Agenda Pós-Neoliberal - Todas As Edições
Agenda Pós-Neoliberal - Todas As Edições
Agenda Pós-Neoliberal - Todas As Edições
César Benjamin
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real do sistema, o modo como ele se articula em determinado período.
Era assim, aliás, que o próprio Marx trabalhava, estabelecendo todo o
tempo uma relação estreita entre teoria e história (sua crítica a Ricardo,
por exemplo, insistia na importância da forma dos processos, aspecto
que o grande economista inglês subestimava). Para ele, a história nunca
foi um conjunto de fatos a serem selecionados para legitimar uma
teoria. A história constitui organicamente a teoria, de modo que esta
não existe sem aquela. “O modo dialético de exposição só é correto
quando conhece seus próprios limites”, escreveu nos Grundrisse, onde
descreve seguidamente como são insuficientes os raciocínios baseados
apenas em arranjos lógicos de conceitos. Por isso, ele nunca pensou
que pudesse fazer previsões a partir das leis fundamentais que
formulou, às quais, aliás, deu o nome de leis de tendência, o que
pressupõe a existência de contratendências, que freqüentemente
prevalecem (não fosse assim estaríamos diante de leis positivas,
absolutas).
2
trabalho vivo e novos mercados em ascensão, não saturados, tornaram -
se disponíveis para o capital nas últimas décadas, somando- se aos
“estoques” mais antigos. De outro, o desenvolvimento técnico permitiu
encurtar o tempo da acumulação, ou o ciclo do capital, tornando mais
rápido o circuito de produção, circulação e realização de bens e serviços
— o que, como se sabe, também é um mecanismo de sustentação das
taxas de lucro (“Circulação sem tempo de circulação é a tendência do
capital”, dizia Marx).
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crise iminente não se transforma em crise real — permaneceria sem
solução.
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Conferência de Bretton Woods (1944) entregou a senhoriagem da
economia capitalista mundial aos Estados Unidos, mas impôs a esse
país duas regras de emissão: a conversibilidade dólar- ouro e a paridade
fixa entre os dois. Ambas as regras foram garantidas em tratado
internacional assinado pelo Estado americano.
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Como o sistema internacional não tinha – e ainda não tem – substituto
para o dólar, o Estado americano reteve, na prática, o direito de
senhoriagem sobre a economia internacional, agora porém sem as
limitações das regras de emissão. Não foi uma decisão técnica.
Relacionou- se, antes de tudo, com um ambicioso projeto de retomada
(ou reafirmação) da hegemonia norte- americana, àquela altura
ameaçada pelo vigor das economias alemã e japonesa reconstruídas, o
poderio político- militar soviético em aparente ascensão e as veleidades
contestadoras de grande parte do então Terceiro Mundo. Sem
compreender esse projeto, em todas as suas dimensões (econômica,
militar, política, cultural, ideológica), nada se compreende da evolução
da conjuntura internacional nas últimas décadas. (Reiteremos, de
passagem, este aspecto da história: o chamado processo de
globalização deslancha a partir do momento em que é impulsionado
pelo Estado nacional hegemônico, em defesa de seus interesses;
confundir “globalização” e “enfraquecimento [ou fim] da ação dos
Estados” não tem sentido nenhum.)
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Um primeiro motivo é claro: é muito difícil transitar de um padrão
monetário a outro. O trânsito da libra para o dólar, por exemplo, só se
completou muito depois de a Inglaterra ter perdido, de fato, a
hegemonia mundial, e a fase de transição exigiu duas guerras mundiais.
O segundo motivo nos interessa mais, pois remete à terceira anomalia
do sistema internacional atual, a que me referi antes: a região
ascendente do sistema – o Leste da Ásia – é estruturalmente
superavitária. Não poderia funcionar se não tivesse como formar e para
onde escoar o seu enorme superávit. O déficit americano – ou seja, a
necessidade de financiamento da economia americana – é que abre
espaço para a acumulação acelerada na Ásia e para a reciclagem do
capital sobrante dessa região. Essa afirmação pode ser generalizada,
sem nenhuma perda de rigor: o déficit americano cria aquele que é, de
longe, o mais importante pólo de demanda efetiva para a economia
internacional, pois os dois outros grandes centros – a Europa e o Japão –
vivem períodos prolongados de recessão ou baixo crescimento.
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que mantém a economia mundial funcionando (a capacidade de
endividamento americana) depende da posição especial do dólar;
porém, enquanto essa posição perdurar, os Estados Unidos manterão
um grau de hegemonia que não é facilmente tolerado pelos demais
participantes do grande jogo de poder mundial.
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axiomaticamente, que em condições normais esse sistema tende a
algum tipo de multipolaridade. Na economia- mundo contemporânea, a
existência de um só centro, esmagadoramente hegemônico, só pode ser
uma situação excepcional e transitória. A unipolaridade criada no imediato
após-Guerra Fria não é uma configuração estável.
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Estados nacionais em reféns do sistema financeiro internacional; o
isolamento ideológico e enfraquecimento das forças armadas do
continente; a intervenção direta dos Estados Unidos na região
amazônica, importante depositária de recursos estratégicos para o novo
ciclo econômico de longo prazo que se inicia (pela primeira vez na
história, essa intervenção inclui a montagem de bases militares
americanas dentro da região).
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impede a adequada coordenação de políticas monetárias e fiscais; sem
essa coordenação (que o Estado norte- americano realiza com grande
competência, graças a uma arquitetura institucional que garante elevada
sintonia entre Banco Central e Tesouro), a Europa perdeu a capacidade
de realizar políticas anticíclicas e deixou - se prender na armadilha do
baixo crescimento; a própria Alemanha já percebeu a necessidade de
alterar essa situação, mas todos os movimentos da União Européia, por
sua própria natureza, são especialmente complexos e lentos; (b) na
esfera política, destaca- se a dificuldade de definir uma política externa
européia unificada, por motivos históricos e geopolíticos, que se
traduzem por exemplo na tendência alemã de olhar para o hinterland do
Leste, de um lado, e na elevada dependência da Inglaterra (que continua
a ser uma praça financeira importante e a deter uma capacidade militar
também importante) em relação aos Estados Unidos, de outro; (c) as
incertezas que cercam o futuro da Rússia e de várias ex- repúblicas
soviéticas, que pesam diretamente sobre o continente.
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de 28,6 bilhões de barris e um consumo diário de 19,5 milhões de
barris, os Estados Unidos têm petróleo próprio para abastecer- se
durante apenas quatro anos. A evolução do cenário no Oriente Médio foi
favorável à posição americana até recentemente: a principal potência
regional não subordinada, o Iraque, fora destruída na Primeira Guerra
do Golfo e permanecia sob bloqueio, remetida a uma posição passiva e
defensiva, e a maioria dos Estados árabes já reconhecia (ou se dispunha
a reconhecer) Israel. Com o fim da União Soviética, desaparecera o
espectro de uma guerra entre Estados na região, pois os países árabes
ficaram sem retaguarda. O regime iraniano trabalhava para sua própria
consolidação e não parecia capaz de uma ação desestabilizadora. O
conflito reduzira- se a uma escala local na Palestina, de baixa
intensidade, envolvendo helicópteros e grupamentos de soldados, de
um lado, homens- bomba e atiradores de pedra, de outro, em
escaramuças suficientes para alimentar noticiários, mas incapazes de
colocar em risco a oferta de petróleo.
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tecnológico, experiências de desenvolvimento rápido, empresas e
bancos de grande porte, Estados nacionais vigorosos, poder nuclear
(ainda claramente inferior ao dos Estados Unidos e da Rússia, porém
crescente). Será uma jogadora de grande peso no século que se inicia.
Mas tem limites: está longe de criar uma área econômica integrada e
nem se vislumbra a possibilidade de que algum dia venha a constituir
um megaestado continental, em moldes europeus. Não se vê sequer
como poderia constituir uma área monetária. Mantém- se altamente
dependente do mercado norte- americano e do dólar, moeda em que
estão denominadas suas volumosas reservas. Além disso, abriga
grandes populações em estado de pobreza e é portadora de enormes
tensões internas de natureza nacional, étnica e religiosa. Não consegue
marchar junta. A Índia permanece às voltas com um grave contencioso
com o Paquistão, a China (que ainda não completou seu processo de
reunificação nacional) precisa ganhar tempo, o Japão tem fraquezas
estruturais de grande monta, e assim por diante.
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prestam- se muito mais à dissuasão do que ao uso efetivo, o controle
simultâneo dos oceanos é, de longe, o elemento central na supremacia
militar em escala mundial. Tendo- o conquistado, os Estados Unidos
detêm o monopólio da capacidade de deslocar e projetar suas forças em
qualquer parte do planeta.
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poder: (a) os Estados Unidos são capazes de atacar e derrotar países não
portadores de armas nucleares, como o Iraque e o Afeganistão,
independentemente de sua posição geográfica; porém, para
estabilizarem sua dominação, dependem da existência de grupos de
apoio minimamente legítimos nas sociedades locais; se esses pontos de
apoio lhes são negados, sua vitória militar inicial se transforma em um
pesadelo; (b) países portadores de armas nucleares permanecem
invulneráveis à máquina militar norte- americana, por sua capacidade de
causar danos inaceitáveis aos próprios Estados Unidos ou a seus
aliados; é o caso da Coréia do Norte, cujos mísseis podem alcançar as
principais cidades japonesas e as bases militares americanas em toda a
região; por isso, aliás, a agressividade dos Estados Unidos pode
desencadear uma corrida, de conseqüências imprevisíveis, em direção à
posse dessas armas por parte de países que se sintam ameaçados; (c)
ações militares unilaterais têm altos custos políticos, diplomáticos e
financeiros; em princípio têm de ser financiadas inteiramente pelo
atacante; (d) embora, pelo sólido controle dos oceanos, os Estados
Unidos venham a manter por muito tempo o monopólio da capacidade
militar ofensiva em escala planetária, nada impede que outros países
desenvolvam estratégias defensivas eficazes em escala regional;
ninguém poderá competir com a esquadra dos Estados Unidos em alto-
mar, mas alguns poderão capacitar- se, com custos acessíveis, a impedir
que ela se aproxime de seus territórios.
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Desde sua constituição, nas origens do mundo moderno, o sistema
internacional foi fortemente polarizado por um centro relativamente
pequeno e uma grande periferia. Processos de crescimento rápido, fora
dos países centrais, ocorreram basicamente em regiões que dispunham
de abundantes recursos naturais (potencial agrícola, minérios),
eventualmente valorizados. Quando esses recursos se esgotavam ou
perdiam importância, suas regiões produtoras caminhavam para a
decadência, reafirmando sua condição periférica.
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momento enfrentam dificuldades insuperáveis para sustentar projetos
emancipatórios próprios.
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Observemos apenas um aspecto geral, especialmente relevante para
entender a desarticulação do projeto brasileiro.
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centrais. Mas o problema é que tais atividades perdem essa
característica diferencial justamente quando a periferia em via de
modernização consegue capturá- las, pois aí elas ficam sujeitas a uma
pressão concorrencial que diminui sua importância e sua rentabilidade.
Quando isso acontece, essas atividades são relegadas a segundo plano
pelas economias centrais, que renovam sua posição privilegiada
alterando as combinações produtivas mais eficazes. A desigualdade se
repõe.
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compreendidas aquelas que têm desdobramentos militares), de outro,
permanecem estreitamente vinculados, pelo forte vínculo entre
megacorporações empresariais e Estados nacionais poderosos. No caso
dos demais, esses âmbitos se dissociam, pela dispersão geográfica das
cadeias produtivas, em escala mundial, feita sob o comando de
corporações empresariais que não têm compromissos com os Estados e
sociedades mais fracos, onde apenas instalam filiais.
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atual evolui de uma situação de unipolaridade para alguma outra
configuração multipolar. Com o tempo, os espaços de manobra dos
países intermediários tenderá a voltar a crescer. Por isso, é vital que
consigamos impedir que, neste curto intervalo de unipolaridade, o Brasil e a
América Latina sejam tragados pela área regional americana, o que tornaria
“permanente” — ou, pelo menos, muito prolongada e custosa — uma
condição marcada pelo estreitamento de possibilidades.
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histórico de um novo rearranjo regional de cooperação e
desenvolvimento — latino e americano —, que poderá vir a configurar
um novo bloco, ou um novo megaestado, no futuro. Por isso, em última
análise, as negociações em torno da Alca são negociações entre Brasil e
Estados Unidos sobre o destino do continente.
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Resta a maioria do nosso povo, que foi, simplesmente, desligado desses
processos. Refiro- me aos grandes contingentes humanos de que o
capitalismo não mais necessita. Sobrevivem no desemprego, no
subemprego, na economia informal, em atividades sazonais, incertas ou
ilegais. Por insistirem em sobreviver e por estarem relativamente
concentrados, ameaçam. E, de alguma forma, se organizam. São
dezenas de milhões. Mas, até aqui, não se tornaram agentes da
transformação. Este é o desafio central colocado para a esquerda, o
ponto cego de qualquer estratégia transformadora.
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“retomada do crescimento”. Há duas décadas não temos nada parecido
com crescimento sustentado, mas apenas miniciclos de crescimento
dentro de uma economia travada. Nada indica que essa condição tenha
sido alterada. Essa transição estrutural – de uma economia dinâmica
para uma economia de baixo crescimento – é muito importante, pois o
grande dinamismo da economia brasileira até 1980 foi um fator decisivo
para conferir relativa estabilidade a uma sociedade tão desigual como a
nossa.
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estava em expansão; o Estado aumentava sua oferta de serviços e
contratava mais gente; chegou a existir em muitas regiões uma escola
pública de razoável qualidade, etc. Na década de 1990, porém, todos
esses mecanismos foram quebrados, e o resultado disso é que
represamos a mobilidade social. Os pobres não conseguem mais sair do
lugar. Nem a oferta de trabalho, nem o deslocamento no espaço, nem a
possibilidade de estudo abrem mais alternativas significativas. As
periferias das Regiões Metropolitanas viraram depósitos de gente sem
perspectivas.
(a) A unipolaridade que marca o mundo após- Guerra Fria está dando
lugar, gradativamente, a uma nova configuração multipolar muito
complexa. O trânsito entre as duas situações é lento, pois há
disputa e cooperação no centro do sistema. A solução pela guerra
está afastada, e a conjugação de três anomalias econômicas criou
até hoje uma possibilidade muito elástica de adiamento de uma
grande crise. Isso desaparecerá se o dólar perder sua
centralidade atual, o que só poderá ocorrer em um prazo de pelo
25
menos dez ou quinze anos. Não está clara a configuração exata
da nova ordem multipolar, que dependerá crucialmente dos
acontecimentos na Ásia.
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não gera empregos; urbanizou maciçamente sua população, que
agora, mais do que nunca, precisa de empregos para sobreviver;
destruiu os caminhos abertos à mobilidade social, nos níveis
(insuficientes) que já tivemos. A crise do modelo neoliberal, que
se projetará pela nova década adentro, terá como pano de fundo
essa crise maior, que questiona as estruturas do capitalismo
dependente brasileiro.
27
Ciclo de seminários
Fórum Social Brasileiro, Belo Horizonte, 7 e 8 de novembro de 2003
Juarez Guimarães
Professor de Ciências Políticas da UFMG
Introdução
1
apenas ele), de uma central sindical de trabalhadores (a CUT recém
realizou o maior congresso de sua história) e de um movimento de
trabalhadores rurais (O MST tem ampliado significativamente a sua
atividade nos últimos meses)? Em várias capitais do país, a realização de
orçamentos participativos indica experiências de democracia participativa
sem paralelo nas democracias ocidentais. Movimentos sociais, em
particular, na área da saúde, reforma urbana e assistência, vêm
construindo todo um trabalho de participação institucional. O cálculo de
estudiosos da participação popular animada pela Igreja Católica (Frei Beto,
Helena Salem, Rogério Valle e Marcelo Pitta, Pedro Ribeiro de Oliveira)
estima em cerca de 70 mil Comunidades Eclesiais de Base atuando no
Brasil (agrupando em torno de dois milhões de fiéis). A realização dos
Fóruns Sociais Mundiais tem estimulado o florescimento de ONGs e redes
associativas que percorrem todo um espectro de temas de questionamento
à globalização neoliberal. Em São Paulo, este ano realizou- se uma das
maiores passeatas do Orgulho Gay do mundo. A participação eleitoral no
Brasil vem crescendo e hoje o país é seguramente uma das maiores
democracias eleitorais do planeta. Também o Direito e o sistema judiciário
vem sendo objeto de um processo permanente de reivindicações e
construção de novos direitos, mais claramente após o processo da
Constituição de 1988.
2
clientelismo, sem tradição de verdadeiros partidos, afeitos à corrupção e
ao favoritismo etc etc. Educarmo- nos para a democracia implicaria em
afastarmo- nos de nossas origens e aproximarmo - nos do padrão anglo-
saxão.
3
❧ uma retomada profunda da identidade da experiência da civilização
brasileira consigo mesma, ao mesmo tempo, latina, universalista e
cosmogônica;
❧ uma expansão da identidade feminina, que se alimenta
continuamente da conquista de posições no mercado de trabalho e
na educação;
❧ uma pressão política e cultural cada vez mais intensa no sentido da
democratização racial do país;
❧ a expansão libertária dos Eros, em uma sociedade que nunca foi
marcada pela ascese puritana e nem nunca aceitou a divisão
platônica cristã do corpo /alma, com as suas vertentes sacrificiais,
mas sempre se pautou pelos ritos da festa e do lúdico.
O comunitarismo cristão
4
período do regime militar, esta tradição ganhou vasto enraizamento social
com a experiência das CEBs.
A última conferência da CNBB parece ter sido marcada por uma dinâmica
unitária entre as tradições herdeiras da Teologia da Libertação e as
correntes mais moderadas, inclusive aquelas vinculadas aos carismáticos.
O fundo comum desta dinâmica que desdramatiza as diferenças entre os
compromissos sociais e espirituais da Igreja parece ser exatamente o
comunitarismo cristão quem sempre buscou manter um equilíbrio entre as
duas dimensões.
O nacional-desenvolvimentismo
5
Nenhum outro país da América Latina viveu no pós- guerra um
florescimento da cultura nacional- desenvolvimentista como o Brasil.
Herdeira do primeiro ciclo varguista, ela se conformou e se enraizou no
período que vai de 1945 - 1964, recebendo o impacto da tradição da Cepal
no continente, combinando projetos sistêmicos de nação com uma agenda
de inclusão social e florescimento dos sentimentos e criações de
identidade cultural. A criação da Petrobrás, do BNDE, da Sudene, de
Brasília, entre outros, tornaram - se marcos duradouros da afirmação
brasileira. O período foi marcado também por uma agenda especialmente
criativa no plano das artes, marcando o amadurecimento estético de toda
uma geração formada no Modernismo de 1922 – Cinema Novo, Bossa
Nova, CPC etc.
6
O nacionalismo, em uma certa cultura acadêmica, foi criticado desde
sempre como mistificador dos interesses de classe. A crítica é
simplificadora em dois sentidos. Em primeiro lugar, pelo fato de que o
nacionalismo expressou- se através de muitas vertentes, desde a direita até
à esquerda, passando pelo centro. Em segundo lugar, porque mesmo o
desenvolvimento da consciência das classes trabalhadoras no Brasil não
pode ser pensado por meio de um padrão europeu, separado das
condições nacionais de sua existência e experiência social, isto é, de seu
lugar no mundo do capitalismo, de sua cor, de sua religião etc.
O socialismo democrático
São poucos os países do mundo hoje em que partidos de esquerda têm tal
enraizamento social e força eleitoral. Isso se explica, a nosso ver, por três
razões.
7
Em primeiro lugar, por ser um partido de esquerda tardio, crítico às
tradições do estalinismo e da social- democracia européia. Esta identidade
de origem explica porque este partido conseguiu resistir à crise definitiva
da URSS no final dos anos oitenta e nem se pasteurizou nas chamadas
“Terceiras Vias” dos anos noventa. O seu pluralismo matricial transformou -
se em certas condicionalidades democráticas de sua vida interna e sistema
de decisões que tem permitido até agora a experiência se desenvolver em
um grau alto de pluralismo e de divergências internas.
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O liberalismo ético
Seria incorreto falar, deste ponto de vista, de uma ordem jurídica fechada,
cristalizada, marcada por um conservadorismo. Se a segunda metade dos
anos oitenta foi profundamente galvanizada pela experiência constituinte,
os anos noventa foram seguidos de um reformismo constitucional, em
geral direcionadas por uma pauta neoliberal. A experiência democrática do
governo Lula dá- se, assim, em meio a uma ordem institucional em
movimento, híbrida, aberta à renovação.
Nos anos recentes, a cultura jurídica brasileira tem sido dinamizada pelas
correntes do direito alternativo, do comunitarismo cristão, da legitimidade
discursiva, enfim, pela criação coletiva e social dos direitos. É este
dinamismo jurídico que pode distensionar conflitos, dar cobertura
institucional a novas práticas associativas e deliberativas, além de exercer
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uma pressão civilizatória sobre a ordem mercantil excludente e
concentradora.
Cultura popular
Por fim, caberia identificar uma fonte difusa mas vital da civilização
brasileira: a cultura popular. Rousseau nos dizia que as festas populares
são como que o momento lírico de expressão da vontade geral. No Brasil, a
vida associativa e participativa sempre se alimentou de um sentimento
comunitarista que coube a nossos grandes criadores transformar em
expansão de nossa imaginação civilizatória.
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É mais que provável que no próximo período, em compasso com avanços
democráticos, vivamos uma nova época de ouro da cultura brasileira tão ou
mais rica que a dos anos que precederam o golpe militar de 64.
11
Ciclo de seminários
Fórum Social Brasileiro, Belo Horizonte, 7 e 8 de novembro de 2003
Mark Ritchie
Economista
Este fórum social está voltado para três dimensões específicas do mundo
que estamos tentando criar.
1
O que se pode dizer no espaço de um breve paper sobre temas tão amplos
é, obviamente, limitado. Meu objetivo, nestes poucos minutos que tenho
com vocês, é simplesmente o de iniciar um debate, focalizando apenas um
dos elementos- chave da ordem internacional – o comércio e a principal
instituição de elaboração de políticas de comércio, a Organização Mundial
do Comércio (OMC). Usando a OMC como exemplo, investigarei alguns
dos pensamentos que emergiram do seio da sociedade civil sobre as
maneiras de reformular nosso sistema global de forma que tanto os
estados- nação como as agências internacionais possam nos dar um
melhor auxílio na nossa tarefa coletiva de construir um desenvolvimento
humano social, econômica, ecológica e politicamente sustentável.
Ao mesmo tempo, sou viciado em café e vivo num país cujo clima frio e
sem montanhas não é apropriado para se produzir essa droga
maravilhosa. Isto significa que preciso ser muito simpático para com as
pessoas que vivem no Brasil e em outros países produtores de café para
que eu possa suprir minha dose de cafeína diária e a um preço que eu
possa pagar. Ademais, preciso produzir alguma coisa que os produtores e
2
trabalhadores que me fornecem o café queiram em troca – do contrário,
fico na dependência da caridade alheia que pode ser, no caso dos
brasileiros, extremamente generosa mas certamente não sem limites.
Tenho de produzir ou dar como moeda de troca algo que seja econômica,
ecológica e socialmente sustentável para ambos – senão, não vai durar e
as condições serão entendidas como uma forma de exploração das
pessoas e/ou do nosso planeta.
Uma vez que o comércio na sua maioria é realizado por empresas – e não
por governos – a chave para a elaboração de normas consistentes e que
num momento posterior podemos ver o cumprimento delas estaria na
combinação de forças – inclusive de negócios bem instruídos,
consumidores conscientes, governos nacionais e agências/instituições
internacionais progressistas. Dados os atuais desequilíbrios em nível
mundial em termos de poderio econômico e militar, creio que esses
3
acordos têm de ser forjados e buscados em todos os níveis e em
combinações diversas a fim de proteger o nível local e promover a
sustentabilidade econômica, ecológica e social.
Acredito que de fato saibamos como organizar o comércio para que ele
seja sustentável, mas isto não acontecerá por acidente, ou pela magia das
mãos invisíveis ou dos punhos calçados com luvas de veludo. O comércio,
como todos os outros negócios, tem de ser administrado em prol da
sustentabilidade – preços justos, lucros e salários para que cada um possa
estar contribuindo com o produto final. O comércio sustentável inclui o
crescimento contínuo em termos da produção de produtos com maior
qualidade a baixo custo para o meio ambiente e, portanto, para
consumidores e para a sociedade como um todo.
4
negociações com as meras duas dúzias de países industrializados que
compõem a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico (OCED). Como órgão do sistema global das Nações Unidas, as
instituições que elaboram políticas de comércio historicamente têm
produzido parte do mais avançado pensamento e da retórica nessa área.
Infelizmente, na prática, nunca cumpriram sua missão progressista de
pleno emprego, justiça e processo democrático globais.
5
A terceira razão tem a ver com a estrutura da OMC. Nela é necessário
haver consenso em muitas áreas para que as negociações possam
prosseguir e isso a torna uma instituição ideal para a construção de
acordos verdadeiramente globais – aqueles que são bons tanto para o
Norte quanto para ao Sul. A Índia esteve praticamente isolada na sua
posição quanto aos temas de Cingapura durante a reunião ministerial da
OMC realizada anteriormente em Doha, no Qatar. Em Cancún, a Índia
integrou uma enorme coalizão. O ativismo cidadão sobre essas questões
foi crucial para que os governos pudessem perceber o que estava em jogo
e compreender que havia espaço para resistir, porém esta resistência teria
sido inútil caso a Índia não tivesse se posicionado com firmeza em Doha.
Se por um lado a pressão e o desrespeito sofridos pelos países que
exercem seu direito de dizer não aos EUA e a EU ainda sejam
extremamente fortes – insuportáveis para alguns –, por outro lado, a
reunião de Cancún mostrou que alguns governos, em especial quando se
articulam numa ampla coalizão, conseguem exercer seus direitos dentro
desse modelo de consenso.
Considero Cancún um sucesso. Esse ponto de vista tem sido criticado por
alguns amigos que acreditam que Cancún foi um fracasso, uma vez que os
governos perderam a chance de avançar em algumas questões
importantes e de preocupação para o mundo em desenvolvimento. Se
Cancún se constituiu verdadeiramente num novo começo ou meramente
em outra oportunidade que se deixou escapar, somente daqui a cinco ou
dez anos será possível avaliar melhor. O importante, entretanto, é que
nós, que acreditamos no sistema multilateral, devemos tomar esse
caminho que se vê através da janela aberta em Cancún, apropriando - nos
do “momentum” que foi gerado, para avançar no desenvolvimento humano
sustentável. A História nos julgará não pelo que fizemos em Cancún, mas
pelo que fizemos de Cancún.
6
Mas o que isto significa em termos concretos para cidadãos e movimentos
sociais? Creio que existem cinco tarefas importantes à nossa frente.
7
Terceiro, precisamos usar este momento na história da OMC – onde parece
haver uma abertura para um novo pensamento e para a reformulação – e
pressionar por reformas estruturais no modo de operação dessa
instituição. Por exemplo, uma boa maneira de começar seria através de um
processo de revisão, aberto e público, dos potenciais candidatos ao cargo
de Diretor Geral, e do estabelecimento de normas de procedimento de
negociação que fossem monitoradas e cumpridas. A metodologia usada na
realização das sessões de negociação – “informalidade”, participação
limitada de representantes e inexistência de documentação sobre as
posições tomadas pelos negociadores – tornam o processo de negociação
não transparente. Essa situação pode ser revertida executando - se
reformas no procedimento, tais como as que foram propostas por países
membros antes de Cancún.
8
Unidas que poderia formar a base de uma séria reforma de todo o sistema
de Bretton Woods.
9
global. Com o surgimento do Fórum Social Mundial estamos começando a
caminhar em direção a um processo de produção de consenso no âmbito
da sociedade, o que cria a perspectiva real de algum dia irmos em direção
a um verdadeiro processo global.
Dentro dos EUA, existem quatro grandes classificações das visões sobre o
papel do comércio na política externa. Primeiro, há aqueles que estão no
poder e aprovam o unilateralismo como a forma mais eficiente e efetiva de
exercer o poder americano para manter o acesso privilegiado a matérias
primas, mercados e pontos estratégicos para o posicionamento avançado
de forças militares. Há inúmeros congressistas e altos funcionários da
Casa Branca que retirariam os EUA das Nações Unidas e da Organização
Mundial do Comércio imediatamente, se pudessem fazê- lo impunemente.
Num segundo grupo estão aqueles que acreditam que a forma mais
eficiente de manter os EUA no poderio mundial é manifestando este poder
através do multilateralismo e através de instituições globais, como o
sistema das Nações Unidas, que inclui a OMC. Uma vez que acredito que
os recursos mundiais precisam ser compartilhados de forma mais
eqüitativa e que isso requer uma redefinição do atual equilíbrio de forças
no mundo, não aceito essa suposição de que o sistema multilateral deva
ser usado para manter o status quo. No entanto, acredito que possa me
articular com pessoas que vêem nesse pensamento a perspectiva de
formar alianças táticas.
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Um terceiro e grande grupo de pessoas, e me incluo nele, acredita na
cooperação mundial e no multilateralismo como um meio de alcançar o
desenvolvimento sustentável, os direitos humanos, a justiça e a igualdade.
Isto nos coloca numa posição difícil às vezes, já que nos encontramos
pelejando tanto contra os unilateralistas, que substituiriam o sistema
global seguindo as ordens de Washington, como contra aqueles que
apóiam o multilateralismo, mas que o fazem principalmente para
preservar esse inaceitável status quo.
11
Há um quarto ponto de vista compartilhado por muitos amigos e aliados
que acreditam que as instituições estão tão cooptadas por interesses
especiais e tão comprometidas por manobras da guerra fria há cinqüenta
anos, e outros elementos da luta geopolítica global, que muitas
instituições globais devem simplesmente ser fechadas. Esta visão também
é compartilhada por alguns dos fundadores das principais instituições
globais.
12
Enquanto muitas das normas globais, supervisionadas pela OMC, foram
negociadas numa época onde a agenda neoliberal era preeminente, agora
estamos numa nova era – num tempo onde a agenda neo- conservadora
dos assuntos externos e militares está casada com políticas neo- liberais
para os assuntos de negócios e da economia. Enquanto os efeitos
desastrosos dela podem ser vistos em cada lugarejo do planeta, as
chances de mudança como resultado desse casamento arrasador são
igualmente dramáticas. Eu argumentaria que sem os resultados cruéis da
sinergia entre comércio e o militarismo neo- conservadores, a articulação
entre o governo brasileiro e o G- 20 em Cancún não teria sido possível. A
combinação entre a perpetuação de políticas de comércio mercantilistas
(você tem de comprar conosco, mas nós evitaremos comprar de você, ou
se possível não vamos comprar nada) e “hegemonia global”, através de
uma política externa militarizada, criou uma situação política quase
insustentável para os EUA.
13
Talvez o que vou dizer seja excessivamente otimista, mas meu palpite é
de que temos a chance de desbancar os domínios tanto neoliberal quanto
neo- conservador exatamente porque estão evidentes agora. Até há pouco
tempo, a separação entre essas agendas – por exemplo, na administração
anterior – tornava quase impossível reunir forças tanto dentro quanto fora
dos EUA para se criar um autêntico desafio a qualquer uma dessas duas
forças. Hoje, porém, podemos comemorar o início da verdadeira
negociação do comércio no âmbito da OMC – graças em grande parte aos
esforços empreendidos pelo Brasil e o G- 20 em Cancún – e agora
estaremos nos ocupando de um debate concreto no nível global sobre o
papel das Nações Unidas, da força militar e do unilateralismo.
Talvez, tão importante quanto ter alçado essas questões ao nível global
seja, ao mesmo tempo, ver a projeção delas dento dos Estados Unidos.
Não vou me atrever a fazer uma crítica de todos os pormenores desse
extenso debate hoje, mas permitam - me dizer que em toda a minha vida
nunca vi uma época de maior perigo político nos EUA – e isso inclui o de
Richard Nixon e outros – e nunca houve um momento de maior debate
público sobre o papel do governo nos assuntos internos e externos, e o
papel dos EUA especificamente nas questões globais. Como nação, fomos
partidos ao meio sobre a guerra mantida pela administração Bush contra o
Iraque e continuamos profundamente divididos hoje. O importante,
entretanto, não são os números das pesquisas sobre a política de guerra,
mas o nível, a profundidade e o escopo do debate em que estamos
engajados. Grande parte da sociedade – muito, muito mais do que jamais
possa me lembrar – está engajada na discussão de questões importantes
sobre economia, comércio, direitos humanos, guerra e paz. Esse debate se
intensificará à medida que entrarmos nas próximas eleições.
14
através de procedimentos democráticos e dos direitos humanos, aptos a
participar da criação de leis que nos governarão.
Devemos rechaçar qualquer opção que nos faça rolar ladeira abaixo em
direção à guerra civil. É um futuro demasiado terrível para se imaginar.
Devemos contrapô- la tomando o caminho da democracia, reiteradamente
defendida através da não- violência. Esta tem de ser a nossa agenda pós-
neoliberal e neo- conservadora.
15
desesperada de encontrar um caminho para a Paz Mundial e assegurar a
justiça econômica, social e política. Precisamos retomar esse foco
primordial – este é o momento de maior abertura, mas não vai durar
muito. Esse futuro democrático, porém, não nos será entregue nas mãos.
Teremos de trabalhar dia e noite para superar aqueles que escolheram a
guerra civil mundial ou como forma de defender seus privilégios, ou como
forma de resistência à exploração.
Devemos fazer isso por nós mesmo e por outros que nunca
conheceremos.
Devemos fazer isto pelo hoje e por eras que jamais veremos.
16
Ciclo de seminários
Fórum Social Brasileiro, Belo Horizonte, 7 e 8 de novembro de 2003
J. Carlos de Assis
Economista
Vou cometer uma pequena descortesia, de uma forma muito fraterna, aos
que me convidaram para este seminário. Não vou falar das escolhas ou das
alternativas, mesmo porque não sou um especialista no assunto. Vou falar
das condições objetivas para que as escolhas mencionadas, qualquer delas,
possam ser feitas. Não é uma fuga completa do tema, porque outros itens
1
– na realidade, todos os demais itens da ementa que me deram – serão
abordados. Mas é a questão das condições de escolha que me interessa
focar centralmente.
2
desnecessariamente milhões de pessoas do trabalho remunerado, pelo que
a maioria delas não têm escolhas reais a fazer, a não ser a busca
desesperada da sobrevivêncica.
3
liberal nos anos 80. Ela só tem um paralelo na história: a Grande
Depressão dos anos 30. Também na Grande Depressão a prolongação da
crise de desemprego depois do crash da bolsa de Nova Iorque resultou de
políticas liberais, exatamente as mesmas que nos recomendam agora,
baseadas no que chamam de “austeridade” fiscal e “finanças saudáveis”.
Por uma estratégia de marketing, chamam agora o velho liberalismo de
neoliberalismo. É essencialmente a mesma coisa, com os mesmos
resultados.
4
Nos anos 20 e 30, que assinalam a primeira grande crise do capitalismo
numa situação de cidadania ampliada – onde pobres, trabalhadores e
mulheres passaram a participar plenamente do corpo político via direito de
voto e de ser votado - , abriram- se, diante da grave crise social, quatro
alternativas de projeto nacional: o fascismo italiano (o desemprego na Itália
já era excessivamente alto nos anos 20), o nazismo alemão, a social-
democracia sueca e o New Deal norte- americano. Os dois primeiros,
embora bem sucedidos no campo do combate ao desemprego,
degeneraram em guerra; o último, junto com o modelo sueco, definiria o
perfil das sociedades industriais no pós- guerra.
5
lançaram os alicerces de nossa industrialização, mas que ficaram a meio
caminho no campo social, por razões, a meu ver, políticas.
6
pobres, trabalhadores, mulheres, as classes dominantes tiveram que ceder
de alguma forma às demandas da sociedade. Os conservadores,
tradicionais donos do condomínio do poder, burlaram por todas as formas,
inclusive pelo recurso a ditaduras, as demandas sociais crescentes, sendo
que os seus intelectuais orgânicos sempre tentaram desqualificar estas
últimas como populismo.
Foi pelo atraso político – isto é, pela negação da cidadania a uma grande
parte da população não proprietária – que nos marginalizamos, assim
como foi pelo avanço político rumo à cidadania ampliada que os países
industrializados convergiram para uma sociedade do bem estar. É claro
que estávamos todos, industrializados ou não, no contexto da Guerra Fria,
e isso teve influência considerável no processo. Só que, nos países
industrializados avançados, o progresso social foi uma resposta ao perigo
vermelho, enquanto, entre nós, o perigo vermelho foi o pretexto para a
reincidência no atraso político e no autoritarismo.
7
Entretanto, continuamos um país atrasado socialmente. E são nossas
condições sociológicas, mais que as condições econômicas, que nos
diferenciam dos países industrializados avançados. É que, na economia,
construímos alguns espaços de modernidade que se articulam através da
globalização com os espaços mais avançados do Primeiro Mundo.
Constituiu - se assim uma mesma rede de relações de dominação que
mantém estrito controle sobre o sistema econômico interno, levado a se
atrelar, dos anos 80 para cá, às formas mais especulativas do capitalismo
monetário e financeiro, responsável último pelas políticas fiscais e
monetárias que generalizaram o desemprego e o subemprego tanto em
alguns dos países industrializados quanto em quase toda a América Latina.
8
monetária criou o ambiente de cassino nas relações financeiras
internacionais, e os donos do cassino, para atender a sua clientela,
passaram a propor um tipo de estabilidade que preservasse o jogo.
9
porém, ficamos diante desses casos singulares da história em que a
potência hegemônica absorve uma ideologia, pratica uma outra e exporta,
através de seus mecanismos de influência, principalmente o crédito, uma
terceira.
10
E aqui, depois dessa longa volta, regressamos ao ponto inicial: como pode
a sociedade brasileira, que não é uma sociedade de bem estar, e cuja
maioria do corpo político não é formada por afluentes, mas por miseráveis,
acatar uma doutrina econômica e incorporá- la na política cotidiana quando
isso implica tolerar taxas de desemprego de 20% e até 30% em algumas
metrópoles?
Não há uma resposta simples para esta pergunta, sobretudo porque não há
uma classificação simples da sociedade brasileira. A extrema
heterogeneidade, recoberta por um dos mais elevados índices de
concentração de renda e de riqueza do mundo, reflete- se necessariamente
numa grande ambigüidade no corpo político, ideologicamente dominado
pelas classes afluentes. Mesmo assim, é um equívoco supor que os
resultados das quatro últimas eleições presidenciais tenha sido produto de
manipulação. Os candidatos vitoriosos, sem exceção, se apresentaram
como portadores de mudanças que eram objetivamente reclamadas pela
maioria do eleitorado.
11
O que acontecerá com o governo Lula se não conseguir reverter o
desemprego? Escrevi recentemente um ensaio, que está no site do
Movimento Desemprego Zero, sustentando que Lula está entre a alternativa
de manter a estabilidade financeira à custa do agravamento do quadro
social, ou de enfrentar a crise social impondo uma mudança nas regras da
economia financeira. É uma decisão de economia política, não
simplesmente de política econômica. Alguém terá de perder, não em
termos de estoques de riqueza, mas de expectativas de ganhos
especulativos, para que possamos enfrentar a crise social a partir do
revigoramento do sistema produtivo pela retomada do desenvolvimento e
do emprego.
Para confrontar com eficácia essas políticas, não podemos nos limitar a
criticá- las. Temos que apontar alternativas. Foi este o sentido do Manifesto
dos Economistas, que lançamos em junho último. E é este o sentido do
Movimento Desemprego Zero – Por uma Política de Promoção do Pleno
12
Emprego no Brasil, reunindo vários movimentos sociais e com um portal na
Internet (www.desempregozero.org.br) . Para ter êxito, qualquer proposta
alternativa deve estar colada à realidade sociológica. E como a realidade
sociológica que nos caracteriza é a realidade do desemprego generalizado,
inspiramos nossa proposta no New Deal dos anos 30, o grande plano de
Roosevelt que reverteu a Grande Depressão.
13
Os neoliberais contestam a política de pleno emprego sob o argumento de
que gera inflação. É uma falácia técnica. Enquanto houver alto desemprego,
o dispêndio público, mesmo deficitário, não gera inflação de demanda. E
na medida em que a economia se aproximar do pleno emprego, pode- se e
deve- se recorrer a políticas de rendas, no âmbito de um grande pacto
social, para compatibilizar as reivindicações salariais com o aumento da
produtividade, contra a alternativa perversa de usar a política monetária de
juros estratosféricos, como temos feito, para conter a inflação. Aliás, a
relativa estabilidade da Idade do Ouro do capitalismo na Europa Ocidental
se deveu fundamentalmente aos pactos sociais em torno de políticas de
rendas.
Ele não poderá fazer isso a não ser por uma política de promoção do pleno
emprego. Para aplicá- la, terá de romper com o modelo neoliberal. Terá de
ser um Roosevelt brasileiro, um campeão do capitalismo regulado, um
realizador de esperanças.
14
Quero terminar apresentando uma visão concreta das políticas de pleno
emprego, a fim de inspirar uma antevisão do que pode vir a ser no Brasil.
No New Deal, o governo norte- americano criou uma agência, a Works
Progress Administration, para gerenciar todos os programas governamentais
de estímulo à economia e ao emprego. Sob esta agência, foram
construídos ou reconstruídos 820 mil quilômetros de rodovias (temos 54
mil km de rodovias federais!), 124 mil pontes e viadutos, 120 mil prédios
públicos, várias hidrelétricas, projetos de regularização de três cursos de
grandes rios junto projetos de irrigação; milhares de artistas foram
contratados pelo Estado para dar concertos de graça, pintores foram
contratados para ornamentar prédios públicos com obras de arte, milhares
de professores, médicos e enfermeiros foram contratados para os
programas de educação e saúde. Em uma palavra, o New Deal fez dos
Estados Unidos a potência que são hoje.
Nós não podemos nos privar do sonho de também chegar lá, com uma
sociedade mais justa e solidária que a sociedade norte- americana, apenas
por conta dos preconceitos liberais que seus ideólogos tentam nos impor
através da manipulação das nossas necessidades financeiras, que eles
mesmos fizeram escalar com choque dos juros dos anos 80. De fato, o
cordão umbilical que une ao neoliberalismo é a dívida externa. É por causa
da dívida externa que capitulamos às políticas do FMI e do Banco Mundial.
Temos de romper este cordão. A forma de fazer isso não é não pagar, mas
só pagar com o crescimento do produto, da renda e sobretudo do emprego
internos.
15
Ciclo de seminários
Fórum Social Brasileiro, Belo Horizonte, 7 e 8 de novembro de 2003
Leonardo Avritzer
Cientista político, Universidade Federal de Minas Gerais
Este debate iniciara- se no século XIX pois até então e por muitos séculos a democracia
tinha sido considerada consensualmente perigosa e, por isso, indesejada. O seu perigo
consistia em atribuir o poder de governar a quem estaria em piores condições para o
fazer:a grande massa da população, iletrada, ignorante e social e politicamente inferior.
(Williams,1976:82;McPherson,1972)
1
de um procedimento eleitoral para a formação de governos
(Schumpeter,1942). Essa foi a forma hegemônica de prática da
democracia no pós- guerra, em particular nos países que se tornaram
democráticos após a segunda onda de democratização.
O segundo debate que permeou a questão no pós- segunda guerra
mundial foi acerca das condições estruturais da democracia (Moore,1966;
O’Donnell,1973; Przeworski,1985), que foi também um debate sobre a
compatibilidade ou incompatibilidade entre a democracia e o capitalismo
2
(Wood,1996) . Nos anos sessenta, Barrington Moore inaugurou esse
debate por meio da introdução de uma tipologia de acordo com a qual se
poderia indicar os países com propensão democrática e os países sem
propensão democrática. Para Moore, um conjunto de características
estruturais explicariam a baixa densidade democrática na segunda
metade do século XX: o papel do estado no processo de modernização e
sua relação com as classes agrárias; a relação entre os setores agrários e
os setores urbanos e o nível de ruptura provocado pelo campesinato ao
longo do processo de modernização. (Moore,1966).
O objetivo de Moore era explicar por que a maior parte dos países não
eram democráticos nem poderiam vir a sê- lo senão pela mudança das
condições estruturais. Entretanto, um segundo debate se articulava ao
dos requisitos estruturais da democracia, o debate sobre as virtualidades
redistributivas da democracia. Tal debate partia do pressuposto que na
medida em que certos países venciam a batalha pela democracia, junto
com a forma de governo, passavam a usufruir de uma certa propensão
distributiva caracterizada pela chegada da social democracia ao poder
(Przeworski,1985). Haveria, portanto, uma tensão entre capitalismo e
2
Este debate, como de resto quase todos os outros sobre a democracia, tinha sido
antecipado por Rousseau quando afirmava no Contrato Social que só poderia ser
democrática a sociedade onde não houvesse ninguém tão pobre que tivesse necessidade
de se vender e ninguém tão rico que pudesse comprar alguém.
2
democracia, tensão essa que, uma vez resolvida a favor da democracia,
colocaria limites à propriedade e implicaria em ganhos distributivos para
os setores sociais desfavorecidos. Por isso, no âmbito desse debate
discutissem- se modelos de democracia alternativos ao modelo liberal: a
democracia popular nos países da Europa de Leste, a democracia
desenvolvimentista dos países recém- chegados à independência.
3
seriam a tão apontada contradição entre mobilização e
institucionalização (Huntington,1968; Germani,1971); a valorização
positiva da apatia política (Downs,1956); a concentração do debate
democrático na questão dos desenhos eleitorais das democracias
(Lijphart,1984); o tratamento da pluralismo como forma de incorporação
partidária e disputa entre as elites(Dahl,1956;1971) e a solução
minimalista ao problema da participação pela via da discussão das
escalas e da complexidade (Bobbio,1986; Dahl,1991).Todos esses
elementos que poderiam ser apontados como constituintes de uma
concepção hegemônica da democracia não conseguem enfrentar
adequadamente o problema da qualidade da democracia que voltou a
tona com a chamada “terceira onda de democratização”. Quanto mais se
insiste na formula clássica da democracia de baixa intensidade, menos se
consegue explicar o paradoxo de a extensão da democracia ter trazido
consigo uma enorme degradação das práticas democráticas. No caso da
América Latina, em pouco mais de uma década de democracia, três
presidentes foram impedidos por corrupção e, no caso da Argentina, dois
em quatro presidentes eleitos não conseguiram completar os seus
mandatos.
4
especialmente o orçamento participativo que, tal como o Fórum, tem sido
reconhecido pela sua marca porto - alegrense. Mas, a contribuição do FSM
pode e deve ir muito mais além: pode colocar em contato as experiências
de países do Sul sem que elas passem pela mediação das experiências do
Norte. E pode, pela primeira vez, tornar as experiências dos países do Sul
referência no debate democrático global.
5
mais que 35% da população era pobre ou muito pobre e, no caso do
Nordeste, mais de 50% da população era pobre ou muito pobre. O
processo de modernização econômica do Brasil gerou enormes
iniqüidades sociais no âmbito local. As maiores cidades brasileiras
cresceram a taxas inacreditáveis entre 1950 e 1980 e se tornaram os
principais locais de concentração da pobreza. No caso da cidade de São
Paulo, a sua população passou de 2.198.000 habitantes para 8.493.000
habitantes nesse período; no caso de Belo Horizonte, sua população
passou de 352.000 habitantes para 1.780.000 e, no caso de Porto
Alegre, a sua população passou de 394.000 habitantes para 1.125.000
nesse mesmo período (IBGE,1983). O aumento da população urbana e a
criação e expansão de uma administração pública racional não foram
seguidas por um aumento proporcional dos serviços públicos. Pelo
contrário, na maior parte das cidades brasileiras as carências de serviços
urbanos eram enormes no início da década de 80. Em 1984, somente
80,2% da população do Sudeste do Brasil – a região mais rica do país – e
59,6% da população da região Sul tinha acesso à água tratada. O acesso à
rede de saneamento era ainda menor: somente 55% da população urbana
tinha acesso à rede de saneamento (Santos, 1985).
6
representantes de associações populares no processo de organização das
cidades. Outros artigos requereram a participação das associações civis
na implementação das políticas de saúde e assistência social. Sendo
assim, a Constituição foi capaz de incorporar novos elementos culturais
surgidos no âmbito da sociedade na institucionalidade emergente. São
esses elementos que estão na origem do orçamento participativo.
7
Participativo, um órgão de conselheiros representantes das prioridades
orçamentárias decidas nas assembléias regionais e locais. A confecção
administrativa do orçamento ocorre no Gaplan (Gabinete de Planejamento
da Prefeitura), órgão ligado ao gabinete do prefeito.
8
01 Humaitá/Ilhas/Navegantes
02 Noroeste
03 Leste
04 Lomba do Pinheiro
05 Norte
06 Nordeste
07 Partenon
08 Restinga
09 Glória
10 Cruzeiro
11 Cristal
12 Centro Sul
13 Extremo Sul
14 Eixo Baltazar
15 Sul
16 Centro
9
As assembléias são realizadas em cada uma das 16 regiões com a
presença do prefeito. O número de participantes constituirá a base para
o cálculo do número de delegados que irão participar na próxima fase
nas assembléias intermediárias e nos fóruns de delegados. Os moradores
se inscrevem nas assembléias individualmente. No entanto, a sua
participação em associações civis é indicada no processo de inscrição nas
assembléias. Critério para retirada dos delegados: até cem presentes na
primeira assembléia regional, 1 delegado para cada dez presentes; entre
101 e 250 presentes, 1 delegado para cada 20 presentes; entre 251 e
400, 1 delegado para cada 30 presentes; mais de 401 presentes, 1
delegado para cada 40 presentes. Todos os presentes têm direito a um
voto.
10
direção de políticas participativas, devido à introdução da forma conselho
e de outras formas de participação durante o processo constituinte
(Raichellis, 1999; Dagnino, 2002), por outro lado, nenhuma cidade
abraçou tão rapidamente e tão amplamente a idéia de participação
quanto Porto Alegre. Alguns dados empíricos podem corroborar essa
afirmação: em primeiro lugar, a baixa participação inicial no orçamento
participativo em algumas regiões de Porto Alegre como a do Cristal,
Navegantes e a Glória com médias entre 10 e 15 participantes mostram a
enorme vontade política por trás da decisão inicial de implantação do OP.
Em segundo lugar, o enfrentamento do conflito político criado pelo OP,
que levou a demissão do primeiro secretário do Planejamento da
administração Olívio Dutra e à criação do Gaplan (Fedozzi,1997), mostra
uma determinação de enfrentar os conflitos políticos em torno da
continuidade e das características do OP. Em terceiro lugar, o enorme
envolvimento das associações civis nos primeiros anos do OP, período no
qual 71,28% dos participantes eram vinculados a associações
comunitárias (Fedozzi et all,1993), mostra o apoio à proposta no interior
da sociedade civil. Todo esses dados quando comparados, por exemplo,
com a experiência limitada do orçamento participativo em São Paulo no
mesmo período, mostram que a introdução da proposta e a vontade
política capaz de forjar o seu sucesso inicial apenas poderiam ter
ocorrido em Porto Alegre devido às condições anteriormente descritas.
11
dessas realidades na cidade de Porto Alegre (Marquetti,2003). Esse
argumento é extremamente importante para a discussão sobre
democracia participativa porque consegue corroborar a idéia de formas
4
de racionalidade associadas às formas ampliadas de participação , isto é,
mostra que os atores sociais quando devidamente munidos da
capacidade de deliberação conseguem identificar lacunas distributivas na
sociedade e agir de forma a corrigi - las. O argumento mostra também
que os atores sociais são capazes de realizarem rankings de prioridades
e, até mesmo, agirem altruisticamente na medida em que o ator médio
que participa do OP de Porto Alegre – caracterizado como um indivíduo
de renda familiar até quatro salários mínimos (Baierle, 1999) – consegue
identificar que existem indivíduos mais carentes do que eles e privilegiá-
los no processo de distribuição de bens públicos.
4
Essa é uma questão polêmica no interior da teoria democrática contemporânea. A
teoria hegemônica a esse respeito, o assim chamado elitismo democrático, supõe que a
participação constitui apenas uma forma de pressão das massas sobre o sistema
político. Apesar de uma série de críticas teóricas a essa perspectiva terem sido
formuladas (Avritzer,1996), o trabalho de Marquetti aponta na direção de uma crítica
empírica.
12
alguns intelectuais brasileiros (Reis,2000). O OP nos fornece elementos
para pensarmos as sinergias entre reforma do Estado e formas ampliadas
de participação ao mostrar que a pressão da população sobre a
administração local melhora a performance da máquina administrativa.
13
ampliação da democracia expresso no caso da experiência porto
alegrense tanto na capacidade de crescimento da participação no OP. O
FSM trabalha com a idéia de uma democracia de alta intensidade, isso é,
uma democracia na qual atores sociais com preferências fortes têm um
papel ampliado no sistema político. OP reforça essa visão ao mostrar a
viabilidade das formas de participação ampliadas. O segundo pilar é o
associativo- deliberativo, expresso no caso porto alegrense por diversos
elementos tais como, a presença constante das associações de
moradores no OP e a capacidade do OP de ter se tornado a forma
dominante de distribuição de recursos públicos na cidade, diminuído
sensivelmente, senão anulando, o papel do clientelismo na distribuição
de bens públicos. Mais uma vez, o Fórum Social Mundial e o OP parecem
ter uma afinidade eletiva.
14
O quarto elemento é a capacidade distributiva do OP abordada acima e
sua vinculação com o processo de reforma do Estado. Nesse caso, o OP
aponta para uma diferente perspectiva de entender o estado, que
poderíamos localizar justamente no eixo do pós- neoliberalismo. Nessa
perspectiva, a eficiência estatal não se dá pela diminuição do tamanho do
estado e sim pela inversão da relação entre funcionários ligados à
máquina e funcionários ligados a atividades fins das políticas sociais.
Mais uma vez, entendemos haver uma afinidade eletiva entre essa visão e
as concepções defendidas pelo FSM.
15
praticado. No ano de 2002, o OP foi praticado nos municípios de São
Paulo, Belo Horizonte, Recife e Porto Alegre, cidades com um enorme
peso nacional e regional. No entanto, discutir, a prática do OP é também
reconhecer as enormes variações que existem entre essas cidades ou
entre os 103 municípios que praticaram o OP entre 1997 e 2000. O OP
foi praticado entre 1997 e 2000 em 9 cidades com mais de 500 mil
habitantes (entre elas, 4 cidades com mais de 1 milhão de habitantes).
(Teixeira, 2003, Ribeiro e Grazia, 2003). Por outro lado, o OP tem a
maioria das experiências a ele relacionadas localizadas em cidades entre
20 mil e 100 mil habitantes. Assim vemos dois elementos distintos na
extensão do OP: a sua extensão para pequenas cidades das regiões Sul e
Sudeste e sua extensão para grandes capitais das regiões Sul, Sudeste e
Nordeste (no caso a cidade do Recife).
16
estender o OP, em quais condições ele pode funcionar? Dois tipos de
evidências contraditórias podem ser apresentadas para
problematizarmos essa questão: (1) o desempenho do OP no decorrer
das tentativas de torná- lo uma política social; (2) o desempenho do OP
em relação a integração de setores desfavorecidos, minorias culturais e
problemas de gênero.
17
Tabela 1
Prioridades escolhidas em Porto Alegre em 1999
Região 1ª Prioridade 2ª Prioridade
Nota 5 Nota 4
Humaitá/ Saúde – ampliação e Saneamento básico – Esgoto
Navegantes construção de postos de pluvial –
/Ihas saúde DEP
Noroeste Áreas de lazer Política habitacional –
Reassentamento
18
Extremo- Sul Pavimentação Saneamento básico – Rede de
água –
DMAE
Eixo da Política Habitacional – Saúde – Reforma, ampliação
Baltazar Reassentamento e construção de postos de
saúde
Sul Pavimentação Saneamento básico – Esgoto
pluvial –
DEP
Centro Política habitacional Educação – Programa SEJA
Construção de U.H.
Fonte: Prefeitura de Porto Alegre.
19
que à medida que avança o OP- Cidade encontra mais opositores na
administração pública e entre o pessoal técnico da prefeitura. Tal
oposição parece lógica, tendo em vista que esses são os casos nos quais
o OP redireciona preferências da máquina administrativa ou exige dos
administradores públicos mudanças nas suas preferências em relação a
políticas. No entanto, se o OP não pode ser apenas um programa de
ampliação do acesso a obras públicas, ele tem que envolver ampliação do
acesso a políticas e em alguns casos, mudanças na orientação dessas
políticas.
Tabela 2
Prioridades do “OP Cidade” em Belo Horizonte na área de assistência
social
Criança e 1° 1° 1°
adolescente
Qualificação 2° 2° 2°
profissional
Portadores de 3° 6° 5°
deficiência
Criança 00 a 06 4° 4° 4°
Famílias 5° 3° 3°
População carente 6° 8° 6°
Meninos de rua 7° 9° 9°
Idosos 8° 7° 8°
População de rua 9° 10° 10°
Geração de renda 10° 5° 7°
20
Adolescente 11° 11° 11°
infrator
Dependente 12° 12° 12°
químico
Criterio da Prefeitura. Peso: 0,49 Decisão do “OP Cidade”.
Peso:0,51
Fonte: Prefeitura de Belo Horizonte
5
É necessário mencionar que a margem de erro da pesquisa é de aproximadamente 5%.
No entanto, a margem de erro da pesquisa não invalida o fato de haver uma série
histórica com margem de erro semelhante e nessa série histórica a participação das
mulheres ter aumentado em cada uma das pesquisas realizadas.
21
Os dados da Tabela 3 nos permitem afirmar que a eqüidade entre
gêneros se expressa mais na participação ampliada do que na escolha de
lideranças compatíveis com o perfil dos participantes. Fenômeno
semelhante pode ser identificado no OP- SP, como no caso de Porto
Alegre, a participação das mulheres é alta, mas não se traduz em
presença semelhante nas formas de coordenação do OP. Essa questão se
torna ainda mais grave quando pensamos em setores mais
marginalizados na sociedade brasileira, como, por exemplo, os
indígenas. Na experiência de orçamento participativo estadual no Rio
Grande do Sul, os índios guaranis que somam setecentas pessoas no
estado não foram atendidos em suas reivindicação de demarcação de
terras, entre outros motivos, porque não conseguiram maiorias em
reuniões do OP.
Mais uma vez, esse tipo de questão parece ser extremamente relevante
quando pensamos na extensão da experiência do OP para outros lugares
da América Latina ou do mundo na medida em que minorias étnicas são
mais importantes em países como Peru ou tradição de exclusão das
mulheres são ainda mais fortes em alguns desses países. Por outro lado,
valeria a pena saber quais tentativas de inclusão das mulheres foram
tentadas nessas outras experiências e quais aportes elas poderiam
fornecer ao OP.
Tabela 3
Participação no OP por gênero
Sexo IBGE/POA 1993 1995 1998 Delegados(as) Conselheiros
(as)
Mulhere 53,2% 46,7% 46,8% 51,4% 45,3% 48,7%
s
Homens 46,8% 47,6% 52,2% 48,4% 54,7% 51,3%
Nr – 5,7% – 0,2% – –
22
Fonte: Cidade
23
contribuição ao debate democrático porque esse tendia a identificar o
aumento da participação com a instabilidade institucional ou com o que
ficou conhecido como “pretorianismo das massas”. Hoje e dia o debate
sobre participação se move na direção da melhor distribuição dos gastos
públicos na direção dos setores desprivilegiados, da melhor utilização
dos recursos públicos, da correção em deixar a própria população
apontar suas prioridades. Provavelmente, esses são os fatores que fazem
do OP uma forma de deliberação sobre recursos públicos tão atraente no
Brasil e em outros países da América Latina.
24
Panchayats devem ser apontados: a sua capacidade de integrar a
participação das mulheres, pelo menos no caso da experiência de Bengal
que reservou 40% das posições de coordenação de Panchayats para as
mulheres com resultados extremamente positivos. Vale a pena também
pensar algumas experiências de participação popular mais ampliada que
conseguiram incluir a discussão de um cardápio mais ampliado de
políticas públicas, tal como parece se o caso de Vila Salvador em Lima.
Entendemos que o Fórum Social Mundial pode desempenhar um papel
central na fusão de horizontes participativos.
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25
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27
Santos, B. d. S. and L. Avritzer (2002). Para Ampliar o Cânone
Democrático. Democratizar a Democracia. B. d. S. Santos. Rio de Janeiro,
Civilização Brasileira.
28
Ciclo de seminários
Fórum Social Brasileiro, Belo Horizonte, 7 e 8 de novembro de 2003
Introducción
1
Esta ponencia fue elaborada gracias a la contribución del Consejo Latinoamericano de
Ciencias Sociales (CLACSO), a través del esfuerzo conjunto del Programa Regional de
Becas y el Programa CLACSO/CROP de estudios sobre pobreza en América Latina y el
Caribe. El trabajo forma parte de los resultados del Proyecto “Políticas de atención a la
pobreza y la desigualdad. Examinando el rol del estado en la experiencia cubana”, que fue
premiado con una beca de investigación en el Concurso para investigadores senior "La
economía política de la pobreza" 2003.. Este texto no puede ser publicado sin la autorización
de CLACSO.
1
Aunque las cifras sobre la dinámica de la pobreza en América Latina son
bastante conocidas no han perdido su fuerza impactante:
América Latina
Evolución de la magnitud de la pobreza y la indigencia
1980-1999
Porcentaje de hogares pobres Porcentaje de hogares
indigentes
Años total urbana rural total urbana rural
1980 37,7 25,3 53,9 15,0 8,8 27,5
1990 41,0 35,0 58,2 17,7 12,0 34,1
1994 37,5 31,8 56,1 15,9 10,6 33,5
1997 35,5 29,7 54,0 14,4 9,5 30,3
1999 35,3 29,8 54,3 13,9 9,1 30,7
Fuente: CEPAL Panorama social de América Latina 2001
Claro que no existe un consenso en las explicaciones que desde las ciencias
sociales o de la práctica de toma de decisiones políticas se dan a esta
evidente persistencia de la pobreza en la región, muy especialmente en lo
que concierne a sus causas y a las fórmulas más eficaces para revertirla, lo
que hace que la cuestión de los roles del Estado o de otras estructuras y de
actores no estatales, en el manejo de las desventajas sociales, así como la
de las políticas sociales, sus contenidos, niveles, coberturas y dimensiones
más adecuados, hayan reforzado su centralidad como temas privilegiados de
debate.
2
Evitando comprometerse con un economicismo reducionista y mecánico,
Franco aclara que si bien la afirmación de que “la mejor política social es una
buena política económica”, “tiene una cuota de verdad”, ella debe matizarse,
y propone otra variante “una buena política económica es condición
necesaria pero no suficiente para la equidad”. Explica la insuficiencia de esta
condición argumentando que altas tasas de crecimiento logradas a partir de
una sobreexplotación de los recursos naturales o de utilización de mano de
obra poco calificada y mal remunerada no pueden mantenerse en la
perspectiva. Propone, por el contrario, “otro estilo de desarrollo” sustentado
en el aprovechamiento del capital humano, lo que hace emerger la necesidad
de políticas sociales, como instrumento de generación de dicho capital. A ello
añade que este matiz debe incluir el énfasis en la importancia del crecimiento
económico, en tanto este genera empleos, con ello remuneración salarial y
formas autónomas de solventar la satisfacción de necesidades básicas y
provoca sensación de optimismo que aumenta la viabilidad de medidas
redistributivas. (Franco, 2003).
Desde esta óptica, las mejores políticas sociales son entonces aquellas que
potencian las cualidades de las personas para funcionar como capital, para
competir en mejores condiciones en el mercado. En concordancia con esta
posición, en su Panorama Social en América Latina y el Caribe (2000/2001)
CEPAL explica que la reducción a la mitad de la indigencia en la región
exigirá un crecimiento del PIB per cápita de al menos un 2,3 % anual hasta el
2015 y que una reducción similar de la pobreza dependerá del crecimiento
entre el 3 % y el 4 % en el período señalado. Teniendo en cuenta la situación
3
económica de nuestros países y las difíciles condiciones para que estos
logren mejorar su inserción en la economía global, estas son noticias muy
desalentadoras.
Probablemente sea este uno de los campos de las ciencias sociales donde
con más fuerza se ha expresado el perfil propositivo de estas y su vocación
de vínculo con la toma de decisiones, de construcción de una articulación
directa entre la investigación y la propuesta de acción, entre el discurso de
diagnóstico y explicación y la transformación.
4
el que las trata como estrategias relativamente autónomas, de acción
selectiva y focalizada hacia poblaciones precarizadas.
5
etapa de desarrollo de sustitución de importaciones, culpabilizándolo de una
interferencia ineficiente en los mecanismos de mercado y haciendo su
propuesta de Estado mínimo, y concibiendo la lucha contra la pobreza
desgajada de empeños mas abarcadores, como rehabilitación y rescate de
poblaciones en situación de pobreza, a través de estrategias focalizadas y
selectivas.
6
programas de combate a la pobreza; el carácter territorializado,
microsocial y comunitario de las políticas; orientación focalizada hacia
públicos específicos. Esta concepción se desgaja en tres variantes: la
neoliberal (aprovechamiento de la capacidad y los activos de los pobres
para insertarlos en el mercado); el discurso afirmativo de la pobreza
(integración de políticas de gasto social para satisfacción de necesidades
básicas, las de apoyo a la economía popular y la autonomía de los pobres
como sujeto capaz de desarrollar procesos de autogestión); perspectiva
tecnocrático-progresivista (incluye las estrategias difundidas por los
organismos internacionales como el BID, la CEPAL y el PNUD, y postula
el apoyo público a la economía popular).
7
nivel de ingresos o de consumo de los pobres, sino a sus capacidades;
prioridad de las estrategias orientadas ayuda a los pobres para que estos
puedan generar establemente condiciones adecuadas de existencia; rol
esencial del Estado que se concreta en la provisión de información, la
generación de un entorno institucional y de la infraestructura que garantice el
acceso de los pobres al bienestar; orientación prioritaria hacia el crecimiento
del trabajo intensivo, hacia un acceso creciente de los pobres a los servicios
sociales y hacia la construcción de un sistema efectivo de transferencias que
aseguren protección ante imprevistos; incorporación del criterio de
sustentabilidad, garantizando el aseguramiento de la satisfacción de las
necesidades de los pobres sin comprometer las de las generaciones futuras.
(Parodi 2001)
8
económico y lo social, a rescatar la pertinencia de una gestión estatal
eficiente y de la participación ciudadana y la igualdad como valor social. Una
variante de esta postura ha surgido dentro del propio Banco Interamericano
de Desarrollo. Desde aquí, Bernardo Klisberg identifica los diez supuestos
mas comunes (“falacias”, les llama por su carácter erróneo y de inversión de
la realidad) que han sustentado las políticas sociales en la América Latina de
las reformas neoliberales:
9
centralidad de los valores y elude el debate sobre los fines;
10) ausencia de caminos alternativos.
10
11) El mercado surge por generación espontánea;
12) El criterio de éxito de la política social es reducir el porcentaje de
población que se encuentra en situación de pobreza.
11
De todo ello desprende que, siendo la pobreza un fenómeno de carácter
heterogéneo, que presenta diversas intensidades y modalidades, las políticas
públicas deben ajustarse a tal heterogeneidad, teniendo en cuanta las
características del estrato al que van dirigidas en lo que el llama “estrategias
diferenciadas de política social, (…), programas y proyectos para cada
situación específica (…) que en su conjunto se constituyen como una política
pública articulada para reducir la pobreza, enfrentar la vulnerabilidad, y
contribuir a mejorar la distribución del ingreso y apuntalar el crecimiento”
(Medina 2002:22).
12
Esta definición apunta hacia la complejidad de las decisiones en materia de
política social y de su implementación práctica, particularmente porque estas
no pueden diseñarse con recetas generales y universales
descontextualizadas, y porque están siempre colocadas, al menos en las
sociedades periféricas, ante el imperativo de establecer prioridades entre
opciones dramáticas, de vida o muerte, con recursos muy limitados. El
imperativo se bifurca en uno de eficiencia económica y en otro de naturaleza
ética que, aunque no son caras fatalmente inarticulables, difícilmente se
conjugan sin contradicción.
13
un supuesto erróneo, al considerar que la pobreza es una parte del sistema
socio-tecno-ambiental que posee una causalidad interna propia y reducida,
sobre la cual es posible actuar. Pero, de hecho, es la sinergia del sistema
como un todo, con sus interacciones y causalidades, la que determina la
dinámica de las partes que lo constituyen... En consecuencia, solo una
estrategia que no se concentre en la pobreza, sino en la estructura y la
dinámica del sistema en su totalidad, incluyendo su componente territorial
global, sería eficiente. Desde esta perspectiva se somete a crítica en su
totalidad la forma global de concebir y gestionar el desarrollo y se coloca la
lucha contra la pobreza dentro de una reconceptualización de este.
14
Primera interrogante: ¿Qué noción de ser humano informa las políticas de
enfrentamiento a la pobreza más extendidas?
15
también por adquirir energía (...), transportarse, vestirse, lavarse la cara y los
dientes, calentar los alimentos, recrearse” Claude, 2002).
Todavía este umbral no supone un sujeto del desarrollo, pero al menos ubica
la problemática de la pobreza y las carencias que ella implica en el contexto
de necesidades típicas de sociedades modernas con lo que ensancha el
horizonte de rasgos de la pobreza.
16
embargo, debates recientes apuntan hacia la exigencia de ampliar este
campo hacia el del consumo de males “ la distribución y el consumo de los
males del progreso económico de una sociedad” (Claude, 2002).
Claude afirma que existe (para Chile, dice él, pero parece obvio que es una
idea aplicable en un margen mucho más amplio) una doble condición de
injusticia (de pobreza, añado) y propone que, a la cuantificación de las
desigualdades y desventajas asociadas a las asimetrías en la distribución de
bienes habría que agregar las referidas a la distribución de males, que es
también asimétrica, e incluye dentro de ellos la acumulación de basura, la
contaminación tóxica, la depredación de los ambientes naturales, las
enfermedades psicológicas.
17
Primera etapa o de generación: abarca desde el siglo XIV hasta la primera
mitad del XIX
Se caracteriza por el tránsito desde una concepción cíclica del cambio social
hacia otra progresivista, universalista y ascencional, con carácter de
inevitabilidad histórica y de ley sociológica.
18
nación queda configurada como el escenario propio del desarrollo y el estado
como su protagonista o agente y garante principal. Es el período del diseño
de modelos de desarrollo y puesta en práctica de políticas concretas para
lograrlo.
19
Tratando de sintetizar el debate crítico en este campo, encontramos rasgos
y cualidades que esa proposición integradora, sintética y crítica del
desarrollo no podría dejar de incluir:
20
condiciones para el despliegue de esa cualidad de actor y de agente de
cambio.
21
persona. Este proceso, por su forma, su contenido y su sentido, tiene que
garantizar la viabilidad para esta generación y las generaciones futuras”
(Trputec 2002).
Este es probablemente uno de los retos mas complejos para las estrategias
de lucha contra la pobreza, porque las maneras en que se ha estructurado la
conexión espacial de la econonía globalizada neoliberal amplifican la
naturaleza explotadora y desigualitaria de las relaciones capitalistas y
generan inevitablemente excluidos que solo podrían insertarse con un golpe
de suerte que los convierta en poseedores de venatjas comparativas y
22
competitivas explotables por las grandes transnacionales, golpe de suerte
que no alcanza para todos y es también excluyente.
Pero no por ello puede pasarse por alto la necesidad de que estas
estrategias aspiren a impulsar un entrelazamiento sinérgico entre la escala
micro local del desarrollo, la economía comunitaria, y otras de mayor
generalidad, regional, nacional, extranacional, global, consecuentemente, la
exigencia de construir actores en todos esos niveles, incluyendo a la
sociedad civil y de comprensión de lo local como ámbito legítimo del
desarrollo, no como el reducto para la economía solidaria de los pobres y
opción menor de los excluidos, sino como espacio de alternativas
proveedoras de inserción social, de acceso al bienestar.
Bibliografía
23
CEPAL 1992. Renovadas orientaciones y tendencias de los programas de
compensación social en la región. Tercera Conferencia Regional sobre la
Pobreza en América Latina, Santiago.
24
Parodi, C. 2001. Perú: Pobreza y políticas sociales en la década de los
noventa. En:
Revista de Ciencias Sociales. Vol. VII, No. 3.
25
IV World Social Forum, Mumbai, 16 -21 January 2004
Project: Ibase
Partners: ActionAid Brasil, Attac Brasil e Rosa Luxemburgo Foundation
Andreas Trunschke
The famous French statesman and cardinal Armand-Jean du Plessis Herzog von
Richelieu (1585-1642) once said: “The budget is a states nerve. Hence, it has to be
taken away from the profane eyes of the subjects.”
This statement seems to be true even today. Of course, skilfully the budget is taken
away the views of the citizens in these modern democracies. It is presented in such a
complicated way that it takes the expert knowledge of the politicians and bureaucrats in
order to read and understand it. Hence, the citizen does not really feel the desire to
deal with it. If he, however, does make the effort to read and understand, than there are
laws, which secure that he has no influence on the formation of the budget.
This traditional politics understanding has been opposed first by the southern Brazilian
city Porto Alegre with its “Orçamento Participativo”, the participatory budget order or
citizen budget. The citizen himself does give the priorities for the budget, he himself
controls that the budget follows these priorities and the administration has to give him
the evidence over how the budget has been used and what has been done. Now, one
can see variations of this new politics understanding in many places of the world.
1
Slowly this new idea even reaches Germany. Slowly, maybe because traditionally it is
very hard for the Germans to learn from others, especially from a country of the third
world.
In the following, I will show where in Germany one can see already hints for
establishing a stronger citizen participation, which obstacles exist, which experiments
are being done in present and how they differ from the participatory budget in Porto
Alegre. At the end I will give a small view onto possible further developments.
First we will have a look at the hints of establishment. A first one we can find in the
small perished state, the GDR. In the former state-socialistic GDR parliamentary
democracy, as is well known, was not very popular, however there where starting points
for a participatory democracy. In every city residential areas housing between 2.000 to
2.500 inhabitants had living area committees from the National Front , which were
consulted regarding important questions for the development of the district. For
instance, they could be involved with matters, such as if and where playgrounds,
shopping facilities or streets were built. Of course this was an ordered participation, but
therefore it covered almost all areas. Of course those living area committees also acted
as a instrument showing of power by the rulers, but at the same time it represented a
democratic element, that in every way could have developed a certain independence.
On the one hand, they should communicate to the ground as unchangeable decisions,
on the other hand, however, they also allowed – within certain limits – the involvement
of the people. This basic idea, citizen participation in the creation of made decisions,
we will meet again later on.
2
authorities. Are there enough signatures, the parliament has to deal with the problem
again. If it rejects it again, however, the people are being asked. It comes to a
plebiscite. Similar procedures exist in most other countries for villages and towns as
well. It is, however, always about single problems, which, according to the initiators,
have been either not at all or wrongly decided by the parliament. Although from the
start, it is not about citizens participating in political decisions, but at least this way the
people got the possibility correcting political decisions. Within limits however. Excluded
are, for instance, decisions to financial questions or with financial consequences. But
which decision would not have to do with money? And a legislative for all of Germany
would not be possible at all, compared to many other European states. That is why we
are one of the few countries, whose constitution has been accepted not by the people
but only by the parliament. In Germany there was no vote neither for the introduction of
the Euro nor the expansion of the European Union towards eastern European
countries.
Now we will have a look at the participatory democracy in Germany. There is an area,
in which for long we in Germany have got considerable opportunities and positive
experiences. I am talking about the building planning. The statute book for the building
society says clearly: “As soon as possible, the citizens need to be told about the
general aims and purposes of the planning, possible differing solutions, which can be
considered regarding the reorganisation or development of an area, as well as the
possible consequences of the planning; they need to be given full opportunity for
expressing and discussing their view… Points can be expressed within a certain period
of time and have to be checked trough; and the result has to be reported.” (statute book
for the building society) Hence, this is a forcing rule. Everybody has got the chance
saying their opinion and the administration has to look through these opinions, prove
and test them against other different opinions and interests and explain their decision in
a written way. Thus, the citizen can participate and influence an important part of life. In
the correct way, however, there are sometimes seen problems. For example, it is not
arranged how those plans are laid out, how easy it is to reach them, where they are laid
out. It can happen of course that the interested citizen sits in front of meter-long piled-
up files without a chance gasping the main importance and the problems of the content.
That is why citizens are often very frustrated, because in comparison the opinion of a
big investor or the administration counts much more than their objection. Hence, here
much improvement is still needed.
3
A further point of establishment for the participation of the citizens on budget-related
questions exists in the so-called social reports. In all areas we find the different reports,
children-and youth reports, health reports, poverty reports, sometimes wealth reports.
Most often it is about big data grave yards, which are being used by the politicians
according to their various arguments. The social reports offer a big advantage. They
deliver important information over the social situation. Only these allow statements if
certain budget means are appropriate or not. With the help of the so-called budget
analysis the consequences of certain budget decisions onto certain living situations
could be documented, for instance for children, for the equality of the sexes or for the
nature. This allowed a better understanding of the budget instead of just a simple
representation of figures for receiving and spending. With this better understanding, the
citizen got more chances getting involved. Unfortunately, as far as I know, the existing
political instrument for the social reports in Germany is until now not being used for the
representation of the budgets.
With this I reached the main point of my report, the participatory or citizen budget in
Germany. As already mentioned, everybody can look into the budget in public. Also, via
the parliamentary parties he can try to take influence into the decisions of the
parliament. Often the parliaments themselves offer discussions to certain parts of the
budget. However, all this is not valid for the participatory or citizen budget. The question
is, how far can the citizen take influence into the creation and arrangement of the
budget.
The furthest development can be seen in the federal state Nordrhein-Westfalen. There,
at the end of the year 2000 the interior ministry in cooperation with the Bertelsmann
Foundation initiated the model event “Communal citizen budget” in which six
communities take part on. “The aim of the project is to inform every citizen better about
the budget of their community and to promote a stronger citizen participation on the
developments and happenings of the budget.” (www.buergerhaushalt.de). The project
is composed of three parts. The first part deals with the information over the budget. “In
this step the towns inform their inhabitants over their budget, but in a form that is
understandable not only for the expert but for everybody. Where does their money
come from? What is it spend on? How is the financial situation like? Which
opportunities for negotiating exist?” (dito). The second part is concerned with the citizen
4
participation on the budget. “The citizen participation is the ‘heart’ of the project. The
cities will offer their inhabitants the opportunity to express their opinion to all their
questions about the budget and to make suggestions and proposals…The decision
over the suggestions and the budget remain with the council” (dito). The third part is
concerned with the proving of what has been done. “After the budget has been agreed,
the towns have to explain to their inhabitants what had happened with their
suggestions, how the council had decided and why it had made this decision” (dito). As
an aim of this model it is given: “Our aim is, to improve the understanding as well as the
engagement of the citizens in order to prepare the foundation for one of the most
important directional changes of their towns” (dito).
Let us have a closer look at the single models in some of the participating communes.
The most interesting procedure is maybe the one in the city of Emsdetten. There the
mayor views the project as his project, which is according to all experiences a very
important assumption. The administration has presented understandably and obviously
the budget as a sort of brochure or in the internet. The citizens have got countless
possibilities taking part on the consultations, for instance via questionnaires, internet or
in a citizen forum. Additionally, around 2000 citizen chosen by chance according to
demographic viewpoints have been invited. 90 citizen registered themselves, 76
actually came.
The debate dealt with six different possibilities to balance the budget:
The largest number of citizens decided for the selling of buildings. The council, the
communal parliament there, mainly followed this proposal.
The city of Hamm in Westfalen with 185.000 inhabitants set up its first citizen budget for
2003/2004. Therefore, 50.000 homes received appropriate brochures. Also, the citizens
5
have been asked for their main concerns, problems, questions etc. This questioning
showed that the streets and cycle ways were most important to most people. A citizen
forum and a questionnaire action also deal with this problem later on. Thus, the people
could point out a problematic topic first and then discuss their suggestions for the
appointed area. Then the council decided a part of the proposed methods and offered
the needed means. However, due to the lack of money, most of the from the citizen
given proposals had to be rejected. Most probably a frustrating event for all of the
participants. In my view, this procedure has to be changed in a way that all interested
people get to know the available amount of money and thus the possible steps at the
first place.
With the help of students, a very visual way explaining people the budget has been
done in the city of Hilden. In February 2003 the citizens were invited to an giant
Monopoly game, HILDOPOLY. The rules for the game where the following: Every field
of HILDOPOLY represented a part or service of the city of Hilden. Staff working in the
departments of the city council had to give answers to every question. The citizens
could ask and give proposals. Also, the city offered a “Budget Tour”, a bus tour, on
which interested people could ask about certain plans and events. So far, the model in
Hilden was limited on a better understanding about what the city spends people’s
money on, and on the collecting of suggestions for changes and amendments.
All of these models differ significantly from the procedure in Porto Alegre, in which the
citizens discuss the entire budget and formulate the priorities for the layout of the
budget, in which the suggestions of the citizens are very obligatory and the method of
the citizen participation is discussed and varied.
Who knows a bit about politics in Germany, is asking anyway, why precisely the interior
ministry of Nordrhein-Westfalen and the Bertelsmann Foundation put so much effort
into the citizen budget. So far both, however, did not really strike through a remarkable
basic democratic engagement. One can get a possible answer by looking at the budget
situation in the German communes. For a long time the revenues do not cover the
necessary expenditures anymore. Even apparently wealthy communes such as Munich
are in sever debt. Poorer communes even have to sell some of their best properties in
order to “survive”. Almost all communes had to take on credits, which they do not know
6
if and how to pay back. Almost none without a budget security concept that at least acts
as if there could be a balanced budget again in ten years time.
Despite the hope of objective, expertise decisions and the bigger acceptance of the
made decisions through the participation of the citizens, the next and most important
question, which the mentioned model trial should explain, is how do I show and explain
the budget situation to a citizen without making him angry or ‘run away’. Almost with
relief one of the first model result analysis says: ”The concern that for a proper citizen
participation on the budget financial play rooms are necessary has not become true.
Some project communes are being watched by a budget security concept. Especially
here it has been proved that the proposals and concerns of the citizens have been
done in a cost conscious way. The understanding for the necessity to safe exists. Also,
there is the willingness of the people to even renounce for their own disadvantage upon
public accomplishments”. The on the project participating 80.000 people housing town
Castrop-Rauxel, whose constant expenditures also could not been covered by the
revenues any longer, asked their citizens for suggestions to safe. The mentioned citizen
forum in the town of Emsdetten offered all “participants the opportunity to take part in
the involvement and discussion regarding the balance of the entire budget.” “The goal
was closing a financial gap of 2.8 Mio Euro. The aim of the citizen forum was to offer a
proposal to the council that would be able to close this financial gap” (2. Middle Report).
In the city of Rheinstetten the question is also about the citizen budget: “Should
Rheinstetten be in favour of the rise of the revenues or the reduction of voluntary
service?”
Hence, the question is not as in Porto Alegre the participation on budget decisions or at
least the consultations regarding the budget, but the acceptance of reductions, it is
about the participation on the administration of the increasingly larger becoming
shortage. At the end of the day the model is not about stopping the appearance of critic
and protest regarding the shortage by giving the citizens the feeling of taking part in the
shortages. That is why it is – in contrast to Porto Alegre – not about actual decisions of
the people but about their questioning. Logically, the middle reports have changed the
phrase “participation of the citizens” correctly into “the consultation of the citizens”. The
model project initiated by the Bertelsmann Foundation is thus a so called conservative
variant of the “Orçamento Participativo” of Porto Alegre. Strangely, it follows completely
the already mentioned model of the GDR, participation yes, but the basic conditions for
the participation remain absolutely untouchable. As seen then in the GDR, the citizen
7
should help managing the shortage and not think about the shortage. Somebody might
recognise that in this country, nevertheless one of the richest countries in this world,
some become wealthier and faster wealthy, and that thus there is no money in the
public tills any longer.
This is not a criticise the honest engagement the participating communal councils and
citizens. I also think the form of participation is a progress, since participation of the
citizen on the shortage management is still better than a shortage management without
their agreement. Within the communal field there does not exist any play room that
could question the basic neoliberal concept. I just want to point out that one should
always remember the involvement of the citizens into neoliberal concepts.
Finally, we will dare a little view into the future. One has to stress the German capital
Berlin, which is federal state and commune at the same time. There initiatives are most
often organised by the citizens of the city. In two groups of initiatives they try to support
the idea. Slowly, politics prepares itself for this. Two factors contributed to this largely.
First of all Berlin is bankrupt as no other federal state and even those are not well. In
Berlin nothing works without the help from outside, thus the federation anymore. It
seems that in such absolute emergency situations politics is willed easier going
different, unusual routes even going in compromises. At least all educational
associations close to the parties have already talked to each other and have organised
a joint event regarding this topic. This is even more remarkable considering I do not
know about a second joint event of the educational associations close to the parties
SPD, CDU, FDP, Gruene and PDS.
The second factor is the government participation of the left wing party PDS in single
city districts and in the federal parliament, the parliament of Berlin. Although it has got
some difficulties with the citizen budget it principally supports this idea. It has included
the citizen budget as a demand in the their new party programme. In Berlin it will make
participation as one of their brands. In some city districts of Berlin the city councils with
influence of the PDS start municipals that deal with this topic. Even in my own federal
state Brandenburg enclosing Berlin, first developments are visible. For instance, as the
first and so far only commune in Brandenburg the federal capital Potsdam has decided
to introduce “elements of a citizen budget” for the budget of the year 2005. In other
8
cities more or less intensive discussions are held about the possibilities of a bigger
citizen participation on the budget. The Rosa Luxemburg Foundation Brandenburg is
supporting this development by their own internet site. Also, we are working on a
budget analysis, which should test what effects the new federal budget has on children
of the age to 12.
However, back to the Berlin initiatives “from below”. These initiatives have defined their
measures for a participation procedure on the budget and presented to the politics.
According to those measures differences and common characteristics of the model
trials between the Bertelsmann Foundation and the interior ministry of Nordrhein-
Westfalen become clear:
– Citizens should take part on political decisions already before the base line of the
decision has been fixed.
– The composition of the citizens should be balanced or in other words for the
population representative (no dominance of the “activists”).
– Low level opportunities for the participation should been offered (no long ways, less
time effort, no commitment to continuous involvement, no “dictatorship of the
sitting”).
– In a dialogue like procedure different suggestions have to be analysed by the
participating people and multiply voted solutions to be looked for.
– The expertise knowledge of the citizens should be used, but further needed
expertise been offered (by experts, administration and interest groups).
– At the beginning of the procedure one should agree under which conditions and in
which degree citizen proposals are given political binding for the final decision (for
example if in case of a rejection an explanation has follow).
– Groups with a weak articulation should be supported by the procedure.
9
All in all I can say: A not even similar ripe and far reaching procedure as in Porto Alegre
does so far exist in Germany. But slowly, very slowly the citizen participation on the
budget develops even in my country. Very certainly the citizen or participatory budget
remains an exiting topic and will most probably not be removed from the agenda.
10
IV Fórum Social Mundial, Mumbai, 16 a 21 de janeiro de 2004
A segunda dimensão do contrato social tem a ver com o que se faz com as
pessoas que não estão empregadas. Esta, é claro, é a parte do contrato
que trata da seguridade social e dos serviços sociais.
1
a criação de infra-estrutura. Alguns designam esta dimensão do contrato
como Bem-estar Social, outros preferem denominá-la de reparação pelo
colonialismo e para uma globalização inclusiva.
Gita Sen destaca que estas três dimensões do contrato social são gravemente
rebaixadas em termos de eqüidade de gênero. No que se refere à relação
empregado-empregador, o contrato com os trabalhadores nunca incluiu todos os
trabalhadores. Foi tipicamente um contrato que esteve dirigido aos trabalhadores
homens e somente àqueles que estivessem na situação principal de receber seu
salário e sustentar uma família, uma esposa “não trabalhadora” e seus filhos. Isto
significa que as mulheres foram colocadas em segundo plano e posição no
mercado de trabalho.
Neste ponto há que se enfrentar o fato de que tudo o que está estabelecido nos
contratos sociais é resultado de muitos esforços e lutas. Nada é dado pelo
Estado, mas sim conquistado. A natureza destes contratos está diretamente
vinculada às relações estabelecidas entre o Estado, o povo e as instituições como
os mercados. Portanto, se as pautas em discussão, se os termos da disputa entre
as partes não conferiram prioridade à reprodução da vida social, não se
orientaram pela eqüidade de gênero, tanto quanto pelo direito a um salário
mínimo decente, aqueles elementos, inevitavelmente, ficaram de fora do contrato,
ou presentes de maneira muito precária.
2
entendimento, será possível levantar questões que nunca puderam ser suscitadas
antes, sob a vigência dos contratos sociais prévios. Questões sobre a justiça de
gênero, sobre os direitos das pessoas que foram marginalizadas e que tiveram
seus direitos negados sob os contratos anteriores têm de ser considerados
direitos fundamentais na nova definição do que seja uma vida decente.
Neste sentido, Gita Sen destaca especialmente dois aspectos: o primeiro deles
trata do papel decisivo das alianças políticas para a redefinição do que seja uma
vida decente, sobre bases mais abrangentes e fundadas no respeito aos direitos
humanos universais. A forma como se constituem e os princípios que orientam as
alianças políticas nesta disputa em torno da resignificação do que seja uma vida
decente são de fundamental importância. O tipo de amálgama político capaz de
promover mudanças paradigmáticas é qualitativamente diferente daquele que se
produz em conjunturas específicas para o apoio a uma ou outra causa. Por
exemplo, os atores políticos envolvidos em determinadas ações de combate à
pobreza ou esforços pelo cancelamento da dívida não necessariamente
reconhecem a eqüidade de gênero ou os direitos das minorias sexuais. Ou seja,
aqueles que em determinadas circunstâncias podem estar do mesmo lado numa
arena política, podem ser incapazes de promover juntos mudanças estruturais,
porque neste ponto se trata de ter mais do que questões em comum: é preciso
comungar dos mesmos princípios.
O segundo aspecto que Gita destaca em torno da definição do que seja uma vida
decente é, em verdade, uma crítica ao marco teórico de atendimento das
necessidades básicas de consumo como elemento definidor do que seja uma vida
decente. O problema da fome na Índia, por exemplo, implica a violação de vários
direitos humanos além do direito à comida. O atendimento desta necessidade
básica não se dará pela simples garantia de uma cesta de alimentos. Há muito
mais envolvido. A fome vem acompanhada de humilhação, muitas vezes de
violência doméstica, de cerceamento do direito à educação, de violação dos
direitos da criança, entre várias outras privações. Visto por outro lado, o simples
direito à comida, a não passar fome, contem inúmeros ingredientes: questões de
subordinação de gênero, hierarquia de castas, de pobreza, entre outros
elementos que são fundamentais e que devem ser compreendidos e
reconhecidos. Não se pode falar de necessidades básicas e serviços básicos que
desconsiderem estas dimensões, como dimensões prioritárias.
Um exemplo final: vários estudos realizados na Índia indicam que uma das causas
de mobilidade social descendente, que leva famílias inteiras a situações
gravíssimas de pobreza, deve-se a enfermidade de algum membro da família. O
3
fenômeno decorre dos elevados custos da saúde, em especial dos
medicamentos. Mais do que a atenção médica, neste caso, a possibilidade de não
empobrecer e de levar uma vida decente vincula-se a uma ordem internacional
mais justa, ou seja, regras justas para o comércio internacional de medicamentos.
4
IV World Social Forum, Mumbai, 16 -21 January 2004
Project: Ibase
Partners: ActionAid Brasil, Attac Brasil e Rosa Luxemburgo Foundation
Public goods
Ulla Lötzer
Last month the European Commission and the European ministerial conference
presented a paper to the WTO council and the European parliament reviving the
negotiations after the breakdown in Cancun. The result: Hardly any alterations to the
positions at Cancun can be found.
Especially they decided: the service negotiations on GATS are key priority for the
European countries. Only one actual point that shows again: the topic “public goods” is
of paramount political importance to be able to intervene in the globalization process.
Therefore the scientific advisory board of Attac Germany, the NGO WEED an the Rosa
Luxemburg foundation started a project on this topic last summer.
One part of this is to set up a mailing list on this topic, to stimulate the exchange
process between scientists, social movements and politicians. As many people as
possible are invited to participate.
Although there are many individual case studies on privatization, there is no systematic
incorporation on it and the international debate on the definition, provision and financing
public goods, especially “global public goods” is in its infancy. This is why second part
of the project is to evaluate the effects of privatization of public goods on the living
1
condition of people.
We started this process with a study on the effects of liberalization and privatization in
the European union. The reasons for this starting point were: firstly, the basis of he role
of the European union in the disputes on liberalization and privatization in the
developing countries is the process of privatization and their effects in the European
countries itself; secondly, to define the united common interests between people in
industrial countries and developing countries in this affairs.
Let me tell you only some of the first results of the evaluation in an overview. Since the
end of the 80s, a wave of liberalization and privatization has overwhelmed the
European states, somewhat later than in the US or Great Britain, where the “neoliberal
counter revolution“ had already begun in the mid of the 80s an in the southern
European countries in the 80s by structural adjustment programs of the IMF and the
world bank.
A driving force of privatization was the European market integration, which established
the framework for market liberalization, which started with telecommunication, railways
and other public transportation systems, the postal system and energy.
At the same time the states lost income for taxes, the state debts greatly increased and
the public budgets had come under strong pressure by continued tax reductions. So
they started to privatize the public enterprises, taking forms of contracting out, public
private partnership models or cross-border-leasing arrangements of great varieties.50%
of the worldwide turnovers in privatization in 1998 were results of sales of European
public assets. The arguments to justify privatization relate to greater internal and
external efficiency, better provision for goods and services at lower prices and with less
bureaucracy as a result of more competition. But experience does not confirm this
claims but mostly displays the opposite.
2
monopolies are replaced by private monopolies with European dimension. The former
public enterprises in the telecommunication sector for example remain the greatest
supplier in the telecommunication market and have a share in other European
companies or joint ventures with other European companies. In the electricity markets
the companies have insisted on vertical integration of generation and distribution with
the result that 6 or 7 companies dominate the market.
This concentration is happening in a number of sectors, not only electricity. There are
now four large companies, each which sales of Euros 30 billion or more, which are
dominating the sectors electricity, waste and water, Suez, Vivendi, RWE and EON.
Liberalization led to price reduction for business customers in the electricity sector,
domestic customers however have not seen such sharp falls in prices, many remained
unchanged or even risen after a short period of transition.
Transparency, public regulation and control has proved to be unable. For example in
the privatized water concessions of France. In a 1997 report they stated: “the lack of
supervision and control of delegated public services, aggravated by the lack of
transparency of this form of management has led to abuses.“ And all forms of
privatization able created formidable windows of opportunities for widespread
corruption.
There is a second wave off privatization: the social security systems, health, culture and
the education sector.
In those sectors the reforms are taken autonomously by the Member States, and the
European ministerial Conferences and the commission lay the ground for coordination
of the national policies.
And at least the privatization of knowledge. The trade in research intensive goods was
1998 51 percent of the exports of the industrialized countries. Patents are the key in the
international competition between the industrialized countries. And so the European
3
union too began in the 80s the process to widen patens on nature, plants, animals and
genes. The European regulations surpass the regulations in Trips in every point.
As a general conclusion we can say: the results are negative in Europe too. It led to
increasing inequality and social polarization, unemployment and deterioration of living
and working conditions.
On the other hand it led to great multinationals in these sectors with undemocratic
power and great profits.
Third part of the project will be to elaborate and concretize the concept of public goods
on a global, regional and national level:
In the traditional economic discourse, defining the Public good has been first and for
most a technical issue decides above all by the criteria of non-rivalry and non-
exclusiveness. However, there are on lay al few goods the nature of which
distinguishes them as pure public goods.
We think it always bears a political and normative component. “A public good is one
that the public decides to treat as a public good.“ (Malkin and Wildavsky, 1998)
What a society deems to be a public good depends on the respective historical context
and may change. So it will be an important part of the concept to look for democratic
regulations to decide on public goods.
The set-up of public goods needs financial resources and therefore a continuous and
stable flow from the private to the public sector. The policy of competitive tax reduction
undermine the viability of the public sector and must therefore be terminated.
4
Fórum da Sociedade Civil na Unctad, em São Paulo,
14, 15 e 16 de junho de 2004
Jurema Werneck 1
As respostas que têm sido dadas para esta pergunta tendem a ser
inconclusivas ou evasivas até. Exemplos de falência de princípios
norteadores da organização do mundo e das relações entre países e povos,
são oferecidos tantos pelas nações centrais do sistema capitalista (o
ocidente) quanto por suas vítimas – as nações periféricas (os des-ocidentais,
como definiu Edward Said em sua obra O Orientalismo. ) Note- se que tais
princípios foram definidos pelas sociedades ocidentais ainda sob os
escombros e sob o trauma do pós II Guerra Mundial. E sustentaram a criação
da Organização das Nações Unidas e os esforços empreendidos por diversos
estados e organizações da sociedade civil em nome da paz e do
enfrentamento das injustiças.
A vitória do capitalismo real sobre o socialismo real e suas inconsistências
abriu espaço para um capitalismo livre de regulações que se poderia definir
como morais e políticas. Livre destes limites, a experiência capitalista se
espraia, se radicaliza no neoliberalismo mundializado, num sistema único de
produção de riquezas e destruição – bem como de produção de
significações. Suas faces são: o paroxismo individualista; o reforço à
concentração de riqueza e do pensamento; a destituição de sistemas
tradicionais de produção de trabalho; e a aceleração dos mecanismos de
produção e manutenção das desigualdades. Há que se chamar atenção que o
seu fundamento principal é a disseminação do paradigma ocidental sobre o
resto do mundo, anulando ou destruindo diferenças e singularidades.
2Aqui é preciso reconhecer ação bem sucedida dos movimentos organizados que foram
capazes de hegemonizar suas reivindicações e propostas, ainda que subordinadas aos
paradigmas do ocidente.
3- É possível um capitalismo anti-racista? Ou: de que modo um sistema
político pode disponibilizar as condições necessárias à dignidade e
subsistência de diferentes populações?
3
Sabemos que a interconexão das relações raciais e sociais na esfera capitalista impedem o
isolamento de segmentos ricos ou pobres, uma vez que é a destituição de uns que vai
produzir o privilégio de outros. Daí que a denominação de excluído seria apenas um
eufemismo para indicar os segmentos atingidos pela super- exploração, expropriação e
aniquilamento.
produção material e simbólica, quanto das relação interpessoais e
intergrupais.
4
Ainda em épocas coloniais a região da América Latina e Caribe assistiu ao fenômeno da
revolução no Haiti, fortemente influenciada pela revolução francesa e seus princípios de
igualdade, fraternidade e liberdade (Ver: Os Jacobinos Negros) . Estes princípios, eles vieram
a descobrir – e a história tem tornado evidente até os dias de hoje - não se aplicavam à
população negra num forte contexto racista que dominam as relações entre povos e estados
e que fundamentam a dominação de origem eurocêntrica e/ou branca .
5 Aqui, fruto da
soma entre africanos/negros equivalentes a 79% e coloureds, 9%.
adequados a qualquer afirmação de mudança profunda e radical do
cotidiano da população 6 .
6 Ver Gelb, Stephen. Inequality in South Africa: Nature, causes and responses, 2003
maioria – é um traço marcante e comum. Ao mesmo tempo que a
agressividade das iniciativas neoliberais não foram suficientes para a
derrubada do apoio popular a estes governantes. É fato que à exceção
somente de Alejandro Toledo, que enfrenta baixos índices de aprovação
neste momento.
7 Esta noção de híbrido aproxima- se daquela posta por Nestor Garcia Canclini, considera o
processo de encontro e mistura marcados pela fricção, pelo atrito, ou seja, incorporando a
dimensão de conflito inerente ao encontro de diferenças.
8 Em referência à esquerda tradicional aqui definida como central.
9 Oliveira, Francisco de. Crítica à Razão Dualista/ O Ornitorrinco. São Paulo, Boitempo Editorial,
2003
Para o autor, o ornitorrinco seria a metáfora do Brasil, visto como híbrido
inconcluso, esdrúxulo e o improvável realizado. Nesta metáfora, a
singularidade brasileira ancora- se num sistema econômico formado por
setores avançados e padrões compatíveis com nações capitalistas bem
sucedidas, inclusive quanto ao patamar de democracia; sem no entanto ter
produzido os mesmos resultados de bem estar e ainda vivenciar fragilidades
no que se refere à dívida interna e aos processo de inovação tecnológica, por
exemplo.
10Como nos lembra Mohamed El Hajji, este evolucionismo foi tomado emprestado de Herbert
Spencer e é compatível com as idéias de Gobineu, em especial sua teoria de “desigualdade
das raças humanas” divulgadas em 1853.
Marx e Darwin: a periferia capitalista finalmente os uniu. Marx, que esperava
tanto a aprovação de Darwin, que não teve tempo para ler O capital. Não foi
aqui, nas Galápagos, que Darwin teve o seu “estalo de Vieira”?11
E será que foi mesmo este, o primeiro encontro dos dois pensadores
brancos europeus para a produção de modelos explicativos do que se passa
com o resto do mundo?
7- Qual o modelo?
Começo por uma perspectiva que é básica: não é possível falar em matriz
africana ou afrobrasileira no singular. Por traz da classificação de lingüistas
europeus de povos bantos e iorubas, sabemos que se tratava de centenas de
povos diferentes à época da penetração violenta de europeus no continente
africano. Diferentes línguas, diferentes sistemas de crenças, diferentes
formas de ordenar o mundo nos propiciaram uma forma que talvez seja
chamada de pluralista de ver o mundo. A partir daí não é possível definir um
centro, um modelo, um pensamento único.
8- Referências Bibliográficas:
Francisco de Oliveira
Sociólogo
Boa tarde. Neste fim de tarde, começo da noite fria de São Paulo, muito
obrigado ao Ibase, aos meus velhos amigos do Ibase e das outras
organizações, o Attac e a Fundação Rosa Luxemburgo pelo convite para
estar aqui hoje.Devo citar especialmente o Ivo Lesbaupin, que me fez o
convite, pessoalmente. E a ele fico devendo muitas coisas, inclusive um
texto. A pergunta é: por quê reinventar a política? É porque, numa definição
muito polêmica, a política é a reivindicação da parte dos que não têm parte.
Esta é uma definição de Jacques Rancière, um filósofo francês em seu
pequeno e magnífico O Desentendimento. Isto é, se faz política quando,
para dizer da forma mais simples, quando se reivindica o que não é nosso
pelo sistema de direitos dominantes, e se cria um campo de contestação.É
o que o MST faz, por exemplo. Rancière chama as manobras cotidianas da
política de “política policial” para distinguir entre as rupturas e a criação de
um campo de disputas e o movimento comum da atividade política. E,
como estamos e ainda estaremos por muito tempo, até onde a vista
alcança, numa sociedade em que os que não têm parte são a maior
parte,então é preciso fazer política. Por quê? Porque o sistema capitalista é
fortemente concentrador de riquezas, de recursos e também concentrou a
1
política. E a política apareceu, num sistema de propriedade privada, como
a invenção capaz de corrigir, senão totalmente, pelo menos parcialmente,
em algumas questões muito importantes, a assimetria de poderes que o
sistema capitalista cria no seu movimento. O sistema fortemente privatista,
concentrador em todos os sentidos, do qual não se pode esperar
automaticamente da sua dinâmica, nenhuma distribuição ou redistribuição
da riqueza e do poder. Mesmo os casos mais bem sucedidos em que o
sistema capitalista chegou a níveis de, eu não diria de igualdade, mas a
níveis de desigualdade toleráveis, é uma ilusão pensar que isso se deu
automaticamente. Na história da Europa Ocidental foram as instituições
que se chamou do Estado do Bem-Estar que conseguiram produzir os
níveis menores de desigualdade. Mesmo na tradição americana, que é tida
como a mais liberal, é uma ilusão pensar que foram os mecanismos de
mercado. Foi aí, precisamente na Grande Depressão que surgiram com
maior força elementos também do Estado do Bem-Estar, que a retórica
liberal norte-americana oculta como tendo sido de iniciativa estatal.
Seria longo alinhar as razões pelas quais foi pela política e não pelos
automatismos de mercado que se conseguiu reduzir os níveis de
desigualdade nas experiências mais exitosas da democracia
representativa. Mesmo na sua periferia e, sobretudo, falando da periferia
latino-americana, embora nunca se tenha chegado a nenhum Estado do
Bem-Estar - os nossos se parecem muito mais com o Estado do Mal-Estar
– percebe-se pela narração da experiência mexicana - na palavra aqui do
companheiro Victor Quintana - como a pretensa instalação de
automatismos de mercado elevou, de novo, os níveis de desigualdade
mexicana a patamares que os mexicanos não conheciam há mais de 50
anos. Mesmo que o Estado criado pela revolução mexicana tenha sido
eivado de um forte componente autoritário e carcomido por uma corrupção
talvez sem paralelo. Mas este estado que tem no governo o senhor Fox –
rapôsa em inglês, como sabemos -é pior do que a experiência mexicana
anterior, autoritária e corrupta. O caso brasileiro, que conhecemos mais,
confirma a experiência mexicana, assim como a argentina e a chilena.
2
classes dominadas. Irrelevante do ponto de vista de que as grandes
questões, as grandes decisões, passam por fora do sistema representativo
e não estão ao alcance das instituições que a democracia criou para
veicular esta reivindicação da parte dos que não têm parte. Qual é o caso
mais dramático entre nós que explicita essa irrelevância da política para as
classes dominantes na América Latina? Sem dúvida, O caso da
Venezuela, onde a burguesia venezuelana com seus aliados, com o apoio
norte-americano e da Espanha, fortemente insuflado pela mídia, operou
simplesmente a tomada do poder político pelo presidente da
FEDECÁMARAS, a superfederação das federações das
empresas.Reduziram o poder político ao poder econômico, anulando a
separação entre os campos dos dois poderes, que o próprio liberalismo
elevou ao estatuto de princípio fundamental. Isto mostrou a irrelevância da
política como método de ação dentro da sociedade capitalista.
3
que detém a mais longeva experiência democrática mundial, os gringos
com seu espírito pragmático se deram conta logo cedo que os mecanismos
da democracia representativa eram insuficientes para processar os novos
interesses criados pelo capitalismo mais dinâmico do planeta. Então
inventaram os lobbies que são uma forma, também institucionalizada,
reconhecida, de pressionar por fora do sistema representativo. Em outras
tradições paradoxalmente menos liberais e mais cínicas, como a da própria
Europa e as da periferia capitalista, os lobbies sequer são
institucionalizados; em certas práticas do capitalismo asiático, não há nem
necessidade de lobbies: as classes dominantes são donas do poder
político, como na experiência do Partido Democrático no Japão, por
exemplo.No Brasil, quem passeia pelos corredores do Congresso Nacional
logo reconhece os lobistas:todos têm cara de lobistas; Lombroso estava
certo. E estão não oficialmente, porque essa espécie de cinismo larvar das
nossas instituições não reconhece o que os americanos já reconheceram
faz mais de um século.
O que nos diz tudo isso? Diz que as formas da democracia representativa,
o principal lugar onde se exerce a política, são claramente suficientes para
processar os novos conflitos sociais, econômicos e de interesses, no
capitalismo globalizado. O que não quer dizer, absolutamente, que
devemos colocá-las de lado, mas quer dizer sim que é preciso acrescentar
às instituições da democracia representativa novas formas de fazer
política.Por quê? Porque ela tornou-se irrelevante para os que dominam e
inacessível para os que precisam fazer reivindicações, isto é, ação política.
Tomou-se conhecimento agora de uma pesquisa da Unesco, realizada em
vários paises da América Latina em que se perguntava aos cidadãos pelo
valor da democracia. A resposta foi surpreendentemente negativa. A maior
parte dos latino-americanos respondeu que talvez fosse preferível um
regime autoritário, desde que satisfizesse a certas demandas sociais. Aí é
que mora o perigo. Porque não está provado que regimes autoritários
satisfaçam melhor às necessidades da população que reivindica do que
regimes democráticos. A tragédia é que tampouco os regimes
democráticos estão satisfazendo.
4
Mas não nos apressemos a ver componentes atávicos de autoritarismos
nos nossos povos. Se se fizesse a pergunta a cidadãos dos países
desenvolvidos, iríamos encontrar algo muito parecido. Fazendo a pergunta
diretamente, provavelmente tem-se uma resposta positiva. Inverta-se a
pergunta: qual é a relevância da política para a sua vida cotidiana? Então
se obterá a resposta, nos países desenvolvidos, de que ela é irrelevante.
Desde os membros das classes dominantes, passando pelas classes
médias, pelos liberais e pelo operariado e trabalhadores de serviços,
responderão que a política é irrelevante mesmo.Onde está a resposta a
essa enquête que não foi feita? Nas eleições norte-americanas. Só 25%
dos eleitores escolhem o Presidente da República Norte Americana. Só
25%. Por quê? Como a eleição é de comparecimento voluntário, o grau de
abstenção nas eleições americanas é fantasticamente alto e o presidente é
eleito pela metade dos eleitores que comparecem. A França mostrou
também de outra maneira que a política pode se tornar irrelevante. Na
última eleição presidencial a esquerda considerou que no feriado eleitoral,
ela devia ir para a praia, mesmo que as praias francesas não sejam lá
grande coisa.E no primeiro turno deu Chirac e Le Pen. A opção francesa
ficou entre o pescoço e a guilhotina. A opção do mal menor, ou do menos
pior. Correram socialistas, toda a esquerda e os liberais – lugarzinho difícil
no espectro político francês - às urnas no segundo turno para votar em
Chirac, para evitar que a guilhotina se apoderasse da presidência da
república francesa, para decepar Marianne. O primeiro turno foi um outro
modo de ver que para o cidadão comum está fazendo pouca diferença a
política. Nos países desenvolvidos, isto é trágico.
5
“alcance de método” das classes dominadas.Elas estão, agora, no âmbito
de instituições supranacionais. Uma das quais, aliás, a mais fraca delas
que é a UNCTAD, que não tem nenhum poder decisório, está se reunindo
nas nossas costas, no Palácio das Convenções do Anhembi, às margens
desse desagrádavel Tietê. A UNCTAD é fraca porque não decide nada.
Mas os que decidem, como o Fundo Monetário Internacional, a
Organização Mundial do Comércio, o Banco Mundial, a Agência
Internacional de Energia Atômica, na verdade decidem as políticas dos
países mais fracos do sistema capitalista. Decidem nossas políticas.
6
outra forma, para alcançarmos o entendimento de qual é o desgaste que a
forma representativa e as formas da política estão sofrendo entre nós.
Para não falar das grandes empresas multinacionais que atuam nas
nossas economias.Este é um tema importante porque se pensa sempre,
sobretudo nós que trabalhamos nesses organismos que a gente chama
com a boca cheia de “sociedade civil”.A descoberta da “sociedade civil” foi
uma enorme novidade, preenhe de consequências, para uma tradição
estadolatra como a brasileira e, em geral, a latino-americana.E fora dessa
sociedade civil estão, na tradição de Gramsci, o estado e o mercado. Só
que a empresa privada por si mesma, é um ator político de primeira
grandeza. E, sobretudo devido ao seu tamanho.
7
temos muitos meios de anular essa intervenção da empresa na sociedade
civil e na política porque isto corre por dentro daquilo que se consome.
Então, são restrições desse tipo que terminam naquilo que minha amiga
Vera da Silva Telles, socióloga da USP e colaboradora do Polis e de várias
de nossas ONGs, chama com muita graça de “brincar de fazer casinha”.
Fazemos nossas organizações, tentamos mobilizar a sociedade para as
lutas, vocalizamos o que ainda não tem nome no léxico político e...? Nada.
Porque o que fazemos afeta muito pouco o poder das empresas, das
instituições supranacionais e das instituições estatais. É claro que contra
isso vem se reagindo. As grandes manifestações, como o companheiro
Victor Quintana conseguiu mostrar, têm uma certa capacidade de deter
medidas predadoras. Mas é pouco em relação ao poder que as empresas
têm no campo da política. Nós pensamos, geralmente, que o campo da
política é nosso e que o campo das empresas é o campo da economia.
Não é verdade. O campo da política é também um campo dominado pelas
empresas. Esse processo na periferia foi agravado, evidentemente, pelo
processo de globalização. É um conjunto de fenômenos que vem erodindo
o campo da política. O campo onde os cidadãos decidem sobre sua
república, sobre sua democracia, sobre seu estado.
8
que era competição entre trabalhadores chega, através desses processos,
a níveis quase inacreditáveis. E tudo se faz em ambientes que são cleans,
limpos. Este hotel perde de longe para qualquer fábrica, por exemplo, de
fármacos. É uma espécie de opressão limpa. Operários e sobretudo
operárias são jogados na competição mais desapiedada. E as instituições
de classes criadas para corrigir essa assimetria são inteiramente
escanteadas. Isso está passando para a subjetividade de trabalhadoras e
trabalhadores.Produzindo o que Grammsci chamava hegemonia. Está
construindo uma nova forma de pensar, de ver o seu trabalho, de ver a
relação com o outro. Este é o dado, provavelmente, mais poderoso desse
processo.
9
tivéssemos que reinventar os clubes jacobinos. E vamos ter que reinventá-
los. Para criar um novo espaço de conflito, um novo espaço capaz de dizer
aquilo que o sistema representativo já não tem capacidade de dizer porque
ele foi completamente absorvido. Ele é irrelevante. O Fábio Comparato
que é uma espécie de santo, tem uma proposta de uma confederação
geral de ONGs, associações civis e políticas,associações populares, para
formar um contra-poder.Nós não queremos que ele morra, quanto mais ele
durar melhor,mas quando ele morrer, será santo certamente, junto com
Paul Singer.
10
da capacidade de reivindicar e de corrigir as assimetrias de poder
existentes numa sociedade como essa.
11
para dizer a quem estiver de plantão no governo: “Você que inventou a
maldade/ faça-me o favor de desinventá-la”.
12
Fórum da Sociedade Civil na Unctad, em São Paulo,
14, 15 e 16 de junho de 2004
Introduccion
1
- Logran que el Gobierno Federal firme el Acuerdo Nacional para el
Campo, a fines de abril de 2003, con 242 items que cubren casi
todos los aspectos de la vida rural.
- Logran detener la importación de maíz blanco y de frijol y que se
respeten los cupos pactados y los aranceles contemplados en el
Tratado de Libre Comercio de América del Norte. (TLCAN),
- Influyen para que el Gobierno de México se sume al Grupo de los
20 (luego Grupo de los 22), ante la Ronda Cancún de la
Organización Mundial del Comercio (OMC):
- Vuelven a obtener un incremento sustancial en el rubro de
desarrollo productivo del Presupuesto de Egresos de la Federación
para 2004, por un monto de 10 mil millones de pesos (alrededor
de 900 millones de dólares).
2
favor del sector industrial, la agricultura mexicana conoció tasas de
crecimiento anuales que ya quisiera el presidente Fox para engalanar sus
mejores promesas, hasta un 7% anual.
3
El hambre se junta con las ganas de comer. Porque las medidas de ajuste
de la economía impuestas por el trío anterior son bien recibidas por la
generación de tecnócratas educados en las universidades norteamericanas
precisamente para que aplicaran estas políticas de ajuste. Así, desde 1982,
se liberan los precios de los insumos agrícolas: energéticos, fertilizantes,
maquinaria. Se controlan los precios de garantía y se empieza a reducir la
inversión y el gasto gubernamentales en apoyos, extensión e investigación
agrícolas. Al mismo tiempo, comienza a abrirse la economía nacional a las
importaciones agroalimentarias del extranjero con el ingreso de México al
GATT en 1986. Esta es la primera generación de medidas de ajuste
estructural en el campo.
Salinas continúa reduciendo los apoyos al campo a la vez que controla los
precios de garantía y reduce el número de productos que cuentan con
ellos. Pero su estrategia hacia el campo se centra en dos políticas:
privatización de la propiedad agraria y negociación de un tratado de libre
comercio con los Estados Unidos.
4
el uno por ciento de la inversión extranjera directa que llega a México se
dirige hacia la agricultura.
5
nuestras importaciones se dispararon a 7,415 millones de dólares y
nuestras exportaciones a 5.267 millones. En este lapso, nuestra balanza
agroalimentaria que tenía un superávit de 581 millones de dólares se tornó
3
deficitaria en 2,148 millones.
Todo esto ha empobrecido aun más a los habitantes del campo mexicano.
De los 8.2 millones de mexicanos que trabajan en él la mayoría está en
pobreza extrema, según la Sedesol. En 1992, el 35- 6% de la población
rural estaba en pobreza alimentaria, hoy, el 52.4%. En 1992, el 41.8%
estaba en pobreza de capacidades, ahora el 50%. (Reforma, 16 de octubre
3 Quintana Vìctor, Por qué el campo no aguanta más, Cuadernos de Investigación de la UACJ,
2002.
4 Idem.
5 Idem.
6 Idem.
6
de 2002). El propio Banco Mundial reconoce que los índices actuales de
indigencia en el agro nacional superan los prevalecientes hace una
década. 7
7 Idem.
8 Idem.
7
internacionales, se realizan bloqueos de carreteras. Se organizan marchas y
plantones con la consigna unánime: “No al ALCA”:
9
SAGARPA: Acciones de política agroalimentaria y pesquera para el fortalecimiento sectorial, 16
de agosto de 2002, (fotocopias).
8
agroalimentarias básicas. Asimismo, se damanda que el Congreso de la
Unión instruya al Ejecutivo que inicie un proceso de renegociación del
apartado agropecuario del TLCAN.
9
Además, es necesario que ese presupuesto no sea ajustado más que por
el Congreso de la Unión y que su orientación básica sea para impulsar y
fortalecer la producciòn agroalientaria para el mercado interno.
Cfr. Seis propuestas para la salvación y revalorización del campo mexicano, (fotocopias),
10
10
se suma el Consejo Agrario Permanente (CAP), instancia en la que
participan otras 12 organizaciones. Acuden sólo los legisladores del PRI y
del PRD y se comprometen a apoyar las propuestas del movimiento.
Los actos del día tres causan un gran impacto en la opinión pública y
logran colocar el tema del campo en primer plano de la agenda política
nacional. Esto permite que algunos representantes de El campo no aguanta
más empiecen a cabildear en la Cámara de Senadores una propuesta. Se
trata de que, en lugar de eliminar la mayorìa de los aranceles y cuotas a las
importaciones agroalimentarias a partir del 1 de enero de 2003, se
restablezcan los vigentes hasta el 31 de diciembre de 1993, es decir, hasta
antes de la vigencia del TLCAN. Senadores de las tres principales
formaciones partidarias se muestran interesados y hacen una
contrapropuesta: congelar durante todo 2003 los aranceles y cuotas de
2002, ya que los Estados Unidos no permitirían volver a los términos pre-
TLCAN.
11
El 10 de diciembre un nutrido contingente de El Barzón y de la UNTA se
hace presente en el Palacio Legislativo de San Lázaro demandando también
la moratoria al TLCAN en materia agropecuaria y el incremento
presupuestal para el campo. Al converger la manifestación campesina con
otra de trabajadores de la educación se crea la confusión, se derriba una
de las puertas del Palacio Legislativo y se dañan algunos muebles. El pleno
de la Cámara de Diputados rechaza el acto y se atribuye la autoría
intelectual del mismo al dirigente barzonista Alfonso Ramírez Cuéllar.
Luego se inician acciones penales en contra de él.
12
su decisión de plantarse en los puentes internacionales de la frontera de
México con los Estados Unidos.
13
del FDC, para que se presente a declarar por la denuncia de “ataques a las
vías generales de comunicación”.
14
problemática del campo, con la organización conjunta del propio gobierno
federal y las organizaciones campesinas.
“Los resultados de este tratado (TLCAN) han sido benéficos para algunas
regiones y algunos productores del país, pero la mayoría de los
productores, pequeños productores, campesinos e indígenas han visto
seriamente deteriorada su actividad económica y su calidad de vida. Como
ejemplo de los sectores beneficiados están los productores de legumbres,
hortalizas y frutasles, quienes tuvieron la oportunidad de aprovechar las
ventajas del Tratado. Sin embargo, otros, como los productores de granos
y carne se han visto afectados negativamente. Cabe destacar que mientras
los primeros se cuentan en decenas de miles, los segundos ascienden a
tres millones”. 12
12
Comisión Episcopal de Pastoral Social, Por la dignidad del campo, por la dignidad de México,,
fotocopias, p. 3.
15
“Ante la situación de emergencia ambiental, económica y sociocultural que
vive el campo, llamamos al Gobierno a escuchar a la sociedad, a dialogar
con los campesinos demás productores del campo y a utilizar todos los
recursos a su alcance en orden a asegurar el beneficio de la población
actualmente excluida del desarrollo. Los tratados comerciales de ningún
modo representan un compromiso fatal e inamovible. Las partes
involucradas tienen siempre la oportunidad de recurrir a mecanismos y
salvaguardas en situaciones de emergencia. El libre juego de las fuerzas
del mercado no corrige por sí mismo la exlcusión y la pobreza. Rescatar al
campo significa rescatar la oportunidad de construir un futuro mejor para
las generaciones venideras. Esto es una obligación ética, una necesidad
económica y un imperativo político”. 13
13 Ibídem, p. 7.
14 La CNC es la Confederación Nacional Campesina, organización formada desde los años
treinta desde el gobierno para ejercer un control corporativo sobre el campesinado.
Siempre ha pertenecido al oficialista (al menos hasta el año 2000) Partido Revolucionario
Institucional,PRI.
15 Ver la
crónica de la manifestación en los diarios de la Ciudad de México, sobre todo La
Jornada, El Universal y Reforma, del 1 de febrero de 2003.
16
Se culmina con un combativo mítin a Zócalo lleno con alrededor de cien mil
almas. Participa un representante por cada agrupamiento: El Campo No
Aguanta Más, El Barzón, el CAP y la CNC. Hay además oradores de la UNT y
del FSM, así como del Comité Mexicano por la Paz.
17
de la Nación
Empieza luego una gran lucha de sentidos. Tanto el gobierno como las
organizaciones campesinas realizan cada quien su propia síntesis de las
mesas de diálogo, de acuerdo a las prioridades y énfasis de cada quien.
Los cuatro agrupamientos campesinos inician el lunes 17 de marzo un
trabajo de armonización de sus propios resúmenes en busca de la
elaboración de un proyecto común. Luego de intensas sesiones lo logran y
con fecha de 24 de marzo publican su documento: Propuesta de un acuerdo
nacional para el campo: por el desarrollo de la sociedad rural y la soberanía
alimentaria con campesinos como elementos fundamentales del proyecto de
nación de México en el siglo XXI.
18
que le confiere a las acciones de los meses precedentes el carácter de
movimiento social y no sólo de conjunto de acciones contestatarias.
16
CAP, El Barzón, CNC, Movimiento El Campo No Aguanta Más: Propuresta del Acuerdo
Nacional para el Campo, 24 de marzo de 2003. (fotocopias), pp.6- 7.
17 Ibídem, pp. 1- 37.
19
Sin embargo, este acuerdo no es valorado suficientemente en su momento
por las propias organizaciones campesinas. La llevan a la mesa de
redacción a los representantes del gobierno federal. Estos contraproponen
un borrador muy limitado de acuerdo y no aceptan discutir el de las
organizaciones campesinas, sino elaborar un documento conjunto. Esto se
lleva más de dos semanas de intensas discusiones y, de hecho, de
negociaciones. Y, naturalmente, el documento que resulta, el borrador final
del Acuerdo Nacional para el Campo termina siendo un hìbrido bastante
extenso, farragoso, que, a pesar de contener avances indudables, al menos
en el planteamiento, a la política actual hacia el campo, diluye mucho los
planteamientos originales de las organizaciones campesinas.
20
iniciado por ellas. También pesa fuerte el hecho de que los recursos de
algunos programas gubernamentales no se liberen si no se firma el
Acuerdo. Asimismo, influye el comienzo del periodo de campañas para las
elecciones federales a celebrarse en julio.
Campo, (fotocopias)
21
Luego de varias sesiones de discusión y análisis, ocho organizaciones del
movimiento El campo no aguanta más, deciden firmar junto con la CNC el
CAP y El Barzón. No firman, la UNORCA, el FDC, la UNOFOC y el Frente para
la Defensa del Campo Mexicano.
Sin embargo, el Gobierno Federal ve las cosas de diferente manera. Para él,
el Acuerdo marca ya una nueva relación con la sociedad rural y obliga a los
representantes de ésta a conducirse dentro de los límites señalados por la
ley. Así lo expresa Santiago Creel, Secretario de Gobernación: “Ya firmado
el presente Acuerdo no habrá lugar para manifestaciones fuera de la ley o
del marco de las instituciones”.
22
Entre los logros principales del Acuerdo, según una de las organizaciones
firmantes, la ANEC, destacan;
19
Suárez Víctor; ¡Por qué firmamos un acuerdo para el campo? (artículo enviado por correo
electrónico por
23
Quienes no firman el acuerdo señalan entre sus principales objeciones:
24
Federación, tal como fue modificado por el Congreso con la
presión de las organizaciones campesinas.
25
campo no aguanta más incide en la decisión del gobierno de Vicente Fox de
que México ingrese al Grupo de los 20, (G-20), que, entre otros países está
integrado por Brasil, Argentina y la India y que exige el retiro de los
subsidios a las exportaciones agropecuarias y de las ayudas
gubernamentales internas a la agricultura por parte de los Estados Unidos
y la Unión Europea. Durante la celebración de la reunión ministerial en
Cancùn, la primera semana de septiembre, las organizaciones de El campo
no aguanta más y las organizaciones campesinas de otros países,
aglutinadas en la Vía Campesina realizan fuertes acciones de protesta en
diversos sitios de la ciudad. Finalmente, la reunión de Cancún fracasa,
pues al no ceder los Estados Unidos y la Unión Europea en el tema de los
subsidios agrícolas, las negociaciones en otros temas también se
derrumban.
8. Algunas reflexiones
26
El movimiento El campo no aguanta más es un excelente termómetro para
señalar cuánto neoliberalismo aguanta el campo mexicano, cuánto libre
comercio. Pero no sólo eso: más allá de la resistencia constituye un
movimiento de propuesta, de oferta al gobierno y a la sociedad mexicanas
de todo un plan, de un proyecto de campo y de sociedad diferentes.
27
desarrollo rural del Presupuesto de Egresos de la Federación. Se logra la
aprobación de la Ley de Desarrollo Rural Sustentable y se empieza a llevar a
la práctica los postulados de ésta. Gracias a las presiones del movimiento
se logra también el establecimiento de esquemas de ingresos-objetivo o de
precios-soporte para el maíz, lo que viene a restablecer, en cierta manera los
precios de garantía. Se logran también algunos programas sociales, como
el de subsidios temporales a adultos mayores. No puede decirse que las
políticas del gobierno mexicano hacia el campo ya no sean de corte
neoliberal, pero es evidente que este carácter va en retroceso y las
propuestas campesinas van ganando másy más espacio.
8.2 Los factores que han permitido la influencia del movimiento campesino
en las políticas del gobierno de México.
Son muchos los factores que aquí se conjugan. Entre los más importantes
se pueden considerar:
28
hartazgo de un sector social duramente golpeado por 20 años de
políticas económicas de ajuste. No se trata de los jornaleros
agrícolas luchando por sus reivindicaciones laborales. Se trata de
todos los segmentos de productores rurales afectados por la retirada
del Estado de la agricultura; por la apertura comercial; por las
políticas que privilegian las ventajas comparativas sobre la
suficiencia alimentaria. Así, el sujeto de este movimiento no es
clasista: es pluriclasista: productores temporaleros de subsistencia;
de transición, pequeños productores de agricultura de riego;
medianos e incluso algunos grandes empresarios agrícolas. Lo
integran lo mismo los tradicionales maiceros que los cafetaleros
indígenas; frijoleros, sorgueros, cebaderos. Hay también productores
de piña; ganaderos, fruticultores. Y también los otrora prósperos
agricultores del noroeste del país A todos ellos los ha
homogeneizado en su ira y en sus demandas el conjunto de políticas
puesto en marcha por el Gobierno desde 1982.
29
representantes en las negociaciones que una organización que
apenas tiene una década de existencia: El Barzón.
Este hecho es uno de los que marca que en México la transición política se
está dando, no tanto porque se promueva desde arriba, sino porque las
fuerzas desde abajo ya no se someten a las organizaciones del partido del
gobierno. Por eso, puede decirse que en el movimiento de fines de 2002 y
primer tercio de 2003 la CNC pierde su papel hegemónico. Esta
organización se sitúa en el lugar que debe ocupar en el México
democrático: una organización con fuerza, con representatividad, con
presencia nacional, pero nunca por encima de otras organizaciones y
agrupamientos campesinos. Estos cinco meses marcan, pues, el inicio de
una transición muy importante en el campo: el fin del monopolio de la CNC
en la representación de intereses rurales. Esta organización, que desde los
años treinta operaba como el control del campo por parte del Estado, tiene
desde ahora que competir con otras organizaciones por el mercado del
apoyo de los hombres y las mujeres del campo. 20
30
pactadas en el Tratado. Quien ha sido sumiso y poco crítico ante las
políticas proteccionistas implementadas por el gobierno de los
Estados Unidos ante sus agricultores. Quien ha favorecido sobre todo
a los grandes importadores de granos de este país, que son
empresas oligopólicas como Leche Lala, Bimbo, Maseca, Bachoco,
etc. Por eso las demandas se dirigen desde el principio y con toda
claridad a la Secretaría de Agricultura, pero tambièn a las de
Economía y de Hacienda y Crédito Público. Porque queda claro que el
gobierno federal ha actuado más como representante de los
intereses de las grandes compañías de los agronegocios que del
conglomerado de agricultores pobres y medios del país.
31
movimiento de protesta.
32
las capitales de los estados, de nuevo en el Distrito Federal. La
excelente acogida de los citadinos al movimiento le confiere una
gran capacidad de resistencia en las movilizaciones de la primera
quincena de enero y le da una gran caja de repercusión a la marcha
del 31 de enero. Hay una especie de “solidaridad pasiva” de la
opinión pública nacional que pronto se apropia de la expresión “El
campo no aguanta más” y le da a la razón a las y a los campesinos en
lucha, hecho que se demuestra en los sondeos de opinión hechos
esos días por la radio y por la prensa escrita.
33
ser los pequeños y los medianos agricultores, los campesinos, los
que dependen sobre todo de la fuerza de trabajo familiar para
producir los alimentos básicos de la nación.
34
cuenta sólo objetivos de lucro y de expansión económica. La vida
digna para las personas y para las comunidades; el respeto al medio
ambiente, la conservación y aprovechamiento adecuado del mismo;
el respeto a la diversidad cultural y social son valores que deben
preservarse y promoverse en los tratados y planes comerciales.
35
éstos son un derecho para los consumidores que debe hacerse
cumplir por parte de los productores y las instituciones reguladoras
del gobierno.
Conclusion
36
Civil Society Forum at the Unctad meeting, São Paulo, 14-16 June 2004
Project: Ibase
Partners:ActionAid Brasil, Attac Brasil e Rosa Luxemburgo Foundation
Harriet Friedmann
Centre for International Studies
University of Toronto
Let’s start with the problem. Denial of the link between human bodies and integral
ecosystems underpins the industrial food system. It started with hope. I recall
reading in a document in French national archives a plan for post-World War II
food security, which thrilled at the possibilities offered by freezing technology for
everyone to eat year-round vegetables. Now year-round pears come to the rich
1
consumers in the North from places such as Chile, where land was converted from
food production under pressure from structural adjustment. The bounty of the
“breadbaskets” of North America and a few other places, including Argentina, were
offered cheaply to help postcolonial nations shift to industry. Yet now they are
trumpeted by liberal traders --- both export junkies like the U.S. and the Cairns
Group and giant agro-food corporations that have become branches of the
chemical industry --- despite falling yields, loss of crop and livestock diversity,
weed and insect resistance, and marginalization of farming people. The lesson is
about more than industrial agriculture and food. It is about assuming a simple link
between needs and technologies.
Another food system is possible. It underpins the possibility for another world
centred on human wellbeing. Three principles are at the heart of a food system
that can support human communities within the earth community:
Simple and simply obvious, yet opposite to the whole logic of the agro-food
system. Industrial monocultures and mass produced edible commodities have
increased supplies of a tiny number of the thousands of plants ever eaten by
humans and reduced old problems of scarcity, including infant mortality and
infectious diseases. But industrial crop and livestock production have produced a
variety of well-documented ills, including export dependence on chaotic and
oversupplied markets, pollution and destruction of precious soils and waters and
forests, and loss of knowledge of how to work with natural cycles that for
thousands of years has resided with the majority of humans who selected and
tended the myriad plants and animals on which human lives and cultures thrived.
Mass produced edible commodities have created a range of new diseases, such
as cancer and heart disease, that are no longer restricted to privileged humans but
have become the democratic inheritance of the human species in a late industrial
2
age. Standard foods are rapidly marginalizing the people and cultures who create
the myriad cuisines that nourish body and soul for inhabitants and travellers alike.
II
What are the specific obstacles to creating a sustainable food system? History is
always a useful guide. In my analysis of the international political economy of food
I have identified two distinct “food regimes.” The first one was created by British
railway and commercial capital, state-building armies and surveyors who evicted
indigenous people, uprooted indigenous plants, and killed indigenous animals like
the buffalo of the North American plains, and European settlers and Chinese
railway workers who created a way of farming never before seen on earth. A vast
expanse of land was traversed, fenced, and plowed by steel implements of
factories. Those who cultivated the soil mined the fertile riches deposited by
ancient glaciers to produce simple crops of wheat and cattle and had to sell them
to live and work. Those who ate the crops were across the ocean and depended
on food from a distant ecosystem and carried to them through opaque systems of
transport and industry. This was the Settler-Colonial food regime. It collapsed in
the world economic depression and the North American ecological crisis of dry
topsoil blown away in the 1930s.
It took another World War, widely shared hope invested in technological advances,
and probably also competition between the Cold War blocs, to allow for a new
regime to arise after World War II. The multilateral plans of the Allies during the
War for a World Food Board were rejected in 1947, along with the International
Trade Organization that would have made U.S. trade controls illegal. The GATT,
for the same reason, excluded agriculture. Yet shared values of “development” as
industry made food marginal, and U.S. surpluses were used in Marshall Aid to
Europe and its colonies, and to Japan, and then later to emerging nations as a
way to support both U.S. farmers and the perceived interests of consumers for
cheap food. Within the shared goals of the postwar world emerged the giant
industries supplying machines and chemicals to industrialize agriculture and make
3
food durable and profitable by ever more complex manufacturing. This was the
Mercantile-Industrial food regime. It deepened the legacies of the Settler-Colonial
food regime through industrializing and exporting monocultures and processed
foods, yet added the paradoxical framework of massive government controls over
production and trade everywhere.
Now there is no dispute over the existence of a crisis. The good news is that by
now most agree (in some fashion) mercantile practices are part of the crisis. For
neoliberals it is domestic subsidies and trade restrictions built up during the
twentieth century. For the South it is recognition that “food aid” has turned into a
liability; it was always dumping but it had effects that were welcome in the fifties
and sixties. Analysis and debate over the proper role of government at all levels of
scale are an excellent development.
However, a great divide exists over the nature of the crisis, even among those
dedicated to multilateral solutions. At one extreme are those who project present
trends into the future and argue that new technologies, particularly genetic
technologies created specifically to solve the problems of industrial agriculture, are
necessary to provide the diets, particularly the meat-intensive diets, of populations
expected to become more like middle class consumers of the North (Runge et.al.
2003). At another extreme are those who emphasize the ecological limits of
industrial agriculture and the physiological limits of industrial diets. We can’t prove
that the system can’t go on forever, nor can the proponents of more trade and
monocultural technologies prove that it can. However, I argue that wisdom lies in
reversing direction.
4
There are two bases for a shift to livelihoods centred on food. One is to recognize
and embrace the creativity of humans in gardens, fields, and kitchens to the
destructive features of industrial agrofood systems. An adequate understanding of
food security, of course, includes the diversity of natural systems, and the
specificity of agronomic and culinary knowledges to sustaining humans in each
place, and therefore within the earth community. The second is to use human
health and ecosystem integrity, as well as human rights and democracy, as the
touchstones for reforming multilateral institutions. This would put food security at
the centre of sustainable human livelihoods.
III
I would like to point out four perceptions that shape our way of measuring food
production and lead in my view to illusions that need to be changed.
5
times and after on the grasslands left a legacy that has outlived its historical
usefulness. It has become destructive in a time of unemployment.
Back in Europe, it seemed, the farms driven out by imports were inefficient.
Neither production enthusiasts nor social justice advocates had much reason to
think about the agronomic features of English High Farming. But agro-ecology and
environmental history have changed that. Starting late in the 18th century, capitalist
farmers had scientifically transformed farming. What is recorded in history books
as the Agricultural Revolution was cruel in evicting peasants from the land and
reducing agricultural labourers to miserable conditions of life. But it analyzed the
agronomic relationships among humans, animals, and crop and instituted an
innovating approach to each farm, including its size, division into fields, rotations,
and so on, so as to guide the natural cycles to mazimize yields while improving
fertility.
The illusion was thus created out of some very specific historical circumstances
that grassland farming in North American and elsewhere is naturally suited to
specialize in grains. So productive did they seem that grain started being grown
just to feed animals. In Canada animals eat more than three-quarters of all grain
consumed (not counting exports). China and India feed animals under a quarter
and a tenth, respectively. Producing beef requires 1,000 times the amount of water
for the same weight of wheat.
6
would like to farm and learn to farm, all focused on working with natural cycles, are
easy to justify if the measure of productivity focuses, as it should, on the longterm
capacity of the land to yield food.
7
unit to measure how far food moves before it reaches the kitchen table. Costs of
sea freight have fallen 70 percent since 1980 and air freight falls 3-4% a year. As a
result it is profitable for many countries to export and import the same product,
such as milk or cookies. Canada exports 98,000 tons and imports 54,000 tons of
milk, which fifty years ago would all have been local. It may seem less absurd to
import fruits and vegetables to cold countries. Yet one kg of asparagus sent from
Chile to New York takes 73 kg of fuel energy and contributes 4.7 kg of carbon
dioxide to global warming (Millstone and Lang 2003). FoodShare Toronto recently
compared foodmiles traveled by similar items at a farmer’s market and the
supermarket across the street (Bentley 2004). On November 27, 2003, very late in
the Ontario season, both offered local apples, but supermarket pears travelled
5887 km from Washington via Los Angeles, compared to 58 km at the farmer’s
market. Local lamb chops traveled 72 km, while across the street they flew13,882
km from New Zealand. The average foodmiles of the supermarket items was over
5,000 times greater than the same items in the farmer’s market. The study
calculated energy used and greenhouse gas emissions depending on how food
was transported, and found the imports to be on average almost 400 times
greater. This is not unusual --- or wise.
8
lands such as forests (Norberg-Hodge, Shiva; study of Mexico and Ecuador). Even
for the few modernizing farmers who do better from specialized crops, income
measures do not include social or environmental losses, nor the cost of sacrificing
dependable local supplies to those whose availability and prices may quickly
change.
9
According to nutritionist Marion Nestle (2003), nutritionists agree that health comes
from eating appropriate quantities, a diverse, balanced diet, and foods with little
processing. It is also the way to public health and fiscal soundness, removing the
burdens of preventable chronic disease on public health systems. If eaters
abandoned the tens of thousands of complicated edible commodities in
supermarkets in favour of local fresh foods, profits would suffer but health would
improve. Yet local food systems are everywhere in danger. Measures of wellbeing
would document, protect, and celebrate the local plants and animals that are good
to grow and good to eat.
Fourth, is to find ways to correct for the over-valuation of “modernity” in and the
devaluation of its supposed opposites, such as ‘tradition”, and to recover the core
values of “science”--- open inquiry, skepticism, experimentation, observation.
James Scott (date) has revived the name of the Greek goddess Metis to name the
creativity of people embedded in specific cultural and social relations work with the
specific features of each place. Metis is what is displaced by what Scott calls High
Modernity, yet the simplification of social relations and ecosystems corrode the
bases of renewal in Metis. I have developed a parallel idea of polycultures, both
agronomic and culinary, to describe how people continually invent new ways to
grow and cook food despite the oversimplification of monocultures (Friedmann
2002). Most of the gardens and kitchens in the world since 1500 have incorporated
new plants, animals, flavours, and techniques of farming and cooking. Brazil, with
its lively mix of peoples, plants, animals, and techniques of growing and eating, is
a perfect example of polycultures. Indigenous and transplanted ways of gardening
and cooking have always adapted to and altered habitats. Tradition is lively and
has much in common with the observant and experimental values of science.
Polycultures are now being invented and reinvented in many parts of the world,
both North are learning from the South, as people carry with them their knowledge,
skills, desires, tastes, and companion species.
IV
10
How can we take these insights forward? First, make human activity linked to
human needs the new value guiding measures of effectiveness. Livelihood is a
useful way to think simultaneously about the contributions and gifts that each
person and culture can contribute, as well as the ways that each person and
culture lives from useful things. Livelihood is better than employment and
consumption as separate measures. In a time when people are made redundant
and the fruits of nature are in danger, it makes more sense to measure food yields
of land. By organizing people’s efforts --- labour --- in ways that serve the needs of
the land to feed human communities for generations, it should be possible
incrementally to discover how much labour, and what kinds, enhance food systems
and the integrity of agro-ecosystems. Study the past, such as English High
Farming, and rescue the farming communities whose knowledge is in danger of
being lost. In this, racial and cultural hierarchies need to be questioned. The
burden of proof should shift to those who intend to use land in novel and simplified
ways to show that it will not only improve what they measure, but also improve the
wellbeing of humans and enhance the vitality of the ecosystem. This includes
great care in disrupting “traditional” farming communities and indigenous
communities and their tended habitats.
Second, make agriculture the centre of policy and acknowledge it as the basis of
livelihood (Duncan). Education should make ecology as important as literacy and
numeracy, and knowledge of local ecosystems part of responsible citizenship.
Democracy depends on responsible citizens. Since agriculture is necessary, since
it must alter ecosystems, it is crucial for each community, and for all humans, to do
so responsibly. Agriculture is also an important way to monitor the effects of
industry and all human activities on ecosystems. Scientists need to work with
farmers, and farmers need to learn ecological sciences. To make agriculture
central means to reconnect science and practical applications. It means restoring
public agendas of scientific research, but also revising them to create, among
others, farmer-scientists and agricultural scientists serving the needs of humans to
11
grow healthy food to eat, for this and many generations. In many cases it will take
great scientific effort and experimentation to restore and improve human habitats.
Only then --- and also incrementally --- can trade find its proper place in
livelihoods. If governments in each place take responsibility for moving in the right
direction, the type of trade that is possible, necessary and desirable can be
continually assessed and reassessed as conditions change, both locally and with
potential trading partners. Governments will need an educated citizenry and
scientists whose agendas (not findings!) are set by the public interest. Rules
governing money and investment as well as trade must serve responsible
democratic decisions about how to move in the direction of livelihoods at the
centre of thriving human communities.
Finally, rethink the best way to enhance knowledge. The distinctions between
science and wisdom, science and spirit, science and values, are surely false. In
documenting food systems, too much emphasis on quantities (apart from inspiring
doubt about reliability) has encouraged blindness to the reasons for food --- to
support life, materially, culturally, emotionally, socially, spiritually. To integrate
health into policies for agriculture, trade, and money requires a complementary
focus on the quality of foods and the processes that create them.
This will necessarily apply abstract principles to the biological and cultural
uniqueness of each place. Biological diversity depends on cultural diversity.
Humans have tended ecosystems as long as we have been on earth, as
12
environmental historians and anthropologists are beginning to discover (Cronon,
Achuar). There was never a time when humans simply lived from the land without
changing it --- even animals and plants change their environments. Cultures and
habitats change in mutual relationship.
How can these practices be incorporated into a shared human project for
democracy and rule of law (Ritchie 2003, pp.13-14)? To inspire conversation, I will
offer a few brief comments.
Recently Mark Ritchie recalled what he learned from some of the founders of the
United Nations and other international organizations, including the Bretton Woods,
after World War II --- that they were “first and foremost a desperate attempt to find
a path to World Peace by ensuring economic, social, and political justice.” My own
studies show that the great hopes for ending the suffering of world depression and
fascism included a proposal by the victorious Allies for a World Food Board. It
would have augmented the strong national planning envisioned by world leaders
with international coordination of exports and imports. It was defeated by a
13
meeting in Washington, D.C. in 1947, opposed by the U.S. and U.K. As a result of
this defeat, and of the Cold War and other forces preventing the UN from
achieving the ambitions of its founders, the Food and Agriculture Organization
became a marginal to the relations of power and property governing the unfolding
of the food system; it focused on data collection and programs for countries low in
the hierarchy of power and wealth.
The end of the Cold War brought a brief period of rapture, full of hope that
democracy and cooperation could replace war economies and rivalry. Universal
food security, a goal pronounced at the World Food Summit of 1974, seemed
possible. Between 1974 and 1990 there had been economic contraction, Détente
between Cold War blocs, and the project for a New International Economic Order
supported by the Brandt Commission in the North as well as UNCTAD and the
South. But the neoliberal project had begun to unfold from those same events. In
the 1980s indebtedness of governments of the South and Eastern Europe, deficits
in North government accounts, the Uruguay Round of trade negotiations that led to
the WTO, inspired a combined response of the North to support a broadly
corporate agenda.
The contest between projects for social justice and for economic power continues
to unfold, but three new processes began in the 1990s. First, the Earth Summit of
1992 set a new agenda and created a crosscutting set of inter-state alliances.
14
Second, health risks associated with industrial agriculture, manufactured foods
and fast foods have led to international disputes and rising citizen concerns. Third,
social movements have proliferated in all these issues, and in some very new ones
related to indigenous rights and knowledge, and have increasingly engaged in
discussions finding common ground across national and social divides.
My view of the centrality of agriculture and food lead me to suggest that multilateral
and democratic projects put health and ecology at the centre of reform at all levels.
FAO, like all UN agencies, contains the struggle between projects. It has a
mandate and programs to assist a policy shift away from exports, monocultures
and industrial diets, but also strong pressures to focus on the neoliberal agenda.
The contradictions are manifest, for instance, in Codex Alimentarius, a food safety
body newly empowered by enforcement through the WTO. Codex is a joint
commission with WHO, and therefore has health incorporated into its structure;
WHO has recently widened its approach to health to include diets. Yet neoliberal
governments and lobbies that want food standards in trade legislation are working
hard to institute the kinds of standards favouring monocultures and industrial
foods. Along with “Sanitary and Phyto-Sanitary” rules, food standards are the place
where quality and health can enter. The struggle is to implement rules that support
diversity, quality, and democracy. These cannot be centred on trade. Indeed trade
rules have had to bend to the (unacknowledged) specifics of real foods and real
agro-ecosystems.
At the same time, the Earth Summit, and particularly the Convention on Biological
Diversity and the Biosafety Protocol give governments tools to apply a
precautionary principle over trade. Similarly challenges to TRIPs in favour of
governments whose lands contain most crop diversity and in favour of farmers who
have selected and tended those crops in changing conditions, have slowed the
neoliberal project. It is crucial to get ratification of these agreements, but also to
continue efforts to challenge narrow definitions of property and knowledge.
15
To go further, it is crucial to redefine crop diversity and farming knowledge not as
“resources” or as “indigenous” but as the ecological and social basis of human life.
It may also help to link the CBD to Kyoto through the contribution, which needs to
be fully documented, of long distance durable food shipments to climate change.
One focusing idea offered by Tim Lang and others is that of Ecological Public
Health. Conflicts between “economy” and “environment” disappear when social
policy focuses on food as the basis for health, and agriculture as the basis for
inhabiting each place and all the places whose web forms the living earth.
16
Fórum da Sociedade Civil na Unctad, em São Paulo,
14, 15 e 16 de junho de 2004
Constanza Moreira
1
No es sólo reducirlo a un problema de equilibrio macroeconómico y crecimiento
del producto: es haberlo abandonado como concepto.
2
crecimiento. ¿Qué entendemos entonces por desarrollo?
3
La tercera versión del desarrollo, y sin duda la menos ingenua de las aquí
mencionadas, es la del desarrollo como cambio de estructuras. Aquí se ubica el
grueso de la literatura latinoamericana sobre el tema, en especial las
contribuciones de la Comisión Económica para América Latinal: existen procesos
que regulan las relaciones económicas entre los países “centrales” y “períféricos”.
Nuestro “subdesarrollo” es funcional al desarrollo de otras regiones del mundo:
por eso no lo superamos. Cuando Fernando Henrique Cardoso, en el Congreso
Internacional de Ciencia Política del año 1991 se refirió a su propio teoría
dependentista, la declaró superada. Ahora ni siquiera se trata de dependencia,
afirmó: si no nos integramos al mundo vamos a caer en el agujero negro de la
historia. La globalización y sus ubicuidades habían tomado el lugar de la vieja
teoría de la dependencia, con sus dependencias asimétricas entre capital y
trabajo, y entre centro y periferia.
4
obra, fueron silenciadas, reprimidas y los golpes de Estado se sucedieron en
América Latina.
Hacia inicios de los 90s el giro ya estaba dado, y la propia Cepal mostraba la
tibieza de su argumento “post-desarrollista” pregonando el “crecimiento con
equidad”. Para ello, no era necesario cambiar el modelo de acumulación vigente
(el del Consenso de Washington), sino impulsar políticas sociales. Palabras como
“política social” y “servicios sociales” comenzaron a ser usadas entonces, aunque
ya ni recordemos cómo ni cuándo, y por supuesto, tendieron a despolitizar el
lenguaje, de la misma manera en que se depolitiza el debate si yo, en vez de
hablar de “ciudadano”, hablo de un “usuario de los servicios sociales”.
América Latina ha tenido un legado colonial que marcó desde el inicio la desigual
apropiación de los frutos del crecimiento económico. La explotación de las
poblaciones nativas, la concentración de la tiera en pocas manos, y los modelos
de acumulación basados en la explotación intensiva de la mano de obra sin
contraparte de derechos sociales, generaron desde el siglo XIX modelos
fuertemente excluyentes. Asimismo, la velocidad y el ritmo del proceso de
5
modernización e industrialización fueron muy diferentes entre países. Mientras
que algunos se modernizaron e industrializaron en la primera mitad del siglo, otros
países conocieron procesos de industrialización acelerados y tardíos (como el
Brasil de los 70s), y otros, no completaron nunca estos procesos.
6
parte porque estaban obligadas a ello, en parte por la legitimidad que comenzaron
a tener estos modelos: en cualquier caso, estos paradigmas ofrecieron “una
matriz teórica que permitía justificar los costos sociales en el corto plazo. Como
fuera dicho anteriormente, con el perverso ejemplo de la “teoría del goteo”, el
desarrollo social pasó a depender del crecimiento económico, por lo cual todos los
objetivos de corto plazo debían encontrarse subordinados a este principio
orientador del crecimiento.
Las recetas del Banco Mundial y los organismos multilaterales, frente a los
problemas de pobreza y distribución que enfrenta la América Latina de los 90s y
del presente, se redujeron a tres factores básicos, que se suponía tenían un
impacto decisivo sobre los niveles de desarrollo social: aumentar el crecimiento
económico, incentivar la “inversión en capital humano” (básicamente educación), e
instrumentar políticas sociales específicas para “proteger” a los sectores más
vulnerables.
Los efectos inmediatos de la liberalización del comercio exterior, fueron una caída
7
del empleo y el salario. Los efectos de la reforma fiscal redundaron en una caída
del empleo estatal y de la inversión pública. Los efectos de la flexibilización del
mercado de empleo en contextos de ajuste y/o alta competitividad es la
disminución del empleo (dado que se facilita el despido) y los salarios (ya que
queda minimizada o derogada la aplicación de salarios mínimos y pautas
salariales sectoriales). Finalmente, la “resistencia política” a estos procesos,
desde los sectores organizados afectados por los mismos (como el sindicalismo),
fue mínima en contextos autoritarios, y fue notoriamente más reducida que en el
pasado, en aquéllos países que efectuaron el ajuste en democracia, dado que las
sociedades que emergieron de la dictadura, habían perdido los niveles de
cohesión y la capacidad organizativa que las habían caracterizado antes de los
golpes de Estado.
8
parte del ingreso per cápita de los llamados “países desarrollados”, inferior al de
los países del Sudeste Asiático, Medio Oriente y Europa del Este, y sólo supera al
del resto de Asia y a Africa.
Más allá de la crisis financiera reciente, las reformas no produjeron los resultados
para los que fueran diseñadas. En primer lugar, los países no experimentaron una
recuperación económica tan importante y ésta hoy parece fuertemente jaqueada
por las crisis financieras de la segunda mitad de los noventa. De hecho la tasa de
crecimiento del producto bruto interno regional fue 50% menor que la que la
región había experimentado con anterioridad a la “década perdida” de los
ochenta. En segundo lugar, aunque la inversión externa creció y la tasa de
inversión tendió a recuperarse, no se tradujo en la dinámica de crecimiento
esperada, y reveló un patrón de dependencia acentuada frente a los altibajos del
financiamiento externo, en especial después de la gran inestabilidad de los flujos
de capital a partir del efecto "tequila". Los procesos de devaluación
experimentados en el Cono Sur a partir de la crisis asiática y la crisis rusa, así
como la crisis financiera experimentada en Argentina y Uruguay recientemente,
son una clara señal de esta dependencia.
9
serios problemas de reestructuración de los sectores productivos. Uno de sus
principales dispositivos, la política cambiaria, ha sido responsable de los serios
problemas de ajuste que han enfrentado los sectores productores de bienes y
servicios comercializables en varios países, y de los ataques especulativos que
han acentuado la inestabilidad y los riesgos de crisis financieras. Las crisis
financieras nacionales en la década de 1990 han sido recurrentes en muchos
países, absorbiendo enormes recursos fiscales, y la década del 2000 presenta el
mismo patrón.
Si, como señala Stiglitz “la economía no es una ideología, sino el uso de la
evidencia disponible y la aplicación de la teoría” (y se pregunta: “¿qué evidencia
sugirió que liberalizar los mercados de capital en los países pobres resultaría en
un crecimiento económico más rápido”), cabe también preguntarse si las recetas
emanadas del Consenso de Washington no son hoy más una ideología que el
resultado de un análisis serio de nuestras economías y sus condicionantes. La
sustentabilidad del crecimiento de nuestras economías está más que puesta en
duda; las crisis financieras se han hecho cada vez más recurrentes, el déficit fiscal
aumentó, y algunas de las economías de la región más “prometedoras” (como
Argentina) están en situación de quiebra.
En los últimos tres años, la expansión del producto tuvo una marcada
desaceleración; la tasa promedio de variación del PIB apenas superó el 1% anual
y el producto por habitante decreció. La contracción de las economías como
10
Argentina y Uruguay (con significativas caídas del producto) y el pobre desmpeño
de Brasil y México, dan buena cuenta de este resultado. Pero el resto también se
desempeñó mal (en 2002 sólo crecieron Perú, República Dominicana y Ecuador):
el escaso aumento de la demanda de EEUU afectó a los países en su “área de
influencia”: México, Haití, Panamá y República Dominicana; Chile y Perú se vieron
afectados por el deterioro de sus términos de intercambio; y las crisis financieras,
los movimientos especulativos, y las dificultades de acceder al financiamiento
internacional afectaron al Mercosur y a Bolivia indirectamente. En Ecuadro,
Venezuela y Colombia, la propia situación política interna emperó las expectativas
económicas en su conjunto.
La expresión “media década perdida” tiene que ver con la naturaleza de la crisis
que afecta a la región. La recesión en 2001-2002 y, por ende, la recuperación
esperada para el año 2003 contrasta en naturaleza y profundidad con las
anteriores crisis que afectaron a la región. El deterioro del crecimiento económico
en América Latina comenzó en 1998 y se profundizó y consolidó en el año 2000.
El ciclo de estancamiento y recesión ha sido más largo y profundo que en
episodios anteriores: existe un debilitamiento de varios factores productivos, y el
tiempo de recuperación de la economía después de un “bajón”, se ha multiplicado
por dos, en sólo diez años.
11
estructural que el actual modelo de acumulación promueve), ninguna meta social
será alcanzada. El desarrollo social se volverá incompatible con el modelo de
crecimiento económico. A desigualdad igual o creciente, precarización del trabajo
y aumento de la desocupaciión, lo que está en cuestión es el propio modelo de
desarrollo latinoamericano. Y la “recesión social” parece un resultado inevitable
del modelo de desarrollo.
Muchos estudios han señalado que más allá de la evaluación pesimista que
ofrece la región en términos de su desarrollo social, algunos aspectos “macro” hay
que destacar y no deberían ser olvidados en una evaluación. Así, estos estudios
señalan que la esperanza de vida aumentó en el período (de hecho, aumentó en
un año en el último lustro), se redujeron la tasa de mortalidad infantil y el
analfabetismo, y aumentó el acceso al agua potable y saneamiento.
12
es diez veces superior a la de Cuba, de 10 por mil.
Los caminos al bienestar están todos relacionados: los países con menor pobreza
y desigualdad, son los que tienen los mejores indicadores sociales (Chile, Costa
Rica y Uruguay): asimismo los países caracterizados por altos niveles de pobreza
e indigencia, como Bolivia, Guatemala y Nicaragua, registran las mayores
carencias sociales.
Una de las dimensiones más clásicas del desarrollo social es la “pobreza”. Sin
condiciones básicas de vida, ningún ser humano podrá ejercer sus derechos más
elementales cívicos, y menos aún políticos. América Latina no sólo no ha
superado el legado de pobreza que le dejó la “década perdida” y en algunos
países, las más sangrientas dictaduras, sino que en algunos casos, este legado
se ha profundizado.
13
Entre la población indigente se dibuja el mapa del hambre y la desnutrición. Más
del diez por ciento de la población latinoamericana está subnutrida, y el ocho por
ciento de los niños menores de cinco años, están desnutridos. Cincuenta y cinco
millones de latinoamericanos padecen algún grado de subnutrición. La mayoría de
estos indigentes se encuentran en países que producen menos alimentos que los
que su población requiere, pero en muchos casos, lo que ocurre puede ser
explicado por la falta de acceso de los indigentes a una sociedad rica en
alimentos. Parece imperdonable, ¿no? Pues estas desigualdades en el acceso al
consumo de alimentos aumentaron durante los años noventa. No es casual que el
primer gobierno “de izquierda” de América Latina, el gobierno de Lula, comience
su gestión con un “Plan de Combate al Hambre”.
14
e irreversibles en el corto plazo. El informe de CEPAL para América Latina
muestra que en la década, la evolución del empleo no acompañó a la de la fuerza
de trabajo ni al crecimiento del producto, con un consecuente aumento de la tasa
de desempleo, que se mantuvo en alrededor de 6% hasta 1993 y llegó al 10% al
final de la década. La absorción de la mano de obra se produjo principalmente en
el sector informal: la OIT observó que 85% de los nuevos puestos de trabajo
creados en América Latina y el Caribe se concentraron en actividades informales
en la década, y sólo una pequeña proporción de los empleos generados
corresponde a los sectores modernos de la economía: la gran mayoría
corresponde al sector privado de menor productividad relativa. El desempleo y la
precariedad laboral afectan a los sectores más vulnerables de la sociedad: a los
estratos de menores ingresos, a las mujeres y a los jóvenes.
Finalmente, la cuarta dimensión del desarrollo social, y tal vez la más importante,
porque limita todos esfuerzos que una sociedad haga para el bienestar de todos,
es la desigualdad. La vieja y conocida desigualdad, de la cual nos hemos ocupado
bastante menos que de la pobreza, o del crecimiento, y gracias a la cual los frutos
de este último tendrán un impacto más que relativo sobre el primero.
En los países latinoamericanos una cuarta parte del ingreso nacional es percibida
por sólo el 5% de la población y un 40% por el 10% más rico. El 10% de los
hogares con más recursos capta una proporción del ingreso total que supera, en
15
promedio, 19 veces la que recibe el 40% de los hogares más pobres. En la
mayoría de los países la situación no mejoró, e incluso empeoró durante los años
noventa, pese a la relativa recuperación del crecimiento económico y al aumento
del gasto social, que fueron los mayores logros del período. Esta situación de
desigualdad tendió a agudizarse durante el último trienio de la década. Durante
este período, en sólo cuatro de los países hubo un incremento en el porcentaje de
los ingresos recibido por el 40% de los hogares más pobres; en los demás casos,
incluidos aquellos más equitativos, la situación empeoró o se mantuvo estable.
Medido por el índice de Gini, los países de América Latina con mayores niveles de
concentración del ingreso en la actualidad son Brasil (0,64) y Bolivia (0,61). Se les
ha unido un país que nunca fue el campeón de la desigualdad, pero a la cual una
década de “hacer bien los deberes” ha deteriorado irreversiblemente: Argentina
(0,59), cerca de Honduras, Nicaragua y Paraguay.
16
esfuerzos deliberados, muchos de los cuales podrán conspirar contra el
crecimiento económico, la libre capacidad de acumulación de los individuos, y
todas las libertades de un mercado que, para ser libre, ha menudo ha esclavizado
a los individuos (como lo muestran las “transiciones hacia el mercado” inicada
bajo dictaduras, como en Chile, Argentina y Uruguay).
17
sistema político en algunos países de la región. Tal es el caso de ciertas
transiciones presidenciales en los límites institucionales del sistema, como las que
caracterizaron el tránsito de De la Rúa a Duhalde en Argentina, o las destituciones
de Bucaram y Mahuad en Ecuador, o el tránsito de Fujimori a Toledo en Perú
(incluyendo, claro está, el propio “autogolpe” de Fujimori durante su primer
mandato en este país). El caso de Venezuela, se ha transformado en el caso más
paradigmático de este tipo de “transiciones”, y más allá de que el golpe de Estado
contra Hugo Chávez no haya prosperado, la situación política en Venezuela está
lejos de resolverse. Finalmente, la campaña de desestabilización protagonizada
por las “calificadoras de riesgo” en Brasil, ante el eventual triunfo de un partido de
izquierda en ese país, muestra con sobrada largueza la fragilidad propia de las
democracias en la región.
18
aumentado mucho y que la distribución del ingreso es injusta. Tan sólo cerca del
10% de los encuestados de todos los países manifiestan que la situación
económica actual es buena o muy buena, casi un 40% la encuentra regular, y
prácticamente la mitad de la población la considera mala o muy mala. El
pesimismo es generalizado, como puede verse en el siguiente gráfico.
19
(y la desarticulación del movimiento sindical en aquéllos países donde fue
tradicionalmente fuerte es un ejemplo de ello), como en la incapacidad del sistema
político de representarlos, obligándolos a menudo a actuar en los límites del
sistema. Como resultado, se produce un proceso de distanciamiento y alienación
de la ciudadanía con el sistema político, una ciudadanía que se vuelve
crecientemente refractaria no sólo a la política, sino también muchas veces, a la
propia legalidad, como lo muestra el crecimiento de la actividad delictiva en el
continente en los últimos años. Los datos de las encuestas de opinión pública son
concluyentes en este sentido: los latinoamericanos no están satisfechos con los
órganos de gobierno.
20
de acumulación, en la búsqueda de una alternativa de desarrollo menos
excluyente. Basta constatar cómo creció no sólo el producto sino el gasto público
social en la mayor parte de los países de América Latina en los noventa, y
observar, concomitantemente, el deterioro del mercado de trabajo y el aumento de
la desigualdad, para percibir la profunda asimetría que existe entre crecimiento y
desarrollo social y la enorme dependencia que tiene este último, del tipo de patrón
de crecimiento que se escoja como rector de la política económica.
Una nueva agenda del desarrollo tiene que comenzar por redefinir entonces, el
21
propio concepo de desarrollo, y hacerlo desde la base, redefiniendo el concepto
de desarrollo económico. El desarrollo económico de los países no puede medirse
por el crecimiento y la estabilidad económica, sino por la situación de bienestar
generalizada de sus habitantes (algo a lo que el propio IDH apunta).
En segundo lugar, una agenda del desarrollo tiene que privilegiar el desarrollo
social como un componente inseparable del desarrollo económico, entendido
como un proceso destinado a proporcionar bienestar a los ciudadanos. El
concepto de desarrollo social no debe comprender sólo las dimensiones “clásicas”
con las que se miden logros hasta hoy: malnutrición, mortalidad infantil y materna,
esperanza de vida, educación básica (todos ellos indicadores que luego se
cuantifican para por ejemplo, diseñar el plan de las Metas para el Milenio).
Algunos elementos han faltado de esta conceptualización del “desarrollo social”:
empleo y desigualdad son dos de las ausencias más significativas. El empleo
tiene que ser hoy una dimensión esencial del desarrollo social, y el derecho al
empleo tiene que formar parte de cualquier agenda política. Asimismo, hay que
comenzar a considerar la desigualdad, e incorporarla transversalmente a todos
nuestros análisis. Sin un enfoque desde la desigualdad, los “promedios” de
acceso y uso de los servicios sociales nos dirán poco. Sin un enfoque desde la
desigualdad, la discusión sobre la pobreza quedará corta. Sin un enfoque desde
la desigualdad, se va a cifrar siempre las metas de reducción del hambre y la
pobreza al objetivo del crecimiento, sin entender que es nuestro propio modelo de
crecimiento el que está exigiendo la desigualdad.
22
corruptos, se debe buscar mayor articulación entre Estado y sociedad civil,
eliminar el clientelismo, y focalizar el gasto. Se olvida que el actual modelo de
desarrollo sólo tiende a incrementar o estabilizar la desigualdad, y no solamente al
interior de los países (entre aquéllos trabajadores que se cualifican y los que
permanecen como “analfabetos funcionales”, por ejemplo) sino entre países (que
se insertan exitosa o catastróficamente al mundo globalizado). La desigualdad no
se combate con mercado, se combate con Estado: no se combate con economía,
se combate con política.
23
reprimen o desmovilizan cualquier resistencia organizada a sus planes de
combate a la crisis, o de reconversión económica. Finalmente, los académicos
escriben sobre las “coaliciones de veto” a las reformas estructurales, no vacilando
en aconsejar estrategias que permitan “saltearlas”, “desarticularlas”, o
“desmovilizarlas”.
La dimensión del desarrollo político debiera incluír entonces no sólo una agenda
de consolidación democrática en el sentido estricto del término, sino una agenda
destinada a revitalizar y jerarquizar la participación y movilización ciudadana que
ya existe, y que los partidos políticos no canalizan.
24
Fórum Social das Américas, Quito, Equador, 25 a 30 de julho de 2004
Introducción
Los últimos bosques que todavía existen están en los territorios indígenas y eso
prueba la relación estrecha que existe entre los pueblos indígenas y la naturaleza
que les rodea, que han llamado la Madre Tierra. Estos elementos coloca a
América Latina y a los pueblos indígenas, en gran atractivo de las empresas
1
nacionales y transnacionales madereras, petroleras, mineras, turísticas,
farmacéuticas, incluyendo de moda.
2
Proyecto Plan Puebla Panamá (PPP), que será financiado por el Banco
Interamericano de Desarrollo y el Proyecto Corredor Biológico y Cultural del
Atlántico Mesoamericano, financiado por el Banco Mundial.
3
Cinco represas sobre el Rió Usumacinta (binacional: Guatemala/México)
La Maroma en El Salvador
Chalillo en Belice
4
en gran escala, conllevan alguna clase de desplazamiento de
personas de sus hogares y medios de subsistencia. Las
grandes represas son quizá únicas entre esos proyectos por
cuanto tienen impactos ecosistémicos muy difundidos y de
largo alcance debido simplemente a la obstrucción de un río.
El resultado es una serie de impactos terrestres, acuáticos y
ribereños que no sólo afectan ecosistemas y biodiversidad
sino que también tienen consecuencias graves para las
personas que viven tanto cerca como lejos del lugar de la
represa. Una base grande y multifuncional de recursos, como
un río y su entorno, se caracteriza por una red compleja de
papeles funcionales implícitos y explícitos, de dependencias
e interacciones. En consecuencia las implicaciones sociales y
culturales de construir una represa en un paisaje dado son
espacialmente significativas, localmente obstructoras,
duraderas y a menudo irreversibles.
1
REPRESA Y DESARROLLO. Un Nuevo Marco la Toma de Decisiones. El Reporte Final de la
Comisión Mundial de Represas. 2000. Earthscan Publications Ltd. Traducido por José María
Blanch Pag. 104
5
Aunque la presión social ha influido a través de los acuerdos internacionales que
comprometen a los Estados, para que los gobernantes del mundo establezcan en
sus estrategias de desarrollo nacional e internacional, la obligación de permitir la
participación activa de la ciudadanía en la planificación, decisión y evaluación de
las políticas ambientales, económicas y culturales, en la práctica estos propósitos
no se cumplen; continúan dándose acuerdos bilaterales y multilaterales, sin
observar realmente la participación, consulta e información de la ciudadanía en la
formulación y decisión de los megaproyectos.
Para los pueblos indígenas la tierra es madre ya que ella le ofrece todas las cosas
para satisfacer sus necesidades vitales como la medicina, alimentos, aire, agua,
leña, elementos para construir su casa, etc. y de esta manera no puede utilizarse
a ella, a la Madre Tierra, sin control ya que tiene sus límites. Los pueblos
indígenas en sus territorios tienen identificados los sitios sagrados donde se
reproducen los animales, plantas, minerales, piedras, etc. La cultura occidental
6
han llamado estos santuarios Reservorios Biológicos. Para los pueblos indígenas
la naturaleza es para su subsistencia física y espiritual, mientras que para la
sociedad occidental es un medio para acumular las riquezas.
Declaración de Estocolmo
7
y agotamiento de los recursos naturales y perjuicios para la salud física, mental y
social del hombre.
Cumbre de Río
En 1992 los jefes de Estados del mundo se reúnen en Río de Janeiro, Brasil, del 3
al 14 de junio, en la Conferencia de las Naciones Unidas sobre el Medio Ambiente
y el Desarrollo, para establecer nuevas relaciones entre los Estados, la sociedad y
las personas, sobre el uso de los recursos naturales. En esta Conferencia se
emitió la Declaración de Río sobre el Medio Ambiente y el Desarrollo, que reafirma
la Declaración de las Naciones Unidas sobre el Medio Ambiente Humano,
aprobado en Estocolmo en 16 de junio de 1972.
Uno de los principios que establece la Declaración de Río es que los seres
humanos constituyen el centro de las preocupaciones relacionadas con el
desarrollo sostenible, por ende, tienen derecho a una vida saludable y productiva
en armonía con la naturaleza. También establece que los Estados deberán
cooperar con espíritu de solidaridad mundial para conservar, proteger y
establecer la salud y la integridad del ecosistema de la Tierra.
8
procedimientos judiciales y administrativos, para la indemnización por los daños
causados y por los recursos naturales.
También los Estados, según uno de los principios, deberán crear leyes que
realmente proteja al medio ambiente y a los recursos naturales. Además, dichas
leyes deben establecer responsabilidad y la indemnización respecto de las
víctimas de la contaminación y por los daños ambientales.
PRINCIPIO 22
9
Fortalecimiento del Papel de las Poblaciones Indígenas y sus Comunidades. La
Agenda 21 reconoce que los pueblos indígenas han establecido una relación
histórica con las tierras que ellos han estado ocupando, y han acumulado
conocimientos científicos sobre los recursos naturales y e medio ambiente.
Alides
10
política, económica, social, cultural y ambiental de las sociedades, basado en la
Agenda 21 de Río de Janeiro de 1992.
Significa que las políticas de desarrollo debe respetar la diversidad cultural, por
ende, de la existencia de los pueblos indígenas en la región, con todas sus
manifestaciones políticas, sociales, religiosas, económicas y creencias, que
incluyen los derechos históricos, culturales, artísticos y fundamentales de los
pueblos indígenas.
Banco Mundial
11
perjudicadas en lugar de beneficiarse de los proyectos de desarrollo previstos
para otros beneficiarios.
Es decir, que todos los proyectos que financie el Banco Mundial en los territorios
indígenas, incluyendo las actividades que va afectar sus recursos naturales debe
cumplir la Directriz Operativa 4.20 a fin de garantizar los derechos fundamentales
e históricos de los pueblos indígenas.
12
financia el Banco. También el BID plantea el respeto a los derechos individuales y
colectivos de los pueblos indígenas, como el derecho a la posesión y propiedad
de la tierra que tradicionalmente habitaban y de los recursos naturales que existen
en ella y dentro de sus políticas ha planteado el de no financiará proyectos que
buscan la reubicación de los pueblos indígenas en otros territorios; al menos que
haya consentimiento de parte de los pueblos indígenas el que tomará en cuenta
que se respeto los derechos indígenas.
Las pautas generales sobre los pueblos indígenas están basadas en la Política
del BID sobre Medio Ambiente y el Marco Conceptual para la Protección y
Mejoramiento del Medio Ambiente y la Preservación de los Recursos Naturales.
Uno de los instrumentos de Derechos Humanos emitidos por las Naciones Unidas
es el Pacto Internacional de Derechos Civiles y Políticos, y en el se prevé que en
Estados donde existan “minorías étnicas”, incluyendo a los Pueblos Indígenas, no
se negará a las personas que pertenezcan a dichas minorías la practica de su
religión, que incluyen todos los elementos que constituyen sus valores
espirituales, incluyendo el concepto espiritual de la Tierra y de los recursos
naturales que practican los pueblos indígenas.
Sí los Estados violan o impiden que los pueblos indígenas practiquen la parte
espiritual que les vincula con la tierra estarán incumpliendo con los convenios
internacionales de Derechos Humanos. El artículo 27 del Pacto Internacional de
los Derechos Civiles y Políticos dice así:
13
grupo, atener su propia vida cultural, a profesar y practicar su
propia religión y a emplear su propio idioma.
ARTÍCULO 12
14
compensación, observándose las garantías apropiadas.
ARTICULO 13
2
Observación Individual a la India sobre el Convenio 107 de la OIT de 1957. Informe de CEARC,
1990/60ª reunión.
15
También el Convenio 169 reconoce los derechos a los pueblos indígenas en la
protección, al igual en la participación en la utilización, administración y
conservación de los recursos naturales. El Convenio 169 fue un avance en la
reivindicación de los derechos históricos de los pueblos indígenas ya que ellos
pueden decidir los proyectos que pueden afectar su territorio y sus recursos
naturales, y así se respeta los intereses de dichos pueblos, y así evitar daños a su
territorio y a su mundo espiritual o creencias. El Convenio 169 de la Organización
Internacional del Trabajo de 1989 sobre Pueblos Indígenas incorpora la
participación activa de los pueblos indígenas en las políticas ambientales.
ARTICULO 11
16
Derecho a Un Ambiente Sano
Es un gran avance la Sentencia del caso de Awas Tingni ya que es el primer caso,
además de reconocimiento del Derecho a la Tierras a favor de los Pueblos
Indígenas, reconoce la importancia de la tierra en la vida cultural y espiritual y de
supervivencia económica de los Pueblos Indígenas. La Corte Interamericana de
Derechos Humanos reconoce el papel que ha jugado los pueblos indígenas en la
conservación, protección y uso razonable de los recursos naturales. En este caso
17
el Estado de Nicaragua fue condenado y la Corte Interamericana de Derechos
Humanos ha estado requiriendo su cumplimiento.
18
ARTICULO 8
CONSERVACIÓN IN SITU
Cada parte contratante, en la medida de lo posible y según proceda:
J. Con arreglo a su legislación nacional; respetará, preservará y
mantendrá, los conocimientos, las innovaciones y las prácticas
de las comunidades indígenas y locales que entrañen estilos
tradicionales de vida pertinentes para la conservación y la
utilización sostenible de la diversidad biológica y promoverá su
aplicación más amplia, con la aprobación y la participación de
quienes posean esos conocimientos, innovaciones y prácticas
y fomentará que los beneficios derivados de la utilización de
esos conocimientos, innovaciones y prácticas se compartan
equitativamente.
19
Europa. Todas estas culturas fueron avasalladas hace mas de 500 años y algunas
siguen la misma suerte.
Tanto los gobiernos como las empresas transnacionales tienen interés de ser
dueños de los conocimientos de los pueblos indígenas como el arte, las plantas
medicinales, el lenguaje y materiales genéticos. Este sería los nuevos robos de
los hombres blancos a las riquezas y conocimientos que poseen los pueblos
indígenas.
Los Estados han emitido leyes y han suscrito instrumentos internacionales con la
finalidad de proteger la propiedad intelectual de los seres humanos. Pero para los
pueblos indígenas estas legislaciones de propiedad intelectual han sido
insuficientes, toda vez que sus conocimientos históricos y ancestrales no han
podido ser protegidos realmente.
La visión que tienen los pueblos indígena sobre los sistemas políticos, sociales,
económicas, culturales y espirituales, son diferentes a la de la sociedad no
indígena. En la sociedad occidental existe la supremacía del interés individual,
mientras en la cultura indígena el interés colectivo es la regla general. Por ende,
el concepto de propiedad intelectual de la sociedad occidental se diferencia del
concepto de propiedad intelectual que tienen los pueblos indígenas. En la cultura
indígena existe la supremacía de la propiedad colectiva.
20
Del 12 al 18junio de 1993 se reunió la delegación de los pueblos indígenas de
todas partes del mundo en Nueva Zelanda en la Primera Conferencia
Internacional de los Derechos Culturales y de Propiedad Intelectual de los
Pueblos Indígenas, a fin de analizar el valor del conocimiento indígena,
biodiversidad y biotecnología, el manejo tradicional ambiental, artes, música,
lenguaje y otras formas culturales, espirituales y físicas.
Al igual que las demás civilizaciones del mundo los pueblos indígenas en el
transcurrir de su historia han creado objetos que no pueden ser superados por
otras culturas, por su compleja elaboración.
3
Declaración del Mataatua de los Derechos Intelectuales y culturales de los Pueblos Indígenas.
Junio 1993. http://www.soc.uu.se/mapuche/indgen/Mataaspa.html
21
La mayoría de los sitios donde se encuentran las manifestaciones artísticas de los
primeros pobladores de América han sido considerado patrimonio de la
humanidad por parte de Organización de las Naciones Unidas para la Educación,
la Ciencia y la Cultura (Unesco), uno de los organismos especializados de las
Naciones Unidas. Algunos de estos sitios son sagrados para los pueblos
indígenas, por lo tanto, les prohiben practicar su religión en éstos sitios y
constituye una de las violaciones de los derechos humanos que es la libertad de
religión. La mayoría de estos sitios son sitios de turismo.
Los diseños y los vestidos indígenas hoy en día esta siendo comercializado por
las grandes empresas, sin que haya una protección legal a favor de sus
creadores. Cito el informe de la OMPI:
22
destruir los textiles tradicionales u los oficios basados
en el tejido...4
Etnodesarrollo (Economia)
Para superar su pobreza los territorios indígenas deben contar con los proyectos
que realmente satisfacen las necesidades vitales de los pueblos indígenas y sobre
todo que valoren su cultura milenaria. Los organismos que piensan financiar los
proyectos en las áreas indígenas, deben realizar estudios de factibilidad de los
proyectos con el fin de evitar sus fracasos y sobre todo debe haber participación
activa y efectiva de los pueblos indígenas, a través de sus mecanismos e
instituciones tradicionales.
Los proyectos que se ejecuten en los territorios indígenas deben salir del seno de
las comunidades indígenas y respetar las condiciones económicas, sociales,
políticas, culturales y espirituales de los pueblos indígenas, y no deben ser
impuestos por los organismos financieros.
4
ORGANIZACIÓN MUNDIAL DE LA PROPIEDAD INTELECTUAL. Documento
WIPO/GRTKF/IC/5/3. Fecha 2 de mayo de 2003. Anexo, pagina 36
23
Por ultimo cito a Héctor Huertas y Alicia Korten cuando hablaban de Desarrollo
Sostenible:
Conclusiones
Los territorios indígenas, legalizados o no, son casi los últimos refugios de los
recursos naturales, lo que demuestra la relación que existe entre los pueblos
indígenas y los recursos naturales. Para los pueblos indígenas la tierra es su
Madre, ya que la provee la alimentación. El concepto de la Madre Tierra es la
base del sustento de la cosmovisión de los pueblos indígenas, ya que todo su
mundo, físico, espiritual, político, cultural, económico y social, gira alrededor de
ella.
Tanto los sistemas económicas pasadas como las actuales han afectados a los
pueblos indígenas y sus territorios. A nivel mundial el nuevo orden planteado a
través de la globalización de las economías, comienza afectar no solo a los seres
humanos, que incluye a los pueblos indígenas, sino a los recursos naturales, y
uno de los lugares que va a tener consecuencia muy negativas son los territorios
indígenas.
24
entre los pueblos indígenas con la naturaleza. Estos instrumentos internacionales
no son respetados por las agencias financieras ni por las empresas nacionales y
transnacionales.
Igualmente los Bancos Multilaterales, Banco Mundial y BID, han incorporado como
parte de su política la participación activa de los pueblos indígenas en los
proyectos que financien, a fin de asegurar que se respete sus derechos históricos
y humanos.
Recomendaciones
Los proyectos que se ejecuten en los territorios indígenas deben respetar las
estructuras políticas, sociales, económicas, culturas e incluyendo los valores
espirituales de los pueblos indígenas.
Es necesario que los países que no han ratificado el Convenio 169 de la O.I.T de
1989 lo ratifiquen, a fin de que actualice sus instrumentos jurídicos de Derechos
Humanos, ya en ella se establece la participación de los pueblos indígenas en los
proyectos que se ejecuten en sus territorios y legalizados o no, y también su no
traslado de sus territorios sin su libre consentimiento.
Se debe crear créditos especiales y otros mecanismos, para que los pueblos
indígenas puedan financiar sus proyectos sin comprometer sus territorios y sus
valores sociales, culturales, económicas y espirituales.
25
Pueblos Indígenas y Declaración Americana de los Derechos Humanos de los
Pueblos Indígenas, respectivamente.
Bibliografía
26
Fórum Social das Américas, Quito, Equador, 25 a 30 de julho de 2004
Alejandro Grimson1
Instituto de Desarrollo Económico y Social
Universidad Nacional de San Martín
Este texto constituye un ensayo que procura señalar algunos de los aportes
que recientes estudios antropológicos pueden realizar para pensar crítica y
políticamente cuestiones sobre fronteras nacionales, procesos identitarios y
proyectos de integración regional. En las últimas décadas se han multiplicado
los estudios etnográficos y sociológicos en diversas zonas de frontera. En el
cono sur los estudios son más recientes que en Europa o Norteamérica. Pero
tanto por la especificidad de los procesos históricos como por opciones
teóricas, se ha desarrollado un diálogo crítico especialmente con las
concepciones posmodernas de las fronteras que se pusieron de moda en
Estados Unidos desde fines de los ochenta.
1
Investigador del CONICET – Instituto de Desarrollo Económico y Social – Profesor de la Universidad
de Buenos Aires.
1
multiculturalidad, cuando no de posmodernidad-. El énfasis sobre esta imagen
del "cruce de fronteras" devino una sinécdoque que da cuenta de la sociedad
inestable y difusa de "fin de siglo" y del inicio de un nuevo milenio. Así, aquella
frontera parecía más hecha por los poetas que por los policías (Hannerz,
1996). Anzaldúa (1999) celebraba el potencial de las fronteras para la apertura
de nuevas formas de entendimiento humano, para la mezcla, la tolerancia y el
pluralismo. Rosaldo (1991) también hizo hincapié en la multiplicidad, en el
carácter poroso, ambiguo, híbrido de las fronteras, hasta el punto de que a
veces parece olvidar por qué se las sigue llamando así: límite, diferencia, frente
de batalla, separación, discontinuidad. El estudio de las fronteras requiere
escapar a las versiones estáticas y homogéneas de culturas unitarias. Sin
embargo, poco valor tendrá esa ruptura si se pretende aplicar un modelo de
ambigüedad y multiplicidad al conjunto de las fronteras.
2
Estos estudios muestran que es necesario distinguir con claridad dos tipos de
frontera que se confunden en el debate actual: las fronteras culturales de las
fronteras identitarias; las fronteras de significados de las fronteras de
sentimientos de pertenencia.
América Latina
En los últimos años, una parte sustancial de las investigaciones sobre fronteras
en el Cono Sur se vinculó a una disconformidad teórica y política respecto a
una importante corriente del estudio de las identificaciones y las culturas. Se
trata de aquella vertiente que enfatiza la multiplicidad de identidades y su
fragmentación ocluyendo las relaciones de poder en general y la intervención
del Estado en particular. Las fronteras políticas constituyen un terreno
sumamente productivo para pensar las relaciones de poder en el plano
sociocultural, ya que los intereses, acciones e identificaciones de los actores
locales encuentran diversas articulaciones y conflictos con los planes y la
penetración del Estado nacional. La crisis del Estado, como se ha visto en
diversas fronteras, se expresa fundamentalmente en términos de protección
social, pero los sistemas fronterizos de control y represión (del pequeño
contrabando fronterizo, de las migraciones limítrofes) tienden a reforzarse. Por
ello, el Estado continúa teniendo un rol dominante como árbitro del control, la
violencia, el orden y la organización para aquellos cuya identidad está siendo
transformada por fuerzas globales. Por ello, es riesgoso subestimar el rol que
el Estado continúa jugando en la vida cotidiana de sus propios y otros
ciudadanos.
3
(Grimson y Vila, 2004). Ambos esencialismos se sustentan en metáforas que
refieren al concepto de "unión", y hacen hincapié en la metáfora de la
"hermandad" y la métafora del "cruce". Así, es muy frecuente escuchar hablar
acerca de la "hermandad de los pueblos fronterizos" en el Cono Sur de
América Latina y de la "hermandad" de inmigrantes mexicanos y méxico-
americanos en la frontera de México-Estados Unidos (Recondo, 1997; AA.VV.
1997 a y b; Anzaldúa, 1999; Rosaldo, 1991). La metáfora del "cruzador de
fronteras" a su vez, ha sido ampliamente usada para dar cuenta de algo así
como un "nuevo sujeto de la historia" (el inmigrante mexicano o
centroamericano en los EE.UU. es tal vez el mejor ejemplo de este uso) y
como paradigma para pensar los contactos interculturales en general. Ambas
metáforas, tienden a invisibilizar el conflicto social y cultural que muchas veces
caracteriza las fronteras políticas. Al subestimar el conflicto como dimensión
central del "contacto entre culturas" se dificulta la visualización de las
asimetrías entre sectores, grupos y estados, y las crecientes dinámicas de
exclusión.
4
esencialista ha impedido comprender de modo cabal la relevancia cognitiva,
política, económica y cultural del estado y de la nación.
Quizás la paradoja más notoria de esta concepción en el marco del Cono Sur
es que reúne el concepto de "falsa conciencia" y el populismo, que tanto
impactó a la región en los últimos cincuenta años. Así, aunque la nación se
aproxima en esa visión a una "falsa conciencia", no se trataría de realizar una
crítica política de su función, sino de describir su ausencia dada la capacidad
de resistencia y producción autónoma de los sectores populares. Estas
pretensiones de totalización cultural e identitaria imposibilitan percibir la
relevancia del concepto quizás más importante en las luchas de carácter
político en la actualidad: la alianza, la articulación de intereses y diferencias.
Investigar las fronteras y comprender sus sentidos para la gente del lugar
implicó suspender los presupuestos etnocéntricos, sean estos los derivados de
la geopolítica estatal, sean los diversos romanticismos populistas. Al analizar y
revelar conflictos sociales y simbólicos entre grupos fronterizos y ciudades
vecinas pretendemos saber de dónde partimos para la construcción de
eventuales alianzas, entendiendo que una comunidad de intereses está mucho
más por ser creada que lo que puede ser considerada un hecho presente. Es
necesario reconocer los efectos sociales y culturales del largo proceso de
construcción de los estados nacionales latinoamericanos y comprender los
sentidos prácticos de la nacionalidad para amplios sectores sociales.
5
condición de vida que, por lo tanto, puede valer la pena mantener para
sectores locales.
6
embargo, las políticas estatales y la constitución de un espacio nacional
experiencial transformaron los modos de sentir, pensar e identificarse de esas
poblaciones al punto de hoy lo nacional resulta central en la vida de amplias
zonas de frontera.
7
En mi estudio mostré que esa afirmación es superficial porque implica no
comprender los sentidos que cada una de esas prácticas adquieren en
Argentina y en Brasil. Mostré, en efecto, que el sentido del carnaval, de las
religiones afro, de lo gaucho-gaúcho, es muy distinto a uno y otro lado. Las
religiones afro ocupan un lugar relevante y público en Uruguayana (Brasil)
mientras están relegadas y son menospreciadas en Paso de los Libres
(Argentina). La cultura gaucha, sus vestimentas, sus comidas, sus rituales, son
la cultura oficial del Estado de Rio Grande do Sul (Brasil), son el orgullo de sus
habitantes y el gentilicio del Estado (los nacidos allí son “gaúchos” aunque
sean rubios, aunque sean afrodescedendientes). En cambio, en las tierras
fronterizas correntinas (Argentina) los gauchos son discriminados,
considerados parte de los sectores más pobres y menos educados.
La idea de que a ambos lados de la frontera hay una misma cultura no solo es
afirmada por algunos antropólogos, sino también en algunas circunstancias lo
dicen también los lugareños. Ahora bien, es interesante señalar que según de
qué lado de la frontera uno se encuentre los ejemplos prototípicos de las
"culturas transfronterizas" se modifican. Es decir, el estudio de los argumentos
nativos acerca de que la frontera "no existe" en términos culturales —algo que
es afirmado en circunstancias en que pretenden distinguirse de sus respectivos
centros capitalinos— indica que hay fronteras de significados o, mejor dicho,
de marcos de significación. En Libres para sostener esa afirmación se hará
alusión al carnaval, a la influencia del samba y de la "música popular brasileña"
en general. Obviamente, nadie de Uruguayana citará esos ejemplos, ya que el
carnaval y la Música Popular Brasileña (MPB) no son aquello que los conecta
con Paso de los Libres, sino con Río de Janeiro y el resto del Brasil. La
afirmación de la existencia de una cultura transfronteriza en Uruguayana alude
sistemáticamente a la cultura gaucha/gaúcha, pampeana. Otra vez,
difícilmente se cite ese ejemplo en Paso de los Libres: primero, porque en la
ciudad argentina, a diferencia de la brasileña, no hay un "orgullo gaucho";
segundo, porque nuevamente eso los conecta más con otras zonas de la
Argentina que con el Brasil. Así, cada ciudad manipula de maneras diferentes
las referencias simbólicas en función de construir una identificación propia.
8
Con estos ejemplos intentamos explicar que hay una frontera sutil, difícil de
percibir y de analizar. Se trata del límite que separa y contacta a dos campos
de interlocución nacionales, a dos formaciones específicas de diversidad
(Segato, 1998). Se trata de una frontera entre significados y entre regímenes
de articulación de significados. Las dificultades por percibir y conceptualizar
esta frontera llevan usualmente a hablar de "culturas transfronterizas", ya que
a ambos lados del límite hay prácticas y creencias compartidas.
Por una parte, la nación es el modo de identificación central en esta zona. Por
otra parte, es también el marco de experiencias históricas configurativas que
han sedimentado. Las políticas estatales, las experiencias económicas y
políticas, la circulación cultural y muchos otros elementos no solamente
presentaron diferencias de un lado y otro del río. Especialmente, fueron
percibidas, significadas y visualizadas de modos históricamente diferenciales,
instituyendo así modos de imaginación, cognición y acción distintos entre sí,
articulados con los de sus respectivos países.2 Así, la nación también se
constituye como condición de producción de sentidos, como el espacio
histórico a partir del cual los diálogos entre identidades y prácticas se
estructuran crecientemente desde la última parte del siglo XIX hasta la
actualidad. Por ello, las relaciones y los elementos culturales transfronterizos
son un ámbito clave en el cual se producen y reproducen las fronteras
simbólicas, tanto en el plano de las identificaciones de las personas y los
grupos como en el sentido de sus prácticas. La nación, como formación de
diversidad y espacio de significación, es condición de producción de los
sentidos de las identificaciones, incluso de la propia identificación nacional.
2
La crítica a los excesos del (de)constructivismo y la propuesta de desarrollar una teoría experiencialista
de la nación fue planteada en Grimson, 2003b.
9
que producen grandes demoras. Por ello, en muchos casos las políticas
estatales en esos puentes y en otros pasos fronterizos han generado conflictos
inéditos entre las poblaciones, produciendo retóricas y reclamos nacionalistas
en acciones de protesta social. Si esas políticas estatales que crean
obstáculos son persistentes es probable que generen otros conflictos entre las
poblaciones y que al final los puentes terminen separando a ambas orillas.
Un cambio de ecuación
Consideremos ahora las tendencias políticas en las fronteras del cono sur en las
últimas dos décadas. En varias zonas hubo dos tendencias complementarias.
Mientras los Estados renovaron y fortalecieron los controles y regulaciones de las
que consideraban sus fronteras críticas (ver Karasik, 2000; Grimson, 2000a),
entraron en franco retroceso los modelos de nacionalización del territorio a través
de políticas asociadas al "bienestar" (ver Escolar, 2000; Vidal, 2000).
Es decir, hacia mediados del siglo XX se constituía una ecuación que combinaba
visiones militaristas de hipótesis de conflicto con ciertos procesos de "integración
territorial y social" de las poblaciones periféricas. El "bienestar" era función de la
nacionalización, así como ésta era función de la fortaleza nacional en una guerra
que -por suerte- nunca se concretó. A partir de los años '90 puede percibirse en
diversas fronteras del Cono Sur que los proyectos de "integración regional"
(como el Mercosur) disuelven las hipótesis de conflicto. Pero en lugar de
revalorizar la frontera como espacio de diálogo e interacción, esto se traduce en
el abandono de toda política activa y de desarrollo social de las zonas fronterizas.
Si el "bienestar" convivió con el conflicto, la "integración" convive actualmente con
tiempos neoliberales.3
3
Obviamente, es necesario también cuestionar qué significa en nuestras regiones "bienestar" e
"integración". Sobre este último aspecto ver Grimson, 2001.
10
beneficiar a las poblaciones fronterizas (en la lógica secular del enfrentamiento
interestatal), sino promover el comercio terrestre entre países atravesando
ciudades fronterizas concebidas como "zonas de servicios". Así, se crean
importantes facilidades para la circulación de mercaderías de grandes
empresas.
Por otra parte, el control sobre las poblaciones fronterizas parece haberse
fortalecido, tanto en relación a la circulación de personas como de pequeñas
mercaderías del llamado "contrabando hormiga". Así, en muchos casos, los
pobladores fronterizos perciben una mayor -no una menor- presencia estatal.
El Estado se retira en su función de protección y reaparece en su papel de
control y regulación. En otras palabras, podríamos estar asistiendo -más que a
una "desterritorialización" generalizada- a la sustitución de un modelo de
territorialización por otro.
Así, en muchas de las fronteras del cono sur el abandono de las hipótesis de
conflicto bélico fue seguida de una desmilitarización a la vez que de nuevos
controles al movimiento de mercaderías, personas y símbolos. Esto último es
visible tanto en las dificultades que migrantes bolivianos y pobladores
fronterizos argentinos encuentran para ingresar los trajes del carnaval, como
en los discursos nacionalistas e higienistas que se desarrollaron en los últimos
años en las fronteras de Brasil, Uruguay y Argentina. A partir de nuevos focos
de aftosa, en diferentes momentos, cada Estado instala prohibiciones de
ingreso de mercaderías y procedimientos de "desinfección" de los propios
pobladores fronterizos que pretenden atravesar el límite internacional.
11
El Estado no se ha retirado completamente, sino que ha cambiado su eje de
intervención. Si en la fase anterior su obsesión era la preservación territorial, el
control del espacio, ahora su eje de acción se vincula a controlar los flujos, los
movimientos de personas y mercaderías entre los países. Especialmente, a
promover los flujos “por arriba” y controlar los flujos “por abajo”.
12
comenzara a pensarse en su contingencia y porosidad. Una vez desprendidos
del ímpetu estatal que se imprimía sobre los discursos sociológicos, ahora
parecía que el Estado no había sido nada en sus propios confines, y que
cualquier otra identidad no estatal había resistido heroicamente los embates
sistemáticos de la escuela, los medios, el ejército y los documentos de
ciudadanía. Las fronteras jurídicas se desnaturalizaban, mientras las
identidades sociales se esencializaban.
La idea, tan vigente aún hoy en cierta cultura “progresista”, era que la frontera
jurídica había cruzado por la mitad pueblos enteros y que esos pueblos habían
conservado una autenticidad transhistórica. Que los quechuas, guaraníes,
tükuna o mapuches atravesados por los límites nacionales conservaban una
identidad étnica intacta.
13
supone una continuidad que sin embargo no se verifica sin otras
complejidades.
Cultura y frontera
Las fronteras pueden concebirse de modo tan fijo entre razas como entre
culturas. Por ello, el concepto de "cultura" entendido como “conjunto de
elementos simbólicos” o como “costumbres y valores” de una comunidad
asentada en un territorio, es problemático en términos teóricos y en términos
ético-políticos (Appadurai, 2001; Hannerz, 1996; Rosaldo, 1991; Ortner, 1999).
Los principales problemas teóricos se vinculan a la tendencia a considerar a
los grupos humanos como unidades discretas clasificables en función de su
cultura como en otras épocas lo eran en función de la raza, lo cual haría
posible diseñar un mapa de culturas o áreas culturales con fronteras claras. Es
la idea del mundo como archipiélago de culturas. Las fronteras entre los
grupos son muchos más porosas que esta imagen de un mundo dividido. El
mundo, hace tiempo y de modo creciente, se encuentra interconectado y
14
existen personas y grupos con interconexiones regionales o transnacionales
diversas. La gente se traslada y migra desde diferentes lugares del mundo
hacia otras zonas y rearma en sus nuevos destinos sus vidas y sus
significados culturales. Por lo tanto, símbolos, valores o prácticas no pueden
ser asociados de modo simplista a un territorio determinado.
Hay otros dilemas acerca de los sentidos de esos marcos y esas líneas.
Cuando las fronteras son pensadas exclusivamente desde experiencias de
extrema desigualdad (del tipo USA-México) puede producirse un
deslizamiento: abordar la frontera necesariamente como sitio de encuentro
entre una cultura dominante y una subalterna, e identificar a esas culturas con
nacionalidades o etnicidades que la frontera marcaría. Si la frontera es
dicotomizada, como una línea entre el bien y el mal, se confirmaría por otro
camino la fuente misma de su poder: el poder de establecer los parámetros del
conocimiento. Para ello no es necesario llegar al simplismo de generar una
oposición entre quienes habitan a uno y otro lado de una línea. Puede
reconocerse que ha habido migraciones y que la gente se desplaza. Por este
camino se supone que la frontera ya no está allí y sus rastros deben ser
reconstruidos. Ese supuesto suspenso, de todos modos, anuncia un final
conocido: la frontera ya no es material, sino simbólica, ya no es la línea de las
aduanas, sino el límite de la identidad.
Llegados a este punto cabe interrogarse: ¿es que hay alguna diferencia entre
ese concepto de frontera y el concepto de raza? Porque si la identidad “se
15
lleva en la sangre”, como marca indeleble “en el cuerpo”, si no cambia aunque
cambien los espacios y las historias, si la frontera persigue a sus sujetos a
través de sus diásporas, nos encontramos en la plenitud de otras fronteras
naturales.
Por otro lado, en términos conceptuales se reconoció que cruzar una frontera
no implica necesariamente desdibujarla. Así como el vínculo no implica
ausencia de conflicto, la comunicación entre dos grupos puede ser el proceso
a través del cual esos grupos se distinguen mutuamente. Nadie se preocupa
demasiado por diferenciarse de grupos lejanos. “Los otros” que más nos
importan generalmente son nuestros vecinos, los grupos limítrofes geográfica o
simbólicamente.
16
trataría sencillamente de proponer y luchar por la inversión de sus sentidos (eje
de muchas articulaciones subalternas). La trampa consiste en que la
hegemonía se constituye en el proceso de oposición de dos entidades,
contraste reproducido en el intento de sólo trastocar la valoración. El secreto
radica en la frontera, ya que cuando esta no es cuestionada, la política cultural
revela sus propios límites.4
Implicancias políticas
4
Especialmente en antropología esto implicó un flashback para algunos, y una
continuidad para otros en la recuperación de autores como Barth (1976) o Cardoso de
Oliveira que, en sus críticas al culturalismo, habían prestado atención en los años
sesenta a la interacción étnica y las fronteras interétnicas, a las organizaciones grupales
y a lo que se conceptualizó como una cultura del contacto (Cardoso de Oliveira, 1976).
Esas genealogías teóricas, que podrían remontarse a Gluckman, Evans-Pritchard y
Leach, daban cuenta de que los estudios de frontera se habían iniciado muy lejos del Río
Grande.
17
ampliación de nuestra propia imaginación política y, especialmente, para la
potenciación de una política transformadora, opuesta al neoliberalismo.
A nuestro entender, debemos considerar diferentes planos. Por una parte, hay
consecuencias a nivel de la propia política en zonas de frontera, hay
consecuencias acerca de cómo imaginar la llamada "integración regional". Por
otra parte, en un nivel mucho más general me gustaría afirmar que estos
estudios sobre zonas de fronteras, al conectarse con otros estudios sobre
contacto intercultural, tienen dos aportes que realizar en el terreno político
general. El primer aporte se refiere a la cuestión de la nación y el nacionalismo.
El segundo aporte se refiere a la cuestión de la diversidad y de las políticas de
la diferencia.
Voy a abordar las cuestiones en ese orden. A primera vista parece la que la
cuestión de las políticas para las zonas fronterizas son poco relevantes ya que
se trata de políticas dirigidas a una porción escasa de la población. Sin
embargo, si los gobiernos dictatoriales le dedicaron importancia es porque
entendieron que las fronteras son también laboratorios de relaciones entre
sociedades y entre grupos. Las relaciones en las fronteras son una dimensión
y afectan al conjunto de las relaciones entre los países. Por lo tanto, dejar atrás
las lógicas de una geopolítica paranoica y militarista no debería implicar un
nuevo capítulo de centralismo y marginación territorial considerando a las
fronteras sólo como lugares de paso. Las fronteras son lugares estratégicos
para configurar nuevas relaciones entre las sociedades y las culturas. Estos
“laboratorios” de vínculos simétricos y solidarios deben imaginarse y
construirse no sobre la negación de conflictos o distancias históricas, sino a
partir de la elaboración reflexiva de los mismos.
18
La concepción neoliberal de la regionalización considera que al integrar
mercados habrá una tendencia natural a que los derechos sociales se
homogenicen hacia abajo. Frente a esto la alternativa del tipo "cada uno a
conservar sus conquistas" está condenada al fracaso más temprano que tarde.
Es necesario imaginar otras alianzas y conflictos en otros niveles, alianzas y
conflictos transfronterizos. Es clave promover articulaciones desde abajo entre
los trabajadores y los diferentes grupos subalternos en diferentes países. Así la
integración es también la configuración de un nuevo horizonte político, de un
nuevo escenario.
La cuestión nacional
19
Aquí hay dos cuestiones diferentes para discutir. La primera se refiere a si el
Estado realmente está desdibujándose en el mundo contemporáneo. La
segunda se refiere a si eso realmente tiene consecuencias sobre la nación y,
en todo caso, qué tipo de consecuencias. Una cosa es la lógica formal y otra la
lógica de la historia.
Por otra parte, es necesario distinguir entre las “funciones sociales” del Estado
y sus funciones represivas. Porque si es cierto que en muchos países el
Estado se ha retirado de su papel en la protección y seguridad social, también
es cierto que eso no indica nada acerca del poder estatal de represión y
control. La mayoría de los países conservan intactas sus fuerzas armadas y de
seguridad, otros han incrementado en diferente grado sus dispositivos. En las
crisis sociales y políticas que el propio retiro social del Estado provoca puede
verificarse que en muchos países el papel represivo continúa siendo muy
poderoso.
20
independencias. La distribución de territorios estatales se sustentó
básicamente en las distribuciones administrativas coloniales y las disputas de
poder entre ciudades con sus hinterland, y no en alguna forma de identidad
comunitaria.
21
Esta conceptualización permite comprender por qué un modo de imaginación
construido históricamente por dispositivos estatales puede mucho más que
sobrevivir a la transformación de esos dispositivos. El retiro social del Estado
puede generar, o actualizar, una articulación entre la idea de pueblo y la de
nación en oposición a Estados antipopulares o antinacionales. El movimiento
social puede recoger justamente el modo nacional de identificación que,
legitimado por el Estado en otros contextos históricos, es irrenunciable
explícitamente en la medida en que constituye la única vía de legitimación de
su propia existencia.
Esto implica que lejos de entrar en alguna era “posnacional” estamos más
cerca de nuevos usos de la nación, incluso usos cosmopolitas y
transnacionales, que aún deben ser estudiados.
22
Los límites del multiculturalismo
23
proceso abierto y dinámico, un proceso relacional vinculado a relaciones de
poder.
24
de la celebración de la “agencia cultural” (idem:14-15) porque, si se analiza
desapasionadamente, es claro que “la expresión cultural per se no basta”, más
bien “ayuda a participar en la lucha cuando uno conoce cabalmente las
complejas maquinaciones implícitas en apoyar una agenda a través de una
variedad de instancias intermedias”.
En ese marco, diversos autores han desarrollado una crítica ético-política del
multiculturalismo en su pretensión de universalidad. Por una parte, se ha
planteado que esa pretensión se vincula a una globalización impuesta del
modelo de sociedad de los Estados Unidos (Segato, 1998). Por otro, se ha
planteado que las luchas por el reconocimiento cultural llevan a un callejón sin
salida si no se combinan con luchas por una mayor distribución económica y
social. Las políticas de reconocimiento deben combinarse con políticas de
redistribución (Fraser, 1997).
Tal como está planteado hoy el debate sobre identidad, discriminación racial
en América Latina el camino se parece bastante a una cornisa. Frente a
argumentos acerca de la especificidad de las historias nacionales y regionales,
se ha respondido que existe el riesgo de que las élites latinoamericanas, bajo
el argumento de que “aquí es distinto”, terminen ocultando o menospreciando
problemas endémicos, estructurales, persistentes de racismo en muchos
países. Se trata de una advertencia que no se puede menospreciar.
25
quienes plantean que debe asumirse como central la cuestión de la etnicidad y
la raza en América Latina y que, quienes se nieguen a hacerlo, están
expresando proyectos intelectuales de países colonizados. El problema es que
verdaderamente creer que la cuestión de la raza puede tener relevancia
universal, sin atender a la especificidad de los procesos históricos y al papel
específico del Estado puede haber otra colonización del saber, incluyendo la
posibilidad de que la anterior y la actual sean de signos ideológicos
contrastantes.
El segundo punto se refiere a que esa “diversidad” de la que tanto se habla hoy
en día (y a la que aludíamos recién) es en realidad ella misma un proceso
histórico, producto de actores e instituciones, de representaciones y prácticas,
de hegemonías y subalternidades. O sea que las fronteras que cada diversidad
instituye en un momento histórico, y aquellas otras fronteras que pueden ser
emergentes e instituyentes, se corresponden con las articulaciones
hegemónicas y las imaginaciones políticas de aquellos que intentan socavarla.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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28
Fórum Social das Américas, Quito, Equador, 25 a 30 de julho de 2004
1
Esta presentación toma partes de la hecha en el Foro Temático sobre Economía Social y Solidaria
realizado por el Comité Movilizador Buenos Aires del Foro social Mundial, 4-6 junio 2004.
2
Director Académico de la Maestría en Economía Social de la Universidad Nacional de General
Sarmiento (Argentina).
3
Habermas, 2000, 117.
1
”La lista de problemas ante los que se topa cualquier lector de periódicos
sólo pueden convertirse en una agenda política si encuentran un destinatario en
el que se pueda confiar y que todavía confíe en una transformación de la
sociedad como medio para realizar determinados fines. El diagnóstico de los
conflictos sociales sólo se transforma en una lista de desafíos políticos... con el
supuesto de que los ciudadanos reunidos en una comunidad democrática pueden
conformar su medio social y desarrollar la capacidad de acción necesaria para
esa intervención.”
(Jürgen Habermas)4
El contexto y sus tendencias
Por supuesto que lo global está ya instalado como realidad en gestación, al punto
que hablamos de “otra globalización”, y la agenda no puede ser meramente local y
particular. Y toda agenda para procesos con tantos actores y fuerzas en juego, en
tanto es pensada como preparatoria para posibles debates, decisiones y
acciones, no puede dejar de estar marcada por una gran incertidumbre en el
futuro, difícil de escenificar con pocas variables y, sobre todo de ponerles tiempos
a los desarrollos posibles o deseables. Parte de la incertidumbre es que este
sistema global es de alta inestabiilidad, por lo que algunos acontecimientos
pueden desencadenar procesos hoy impredecibles.
En esto nos parece útil movernos con la hipótesis gruesa pero significativa y
fundada, de Immanuel Wallerstein, para quien el sistema capitalista global está
4
Habermas, 2000:83.
2
atravesando por un proceso de transición final, si bien va a tardar varias décadas
en definirse, que esa transición será dolorosa y no tenemos mapeado que clase
de bifurcaciones y nuevas institucionalidades nos va a plantear la historia.
No parece que debemos ver esa incertidumbre en que nos deja la falta de un
sistema conocido como horizonte, como una fuente de certidumbre dado que, no
estando determinado hacia dónde vamos, tenemos la posibilidad efectiva de
imaginar y construir otra realidad. Y también que, siendo el capitalismo
actualmente existente un referente empírico que no puede ser dejado de lado
porque “se va a acabar”, pues todavía despliega y desplegará fuerzas y eficacias,
no es ya el sistema que va a dominarnos al que tendríamos que pretender darle
un “rostro humano” o en cuyas catacumbas tendríamos que seguir buscando un
rincón para sobrevivir.
3
gobernantes irresponsables, fijados en los tiempos electorales si es que no en los
negocios personales.
Esto no es un dato menor, porque es en este contexto que tenemos que pensar
una agenda que nos permita construir vías alternativas de desenlace de esta
transición en mundo justo.
Sin duda que, desde una perspectiva sensible a la situación en el mundo, un tema
candidato a encabezar esta agenda pos neoliberal será “la Cuestión Social y
como resolverla”. No vamos a hablar aquí de las cifras de desempleo, subempleo,
precariedad, inseguridad social, empobrecimiento, ferocidad de la competencia a
la que se somete a las sociedades entre sí para ver cual sobrevive, etc. En este
punto es esencial que desmitifiquemos la utopía del crecimiento que finalmente (si
hace falta más evidencia, tenemos los últimos informes de la misma Banca
Internacional y los organismos de Naciones Unidas y sus predicciones para los
países periféricos). Ya no es un problema de indicadores y sus variaciones
anuales. Estamos hablando de estructuras, de sistemas.
4
global o económico, y eso se traslade como matriz cognitiva a cada esfera pública
nacional o regional.
Sin duda, muchos temas de esa agenda tendrán que ver, dado que se daría tanta
centralidad a los procesos participativos, con la política, con el poder, incluso con
el por qué está quién está en cada mesa, en cada espacio de diálogo, con las
formas de ejercer la representación colectiva de lo diverso y conflictivo.
En todo caso, nuestras propuestas (incluso por supuesto las que hagamos en
este breve trabajo) sobre qué es tema y con qué problematización entra en la
agenda, y cómo se articulan los problemas en jerarquías o equivalencias que
permiten pensar en transacciones, son eso: propuestas con pretensión de
legitimidad hechas por intelectuales más o menos orgánicos, más o menos
científicos, más o menos representativos, más o menos ideológicos. Y la
complejidad sistémica de los temas de la agenda deberá emerger sobre la base
empírica de la complejidad de las diferencias entre culturas, clases, situaciones,
conocimientos, posiciones, conocimientos, historias.
5
En esto, el pensamiento de Franz Hinkelammert es inspirador.
5
Visto como cuestión sistémica, la multiplicidad de injusticias en el mundo requiere
asumir que “la sociedad global” tiene que comenzar su debate posneoliberal
discutiendo cuáles son los principios de jerarquización de los derechos humanos
que hemos listado como compromisos interestatales y que los estados deben
garantizar. El derecho a la propiedad humana irrestricta, pretendidamente
vinculado al de la libertad individual, ha venido sido impuesto como el derecho
primordial, subordinando a todos los demás y justificando el brutal proceso de
concentración de la riqueza y de polarización en las condiciones de vida entre
minorías ricas y mayorías pobres. La alternativa que subyace en las propuesta de
“otra globalización”, “otro mundo posible” es la de ubicar como derecho que
asigna su posición a todos los demás el derecho a la vida biológica, cultural y
política. Y de allí se deriva una agenda pública muy diversa, unas prioridades y
unas acciones muy diversas para el Estado como garante de los derechos.
Como hipótesis para ese debate que nos debemos, afirmamos que, siendo
importante que tengamos la capacidad de resolver problemas, de administrar
recursos, de informar e informarnos, el carácter político de las cuestiones que
enfrentamos exige, por ser político, que demos fuerte centralidad a qué hacemos
con la economía. La agenda posneoliberal incluye como cuestión central la
discusión sobre la necesidad y las formas de reencastrar la economía en una
sociedad y una política que también queremos cambiar. Y en esto debemos tener
muy en cuenta el punto de partida que nos está dejando (no terminó de operar
efectos, indudablemente) la implementación del programa neoliberal en la
periferia latinoamericana.
Las economías nacionales reales son todas mixtas. Hay una lógica de la
acumulación de capital, encarnada en empresas privadas y sus organizaciones de
6
diverso grado, crecientemente globales en su ámbito y en su capacidad de
superar los principios de poder territorial de los estados nacionales. Hay una
lógica de la economía pública, organizada según reglas de la burocracia
centralizada, articulando el principio de redistribución (que ha venido operando de
forma perversa, de abajo hacia arriba, o a lo sumo de clases medias a clases
pobres, incluidas las clases medias empobrecidas) con el principio de
acumulación del poder y gobernabilidad/legitimación (cada vez menos eficaz) del
sistema capitalista. Y hay la economía popular, de los trabajadores, orientada por
el principio de reproducción de la vida (en buena medida limitada apenas a la
sobrevivencia). Ante la exclusión y la pobreza, la respuesta de la economía
popular ha sido la de luchar por la sobrevivencia. Y en eso ha mostrado
solidaridad efectivamente, pero también ha mostrado canibalismo. En la economía
popular real hay solidaridad y también hay lucha y competencia por espacios, por
tierra, por recursos, por clientes. Es una economía contradictoria, que tiene ahí
adentro la posibilidad de un futuro mejor pero también está mostrando que es
parte de este sistema del cual queremos salir.
Esa otra economía es, proponemos como tema de agenda, una economía social.
Pero podríamos decir que, en realidad, toda economía es social, si “social” quiere
decir que la economía construye sociedad. Esta economía que ahora tenemos, la
del llamado neoliberalismo, también construyó sociedad, pero construyó una
sociedad injusta, polarizada, construyó una sociedad que excluye, construyó una
sociedad que no queremos.
7
Entonces, cuando hablamos de “economía social”, le agregamos “y solidaria”,
porque queremos construir una sociedad distinta que ésta que tenemos. No
queremos solamente someter el mercado a la sociedad en general, porque si lo
quisiéramos someter a esta sociedad, en realidad finalmente tendería a reproducir
este mercado. Necesitamos otra sociedad, y necesitamos otra política para
ponerle límites a este mercado. Y esto requiere políticas y esto requiere poder, y
esto conlleva tiempos.
Más acá de la comprensión de las grandes cuestiones, hay entonces que resolver
problemas acuciantes. Hay distintos tiempos, el tiempo de la emergencia que
requiere asistencia, requiere ayuda, requiere solidaridad inmediata, requiere
redistribución inmediata, en tiempo que no se puede alargar porque si no hay
subsistencia, la gente, nosotros, no podemos ser ciudadanos, pertenecer a esta
6
Una meta a partir de la Cumbre del Milenio que aprobaron los Estados es reducir la tasa de
indigencia a apenas la mitad para el año 2015, y los estudios de los mismos organismos
internacionales indican que no es viable sin una drástica modificación de los “modelos”
económicos.
8
sociedad si estamos en condiciones de extrema necesidad. Entonces es muy
importante superar lo más rápidamente posible esta situación de extrema
necesidad. Pero podríamos superar la situación de extrema necesidad de tal
manera que, aún sin quererlo, construyéramos barreras para construir otra
sociedad después (como sería hacerlo mediante la filantropía cosmética o el
clientelismo).
9
tienen que poder dialogar con una buena dosis de respeto mutuo. Este
movimiento heterogéneo no es solamente de los pobres y desocupados. La
palabra “popular” tenemos que entenderla en un sentido mucho más amplio que
“de los pobres”. Estamos hablando de los trabajadores, de los que, si dejan de
trabajar, sus vidas y las de sus familias se empiezan a degradar. Ese tendría que
ser el sentido de lo popular para nosotros. Y el sentido de la agenda no puede ser
lo que hay que hacer y cómo hay que hacerlo sino una tematización abierta del
mundo, de problematización de lo que aparece como “natural”, incluidas las
propuestas llave en mano.
Tenemos que evitar que estas diferencias se conviertan en fuente de disputa, que
se conviertan en una lucha ideológica, tenemos que evitar que nos dividan los
adversarios o que nos dividan nuestros dogmatismos o nuestras visiones
simplistas y apegadas a lo local, lo micro, lo personal. Estamos hablando de
sistemas alternativos, pero no por eso sin contradicciones. Una economía mixta
puede seguir siendo mixta pero con dominancia de la economía del trabajo y no la
del capital ni la del Estado.
10
Aún asumiendo eso, tenemos que tener claro que una cosa es la discusión sobre
las formas micro económicas de organización -si es una cooperativa, si es una
red, si es una mutual, si es una empresa social- y otra cosa es el sistema en su
conjunto. Y la gran batalla no se va a dar alrededor de cuál es “la” forma micro
económica correcta, porque espero que lo que va a pasar es que van a haber
múltiples formas, y que se van a articular entre sí, y que tiene que haber
diversidad, porque es una gran riqueza esa diversidad que tenemos. No tenemos
que decidir ahora que hay formas prohibidas, o que hay formas que son
“traidoras” y que otras son las elegidas. Hay cooperativas y cooperativas,
comunidades y comunidades.
11
son válidas, pero no se constituyen en modelos replicables. Hay también
organizaciones –cooperativas de trabajo, ONGs de dudoso sentido- que simulan
ser parte de la economía solidaria pero que son aparatos del capital privado o del
sistema político para maquillar su imagen, para abaratar los costos de la mano de
obra sumando al despido la distribución desigual de riesgos, costos y beneficios
de la actividad económica. Hay comportamientos clientelares de parte de
movimientos sociales, y otros cuyo sentido es la agregación y la unidad de
recursos y no deben confundirse.
12
y prioritario en cada coyuntura, sobre el concepto y los mecanismos e
instituciones de “otro desarrollo”, sobre la eficacia de lo local, lo nacional, o lo
global, sobre los tiempos de la transición...
Hay, sin duda, algunos acuerdos básicos, condición para que haya una agenda, si
no pos-neoliberal al menos anti-neoliberal: este complejo socio-político-económico
y cultural que denominamos sistema capitalista periférico no puede seguir siendo
legitimado ni por que algunos indicadores den mejor ni porque el discurso de los
gobernantes parezca remarcar su inevitabilidad y apenas diferenciarse por el
grado de indigencia y pobreza considerados tolerables. Incluso las versiones más
reformistas proponen metas para remontar la cuestión social que son inviables sin
replantear ni el régimen de acumulación imperante, ni el pago de la deuda pública,
ni la liberación del mercado y los procesos inversionistas del capital, ni los
sistemas de representación y legitimación de las decisiones públicas.
Tal vez coincidiremos en que esta sociedad necesita conducción en nombre del
bien común, pero que esa conducción no puede ser centralizada sino multipolar,
distribuida en espacios y redes orientadas por una estrategia compartida pero
enriquecida por tácticas particulares en cada realidad concreta, una construcción
que pasa por la superación de fórmulas ideológicas puras y la capacidad de
aprender de nuestras nuevas prácticas, radicalizando la democracia y
compartiendo responsabilidades antes que jugando a la lotería con el buen juicio
de los delegados políticos de turno.
13
de educación queremos y cómo lo transformamos, la legitimidad y negociación de
la deuda, y si se paga algo quién lo paga, la relación con los organismos
internacionales, la posición de los representantes estatales y de la sociedad en las
Naciones Unidas, en la Organización Mundial de Comercio, en los conflictos
político-militares que detona el accionar de los grandes poderes...
Aquí la intelectualidad tiene mucho que aportar y ello debe pasar por el duro
trance de reconocer que las corporaciones profesionales, universitarias,
sindicales, culturales, y políticas, han llevado a minimizar el rol de la crítica y de la
política democrática. Tenemos que identificar y resolver problemas, pero la
racionalidad técnica no puede subordinar la racionalidad sustantiva: como ya
dijimos, el sistema de derechos humanos debe estar jerarquizado por el derecho a
la vida digna de todos, no por el derecho irrestricto a la propiedad privada. Definir
cómo hacerlo es el tema más abarcativo de la agenda anti y pos neoliberal.
14
Fórum Social Chileno, Chile, 19 a 21 de novembro de 2004
Um projeto Ibase, em parceria com ActionAid Brasil, Attac Brasil e Fundação Rosa
Luxemburgo
América latina:
salir del neoliberalismo, hacia un nuevo modelo
José Cademartori I.
Enero 2005
Venezuela es el caso más temprano y más avanzado del proceso que va desde la
crisis de la institucionalidad, hasta el comienzo de un nuevo paradigma: Desde el
caracazo, (la rebelión popular y la masacre de 1989) contra las brutales medidas
antipopulares del segundo y corrupto régimen de C.A.Pérez, sumados a las
sublevaciones militares del 93 que desembocaron en la destitución de ese
mandatario, hasta el referendum masivo del 2004 que reafirmó la voluntad
ciudadana de avanzar hacia una alternativa al neoliberalismo. Hitos de este proceso
de cambios fueron, la primera victoria presidencial de Hugo Chávez en 1998 que
sepultó el reparto bipartidista del poder, mantenido por más de 30 años; la nueva
constitución democrática que amplió los derechos populares en el 2000; el triunfo
sobre el golpe de estado de abril del 2002, la superación del golpe petrolero y la
reconquista de la industria para la nación en 2003, la atención prioritaria de las
necesidades sociales postergadas y el establecimiento de funciones reguladoras del
estado en la economía, en el comercio exterior y en el sistema financiero. A ello se
suma el renacimiento de la estrategia bolivariana por la integración latinoamericana.
Uno de los temas decisivos del viraje que está en perspectiva tiene que ver con las
relaciones con los Estados Unidos. A este respecto, cómo está cambiando el clima
en nuestro continente, lo muestra una encuesta de Zogby International y la Escuela
de Negocios de la Universidad de Miami publicada por el Wall Street Journal en
Octubre de 2003. Realizada entre líderes de opinión y funcionarios destacados de
Latinoamérica, en su gran mayoría políticamente centristas, reveló que sólo un 18%
quiere que sus economías estén más integradas con EE.UU. La mayoría prefiere
hacerlo con otros países latinoamericanos o con Europa. Un abrumador 87% calificó
negativamente la política de Bush hacia la región.
En este clima no es casual el fracaso de las negociaciones que por diez años
impulsó Washington y sus transnacionales para instalar el Alca que debía haberse
firmado a fines del 2004. Esta derrota se debe en buena medida a las denuncias y
movilizaciones en contra del proyecto norteamericano que encontraron eco en
vastos sectores sociales y en los gobiernos de Venezuela, Argentina y Brasil, e
incluso en otros de menor poder relativo, donde el intento de los negociadores
norteamericanos de paliar mediante tratados bilaterales de libre comercio, el fracaso
del Alca, también encuentra resistencia, incluso en EE.UU. Ni Buenos Aires ni
Brasilia han rechazado oficialmente el Alca, pero han puesto, entre otras
condiciones, el levantamiento de los subsidios norteamericanos a sus exportaciones
agrícolas, vetan la exigencia norteamericana a favor de extender el monopolio de
sus patentes, resisten la privatización de los servicios sociales y se niegan al
desmantelamiento de controles a los movimientos financieros.
Las ansias seculares de los desposeídos del continente pueden verse enfrentadas
una vez más, a una combinación de acciones violentas o terroristas junto a políticas
demagógicas. En los años setenta, para detener los procesos de liberación en el
continente, la derecha recurrió a los golpes de estado y a las dictaduras militares.
Gracias a que en todo el continente la lucha heroica contra las masacres, las
torturas y otras violaciones brutales a los derechos humanos ha creado un gran
consenso de repudio a tales métodos políticos, no es nada fácil que sus autores
puedan repetirlos con el éxito de entonces. El rechazo popular instantáneo al golpe
de estado de abril en Venezuela, respuesta triunfante, sostenida por un amplio
sector de las propias Fuerzas Armadas, sentó un precedente de proyecciones
históricas en el continente. Las intervenciones militares norteamericanas en nuestros
países para derribar gobiernos insumisos como en Granada y Panamá, si bien
lograron sus propósitos, se trató de países pequeños y de situaciones no definitivas.
Para la ocupación de Irak, el Pentágono sólo consiguió el apoyo de El Salvador,
Honduras, Nicaragua y República Dominicana, pero el rechazo de México y Chile,
respaldado por la mayoría de las naciones sudamericanas y del Caribe.
Lamentablemente en Haití, Bush ha tenido éxito en comprometer a Chile, Argentina,
Brasil y otros gobiernos latinoamericanos para sustituir a los marines por soldados
latinoamericanos, incluso a costo latinoamericano, con el peligro de nuevas y justas
sublevaciones de los haitianos, ante una ocupación foránea indefinida que no
resuelve ninguna de sus graves carencias.
Uno de los más antiguos es el del Mercado Común Centroamericano (MCCA) que
une a cinco países de la región (Guatemala, Honduras, El Salvador, Nicaragua y
Costa Rica) desde 1960 y el sistema de integración centroamericana (SICA) al cual
pertenecen además Belice y Panamá. Estos procesos han traído un crecimiento
importante del comercio mutuo y cierto desarrollo industrial interno, lo que ha
compensado parcialmente la dependencia del mercado de EE.UU y las fuertes
caídas de los precios de las materias primas. No obstante, el curso del MCCA está
tensionado por las dos corrientes opuestas. Una, el marco neoliberal interno que
persiguen sus gobernantes y la estrategia norteamericana que busca
exclusivamente extraer los ricos y casi vírgenes recursos naturales, así como la
mano de obra “maquilera” de la región mediante sus transnacionales. A este fin se
busca imponer el TLC de EE.UU con Centroamérica y el Plan Puebla Panamá. La
otra corriente contrapuesta es la que empujan los sectores nacionales y fuerzas
populares en busca de un desarrollo autónomo y cooperativo de los estados
miembros. Es precisamente en El Salvador y Nicaragua, los países con los más
avanzados movimientos de izquierda, donde los objetivos integracionistas como
procesos de unificación más que de mero librecomercio neoliberal han calado más
en la opinión pública.
Evelina Dagnino
Professora da Unicamp
(Texto produzido a partir da palestra da autora)
1
radicalizá-la e ampliá-la no sentido de estendê-la para muito além do sistema
político, estendê-la às relações sociais no seu conjunto. O marco formal de todo o
processo de redefinição da democracia é a Constituição de 1988, que assegurou
vários elementos deste projeto.
Duas idéias que são centrais nesse projeto. A primeira é a idéia de cidadania.
Esse projeto significava o aprofundamento da democracia porque também
redefiniu, re-significou a idéia de cidadania e essa idéia é fundamental quando
falamos da reinvenção democrática. O outro princípio fundamental, trazido para a
Constituição de 1988, é a idéia da participação da sociedade civil. As redefinições
de democracia contidas já na Constituição de 1988, e concretizadas
posteriormente através de experiências como os Conselhos Gestores e os
Orçamentos Participativos, não partiram do Estado, mas da sociedade civil. Não
que tal projeto tenha sido constituído de maneira autônoma. Muito pelo contrário,
foi uma vitória da sociedade que conseguiu impor-se ao projeto dominante de
uma democracia elitista e restrita.
2
preside o ordenamento social brasileiro e de tantas outras sociedades na América
Latina, como o autoritarismo social. E é justamente contra o autoritarismo social
que essa redefinição de cidadania se põe, alvo político fundamental do processo
da redemocratização (assim como o autoritarismo político).
Há, portanto, uma clara distinção em relação a outras versões de cidadania. Esta
cidadania chamada, naquele momento, de “nova cidadania”, uma cidadania
ampliada, não está mais confinada dentro dos limites das relações com o Estado
ou entre o Estado e o indivíduo. A cidadania liberal se confina nesse espaço. Mas
essa redefinição pensa a cidadania como algo que deve ser estabelecido também
no interior da própria sociedade, uma cidadania que funcione como um parâmetro
do conjunto das relações sociais que se travam nessa sociedade. O processo de
construção de cidadania como afirmação e reconhecimento de direitos é,
especialmente na sociedade brasileira, um processo de transformação de práticas
muito arraigadas não apenas no Estado, mas na sociedade como um todo. O
significado dessa cidadania está muito longe de ser limitado à aquisição formal e
legal de um conjunto de direitos. E, nesse sentido, ela também não está limitada
ao sistema político-jurídico.
A nova cidadania seria então um projeto para uma nova sociabilidade, um formato
mais igualitário das relações sociais, inclusive novas regras para viver em
sociedade, para a negociação de conflitos. Um novo sentido de ordem pública e
de responsabilidade pública. Aquilo a que alguns autores se referem como sendo
um novo contrato social. Ora, um formato mais igualitário de relações sociais em
todos os níveis implica aquilo que a professora Vera da Silva Telles chama de “o
reconhecimento do outro como sujeito portador de interesses válidos e direitos
legítimos”. Isso implica, evidentemente, a constituição de uma dimensão pública
na sociedade em que os direitos possam se consolidar como parâmetros públicos
para a interlocução, para o debate, tornando possível a reconfiguração de uma
dimensão ética da vida social. Isso significa também que essa cidadania tem que
se abrir não só, evidentemente, ao direito à igualdade, que é constitutiva da
cidadania, mas, especialmente, tem que se abrir e considerar o direito à diferença.
3
E nesse sentido, me parece que tal redefinição de cidadania estabelece um
vínculo indissolúvel entre o direito à igualdade e o direito à diferença, na medida
em que não é mais possível na sociedade contemporânea pensar a realização da
igualdade sem considerar que essa realização passa integralmente por assegurar
também o direito à diferença. Não há como falar em igualdade se as diferenças
persistirem e são usadas como base para a desigualdade, a discriminação etc.
4
O que é que possibilitou que essa idéia de participação como partilha do poder
pudesse ser realista, no período entre os anos 1980 e início dos anos 1990?
Primeiro, com a democratização, a reorganização partidária e as eleições livres,
houve um trânsito, especialmente durante os anos 1990, de manifestações desse
projeto democrático participativo que se engendrou na sociedade civil para dentro
do aparato do Estado nos seus vários níveis. A princípio, nos níveis municipais e
estaduais. O que era, entre os anos 1970 e começo dos 1980, um projeto gestado
na sociedade, transitou, em alguns casos, para dentro do aparato do Estado.
A segunda condição, que é uma decorrência dessa e que ocorre nos anos 1990, é
a principal novidade dos anos 1990. Os movimentos sociais e a sociedade civil,
dado este trânsito, resolveram fazer uma aposta na possibilidade de uma atuação
conjunta entre o Estado e a sociedade civil, através, exatamente, do princípio da
participação. Ou seja, se consolidou, nos anos 1990, a idéia de que a sociedade
tem o direito de participar e que, portanto, pode e deve compartilhar o poder do
Estado. Para isso, a Constituição de 1988 assegurou alguns mecanismos.
5
assegurar o projeto dominante. Mas com certeza ele é mínimo quando se trata de
alocar recursos para as políticas sociais. Tal projeto de Estado mínimo configura-
se com o encolhimento das suas responsabilidades sociais e a sua transferência
para a sociedade civil, como maneira de implementar os ajustes estruturais
exigidos pelo FMI.
6
democrático no Brasil. Uma das tarefas fundamentais que temos que enfrentar
hoje para resgatar a invenção democrática, a reinvenção democrática que
iniciamos e que nos deu grandes avanços é enfrentar a aparente homogeneidade
do discurso, é reafirmar os significados que o projeto democratizante conferiu a
eles, apontando a distinção entre eles e o uso, a apropriação neoliberal que deles
se faz.
Por outro lado, é preciso reconhecer tais avanços. Não haveria como concordar
com a idéia de que avançamos pouco desde a década de 1980 ou de que a
democracia não tenha servido para nada. Evidentemente, onde não houve
avanços, onde houve regressão até, foi em relação à igualdade econômica. A
derrota que este projeto sofreu com relação à necessidade de diminuição da
desigualdade não pode obscurecer todos os outros ganhos que tivemos, inclusive
em outras dimensões de conquista da igualdade. Se considerarmos o percurso
que tivemos desde esta época no reconhecimento dos direitos de inúmeros
setores na sociedade, direitos à igualdade e à diferença (de negros, mulheres,
deficientes físicos etc), podemos ter um olhar um pouco mais relativizado sobre os
anos que hoje nos separam da formulação original do projeto democrático e
participativo.
7
É preciso, então, examinar as redefinições, seus significados e suas implicações.
Em primeiro lugar, a redefinição da idéia de sociedade civil, que é a mais
conhecida delas. Houve uma profunda transformação no conteúdo da idéia de
sociedade civil em relação aos anos 1980, já que a sociedade civil foi afirmada
nos anos 1980 como a arena e o alvo da política. A expressão foi trazida para o
vocabulário político porque tinha esse significado, afirmar a ampliação da política.
Hoje, o sinônimo mais freqüente para sociedade civil é a idéia de terceiro setor,
oriundo do projeto neoliberal.
8
A segunda redefinição é a da noção de participação. A participação, que era o
núcleo central do projeto participativo, percorre um pouco os mesmos caminhos
que percorreu a redefinição neoliberal da sociedade civil. A re-significação da
participação se constitui através da emergência da chamada “participação
solidária”, que vem acompanhada da ênfase no trabalho voluntário e na chamada
"responsabilidade social", tanto de indivíduos quanto de empresas. O princípio
básico nestas noções, extremamente difundidas hoje em dia, é a adoção de uma
perspectiva privatista e individualista, capaz de substituir e redefinir o que era o
significado coletivo da participação social. A própria idéia de solidariedade, que
virou a grande bandeira da participação redefinida, é, neste outro projeto, despida
do seu significado político coletivo e passa a apoiar-se no terreno privado da
moral. As redefinições promovem então a despolitização da participação. E se
pensarmos que, no modelo da participação do voluntariado, da responsabilidade
social, não há mais a necessidade de espaços públicos, onde o debate sobre os
próprios objetivos da participação pode ter lugar, vemos que o significado político
e o potencial democratizante destes espaços é, de novo, substituído por formas
estritamente individualizadas de tratar questões tais como a desigualdade social e
a pobreza.
Em segundo lugar, a cidadania está cada vez mais sendo apresentada através de
uma conexão, que é muito sedutora, entre cidadania e mercado. Tornar-se
9
cidadão, em muitos discursos hoje em dia, passa a significar a integração
individual ao mercado, como consumidor e como produtor. Este me parece um
princípio que subjaz a uma enorme quantidade de programas para ajudar as
pessoas a “adquirir cidadania”: aprender como iniciar uma micro empresa, se
tornar qualificado para os poucos empregos ainda disponíveis etc. Em um
contexto onde o Estado se isenta progressivamente do seu papel de garantidor de
direitos, o mercado é oferecido como uma instância substituta da cidadania. É
problemático denominar a isto cidadania, reduzindo e distorcendo seu significado
original.
10
não mais como cidadãos, mas como carentes que devem ser atendidos pela
caridade, seja ela pública ou privada.
A energia da sociedade civil não deve ser inteiramente voltada para a participação
nas instâncias de co-gestão com o Estado. Certamente há uma enorme
multiplicidade de formas daquilo que vários autores chamaram de socialização da
política, fazer com que a política seja uma atividade assumida por uma parte cada
vez maior da sociedade, não apenas a política institucional (igualmente
importante), mas também todas as outras formas de política.
E o que temos? Os representantes eleitos pela sociedade civil postos face a face
com o Estado, isolados, "pendurados no pincel". Porque as bases que eles
supostamente representam muitas vezes estão rarefeitas e desmobilizadas. É
necessário fazer com que estas duas frentes estejam profundamente interligadas.
11
Fórum Social Nordestino, Recife, 24 a 27 de novembro de 2004
Rodrigo Simões
Marco Crocco
Professores do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional
(Cedeplar) da Universidade Federal
de Minas Gerias (UFMG)
Introdução
1
preocupação básica é discutir o desenvolvimento regional, apresentando um
diagnóstico e propondo linhas gerais para enfrentar o atual quadro. O documento
é dividido em três partes, além desta introdução. Na próxima seção é discutida a
desigualdade regional brasileira e suas principais interpretações. Na seção
seguinte, são analisadas as características das políticas de desenvolvimento
regional da década dos 1990. Finalmente, algumas sugestões de política de
desenvolvimento regional e de financiamento deste são apresentadas.
2
capital no espaço, a fim de produzir um diferente padrão locacional (SIMÕES,
2003).
3
Esse esforço governamental – mesmo que não tenha surtido os efeitos desejados
em toda a sua magnitude – deixou clara a preocupação com as políticas regionais
de desconcentração produtiva. Estas, com início no final dos 1950 com a criação
da SUDENE, permearam toda a discussão de eqüidade regional na década de
1970. Nos anos 1980, apesar de vez ou outra ameaçarem um redivivo, foram
colocadas em segundo plano – assim como quase todas as questões estruturais
da economia brasileira - face à crise fiscal do Estado e a urgência da estabilização
monetária.
(em %)
Regiões/Estados 1970 1980 1990 2000
Norte 0,8 2,4 3,1 4,5
Nordeste 5,7 8,1 8,3 9,0
Bahia 1,5 3,5 4,0 3,9
Ceará 0,7 0,9 0,9 1,7
Pernambuco 2,2 2,0 1,7 1,1
Centro-Oeste 0,8 1,2 1,8 2,2
Sudeste 80,7 72,6 69,5 66,0
Minas Gerais 6,5 7,7 8,7 9,5
4
Espírito Santo 0,5 0,9 1,0 2,0
Rio de Janeiro 15,7 10,6 9,8 9,4
São Paulo 58,1 53,4 50,0 45,2
RMSP 43,5 33,7 30,2 22,0
Interior de SP 14,6 19,8 19,8 23,2
Sul 12,0 15,8 17,3 18,3
Paraná 3,1 4,3 5,7 5,7
Santa Catarina 2,6 4,1 4,2 4,3
Rio Grande do 6,3 7,3 7,7 8,3
Sul
Fonte: Elaboração própria a partir de FIBGE, Censos
Industriais, 1970 e 1980, e FIBGE PIM/PF e PIA. *
Estimativa com base na produção física da indústria da
transformação no período 1990 / 2000.
5
Sul do país (DINIZ, 1993). Torres apresenta uma visão complementar e
diferenciada, evidenciando que os estados de Minas Gerais, Espírito Santo e
Bahia podem vir a concentrar os maiores ganhos de participação percentual no
VTI devido às suas especializações na produção de bens intermediários, face à
sua participação relativa no comércio exterior brasileiro (TORRES, 1991).
Pacheco, por sua vez, enfatiza os efeitos da abertura comercial na estrutura
regional da indústria brasileira, concluindo por uma tendência de fragmentação
do espaço nacional, com possibilidade de repercussões no próprio pacto
federativo brasileiro (PACHECO, 1998). Diniz & Crocco destacam também a
influência do Mercosul, que pelo “efeito de arraste” aumentou o potencial de
crescimento industrial do sul do país. Voltam também a reafirmar a prevalência da
Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), destacando a recentralização
financeira e de serviços produtivos complexos como reforço à posição primaz da
metrópole paulistana no cenário econômico brasileiro, posicionando-a como o
único espaço localizado brasileiro integrado ao sistema mundial de cidades
globais (DINIZ & CROCCO, 1996).
6
dado que o maior aumento diferencial se deu no próprio entorno ampliado da
RMSP; basicamente na interiorização da indústria paulista e no eixo Belo
Horizonte / Porto Alegre; e ii) a consideração das próprias mudanças ocorridas na
estrutura produtiva mundial, e prospectivamente apontando para uma
reconcentração da produção em São Paulo. Analiticamente, Torres resume os
principais argumentos:
7
modificações ocorridas no paradigma tecnológico vigente, a dinâmica da inserção
brasileira na Divisão Internacional do Trabalho, além da própria Divisão inter-
regional do Trabalho no Brasil.
Diniz ressalta que a única política regional de âmbito federal na gestão Fernando
Henrique Cardoso – os Eixos Nacionais de Integração e Desenvolvimento, do
Ministério da Integração Nacional – avançou ao tentar vincular potencialidades
regionais com o mercado externo e criar efeitos sinérgicos entre a infra-estrutura
física/social e atividades produtivas, trazendo, também, implicações contraditórias
à idéia de redução das desigualdades regionais, a saber: 1) viés excessivamente
exportador, sem preocupação com a integração inter-regional brasileira; 2)
abandono de uma integração mais orgânica com os países do Mercosul; 3) falta
de ênfase nas questões estruturais – saneamento, habitação, educação – que
amenizariam a brutal concentração de renda no país; 4) existência de projetos
concorrentes sem definição clara das instâncias de arbitragem; 5) inexistência de
uma política tecnológica regionalizada; 6) incompatibilidade entre instâncias e
instrumentos de política econômica existentes como os objetivos explícitos do
programa; e 7) inexistência de diretrizes de integração urbana entre os eixos,
respeitando suas centralidades e espaços polarizados (DINIZ, 2002). Também
Cano afirma que os eixos “(...) constituíam vetores ligando zonas produtivas a
portos de exportação (...) apenas tocando pontos de origem-destino, pouco ou
nada fazendo em prol dos maiores espaços regionais em que estavam inseridos,
(...) praticamente ignorando os problemas urbanos e sociais das cidades maiores
8
envolvidas pelos eixos” (CANO, 2002:281). Ao contrário de políticas regionais
integradas e de âmbito macro-espacial, o que vimos acontecer durante os anos
de 1990 é aquilo que podemos designar como sobrevalorização da ideologia do
poder local2. Como bem destacou Cano3 (CANO, 2002:282 et passim):
Dessa forma,
2
Não nos cabe aqui avaliar e nem mesmo apresentar a discussão sobre poder local. Ver BENKO &
LIPIETZ (1992), ALBAGLI (1999), GRANOVETER (1985), ZEITLIN (1992), PUTNAN (1993),
FERNANDES (2001), dentre outros.
3
Esse autor, assim como PACHECO (1998), também destaca a efetiva possibilidade de
fragmentação nacional derivada deste processo.
9
Enfatizando a dimensão locacional, a famosa tríade marshaliana4 destaca que as
vantagens da produção em escala operam de forma mais eficiente a partir da
concentração espacial de um grande número de pequenas e médias empresas
(PME’s) num locus específico. Tal concentração provocaria o equacionamento da
dicotomia competição-cooperação, aumentando a eficiência e por conseguinte a
capacidade competitiva das empresas envolvidas no processo. Isto dar-se-ia pela
articulação entre economias externas – resultado imediato da aglomeração
espacial – e “ação conjunta” dentro do próprio distrito. A “eficiência coletiva”
resultante propiciaria as vantagens deste tipo de aglomeração5. Neste contexto, o
papel das economias de escala externas torna-se essencial.
Mais que isso, para o bom funcionamento do cluster, este papel de coordenação
deve ser exercido por instituições, públicas e/ou privadas – tais como sindicatos
patronais, centros de apoio às empresas, poder público local – dando suporte
organizacional às empresas participantes.
Desta forma, as clustering policies passam a ser vistas como uma nova panacéia
para a resolução dos problemas regionais, e sua implementação a garantia de
aproveitamento das potencialidades regionais levando a uma melhor inserção nos
4
Sinteticamente, essa tríade pode ser definida como as economias externas decorrentes de
spillovers de conhecimento, formação e especialização do mercado de trabalho e encadeamentos
setoriais com fornecedores e prestamistas.
5
Vale dizer, “(...) a divisão do trabalho entre as firmas do distrito provoca fortes economias de
escala ao potencializar o uso especializado de recursos produtivos, como treinamento de mão-de-
obra e na rápida circulação de informações” (GARCIA, 1996:26).
6
Estas sinergias advêm de “(...) interações diversas, parcerias público-privadas, envolvendo oferta
de recursos de infra-estrutura, e cooperação fornecedores-clientes” (LINS, 2000:237).
10
mercados nacionais e até internacionais. Como destaca o documento “Cresce
Minas: um projeto brasileiro”(FIEMG, 2000) :
Martin & Tyler destacam ainda que a ênfase nesta nova política regional deve ser
entendida a partir da situação específica dos países centrais, nos quais os
desequilíbrios inter e intra-regionais se dão marginalmente, ou seja, acontecem
preponderantemente nas diferenças entre taxas de crescimento e de desemprego
(MARTIN & TYLER, 1999). Países como o Brasil, nos quais os desequilíbrios
7
A Professora Tânia Bacelar, citada em SIMÕES (2002), destaca a centralidade da escala nacional
na formulação de políticas de desenvolvimento regional e a atualidade dos “velhos” instrumentos de
política regional para encarar desequilíbrios regionais da monta do brasileiro. Apesar disso também
reafirma a importância da escala local, principalmente no que se refere ao papel das instituições
locais e regionais na identificação de especificidades e potencialidades setoriais. Esse fato,
segundo Bandeira, garantiria, ademais, maior representatividade política e transparência na gestão
(BANDEIRA (2000).
11
regionais manifestam-se fortemente no valor das magnitudes iniciais dos
agregados (PIB, VTI, dotação de infra-estrutura etc), necessitam de mediação
entre o abandono puro e simples das tradicionais “políticas de áreas assistidas” e
a adoção de estratégias de picking winners, tais como as preconizadas pelas
clustering policies8 . Como afirma Martin (MARTIN, 1999:9 et passim):
8
Não cabe aqui uma avaliação das clustering policies como política industrial e tecnológica. Para
uma rigorosa avaliação sobre o tema, ver Suzigan (SUZIGAN, 2001) e Cassiolato (CASSIOLATO
(2000).
12
“Problemas mais gerais de desequilíbrios econômico
regionais devem ser tratados por políticas de âmbito regional
ou nacional. Estudos de aglomerações industriais devem
visar apenas entender e avaliar empiricamente fenômenos
de organização industrial no espaço geográfico.” (SUZIGAN,
2001:37)
Pelo exposto até aqui fica evidente que, dada a magnitude da desigualdade
regional brasileira e a virtual inexistência de uma política de cunho regional em
âmbito nacional no país, qualquer diretriz para a formulação de uma política que
vise a mitigação dos desequilíbrios regionais no Brasil deve partir,
necessariamente, da recuperação da capacidade de planejamento do Estado
brasileiro. Nas palavras de Diniz, é preciso retomar “(...) o planejamento nacional,
13
no qual a visão de problemas, potencialidades e prioridades regionais e setoriais
esteja organicamente inserida”, para que possa-se obter coerência e
funcionalidade entre políticas, sejam de cunho macroeconômico ou setorial, e as
diretrizes para o desenvolvimento regional (DINIZ, 2002:267). Atrelado a isso faz-
se imprescindível a criação de um sistema de coordenação da política regional,
inserido no sistema nacional de planejamento, que operacionalize
institucionalmente:
Sobre esse último ponto Crocco destaca que pode-se pensar em três pilares,
necessariamente integrados, na construção de uma política de financiamento do
desenvolvimento regional: os Fundos Oficiais de Financiamento; o papel dos
Bancos Oficiais (BNDES, BNB, Banco do Brasil, etc.); e, por fim, o marco
regulatório dos Bancos Comerciais Privados (CROCCO, 2003) . Vale dizer, o
autor enfatiza a idéia de que o financiamento do desenvolvimento regional deve
combinar instrumentos públicos e privados, que seriam combinados de forma a
criar sinergias.
9
A discussão sobre os efeitos deletérios da guerra fiscal no desenvolvimento brasileiro merece um
estudo à parte. Aqui cabe destacar que, além de desestruturar os preços relativos, a renúncia de
arrecadação por parte dos estados nem sempre é compensada pela geração de empregos e
estímulo à economia.
14
(Funder)10, facilitando uma intervenção coordenada em todas as regiões. A idéia
central é superar, tanto do ponto de vista da elaboração de uma política regional,
quanto do financiamento desta, a regionalização administrativa (CROCCO, 2003).
Como destaca Diniz, é necessário estabelecer uma nova “(...) regionalização para
fins de planejamento, estabelecendo os macro, meso e micropólos, e as
respectivas macro, meso e microrregiões, como referência para a política
regional.”11 (DINIZ, 2002:268) Este procedimento poderia dar à política regional
uma dimensão nacional, evitando contradições e superposições de instrumentos e
recursos.
10
Essa sugestão de criação de um fundo único aparece primeiramente em Diniz, em artigo
preparado para os “Painéis do Desenvolvimento Brasileiro” realizado pelo BNDES (DINIZ, 2002).
11
Diniz argumenta, ainda, que a delimitação do espaço nacional através das regiões administrativas
do IBGE, não atende às necessidades de planejamento, uma vez que a indução do
desenvolvimento é associada a uma dinâmica espacial que não é captada pela divisão do país nas
tradicionais regiões administrativas (DINIZ, 2002) .
15
distintos dos objetivos do fundo único. Pode-se pensar que
12
Para uma discussão aprofundada deste tema ver CROCCO (2003) e CROCCO et. al. (2002).
16
locais, atuando em espaços geográficos determinados, e pequenos bancos
nacionais, com pouca liberdade de atuação (ALESSANDRINI & ZAZZARO, 1999).
Como enfatiza Crocco:
13
Fato este que já ocorreu na regulamentação bancária brasileira.
17
Um outro elemento de apoio à política de desenvolvimento regional seria a sua
articulação com as políticas de outras áreas. A política de desenvolvimento
tecnológico, por exemplo, poderia ser utilizada como instrumento adicional,
através de diversas ações, tais como: o financiamento de aglomerações
produtivas locais e a diversificação regional da estrutura de produção científica e
tecnológica do país. Devemos atentar que as políticas industrial e setorial podem
tanto contribuir para combater o desequilíbrio regional, como também ampliá-lo.
Vale dizer, ao incentivar a concentração da produção industrial em áreas que
possuam vantagens comparativas já estabelecidas – ao estilo das clustering
policies – o componente de desigualdade é inerente. A suposta vinculação do
ambiente local diretamente à escala global – por intermédio da ênfase na
competitividade externa – pode vir a promover uma desintegração regional em
tudo maléfica ao país, dada a importância do fortalecimento dos linkages
intersetoriais internos na geração de renda e emprego (SIMÕES, 2003).
18
BIBLIOGRAFIA
BENKO, G & LIPIETZ, A. Les régions qui gagnet: districts et reseaux: les noveaux
paradigmes de la geographie economique. Paris: PUF, 1992.
19
CANO, W. Reestruturação internacional e repercussões interregionais. In:
CARLEIAL & NABUCO, Op.cit., 1989.
CANO, W. & PACHECO, C.A. São Paulo no limiar do século XXI, perspectivas
dos setores produtivos, 1980-2000. São Paulo: Metrô / SRL / FECAMP, 1990
(mimeo).
20
DINIZ, C.C. Repensando a questão regional brasileira: tendências, desafios e
caminhos. In: CASTRO, A.C. (org). Desenvolvimento em debate. Painéis do
desenvolvimento brasileiro – II. Rio de Janeiro: MAUAD / BNDES, 2002 b.
DINIZ, C.C. & CROCCO, M.A. O novo mapa da indústria brasileira: aglomeraçòes
industriais relevantes. VII SEMINÁRIO SOBRE ECONOMIA MINEIRA, Anais...,
Diamantina: Cedeplar, 1995
DINIZ, C.C. e LEMOS, M.B. Dinâmica regional e suas perspectivas no Brasil. In:
PARA a década de 90; prioridades e perspectivas de políticas públicas.
Brasília: IPEA-IPLAN, v.3, 1989.
21
MARSHALL, A. (1890) Principles of economics, London: McMillan, 1920.
PIORE, M.J. & SABEL, C. The second industrial divide. New York: Basic Books,
1984.
PUTNAN, R. Making democracy work: civic traditions in modern Italy. New Jersey:
Princeton University Press, 1993.
22
Painéis do desenvolvimento brasileiro – II. Rio de Janeiro: MAUAD / BNDES,
2002.
23
Fórum Social Nordestino, Recife, 24 a 27 de novembro de 2004
A Reinvenção da Democracia
John Holloway
professor da Universidade de Puebla (México)
Brasil es un lugar muy especial para plantear esta pregunta. Hace apenas dos
años la izquierda mundial festejó el triunfo de Lula en las elecciones. Aquí por
fin hubo una gran victoria para la democracia, una victoria real para la izquierda.
Y no cualquier izquierda, sino de un partido de militancia comprobada, con un
líder obrero de militancia comprobada. Aquí por fin todo el mundo podía ver que
era posible cambiar la sociedad a través de las elecciones democráticas.
1
El fracaso de Lula no es simplemente un fenómeno brasileño. Es la repetición
en Brasil de una experiencia mundial. Hay una palabra que ocurre una y otra
vez en la historia de la izquierda estadocéntrica en todo el mundo: traición. El
hecho de que la traición se repite tan seguido hace que el concepto mismo de
“traición” es ridículo. El fracaso de la izquierda no puede ser simplemente
cuestión de traición, de la culpa de un líder ni de la culpa de un partido: tiene
que tener algo que ver con las estructuras mismas. El hecho de que no es
simplemente una experiencia brasileña significa que tenemos que ir más allá de
una crítica de Lula o del PT.
II
2
movimiento de separación que fragmenta la socialidad del hacer. El capital toma
lo que los hacedores han hecho y dice “¡esto es mío!” El capitalista rompe el
hacer, separa lo hecho del hacer y del hacedor, y con eso todo se rompe, cada
aspecto de la vida. Sobre todo nosotros estamos rotos. Nosotros estamos rotos
como sujeto social, despedazados en millones de individuos atomizados. El
capital es la ruptura del hacer social, y cuando el hacer se rompe, el ser se
impone, lo que es domina.
Vemos los horrores del mundo, los niños que mueren, la pobreza y la injusticia,
las bombas que caen, y gritamos “¡NO! No puede ser. Tenemos que cambiar el
mundo, tenemos que hacer otro mundo” Y ellos se ríen: “Ustedes son nada más
un grupo de individuos. No pueden cambiar el mundo porque el mundo es así,
así son las cosas”. Están equivocados, por supuesto. Lo que es es solamente
porque nosotros lo hemos hecho y lo seguimos haciendo. Lo que es depende de
nuestro hacer. El capital depende de nosotros. El capital se ve tan estable, se ve
como algo eterno. Pero no lo es. Existe solo porque nosotros lo creamos, no
porque lo creamos hace doscientos años, sino porque lo creamos hoy, lo
estamos creando hoy. El problema no es abolir el capitalismo, el problema es
dejar de crearlo.
3
democracia.
III
Pero entonces ¿por qué es un desastre? ¿Por qué no funciona? ¿Por qué
sentimos que estamos excluidos? ¿Por qué, bajo Bush y Blair, la democracia se
ha convertido en un arma de destrucción masiva? ¿Por qué es que cuando la
gente elige a Lula para cambiar la sociedad, no pasa nada?
4
sujetos hasta que tengamos la oportunidad de renovar la separación en las
próximas elecciones. Se crea un mundo de la política, separado de la vida
cotidiana de la sociedad, un mundo de la política poblado por una casta distinta
de gente que habla su propio lenguaje y tiene su propia lógica, la lógica del
poder. No es que esta gente esté totalmente separada de la sociedad y sus
antagonismos, porque se tienen que preocupar por la próxima elección y las
encuestas y los grupos organizados de presión, pero ven y escuchan solamente
aquello que está traducido a su mundo, a su lenguaje, a su lógica. Al mismo
tiempo se crea un mundo paralelo, un mundo teórico, académico que refleja
esta separación entre política y sociedad, el mundo de la ciencia política y del
periodismo político, que nos enseña el lenguaje y la lógica peculiares de los
políticos y nos ayuda a ver el mundo a través de sus ojos ciegos.
III
5
"¡Que se vayan todos!” es un grito que resuena en todo el mundo porque en
todo el mundo la gente está harta de los políticos profesionales, de aquellos
miserables que toman nuestro lugar, que nos representan.
6
desde las negaciones, las insubordinaciones, las proyecciones en-contra-y-más-
allá que existen por todos lados. El mundo está lleno de fisuras de este tipo, de
negaciones. En todas partes del mundo hay gente diciendo, individual y
colectivamente “No, no vamos a hacer lo que nos dice el capitalismo: vamos a
moldear nuestras vidas como nosotros queremos”. A veces estas fisuras son tan
pequeñas que ni los rebeldes mismos están conscientes de su propia rebeldía,
a veces son tan grandes como la Selva Lacandona – y mientras más nos
enfocamos en ellas, más empezamos a ver el mundo no como un sistema
cerrado de dominación total capitalista, sino como un mundo lleno de fisuras, de
negaciones, de resistencias, un mundo preñado de otro mundo. Cada fisura es
un impulso hacia este otro mundo, es decir un impulso hacia la auto-
determinación. Nuestra lucha es para extender y multiplicar y profundizar y
fortalecer estas fisuras. Estamos hablando de revolución, pero en la única forma
en la cuál es posible concebir la revolución ahora, como revolución intersticial.
7
análisis de Marx de la Comuna de Paris, que se puede encontrar en los soviets
de la revolución rusa, los concejos comunitarios de los zapatistas, las
asambleas barriales argentinas y en muchos otros movimientos.
8
una comunidad basada en el reconocimiento mutua de la dignidad humana.
IV