhn e que causou uma grande revolução na
história e filosofia da ciência?
4. Conceitue paradigma.
5. Diferencie as fases da ciência.
102 ·
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALTmICKS, A. H. Principais paradigmas da pesquisa em educação realizada no Brasil.
Revista Contrapontos, Itajaí, v. 14, n. 2, p. 384-397, mai./ago. 2014. Disponível em: <
https://siaiap32.univali.br/seer/index.php/rc/article/viewFile/4654/3275>. Acesso em: 19
fev. 2018.
ANdrÉ, m. et al. O trabalho docente do professor formador no contexto atual das reformas
e das mudanças no mundo contemporâneo. Estudos Pedagógicos, Brasília, v. 91, n. 227,
p. 122-143, jan./abr. 2010.
FErgUSoN, m. Ver e voar: caminhos para o aprendizado. Rio de Janeiro: Record, 1992.
FrEIrE, P. Medo e ousadia: o cotidiano do professor. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986.
gErmANo, m. g. Uma nova ciência para um novo senso comum. Campina Grande:
EDUEPB, 2011.
104 ·
(SIMPEX) – “Educação e Linguagem: (re)significando o conhecimento”, v. 2, n. 1, 2015,
Inhumas. Anais... Inhumas: Universidade Estadual de Goiás, 2015. Disponível em:
<http://www.anais.ueg.br/index.php/semintegracao/article/view/4871/2780>. Acesso em:
25 out. 2017.
106 ·
SANToS, r. v. Abordagens do Processo de Ensino e Aprendizagem. Revista Integração
Ensino Pesquisa – Extensão, São Paulo, n. 40, p. 19-31, 2015.
SANToS, C. r. et. al. Avaliação Educacional: um olhar reflexivo sobre sua prática. São
Paulo: Editora Avercamp, 2005.
SILvA, r.; SALES, F (Orgs.). Um olhar inclusivo sobre o ensino das ciências e da
matemática. Curitiba: Appris, 2017. Disponível em: <https://books.google.com. br/books?
isbn=8547306749>. Acesso em: 8 dez. 2017.
APRESENTAÇÃO DOS
PROFESSORES RESPONSÁVEIS
PELA ORGANIZAÇÃO DO MATERIAL
DIDÁTICO
Liziany Miller Medeiros
Janisse Viero
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