A Confissão de Fé Batista de 1689
A Confissão de Fé Batista de 1689
A Confissão de Fé Batista de 1689
“Diante de Deus, dos anjos e dos homens, declarando nossa sincera concordância com eles
[presbiterianos e congregacionais] nesta sã doutrina protestante que, com tão claras
evidências das Escrituras, eles afirmaram.”
(Batistas, no preâmbulo de sua Confissão de Fé, Londres, 1677)
No século XVI, com a dinastia Tudor, temos na Inglaterra um estado caracterizado pela
burocratização, uma centralização da administração, estabilidade e paz interna, conseguidas
sem a manutenção de um exército permanente, maior disponibilidade de recursos da
sociedade para investimentos produtivos, uma rede nacional de mercados, e o Rei como
grande proprietário de terras. O Ato de Supremacia de 1559 criava o Estado Anglicano na
Inglaterra, reagindo contra o universalismo papal.
A segunda metade do século XVI é de notável desenvolvimento econômico, com
pouquíssima oposição do Parlamento, raras vezes convocado. Os Tudors procurarão postergar
os conflitos sociais, e conseguiram um certo consenso entre as pressões no campo. O
consenso perdurou até a substituição dos Tudors pelos Stuarts no início do século XVII.
Ainda no tempo da rainha Elizabeth I (1558-1603) o puritanismo cresceu a ponto de se
tornar uma grande força no fim do seu reinado. Todos os esforços da rainha para reduzir os
“puritanos” ao anglicanismo foram inúteis, de tal forma que era bastante confusa a situação na
Inglaterra no fim do século XVI. Porém, foi no período dos reis Stuarts que a questão puritana
tornou-se o grande problema. Mesmo com todas as divergências internas, pelo tempo dos
Stuarts, a Inglaterra era a campeã do Protestantismo europeu.
*
O autor é bacharel em teologia e licenciado em história, pastor evangélico batista, ocupando atualmente o
ministério pastoral na Igreja Batista da Graça, em São José dos Campos, SP. Coopera na equipe editorial da
revista “Fé para Hoje” da Editora Fiel, e exerce a função de presidente da Comunhão Reformada Batista no
Brasil (CRBB), período 2004/2005.
1
Cf. ANDERSON, Perry. Linhagens do Estado Absolutista. 2. ed. São Paulo: Editora Brasiliense, 1989, pp. 111-
142.
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importância, visto que sob os Tudors se tornara instrumento de governo, de política geral, o
Parlamento agora procurava transformar seu poder de direito num poder de fato. O regime
jacobiano2, entretanto, manifestou sensível desprezo e incompreensão do Parlamento inglês.
A orientação do governo monárquico não teve, na Inglaterra, uma resistência similar à
escocesa e irlandesa, onde as aristocracias locais foram persuadidas por uma política de
clientela astutamente exercida pelo rei. Com efeito, a estrutura social subjacente na Inglaterra
começava a escapar de seu controle.3
A grande parcela dos puritanos defendia a proteção à propriedade, do comércio e
indústria e às liberdades do Parlamento, contra os despotismos do Rei e seus ministros.
Extremamente dinâmico, o ideário puritano penetrará amplamente em meio a toda sorte de
camadas mais inferiores da sociedade, e tendia à predominância. Assim, os vários
movimentos, surgidos na Inglaterra durante o século XVII (“Revolução Puritana”,
“Protetorado de Cromwell”, “Revolução Gloriosa”), expressaram, entre outras coisas, a
disputa entre os reis Stuarts e o Parlamento. “Os problemas econômicos, sociais e políticos
misturaram-se aos religiosos”, diz Arruda.4
Podemos concordar em que Deus preparou condições políticas, sociais e econômicas
que estimularam, em algum grau, a causa protestante. Não restam dúvidas de que grande parte
da expansão do protestantismo na Inglaterra deveu-se ao apoio do braço político. E o lado
negativo também é verdadeiro: a causa protestante foi grandemente prejudicada quando
recebeu tenaz oposição nas contra-marchas políticas. Não obstante, é grave equívoco olvidar a
genuína motivação espiritual dos puritanos ingleses. Seu propósito era uma profunda
alteração na vida da Igreja, e um retorno à pureza do cristianismo bíblico. Para o bem ou para
o mal, há de se reconhecer, porém, que a expansão ou não-expansão do protestantismo inglês
no século XVII deveu muito à correlação de forças políticas e militares, e, em alguns
momentos, até mais do que a ação evangelizadora.
Na área econômica, definiu-se um período de estagnação no início do século XVII. E a
crise econômica agravava o mal estar social. A retração mercantil tendia a paralisar a
produção industrial, cujos efeitos multiplicadores se irradiavam pelo campo. Há uma crise de
crescimento, que se manifesta em todos os indicadores de conjuntura e, muito especialmente,
nas agitações sociais.
No reinado de James I ocorreram atritos, de que a Conspiração da Pólvora e a
emigração puritana para a América, e de corpos separatistas para a Europa Continental
constituem reflexos. Entretanto, foi no reinado de Charles I (1625-1649) que os antagonismos
se aguçaram. O rei nomeou William Laud (1573-1645) arcebispo de Canterbury que queria
uniformidade em todas as igrejas e perseguia os puritanos ingleses e presbiterianos escoceses.
2
O nome James, versão inglesa de Tiago e tradução da forma grega, é o mesmo nome Jacó (tradução da forma
hebraica). À propósito: atualmente, na maioria das traduções em português, os nomes são mantidos em inglês (i.
e., James, Elizabeth, etc), ou recebem a forma castelhana (Jaime, Isabel, etc).
3
Eric Hobsbawn, historiador inglês, definiu o século XVII como a última fase da transição da economia que ele
chama feudal, para uma economia francamente capitalista. É um século de uma crise gravíssima: mergulharão
nela, de forma desigual, vários países e regiões da Europa. Cf. HOBSBAWN, Eric J. “The Seventeenth Century
in The Development of Capitalism”, In: GENOVESE, E. D. The Slave Economies, vol. I, Nova York: 1973.
4
Cf. ARRUDA, José Jobson de. A Revolução Inglesa. Coleção: Tudo é História, 4. ed. São Paulo: Editora
Brasiliense, 1990, 102 pp. Cf. ainda HILL, Cristopher. O Mundo de Ponta Cabeça; ideais radicais durante da
Revolução Inglesa de 1640. São Paulo: Companhia das Letras, 1991, 482p. Cf. também A Revolução Puritana.
Lisboa: Editorial Presença, s.d., 115p. Hill, historiador inglês marxista, ligado à História Social Inglesa, dá
ênfase às transformações sociais e intelectuais, principalmente nos extratos sociais inferiores da população
inglesa neste período. Sua tese é que teria havido “a ameaça de uma outra revolução, completamente diferente.
Seu eventual sucesso lograria estabelecer a propriedade comunal e uma democracia mais ampla. No terreno
ideológico, poderia ter derrubado a Igreja Anglicana Estatal e rejeitado a ética protestante”.
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5
“Commonwealth”, forma inglesa da expressão latina “res publica” (coisa pública).
6
Cf. O Peregrino. Trad. Eduardo Pereira e Ferreira, 2. ed. São Paulo: Editora Mundo Cristão, 2000, 235 p.
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2. O Puritanismo Inglês
A Igreja de Cristo não vive, atua ou desenvolve-se num vácuo. Ela está, na esfera
temporal, terrena e presente, atuando na sociedade humana. O Estado é uma realidade social;
a Igreja também. Para os reformadores, tais como Lutero e Calvino, o Estado é ordenado por
Deus e um dom para esta vida. Por conseguinte, os cristãos não devem menosprezá-lo, mas
sim aceitá-lo. Por outro lado, estes mesmos reformadores insistiram em que o estado não pode
ser considerado um fim em si mesmo; é primordialmente um meio. E acrescentaram que a
obediência a Deus é mais importante que o dever para com o estado. Deste modo, se qualquer
superior viola nossas obrigações religiosas, podemos negar-nos à submissão a ele.7 O homem
deve lealdade a um Deus soberano, acima de todos os outros soberanos.
Os desenvolvimentos políticos na Inglaterra (e na América do Norte) estiveram
particularmente vinculados com esta posição. Sobre esta base os reis ingleses foram
freqüentemente resistidos (e não apenas passivamente) e o Império foi transformado.
Qual deve ser o relacionamento da Igreja com o Estado? A que demandas ela está
sujeita? Estas perguntas estiveram no cerne da questão puritana.
Na Inglaterra, assim como em diversos países do Velho Mundo, o protestantismo
estabeleceu-se como religião oficial. Neste caso, a Igreja vivia a tensão de ser, ao mesmo
tempo, uma expressão da Sociedade Civil e uma repartição pública. Isso muitas vezes limitou
sua autonomia e sua capacidade de reivindicar e inovar, vivendo experiência bastante
semelhante à Igreja Oriental com o cesaropapismo8. É facil perceber o quanto isto é absurdo
quando lemos 1 Timóteo, capítulo 3, em que toda liderança (presbíteros e diáconos) na Igreja
de Cristo deve ser de caráter espiritual exemplar. Quando o papa conferiu a Henrique VIII o
título de “O Defensor da Fé” o rei não pôde conter-se de alegria e, característicamente, seu
“bobo da corte” lhe disse: “Meu bom Harry, defendamo-nos um ao outro, e deixe que a fé se
defenda sozinha”.9 Porém, a tradição na Igreja da Inglaterra, é que o monarca seja cabeça
daquela igreja. A ligação com o Estado, que tinha sido um recurso de sobrevivência nos
tempos da Reforma, viria a se constituir, depois, em um fardo e um entrave.10
O termo “puritano” se refere a uma particular posição protestante, que encontrou
expressão na Inglaterra (e Nova Inglaterra) na última parte do século XVI e no século XVII.
O ponto de vista da maioria deles representava uma tradição calvinista vital. Porém,
calvinistas ou não, os puritanos se caracterizavam por uma intensa experiência do Deus vivo,
nutrida exclusivamente na Bíblia e expressa em todos os seus pensamentos e ações.
Parte que era da Reforma Protestante, o puritanismo britânico começou como um
movimento especificamente eclesiástico. Os puritanos não estavam acordes, de maneira
alguma, no tocante ao verdadeiro padrão eclesiástico. Mas concordavam em que tal questão
deve ser resolvida em estrita adesão ao texto bíblico. Seus oponentes (anglicanos)
consideravam isto um biblicismo radical - uma ênfase exclusiva e estreita sobre a Bíblia, que
olvidava a importância histórica da Igreja. Os puritanos, por sua parte, insistiam em que eles
estavam retornando ao estado original da Igreja.
7
Cf. CALVINO, João. Institutas da Religião Cristã, II, viii, 38.
8
O rei como chefe da Igreja, ou “papismo cesáreo”. Após a Reforma, esta posição tem sido historicamente
chamada de “erastianismo”, que deriva seu nome do teólogo suíço Thomas Erastus (1524-83), embora um tanto
indevidamente.
9
HULSE, Erroll. Quem foram os Puritanos?...e o que eles ensinaram?. São Paulo: PES – Publicações
Evangélicas Selecionadas, 2004, pp. 234-235.
10
Cf. DILLENBERGER, J & WELCH, C. El Cristianismo Protestante. Trad. Castelhana por SOSA, A . F.,
Buenos Aires: La aurora, 1958, 306 p.
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11
RYKEN, Leland. Santos no Mundo; os puritanos como realmente eram. São Paulo: Editora Fiel, 1992, pp. 22-
23.
12
DAVIES, Horton. The Worship of The English Puritans. Dacre: Westminster, 1948, p. 9, apud RYKEN, op.
cit.
13
Alguns anglicanos no que se refere ao padrão eclesiástico, postulavam, entretanto, uma ética puritana.
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(...) É de seu dever [do magistrado civil] providenciar para que a unidade e a paz
sejam preservadas na Igreja; que a verdade de Deus seja guardada pura e íntegra;
que todas as blasfêmias e heresias sejam banidas; que todas as corrupções e abusos
em culto e disciplina sejam prevenidos e reformados; que todas as ordenações de
Deus sejam devidamente estabelecidas, administradas e observadas. E para melhor
desempenho disto, ele tem o poder de convocar sínodos, estar presente a eles e
providenciar para que tudo o que neles seja feito o seja conforme o Espírito de
Deus (...).14
Ainda que fossem os presbiterianos o corpo mais numeroso de puritanos, havia outros
grupos cuja posição era consideravelmente diferente. Os Independentes ou Congregacionais
também queriam purificar a Igreja sem separar-se dela. Todavia, seu conceito de igreja se
caracterizava pela ênfase na congregação local como um corpo independente de crentes, não
sujeita nem ao sistema presbiteriano nem ao episcopal. Houve congregacionalistas que
defendiam a separação entre Igreja e Estado, todavia o congregacionalismo inglês tem suas
raízes mais ligadas a este congregacionalismo puritano do que ao congregacionalismo
separatista.
No tocante à natureza da igreja, contudo, os congregacionais ingleses estavam
fundamentalmente de acordo. A profissão de fé era a condição sine qua non para pertencer à
igreja. Isto não se entende, todavia, que a todos os que decidiam ser membros da igreja era-
lhes permitido formar parte dela no sentido pleno. Somente aqueles cuja profissão passava à
prova podiam ser admitidos plenamente à igreja. Não bastava o nascimento, nem sequer a
própria decisão. A igreja estava alicerçada sobre um pacto de crentes consagrados, o que
assegurava que ela expressava o espírito do Senhor. Daí que o ingresso numa comunidade tal
requeria-se a aprovação dos outros membros pactuados.
Tais comunidades de fé operam em lugares particulares. Por definição, segundo esta
maneira de crer, a Igreja é a congregação local. Daí o termo “congregacionalistas” – aqueles
que criam que a igreja é o corpo local, em função. E, visto que a Igreja era a igreja local, e
eram os crentes que tomavam as decisões, havia nas congregações uma tendência para a
democracia. Porém, a responsabilidade estava enfocada fortemente sobre uma liderança
preparada. Desconfiava-se da emoção, ainda que não da vitalidade, e valorizava-se a
instrução. Portanto, a política eclesiástica dos congregacionais refletia uma tentativa de
instituir uma estrutura na qual todos os crentes estivessem em pé de igualdade, mas, não
14
Cf. SCHAFF, P. The Creeds Of Christendom, III, Londres, 1877. Ao formar-se a Igreja Presbiteriana nos
Estados Unidos da América do Norte, em 1788, essa seção foi omitida, pois ali entendeu-se que a Igreja deveria
estar livre de toda a união com o Estado, sendo ambos livres e independentes na esfera que lhes pertence,
valendo-se os presbiterianos, à ocasião, de conceitos congregacionais e batista, tais como estes haviam exposto
em suas confissões de fé.
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15
Consulte online http://www.reformed.org/documents/Savoy_Declaration/ [capturado em novembro de 2004],
que traz o texto da Declaração de Savoy, inclusive com comparações com o texto da Confissão de Westminster,
na qual aquela baseou-se amplamente.
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Como já foi dito, alguns congregacionais eram separatistas. Tinham a convicção de que
permanecer na Igreja da Inglaterra não trazia em si nenhum bem. Estes separatistas
qualificavam os não-separatistas como aqueles que demoravam, esperando que os
magistrados empreendessem a Reforma. Achavam injustificável tal espera. Em 1567 alguns
separatistas foram presos. Estes achavam que não poderiam livremente seguir a Palavra de
Deus dentro da estrutura da Igreja da Inglaterra.
O primeiro defensor notável das idéias separatistas na Inglaterra foi Robert Browne
(1550-1633), estudante de Cambridge, e que recebeu o grau em 1572. Começando como
presbiteriano, depois adotou os princípios separatistas, e fundou, junto com um amigo, uma
igreja independente em 1581. Por sua pregação resultou ser preso várias vezes. Emigrou,
junto com seu grupo, para os Países Baixos, onde, em 1582 publicou alentado volume
contendo três tratados: “Tratado da Reforma sem Esperar por Ninguém...” Nesta obra,
Browne descrevia a verdadeira Igreja como formada de crentes reunidos por sua própria
vontade. De acordo com Browne, a única Igreja é o agrupamento local de crentes em Cristo
por experiência, unidos a Ele e uns aos outros por um pacto voluntário. Igreja assim tem
Cristo como cabeça imediata, e é governada por oficiais e leis que Ele designou. Cada uma se
autogoverna e escolhe seus oficiais, conforme determina o Novo Testamento; mas cada
membro é responsável pelo bem-estar do todo. Nenhuma igreja tem autoridade sobre outra,
mas todas se devem auxiliar fraternalmente.16
O programa separatista desafiava por igual à Igreja e ao Estado. Era uma declaração de
que em matéria eclesiástica os magistrados não tinham nada a dizer. A Igreja não era uma
igreja do lugar ou nação, que incluía a todos os nascidos nela. Era, verdadeiramente, a
comunidade dos crentes que entravam num pacto sobre a base de sua profissão de fé.
O congregacionalismo de Browne se assemelha, até certo ponto, às idéias anabatistas,
conquanto Browne demonstra não dever algo a eles. Browne também não chegou ao ponto de
rejeitar o batismo infantil. No final de sua vida bastante tumultuada, parece que se conformou
(ao menos exteriormente) à Igreja estabelecida, em outubro de 1585. Passou o resto de sua
vida como ministro da Igreja Anglicana. Mas indicara princípios que sobreviveriam a ele e
influenciariam a outros grupos.
Os princípios de um congregacionalismo avançado foram adotados por um grupo em
Gainsborough, em 1606. Ao contrário dos congregacionais independentes, estes separatistas
não tinham qualquer relação com a Igreja Oficial. Devido à perseguição, assim como vários
outros, o grupo de Gainsborough emigrou para Amsterdã em 1606/1607, sob a liderança de
John Smith (c. 1565-1612), onde foi bastante influenciado pelos Menonitas, ramo posterior do
Anabatismo continental. Em 1609 Smith batizou-se a si mesmo, a Thomas Helwys (c. 1550-
1616) e aos outros 40 membros do seu rebanho.17 Alguns desta congregação se tornaram
menonitas, inclusive Smith, após um longo período de negociação para inclusão neste grupo.
Thomas Helwys, John Mürton e seus seguidores voltaram à Inglaterra em 1612 e
organizaram, nos arredores de Londres, o que alguns consideram ser a primeira Igreja Batista
em solo inglês. Este grupo praticava o batismo por afusão e sustentava as doutrinas
arminianas, com as quais tinha se familiarizado durante a controvérsia arminiana na Holanda,
16
WALKER, W. História da Igreja Cristã. Vol. II. Rio de Janeiro e São Paulo: JUERP e ASTE, 1983, pp. 141-
142.
17
O método de batismo foi a “afusão”. “Afundir” ou “efundir” consiste no derramamento de água sobre o
batizando, que alguns, mais rigorosamente, preferem distinguir da “aspersão” (“borrifar”, “salpicar”), chamando
atenção para a quantidade de água e para o método.
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onde, ainda, o arminianismo não havia sido considerado heresia.18 Por conta de sua teologia
arminiana, esta igreja que se fixou em Spitalfield, ficou conhecida como dos "batistas gerais".
Desta Igreja surgiram muitas outras. Apesar de suas afinidades religiosas com o anabatismo
na Holanda, e das influências que dele recebeu, este grupo batista nutriu-se primordialmente
na tradição separatista no terreno inglês.
Não se pode dizer que este grupo tivesse grande vocação para a reflexão teológica.
Interessava-lhes a igreja como comunidade congregada, como subseqüente ao batismo apenas
dos crentes, e a separação da Igreja e Estado. À semelhança dos Congregacionais, estes
batistas criam que a igreja era a comunidade de um pacto, na qual todos estavam em um
mesmo pé de igualdade, serviam uns aos outros e levavam as cargas uns dos outros. Isto
implicava uma estrutura rigidamente democrática. Entre alguns destes, qualquer que tivesse o
Espírito poderia ser ministro, desde que fosse chamado e eleito; mais tarde, outros batistas
exigirão requisitos educativos mínimos, tal como entre os congregacionais. Por certo as
estruturas democráticas não excluem a educação de ministros. Contudo, muitos batistas
insistiam em que a preparação não se coaduna com a operação do Espírito. Estes batistas eram
sensíveis às distintas classes e níveis que a educação pode produzir, mesmo na comunidade da
graça. Muitos deles pertenciam aos extratos econômicos inferiores da sociedade, e tinham
grande sensibilidade à diferenciação social.
Da mesma forma que os anabatistas, os batistas chegaram à convicção de que era
essencial o batismo dos crentes. Se a Igreja era uma comunidade de crentes que haviam
entrado em um pacto mútuo, o batismo devia ser praticado a uma idade na qual se pudesse
entrar no pacto por uma decisão responsável. Certamente a forma de batismo era menos
importante que a ênfase sobre a decisão e a fé como a chave para o ato. O batismo não
comunicava graça em si mesmo, mas consistia de uma “ordenança” simbólica de uma
regeneração que havia tido lugar.
O grupo mais forte de batistas calvinistas ou "particulares" originou-se em Londres, em
1633. A congregação independente de Henry Jacob, depois de sua morte, foi conduzida por
John Lathrop. Este sofreu severas perseguições (e até aprisionamento) por parte do Arcebispo
Laud, e fugiu com trinta membros de sua congregação para a Nova Inglaterra. Lathrop foi
sucedido por Henry Jessey (1601– 63), teólogo eminente entre os puritanos, que veio a ser
batizado em junho de 1645 por Hanserd Knollys (1599-1691).
Esta congregação independente de Soutwark sofreu algumas divisões, quase sempre em
torno da questão do batismo. Em 1633, um grupo separou-se amigavelmente, afirmando que
somente os regenerados devem ser batizados. John Spilsbury tornou-se pastor deste grupo.
Esta congregação tornou-se a primeira igreja batista calvinista, também chamada batista
“particular”, devido à sua doutrina da expiação. Na década de 1640, vários membros desta
congregação, e talvez alguns da igreja pastoreada por Jessey, chegaram à convicção de que o
batismo por afusão ou por aspersão, quer administrado a adultos ou a crianças, não era a
forma de batismo praticada pelos apóstolos. Eles sustentavam o batismo dos crentes por
imersão. Foi esta congregação, de teologia calvinista, e primeiro dirigida por John Spilsbury,
que se fez a mais influente do movimento batista inglês. "Os antecedentes do movimento
batista norte-americano podem ser encontrados neste grupo", afirma Earle Cairns.19
18
Somente em 1618, o Sínodo de Dort, reunido nos Países Baixos, declarará o arminianismo como não
consentâneo com a Palavra de Deus e, por conseguinte, com a fé reformada. Cf. PACKER, J. I. O "Antigo"
Evangelho; Um Desafio para Redescobrir o Evangelho Bíblico. Tradução de Introductory Essay to John Owen's
The Death of Death In The Death of Christ. 1. ed. São Paulo: Editora Fiel, 1986, pp. 4-7.
19
CAIRNS, Earle E. O Cristianismo Através dos Séculos; Uma História da Igreja Cristã. 2. ed. São Paulo:
Edições Vida Nova, 1988, p. 276.
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20
Cf. LUMPKIN, William L. Baptist Confessions of Faith. 1. ed. Filadélfia: The Judson Press, 1959, pp. 144-
171. Ver também BETTENSON, H. Documentos da Igreja Cristã. 2. ed. Rio de Janeiro: JUERP; São Paulo:
ASTE, 1983, pp. 282-283.
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21
Foi o chamado “Ato do Conventículo”.
22
Cf. KERR, Guilherme. A Assembléia de Westminster. 2. ed. São Paulo: Editora Fiel e E. F. Beda (ed.), 1992,
30 p. Ver também Confissão de Fé e Catecismo Maior da Igreja Presbiteriana. 10. ed. São Paulo: Casa Editora
Presbiteriana, pp. 1-62.
23
SCHAFF, Philip. The Creeds of Christendom. New York: Harper and Brothers, 1919, vol. I, p. 855.
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24
William Kiffin, Hanserd Knollys, John Harris, George Barrett, Benjamin Keach, Edward Man, e Richard
Adams.
25
LUMPKIN, op. cit., p. 238, tradução nossa.
26
LEWIS, Arthur H. "Os Credos Históricos dos Baptistas". REVISTA TEOLÓGICA. Leiria, Portugal:
Seminário Teológico Batista, vol. III, n. 1, pp. 34-35. Jan. 1964.
27
Em 1693, 1699, 1719, 1720, 1791, 1809, entre outros anos.
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1. Desde toda a eternidade, Deus mesmo decretou todas as coisas que iriam
acontecer no tempo; e isto Ele fez segundo o conselho da sua própria vontade,
muito sábia e muito santa. Fê-lo, porém, de um modo que Deus em nenhum
sentido é o autor do pecado, nem se torna co-responsável pelo pecado, nem faz
violência à vontade de suas criaturas, nem impede a livre ação das causas
secundárias ou contingentes. Pelo contrário, estas são estabelecidas, e em tudo isso
aparece a sabedoria de Deus em determinar todas as coisas; aparece o seu poder e
sua fidelidade em fazer cumprir seu decreto.
28
HUSTAD, Donald P. A Música na Igreja. 1. ed. reimp. São Paulo: Edições Vida Nova, 1991, passim.
29
“Fé para Hoje”; Confissão de Fé Batista de 1689. 1. ed. São Paulo: Editora Fiel, 1991. Cf. também
LUMPKIN, op. cit., pp. 254-265.
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3. Pelo decreto de Deus, para a manifestação da sua glória, alguns homens e alguns
anjos são predestinados (ou preordenados) para a vida eterna através de Jesus
Cristo, para o louvor da sua graça gloriosa; os demais são deixados em seu pecado,
agindo para sua própria e justa condenação, e isto para o louvor da justiça de Deus.
6. Tal como Deus designou os eleitos para a glória, Ele também, mediante o
propósito eterno e espontâneo da sua vontade, preordenou todos os meios para
efetivar tal propósito; por isso os eleitos, achando-se caídos em Adão, são
redimidos em Cristo e chamados eficazmente para a fé em Cristo, pela ação do
Espírito Santo, no devido tempo para isso; e são justificados, adotados,
santificados e guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação.
Ninguém mais é redimido por Cristo, chamado eficazmente, justificado, adotado,
santificado e salvo, senão unicamente os eleitos.
1. Deus dotou a vontade humana com a liberdade e poder natural de agir por
escolha, sem que seja forçada ou predeterminada por alguma necessidade natural
para fazer bem ou mal.
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causa de certas corrupções que permanecem, o homem redimido não faz o bem
perfeitamente e nem deseja somente aquilo que é bom, mas também o que é mau.
Este pequeno volume não é publicado como uma regra autoritativa ou código de fé
a que você tenha de estar agrilhoado, mas como uma assistência para você nas
controvérsias, como uma confirmação na fé e um meio de edificação na justiça.
Neste volume os membros mais jovens de nossa igreja terão um compêndio de
teologia em dimensões reduzidas, e, por meio de provas escriturísticas, estarão
prontos a dar a razão da esperança que neles há.30
CRONOLOGIA
30
Ibidem, prefácio.
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